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Professor Nizomar Bastos Tourinho Jr. DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS: 1. Definição: São defeitos ocultos em coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso que se destina ou diminui o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente a ação para redibir o contrato ou para obter o abatimento do preço. 2. Fundamentação: Artigos 441/446 do Código Civil. Obs1: A coisa defeituosa pode ser enjeitada pelo adquirente, mediante a devolução do preço e, se o alienante conhecia o defeito, com satisfação de perdas e danos. Arts. 441/443, CC. Obs2: Contratos bilaterais e comutativos, em regra translativos de propriedade. Ex: Compra e venda; Dação em pagamento e a permuta, também aplicáveis às empreitadas. (CC, art. 614 e 615), decorrem do paralelismo que devem guardar as prestações nos contratos bilaterais. Obs3: A ignorância dos vícios pelo alienante não o exime de responsabilidade (NCC). 3. Finalidade: É a própria garantia que deve resguardar o direito do adquirente. A Proteção do equilíbrio das prestações, nos contratos comutativos e da boa-fé dos contratantes, impuseram àquele que entrega o objeto a obrigação de responder pelos defeitos e vícios, não só do direito transferido (responsabilidade por evicção), como da própria coisa, quando não perceptíveis por quem recebeu o bem. Obs4: Não incide sobre os contratos gratuitos (art. 552, CC), porém são aplicáveis às doações onerosas até o limite do encargo (art. 441, parágrafo único). Vale também para as doações remuneratórias, embora não tenha estipulação legal específica (art. 540, CC). 4. Fundamento jurídico: 4.1. Teoria do erro: Não faz nenhuma distinção entre defeitos ocultos e erro sobre as qualidades essenciais do objeto. Tudo não passaria de mera conseqüência da ignorância em que se achava o adquirente 4.2. Teoria do inadimplemento contratual: Tem por fundamento a violação do princípio de garantia que onera todo alienante e o faz responsável pelo perfeito estado da coisa, em condições de uso a que é destinada. É a mais aceita. Professor Nizomar Bastos Tourinho Jr. 4.3. Teoria do risco: o alienante responde pelos vícios redibitórios porque tem a obrigação de suportar os riscos da coisa alienada. 4.4. Teoria da eqüidade: Necessidade de manter justo equilíbrio entre as prestações dos contratantes. 5. Requisito para caracterização dos vícios redibitórios. Não é qualquer defeito. Aqueles de somenos importância ou que possam ser removidos são insuficientes para justificar a invocação da garantia, pois não o tornam impróprio ao uso a que se destina, nem diminuem o seu valor econômico. 5.1. Onerosidade: Que a coisa tenha sido recebida em contrato comutativo ou de doação onerosa (o doador impõe ao donatário uma incumbência ou dever) ou remuneratória (feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário). 5.2. Defeitos sejam ocultos: Não permitem a imediata percepção, advinda da diligência normal aplicável ao mundo dos negócios. 5.3. Existentes na celebração do contrato: Que os defeitos existiam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação. Não cabe aos defeitos supervenientes, estes presume-se pelo mau uso da coisa. 5.4. Desconhecimento do alienatário: Que os defeitos sejam desconhecidos do adquirente. Presume-se, se os conhecia, que renunciou à garantia. A expressão “vende-se no estado que se encontra”, tem a finalidade de alertar os interessados de que não se achem eles em perfeito estado, não cabendo, por isso, nenhuma reclamação posterior. 5.5. Que os defeitos sejam graves: Tem que prejudicar o uso da coisa ou diminuir- lhe o valor. Exemplo de defeitos considerados graves: A esterelidade de touro adquirido como reprodutor; o excessivo aquecimento do motor de um veículo nos aclives, as freqüentes inundações de chuvas de terreno destinado a construção de residência, sacos adquiridos para embalar produtos consumíveis apresentando cheiro intolerável. 6. Efeitos: Ações Cabíveis: 6.1. Espécies de ações: As ações são chamadas de edilícias, dividindo-se em redibitórias e estimativas. Professor Nizomar Bastos Tourinho Jr. 6.1.1. Ação redibitória Finalidade Rejeitar a coisa, rescindindo o contrato e pleiteando a devolução do preço pago, mediante a ação redibitória. 6.1.2. ação quanti minoris ou estimatória Conservá-la, malgrado o defeito, reclamado, porém, abatimento do preço Obs5: Deverá propor necessariamente a ação redibitória quando houver o perecimento da coisa em razão do defeito oculto. As ações recebem o nome de edilícias. Obs6: A escolha é irrevogável, não admite recuo: electa uma via non datur recursus ad alteram. 7. Prazos decadenciais. 30 dias = Bens móveis. 01 ano = Bens imóveis. Artigo 445, CC: Contados da tradição. Obs7: Se o adquirente já estava na posse do bem Contados da alienação. Art. 446, CC: Possibilidade de convencionar o prazo. Não exclui a garantia obrigatória. Obs8: Poderá cumular os prazos, fluindo o da garantia convencional e depois o da legal. Porém, se o defeito surgir no curso do primeiro, o prazo se esgota em 30 dias. Art. 445, §1º → Defeitos de difícil constatação → Contatos da ciência do defeito 180 dias. §2º→ Jurisprudência: Máquinas sujeitas a experimentação e venda animais contados do conhecimento da doença → 180 dias. 8. Hipóteses de descabimento das ações edilícias. 8.1. Coisas vendidas conjuntamente: Art. 503, CC. Somente poderá ser restituída a coisa defeituosa, a não ser que afete a universalidade de bens. Entretanto, se a coisa defeituosa atingir o funcionamento do todo, este deverá ser redibido. 8.2. Inadimplemento contratual: A entrega da coisa diversa da contratada não configura vício redibitório, mas inadimplemento contratual, respondendo por perdas e danos (art. 389, CC). É o próprio descumprimento contratual, a entrega de uma coisa por outra. Professor Nizomar Bastos Tourinho Jr. 8.3. Erro quanto às qualidades essenciais do objeto: Pois é de natureza subjetiva, pois reside na manifestação de vontade. Art. 139, CC,I. Dando ensejo a ação anulatória do negócio jurídico, no prazo decadencial de 4 anos (art. 178, II, CC). O vício redibitório é erro objetivo sobre a coisa, que contém um defeito oculto. O seu fundamento é a obrigação que a lei impõe a todo alienante de garantir ao adquirente o uso da coisa. Ex: defeito em relógio de ouro. Diferença de qualidade não é vício redibitório. Nos casos de erro, o comprador não quer a coisa, no de vício redibitório, quer, porém ela apresenta imperfeições. Ex: Raça de cavalo. 9. Coisa vendida em hasta pública: Diferentemente do que ocorre no CC/1.916. Poderá o adquirente lesado, em qualquer caso, mesmo no de venda feita compulsoriamente por autoridade da justiça, propor tanto a ação redibitória, como a quanti minoris, se a coisa arrematada contiver vício redibitório. Não prevalece, mais, pois, a hipótese excepcionada no diploma anterior como exclusão do direito. 10. Disciplina no CDC. Vício de produto. Diferentemente do que ocorre no CC, nas relações de consumo são considerados vícios redibitórios, tanto os defeitos ocultos, como também os aparentes e os de fácil constatação. O CDC mostra-se mais rigoroso na defesa da hipossuficiente, não cabendo somente as ações edilícias, mas também, a responsabilidade civil do fabricante pelos defeitos de fabricação, impondo a substituição do produto por outro da mesma espécie em perfeitas condições de uso, e a restituição imediata de quem paga, devidamente corrigida, além de perdas e danos,ou ainda abatimento no preço. Prazo decadencial: 30 dias produtos não duráveis; 90 dias para produtos durávies. Conta-se a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. Em se tratando de vícios ocultos, começará a contar no momento em que ficarem evidenciados. (CDC, art. 26 e parágrafos). Professor Nizomar Bastos Tourinho Jr. Exigir alternadamente (CDC, art. 18, §§1º2º). A inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII). Gagliano, Pablo Stolze. Filho, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil, Vol. IV, tomo 1: teoria geral. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. III. Contratos e atos unilaterais. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.