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Direito do Trabalho_FEA_Remuneração pelo Trabalho

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Remuneração pelo trabalho
Direito do Trabalho – 2023
Profa. Dra. Júlia Lenzi Silva
Regramento constitucional acerca do salário
CF/88, art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; 
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável (trabalho intermitente?);
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
Conceito de Salário
Salário é pago diretamente pelo empregador como contraprestação ao trabalho prestado
CLT, art. 457, § 1º - Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador. (salário é pago diretamente pelo empregador como contraprestação ao trabalho prestado)
Além do valor pago em dinheiro, também compõe o salário as prestações in natura:
CLT, art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.
Conceito de Salário
Salário x remuneração: a remuneração compreende também as gorjetas que são pagas pelos clientes (Remuneração = salário + gorjetas) - art. 457 CLT
As gorjetas são base de cálculo para o FGTS (lei n. 8.036/90), férias e 13º salário, mas não estão incluídas para parcelas de natureza salarial
SUMULA 354 TST GORJETAS. NATUREZA JURÍDICA. REPERCUSSÕES As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.
OBS: Salário-família / salário-maternidade (benefícios previdenciários)
Parcelas salariais
Efeito expansionista circular (Godinho Delgado): Caso a parcela seja considerada de natureza salarial, ela irá repercutir em outras verbas relacionadas ao contrato de trabalho 
Complexo salarial (José Martins Catharino): Art. 457, §1º da CLT - salário básico + gratificações legais e comissões pagas pelo empregador
OBS: Não há exigência de que haja salário base fixo, pois se admite que o empregado seja remunerado somente à base de comissões. Neste caso, a CF/88 assegura que, mesmo não havendo valor fixo, o empregado comissionista receba, pelo menos, o salário mínimo (garantia de salário mínimo a quem recebe remuneração variável – art. 7º, VII da CF)
OBS: os adicionais são condicionados, isto é, são devidos em razão da permanência de condição mais gravosa para o exercício do trabalho (periculosidade, insalubridade, adicional de horas extras).
ADICIONAIS
Insalubridade
Periculosidade
Adicional de Transferência
Noturno
Horas extras
Adicional de Insalubridade
O adicional de insalubridade é devido ao empregado exposto a algum agente insalubre (ruído contínuo, ruído intermitente, calor, radiações, etc.) acima dos limites de tolerância, conforme normatizado pelo Ministério do Trabalho.
CLT, art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.
Como os adicionais são salário condição, caso o agente insalubre seja eliminado, neutralizado ou controlado cessará o direito ao pagamento do respectivo adicional, sem que se possa falar em ofensa ao princípio da irredutibilidade salarial (art. 194 da CLT)
Adicional de Insalubridade
A controversa em torno da base de cálculo: embora o art. 192 da CLT determine o salário-mínimo regional, a Súmula Vinculante n. 4 do STF vedou a adoção do salário-mínimo como indexador de base de cálculo de vantagem ao empregado, vedando, inclusive a sua substituição por decisão judicial.
Por sua vez, após a edição da SV n. 4 pelo STF, o TST alterou a Súmula n. 228 do TST, passando a prever o salário básico como base de cálculo; o STF, entretanto, em sede de reclamação constitucional suspendeu a alteração (liminarmente em 2008 e de forma definitiva em 2018) por entender que a inconstitucionalidade existente no art. 192 da CLT deve ser sanada por lei ou convenção coletiva (na prática, tem se utilizado o salário-mínimo como base)
Norma Regulamentadora nº 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES
OBS: radiação solar x exposição ao calor acima dos limites de tolerância (cortadores de cana) – OJ-SDI-173
Adicional de periculosidade
CLT, art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;
II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
(..)
§ 4º - São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta.
CLT, art. 193, § 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.
Adicional de periculosidade
Base de Cálculo:
SUMULA 191 ADICIONAL. PERICULOSIDADE. INCIDÊNCIA I – O adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais (Exceção: Eletricitários – Lei n. 12.740/2012)
Atenção: caso a atividade exercida pelo empregado o sujeito a mais de um adicional (periculosidade e insalubridade), deve optar pelo mais vantajoso (não recebe os dois!) – art. 193, §2º da CLT
SUMULA132 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. INTEGRAÇÃO 
I - O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente, integra o cálculo de indenização e de horas extras. 
II - Durante as horas de sobreaviso, o empregado não se encontra em condições de risco, razão pela qual é incabível a integração do adicional de periculosidade sobre as mencionadas horas.
Demais adicionais já estudados
Adicional de transferência (art. 469, §3º da CLT): transferência temporária + pagamento suplementar nunca inferior a 25%
Adicional de horas extras (art. 7º, XVI da CF c/c art. 59, §1º da CLT): no mínimo 50%
Adicional noturno (art. 7º, IX da CF): 20% para urbano; 25% para rural
OJ-SDI1-259 ADICIONAL NOTURNO. BASE DE CÁLCULO. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. INTEGRAÇÃO O adicional de periculosidade deve compor a base de cálculo do adicional noturno, já que também neste horário o trabalhador permanece sob as condições de risco.
GRATIFICAÇÕES 
Gratificações legais
Gratificações ajustadas 
Gratificações
Após a RT, a nova redação do art. 457, 1º da CLT atesta que apenas as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador tem natureza salarial. A doutrina se divide, mas Maurício Godinho Delgado afirma que as gratificações ofertadas pelo empregador, com habitualidade, possuem nítida natureza salarial
O 13º salário, também chamado de “gratificação natalina” éa principal gratificação legal (lei n. 4.090/62)
A (1) gratificação por tempo de serviço (Ex: quinquênio), (2) a gratificação por função e (3) gratificação por quebra de caixa são exemplos de gratificações ajustadas, havendo súmulas que atestam que elas integram o salário para todos os efeitos (Súmula 203 TST; Súmula 226 TST; Súmula 247 TST)
13 salário
Art. 7º, VIII da CF: décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
Valor: 1/12 (meses de serviço no ano) x remuneração do mês de dezembro – horas extras habituais integram e fração de 15 dias ou mais computa mês integral
Pagamento: (1) adiantamento: entre fevereiro e novembro; por ocasião das férias, se o empregado requerer em janeiro; (2) restante até 20 de dezembro
Rescisão contratual: pagamento proporcional; justa causa: perde o direito; culpa recíproca: pagamento pela metade
COMISSÕES 
COMISSÕES
CLT, art. 466 - O pagamento de comissões e percentagens só é exigível depois de ultimada a transação a que se referem.
§ 1º - Nas transações realizadas por prestações sucessivas [vendas parceladas], é exigível o pagamento das percentagens e comissões que lhes disserem respeito proporcionalmente à respectiva liquidação.
SALÁRIO IN NATURA
Salário In Natura
Art. 458 da CLT: Além da habitualidade, o salário in natura tem caráter contraprestativo, ou seja, o bem ou serviço é fornecido com intuito retributivo aos serviços prestados 
Utilização da sistemática do “pelo trabalho” (onerosidade – contraprestação – natureza salarial) e do “para o trabalho”
SUMULA 367 UTILIDADES "IN NATURA". HABITAÇÃO. ENERGIA ELÉTRICA. VEÍCULO. CIGARRO. NÃO INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO I - A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares.
Salário In Natura
CLT, art. 458, § 2º Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:
I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;
II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático;
III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; (vale-transporte – Lei n. 7.418/85)
IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde;
V – seguros de vida e de acidentes pessoais;
VI – previdência privada;
VII – (vetado)
VIII - o valor correspondente ao vale-cultura (Lei n. 12.761/2012 – dedução de IR pelo empregador)
Salário In Natura
A CLT fixou que o salário mínimo pago em dinheiro não será inferior a 30% (art. 82, parágrafo único)
No cálculo do salário-mínimo, devem ser computadas as despesas diárias com alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte necessários à vida de um trabalhador adulto (art. 81 da CLT)
As parcelas componentes do salário poderão ser pagas in natura desde que respeitado o limite de 30% em dinheiro (salário em dinheiro = salário mínimo – parcelas)
CLT, art. 458, § 3º - A habitação e a alimentação fornecidas como salário-utilidade deverão atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder, respectivamente, a 25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento) do salário-contratual.
PARCELAS NÃO SALARIAIS
Parcelas não salariais
São parcelas que não são pagas com habitualidade e não decorrem de contraprestação por serviços prestados: são, geralmente, ressarcimentos, reembolsos em virtude de despesas em que o empregado incorreu para exercer sua função (ajuda de custo)
CLT, art. 457, § 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário.
OBS: RT e Diárias de viagens - Até a reforma trabalhista, apenas as diárias limitadas a 50% do salário deixavam de integrar o salário do empregado. Com a mudança, extinguiu-se este limitador.
Parcelas não salariais
Se o auxílio alimentação é pago em dinheiro, ele terá natureza salarial (repercussão nas verbas trabalhistas) – e se a empresa por negociação coletiva torna-se verba indenizatória?
OJ 413.AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. ALTERAÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA. NORMA COLETIVA OU ADESÃO AO PAT. A pactuação em norma coletiva conferindo caráter indenizatório à verba “auxílio alimentação” ou a adesão posterior do empregador ao Programa de Alimentação do Trabalhador — PAT — não altera a natureza salarial da parcela, instituída anteriormente, para aqueles empregados que, habitualmente, já percebiam o benefício, a teor das Súmulas nos 51, I, e 241 do TST.
OBS: verbas de representação – altos executivos empregados
Parcelas não salariais
Participação nos lucros e resultados
Art. 7º, XI da CF - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; (Art. 611-A, XV – negociado prevalece sobre o legislado)
SÚMULA Nº 451 (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 390 da SBDI-1) Fere o princípio da isonomia instituir vantagem mediante acordo coletivo ou norma regulamentar que condiciona a percepção da parcela participação nos lucros e resultados ao fato de estar o contrato de trabalho em vigor na data prevista para a distribuição dos lucros. Assim, inclusive na rescisão contratual antecipada, é devido o pagamento da parcela de forma proporcional aos meses trabalhados, pois o ex-empregado concorreu para os resultados positivos da empresa.
Parcelas não salariais
Gorjetas
SUMULA 354 GORJETAS. NATUREZA JURÍDICA. REPERCUSSÕES As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.
Lei n. 13.419/2017 (Lei da Gorjeta) – alteração do art. 457 da CLT para prever o rateio entre os trabalhadores conforme regras estabelecidas em convenção ou acordo coletivo / Permissão de que a empresa ficasse com 20% a 33% do total arrecadado, a depender de seu regime de tributação. RT vem e desmantela as modificações.
Solução temporária – uma vez que gorjetas é assunto em que o negociado prevalece sobre o legislado (art. 611-A, IX), insta-se os sindicatos e entidades patronais a assim procederem
Equiparação salarial
CLT, art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.
§ 1º Trabalho de igual valor, para os fins deste Capítulo, será o que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço para o mesmo empregador não seja superior a quatro anos e a diferença de tempo na função não seja superior a dois anos.
§ 2º Os dispositivos deste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado em quadro de carreira ou adotar, por meio de norma interna da empresa ou de negociação coletiva, plano de cargos e salários, dispensada qualquer forma de homologação ou registro em órgão público.
§ 5º A equiparação salarial só será possível entre empregados contemporâneos no cargo ou na função, ficando vedada a indicação de paradigmas remotos, ainda que o paradigma contemporâneo tenha obtido a vantagem em ação judicial própria (vedação à equiparação por cadeia)
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