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ARISTÓTELES E KANT

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ARISTÓTELES
O argumento da fraqueza da vontade mostra que não basta conhecer o que é bom para realizar o bem. Isso desbanca a ideia de que o  único motor das ações seja a razão. 
Aristóteles traz uma concepção de virtude inovadora ao englobar a dimensão da prática(para ser virtuoso deve-se ter PRÁTICA de ações virtuosas. ‘‘Não há como ser justo, corajoso, temperante, etc sem praticar ações justas, corajosas, temperantes’’ (não adianta meramente ter desenvolvido uma concepção própria desses conceitos). Segundo Aristóteles, a prática das ações virtuosas tornaria o homem virtuoso.
Elementos centrais da concepção aristotélica: ideia de hábito(a tendência pra agir de determinado modo se desenvolve pelo hábito => reprodução no futuro daquilo que se faz há algum tempo => ‘’o hábito constitui em nós uma segunda natureza’’ capaz dealterar o desejo* ) e disposição (pré-disposição pra agir de determinado modo numa devida situação. A disposição é adquirida pelo hábito).
motor da ação pra Sócrates ( conhecimento de que algo é bom ) X motor da ação pra Aristóteles (desejo*: capacidade humana de querer, parte da alma que leva a pessoa a agir como ela age: podendo ser alterado pelo hábito, o desejo é, portanto, mutável). 
Outro conceito da ética Aristotélica: caráter : a inclinação pra agir de um modo ou de outro adquirida pelo hábito constitui, numa pessoa, um caráter virtuoso ou um caráter vicioso, já que o hábito é capaz de mudar o desejo. Há, portanto, uma direta relação entre ato e caráter à medida em que a repetição de atos forja o caráter.
Jovem age pra formar seu caráter. Adulto age a partir do seu caráter.
Aristóteles dizia que NÃO há matéria dissociada da forma => a essência continuava, nesse sentido, como algo incorpóreo.  (Platão acreditava que sim, poderia haver).Deve-se lembrar da diferença entre FORMA EM ATO (semente por si só, por exemplo) e FORMA EM POTÊNCIA (semente pode virar árvore, por exemplo). Uma única matéria pode abranger várias formas em potência. 
Para Aristóteles, o que definiria o homem seriam as formas em potência. Nesse sentido, a felicidade seria a atualização máxima de todas as nossas potências: seria, portanto, a realização plena de todas as nossas potencialidades (autorrealização plena).
Adquirir a virtude, assim, seria criar tendências pra agir de modo justo/temperante/etc, ao transformar o desejo pela aquisição de BONS hábitos. Isso levaria a uma disposição virtuosa, em que aprender-se-ia a ter prazer com aquilo que é racionalmente bom pra cada um. Adquirir a virtude seria, portanto, em algum aspecto, ‘’adestrar-se’’, repetir, condicionar-se mentalmente em direção à própria felicidade.
Moderação: ‘’o quê’’, ‘’o quanto’’, circustância IDEIAIS. 
Ato (aquilo que faço) x Caráter (aquilo que sou) : pode-se trocar mais facilmente os atos. Aquilo que se consolida lenta e gradualmente pelo hábito só se modifica da mesma maneira (lenta e gradualmente pelo hábito).
Para Aristóteles, embora a aquisição de virtude requeira prática, ‘‘adestramento’’, é também é necessário haver A COMPREENSÃO DOS CONCEITOS (paralelo com a concepção socrática). => esses dois processos acontecem simultaneamente e se concluem numa mesma etapa, quando há um grande número de ações virtuosas: a pessoa, então, vê-se apta a definir e JUSTIFICAR a virtude. => imitação, são necessários EXEMPLOS
Aristóteles cria que o reconhecimento social da virtude está ligado AO INTERESSE. Quer-se ser virtuoso para se beneficiar daquilo que a virtude pode ofertar. (Exemplo de pessoa considerada justa, que sempre recebe melhores ofertas de cargos, por estar o valor de justiça reconhecido como bom pela comunidade). O fato de a comunidade RECOMPENSAR indivíduos virtuosos faz com que as pessoas busquem a virtude. Depois da prática e de esse indivíduo ter se tornado virtuoso efetivamente, esse processo se naturaliza (mas a princípio foi movido pelo interesse).
DITADO –>Virtude ética para Aristóteles:
É uma disposição (tendência, inclinação) adquirida pelo hábito de realizar ações de certo tipo quando uma circunstância de ação propícia se apresenta. Tal disposição não é, no entanto, um mero automatismo, ou seja, um mero comportamento irrefletido e mecânico, mas algo que aquele que possui a disposição é capaz de compreender, definir, e justificar racionalmente. 
Relação entre caráter virtuoso/vicioso e responsabilidade: 
fala-se em responsabilidade como responsabilização(conexão da ação ao ator –> ação louvável merece recompensas e ação reprovável merece penalidade). Só pode responder por uma ação o indivíduo responsável por ela. Não se pode responsabilizar alguém pelo caráter: isso se dá pois há a possibilidade uma pessoa justa, por exemplo, executar, em algum momento, uma atitude injusta. Deve-se responsabilizar alguém por aquilo que ela FAZ(atos) e não por aquilo que É(caráter).
Condições políticas para emergência da virtude:
Recompensa de atitudes virtuosas
Exemplos pré-existentes de virtudes
Exemplo das pólis que atribuíam ‘‘diferentes pesos’’ às virtudes distintas (coragem, justiça, temperança): Atenas, Esparta, Télos, cada uma valorizava uma virtude. Esparta, por exemplo, valorizava mais a coragem, por ser mais beligerante/guerreira. Diferentes pólis podem, assim, ter diferentes sistemas de retribuição e, ainda assim, todas estimularem a virtude.
Mas poderia haver uma pólis que não teria um sistema justo de recompensas? Para Aristóteles, sim, poderia. Mas essa pólis, para ele, seria uma comunidade política fundamentalmente instável e, portanto, desapareceria, desagregar-se-ia. Por quê? Porque todos querem viver numa pólis justa (que valorize e recompense a virtude). Ninguém almeja viver numa pólis que não se dirija ao bem comum.
Na imensa maioria das comunidades, segundo Aristóteles, há a possibilidade de o indivíduo desenvolver a sua virtude e, por isso, o indivíduo é responsável pelo seu caráter. => não pode generalizar (Exemplo da favela, contra-argumentos). 
A violação sistemática das normas faz com que desapareçam as expectativas de interação social. De uma forma ou de outra, toda forma de organização social possui um sistema de atribuição de responsabilidade por ato. Pode-se viver em sociedade porque sabe-se o que se espera do outro. Viver em sociedade implica a existência da responsabilização por atos. Pro Aristóteles, o homem é um animal racional e social, um ser necessariamente social –> capaz de se colocar no lugar do outro (deve-se lembrar o que já foi falado anteriormente, ‘’o que define o homem são as suas potencialidades’’, por isso o bebê é considerado homem). 
Ex das irmãs lobos –> Pro Aristóteles não é preciso justificar a existência de responsabilidade por atos em seres humanos não socializados pois eles NÃO SÃO seres humanos no sentido pleno (assemelham-se mais a um animal mesmo). 
AFERIDOR(atribuidor de responsabilidade) // AGENTE.O aferidor, para Aristóteles, deve fazer dois pressupostos para avaliar o agente. Deve, primeiramente, pressupor que o mundo no qual o agente age é CONTIGENTE(indeterminado), ou seja, que o futuro está aberto, que os acontecimentos do mundo não estão pré-determinados. O aferidor deve pensar, portanto, que as atitudes do agente geram consequência => se os acontecimentos fossem pré-determinados não faria sentido responsabilizar alguém pelo que já aconteceria.
Aristóteles faz também uma consideração a respeito do agente. Pro Aristóteles só é responsável por uma ação aquele que ‘‘age de bom grado’’. Essa expressão significa agir de modo não coagido (Ética a Eudemo) ou agir voluntariamente (Ética a Nicômico). Ele diz que age voluntariamente aquele que é o dono da ação, ou aquele que é o princípio interior da ação, ou aquele de quem a ação depende para acontecer ou não acontecer. Essas três definições nos faz olhar para aspectos diferentes da voluntariedade (e o conjunto delas permite, em última análise, uma atribuição de responsabilidade).
Aristóteles exclui da responsabilidade os animais, as crianças e os amentais, já que eles não são donos de suas ações.Princípio interior da ação: a ação tem que depender do agente pra acontecer ou não. Segundo esse princípio, os resultados seriam definido segundo o consentimento do agente. E só é capaz de consentir aquele que faz algo – e poderia não ter feito -. O agente coloca em movimento um curso de ação – o qual poderia ter tomado outros rumos-.Aquele que consente faz com que as coisas tomem rumos de acordo com aquilo que ele concorda, tolera ou aceita: a omissão, assim, seria uma forma de ação. => Consentir é ser capaz de antecipar os prováveis resultados de duas ou mais ações, optando por uma delas e influenciando o curso das coisas. A responsabilidade está diretamente ligada à capacidade de consentir.
O primeiro curso de ação do agente definido pela vontade imediata de obter prazer e afastar a dor. Contudo, operações intelectuais e o desenvolvimento cognitivo abre o curso de ação: premeditação –> isso viabiliza o consentimento. => amentais, animais e crianças não são plenamente racionais (outro motivo que os impossibilita de serem culpabilizados).
Diferença entre ter escolha e haver ou não consentimento –> exemplo do ‘‘dá um tapa na sua colega ou morre’’: há, em certa análise, uma escolha, mas jamais um consentimento por parte do agente que optou por dar o tapa na colega (ou morrer rs)
–> Exemplo de quando bebe e NÃO percebe a possibilidade de reduzir a velocidade ou não reduzir e atropelar o pedestre que estava passando. No entanto, houve o consentimento ANTERIOR de beber (sabendo que depois teria que dirigir) –> há graus e graus de consentimento(cada caso requer uma análise própria). Há, nesse exemplo o consentimento em prejudicar a posterior habilidade de consentimento, e portanto, segundo Aristóteles, poderia sim atribuir responsabilidade àquele que atropela. 
Únicos dois atos que excluem o consentimento, segundo Aristóteles:
ignorância a qual o próprio sujeito deu causa 
atos impostos a partir do exterior
Sendo o consentimento o núcleo da responsabilidade e nós os responsáveis por nossos atos, será que consentimos com nosso caráter? — Pergunta misteriosa! (vai enrolar e demorar pra responder…) 
A concepção da alma de Aristóteles (a alma é o que difere os homens de todas as coisas, sendo a alma aquilo que faz do homem agente e conhecedor) é diferente da concepção socrática(a alma para ele é a razão=> o que o homem faz é sempre o que a razão identifica como bom). Motor da ação pra Sócrates ( conhecimento que algo é bom ) X pra Aristóteles ( desejo ).
Para Aristóteles a alma é dividida em 3 partes: apetitiva, sensitiva(movida pelo desejo) e racional(movida pelo intelecto) => o desejo é passível de ser aprimorado ou deteriorado. Ele pode ser transformado. A alma apetitiva seria uma espécia de força inerente a todo ser vivo que consiste numa busca ao crescimento e à perpetuação de si mesmo [plantas e animais, por exemplo, possuem a alma apetitiva]. A alma sensitiva seria a capacidade de buscar aquilo que nos agrada e bloquear aquilo que nos repele [homem e animal => plantas não, já que não tem receptores sensoriais]. A alma racional, por sua vez, abrangeria a estrutura central do intelecto que nos permite conhecer ecalcular(deliberar meios, premeditar). O intelecto propõe os fins, mas não os meios(que são propostos pelo desejo). => virtudes dianoéticas são as excelências intelectuais daqueles que são muito bons em determinadas funções. A excelência em conhecer chama-se Sophia, sabedoria. A excelência em calcular chama-se Phronesis, prudência. 
O desejo irracional diz que o homem pode se mover pela cobiça(concubiscência), capacidade a agir por meio da busca do prazer sensorial, rejeição à dor/sofrimento ou arrebatamento, capacidade de mover a ação por meio de emoções fortes (como raiva, medo). Possuir cobiça é ter a capacidade de ser movido pelo princípio do prazer(buscar o que é gostoso e repelir o que é ruim). Possuir arrebatamento é agir de acordo com emoções fortes => isso não é muito diferente dos animais.
Na aula passada, vimos o conceito de proairesis (escolha intencional) e como esse conceito revela os diferentes graus/as diferentes disposições éticas(caráteres). Esses caráteres serão diversos pois os hábitos teriam deixado diferentes desejos.
Há dois sentidos de temperança:
Sentido estrito: virtude ética específica -> tendência pra agir de modo determinado porque o hábito o transformou o desejo que adquiriu a temperança de modo que ele tenha prazer na medida ideal, com a coisa ideal, na intensidade adequada. É a moderação dos prazeres sensoriais. Ex: a pessoa temperante tem prazer com sexo/em comer na medida adequada, e não realiza excessos. A pessoa obsessiva por sexo/em comer acaba criando, na concepção aristotélica, um obstáculo à própria felicidade. 
Sentido amplo: A temperança é usada como modelo para a virtude em geral, para a educação dos desejos de modo a contribuir para a felicidade. Nesse sentido, a temperança abrangeria a justiça, a coragem e uma série de outras virtudes. 
A boulesis é a capacidade de fazer algo porque esse algo conduz à felicidade, à vida boa.
O vicioso é aquele que desenvolveu maus hábitos. Isso é uma perversão da boulesis. Não a destroi ou a faz desaparecer, apenas a corrompe pois MESMO O INDIVÍDUO VICIOSO QUER SER FELIZ (ele só busca a felicidade onde ela não pode ser encontrada).
Processo de perversão da boulesis –> o indivíduo tem dois cursos de ação (um que conduz à vida boa e outro que não, que não é bom a longo prazo mas proporciono prazer imediato; noção de consetimento): ao repetir a escolha negativa, perde-se a capacidade de desejar aquilo que não é fácil ou imediatamente prazeroso, e isso é exatamente a perversão da boulesis. Prazer imediato sensorial e facilidade da ação são agradáveis ao indivíduo vicioso.
Continente x Incontinente: o continente na hora de agir toma habitualmente decisões externamente equivalente às do temperante; o incontinente ‘’ às do intemperante. Todo continente ao fazer algo que deseja faz também algo que não deseja – faz com esforço, com pesar, com desprazer, com dificuldade. O incontinente, possuidor da fraqueza da vontade,embora queira fazer aquilo condutivo à sua felicidade, ele acaba realizando aquilo que é prazeroso. Não se pode, contudo, igualar os conceitos, respectivamente, de temperança e intemperança ao continente e incontinente.
Resposta, ENFIM, à pergunta que se foi feita inicialmente: pode-se responsabilizar alguém pelo seu caráter e não pelos seus atos?
Como observador do comportamento humano, Aristóteles percebe que se deve fazer 2 considerações (uma sobre o agente e outra sobre o emissor de juízo /\ voltar lem cima) para poder responsabilizar alguém. Agora nos interessa a pressuposição sobre o agente. –> Só é responsável pelo caráter, nesse sentido, quem foi capaz de consentir com a produção desse caráter (e um indivíduo só é capaz de consentir com algo que tem mais de um curso de ação à sua disposição): para penalizar alguém por um mau caráter é preciso supor, então, que haveria a POSSIBILIDADE DE QUE, NAQUELAS CONDIÇÕES SÓCIO POLÍTICAS fosse possível desenvolver o bom caráter. * condições políticas => ter o exemplo, e a pólis recompensar.
De fato, Aristóteles diz que o homem é responsável por seu caráter. Argumento prima facie (que vale a primeira vista) aristotélico: como o hábito continua sendo consolidado após a infância e altera o desejo de maneira CONSENTIDA o caráter é resultado de ações consentidas e, portanto, fruto de escolhas (podendo alguém ser, por ele, responsabilizado).
Mas uma pólis que não ofereça condições sócio-políticas (ter exemplos de e recompensar ações virtuosas) adequadas TENDE AO CAOS, é uma pólis INSTÁVEL.  por isso Aristóteles diz, prima facie, que SIM, pode-se atribuir responsabilidade pelo caráter.
Outro ponto do argumento prima facie: se o consentimento é a raiz da responsabilidade, só é responsável pelo caráter quem concordou com este caráter.  Mas será que dá mesmo pra concordar com o caráter? 
O problema deste argumento é que uma coisa é consentir com ações(que têm resultados imediatos) e outra é ‘‘consentir’’ com o caráter (que é difícil prever, calcular, não se pode definir ao certo aquilo que vai acontecer/os resultados futuros).
A defesa de que ‘’eu não sabia estar consentindo com isso, de que no futuro tal coisa estaria de tal jeito’’ é forte e pode desbancar o argumento prima face de Aristóteles. Mas essa defesa não é tão válida assim, pois quem convive em sociedade convive com exemplos pré-existentes de virtude e vício, narrativas biográficas de pessoas que desenvolveram virtudes e vícios nas nossas comunidades. Essas narrativas nos contam COMO essas pessoas nos tornaram o tipo de pessoas que se tornaram. => O intemperante, assim, não pode usar a defesa do ‘’eu não sabia’’. Diante dessa conclusão, o homem é SIM responsável pelo seu caráter. O intemperante CONSENTIU em adotar o hábito que formaria o mau caráter, mesmo existindo exemplos pré-existentes do mau caráter: ele é responsável pela sua própria incapacidade de querer qualquer outra coisa a não ser o prazer.
É possível ser temperante em uma coisa e intemperante em outra? Pro Aristóteles NÃO:doutrina da unidade da virtude. Pra ser justo, por exemplo, é preciso ser pelo menos um pouco corajoso. A coragem também exige um mínimo de justiça. O exercício de uma virtude exige o exercício de outras virtudes. O mesmo vale para os vícios: o exercício de um vício exige o exercício de outros vícios.
aula que vem: ‘‘cúpula geodésica’’
Pode-se passar da incontinência à temperança, mas isso é uma possibilidade bastante improvável. Cúpula geodésica (vida como um todo detentora de sentido).
Momento eticamente sensível => ausência de caráter (não passou pela vida adulta, não teve experiências suficientes para formar de fato o caráter) –> nós.
Aristóteles fala que, na infância, o caráter é mais maleável à aquisição de bons ou maus hábitos –> a suscestibilidade do desejo a partir dos hábitos vai se reduzindo com o passar do tempo. (por isso é tão importante adquirir virtude e bons hábitos desde o começo, para ele vai ficando cada vez mais difícil mudar depois).
Na Grécia antiga, a passagem pra vida adulta era poder participar das discussões políticas => pré-caráter, ali, consolidar-se-ia, pois o homem deveria assumir para si próprio e para os outros suas aspirações, e poder ser cobrado com base nisso. => participação na ekklésia => por isso é um modelo eticamente tão importante.
O momento em que estamos é eticamente belo e grave => novas experiências, ainda viabilização da mudança.
 
Voltando à questão da mutabilidade do caráter: A passagem pra vida adulta a definição da tendência ética. Hoje esse momento seria um conjunto de coisas: trabalhar, ter filho, casar, etc (pra cada um cada uma dessas coisas têm pesos diferentes). É muito mais fácil adquirir um caráter bom/ruim de maneira originária do que de maneira derivada. Ex da academia –> é mais fácil malhar quando já se tem o hábito antigo, em oposição a quando se decide, oportunamente, malhar, mas há a possibilidade de ser levado/corrompido pela fraqueza da vontade.
Mudanças de caráter podem ser feitas segundo a seguinte foto:
legenda *: t: temperante:   j: justo  / c: corajoso / qj: quase justo
c: continente:   qc: quase corajoso / qi: quase injusto / qv: quase covarde
inc: incontinente :    v: covarde
int: intemperante
 
Mas esse esquema da foto é a tese. De maneira geral, o temperante, para Aristóteles, está IMUNIZADO contra o vício: só se pode decair da virtude em casos de mudanças bruscas, radicais negativas da condição de vida. Em condições normais, sem grandes tragédias, o prazer reforça a felicidade e a felicidade reforça o prazer.
O intemperante adulto está além de toda e qualquer capacidade de resgate: não pode ser resgatado => não consegue mais querer  coisas prazerosas/fáceis, e pra mudar é precisoquerer.
* o intemperante se deu mal por culpa DELE próprio, ELE consentiu com suas ações. Deve assumir as consequências negativas de seus atos e a incapacidade de mudar. 
Princípio da cobiça: ‘‘faça o que te dá prazer; evite o que te dá desprazer’’. 
 Quem pode mudar MESMO é o continente e o incontinente
Embora o continente e o incontinente POSSAM mudar, isso é bastante improvável. Trata-se, portanto, de uma possibilidade improvável. 
Embora Aristóteles não tenha dito isso, pode-se concluir que o incontinente e o intemperante são infelizes. 
Lógica Aristótelica: aquilo que se instalou lenta e gradualmente só pode se modificar igualmente lenta e gradualmente. 
‘‘Sou o que sou porque ajo como ajo e ajo como ajo porque sou o que sou’’ : justo age justamente porque é justo; corajoso age corajosamente porque é corajoso –> há algo excessivo nessa ideia de que o caráter determina os atos. 
Para ser viável -e não provável- a existência dos casos em que o caráter muda, deve-se ser possível a realização de um ato que não é um reflexo fiel do seu caráter (indivíduo justo que de vez em quando tem atitudes injustas, etc). 
Ditado –>Quatro condições para a mutabilidade do caráter
A contingência presente nas ações humanas. Mesmo que o hábito nos leve a repetir o que vínhamos fazendo, esta constância pode ser alterada por circunstâncias além do nosso controle. Constância não é necessidade.
Influência da evolução fisiológica do temperamento sobre o caráter. Certos defeitos(impulsividade, prodigalidade) tendem a ser reabsorvidos, reduzidos, com a idade. Outros(avareza, covardia) tendem a se agravar com a idade, podendo tornar-se incuráveis. 
Suscetibilidade à persuasão racional. O homem não é apenas um ser de hábitos, mas pode fazer uma escolha contrária à sua natureza se estiver persuadido racionalmente de que essa escolha é preferível. Raro, porém possível. 
Distância que separa o ato da disposição ética. O caráter(virtude/vício) não é a causa do ato, mas da disposição ética com a qual ele é, em regra, feito. 
	d.1 O hábito não explica completamente o ato(porque ele é feito, mas a qualidade do conjunto de atos)
	d.2 Diferença temporal. Ato e caráter se tornam reais em escalas de tempos diversas. O ato é instantâneo, episódico. O caráter é duração/percurso de tempo/durar de algo. Tal descompasso é o que torna possível a realização de um ato diverso daquele que se espera. 
Contingência é indeterminação, não necessidade. O mundo é contingente e, por sê-lo, ele nos afeta. Os acontecimentos fora do controle podem nos impactar e mudar nossas ações. 
O temperamento afeta o caráter. O organismo influencia o seu temperamento: determinação biológica/fisiológica tem, portanto, consequência no caráter. Aristóteles percebia que havia componente orgânico que tinha consequência no caráter: com certeza se referia aos hormônios (excessivos na adolescência). Adolescentes são impulsivos. São, também, pródigos.
Ex interessante de vício que tende a se agravar com o passar do tempo é a covardia. Covardia é não ter medo. Sendo o covarde aquele que maximiza o risco, essa características tende a aumentar com o passar do tempo*. O corajoso, por sua vez, é aquele que possui uma tendência adquirida por hábito de superar riscos quando ele acredita que os fins conduzem à vida boa.  
*tende a aumentar com o tempo pois o corpo fica, com o passar do tempo, por si só, mais frágil: o próprio corpo, com o envelhecimento, fica mais frágil.E, com isso, o risco aumenta. 
Terceira condição pra mutabilidade do caráter só se aplica ao incontinente.
APROFUNDAMENTO NA FIGURA DO VICIOSO:
Torna-se vicioso através de uma série de maus hábitos. Há um curso de ações que leva à vida boa e aquele imediatamente fácil e prazeroso. Para Aristóteles, se a virtude é o REGRAMENTO DO DESEJO, regrar é colocar medida, proporção; o desregramento do desejo é o vício, e quando acontece num grau muito intenso e só torna irreversível, fala-se no vício ou na intemperança. O vício ético plenamente consolidado, nesse sentido, seria fazer o mal por escolha intencional:perversão da boulesis. 
Inteperante x Incontinente: O intemperante faz as coisas INTENCIONAMENTE, diferente do incontinente.O intemperante raciocina tranquila, fria e serenamente sobre os meios para atingir os fins que almeja. Ele premedita. Isso mostra, portanto, que sua capacidade de raciocinar está intacta. = > o incontinente faz porque é prazeroso. 
O incontinente raciocina mal EM ALGUNS CASOS 
A pólis percebe o intemperante de maneira negativa. Quer distância. Vê uma necessidade de administrar essa relação. A pólis crê que ela mesma fracassou na formação desse indivíduo, e, por isso, ela mesma deve se responsabilizar em consertar o erro de formação posterior.
O ciclo do desregramento pleno se completa com o aparecimento do cinismo(soma de premeditação com dissimulação). Não há remorso. A pessoa cínica sem remorso não é vítima dos desejos, ela é CÚMPLICE dos seus desejos desregrados. A pessoa sabe que está fazendo errado, mas não é capaz de entender PORQUE é errado. 
O intemperante se diz feliz. Mas felicidade pro Aristóteles não é prazer. Para ele, pode-se ter prazer e não ser feliz. O prazer, para ele, é um ‘‘mestre esquizofrênico’’, toda hora muda, não é estável. Não traz estabilidade. Felicidade está mais relacionado à percepção social, reconhecimento. O intemperante pode ‘’querer mudar’’, mas esse ‘’querer mudar’’ permanece abstrato, pois esse querer mudar não se concretiza com atos. O incontinente, por sua vez, já pode mudar: ele está de acordo com o que ele fez. 
Gastaremos mais tempo falando da incontinência pois ela é mais interessante. A primeira experiência da teoria ética que a reconhece como teoria real é de Aristóteles: ele é o primeiro a reconhecer a realidade da incotinência: pode-se saber que algo é condutivo à vida boa e mesmo assim não fazê-lo. O incontinente, assim, possui uma notória peculiaridade: é o único que não age de acordo com a sua intenção.
(Até o intemperante faz aquilo que planejava fazer: ele faz aquilo que racional e premeditadamente planeja. –> Perversão da boulesis). 
O que acontece com o incontinente que faz com que ele aja de maneira não intencional? –> pergunta central desta aula 
Sendo o motor da ação o desejo, e esse desejo definindo fins; é necessário planejar, raciocinar sobre como chegar a esses fins. Todos os seres racionais deliberam meios para chegar aos fins. Isso acontece SEMPRE, mesmo nas vezes em que se pensa agir sem pensar: não existe agir sem pensar, existe agir pensando mal ou pouco. 
Os fins são dados pelos desejos, os meios, por sua vez, são dados pelo intelecto. 
A transmissão motivacional se dá dos fins para os meios e essa transmissão motivacional funciona equivocadamente no caso do incontinente.
Desejo e Intelecto:
desejo: faculdade motora 
intelecto: faculdade de julgar, por ser a faculdade humana realizadora de juízos(afirmações) => atribuição de algo a algo. 
Aquilo que eu atribuo recebe o nome de predicado. Aquilo ao qual eu atribuo recebe o nome de sujeito. Todo juízo tem a seguinte estrutura: sujeito é predicado. Todos os conhecimentos produzidos pelo intelecto na função de conhecer tem essa mesma estrutura. => os conhecimentos envolvidos no calcular(deliberação da ação), também. 
O intelecto na ação coloca os fins de maneira relacionável aos meios. Isso exige que o intelecto reconstrua, reorganize os meios que é também a estrutura de juízo (sujeito e predicado). 
Em tese, os juízos podem ser de dois tipos 
‘’a parede é bege, a sala está cheia’’ –> juízos de fato: tem a pretensão de quem os realiza de dizer como as coisas são ou estão sem ser posicionarem. É simplesmente um relato neutro, imparcial, não comprometido. Não implica uma tomada de posição do agente em face da realidade. TENTATIVA DE DESCRIÇÃO AVALORATIVA 
‘‘esta ação é injusta, João é feio; Fernando é mal’’  –> juízos de valor: implicam uma tomada de decisão de quem os realiza. O parâmetro de valoração importa envolver ou não uma TOMADA DE POSIÇÃO. DESCRIÇÃO VALORATIVA.
Esses dois tipos de juízos são tratados como dicotomia. No entanto, há pessoas que afirmam que essa dicotomia é FALSA, pois podem-se fazer ‘’descrições valorativas’’: FAVELADO, PRETO, RUDE, CRUEL, etc… (Yago mito, bem observado!)
Aristóteles fala que o juízo DE VALOR (ou descrição valorativa) pode ser operado pelo intelecto em conformidade com o pensamento discursivo(nesse caso se revela   o desejável racional o útil ou nocivo // belo ou feio)…   ou então pode ser operado pelo intelecto em conformidade com a percepção sensível (nesse caso se revela o bom ou desejável sensível, assumindo-se a forma do agradável ou penoso// prazeroso ou desprazeroso) ————————————-> útil é bom PARA, belo é bom PONTO.. Ex. Estudar Direito é útil PARA passar em concurso. Belo é aquilo que é desejável por si mesmo: ex –> saúde, felicidade. No entanto, raciocinamos tanto para AGIR(raciocínio prático) quanto para CONHECER(raciocínio teórico). 
 Há um traço que só aparece no incontinente: incapacidade de realizar silogismos práticos. Mas a maneira com a qual os tipos de incontinência lidam com esse silogismo prático é diferente. 
incontinente por arrebatamento: emoções fortes. Raciocínio prático inadequado. Realiza um silogismo prático exclusivo. O arrebatamento faz com que o indivíduo queira passar DIRETO do desejo para a prática. Não tem serenidade pra pensar com calma exatamente por ter emoções tão fortes. O incontinente por arrebatamento raciocina MAL. Começa com a premissa maior valorativa racional => vacila, equivoca-se na hora de fazer o raciocínio. O arrebatamento faz com que esse indivíduo queira concluir logo a ação, portanto, ele Passa rápido demais pela premissa menor.
incontinente por cobiça: para Aristóteles, é o que mais sofre. Começa com a premissa maior valorativa sensível, associando-se ao intemperante. Esse incontinente troca a premissa maior por ser fraco. Sua cobiça fala mais alto. Troca a premissa maior de acordo com sua cobiça. 
Para se melhorar deve melhorar O DESEJO pelo HÁBITO, e não o RACIOCÍNIO. O comprometimento do raciocínio é SINTOMA, e não CAUSA do mau caráter. 
/\ encerra-se incontinência 
Temperança e sua relação com a prudência
‘’  A virtude ética é a erradicação completa dos desejos excessivos maus ‘’ => expressão errônea, exagerada. Virtude ética não é erradicá-los completamente, é saber lidar com eles, reorientá-los. 
O que caracteriza o temperante não é apenas a ação reta, mas também a transformação interna dos desejos pelo hábito.  
- Formas de adquirir a temperança/virtude ética: 
adquirir bons hábitos desde o começo => mais comum, já que o desejo é mais plástico e mais maleável quando se é jovem. 
progredir a partir da continência 
Indivíduo que adquiriu bons hábitos etc é VIRTUDE ETICAMENTE, não virtuoso total. 
Prudência/Sabedoria são virtudes dianoéticas ou intelectuais. A virtude plena se dá quanto temos a associação da virtude intelectual com a virtude ética. Ser prudente é ser capaz de planejar muito bem a ação. Pro Aristóteles, só o temperante é prudente, e a temperança requer EXPERIÊNCIA. A prudência, assim, seria adquirida tardiamente. Fica-se bom em planejar ações PLANEJANDO, agindo na prática. 
intemperante e continente, incontinente por cobiça deliberam(uma vez trocada a premissa) deliberam meios de forma normal. O incontinente por arrebatamento é o mais deficiente nesse sentido. 
A excelência na deliberação de meios é caracterizada pela escolha de jeito pra agir que se encaixa perfeitamente em que se pretende fazer. A sua deliberação de meios não é dedutiva, não é do que se tem para a circunstância de ação. É dela para o que se tem. É inventiva e criadora: invenção. Para isso é necessário experiência, saber em que aspecto algo deu errado e em que aspecto algo deu certo. A prudência é, portanto, caracterizada por uma deliberação de meios inventiva e criadora, e não dedutiva.
Não se pode deduzir o ato a partir do caráter exatamente pois sua deliberação de meios é inventiva e CRIADORA. E essa ação vira exemplar, modelo para que os outros sigam.
‘’O caráter determina os atos no atacado, não no varejo’’ => a partir do caráter pode-se ter uma ideia RASA, SUPERFICIALdos atos de quem o tem. 
Outra condição (além das imprevisibilidades mundanas) capaz de abalar a temperância: poder político todo concentrado na mão do indivíduo. 
Só o temperante pode ser prudente pois excelência no raciocínio exige SERENIDADE=> ausência de tumulto de desejos internos(isso exclui o continente e o incontinente). A prudência exige ainda unidade de finalidade (isso exclui o intemperante, que age pelo prazer). 
Ex do trânsito que atrasa a pessoa:
Incontinente: planeja sair mais cedo não consegue
Continente: sai mais cedo sofrendo
Temperante jovem: pensa em sair mais cedo, sai mais cedo, não sofre, teve que dormir mais cedo
Temperante prudente: não teve que dormir mais cedo. plano mirabolante de ligar pra autoridade responsável de trânsito.
Equidade: ‘’a equidade não é diferente da justiça mas é melhor que ela’’ : incorpora o conteúdo da justiça, se adaptando às particularidades do caso concreto. Régua de lesbos: adequação, fita métrica que se molda às particularidades. A equidade é, portanto, a forma que a prudência assume quando a virtude ética em jogo é a justiça. 
A prudência depende da virtude ética pra poder ser desenvolvida 
A virtude ética depende da prudência para sua PERFEITA CONCRETIZAÇÃO/IMPLEMENTAÇÃO no campo da ação. 
KANT
Tentamos identificar o modo como Kant compreende o fazer filosófico. A teoria da realidade seria o ponto de partida, para dali colher elementos e dali responder elementos de outras subdivisões da filosofia. 
A modernidade traz uma tentativa de explicar o conhecimento buscando a resposta pra isso dentro da estrutura da consciência racional(eu, mente). Mas esse conceito de eu,mente, consciência racional é feito por Descartes. Descartes descobre uma certeza inquestionável que é: ‘’eu existo’’, mas essa certeza só se estende à mente, pois ela se pauta no argumento dos sonhos. A pista de que eu existo é que eu penso. 
Descartes coloca tudo em dúvida, menos o fato de que eu penso. 
Como descartes chega nessa ontologia dualista? 
 testagem das crenças –> precisa separar as crenças em duas caixas: ‘’é o fundamento’’ e ‘’não é o fundamento’’. Para separar em é ou não é o fundamento ele filtra segundo a dúvida metódica, segundo o uso da dúvida não COMO FIM (como faz o cético), mas como MEIO. 
 Há dois movimentos no método de Descartes: um de descida pra chegar ao fundamento e outro de subida do fundamento para os outros saberes. 
A ética do Platão está ligada à ontologia, pois consistia na capacidade de compreender o bem, influenciada por Sócrates pela ideia de quem conhece o bem faz o bem; conhecer o bem não seria conhecer uma coisa boa, mas ser capaz de incorporar a ideia de bom: o bem, assim, estaria no mundo das ideias. Até a filosofia política de Platão dependia da filosofia, pois os filósofos com os seus intelectos mais avançados e treinados na arte da dialética poderiam funcionar na dimensão política como o Deus artesão funcionaria com relação à matéria; e o política faria a mesma coisa: captaria com seu intelecto a ideia de bem/justiça e na hora de dar forma às pólis traduzir essa ideia na prática. 
A ética aristotélica também está ligada à ontologia: as potencialidades do desejo, quando plenamente desenvolvidas dariam origem às virtudes éticas; as potencialidades do intelecto, quando plenamente desenvolvidas dariam origem às virtudes dianoéticas. Essa própria teoria depende de conceitos desenvolvidos na ontologia.
Na Modernidade há uma ruptura, e os filósofos passam a ver de acordo com epistemologia, e não mais na ontologia. Epistemologia seriam as condições necessárias ao conhecimento: processos e estruturas por meio dos quais tomamos consciência das coisas. Essa ruptura nos interessa: ela coloca como campo de investigação filosófica prioritária um mergulho para dentro do próprio sujeito para, a partir daí, explicar todas as coisas. Pros filósofos modernos as questões da ética, da estética e ATÉ DA ONTOLOGIA dependem de não poder atacar as questões diretamente, sendo necessário antes o colher conceitos. E isso caracteriza o jeito de fazer filosofia na Modernidade, o paradigma da consciência. 
Kant é certamente aquele filósofo no qual essa inversão, essa quebra paradigmática (ontologia como filosofia primeira e compreensão das ideias como filosofia primeira) mais se manifesta. Ele, contudo, não é aquele que faz a descoberta filosófica que torna possível essa virada: o descobridor. Foi, este, Descartes, preocupado em fornecer um fundamento sólido e racional pro conhecimento. 
Depois do Kant, toda ontologia passa a ser relativa a uma estrutura cognitiva. Teoria do mundo fenomênico nosso –> não haveria mais uma ontologia absoluta.
As leis jurídicas e morais são leis em sentido deontológico, que diz o que é/deve ser.
As leis da ciência são ontológicas: dizem o que necessariamente acontece, o modo como as coisas necessariamente funcionam.
Temos tanto uma norma moral, que diz que não se deve matar, como uma norma jurídica que também diz isso. Essa lei diz o que deve acontecer, mas não implica necessariamente que vai acontecer. Mas se uma lei da ciência que diz que todo metal dilata com calor, isso efetivamente acontecerá. As leis da ciência tem as seguintes características: universalidades e necessidades(sei, antes de acontecer, que um dado acontecimento concretizar-se-á). Mas antes da filosofia e da ciência do Kant, confia-se nas coisas com base na indução. A indução é a tendência de projetar pro futuro resultados idênticos que experiências deram no passado. Hume diz que a indução não gera certeza e as leis científicas se caracterizam pela certeza: a indução é uma segurança psicológica, mas não quer dizer que algo, por meramente ter acontecido várias vezes, continuará acontecendo. Indução não gera certeza (ex do Sol).  
Kant demonstra que ao fazer ciência estamos mapeando os limites possíveis do mundo de aparência que nós construímos. Quanto mais conhecemos a ciência mais conhecemos nós mesmos. Fazer mais ciência, assim, seria conhecer mais os seus próprios limites: mais do que conhecer a coisa em si. Conhecer os limites do que pode acontecer é conhecer os limites da nossa capacidade, e isso é a única coisa que explica como podemos saber antes de acontecer que tal coisa vai acontecer. Se se conhecesse o mundo tal qual ele é em si mesmo seria futurologia (algo sentido, vidência inexplicada), mas a partir do momento que faz essa inversão e saí de um realismo epistemológico ingênuo por um antirealismo mais palpável, pode-se fazer conclusões sobre a universalidade e a necessidade dosacontecimentos físicos do mundo. 
 Quatro ideias centrais da filosofia da consciência ou paradigma da consciência(todas presentes manifestamente na filosofia kantiana):
Primeira: toda investigação filosófica que visa responder às perguntas perenes(contínuas, permanentes) das várias subdisciplinas filosóficas (ética, estética, ontologia, filosofia política, etc) começam com um mergulho de instrospecção: a compreensão do funcionamento das estruturas internas e processos característicos da consciência racional;
Segunda: essas estruturas e processos são inatos(que não é nascido);
Terceira: essas estruturas e processos tem um modo de funcionamento constante: não se aprimoram nem se deterioram com o uso ou com a experiência(são a priori, ou seja, anterior e independente à experiência);
Quarta: tais estruturas e processos são compartilhados por todos os membros da nossa espécie. 
Devemos ter em mente que a ordem de explicação de Kant vem desses quatros compromissos do paradigma da consciência. O valor moral de uma ação para ele estava ligado às motivas de uma ação, e não à consequência como previa Aristóteles. Uma ação ética/virtuosa pra Aristóteles conduz à felicidade. Pro Kant o efeito ou a consequência de uma ação é absolutamente irrelevante pro valor moral de uma ação. Se a motivação é não moral, a ação é não moral, independentemente dos resultados; se a motivação é moral, a ação é moral, independentemente dos resultado.Kant,assim, valoriza a MOTIVAÇÃO (o que desencadeia o resultado ou comportamento) –> e o que desencadeia isso são processos internos à consciência. Ex da velhinha (um ajuda pois objetivava ajudar e fazer o bem e o outro ajuda pra pegar a neta gata). No fundo a motivação é o que acontece na consciência que vai dar origem a um comportamento. 
No caso do Aristóteles o que dá o fim da ação é o DESEJO e o que dá os meios da ação(como chegar até lá) é o INTELECTO. 
Kant acredita que com essa distribuição de tarefas da estrutura interna da consciência pra produção da ação é falha, que acontece somente em partes das ações; mas noutra parte os meios continuam sendo dado pelo intelecto e os fins da ação vão ser dados não só pelo desejo, mas também pela razão. Para Kant a razão poderia dar os meios E o fim da ação.
Mas deve-se dar muitas explicações para poder aceitar isso.
Motivação não é sinônimo de motivo para Kant: motivação é o processo(internos à consciência) por meio do qual se originam os comportamentos. Para Kant as estruturas internas da consciência colaboram no desencadeamento das ações. 
Ação não moral não é detestável. Apenas contrária à moral. No grupo de ações não morais estão incluídas tanto as ações diferentes às morais ou contrárias à moral ou irrevelantes do ponto de vista moral. 
Estruturas práticas da consciência relevantes à motivação da ação: as inclinações ou mobiles empíricos [motivações originadas na experiência] (são os desejos/afetos/emoções/expectativas sociais de comportamento). Coisas que podem nos mover mas que tem origem na experiência.   No modelo Aristotélico ele não falava muito de afeto; mas a coisa mais próxima de desejo pra Aristóteles seriam as inclinações do Kant.  => na divisão Aristótelicas os desejos dão os fins e o intelecto os meios da ação. Pra Kant os fins são dados pela inclinação e os meios dados pela razão. Na filosofia moral do Kant os hábitos não tem a força de mudar as inclinações. A filosofia do Kant sustenta a ideia de que ninguém é temperante e que não há resgate para o intemperante. Kant é muito mais cristão que Aristóteles no sentido de que o modo como ele compreende os agentes morais dá a ideia de que o indivíduo pode sempre ser resgatado mas pode, também, sempre cair. Kant segue a função de propor fins. Para ele  agir moralmente é uma coisa que requer esforços; nem sempre, mas muitas vezes: para agir moralmente a razão delibera os meios e os fins. Da perspectiva de Hume, ‘’a razão foi, é, e sempre será escrava das paixões’’: não consegue afastar os desejos/inclinação. Na perspectiva Humeana teríamos sempre um tipo de ação: a inclinação dando e os fins e a razão deliberando meios. A ideia do Kant é que resta à razão uma capacidade motriz da nossa ação: ‘‘sou capaz de fazer algo porque a razão me mostra aquilo que é correto’’. Ao defender veemente essa opção, Kant atrai pra si que o homem é capaz de fazer o certo só porque é certo, e isso é que caracterizaria a ação moral.Essa é uma posição radical que atrai pra ele certas responsabilidades: se de fato agir moralmente é fazer o certo apenas porque é a coisa correta a fazer, deve-se haver um jeito de identificar numa certa circunsância o que é a coisa correta a fazer. ‘‘Temos a capacidade de, numa determinada circunstância, determinar o que é certo a fazer?’’ Tem que ter, se não a teoria dele vai por água a baixo.; outra responsabilidade: como é que esta mera identificação do que é  a coisa certa a se fazer poderá exercer um papel análogo? — > pra Kant agir moralmente não é agir CONTRA a inclinação, e sim INDEPENDENTEMENTE a ela. Ex de quando a motivação é boa: Apesar de amar velhinhas a pessoa ajuda elas a atravessarem a rua porque isso é certo, e não por amá-las. Apesar de odiar velhinhas a pessoa ajuda elas a atravessarem a rua porque isso é certo, e não por odiá-las.  
Pro Kant felicidade é satisfação, bem-estar e segurança. Felicidade não está relacionada a agir moralmente (se eu odeio crianças e as ajudo a atravessar a rua, a minha ação moral não me fez feliz!). Pro Kant a moral é universal: o certo é certo e o errado é o errado –> as pessoas podem se enganar sobre isso mas não é o fato de as pessoas concordarem com algo que faz daquilo moral. Deve-se separar dois conceitos: moralidade e moralidade social. Não é moral apedrejar uma mulher porque ela foi infiel. Os islâmicos fazem isso pois é moral socialmente. 
Para Kant, portanto, há um divórcio entre moralidade e felicidade. Pode-se agir moralmente e isso lhe tornar feliz OU não. Agir moralmente é conseguir afastar as inclinações. 
Kant chama de boa vontade fazer o certo porque é certo. Vontade não é desejo. 
Agir com boa vontade é agir movido pela capacidade da razão de propor fins e explicamos, no fim das contas, o conceito de razão prática no Kant, que é sinônimo de vontade. Terminou explicando o conceito de razão prática, que é: a capacidade autonormativa da razão, a capacidade do homem de dar origem a ações ou comportamentos por meio de comandos que dirige a si mesmo.
Ela pode funcionar:
isolada da experiência = pura 
associada das inclinações = empiricamente condicionada
O conceito de razão prática é pro Kant um conceito central. Toda ação começa a partir da atuação da razão, que delibera meios e autocomanda suas execuções, seja na ação não moral seja na ação moral. O sujeito segue comandos que sua própria razão lhe dá, não importa se é pra concretizar fins da própria razão ou fins da inclinação. 
Argumento do propósito especial da natureza para a estrutura prática de agentes racionais:
A estrutura prática dos agentes racionais é aquela estrutura interna à consciência que dá origem a ação, ou seja: razão prática ou vontade. Esse argumento possui uma estrutura própria. Existem três afirmações e Kant tenta demonstrar que essas 3 afirmações não podem ser sustentadas ao mesmo tempo. Ao sustentar duas temos que abandonar uma delas. O objetivo final desse argumento é consolidar a separação entre moralidade e felicidade.
–> 1 A natureza é inteligente: impõe fins ausentes e fornece os meios mais adequados e eficientes para a concretização desses fins.
–> 2 A natureza nos deu uma razão prática 
–> 3  A natureza nos fez para sermos felizes. 
O que Kant chama de natureza nesse argumento? Natureza é aquilo seja lá o que for que fez a gente do jeito que somos hoje(com características físicas e não físicas). Dizer que ela é inteligente é pensar que atua com uma finalidade, e que os entes criados existem para uma certa finalidade, para um certo objetivo. Essa visão já é uma visão sujeita a uma certa crítica, pois desde Descartes já se pensa uma certa compreensão mecanicista da realidade (que as coisas acontecem com relação cega de causa e efeito, como um grande bloco no qual finalidades/objetivos/metas não estão em jogo). Essa visão mecanicista não é compatível com a ideia de que a natureza cria os entes com finalidades. Falar que a natureza é inteligente tem sentido pois seres inteligente colocam metas, mas isso também implica em adequar meios a se realizar essas metas. Então ao falar que a natureza é inteligente é falar que a natureza estabelece metas E fornece aos entes que as realizarão os recursos necessários para concretizar esses fins. Mas pensar a natureza nesses termos é pensar a natureza com algum resquício teológico. Essa ideia é compatível com um certo criacionismo (quem cria cria as coisas com certas finalidades). Mas esse argumento era razoavelmente bom à época do Kant. Hoje não parece racional devido à teoria da evolução de Darwin (o que seleciona as características que vão ser passadas adiante é o meio). Darwin em ‘’A Origem das Espécies’’ faz uma análise muito clara entre a diferença de tamanho de seres da mesma espécie que vivem em sistemas insolares e continentais. Não há, segundo Darwin, um ‘‘plano da natureza’’ que determina isso. É o meio que faz isso –> importância do ambiente para a consolidação de caracteres;
 Dizer que a natureza nos deu razão prática significa dizer, seja a natureza o que for(Deus ou ET),ela nos deu característica físicas e também uma razão prática(características metafísicas);
Aqui temos que entender o que Kant entende por felicidade: satisfação, bem-estar-, segurança. No Kant há uma relação entre felicidade e inclinação pois ele também define felicidade como a satisfação das somas das inclinações(atender às expectativas socias de comportamento, atender aos desejos e afetos). Faz sentido pois quando se atende aos desejos eles falam no sentido do bem-estar da sua satisfação e segurança. Agir em conformidade com as expectativas sociais de comportamento preserva o bem-estar, fazendo com que as pessoas recebam-no. melhor. De fato, mover-se pelas inclinações aumenta bem-estar, satisfação e segurança e nesse sentido tende a aumentar a felicidade. 
No entanto, não se pode sustentar 3 dessas afirmações simultaneamente. Exploraremos essas incompatibilidades. 
Se a natureza é inteligente e nos fez para sermos felizes, ela NÃO nos deu uma razão prática. A ideia do Kant: não obter-se-ia mais bem-estar/satisfação/segurança se a ação não tivesse a cargo da razão prática, mas por exemplo a cargo de algo instintivo? Deixar a cargo da razão prática é deixar ela(a ação) passível de ser originada  por meio dos autocomandos que são dados pela razão, mas os fins podem ser dados pelas inclinações ou razões. Deixar a ação a cargo da vontade/razão prática é deixar ela ser originada por um mecanismo que é a razão mas esses meios podem ser meios tanto para fins dados à inclinação (para ações não morais) e pela razão (para ações morais), e nesse caso, da razão, NÃO NECESSARIAMENTE ISSO LEVA À FELICIDADE. Portanto, se a natureza nos deu uma razão prática e se ela nos fez para sermos felizes, ela é contraditória pois não nos deu um meio mais adequado para a concretização dessa mesma felicidade. Então ela não seria inteligente.
Aceitando que a natureza nos fez para sermos felizes e que ela nos deu uma razão prática pra isso, ela tinha uma finalidade pra nós mas não nos deu um meio adequado pra isso: por isso ela não poderia ser inteligente.
Portanto Kant aceitou que a natureza é inteligente (mesmo Darwin provando o contrário) e que a natureza nos deu uma razão prática. Ele acha que a natureza tem um plano pra você e tem os meios necessários para concretizar esses planos e para concretizá-los ela te dotou da razão prática.  
A razão prática, portanto, seria o meio para alcançar esses fins. 
O instinto poderia produzir o que visa bem-estar/satisfação/segurança. 
Portanto, a natureza não nos fez para sermos felizes, nos fez para sermos morais. Para Kant, portanto nós não existimos para sermos felizes (diferente do que Aristóteles acreditava).
Para Kant, portanto, existimos como seres racionais para poder AGIR MORALMENTE. Para ter a boa vontade. Ter a boa vontade tornaria alguém, portanto, merecedor da felicidade. A natureza nos fez para sermos merecedores da felicidade! Mas isso não significa que seremos efetivamente felizes. Há portanto um divórcio radical entre moralidade e felicidade: agir moralmente não tornará uma pessoa feliz, e agir imoralmente não tornará uma pessoa feliz também (Ex da velhinha). 
Voltando lá atrás: Como os sujeitos racionais podem identificar o que é a coisa moral a se fazer – com vários coisas passíveis de serem feitas – e como essa identificação tem força suficiente pra movê-lo à ação?
Pro Kant a razão é capaz de propor fins. Kant também explica a maneira pela qual ela capaz de propor esses fins. 
Existem 2 posições a respeito da relação entre razão e contradição:
posição aristotélica/kantiana: há uma espécie de aversão mútua entre razão e contradição (toda vez que alguém faz uma afirmação racional isso mantém afastado contradições). Por outro lado, sempre que o indivíduo se entrega às contradições há um comprometimento da razão. Haveria portanto, na visão Aristotélica-Kantiana uma repulsa entre razão e contradição.
Posição dos filósofos modernos dialéticos: reconhecem a contradição como sendo um momento necessário no percurso da razão. Eles compreendem a razão como um processo, como algo que se desdobra. A contradição para eles não é o contrário da razão, mas sim um momento tenso cuja superação é vantajosa e garante a maximização da racionalidade. Pensadores dialéticos: Hegel e Marx. Ex tosco de Marx: pro Marx o homem a riqueza satisfaz um desejo/necessidade. Essa atividade que transforma a natureza chama-se produção. A produção incorpora sempre dois fatores:
Fá-la em conjunto e isso depende e varia de tempos em tempos com base no nível de desenvolvimento técnico. Ela possui sempre 2 aspectos (relação homem/homem e homem/natureza). A força produtiva altera com o passar do tempo de maneira a sempre aumentar com base nos avanços técnicos. Outro componente é a relação homem/homem, as relações sociais de produção, sendo sempre uma forma de distribuição dos meios de produção/das tarefas/dos papéis na produção e do resultado dessa produção. 
Marx fala das sucessões entre os modos de produção. No passado, eram muito importantes as características físicas para a caça/pesca/coleta; homens velozes caçadores e pescadores e mulheres coletadoras: funções muito bem estabelecidas. Com o passar do tempo e desenvolvimento técnico e das forças produtivas, com o tempo temos uma incoerência entre relação social de produção e força produtiva,  precisando mudar as relações sociais de produção com o desenvolvimento técnico e as forças produtivas. Ex da caça ao animal/arquiflecha). O avanço das forças produtivas se daria por meio da contradição e da superação dessas contradições por meio de Revoluções(mudança total das relações sociais de produção) H-H com base nos avanços da força produtiva H-N. 
Viram como razão/contradição para Marx há uma compatibilidade entre razão/contradição? 
A posição Kantiana é contrária a isso. Também é uma posição razoável. A contradição é tão insuportável à razão que quando ela aparece queremos evitá-la: ex de quando uma pessoa fala ‘‘conheci um cara muito feio mas lindo por dentro’’ –> aparentemente contraditório, entende-se perfeitamente o que a pessoa quis dizer em função da insuportabilidade da contradição/razão. A contradição, assim, geraria uma certa repulsa à razão. Quando percebemos que um curso de ação é contraditório a razão em nós sente uma aversão à essa contradição. 
Tudo gira em torno da seguinte questão: é muito difícil não ser humano. Mesmo que se considere que Hume está errado é muito difícil não sê-lo pois para discordar dele tem que dar conta de 2questões: como a razão pode propor fins(afastando as inclinações) e como ela tem força de atração à determinado comportamento. A resposta do Kant é investigar a capacidade motriz da razão no sentido de como ela capaz de emanar auto comandos e como neles estão fins que a própria razão deu. Kant acha que a razão não possui, mas mais propriamente É uma rejeição à contradição. Kant diz que a razão repele a contradição. 
A razão é igual em todos nós, à medida em que somos racionais. O que nos distingue enquanto agentes é a INCLINAÇÃO. 
A moralidade está relacionada com a consistência racional(e esse critério não varia) de dada maneira de agir. Portanto, o que é moral é moral sempre, e o que não é moral não é moral sempre. A moralidade é, portanto, universal e ‘’a priori’’. Moralidade social x Moralidade.
Sendo a força motriz da razão a rejeição à contradição inerente a todo ser-humano. Agir movido por essa rejeição é agir com boa vontade, fazer o certo porque é certo. 
Mas o que é uma ação contraditória? É uma contradição interna nas suas pressuposições necessárias. É aquela que está apoiada numa máxima contraditória. Uma máxima é uma descrição generalizada de uma certa maneira de agir (descrição abstrata e geral). Kant diz que uma máxima de ação é uma descrição generalizada da maneira de agir: é um conceito descritivo e não prescritivo. Ex de máximas: não mentir; não furtar; mentir para se livrar de ações constrangedoras; furtar para ter aquilo que não posso ter. 
Uma ação não contraditória,por sua vez, seria uma ação apoiada numa máxima não contraditória. 
Uma máxima contraditória é, por exemplo,  ‘’furtar objetos que quero possuir’’. Uma máxima contraditória é uma máxima que possui defeito de racionalidade. Ou seja, o emprego dessa máxima compromete o agente com uma contradição. Ou ainda, o emprego desta máxima exige do agente que considere a máxima oposta àquela que emprega como igualmente adequada e aplicável à mesma circunstância de ação.  => ao adotar um curso de ação, pra conseguir adotá-lo, a pessoa que usa uma máxima tem que aceitar que essa máxima é verdadeira/adequada. Ao empregar uma máxima contraditória, a pessoa espera que as outras pessoas empreguem uma outra máxima não contraditória. 
Pode uma pessoa que mente mentir achando que todo mundo mente também? Não! Daí a contradição. A máxima contraditória só consegue ser usada se o indivíduo que a usa espera que os demais sigam outra máxima. 
Aquele que faz promessas sinceras só pode fazer se esperar que os demais façam promessas sinceras: quem realiza a ação não contraditória NÃO precisa pressupor a aplicabilidade simultânea da máxima contrária: pode segui-la tranquilamente. 
Máxima universalizável (máxima não contraditória: se alguém quiser seguir pode seguir enquanto acha que todos também seguem) é diferente de máxima universal(todo mundo segue).
Aécio Neves, por exemplo, é uma pessoa contraditória: fala em valorizar as prerrogativas do Legislativo, e tratora a Assembleia de Minas pra cima e pra baixo. Reclama dos gastos do governo federal com publicidade, e exerceu a maior censura que o estado de Minas já viu. 1 ano do que Aécio gastou em publicidade, em 2007, dava pra pagar 300 anos do que Itamar gastou: Minas só vai bem na propaganda. Vocifera em Brasília contra a carga tributária, e exerce em Minas a mais alta delas: maiores alíquotas de ICMS são adotadas pelo governo mineiro. PORTANTO, AÉCIO É A NEGAÇÃO DE SI MESMO. A antítese do seu discurso é o seu próprio governo em Minas.É uma pessoa, dessa forma, marcada por contradições: pode-se fazer um paralelo disso à aula de filosofia. 
Ex do ponto de vista moral em que duas ações opostas são pautadas em máximas universalizáveis –> Movimento do cavalheirismo e movimento da igualdade entre gêneros das feministas. As duas máximas, embora contraditórias, são universalizáveis. O fato de uma máxima ser universalizável me diz APENAS que essa máxima descreve uma ação que é permissível. Pra saber a ação obrigatória do ponto de vista moral temos que saber o que é oposto ao contraditório: temos, primeiro, que encontrar a máxima contraditória para saber o que é obrigatório. 
O contrário da máxima contraditória é universalizável, mas o contrário da máxima universalizável pode ser outra universalizável (exemplo dado).
A razão, Para Kant, portanto, é capaz de propor fins à ação humana se posicionando contra ações contraditórias.
O que nos diferencia, para ele, é que a razão nos move a agir, e não as inclinações. Agimos movido por ações coerentes do ponto de vista racional, as universalizáveis. 
‘‘Posso eu furtar esperando que todos também o façam?’’ Não
‘‘Posso eu mentir esperando que todos também o façam?’’ Não
‘‘Posso eu matar esperando que todos o façam?’’ Não
As máximas universalizáveis passam no teste, diferente das anteriormente expostas.
Teste da Universalização
É um experimento de pensamento
Está disponível a todo sujeito racional
É um teste de máxima
=> esse teste consiste em 1 dessas três perguntas sinônimas
posso eu seguir esta máxima ao mesmo tempo em que suponho que todos os demais também o façam?
esta máxima é passível de seguimento universal sem se autodestruir? 
esta máxima é universalizável? 
=>>> Se a resposta for sim a máxima passou no teste, e portanto, é uma máxima universalizável. Se for reprovada no teste, é uma máxima contraditória. 
Pra encontrar a ação PERMITIDA pela moral tenho que encontrar uma máxima que aprova no teste. 
Para encontrar a ação NEGADA pela moral tenho que encontrar uma máxima que não aprova no teste.
Pra encontrar aquilo que é ORDENADO pela ação tenho que achar, primeiro, o que é proibido para achar o contrário. 
Ordenado é mais que PERMITIDO meramente. 
Sendo a ação composta por 2 partes: motivação e consequência; temos 2 possibilidades diferentes de comportamento –> a razão propõe meios e fins e assim, a pessoa age de boa vontade/adequadamente; ou a inclinação fornece os fins e a razão os meios
‘’Se queres A deves B’’ => se queres sair e assistir o jogo que começa 22, deves sair mais cedo da aula 
se queres ir melhor na prova, deves abandonar o jogo e ficar na aula
/\ autocomando que a razão dá mas que incorpora fins da inclinação, já que A são os fins dados pela inclinação e o B é o meio deliberado e autocomandado pela razão. Toda ação humana se dá a partir dos autocomandos dado pela razão.
Razão prática: que move a pessoa a agir. 
‘‘Por que você fez isso?’’ Porque é certo X ‘‘Para que você fez isso?’’ Para conseguir tal coisa. 
Como a razão pode propor fins? Me levando a fazer o contrário do contraditório!!!!!!
Imperativo categórico:
agir de acordo com máximas universalizáveis 
agir de acordo com máximas contrárias às contraditórias
agir de modo intencionalmente racional
=> palavras do Kant:
‘‘devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a máxima de minha ação se torne uma lei universal.’’ 
O imperativo categórico comanda a FORMA da ação, ‘’a maneira, jeitão, tipão de ação’’. O imperativo categórico te ordena a usar a máxima universalizável. Portanto, o imperativo categórico comanda não uma ação, mas uma CATEGORIA de ações.
O imperativo categórico, formal, é ‘’a priori’’, único, universal, e comanda absolutamente! 
O imperativo hipótetico, por sua vez, é ‘’a posteriori’’, múltiplo, particular e comanda relativamente.

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