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Kant - Livro Texto - Unidade I

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Autor: Prof. Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira
Colaboradores: Prof. Renato Bulcão
 Profa. Tânia Sandroni
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Professor conteudista: Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira 
Doutor em Filosofia e História da Educação (Unicamp), mestre em Ciências da Religião (Universidade Presbiteriana 
Mackenzie), MBA em Gestão de Projetos (Unicesumar), especialista em Administração de Negócios (Universidade 
Presbiteriana Mackenzie), especialista em Gestão Educacional (Unicesumar), licenciado em Pedagogia (Unicesumar) e 
em História (Claretiano/Centro Universitário) e bacharel em Odontologia (UFAL). Atua como professor universitário na 
Universidade Paulista (UNIP), presencial e EaD, nos cursos de Direito, Pedagogia, Serviço Social e Turismo. É professor 
titular IV das disciplinas: Hermenêutica Jurídica, Linguagem e Comunicação Jurídica, História da Educação, Direitos 
Sociais e Cidadania, Direito e Cidadania, Métodos de Pesquisa, Metodologia do Trabalho Acadêmico, Biodireito, Teorias 
Gerais de Administração I e II, Sociologia da Educação, O Homem e a Sociedade, Filosofia da Educação, Comunicação 
e Expressão, Antropologia Cultural, História do Direito e Ciências Sociais. É também professor/tutor de formação de 
professores da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48d Oliveira, Fernando Henrique Cavalcante de.
Kant / Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira. – São Paulo: 
Editora Sol, 2019.
152 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-033/19, ISSN 1517-9230.
1. Obra de Kant. 2. Razão pura e prática. 3. Metafísica. I. Título.
CDU 1
U501.87 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi
 Elaine Pires
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Sumário
Kant
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 APRESENTAÇÃO DA OBRA DE KANT ........................................................................................................ 11
1.1 Introdução: vida de Kant e trajetória ......................................................................................... 13
1.2 Cronologia: vida e obra de Kant ..................................................................................................... 18
1.3 O que é Aufklärung (iluminismo) ................................................................................................... 21
1.4 Iluminismo alemão .............................................................................................................................. 24
1.5 Escritos pré-críticos ........................................................................................................................... 25
1.6 Escritos críticos .................................................................................................................................... 32
2 PERÍODO CRÍTICO ............................................................................................................................................ 33
2.1 Crítica da razão pura ......................................................................................................................... 33
2.2 Crítica da razão prática .................................................................................................................... 37
2.3 Liberdade ................................................................................................................................................ 41
2.4 Conceito de vontade .......................................................................................................................... 44
2.4.1 Vontade em geral .................................................................................................................................... 45
2.4.2 Vontade pura ............................................................................................................................................ 45
2.5 Autonomia moral e vontade legisladora .................................................................................... 46
2.6 Existência de Deus .............................................................................................................................. 48
2.7 Imperativo hipotético ......................................................................................................................... 50
2.8 Imperativo categórico ........................................................................................................................ 52
2.9 Crítica do juízo ..................................................................................................................................... 54
2.10 Senso comum ..................................................................................................................................... 56
2.11 Arte estética ......................................................................................................................................... 57
2.12 Juízo estético .................................................................................................................................... 60
2.13 Juízo teleológico ................................................................................................................................ 67
2.14 Análise da Crítica da razão pura .................................................................................................. 69
3 JUÍZOS QUE FUNDAMENTAM O CONHECIMENTO ............................................................................ 71
3.1 Juízos analíticos a priori .................................................................................................................... 73
3.2 Juízos sintéticos a posteriori ........................................................................................................... 74
3.3 Juízos sintéticos a priori ................................................................................................................... 75
4 ENTENDENDO A RAZÃO PURA ..................................................................................................................75
4.1 Conceito de transcendental .......................................................................................................... 76
4.2 Estrutura da Crítica da razão pura ................................................................................................ 77
4.3 A Doutrina Transcendental dos Elementos ............................................................................. 79
4.4 Estética Transcendental ..................................................................................................................... 80
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4.5 Intuição pura de espaço ................................................................................................................ 81
4.6 Intuição pura de tempo ..................................................................................................................... 81
4.7 Lógica Transcendental ....................................................................................................................... 81
4.8 Analítica Transcendental e dos Conceitos .................................................................................. 82
4.9 Analítica dos Princípios .................................................................................................................... 83
4.10 Dialética Transcendental ................................................................................................................. 84
Unidade II
5 TEORIA ELEMENTAR DA RAZÃO PURA E PRÁTICA ............................................................................. 85
5.1 Conceito de um objeto da razão pura prática .......................................................................... 86
5.2 Tábua das categorias da liberdade em relação aos conceitos do bem e do mal ........ 88
5.2.1 Pendor para o mal na natureza humana: da origem do pendor ao mal ......................... 89
5.2.2 Aspectos ou graus do pendor ao mal ............................................................................................. 89
5.3 Impulsionadores da razão pura prática ....................................................................................... 92
5.4 Dialética da razão pura prática....................................................................................................... 94
5.5 Postulados da razão pura prática em geral: metodologia da razão pura prática ...... 96
6 METAFÍSICA DOS COSTUMES...................................................................................................................... 97
6.1 Transição do conhecimento moral da razão vulgar 
para o conhecimento filosófico ............................................................................................................. 99
6.2 Transição da filosofia moral popular para a Metafísica dos Costumes ........................102
6.3 Princípios fundamentais da teoria kantiana ...........................................................................104
6.3.1 Transição da filosofia moral popular para a Metafísica dos Costumes ..........................105
6.4 Autonomia da vontade como princípio supremo da moralidade ..................................109
6.5 Considerações finais sobre a metafísica dos costumes ......................................................114
Unidade III
7 IDEIAS PURAS KANTIANAS ........................................................................................................................116
7.1 Psicologia Racional ............................................................................................................................119
7.2 Antropologia Pragmática de Kant ..............................................................................................120
7.3 Lugar da sensibilidade na moral ..................................................................................................121
7.4 Cosmologia Racional ........................................................................................................................122
7.4.1 Antinomias ............................................................................................................................................. 122
7.4.2 Teologia Racional ................................................................................................................................. 123
7.5 Teologia Transcendental .................................................................................................................125
7.6 Doutrina Transcendental do Método ........................................................................................127
7.7 Disciplina da razão pura ..................................................................................................................129
7.8 Cânone da razão pura ......................................................................................................................132
7.9 Arquitetônica da razão pura ..........................................................................................................134
7.10 História da razão pura....................................................................................................................137
8 TRANSCENDÊNCIA ........................................................................................................................................138
8.1 Idealismo transcendental ................................................................................................................141
8.2 Formas de sensibilidade ..................................................................................................................143
8.3 Formas do entendimento ................................................................................................................144
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APRESENTAÇÃO
O presente material é uma contribuição significativa em sua formação acadêmica por considerar um 
ícone da Filosofia moderna que nos acompanha até aos dias de hoje: Immanuel Kant e seus pressupostos 
filosóficos e educacionais. 
Todo curso superior traz em seu nascedouro um plano político pedagógico e institucional visando 
inserir conteúdos curriculares, contendo as disciplinas de núcleo básico a todos os cursos e também 
aquelas que são pertinentes ao próprio núcleo “duro”, voltadas para as disciplinas específicas do curso 
vigente. Especificamente em nossa área, a Filosofia tem por premissa apontar e considerar em sua trajetória 
docente e pedagógica os pensadores clássicos de seu campo acadêmico. Dentre esses pensadores, a partir de 
Platão, Sócrates e Aristóteles, da Filosofia clássica e antiga, passamos pelo período da patrística, escolástica, 
renascença e iluminismo, desaguando na modernidade e no mundo contemporâneo. 
Nesse ínterim, Kant é uma referência da Filosofia moderna e contemporânea – e, por conseguinte, 
imprescindível aqui para nós – em alocar o seu pensamento e produção bibliográfica, colocando-os à 
disposição de nosso corpo discente para reflexão e apreensão de ferramentas, métodos e dispositivos 
teóricos como instrumental para transformação do pensamento cotidiano a partir de seu pensamento 
e de como seus pressupostos são vistos e articulados nos dias de hoje. 
Pretendemos que a leitura não seja apenas realizada com fins de atribuição de nota e validação 
curricular, mas que ela seja prazerosa e edificante, e que venha a acrescentar conhecimento e informações 
necessárias para uma formação acadêmica à altura de um verdadeiro filósofo, entendendo que 
este, à luz da etimologia da própria palavra, remete-nos ao sentido de um verdadeiro “amigo da 
sabedoria”, e que em nome dessa amizade acadêmica possamos juntos percorrer esse contexto 
históricodo século XVIII na Europa, de onde Kant emerge. 
É importante realizar a leitura de obras clássicas como essas. Ler tais obras é permitir o pensamento, 
o contexto, as intenções das palavras e as motivações permeadas nas suas entrelinhas, instigar corações 
e mentes para sedimentar um referencial teórico e, por fim, ter-se um norte para um horizonte de senso 
crítico no presente a partir do olhar de tais homens que se permitiram ler sua geração com pressupostos 
que dão sustentação até ao tempo presente. 
Desejamos que seja uma “jornada” agradável, promissora e de grande valia para sua formação 
acadêmica. Ao mesmo tempo, estimamos que cada unidade da presente obra seja de caráter inusitado, 
instigando em você, leitor, curiosidade, interesse e apreensão de ferramentas e informações valiosas 
para sua nobre formação, além de permitir sua interação e o compartilhamento com aquele que lhe 
cerca: colega de seu ambiente virtual, seu tutor responsável pela presente disciplina e toda a equipe 
nos bastidores, que direta e/ou indiretamente contribuem significativamente para esse alicerce sólido e 
consolidarão juntos em sua formação e vivência acadêmica.
A disciplina tem como proposta identificar a influência do pensamento kantiano na Filosofia 
moderna e contemporânea, estabelecendo os pressupostos filosóficos e pedagógicos de Kant em suas 
obras, reflexões e considerações a partir da dialética do racionalismo (Descartes) e empirismo (Francis 
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Bacon e David Hume). O objetivo do curso é compreender, a partir da leitura, a análise e discussão da 
Crítica da razão pura, a posição, o propósito e o significado da filosofia crítica, bem como os principais 
conceitos e argumentos contidos na obra kantiana.
A Crítica da razão pura, uma das obras centrais da história da Filosofia moderna, é um texto tão 
complexo como a própria relação da filosofia kantiana com a tradição filosófica que a precede e com as 
correntes filosóficas que ela suscita. Kant, em vez de pretender construir, imediatamente, outro sistema 
que refute ou aperfeiçoe as doutrinas filosóficas existentes, propõe na Crítica da razão pura um exame 
sistemático do alcance e dos limites da própria razão humana: trata-se da solução do problema da 
possibilidade ou impossibilidade de uma metafísica em geral e a determinação tanto das suas fontes 
como da sua extensão e limites (KANT, 1983).
A presente obra aqui analisada traz informações acerca da vida, obra e trajetória de Kant, apontando 
também suas principais obras inseridas nas três fases pormenorizadamente analisadas e conduzindo à 
maturidade de suas produções na segunda e terceira fases de sua carreira acadêmica. 
Abordaremos a Teoria Elementar da Razão Pura e Prática, na qual Kant revela que o espírito 
ou razão modela e coordena as sensações, das quais as impressões dos sentidos externos são 
apenas matéria-prima para o conhecimento. Além disso, seu julgamento estético e teleológico 
une nossos julgamentos morais e empíricos, de modo a unificar o seu sistema de análise da razão 
e do próprio conhecimento. 
Procuramos ainda abordar as ideias puras kantianas. Consideraremos alguns conceitos e referenciais 
teóricos de suas análises e pressupostos que são pontos válidos e importantes para todo leitor de Kant 
no mundo contemporâneo. 
A disciplina tem como objetivos gerais:
• Refletir sobre a vida, obra e trajetória acadêmica de Immanuel Kant em suas três fases distintas 
de produção acadêmica.
• Identificar as fases pré-crítica, crítica e pós-crítica de Kant com suas respectivas produções e 
contribuições filosóficas do pensamento.
• Identificar conceitos kantianos visando aprofundar o pensamento de Kant e as categorias de 
pensamento. 
• Realizar uma introdução à Crítica da razão pura e a conceitos como estética transcendental, lógica 
transcendental, analítica transcendental, analítica dos conceitos, dialética transcendental, imperativo 
hipotético, imperativo categórico, a priori, a posteriori etc.
• Analisar diferentes estratégias de justificativa do conhecimento do mundo exterior.
• Analisar os princípios mais elementares das teorias do conhecimento de Descartes, Hume e Kant.
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• Reconstruir a formulação do problema do mundo exterior em Descartes, Hume e Kant e reconstruir 
os argumentos que respondem à questão do mundo exterior em Descartes, Hume e Kant.
INTRODUÇÃO
Kant é considerado um personagem histórico importante e um divisor de águas na Filosofia 
moderna por apontar-nos ferramentas no campo da sistematização do conhecimento filosófico em 
seus pressupostos históricos e epistemológicos.
Seu pensamento filosófico distingue-se por três fases em sua caminhada histórica e de produção. 
No período inicial, ele é fortemente marcado pela Filosofia de Leibniz e de Christian Wolff e na Física de 
Newton, ao produzir a clássica obra História geral da natureza e teoria do céu. Em um segundo momento, 
Kant deixa-se influenciar pela ética e pela Filosofia Empírica de David Hume. Segundo o próprio Kant, ele 
foi acordado do sono dogmático, passando a adotar uma postura crítica ante a estreita correlação entre 
o conhecimento e a realidade. Na terceira fase, desenvolve a própria filosofia crítica, na qual, a partir de 
1770, com a dissertação acerca dos princípios do mundo sensível e inteligente, traz a base filosófica e os 
pressupostos de suas célebres obras reconhecidas até aos dias de hoje. 
O pensamento filosófico de Kant parte da premissa de uma síntese de superação da corrente filosófica 
chamada racionalismo, onde enfatiza-se a preponderância da razão como forma de reconhecer a 
realidade, e o empirismo, que dava primazia à experiência. Com Kant surge o racionalismo crítico, ou 
criticismo, apontando os limites da razão humana. A partir dessa fase, temos as conhecidas obras de 
Kant, Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo. 
Kant tratou de sedimentar o conhecimento humano e fixar seus limites. Suas indagações lançaram o 
homem moderno e contemporâneo em questionamentos importantes como: Qual é o verdadeiro valor 
dos nossos conhecimentos? Kant colocou a razão num tribunal para julgar o que pode ser conhecimento 
legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Dessa maneira, pretendia ele superar 
a dicotomia existente entre razão e observação (racionalismo x empirismo).
Para dar sustentação a tal premissa, ele explica que a matéria dos nossos conhecimentos são 
as próprias coisas e a forma somos nós mesmos. Seu sistema de pensamento abraçou o idealismo 
transcendental, que significava tudo aquilo que é anterior à experiência. Dizia ele: “Chamo transcendental 
todo conhecimento que trata não dos objetos, como, de modo geral, de nossos conceitos a priori dos 
objetos” (KANT, 1988, p. 25). 
Immanuel Kant veio a falecer em 12 de fevereiro de 1804, na Alemanha, mas suas obras ficaram em 
nossos registros, livros e reflexões filosóficas nas universidades, escolas e na sociedade contemporânea, 
visando fazer-nos refletir sobre a finalidade do conhecimento e como se obtém, sobre como se mensuram 
e internalizam as informações que nos chegam sensorialmente e racionalmente e a respeito da forma 
como podemos manipular nossa razão e sermos passivos ou, em sua visão, agirmos de uma forma crítica 
da razão pura. 
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Kant busca uma ética que contenha princípios com o caráter de universalidade da ciência. Tida 
como uma ética formal, ela distingue a sua concepção da eticidade daquelas que lhe precederam, 
intituladas éticas empíricas. É a formulação racionalque engendra os imperativos, que são os pilares que 
fundamentam a ética formal kantiana. 
Sua obra é um desafio para todo estudante de Filosofia por aglutinar não apenas o rigor de seu 
pensamento permeado de inúmeros conceitos, princípios e premissas válidas até o presente tempo, 
como também pelo desafio de contextualizarmos sua personalidade inserida em meio a uma conjuntura 
de forças iluministas, cercada por mudanças políticas, sociais e econômicas de uma sociedade em 
transição: do feudalismo para o capitalismo, da renascença para o iluminismo, do absolutismo para o 
estado moderno. 
Esses eram os desafios presentes em sua geração. Quais são os nossos desafios na presente geração 
para, por fim, utilizarmos desses pressupostos kantianos, a partir de nossas inquietudes, ação mobilizadora 
para um viés de transformação social? Iniciemos juntos nossa jornada de reflexão e ação.
Boa jornada e bons estudos!
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KANT
Unidade I
1 APRESENTAÇÃO DA OBRA DE KANT
Ler os clássicos de um saber científico ou área acadêmica é imprescindível para uma excelente 
formação pessoal, bem como para apreender o pensamento de determinado autor a partir de suas obras 
originais. Isso permite contextualizar suas descobertas, conquistas e avanços dos saberes a partir de seus 
pressupostos filosóficos e científicos.
O contexto de Kant está inserido no século XVIII, período em que duas ciências se apresentavam como 
conjuntos de conhecimentos certos e indiscutíveis: a Física e a Matemática. Essas duas ciências ressurgiram 
cientificamente a partir do racionalismo de Descartes, marcado pelo Renascimento em suas análises de 
Geometria Analítica, e do cálculo infinitesimal de Isaac Newton e Leibniz, constituindo-se no próprio 
modelo do conhecimento científico, por meio do seu caráter absolutamente necessário e universal. 
Outro grande dilema da época de Kant é o problema da ação humana, ou seja, o caráter moral. 
Tratava-se de saber não o que o homem conhece ou pode conhecer a respeito do mundo e da realidade 
última, mas do que deve fazer, de como agir em relação a seus semelhantes, de como proceder para 
obter a felicidade ou, ainda, alcançar o bem supremo. 
Essa contribuição filosófica e sua real oposição à razão apenas cognitiva foi revelada a Kant 
sobretudo pelas obras de Rousseau, que formulou uma filosofia de liberdade e defendeu a autonomia 
e o primado do sentimento sobre a razão lógica. Por outro lado, Kant, embora estivesse distante das 
grandes discussões iluministas de Paris, trazia em sua consciência os problema sociais e políticos da 
época, tomando partido a favor dos ideais da Revolução Francesa, na qual via não apenas um processo 
de transformação econômica, social e política, mas sobretudo um problema moral. 
Além desses dois esforços e forças existentes no imaginário dos homens daquela época, somaram-se 
os problemas de apreciação estética e das formas de pensamento da Biologia, desdobrando-se numa 
visão sistemática das funções e dos produtos de razão humana.
Todos esses pontos foram tratados por Kant em inúmeras obras, redigidas e publicadas de 1746 até 
1798. Suas célebres obras aqui citadas são um exemplo dessa diversidade e, ao mesmo tempo, essência 
e foco em temas como Epistemologia (área da Filosofia que estuda o conhecimento humano), ética, 
estudo do belo, moral (em Filosofia), religião, metafísica e limites da razão. 
Suas ideias permeavam temas como o idealismo transcendental, o qual afirmava que nós 
trazemos conceitos que não são frutos de nossas experiências. Para Kant, nossas ações humanas 
são fundamentadas na razão. Discordando do hedonismo extremista, Kant considerava a felicidade 
como uma das consequências da moralidade. Para ele, a busca pela felicidade não deve ser o principal 
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Unidade I
objetivo do ser humano, pois sua capacidade racional de pensar e refletir sobre as coisas seria um 
empecilho para o encontro da felicidade. O conceito de boa vontade para ele deve ser o starting do 
ser humano para realizar e efetuar as coisas.
Em sua célebre obra Crítica da razão pura, ele distingue duas formas de conhecimento: o empírico 
ou a posteriori e o puro ou a priori. A partir desses conceitos, ele também avança sobre o juízo analítico 
e o juízo sintético.
É a partir desses conceitos que Kant pretende solucionar esses problemas, mediante uma revolução 
na maneira de encarar as relações entre o conhecimento e seu objeto. A revolução consiste em refutar 
a tese de que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto, mostrando que o objeto se regula pela 
faculdade de conhecer. Para Kant, a Filosofia deveria investigar a possível existência de certos princípios 
a priori, que seriam responsáveis pela síntese dos dados empíricos. Estes, por sua vez, deveriam ser 
encontrados nas duas fontes de conhecimento, que seriam a sensibilidade e o entendimento.
Em sua obra Estética Transcendental ele define a sensibilidade como uma faculdade de intuição, 
mediante os objetos que são apreendidos pelo sujeito cognoscente em suas duas formas consideradas 
da sensibilidade: o espaço e o tempo. Para Kant, é possível abstrair todas as coisas que estão no espaço, 
não se podendo fazer o mesmo com o próprio espaço. Com relação ao tempo, a simultaneidade das 
coisas e sua sucessão não poderiam ser percebidas se a representação do tempo não lhes servisse de 
fundamento. Para ele, acrescente-se a isso o fato de que todas as coisas que se enquadram dentro do 
tempo podem desaparecer, mas o próprio tempo não pode ser suprimido. Espaço e tempo seriam, assim, 
duas condições sem as quais é impossível conhecer, mas o conhecimento universal e necessário não se 
esgota neles. 
 Observação
Cognoscente corresponde àquele que possui a capacidade de conhecer; 
indivíduo capaz de adquirir conhecimento.
A Metafísica analisada por Kant é a disciplina que sempre pretendeu dar respostas últimas e 
definitivas para os vários problemas, procurando conhecer as coisas em si mesmas. Ele não era a favor de 
um retorno por atacado à Metafísica em sua Crítica da razão pura. Por esse termo, ele pretendia afirmar 
alguma coisa que se pode saber anteriormente à experiência. Kant estava ciente de que tinha outorgado 
esse elemento transcendental/metafísico à Filosofia moderna sob a forma de suas categorias da razão 
pura. Para ele, o argumento de que não podemos jamais conhecer o mundo real tem peso significante. 
Na parte final da Crítica da razão pura, Kant afirma que a razão não é constituída apenas por uma 
dimensão teórica, que busca conhecer, mas também por uma dimensão prática, que determina seu 
objeto mediante a ação. Nesse sentido, a razão cria o mundo moral e é nesse domínio que podem ser 
encontrados os fundamentos da Metafísica. Para dar conta do problema da moral, Kant escreveu, depois 
da Crítica da razão pura, a Fundamentação da metafísica dos costumes e a Crítica da razão prática, suas 
obras mais importantes nesse terreno.
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Na Fundamentação da metafísica dos costumes, ele afirma necessidade de formular uma filosofia 
moral pura, despida, portanto, de tudo que seja empírico. A vida moral somente é possível, para Kant, na 
medida em que a razão estabeleça, por si só, aquilo que se deva obedecer no terreno da conduta. 
Na Crítica da razão pura, o método kantiano é invertido em relação à obra citada anteriormente. 
Nesta, a vida moral aparece como forma através da qual se pode conhecer a liberdade, enquanto na 
Crítica da razão prática a liberdade é investigada como a razão de ser da vida moral. Eledemonstra que 
a lei moral provém da ideia de liberdade e que, portanto, a razão pura é por si mesma prática, no sentido 
de que a ideia racional da liberdade determina por si mesma a vida moral e com isso demonstra sua 
própria realidade.
Seu pressuposto seria a partir da tese de que o incondicionado e absoluto (inatingível pela razão no 
terreno do conhecimento) seria alcançado verdadeiramente na esfera da moralidade e a liberdade seria 
a coisa em si, almejada pela razão. Dessa maneira, a razão prática tem primazia sobre a razão pura. 
Um dos seus pressupostos conhecidos na Filosofia é o imperativo categórico. Sua premissa 
formula-se nos seguintes termos: “Age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser 
convertido em lei universal” (KANT, 1987). Para ele, o imperativo categórico afirma a autonomia da 
vontade como único princípio de todas as leis morais, e essa autonomia consiste na independência em 
relação a toda a matéria da lei e na determinação do livre-arbítrio mediante à simples forma legislativa 
universal de que uma máxima deve ser capaz.
Até o presente momento, tivemos uma visão geral das obras de Kant e do seu pensamento geral. 
Partiremos a uma reflexão sobre sua vida, trajetória e obras publicadas, para, por fim, dedicarmos uma 
reflexão sobre suas obras em particular, com seus pressupostos filosóficos, políticos e morais. 
 Saiba mais
Leia a biografia de Kant:
FRAZÃO, D. Immanuel Kant. [s.d.]. Disponível em: <https://www.
ebiografia.com/immanuel_kant/>. Acesso em: 12 fev. 2019.
1.1 Introdução: vida de Kant e trajetória 
Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724 na cidade báltica de Königsberg, então capital da 
isolada província alemã da Prússia Oriental (atualmente Kaliningrado, na Rússia). Ele nasceu, estudou, 
lecionou e morreu em Königsberg, cidade universitária e também centro comercial muito ativo para 
onde afluíam homens de nacionalidade diversa, como poloneses, ingleses e holandeses. 
Conta-se que as donas de casa da cidade acertavam seus relógios pela passagem de Kant pelas ruas. 
Verdade ou não, a anedota descreve o homem. Em sua longa vida, Kant jamais quebrou a rotina do seu 
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trabalho como professor da universidade local e jamais afastou-se da sua pequena cidade, onde morreu, 
solteiro, aos 79 anos.
A vida de Kant foi austera (e regular como um relógio). Levantava-se às 5 horas da manhã, fosse 
inverno ou verão, deitava-se todas as noites às dez horas e seguia o mesmo itinerário para ir de sua 
casa à universidade. Duas circunstâncias fizeram-no perder a hora: a publicação do Contrato social de 
Rosseau, em 1762, e a notícia da vitória francesa em Valmy, em 1792. 
Kant foi a razão pura encarnada. Ele sofreu duas influências contraditórias: a influência do pietismo, 
protestantismo luterano de tendência mística e pessimista que põe em relevo o poder do pecado e a 
necessidade de regeneração (a religião da mãe de Kant e de vários de seus mestres) e a influência do 
racionalismo: o de Leibniz, que Wolf ensinara brilhantemente, e o da Aufklärung (a Universidade de 
Königsberg mantinha relações com a Academia Real de Berlim, tomada pelas novas ideias). Acrescentemos 
a literatura de Hume, que “despertou Kant de seu sono dogmático”, e a literatura de Rousseau, que o 
sensibilizou em relação do poder interior da consciência moral.
Seus pais haviam emigrado da Escócia no século anterior e há grande probabilidade de que tivessem 
algum grau de parentesco com Andrew Cant, notório pregador escocês do século XVII. Kant foi criado 
em atmosfera de pobreza e religiosidade. Era o quarto filho da família, constituída de cinco irmãs e um 
irmão mais novo. O pai escocês cortava tiras de couro e afirmava jocosamente que nunca conseguira 
equilibrar o orçamento fosse em casa, fosse no trabalho. 
Kant sempre manteve uma atitude de respeito a ele. Mas foi sua mãe, Frau Kant, uma alemã totalmente 
inculta, a qual se dizia dona de grande inteligência natural, que influenciou de forma especial seu filho 
Immanuel ou Manelchen (pequeno Manuel), como ela o chamava. Ela tinha o hábito de conduzir o 
menino para passeios no campo e dizer-lhe os nomes das flores e das plantas. Era uma mulher piedosa e 
seu jeito afetuoso também desempenhou função educativa na formação do caráter moral de seu filho. 
Essa dupla insistência em fatos e obrigações morais seria uma faceta de Kant por toda a sua vida, além 
de exercer papel capital em sua filosofia. 
Kant foi educado num rigoroso ambiente pietista e dos oito aos dezesseis anos frequentou a escola 
local, sua sabedoria era excepcional e sua aguda sede de saber logo se cansaram da interminável 
educação religiosa. Seu desgosto com a religião formal permaneceria com ele até o final da vida. 
Apesar disso, conservou muito da postura pietista, com sua crença em um estilo de vida simples e sua 
adesão à moralidade rigorosa. 
Sua mãe faleceu em 1737. Ele tinha 14 anos e, segundo ele mesmo, por essa mesma época 
experimentou as primeiras manifestações da sexualidade. Psicólogos já sugeriram que a perda da mãe 
que tanto amava nesse estágio da puberdade fez com que se sentisse culpado e reprimisse seus desejos 
sexuais, e, talvez, foi essa a razão de os desejos simplesmente desaparecerem. A partir dessa realidade, 
Kant viveria uma vida de repressão sexual que assumiria proporções heroicas.
Aos 18 anos foi admitido na Universidade de Königsberg como estudante de Teologia. No inicio 
recebeu ajuda financeira da igreja pietista local, mas colaborava para seu próprio sustento dando aulas 
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para alguns colegas mais atrasados. Logo se desencantou com a Teologia, demonstrando maior interesse 
pela Matemática e pela Física.
Leu as obras de Isaac Newton, a partir das quais teve seus olhos abertos para as implicações filosóficas 
das novas descobertas da ciência e para os grandes progressos alcançados em todos os setores desse 
campo. Para ele, a ciência baseada na experiência só podia ser acomodada numa filosofia empirista, ou 
seja, uma filosofia que baseasse nosso conhecimento do mundo na experiência.
Seu pai veio a falecer em 1746, quando ele contava 22 anos. Ele e seus irmãos ficaram sem recurso 
algum. Suas irmãs foram entregues a uma família pietista; as mais velhas foram trabalhar como 
camareiras. Kant ainda tentou sem sucesso um emprego numa escola local e foi forçado a abandonar a 
universidade sem obter o diploma.
Nos nove anos seguintes, Kant se manteve dando aulas particulares para famílias ricas nas áreas rurais 
vizinhas. Foi contratado pelo conde e pela condessa Keyserling (ou seja, por uma família aristocrática). 
Todo o recurso que obtinha, ele o remetia para suas irmãs menos afortunadas, hábito que manteve por 
toda a vida. Apesar desses atos de generosidade, não mantinha qualquer contato pessoal com a família.
Kant pode ter sido indiferente à sua própria família, mas parece ter desfrutado a vida no meio das 
famílias ricas que o contratavam como professor. Sua aparência era bastante excêntrica, como seu 
próprio caráter. Tinha menos de um metro e meio e sua cabeça era desproporcional em relação ao resto 
do corpo. Apesar de todo esse aparente desprezo por parte de alguns, Kant floresceu positivamente e 
academicamente. Logo desenvolveu uma aguda perspicácia, adquiriu um verniz de sofisticada segurança 
e tornou-se exímio jogador de cartas e de bilhar.
Em 1735, aos 31 anos, Kant finalmente se graduou pela Universidade, em parte, devido à caridade de 
um benfeitor pietista. Era tarde para conseguir um diploma, e, como veremos, Kant era excepcionalmente 
lento na execução de seus projetos. Por essa idade, a maioria dos filósofosjá havia construído seus 
pressupostos e ideias, ao mesmo tempo propagando-as. Não é o caso de Kant, que somente duas décadas 
depois começou de fato a produzir filosofia com originalidade. 
Kant exerceu o cargo de professor na universidade onde se formou. Esse posto seria ocupado por 
ele pelos quinze anos seguintes, numa vida acadêmica de incansável diligência. Ensinou nesse período 
Matemática e Física e publicou tratados sobre ampla gama de assuntos científicos, inclusive vulcões, 
natureza dos ventos, Antropologia, causas dos terremotos, incêndios, o envelhecimento da Terra e até 
mesmo sobre os planetas (STRATHERN, 1997).
A inclinação de Kant era para a especulação, e ele continuava a ler Filosofia amplamente. No campo 
da razão e suas discussões a partir de Descartes, Kant era influenciado pelo pensamento de Newton e 
Leibniz. Kant estudou Newton com profundidade suficiente para propor uma nova Teoria do Movimento 
e da Inércia que se opunha à visão de Newton. O fato de que o tenha mal interpretado não é relevante: 
estava sendo levado a especular sobre sistemas que abrangiam todo o universo e tencionava questionar 
o maior intelecto da época em seu próprio terreno. 
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Da influência de Leibniz, Kant herdou o olhar para a humanidade não apenas como participante 
da natureza, mas além e acima disso, como participante da finalidade última do universo. Kant ficou 
impressionado com a insistência de Hume na experiência como base de todo o conhecimento, o que se 
ajustava ao enfoque científico. Para Hume, tudo que experimentamos é uma sequência de percepções, e 
isso significa que noções tais como causa e efeito, os corpos e as coisas, mesmo a mão controladora do 
Deus criador, são meras suposições ou crenças. Nenhuma delas é jamais de fato experimentada.
De Rousseau, Kant deixou-se tocar também pelo apelo emocional, até porque Rousseau foi o menos 
acadêmico de todos os filósofos, acreditando mais na expressão pessoal através da emoção do que no 
pensamento racional. 
Seu clamor pela liberdade acabaria sendo forte inspiração para a Revolução Francesa. Antes de 
encontrar uma forma de conciliar e absorver essas influências, Kant seria incapaz de começar a criar 
uma filosofia original, e a envergadura dessa tarefa iria exigir longo tempo. 
O estilo da escrita de Kant é notoriamente prolixo e difícil, mas todos os relatos comprovam que 
suas aulas eram o oposto. Suas famosas aulas de Geografia atraíam multidões de fora da universidade e 
eram um enorme sucesso, e sua fama logo se espalhou, estimulada por seu turbilhão de tratados sobre 
assuntos científicos. 
Além das aulas de Geografia Física, Kant começou a dar aulas de Filosofia e logo se tornou óbvio 
que tinha feito incursões profundas e extensas pelos territórios hostis da Ética e da Epistemologia, além 
de explorar os confins da Lógica e, até mesmo, regiões tão distantes da civilização como a Metafísica. 
Ele escreveu um ensaio para introduzir em Filosofia o conceito de grandeza negativa (1763). 
Depois, uma dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível (1770).
Kant recebeu convite para ser o professor catedrático de Poética na Universidade de Berlim, mas ele o 
recusou. Felizmente, em 1770, as autoridades da Universidade de Königsberg cederam, e Kant foi nomeado 
catedrático de Lógica e Metafísica. Aos 46 anos, tinha-se tornado cada vez mais crítico em relação a Leibniz 
e seus discípulos racionalistas, que haviam se transformado na força dominante da Filosofia alemã. 
Durante 11 anos, Kant nada publicou, mas continuou trabalhando em sua filosofia. Já havia, por essa 
época, começado a viver uma vida de extrema regularidade, e durante esse período sua constância de 
hábitos começa a alcançar status de lenda.
Em 1781, Kant enfim publicou a Crítica da razão pura, em geral considerada sua obra-prima. 
Porém, nem todos se entusiasmaram muito. Herz, seu amigo, recebeu uma cópia do manuscrito, mas o 
devolveu com a leitura pela metade, chegando a afirmar que continuar a ler a obra de Kant equivaleria 
a cortejar a insanidade.
Em 1792, foi proibido por Frederick William II, rei da Prússia, a ensinar ou escrever sobre assuntos 
religiosos. Kant obedeceu essa ordem por cinco anos, mas, com a morte do soberano, sentiu-se liberado 
da obrigação.
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Suas pesquisas conduziram-no à interrogação sobre os limites da sensibilidade e da razão. Em 1785, 
publicou Fundamentos da metafísica dos costumes. Revisou então sua primeira Crítica e depois escreveu 
Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza (1786), Crítica da razão prática (1788), Crítica do 
juízo (1790), A religião nos limites da simples razão (1793) e Metafísica dos costumes (1797). 
A filosofia crítica kantiana tenta responder às questões: “Que podemos conhecer?”, “Que podemos 
fazer?”, “Que podemos esperar?” e remete a razão ao centro do mundo, como Copérnico remetia o Sol 
ao centro do sistema planetário, procedimento qualificado de revolução copernicana. 
Para que um conhecimento universal e necessário (ou seja, aquele que não é derivado da experiência) 
seja possível, é preciso que os objetos do conhecimento sejam regulados pela natureza do sujeito 
pensante, e não o inverso. A Crítica da razão pura realiza essa revolução metodológica e mostra como o 
entendimento, legislando sobre a sensibilidade e a imaginação, torna possível uma física a priori. Mas se 
a natureza está submetida ao determinismo, pode o homem ser livre? É postulando a existência de uma 
alma livre animada por uma vontade autônoma que Kant põe em movimento a revolução copernicana 
no domínio prático.
Que devemos fazer? Agir unicamente conforme a máxima que pergunta o que ocorreria se todos 
fizessem o mesmo, ou seja, se tal ação se tornasse uma lei universal. Que podemos esperar? Para a 
espécie humana, o reino da liberdade, garantido por uma constituição política; para o indivíduo, a saída 
da menoridade, através da razão.
Em 1798, ano que segue sua aposentadoria da universidade, publicou um sumário de suas 
ideias e questionamentos religiosos. A influência de Kant na história da Filosofia ocidental moderna 
permanece atual. 
Immanuel Kant morreu em Königsberg, em 12 de fevereiro de 1804.
Um dos pontos importantes do criticismo de Kant é a solução aplicada ao debate entre os racionalistas 
e empiristas, a chamada revolução copernicana da Filosofia. De uma lado, os racionalistas, marcados 
pelo pensamento de Descartes, criam que todo o conhecimento seguro provinha da razão, que, do 
ponto de vista técnico, articula com categorias inatas, a priori (antes da experiência). Do outro lado, 
os empiristas, delineados pelo pensamento de Francis Bacon, acreditavam que todo o conhecimento 
provinha das sensações, de modo que o homem nasce como uma tábula rasa.
O filósofo alemão colocou a própria razão e as possibilidades reais de conhecimento em questão, pois, 
em vez de questionar como o homem analisa e estuda os objetos, perguntou se o próprio conhecimento 
é possível. Isso é a Filosofia Transcendental. Este conceito põe a razão no próprio tribunal da razão. 
Se os filósofos da Revolução Francesa criticavam com a razão a economia, a política, a religião, 
ele traz o pensamento aqui de utilizar da própria razão para criticar a si mesma. Em Kant, o sujeito, 
mediante seu aparato subjetivo, por meio de seus a prioris, determina o objeto de seu conhecimento. 
É como se todos nós estivéssemos com “óculos”, responsáveis pela nossa capacidade de conhecer. 
Eles encaixam todos os objetos em intuições (como o tempo e o espaço) e em categorias diversas 
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(unidade, pluralidade, causalidade, entre outras). Não é possível ao homem pensar sem esses “óculos”. 
Kant oferece um mapa de nossas possibilidades de pensar, mostrando os conceitos e os princípios que 
tornam possível o pensamento. Ele critica, assim, a “ideologia da razão”.
O filósofo prussiano, com isso, mostra-nos os limites da razão. Para ele, os antigos metafísicos 
(Descartes, Aquino ou Pascal) foram além desses limites para provar a existência da alma, de Deus ou 
do começo do mundo. Como esses elementos não se encaixam em nossas categorias, não é possível 
produzir conhecimento sobre eles. O recuo da razão diante de si mesma acaba com a pretensão da 
metafísica clássica de conhecer “a coisa em si” – tal pretensão é chamada por Kant de dogmática.
Kant, portanto, solucionou o debate entre racionalistas e empiristas, mostrando que os dados da 
experiência (empirismo) são “encaixados” em categorias e intuições a priori (racionalistas). Os elementos 
a priori e a posteriori do conhecimento são devidamente conciliados.
1.2 Cronologia: vida e obra de Kant
A vida de Kant não tem nada de extraordinário e bem pode-se dizer que encarna as virtudes (e talvez 
o aborrecimento) de uma vida integralmente dedicada ao estudo e ao ensino. Homem piedoso e de 
profunda religiosidade (que se revela na sua obra), é sóbrio de costumes, de vida metódica, benévolo e 
provinciano (só uma vez na sua vida deixa a sua Königsberg natal, e por não mais de 12 km de distância).
Fortemente imbuído dos princípios do iluminismo, experimenta profunda simpatia pelos ideais da 
Revolução Francesa e da independência americana. É pacifista convencido, antimilitarista e alheio a 
qualquer forma de patriotismo exclusivista. A exigência da clarificação do pensamento kantiano é tal 
que apenas a partir dessa postura tem capacidade para examinar o seu sentido e alcance nos campos da 
Teoria do Conhecimento e da Filosofia da Ciência.
Kant está intelectualmente situado numa encruzilhada, a partir da qual elabora diversas interpretações 
da razão, ponto de partida do pensamento moderno de onde se determinam:
• a ação moral; 
• o trabalho científico; 
• a ordenação da sociedade; 
• o projeto histórico em que a sociedade se encontra.
Não é possível redigir-se aqui uma exposição do sistema filosófico de Kant, coisa que requer todo 
um volume. Basta assinalar que o grande objetivo de Kant é determinar as leis e os limites do intelecto 
humano para ousar enfrentar, por um lado, o dogmatismo arrogante daqueles que sobrestimam o poder 
da mente humana e, de outro lado, o absurdo cepticismo daqueles que o subestimam. Para ele, apenas 
por meio de uma crítica que determine as leis e os limites da razão humana poderão arrancar-se as 
raízes do materialismo, do fatalismo e do ateísmo, e propõe-se, com isso, pôr fim a toda a futura objeção 
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sobre a moralidade e a religião, apresentando as mais claras provas da ignorância dos seus adversários 
(KANT, 1980).
Quanto ao seu sistema filosófico, sugere um paralelo com Copérnico. Kant imagina para a Filosofia 
o mesmo que pensa Copérnico para a Astronomia. Assim como Copérnico determina a importância 
relativa e a verdadeira posição da Terra no sistema solar, Kant determina os limites e a verdadeira 
posição do intelecto humano relativamente aos objetos do seu conhecimento. E do mesmo modo que 
Copérnico demonstra que muitos dos movimentos aparentes dos corpos celestes não são reais, mas 
que se devem ao movimento da Terra, Kant mostra que muitos fenômenos do pensamento requerem 
explicação, mas não atribuindo-os, como muitos filósofos, a causas externas independentes, e sim às leis 
essenciais que regulam os próprios movimentos do pensamento.
Kant encarna a razão ilustrada. Ele expressa com clareza e exatidão o caráter autônomo da razão 
tal como a concebem os iluministas. O iluminismo é o fato que leva o homem a deixar a menoridade; 
menoridade de que ele mesmo é culpado. 
 Observação
Sapere aude, ou “atreve-te a servir-te do teu próprio entendimento”, é 
a divisa do iluminismo. Quanto aos limites da razão, são impostos pela sua 
própria natureza. A razão é uma e a mesma para todos os povos, homens, 
culturas e épocas, e tem uma essência ou natureza fixa que se desenvolve 
no tempo, mas sempre segundo a sua própria essência.
A referida menoridade consiste na incapacidade para se servir do próprio entendimento sem a 
direção de outro. A própria pessoa é culpada dessa menoridade se a causa dela não reside num defeito 
do entendimento, mas na falta de ânimo e de decisão para se servir dele com independência, sem a 
condução de outro.
 Observação
Menoridade é o estado ou condição daquele que ainda não atingiu a 
maioridade. É o período da vida em que um indivíduo é menor, não podendo 
exercer diretamente os atos da vida civil.
Por outro lado, a razão iluminista é crítica (contra os preconceitos, contra a tradição, contra a 
autoridade não racional, contra a superstição). Assim compreendida, não é uma mera negação de certas 
dimensões da realidade, da vida ou de questões como a legalidade política, a religião ou a história, mas 
a recusa de um modo de as entender como opostas à ideia de clarificação racional. A razão ilustrada é, 
além do mais, tolerante. 
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A razão tem uma natureza própria e, além disso, é o instrumento ou meio de conhecer como 
interpretar o mundo e exercer a crítica. A razão iluminista é analítica no sentido em que é:
• capacidade de adquirir conhecimentos da experiência;
• capacidade de analisar o empírico tentando compreender, numa aliança entre o empírico e o 
racional, a lei que governa.
Em termos gerais, o pensamento kantiano é uma tentativa original e vigorosa de superar e sintetizar 
as duas correntes filosóficas fundamentais da modernidade: o racionalismo e o empirismo. Mas a obra 
de Kant vai além, e nela entrecruzam-se todas as correntes que constituem a trama do pensamento do 
século XVIII. Ele é, pois, o filósofo mais representativo desse período. O criticismo de Kant é uma filosofia 
que tenta responder a três perguntas básicas: Que posso saber? Que hei de fazer? Que posso esperar?
• Que posso saber? Para o conhecimento universal e necessário ser possível, e dado que não pode 
provir da experiência, é preciso que os objetos do conhecimento se determinem na natureza do 
sujeito pensante, e não ao contrário. A Crítica da razão pura de Kant leva a cabo essa revolução 
do método e mostra como o entendimento, ao legislar sobre a sensibilidade e a imaginação, torna 
possível uma física a priori. Mas, se a natureza está submetida ao determinismo, pode o homem 
ser livre? Kant leva a cabo a revolução copernicana no terreno prático postulando a existência de 
uma alma livre animada por uma vontade autônoma.
• Que hei de fazer? Consiste em atuar estritamente segundo a máxima de que aquilo que se deseja 
possa se converter numa lei universal.
• Que posso esperar? Para a espécie humana, o reino da liberdade garantido por uma constituição 
política. Para o indivíduo, o progresso da sua virtude e um melhor conhecimento do outro e de si 
mesmo através da arte.
No que se refere ao idealismo, a filosofia kantiana lega aos seus sucessores três grandes problemas:
• A concepção do idealismo como idealismo transcendental.
• A oposição entre a razão teórica e a razão prática.
• O problema da coisa em si.
As obras de Kant costumam distribuir-se por três períodos, denominados pré-crítico, crítico e 
pós-crítico. O primeiro momento corresponde à sua filosofiadogmática, à sua aceitação da metafísica 
racionalista, na peugada de Leibniz e de Wolff.
A primeira obra importante de Kant – assim como uma das últimas, o Ensaio sobre o mal radical – 
consagra-o ao problema do mal: o Ensaio para introduzir em filosofia a noção de grandeza negativa, de 
1763, o qual opõe-se ao otimismo de Leibniz, herdeiro do otimismo dos escolásticos.
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Em 1781, temos a Crítica da razão pura, cuja segunda edição, em 1787, explicará suas intenções 
“críticas” (um estudo sobre os limites do conhecimento). A Crítica da razão pura explica essencialmente 
porque as metafísicas são voltadas ao fracasso e porque a razão humana é impotente para conhecer o 
fundo das coisas.
A moral de Kant é exposta nas obras que se seguem: o Fundamento da metafísica dos costumes 
(1785) e a Crítica da razão prática (1788). Finalmente, a Crítica do juízo (1790) trata das noções de 
beleza (e da arte) e de finalidade, buscando, desse modo, uma passagem que una o mundo da natureza, 
submetido à necessidade, ao mundo moral no qual reina a liberdade.
Kant encontrara proteção e admiração em Frederico II. Seu sucessor, Frederico-Guilherme II, menos 
independente dos meios devotos, inquietou-se com a obra publicada por Kant em 1793 e que, apesar 
do título, era profundamente espiritualista e anti-Aufklärung. Ele fez com que Kant se obrigasse a 
nunca mais escrever sobre religião, “como súdito fiel de Sua Majestade”. Kant, por mais inimigo que 
fosse da restrição mental, achou que essa promessa só o obrigaria durante o reinado desse príncipe. 
E, após o advento de Frederico-Guilherme III, não hesitou em tratar, no Conflito das faculdades (1798), 
do problema das relações entre a religião natural e a religião revelada. Dentre suas últimas obras citamos 
A doutrina do direito, A doutrina da virtude e seu Ensaio filosófico sobre a paz perpétua (1795).
 Observação
Para Kant, a boa vontade é o único atributo humano que é bom em si 
mesmo. Logo, o ser humano deve fazer as coisas tendo a boa vontade como 
ponto de partida.
1.3 O que é Aufklärung (iluminismo)
O iluminismo como hoje é conhecido foi um processo cultural, filosófico, político e social que teve 
suas origens ainda no século XVII em função das grandes discussões científicas possibilitadas por dois 
clássicos, René Descartes (1596-1650) e Isaac Newton (1643-1727), mas que se desenvolveu plenamente 
no século seguinte.
A Europa, desde o século XIV influenciada pelas ideias humanistas e do Renascimento cultural, é 
marcada por uma mudança de paradigma – do teocentrismo para o antropocentrismo. As grandes 
navegações marítimas e as conquistas dos países ibéricos possibilitaram o trânsito entre povos e culturas. 
Mediante esse processo, as trocas sociais e econômicas foram possíveis, trazendo mudanças a longo 
prazo, na forma de contemplar modos e formas de viver e interpretar o mundo. 
A Reforma Protestante abriu a porta para uma autonomia humana do cidadão em função da ruptura 
de uma salvação mediada apenas pela Igreja até aquele presente século. As mudanças são significativas 
e, somadas ao processo de industrialização que a Inglaterra enfrenta, deixam um legado de paradigma 
filosófico e econômico respectivamente na sociedade europeia e industrial.
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Os desdobramentos do capitalismo e o anseio pelos direitos fundamentais frente a um estado 
absolutista na Europa abrem caminhos para discussões filosóficas em busca de respostas e soluções 
possíveis para questões que antes a Igreja respondia.
Os anos 1700 são considerados o século das luzes, como se houvesse uma ruptura de um período 
de “escuridão e trevas”, ideia rejeitada pelos historiadores clássicos e contemporâneos. De fato, 
essa abertura ao movimento do século das luzes trouxe grande contribuição para o pensamento 
filosófico, possibilitando mudanças na forma de se fazer política, de ensinar, de realizar a regulação 
e a autonomia do mercado econômico, convergindo em conquistas dos direitos fundamentais e 
humanos, respeitando os indivíduos em sua liberdade de pensamento, de ir e vir e religiosa e também 
na dignidade da pessoa humana, junto a um Estado moderno, livre das garras de um rei absoluto, e 
dando lugar a um poder do povo para o povo, mediante uma democracia que transita da infância 
para sua maturidade ao longo da história.
Embora a França seja amplamente considerada a nação que liderou o processo de desenvolvimento 
dessa mentalidade, o próprio termo faz referência à palavra alemã Aufklärung, que significa 
“esclarecimento”; logo, podemos ver os primeiros sinais do movimento em outras partes da Europa.
Outros povos, como os germânicos, tiveram suas contribuições significativas, mas foi na França que 
o terreno esteve mais fértil. Numa sociedade marcada pela desigualdade, em que uma classe privilegiada 
gozava de isenções ao custo da exploração de parte esmagadora da população, o iluminismo ganharia 
seus discípulos a partir de uma classe ascendente que emerge desde a crise do sistema feudal para o 
sistema capitalista. 
É mister ressaltar que o iluminismo nunca foi algo homogêneo com movimento filosófico. 
Sua visão multifacetada era vista como algo de pouca originalidade para a época. É devido a esse 
patamar que alguns consideraram que os revolucionários utilizaram-se de uma terminologia como essa 
para apropriação de seus interesses políticos e econômicos.
A grande contribuição do iluminismo como movimento está na sua abordagem estrita da razão, 
principalmente para o campo científico, e, por desdobramento, o impacto desse conhecimento afetaria 
outras áreas da vida, levando ao progresso e à felicidade, trazendo como premissa o pensamento de que 
um dia pela razão a humanidade seria redimida e gozaria de uma sociedade mais justa, sem desigualdade. 
Há críticas evidentes sobre esse pensamento, porém, muitos acreditavam assim, e somente com 
o olhar retrospectivo podemos notar que a razão não nos conduziria necessariamente ao progresso 
como fora dito. Talvez porque não foi levada em conta a intenção do homem de se apropriar da razão 
(conhecimento) e usá-la como moeda de consumo e dominar povos, culturas e sistemas pela força do 
conhecimento enquanto esses mesmos são conservados na ignorância ou na ausência de luz. 
O opúsculo de Immanuel Kant Resposta à pergunta: que é o iluminismo? (1784) é, como se 
sabe, um texto clássico, por razões várias. É um dos manifestos mais interessantes da ilustração 
europeia. Como tal, figura não só como um dos mais contundentes apelos ao exercício autônomo da 
razão, à liberdade de pensamento, mas constitui ainda uma expressão sintomática de um momento 
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fundamental na estruturação da consciência moderna, com o seu afã de novidade, de expansão e 
conquista do mundo e da natureza, de destruição da ordem estática das sociedades, mas também 
com o seu desprezo da tradição.
Ele propõe ainda, de certo modo, um ideal imperativo e inatingível – precisamente, a consecução 
da genuína e plena ilustração intelectual –, e disso Kant parece dar-se conta no final do ensaio, embora 
permaneça, contra o que promove, enredado nos preconceitos da sua época, a saber, uma versão algo 
abstrata da razão arrancada do chão da história, encarada sem os nexos relacionais que ligam os seres 
humanos no seu destino. 
Temos aqui um traslado de uma parte dessa obra para melhor explicitação do pensamento kantiano:
Resposta à pergunta: “Que é o iluminismo?”
lluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado.A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. 
Tal menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, 
mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem. 
Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de 
ordem do iluminismo.
Apresentei o ponto central do iluminismo, a saída do homem da sua menoridade 
culpada, sobretudo nas coisas de religião, porque em relação às artes e às ciências os nossos 
governantes não têm interesse algum em exercer a tutela sobre os seus súbditos; por outro 
lado, a tutela religiosa, além de ser mais prejudicial, é também a mais desonrosa de todas. 
Mas o modo de pensar de um chefe de Estado, que favorece a primeira, vai ainda mais 
além e discerne que mesmo no tocante à sua legislação não há perigo em permitir aos 
seus súbditos fazer uso público da sua própria razão e expor publicamente ao mundo as 
suas ideias sobre a sua melhor formulação, inclusive por meio de uma ousada crítica da 
legislação que já existe; um exemplo brilhante que temos é que nenhum monarca superou 
aquele que admiramos.
Mas também só aquele que, já esclarecido, não receia as sombras e que, ao mesmo 
tempo, dispõe de um exército bem disciplinado e numeroso para garantir a ordem pública 
– pode dizer o que a um Estado livre não é permitido ousar: raciocinai tanto quanto 
quiserdes e sobre o que quiserdes; mas obedecei! Revela-se aqui um estranho e não 
esperado curso das coisas humanas; como, aliás, quando ele se considera em conjunto, 
quase tudo nele é paradoxal. 
Um grau maior da liberdade civil afigura-se vantajosa para a liberdade do espírito do 
povo e, no entanto, estabelece-lhe limites intransponíveis; um grau menor cria-lhe, pelo 
contrário, o espaço para ela se alargar segundo toda a sua capacidade. Se a natureza, sob 
este duro invólucro, desenvolveu o germe de que delicadamente cuida, a saber, a tendência 
e a vocação para o pensamento livre, então ela atua também gradualmente sobre o modo 
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do sentir do povo (pelo que este se tornará cada vez mais capaz de agir segundo a liberdade) 
e, por fim, até mesmo sobre os princípios do governo que acha salutar para si próprio tratar 
o homem, que agora é mais do que uma máquina, segundo a sua dignidade.
Königsberg na Prússia, 30 de setembro de 1784.
Fonte: Kant (1959, p. 43).
 Saiba mais
Leia a obra a seguir:
KANT, I. Resposta à pergunta: “O que é o Iluminismo?”. 1784. Disponível 
em: <http://www.lusosofia.net/textos/kant_o_iluminismo_1784.pdf>. 
Acesso em: 12 mar. 2019.
1.4 Iluminismo alemão
O iluminismo alemão foi um processo histórico pertinente ao período dos séculos XVII ao XIX nas 
áreas da Filosofia e das Ciências. Sua autoridade como proposta visava questionar a Coroa e o domínio 
da Igreja. Para Kant, uma referência do iluminismo alemão, a sociedade da época vivia numa era de 
esclarecimento e não necessariamente iluminada pela razão. 
A origem do termo iluminismo se deu em função de uma frase kantiana de 1784 em que o autor 
questionava se alguém vivia numa época iluminada, como quem desejasse inquirir de seus ouvintes uma 
resposta negativa, frase que Kant responde assertivamente. Esclarecimento é a saída do homem de sua 
imaturidade autoimposta, dizia ele. Ele argumentou que a imaturidade autoinfligida não é uma falta de 
entendimento, mas a falta de coragem de usar a razão, inteligência e sabedoria sem a orientação de um 
outro. Sua premissa estava no conceito de autonomia de um ser humano que está em lado oposto a 
um outro ser humano mantido na dependência de uma intelectualidade heterônoma. 
Em outras palavras, seu pensamento demonstrava naquela época que estar debaixo do regime de 
uma monarquia absolutista e de uma igreja corrompida forçava os cidadãos a se manterem sob o jugo 
de sua imaturidade, devido à ausência dessa capacidade de autonomia e, portanto, de se libertarem de 
fato do jugo da “escravidão da razão”. 
Para Kant, os homens estão cercados de cadeias e prisões mediante os dogmas e as fórmulas 
devidamente prontas, recebidas e apreendidas por uma classe que subjuga e escraviza os povos. A chave 
para essa ruptura é a razão pura. 
O iluminismo alemão foi conduzido por patamares diferentes do iluminismo francês e britânico. 
Como havíamos dito anteriormente, o iluminismo não fora um movimento homogêneo por toda a Europa. 
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Suas singularidades e especificidades são datadas por seus autores e pensadores, mediante suas reflexões 
e questionamentos a partir de suas raízes e pertenças. 
As discussões do iluminismo alemão estavam mais voltadas para uma liberdade de pensamento, 
na qual a intuição e a razão, bem como a epistemologia e a espiritualidade em sua essência, 
podiam conviver juntas, ora complementando o pensamento, ora dialeticamente ofertando visões 
diferentes para sínteses filosóficas voltadas para compreensão do mundo e da sociedade composta 
por seus indivíduos. 
Entre as escolas de pensamento presentes na época marcadas pelo cristianismo em seu pensamento 
ocidental, houve a contribuição de Christian Wolff e de Leibniz sobre a junção de dois campos de 
saberes: a Teologia e a ciência. Para Leibniz, os milagres religiosos eram a ferramenta de Deus para 
converter as pessoas à verdadeira religião, e precisamente no estudo da ciência seria um milagre ainda 
mais convincente no que exceder a razão humana. 
Um dos temas tratados no iluminismo alemão foi a tolerância religiosa, enunciada pelo célebre 
Gotthold Ephraim Lessing. Oriundo de uma tradição judaico-cristã, refletia sobre a tese no direito do 
indivíduo de identificar seu próprio ponto de vista sobre Deus e não mais algo imposto. Ele desprezava a 
crença no sobrenatural divino e migrava de uma posição considerada deísta por ele para um pensamento 
quase panteísta. Ele também defendeu os direitos dos judeus na Alemanha e tornou-se amigo íntimo 
de Moses Mendelssohn. Quando este escreveu o manuscrito, chamado de Conversas filosóficas para 
Lessing, a impressão do livro foi executada por trazer um tema promissor para aquela época e que 
repercutiria até o século XX: a omissão do mundo literário alemão na negligência dos filósofos alemães 
em relação aos estrangeiros, em especial os judeus. 
É devido a essas ideias que circulam na Alemanha, na França e na Inglaterra, e principalmente por 
alemães com formação religiosa judaico-cristã, que Kant discorda de uma constituição religiosa fixa que 
cerceia a liberdade de seus fiéis. Para ele, os reis devem conceder aos seus súditos o direito de pensar de 
forma livre aquilo que consideram necessário para a sua salvação. As premissas religiosas não devem ser 
sujeitas à supervisão do governo, e o monarca não deve dar suporte ao despotismo espiritual, ferindo a 
liberdade religiosa e do pensamento de seus súditos. 
1.5 Escritos pré-críticos 
Na Universidade de Königsberg, onde doutorou-se em Filosofia, estudou Matemática e Física, além 
de lecionar Ciências Naturais, Kant assumiu em 1770 a Cátedra de Lógica e Metafísica. Nessa fase 
pré-crítica kantiana, onde a filosofia dogmática predominou, pôde publicar obras como A história 
universal da natureza e teoria do céu (1775).
As obras do período pré-crítico, para alguns pesquisadores, são compostas 
por um amálgama de questões e por diversas orientações intelectuais, 
entretanto, não foram publicadas logo de início, pois com a publicação da 
Crítica, Kant deixa claro qual é o seu interesse e considera que os escritos 
anteriores a essa publicação possuem uma importância menor dentro do 
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seu pensamento atual. No entanto, havia um interesse na publicação dessas 
obras, em especial para Kuno Fischer, que afirmava tais textos como a chave 
do pensamento kantiano, salientando que a evolução de Kant passa por três 
fases, a saber: racionalista, empirista e crítico (GIROTTI, 2008, p. 113).
O período anterior à crítica se estende de 1746 a 1770 (ou 1772 para alguns historiadores), e o 
próprio Kant afirma que seu pensamento crítico começa a partir da publicação da obra Acerca da forma 
e dos princípios do mundo sensível e inteligível (dissertação de 1770), demonstrando a importância 
supostamente menor dos textos pré-críticos. Dentro do período, podemos identificar duas fases que 
dizem respeito a um racionalismo dogmático (Leibniz) até 1755 e um ceticismo (Hume) a partir de 1763 
com a elucidação de uma crítica à Metafísica dogmática partindo da prova ontológica da existência de 
Deus, desembocando em 1766 com uma crítica estruturada à Metafísica e suas provas suprassensíveis.
Os textos de Kant no período de 1762 a 1770 são considerados pré-críticos, descrevendo uma trajetória 
intelectual que culminará no idealismo transcendental. São textos que explicitam a compreensão do 
embate de Kant com a Metafísica dogmática e exibem fundamentos para a sustentação da filosofia 
crítica de sua obra produzida posteriormente a essa fase.
No Ensaio para introduzir o conceito de grandezas negativas em filosofia, é possível identificar a 
distinção entre oposição lógica e oposição real, que resultará na crítica ao intelectualismo de Leibniz. 
Já a Investigação sobre a evidência discorre sobre a diferença entre Matemática e Filosofia que se 
encontra na Doutrina Transcendental do Método. Por sua vez, Sonhos de um visionário faz a articulação 
entre demonstração especulativa e crença prática. E em Forma e princípios do mundo sensível e do 
mundo inteligível, Kant oferece a base da doutrina dos elementos. A edição desses ensaios propiciará ao 
estudioso da obra de Kant um apoio inestimável e um retrato único das origens de um dos momentos 
cruciais do pensamento ocidental.
Nos escritos pré-críticos de Kant, a incompletude e a incerteza na Metafísica tradicional eram 
atribuídas ao desconhecimento de métodos adequados para fazer Metafísica. A principal fonte de erro 
consistia na imitação, pelos filósofos, do método axiomático dos matemáticos.
A principal diferença entre os métodos filosófico e matemático concerne aos elementos primitivos e 
aos métodos de definição e prova. 
Em primeiro lugar, são poucos os conceitos e enunciados primitivos na Matemática, ao passo que os 
pontos de partida na Metafísica são muitos e não muito bem determinados. 
Em segundo lugar, na Matemática, as definições são conjunções arbitrárias de conceitos 
primitivos, e são produzidas antes que axiomas e outras proposições sejam formulados. 
Em Filosofia, definições não são arbitrárias, mas baseadas na análise de conceitos dados a priori 
de uma maneira confusa e indeterminada. Elas sempre sucedem as proposições primitivas já 
conhecidas que empregam esses conceitos. 
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Em terceiro lugar, provas e derivações matemáticas são operações intuitivas de síntese sobre signos 
ou símbolos, ao passo que provas filosóficas decorrem de operações discursivas ou formais sobre 
domínios abstratos de conceitos e proposições.
Por causa de todas essas diferenças, os filósofos não deveriam imitar os matemáticos, mas sim os 
cientistas naturais. Eles deveriam seguir o método newtoniano de fazer Física. 
O método newtoniano consiste em três regras. Primeiramente, comece com certas experiências. 
Em segundo lugar, procure regras que tomadas como premissas permitam-lhe derivar essas experiências. 
Em terceiro lugar, empregue essas regras (premissas) a fim de construir explicações para eventos 
empíricos diferentes e mais complicados. A possibilidade de deduzir hipóteses a partir da essência da 
natureza ou de corpos físicos não é uma condição necessária de seu emprego em explicações legítimas. 
Tal é, então, o metro do que os metafísicos têm de imitar.
O verdadeiro método da Metafísica é basicamente o mesmo método introduzido por Newton na 
Ciência da Natureza e que teve tão úteis consequências nesse campo. Lá se afirma que as regras de acordo 
com as quais certos fenômenos naturais ocorrem devem ser procuradas por meio de certas experiências 
e, se necessário, com auxílio da Geometria. Embora o primeiro princípio não seja percebido nos corpos, 
é certo que eles operam de acordo com essa lei. Ocorrências naturais complexas são explicadas quando 
se mostra claramente como elas se assumem a essas regras bem estabelecidas (KANT, 1980, p. 82).
O paralelo entre o melhor método em Física e Filosofia, como vemos, é perfeito. Trata-se de um 
método de pesquisa capaz de garantir o progresso do conhecimento humano, e esse é também o melhor 
caminho para ensinar Filosofia.
O método próprio para se ensinar Filosofia é zetético, como era chamado 
por alguns pensadores da Antiguidade, isto é, um método que ensina 
pesquisando, e que se torna dogmático, isto é, decidido, somente quando 
a razão já está bem exercitada. O que eu disse é: busque em primeiro lugar 
e aptidão de usar o método de refletir e tirar conclusões dele mesmo, que 
também é única coisa que ele possa ser útil [...] (KANT, 1980, p. 6).
Essa passagem mostra que Kant sabia muito bem que o método zetético, isto é, analítico, já era 
conhecido na Antiguidade grega. Kant alude aqui a primeira parte do bem conhecido método combinado 
de análise e síntese dos matemáticos gregos. Essa mesma origem é admitida implicitamente pelo próprio 
Newton em sua descrição do método da Ciência da Natureza contida na questão 31 de sua Óptica:
Tal como em Matemática, também na Filosofia natural a investigação de 
coisas difíceis pelo método de análise deve sempre preceder o método 
de composição. A análise consiste em realizar experimentos de observações e 
em extrair delas conclusões gerais por meio da indução, sem admitir nenhuma 
objeção contra as conclusões, senão as que decorrem de experimentos ou de 
outras verdades seguras. Através dessa análise podemos proceder dos compostos 
para os componentes, e dos movimentos para as forças que os produzem; e, 
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em geral do efeito para suas causas, e de causas particulares para causas mais 
gerais, até que o argumento se conclui na causa mais geral. Esse é o método 
de análise. E a síntese consiste em assumir as causas descobertas estabelecidas 
como princípios e explicar por meio delas os fenômenos que dela decorrem, e 
provar a explicação (NEWTON, 1952, p. 405, tradução nossa).
Os textos de Kant sobre os métodos da Ciência da Natureza da Filosofia que acabamos de citar soam 
como se fossem paráfrases desse bem conhecido trecho de Newton. De acordo com o Newton e Kant, 
o método nos prescreve separar algum dado (um conceito, um objeto etc.), ascender na direção de suas 
condições e, depois disso, descer ao dado e a outras possíveis situações concretas. Tanto Kant como 
Newton distinguem entre o método de análise e o método de síntese e aludem à origem matemática, 
isto é, grega, de ambos. Assim, estamos autorizados a procurar em autores gregos mais informações 
sobre o método que Kant e Newton recomendam. 
A obra de 1755, quando apreciada por ela mesma, costuma sê-lo sobretudo pela sua abordagem 
de uma visão moderna do cosmos. Destaca-se então a intenção do seu autor de construir uma visão 
sistemática do universo segundo leis mecânicas e de acordo

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