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KANT - Livro-Texto

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. João Baptista de Almeida Junior
Colaboradores: Prof. Renato Bulcão de Moraes
 Profa. Tânia Sandroni
Kant
Professor conteudista: João Baptista de Almeida Junior
Graduado em Física pela Universidade de São Paulo (USP) (1975) e em Filosofia pelas Faculdades Associadas do 
Ipiranga (FAI) (1974). Foi professor de Física em cursinhos para vestibular e ginásios estaduais. Mestre em Metodologia 
de Ensino pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (1989). Doutor em Educação (Filosofia e História 
da Educação) pela Unicamp (1997). Foi professor nos cursos de Filosofia e Comunicação Social e no mestrado em 
Educação na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Assessor pedagógico e orientador de 
pesquisas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em 2000, coordenou o projeto 
de criação da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), em Pouso Alegre (MG), pelo qual recebeu o título de cidadão 
pouso-alegrense. Foi pró-reitor de pesquisa da universidade e ministrou aulas na graduação de Jornalismo e História 
e na pós-graduação de Bioética e Ciências da Linguagem. No ensino a distância (EaD), coordenou a implantação 
da plataforma na Univás e o polo do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) – Campinas. É integrante 
do banco de avaliadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério 
da Educação (Inep/MEC) desde 2000. Tem livros publicados na área de bioética (2010), análise do discurso (2011), 
metodologia de pesquisa (didático, 2015) e filosofia escolástica (didático, 2017). Também é professor e conteudista na 
Universidade Paulista (UNIP) e no Unisal – Campinas.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A447k Almeida Junior, João Baptista de.
Kant / João Baptista de Almeida Junior. – São Paulo: Editora 
Sol, 2020. 
180 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Caminho kantiano. 2. Epistemologia de Kant. 3. Ética de Kant. 
I. Título.
CDU 1
U505.66 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Willians Calazans
 Elaine Pires
Sumário
Kant
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10
Unidade I
1 KANT E A FILOSOFIA MODERNA ................................................................................................................ 15
1.1 Filosofia moderna e o kantismo ..................................................................................................... 16
1.2 Kant e o humanismo renascentista .............................................................................................. 17
1.3 Paradigma pré-moderno ................................................................................................................... 17
1.4 Kant e o paradigma moderno ......................................................................................................... 19
1.4.1 Do ponto de vista cultural .................................................................................................................. 19
1.4.2 Do ponto de vista doutrinário ........................................................................................................... 20
1.4.3 Do ponto de vista metodológico ...................................................................................................... 20
1.5 Influências sobre Kant ........................................................................................................................ 22
1.5.1 Descartes e a criteriologia do método ........................................................................................... 22
1.5.2 Leibniz e as verdades da razão e de fato ....................................................................................... 24
1.5.3 Bacon e a purificação da razão ......................................................................................................... 25
1.5.4 Newton e o método hipotético ........................................................................................................ 26
1.5.5 Locke e as ideias de relação ................................................................................................................ 27
1.5.6 Berkeley e o fenomenismo .................................................................................................................. 29
1.5.7 Baumgarten e a gnosiologia inferior .............................................................................................. 30
1.5.8 Hume e o associacionismo .................................................................................................................. 32
1.5.9 Rousseau e o valor do sentimento .................................................................................................. 33
1.6 Kant: divisor de paradigmas ............................................................................................................ 37
2 KANT E O ILUMINISMO ................................................................................................................................. 38
2.1 Aufklärung – esclarecimento .......................................................................................................... 38
2.2 Visão cosmopolita ................................................................................................................................ 39
2.3 Programa do iluminismo ................................................................................................................... 40
2.4 Contribuições do iluminismo .......................................................................................................... 40
2.5 Razão iluminista ................................................................................................................................... 41
2.6 Iluminismo alemão .............................................................................................................................. 42
2.7 Declaração de Kant sobre o iluminismo ...................................................................................... 46
2.8 Menoridade e maturidade ................................................................................................................ 47
3 VIDA E OBRA DE KANT .................................................................................................................................. 48
3.1 Vida de filósofo ..................................................................................................................................... 48
3.1.1 Família Kant ..............................................................................................................................................49
3.1.2 Formação religiosa – pietismo........................................................................................................... 50
3.1.3 Perfil psicológico ..................................................................................................................................... 51
3.1.4 Estudos acadêmicos ............................................................................................................................... 51
3.1.5 Trabalhos e perspectivas ...................................................................................................................... 52
3.1.6 Fama de bom professor ........................................................................................................................ 53
3.1.7 Interesses políticos ................................................................................................................................. 54
3.1.8 Reconhecimento público ..................................................................................................................... 55
3.1.9 Problemas de saúde ............................................................................................................................... 56
3.1.10 Censura e morte.................................................................................................................................... 57
3.1.11 Carta de um discípulo ......................................................................................................................... 57
3.1.12 Formação de Kant ................................................................................................................................ 58
3.2 Produção bibliográfica de Kant ...................................................................................................... 59
3.2.1 Quadro bibliográfico de Kant ............................................................................................................. 60
3.2.2 Trilogia das obras metafísicas ............................................................................................................ 64
4 CAMINHO KANTIANO .................................................................................................................................... 65
4.1 Em busca do método (1) ................................................................................................................... 65
4.2 Revolução copernicana de Kant ..................................................................................................... 66
4.3 Proposta da metafísica ...................................................................................................................... 68
4.4 Experimento dos sentidos ................................................................................................................. 69
4.5 Método de Kant .................................................................................................................................... 71
4.6 Método de trabalho logístico .......................................................................................................... 73
4.6.1 Método metódico ................................................................................................................................... 73
4.6.2 Método matemático .............................................................................................................................. 73
4.7 Em busca do método (2) ................................................................................................................... 74
4.8 Kant e a metafísica .............................................................................................................................. 75
4.9 Lições da geometria ............................................................................................................................ 76
4.10 Metafísica de Kant ............................................................................................................................. 78
4.11 Método metafísico de Kant ............................................................................................................ 79
4.12 Fissuras no caminho ......................................................................................................................... 81
Unidade II
5 FUNDAMENTOS E CONCEITOS DA EPISTEMOLOGIA DE KANT ....................................................... 88
5.1 Razão pura .............................................................................................................................................. 88
5.2 Sensibilidade e formas a priori ....................................................................................................... 89
5.3 Sensibilidade e entendimento ......................................................................................................... 89
5.4 Tempo e espaço ..................................................................................................................................... 90
5.5 A priori – forma e categoria ............................................................................................................ 91
5.6 Coisa em si e fenômeno .................................................................................................................... 91
5.7 Sujeito cognoscente e sujeito pensante ..................................................................................... 93
5.8 Objeto cognoscível ............................................................................................................................... 93
5.9 Experiência .............................................................................................................................................. 94
5.10 Conhecer e pensar ............................................................................................................................. 95
5.11 Conceito e ideia .................................................................................................................................. 97
5.12 Percepção e sensação ....................................................................................................................... 97
5.13 Percepção e apercepção .................................................................................................................. 98
5.14 Intuição sensível e intuição inteligível ...................................................................................... 98
5.15 Entendimento ...................................................................................................................................... 99
5.16 Tábua dos juízos e das categorias .............................................................................................100
5.17 Esquema (imagem) ..........................................................................................................................101
5.18 Subsunção ..........................................................................................................................................103
5.19 Juízo analítico e juízo sintético ..................................................................................................103
5.20 Juízo analítico a priori ...................................................................................................................104
5.21 Juízo sintético a posteriori ...........................................................................................................104
5.22 Síntese ..................................................................................................................................................104
5.23 Juízos de percepção e juízos empíricos ..................................................................................105
6 CRÍTICA DA RAZÃO PURA ..........................................................................................................................1076.1 Crítica da razão pura – antecedentes ........................................................................................108
6.2 Crítica da razão pura – objetivos .................................................................................................109
6.3 Crítica da razão pura – estrutura .................................................................................................110
6.4 Estética transcendental ...................................................................................................................112
6.5 Lógica transcendental ......................................................................................................................114
6.6 Questão do númeno ..........................................................................................................................115
6.7 Método transcendental ...................................................................................................................117
6.8 Processo de cognição – experiência ...........................................................................................119
6.9 Produtos cognitivos do ato de cognição ..................................................................................122
6.10 Processo de cognição – linha de montagem ........................................................................122
6.11 Crítica da razão pura – utilidade ...............................................................................................127
6.12 Processo de cognição – glossário .............................................................................................127
Unidade III
7 ÉTICA DE KANT ...............................................................................................................................................134
7.1 Influências éticas em Kant .............................................................................................................134
7.2 Nova revolução copernicana .........................................................................................................136
7.3 Razão prática .......................................................................................................................................137
7.4 Razão ética raciocinante .................................................................................................................138
7.5 Postulados éticos ................................................................................................................................140
7.6 Fato moral .............................................................................................................................................141
7.7 Imperativos éticos ..............................................................................................................................142
7.7.1 Imperativo hipotético ........................................................................................................................ 142
7.7.2 Imperativo categórico ........................................................................................................................ 143
7.8 Normas e condutas ...........................................................................................................................144
7.9 Ética e rigor...........................................................................................................................................146
7.10 Ética humanista ................................................................................................................................146
7.11 Lei moral ..............................................................................................................................................147
7.12 Ética e autonomia ...........................................................................................................................147
8 CRÍTICA DO JUÍZO .........................................................................................................................................150
8.1 Juízo determinante e juízo reflexivo ..........................................................................................152
8.2 Juízo teleológico .................................................................................................................................154
8.3 Juízo estético .......................................................................................................................................157
8.4 Conexão do juízo estético ...............................................................................................................159
8.5 Papel da imaginação .........................................................................................................................161
8.6 Terceiro termo – esquema ..............................................................................................................162
8.7 Hipotipose .............................................................................................................................................164
8.8 Imagens concretas de arte .............................................................................................................166
9
APRESENTAÇÃO
Este é um livro-texto sobre Immanuel Kant, filósofo genial do século XVIII.
A leitura e o estudo vão permitir que você conheça um dos grandes sistematizadores da história 
da filosofia, considerado um renovador de paradigmas e o que mais influência exerceu em todos os 
pensadores do século XIX, ainda que estes pareçam alheios às suas ideias.
Comparações como oceano e universo, para se referir ao seu sistema – o kantismo –, não são 
excessos quando se leva em conta a grandiosidade e a profundidade de suas obras, principalmente 
Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo. Por esses títulos, sua doutrina também 
é designada criticismo.
Por que Kant é considerado um gênio? Porque trouxe um novo conceito de conhecimento, 
precisamente no território dos filósofos, destes que têm a função de tratar dos diversos conhecimentos 
e que se mostram amigos íntimos da sabedoria. Kant intervém, meio inoportuno, e propõe discutir 
essa relação de amizade, colocando em cheque a credibilidade da razão, supostamente a responsável 
pela atividade de conhecer. É um filósofo genial, porque, contra a corrente da maioria dos seus pares, 
revela a impossibilidade da metafísica como ciência, ao mesmo tempo que a legitima como ferramenta 
transcendental do espírito humano. É genial, também, por revelar que o homem comum não é só 
sujeito de conhecimento, é sobretudo sujeito moral, mostrando que a conduta ética está rigorosamente 
associada ao modo de cada um conhecer e pensar o mundo.
Tudo isso sem nunca ter saído de sua cidade natal, na Prússia, no século das luzes, momento em que 
a Europa vivia intensa efervescência cultural por força do iluminismo.
Este é o filósofo que você vai estudar agora. Que você tenha muito prazer em conhecê-lo.
A disciplina pretende ser uma iniciação à filosofia crítica de Kant. Nosso plano é contemplar as 
abordagens teóricas de Kant acerca da epistemologia, da ética e da estética, os três campos derivados 
das críticas, enfatizando as questões relativas ao método transcendental, de viés metafísico, que concede 
unidade orgânica ao conjunto da obra.
O livro-texto está dividido para que você encaminhe seus estudos e cresça na compreensão, seguindo 
a cronologia de produção das obras de Kant. Faremos a contextualização do kantismo junto às grandes 
correntes da história da filosofia, o racionalismo e o empirismo, no período moderno, séculos XVII e 
XVIII, a fim de conhecer as ideias precedentes e as influências recebidas por Kant, para a sua proposta 
de mudança do paradigma epistemológico. Destacaremos sua relevância no movimento do iluminismo 
alemão e ficaremos conhecendo melhor seu temperamento e estilo de vida, o que denominamose 
chemin kantienne (o caminho kantiano).
Tomando como base as três questões fundamentais que Kant se propõe para iniciar seu projeto 
de filosofia, abordaremos a resposta à primeira questão – O que posso saber? –, em que veremos os 
pressupostos, os conceitos e os referenciais teóricos da gnosiologia kantiana. Vamos explicitar os modos 
10
de o espírito modelar e coordenar as sensações, as impressões dos sentidos e os fenômenos recebidos 
pela sensibilidade, enquanto matéria-prima que limita empiricamente o conhecimento.
A partir da apresentação geral da estrutura da Crítica da razão pura, analisaremos o papel das 
faculdades cognitivas do entendimento e de suas categorias a priori, que ajudam a superar os limites 
naturais do conhecimento, com o método transcendental inventado por Kant. Também, abordaremos 
as respostas de Kant às outras duas questões – O que devo fazer? O que posso esperar? –, que resultam, 
respectivamente, na proposta de uma ética e de uma estética. Uma ética formal com princípios de 
necessidade e universalidade para dirigir a conduta humana a partir de imperativos categóricos. Uma 
estética que vai julgar as coisas, não mais conceitualmente, mas segundo a impressão de agradabilidade 
que exercem no sentimento humano.
Kant teve o mérito de trazer o sujeito raciocinante à terra, ao terreno da experiência cotidiana, 
e de tornar a filosofia uma espécie de guia para a conduta humana no mundo. Com isso, plantou as 
sementes de novas disciplinas, como a antropologia e a sociologia, que vão se debruçar sobre o novo 
homem cosmopolita, o cidadão, que começava a se forjar em uma Europa em transição, cercada de 
mudanças sociais, políticas e econômicas.
Convido-o a entender por que a obra de Kant se torna uma viragem decisiva na história da filosofia. 
Nossa expectativa é que este livro-texto seja edificante e acrescente subsídios à sua formação acadêmica.
Em sua época, Kant teve a pretensão de firmar uma filosofia que fosse definitiva. Foi superado 
pelos questionamentos dos filósofos procedentes da contemporaneidade. Sabemos que não há filosofia 
definitiva. Pensar essa alternativa nos dá arrepios ideológicos.
Como saber se nos encontramos com uma filosofia verdadeira? Não saberemos. A filosofia vive dos 
questionamentos. Trata-se da chama permanente da razão iluminando o abismo de nossos pensamentos, 
a mesma razão iluminista que Kant acendeu no século XVIII e que até hoje acalenta nossas reflexões. 
É isso que faz a filosofia atraente para nós. A capacidade de constituir-se a si mesma, de estar sempre 
a discutir sua natureza e legitimidade como saber verdadeiro. A tarefa de filosofar se assemelha ao 
trabalho de Sísifo, condenando-nos a um eterno reinício.
INTRODUÇÃO
Para iniciar o estudo de Kant, é necessário tomar fôlego racional diante da grandiosidade da obra 
do filósofo prussiano.É bem provável que você já tenha lido ou ouvido que Kant é, na história dos 
filósofos, um dos mais complexos que se pode encontrar e que sua obra é hermética, cabendo apenas a 
iluminados o domínio de seus conceitos com clareza. Há certo exagero nessa rotulação. Encontramos, 
sim, dificuldades de natureza linguística e até discursiva nos seus textos, mas isso não justifica a fama 
imerecida de filósofo incompreensível. Temos que desconstruir esse tipo de lenda, para iniciarmos o 
estudo da disciplina sem nenhum preconceito.
Muitas vezes, o estudante tem uma prevenção infundada sobre a filosofia de Kant, o que dificulta a 
abordagem das obras e a iniciação no modo de reflexão racionalista que ele desenvolve.
11
Um fator que alimenta essa prevenção e constitui um primeiro obstáculo para o estudo do kantismo 
é o problema linguístico de tradução de seus textos originais. Até a metade do século XX, as traduções 
das obras de Kant eram feitas, por desvio, do idioma alemão para o francês (ou inglês, com menor 
frequência) e deste para o português. Se considerarmos que cada tradução é uma espécie de “traição” 
do texto-base, tornava-se difícil conhecer o Kant original. Se fosse isso, teríamos que concordar com 
o compositor Caetano Veloso, na canção “Língua”, que diz: “Está provado que só é possível filosofar 
em alemão”. É obvio que se trata de ironia do compositor. O problema linguístico foi superado. Hoje, 
encontramos ótimas traduções de Kant, feitas diretamente do alemão, com anexos explicativos que 
justificam o emprego de cada palavra traduzida do original.
Mas, afinal, por que, mesmo superados os problemas de tradução, os textos de Kant apresentam 
dificuldade de abordagem?
Vamos esclarecer isso com o seguinte relato de experiência de um estudante que teve dificuldades ao ler, 
pela primeira vez, uma obra kantiana. Talvez esse relato de experiência sirva de sugestão para o estudo que 
você inicia. É uma dica de roteiro oferecida por quem já teve dificuldade para compreender Kant.
Lembro a primeira vez que li a Crítica da razão pura, uma das obras seminais de Immanuel Kant. Foi 
logo no início da graduação. Encontrei o livro em liquidação em uma livraria de uma rodoviária de São 
Paulo. Não me lembro quanto paguei, algo em torno de cinco reais. Pensei em comprar e começar a 
leitura ali mesmo enquanto esperava o ônibus para minha cidade no interior.
Para um calouro de Filosofia, era uma pechincha. Além de barato, era uma edição de bolso, cabia 
na mochila onde carregava cadernos e outros materiais de estudo. Detalhe importante: na época, não 
havia xerox para fazer cópias de artigos ou capítulos de livros para estudar. Ter a obra inteira nas mãos 
contribuía muito para avançar na graduação. Portanto, o livro era um achado, e eu não podia perder a 
oportunidade de iniciar a montagem de uma biblioteca pessoal.
Comprei o livro e procurei um lugar isolado para começar a leitura. Não sei quantas vezes li os 
primeiros parágrafos e não conseguia entender o que estava escrito. Julguei estar sem foco, devido à 
movimentação da rodoviária, embora tivesse desenvolvido o hábito de ler no interior barulhento dos 
ônibus de São Paulo – lia até em pé para aproveitar o tempo longo nos coletivos que tomava para ir à 
universidade. Ali, no ambiente público da rodoviária, não conseguia me concentrar.
Deixei para reiniciar a leitura quando estivesse no ônibus. Teria duas horas de viagem para mergulhar 
na obra mais importante de Kant. Estava bastante motivado.
Instalado no fundo do ônibus, livre do burburinho da rodoviária, voltei à leitura da Crítica da razão 
pura. O raciocínio novamente embaralhava, e a compreensão não vinha, por mais que me esforçasse 
para ter foco. Arrumei outra desculpa: estava cansado, afinal tinha tido uma semana intensa de provas. 
Decidi, enfim, fazer a leitura somente quando estivesse tranquilo em casa e dormi durante a viagem.
Em casa, na escrivaninha do meu quarto, ambiente mais iluminado e tranquilo, pela terceira vez 
naquele dia, retornei à leitura da Crítica. Estava curioso para mergulhar no texto do próprio Kant, e não 
em comentaristas do filósofo.
12
Para minha surpresa, os termos “crítica”, “a priori”, “a posteriori”, “intuição”, “experiência”, 
“transcendental”, “entendimento” etc., que representam conceitos fundamentais de Kant, misturavam-se 
no meu raciocínio e não geravam compreensão, pelo menos com os significados que eu, como leitor 
iniciante, tentava associar ao conteúdo de cada termo que lia.
A primeira reação foi a de me imaginar incompetente para a matéria. Cheguei mesmo a pensar que 
não conseguiria me formar como professor de filosofia.
Quando voltei às aulas na semana seguinte, conversei com um professor e ele me deu uma excelente 
orientação, em se tratando do estudo de Kant. A solução veio mais tarde, com uma nova leitura que fiz, 
seguindo as dicas do professor.
As palavras do livro começaram a se encaixar e a fazer sentido filosófico quando, atendendo à 
orientação do professor, elaborei um glossário com os principais conceitos de Kant, à medida que ia 
lendo cada seção da Crítica da razão pura.
Não deixava passar nada, acomeçar pelo título. O que significa o termo “crítica” para Kant? O que 
ele concebe por razão? Qual o significado do qualificativo “puro” no contexto de sua obra? Assim por 
diante, fui construindo um léxico com os principais conceitos do criticismo.
O professor fez ainda outra recomendação: que, pelo menos na iniciação do estudo de cada seção 
da obra de Kant, eu revisasse, novamente e sem preguiça, o glossário que tinha feito na leitura anterior.
Pouco a pouco, fui dominando os termos específicos, ao conferir os significados nas diversas partes da obra. 
Também fui ampliando minhas anotações, quando encontrava definições diferentes do mesmo verbete. Isso 
porque Kant utiliza-se, de modo singular, de uma terminologia que nem sempre coincide conceitualmente 
com termos encontrados nos filósofos precedentes ou que aplicamos em nossas conversas acadêmicas.
Por seguir a dica do professor, meu domínio dos conceitos melhorou muito. Notei um aproveitamento 
maior no entendimento de Kant e apliquei, também, esse método de registrar os conceitos a outros filósofos 
que estudei. Tenho guardadas até hoje as anotações. Elas são de grande ajuda toda vez que preciso preparar 
uma aula ou escrever um artigo científico. Hoje sou professor e pesquisador na área de filosofia.
O relato de experiência do estudante de filosofia sugere duas orientações. Veja a seguir:
Léxico específico
Kant utiliza um conjunto especial de termos para significar os elementos teóricos de sua filosofia. 
É como se criasse um universo discursivo próprio, uma linguagem kantista que precisa ser inicialmente 
decodificada para, em seguida, compreender seu pensamento.
Não que o filósofo invente novos termos, isso às vezes até ocorre. Mais frequentemente, ele emprega 
em suas obras termos comuns da filosofia, mas com outras conotações, ou seja, com um sentido 
específico dentro da sua doutrina, o que dificulta a leitura corrente e a decodificação por quem está 
lendo pela primeira vez.
13
Para dar um exemplo, ilustremos essa dificuldade tratando do próprio termo “crítica”, que intitula as 
três grandes obras de Kant: Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo. Um aluno ou 
uma aluna, desavisados, ao toparem com o termo “crítica”, em Kant, podem ter uma primeira impressão 
de que se trata de um filósofo radical ou anárquico, que se opõe a tudo. Isso porque concebem o termo 
em seu sentido mais comum de “discordar de” – ou mesmo “concordar com” – uma questão ou uma 
ideia, e se posicionar de modo divergente ou coincidente a ela. Nesse registro mais popular, “crítica” seria 
comumente um posicionamento teórico de discordância ou uma postura pessoal antagônica (contrária) 
de alguém. Não é esse o conceito atribuído por Kant. Se os estudantes não forem alertados de que o 
significado de “crítica” no sistema kantiano é diferente do senso comum, certamente a leitura vai ficar 
prejudicada, até mesmo distorcida, dando a impressão de que o filósofo é incompreensível.
Neste livro-texto, retomaremos o termo “crítica” com mais profundidade. Por ora, fixemos uma 
primeira acepção: “crítica”, para Kant, significa o trabalho de investigação dos limites e das possibilidades 
de conhecimento da razão.
Portanto, fica aqui a orientação a você, estudante: se quiser ter um domínio melhor dos conceitos 
de um filósofo, comece logo a inventariar os verbetes do seu glossário.
Disciplina e visão de sistema
Certamente, algum professor, de outra disciplina, já recomendou a você a montagem de um léxico 
ou glossário com os principais conceitos de um filósofo. É uma metodologia de ensino invertida que 
rende ótimos resultados para o estudo.
No caso específico de Kant, a recomendação é mais que uma dica. É uma orientação didática para 
quem pretende ter uma visão sistêmica da sua filosofia, com domínio pleno dos conceitos. Isso porque a 
forma de abordar o pensamento do filósofo é ter a mesma disciplina metodológica que ele adotou para 
construir o conjunto de suas obras, que se tornou conhecido como sistema kantiano.
O que significa dizer que o conjunto de obras de Kant constitui um sistema? Primeiro, trata-se de 
reconhecer que a produção de seus livros segue um lineamento unitário que consolida uma doutrina 
filosófica. Segundo, significa reconhecer que todos os elementos teóricos – termos, categorias, 
conceitos e proposições – apresentam uma coesão e uma coerência estrutural quase matemática. Todos 
os princípios, categorias e conclusões conferem uma unidade ao caminho kantiano, que configura o 
percurso intelectual do filósofo por suas obras como um todo.
O sistema kantiano é tão bem estruturado que se assemelha, no modo de construção, ao trabalho 
de um relojoeiro, no qual todas as peças e mecanismos, na montagem final do relógio, se encaixam com 
coerência milimétrica. É claro que é possível identificar algumas fissuras no arcabouço teórico de Kant, 
isto é, lapsos de argumentação no ordenamento lógico de suas ideias. Contudo, a maioria dos analistas 
concorda que não há lacunas graves no sistema e que toda sua produção bibliográfica representou o 
esforço para preservar essa coerência. Toda a sistematização teórica é preenchida de conceitos que 
o filósofo vai descortinando e revelando, à exaustão, ao longo de seus escritos. Muitas vezes, em função 
desse rigor por minúcias, o corpo textual se torna redundante e até repetitivo.
14
Afirmar que o sistema kantiano apresenta uma coerência quase matemática leva-nos a compará-lo, 
guardadas as proporções, ao jogo lógico conhecido por Sudoku. Certamente você já viu esse jogo, que 
jornais e revistas publicam na seção de variedades. É um passatempo que requer, de quem o pratica, 
muito foco e raciocínio.
Quem ainda não teve a chance de jogar alguma vez, saiba que é um ótimo exercício mental, 
indicado para desenvolver habilidades cognitivas. Mas qual o sentido da comparação do Sudoku com 
o sistema kantiano? Primeiro, ao ler e estudar a filosofia de Kant, você pode exercitar suas habilidades 
de concentração e raciocínio lógico, muito mais do que no jogo. Além disso, o que se pretende destacar 
com a comparação é que o sistema kantiano também é composto de um número finito de conceitos 
(maior que nove, obviamente, que é a quantidade de elementos do jogo) que se repetem e se articulam 
entre si, nas diversas grades conceituais – as obras teóricas maiores –, traduzindo uma organicidade 
única ao conjunto de ideias filosóficas de Kant.
A comparação entre as duas lógicas, a do jogo e a do sistema kantiano, pretende que você perceba 
que nos dois sistemas há uma coerência quanto ao domínio de um número limitado de fatores (letras, no 
primeiro caso, e termos conceituais, no segundo) que confere uma coesão ao conjunto, demonstrando 
que as partes se encaixam coerentemente como as peças de um relógio.
Se você ainda não testou suas habilidades na resolução de um Sudoku, aguarde. Oferecemos um 
exemplo de aplicação que traz uma modalidade alfabética do jogo, com letras em lugar de algarismos, 
para desafiar você em lógica e concentração.
15
KANT
Unidade I
1 KANT E A FILOSOFIA MODERNA
Vamos fazer a contextualização do sistema kantiano junto às grandes correntes da história da 
filosofia e identificar o foco temático predominante no período denominado filosofia moderna 
(séculos XVII e XVIII).
Antes de conhecermos os dados da vida de Immanuel Kant (1724-1804) e de nos aprofundarmos em 
suas obras, é importante situar sua presença filosófica no período moderno e conhecer as ideias vigentes 
e as influências que recebeu.
A filosofia moderna corresponde ao terceiro período da divisão da história geral da filosofia. Trata-se 
do período intermediário, entre a filosofia medieval (séculos III a XIV), que a precedeu, e a filosofia 
contemporânea, que se inicia no século XIX e chega até os nossos dias. Por sua vez, a filosofia moderna 
é antecedida pelo renascimento (séculos XV e XVI).
Renascimento ou renascença é o movimento artístico-cultural europeu que resgata os ideais clássicosda civilização greco-romana, principalmente no âmbito da filosofia, e prepara o terreno para uma visão 
de mundo alicerçada na antropologia, interessada exclusivamente nos valores humanos. Entre esses 
valores, a razão tem um lugar preponderante, pois passa a ser, ao mesmo tempo, instrumento e objeto 
da especulação filosófica.
Assim, a filosofia moderna caracteriza-se, tematicamente, por ser antropocêntrica (anthropo = homem), 
ou seja, a atenção dos filósofos se volta para o próprio homem enquanto protagoniza o exercício da 
reflexão filosófica. Immanuel Kant é um ícone representativo desse contexto.
No início de seu percurso como intelectual, inspirado pelos ideais do humanismo renascentista, 
Kant impõe a si mesmo três questões abrangentes, que tem intenção de sistematizar em uma doutrina 
filosófica. As questões básicas são:
• Que posso saber?
• Que devo fazer?
• Que posso esperar?
Com o desenvolvimento da primeira questão, o filósofo descontrói a metafísica, enquanto disciplina 
clássica, e promove a razão como construtora do conhecimento científico. Da abordagem da segunda questão, 
estabelece uma ética que define condutas morais a partir dos imperativos categóricos. Da variedade 
16
Unidade I
de respostas à terceira questão, Kant faz uma revisão crítica dos fins últimos da religião e trata do 
finalismo da natureza e do problema estético relacionado à arte.
Entretanto, Kant percebe que na raiz das três questões havia outra questão básica e precedente: 
Que é o homem? A resposta a essa protopergunta deveria servir de fundamento para o estudo das três 
questões iniciais. Mas, sendo difícil e quase impossível responder, de pronto, à questão antropológica – 
Que é o homem? – pela complexidade do que é o ser humano, Kant reorienta seus estudos de filosofia 
para tentar encaminhar, ao mesmo tempo, as respostas às questões iniciais e a construção das disciplinas 
delas decorrentes.
A partir da abordagem da questão epistemológica, sobre o conhecimento em bases metafísicas, Kant 
vai dar os primeiros passos na sua caminhada filosófica, que se convencionou chamar, em francês, le 
chemin kantienne – o caminho kantiano.
 Observação
O termo “antropologia” não foi criado por Kant, mas confirmado enquanto 
título da obra Antropologia do ponto de vista pragmático (1798), definindo-a 
como doutrina de conhecimento do homem ordenada sistematicamente.
1.1 Filosofia moderna e o kantismo
Ainda no contexto da filosofia moderna, vamos relacionar a obra de Kant às correntes filosóficas 
e aos filósofos que o antecederam ou transcorreram no mesmo período, para visualizar, de maneira 
concisa e esquemática, as ideias reinantes no período e a mentalidade ideológica que constituiu a 
moldura do cenário intelectual da época.
Essa iniciativa, do ponto de vista didático, ao se escrever sobre a história da filosofia, objetiva sondar 
possíveis contatos de filósofos contemporâneos de Kant e levantar as relações de estudo e leitura desses 
predecessores a ele que, de modo direto, exerceram influências na sua formação intelectual.
Immanuel Kant residiu toda a sua vida na mesma cidade onde nasceu, a ponto de receber dos seus 
biógrafos o apelido de “o solitário de Königsberg”. Para seus biógrafos, esse fato foi determinante na 
predisposição de sua obra, pois auxilia na identificação de traços do seu perfil intelectual e nos tipos 
de contatos acadêmicos que manteve com os representantes da filosofia na época. Uma época, muito 
diferente da atual, em que não se contava com alternativas rápidas de locomoção para viagens entre as 
cidades para participação em encontros com filósofos de outros países, nem de meios de comunicação 
que permitissem o contato mais direto com pessoas em locais distantes, muito menos o acesso a obras 
e autores em tempo real. Tais dificuldades da época não impediram que Kant, vivendo circunscrito na 
cidade de Königsberg, produzisse uma obra magistral na história da filosofia.
Vários autores didáticos atribuem certas singularidades da obra de Kant ao fato de ele passar a 
vida inteira, quase em isolamento, em sua cidade natal. Por essa razão, Kant teve acesso a outros 
17
KANT
autores unicamente por meio das aulas que recebeu no Collegium Fredericianum, dos 16 aos 22 anos 
e, depois, até 57 anos, por meio das lições que ouviu na única universidade de Königsberg. Suas 
fontes se restringiram, portanto, aos professores e aos livros indicados pelos preceptores.
Sabemos que o espaço de atuação de quem se dedica exclusivamente ao filosofar, não somente no 
século XVIII, mas até hoje, restringe-se à academia, aulas no magistério, à pesquisa especulativa e à 
redação de livros. Assim, com o intento de fazer consulta, pesquisa e estudos mais aprofundados para 
enriquecimento intelectual, Kant teve que contar com bons professores e com as obras disponíveis no 
acervo da universidade.
1.2 Kant e o humanismo renascentista
As ideias do humanismo renascentista impregnaram toda a Europa, ampliando as expectativas de 
mudanças culturais e de transformação material da sociedade. A filosofia sai dos mosteiros e centros 
escolásticos e abre-se para o mundo, ao trocar o latim oficial da Igreja pela língua vernácula do dia a dia. 
Vive-se um ambiente generalizado de renovação espiritual e intelectual. Os efeitos da reforma protestante 
e as descobertas no campo das ciências físicas e experimentais estimulavam novas abordagens de temas 
filosóficos. A filosofia despe-se dos paramentos dos clérigos e passa a vestir os jalecos dos professores 
profanos nas universidades não confessionais.
Para entender essa mudança de mentalidade que vai resultar na alteração do paradigma metodológico 
na filosofia, é necessário fazer incursões na história, principalmente na história da filosofia que precedeu 
o kantismo, de modo a identificar as ideias e os autores que exerceram influências em Kant.
1.3 Paradigma pré-moderno
Vamos retroceder um pouco na história para entendermos a mudança de paradigma que ocorre 
com o fim da filosofia pré-moderna e o início da filosofia moderna. Na filosofia pré-moderna, antes de 
Descartes (1596-1649), os filósofos não tinham dificuldade em reconhecer a evidência real daquilo que, 
no período moderno, se convencionará chamar de mundo exterior, isto é, a existência de uma realidade 
externa em contraposição ao conteúdo ideal no interior da mente.
Para os filósofos anteriores a Descartes, era patente que existia um mundo fora do sujeito, objeto 
para todo o conhecimento. Isso não precisava ser demonstrado, porque não havia se tornado um problema. 
Na concepção dos filósofos pré-modernos, a realidade externa contém (ou é composta de) coisas que podem 
ser apreendidas pela razão, sem muito esforço. Essas coisas, consideradas objetos para um sujeito cognoscente, 
são estados objetivos do ser. Elas existem, indubitavelmente, na realidade e são descobertas como dados 
evidentes para a recepção passiva da razão. O registro dessas coisas percebidas forma um arquivo de ideias que 
representam as coisas do mundo. As ideias não são constituídas pela razão.
Outra característica da filosofia pré-moderna é o fato de o mundo exterior ser objetivamente 
ordenado. A realidade não é composta meramente ou caoticamente de objetos e fatos isolados uns dos 
outros. Objetos e fatos se vinculam uns aos outros por meio de relações, entre as quais o princípio da 
causalidade e o associacionismo.
18
Unidade I
 Observação
Associacionismo é a teoria filosófica e psicológica, de Hume, que 
assume, como princípio organizativo do espírito, a associação de ideias 
análoga à força da gravitação que define a ordem entre os planetas.
O princípio da causalidade, em um sentido geral, é a conexão entre dois eventos, em virtude da qual 
o segundo é diretamente previsível a partir do primeiro. Do ponto de vista empírico, é a relação causal 
necessária e infalível de um corpo sobre outro. Do ponto de vista lógico, é o princípio que relaciona 
causa, razão e efeito: a causa é o que dá razão ao efeito.
Paraos filósofos pré-modernos, a relação de causa e efeito existe objetivamente na realidade. 
Essa relação possibilita a criação de um princípio da causalidade como postulado teórico. Um evento 
realmente causa um outro e isto é um fato que pode ser constatado. Noutras palavras, a realidade não 
é composta apenas de fatos singulares – por exemplo, evento A e evento B –, mas também por fatos 
complexos – evento A causando o evento B, que, por sua vez, causa o evento C. Essa relação corrente de 
causalidades não se confunde e não se reduz a uma simples relação de contiguidade espaço-temporal entre 
os eventos, mas comporta um nexo causal. Nexo que pode ser objeto de compreensão num grau superior 
pela razão, de modo diferente da apreensão pura e simples dos eventos singulares pela mesma razão.
Para os filósofos pré-modernos, isso significava que o mundo possuía uma ordem e que essa ordem 
existia independentemente do ser humano. Não é o sujeito racional que impõe ordem à realidade. 
Esta já é ordenada, cumprindo ao ser humano apenas descobrir, desvelar e obedecer à ordem natural 
que existe desde os primórdios. É esse processo que possibilita o conhecimento na concepção dos 
filósofos pré-modernos.
A realidade, segundo a filosofia pré-moderna, contém fatos singulares e complexos. Esses fatos são 
estados de coisas que existem na realidade e podem ser descobertos e não constituídos. Conquanto 
possam existir estados de coisas imaginadas, eles não devem ser descritos como fatos imaginários, pois 
os fatos são sempre reais.
No contexto pré-moderno, a verdade é uma relação de correspondência ou adequação entre os juízos 
de um sujeito e os fatos que são objeto desses juízos. Se o juízo emitido por um sujeito corresponde 
aos fatos, dizemos que é verdadeiro; se não existe essa correspondência entre o juízo, que é um reflexo 
na razão, e o fato supostamente real, dizemos que ele é falso. Assim, a realidade não é nem verdadeira 
nem falsa: ela simplesmente é. Os julgamentos acerca da realidade, isto é, os juízos, é que podem ser 
verdadeiros ou falsos.
Enfim, depreende-se do paradigma pré-moderno que não é a realidade que induz o sujeito ao erro, 
mas é a razão que pode ser iludida ou levada ao erro. Dessa forma, há um problema emergencial e 
urgente, a razão deve ser investigada para que continue a emitir juízos que correspondam aos fatos 
reais e não se engane tanto.
19
KANT
1.4 Kant e o paradigma moderno
A filosofia moderna é o período da história da filosofia que se estende do século XVII ao XIX, iniciando 
com os trabalhos do racionalista René Descartes e encerrando com os estudos do idealista Hegel e dos 
filósofos materialistas. É no período da filosofia moderna que se situa o kantismo, no qual o processo 
de construção do conhecimento e a verdade sobre esse conhecimento entram em suspeição. É nesse 
período que, reconhecendo a urgência de a filosofia descobrir seus fundamentos científicos, Kant vai 
internar a razão na UTI da metafísica, para verificar se esta tem condições de dar sustentação à razão.
Na filosofia moderna, vai ocorrer uma mudança radical no estatuto epistemológico da verdade. 
Os filósofos modernos, principalmente Kant, vão questionar se aquilo que é dado na percepção retrata, 
de modo verdadeiro, a realidade imediata, isto é, se os objetos que compõem o mundo externo podem 
ser captados, como coisas que são, ou se o sujeito do conhecimento, na percepção do mundo, por meio 
dos seus órgãos dos sentidos, está sendo enganado o tempo todo.
Na visão dos filósofos pré-modernos, era frequente o sujeito pensante se enganar em termos de 
percepção do mundo e atribuir os equívocos a lapsos da razão. Contudo, a esses equívocos não se dava a 
devida importância. Foi preciso Descartes, ao inaugurar o contexto da filosofia moderna, iniciar a defesa 
da razão (do cogito) até as últimas consequências, para levar, segundo ele, os verdadeiros culpados ao 
banco dos réus: os órgãos dos sentidos externos do sujeito cognoscente que insiste em confiar nos 
dados da experiência (empiria).
Os pré-modernos admitiam também que, mesmo partindo dos sentidos, é possível descobrir fatos 
sobre a realidade que transcendem os sentidos: a chamada realidade suprassensível ou o que comumente 
é conhecido por sobrenatural. Defendiam, inclusive, uma tese de que era possível encontrar provas 
acerca de Deus pela via natural, ou seja, apenas refletindo, com a potencialidade da razão. Kant vai se 
contrapor a essa tese. Do mesmo modo que Descartes, embora empregando argumentos diferentes do 
filósofo cartesiano, Kant pretende descobrir o fundamento da ideia de substância para chegar à ideia 
de Deus.
Apesar da diversidade de autores e da variedade dos temas-problemas de reflexão, no período 
moderno, é possível destacar, no conjunto, as características gerais a seguir.
1.4.1 Do ponto de vista cultural
O surgimento de novos centros acadêmicos e universidades, exclusivamente laicos, 
principalmente na França, Inglaterra e Alemanha, contribuiu para o aumento de produção e 
irradiação das ideias filosóficas.
Os centros de vida intelectual se multiplicam pela Europa: Oxford, Viena, Praga e, na Alemanha 
protestante, as cidades de Heidelberg, com a mais antiga universidade da história (1386), e Königsberg, 
a universidade onde Kant fez sua graduação em filosofia e depois lecionou.
20
Unidade I
1.4.2 Do ponto de vista doutrinário
Quanto à questão doutrinária, há uma tentativa de independência de qualquer autoridade eclesiástica 
ou clássica, ou seja, os pensadores modernos lutam pela autonomia de reflexão, em matéria filosófica e 
religiosa, na forma de rompimento com o passado e com a tradição religiosa.
A filosofia começa a perder seu traço escolástico e se converte em atividade de livre pensar.
Os maiores representantes são Descartes, Leibniz, Bacon, Locke, Hume e, principalmente, Kant. A nova 
filosofia busca suas fontes não mais nas doutrinas ou tratados dos clássicos, mas em toda amplitude da 
realidade, com foco e interesse em toda espécie de tema da vida cotidiana.
É um período de intensa fermentação de ideias em grande parte do território europeu, deslocando o 
foco de atenção do poder de Roma. Nessa marcha de acentuação da mentalidade moderna, novos livros 
são publicados e novos debates instigados, mesmo sob o risco de censura ou condenação, por serem 
considerados heréticos.
1.4.3 Do ponto de vista metodológico
Como decorrência da nova postura teórica e estimulados pelos avanços visíveis das ciências físicas 
e matemáticas, os filósofos do período julgavam-se no dever de construir suas filosofias a partir do 
estabelecimento de alicerces concretos (consistentes e evidentes), em oposição à postura escolástica, 
constituindo, assim, uma mudança de paradigma.
Engendra-se, nos filósofos modernos, uma consciência particular do valor próprio de sua capacidade 
intelectual, atitude que aumenta a confiança de poder contribuir, reflexivamente, com a expectativa 
generalizada de mudanças.
A postura epistemológica que permeou a filosofia antes do kantismo é considerada otimista, porque 
admitia, sem grandes problemas, a existência de um conhecimento patente da realidade, a partir de um 
mundo exterior aceito como óbvio, cabendo à razão simplesmente apreendê-lo.
De modo contrário, na filosofia moderna, a conduta epistemológica é crítica. Os filósofos modernos 
duvidam da verdade do conhecimento. Eles vão questionar se quando o sujeito conhece um objeto ou 
fato, efetivamente, o que ele tem é uma percepção, uma sensação de um objeto que não é o objeto 
físico, real, presente no mundo exterior. Eles vão especular se há mesmo a certeza de que o mundo 
exterior – a coisa em si – pode ser apreendido pelo sujeito como dado da experiência e qual é o papel 
da razão na construção do conhecimento.
Nesse questionamento, embora apresentem soluções epistemológicas distintas, há concordância 
entre os filósofos racionalistas e empiristas quanto às novas atribuições da razão em um contexto social 
em transformaçãoà luz de novas descobertas no campo das ciências físicas e naturais, que colocam em 
cheque as especulações metafísicas.
21
KANT
No contexto moderno de grandes mudanças, a razão, em caráter de urgência, passa a ter importância 
funcional no processo epistemológico, até então não sistematizado. Questiona-se se o modelo do 
intelecto humano pode ser representado simplesmente por uma tábula rasa, um espelho do mundo, 
uma máquina de reprodução fiel de realidade potencialmente apreensível. Ou se o modelo cognitivo 
é mais mecânico e autônomo, a exemplo dos instrumentos científicos, uma espécie de ferramenta de 
sustentação e de constituição do próprio conhecimento.
Na ótica moderna, se há um mundo lá fora é porque existe um sujeito agente que quer, racionalmente, 
conhecer e dominar esse mundo. Para isso, é necessário que o sujeito se abra para sentir o mundo na 
forma de sensações evidenciadas nos sentidos, com reflexos inteligíveis em seu espírito, e não apenas 
como uma simples impressão de estampagem desse mundo em uma mente passiva.
Há um novo pressuposto gnosiológico no ar, tomado do modelo das pesquisas científicas, 
o pressuposto de que a percepção da experiência é a base do conhecimento. A experiência passa a ser 
a fonte exclusiva de conhecimento, mas não a única. Por seu lado, a percepção, como veículo legítimo para a 
obtenção dos dados que serão processados pela razão, passa também a ser analisada em sua funcionalidade 
junto à razão. Por sua vez, a razão adquire múltiplas funções na constituição do conhecimento.
O trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant vai esmiuçar e descrever cada uma dessas funções.
Com isso, a verdade do conhecimento, que na filosofia pré-moderna se resumia à simples 
correspondência entre a ideia na mente e a coisa percebida, agora, no contexto da filosofia moderna, 
vai mudar completamente, porque tem sua legitimidade questionada.
Kant, novamente, teve um papel importante nessa problematização da validade do conhecimento. 
A direção que o filósofo aponta para resolver o problema é que a verdade do conhecimento se 
transferirá da esfera da obtenção dos dados para o serviço da sensibilidade, os mecanismos de atuação 
do entendimento e, finalmente, ao ajuizamento do espírito.
Dessa forma, a filosofia moderna se volta para os métodos epistemológicos a fim de equacionar 
em bases científicas, inspiradas pelas ciências naturais, a relação do sujeito cognoscente com o 
objeto cognoscível.
Do ponto de vista metodológico, a filosofia moderna vai se distanciar dos dois métodos clássicos: 
o indutivo e o dedutivo axiomático, e tentar encontrar uma terceira via.
A filosofia moderna vai recusar o procedimento indutivo, porque este não garante o conhecimento 
certo, como diria Popper, porque, por mais observações que um sujeito possa ter feito, ele nunca vai 
ter plena certeza de que cumpriu com o protocolo científico vigente de fazer todas as observações. 
O exemplo clássico é a afirmação: “todos os cisnes são brancos”. Não há garantia na afirmação 
generalizada de que todos os indivíduos da espécie cisne são brancos, pois pode existir um cisne negro.
A filosofia moderna vai recusar, também, o procedimento dedutivo, de natureza dogmática, por 
este se pautar em premissas, preliminarmente aceitáveis, para se chegar a conclusões, plausíveis ou 
22
Unidade I
certas, que, no fundo, representam simplesmente premissas relativas, e não axiomáticas como nas 
ciências matemáticas.
Nos dois métodos, há condicionantes e, sobretudo, condicionais, isto é, componentes a priori 
denominados transcendentais por Kant, descobertos em sua investigação sobre as atribuições 
metafísicas da razão. Elementos condicionantes e transcendentais que são intrinsecamente dependentes 
das situações da investigação e que, se não forem devidamente compreendidos, corre-se o risco de 
encaminhar a razão para uma postura cética crescente que, talvez, culmine em um irracionalismo.
O desafio de Kant será o de encontrar um método que oriente a análise e ajude a razão a pesquisar o objeto, 
ou melhor, fazer o objeto se adaptar à razão investigativa. O filósofo desenvolverá o método transcendental.
1.5 Influências sobre Kant
A filosofia moderna representa o período que vai de 1598 (nascimento de René Descartes) até 1781 
(publicação da Crítica da razão pura, de Immanuel Kant). Pode ser dividida em duas grandes vertentes 
filosóficas: o empirismo de Bacon, Berkeley, Locke e Hume, e o racionalismo de Descartes, Leibniz e 
Baumgarten. Vários desses autores tiveram influência direta no kantismo.
Vários filósofos tiveram suas ideias revistas e rejeitadas nos textos das três Críticas. Outros tiveram 
seus conceitos incorporados no texto, depois de passarem por uma reinterpretação teórica de Kant. 
Todos os autores, sem exceção, foram estudados e revisados teoricamente, demonstrando, da parte de 
Kant, um conhecimento atualizado das correntes filosóficas da época e um revisionismo crítico de quase 
toda filosofia moderna.
A sistematização da filosofia, encontrada nas páginas da Crítica da razão pura, comprova que 
Kant foi um grande leitor dos filósofos clássicos, antigos e medievais, e dos seus contemporâneos, 
principalmente Rousseau e Hume. Este último, inclusive, segundo relata no prefácio da Crítica da razão 
pura, foi o responsável por despertá-lo do “sono dogmático”.
Vejamos quais são esses filósofos e que ideias ou temas de suas obras contribuíram na formação 
do kantismo.
1.5.1 Descartes e a criteriologia do método
O filósofo francês René Descartes (1596-1650) cursou o colégio jesuíta na sua cidade natal de 
La Haye. Aos 19 anos, transferiu-se a Paris para continuar os estudos de filosofia, além de física e 
matemática, ciências nas quais se destacou notavelmente. Depois de viajar pela Europa, retirou-se na 
Holanda, por 20 anos, para se dedicar às suas meditações filosóficas.
Suas principais obras relacionadas à epistemologia são: Discurso do método (1637) e Meditações da 
primeira filosofia (1641). É considerado fundador do racionalismo, que inicia o período moderno, com a 
proposta inovadora de um método (a dúvida metódica) para reconstruir a filosofia de modo confiável, 
ultrapassando com a razão as deficiências dos órgãos dos sentidos externos.
23
KANT
Figura 1 – René Descartes
Descartes desenvolve um método intuitivo com base no apriorismo, que, por meio da identificação de 
ideias claras e distintas, procede dedutivamente, como uma série de teoremas matemáticos, até atingir 
verdades lógicas e indubitáveis que adota como pilares para a construção do edifício do conhecimento.
O método cartesiano (Descartes é cartesius, em latim) comprova que a constatação da existência do 
conhecimento e do mundo decorre da existência primeira do próprio pensamento: “se duvido, penso, e 
se penso, existo” (cogito, ergo sum).
Com a proposta da dúvida metódica, embora insuficiente para explicar toda a realidade das coisas, 
Descartes acentua a necessidade de maior rigor e maior disciplina no tratamento metodológico da 
filosofia. Em resposta a uma expectativa do período moderno, inaugura uma fase na história, na qual a 
questão urgente dos filósofos é: em que caminho deve percorrer a reflexão para se chegar à verdade? 
Ou seja, os filósofos estão concentrados em uma discussão do método, para a qual Descartes tem sua 
proposta, que Kant vai assumir, metodicamente, no desenvolvimento da Crítica da razão pura.
Descartes defende a presença da metafísica, enquanto disciplina filosófica, e chama a atenção para 
a evidência como critério da verdade, duas referências nas quais Kant vai se apoiar em sua investigação.
Certamente, a criteriologia do método cartesiano auxiliou Kant a iniciar sua reflexão crítica, a saber:
• A colocação do problema inicial de maneira metódica, com clareza e distinção.
• A análise dos inúmeros aspectos (significados) do problema na ordem ideal e na ordem real em 
que se apresentam logicamente.
• A busca de evidências apodíticas, isto é, imediatamente certas,que sintetizem e justifiquem os 
juízos de verdade.
24
Unidade I
Apesar de o filósofo francês desvalorizar totalmente o conhecimento sensível por ser uma fonte 
de enganos, tese que vai ser rebatida por Kant, junto com os empiristas, Descartes eleva a consciência 
(o cogito), como intuição primeira, à condição de tribunal capaz de decidir sobre a verdade.
Kant vai se apropriar desse cenário para realizar o julgamento da razão por ela mesma.
1.5.2 Leibniz e as verdades da razão e de fato
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), tal qual Immanuel Kant, é um dos grandes filósofos alemães 
do século XVII, por ser considerado o fundador da filosofia alemã e grande inspirador do movimento 
iluminista na Alemanha.
Filho de pai jurista e professor de universidade, Leibniz viveu em ambiente intelectual desde cedo, 
tornando-se autodidata em história da filosofia, matemática e jurisprudência. Formou-se em direito, aos 
20 anos, e serviu como diplomata visitando vários Estados europeus. Nas viagens, teve a oportunidade 
de travar conhecimento com muitos cientistas e filósofos, entre eles Newton, Malebranche e Spinoza.
Escreveu no campo da epistemologia e ontologia: Discurso de metafísica (1686) e Novos ensaios 
sobre o entendimento humano (1710).
Figura 2 – Leibniz
A ascendência de Leibniz sobre Kant advém de um elo intelectual de relacionamento na pessoa do 
filósofo Christian Wolff, que foi discípulo de Leibniz e, depois, autor do manual de metafísica que Kant 
estudou na Universidade de Königsberg.
Lendo Wolff, Kant aprendeu que a gnosiologia de Leibniz tem seu fundamento na lógica universal, 
que, por seu lado, fornece um método para distinguir e inventariar todos os conhecimentos. Esses 
25
KANT
conhecimentos devem atender a dois critérios: as verdades de razão (juízos universais e necessários) e 
as verdades de fato (juízos particulares e contingentes).
 Observação
Contingente é aquilo que pode acontecer ou ser de um jeito ou de outro; 
sinônimos: livre, indeterminado, imprevisível; contrapõe-se a “necessário”, 
que é aquilo que tem que ser ou acontecer, inevitavelmente.
Essa classificação ajudou Kant a distinguir os juízos analíticos dos juízos sintéticos. Mas, avançando 
na teoria em relação a Leibniz, aprendeu a diferenciá-los em juízos a posteriori e juízos a priori. Juízos 
a posteriori são aqueles dependentes e provenientes da experiência do sujeito que conhece. Os juízos a 
priori são aqueles dependentes indiretamente da experiência, mas não derivados dela. A partir dessas 
ideias, Kant descobre, enfim, nos juízos sintéticos a priori, a pista, a brecha, o argumento que precisava 
para fundamentar o conhecimento científico em bases metafísicas.
1.5.3 Bacon e a purificação da razão
O filosofo inglês Francis Bacon (1561-1626) viveu dois séculos antes de Kant. Foi o primeiro empirista 
a enaltecer a experiência e o método lógico-dedutivo, de tal modo que a razão e suas faculdades de 
transcendência chegavam a desaparecer do processo do conhecimento.
Bacon escreveu somente dois capítulos de uma obra que planejara inicialmente para seis capítulos. 
Redigiu o primeiro capítulo denominado Novum Organum, para substituir a obra homônima de 
Aristóteles, diante da nova realidade das ciências empíricas que o mundo estava vivendo. A obra visava 
lançar as bases lógicas de uma nova filosofia que daria o domínio da realidade ao homem.
 
Figura 3 – Francis Bacon
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Unidade I
Mas não foi o conteúdo epistemológico desse trabalho que interessou diretamente a Kant. Foram 
os alertas do filósofo contra o dogmatismo que transbordava das autoridades da época, baseados em 
discursos ideológicos, que despertaram Kant.
As ideias de Bacon ajudaram Kant a purificar a razão, libertando-a das imposições, representadas 
pelos ídolos, espécie de preconceitos cultivados pelas autoridades.
A recomendação do filósofo inglês para ter coragem (sapere aude) diante das diversas manifestações 
dos ídolos é simpática a Kant, que vai incorporá-la, mais tarde, como grito de alerta, em seu texto-manifesto 
“O que é o iluminismo” (ROUANET, 1987).
1.5.4 Newton e o método hipotético
O cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) não é considerado propriamente um filósofo no sentido 
estrito do termo. Suas reflexões são, acima de tudo, de ordem científica, relacionadas às pesquisas 
que desenvolvia no campo da matemática, da física e da astronomia, sobretudo na área de ótica e 
gravitação universal.
Suas descobertas baseadas em experimentos de laboratório e, de modo mais específico, a nova 
atitude metodológica que empregou influenciaram os filósofos ingleses empiristas, o francês Descartes 
e, por extensão, Immanuel Kant.
No curso de graduação na universidade, por indicação de um professor discípulo de Wolff, Kant 
estudou profundamente as duas principais obras de Newton: Ótica (1704) e Princípios (1687), cujo título 
completo é Princípios matemáticos de filosofia natural (Philosophiae naturalis principia mathematica).
 
Figura 4 – Isaac Newton
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KANT
O método de Newton era diametralmente oposto ao método cartesiano. Descartes partia de hipóteses 
imaginadas, arbitrariamente, que deveriam, em uma sequência dedutiva, ser conferidas e confirmadas 
na realidade objetiva. Se não houvesse correspondência, buscava-se outra via teórica para levantar 
novas hipóteses.
Newton repetia que hipóteses ele não inventava (hypothesis non fingo) e postulava que é da observação 
positiva (empírica) dos fenômenos e das relações entre eles que surgem as suspeitas. Essas suspeitas 
sugerem hipóteses teóricas que voltam, à prática experimental, para uma necessária confirmação, 
sempre acompanhada de mais e mais observações e medidas para comprovação. A partir de deduções, 
baseadas nas novas observações e dados, pode-se chegar a conclusões sólidas e, indiscutivelmente, 
verdadeiras, positivas, ou seja, científicas.
Outra novidade do método newtoniano é a utilização da matemática como linguagem adequada 
e eficiente para equacionar os fenômenos observados no mundo. A matemática constituía-se na 
ferramenta linguística que reduzia a realidade da experiência a dados mensurados, permitindo, e dando 
confiança e crédito, a aproximação à verdade do real.
Newton tinha clareza do domínio das ciências físico-matemáticas em relação às teorias do domínio 
da filosofia. As ciências pesquisam, nas causas mecânicas, as leis que regulam essas causas e que podem 
ser formuladas em equações. Essas equações, com o auxílio de deduções matemáticas, comparando e 
interagindo com outras equações, possibilitam novas hipóteses que devem e podem ser conferidas na 
prática experimental.
Enquanto isso, a filosofia procurava as causas eficientes, isto é, a explicação dessas leis e fenômenos 
por via especulativa, caindo em redundâncias, quando não, em contradições.
Kant vai assumir a postura de pesquisador hipotético de Newton e tentar construir uma epistemologia, 
cujas ferramentas conceituais tenham clareza próxima da matemática.
1.5.5 Locke e as ideias de relação
John Locke (1632-1704) foi o fundador da escola filosófica que ficou conhecida como empirista, por 
valorizar o papel preponderante e exclusivo da experiência (empiria) na gênese do conhecimento.
Nascido de família rica, estudou filosofia, ciências naturais e medicina na Universidade de Oxford. 
Viajou fora da Inglaterra, especialmente a Paris, onde pôde ampliar seu horizonte cultural em contato 
com diversos movimentos filosóficos, entre eles o racionalismo.
Locke foi leitor atento de Descartes e interessou-se pelo método cartesiano, por encarar os problemas 
partindo do seu centro, isto é, iniciando pelo próprio sujeito, que depura as ideias até atingir a evidência 
das ideias claras.
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Unidade I
Figura 5 – John Locke
Contudo, diferentemente de Descartes, Locke ensina que não há ideias inatas e que todas, sem 
exceção, vêm da experiência. Compara o entendimento a uma tábula rasa ou folha em branco, na qual 
o espírito recebe a impressão (estampagem) dos objetos da experiência,pela via da sensação.
Segundo Locke, o espírito tem três funções:
• Combinar as ideias simples em uma só síntese para formar ideias complexas.
• Agrupar duas ou mais ideias simples e/ou complexas para formar ideias de relação.
• Separar, por abstração, as ideias agrupadas entre si, segundo a natureza comum, em direção à 
formulação de ideias gerais.
Do catálogo das obras de epistemologia escritas por Locke, destaca-se Ensaio sobre o entendimento 
humano (1690).
Talvez pela influência cartesiana, Locke tornou-se mais moderado na defesa das teses empiristas. 
Moderação que Kant assume, ao reprovar o rigor do outro empirista Hobbes, entendendo que a 
sobrevalorização, unicamente das sensações, podia levar a razão a um materialismo absoluto e ateu.
Na exposição dos objetivos do Ensaio sobre o entendimento humano, ensaio de epistemologia a que 
Kant teve acesso, Locke apresenta o seu plano de trabalho:
examinar, passo a passo, de uma maneira clara e histórica, todas as faculdades 
do nosso espírito (...) descobrir os elementos simples, com os quais, por 
hipótese, são formados todos os nossos fatos de consciência; depois, 
29
KANT
descrever a formação dos estados complexos, esclarecendo e apreciando os 
elos que os ligam, donde resultará o juízo sobre o seu valor (LOCKE, 1988).
No plano de trabalho de Locke, encontra-se o esboço das etapas da investigação que Kant 
empreenderá, de maneira minuciosa, para escrever a Crítica da razão pura.
Com base na doutrina de Locke, para iniciar sua investigação crítica, Kant assume como proposições 
norteadoras que:
• a razão não pode ir mais além dos limites da própria experiência;
• a experiência é o mundo do homem, o mundo de todos os problemas que ocupam e preocupam 
a razão humana.
Devido à influência cartesiana, Locke não teve, com sua obra, o mesmo sucesso de Kant. Talvez 
porque não distinguiu, de partida, as funções diferentes dos domínios sensível e inteligível, como fez o 
filósofo prussiano.
1.5.6 Berkeley e o fenomenismo
George Berkeley (1685-1753), filósofo irlandês de família de origem inglesa, estudou filosofia junto 
com teologia, grego e hebraico na formação para ser pastor. Foi missionário na América e bispo anglicano. 
Escreveu duas obras de epistemologia: Ensaio sobre uma nova teoria da visão (1709) e Tratado sobre os 
princípios do conhecimento humano (1710).
 
Figura 6 – George Berkeley
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Unidade I
A epistemologia de Berkeley considera que o objeto sensível existe como ser, exclusivamente, no ato 
de percepção e enquanto o sujeito o mantém em pensamento. Quando o sujeito deixa de pensar no 
objeto (coisa), significa que ele desaparece. Assim, para o filósofo irlandês, o ser (essência) está presente 
no que é percebido – ser é perceber (esse est percipi). Qualquer sensação, seja na esfera da sensibilidade 
ou da afetividade psicológica, é um fato da consciência que não existe senão na alma (espírito).
Sua formação religiosa e seu projeto de fazer da filosofia uma apologia do cristianismo contaminaram 
sua teoria do conhecimento, desviando seus argumentos epistemológicos até um fenomenismo 
absoluto, isto é, negando qualquer evidência da matéria e do mundo. As ideias, que são o único objeto 
das ciências, explicam-se plenamente pela atividade do espírito.
 Observação
Fenomenismo é a doutrina epistemológica segundo a qual o conhecimento 
humano limita-se aos fenômenos, podendo equivaler-se a estes (caso de 
Kant) ou negando qualquer realidade fora deles. É a filosofia do iluminismo.
Diante do radicalismo de sua tese, Berkeley buscou tranquilizar as críticas que recebeu, afirmando 
que o que garantia que o mundo, os homens e todas as coisas tenham existência material é porque Deus 
pensa, hoje, sempre e, de modo contínuo, sobre elas.
Contraditoriamente, Berkeley vai concluir que a legitimidade do conhecimento não está nos 
caracteres do mundo sensível, mas em uma entidade suprassensível que inspira uma introspecção dos 
fenômenos em todo ser humano.
Kant vai adotar o fenomenismo moderado de Berkeley, ao admitir que somente aquilo que for 
percebido (esse est percipi) pelo sujeito, em sua experiência de mundo, é que vai constituir a matéria 
para o conhecimento, mas que, diferentemente do filósofo irlandês, há um trabalho ativo e regulatório 
do sujeito (espírito) na receptividade desses dados empíricos.
1.5.7 Baumgarten e a gnosiologia inferior
O berlinense Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762) foi aluno de Wolff, de quem compilou, 
em um caderno, cerca de mil parágrafos das lições de filosofia wolffiana. O caderno recebeu o título de 
Metafísica (1739), seu assunto principal. O caderno teve várias edições e foi adotado por Kant em suas 
aulas de lógica na Universidade de Königsberg.
Kant elogiou Baumgarten, considerando-o um “excelente analista”, e escreveu sobre sua obra 
de metafísica: “foi o mais útil e mais profundo dentre todos os manuais do gênero”. Mesmo sendo 
contemporâneo, os dois filósofos não devem ter se encontrado nenhuma vez.
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KANT
Figura 7 – Capa da obra Aesthetica (1750), de Alexander Gottlieb Baumgarten
Baumgarten antepôs à metafísica a necessidade de uma teoria do conhecimento e foi o primeiro a dar 
a essa doutrina epistemológica a designação de gnosiologia. Para ele, a epistemologia divide-se em duas 
partes fundamentais: a estética, que tem por objeto o conhecimento sensível (gnosiologia inferior); e a 
lógica, que trata do conhecimento intelectual (gnosiologia superior).
Seu trabalho original influenciou Kant, que aprendeu a valorizar o conhecimento sensível, não 
somente como etapa preparatória e veículo subordinado ao conhecimento intelectual, mas como meio 
dotado de valor intrínseco e independente do conhecimento lógico, embora vinculado a este.
O conhecimento sensível era considerado pelos filósofos modernos, tanto empiristas como racionalistas, 
sempre obscuro e com representações confusas, enquanto o conhecimento lógico era distinto e mais claro.
Baumgarten resgata o valor da sensibilidade e fala da perfeição do conhecimento sensível ao 
apresentar a estética como “ciência do conhecimento sensível” e “irmã menor da lógica”.
Para Baumgarten, o conhecimento sensível compõe a gnosiologia inferior e o conhecimento lógico, 
a gnosiologia superior, nova divisão das faculdades de cognição.
O filósofo teve, ainda, importantes incursões no campo da crítica da arte que ajudaram Kant a 
entender o papel da sensibilidade na aferição dos sentimentos de agradável, bom e belo.
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Unidade I
1.5.8 Hume e o associacionismo
David Hume (1711-1776) nasceu em Edimburgo, na Escócia, e iniciou os estudos do direito por 
vontade do pai. Logo abandonou para se dedicar exclusivamente à filosofia, indo residir em Londres 
e, depois, em Paris. Travou conhecimento com os enciclopedistas Diderot e D’Alembert e viajou pela 
Inglaterra na companhia de Rousseau. Escreveu duas obras sobre conteúdo de epistemologia: Tratado 
sobre a natureza humana (1739) e Ensaio filosófico sobre o entendimento humano (1748).
Hume foi o maior demolidor da metafísica entre os empiristas, aos quais critica, também, por 
eventuais traços de apriorismo. Para o filósofo escocês, não existe a metafísica, e, consequentemente, 
conceitos de substância, alma e Deus são ficções da fantasia humana.
Figura 8 – David Hume
Hume sustenta um ceticismo radical em relação ao próprio mundo e só reconhece valor no 
conhecimento derivado da experiência, pois todo o conhecimento é sensível e unicamente empírico 
(a posteriori).
Os ingredientes do conhecimento sensível são as impressões e as ideias. Estas são os elementos 
constitutivos fundamentais na produção dos pensamentos e são diferentes no grau e na intensidade, 
com que impressionam o espírito e penetram no pensamento ou consciência.
As impressões equivalem às percepções dos órgãos dos sentidos, veículos das qualidades do mundo 
exterior à interioridade do espírito. As impressões são vivas, intensas e com força de reprodução (força 
de estampagem). As ideias são as

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