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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Tema – Projeto de Produtos e Processos Curso MBA em Engenharia da Produção Disciplina Gestão da Produção Tema Projeto de Produtos e Processos Professor John Jackson Buettgen Introdução Quando me convidaram para ministrar esta disciplina, imediatamente, eu fiz uma associação mental entre as competências de Engenheiros de Produção e as demandas de tomada de decisão às quais esses profissionais são submetidos. Dentre essas decisões, muitas estão associadas aos produtos e processos da organização. Ofertar produtos que atendam às necessidades e desejos dos consumidores e aos interesses da organização, produzidos através de processos adequados, requerem um intenso envolvimento dos gestores de produção. A intenção deste tema é discutir aspectos ligados ao projeto de produtos e processos, com a perspectiva de análise das decisões envolvidas, tentando identificar a participação dos gestores de produção. Vídeo da introdução disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Problematização Projeto de produto na empresa Barcos Marine - Rio de Janeiro Como a concorrência no mercado de fabricação de barcos é muito acirrada, a empresa Barcos Marine precisa apresentar algum diferencial competitivo. Para isso, ela busca se desenvolver mais a cada dia e, assim, introduzir no mercado barcos inovadores e de alta qualidade. Isso se reflete na sua linha de barcos, que hoje oferece uma variedade de 18 modelos. Para manter este fluxo de inovações, e com vários barcos em diferentes estágios de seu ciclo de vida, o qual é estimado pela diretoria da Marina em algo em torno de quatro anos, a Marine busca sempre trazer para seu processo de projeto dos produtos informações do mercado, dos revendedores e de consultores especialistas. Ideias para projetos rapidamente vão parar no estúdio de projeto, onde são colocadas em equipamentos de Computer Aided Design (CAD) de última geração, para apressar o desenvolvimento. Os projetos dos barcos existentes também estão sempre sofrendo alterações, já que a empresa esforça-se para atualizar seus designs, acompanhando as tendências mais contemporâneas. Alguns anos atrás, o produto mais novo era o “Parati”, um barco para três pessoas, na faixa de $30.000, um barco pequeno, porém veloz, capaz de atender bem a prática de esqui aquático. No ano passado, a Marine lançou um barco de 20 pés, com tantas inovações que foi extensivamente premiado em feiras da área. Este ano, lançou um modelo muito mais luxuoso, de 40 pés que acomoda seis pessoas com luxo. Com esse ritmo de inovações, o pessoal de projeto da Marine é constantemente pressionado para responder rapidamente a elas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Atraindo fornecedores em estágios iniciais de projeto e tendo as suas contribuições, a Marine consegue simultaneamente melhorar seus projetos e a sua eficiência no desenvolvimento, tornando-o cada vez mais rápido. (Texto extraído de CORREA; CORREA, 2006, p.347). Vídeo disponível no material on-line. Com base na história que acabamos de conhecer, qual dos processos apresentados a seguir seria o mais indicado para atender ao perfil de produto e mercado descritos? Opção1: Processo por tarefa ou jobbing. Opção 2: Processo por lote ou batelada Opção 3: Processo de massa. E agora, qual das opções é a mais correta? Não responda agora, pois vamos dar continuidade aos nossos estudos e, assim, você conseguirá responder a essa questão com mais clareza! Introdução ao Projeto de Produtos e Processos Os produtos são a grande conexão entre as organizações e seus clientes, portanto, devem criar um grande impacto. O desenvolvimento dos projetos de produtos não é responsabilidade direta dos gerentes de produção, mas eles têm participação importante, principalmente com recomendações e informações. Apesar dessa responsabilidade indireta, há sempre uma expectativa em relação à participação dos gerentes de produção nesse processo. Além de um projeto primoroso, um produto só será sucesso se puder ser produzido com elevados padrões de qualidade e com serviços que realmente possam ser CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 implementados. Antes de adentrarmos ao estudo do projeto dos produtos propriamente dito, quero lhe fazer uma pergunta. Você sabe qual é o significado da palavra projetar? Vamos fazer uma análise da semântica da palavra no dicionário Michaellis (2010), que nos traz a seguinte explicação para o verbete: (projeto+ar2) vtd 1 Atirar à distância, lançar longe; arremessar. vpr 2 Arremessar-se, atirar-se, despenhar-se: O tresloucado passageiro projetou-se ao mar. vtd 3 Lançar, fazer cair ou incidir sobre: Os faróis projetam longe os raios luminosos. vtd 4 Fazer aparecer sobre uma superfície ou um anteparo: Projetar um filme, uma fotografia etc. vpr 5 Delinear-se, incidir, prolongar-se: "Um mundo... desperta e vive. As coisas se projetam e definem" (Hernâni Donato). vtd 6 Geom Figurar ou representar por meio de projeções: Projetar um ponto. vtd 7 Formar o projeto ou o desígnio; idear, planejar: Estamos projetando uma excursão. Agora que você já conhece todos os significados possíveis para a palavra projetar, vamos nos atentar ao sétimo significado. Formar o projeto, idear, planejar, ou seja, estamos falando de um processo que engloba desde a ideia e/ou concepção do produto, até a atividade de definição de todas as especificações que tornarão possíveis a sua produção. Slack, Chambers e Johnston (2009) comparam o projeto com o processo de transformação, como pode ser observado na figura a seguir: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 O projeto como um processo Figura 1 Projeto é a atividade que molda a forma física e o propósito tanto de bens como de serviços, bem como dos processos que os produzem. (SLACK et al, 2009) Pois bem! Agora que já compreendemos que o projeto é um processo, cujo resultado é um produto específico, vamos nos aprofundar nos dois grandes eixos do projeto, que são: Produto e Processo. Cada um desses eixos será tratado separadamente. Assim, poderemos analisar com mais riqueza de detalhes as participações e contribuições dos gestores de produção. Agora, acompanhe o vídeo a seguir, o qual irá tratar sobre a dinâmica do mercado e a velocidade de desenvolvimento de projetos como diferencial competitivo. Vídeo disponível no material on-line. Projeto de Produto O projeto é uma atividade que começa com o conceito de um produto e termina com a tradução desse conceito em especificação de algo a ser produzido. O objetivo global da atividade de projeto é atender às necessidades dos RECURSOS TRANSFORMADOS Informações técnicas Informações de mercado Informações de tempo RECURSOS TRANSFORMADORES Equipamentos de testes e de projeto Pessoal técnico e de projeto O processo de projeto de produto, cujo desempenho é medido por: Qualidade Velocidade Confiabilidade Flexibilidade Custo Ética Produto totalmente especificado INPUTS OUTPUTS CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 consumidores, seja por meio do projeto de bens ou serviços, ou por meio dos processos que os produzirão. Lembre-se que o projeto não é apenas um desenho de como o produto vai ficar quando estiver pronto. Ele nos permitirá compreender a quem se destina e como poderá satisfazer a esse destinatário. Um bom projeto de produto possui três aspectos importantes, porém interdependentes, que buscam aproximar os interesses de clientes e empresas: Conceito: É o entendimento da natureza, do uso e do valor do serviço ou produto; Pacote: Um pacote de produtos e serviços “componentes” que fornecerão os benefíciosdefinidos no conceito; Processo: O processo define a forma de como os produtos e serviços componentes serão criados e entregues. O conceito precisa compreender os motivos que levariam o consumidor a comprar um determinado produto e traduzir essa compreensão em informações sobre como a empresa poderá atendê-lo. Por exemplo: compradores de carros esportivos buscam no veículo, além de beleza, potência e status. Então, cabe à fábrica criar veículos que atendam as necessidades desses clientes. O pacote de produtos é a escolha final da empresa sobre o que efetivamente será ofertado. Na prática, é o resultado da análise das diversas alternativas propostas na fase de conceituação. No exemplo do carro esportivo, o pacote deverá incluir, além de um motor potente, uma extensa lista de opcionais e customizações, assistência técnica, seguro e outros itens. O processo é a definição de como os elementos do pacote serão construídos, que matérias-primas serão utilizadas, como serão processadas etc. A montadora do carro esportivo precisa definir como os bancos serão produzidos, quais máquinas serão utilizadas, enfim, são inúmeras definições. O produto não é feito para a empresa, ele é feito para o mercado. Você CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 concorda com essa afirmação? Vídeo disponível no material on-line. A metodologia QFD (Quality Funcion Deployment, ou Desdobramento da Função Qualidade, em português), é uma metodologia baseada nas pessoas, e utilizada para determinar rigorosamente as necessidades e desejos dos clientes. Para conhecer um pouco mais essa metodologia, acesse o link a seguir: http://www.portaldeconhecimentos.org.br/index.php/por/content/view/full/ 10294 Etapas do projeto Como em qualquer processo de sucesso, a elaboração de um projeto também tem uma sequência lógica, a qual lhe oferece condições de maximizar os seus resultados. Na figura a seguir você pode verificar este fluxo processual. Estágios do projeto Figura 2 O primeiro passo é a geração do conceito. Trata de identificar e compreender os anseios dos clientes/consumidores e, a partir delas, gerar uma série de possibilidades para o seu atingimentos. Em seguida, essas diversas propostas são submetidas a uma triagem, na tentativa de garantir, em termos gerais, que eles sejam um incremento significativo no portfólio de produtos da Triagem do conceito Geração do conceito Projeto preliminar Avaliação e melhoria Prototipagem e projeto final http://www.portaldeconhecimentos.org.br/index.php/por/content/view/full/10294 http://www.portaldeconhecimentos.org.br/index.php/por/content/view/full/10294 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 empresa e que consigam atender às definições do conceito previamente estabelecido. Uma vez obtido consenso acerca do conceito definido é necessário elaborar o projeto preliminar, com as especificações básicas. Essas especificação passam por um processo de melhoria, tentando otimizar todos os pontos relevantes. Finalmente, a produção de um protótipo pode ajudar a ajustar os detalhes, que por sua vez serão corrigidos no projeto final. Você deve ter percebido a importância da participação do gestor de produção na elaboração do projeto do produto, afinal, ele detém informações exclusivas sobre a estrutura e os processos da operação. O Engenheiro de Produção deve ser um participante ativo do projeto do produto em todas as suas etapas. Cada uma das etapas tem suas próprias peculiaridades, por isso é importante conhece-las para que possamos identificar os problemas e interferir positivamente em cada uma delas. Na criação do conceito, a capacidade do líder de projeto é fundamental para estimular a criação de ideias. O brainstorming é a principal ferramenta para isso. O líder do projeto é o responsável direto, mas cabe ao gestor de produção demonstrar seus conhecimentos e experiências. A etapa de triagem deve analisar as diversas ideias de conceito apresentadas e, dentre elas, identificar aquelas que efetivamente podem se transformar em projetos de sucesso. Agora, observe a figura apresentada a seguir, trata-se de uma sequência lógica de perguntas determinantes. A ideia por trás do fluxo é de que não sejam desperdiçados recursos, normalmente escassos, em projetos de baixo potencial. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Fluxo de triagem de conceitos de projeto Figura 3 O vídeo indicado a seguir, intitulado “Jinsop Lee: Design para os 5 sentidos”, traz um olhar diferenciado em relação aos produtos. Para Lee, os produtos devem estimular mais do que um dos nossos sentidos, pois assim, poderíamos criar inúmeros produtos de sucesso. http://www.ted.com/talks/lang/pt- br/jinsop_lee_design_for_all_5_senses.html PRATICABILIDADE Qual o nível de dificuldade do projeto? Que RECURSOS, tanto financeiros, estruturais ou gerenciais, serão necessários? A organização tem acesso a esses recursos? ACEITABILIDADE O projeto vale a pena? Que RETORNOS, em termos de benefícios e resultados, trará para a organização? Esses retornos atendem às expectativas da organização? VULNERABILIDADE A empresa tem capacidade de suportar um fracasso? Que RISCOS a organização corre se algo der errado? Ela suportaria o impacto desses riscos? Recursos acessíveis SIM NÃO Retornos aceitáveis SIM NÃO Riscos aceitáveis SIM NÃO Desenvolvimento do projeto Descarte ou arquivamento da idéia http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/jinsop_lee_design_for_all_5_senses.html http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/jinsop_lee_design_for_all_5_senses.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Projeto de Processo Nesta fase vamos estudar sobre os tipos de processos envolvidos na Produção, além de discutirmos sobre como definir qual é o mais adequado para cada finalidade. Processos de manufatura (ou fabris) São processos destinados à fabricação de bens, portanto, usados na indústria. Slack et al (2008) explica esses processos da seguinte forma: Processo por projetos: Tipicamente direcionado para produtos altamente customizados e distintos entre si, portanto, alta variedade e baixo volume. Caracterizado pelo grande envolvimento do cliente nas decisões, por serem produtos únicos. Neste tipo de processo os recursos produtivos são dedicados ao produto em elaboração. Como exemplo, podemos citar a construção de um avião ou navio, produtos nos quais dificilmente o projeto se repetirá. Processo por tarefa ou jobbing: Também trata de produtos de alta variedade e baixo volume, contudo não estamos mais falando de produtos únicos, mas de uma quantidade um pouco maior. O grande diferenciador deste processo em relação ao processo por projeto é o fato de que os recursos produtivos são compartilhados. Como exemplo, podemos citar uma tipografia que faz produtos customizados (cartões de visita, folders, encartes de revistas etc.), mas que compartilham os recursos produtivos (a equipe de criação, a impressora, equipamento de corte de papel, equipe de embalagem do produto acabado etc.). Processo por lote ou batelada: É o mais comum de todos os processos pelo fato de ser aplicável a organizações com vários produtos, com volumes pequenos a moderados, tendo fluxos em linha desconectados e com trabalho moderadamente complexo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Caracteriza-se pelo fato de que um mesmo produto pode reingressar no fluxo produtivo, mesmo depois de concluído, normalmente associado a uma coleção. Cada nova repetição pode ser identificada com um número de lote. Como exemplo, podemos citar a indústria farmacêutica, roupas, alimentos. Processo de massa: Também conhecida como produção em linha, destina-se a organizações com poucos produtos principaise grandes quantidades (alto volume), com alto grau de padronização. Por se tratar de produtos compostos por componentes e subcomponentes, o seu processo produtivo pode ser interrompido sem grandes problemas. Como exemplo típico podemos citar a produção de eletrodomésticos, calçados, montadoras de automóveis etc. Processo contínuo: Muito similar à produção em linha, também é marcado pelo alto volume e baixa variedade, gerando alta padronização e produtos comoditizados, produzidos em fluxos contínuos. Contudo, como são produtos contínuos, não compostos por subcomponentes, a interrupção do seu processo produtivo é complexa e, normalmente, onerosa. Enquadram-se nesta categoria a indústria petrolífera e a produção de energia elétrica, por exemplo. Acompanhe no vídeo a seguir uma discussão sobre a sobreposição de tipos de projeto de produto e a conexão com volume, variedade e natureza do produto. Vídeo disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Processos de serviços Agora, vejamos o que Slack et al (2008), fala acerca de cada um dos processos de serviços: Serviços profissionais: Trata-se de serviços de elevado nível de customização e baixíssimo volume. Por serem serviços únicos, tem dedicação integral do agente produtor e grande participação do contratante, alto nível de flexibilidade e a intensidade de capital varia de acordo com o volume. Como exemplo, poderíamos citar as cirurgias, os serviço de consultoria, os serviços de manicure e cabeleireira. Loja de serviços: Uma determinada variedade de serviços ofertada por uma operação pode ser ajustada a uma necessidade específica de um cliente. Não é uma customização pura, pois não se trata de algo exclusivo, mas chega muito próximo às necessidades do cliente, pois é parametrizado por ele próprio. Há uma grande participação do agente produtor na decisão de compra do cliente, principalmente na apresentação de alternativas. Como exemplo, podemos citar a agência de turismo, a qual oferece diversas opções de pacotes para ir a um determinado destino, mas o produto final é criado pelos próprios clientes através das suas escolhas. Serviços de massa: Um grande volume de transações acontece de forma totalmente padronizada. A complexidade é baixa, assim como o envolvimento dos clientes. A flexibilidade dos recursos é baixa em função da padronização. A prestação deste serviço tem participação limitada da equipe de frente (os que têm contato com o cliente), sendo parte das decisões tomada pela equipe de retaguarda (aqueles que dão suporte à equipe de frente). A equipe de frente não interfere na decisão de compra do cliente. Como exemplo, poderíamos citar um supermercado, onde o CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 cliente se serve de forma autônoma, sem qualquer participação de funcionários. Chegando ao caixa (check out), o operador apenas soma os valores dos itens comprados, sem ter autonomia para alterar os preços que já foram determinados pela equipe de retaguarda. Acompanhe a seguir o vídeo com o professor John, o qual irá tratar da interação com o cliente como “pano de fundo” para a escolha do tipo de processo. Vídeo disponível no material on-line. Definição do processo ideal Conforme estudamos, cada tipo de processo tem uma aplicabilidade ideal, e esse é o ponto de dilema para a maioria dos gestores. Como definir qual o melhor processo para uma determinada atividade empresarial? Um ponto é perceptível até aos olhares menos treinados: há uma associação entre características dos produtos com determinadas características de processos. Você, provavelmente, já deve ter percebido isso, porém vamos estuda-lo mais a fundo. Corrêa e Corrêa (2006) fazem algumas sugestões sobre estas associações, acompanhe: Volume do fluxo processado: é a quantidade de trabalho a ser realizado para atender uma determinada demanda de um produto. Variedade de fluxo processado: é a diversidade e complexidade de diferentes fluxos, para variantes dos produtos da organização. Recurso dominante: alguns produtos precisam de mais mão de obra, enquanto outros demandam mais recursos tecnológicos (máquinas, equipamentos, software etc.) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Incremento de capacidade: é o “tamanho do passo” que uma organização pode dar para aumentar a sua capacidade. Critério competitivo de vocação: alguns produtos são mais eficientes e menos flexíveis, enquanto outros são mais flexíveis e menos eficientes. Baseado na ideia de relação entre produtos e processos, surgiu a Matriz Produto-Processo, conforme demonstra a figura a seguir: Matriz Produto-Processo Figura 4 Na matriz os autores relacionam volume e variedade dos produtos com os processos que os produzem. Os processos mais vocacionados para determinado nível de volume e variedade estariam na “diagonal de alinhamento”. Quando a correlação estiver fora dessa faixa é indicativo de impossibilidade técnica ou inviabilidade econômica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Vamos fazer uma interpretação da matriz produto-processo aplicada às operações de manufatura e de serviços. Vídeo disponível no material on-line. O conceito de relação entre produtos e processos aplicados a bens e serviços pode ser observado na figura a seguir. Veja que a aplicação da matriz está associada ao volume, a variedade de produtos e à complexidade do mesmo. Matriz produto-processo para operações de serviços Figura 5 Volume Variedade Baixo Alta Alto Baixa FluxoTarefas Diverso complexo Intermitente Repetido dividido Contínuo Tipos de processos de serviços Serviços Profissionais Lojas de Serviços Serviços de Massa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Agora, observe a Matriz produto-processo para operações fabris: Matriz produto-processo para operações fabris Figura 6 A Intervenção nos Projetos Todas as decisões relativas a um projeto podem sofrer alterações, de modo que o projeto final não será, necessariamente, igual ao projeto preliminar. Quanto mais avançado for o projeto e mais perto estivermos do lançamento do produto, mais complexa será a sua alteração e maior será o grau de intervenção estratégica dessa mudança. No inicio do processo de projeto as discussões tendem a ser mais acaloradas, pois as possibilidades de alteração são maiores. Porém, na medida Processo por Projeto Processo por tarefa ou jobbing Processo por Lote ou Batelada Processo de Massa Processo Contínuo Volume Variedade Baixo Alta Alto Baixa FluxoTarefas Diverso complexo Intermitente Repetido dividido Contínuo Tipos de processos de manufatura Operações Intermitentes Operações Contínuas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 em que o projeto caminha, alguns pontos são finalizados e as mudanças se tornam bem menores. E é nesse momento que aparece a habilidade dos gestores mais experientes da organização. Cabe a eles tentar antecipar as decisões mais importantes, de modo que o impacto estratégico de decisões tardias seja minimizado. Na figura a seguir, é possível perceber como o grau de intervenção estratégica de um projeto é variável. Perceba que quanto mais tarde ocorre uma intervenção, maior será seu impacto. Intervenção estratégica Figura 7 Isso acontece porque decisões vão sendo tomadas ao longo do tempo, com base em certezas que foram sendo obtidas. Portanto, alterar algo significa mudar essas certezas, o que pode representar grandes problemas com CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 investimentos, com a motivação das pessoas e outros elementos. Acompanhe no vídeo a seguir comoas antecipações de ajustes no projeto podem evitar grandes problemas para as organizações. Vídeo disponível no material on-line. Revendo a Problematização Pois bem, com base na história que conhecemos no começo dos estudos deste tema, qual dos processos apresentados a seguir seria o mais indicado para atender ao perfil de produto e mercado descritos? Opção1: Processo por tarefa ou jobbing. Opção 2: Processo por lote ou batelada Opção 3: Processo de massa. Feedbacks Opção1: Ao analisar a Figura 5, você pode perceber que há uma zona de sobreposição entre o processo jobbing e a batelada. Nesse sentido, o processo por jobbing poderia ser usado pela Marine, uma vez que as quantidades por ela produzidas são relativamente pequenas, apesar de ter uma variedade baixa, para o contexto industrial e uma parcela dos recursos não ser compartilhada. Lembre-se que a Marine busca um diferencial de mercado, porém não sabemos se é através de customização de elementos dos barcos. O caso faz alusão à celeridade do processo de projeto como diferencial. Quanto mais customização se buscar, mais adequado será o processo jobbing. Opção 2: Essa é a alternativa mais indicada, pois existem alguns fatores que nos levam a essa conclusão. Acompanhe: A empresa tem uma linha de produtos, o que indica entradas e saídas de produtos do processo, atividade facilitada pelos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 processos operacionais padronizados do processo por lote. O ciclo de vida dos produtos gira em torno de quatro anos, o que indica que a variedade dos produtos não é alta para os padrões industriais. O caso fala em 18 modelos diferentes de embarcações. Mais uma vez a padronização de processos assume papel relevante. A flexibilidade do processo por lote combina com a busca da inovação e atualização dos produtos, que gera contínuas adequações. Opção 3: Essa alternativa não se enquadra no contexto da Marine devido ao baixo volume de produção. Barcos não são produzidos aos milhares. Síntese O objetivo dos nossos estudos era demonstrar a relevância do domínio que o gestor de produção deve ter sobre os projetos. Assim, podemos concluir que a finalidade básica do projeto é atender a uma necessidade, desejo ou demanda de um mercado cada vez mais exigente. Essas respostas ao mercado podem variar em função do uso da criatividade. Organizações inovadoras, com a competência para estimular os colaboradores, têm um grande diferencial em suas mãos. Vimos também, que uma forma de gerar maior assertividade dos produtos é antecipar ao máximo as decisões relativas à sua formatação. O impacto estratégico das intervenções tardias pode ser muito alto para a organização. Vídeo de Síntese disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A Administração de Produção e Operações: Manufatura e Serviços. 2a ed. São Paulo: Atlas, 2006. 690 p. MICHAELLIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 02 fev. 2010. REID, R. D.; SANDERS, N. R. Gestão de Operações. 1a ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. SLACK, N. et al. Gerenciamento de Operações e de Processos: Princípios e Práticas de Impacto Estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2008. 552 p. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Princípios de Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 2013. 307 p. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2009. TUBINO, D. F. Planejamento e Controle da Produção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2007. 190 p. Referências de figuras e imagens Figura 1: Slack, Chambers e Johnston (2009); Tubino (2007). Figura 2: Adaptado de Slack, Brendon-Jones e Johnston (2013, p. 69). Figura 3: Baseado em Slack et al (2008). Figura 4: Corrêa e Corrêa (2006, p. 335 apud HAYES e WHEELWRIGHT, 1984). Figura 5: Baseado de Slack et al (2008, p. 132); Reid e Sanders (2005, p. 38); Corrêa e Corrêa (2006, p.336). Figura 6: Slack et al (2008, p. 132); Reid e Sanders (2005, p. 38); Corrêa e Corrêa (2006, p.339) Figura 7: Slack et al (2008) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Atividades 1- Conceito, pacote e processo são três elementos presentes em qualquer bom projeto. Considerando o que foi discutido no tema, qual seria a principal atribuição desses elementos em um contexto geral de projeto? a) Garantir que o produto resultante atenda plena e exclusivamente os interesses dos clientes. b) Assegurar a maior conectividade possível entre os interesses do cliente e da empresa. c) Obter o maior resultado possível para a organização produtora, assegurando uma perenidade financeira. d) Promover uma relação sadia entre as áreas de marketing e de produção, no que se refere ao que deve ser produzido. 2- Viabilidade, praticabilidade e vulnerabilidade são características que devem ser verificadas antes que grandes investimentos sejam feitos no desenvolvimento do projeto. Empresários empolgados, que subestimam os riscos de um projeto, tendem a ter problemas nessa triagem, pois simplesmente se “esquecem” do elemento vulnerabilidade. Analise as alternativas a seguir e sinalize qual delas reflete o perigo desse “esquecimento”. a) A empresa pode não suportar um fracasso do projeto, dependendo do tamanho do impacto nas finanças ou na imagem corporativa. b) Porque desorganiza o processo de projeto. c) A concorrência aprende à custa dos seus erros, conseguindo uma vantagem competitiva importante. d) A organização direciona recursos para projetos de pouca relevância. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 3- Serviços profissionais, lojas de serviços e serviços de massa são a tipologia de processos apresentados durante este tema. Escolher o tipo de processo mais adequado para cada operação é determinante para o sucesso de projeto, pois assegura a relação adequada entre bem e/ou serviço e o modo como é produzido. Diante desse contexto, qual é o elemento chave para diferenciar os tipos de projeto de processo? a) O custo financeiro de cada tipo de processo. b) A possibilidade que cada tipo de processo oferece para a maximização de volumes a serem produzidos. c) A condição de gerar um produto extraordinário, independentemente de seu custo. Um serviço de excelência sempre tem espaço no mercado. d) A participação do vendedor no processo de tomada de decisão do comprador. 4- A Matriz Produto-Processo mostra com clareza que há uma grande conexão entre volume, variedade e o tipo de processo. Quanto mais contínuo for o processo, maior será o volume resultante e menor será a variedade. Qual seria, dentre as opções a seguir, a razão que melhor explicaria esse fenômeno? a) Organização do fluxo produtivo, que evita perda de tempo, portanto, impacta no volume produzido. b) A decisão dos gestores de alocar recursos adicionais para determinados produtos (bens e/ou serviços). c) O nível de padronização do processo produtivo, pois está diretamente associado à capacidade de reprodução em escala. d) O nível de treinamento dos colaboradores envolvidos no projeto e na execução dos processos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 5- Todo projeto é temporário. Uma ideia surge, é desenvolvida e concretizada, ou não, determinando assim o fim do projeto. Ao longo dessa “vida” do projeto, decisões precisam ser tomadas, o que pode alterar drasticamente o projeto final e os seus resultados para a organização. Por que podemos afirmar que a intervenção tardia no projeto tem um maior impacto estratégico? a) Mudar algo em cima da hora do lançamento de um produto pode passar uma imagem de improviso para o mercado.b) Quanto mais tarde a intervenção, maiores terão sido os investimentos aplicados e a quantidade de decisões implementadas com base nas certezas que foram construídas. c) Surge uma grande barreira motivacional na organização, pois as pessoas que se dedicaram tendem a não cooperar mais quando veem esse esforço perdido. d) As alterações são bem mais difíceis por não haver tempo hábil para fazer uma alteração de excelência. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Gabarito comentado Questão 1: Alternativa correta letra b: Pois as empresas além de criarem produtos que atendam os interesses do cliente, elas precisam gerar resultados positivos que lhe assegure sobrevivência ou crescimento. Questão 2: Alternativa correta letra a: Dependendo do porte da empresa e do tamanho do investimento no projeto, as perdas decorrentes de um fracasso podem ser suficientes para decretar o fim da empresa. Os projetos são desenvolvidos com o objetivo de fazer a empresa crescer, não para massagear egos. Questão 3: Alternativa correta letra d: Se de um lado (serviços profissionais) há um grande envolvimento entre vendedor/comprador e a decisão é praticamente conjunta, por outro (serviços de massa) o comprador toma a decisão de forma totalmente autônoma, sem qualquer influência do vendedor. Questão 4: Alternativa correta letra c: Volumes elevados de produção indicam a existência de padrões claramente definidos. Isso aumenta o ritmo da produção, gerando grandes volumes. A falta de padrões é característica de produtos extremamente customizados, portanto de alta variedade com baixo volume. Questão 5: Alternativa correta letra b: Isso acontece porque decisões vão sendo tomadas ao longo do tempo, com base em certezas que foram sendo obtidas. Portanto, alterar algo significa mudar essas certezas, o que pode representar grandes problemas com os investimentos, com a motivação das pessoas e outros elementos.