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Silas Queiroz de Souza Wagner Wey Moreira Fundamentos históricos da Educação Física Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Souza, Silas Queiroz de. S89f Fundamentos históricos da educação física / Silas Queiroz de Souza, Wagner Wey Moreira. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019. 184 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-862-1 1. Educação física. 2. Educação física – Brasil. 3. Esportes. I. Moreira, Wagner Wey. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 796.07 © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Editoração Márcia Regina Pires Revisão textual Erika Fabiana Mendes Salvador Diagramação Douglas Silva Ribeiro Ilustrações Rodrigo de Melo Rodovalho Getty Images Depositphotos Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Silas Queiroz de Souza Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Planejamento e Gestão da Educação Física, Esporte e Lazer pela Universidade Paranaense (Unipar). Licenciado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Fátima do Sul (Fifasul). Atualmente é docente e diretor dos cursos de Licenciatura Plena e Bacharelado em Educação Física da Uniube. Wagner Wey Moreira Doutor em Educação (Psicologia Educacional) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Educação (Filosofia) pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Graduado em Educação Física por essa universidade. Graduado em Pedagogia – Habilitação em Administração e Orientação Educacional pela Faculdade de Educação Osório Campos – RJ. Graduado em Pedagogica – Habilitação em Supervisão Escolar pela Faculdade de Educação Dom Bosco. Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Corporeidade e Pedagogia do Movimento – NUCORPO/CNPq. Atualmente é docente do curso de Graduação em Educação Física, de Mestrado em Educação Física e de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Coordenador do Programa de Mestrado em Educação nessa universidade. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq na área de Educação. Sobre os autores Sumário Apresentação .............................................................................................................VII Capítulo 1 Panorâmica da Educação Física no Ocidente I: da Grécia Clássica ao Renascimento ...................................... 1 1.1 Educação Física e a Grécia Clássica ...................................................................... 3 1.2 Educação Física e o Mundo Romano ..................................................................... 9 1.3 Educação Física e o Renascimento ...................................................................... 12 Capítulo 2 Panorâmica da Educação Física no Ocidente II: Educação Física e Tempos Modernos ..............................19 2.1 As correntes teóricas e o surgimento dos métodos ginásticos ............................ 21 2.2 A Escola Sueca ...................................................................................................... 26 2.3 Educação Física a partir da França ....................................................................... 29 2.4 Educação Física a partir da Alemanha .................................................................. 34 2.5 Educação Física a partir dos EUA ......................................................................... 37 2.6 Educação Física Desportiva Generalizada ........................................................... 40 Capítulo 3 Panorâmica da Educação Física no Brasil ........................45 3.1 Do Brasil Império até a década de 1970 do século XX......................................... 46 3.2 Da década de 1970 do século XX aos dias atuais ................................................ 56 3.2.1 Propostas de Abordagens Pedagógicas para a Educação Física Escolar ......................................................................................................... 57 3.2.2 Proposta de Regulamentação da Profissão ................................................ 65 Capítulo 4 Panorâmica do esporte no ocidente ..................................73 4.1 O esporte no contexto sociocultural da Grécia Clássica ....................................... 74 4.2 O esporte no contexto sociocultural de Roma até a Idade Média ........................ 77 4.3 O ressurgimento dos Jogos Olímpicos ................................................................ 78 Capítulo 5 Aspectos sócio-históricos do esporte moderno .................89 5.1 A origem e a constituição do esporte moderno ..................................................... 92 5.2 Perspectivas de análise sobre a constituição do esporte moderno ...................... 93 5.3 O esporte na sociedade capitalista ....................................................................... 96 5.4 O papel do Estado frente às questões do esporte no Brasil ................................. 98 Capítulo 6 Educação Física e Ciência: principais propostas atuais ................................................................................105 6.1 A Teoria Antropológica-Cultural do Esporte e da Educação Física ..................... 108 6.2 A Educação Física como Ciência da Praxiologia Motriz ..................................... 110 6.3 A Teoria da Psicocinética ......................................................................................111 6.4 A Ciência da Motricidade Humana ...................................................................... 113 6.5 A Ciência do Desporto ......................................................................................... 115 Capítulo 7 Educação Física e temas atuais ......................................121 7.1 Educação Física/Saúde/Qualidade de Vida ........................................................ 122 7.2 Educação Física/Corporeidade ........................................................................... 130 7.3 Educação Física/Legado/Olimpismo ................................................................... 138 7.3.1 O Legado Olímpico .................................................................................... 139 7.3.2 O Legado da Copa do Mundo no Brasil .................................................... 150 Capítulo 8 Educação Física/Esporte: direito do ser humano ...........157 8.1 A relevância do esporte na sociedade atual ........................................................ 158 8.2 Por uma outra dimensão do fenômeno esportivo ............................................... 160 Prezado(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco. Nossa primeira palavra é para cumprimentar você por haver escolhido a Educação Física como área de conhecimento científico para sua formação em graduação, quer seja na vertente da Licenciatura para a qual a preocupação maior é a capacitação do Professor, quer seja no caminho do Bacharelado. Esperamos que possa dominar o conhecimento da área, centrando no ser humano que se movimentaem busca de superação e transcendência. A Educação Física e, com ela, o Esporte, podem ser considerados um dos maiores fenômenos sociais, especialmente a partir do final do século XIX, quando da reintrodução no cenário mundial, pelo Barão Pierre de Coubertin, dos Jogos Olímpicos da era moderna. Daí a razão de sua complexidade, exigindo do graduando conhecimentos das mais variadas áreas científicas, como a pedagógica, a biológica, a sociológica, a psicológica, entre outras. Se seu objetivo for competência, navegar nesse amplo universo da Educação Física e do esporte exigirá seu esforço e dedicação. Este é o objetivo da presente publicação por nós elaborada, a qual deverá auxiliar sua busca em relação ao nível de excelência profissional. Uma explicação inicial se faz necessária. Estamos utilizando o binômio Educação Física e esporte, por reconhecer que, se nos primórdios da área, o esporte poderia ser considerado um dos conhecimentos atrelados ao universo da Educação Física, hoje, as coisas mudaram. Apresentação VIII UNIUBE Conforme observado por alguns autores, atualmente o esporte ganhou tal abrangência que já não é mais possível enquadrá-lo como apenas subordinado à Educação Física. Também justificamos a explicação anterior porque nosso escrito trará, como poderá ser constatado, o desenvolvimento histórico tanto da Educação Física, quanto do Esporte, a partir de análises localizadas na Sociedade Ocidental. Outro ponto que gostaríamos já de fixar neste início, é o de conclamar você para nos auxiliar nas mudanças necessárias para que a Educação Física tenha seu devido valor, executando um trabalho com o corpo dos alunos e dos atletas em que busquemos, com sensibilidade e valores éticos, o desenvolvimento de um corpo possível e não de um corpo perfeito idealizado pela mídia. Ressaltamos um trato com o corpo humano, considerando-o sensível, inteligível e carente, e não entendendo-o como corpo máquina que apenas precisa ser melhorado em seu rendimento. Para se alcançar o propósito explicitado no parágrafo anterior, procuramos pautar este texto respeitando as mais variadas vertentes para o entendimento sobre a Educação Física e sobre o fenômeno esportivo, através das referências realizadas no texto, bem como nas sugestões de complementação de informações nas leituras sugeridas. Use a abuse dos conhecimentos aqui desenvolvidos, complementando seus estudos com as referências explicitadas no final de cada capítulo, e ainda, dialogando com o presente texto de forma crítica e participativa, construindo conceitos e, acima de tudo, modificando atitudes como professores/profissionais da Educação Física. Desejamos a você uma boa caminhada, e quando estiver seguro ao caminhar, boa corrida, e quando esta estiver dominada, bons voos, possibilitando novas histórias para a Educação Física e para o Esporte. Introdução Panorâmica da Educação Física no Ocidente I: da Grécia Clássica ao Renascimento Capítulo 1 Estruturamos este capítulo como sendo o primeiro momento de nosso voo panorâmico, centrando a argumentação em três grandes épocas da história ocidental: as contribuições da Grécia Clássica; o domínio Romano e o Renascimento. Vocês poderão perguntar: e a Idade Média, por que fi cou fora? Na verdade, optamos por não acrescentar aqui essa fase histórica porque ela pouco tem a dizer sobre a importância do corpo e, mais ainda, pouco ou nada foi produzido de conhecimento que poderíamos associar com a Educação Física. Por outro lado, nas duas civilizações antigas do ocidente, grega e romana, o corpo foi objeto de suma importância, tanto no que se refere às questões ligadas à estética e à competição, quanto no que tange às guerras. E somente no período conhecido como Renascimento é que teremos novamente a valorização do corpo, principalmente pela infl uência dos movimentos artísticos, intelectuais e culturais presentes a partir do fi nal do século XIV. É fundamental deixarmos claro, para a fundamentação de nossa argumentação, que utilizamos basicamente a produção de conhecimento de um dos mais respeitados escritores sobre 2 UNIUBE Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • demonstrar quais os sentidos da ginástica e do esporte (Educação Física) para os gregos da Antiguidade Clássica, em especial sua vertente religiosa; • explicar a passagem da festa religiosa da Educação Física para o sentido de espetáculo e de circo presentes no domínio romano do ocidente; • mostrar como se estabeleceram o conhecimento e a prática dos exercícios físicos a partir do Renascimento. 1.1 Educação Física e a Grécia Clássica 1.2 Educação Física e o Mundo Romano 1.3 Educação Física e o Renascimento Objetivos Esquema o tema – Inezil Penna Marinho. Esse autor, muitas vezes, foi compreendido de forma equivocada por pesquisadores mais novos e, até certo ponto, desrespeitado, o que sem dúvida é um tremendo equívoco. Preservar nossa história e seus representantes é um dever de todos, professores e profissionais da Educação Física. Por tudo isto justifica-se nosso respeito ao Prof. Inezil por sua produção acadêmica em prol da Educação Física. Sendo assim, neste capítulo, teremos os seguintes objetivos. Inezil Penna Marinho (1915/1987): nasceu no Rio de Janeiro, foi instrutor de Educação Física da Escola do Exército; técnico em Esportes pela Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil; bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; em Psicologia, pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil e Filosofia, pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Recebeu o título de Professor Honoris Causa, título esse doado a grandes personalidades acadêmicas, das Universidades Federais do Paraná (UFPR), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de São Carlos (UFSCar). UNIUBE 3 Educação Física e a Grécia Clássica1.1 Quando falamos da Grécia Clássica, logo nos lembramos dos grandes filósofos. Entre eles, para nosso estudo, vale a pena mencionar Platão (432-347 a.C.). Figura 1: Platão. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. Platão indicava que, para uma pessoa ser bem-educada, ela necessitava dominar e vivenciar algumas áreas de conhecimento, entre elas, destacava a ginástica, a matemática e a filosofia. Figura 2: Áreas de conhecimento. Fonte: Depositphotos Acervo EAD-Uniube. 4 UNIUBE Sugeria que a primeira, a ginástica, juntamente com a música, estivesse mais presente no dia a dia de crianças e adolescentes para a buca da harmonia entre o corpo e a alma. A segunda, a matemática, destinava-se a capacitar os jovens para o estudo e entendimento das ciências de modo mais sistematizado. Já a terceira, a filosofia, capacitaria os adultos para a reflexão e o atingir da meditação (MARINHO, 1980; GALLO, 2006). Também é importante lembrar que Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, recomendava se dar atenção ao corpo mesmo porque ele não criava dissociação entre alma e corpo. Gallo (2006, p.12) afirma: “O movimento, qualquer movimento físico, é feito pelo corpo, mas possibilitado pela ação da alma; da mesma maneira, o pensamento é faculdade de alma, mas só pensamos porque somos corpóreos”. Muitas das preocupações modernas da Educação Física já estavam presentes no pensamento aristotélico: boa alimentação, não ociosidade, e, ao mesmo tempo, ele fazia duras críticas ao sistema espartano de adestramento corporal na formação de guerreiros. Pensamos que, hoje, necessitamos de recuperar os ensinos de Aristóteles para evitar o trato com o que, para alguns, é chamado de corpo máquina, assim, devemos cuidados com o corpo do homem que se humaniza. Já os jogos presentes na Grécia Clássica faziam parte de festas religiosas e eram tão importantes que, durante as competições, os gregos se apropriavam de uma sensação de união, mesmo porque jogos aconteciam em todas as comunidadesgregas. Hoje conhecemos sobejamente os Jogos Olímpicos, originários dessa época em Olímpia como parte das solenidades de honra ao deus Zeus. Estes jogos possuíam normas claras e rigorosas para a participação de todos, por exemplo: atletas que chegassem atrasados eram desclassificados; proibiam-se manobras desleais para vencer, intimidar ou comprar com dinheiro o adversário e ir contra as decisões dos juízes. Havia também alguns regulamentos com os quais podemos não concordar: escravos UNIUBE 5 e bárbaros não podiam participar das provas; mulheres eram proibidas de presenciar as competições. Na verdade, muitos dos valores hoje presentes nas práticas esportivas já eram passíveis de punição na Grécia Clássica. A primeira edição dos Jogos Olímpicos na Grécia Clássica aconteceu em 776 a.C. e contava com 13 provas, das quais destacamos: 6 UNIUBE Observe as Figuras 3 e 4 a seguir: Figura 3: Corridas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Figura 4: Hoplitódromos. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 7 Figura 5: Pentatlo. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. Podemos observar (Figuras 3, 4 e 5) que as modalidades e provas olímpicas praticadas na antiguidade clássica, ainda que com objetivos diferentes das práticas nos dias atuais, sempre fizeram parte da vida em sociedade, sendo, muitas delas, uma referência para os Jogos Olímpicos da Era Moderna, reeditado pelo Barão Pierre de Coubertain em 1896. Já no Pancrácio (Figura 6), luta muito apreciada pelos gregos, valia quase tudo, menos colocar os dedos nos olhos do adversário, atacar sua região genital e morder. Claro que havia outros jogos, inclusive, com finalidades fúnebres (em homenagem a heróis falecidos) como descrito por Homero na Ilíada, contando com sete provas: corridas de carros, pugilato, luta, combate armado, arremesso de bola de ferro, tiro ao arco e arremesso da lança (MARINHO, 1980). 8 UNIUBE Figura 6: Pancrácio. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A educação grega valorizava a ginástica e os jogos. Os problemas existentes hoje nos esportes já começaram a se manifestar na época do domínio romano sobre os gregos. Menciona Marinho (1980, p.57) A decadência da civilização grega coincide com a ascendência do poderio romano. Dominada por um povo militarmente mais forte, todas as manifestações de sua cultura se sentem asfixiadas. Há como um colapso em todos os setores da atividade humana, quer no domínio dos jogos, quer nas manifestações da inteligência e da arte. A profissionalização e a corrupção dos atletas, a venalização dos juízes e a exacerbação do público determina a decadência dos Jogos Olímpicos... Como pode ser observado, os gregos valorizavam o cuidado com o corpo, por meio da ginástica e dos jogos, inclusive, com elementos muito importantes, como manutenção da saúde e ética esportiva, cuidados e UNIUBE 9 valores esses que, muitas vezes, se encontram perdidos na sociedade atual. Um esclarecimento importante: optamos por descrever aqui os jogos e não no capítulo quarto quando vamos refletir sobre o esporte grego desta época, por manter a importante associação ginástica e o jogo presente no mundo helênico. Educação Física e o Mundo Romano1.2 Ainda estruturados na argumentação de Marinho (1980) podemos identificar, no momento de poder do domínio romano na sociedade ocidental, a continuidade da importância da educação construída nos moldes gregos. Apenas como exemplo, na educação romana, para as famílias que possuíam posses, havia, amiúde, um “professor” que acompanhava o desenvolvimento da criança e este era, normalmente, um grego. Importava, como valor maior na educação da época, o saber se expressar por meio de uma retórica qualificada. Filósofos romanos como Cícero e outros afirmavam: “O orador[...] é o homem educado que põe a sua inteligência e a sua instrução a serviço prático e representa uma classe mais elevada que a do filósofo porque inclui este”. (MARINHO, 1980, p.62). Também é conhecida historicamente, no mundo da Educação Física, a expressão de Juvenal (pensador e retórico romano que viveu entre os séculos I e II), Mens sana in corpore sano, interpretada entre os profissionais da área como menção importante para os cuidados com o corpo. No que diz respeito ao que hoje podemos atrelar ao universo da Educação Física e Esportes, na época do domínio romano no ocidente, temos a modificação do sentido dos grandes jogos. Estes passam a ser circenses, mesmo mantendo no início o sentido de festas religiosas. Cícero Marco Túlio Cícero (106–43 a.C) foi um grande estadista, filósofo e escritor romano. 10 UNIUBE Famosas eram as corridas de carros de duas rodas, impulsionados por parelha de cavalos ou por número bem maior desses animais, usados na Antiguidade como carros de combate, atividade essa que ganha tamanha repercussão a ponto de ser necessária a construção do Circus Maximus (Figura 7) para ser o local dessa manifestação de espetáculo. Vocês já ouviram falar acerca do Circus Maximus? SAIBA MAIS Figura 7: Circus Maximus. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. A expressão latina Circus Maximus é a designação do Circo Máximo de Roma. Ele foi criado por antigos reis de Roma para prática de grandes jogos e esportes. Era, também, uma grande influência do mundo grego. Já o Coliseu (Figura 8) abrigava os espetáculos de combate entre gladiadores, entre estes e animais e mesmo entre animais ferozes, tudo com o sentido de agradar como espetáculo aos imperadores e ao público em geral. UNIUBE 11 Figura 8: Coliseu. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. São inúmeras as modalidades de jogos públicos presentes no período de dominação romana, entre os quais, podemos destacar dois: Os Cereales, com duração de oito dias, em honra da Deusa Ceres, havendo aqui a corrida de cavalos e a luta de gladiadores, e os Grandes Jogos, estabelecidos por Rômulo. Estes jogos ocorriam duas vezes por ano (abril e setembro) e tinham duração de cinco dias e inúmeros jogos, entre os quais: lutas, pentatlo, corridas de cavalos e combates entre gladiadores (MARINHO, 1980). Não tão conhecido entre nós como o Coliseu, Marinho (1980) menciona o Campo de Marte, denominação em homenagem ao Deus da Guerra. Era localizado fora dos limites de Roma e era uma importante construção para a prática de exercícios militares. Pode-se constatar que muitos dos princípios e valores morais dos jogos presentes na Grécia Clássica foram, de certa maneira, desvirtuados quando da implantação dos jogos romanos. Sem cometer erros, temos as seguintes transformações: 12 UNIUBE Quadro 1: Princípios e valores morais dos jogos na Grécia Clássica e em Roma JOGOS NA GRÉCIA CLÁSSICA JOGOS EM ROMA Atletas que se enfrentavam para vencer e serem reconhecidos. Gladiadores que tentavam eliminar seus opositores para permanecerem vivos. Na vitória, conquistava-se a coroa de louros. Na vitória, adquiria-se o espólio do vencido. Os jogos eram festas ocorridas nos estádios. Os jogos eram festividades realizadas, normalmente, nos circos. Os jogos consagravam a festa da beleza. Os jogos eram entretenimento grotesco . Os jogos eram em homenagem ao deuses. Os jogos, em muitos casos, eram capricho dos imperadores. Já na era cristã, em 521, os jogos populares foram abolidos em Roma. A disseminação do cristianismo, que enfatizava o abandono do corpo em função do desenvolvimento espiritual para a conquista do reino celeste, foi fator preponderante para a extinção dos referidos jogos. Educação Física e o Renascimento1.3 Mantendo nosso propósito para todo o capítulo, continuamos nos referenciando na obra de Marinho (1980) para efetuarmos a análise da Educação Física no Renascimento. Como ponto de partida, é interessante lembrarmos que o Renascimento surge em contestação aos valores vivenciados na Idade Média, em especial no que diz respeito à severidade no trato com o corpo, chegando, em muitos momentos, mesmo a desprezá-lo como algo não importante na constituiçãodo ser. UNIUBE 13 Esta época – o Renascimento – provocou o reflorescimento do que podemos chamar de cultura, pois: Petrarca na poesia, Bocaccio na prosa italiana, Erasmo na literatura, Miguel Angelo na pintura, escultura e arquitetura, Rafael na pintura, Leonardo da Vinci na pintura, escultura, arquitetura e engenharia, Galileo e Harvey nas ciências e dezenas de outros são nomes que simbolizam uma época bastante expressiva no domínio cultural. (MARINHO, 1980, p.80). Entretanto, o que poderíamos chamar de preocupação com a Educação Física é encontrado atrelado à educação de forma geral, pois Maffeo Veggio (1407-1458), eminente pedagogo da época, dizia que os jovens “Devem ser exercitados para afugentar a preguiça do corpo. A ginástica deve apresentar a condição de não ser violenta”. Além desta recomendação, indicava já a importância da vivência de jogos, como nos mostra Marinho (1980, p. 81), “[..] será conveniente exercitá-los por meio de jogos que não sejam demasiadamente brandos nem muito fatigantes, mas, e sobretudo, nunca indignos de um homem livre”. Outra interessante menção, relacionada ao que podemos chamar de Educação Física na época, é o pensamento do educador inglês Richard 14 UNIUBE Mulcaster (1530-1611) encontrado em seu tratado sobre educação, “Posições”, referido por Marinho (1980, p.85): Assim como os poderes da alma não exercem nenhuma ação ou é muito pequena, se não estão alentados pela sua educação natural e murcham e morrem, como o grão sem secar, que chega até a apodrecer por abandono do dono, ou por causas semelhantes: - Assim também do mesmo modo, sendo o corpo de per si torpe e grosseiro, deve, ou extinguir-se ou viver enfermiço se não se o agita bem diligentemente. Esse mesmo educador propõe em sua obra a divisão dos exercícios físicos em três partes: “Todos os exercícios se conceberam, primeiro para que servissem já como jogos ou passatempos, já para a guerra ou para milícia, já para a segurança da saúde e duração da vida; ainda que algumas vezes os três fins concorram a um e outras vezes pode ser que não”. (MARINHO, 1980, p.86). Você já ouviu falar do Homem Vitruviano ou Homem de Vitrúvio? O Homem Vitruviano ou Homem de Vitrúvio é um desenho criado por Leonardo Da Vinci, no Renascimento, a partir do conceito “proporção divina”, criado por Marcos Vitrúvio Polião, arquiteto romano, autor dos Dez Livros sobre Arquitetura, do séc. I aC. Observe a Figura 9: SAIBA MAIS UNIUBE 15 Figura 9: Homem Vitruviano. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. É importante observar, na Figura 8, um homem nu com os membros superiores e posteriores em diferentes posições, de modo simétrico. A imagem demonstra o conceito “proporção divina” que evidencia figuras geométricas perfeitas segundo o ideal clássico de beleza. Esse conceito é determinado por raciocínios matemáticos, desenvolvidos originariamente por Vitrúvio e aperfeiçoados, no desenho, por da Vinci. Observe que o Homem Vitruviano, de Da Vinci, é mais uma expressão que traz à tona a evidência do corpo humano, no Renascimento. Para compreender mais acerca do Homem Vitruviano, sugerimos que acesse o artigo O Homem Vitruviano – Leonardo da Vinci, de Simone Martins, do site História das Artes: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-homem-vitruviano- leonardo-da-vinci/ 16 UNIUBE Mulcaster (apud MARINHO, 1980) demonstrava ainda que os exercícios físicos deveriam sofrer alterações quando praticados por diferentes faixas etárias. Aos adultos, recomendava exercícios de nível médio, não devendo ser nem fraco nem forte para evitar problemas. Aos jovens, indicava jogos e exercícios mais vigorosos, podendo causar bom nível de cansaço e suor aos seus praticantes. Como pode ser observado, em todo o desenvolvimento da história ocidental, aqui analisada em uma pequena parte, o que hoje podemos chamar de Educação Física, enquanto uma área de trato com o corpo, esteve presente na forma de movimentos ginásticos, de exercícios físicos, de jogos, de atividades agonistas, enfim, do universo representativo dessa área de conhecimento. Há diferenças nas formas de interpretar a Educação Física ao longo do período histórico apresentado? Podemos ver a Educação Física de hoje muito diferente do que se propunha no passado aqui estudado? Leia mais sobre o assunto abordado neste capítulo. Recomendamos a leitura do Capítulo 2 - As práticas físicas na civilização ocidental, do livro “Educação Física, esportes e corpo: uma viagem pela história” (CAPRARO e SOUZA, 2017), disponível na Biblioteca Virtual Pearson. Acesse o link: https://uniube.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788559726190/ pages/-2 SAIBA MAIS UNIUBE 17 Resumo Iniciamos nosso percurso histórico da Educação Física no mundo Ocidental a partir da Grécia, mostrando a importância que esse povo dava para os esportes e para a ginástica. Com os esportes, cultuava-se a divindade; os atletas que representavam suas comunidades e venciam os jogos eram considerados semideuses. Já no domínio romano, vimos a transformação do culto ao corpo perfeito e o culto aos deuses transformarem-se em espetáculos grotescos com o sentido de valorização do poder dos imperadores, para que os combates e as lutas tivessem um fim em si mesmos. Já a Idade Média perde de vista a possível importância do corpo, considerado instrumento do pecado pela religião dominante, quadro esse só alterado com o movimento do Renascimento, no qual o sentido de prática de exercícios físicos se justificava pela volta dos ideais existentes na Grécia antiga. Referências CAPRARO, André Mendes, Souza, Maria Thereza Oliveira. Educação Física, esportes e corpo: uma viagem pela história (Livro eletrônico). Curitiba: InterSaberes, 2017. DEPOSITPHOTOS. Disponível em: https://br.depositphotos.com/. Acesso em: 15 jan. 2019. GALLO, Silvio. Corpo ativo e a filosofia, In: MOREIRA, Wagner W. (Org.) Século XXI: a era do corpo ativo, Campinas: Papirus, 2006, p.13-30. GETTY Images. Disponível em: https://www.gettyimages.com.br/. Acesso em: 29 nov. 2018. 18 UNIUBE HOPLITODROMOS LOUVRE MN704. Jpg. Altura: 600 pixels. Largura:717 pixels. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hoplit%C3%B3dromo#/media/File: Hoplitodromos_Louvre_MN704.jpg. Acesso em: 25 nov. 2018. MARINHO, Inezil P. História geral da educação física. São Paulo: Cia Brasil Editora, 1980. MARTINS, Simone. Homem Vitruviano – Leonardo da Vinci. Disponível em: https:// www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-homem-vitruviano-leonardo- da-vinci/. Acesso em: 29 nov. 2018. Introdução Panorâmica da Educação Física no Ocidente II: Educação Física e Tempos Modernos Capítulo 2 Após estudarmos as infl uências da antiguidade clássica ocidental para a Educação Física, passaremos ao segundo momento da nossa trajetória, buscando evidenciar os principais pilares da Educação Física nos tempos modernos. Para o presente capítulo, além de Marinho (1980), nos apropriaremos também dos escritos de Soares (2001) como fontes principais para a compreensão do aparecimento do que foi conhecido como “escolas” ou “métodos” ginásticos, produção de conhecimento essa originária na Europa a partir dos séculos XVIII e XIX. Como primeiro ponto, convém lembrar que o século XIX traz consigo a efetivação da sociedade industrializada, exigindo para isso uma educação que preparasse os corpos trabalhadores para os meios de produção. Este contexto europeu determinou a necessidade de uma educação disciplinadora e ordeira, valorizando o vigor físico por meio de propostas higienistas. 20 UNIUBE 2.1 As correntes teóricas e o surgimento dos métodos ginásticos 2.2 A Escola Sueca 2.3 Educação Física a partir da França 2.4 Educação Física a partir da Alemanha 2.5 Educação Física/Esportes a partir dos EUA 2.6 Educação Física Desportiva Generalizada Esquema Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • demonstrar a associação degrandes pensadores da educação com a Educação Física, especialmente para a destinada às escolas; • explicar os principais personagens da Escola Sueca e como esse método se estruturava; • nomear os responsáveis pela estruturação dos Métodos Ginásticos na França e na Alemanha, bem como explicar as adaptações dessas propostas para a Educação Física brasileira; • apontar os esportes criados pelas Associações Cristã de Moços (ACM – YMCA) e seus respectivos proponentes, assim como demonstrar a composição do Método Calistênico; • explicar a importância para o Brasil do Método Desportivo Generalizado, o qual, durante muito tempo, fez parte da Educação Física escolar em nosso país. Objetivos UNIUBE 21 2.1 As correntes teóricas e o surgimento dos métodos ginásticos Podemos afirmar que muito da importância para a educação do movimento e, por conseguinte, dos conhecimentos atrelados à Educação Física, deve-se a Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Mesmo acreditando que o corpo era um instrumento do espírito, Rousseau (Figura 1) enfatizava que um corpo débil pode deixar uma alma enfraquecida. Figura 1: Rousseau. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. 22 UNIUBE Marinho (1980, p. 91) informa as palavras do autor: Quereis, pois cultivar a inteligência de vosso aluno? Cultivai as forças que ela deve governar. Exercitai continuamente seu corpo; tornai-o robusto e são para o tornar sábio e sensato; que ele trabalhe, aja, corra, grite, esteja sempre em movimento; que ele seja homem pelo vigor, e em pouco tempo o será pela razão. Claro que permanece nesta trilha o sentido dual entre corpo e mente, sendo o corpo apenas um instrumento para o bom desenvolvimento da razão. Também pode ser observada, até os nossos dias, muito dessa premissa presente na Educação Física do século XXI, infelizmente. É possível afirmar, desde sua gênese nos tempos modernos, que a “Educação Física” sempre esteve ligada ao contexto da educação de forma geral. Pestalozzi, discípulo de Rousseau, afrontou o princípio de uma educação disciplinadora de movimentos, de quietude, também criticada pelo seu mestre, e enfatizou a importância para a criança de ações de jogar, de se movimentar, de correr, visando tudo isto à necessidade do gasto de energia acumulada no organismo. (MARINHO, 1980). Você conhece Pestalozzi? Sabe de suas ideias-chaves? Pestalozzi era um educador suíço que defendia que o professor deveria estar atento aos estágios de desenvolvimento da criança, em suas diferentes idades, atentando, especialmente, na sua singularidade. Defendia a educação integral (Figura 2), ou seja, não limitada à transmissão ou absorção de informações, mas, sim, oportunizando aos aprendizes protagonizarem diferentes experiências e aprender com elas. SAIBA MAIS UNIUBE 23 Figura 2: Articulação entre o corpo e a imaginação, no jogar e no brincar. Fonte: Depositphotos Acervo EAD-Uniube. Acreditava que o aprendiz deveria desenvolver em si mesmo a liberdade, crucial para o desenvolvimento da autonomia intelectual e moral. Para ele, nesse processo, o afeto na relação educador e aprendiz tem uma relevância fundamental. Caso queira saber um pouco mais acerca de Pestalozzi, sugerimos a leitura do artigo “Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à sala de aula”, de Márcio Ferrari, do site da Nova Escola. https://novaescola.org.br/conteudo/1941/pestalozzi-o-teorico-que-incorporou- o-afeto-a-sala-de-aula O texto traz as principais ideias do educador, de forma didática e com comentários de estudiosos da área. Na internet, você pode encontrar, também, outros artigos acerca do assunto! Se achar necessário, pesquise!!! 24 UNIUBE Apenas como registro para mostrar parte das razões do aparecimento das “escolas” ou “métodos ginásticos” nos tempos modernos, mencionamos a figura de Herbert Spencer (1820-1903), filósofo inglês que afirmava ser a educação o resultado do caminhar por três grandes trilhas: a intelectual, a moral e a física. Na verdade, Spencer vai sugerir a ginástica para a educação escolar, chamada por ele de “exercícios fictícios”, pela falta de incentivo aos exercícios naturais no âmbito escolar, deixando claro que “Os exercícios ginásticos além de serem inferiores aos jogos como ‘quantidade’ de exercício muscular, ainda são mais inferiores como ‘qualidade’”. (MARINHO, 1980, p. 93). COMPARANDO É neste contexto que podemos analisar o aparecimento dos “métodos ginásticos” na história da Educação Física. Soares (2001, p. 51) também indica que as preocupações com os exercícios físicos estavam destinadas a “resolver os problemas colocados pela sociedade industrial” (Figura 3), considerando que, nesta sociedade, “o trabalhador se transforma em simples acessório das máquinas e necessita cada vez mais de atenção e saúde para suportar UNIUBE 25 as intermináveis horas sem descanso e em posições absolutamente nocivas ao seu corpo”. Figura 3: Posições de trabalho na sociedade industrial. Fonte: Depositphotos Acervo EAD-Uniube. O contexto descrito favorece o aparecimento, a partir dos anos 1800, de formas diferentes de se entender e oferecer trabalho no que diz respeito ao exercício físico, que veremos nos próximos tópicos deste capítulo. Soares (2001, p.51-52) assim explica: Essas “formas” receberão o nome de “métodos ginásticos” (ou escolas) e correspondem aos quatro países que deram origem às primeiras sistematizações sobre a ginástica nas sociedades burguesas: a Alemanha, a Suécia, a França e a Inglaterra (que teve um caráter muito particular, desenvolvendo de modo mais acentuado o esporte). Essas mesmas sistematizações serão transplantadas para outros países fora do continente europeu. 26 UNIUBE Com estas informações, estamos aptos para esmiuçar o aparecimento das “escolas” ou dos “métodos ginásticos” na Europa e do mundo esportivo a partir dos Estados Unidos da América. Vejamos. A Escola Sueca2.2 O método de ginástica idealizado por Pehr Henrick Ling (1776-1839) foi sistematizado no início do século XIX e centrava sua preocupação em formar indivíduos fortes e saudáveis, evitando vícios que pudessem influenciar negativamente a vida em sociedade, daí a preocupação com a saúde e com a moral. Em pleno processo de industrialização, ter operários produtivos e soldados eficientes (pois, neste momento, eclodiam guerras de demarcação territoriais na região) justificava a presença de um método ginástico para essa finalidade. (SOARES, 2001). Observe Pehr Henrick Ling, na Figura 4: Figura 4: Pehr Henrik Ling. Fonte: Pehr Henrik Ling.jpg (2018). Ling (apud SOARES, 2001) dividia sua proposta de ginástica em quatro tipos, a saber: pedagógica ou educativa; médica ou ortopédica; estética e militar e em todas se fazia presente a pedagógica. UNIUBE 27 Já uma lição de seu método contava, entre outros aspectos, com: • exercícios de ordem; • movimentos preparatórios em que havia movimentos de pernas, cabeça, braços, tronco; • extensão da coluna vertebral; • equilíbrio; • marchas; • movimentos abdominais e respiratórios, bem como saltos. Já as mulheres poderiam ser submetidas ao método com algumas restrições, entre as quais, o de não realizar exercícios físicos durante a menstruação. (SOARES, 2001) A ginástica sueca destinava-se a propiciar aos cidadãos suecos o amor à pátria, levando Ling a propor, na época, uma nova abordagem para a Educação Física em seu país. Este autor via a ginástica, especialmente a pedagógica ou educativa, em íntima relação com as artes e até com a religião. Isto pode ser comprovado nos dizeres de Marinho (1980, p.97-98): 28 UNIUBE Para Ling, a ginástica pedagógica e higiênica tem por fim submeter o corpo à vontade; ela é essencialmente educativa e social. Ele insiste sempre sobre a importância para satisfazer às necessidades da alma quanto às do corpo. Ela se destina aos dois sexos, a todas as idades, a todas as constituições e se pratica dentro de todas as condiçõesmateriais e sociais. Ela assegura a saúde, sendo essencialmente respiratória, a beleza por seus feitos corretivos e ortopédicos. Ela é energética e viril pelo emprego econômico das forças e a formação do caráter, social e patriótica pela educação disciplinada da célula humana a serviço da sociedade. Por sua vez, a chamada ginástica médica produziu um grande número e variedade de exercícios terapêuticos. Nesta vertente havia a preocupação estética, a qual “permitia ao corpo exprimir certos estados de alma, de sentimentos e de pensamentos e que ela é influenciada e influencia as belas artes”. (MARINHO, 1980, p.98). Comungamos com a ideia de que Educação Física atual deveria ter aprendido alguns pressupostos já estabelecidos para os exercícios físicos encontrados na ginástica sueca, pressupostos esses decorrentes da influência do pensamento filosófico de Shelling em Ling, como nos mostra, com clareza, Marinho (1980, p.98): A ginástica não deve considerar os órgãos do corpo como uma massa mecânica, mas animada em todas as suas partes e, por conseguinte, como um instrumento sempre vivo da alma. Um verdadeiro ginasta tem necessidade de conhecimentos, de senso artístico e de moralidade. Claro que se você está, na formação de professores de Educação Física, num curso de Licenciatura, muito há que aprender com os valores embutidos já na proposta do método sueco. Quais pontos importantes você identifica na proposta da Ginástica Sueca por meio do trabalho de Pehr Henrick Ling? Hoje poderíamos aproveitar algo de sistematização metodológica? UNIUBE 29 Educação Física a partir da França2.3 D. Francisco Amoros y Ondeano (Figura 5), militar espanhol que atingiu o posto de major general, decepcionado com a política de seu país no início do século XIX, retira-se para a França, naturalizando-se francês, e passa a dedicar toda a sua vida à causa da Educação Física. Em 1830, publica o “Manual de Educação Física, Ginástica e Moral”, no qual demonstra os materiais necessários para a execução dos exercícios propostos, bem como desenha os aparelhos presentes em seu ginásio de ginástica. (MARINHO, 1980). Figura 5: Amoros. Fonte: Amoros.jpeg (2018). Soares (2001, p. 61) demonstra que o método arquitetado por Amoros pressuponha: “Através da ginástica, que por si só promoveria a saúde, criaria homens fortes, seria possível aumentar a riqueza e a força, tanto do indivíduo quanto do Estado”. Seu método ginástico em muitos pontos se assemelhava ao de Ling na Suécia e era dividido em quatro ramos: civil e industrial, militar, médico e cênico ou funambulesco. 30 UNIUBE A proposta de exercícios para a ginástica civil, por exemplo, constava de quinze séries, entre as quais, destacamos os seguintes exercícios: • ritmados e cantados, com finalidade de ativar os movimentos respiratórios; • de marchar e correr, levando ao hábito da execução de corridas de fundo e de velocidade; • de saltos em altura, em profundidade e extensão; • de equilíbrio; • de transposição de obstáculos naturais, por exemplo, barreiras e muros; • de lutas com finalidade de subjugar adversários; • de nadar com intuito de salvamento; • de tiro e esgrima; • de equitação; • de danças, tanto militares quanto as presentes na sociedade. É possível observar que, na proposta de Amoros, os exercícios apresentavam marcadamente um sentido utilitário. (MARINHO, 1980). No entanto, para muitos historiadores, é Georges Demeny, biólogo, fisiologista e pedagogo, por haver dedicado toda sua vida à Educação Física, a principal figura representativa da escola de Educação Física Francesa. UNIUBE 31 É ele quem traz, de forma mais aguçada, o significado de uma metodologia científica, baseada nas leis da física e da biologia, para o âmbito da Educação Física, insistindo no abandono de procedimentos empíricos para a área de conhecimento. Além disto, o autor preocupou-se com a saúde da mulher, propondo exercícios físicos destinados ao corpo feminino (Figura 6). “Seus estudos sobre o movimento arredondado, contínuo e também com ritmo, influenciados pela dança, levaram-no a trabalhar com a ginástica feminina.” (SOARES, 2001, p.66). Figura 6: Exercícios físicos destinados à mulher. Fonte: Depositphotos Acervo EAD-Uniube. Demeny foi crítico da proposta da ginástica sueca e, estruturado em estudos da fisiologia aplicada, apresenta seu método com várias características, das quais destacamos: • exercícios que provoquem contrações musculares dinâmicas, concêntricas, lentas e de intensidade média; • execução de movimentos completos e contínuos, não devendo ser interrompidos e vivenciados em todas as direções; 32 UNIUBE • cada movimento deve ter um ritmo proporcional ao peso do segmento, à dificuldade de execução e ao grau de preparação física do indivíduo; • durante o trabalho manter a respiração profunda e ritmada (MARINHO, 1980). Os movimentos constantes da proposta de método criado por Demeny podem ser descritos como movimentos: • executados sem aparelhos; • de resistência contínua; • de destreza; • que levem à fadiga orgânica. Tudo isto numa execução de exercícios visando proporcionar “a saúde, a beleza, a destreza e a virilidade. E para obter tais qualidades deverão os exercícios proporcionar efeitos higiênicos, estéticos, econômicos e morais.” (MARINHO, 1980, p. 107). Também preocupava-se o autor com as questões do trato pedagógico quando da execução da ginástica, indicando que uma sessão de aula teria de satisfazer três exigências: “ser completa e útil;[...] ser graduada em intensidade e dificuldade [...] e ser interessante e conduzida com ordem e energia.” (MARINHO, 1980, p.108). Um terceiro nome proeminente da ginástica ou da escola francesa para a Educação Física certamente foi Georges Hébert (Figura 7), oficial da Marinha e diretor da Escola de Fuzileiros Navais. Ele contribuiu, em muito, para a codificação das propostas anteriores existentes na França. UNIUBE 33 Figura 7: Georges Hébert. Fonte: Lieutenant Hébert.jpg (2018). Hébert estrutura, a partir de sua projeção no cenário da Educação Física francesa, o que ficou conhecido como Método Natural de Ginástica, o qual visava à promoção da aptidão física e era destinado a avaliar força muscular, destreza e resistência. Seu senso em regulamentar os testes físicos cria doze provas para esse fim: • saltos em altura e distância com e sem impulso; • corridas de 100, 500 e 1.500 metros; • subida em corda até 5 metros sem auxílio dos pés; • lançamento de peso; • levantamento de peso; • natação e mergulho (MARINHO, 1980). Decorrente de seu trabalho origina-se o Método Francês, muito utilizado no início da Educação Física Brasileira na primeira metade do século XX, por influência da importância na época da Escola de Joinville-le-Pont. 34 UNIUBE Como professores e profissionais da Educação Física, nós, proponentes deste livro, lamentamos que tudo isto não conste, normalmente, no currículo tido como necessário ao professor de Educação Física em nossos cursos de licenciatura nos dias atuais. É importante lembrar que se não preservarmos nossa memória, dificilmente construiremos as rotas para traçar nosso futuro. A proposta de Demeny, principal representante da Escola Francesa com sua metodologia baseada nas leis da física e da biologia, poderia ser aplicada hoje no trabalho nas Academias de Ginástica e Musculação? Educação Física a partir da Alemanha2.4 Como nos casos anteriores já referidos, há muitos representantes dos movimentos ginásticos e de práticas de exercícios físicos na Alemanha, razão pela qual optamos em fazer referências aos considerados de expressão e que de certa forma influenciaram a caminhada da Educação Física no Brasil. Com maior ou menor intensidade, um dos principais motivos do aparecimento dos métodos ginásticos na Europa pode ser atrelado ao momento de estabelecimento das demarcações territoriais dos países daregião. Este também é o caso da Alemanha, onde as propostas relacionadas aos exercícios visavam à saúde, à robustez e à força de seus cidadãos, todos imbuídos de um espírito nacionalista que poderia ser desenvolvido pelas práticas gímnicas. Práticas gímnicas São práticas benéficas para os indivíduos em todos as fases da vida, tais práticas podem contribuir para um melhor desempenho motor nas tarefas da vida diária, funcionais e/ou atividades esportivas. UNIUBE 35 É neste contexto que Guts Muths (Figura 8), considerado o grande nome inicial da ginástica moderna em seu país, centrada em pressupostos pedagógicos de Rousseau, entre muitas obras editadas, publica duas obras que serão referências: em 1793 temos a “Ginástica para a Juventude”, na qual especifica os princípios pedagógicos de seu trabalho, e em 1817 há o “Livro da Ginástica para os Filhos da Pátria”, enfatizando o sentido político nacionalista de sua obra. (MARINHO, 1980) Figura 8: Georges Hebert. Fonte: -C-F-GutsMuths.jpg (2018). A ginástica proposta por esse autor estruturava-se nas bases da fisiologia e era dever do Estado a sua implantação e controle. A regularidade das práticas era diária e nela deveriam estar todos os cidadãos, homens, mulheres e crianças. (SOARES, 2001). A proposta metodológica de movimentos ginásticos para todos, ideário de Guts Muths, adentra mais intensamente na escola por meio do trabalho de Adolph Spiess com o Seu Sistema de Ginástica, o qual contava com: 36 UNIUBE 1 - Exercícios Livres para membros superiores e inferiores. 2 - Exercícios de Suspensão – barras, paralelas e cordas. 3 - Exercícios de Apoio com balanceamento. 4 - Ginástica Coletiva – marchas ordem unida. (SOARES, 2001). A importância de Spiess para a Educação Física Escolar, como nós a concebemos hoje, foi fundamental. Ele adaptou os movimentos ginásticos mais gerais ao espaço escolar, indicando que sua prática deveria ser realizada todos os dias em um dos períodos, com classes por idade, devendo o professor ter preocupação com as questões posturais dos alunos. PONTO-CHAVE Segundo Marinho (1980, p.125), a crítica que se pode destinar ao trabalho de Spies reside na falta de critérios sólidos para o desenvolvimento das aulas propostas e os exercícios escolhidos não passavam por uma avaliação consistente no que diz respeito aos valores de pesquisa científica. “Sem abundância de flexionamentos, escassas as aplicações, assoberbado de ginástica de aparelhos, dificilmente este sistema poderia levar os alunos àquele equilíbrio que Spiess procurava”. Como informação importante, temos que na segunda metade do século XIX o Exército Brasileiro adota oficialmente, em suas linhas, o método alemão, sendo este substituído pelo francês apenas na segunda década do século XX. UNIUBE 37 Por sua vez, Soares (2001) informa que, para as escolas no Brasil, o método alemão não foi considerado adequado, adentrando ao espaço escolar o método francês. A Ginástica alemã aparece em que contexto geral da Europa do século XIX? Mais ainda, formulada por Guts Muths e levada à escola por Spiess, quais problemas aconteceram nessa transposição? Educação Física a partir dos EUA2.5 Analisar o desenvolver o histórico da Educação Física nos Estados Unidos da América, no que diz respeito a uma certa originalidade, faz sentido se começarmos a partir do século XVIII quando da independência desse país, bem como da criação das academias. É a partir deste contexto que se pode notar a importância da prática de exercícios físicos para os estudantes. Comprovação disto é encontrada na obra de Benjamin Franklin destinada a jovens. Diz Marinho (1980, p.142) Em 1743, aparece sua obra “Propósitos relacionados com a Educação da Juventude em Pensylvania”. Ele recomenda às academias serem organizadas para preparar a juventude para a sociedade. A escola deve ter uma “posição saudável” com jardim, horta, campos e gramados. Devem tomar-se as providências para que os alunos possam brincar, correr, saltar, lutar e nadar. Alguns anos depois é organizada, em Filadélfia, uma escola segundo essas características. No século XIX, nos Estados Unidos da América, já encontramos a declarada importância para a saúde da prática de jogos, recreação (Figura 9), exercícios físicos (estes, especialmente, vinculados aos movimentos ginásticos). 38 UNIUBE Figura 9: Recreação. Fonte: Depositphotos Acervo EAD-Uniube. Em 1824 temos a gênese da ginástica alemã no país, por meio de Charles Beck, como pode ser comprovado pelo relato de um aluno de Beck mencionado por Marinho (1980, p. 143) O Dr. Beck era professor de ginástica. Um espaçoso terreno foi reservado para tal fim e equipado com todos os aparelhos usados na ginástica alemã. Toda a escola foi dividida em turmas e cada turma tinha uma hora, três vezes por semana, para instrução com o Dr. Beck. O desenvolvimento dos poderes do corpo e a força da constituição, foram aí reconhecidas pela primeira vez, como de grande importância para a educação dos rapazes. Na verdade, se nossa intenção é dar ênfase ao caminhar da Educação Física nos Estados Unidos da América, precisamos destacar duas trilhas principais ocorridas quanto à realização dos exercícios físicos: a primeira diz respeito à proposta ginástica via Calistenia; a segunda centra-se na ação das Y.M.C.A. (Young Men’s Christian Association), conhecidas entre nós brasileiros como a Associação Cristã de Moços (ACM), com unidades hoje presentes em várias cidades no Brasil, entre estas, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. UNIUBE 39 Na trilha da calistenia, Marinho (1980, p. 145) aponta dois destaques: o primeiro é a contribuição de Catherine Beecher e sua “instituição feminina de educação superior para mulheres nos Estados Unidos”, pois Beecher insistia na importância da Educação Física e da Educação Moral. Nas aulas de Educação Física, o método utilizado era a calistenia, os exercícios eram executados ao ritmo de músicas. O segundo destaque está centrado no Dr. Dio Lewis, defensor da calistenia. Segundo esse autor, a calistenia, por ele entendida mais como sistema do que como método, era destinada ao “homem gordo, ao homem fraco ou enfermiço, aos jovens e às mulheres de todas as idades – as classes que mais necessitavam de treinamento físico”. (MARINHO, 1980, p. 145). Lewis defendia o seu sistema calistênico e combatia os métodos ginásticos, afirmando que estes serviam apenas para os ginastas e não para a população em geral, bem como criticava o treinamento militar por este centrar-se mais na parte superior do corpo. Sua argumentação exaltava os exercícios ginásticos, por meio do seu sistema, porque estes eram apropriados para o desenvolvimento da graça, da agilidade, da flexibilidade, elementos próprios para aquisição de um estado geral de saúde corpórea. Quanto à contribuição incontestável das Y.M.C.A., para a prática de exercícios físicos e desportivos nos Estados Unidos da América, ela é de fácil explicação. As associações tiveram sua gênese numa releitura do cristianismo, para a qual a prática de exercícios pode “promover um caráter cristão e que esse bem-estar físico e essa sã recreação conduz ao bem-estar moral”. (MARINHO, 1980, p.148). Calistenia Exercícios físicos em que se procura movimentar variados grupos musculares, enfocando o esforço e a potência. 40 UNIUBE As Y.M.C.A têm sua origem na Inglaterra, com o objetivo inicial de congregar jovens para o estudo da Bíblia, passando, posteriormente, a incluir nessas reuniões as práticas de ginásticas e, mais à frente, a criação e a prática de alguns dos esportes mais conhecidos entre nós, como o basquetebol com James Naismith e o voleibol com William George Morgan, apenas como exemplos. Aliás, como informação complementar, há uma disputa entre Brasil e o Uruguai para saber qual desses dois países foi o criador do Futebol de Salão, esporte também originário no interior da Associação Cristãde Moços (ACM). Quais considerações você faria como importantes a respeito da ginástica calistênica e das ACMs a partir dos Estados Unidos da América? Educação Física Desportiva Generalizada2.6 É o professor Auguste Listello (1918-2010), argelino de nascimento e cidadão francês, o responsável pela criação e disseminação do que podemos caracterizar como a proposta ou o Método Desportivo Generalizado em nosso país, especialmente a partir de sua vinda ao Brasil no início da década de cinquenta do século passado. Esse mesmo professor por várias vezes lecionou cursos no território brasileiro, num período de trinta anos. Mas você sabe o que é o Método Desportivo Generalizado? O Método Desportivo Generalizado tem por finalidade a educação integral de jovens e adultos por meio de jogos e atividades esportivas. IMPORTANTE! UNIUBE 41 Muitos pesquisadores da área da Educação Física apontam a importância da entrada desse método para o ensino dos conhecimentos da Educação Física, em especial para o trato com o tema esporte. Pode-se até afirmar, de certa maneira, que graças a ele se inicia no país o que podemos chamar de período de esportivização da Educação Física escolar. Outro fato interessante a ser mencionado refere-se a ser Listello a pessoa a introduzir no Brasil o Handebol de Salão, já no ano de 1952. A proposta da Educação Física Desportiva Generalizada instala-se no período de grandes modificações no cenário nacional, com a retomada da democracia após os anos de governo ditatorial de Getúlio Vargas e a implantação de uma estrutura industrial, a qual demandava a necessidade de crescimento do sentido de organização. Claro está que o Método Desportivo Generalizado, além de adentrar no espaço escolar com força, foi mantido pelo prazer que propiciava aos alunos pelas práticas de atividades físicas desportivas, elemento mais motivador que as propostas ginásticas anteriormente presentes na Educação Física escolar. Não resta dúvida em afirmarmos que o movimento desencadeado pelo Método Desportivo Generalizado entre nós propiciou um redimensionamento da Educação Física escolar, talvez só alterado novamente a partir do final dos anos setenta do século XX com a chamada crise da Educação Física Brasileira. 42 UNIUBE Resumo O segundo momento da Educação Física apresentado neste Capítulo 2 mostrou a riqueza da produção de vários métodos ginásticos ocorrida em países da Europa e nos Estados Unidos da América, notadamente nos séculos XVIIII e XIX. Foi, inquestionavelmente, a primeira tentativa da Educação Física se apresentar como uma possibilidade de rigor científico, já aqui atrelada mais aos fatores e às justificativas anatômicas e fisiológicas, procurando o desenvolvimento e a manutenção da saúde, esta entendida numa perspectiva higienista. Por outro lado, há o engrandecimento do fenômeno esportivo, o qual passa a ocupar um lugar de destaque no cenário da Educação Física, notadamente na escola. Referências AMOROS.JPEG. Largura: 334 pixels. Altura: 422. 135 KB. Formato JPEG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Amoros#/media/File:Amoros .jpg. Acesso em: 28 nov. 2018. DEPOSITPHOTOS. Disponível em: https://br.depositphotos.com/. Acesso em: 15 jan. 2019. GETTY Images. Disponível em: https://www.gettyimages.com.br/. Acesso em: 29 nov. 2018. J-C-F-GutsMuths.jpg. Altura: 1000 pixels. Largura: 961 pixels. 206 KB. Formato JPEG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guts_Muths#/media/File:J-C-F- GutsMuths.jpg.. Acesso em: 28 nov. 2018. LIEUTENANT HÉBERT.JPG. Altura: 583 pixels. Largura: 396 pixels. 39 KB. Formato JPEG. Disponível em:https://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_H%C3%A9bert#/media/ File:Lieutenant_H%C3%A9bert.jpg. Acesso em: 28 nov. 2018. UNIUBE 43 MARINHO, Inezil P. História geral da educação física, São Paulo: Cia Brasil Editora, 1980. PEHR HENRIK LING.JPG. Altura: 675 Largura: 670. 231 Kb. Formato JPEG. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pehr_Henrik_Ling#/media/File:Pehr_ Henrik_Ling.jpg. Acesso em: 26 nov. 2018. SOARES, Carmen. Educação física: raízes europeias e Brasil, Campinas: Autores Associados, 2001. Introdução Panorâmica da Educação Física no BrasilCapítulo3 Para o desenvolvimento deste capítulo, utilizaremos mais detalhadamente as referências básicas de Inezil Penna Marinho e Lino Castellani Filho, historiadores da Educação Física, que viveram em épocas distintas e que também possuem posturas diferentes no que diz respeito ao entendimento do processo da Educação Física brasileira, além de acrescentar outros escritos ao longo do texto. Como o objetivo é demonstrar a continuidade histórica da área da Educação Física entre nós, entendido esse “nós” como o Brasil, país constituído, optamos em dividir o capítulo em dois momentos: o primeiro do Brasil Império até o fi nal da década de 70 do século passado e o segundo dos anos 80 do século passado aos nossos dias. Justifi ca-se essa divisão porque o primeiro período, mesmo com vários momentos de propostas bem diferenciadas para a área, não contou com a tentativa de quebra de paradigma no oferecimento da Educação Física. Apenas nos anos 80 do século XX é que ganha força no Brasil um movimento de redirecionar de maneira bem clara os destinos da Educação Física. 46 UNIUBE 3.1 Do Brasil Império até a década de 1970 do século XX 3.2 Da década de 1970 do século XX aos dias atuais 3.2.1 Propostas de Abordagens Pedagógicas para a Educação Física Escolar 3.2.2 Proposta de Regulamentação da Profissão Esquema Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • listar e comentar as propostas metodológicas de Educação Física propostas no Brasil Império, bem como seus principais objetivos; • demonstrar a importância de Rui Barbosa para a implantação da Educação Física Escolar; • mostrar os sentidos higienista e de eugenia presentes na Educação Física escolar brasileira no final do século XIX e início do século XX; • avaliar as tendências pedagógicas surgidas na Educação Física escolar a partir da década de setenta do século XX; • analisar, nas perspectivas políticas e administrativas, o aparecimento do CONFEF (Conselho Federal de Educação Física) e dos CREFs (Conselhos Regionais de Educação Física) e a ação destes órgãos junto ao desempenho profissional. Objetivos Do Brasil Império até a década de 1970 do século XX3.1 Como ponto de partida, justificaremos, a seguir, que a abordagem deste capítulo se inicia no Brasil Império porque é a partir deste momento que podemos caracterizar com maior clareza o que podemos chamar de uma Educação Física, enquanto participante do universo escolar. UNIUBE 47 Sendo assim, como falamos, a primeira fase desse período pode ser caracterizada como a do Brasil Império, ou seja, entre os anos de 1822 e 1889. Fato importante mencionado neste espaço de tempo ocorreu em 1823 quando, ao se discutir na Assembleia Constituinte, convocada por D. Pedro para a elaboração da primeira constituição brasileira, encontramos uma proposta assim descrita por Marinho (s/d, p.22) [...] será reputado benemérito da pátria, e como tal condecorado com a Ordem Imperial do Cruzeiro ou nela adiantado, se já a tiver, aquele cidadão, que até o fim do corrente ano, apresentar a Assembleia melhor tratado de educação física, moral e intelectual para a mocidade brasileira. Interessante notar que a tramitação de processos nos órgãos políticos, já nesta época, sofre da mesma morosidade de hoje, pois esse assunto educacional volta a ser apreciado apenas em 1837. Já em 1854, é apresentado à Assembleia Geral Legislativa a proposta para a reforma do ensino e nela havia a inclusão da ginástica nos currículos das escolas públicas, fato que corresponderia a um primeiro e importante avanço para a Educação Física e a Educação de um modo geral. Sem correr em erro, pode-se afirmar que os destinos da Educação Física nesse período estiveram atrelados aosprincípios vivenciados em colégios militares, tais como hierarquia, disciplina, ordem, força, saúde, robustez. (MARINHO, s/d). Em sua obra, Marinho (s/d, p.27) enaltece a contribuição dos pareceres de Rui Barbosa (Figura 1) em prol da Educação Física, afirmando tendo estes pareceres “larga repercussão, influindo decisivamente para que a Educação Física encontrasse ambiente favorável ao seu desenvolvimento”. 48 UNIUBE Figura 1: Rui Barbosa. Fonte: Rui Barbosa.jpg (2018). Marinho (s/d, p.27) explicita ainda mais a importância de Rui Barbosa quando registra: A contribuição de Rui Barbosa em seus Pareceres sobre as Reformas do Ensino Secundário e Superior e do Ensino Primário e Várias Instituições Complementares, para que, em nosso país se criasse uma mentalidade favorável à prática de atividades físicas, quer sob a forma de ginástica, quer sob a de desportos ou exercícios militares, é tão admirável que ele bem merece o título de Paladino da Educação Física no Brasil, que lhe outorgamos em uma de nossas obras. Castellani Filho (2001), partindo de uma visão mais crítica sobre o processo de constituição histórica da Educação Física brasileira, por sua vez, apresenta uma argumentação consistente de discordância da visão anteriormente referida, lembrando que todo esse processo é oriundo de UNIUBE 49 uma visão higienista de educação escolar. Mencionando Jurandir Freire da Costa, revela: [...] A ética colonial repudiava o trabalho. O branco livre não se imaginava exercendo uma profissão que lhe exigisse ocupação manual. O chefe de família digno não trabalhava: vivia de rendas ou da exploração parasita do trabalho dos outros. Se não era proprietário de terras ou comerciante, procurava locupletar-se em algum cargo burocrático da administração pública. Quando nenhuma dessas possibilidades surgia, sugava o trabalho escravo até a última gota...”. (CASTELLANI FILHO, 2001, p. 45). Conforme adverte Castellani Filho (2001), a Educação Física era rechaçada enquanto relacionada à atividade física produtiva, isto é, a “trabalho”, portanto, não o era – como continua não o sendo – no outro sentido. Por outro lado, em sua compreensão de atividade de não trabalho, em seu sentido lúdico, de preenchimento do ócio e do tempo livre, pelo contrário, sempre foi valorizada pela classe dominante (ROUYER, J. 1977, apud CASTELLANI FILHO, 2001). Ao falar do desenvolvimento da história da Educação Física no século XX, não podemos deixar de mencionar as contribuições do trabalho de Fernando de Azevedo, autor de alguns livros e principal representante, na primeira metade desse século, da revista Educação Physica, o qual deixava clara a sua admiração pela presença de Rui Barbosa junto à Educação Física brasileira. Defensor da eugenização do povo brasileiro, Azevedo apresentava a Eugenia como “ciência ou disciplina que tem por objeto o estudo das medidas sociais-econômicas, sanitárias e educacionais que influenciam, Visão higienista O Movimento Higienista teve como preocupação central a saúde individual e coletiva da população, sendo a escola lócus apropriedado para a disseminação de novos hábitos higiênicos. 50 UNIUBE física e mentalmente, o desenvolvimento das qualidades hereditárias dos indivíduos e, portanto, das gerações [...]”, afirmações essas encontradas em Castellani Filho (2001, p.55). Por essa razão fica evidente a importância que Fernando Azevedo destinava à Educação Física: melhorar e preservar a eugenia da raça por meio da vivência de atividades físicas. Prova disto encontramos em Castellani Filho (2001, p. 56) O raciocínio era simples: mulheres fortes e sadias teriam mais condições de gerarem filhos saudáveis, os quais, por sua vez, estariam mais aptos a defenderem e construírem a Pátria, no caso dos homens, e de tornarem mães robustas, no caso das mulheres. Duas vertentes, pode-se dizer, caminharam paralelamente na história da Educação Física no Brasil: a eugenização da raça e a forte influência do pensamento higienista. Estas trilhas permitem afirmar que a Educação Física recolhe o corpo mulher para as atividades de ginástica, fato esse anteriormente considerado pouco evidente. Daí a preocupação de Fernando Azevedo em propiciar a prática “da Ginástica a ambos os sexos na formação do professorado e nas escolas primárias de todos os níveis” e, especificamente, às mulheres propunha “atividades ginásticas que atinassem para a harmonia de suas formas feminis e às exigências da maternidade futura”. (CASTELLANI FILHO, 2001, p. 58). Eugenização da raça: a Eugenia pretendia promover o desenvolvimento das qualidades hereditárias dos indivíduos e, portanto, das gerações, ou simplesmente, a purificação da raça. Neste contexto, à Educação Física, influenciada pelo modelo social europeu da época, caberia um papel preponderante, ou seja, por meio dos exercícios ginásticos, mulheres fortes e sadias teriam condições de gerarem filhos saudáveis. SAIBA MAIS UNIUBE 51 Esse mesmo autor lembra que as reformas educacionais instituídas em muitos estados brasileiros na década de vinte do século XX já contemplavam a Educação Física no contexto dos conteúdos programáticos, destinados às escolas do ensino primário e secundário. Soares (2001, p.68-69)), por sua vez, corroborando Castellani Filho (2001), demonstra que o decorrer da Educação Física no período da segunda metade do século XIX até a década de trinta do século XX esteve muito atrelado às instituições médicas e militares. Neste trabalho, as instituições médicas foram privilegiadas e o discurso médio higienista ouvido, pois acreditamos poder encontrar, nessas instituições e no seu discurso, elementos que nos auxiliem na compreensão da Educação Física como sinônimo de saúde física e mental, como promotora de saúde, como regeneradora da raça, das virtudes e da moral. Toda essa presença dos médicos na área da Educação Física propicia o que a autora chama de uma pedagogia da boa higiene, pedagogia essa oferecida às famílias para o estabelecimento de normas de vida, que, entre outras condutas e cuidados, estava presente a importância dos exercícios físicos. Pela argumentação até aqui desenvolvida, nos dizeres de Soares (2001, p.91), fica patente que a Educação Física brasileira, “em suas primeiras tentativas para compor o universo escolar, surge como promotora de saúde física, da higiene física e mental, da educação moral e da regeneração ou reconstituição das raças”. Ainda como importante, devemos mencionar, especialmente no decorrer dos anos trinta e quarenta do século XX, a íntima relação encontrada nos documentos delineadores da Educação Nacional, das áreas de Educação Cívica e da Educação Física. No Plano Nacional de Educação construído 52 UNIUBE em 1937, o ensino cívico aparecia em todos os graus de escolarização e a Educação Física era obrigatória nos cursos primário e secundário. É também nesta década de trinta do século XX que deparamos com o que pode ser reconhecido como a militarização da Educação Física. Quem nos traz esta informação é Castellani Filho (2001, p. 87) ao relatar um trecho do artigo de Hélion Póvoas na revista “Educação Física” de novembro de 1938: Entreguemos ao exército todos os poderes para que, no setor de Educação Física, ponha em prática, em todo o território nacional, sua técnica disciplinadora que é, no momento, um evangelho salutaríssimo à nação. Para nos pôr a salvo das tormentas, organizando a nossa defesa, o exército glorioso precisa de um “Homem brasileiro”, com todas as letras maiúsculas, bem maiúsculas. Confiantes, entreguemo-nos a ele, porque só ele dispõe dos elementos necessários a um renascimento de vigor físico indispensável à organização bélica de uma Pátria, ainda que a mais pacífica, como a nossa. Seja o Brasil, todo ele, no tocante à Educação Física, uma Escola de Educação Física do Exército[...]. Adentrando na década de quarenta, deparamos com o desenvolvimento daSegunda Guerra Mundial (Figura 2), e o Brasil de Getúlio Vargas, identificado com as propostas ideológicas vindas da Alemanha e Itália, tenta a formação da “Juventude Brasileira”, razão de implantar com grande convicção nas escolas a obrigatoriedade da Educação Cívica, Moral e Física. Melhor explicitando, nas palavras desse presidente, o objetivo desta empreitada era “incrementar a educação física nas novas gerações, organizando a juventude por forma a constituir reserva facilmente mobilizável, sempre que houver objetivo patriótico a alcançar”. (CASTELLANI FILHO, 2001, p. 89). UNIUBE 53 Figura 2: Segunda Guerra Mundial. Fonte: Getty Images Acervo EAD-Uniube. É neste contexto que, em 1939, cria-se a Escola Nacional de Educação Física e Desportos atrelada à Universidade do Brasil. Você se lembra do que estudou acerca do governo de Getúlio Vargas? O governo de Getúlio Vargas se estendeu de 1937 a 1945 e foi chamado de Estado Novo. Em seu governo, o presidente centralizou o poder Executivo, em sua pessoa, de forma semelhante ao modelo nazifascista europeu, dos anos de 1930 a 1940. Sugerimos as seguintes leituras para relembrar esse período e compreender melhor esse momento histórico: Primeiro: Estado Novo (1937 – 1945), de Cláudio Fernandes, site UOL. Para isso, acesse: https://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/estado- novo-1937-1945.htm RELEMBRANDO 54 UNIUBE Segundo: Era Vargas - Estado Novo (1937 - 1945), de Rainer Sousa, site Mundo Educação, acesse: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/era-vargas-estado- novo.htm De uma forma breve e didática, os textos nos fazem relembrar esse conteúdo. Na internet, você pode encontrar, também, outros artigos acerca do assunto! Vale a pena conferir!!! Para justificar a criação da Escola Nacional de Educação Física, o então Ministro da Educação e Saúde da época, Gustavo Capanema, faz referências à Constituição em vigor, mais especificamente em seu artigo 131, o qual estabelecia a obrigatoriedade da Educação Física em todas as escolas primárias, normais e secundárias do Brasil, fato esse lembrado por Castellani Filho (2001). Esse mesmo autor informa que, como consequência desse momento político, em 1941 há a promulgação do Decreto-Lei 3.199 com a finalidade de estabelecer normas, sobretudo, normas reguladoras e cartoriais, sobre a organização desportiva em nosso país, decreto esse que perdurou até o ano de 1975. No período pós Estado Novo, a Educação Física pode ser identificada como uma atividade curricular presente nas estruturas organizacionais da escola. Como atividade, ela não se consagra como uma área de conhecimento detentora de um saber próprio. Continua sendo apresentada como importante por sua característica de atuar no aprimoramento da aptidão física dos brasileiros, destinada unicamente à educação do físico e estruturada em bases anatômicas, fisiológicas e biológicas. Esses objetivos sempre estiveram presentes no contexto da Educação Física escolar. UNIUBE 55 A partir dos anos cinquenta, ainda do século XX, temos a presença marcante do que veio a ser conhecido como a implantação da proposta da Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil, ainda sob influência de Auguste Listello, como vimos com detalhes no final do capítulo anterior. Esta proposta ganha muita força no país por dois motivos, que podemos considerar os principais: • o elevado número de cursos ministrados por Listello no território nacional entre os anos 50 e 60; • a adoção do método por dois importantes autores na área da Educação Física entre nós, Alfredo Gomes de Faria Junior e Inezil Penna Marinho. Na década de setenta, ainda do século XX, explode em vários países um movimento denominado Esporte para Todos – EPT, movimento esse que teve por finalidade principal se opor à hegemonia do esporte de rendimento já bastante difundido nos meios escolares, também com reflexos na Educação Física patrocinada pelos órgãos governamentais por aqui. Também neste período, dominado pelo governo militar em nosso país, encontramos uma reformulação das propostas curriculares para o terceiro grau, ou seja, para os cursos superiores e para as universidades, introduzindo a obrigatoriedade para todos os cursos e áreas das disciplinas Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Física, “casualmente” eliminando a obrigatoriedade da Filosofia. Moreira (1985, p.73), em livro oriundo de sua dissertação de Mestrado, editado no início dos anos oitenta, faz críticas a este procedimento dicotômico, afirmando que “considera a Educação Física como expressão acima do antagonismo educação física versus educação intelectual, ambas se complementando na cultura de seu povo”. 56 UNIUBE Esse autor, já na época, defendia a educação integral do educando, recorrendo ao pensamento de Rouyer (1977, p.191): A natureza específica de uma educação física não se pode definir senão em relação à totalidade da educação concebida no seu conjunto. É necessário que voltem a equacionar-se as razões que fundamentaram as diversas “matérias”, as distintas disciplinas do ensino. Não se trata apenas de acrescentar à educação intelectual uma educação física; é necessário estudar uma e outra e repensar o conjunto. Ainda em suas considerações finais, Moreira (1985, p.141) sugere que a Educação Física busque sua identidade cultural no nosso país, ultrapassando a história de alienação que a persegue ao longo dos anos, propiciando “contribuir para o desenvolvimento integral de indivíduos autônomos, democráticos, críticos e participantes”. Leia mais sobre o assunto abordado neste capítulo. Recomendamos a leitura do Cap. 3 (A história da Educação Física no Brasil) do livro “Educação Física, esportes e corpo: uma viagem pela história” (CAPRARO e SOUZA, 2017), disponível na Biblioteca Virtual Pearson, no AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem. AMPLIANDO O CONHECIMENTO Da década de 1970 do século XX aos dias atuais3.2 O período entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980 do século passado foi conhecido, na área, como o momento de crise da Educação Física brasileira, época em que emerge um movimento de intelectuais professores da área, na tentativa de quebrar o paradigma até então vigente na história da Educação Física, quer como área de produção de conhecimento, quer como explicitação de uma disciplina ou de um conteúdo a ser desenvolvido no âmbito escolar. UNIUBE 57 Importante, da mesma forma, é registrar que neste período há o aparecimento do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e dos Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs) como órgãos com a finalidade de regular a atividade profissional. Os dois parágrafos anteriores justificam a subdivisão deste capítulo, pois estaremos analisando tanto as propostas pedagógicas que foram criadas para a Educação Física escolar, quanto as diretrizes de ação do CONFEF. Apenas deixamos para uma análise posterior, que se dará no sexto capítulo, as produções surgidas de identificação da Educação Física como possível área de conhecimento científico. 3.2.1 Propostas de Abordagens Pedagógicas para a Educação Física Escolar No tocante ao âmbito escolar, talvez uma das principais contribuições para a tentativa de quebra do paradigma anterior existente na área centra-se na produção e explicitação das abordagens pedagógicas da Educação Física escolar. Dessa forma, entram em cena várias maneiras de se encarar o trato pedagógico dos conhecimentos específicos da área, entre as quais, destacaremos quatro, pelo critério de serem as mais veiculadas entre os professores da Educação Física. Para cumprir essa missão, apropriamo-nos do artigo de Darido (2008), o qual sintetiza bem as propostas. 58 UNIUBE Vejamos. 3.2.1.1 Abordagem Desenvolvimentista Primeira a mencionarmos neste estudo é a Abordagem Desenvolvimentista, construída principalmente por autores da área da Educação Física da Universidade
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