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TCC - Manoela Andrade Pereira (1)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA 
FACULDADE DE DIREITO 
PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
MANOELA ANDRADE PEREIRA 
 
 
A BUSCA DA EFICIÊNCIA NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS: 
EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E O PROJETO DE LEI Nº 6.814/2017 
 
 
 
Salvador 
2018 
 
1 
 
MANOELA ANDRADE PEREIRA 
 
 
 
 
A BUSCA DA EFICIÊNCIA NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS: 
A EVOLUÇÃO ELGISLATIVA E O PROJETO DE LEI Nº 6.814/2017 
 
 
 
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em 
Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal 
da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau 
de Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Prof. Rita Andrea Rehem Almeida Tourinho 
 
 
 
 
 
Salvador 
2018 
2 
 
MANOELA ANDRADE PEREIRA 
 
A BUSCA DA EFICIÊNCIA NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS: 
A EVOLUÇÃO ELGISLATIVA E O PROJETO DE LEI Nº 6.814/2017 
 
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Faculdade de Direito da 
Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel 
em Direito. 
 
Aprovada em ____ de julho de 2018. 
BANCA EXAMINADORA 
 
________________________________________________________ 
Rita Tourinho – Orientadora 
Mestre em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 
Universidade Federal da Bahia 
 
_________________________________________________________ 
José Soares Neto – Examinador 
Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
Faculdade Baiana de Direito 
 
________________________________________________________ 
Durval Carneiro Neto – Examinador 
Doutor em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) 
Universidade Federal da Bahia 
3 
 
PEREIRA, Manoela Andrade. A busca da eficiência nas licitações públicas: a evolução 
legislativa e o Projeto de Lei nº 6.814/2017. 91 fls. Monografia (Graduação) – Faculdade de 
Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. 
 
 
RESUMO 
A administração pública, a fim de exercer suas atividades básicas, constantemente contrata de 
particulares a execução de serviços e aquisição de bens dos quais necessita. Para tanto, utiliza-
se das licitações, procedimento que poderá resultar na assinatura de contrato administrativo. A 
prática de tais institutos, muito usuais no dia-a-dia da administração pública, revela a 
ocorrência de desvios, fraudes e corrupção, que acabam trazendo enormes prejuízos aos 
cofres públicos. O Estado é conhecido por pagar caro e contratar bens e serviços de má 
qualidade. Nesse contexto, a legislação representa importante fator que pode corroborar ou 
combater as práticas ilegais e indesejadas. A partir de uma análise dos diplomas normativos, o 
objetivo do presente trabalho é analisar a legislação brasileira no campo das licitações e 
contratos administrativos, partindo da Lei Geral de Licitações (Lei nº 8.666/93), até se chegar 
ao Projeto de Lei nº 6.814/2017, em tramitação na Câmara de Deputados. Pretende-se, com 
isso, demonstrar os entraves legais, a evolução em busca da eficiência e as expectativas em 
torno da possível futura Lei Geral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALAVRAS-CHAVES: LICITAÇÃO, CONTRATO ADMINISTRATIVO; 
CONTRATAÇÕES PÚBLICAS; LEI Nº 8.666/93; PROJETO DE LEI Nº 6814/2017; 
EFICIÊNCIA. 
 
 
4 
 
PEREIRA, Manoela Andrade. The search for efficiency in public bidding: legislative 
evolution and the Law Project 6.814/2017. 91 pg. Monograph (Bachelor) – Law Faculty, 
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. 
 
ABSTRACT 
Public administration, in order to prosecute their basic activities, usually contract private 
companies to execute services and acquisition of goods required as necessary. To reach 
desired goals, the biddings are used, as a procedure that may result in the signing of an 
administrative contract. Those practices reveal the common occurrence of misuse of public 
money, fraud and corruption, which end up bringing huge losses to the public safes. The state 
is known for paying high prices and hiring poor quality services. In this context, the 
legislation represents an important factor that can corroborate or combat illegal and unwanted 
practices. Based on an analysis of the normative documents, the objective of this work is to 
analyze Brazilian legislation in the field of biddings and administrative contracts, starting 
from the General Law of Tenders (Law 8,666 / 93), until Law Project 6,814 / 2017, it is a 
pending process at the Lower House of Deputies. The aim is to demonstrate the legal 
obstacles, the evolution in the search and efficiency around the expectations about the 
possible future General Law. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
KEYWORDS: BIDDING; ADMINISTRATIVE CONTRACT; PUBLIC PROCUREMENT; 
LAW 8.666/93; LAW PROJECT 6.814/2017 
 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 
CAPÍTULO 1 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E LICITAÇÕES ........................................ 10 
1.1 Conceitos e princípios constitucionais ............................................................................... 10 
1.2 Competência para legislar sobre a matéria ........................................................................ 13 
CAPÍTULO 2 – A LEI Nº 8.666/1993 ..................................................................................... 17 
2.1 Histórico ............................................................................................................................. 17 
2.2 Objetivo Licitatórios .......................................................................................................... 21 
2.2.1 isonomia .......................................................................................................................... 21 
2.2.2 seleção da proposta mais vantajosa ................................................................................ 22 
2.2.3 desenvolvimento nacional sustentável ............................................................................. 23 
2.3 Princípios Licitatórios ........................................................................................................ 26 
2.3.1 Vinculação ao instrumento convocatório........................................................................26 
2.3.2 Julgamento objetivo.........................................................................................................27 
2.3.3 Probidade administrativa................................................................................................28 
2.3.4 Adjudicação compulsória................................................................................................29 
2.3.5 Ampla competitividade....................................................................................................29 
2.4 A Eficiência com princípio licitatório implícito ................................................................. 30 
2.5 Entraves legais .................................................................................................................... 31 
2.5.1 Legalidade estrita e formalismo......................................................................................32 
2.5.2 Dilação do procedimento.................................................................................................34 
2.5.3 Sanções administrativas...................................................................................................38 
2.5.4 O risco da modalidade convite........................................................................................39 
2.5.5 Inocuidade da tomada de preços.....................................................................................42 
2.5.6Ausência de previsão da modalidade eletrônica..............................................................43 
2.5.7 Cláusulas exorbitantes.....................................................................................................44CAPÍTULO 3 – A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA .................................................................. 47 
3.1 A busca pela eficiência nos novos diplomas ...................................................................... 47 
3.2 Lei nº 10.520/2003: o pregão no ordenamento jurídico brasileiro ..................................... 49 
6 
 
3.3 As parcerias público-privadas: inovações nas concessões especiais da lei nº 11.079/2004
 .................................................................................................................................................. 55 
3.4 Regime diferenciado de contratação – RDC ...................................................................... 60 
3.5 Lei das estatais – lei nº 13.303/2016 .................................................................................. 66 
CAPÍTULO 4 – O PROJETO DE LEI Nº 6.814/2017 ............................................................. 70 
4.1 Origem e panorama............................................................................................................70 
4.2 Alterações existentes em outros diplomas..........................................................................72 
4.3 Demais alterações...............................................................................................................77 
4.3.1 Diálogo competitivo.........................................................................................................77 
4.3.2 Novos valores para dispensa de licitação........................................................................80 
4.3.3 Prazos...............................................................................................................................81 
4.3.4 Outras mudanças.............................................................................................................82 
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 85 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 89 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
INTRODUÇÃO 
A realidade brasileira tem demonstrado uma série de escândalos 
envolvendo as contratações da administração pública com particulares. Ainda que a 
Constituição Federal e as leis infraconstitucionais tentem regrar o procedimento a ser adotado, 
diariamente são noticiados superfaturamentos e fraudes em contratos de compras e prestação 
de serviços firmados pelos entes públicos. 
As fraudes mais corriqueiras nas licitações realizadas em nosso país 
são o superfaturamento, o direcionamento das licitações, contratações diretas viciadas e má 
qualidade das obras ou bens fornecidos. Trata-se de irregularidades consideradas graves, e 
que, de acordo com o Relatório Fiscobras 2017, elaborado pelo Tribunal de Contas da União e 
disponível em seu sítio eletrônico, foram constatadas em 76,5% das 94 obras auditadas, todas 
executadas com recursos da União. 
Essas fraudes maculam as contratações públicas constantemente, em 
todas as esferas federativas, gerando exorbitantes prejuízos ao erário público. Um dos casos 
mais emblemáticos é a operação Lava Jato, que descobriu, por exemplo, 11 (onze) contratos 
fraudulentos firmados somente entre governo e uma das construtoras envolvidas na 
investigação, que totalizaram prejuízos de R$5,6 bilhões à Petrobrás entre 2003 e 2014, 
segundo laudos apresentados pela Polícia Federal no bojo dos processos. 
Marçal Justen Filho faz referência à operação Lava Jato como 
“experiência que comprova que a exacerbação de formalidades e a sistemática de 
competências anômalas não assegura a obtenção do resultado mais vantajoso para os cofres 
públicos”.(JUSTEN FILHO, 2016; 22-23). Para ele, a revelação de tais irregularidades pela 
operação confirmou a inadequação dos modelos de licitação e contratações existentes no 
Brasil. 
Somente o Programa de Fiscalização por Sorteios, realizado pela 
Controladoria Geral da União, em sua 25ª edição, descobriu que na maioria dos 60 municípios 
fiscalizados havia indícios de montagem fraudulenta, simulação, direcionamento e outras 
irregularidades em processos licitatórios de acordo com dados divulgados no portal 
eletrônico. 
8 
 
Apurações feitas pela Controladoria-Geral da União (CGU) 
constataram que, de 120 municípios fiscalizados nas últimas duas edições do Programa de 
Fiscalização por Sorteios, 110 apresentaram algum tipo de problema relacionado a licitação, o 
que representa 91,66% do total. 
Nesses municípios, a irregularidade mais comum é a dispensa 
indevida do processo licitatório, verificada em 57 cidades (51,8%); em seguida, vêm os casos 
de simulação, com montagem e favorecimento no processo, descobertos em 50 municípios 
(45,45%). Em cinco unidades (4,54%), foi verificada também a existência de conluio entre os 
licitantes. 
No Estado da Bahia, por exemplo, no município de Iraquara, a 
empresa vencedora de uma licitação (carta convite) para a construção de uma quadra 
poliesportiva e dois laboratórios de informática em escolas municipais, no valor total de 
R$ 142 mil, repassou, através de endosso nos cheques, todo o valor recebido à sua 
“concorrente” na licitação e pertencente à mãe e a uma irmã do proprietário da empresa 
vencedora. 
Esse fato, segundo os fiscais, caracteriza situação de completa 
ausência de independência entre as empresas participantes do certame licitatório, ensejando 
graves prejuízos à competitividade no processo, e indícios de simulação da licitação e dos 
eventos correlatos, como os pagamentos e a execução dos serviços. 
Em que pese a existência de diplomas normativos que tentem coibir 
práticas abusivas, os cofres públicos constantemente são lesados. E por vezes, a própria 
legislação permite brechas ou não disciplina de maneira eficaz a matéria de sua competência. 
O atual modelo licitatório é demasiado moroso e burocrático. O apego 
do legislador ao legalismo e formalismo acabou por criar um diploma minucioso, que regra 
todo o procedimento a ser seguido, sem deixar margem de discricionariedade ao gestor 
público e culminando num maior gasto de tempo e recursos. 
A atual lei que disciplina as licitações, a Lei nº 8.666/93, foi alterada 
mais de 15 vezes durante os seus 20 anos de vigência, o que pode sinalizar uma possível 
inadequação do diploma à realidade econômica e social do país. 
http://www.cgu.gov.br/AreaAuditoriaFiscalizacao/ExecucaoProgramasGoverno/Sorteios/Municipios/Sorteio25/RM0251068-BA-Iraquara.pdf#_blank
9 
 
Outras leis versando sobre licitações e contratos surgiram ao longo 
dos anos, inclusive tendo sido criada nova modalidade de licitação, o Pregão, por meio da Lei 
10.520, de 17 de julho de 2002. Até mesmo leis sobre outras matérias trazem dispositivos 
específicos sobre licitações para certas situações, como é o caso da Lei das Estatais, lei nº 
13.303/16. 
Ainda que a produção normativa seja recorrente e extensa, os vícios e 
ilegalidades verificados no curso de procedimentos licitatórios e nos contratos ainda 
remanescem. 
Diante desse cenário não se pode negar as expectativas que surgem 
em torno do Projeto de Lei 6.814/17, que propõe nova Lei Geral de Licitações, revogando a 
atual Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 8.666/1993), a Lei do Pregão (nº 
10.520/2002) e Regime Diferenciado de Contratações (nº 12.462/2011). 
Por certo que a alteração legislativa não é a única solução para o 
cenário de crise nacional, até porque a aplicação da lei à realidade é etapa primordial na 
garantia do êxito nas contratações públicas. A prática já demonstrou que excesso de legalismo 
não implica em moralidade e eficiência administrativa. 
Os problemas das contratações públicas são variados, envolvendo 
aspectos políticos, falhas na gestão e entraves na legislação. Concentrando-se no aspecto legaldos problemas, arrisca-se dizer que é possível, através da Lei, construir um modelo de 
licitações e contratos administrativos mais condizentes com a realidade do país, de modo a 
acompanhar a evolução tecnológica e atender aos anseios e necessidades da sociedade e da 
administração pública. 
Assim, o objeto do presente trabalho é analisar a legislação pátria no 
campo das licitações e contratos administrativos, tendo como ponto de partida a Lei 8666, até 
se chegar ao Projeto de Lei em tramitação na Câmara de Deputados. 
Ao longo do trabalho serão pontuadas as inovações legislativas que 
foram aglutinadas no Projeto da nova lei, bem como aspectos novos do diploma, explicitando 
a busca por um modelo de licitação que, de fato, seja pautado na moralidade e eficiência. 
10 
 
CAPÍTULO 1 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E LICITAÇÕES 
1.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
A expressão Administração Pública, em sentido subjetivo ou formal, 
designa os entes que exercem atividade administrativa, compreendendo as pessoas jurídicas, 
órgãos e agentes públicos responsáveis por exercer a função administrativa. 
Em sentido objetivo ou material, designa a natureza da atividade 
exercida pelos entes acima elencados, significando, portanto, a própria função administrativa. 
Trata-se de classificação pacífica na doutrina.
1
 
 O ordenamento jurídico brasileiro, ao consagrar o Estado 
Democrático de Direito, opta por um modelo de estado subordinado à Constituição Federal e 
aos valores humanos, morais e éticos nela consagrados. 
Na esfera da Administração Pública não é diferente: a sua vontade 
decorre da lei, que fixa a finalidade a ser perseguida pelo administrador. Nesse sentido, a 
Carta Maior, de 5 de outubro de 1988, estabelece princípios e regras que são de observância 
obrigatória pela administração, seja ela direta ou indireta. 
Tem-se, nesse sentido, um regime jurídico administrativo que se 
desenvolveu baseado em duas vertentes: proteção aos direitos individuais frente ao estado e 
necessidade de satisfação dos interesses coletivos. Isto é, para além da aplicação das normas 
de direito público, tal regime estabelece prerrogativas e restrições ao Estado no exercício da 
função administrativa. 
O art. 37, caput, da Constituição Federal, ao disciplinar a atuação 
administrativa, em redação conferida pela emenda constitucional nº19 de 1993, estabelece os 
princípios gerais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
Legalidade é o principio que estabelece a reverência à lei, constituindo 
importante garantia individual, uma vez que a lei, além de prever direitos, também impõe 
restrições à atuação administrativa. O Estado somente pode agir quando autorizado por lei. Na 
Constituição Federal, a submissão da Administração Pública à Legalidade também decorre do 
 
1
 DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo. 28ª ed. Editora Atlas. São Paulo: 2015. 
11 
 
disposto no art.5º, II, segundo o qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei”. 
A impessoalidade impõe que a administração pública não atue com 
vistas a beneficiar ou prejudicar os administrados, mas paute seus comportamentos no 
interesse público e bem-estar social. Já a moralidade administrativa relaciona-se com a 
conduta do administrador em consonância não somente com a lei, mas com a moral, bons 
costumes, princípios de justiça e equidade e honestidade. 
O principio da publicidade determina uma atuação administrativa 
transparente, de modo que se permita o acesso de todos à atividade estatal. Por fim, o 
principio da eficiência é aquele que exige dos entes públicos qualidade nos seus produtos e 
serviços prestados. Para José Afonso da Silva, o princípio é atingido pelo melhor emprego dos 
recursos e meios (humanos, materiais e institucionais), para melhor satisfazer às necessidades 
coletivas num regime de igualdade dos usuários
2
. Ou seja, é a utilização dos melhores meios 
sem se distanciar dos objetivos da Administração Pública, atingindo a satisfação das 
necessidades coletivas. 
Além dos princípios constitucionalmente consagrados, podem-se 
mencionar os princípios da supremacia do interesse público e indisponibilidade do interesse 
público, considerados pilares do regime jurídico administrativo. O privilégio atribuído ao 
interesse público traduz uma superioridade do interesse da coletividade, demonstrando maior 
importância à persecução do bem estar social em detrimento de interesses particulares e sua 
indisponibilidade impede a renúncia de poderes públicos pelo administrador, que não pode 
deixar de exercê-los sob pena de prejuízo à coletividade. 
Segundo Maria Sylvia, tais poderes públicos têm o caráter de poder-
dever, porque a administração não pode deixar de exercer, sob pena de responder por 
omissão, de modo que todas as competências atribuídas ao gestor por lei precisam ser 
exercitadas. A não realização do poder-dever prejudica a persecução do interesse público. 
Nesse sentido, a fim de balizar a atuação administrativa, a 
Constituição Federal estabelece, em especial no art. 37, inúmeros comandos normativos a 
 
2
 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo. ed. 18. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 655-
656. 
12 
 
serem observados pelos órgãos e agentes públicos, com o intuito de perseguir os princípios 
acima mencionados. 
Dentre as normas constitucionais implementadoras de tais princípios 
pode-se citar a obrigatoriedade de concurso público para investidura em cargo ou emprego 
público, normas sobre remuneração de pessoal e seus limites, vedação de cumulação de 
cargos, e, diversas vezes, remete à legislação infraconstitucional a normatização da matéria. 
O inciso XXI do artigo em comento dispõe que “ressalvados os casos 
especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados 
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os 
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as 
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de 
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.”
3
 
Da leitura do comando constitucional infere-se que a administração 
não possui irrestrita liberdade quando necessita firmar contratos administrativos para 
persecução dos seus fins, mas, deve valer-se do instituto da Licitação quando for contratar 
obras, serviços, compras e alienações. Diversos autores elencam tal dispositivo constitucional 
como garantidor do princípio da impessoalidade, uma vez que a administração fica impedida 
de atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas por meio de contratações arbitrárias e 
revestidas de critérios subjetivos. 
A Constituição impõe, portanto, o uso da licitação para que se contrate 
com o particular. Licitação é um processo administrativo que visa assegurar igualdade de 
condições a todos que queiram realizar um contrato com o Poder Público. 
Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, “Licitação – em suma 
síntese – é um certame que as entidades governamentais devem promover e no qual abrem 
disputa entre os interessados em com elas travar determinadas relações de conteúdo 
patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa às conveniências públicas. Estriba-se na 
 
3
 Art. 37, XXI, CF/1988. 
13 
 
ideia de competição, a ser travada isonomicamente entre os que preencham os atributos e 
aptidões necessários ao bom cumprimento das obrigações que se propõem assumir”.
4
 
Odete Medauar entende que, “Licitação, no ordenamento brasileiro, é 
processo administrativo em que a sucessão de fases e atos leva à indicação de quem vai 
celebrar contrato com a Administração.Visa, portanto, a selecionar quem vai contratar com a 
Administração, por oferecer proposta mais vantajosa ao interesse público. A decisão final do 
processo licitatório aponta o futuro contratado”.
5
 
Assim, ressalvadas as exceções previstas em lei, a administração 
pública direta, indireta e subsidiárias, deve valer-se do procedimento administrativo da 
Licitação para firmar contratos com particulares, sejam estes relativos a compras, alienações, 
concessões, permissões, prestação de serviços. 
1.2 COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE A MATÉRIA 
A Constituição Federal, ao instituir o sistema federativo, repartiu as 
competências legislativas entre União Federal, Estados e Municípios. Nas palavras de Uadi 
Lammêgo Bulos, “Competências federativas são parcelas de poder atribuídas, pela soberania 
do Estado Federal, aos entes políticos, permitindo-lhes tomar decisões, no exercício regular de 
suas atividades, dentro do círculo pré-traçado pela Constituição da República.(...) O exercício 
harmônico dessas atribuições é responsável pela manutenção do pacto federativo, pois uma 
entidade não pode adentrar o campo reservado à outra, praticando invasão de competências”.
6
 
Assim, baseando-se na preponderância de interesses relativos às 
inúmeras matérias a serem legisladas, a constituição as reparte entre os entes as competências 
decorrentes do principio federativo. 
Algumas matérias são de competência privativa da união, como 
legislar sobre direito civil, comercial, penal, eleitoral, agrário, dentre outros, de acordo com o 
Art. 22, I da carta maior. Trata-se de temas de interesse nacional que exigem regramento 
isonômico em todo território. 
 
4
 MELLO, Celso Antônio Bandeiro de. Curso de Direito Administrativo. 17ª ed. Malheiros Editores. São Paulo: 
2004. p. 483. 
5
 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 4ª ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais , 2000. p. 205. 
6
 BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 764. 
14 
 
Outras matérias são de competência legislativa comum, isto é, Estados 
e Municípios podem legislar sobre a matéria, desde que não contraponham as normas postas 
pela União. Nesse quadro insere-se o direito administrativo, uma vez que a atividade 
administrativa apresenta peculiaridades em função das características locais, impondo uma 
normatização específica que atenda aos interesses dos diferentes entes federativos e suas 
populações. 
Em relação a alguns temas, em que pese as peculiaridades do interesse 
local, é de interesse nacional que exista uma uniformização básica, a fim de evitar legislações 
muito discrepantes em cada um dos entes federativos. Surge, nesse contexto, a competência 
da União para legislar sobre normas gerais, diminuindo assim a autonomia federativa. São 
casos em que existe competência legislativa concorrente, como explicitado no art. 24, §1º, 
hipótese em que estados e municípios legislam sobre temas específicos. 
Excepcionalmente no caso de licitações e contratados administrativos, 
a CF optou por mesclar as situações acima expostas e criou a figura da competência privativa 
da União para legislar sobre normas gerais atinentes a licitações e contratos, como se infere da 
leitura do art. 22, XXVII. Constata-se, portanto, que não há competência concorrente dos 
demais entes para legislar sobre normas gerais de licitações e contratos, ainda que houvesse 
omissão federal. 
A Lei Federal nº 8.666, publicada em 21 de junho de 1993 é o 
diploma responsável por regulamentar o art. 37, XXI da Constituição federal. Ocorre que o 
diploma traz, também, normas especiais (ou não gerais), que são, teoricamente, de 
observância obrigatória apenas para a União. 
O problema é que, a despeito da Lei 8.666 trazer normas gerais e 
normas especiais, o seu art. 1º de logo já dispõe que “esta lei estabelece normas gerais sobre 
licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, 
compras alienações e locações no âmbito dos poderes da União, dos estados, do distrito 
federal e dos Municípios”. 
Ou seja, a lei supõe que todas as suas normas são gerais e de 
observância obrigatória, o que restringe demasiadamente a competência dos demais entes de 
legislar sobre a matéria em questão. 
15 
 
Parte da doutrina considera inconstitucional o dispositivo em 
comento, a exemplo de Maria Sylvia Di Pietro, afirmando que “A inconstitucionalidade do 
artigo 1º da Lei nº 8.666/93 é manifesta, porque não deixa para que Estados e Municípios 
legislem em matéria de licitação e contrato administrativo”. 
7
 
Esperava-se que a própria lei distinguisse entre as normas gerais e 
especiais contidas em seu corpo, uma vez que o conceito “normas gerais” é demasiado 
indeterminado e acaba por gerar conflitos na aplicação da lei, dificultando ainda mais o 
exercício da competência legislativa que foi constitucionalmente reservada aos estados e 
municípios. 
A discussão prática acerca da diferenciação entre normas gerais e 
normas especiais chegou ao Supremo Tribunal Federal, que reconheceu, no julgamento da 
ADI nº 927-3 (MC)
8
, que as normas de caráter específico contidas na Lei nº 8.666/93 são 
aplicáveis apenas à própria União, não vinculando os Estados e os Municípios que poderão 
dispor em contrário em suas respectivas legislações. 
Na oportunidade do julgamento, vislumbrou-se a tentativa de 
definição do conceito de "norma geral", não havendo, contudo, consenso. Em sede de seu 
voto, assentou o relator, Ministro Carlos Velloso: Penso que essas 'normas gerais' devem 
apresentar generalidade maior do que apresentam, de regra, as leis. Penso que 'norma geral', 
tal como posta na Constituição, tem o sentido de diretriz, de princípio geral. A norma geral 
federal, melhor será dizer nacional, seria a moldura do quadro a ser pintado pelos Estados e 
Municípios no âmbito de suas competências (...) Não são normas gerais as que se ocupem de 
detalhamentos, pormenores, minúcias, de modo que nada deixam à criação própria do 
legislador a quem se destinam, exaurindo o assunto de que tratam (...). 
Para Marçal Justen Filho, seriam gerais os regramentos relativos a 
“A) requisitos mínimos necessários e indispensáveis à validade da contratação administrativa; 
B) hipóteses de obrigatoriedade e de não obrigatoriedade de licitação; C) requisitos de 
participação em licitação; D) modalidades de licitação; E) tipos de licitação; F) regime 
 
7
 DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo. 28ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005. P. 411. 
8
 ADI 927 (MC)/RS. Tribunal Pleno. Rel. Min. Carlos Velloso. J. em 03/11/1993, p. em DJ 11/11/1994, p. 
30.635. 
 
16 
 
jurídico de contratação administrativa.”
9
 Todo o restante seria matéria passível de 
regulamentação pelos demais entes federativos. 
Assim, pode-se dizer que existe competência legislativa dos demais 
entes federados no campo das licitações, em nome do principio federativo. Entretanto, na 
prática, os estados e municípios muitas vezes absorveram a legislação federal, deixando de 
exercer a competência a que fazem jus. 
Nesse contexto é que surge a Lei nº 8.666/93 como Lei Geral de 
Licitações e contratos administrativos, trazendo normas especiais e gerais acerca do tema e 
que hoje possui diversas alterações em sua redação original, objeto de análise e críticas do 
próximo capítulo do trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 17ª ed. São Paulo: 
2016, p. 27. 
17 
 
CAPÍTULO 2 – A LEI Nº 8.666/1993 
2.1 HISTÓRICO 
Os mais antigos diplomas normativos voltados à disciplina das 
licitações públicas, ainda que de forma não exclusiva, são o Código de Contabilidade da 
União (Decreto 4.536/1922) e o Regulamento Geralde Contabilidade Pública (Decreto 
15.783/1922). Ressalte-se, em verdade, que o termo Licitação foi cunhado somente anos mais 
tarde, com o Decreto 200/1967. Até então se referia ao procedimento de contratações apenas 
como ‘concorrências’. 
Durante esse período, até especificamente o ano de 1967, não existia 
uma unificação nacional quanto ao tema das licitações, de modo que os diplomas 
mencionados continham diretrizes para a seleção de fornecedores para a Administração 
Pública Federal, nada dizendo quanto ao procedimento licitatório em Estados e Municípios. 
Apenas com o decreto 2.416/1940 ficou estabelecida para esses entes públicos a obrigação 
geral de realizar concorrências para compras governamentais, inexistindo determinações 
quanto ao regramento processual a ser adotado. 
Em linhas gerais, pode-se dizer que o Código de Contabilidade e o 
Regulamento Geral de Contabilidade atribuíam enorme importância e autonomia ao edital, 
uma vez que permitiam ao instrumento convocatório disciplinar as exigências dos 
procedimentos licitatórios. 
Além disso, vale destacar que eram poucas as exigências para que os 
interessados se habilitassem, limitando-se a comprovação de inidoneidade das empresas e 
pessoas, aferida por meio de processo administrativo. Isso significa que as concorrências não 
restringiam o acesso de interessados, podendo o edital prever outros requisitos de habilitação 
se assim desejasse a Administração. 
Pode-se dizer que, no período de vigência dessas normas, a 
Administração Pública contava com elevado grau de discricionariedade, considerando que 
poderia adequar o procedimento ao caso concreto, inovando sempre que entendesse 
necessário, já que os decretos não descreviam minuciosamente as etapas e requisitos do 
processo prévio às contratações públicas. 
18 
 
Em 25 de fevereiro de 1967, durante a vigência do Governo Miliar, foi 
editado o Decreto 200, que dispôs sobre a organização da Administração Pública Federal e 
estabeleceu diretrizes para a reforma administrativa do estado. Frise-se que a iniciativa das 
mudanças partiu da própria administração pública
10
, que foram impostas por meio de ato 
unilateral do chefe do executivo, que de acordo com a Constituição então em vigor, se não 
fosse votado pelo congresso nacional no prazo de 60 dias passava a integrar definitivamente o 
ordenamento jurídico. 
O Decreto, que com o advento da Lei 5.456/68 passou a ser aplicável 
também aos estados e municípios, em resumo, manteve certa margem de discricionariedade 
da administração para decidir a melhor maneira de efetuar as compras governamentais no 
caso concreto. 
As licitações passaram a ser obrigatórias para compras, obras e 
serviços contratados inclusive pela administração indireta. Foi aumentado o rol de requisitos 
para habilitação; criadas as modalidades concorrência, tomada de preço e convite; ampliação 
do rol de penalidades, dentre outros regramentos. 
Em Seguida, foi elaborado o Decreto 2.300/1986, por iniciativa da 
Consultoria Geral da República. Assim, tem-se que mais uma vez a iniciativa de alteração 
normativa adveio da própria administração pública, sem que passasse pelo crivo do congresso 
nacional, e também de forma autoritária, ainda que em período democrático. 
Este momento das licitações públicas, nas palavras de André Rosilho, 
esteve impregnado pela crença no papel transformador do Direito, na sua capacidade de 
conformar e modificar a realidade que o cerca. Como consequência, a nova legislação é 
marcada por uma regulação abrangente e minuciosa sobre a matéria. 
Rosilho destaca ainda que o eixo do diploma passou a ser o combate à 
corrupção nas contratações públicas
11
, representado pela reverência aos princípios da 
igualdade, probidade e publicidade. Assim, foram formuladas regras que impedissem o 
caráter discriminatório das licitações e garantissem a competitividade. 
 
10
 ROSILHO, André. Licitação no Brasil. Editora Malheiros. São Paulo: 2013. P. 66. 
11
 ROSILHO, André. Licitação no Brasil. Editora Malheiros. São Paulo: 2013. P. 70 
19 
 
Para tanto, em nome do interesse publico, foi retirada da 
administração a ampla margem de discricionariedade que lhe era atribuída anteriormente. O 
Edital da licitação deixa de ter um espaço de reverência na escolha dos caminhos próprios de 
cada realidade, abrindo espaço para regramento exaustivo e minucioso trazido pelo Decreto. 
O decreto 2.300 passou a diferenciar dispensa de inexigibilidade; 
criou novos casos e discriminou-os mais detalhadamente; passou a distinguir projeto básico 
de executivo; expandiu o dever de licitar também para as empresas estatais. 
Em suma, o diploma antecipou, em si, várias decisões que 
anteriormente eram de competência da administração pública no bojo do edital de 
convocação. O edital e o gestor público perderam espaço para um diploma detalhista, que 
tornou as contratações públicas mais objetivas. 
A Constituição Federal de 1988, no capítulo VII do Título III trouxe a 
disciplina normativa da administração pública. O dispositivo responsável pela 
constitucionalização do dever de licitar é o art. 37, XXI. O próprio texto constitucional 
estabeleceu um núcleo rígido da abrangência do dever de licitar, e forneceu ainda parâmetros 
a serem observados pelo legislador infraconstitucional quando fosse regulamentar o tema. 
Importante destacar que o art. 175 da CF foi o responsável por 
estender o dever de licitar aos casos de delegação a particulares de prestação de serviços 
públicos nos regimes de concessão e permissão. 
Na visão de André Rosilho, a Carta Maior acabou fortalecendo o 
discurso de valorização dos princípios e regras jurídicos em detrimento da liberdade do 
Estado, culminando com uma significativa ampliação dos mecanismos de controle sobre a 
atividade administrativa. 
Nesse contexto é que foi aprovada, em 21 de junho de 1993, a Lei nº 
8.666, que, conforme se verá, não rompeu com o modelo de licitações então existente com a 
vigência do decreto 2.300/1986. 
Ainda que não seja o objeto do presente trabalho, cumpre destacar o 
contexto político vivenciado pelo Brasil no período de produção, tramitação e aprovação da 
20 
 
atual lei de licitações. Isso porque, através da análise do quadro político é possível entender a 
opção do legislador por um diploma abrangente e detalhista. 
O projeto de Lei 1.491/1991 foi proposto no ano em que surgiram as 
suspeitas de compras superfaturadas na administração do então presidente Fernando Collor de 
Mello. Como se sabe, a instauração da comissão parlamentar de inquérito foi seguida pela 
abertura do processo de impeachment e posterior cassação do mandado do líder do executivo. 
Assim, considerando que o foco das discussões no momento era a 
corrupção no seio das contratações públicas, tinha-se um ambiente propício ao surgimento de 
novo diploma que versasse sob a matéria e buscasse corrigir os erros e brechas deixados pelo 
decreto 2.300/1986. 
Some-se a isso a crença de que a lei é capaz de cercar a corrupção e de 
moralizar a administração pública, conforme se infere do discurso de parlamentares, a 
exemplo do senador Gerson Camata, “Depois da votação do impeachment, esse é o passo 
[aprovação da nova lei de licitação] mais importante que o Congresso Nacional dá na 
tentativa de ‘se passar a limpo’ e de melhorar as condições de moralidade pública e da 
Administração Pública brasileira.”
12
 
Entretanto, em que pese as críticas ao diploma então em vigência, a 
Lei 8.666 não rompeu com o modelo existente, mas trouxe somente inovações pontuais ao 
regramento anterior, representando uma reforma nada drástica. 
Dessa forma, pode-se concluir que a atual lei de Licitações 
aprofundou o modelo de normatização exaustiva já existente, apostando em normas precisas, 
objetivas, detalhistas e direcionadas. Tal postura culminou com a redução de 
discricionariedadeda administração pública e valorização do princípio da isonomia entre 
competidores. A lei decidiu, de antemão, os critérios e procedimentos que conduziriam à 
melhor contratação pública. 
Nesse sentido, a Lei 8.666, ainda que não seja a única responsável 
pelas recorrentes fraudes nas licitações e contratações públicas, possui alguns entraves que 
acabam por distanciar o procedimento licitatório dos princípios e fins trazidos em seu próprio 
texto. 
 
12
 Diário do Congresso Nacional-Seção II 22.1.1993, p. 600. 
21 
 
A seguir, serão elencados alguns dos entraves legais que vão de 
encontro aos princípios licitatórios. Para isso, primeiramente, serão analisados brevemente os 
objetivos e os princípios típicos do processo licitatório, deixando de abortar os princípios 
gerais também previstos no art. 3º e já mencionados anteriormente. 
2.2 OBJETIVOS LICITATÓRIOS 
2.2.1 ISONOMIA 
A licitação consiste em um instrumento jurídico para afastar a 
arbitrariedade na escolha do contratante, sem preferências pessoais e subjetivas do 
administrador. Nesse contexto, a observância do princípio constitucional da isonomia é um 
dos fins da licitação, e visa não apenas permitir à administração a escolha da melhor proposta, 
como também assegurar igualdade de direitos a todos os interessados em contratar. Portanto, 
pode-se dizer que a isonomia tutela ao mesmo tempo interesses individuais e coletivos. 
O tratamento igualitário e isonômico a todos os licitantes garante a 
competitividade, condição favorável ao ente licitante. Entretanto, a própria lei abre exceções 
às distinções entre participantes, que devem ser analisadas levando-se em consideração a 
proporcionalidade e razoabilidade. Vários dispositivos legais consolidam esse principio, como 
o §5º do art. 30, que veda “a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com 
limitações de tempo ou de época ou ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não 
previstas nesta Lei, que inibam a participação na licitação” e §3º do art. 42 que estabelece 
igualdade entre as garantias de pagamento do licitante brasileiro e estrangeiro. 
O procedimento da licitação somente permitirá discriminações 
justificáveis, desde que previstas em lei e no instrumento convocatório, sob pena de ofensa 
direta à Constituição Federal. As exigências de qualificação técnica e econômica, por 
exemplo, são permitidas apenas quando indispensáveis à garantia do cumprimento das 
obrigações. 
Para Celso Antonio Bandeira de Mello as discriminações são 
recebidas como compatíveis com a cláusula igualitária apenas e tão somente quando existe 
um vínculo de correlação lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida, por residente no 
22 
 
objeto, e a desigualdade de tratamento em função dela conferida. O que se proíbe são 
desequiparações fortuitas ou injustificadas. 
13
 
O tratamento igualitário aos interessados é condição indispensável 
para que seja garantida a competitividade do certame, podendo-se dizer que há estreita relação 
entre ambos. A partir do momento que a administração oferece tratamento diferenciado, com 
preferencias e uso de critérios subjetivos, os interessados não contemplados deixam de ser 
competidores em potencial, porque passam a estar em desvantagem, dificultando o êxito de 
suas propostas. 
O TCU já se manifestou no sentido de que a restrição à 
competitividade é causa que enseja a nulidade da licitação
14
, corroborando com ideia de que o 
tratamento isonômico, ao garantir a competitividade, relaciona-se diretamente com a obtenção 
de proposta mais vantajosa, e, portanto, é de extrema importância a sua fiel observância em 
todos os atos do certame. 
Assim, tem-se a isonomia para além de um princípio cuja observância 
é um dos objetivos buscados pelas licitações, conforme expresso no art. 3º, caput, da Lei nº 
8.666/93, ou seja, a finalidade do procedimento licitatório é assegurar a igualdade de 
condições Àqueles que desejam oferecer propostas para futuras contratações com a 
Administração Pública. 
2.2.2 SELEÇÃO DA PROPOSTA MAIS VANTAJOSA 
Outra finalidade da licitação estabelecida em lei é a obtenção de 
solução contratual economicamente mais vantajosa para a Administração. Diante do cenário 
de escassez de recursos estatais, frente às inúmeras demandas sociais, é dever do 
administrador usar da melhor forma possível os recursos econômicos, de modo a aproveita-los 
racionalmente, evitando-se custos desnecessários. 
A vantagem caracteriza-se como adequação e satisfação do interesse 
coletivo por via da execução do contrato. Para Marçal devem ser conjugados dois aspectos: a 
 
13
 “Principio da isonomia: desequiparações proibidas e desequiparações permitidas”, Revista Trimestral de 
Direito Público 1/83. São Paulo: Malheiros, 1993. 
14
 Acórdão plenário 1556/2007. 
23 
 
administração assume o dever de realizar a prestação menos onerosa e o particular se obriga a 
realizar a melhor e mais completa prestação.
15
 
A seleção da proposta mais vantajosa também possui outras 
dimensões, para além da perspectiva econômica, como por exemplo, a defesa do meio 
ambiente. Uma proposta apresentada pode ser mais ecologicamente nociva, sendo, portanto 
mais vantajosa para a administração nesse aspecto. Isto porque a vantajosidade relaciona-se 
com atender aos interesses coletivos, o que pode ser feito de inúmeras maneiras. 
2.2.3 DESENVOLVIMENTO NACIONAL SUSTENTÁVEL 
A terceira das finalidades elencadas pela lei nº 8.666, em redação dada 
pela Lei nº 12.349/2010, é a promoção ao desenvolvimento nacional sustentável. Isto é, a 
contratação administrativa deve ser instrumento para produzir resultado mais amplo do que o 
simples aprovisionamento de bens e serviços. 
16
 
Ao selecionar a proposta mais vantajosa a administração é obrigada a 
ponderar o prisma do desenvolvimento sustentável, de maneira a atribuir preferências aos 
participantes que apresentem instrumentos de proteção ao meio ambiente e ao 
desenvolvimento social e econômico. 
A promoção do desenvolvimento nacional é de extrema importância, e 
por isso constitui um dos fins da República Brasileira, consagrada no art. 3º, II da 
Constituição Federal. Os direitos e garantias previstos constitucionalmente dependem do 
desenvolvimento nacional, e as licitações e contratos administrativos representam um dos 
caminhos que a administração dispõe para garantir esse desenvolvimento, da forma mais 
sustentável possível. 
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento 
definiu desenvolvimento sustentável como aquele “que satisfaz as necessidades presentes, 
sem comprometer a capacidades das gerações futuras de suprir suas próprias 
necessidades”.
17
 Isso significa que os acréscimos econômicos não podem fazer-se à custa do 
 
15
 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Revista dos 
Tribunais. 17ª ed. São Paulo: 2016. P. 97. 
16
 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Revista dos 
Tribunais. 17ª ed. São Paulo: 2016. P. 100. 
17
 Definição constante no Relatório Brundtland de 1987. Documento em Nosso futuro comum, 2. Ed., Rio de 
Janeiro: FGV, 1991. 
24 
 
comprometimento do meio ambiente, impondo-se uma compatibilização entre riqueza e 
natureza. 
O princípio do desenvolvimento sustentável, para Egon Bockman e 
Fernando Vernalha, possui três componentes: a sustentabilidade sociopolítica, a 
sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade econômica, aos quais elencam como razões de 
cada um deles, respectivamente, a equidade social, a proteção do meio ambiente e o 
crescimento econômico. 
A sustentabilidade sociopolítica reverencia os direitos humanos e a 
diversidade cultural e vê o desenvolvimento como um direito das pessoas porqueserem 
dotados de individualidades. Nessa vertente pode-se destacar a preocupação social, quando, 
por exemplo, o art. 3º, §2º, V da Lei 8.666 estabelece preferência em caso de empate para os 
licitantes que comprovem cumprirem a reserva de cargos para deficientes, ou ainda quando o 
art. 24, XX, traz uma hipótese de dispensa de licitação para contratação de associação de 
portadores de deficiência sem fins lucrativos. 
Vê-se, portanto, que o texto legal busca fomentar a empregabilidade 
dessas pessoas como integrar e socializar, em total consonância com a Lei 13.146/2015, o 
Estatuto das Pessoas com Deficiência, que foi, inclusive, a responsável por trazer alterações 
na Lei 8666 destacadas acima. 
Já a vertente econômica busca escolhas conscientes das consequências 
ecológicas e subjetivas para as futuras gerações.
18
 Trata-se de, por meio da ponderação de 
interesses, alcançar a solução que seja mais benéfica aos cofres públicos e também ao meio 
ambiente e à sociedade. 
No que concerne à sustentabilidade ambiental, pode-se dizer que essa 
vertente se preocupa com a estabilidade dos ecossistemas e condições de vida de todo e 
qualquer ser vivo. Em 2009, por exemplo, foi editada a Lei 12.187, que institui como critério 
de preferência em licitações no âmbito das PPP´s e nas concorrências para autorização, 
permissão, outorga e concessão para exploração de serviços públicos a existência de propostas 
que propiciem maior economia de energia, água, ou qualquer outro recurso natural, bem como 
redução de emissão de fases de efeito estufa e de resíduos. 
 
18
 MOREIRA, Egon Bockman e GUIMARÃES, Fernando Vernalha. Licitação Pública. São Paulo: Malheiros 
Editores, 2012. 
25 
 
No ano seguinte, em 2010, o Ministério do Planejamento editou, em 
19 de janeiro, a Instrução Normativa 01, que “dispõe sobre os critérios de sustentabilidade 
ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública 
Federal direta, autárquica e fundacional”.
19
 
O TCU tem precedente, inclusive, no sentido de aceitar que o Estado 
pague preços ligeiramente maiores se houver o fomento ao desenvolvimento sustentável, 
como pode ser visto no Acórdão Plenário 1.375/2015, Rel. Min. Bruno Dantas, onde o 
tribunal entendeu que “é legítimo que as contratações da administração pública se adequem 
aos novos parâmetros de sustentabilidade ambiental, ainda que com possíveis reflexos na 
economicidade da contratação.” 
Rafael Rezende
20
 destaca a função regulatória da licitação, situação 
em que o poder de compra estatal é utilizado para fomentar o crescimento econômico do país, 
notadamente pelo desenvolvimento da indústria nacional, como se verifica das várias 
preferencias estabelecidas na lei.
21
 
Essa função regulatória exige das licitações que se prestem para além 
da mera escolha da proposta mais vantajosa para ser firmado contrato público, mas espera que 
o procedimento seja capaz de atender Às finalidades públicas, em especial aquelas previstas 
na constituição federal, como o desenvolvimento sustentável. Mas o autor frisa que, 
evidentemente, não se pode perder de vista que as contratações públicas precisa atender as 
necessidades administrativas, sendo descabido pensar que podem servir de solução para todos 
as ineficiências estatais. É preciso pensar em soluções a luz da proporcionalidade e da 
razoabilidade. 
O que é viável, e mesmo desejável, é que as licitações públicas 
busquem garantir um aproveitamento consciente dos recursos naturais e humanos disponíveis, 
evitando esgotamentos que sejam prejudiciais às futuras gerações. Assim, parte das atenções 
dos procedimentos licitatórios deve estar voltada à prevenção e precaução, formas de 
intervenção a priori. 
 
19
Instrução normativa completa disponível em: https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-
arquivos/INSTRUCAO%20NORMATIVA%20N.%2001%20de%202010%20-
%20Compras%20Sustentav.pdf/view Acesso em 07/06/2018 
20
 OLIVEIRA, Rafael Rezende Carvalho. Licitações e contratos administrativos. Teoria e prática. 6ª ed. Editora 
Método. SÃO PAULO:2017. 
21
 Lei 8.666 art. 3º, §§ 5º a 8º. 
https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/INSTRUCAO%20NORMATIVA%20N.%2001%20de%202010%20-%20Compras%20Sustentav.pdf/view
https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/INSTRUCAO%20NORMATIVA%20N.%2001%20de%202010%20-%20Compras%20Sustentav.pdf/view
https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/INSTRUCAO%20NORMATIVA%20N.%2001%20de%202010%20-%20Compras%20Sustentav.pdf/view
26 
 
Desse modo, os procedimentos licitatórios e contratos administrativos 
devem garantir a persecução do objetivo administrativo sem olvidar da preservação dos 
recursos naturais e fomento ao desenvolvimento nacional. 
2.3 PRINCÍPIOS LICITATÓRIOS 
2.3.1 VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO 
O art. 41 da lei de licitações dispõe que a Administração não pode 
descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada. Mesmo 
que o edital contenha vícios, não podem os atos administrativos serem praticados em 
desconformidade, devendo a administração anular todo o procedimento já ocorrido e fazer 
republicar o edital. 
Na lição de Diógenes Gasparini, trata-se de “ato administrativo 
normativo através do qual a pessoa licitante noticia a abertura de licitação em uma das 
modalidades, fixa as condições de sua realização e do contrato e convoca os interessados para 
apresentação das propostas”, possuindo, portanto, “função divulgadora, função reguladora e 
função convocatória”
22
. 
O principio da vinculação ao instrumento convocatório pode ser 
considerado uma limitação material e procedimental ao certame
23
, uma vez que a partir da sua 
divulgação a administração e os particulares se subordinam a ele, sendo vedado tanto à 
atuação pública quando às propostas a serem apresentadas pelos interessados se distanciarem 
das determinações editalícias. 
Nesse sentido tem-se que o edital, em regra, não pode ser alterado 
após a sua publicação. Apenas situações excepcionais permitem a alteração do instrumento 
convocatório, hipótese em que devem ser publicadas as alterações com consequente 
renovação do prazo inicialmente estabelecido. 
O principio da vinculação ao instrumento convocatório faz com que a 
administração proceda de maneira exaustiva quando da confecção do edital. É nesse momento 
 
22
 GASPARINI, Diógenes. Instrumento convocatório das licitações. ILC 131/6, Curitiba: Revista Zênite de 
Licitações e Contratos. Janeiro/2005. 
23
 MOREIRA, Egon Bockamn, GUIMARÃES, Fernando Vernalha. Licitação Pública – a lei geral de licitação e 
o regime diferenciado de contratação. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2015. 
27 
 
que os entes poderão atuar com certa margem de discricionariedade, ao estabelecer objeto, 
condições de julgamento, critérios e exigências. Assim, considerando a regra da 
inalterabilidade do edital após a publicação, deve a administração incluir do instrumento 
convocatório tudo que entende pertinente, sob pena de não mais poder alterar o ato 
convocatório e culminar em contratações indesejadas. 
De acordo com a jurisprudência do STF, a administração, bem como 
os licitantes, estão vinculados aos termos do edital, sendo-lhes vedado ampliar o sentido de 
suas cláusulas, de modo a exigir mais do que nelas previsto.
24
 Nas palavras do Ministro do 
STJ Humberto Martins, “sob essa ótica, o principio da vinculação se traduz na regra de que o 
instrumento convocatório faz lei entre as partes, devendo ser observados os termos do edital 
até o encerramento do certame”. 
25
 
Tem-se, portanto, um ato administrativo de natureza regulamentar 
vinculante, que se desdobra no tempo e é criado para disciplinar a relação jurídico-processual 
que se desenvolveráentre administração, interessados e terceiros. 
2.3.2 – JULGAMENTO OBJETIVO 
O principio do julgamento objetivo pode ser considerado como 
decorrência dos princípios da isonomia e da moralidade. O que o legislador pretendeu foi 
afastar a parcialidade do administrador, impedindo que o subjetivismo e as distinções 
fundadas em caracteres pessoais dos interessados interfiram na escolha do vencedor. 
Assim, a condução do procedimento e o julgamento das propostas 
subordinam-se apenas aos critérios objetivos fundados no edital. Isto é, o instrumento 
convocatório trará condições reais, concretas, que podem ser objetivamente aferidas, e que, 
sendo atendidas, indicarão qual interessado firmará contrato com a administração. 
Esse princípio é de suma importância para as licitações num contexto 
onde os administradores burlam os procedimentos a fim de privilegiar empresas que lhes 
pagam para tanto. A observância estrita do principio do julgamento objetivo permite que o 
interessado mais apto a atender os interesses públicos, e portanto, coletivos, vença o certame, 
excluindo aqueles que almejam o interesse particular de seus sócios e representantes. 
 
24
 MS-AgR 24.555/DF, 1ª T., rel. Min. Eros Grau, j. em 21.02.2006, DJ de 31.03.2006 
25
 REsp 1.384.138/RJ, 2ª T., rel. Min Humberto Martins, j. em 15.08.2013, DJ em 26.08.2013. 
28 
 
Importante destacar que para que o julgamento objetivo seja 
garantido, faz-se necessário um instrumento convocatório igualmente objetivo, descritivo e 
minucioso, não deixando margem para interpretações subjetivas. Quanto mais claro e sucinto 
for o texto do edital maiores chances terão o julgamento das propostas de ser totalmente 
baseado na objetividade. . 
Dessa forma, o julgamento objetivo proíbe discriminações sem 
fundamentos e desnecessárias à persecução do fim almejado com a licitação. Não significa 
que o edital não poderá prever critérios de qualificação técnica, por exemplo, mas para tanto, 
precisará justificar a imprescindibilidade de tal imposição à realização do objeto. 
2.3.3 – PROBIDADE ADMINISTRATIVA 
O principio da probidade administrativa muito se aproxima do já 
analisado princípio da moralidade, que impõe uma atuação pública em consonância com 
valores fundamentais consagrados pelo ordenamento jurídico. 
Analisados mais de perto, pode-se dizer que ao princípio da probidade 
soma-se um aspecto econômico, isto é, a probidade consiste não apenas na violação de um 
dever ético, mas configura uma prática que produz efeitos patrimoniais reprováveis. 
26
 
A ação em sentido oposto ao esperado pelo princípio em comento é a 
chamada improbidade administrativa, que revela a característica do gestor que não procede de 
maneira adequada, seja porque não é honesto, porque atua indignamente, seja porque não 
demonstra caráter ou atuação decente e moral. Nesse sentido, a moralidade compreenderia um 
conjunto de valores inerentes à existência humana e a probidade seria o agir em consonância 
com tais valores diante das atividades a serem desenvolvidas no exercício de cargo, emprego 
ou função pública. 
O ato de imoralidade afronta a honestidade, a boa-fé, o respeito à 
igualdade, as normas de conduta aceitas pelos administrados, o dever de lealdade, a dignidade 
humana e outros postulados éticos e morais. Por sua vez, a improbidade relaciona-se à má 
qualidade na função de administrar, através de atos que implicam o enriquecimento ilícito do 
 
26
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Revista dos Tribunais. 
17ª ed. São Paulo: 2016. P. 116. 
29 
 
agente e prejuízo aos cofres públicos, situação violadora também dos demais princípios que 
orientam a pública administração.
27
 
A moralidade e a probidade administrativa são valores que a 
coletividade espera da administração pública para a consecução de fins de interesse coletivo, 
com vistas a propiciar uma administração de boa qualidade. 
Assim, pode-se dizer que o principio em questão, além de exigir uma 
conduta moral e ética do administrador, ainda impõe que este não cause prejuízos ao erário 
público, em nome da supremacia do interesse público e da coletividade. 
2.3.4 – ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA 
Finalizado o procedimento licitatório e escolhida a proposta 
vencedora, a administração não está obrigada a firmar o contrato de imediato, e, havendo 
motivo justificado, pode ainda promover a revogação do procedimento. Não existe direito 
subjetivo do vencedor ao contrato. 
Porém, caso a administração decida contratar, só o poderá fazer com o 
licitante vencedor. O vencedor possui direito à adjudicação, isto é, à atribuição a ele do objeto 
da licitação. 
Assim, após a escolha da melhor proposta, o poder publico não pode 
simplesmente iniciar novo procedimento com o mesmo objeto e mesmos termos do anterior. 
Há a exigência de que se contrate com o vencedor, garantindo com isso todos os demais 
princípios licitatórios observados durante a condução do procedimento. A adjudicação 
compulsória somente não prevalecerá em caso de desistência do licitante vencedor ou de 
revogação justificada pela administração. 
3.3.5- AMPLA COMPETITIVIDADE 
O principio da ampla competitividade pode ser considerado uma 
decorrência do principio da isonomia ou igualdade, porque traduz a imposição de que todos os 
interessados em participar da licitação tenham acesso equânime e irrestrito às informações 
públicas do respectivo certame. Além do amplo acesso, o principio implica no tratamento 
 
27
 CARLOS, Larissa Freitas. Moralidade e probidade administrativa: parâmetros de definição e esferas de 
atuação. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 5, n. 41, 1 maio 2000. Disponível 
em: <https://jus.com.br/artigos/353>. Acesso em: 6 jun. 2018. 
https://jus.com.br/artigos/353/moralidade-e-probidade-administrativa
https://jus.com.br/artigos/353/moralidade-e-probidade-administrativa
https://jus.com.br/revista/edicoes/2000
https://jus.com.br/revista/edicoes/2000/5/1
https://jus.com.br/revista/edicoes/2000/5/1
https://jus.com.br/revista/edicoes/2000/5
https://jus.com.br/revista/edicoes/2000
30 
 
igualitário e sem distinções, uma vez que preferências ou restrições tornam a competição 
desigual e, consequentemente, não se obterá a proposta mais vantajosa. 
Os procedimentos licitatórios devem ser divulgados ao maior número 
possível de interessados, devendo-se ser preservada a liberdade de acesso ao mercado 
representado pelas licitações. Por isso mesmo os editais não podem ser restritivos demais, 
para além do que efetivamente é preciso delimitar para que as contratações tenham êxito. 
Segundo Egon Bockmann e Fernando Vernalha, nas licitações várias 
são as práticas que podem revelar a formação de acordo entre os concorrentes, com vistas a 
fixar preços ou quotas de mercado. Assim, deve a administração reunir esforços para detectar 
indícios e promover ações para inibir a formação de carteis em licitações públicas
28
. 
Em sua opinião, a pressão pela geração de eficiência nos interessados 
em contratar com o poder publico pode gerar licitações bem sucedidas. Isto porque a 
competição força as empresas a investirem em inovação e eficiência. 
Trata-se, portanto, de principio importantíssimo na busca de licitações 
vantajosas para a administração pública, que reflitam contratações de bom custo benefício, 
correspondendo ao melhor serviço ou prestação possível de ser ofertada pelo particular. 
2.4 A EFICIÊNCIA COM PRINCÍPIO LICITATÓRIO IMPLÍCITO 
O princípio da eficiência foi acrescentado ao caput do art. 37 da 
Constituição Federal pela EC nº19 de 4 de junho de 1998. Ainda que não expresso no corpo 
da Lei Geral de Licitações, trata-se de princípio implícito que norteia não só os procedimentos 
licitatórios como toda a atuaçãodo gestor público. 
O termo eficiência muitas vezes se refere à capacidade de produzir o 
efeito esperado ou de obter bons desempenhos, assim, pode ser considerado como sinônimo 
de bons resultados, de competência e de eficácia. Quase sempre, inclusive, os termos são 
utilizados como sinônimos, eficácia e eficiência, já que ambos podem ser descritos como o 
que atinge o resultado adequado esperado. 
 
 
28
 MOREIRA, Egon Bockmann; GUIMARÃES; Fernando Vernalha. Licitação Pública. 2ª ed. São Paulo: 
Malheiros. 2015. 
31 
 
A administração pública, que antes se voltava mais para a atuação de 
seus agentes, hoje também precisa se preocupar com os resultados dessa atuação, se preocupar 
com as finanças e com aspectos institucionais, quesitos cada vez mais cobrados por institutos 
e normas, como a Lei Geral, Lei de Responsabilidade Fiscal e os órgãos externos de controle, 
como os Tribunais de Contas dos Estados e da União. 
Segundo Di Pietro
29
, o princípio da eficiência apresenta dois aspectos: 
pode ser observado em relação à atuação do agente público, ou seja, analisa o campo 
subjetivo de atuação de cada indivíduo, se é produtivo, objetivo, se realiza suas tarefas com 
presteza e profissionalismo, buscando um resultado de qualidade e celeridade. O segundo 
aspecto seria o modo de organizar, estruturar a administração pública, partindo-se da 
observação da administração globalmente, buscando a efetiva realização das metas e 
objetivos, com respeito à lei e aos princípios aos quais se vincula. 
Na avaliação da eficiência deve o administrador estar atento para a 
objetividade de seu princípio, para que não incorra em arbitrariedades
30
. Além disso, vale 
destacar que o princípio não se relaciona apenas ao aspecto econômico, isto é, uma 
contratação não será obrigatoriamente eficiente se foi feita pelo menor valor ofertado. Por 
exemplo, se o produto adquirido ou serviço a ser prestado não foi adequadamente descrito no 
edital e não corresponde à real necessidade da administração pública, ter-se-á uma contratação 
econômica mas ineficaz, que não produzirá os resultados ao qual foi inicialmente destinada. 
Assim, conclui-se que a observância do princípio da eficiência permite 
criar uma cultura dentro da administração que incentiva a otimização no desempenho dos 
serviços públicos. Isto porque é capaz de garantir que os procedimentos licitatórios sejam 
realizados sem desperdícios e com o melhor aproveitamento possível. O próprio conceito de 
eficiência está umbilicalmente ligado à lógica do objetivo licitatório, que é permitir a escolha 
da proposta mais vantajosa para o contratante. 
 
2.5 ENTRAVES LEGAIS 
 
29
 DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo. 28ª ed. São Paulo: Atlas. 2015. P.117-118. 
30
 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. A Lei de Responsabilidade Fiscal e seus Princípios 
Jurídicos. In: Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro : Renovar, nº 221, jul./set. de 2000, p. 84; 
MOREIRA NETO, Diogo Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro : Renovar, 2000, p. 
97-101. 
32 
 
Em que pese a existência dos fins e princípios acima descritos, o 
próprio diploma normativo cria entraves que vão de encontro aos princípios perseguidos. Por 
certo que não foi essa a intenção do legislador ao confeccionar a Lei, no entanto, os anos de 
aplicação da lei de licitações demonstraram as suas imperfeiçoes e entraves. A seguir serão 
debatidos alguns dos entraves da Lei 8666, que corroboram com licitações não eficientes e 
dispendiosas. 
2.5.1 – LEGALIDADE ESTRITA E FORMALISMO 
Sabe-se que o regime jurídico administrativo impõe ao gestor público 
a observância do principio da legalidade, no sentido de que apenas pode agir nos termos em 
que for permitido por lei, diferentemente do particular, que pode agir até onde não for 
proibido por lei. 
A lei 8.666 dispõe, em seu art. 4º, que “todos quantos participem de 
licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1º têm direito público 
subjetivo à fiel observância do pertinente procedimento estabelecido nesta lei, podendo 
qualquer cidadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não interfira de modo a 
perturbar ou impedir a realização dos trabalhos.”
31
 
Percebe-se que a lei preconiza a estrita observância do principio da 
legalidade, privilegiando-o inclusive em face de outros princípios. Assim, na prática, os 
certames licitatórios não podem inovar, seja para criar ou suprimir fases do procedimento, 
exigir maiores qualificações dos licitantes, estabelecer novos parâmetros de julgamentos, 
modalidades de licitação ou qualquer outro tema. 
Isso significa que a Lei 8.666 foi criada no intuito de versar sobre 
todos os cenários possíveis, trazendo em si as variadas situações passíveis de ocorrência na 
realidade fática. Entretanto, em que pese o direito tente acompanhar a realidade, nem sempre 
andam lado a lado. Assim, por vezes, está-se diante de um quadro não previsto na lei de 
licitações e os gestores deixam de adotar soluções viáveis aos seus entraves porque a lei 8.666 
não previu tais soluções. 
O maior dos problemas do diploma é a ausência de previsão de 
saneamento de erros e diálogos entre interessados e administração. Essa realidade acaba por 
 
31
 Art. 4º da Lei 8.666. 
33 
 
criar um ambiente de formalismo em excesso e engessamento, reforçado pelo art. 48, I, que 
prevê a desclassificação da proposta que não atender as exigências do ato convocatório, por 
exemplo. Conclui-se que qualquer tipo de vício leva à desclassificação da proposta. 
Nesse sentido, é preciso diferenciar erros formais e erros materiais. 
São formais os defeitos relacionados aos requisitos de exteriorização da proposta. São 
materiais aqueles pertinentes aos requisitos do conteúdo da proposta. 
32
 
Em regra, os defeitos substanciais apresentam um maior grau de 
relevância, porque dizem respeito diretamente ao conteúdo da proposta apresentada pelo 
interessado. Por outro lado, os defeitos formais quase sempre são passíveis de correção, 
porque representam uma formalidade, um instrumento que não é fim em si mesmo. 
A proteção jurídica dada à formalidade é decorrência do princípio da 
isonomia e representa uma forma de reduzir a discricionariedade e autonomia da autoridade 
julgadora. Não se quer aqui negar a importância de atender às formas exigidas pela lei. 
Acontece que, exatamente porque a forma não é um fim em si mesmo, 
mas o primordial é o conteúdo por ela veiculado, não se pode fazer uma interpretação restrita 
porque a lei 8.666 prevê a desclassificação das propostas que apresentem erros. 
Assim, não se pode deixar de lado as maximes da razoabilidade e 
proporcionalidade, de maneira a impor severidades incompatíveis com a irrelevância dos 
defeitos. A administração pública deve sempre buscar uma compatibilização de interesses em 
detrimento de rigidez excessiva. Para Marçal, não se trata de verificar a habilidade dos 
envolvidos em conduzir-se do modo mais conforme o texto da lei. Na verdade, os requisitos 
são um meio de verificar se a proposta é satisfatória e vantajosa. 
Nesse sentido, o limite entre que sanável e o que não é foi 
estabelecido pela jurisprudência do STF como a ocorrência de prejuízo. 
33
 Em famoso julgado 
do STJ, o Min Demócrito Reinaldo consolidou uma tendência de relativização do formalismo 
pela jurisprudência, oportunidade em que destacou que “o formalismo no procedimento 
licitatório não significa que se possa desclassificar propostas eivadas de simples omissões ou 
defeitos irrelevantes”. Na oportunidade, o judiciário, no julgamento do mandado de 
 
32
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 17.ed. 3ª tir. SãoPaulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P. 999. 
33
 MS 22.050/MT, Pleno, rl. Min. Moreira Alves, j. em 04.05.1995, DJ de 15.09.1995. 
34 
 
segurança, fixou o sentido e o alcance das clausulas do instrumento convocatório a fim de 
evitar exigências desnecessárias e excessivo rigor, prejudiciais ao interesse público. 
O Tribunal de Contas da União (TCU) também possui diversos 
julgados no sentido de se permitir uma flexibilização do formalismo e de interpretação 
estritamente legalista quando a situação concreta não trouxer prejuízo ao certame nem 
representa privilégios a qualquer das propostas. 
Merece destaque o Acórdão nº 342/2017 - TCU - 1ª Câmara, que foi 
assim prolatado: 
“Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de 1ª Câmara, 
quanto ao processo a seguir relacionado, com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 
43, inciso I, da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 17, inciso IV, 143, 
inciso III, 235 e 237, inciso VII e parágrafo único, todos do Regimento Interno, c/c o 
art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, ACORDAM, por unanimidade, em conhecer da 
presente representação, considerá-la prejudicada por perda de objeto em face da 
revogação da Tomada de Preços 009/2016; dar ciência desta deliberação aos 
responsáveis e ao representante; dar ciência ao Município de Itaetê/BA do indício de 
irregularidade constatado, conforme explicitado adiante; e arquivar-se o processo, 
como sugerido pela Secex/BA (peças 16 a 18). 
Processo TC-032.051/2016-6 (REPRESENTAÇÃO) (...) 
Determinações/Recomendações/Orientações: 
1.7.1. dar ciência ao Município de Itaetê/BA que, em razão da jurisprudência 
consolidada do TCU (Acórdãos 1.791/2006 e 1.734/2009-Plenário, entre outros), 
configura formalismo excessivo a desclassificação de empresa participante de 
certame licitatório em decorrência de mero erro material no preenchimento de 
anexo, desde que seja possível aferir a informação prestada, sem prejudicar o 
andamento da sessão, situação ocorrida no julgamento das propostas das empresas 
na Tomada de Preços 009/2016.” 
 Por certo que a possibilidade de sanear erros formais observados no 
processo licitatório poderá garantir uma maior competitividade, permitindo a obtenção de 
propostas mais vantajosas. O aproveitamento de atos que não causam qualquer prejuízo à 
parte ou ao procedimento é essencial para a celeridade do certame. Até porque, repita-se, a 
licitação não é um fim em si mesmo, mas um instrumento à disposição do poder público a fim 
de realizar suas contratações de maneira transparente, econômica e vantajosa. 
2.5.2 – DILAÇÃO DO PROCEDIMENTO 
Outro entrave da Lei 8.666 é a possibilidade de o procedimento 
licitatório dilatar-se no tempo para muito além do inicialmente previsto. Dois aspectos podem 
35 
 
ser citados: a vinculação dos prazos às modalidades de licitação e a interposição de recursos 
administrativos. 
De acordo com o art. 22 da Lei Geral de Licitações, são modalidades 
de licitação: a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão. Já o art. 21 
estabelece os prazos mínimos entre a publicação do instrumento convocatório e o recebimento 
das propostas ou realização do evento. 
Da leitura conjugada dos dois dispositivos concluímos que: a 
modalidade concorrência é aquela que possui maiores formalidades, devendo ser respeito o 
prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) – quando for regime de empreitada integral ou o 
critério de julgamento for ‘melhor técnica’ ou ‘técnica e preço’- ou 30 (trinta) dias entre a 
última publicação e o recebimento das propostas. Qualquer interessado pode participar, desde 
que comprove possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital. 
A tomada de preço é a modalidade exigida para contratações de 
médio vulto, devendo ser respeito o prazo mínimo de 30 (trinta) dias – se a licitação for do 
tipo ‘melhor técnica’ ou ‘técnica e preço’ - ou 15 (quinze) dias entre a última publicação e o 
recebimento das propostas. Podem participar os interessados que possuírem cadastro prévio 
ou os que até o 3º dia anterior à data de recebimento das propostas comprovarem as condições 
exigidas para o cadastramento. 
Já na modalidade convite a iniciativa parte da administração, que deve 
convidar no mínimo três interessados do ramo pertinente ao objeto, além de estender o 
convite aos interessados cadastrados na correspondente especialidade desse que manifestem 
interesse em até 24 horas do recebimento das propostas. Nessa modalidade o prazo mínimo 
entre a afixação do instrumento convocatório na repartição da administração responsável e o 
inicio do evento é de 5 (cinco) dias. 
 O concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados 
para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou 
remuneração aos vencedores. Os critérios constantes no edital devem ser disponibilizados 
com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias da data de recebimento das propostas. 
Por fim, a modalidade leilão destina-se a venda de bens móveis 
inseríveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, e ainda 
36 
 
para alienação de bens imóveis, a quem oferecer maior lance, igual ou superior ao valor da 
avaliação. O prazo mínimo é de 15 (quinze) dias. 
A partir do breve resumo acerca das modalidades de licitações pode-se 
dizer que o concurso e o leilão são modalidades especiais, as quais Marçal contrapõe às 
demais modalidades, que chama de comuns. Isso porque, leilão e concurso não podem ser 
utilizados para outros de contratação administrativa senão àquelas para as quais foram 
especificamente criadas. Ambos os procedimentos licitatórios são estruturados com vistas às 
peculiaridades da futura contratação e a lei não vinculou valores a essas modalidades.
34
 
Já no que se refere às modalidades ditas comuns, o seu uso vai variar 
de acordo com o valor das contratações. Isto é, tem-se critério econômico para a seleção da 
modalidade de licitação a ser utilizada. O art. 23 da Lei 8.666 estabelece as faixas de valores a 
serem obedecidas, relacionando contratações de maior expressão econômica à modalidade 
concorrência, as de médio porte á tomada de preço e as licitações de menor vulto econômico à 
modalidade convite. 
Ou seja, percebe-se, em última análise, que o critério definidor dos 
prazos mínimos para as licitações é o valor econômico do futuro contrato. Isto é, contratações 
vultosas exigem concorrência, portanto o prazo mínimo poderá ser de 45 ou 30 dias entre a 
publicação e o recebimento das propostas. 
Ocorre que a lógica pensada pelo legislador não prevalece na maioria 
dos casos, porque nem sempre contratações de maior valor econômico são necessariamente 
mais complexas e necessitam de maior prazo para divulgação dos critérios editalícios. Dessa 
forma, a prática licitatória demonstra situações nas quais se tem contratações de objeto 
simples ou cujas propostas podem ser facilmente formuladas, entretanto, em razão do valor 
elevado, fica estabelecido prazo longo da Lei 8.666. Não raro os 45 dias previstos para a 
modalidade concorrência vão muito além do suficiente, postergando o inicio da licitação que 
poderia se dar de maneira mais breve, mas que, entretanto, precisa ser fielmente observado. 
Nos dias atuais, por exemplo, através do uso da internet, a 
comunicação tornou-se mais fácil, de modo que um licitante interessado pode tomar ciência 
 
34
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 17.ed. 3ª tir. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P 419 
37 
 
de algum certame após breve consulta à página da repartição competente, assim como pode 
enviar sua proposta sem que precise deslocar-se. 
Verifica-se que a definição dos prazos mínimos em razão do valor da 
contratação não é um critério justificável.

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