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TEORIA GERAL DO PROCESSO

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AULA 1 - DIREITO PROCESSUAL E ACESSO À JUSTIÇA
UMA NOVA FEIÇÃO PARA A JURISDIÇÃO NEOCONSTITUCIONAL
Segundo Humberto Theodoro Jr. (2011), a ampla aceitação e obediência à ordem jurídica pelos membros da coletividade se dão porque ela se estabeleceu fundamentada na garantia da paz social e do bem comum. O que autoriza ao Estado, diante de uma transgressão a essas garantias, a adoção de medidas de coação, tendo em vista a proteção do ordenamento e sua credibilidade.
Não obstante o entendimento das funções do Estado Moderno estar rigorosamente associado à célebre obra de Montesquieu (1997) – O espírito das leis –, pela qual o Estado seria representado pela separação dos poderes, hodiernamente, vem prevalecendo a ideia de que o poder, como expressão da soberania estatal, é, na verdade, uno e indivisível.
Nesse sentido, na concepção da doutrina mais moderna, a clássica expressão “separação de poderes” deve ser interpretada como uma divisão funcional de poderes. Convencionalmente chamada de funções do Estado, a divisão compreende, por conseguinte, as funções legislativa, administrativa e jurisdicional.
A JURISDIÇÃO E O ESTADO CONTEMPORÂNEO
A partir dessa ideia, podemos identificar a jurisdição¹ como sendo, simultaneamente, um poder ― capacidade de impor suas decisões imperativamente ―, uma função ― como encargo que o Estado assume de pacificar os conflitos sociais ―, e uma atividade.
Vejamos as definições de dois importantes autores para esse termo:
Corroborando o exposto até então, Candido Rangel Dinamarco (2001) ressalta que a jurisdição não consiste em um poder, mas o próprio poder estatal que é uno.
Segundo Giuseppe Chiovenda, jurisdição é a função estatal que tem por finalidade a atuação da vontade concreta da lei, substituindo a atividade do particular pela intervenção do Estado.
Em sendo a jurisdição uma atividade de substituição, há de existir algo a ser substituído para que se possa caracterizá-la. Esse entendimento segue a doutrina positivista e reduz drasticamente os poderes do juiz, pois a vontade do povo é expressada pela lei, a qual é o produto da atividade do legislador.
(¹ O mesmo que jurisdictio, em latim, traduz-se na “ação de dizer o direito”; resulta da soberania do Estado e, junto às funções administrativa e legislativa, compõe as funções estatais típicas.)
TEORIA CONSTITUTIVA OU UNITARISTA
Em oposição, coloca-se a teoria constitutiva ou unitarista do ordenamento jurídico. Francesco Carnelutti, adepto da teoria, afirma que a jurisdição é a função do Estado que busca a justa composição da lide, caracterizada pela exigência de subordinação do interesse alheio ao interesse próprio, bem como pela resistência da outra parte.
Nessa visão, só haveria processo e jurisdição se houvesse lide. Em conclusão, não existiria um direito até que o Poder Judiciário ― e não o Poder Legislativo ― o conferisse, de modo que a jurisdição teria o intuito de resolver o litígio.
Há, contudo, alguns doutrinadores que acabaram por reunir os conceitos de ambas as escolas, por entenderem complementares e não excludentes, como Moacyr Amaral Santos (2007, p. 3), ao conceituar o processo como "o complexo de atos coordenados, tendentes à atuação da vontade da lei às lides ocorrentes, por meio dos órgãos jurisdicionais".
CONCEITO DE LIDE
O conceito de lide de Carnelutti (1999, p. 80-81) desenvolve-se a partir da ideia de que, se a pretensão é a "subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio", a resistência seria justamente a inconformidade dessa pretensão em frente ao interesse alheio.
Diante dessa afirmativa, formou-se o famoso conceito de lide, segundo o qual seu objeto seria o conflito de interesses formado pela contestação quanto à necessidade de subordinação de um interesse a outro.
Por fim, é necessário fazer referência à obra de Luiz Guilherme Marinoni, que vem retomando a ideia de um processo civil constitucionalizado, revendo os conceitos tradicionais de jurisdição apresentados pelos mestres italianos.
Conceito de lide
O autor sustenta que:
Diante da transformação da concepção de direito, não há mais como sustentar as antigas teorias da jurisdição, que reservavam ao juiz a função de declarar o direito ou de criar a norma individual, submetidas que eram ao princípio da supremacia da lei e ao positivismo acrítico. O Estado constitucional inverteu os papéis da lei e da Constituição, deixando claro que a legislação deve ser compreendida a partir dos princípios constitucionais de justiça e dos direitos fundamentais. Expressão concreta disso são os deveres de o juiz interpretar a lei de acordo com a Constituição, de controlar a constitucionalidade da lei, especialmente atribuindo-lhe novo sentido para evitar a declaração de inconstitucionalidade, e de suprir a omissão legal que impede a proteção de um direito fundamental. (MARINONI, 2005, p. 65)
Assim, facilmente apreende-se por todo o exposto que não é possível conceber nos dias atuais a atividade jurisdicional divorciada dos princípios constitucionais, em especial os princípios do acesso à justiça² e da dignidade da pessoa humana.
(² É, hoje, o princípio fundamental da jurisdição, previsto no art. 5°, inciso XXXV da Constituição de 1988.)
O ACESSO À JUSTIÇA
Você lembra quando surgiram as questões e problemas relacionados ao acesso à justiça? Vamos relembrar essas informações?
Sem dúvida, o acesso à justiça é direito social básico dos indivíduos, que não deve se restringir aos limites do acesso aos órgãos judiciais e ao aparelho judiciário estatal; deve, sim, ser compreendido como um efetivo acesso à ordem jurídica justa.
Tais considerações nos levam a concluir que as velhas regras e estruturas processuais precisam, de fato, sofrer revisão e aprimoramento, com o intuito de que constituam instrumento cada vez mais eficaz rumo ao processo justo (cf. GRECO, 2006).
Nesse ponto, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro (1999), após se propor a um estudo com o objetivo de aferir se as reformas legislativas havidas em meio ao movimento de acesso à justiça foram fiéis às premissas iniciais, assevera que o desenvolvimento dessa empreitada depende da apresentação de proposta que contenha os quatro grandes princípios que devem informar o real significado da expressão acesso à justiça.
OS PRINCÍPIOS E O ACESSO À JUSTIÇA
PRIMEIRO PRINCÍPIO
O primeiro deles é a acessibilidade, que pressupõe a existência de sujeito de direito, com capacidade tanto de estar em juízo como de arcar com os custos financeiros para tanto. E que proceda de forma adequada à utilização dos instrumentos legais judiciais ou extrajudiciais, de tal modo a possibilitar a efetivação de direitos individuais e coletivos.
A expressão desse princípio se dá por três elementos, quais sejam: o direito à informação enquanto conhecimento dos direitos que se detém e da forma de utilizá-los; a garantia da escolha adequada dos legitimados para propositura das demandas; e, por fim, a redução dos custos financeiros do processo de forma que estes não dificultem ou inibam o acesso à justiça.
SEGUNDO PRINCÍPIO
O segundo princípio elencado pelo autor é o da operosidade, que se consubstancia no dever das pessoas que participam da atividade judicial ou extrajudicial de atuarem do modo mais produtivo e empenhado possível a fim de assegurar um efetivo acesso à justiça.
Tal princípio tem aplicação nos campos objetivo e subjetivo. No primeiro, concretiza-se a partir de uma atuação ética dos sujeitos envolvidos no processo – incluindo os advogados e juízes que devem sempre colaborar com as atividades direcionadas à democratização do processo.
Já no campo subjetivo, esse princípio indica a necessidade de utilização dos instrumentos e meios mais eficazes pelas partes. Atuando eticamente para otimizar a produtividade, que se relaciona, em última instância, à perfeita conjugação do binômio celeridade-eficiência na constante bisca pela verdade real e pela conciliação.
TERCEIRO PRINCÍPIO
O terceiro princípio é o da utilidade. Por utilidade entende-se que o processo de assegurar ao vencedor tudo aquilo que lhe é de direito,do modo mais rápido e proveitoso possível e com menor sacrifício para a arte vencida.
Menciona o autor que “a jurisdição ideal seria aquela que pudesse, no momento mesmo da violação, conceder a quem tem razão, o direito material” (CARNEIRO, 1999, p.79).
QUARTO PRINCÍPIO
O quarto e último princípio apontado pelo jurista é o da proporcionalidade. O referido princípio de consubstancia na necessidade de escolha pelo julgador. Ele se vê constantemente diante de inúmeros dilemas, examinando as possíveis soluções que mais se harmonizam com os princípios informadores do direito, e com os fins a que determinado conjunto de regras visa alcançar, privilegiando, ao final o interesse mais valioso.
OS PRINCÍPIOS E O ACESSO À JUSTIÇA
Todos os princípios elencados por Carneiro, uma vez observados como pontos norteadores dos esforços para o aperfeiçoamento dos institutos e regras processuais, sem dúvida conduzirão à ampliação do efetivo acesso à justiça em nosso país.
Muitas das reformas que se almejam requerem apenas aperfeiçoamentos técnicos, outras dizem respeito ao melhoramento da tutela dos interesses difusos ou ao desafogamento dos tribunais nacionais.
O fato é que se deve ter em mente não só a necessidade de proceder às reformas do ponto de vista técnico-legislativo, mas também a necessidade de se adotar medidas que permitam colocar em prática as mudanças havidas no campo teórico.
Deve-se, ainda, compreender que o movimento em prol do efetivo acesso à ordem jurídica justa visa garantir nada menos do que um direito verdadeiramente fundamental de todos os jurisdicionados (cf. MARINONI, 2005), o qual já constitui o foco da ciência processual moderna (cf. CAPPELLETTI, 1988).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, REFORMAS NA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL E PREMISSAS DO NOVO CPC
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO
Durante o período colonial, o Brasil era regido pelas leis processuais portuguesas, como não poderia deixar de ser visto que, Brasil e Portugal formavam um Estado único (cf. GRECO, 2009). Foi o período das Ordenações emanadas da Corte.
Vigoravam, nessa época:
· as Ordenações Afonsinas, de 1456, inspiradas, principalmente, no direito romano, no direito canônico e nas leis gerais elaboradas a partir do reinado de Afonso II, vigorando à época do Descobrimento;
· as Ordenações Manuelinas, de 1521, as primeiras editadas em território nacional;
· as Ordenações Filipinas, promulgadas em 1603.
O CPC/73 E AS REFORMAS PROCESSUAIS
Chegamos, assim, ao segundo Código de Processo Civil, introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e baseado no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid.
Inaugurouse a Fase Instrumental, pela qual o processo não seria um fim em si mesmo, mas um instrumento para assegurar direitos. Com isso, surgiu a relativização das nulidades e a liberdade das formas para maior efetividade da decisão judicial.
Para Buzaid, mais fácil se afigurava a criação de um novo Código processual civil que a correção do já existente. Devido não só à pluralidade e diversidade de leis processuais então vigentes, mas também à necessidade de serem supridas diversas lacunas e falhas do Código de 1939, que o impediam de funcionar como instrumento de fácil manejo no auxílio à administração da Justiça.
Essa dúvida entre reformar o antigo Código ou elaborar um novo é exposta pelo próprio Alfredo Buzaid no primeiro capítulo da Exposição de Motivos do Código de Processo Civil de 1973.
O CPC de 1973 sofreu inúmeras alterações, sobretudo a partir do início da década de 1990. Teve início aí a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em dezenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuais e ajustes “cirúrgicos”.
Dentro dessas premissas, passamos a analisar o movimento do legislador brasileiro em prol das reformas processuais, sobretudo a partir da Emenda n. 45/04.
O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015
O P.L. n. 8.046/2010, que almejava a edição de um novo Código de Processo Civil, foi elaborado por uma Comissão composta por diversos juristas, que concluiu, em dezembro de 2009, a primeira fase de seus trabalhos. Depois, submeteu a proposta elaborada a oito audiências públicas, que resultaram na análise de mais de mil sugestões e, finalmente, ao processo legislativo.
Vejamos:
2010
O projeto foi apresentado ao presidente do Senado no dia 8 de junho de 2010, sob o n. PL n. 166/2010. Foi, então, constituída uma Comissão no Senado para apresentar emendas ao projeto até o dia 27 de agosto de 2010 e, em novembro de 2010, já havia a divulgação dos relatórios parciais sobre o projeto.
O relatório da Comissão do Senado, no dia 24 de novembro de 2010, veio com a apresentação de um projeto substitutivo, o PLS n. 166/2010, do Senador Valter Pereira, que foi, após algumas mudanças no texto do projeto substitutivo, aprovado no Senado, no dia 15 de dezembro de 2010.
2011
O projeto foi, então, para a Câmara dos Deputados, como PL n. 8.046/2010, seguindo, no dia 5 de janeiro de 2011, para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. No dia 3 de fevereiro de 2011, o projeto estava na Coordenação de Comissões Permanentes e, no dia 4 de maio de 2011, em plenário, foi requerida a nomeação de comissão especial, para analisar o projeto para um novo Código de Processo Civil.
Em 5 de julho, já na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, o Requerimento n. 1.560/2011, de criação de comissão especial para análise do projeto de lei, é julgado prejudicado, tendo em vista a determinação de instalação da Comissão Especial.
2013
Já no ano de 2013, foram apresentadas duas novas versões, uma em janeiro e outra em junho. Em julho, o texto foi aprovado pela Comissão Especial e remetido ao pleno. Em dezembro de 2013 e março de 2014, foram apresentados e votados Destaques. 
Finalmente, em 25 de março, foi votada e aprovada a versão final, que já foi devolvida ao Senado.
2014
O Senado reconvocou sua Comissão original, promoveu diversas alterações no texto e aperfeiçoou a redação. A versão final foi votada em dezembro de 2014, em dois dias.
No primeiro, o texto-base, e, no segundo, os destaques (matérias mais polêmicas, sobre as quais não havia consenso). Aprovado o texto final, a partir do Substitutivo apresentado pelo Sem. Vital do Rego, foi feita uma profunda revisão para evitar equívocos nas remissões ou antinomias no texto.
2015
Finalmente, foi enviado à sanção Presidencial em fevereiro de 2015. O texto foi sancionado com sete vetos no dia 16 de março e publicado no DO, no dia 17: Lei n° 13.105/15 – Instituiu o novo Código de Processo Civil brasileiro.
Independentemente da versão a ser analisada, é possível dizer que a ideia norteadora do texto é a de conferir maior celeridade à prestação da justiça, atentando à premissa de que há sempre bons materiais a serem aproveitados da legislação anterior, mas, também, firme na crença de que são necessários dispositivos inovadores e modernizantes.
O projeto, portanto, empenhou-se na criação de um “novo Código”, buscando instrumentos capazes de reduzir o número de demandas e recursos que tramitam pelo Poder Judiciário.
Trata-se de uma nova ideologia, de um novo jeito de compreender o processo civil. Pela leitura do texto, é possível perceber a preocupação em sintonizar as regras legais com os princípios constitucionais, revelando a feição neoconstitucional e pós-positivista do trabalho.
Os institutos são revistos, o procedimento é abreviado, os recursos são reservados para os casos relevantes, os precedentes passam a ter maior prestígio, o processo eletrônico é viabilizado e a efetividade, finalmente, parece se tornar algo mais próximo e palpável.
Tendo como premissa essa meta, construiu-se:
A proposta de instituição de um incidente de resolução de demandas repetitivas, objetivando evitar a multiplicação das demandas, na medida em que o seu reconhecimento em uma causa representativa de milhares de outras idênticas imporá a suspensão de todas.
Outra previsão é a redução do número de recursos hoje existentes, como a abolição dos embargos infringentes e do agravo retido,como regra, adotandose no primeiro grau de jurisdição uma única impugnação da sentença final. Nessa oportunidade, a parte poderá manifestar todas as suas discordâncias quanto aos atos decisórios proferidos no curso do processo, ressalvada a tutela de urgência impugnável de imediato por agravo de instrumento.
Priorizase a conciliação, incluindoa como o primeiro ato de convocação do réu a juízo, uma vez que proporciona larga margem de eficiência em relação à prestação jurisdicional.
As mudanças pensadas pela Comissão de juristas quando da elaboração do novo texto são diversas e objetivam não enfrentar centenas de milhares de processos, mas, antes, desestimular a ocorrência do volume atual de demandas, com o que visa tornar efetivamente alcançável a duração razoável dos processos.
AULA 2 - NORMAS E PRINCÍPIOS PROCESSUAIS
A NORMA PROCESSUAL E SEUS REFLEXOS
FONTES DO DIREITO PROCESSUAL
As fontes de direito, em geral, podem ser conceituadas como os meios de produção, expressão ou interpretação da norma jurídica. São os meios pelos quais as normas jurídicas são estabelecidas de modo a prover o direito objetivo.
Vejamos:
FONTES FORMAIS 
Fontes formais são aquelas que detêm força vinculante e constituem o próprio direito positivo. A fonte formal do direito processual, por excelência, é a lei lato sensu¹, que é dotada de coercitividade e é considerada a principal forma de expressão do direito. 
Abaixo da norma legal, encontra-se a fonte secundária (ou subsidiária), que será utilizada quando da aplicação do direito, em hipóteses nas quais o próprio ordenamento assim determine, como os princípios gerais, os costumes, a equidade e o uso da analogia. 
Isso decorre do fato de que nem sempre as fontes principais serão suficientes para atender ao caso concreto, pelo que o julgador deverá se valer de meios suplementares de integração do ordenamento jurídico; e os meios suplementares serão as fontes secundárias (ou subsidiárias). 
Após vermos que a lei é a fonte formal do direito processual em sentido amplo, apontamos inicialmente, como fonte formal em sentido estrito, a Constituição Federal. Ela consagra os chamados Princípios Constitucionais Processuais, tais como o Devido Processo Legal, a Ampla Defesa e o Contraditório, a Duração Razoável do Processo, bem como a Isonomia e a Inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos. 
Em seguida, temos a Lei Federal (art. 22, I, da Constituição de 1988) e a Lei Estadual, que podem tratar de matéria de procedimento e de criação e funcionamento dos Juizados Especiais (art. 24, X e XI), bem como disciplinar a organização judiciária e as normas de competência em razão de valor e matéria. Por fim, temos os Tratados Internacionais² assinados e ratificados pelo Brasil e os regimentos internos dos Tribunais.
(¹ Cumpre, aqui, fazermos a seguinte observação: a medida provisória inclui-se no conceito de lei lato sensu; não obstante, ela não pode ser considerada fonte do direito processual, por força de expressa vedação, inserta pela EC n. 32/2001 no texto da Constituição Federal de 1988 (art. 62, § 1º, I, b).)
(² Deve-se observar o teor dos §§ 2º e 3º do art. 5º da CF/88: “§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais” (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004).)
FONTES MATERIAIS 
Passado o estudo das fontes formais do direito, veremos as fontes materiais, aquelas que não possuem força vinculante nem caráter obrigatório, mas se destinam a revelar e informar o sentido das normas processuais. 
Essas fontes materiais são dotadas de caráter ético, sociológico, político, histórico, econômico, cultural etc. que, em determinado momento, servem para provocar, justificar e legitimar o ato de criação das normas legais, pois influenciam o legislador que elabora propostas legislativas, frutos da observância de valores e interesses sociais. Nessa linha, podemos observar que, por diversas vezes, recomendações ou resoluções, sem caráter normativo, acabam, com o tempo, sendo convertidas em leis.
MEIOS SUPLEMENTARES 
Além das fontes formais e materiais do direito, existem os chamados meios suplementares de integração da norma, que são aqueles institutos jurídicos destinados a preencher lacunas no ordenamento, que, constatadas pelo magistrado, têm que ser preenchidas para que sejam executáveis sob pena de resultar em negativa de prestação jurisdicional (non liquet). 
Essa terceira fonte seria formada pela jurisprudência¹ (entendimento dos tribunais) e pela doutrina (ensinamentos dos autores especializados). Para parte da doutrina, argumenta-se que essa terceira fonte não possui qualquer eficácia vinculativa ao aplicador do direito. Para outra parte doutrinária, essas seriam sim consideradas como princípios gerais do direito, ao lado do costume. 
Sobre a jurisprudência destacamos, ainda, que guarda correlação com diversas acepções no mundo jurídico. A primeira se refere à própria Ciência do Direito ou à Dogmática Jurídica. Uma segunda está correlacionada ao conjunto de decisões dos Tribunais que abrange tanto as decisões uniformes como as contrárias. A terceira acepção diz respeito a um conjunto de decisões necessariamente uniformes, que vão “firmar” ou “contrariar” jurisprudência. 
Lembremos que, quando se trata da afirmação de uma decisão em especial, devemos nos referir a mesma como precedente ou julgado. É muito comum haver utilização indevida do termo jurisprudência que, por vezes, é equivocadamente aplicada como sinônimo de decisão judicial. 
A jurisprudência, tecnicamente, refere-se a um conjunto de decisões dos Tribunais e não a uma decisão isolada. Há, nessa linha de pensamento, autores que reconhecem que existe uma relação entre o processo de criação do direito e a classificação de suas fontes, admitindo, em consequência, que a jurisprudência deva ser considerada fonte do direito, já que o Judiciário participa da elaboração do direito. 
Deve-se registrar que, hoje, a figura da súmula vinculante, prevista no art. 103-A da Carta de 1988 e regulada pela Lei n. 11.417/2006, torna o precedente judicial fonte formal do direito nessa hipótese. 
Trata-se de uma figura híbrida, com características de norma abstrata, aplicável a todos, porém surgida a partir de um caso específico, e, por isso, também norma concreta entre as partes envolvidas naquele litígio. 
Ademais, o regime de julgamento conjunto de recursos especiais e extraordinários repetitivos também já revela a mesma importância que vem ganhando a jurisprudência em nosso sistema. 
Esta é uma tendência: a valorização da jurisprudência no nosso sistema jurídico. E aqui surgem os precedentes². 
Nesse sentido, o Código de Processo Civil de 2015 assim dispõe, no art. 927:
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: 
I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; 
II – os enunciados de súmula vinculante; 
III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; 
IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; 
V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
O novo Código criou o incidente de resolução de demandas repetitivas, objetivando o julgamento conjunto de demandas que gravitam em torno da mesma questão de direito. 
Pelo art. 976, o tribunal local decidirá, a partir de um “processo piloto”, qual a tese jurídica que deve ser adotada aos demais processos nos quais se discuta a mesma questão de direito. Sendo certo que essa decisãoterá força vinculante horizontal e vertical, ou seja, será obrigatória para os demais órgãos do tribunal, bem como para todos os juízes de 1º grau. 
A preocupação do novo Código de Processo Civil é também com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, evitando pronunciamentos incompatíveis que possam gerar inseguranças e incertezas. 
Encampou-se, por isso, expressamente, princípio no sentido de que, uma vez firmada jurisprudência em certo sentido, esta deve, como norma, ser mantida, salvo se houver razões relevantes recomendando sua alteração. 
Dessa forma, trata-se, em nosso sistema, de nítida tendência ao prestígio do precedente e de seu reconhecimento como fonte do direito.
(¹ É o conjunto das decisões produzidas pelos tribunais. Tem força convincente e serve como uma sinalização para as cortes inferiores.)
(² São as decisões dos Tribunais que têm força para vincular as instâncias inferiores do Judiciário. Nem toda decisão judicial constitui um precedente.)
IDENTIFICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL
O Estado é o responsável pela determinação das normas jurídicas que estabelecem como deve ser a conduta das pessoas em sociedade. Tais normas podem ser definidoras de direitos e obrigações ou do modo de exercício desses direitos.
PRIMEIRAS NORMAS
As primeiras constituem aquilo que convencionamos chamar de normas jurídicas primárias ou materiais. Trata-se do Direito Substantivo. Elas fornecem o critério a ser observado no julgamento de um conflito de interesses.
Aplicandoas, o juiz determina a prevalência da pretensão do demandante ou da resistência do demandado, compondo, desse modo, a lide que envolve as partes. Definem os direitos e as obrigações, mas não lidam com as consequências jurídicas do descumprimento dos deveres.
SEGUNDAS NORMAS
As segundas, de caráter instrumental, compõem as normas jurídicas secundárias ou processuais. Elas determinam a técnica a ser utilizada no exame do conflito de interesses, disciplinando a participação dos sujeitos do processo (principalmente as partes e o juiz) na construção do procedimento necessário à composição jurisdicional da lide.
IDENTIFICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL
Portanto, a diferença básica entre elas é quanto ao âmbito de incidência. Disso se infere que, para classificar uma norma como processual ou material, pouco importa o diploma legislativo do qual ela deflui.
Embora a maior parte das normas processuais emane de diplomas destinados à disciplina do processo, também é possível, examinando diplomas tipicamente materiais, encontrarse normas dessa categoria. É chamado de Direito Adjetivo, embora hoje seja reconhecida sua autonomia em relação ao Direito Material.
Neste ponto, cabe distinguir os direitos das garantias. Vejamos:
DIREITOS
Enquanto os direitos são estipulados pelo direito material na forma de prerrogativas para um sujeito...
GARANTIAS
...as garantias são dadas pelo direito processual com a finalidade de assegurar o cumprimento das normas materiais ou de trazer consequências ao descumprimento.
Após a verificação de que há normas que definem direitos e obrigações e outras que as asseguram no caso de descumprimento, é mister compreender por que meios se pode exigir o atendimento de uma prerrogativa.
Por exemplo: se um credor de uma obrigação de pagar quiser receber, mas o devedor não quiser pagar, teremos vontades colidentes.
DIMENSÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA NORMA PROCESSUAL
A eficácia espacial das normas processuais é determinada pelo princípio da territorialidade, conforme expressam os arts. 1º e 1.211, 1ª parte, do CPC/1973 e o art. 13 do CPC/2015.
O princípio, com fundamento na soberania nacional, determina que a lei processual pátria é aplicada em todo o território brasileiro (não sendo proibida a aplicação da lei processual brasileira fora dos limites nacionais), ficando excluída a possibilidade de aplicação de normas processuais estrangeiras diretamente pelo juiz nacional.
São ressalvados os casos de prova relativos a negócios jurídicos estrangeiros, de acordo com o art. 13 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, nova nomenclatura que a Lei n. 12.376/2010 deu à Lei de Introdução ao Código Civil (LICC).
Devido ao sistema federativo por nós adotado, compete privativamente à União legislar sobre matéria processual, conforme determina o art. 22, I, da CF. Não ocorre, pois, como nos EUA, em que as leis processuais divergem de um Estado para outro.
Não obstante, as normas procedimentais estaduais brasileiras podem variar de Estado para Estado, uma vez que o art. 24, XI, da CF, outorgou competência concorrente à União, aos Estadosmembros e ao Distrito Federal, para legislar sobre “procedimentos em matéria processual”. Segundo Greco Filho (2007), estes seriam os procedimentos de apoio ao processo, e não o procedimento judicial¹.
Quanto ao procedimento, podem-se organizar os aspectos do processo em:
 interno – relação jurídica entre as partes;
 externo – procedimento como sucessão ordenada de atos processuais.
(¹ Quando confrontados, os arts. 22, I, e 24, XI, da CF, geram certa perplexidade. Logo, é preciso esclarecer como se deve distinguir uma norma processual de uma norma procedimental. Cândido Rangel Dinamarco sustenta que, em termos rigorosos, não seria possível estabelecer tal distinção. Esse jurista concebe o processo como uma entidade complexa, composta pelo procedimento e pela relação jurídica processual. Segundo sustenta, seria impossível encontrar normas que se dirigissem exclusivamente ao procedimento e normas que regulassem apenas a relação processual.
Com efeito, toda norma sobre o procedimento influiria também na relação processual, assim como toda norma disciplinadora desta produziria reflexos também sobre o procedimento. Qualquer dessas normas deveria ser considerada uma norma processual, visto que tanto o procedimento quanto a relação processual compõem o conceito de processo.
Não obstante, o jurista, a fim de alcançar o sentido dos dispositivos constitucionais examinados (arts. 22, I, e 24, XI), vê-se obrigado a admitir que, diante do direito positivo pátrio, podese falar em normas processuais stricto sensu e em normas puramente procedimentais. Consoante essa orientação, as normas processuais stricto sensu disciplinariam diretamente a relação jurídica processual, regulando as situações subjetivas das pessoas envolvidas no processo (poder, dever, faculdade, ônus e sujeição).
Já as normas puramente procedimentais regulariam diretamente o modo como deve desenvolverse o processo. Seu objeto seria, portanto: “(a) o elenco de atos que compõem cada procedimento, (b) a ordem de sucessão a presidir a realização desses atos, (c) a forma que deve ser observada em cada um deles (modo, lugar e tempo) e (d) os diferentes tipos de procedimentos disponíveis e adequados aos casos que a própria norma estabelece”). DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001, v. 1, p. 89.)
O NEOCONSTITUCIONALISMO E SEUS IMPACTOS NA ATIVIDADE HERMENÊUTICA
Com a premissa do neoconstitucionalismo, os métodos tradicionais de interpretação, ainda que auxiliados pelos meios de integração, não podem mais ser avaliados independentemente do Texto Constitucional.
Dessa forma, Barroso (2010) afirma que a interpretação constitucional necessita de outros parâmetros, a saber:
1. a superioridade hierárquica (nenhuma norma infraconstitucional pode existir validamente, se for incompatível com preceito constitucional);
2. a natureza aberta da linguagem (ordem pública, igualdade perante a lei, dignidade da pessoa humana, razoabilidadeproporcionalidade, moralidade);
3. o conteúdo específico (organização dos Poderes, definição de direitos fundamentais e normas programáticas, estabelecendo princípios ou indicando fins públicos);
4. o caráter político (a Constituição é o documento que faz a interface entre a política e o direito, entre o poder constituinte e o poder constituído).
Ainda de acordo com Barroso (2005), tais peculiaridades levaram ao desenvolvimento de princípios específicos para a interpretação constitucional,que funcionam como premissas conceituais da interpretação constitucional. Tais princípios são os seguintes:
(i) Princípio da supremacia da Constituição;
(ii) Princípio da presunção de constitucionalidade das leis;
(iii) Princípio da interpretação conforme a Constituição, o qual é operacionalizado por meio de três grandes mecanismos:
a) Adequação do sentido da norma infraconstitucional à Constituição;
b) Declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto, o que significa a declaração de inconstitucionalidade de um sentido possível da norma, ou, mais tecnicamente, de uma norma extraída de determinado enunciado normativo; e
c) Declaração da não incidência da norma infraconstitucional a determinada situação de fato, sem declaração de inconstitucionalidade.
(iv) Princípio da unidade;
(v) Princípio da razoabilidadeproporcionalidade;
(vi) Princípio da efetividade.
Esses parâmetros, hoje, devem ser observados por todos os ramos do direito, inclusive o direito processual, sob pena de se violar as garantias constitucionais básicas e, com isso, inviabilizar o processo justo.
Completando esse raciocínio...
No modelo tradicional, ou seja, positivista, o papel do juiz era o de tão somente descobrir e revelar a solução contida na norma. Em outras palavras, como ressalta Barroso (2009), formulava juízos de fato e não de valor. Mais do que isso, muitas vezes, a interpretação não era lastreada na Constituição.
Agora, no modelo póspositivista, o magistrado deve estar preparado para constatar que a solução não está integralmente na norma, o que demanda um papel criativo na formulação da solução para o problema.
Ele se torna, assim, coparticipante do papel de produção do direito, mediante integração, com suas próprias valorações e escolhas, das cláusulas abertas constantes do sistema jurídico. Faz-se necessário verificar a constitucionalidade das normas, sabendo que se subdividem em regras (comandos) e princípios (valores).
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS RELEVANTES
Canotilho (2000) defende que regras e princípios devem ser entendidos como espécies do gênero norma. Desse modo teríamos normas-regras e normas-princípios e, portanto, tal distinção residiria, em última análise, em uma diferenciação entre dois tipos de normas.
Daí resulta que ambas teriam aplicação prática e força cogente. Mas, enquanto a norma-regra regularia aspectos pontuais, sendo aplicada ou não — de forma peremptória —, a norma-princípio regularia situações mais elásticas, comportando ponderações no caso concreto, em virtude do seu maior grau de abstração.
Note-se ainda que as normas-princípios desempenham importante papel tanto na atividade do legislador quanto na do operador do direito. O primeiro, ao ditar normas-regras, deve considerar as normas-princípios já existentes no sistema.
O operador do direito, por sua vez, utiliza as normas-princípios no momento da interpretação e da aplicação das normas-regras, muitas vezes recorrendo àquelas para precisar o exato sentido e alcance destas últimas. Além disso, as normas-princípios também auxiliam o operador na tarefa de colmatagem de lacunas.
Os mais relevantes princípios processuais no Brasil são:
DEVIDO PROCESSO LEGAL 
Sem dúvida, um dos mais importantes princípios processuais foi introduzido em nosso ordenamento de forma expressa pela Constituição de 1988, em seu art. 5º, LIV, segundo o qual “ninguém será privado da liberdade ou dos seus bens sem o devido processo legal”. 
Ao analisar, sob uma perspectiva comparativa, os modelos constitucionais, Luigi Paolo Comoglio coloca o sistema constitucional de garantias processuais brasileiro, previsto na Constituição de 1988, na vanguarda das constituições modernas. O que ocorre em razão do seu caráter analítico e inovador em alguns aspectos, com inspiração tanto nos valores que orientam o modelo do due process of law anglo-americano, quanto na matriz europeia ligada à proteção dos direitos humanos. Por isso, além de afirmar que o due process of law é mais que uma garantia, sendo um conjunto de garantias que assegura às partes o exercício de faculdades e poderes processuais, Cândido Rangel Dinamarco dispõe que funciona também como sistema de limitação ao exercício do poder. 
O devido processo será uma "garantia de justiça" e "direito ao serviço jurisdicional corretamente prestado" a partir das normas processuais constitucionais (DINAMARCO, 2009). 
Como bem assevera Barbosa Moreira, não se pode esperar que o processo, por si só, tenha força suficiente para dirimir as desigualdades sociais através do aparelho judicial, mas servirá como importante meio para alcançar interesses socialmente relevantes da maneira mais desimpedida possível a todos os cidadãos (BARBOSA MOREIRA, 2004).
Não se pode olvidar, portanto, a busca da eficácia concreta no exercício do devido processo legal, onde Leonardo Greco entende que, para o processo equânime, as garantias são também direitos fundamentais. 
E o Estado não estará prestando a tutela jurisdicional de forma plena "se elas não forem respeitadas ou se as decisões judiciais resultarem de procedimentos em que o juiz sofre profundas limitações na apuração da verdade e na apreciação do direito das partes" (GRECO, 2012, p.132). 
Enfim, com o objetivo único e central de garantir o acesso à Justiça através de um processo justo e celebrado com os meios adequados, traduz, em termos processuais, os princípios da legalidade e da supremacia da Constituição, inerentes à democracia participativa pós-moderna.
ISONOMIA
Do primitivo conceito de igualdade formal e negativa (ou seja, de que o Direito não deve estabelecer diferenças entre os indivíduos), clama-se, hoje, pela igualdade material. Por uma Justiça que assegure tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais (na medida de suas diferenças), conforme a máxima aristotélica, constituindo um pilar da democracia. 
Em âmbito processual, significa restabelecer o equilíbrio entre as partes, e possibilitar a sua livre e efetiva participação no processo, como corolário do princípio do devido processo legal. 
Também constitui isonomia assegurar acesso dos menos favorecidos numa condição de igualdade processual com os que possuem maior força econômica, política ou social. 
Assim é a visão de José Carlos Barbosa Moreira ao destacar o princípio como um dos pilares na configuração do processo socialmente efetivo. Garante-se às partes igual possibilidade de fruição de todos os instrumentos processuais constitucionalmente previstos, uma vez que o desequilíbrio de forças entre as partes litigantes compromete a igual possibilidade de êxito no pleito (BARBOSA MOREIRA, 2004).
JUIZ NATURAL 
A Corte Europeia dos Direitos Humanos entende que a legal constituição do juízo e o direito ao julgamento por um tribunal instituído e submetido à lei é uma garantia essencial. Encontra-se parâmetro nos países de direito escrito em que a organização do sistema judiciário não pode ser entregue ao poder discricionário de uma autoridade judiciária. 
Com previsão constitucional no art. 5º, XXXVII e LIII, da Lei Maior, o princípio processual do juiz natural há de ser analisado sob duas vertentes: em relação ao órgão jurisdicional que julgará e à sua imparcialidade. 
Assim, quanto ao órgão julgador, subsiste a garantia de julgamento pelo juiz natural, o juiz competente segundo a Constituição. Isso significa que a competência para o julgamento deve ser predeterminada pelo Direito. O termo “juiz legal” poderia ter sido adotado, mas a doutrina consagrou a alcunha “juiz natural”. 
Possui o intuito de 
· evitar os odiosos tribunais de exceção que já se apresentaram nas ditaduras; 
· garantir que não haverá nenhum tipo de ingerência na escolha do juiz que julgará a causa.
INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL 
O direito à tutela jurisdicional é reconhecido na Convenção Europeia de Direitos Humanos como direito essencial que comporta o acesso ao juiz e à coisa julgada, dotando as decisões de força definitiva e obrigatória, sendo um elemento constitutivo da essência do Estado de Direito. 
Com sede constitucionalno art. 5º, XXXV, o referido princípio: 
i) impede que o legislador restrinja o acesso à ordem jurídica ou ao ordenamento justo, bem como 
ii) impõe ao juiz o dever de prestar a jurisdição, isto é, garantir a tutela efetiva, a quem detenha uma posição jurídica de vantagem, sendo vedado o non liquet, e 
iii) constitui garantia para as partes que existem ao lado das condições de procedibilidade para o exercício do direito de ação. 
Num sentido político, o princípio coloca sob o controle dos órgãos jurisdicionais todas as crises jurídicas que possam gerar um estado de insatisfação. 
Não se trata, portanto, de mera garantia de acesso ao juízo (direito à ação), mas da própria tutela (proteção) jurisdicional (adequada, tempestiva e, principalmente, efetiva) a quem tiver razão. Ou seja, significa o próprio Acesso à Justiça. 
Sob o prisma do acesso à jurisdição, o princípio se impõe como uma garantia fundamental essencial, possibilitando o início da relação processual e permitindo-se invocar a tutela do Estado. 
O bem individual e o bem comum serão regulados pela função jurisdicional, não podendo o Estado deles afastar o seu controle, sempre motivado a manter o equilíbrio social e econômico das relações.
Confirma-se a imediata importância do direito processual para a realização dos direitos, sendo imprescindível, na visão de Bedaque (2010, p. 20) "dotar o processo de efetividade prática" eis que "a via estatal continua sendo a principal forma de solução das controvérsias".
PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS 
Cappelletti afirma que a internacionalização dos direitos fundamentais sugeriu maior consideração de direitos universalmente compreendidos como direitos humanos e elevados à qualidade de essenciais. Isso fez com que os Estados entendessem que esses direitos deveriam gozar de maior proteção legal, firmando-se no texto constitucional. 
São, portanto, garantias que se destacam, como a independência e imparcialidade do juiz e, muito especialmente, a garantia de um processo aberto e público, diretamente ligadas ao devido processo legal e que se firmam como conquistas do direito processual civil (CAPEPELLETTI, 1973). 
Inserto nos art. 5º, LX, e 93, IX, CF/88, constitui projeção do direito constitucional à informação e suporte para a efetividade do contraditório, garantindo o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional desenvolvida. 
A administração da justiça faz parte da Administração Pública, que tem como Princípio a Publicidade (art. 37 da CRFB). Significa que, em regra, o processo deve ser público e, apenas excepcionalmente, sigiloso — quando houver expressa previsão legal, notadamente, quando a defesa da intimidade ou do interesse público o exigirem. 
O exame do artigo 6º da Convenção Europeia de Direitos Humanos mostra a possibilidade da renunciabilidade dos direitos nele previstos, o que tem sido admitido pela Corte, tanto em relação ao processo penal quanto ao processo civil. 
Por isso, a Corte Europeia, analisando caso a caso, tem aceito a renúncia à publicidade do processo, exigindo, em todos os casos, que essa renúncia não tenha sido o resultado de pressões ou intimidações, mas livre e espontânea.
Há uma íntima relação entre os princípios da publicidade e da motivação das decisões judiciais, na medida em que a publicidade torna efetiva a participação no controle das decisões judiciais.
MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS 
Consoante dispõe o art. 93, IX, CF, todas as decisões do Poder Judiciário devem ser fundamentadas, sob pena de serem consideradas nulas de pleno direito. Trata-se de dupla garantia: 
· de existir um fundamento e 
· de este ser explicitado. 
Dessa forma, é garantida às partes, para efeito de segurança das relações jurídicas e controle da atividade jurisdicional, a possibilidade de impugnar aquelas decisões que não estejam devidamente fundamentadas. 
Daí se revela essencial a motivação, demonstrando cuidadosa análise dos fatos e fundamentos aduzidos e a melhor interpretação e aplicação da lei, evitando surpreender as partes tanto quanto possível. Dessa forma, também se eleva o interesse público na prestação jurisdicional, corroborando a segurança jurídica (ALVARO de OLIVEIRA, 1998). 
Verifica-se a assertiva na medida em que, após a fase cognitiva, seja possível constatar, pelo exame da decisão proferida, se os elementos apresentados foram ou não apreciados pelo julgador em todas as suas minúcias. 
A motivação analítica reforça a decisão com fundamentos que esclarecem as razões pelas quais foram superados os elementos vencidos, ou, quanto aos que foram considerados, o motivo de terem sido total ou parcialmente acolhidos. 
A motivação permite às partes controlar se as razões e provas por elas apresentadas foram devidamente consideradas na decisão. Seria inútil assegurar o direito de ação e o direito de defesa se as alegações e provas trazidas aos autos pelas partes não precisassem ser obrigatoriamente examinadas pelo juiz no momento da decisão. Além disso, a motivação, ao revelar às partes os fundamentos da decisão, viabiliza a utilização pelo interessado dos meios de impugnação disponíveis no sistema. Isso porque a parte deverá, em seu recurso, demonstrar, claramente, seu ponto de insatisfação, sua discordância e, principalmente, suas razões para pleitear a reforma, a invalidação ou, até mesmo, a eliminação de obscuridade ou omissão contida no ato hostilizado. 
Salienta-se, modernamente, a função política exercida pelo aludido princípio, qual seja, a de permitir aferir a imparcialidade do juiz e a legalidade de suas decisões. A fundamentação está intimamente ligada à atividade cognitiva do juiz. É um dos chamados requisitos da sentença, na forma do art. 489, § 1° do NCPC. 
No Estado contemporâneo, o dever de fundamentação ganha uma especial relevância, tendo em vista o agigantamento dos poderes dos magistrados, bem como a utilização de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados nos textos legais. 
A motivação também disponibiliza às partes e à sociedade como um todo a possibilidade de compreender os motivos pelos quais o juiz tomou determinada decisão, permitindo a fiscalização da atividade judiciária.
DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO 
Para Jobim (2012), a consagração do direito à duração razoável do processo como um direito fundamental pela Constituição Federal, fez com que o princípio deixasse de ser considerado uma subespécie de outros princípios ou mero acessório da efetividade processual. 
Por isso, discordando de parte da doutrina, afirma que a efetividade do processo poderá ocorrer, ainda que não realizada num prazo razoável: "Não sendo tempestivo o processo, mas efetivado o direito material do autor, o processo não deixa de ser efetivo, apenas deixando de ser tempestivo" (JOBIM, 2012, p. 126). 
Assim, o autor entende que o princípio da duração razoável do processo é parte do denominado "processo justo", que engloba outros princípios e garantias que regem o processo civil. Não é novidade que a lentidão da justiça torna qualquer litígio mais penoso quando a tutela jurisdicional não se dá em tempo adequado. O que se visa combater é a demora injustificada decorrente de entraves judiciais, respeitando-se todas as garantias constitucionais e o devido processo legal, corroborando o instituto da segurança jurídica. 
A resolução das demandas administrativas e judiciais em tempo hábil traz maior fluidez à máquina estatal e os efeitos da morosidade não se prolongam indefinidamente, causando prejuízos econômicos e sociais. 
As questões que tornam o Judiciário mais lento na entrega da prestação jurisdicional refletem a insatisfação social com as mazelas públicas levadas ao Judiciário, avolumando o número de processos.
Na intenção de solucionar a questão da morosidade foram criados mecanismos de simplificação e adoção de institutos que, segundo Greco, relegaram a segundo plano "a preocupação com a qualidade das decisões" e permitiram a supressão das garantias fundamentais do processo (GRECO, 2012). 
Daí que a forte pressão por celeridade processual não garante uma prestaçãojurisdicional satisfatória. Os meios criados para agilizar as decisões no volume cada vez maior de demandas acabam por suprimir outros direitos. 
Isso quer dizer que nem sempre o resultado entregue aos que submetem seus litígios ao Estado preenchem as condições de um processo justo. Para Greco, essa aceleração que suprime outros direitos corresponde a um grave retrocesso na eficácia dos direitos fundamentais que foram arduamente conquistados. 
Bedaque afirma que o processo efetivo necessariamente observa o equilíbrio entre segurança e celeridade ao proporcionar às partes o direito material. Observa, no entanto, que entregar a tutela com celeridade, sobrepondo valores como a segurança jurídica e outros princípios indispensáveis às garantias individuais, somente com intenção de reduzir a demora, fere o processo justo (BEDAQUE, 2010). Razoável será o tempo necessário para a cognição da causa até a efetiva entrega (ou não) do bem pretendido pela parte, ou seja, de todo o iter processual até a efetivação do provimento final. 
A razoável duração do processo tem como características: 
· a universalidade; 
· a limitabilidade; 
· a cumulatividade; 
· a irrenunciabilidade.
BOA-FÉ E COOPERAÇÃO 
O artigo 5º do novo CPC tem a seguinte redação: “aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. 
Com isso, o princípio da boa-fé, que já vinha previsto no atual Código de Processo Civil, no rol dos deveres dos sujeitos processuais, é deslocado para o capítulo referente aos princípios e garantias fundamentais do processo civil, impondo a sua observância em todo o procedimento. 
O artigo 6º, por sua vez, estabelece que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha a solução do processo com efetividade e em tempo razoável”. Parece, portanto, que o legislador infraconstitucional quis adotar definitivamente o modelo cooperativo para o processo civil brasileiro. 
Aponta-se que o Princípio da Cooperação é decorrente dos Princípios da Boa-Fé, da Lealdade e do Contraditório. Esses dois princípios, que tiveram sua incidência inicial no direito privado, já têm a sua inserção nos ramos do direito público como certa, pois o que se espera de qualquer litigante, em qualquer esfera, é que atue de maneira a não frustrar a confiança da outra parte. 
O princípio da boa-fé se manifesta através de outros dois subprincípios: a proteção da confiança, pela qual se protege a ideia que o sujeito possuía sobre determinada coisa, e a prevalência da materialidade subjacente, ou seja, a regra jurídica será aplicada de acordo com as circunstâncias que envolvam o contexto fático. 
O Princípio da Cooperação também provoca reflexos necessários sobre os procuradores das partes. De fato, não haveria sentido que elas estivessem dispostas a colaborar de forma ampla com o juiz, e seus advogados não, uma vez que estes são os responsáveis por se dirigir, por escrito e oralmente, ao Estado-juiz, exercem atividade essencial para o desenvolvimento do processo.
AULA 3 - MEIOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
DIFERENÇA ENTRE MEIOS ALTERNATIVOS
Um conflito pode ser solucionado pela via estatal – jurisdição – ou pelos meios alternativos¹. Com efeito, é cada vez mais comum o uso desses últimos métodos durante o processo judicial.
No intuito de registrar as principais diferenças entre os meios puros de solução alternativa, apresentamos, a seguir, alguns conceitos básicos. Vejamos:
NEGOCIAÇÃO
Processo pelo qual as partes envolvidas no litígio buscam, de forma direta e sem a interveniência de uma terceira pessoa, chegar a uma solução consensual.
A negociação envolve sempre esse contato direto entre as partes ou entre seus representantes. Portanto, não há, aqui, um terceiro, um neutro, um mediador, um árbitro ou um juiz. Por meio de processos de conversação, as partes procuram fazer concessões recíprocas, reduzindo suas diferenças, e, através delas, chegam à solução pacificadora.
Obviamente, em razão do comprometimento emocional e, muitas vezes, da falta de habilidade dessas partes para chegar a uma solução, a negociação acaba se frustrando – razão pela qual se escolhe a segunda modalidade de solução alternativa: a mediação.
MEDIAÇÃO
Processo que inclui a figura de um terceiro, o qual, de alguma maneira, atua no relacionamento entre as partes envolvidas na tentativa de obter a pacificação de seu conflito. A forma e os limites que pautam a atuação desse terceiro indicam a modalidade da intermediação, que, hoje, pode ser passiva ou ativa.
Trata-se apenas de uma diferença de método, mas com um mesmo fim: o acordo. Entretanto, devido a essa tênue distinção para se chegar a tal consenso, há, muitas vezes, a discussão terminológica entre mediação e conciliação.
Passiva
Nesta primeira modalidade, aquele terceiro apenas ouve as versões das partes. Por isso, essa figura funciona como um agente facilitador, já que procura aparar as arestas sem, entretanto, e em hipótese alguma, apresentar seu ponto de vista, suas soluções ou, ainda, fazer propostas ou contrapropostas às partes. Sua ação é, portanto, de expectador/facilitador - função típica de um mediador.
Ativa
Nesta segunda modalidade, especificamente no Direito brasileiro, o intermediador ativo recebe o nome de conciliador.
Os primeiros esforços para concretizar a mediação no ordenamento jurídico brasileiro datam do fim do século XX.
CONCILIAÇÃO
Processo que ocorre quando o intermediador adota uma postura mais ativa: ele não apenas facilita o entendimento entre as partes, mas, principalmente, interage com elas, apresenta soluções, busca caminhos não pensados por elas antes, faz propostas, adverte-as de que determinada proposta está muito elevada ou de que outra está muito baixa etc.
Enfim, essa figura tem uma postura que verdadeiramente influencia o resultado daquele litígio, a fim de obter sua composição. Apesar da atuação mais incisiva desse terceiro, o objetivo é fazer com que os interessados empreguem suas forças para uma solução amigável do conflito.
Em seu aspecto processual, a conciliação é um gênero que apresenta as seguintes espécies: a desistência, a submissão e a transação – conforme a intensidade da disposição do Direito efetivada pela(s) parte(s) interessada(s).
ARBITRAGEM
Processo que tende mais à mediação – especificamente à intermediação ativa (conciliação). Nesse contexto, além de ouvir as versões das partes e tentar uma solução consensual, interagindo com elas, o árbitro deve proferir uma decisão de natureza impositiva, caso uma alternativa conciliatória não seja alcançada.
Aqui, observamos a crucial diferença entre as posturas do árbitro e do mediador: enquanto o primeiro tem efetivamente o poder de decisão, o segundo pode apenas sugerir, aconselhar as partes na tentativa de facilitar o acordo, e não de decidir a controvérsia.
(¹ Antiga denominação dos meios de autocomposição – chamados, também, de equivalentes jurisdicionais. Esses métodos eram considerados alternativos porque fugiam à regra geral, ou seja, à jurisdição.
Atualmente, de acordo com o artigo 3º da lei nº 13.105/2015 - Novo Código de Processo Civil (NCPC) – e com a nova compreensão da garantia de acesso à Justiça, entendemos que, em um primeiro momento, cabe usar as soluções não adversariais. Se elas não funcionarem, deveremos, pois, recorrer à jurisdição.
Muito difundidas em diversos países, hoje, tais vias recebem nomenclatura variada, como, por exemplo:
• Meios Alternativos de Solução de Conflitos (MASC) – Brasil;
• Alternative Dispute Resolution.)
HISTÓRICO: MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
A primeira iniciativa legislativa em direção aos meios alternativos de solução de conflitos ganhou forma com o Projeto de Lei (PL) nº 4.827/1998, oriundo de proposta da Deputada Zulaiê Cobra.
O texto inicial levou à Câmara uma regulamentação concisa, estabelecendo a definição de mediação e elencando algumas disposições a respeito. Após longo e acidentado percurso, o PL foi arquivado em 2006.
Entretanto, em 2010, dentro de um contexto mais amadurecido sobre o tema, o CNJ implementou,de forma definitiva, o denominado sistema multiportas e editou a Resolução n° 125, com base nas seguintes premissas:
a) O direito de acesso à Justiça (artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição) implica, além da vertente formal perante os órgãos judiciários, acesso à ordem jurídica justa;
b) Cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar em âmbito nacional não somente os serviços prestados nos processos judiciais mas também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos – em especial, os consensuais, como a mediação e a conciliação;
c) Há necessidade de se consolidar uma política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de solução de litígios.
De acordo com a Resolução nº 125/2010 do CNJ:
Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade.
Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão.
HISTÓRICO: ARBITRAGEM
As raízes da arbitragem datam de período tão antigo que há notícia da matéria até mesmo na mitologia grega¹.
No Brasil, apesar de suas antigas previsões, a edição da lei nº 9.307/1996 foi um marco determinante que regulamentou e difundiu o instituto – atualmente em verdadeira ascensão no País.
A consolidação da arbitragem em território nacional deveu-se, especialmente, ao prestígio dado pelos tribunais brasileiros a sua utilização, conferindo eficácia às sentenças e às convenções arbitrais².
Nesse contexto legislativo, em 17 de março de 2015, foi publicada a lei n° 13.105 (NCPC), que deve observar prazo de um ano até que entre em vigor (artigo 1.045).
O NCPC prestigia, de maneira inovadora, as conciliações e mediações judiciais, além de valorizar, claramente, o instituto da arbitragem, demonstrando uma verdadeira modificação de paradigma em relação a determinadas questões.
(¹ De acordo com a mitologia grega, Zeus nomeou um terceiro imparcial – o príncipe troiano Páris (árbitro) – para resolver a disputa sobre qual das deusas – Atena, Hera ou Afrodite – ganharia o pomo de ouro da mais bela – pomo da discórdia.)
(² Sobre o tema, vale destaque ao julgamento do pedido de homologação de Sentença Estrangeira (SE) nº 5.206, no qual, após suscitar a inconstitucionalidade de alguns artigos da Lei da Arbitragem, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria de votos, pela constitucionalidade da lei.)
De acordo com os responsáveis pela elaboração do NCPC (BRASIL, 2010, não paginado):
“Pretendeu-se converter o processo em instrumento incluído no contexto social em que produzirá efeito seu resultado. Deu-se ênfase à possibilidade de as partes porem fim ao conflito pela via da mediação ou da conciliação. Entendeu-se que a satisfação efetiva das partes pode dar-se de modo mais intenso se a solução é por elas criada, e não imposta pelo juiz”.
NCPC/2015 E LEI N° 13.140/2015: MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
No NCPC/2015 – em especial, em seus artigos 165 a 175 –, é possível identificar a preocupação da Comissão dos Juristas com os institutos da conciliação e da mediação.
Já em suas Normas Fundamentais, ao tratar do princípio da inafastabilidade, o NCPC afirma que é dever do Estado promover a solução consensual dos conflitos, e a conciliação, a mediação e outros métodos devem ser estimulados pelos juízes, advogados, defensores públicos e membros do Parquet¹ (artigo 3º, parágrafos 2º e 3º).
O legislador se preocupou, especificamente, com a atividade de conciliação e mediação feita dentro da estrutura do Poder Judiciário. Isso não exclui, contudo, a mediação e conciliação prévias ou mesmo a possibilidade de utilização de outros meios de solução de conflitos (artigo 175).
(¹ Termo jurídico empregado no ramo do Direito como sinônimo de Ministério Público.)
O tema também é tratado sob a rubrica “Auxiliares da Justiça” (Parte Geral, Título IV, Capítulo III, Seção V). Resolvendo, portanto, antiga discussão, fica claro que conciliadores e mediadores judiciais são auxiliares do juiz. Isso se coaduna com o artigo 139, inciso V, do NCPC, que dispõe sobre a incumbência do magistrado em promover, a qualquer tempo, a autocomposição – preferencialmente com o auxílio dos conciliadores e mediadores judiciais.
A atividade deve ser conduzida por mediador profissional, imparcial e que não tenha proximidade com o conflito. Em outras palavras, a função de mediar não deve, como regra, ser acumulada por outros profissionais – como juízes, promotores e defensores públicos. O NCPC prestigia esse entendimento.
De acordo com os conceitos adotados pelo Código, o conciliador pode sugerir soluções para o litígio. Aliás, essa é a ferramenta mais adequada para os conflitos puramente patrimoniais.
Não obstante à possibilidade de sugerir propostas, o ideal é que as próprias partes cheguem a um consenso, de forma que tenham consciência plena da obrigatoriedade de cumprir aquilo que acordaram.
Por sua vez, o mediador auxilia as pessoas em conflito a identificarem, por si mesmas, alternativas de benefício mútuo, indicadas para as hipóteses em que se desejem preservar ou restaurar vínculos, ou seja, aquelas situações em que a pauta subjetiva interfere diretamente na objetiva e, por isso, deve ser tratada como tal.
Nesses casos, o objetivo da mediação é restabelecer a comunicação entre as partes envolvidas com a preservação da relação que existia anteriormente.
Na versão sancionada e publicada do NCPC, prestigiou-se o entendimento de que qualquer profissional pode exercer as funções de mediador, não havendo exclusividade para advogados ou psicólogos.
Na primeira versão do PLS nº 166/2010, era imprescindível que o mediador fosse inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o que acabou suprimido na versão final do Código (artigo 137, § 1º).
LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA ARBITRAGEM
O campo de atuação da arbitragem no Brasil é muito amplo. De acordo com o artigo 1º da lei nº 9.307/1996, apenas podem ser objetos da arbitragem os direitos patrimoniais disponíveis, isto é, aqueles passíveis de conversão monetária e que se encontram na livre disposição de seu titular.
O STJ entendeu que a competência para julgamento de medida cautelar de arrolamento de bens será do juízo arbitral se o mesmo tiver sido escolhido para a demanda principal.
Fonte: STJ. CC 111.230-DF. Relator: Ministra Nancy Andrighi, julgamento 08/05/2013. Informativo STJ, n. 522.
Ficam, portanto, excluídos da arbitragem os direitos não patrimoniais e os indisponíveis. Além disso, são excluídas as matérias de natureza familiar ou de Estado², bem como as de ordem fiscal e tributária.
As causas de falência – concordata – que envolvam objetos fora do comércio ou que exijam a participação do Ministério Público também não podem ser submetidas à solução pela via arbitral.
(² Aquelas relativas à capacidade da pessoa ou ao seu estado.
Exemplos:
• Alimentos;
• Filiação;
• Pátrio poder;
• Casamento etc.)
As questões excluídas do objeto da controvérsia podem ser apreciadas incidentalmente, com o escopo de esclarecer ou servir de sustentação à matéria de fundo. Mas essa apreciação incidental NÃO equivale à ação declaratória incidental. Se o árbitro não tem jurisdição para conhecer determinada matéria em sede principal, tampouco poderá conhecê-la em sede incidental.
A questão anteriormente controvertida na doutrina era a arbitragem que envolvia entidades de Direito público. Essa questão analisava se os interesses da Administração Pública eram sempre indisponíveis e, por isso, não suscetíveis à arbitragem.
O fato é que, nem sempre, o interesse público se confunde com o interesseda Administração Pública, e, mais do que considerá-lo indisponível, precisamos compreender que ele gera efeitos disponíveis. Por exemplo, há a possibilidade de a Administração Pública transigir a respeito de interesses a ela referidos em processos judiciais, como acontece nos Juizados Especiais (artigo 10 da lei nº 10.259/2001).
Dessa forma, em se tratando de direito disponível ou de direito com efeitos disponíveis, não há empecilho para que a Administração Pública se submeta à arbitragem.
Esse entendimento já vinha sendo prestigiado pela doutrina mais moderna (SALLES, 2012, p. 5) e pela jurisprudência. Agora, por força da lei n° 9.307/1996, artigo 1º, parágrafo 1º – inserido pela lei n° 13.129/2015 –, a questão se pacificou.
Em relação ao sujeito, apenas podem se submeter à arbitragem pessoas capazes³ (artigo 1º da lei nº 9.307/1996) e Pessoas Jurídicas. Exige-se, ainda, que os sujeitos possam livremente manifestar sua vontade, não bastando que apenas uma das partes deseje que o litígio não seja levado ao Poder Judiciário.
(³ Aqui, a capacidade não é compreendida como processual, mas sim como capacidade civil plena.)
PRINCIPIOLOGIA DA ARBITRAGEM
Vamos conhecer, agora, os princípios da arbitragem. São eles:
1. Autonomia da vontade e autonomia privada
As partes maiores e capazes – Pessoas Físicas ou Jurídicas – podem, por livre manifestação de vontade e escolhendo o juízo arbitral no lugar do estatal, decidir se submetem à arbitragem:
• A lei aplicável – nacional ou estrangeira;
• O julgamento por equidade;
• O número de árbitros;
• O procedimento da arbitragem;
• O prazo em que a sentença será proferida – caso a conciliação seja frustrada.
2. Eleição da lei aplicável – nacional ou estrangeira
Esta eleição não deve violar os bons costumes e a ordem pública – artigo 2º da Lei da Arbitragem e artigos 9º e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
3. Devido processo legal
A escolha do procedimento não pode ofender as garantias constitucionais da(o):
• Igualdade;
• Contraditório;
• Ampla defesa;
• Imparcialidade dos árbitros;
• Livre convencimento motivado.
4. Efeito vinculante da cláusula arbitral
As partes ficam submetidas à sentença arbitral, qualquer que seja o resultado da demanda.
5. Inevitabilidade dos efeitos da sentença arbitral
A sentença arbitral é acobertada pela coisa julgada material e constitui título executivo judicial, ficando vedado às partes rediscutir a questão no Poder Judiciário.
6. Autonomia entre a cláusula arbitral e o contrato
A eventual irregularidade ou invalidade do contrato não compromete a cláusula arbitral.
7. Kompetenz-kompetenz (competência-competência)
Este é um dos princípios-chave da arbitragem, que classifica o árbitro como juiz de sua competência. Cabe a ele definir se determinada questão deve ou não se submeter à arbitragem. Em outras palavras, o árbitro deve decidir sobre a existência, a validade e a eficácia da convenção de arbitragem – sobre a qual vamos discutir a seguir.
CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM
Convenção de arbitragem é o acordo no qual as partes interessadas submetem a solução de seus litígios ao juízo arbitral – seja por meio de cláusula compromissória, seja por meio de compromisso arbitral (artigo 3º da lei nº 9.307/1996).
A cláusula compromissória e o compromisso arbitral são, portanto, espécies de convenção de arbitragem.
A cláusula compromissória refere-se ao futuro e é inserida no contrato para que qualquer litígio que se origine deste seja submetido à arbitragem. Por isso, chamamos essa cláusula de antecedente natural da arbitragem. Ela deve sempre ser estipulada por escrito e nunca pode ser presumida (artigo 4º, parágrafo 1º, da lei nº 9.307/1996).
Ao redigi-la, os contratantes podem ou não instituir algum tribunal arbitral ou entidade especializada. Nesse caso, se houver necessidade de instauração da jurisdição privada, sua instituição e seu processamento se realizarão de acordo com as respectivas regras internas da entidade escolhida.
Contudo, em se tratando de contratos de adesão – frequentes nas relações de consumo –, a cláusula compromissória só terá eficácia se observar um dos seguintes requisitos:
• Redação em documento separado, firmado pela parte aderente;
• Cláusula redigida em negrito, dentro do contexto contratual, com a assinatura ou com o visto do aderente – especialmente lançados para tal cláusula.
A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que foi inserida. Trata-se, na verdade, de subcontrato ou contrato acessório, que se reveste de autonomia em relação ao vínculo principal, de forma que a nulidade deste não importa na nulidade daquela.
NCPC/2015: ARBITRAGEM
O NCPC/2015 traz diversos dispositivos relativos à arbitragem. Alguns deles são mera repetição de regras já existentes no CPC/1973, com algum aperfeiçoamento na redação. Outros apresentam inovações já em sintonia com a lei nº 13.129/2015, que atualizou a lei nº 9.307/1996, conforme já estudamos.
De um modo ou de outro, o NCPC vem como forma de aprimorar antigos pontos sensíveis, tais como:
• A estabilização do efeito vinculante da convenção de arbitragem;
• A análise das medidas urgentes pré-arbitrais;
• A efetivação de medidas urgentes e constritivas;
• A ação de anulação da sentença arbitral;
• O cumprimento e a homologação da sentença arbitral.
AULA 4 - JURISDIÇÃO: A FUNÇÃO JURISDICIONAL E OS CONCEITOS BÁSICOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS
FUNÇÕES DO PODER ESTATAL
Podemos distinguir as manifestações do poder estatal apresentando suas funções e características.
JURISDIÇÃO
- Atuação do direito objetivo na composição dos conflitos de interesses, tornandoos juridicamente irrelevantes;
- Ato emanado, em regra, do Poder Judiciário;
- Revestese de particularização;
- Atividade exercida mediante provocação;
- Imparcial;
- Com o advento da coisa julgada, tornase imutável.
FUNÇÃO LEGISLATIVA
- Objetiva criar leis, normas abstratas que possuem comando genérico;
- Ato emanado, em regra¹, do Poder Legislativo;
- Reveste-se de generalização; atividade exercida sem provocação; imparcial; é passível de revogação², mediante a realização de outro ato incompatível com o primeiro, ou de ser considerado nulo, mediante controle de constitucionalidade.
(¹ Também aqui se observa o critério da preponderância. Desse modo, uma pequena parcela da função legislativa é exercida pelo Poder Executivo (CF/88, arts. 62, 68 e 84, VI) e pelo Poder Judiciário (CF/88, arts. 96, I, a, 125, §§1° e 3° - este último parágrafo alterado pela EC n. 45/2004). Deve-se, ainda, atentar para a atividade desenvolvida pelo STF, ao editar súmulas vinculantes, com fundamento na CF/88, atr. 103-A.)
(² CF. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Art. 2° Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. §1° A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.)
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
- É a função de promover o bem comum, em conformidade à lei (executar os comandos estatais);
- Ato emanado, em regra³, do Poder Executivo;
- Reveste-se de auto executoriedade;
- Atividade exercida sem provocação;
- O ato administrativo é passível de revogação ou anulação.
(³ Mais uma vez se verifica o critério da preponderância. Assim, também os Poderes Legislativo e Judiciário exercem uma parcela da função administrativa. Isso acontece, v. g., quando realizam concurso público para provimento de cargos de assistente legislativo ou de juiz de direito. Quanto ao desempenho de função administrativa pelo Poder Judiciário, consulte-se, especialmente, a CF/88, art. 96, I, b a f.)
Jurisdição, em latim, significa “ação de dizer o direito”, resulta da soberania do Estado e, junto com as funções administrativas e legislativa, compõe as funções estatais típicas.
Além dessas funções típicas, há também as funções atípicas, as quais servem para manter o sistema de freios e contrapesos, buscando garantir a harmonia sem violara independência.
Assim, o Executivo indica os Ministros do STF, após sabatina pelo Legislativo. O Judiciário pode cassar o mandato do Chefe do Poder Executivo e deve julgar conforme as leis e a Constituição, que não foram por ele elaboradas. Por outro lado, pode declarar uma lei inconstitucional.
Tais exemplos não são considerados usurpações de competência, justamente pelo fato de serem estipulados constitucionalmente.
O Judiciário manifesta função atípica legislativa, pois cabe a ele a iniciativa das leis que regem a atividade judiciária. Podemos dar como exemplo leis que disciplinam a estrutura de varas especializadas, como a Vara da Violência Doméstica ou a Vara do Idoso.
CONCEITO DE JURISDIÇÃO
Segundo Giuseppe Chiovenda (2000, p. 59-60), jurisdição é a função estatal que tem por finalidade a atuação da vontade concreta da lei, substituindo a atividade do particular pela intervenção do Estado.
Esse entendimento segue a doutrina positivista e reduz drasticamente os poderes do juiz, pois a vontade do povo é expressada pela lei, a qual é o produto da atividade do legislador. Através do seu exercício, declaramse direitos preexistentes (Teoria Declaratória ou Dualista do ordenamento).
Por outro lado, Francesco Carnelutti (1999) afirma que a jurisdição é a função do Estado que busca a justa composição da lide. Sendo, esta última, o conflito de interesses qualificado pela pretensão de uma das partes (caracterizada pela exigência de subordinação do interesse alheio ao interesse próprio), bem como pela resistência da outra (Teoria Constitutiva ou Unitarista).
Só haveria processo e jurisdição se houvesse lide. Como ninguém teria qualquer direito até que o Judiciário (e não o Legislativo) o conferisse, a jurisdição teria o intuito de resolver o litígio.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
As principais características da jurisdição ou, em outras palavras, aquelas capazes de distingui-la das demais funções estatais e que, em regra, estão presentes em todas as suas manifestações, são: a inércia, a substitutividade e a natureza declaratória.
INÉRCIA
O juiz, via de regra, não age de ofício, necessita de provocação, manifestada pela pretensão de uma das partes, em consonância ao disposto no princípio da inércia ou demanda, esposado nos arts. 2º e 262 do CPC/1973 e nos arts. 2º e 141 do CPC/2015.
A inércia dos órgãos jurisdicionais relacionase a sua própria natureza de órgão voltado ao fim último da pacificação social, porquanto o exercício espontâneo da atividade acabaria fomentando conflitos e divergências onde não existiam. Por outro lado, a iniciativa estatal acabaria gerando um envolvimento psicológico indesejado do juiz, afetando sua imparcialidade.
Tal princípio traz como decorrência a norma da adstrição da sentença ao pedido ou da congruência entre sentença e demanda, que impede que o magistrado julgue fora dos limites do que é pedido. Dessa forma, é vedado em nosso ordenamento, por força do art. 128 do CPC/1973 e do art. 141 do CPC/2015, proferir decisões extra, ultra e citra petita, isto é, de forma diversa, além ou aquém do que for pleiteado.
SUBSTITUTIVIDADE
Ao vedar a autotutela - permitida apenas excepcionalmente, como no caso do desforço possessório (art. 1.210, §1°, do CC) -, o Estado chamou a si o dever de prestar jurisdição, substituindo-se a atividade inicial das partes, aplicando o direito objetivo ao caso concreto. Ou seja, decidindo o conflito, mas não necessariamente resolvendo-o. Segundo nosso juízo, esta seria a característica preponderante da jurisdição.
No mesmo sentido, ressalta Emane Fidélis a posição de destaque da substitutividade:
Essa atribuição do Estado, que é uma de suas específicas funções, chama-se ‘jurisdição’ e tem caráter eminentemente substitutivo. Substitutivo, porque o Estado, através de um órgão julgador, faz a composição que as pessoas deveriam fazer, pacífica ou forçadamente. A composição pacífica o Estado permite e até aconselha, mas a forçada ele veda aos particulares. Daí sua interferência, em substituição ao que ele mesmo proíbe (SANTOS, 1998, p.7).
DEFINITIVIDADE
Também conhecida como indiscutibilidade ou imutabilidade. A decisão jurisdicional põe fim à controvérsia e impede que seja, no futuro, novamente suscitada ou trazida a exame.
A partir do momento em que não há a interposição de recurso contra a decisão do juiz, ou mesmo quando são esgotados todos os meios recursais disponibilizados no Código (art. 496 do CPC/1973 e art. 991 do CPC/2015), aquela decisão adquire a qualidade de coisa julgada, 	que a torna imutável. Tal condição é necessária para garantir a segurança das relações jurídicas e dar tranquilidade às partes acerca do resultado final daquela disputa.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
A jurisdição se caracteriza, ainda, pelos seguintes princípios:
Clique aqui e leia mais sobre cada um deles.
ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO
A rigor, não haveria espécies de jurisdição, eis que esta, como manifestação da soberania estatal, é una e indivisível. Contudo, utilizase tal classificação para sua melhor compreensão. Dessa forma, temos:
Quanto à pretensão (ou à natureza da norma que será aplicada no exame da pretensão): civil ou penal. Alguns admitem uma subdivisão da civil (lato sensu) em civil (stricto sensu) e trabalhista, comercial e outros. Assim, definese a pretensão civil por exclusão, ou seja, “como aquela que não é penal”.
Ressaltese, no entanto, que a distribuição de processos segundo esse critério atende apenas a uma conveniência de trabalho. Isto porque não se pode isolar completamente uma relação jurídica de outra a ponto de afirmar-se que nunca haverá pontos de contato entre elas como ocorre, por exemplo, na ambivalência da decisão proferida no juízo criminal e na prova emprestada.
Quanto ao grau em que ela é exercida: superior (órgão que conhece a causa em grau de recurso – 2ª instância) e inferior (órgão que possui a competência originária para o julgamento – 1ª instância).
Em regra, corresponderia aos tribunais e juízes. Entretanto, pode acontecer de o tribunal deter competência originária para a causa, como no caso de mandado de segurança impetrado contra ato de Chefe de Poder; de juiz com competência recursal; e de Turma Recursal nos juizados especiais.
A essa classificação relacionase o princípio do duplo grau de jurisdição que, apesar de não garantido constitucionalmente de modo expresso (tratase de decorrência do princípio do devido processo legal), é disciplinado por diversos diplomas legais.
Quanto à submissão ao direito positivo: de direito e de equidade. No Brasil, é adotada a jurisdição de direito, conforme preceitua o art. 127 do CPC/1973 e o art. 140, parágrafo único, do CPC/2015, cabendo algumas exceções somente quando houver expressa autorização legal.
No caso da arbitragem (que, como já visto, não representa expressão da atividade jurisdicional), verificase que, de acordo com o art. 2º da Lei n. 9.307/96, as partes poderão optar livremente por um procedimento baseado no direito ou na equidade.
Tais exceções estão previstas, por exemplo, no art. 1.109 do CPC/1973 – procedimento de jurisdição voluntária – e no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90, art. 6º).
Quanto ao órgão que exerce a jurisdição: comum ou especial. A jurisdição comum pode ser federal ou estadual (ou do Distrito Federal), enquanto a especial pode ser do trabalho, militar ou eleitoral.
Quanto à existência ou não da lide ou quanto à forma: contenciosa ou voluntária. A distinção entre a jurisdição contenciosa e a voluntária, embora sobreviva, perdeu muito de sua importância, especialmente em sistemas processuais, como o nosso, que adotam procedimentos praticamente idênticos em ambas as modalidades de jurisdição.
Também não é relevante a inclusão de processos sem lide em uma ou outra categoria. É mais simples aceitar que migrem desta para aquela conforme exista ou não efetiva contenciosidade entre dois sujeitos em posições subjetivas antagônicas. Por isso, a jurisdição contenciosa é exercida em face de um litígio, quando há controvérsia entre as partes.