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'contexto filosofico da educaçao Unidade 1( topicos 1 2 3)

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UNIDADE 1 
DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 
• ter elementos para a compreensão do processo de formação da educação nas sociedades sem 
escrita. 
• relacionar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação ocidental. 
• compreender o processo de formação do sistema ocidental cristão de educação. 
• avaliar diferentes formas de educação antes da invenção da imprensa. 
TÓPICO 1 
A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA 
ANTIGUIDADE 
1 INTRODUÇÃO 
Neste tópico entraremos em contato com a formação dos primeiros tipos de modelos educacionais 
surgidos na humanidade. A educação tribal pode ser denominada também como educação difusa, 
pois nela não está presente a figura da instituição escolar. Também analisaremos a presença da 
educação e o seu desenvolvimento nas primeiras sociedades letradas da história humana, como 
os mesopotâmicos, egípcios, hebreus, fenícios e persas. Seguindo a cronologia, iniciaremos nossa 
narrativa contemplando a presença da educação nas sociedades ágrafas. 
2 AS SOCIEDADES ÁGRAFAS 
Podemos compreender por sociedades ágrafas as comunidades humanas que não possuem 
formas de escrita. Em geral, uma visão linear da história classifica que o homem “entra na história” 
deixando a pré-história após o desenvolvimento da capacidade de escrita. Porém, não temos como, 
em pleno século XXI, continuar a reproduzir uma visão tão estreita das sociedades humanas, pois 
até na atualidade existem grupos humanos, com formas de organização social complexas, que não 
possuem a escrita como forma de mediação de conhecimento e memória. 
Assim, neste primeiro tópico vamos contemplar um pouco das sociedades ágrafas. Não é pela 
ausência da escrita que as sociedades teriam uma ausência de funções sociais, além de uma 
preocupação educacional constante por parte das lideranças grupais. Em geral, as sociedades 
ágrafas são estudadas por diferentes profissionais das ciências humanas e naturais. Quando se 
trata do estudo das sociedades sem escrita que já desapareceram há milhares de anos, seu estudo 
fica a cargo de arqueólogos. Quando se trata do estudo de sociedades contemporâneas, seu 
estudo fica a cargo dos antropólogos e, por vezes, sociólogos e historiadores. 
Os arqueólogos são profissionais que estudam os vestígios fósseis de civilizações pré-históricas, 
ou de civilizações perdidas há milhares de anos. Portanto, seu trabalho se realiza nos denominados 
sítios arqueológicos, nos quais são encontrados os restos de cultura material de alguma civilização 
pretérita (BRAIDWOOD, 1988). Os paleontólogos estudam os fósseis da vida na Terra, não 
obrigatoriamente vinculados aos seres humanos. O seu método analítico é plural, devido aos 
diferentes tipos de fósseis que o paleontólogo analisa: de animais invertebrados, de vertebrados, 
de plantas, entre outras possibilidades de vida humana fossilizada. 
Os antropólogos, por sua vez, utilizam uma metodologia de trabalho completamente diferente dos 
arqueólogos e paleontólogos. Os antropólogos em geral realizam o denominado trabalho de campo. 
Isto é, passam meses em uma tribo, buscando compreender sua língua e seu modo de 
funcionamento, anotando suas observações em um diário de campo. Posteriormente, realizam o 
relato etnográfico, no qual apontam as características da população por eles analisada. 
Em grande parte, é com base nos diferentes dados disponibilizados pelos antropólogos, 
arqueólogos, paleontólogos e demais profissionais das ciências humanas, que iremos realizar a 
caracterização das sociedades ágrafas na presente unidade deste caderno de estudos. Um 
primeiro e importante dado a pensar é que, mesmo estando vivendo em um período da história do 
mundo no qual temos acesso a diversos mecanismos tecnológicos para a comunicação entre as 
pessoas, passando pela televisão e o rádio, chegando aos computadores e telefones celulares, 
hoje, no momento em que estamos lendo este texto, existem milhares de pessoas vivendo em 
formas de organização social na qual não existem estas mediações tecnológicas, e a vida segue 
em um contato direto com a natureza. Estas populações, em geral, não possuem escrita formal. 
Assim, contemplaremos algumas destas sociedades. 
As sociedades ágrafas mais próximas aos brasileiros são as comunidades indígenas. O termo índio 
provém do eurocentrismo dos primeiros navegadores europeus que atingiram as costas litorâneas 
do continente americano e denominaram os nativos índios por acreditarem estar pisando nas 
Índias, isto é, na Ásia. As sociedades indígenas têm uma tradição secular na América. Em geral, 
se acredita terem os nativos americanos migrado da Ásia, atravessando o Estreito de Bering, no 
extremo norte do continente. Assim como entre os europeus ocidentais, que têm sua divisão cultural 
marcada pela origem dos idiomas (latino, eslavo, saxão, escandinavos), os indígenas da América 
também são classificados conforme a sua diferente forma de fala. Quatro são os principais troncos 
linguísticos dos indígenas americanos: Tupi-guarani, Arauaque, Jê e Caribe. Isto é, estes quatro 
troncos linguísticos apontam que vários grupos têm uma matriz cultural comum, que ganhou maior 
variedade devido ao processo de migração pelo continente (OLIVEIRA; FREIRE, 2006). 
Um dos principais estudiosos da presença indígena na sociedade brasileira foi o antropólogo Darcy 
Ribeiro. Em relação às suas obras, é interessante ler alguns de seus livros, como Os Índios e a 
Civilização, assim como O Povo Brasileiro e O Processo Civilizatório. 
 
FIGURA 1- MENINA INDÍGENA 
FONTE: Disponível em: <www.amazonia.org.br>. Acesso em: 15 ago. 2016. 
Uma visão estereotipada dos indígenas aponta como menos desenvolvidos, andando nus pelas 
matas, realizando o canibalismo e vivendo em poligamia, isto é, um homem tendo várias esposas. 
Tal visão estereotipada é reforçada pelos manuais didáticos de história, pois estes apresentam 
apenas os indígenas de 500 anos passados, quando da vinda dos europeus para a América. 
Todavia, deveríamos ter uma relação e visão completamente diferentes das tribos existentes na 
atualidade. Se nos últimos 500 anos o homem branco mudou de forma radical, os indígenas 
também mudaram. 
Até mesmo considerar as tribos indígenas como pertencentes a sociedades sem escrita pode ser 
considerado uma visão estereotipada. Desde o século XVI, parte das línguas nativas passou a ter 
alguma forma de escrita. No atual momento da história brasileira, temos alguns indígenas 
alcançando os graus universitários, sendo também comum a presença de alfabetizadores dentre 
as principais tribos brasileiras. Todavia, apenas por força da tradição, mantivemos os indígenas 
brasileiros como exemplos de sociedades ágrafas. 
 
FIGURA 2 - INDÍGENA UNIVERSITÁRIO 
FONTE: Disponível em: <www.portalmec.gov.br>. Acesso em: 15 ago. 2016. 
Não apenas as tribos indígenas presentes no Brasil e nos demais países americanos são exemplos 
de sociedades sem escrita (com as ressalvas realizadas no parágrafo anterior). Na África e na Ásia 
ainda encontramos algumas formações culturais que não precisaram do desenvolvimento da 
escrita. Podemos citar os aborígines australianos, as populações isoladas das ilhas do Oceano 
Pacífico, assim como algumas tribos africanas, com destaque para os povos pigmeus. 
Em geral, denominam-se aborígines os nativos da Austrália, local em que grande parte das tribos 
sofreu com o processo de colonização empreendido pelos ingleses, assim como o preconceito 
racial marcou a vida de muitos destes nativos da Oceania durante grande parte da presença 
europeia na Austrália. Na atualidade, o governo australiano buscou formas de integrar os 
aborígines, sem utilizar da violência como a principal forma de linguagem. Também em pequenas 
ilhas do Oceano Pacífico, outras comunidades existem e são formadas por sociedades sem escrita. 
Como já afirmado, na África, dentre as populações sem escrita, uma das mais tradicionais são os 
pigmeus. Caracterizados pela baixa estatura, possuemuma forma peculiar de vida. 
As sociedades sem escrita possuem algumas características comuns. Em geral, as trocas 
econômicas são naturais, isto é, não possuem as moedas como símbolo econômico. Outra 
importante característica das sociedades ágrafas é a ausência de uma divisão de classes. Grande 
parte da divisão do trabalho é sexual. Determinadas tarefas cotidianas são destinadas aos homens, 
e outras destinadas às mulheres. Questões ligadas à caça e pesca de animais para a alimentação, 
assim como a guerra, em geral, são atividades masculinas. Por sua vez, o preparo do alimento, 
assim como a coleta de frutos e grãos, são atividades majoritariamente femininas. 
Uma das classificações gerais das sociedades ágrafas é a divisão entre nômades e sedentários. 
Não é ausência de casa, mas sim de agricultura, a principal característica a diferenciar os dois 
grupos humanos. As sociedades nômades se caracterizam pala ausência de agricultura, 
sobrevivendo da coleta de frutos e raízes. Por sua vez, as comunidades sedentárias são aquelas 
que possuem grande produção agrícola e a existência de excedente, o que permite, como 
consequência, a fixação de residência em um local determinado, por não existir a necessidade de 
se migrar para a busca de alimentação (BRAIDWOOD, 1988). 
Podemos compreender, a partir desta explicação, que os indígenas brasileiros têm como principal 
característica o seminomadismo. Isto porque as comunidades possuem agricultura, porém, não 
possuem a figura do excedente. Com isto, essas comunidades possuem processos migratórios. 
Devido a isto, podemos compreender como é complexa a solução encontrada pelo Estado brasileiro 
ao longo do século XX, que é a da criação de reservas indígenas. 
A grande pergunta a se responder com relação às sociedades tribais é a seguinte: por que, mesmo 
com o grande desenvolvimento tecnológico da sociedade ocidental, as sociedades tribais 
continuam a existir em pleno século XXI? 
A principal resposta é a eficiência econômica. Para compreendermos esta eficiência, devemos 
analisar a formação das sociedades ágrafas desde o período pré-histórico. Pois, partindo do 
pressuposto de que a necessidade básica da manutenção da vida humana é a alimentação, nós 
podemos compreender que a denominada Revolução Agrícola, ocorrida há mais ou menos 10 mil 
anos, teve como legado uma eficiência na produção de alimentos que se manteve até o presente. 
Um dos mais destacados pesquisadores da Pré-história foi o australiano Gordon Childe. Suas 
pesquisas relativas ao período neolítico foram revolucionárias para a compreensão que temos 
sobre a vida humana, em especial pelos termos criados por ele, como Revolução Neolítica e 
Revolução Urbana. 
Por pré-história se compreende o estudo do passado da humanidade, do surgimento dos homens 
na Terra até a invenção da escrita. Portanto, podemos compreender a pré-história como um dos 
principais períodos da história humana, porque ele é o mais longo. Todavia, não devemos afirmar, 
por exemplo, que os indígenas brasileiros vivem na pré-história, mas sim que possuem um modo 
tribal de organização econômica que surgiu na pré-história. 
Uma das principais classificações sobre a pré-história é a divisão tripartite do período em paleolítico, 
mesolítico e neolítico. O paleolítico, período mais antigo, se caracteriza pelo período no qual os 
homens eram nômades. Por sua vez, o mesolítico é um período intermediário, que desemboca no 
neolítico, que tem como principal característica o processo de sedentarização. De modo 
esquemático, podemos compreender estes três períodos como: 
Paleolítico: Período anterior ao domínio do fogo. 
Mesolítico: Período no qual o homem conseguiu dominar o fogo. 
Neolítico: Período da Revolução Agrícola. 
A principal revolução tecnológica vivida durante o período da pré-história foi o desenvolvimento da 
agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Pois, tivemos um início da possibilidade de se utilizar 
o reino vegetal a favor dos seres humanos. Por isso, este processo, um dos mais importantes para 
a história humana, é denominado de Revolução Agrícola. Esta possibilitou aos seres humanos uma 
melhor utilização do meio ambiente. Pois, além de se utilizar a força dos animais para o 
desenvolvimento humano, também se passou a utilizar das sementes, plantas, flores e frutos, para 
a alimentação, cura de doenças, além de perfume e embelezamento estético nas diferentes 
sociedades humanas. 
Com relação à importância da pré-história e das sociedades ágrafas, alguns filmes foram criados. 
Dentre eles, podemos citar alguns que se tornaram clássicos. Com relação à pré-história, o filme A 
Guerra do Fogo, dirigido pelo cineasta francês Jean-Jacques Annaud, é destaque. Outro filme 
interessante é Rappa-Nui, produção norte-americana que retrata a vida na Ilha de Páscoa, antes 
da chegada dos colonizadores europeus. 
Uma das principais transformações sociais que a sedentarização (possibilitada pela revolução 
agrícola) vivenciou foi o surgimento do excedente. Isto é, o surgimento de uma produção de 
alimentos maior que a necessidade de consumo do grupo. Assim, surge uma das primeiras 
preocupações sociais, a de se ter a capacidade de guardar o excedente de modo a possibilitar a 
alimentação da tribo em momentos de intempéries climáticas, como secas. Em função da 
agricultura, sistemas irrigados tiveram de ser criados, visando à utilização de vastas áreas para a 
produção de alimentos. 
Também o excedente gerado pela agricultura teve como um dos efeitos o aumento da rivalidade 
entre as tribos, pois uma disputa pelas terras que apresentavam melhores condições de plantio se 
tornou uma das principais ambições dos grupos humanos. O excedente estimulou, nas diferentes 
sociedades, uma incipiente divisão do trabalho. Todavia, a divisão era regida pela forma de 
organização social, em que se pesava a faixa etária, a hereditariedade e o gênero. Como já 
afirmamos, em geral, o papel de caça e pesca era masculino, assim como a ação de guerreiros nas 
violentas disputas tribais. Para as mulheres eram reservadas as funções ligadas à agricultura. As 
crianças, por sua vez, eram estimuladas a auxiliar os adultos nas tarefas da tribo que eram, em 
geral, divididas conforme o sexo. No entanto, é importante salientar que existiam funções especiais, 
como a do líder político (entre os indígenas comumente denominamos cacique) e os xamãs, os 
chefes espirituais das tribos (entre os indígenas, denominados pajés). 
Este sistema socioeconômico demonstrou grande eficiência, ao possibilitar a manutenção da vida 
nos mais diferentes locais do mundo. Dois pontos são importantes para a compreensão da 
educação nas sociedades ágrafas. Um primeiro é o da ausência de instituições. Uma segunda 
questão é a compreensão mítica do universo. Estes dois elementos explicam o modo difuso de 
educação praticado nestas sociedades. 
3 A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS 
Uma das principais características das sociedades ágrafas é a ausência de instituições formais. 
Esta ausência de instituições pode ser compreendida segundo a teoria de um importante 
antropólogo francês da segunda metade do século XX, Pierre Clastres, autor da relevante tese A 
Sociedade Contra o Estado (CLASTRES, 2003). 
Segundo a observação deste antropólogo, a figura do chefe político das tribos indígenas da 
América do Sul não é tão relevante quanto a dos chefes de Estado da atualidade. O chefe possuía 
algumas regalias, como a possibilidade da poligamia, porém, as obrigações do chefe guerreiro são 
maiores que seus privilégios. Assim, deve o chefe ter grande capacidade oratória, ao mesmo tempo 
em que deve demonstrar generosidade com relação aos demais membros da tribo. O poder é mais 
aparente do que eficaz, pois não consegue o chefe impor aos demais membros da tribo obrigações, 
como impostos, privação de liberdade ou recrutamento militar compulsório. Este fato demonstra um 
maior controle da sociedade sobre os seus chefes. No Ocidente, por conseguinte, ocorre o 
contrário,sendo a principal característica o controle do Estado sobre a sociedade, tendo os chefes 
políticos um efetivo controle e poder sobre a população por eles dominada. 
Clastres aponta que o Estado existe nas sociedades ágrafas em sua forma latente, porém, as 
formas de controle da sociedade contra o poder instituído são melhores que as apresentadas pelo 
Ocidente, no qual o Estado possuiu um poder maior sobre os indivíduos que nas sociedades tribais. 
FIGURA 3 - INSCRIÇÕES RUPESTRES 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 12 ago. 2016. 
Deste modo, o poder nas sociedades ágrafas é difuso. Isto é, ele não se apresenta da forma 
racional e hierarquizada como na sociedade ocidental. Por isso, o poder permanece difuso. Neste 
caso, podemos compreender que em uma sociedade na qual o poder permanece difuso, a 
educação é igualmente difusa. Um dos dados importantes para a compreensão das sociedades 
ágrafas é a ausência de instituições. Isto é, não existe nela marinha, exército, igreja, congresso 
nacional ou poder judiciário. No que tange às instituições educacionais, estão ausentes creches, 
escolas, colégios, universidades e faculdades, porém, podemos compreender a ausência destas 
instituições educacionais pela ausência das primeiras instituições citadas, pois, em grande parte, a 
educação tem como principal meta adequar os indivíduos ao meio social. Em um meio social no 
qual o poder é difuso, os processos educativos por eles realizados também são difusos. Em locais 
nos quais a relação de poder não é institucionalizada, não existe a necessidade de se 
institucionalizar o processo educativo. 
Mesmo com o pouco grau de institucionalização do processo educacional nas sociedades 
analisadas, podemos compreender que não eram grandes as liberdades dos indivíduos nas 
sociedades tribais. Isto porque, em grande parte, podemos observar que as funções sociais são 
muito rígidas, marcadas pela idade e sexo do indivíduo. No entanto, a ausência de liberdade, em 
geral, se relaciona também à compreensão do universo, que é de base mítica. Assim, a relação do 
indivíduo com o seu meio se caracteriza por uma mentalidade marcadamente vinculada aos mitos 
fundadores das tribos. 
Os mitos possuem uma função pedagógica fundamental para a compreensão das sociedades 
tribais. Eles são uma forma de se passar o conhecimento dos antepassados, dos ancestrais, para 
as populações contemporâneas. Assim, a mitologia tinha uma relação clara com o processo 
educacional. Contudo, como podemos relacionar os mitos e suas implicações educacionais? 
Primeiramente, temos que compreender os mitos, e suas diversas funções: a de estabelecer uma 
explicação sobre o surgimento dos seres humanos, sobre a natureza, a contagem do tempo e as 
condutas individuais. 
Com relação ao surgimento do universo, a função dos mitos possuiu uma clara e fundamental 
função explicativa. Muitos mitos existem ao redor do mundo, relacionando o surgimento do planeta 
a elementos da natureza, como a água, a terra, ou então, com fábulas relacionadas a demiurgos, 
isto é, a deuses criadores. 
Assim como para explicar o mundo, os mitos também são importantes para a compreensão do 
surgimento dos seres humanos sobre a Terra. Temos, assim, uma grande quantidade de mitos que 
apontam a presença dos seres humanos vinculados à natureza, ou como descendentes de antigos 
deuses. 
Como principal efeito dos mitos, temos uma visão sacralizada da natureza. Deste modo, os seres 
humanos têm uma visão de que a natureza deve ser preservada em seus principais aspectos, para 
que se possa ter um melhor aproveitamento do que ela oferta para o homem. Isto é, a visão principal 
das comunidades tribais é a da natureza como uma mãe, que com o seu seio possibilita a saciedade 
da fome de seus filhos. 
Assim, podemos compreender que a mitologia tem um papel fundamental no estabelecimento das 
condutas individuais das pessoas que vivem nas sociedades tribais, pois o mito, além de 
impulsionar algumas ações, também tem a capacidade de limitar as ações individuais e coletivas 
que causariam a ruína da coletividade. 
O papel de educador cabe a qual indivíduo nas sociedades ágrafas? O papel de professor é difuso, 
diluído entre os diversos personagens sociais que compõem a tribo. Deste modo, podemos pensar 
no papel educacional exercido pelos vários membros das comunidades tribais (ARANHA, 1996). 
3.1 O PAPEL EDUCACIONAL DO CHEFE TRIBAL 
Podemos compreender que o chefe tribal possui alguma função educacional com os mais jovens. 
Sendo o líder, deveria ser ele um exemplo de coragem, carisma e astúcia com relação à superação 
das dificuldades cotidianas, que poderiam ser causadas tanto pela ação da natureza, como secas 
e estiagens, assim como cheias dos rios ou excesso de chuva, ao mesmo tempo que poderiam ser 
ocasionadas pelas ações belicosas de tribos rivais. Assim, ao observar a postura do chefe tribal, 
que liderava as ações de caça e guerra, os meninos iam aprendendo sobre a importância das 
habilidades com arco, flechas e pedras para a manutenção da tribo enquanto organização social. 
3.2 O PAPEL EDUCACIONAL DAS MÃES E DOS PAIS 
Uma figura que possuiu uma posição social diferente com relação à sociedade judaico-cristã 
ocidental no tocante ao papel de educar está na figura dos pais e das mães. Em nossa sociedade, 
cabe a estas figuras o papel de primeiro educador, porém, nas sociedades tribais, o principal papel 
da mãe, o de amamentar, poderia ser compartilhado com outras mulheres em processo de lactação. 
Por vezes, o papel que caberia ao pai, de ser um exemplo de masculinidade para a prole, era 
desempenhado pelo líder tribal, que possui, neste tipo de organização social, em geral, um papel 
de maior prestígio que o do progenitor. 
3.3 O PAPEL EDUCACIONAL DO XAMÃ 
Uma das principais figuras educacionais era desempenhada pelo líder religioso. Isto porque os 
líderes religiosos tinham função de grande destaque nas tribos. Em especial, por serem os 
principais guardiões do conhecimento tribal com relação ao universo mítico, como também com 
relação à utilização medicinal dos elementos da natureza. Os xamãs, por sua vez, educavam seu 
sucessor, escolhido em geral dentre os meninos mais habilidosos da tribo. 
3.4 O PAPEL EDUCACIONAL DOS HOMENS MAIS VELHOS 
No lugar do pai, um dos principais vetores de educação entre as sociedades ágrafas eram os 
anciãos e as anciãs. As mulheres e os homens mais velhos possuem uma grande importância para 
a tribo, pois a experiência no contato com a natureza permitia a eles uma grande vantagem na luta 
cotidiana pela sobrevivência. 
3.5 AS VISÕES SOBRE A INFÂNCIA NAS SOCIEDADES TRIBAIS 
Nas sociedades tribais, as crianças tinham uma posição diferente em comparação com nossa sociedade. 
Sobre isto, podemos pensar em duas possibilidades de compreensão. A compreensão utópica e a 
compreensão funcionalista. A compreensão utópica aponta que as crianças gozavam de grande liberdade 
em sociedades como as tribais ou ágrafas. Isto porque a ausência de uma instituição disciplinadora, como 
a escola, garantiria às crianças um espaço de liberdade que elas não teriam em uma sociedade como a 
ocidental, na qual grande parte da vida infantil é regrada e disciplinada pela uniformização de condutas e 
castração de impulsos com os quais as sociedades ocidentalizadas tratam a infância. 
Tal visão é, em grande parte, uma utopia, uma visão sonhadora da vida nas comunidades tribais. 
Os funcionalistas nos lembram que em grande parte, assim como no Ocidente, as crianças 
observam uma rígida disciplina, porém, vinculadas não a trabalhar em indústrias ou repartições 
governamentais, mas, sim, em atividades ao ar livre. Muitos rituais que envolvem violência, como 
torturas físicas, fazem parte do universo indígena, em especial nos rituais de passagem que 
simbolizam o fim da vida infantil e o início da idade adulta. Com isto, podemos considerar que mais 
importante que julgar ser boa ou má a forma como as sociedades ágrafaseducam suas crianças, 
é buscar compreender como estas sociedades lidam com a infância. 
4 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE 
Por sociedades do antigo Oriente Próximo são denominadas algumas das civilizações que 
existiram no denominado Crescente Fértil, terras que hoje são nomeadas como Oriente Médio e 
parte do norte da África. Dentre elas, podemos elencar algumas civilizações, como o antigo Egito, 
a Mesopotâmia, os hebreus, os fenícios, além dos persas, que formaram posteriormente aos 
babilônicos um dos primeiros impérios da história do mundo. O sistema produtivo destas 
sociedades era baseado em uma servidão coletiva, na qual o Estado era o principal gestor e 
proprietário das terras. Vamos conhecer um pouco sobre estas civilizações? 
Sociedade egípcia: a sociedade egípcia é comumente lembrada como a terra das pirâmides, 
construídas ao longo dos séculos. Também fazem parte da memória social do antigo Egito as 
múmias. Em geral, se tratavam dos corpos dos antigos membros da nobreza, que passavam por 
este tipo de processo de manutenção física. Este se relacionava à religião, que tinha como uma 
das principais características a ideia de reencarnação. Assim, os corpos eram mumificados para 
novamente retornar à vida. Como se tratava de uma sociedade politeísta, tinham os egípcios uma 
organização teocrática, na qual o faraó, líder político daquela civilização, tinha também 
responsabilidades religiosas, sendo adorado como um deus (CARDOSO, 1990). 
FIGURA 4 - PIRÂMIDE EGÍPCIA 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.br>. Acesso em: 17 ago. 2016. 
A base da pirâmide social era composta pelos servos, que trabalhavam na produção agrícola, bem 
como nas grandes obras de irrigação, fundamentais para a manutenção da vida, pois eram as 
cheias e os vazantes do rio Nilo que garantiam a fertilidade do solo, fundamental para a produção 
de alimentos. Também existia uma camada de burocratas (funcionários públicos), bem como de 
militares, escribas e sacerdotes; no topo da pirâmide, a nobreza, composta pelo faraó e suas 
famílias. 
Dentre o principal mito egípcio temos a contenda entre Set e Horos, bem como a presença de Ísis 
e Osíris. Os deuses do panteão egípcio tinham características antropomórficas (humanas), 
zoomórficas (culto aos animais), antropozoomórficas (deuses metade humanos e metade animais). 
Sociedade mesopotâmica: o termo Mesopotâmia quer dizer “Terra entre Rios”. Tal nome se deve 
à importante presença dos rios Tigre e Eufrates na constituição desta sociedade, marcada pela 
presença de alguns povos, como os sumérios, os babilônicos e os caldeus. Os povos que 
habitavam a Mesopotâmia possuíam uma religião politeísta, marcada também pela compreensão 
mítica das cheias dos rios e do poder civil. A sociedade, assim como a egípcia, era marcada pela 
desigualdade social, sendo as relações de trabalho vinculadas pela servidão (REDE, 2007). 
Apesar de menos famosa que o Egito, no tocante à religião, alguns dos mitos e práticas surgidas 
na Mesopotâmia deixaram um legado na sociedade ocidental. O horóscopo, prática até hoje 
presente, surgiu entre os mesopotâmicos. Tinham como uma de suas principais características a 
ideia de poder adivinhar o futuro dos indivíduos com a observação das estrelas. Visando à 
observação astronômica, os povos mesopotâmicos criaram enormes torres, que se chamavam 
zigurates. Ainda com relação à religião mesopotâmica, podemos nos lembrar de alguns mitos e 
deuses. Um dos principais era o deus Marduk. Entre os mitos, o principal era o mito do dilúvio, uma 
grande inundação de água, capaz de destruir a maior parte dos seres humanos. 
FIGURA 5 - MAPA DA MESOPOTÂMIA 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 11 ago. 2016. 
Sociedade israelita: outra importante sociedade existente no antigo Oriente Próximo eram os 
israelitas. Grupo fundado pelo patriarca Abraão, que fora chamada por Deus, na cidade 
mesopotâmica de Ur, habitada pelo povo caldeu, para formar um povo escolhido. Os israelitas 
tinham como principal diferença com relação às demais sociedades do antigo Oriente o 
monoteísmo, isto é, a crença em um único Deus. 
FIGURA 6 - MAPA DO ANTIGO ISRAEL 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 30 ago. 2016. 
A história política do povo israelita possuiu várias fases. Uma primeira, na qual o povo era 
organizado em tribos. Posteriormente, com Saul, formou-se uma monarquia, que contou com os 
famosos reis Davi e Salomão, responsável pela criação do templo de Deus, denominado pelos 
israelitas como Jeová (YAWEH). Uma divisão política fez com que o povo fosse dividido em dois 
reinos, Israel, ao norte, que teve como capital Samaria, e Judá, ao sul, que tinha como capital 
Jerusalém. Um dado marcante da história do povo de Israel foi o momento em que foram 
escravizados pelos egípcios, dos quais foram libertos com a liderança de Moisés, que guiou o povo 
pelo deserto até Canaã, a terra prometida. Posteriormente, um segundo período foi caracterizado 
pelo denominado Cativeiro Babilônico, no qual Israel foi dizimado, sendo Judá, ao sul, preservada, 
mas teve parte de sua população cativa na Babilônia (CARDOSO, 1990). Posteriormente, também 
dominados pelo Império Romano, os judeus foram dispersos pelo mundo em 70 d.c., com a 
denominada Diáspora, na qual a região de Jerusalém deixou de ser uma área de posse exclusiva 
dos judeus, tendo retornado a Jerusalém apenas no século XX, após a Segunda Guerra Mundial. 
Sociedade fenícia: dentre os grupos humanos importantes para a compreensão da dinâmica 
socioeconômica do mundo da antiguidade, um destaque foram os fenícios. Grupo humano que se 
caracterizou pelo comércio marítimo, tanto ao longo do Mediterrâneo, quanto ao longo do Mar 
Vermelho. Os fenícios possuíam uma forma de organização política na qual a presença forte das 
cidades, com autonomia, era a principal característica. Assim, algumas das cidades-estado fenícias 
tiveram grande destaque, como Sídon, Tiro, Biblos e Cartago, no norte da África. 
Com relação à religião, os fenícios possuíam uma religião politeísta, na qual alguns deuses 
possuíam grande destaque no panteão, como Baal, além de Yam, o deus do mar, de grande 
destaque em uma sociedade marcada pela grande presença de marinheiros. A estrutura social era 
semelhante às das demais sociedades asiáticas. Todavia, possuía uma diferença fundamental: a 
presença do comércio de longa cabotagem, isto é, de longas distâncias através da costa, o que 
permitiu o enriquecimento das principais cidades-estado vinculadas ao povo fenício. Uma das 
cidades fenícias, Cartago, chegou a rivalizar com Roma o domínio do Mediterrâneo. No entanto, 
com a derrota do general Aníbal, Cartago acabou sendo dominada pelo Império Romano. 
Império Persa: um dos primeiros impérios surgidos no mundo foi o Império Persa. Teve como seus 
mais célebres líderes Sargão e Ciro, o Grande, conquistador de grande faixa de terra ao longo do 
Mar Mediterrâneo. Uma das principais conquistas do Império Persa foi o domínio sobre o antigo 
Império Babilônico. A sociedade persa viveu grande apogeu cultural, sendo desenvolvida pelo povo 
persa uma das primeiras religiões monoteístas do mundo, o zoroastrismo. O modelo de sociedade 
persa entrou em rivalidade com o mundo grego, sendo um dos mais importantes eventos da história 
grega as denominadas Guerras Médicas, nas quais os gregos venceram os persas na Batalha de 
Salamina, garantindo o domínio dos gregos no Mar Mediterrâneo (CARDOSO, 1990). 
FIGURA 7 - ARTE PERSA 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 1 ago. 2016. 
As sociedades do antigo Oriente Próximo deixaram um grande legado cultural a todo o mundo. 
Grande parte das populações, atualmente, segue religiões como a cristã ou muçulmana, que 
tiveram como uma das suas principais bases o judaísmo, uma das religiões criadas por um dos 
povos do antigo Oriente Próximo, porém, como podemos observar no texto já descrito, ocorreu um 
domínio da sociedadegreco-romana sobre as civilizações do antigo Oriente Próximo. 
5 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, AS INSTITUIÇÕES E O 
PENSAMENTO EDUCACIONAL 
As diferentes sociedades do antigo Oriente Próximo, brevemente descritas nos parágrafos acima, 
têm grande importância na análise do desenvolvimento da educação. Por vezes, alguns dos 
inventos produzidos pelas antigas sociedades do Oriente são rememorados pelos professores de 
História, como as obras hidráulicas, responsáveis pela irrigação nas margens dos rios Nilo, Tigre e 
Eufrates, assim como os zigurates e as pirâmides. 
Podemos considerar que uma das mais importantes invenções destes povos está relacionada à 
questão educacional. Os mesopotâmicos inventaram o primeiro sistema de escrita da história, a 
denominada escrita cuneiforme. Em uma visão linear, progressista da história, se diria que com 
este invento a humanidade deixou de estar na pré-história e adentrou para a história. A denominada 
escrita cuneiforme era realizada em cunhas, por isso o nome que possui. A invenção da escrita 
possibilitou um grande desenvolvimento social, econômico, político, como também nas questões 
de inteligência e sentimentos portados pelos homens, pois o registro de ideias, sentimentos, 
pensamentos, além de propriedades, heranças, dívidas e dividendos, é parte fundamental nas 
sociedades humanas (ARANHA, 1996). 
FIGURA 8 - TÁBUA DE ESCRITA CUNEIFORME 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gv.br>. Acesso em: 17 set. 2016. 
O desenvolvimento da escrita possibilitou aos homens o desenvolvimento de normas escritas de 
conduta, como o Código de Hamurábi, na Mesopotâmia, assim como os Dez Mandamentos, as 
tábuas da lei de Moisés, presente entre os hebreus. Tais leis alteraram a forma de organização das 
sociedades. Se antes o mais forte possuía legitimidade social para impor sua vontade através da 
violência, com o desenvolvimento da escrita tivemos a possibilidade do desenvolvimento da lei 
como forma de se resolver os conflitos entre os indivíduos pertencentes a um mesmo grupo 
humano. 
Outro povo que deixou um importante legado no que se refere às questões educacionais foram os 
fenícios, pois foram os inventores do alfabeto, que influenciou as civilizações posteriores de Grécia 
e Roma, e, por consequência, a sociedade ocidental. Antes, as palavras eram formadas de modo 
inteiro, os ideogramas. No entanto, com a formação do alfabeto, temos a possibilidade da 
ampliação da expressão escrita pelos seres humanos. 
Também entre os fenícios, tivemos uma ampliação da possibilidade da realização de cálculos 
numéricos, pois, como grandes comerciantes, eles tiveram a necessidade de ampliar a eficiência 
da matemática (todavia, ainda não realizada com os números hindu-arábicos). Os fenícios também 
foram os responsáveis pela criação do termo biblioteca. Foi na cidade de Biblos, na antiga Fenícia, 
o local onde se produziam os papiros, utilizados para o registro da palavra escrita em toda a 
sociedade do mundo mediterrânico e do antigo Oriente Próximo (ARANHA, 1996). 
Podemos compreender que uma das principais funções da educação é adequar os indivíduos ao 
meio social. Assim, a educação está sempre, de forma indelével, relacionada à estrutura da 
sociedade na qual pertencem. Assim, podemos compreender que, mesmo com o processo de 
desenvolvimento da escrita, a educação escolar institucionalizada era destinada a poucas pessoas 
dentre os indivíduos que compunham as sociedades que até aqui estudamos. A grande massa 
permaneceu analfabeta, porém, ela era educada por algumas instituições sociais, como a família, 
em especial a figura dos pais, como também tinham papel de educadores os sacerdotes destas 
sociedades. 
Em algumas delas existia uma classe profissional específica na qual o sustento dependia da 
alfabetização: os escribas. Esta categoria ocupacional era presente entre os egípcios, e tinha 
alguns privilégios sociais. Com isto, podemos medir o quanto ser alfabetizado é uma das principais 
formas de se ter poder em uma sociedade. E que a ampliação da alfabetização representa um 
aumento de práticas democráticas no corpo social. Todavia, como na antiguidade, as principais 
formas de trabalho não envolviam tecnologia, mas sim a força física, as sociedades eram 
compostas por massas analfabetas e pequenas parcelas letradas, que compunham a classe de 
privilegiados desta mesma sociedade. 
 
RESUMO DO TÓPICO 
Neste tópico você viu que: 
• A educação nas sociedades ágrafas é difusa. Isto é, não existe uma instituição formal que se 
responsabiliza pela educação, sendo ela responsabilidade de toda a tribo. 
• Não podemos ter uma visão evolucionista, desconsiderando a presença de comunidades 
culturalmente ágrafas ainda no presente, em várias partes do mundo. 
• A primeira possibilidade de expressão escrita da humanidade foi inventada na Mesopotâmia, e 
tem o nome de escrita cuneiforme. 
• As principais sociedades da antiguidade oriental, que já possuíam uma cultura letrada, foram os 
egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e persas. 
AUTOATIVIDADES 
UNIDADE 1 - TÓPICO 1 
1 Por que podemos dizer que a invenção da escrita foi uma grande conquista da humanidade? 
 
 
 
 
TÓPICO 2 
O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE 
OCIDENTAL 
1 INTRODUÇÃO 
Neste tópico, contemplaremos algumas das principais questões sobre a formação da sociedade 
grega e romana. Vamos compreender a influência cultural que a antiga Grécia exerceu sobre o 
Império Romano, assim como as especificidades culturais destas duas distintas civilizações. 
Estas questões são importantes para a compreensão da educação na sociedade ocidental. O 
importante historiador francês Fernand Braudel afirmava que o Ocidente possui uma dupla raiz 
cultural: judaico-cristã e greco-romana. 
Deste modo, entendendo a importância do tema, abordaremos um breve resumo histórico do 
mundo greco-romano, as questões da filosofia grega e as instituições sociais responsáveis pela 
educação no universo cultural greco-romano. 
2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE GRECO-ROMANA 
A Grécia antiga foi uma civilização surgida na denominada Península do Peloponeso, que possui 
o istmo de Corinto, banhada pelo Mar Egeu, que compõe o Mar Mediterrâneo. Sua história é 
didaticamente dividida em cinco grandes períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e 
Helenístico. Os períodos têm grande relação com os escritos de Homero, autor de obras clássicas 
da antiguidade, como a Ilíada e a Odisseia, em que são relatadas histórias fabulosas, como a do 
cavalo de Troia. 
A Península no Peloponeso foi habitada por populações denominadas aqueus, jônios, dórios e 
eólios. Populações estas que estão na origem do povo grego, que na antiguidade se organizava 
em cidades-estado, isto é, cidades que possuíam autonomia administrativa. Dentre estas unidades 
político-administrativas, duas se destacaram e organizaram dois tipos antagônicos de sociedade: 
Atenas e Esparta. 
FIGURA 9 - MAPA DA GRÉCIA ANTIGA 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2016. 
A sociedade ateniense tinha como principal característica o desenvolvimento cultural. Era formada 
por três classes sociais. Os escravos, os cidadãos atenienses, além de um grupo de homens livres, 
mas sem direito à cidadania, os metecos. Uma das principais questões que envolvem a sociedade 
ateniense foi o desenvolvimento da democracia. Isto é, de uma forma de organização política na 
qual os cidadãos possuem direitos iguais, a denominada isonomia legal. O local no qual ocorriam 
os debates políticos em Atenas era denominado Ágora. Nela, os denominados demagogos, isto é, 
os políticos daquele período, utilizavam-se do talento retórico para poder defender suas ideias e 
interesses. A palavra democracia é uma justaposição de duas palavras gregas: demos, que quer 
dizer povo, e cracia, que significa governo (FUNARI, 2000). 
Uma das principais formas de conseguir ter direitos políticosna sociedade ateniense era a 
participação no exército. Este era organizado em unidades militares que eram denominadas de 
falanges. Os guerreiros gregos utilizavam um tipo de escudo chamado hoplom. Aqueles que 
detinham condições financeiras para comprar este escudo poderiam ingressar nas fileiras militares. 
Este ingresso possibilitava participar ativamente dos debates da Ágora, ingressando assim no 
mundo da política ateniense. Todavia, a democracia na Grécia possuía uma grande limitação, pois 
as mulheres eram excluídas do debate político. O machismo era legitimado pelo fato de as mulheres 
não ingressarem nas fileiras militares. 
FIGURA 10 - DISCURSO POLÍTICO EM ATENAS 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gv.br>. Acesso em: 17 set. 2016. 
Enquanto Atenas seguia o modelo democrático de gestão do poder político, sua vizinha Esparta 
seguia um modelo autocrático de relações sociais, pois em Esparta tínhamos um exemplo de 
sociedade militarizada e profundamente hierarquizada. Ela era formada por três categorias sociais: 
os espartanos, que compunham o topo da pirâmide social, os periecos e hilotas, duas outras 
classes sociais que compunham Esparta. A principal lei a reger a vida em Esparta foi a constituição 
de Licurgo, que segundo alguns estudiosos, teria durado seis séculos (FUNARI, 2000). 
FIGURA 11 - SOLDADOS ESPARTANOS 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 19 set. 2016. 
Duas guerras marcaram a história grega. As Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso. Por 
Guerras Médicas ficaram conhecidas as disputas entre os gregos e os persas pelo domínio da 
navegação em partes do Mar Mediterrâneo. Ela terminou com uma vitória grega, na Batalha Naval 
de Salamina, que decretou uma hegemonia ateniense, o que possibilitou um imperialismo grego 
em algumas regiões mediterrânicas. Por sua vez, a Guerra do Peloponeso foi travada entre Esparta 
e Atenas. A guerra acabou por enfraquecer os dois principais modelos de cidade-estado da 
antiguidade. Com um enfraquecimento militar causado pela guerra interna, Felipe II, rei da 
Macedônia, conquistou a península grega. Seu filho, Alexandre “O Grande”, que fora aluno do 
filósofo Aristóteles, foi um dos principais líderes a expandir a cultura grega por diversos locais em 
que Alexandre liderou a conquista militar. Assim, tivemos, com o império de Alexandre, o 
denominado Período Helenístico. 
A mitologia é um dos importantes elementos culturais para a compreensão da mentalidade dos 
antigos habitantes da Grécia. Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. 
Estes, em geral, tinham características antropomórficas, isto é, tinham os antigos deuses formas 
humanas. Também eram os mesmos dotados dos mesmos sentimentos que os homens possuem, 
como amor, ciúmes, inveja, raiva. Todavia, a grande diferença é que os deuses gregos eram 
imortais. O local de morada era o Monte Olimpo, no qual esses deuses eram cultuados. As cidades 
possuíam seus deuses fundadores, como é o caso de Palas Atena, a fundadora de Atenas. 
Os gregos se diziam descendentes do deus Heleno. Com relação à vida após a morte, os gregos 
acreditavam que deveriam ter uma moeda após morto para pagar o barqueiro Caronte, responsável 
pelo trajeto da alma morta até o paraíso. Deste modo, colocavam nos olhos dos cadáveres duas 
moedas. Assim, tinham os gregos uma relação diferente com a morte dos demais povos que até 
aqui estudamos. Em especial, por separarem o corpo do espírito, separação não presente entre os 
povos da antiguidade oriental (FUNARI, 2000). 
Os principais deuses do panteão grego tinham características específicas. Zeus era o deus dos 
deuses e Hera, a sua esposa, juntos moravam no Olimpo com as demais divindades. Ares era o 
deus da guerra, que protegia nas batalhas; Poseidon, o deus do mar; Hades, deus dos mortos e 
cemitérios; Afrodite, a deusa da Beleza, entre outros exemplos de deuses que poderiam ser citados. 
Além dos deuses, o imaginário da Grécia antiga era povoado pelas musas: Calíope, da poesia; 
Clio, da História; Érato, do casamento; Euterpe, das festividades; Melpômene, do canto e teatro; 
Polímnia, da retórica; Talia, da comédia; Terpsícore, da dança; Urânia, da astronomia. Estas musas 
se relacionavam a diferentes atividades, consideradas artes pelos antigos gregos. 
FIGURA 12 - ESTÁTUA DE POSEIDON 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.br>. Acesso em: 20 set. 2016. 
Um dos principais festivais realizados pelos gregos eram as Olimpíadas, quando eram cultuados 
os deuses em competições esportivas. Também faziam parte do universo cultural grego algumas 
belas artes, com destaque para o teatro e as esculturas. O Teatro de Dionísio (cultuado como o 
deus do vinho) foi uma das principais casas de espetáculo, na qual se destacavam as tragédias e 
comédias. Por sua vez, as esculturas gregas possuíam características de grande beleza, ao buscar 
retratar o corpo humano em toda a sua potencialidade estética. Como se poderá observar, a cultura 
grega influenciou sobremaneira a sociedade romana. 
Roma foi fundada por algumas tribos latinas e sabinas, que foram dominadas pelos invasores 
etruscos. Roma, em sua história, teve três grandes períodos marcados por diferentes formas de 
legitimação das relações de poder. A Monarquia, a República e o Império. A monarquia foi 
substituída por uma forma menos autoritária de poder, a Rex Publica (isto é, a “coisa pública”). No 
entanto, o expansionismo militar gerou dificuldades administrativas, e uma das soluções foi a 
instituição do Império. 
Uma das principais características da vida romana foi o expansionismo militar. Este se iniciou como 
uma forma de aumentar a produção agrícola, graças à ampliação das terras destinadas ao cultivo 
do trigo, das oliveiras e das parreiras de uva, bases da produção de três dos principais produtos da 
dieta romana: pão, azeite e vinho. Para tanto, se escravizavam as populações dominadas pelos 
romanos através da guerra. O exército romano, um implacável empreendimento militar, tinha como 
uma de suas principais características a rígida disciplina. Ao contrário de Atenas, não 
necessariamente a presença no exército garantiria direitos políticos, pois em 111 a.c., Mário institui 
o soldo, isto é, o pagamento de salário aos militares. 
Assim, o exército romano era organizado em legiões, que eram organizadas em centúrias e 
decúrias, contando com um inovador sistema de estradas que ligava a capital ao interior das 
possessões coloniais, proporcionando uma contínua expansão de seus domínios, pela rápida 
mobilidade de soldados que o sistema de estradas possibilitava. Uma máxima afirmava que “todos 
os caminhos levam para Roma”. 
As legiões romanas possibilitavam um aumento produtivo, ao ampliar o número de escravos em 
Roma, que eram capturados dentre os prisioneiros de guerra. Com uma grande quantidade de 
escravos, Roma chegou a ter centenas de milhares de pessoas desocupadas, que eram entretidas 
com a denominada Política do Pão e Circo, em que a maior parte da população ociosa se dirigia 
ao Coliseu, um grande estádio romano, no qual lutavam os gladiadores. 
FIGURA 13 - COLISEU ROMANO 
FONTE: Disponível em: <http://www.rome-chauffeur.com/wordpress/wp-
content/uploads/2015/03/Colosseum-Rome-Chauffeur.jpg>. Acesso em: 20 set. 2016. 
Um dos principais clássicos da história do cinema de Hollywood foi o filme Spartacus. Dirigido por 
Stanley Kubrick, retrata a vida de um escravo romano, que se revolta em relação à sua condição 
social, buscando a liberdade. 
Aos poucos, os bárbaros foram invadindo as fronteiras do Império Romano. Os principais grupos 
bárbaros, como os ostrogodos, visigodos e vândalos, foram conquistando antigas possessões 
coloniais romanas. No século IV, Roma foi conquistada completamente pelos bárbaros, sendo este 
um dos fatos que marcaram o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. 
Assim como os gregos, os romanos também possuíam sua mitologia, sendo ela muito próxima da 
mitologiados gregos. O principal mito romano é o da fundação da cidade imperial. Segundo uma 
antiga lenda, dois irmãos, Rômulo e Remo, eram ainda bebês e foram criados por uma loba, que 
os amamentou. Posteriormente, os dois foram os fundadores da principal cidade do mundo. Com 
relação à proximidade com os gregos, a mitologia romana também possuía seus deuses 
específicos para as distintas atividades humanas, em grande parte, versão latinizada dos antigos 
deuses gregos. Vejamos alguns exemplos: Baco (versão latina de Dionísio) era o deus do vinho; 
Marte (versão latina de Ares), era o deus da guerra. 
Uma importante inspiração que a mitologia grega possibilitou para o desenvolvimento das ciências 
no século XX se relaciona à psicanálise. O seu principal formulador, Freud, criou seus conceitos 
científicos, como o Complexo de Édipo, com forte inspiração na mitologia grega. 
Apesar da presença destes deuses da mitologia, popularizados pelos romances, pelo cinema e 
pela psicanálise, o principal culto cotidiano dos gregos e romanos não era sobre estes “afamados” 
deuses da mitologia. A principal forma de culto entre os gregos e romanos era o culto aos fogos 
nos lares. Para ser considerada uma família e ter o status e prestígio social, advindo de ser membro 
de um clã, deveria a casa ter um fogo que sempre era mantido aceso e nunca deveria se apagar. 
Era o fogo que tinha como nome lar, responsável pelo aquecimento da casa, como também estava 
presente nos rituais de casamento, que simbolizava a continuidade do mesmo fogo em outro 
domicílio. 
A sociedade greco-romana também teve em comum um mesmo sistema produtivo, marcado pelo 
expansionismo militar e pela escravidão. Um dado interessante é que em determinadas regiões do 
Império Romano não se falava o latim, mas sim o grego, em especial na Ásia Menor. Isto explica 
por que grande parte da Bíblia, em especial o Novo Testamento, foi escrito em grego, mesmo 
fazendo parte do Império Romano. Com a cristianização do Império, em 395, quando o cristianismo 
deixou de ser perseguido, grandes alterações na mentalidade ocidental ocorreram. Posteriormente, 
o Império Romano se dividiu em duas partes. A região que falava latim viveu um processo de 
ruralização, e Roma acabou se tornando a sede da Igreja Católica Apostólica Romana. Por sua 
vez, Constantinopla se tornou a sede do Império Bizantino, sendo sede da Igreja Católica Cristã 
Ortodoxa. 
3 A FILOSOFIA GREGA E O PENSAMENTO ROMANO 
Apesar da grande popularidade e da presença da mitologia, a Grécia foi um dos primeiros locais 
do mundo no qual se desenvolveu um modo não mitológico de estruturar o pensamento sobre a 
natureza e a sociedade. Por isso, o destaque que devemos dar à presença da filosofia grega. A 
palavra filosofia tem sua raiz etimológica (isto é, sua origem) em duas palavras gregas, Filos e 
Sofia, que juntas podem ser traduzidas como “amante da sabedoria”. A ideia de se cultuar o 
pensamento humano na busca de se tentar compreender a natureza e a sociedade não apenas 
através dos mitos, como também através da especulação, foi uma verdadeira revolução na forma 
de o ser humano conceber a vida na Terra (JAEGER, 1995). 
Podemos citar vários nomes do pensamento grego. Em geral, a filosofia grega antiga é dividida em 
dois períodos: socrático e pré-socrático. Isto devido à importância da figura de Sócrates para o 
desenvolvimento do pensamento grego. Sócrates foi um cidadão ateniense amante do saber, e 
dono de uma profunda capacidade de compreender a natureza humana e suas contradições. Filho 
de uma parteira, desenvolveu um método denominado maiêutica, cujo principal intento é possibilitar 
aos seres humanos “dar luz a novas ideias!”. 
Um interessante livro que trata da história e do desenvolvimento da filosofia foi escrito pelo 
norueguês Jostein Gaarder, de título O Mundo de Sofia. Obra que vale a pena ser lida pelos 
estudantes que sonham em atuar como professores. 
Sócrates foi o principal nome (símbolo) da vida intelectual da Grécia antiga. As suas formulações 
intelectuais têm grande importância para o desenvolvimento intelectual do Ocidente. Vivia 
perambulando pela cidade, refletindo sobre a existência humana, tendo muitos ouvintes. Sócrates 
apontava que era papel do filósofo ser uma espécie de mosca a avivar as consciências individuais. 
Teve como seu principal discípulo Platão. O seu pensamento foi considerado subversivo pelas 
autoridades, o que lhe acarretou sérios problemas. Sendo julgado, se negou a abjurar (desdizer) o 
que havia afirmado. Ao invés de ser punido, propôs para a corte que o julgava que deveria ser 
tratado como um deus no Monte Olimpo. Assim, ao “debochar” dos que o julgavam, acabou sendo 
punido, sendo obrigado a se envenenar. Assim, morto de maneira trágica, se tornou um marco 
histórico de pensador libertário morto pelo poder instituído. 
Mesmo antes de Sócrates, podemos observar o início do desenvolvimento de um pensamento 
original, e de alguns pensadores que possibilitaram o alargamento da compreensão que o ser 
humano possui sobre a natureza e sobre si mesmo. Alguns nomes podem ser lembrados, como 
Tales de Mileto, Arquimedes, entre outros. 
Um dos primeiros nomes ligados à cultura grega foi Homero. Não sendo considerado um filósofo, 
seu nome deve ser lembrado como personagem importante ao escrever as obras fundantes da 
cultura grega, que foram Ilíada e Odisseia. No entanto, outros nomes são em geral lembrados pelos 
historiadores da filosofia. Um dos sempre lembrados é o de Tales. Oriundo da cidade de Mileto, foi 
um importante nome no desenvolvimento dos cálculos matemáticos. Buscando saber a distância 
das embarcações em relação à terra, foi o criador do denominado Teorema de Tales, até hoje 
ensinado nas escolas para os estudantes do ensino básico. Outro nome importante para o 
desenvolvimento da filosofia foi Arquimedes, o descobridor da máxima: “Dois corpos, que possuem 
massa, não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo”. O desenvolvimento da 
hidráulica teve em Arquimedes um dos seus pioneiros. Uma história que se conta afirma estar 
Arquimedes em uma banheira, e ter feito uma descoberta, tendo saído nas ruas nu e gritando 
“Eureka!”, isto é, descobri (na língua grega). 
Todavia, mesmo com a presença de vários personagens intelectuais, os principais nomes da 
filosofia grega clássica são os de Sócrates (já citado), Platão e Aristóteles. Platão foi discípulo de 
Sócrates, tendo sido o principal divulgador das ideias de seu mestre. Suas ideias são consideradas 
relevantes para o desenvolvimento da filosofia até o tempo presente. Seus principais livros são A 
República e O Banquete. O livro A República é uma crítica à ação dos demagogos, na Ágora. Por 
demagogos podem ser considerados os políticos que possuem bela retórica, porém, são 
construtores de um discurso vazio, sem ação prática nas palavras que dizem. Por isso, Platão 
defendia a ideia de que apenas os sábios deveriam ter cargos políticos. Uma de suas principais 
formulações é o denominado mito da caverna (CHAUÍ, 1993). 
FIGURA 14 - SÓCRATES 
FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 15 set. 2016. 
O mito afirma que existia uma comunidade formada por pessoas que viviam acorrentadas no interior 
de uma caverna e que enxergavam a realidade através das sombras que uma parca iluminação 
projetava sobre uma parede da caverna. Próximo à caverna existiam algumas estátuas, que 
formavam as principais sombras. Assim, as pessoas acorrentadas foram nomeando as sombras 
observadas. Todavia, caso alguém conseguisse se desamarrar e sair do interior da caverna, veria 
que a realidade não era aquela que havia sido ensinada. No entanto, ao voltar para a caverna, a 
probabilidade de as pessoas acreditarem no que foi dito pelo homem que saiu da caverna era muito 
pequena, sendo mais provável que os colegas ridicularizassem as afirmações do primeiro homem 
a sair da caverna. Neste sentido, podemos pensar que estamos por vezes acorrentados em uma 
cavernamarcada pelas convenções que aprendemos. Uma tarefa importante é tentarmos sair da 
caverna e nos libertar das amarras que prendem nosso intelecto. 
Além de Platão, Aristóteles também é rememorado como importante filósofo. Ele foi o mestre de 
um dos principais líderes da história da antiguidade, Alexandre “O Grande”. Suas capacidades 
intelectuais elevadas o fizeram ser pioneiro em várias áreas do conhecimento humano. Uma delas 
foi a taxonomia, isto é, a classificação dos diferentes seres vivos. Uma de suas principais obras foi 
A Política, na qual apontou uma polêmica ideia na qual existiam almas que nasceram para serem 
livres, e outras que nasceram para a escravidão. Outros livros nos quais apontou questões 
importantes foi em um conjunto de obras denominado Metafísica, em que aponta questões sobre 
o estudo do ser. 
Dentre as escolas filosóficas desenvolvidas na Grécia antiga, se destacaram o estoicismo e o 
epicurismo. Por estoicismo se considera uma escola filosófica fundada por Zenão de Cítio, e que 
teve em Sêneca um de seus principais elaboradores. Em geral, afirmava que a resignação era uma 
das principais características do sábio. Os estoicos pregavam um controle das emoções. Por sua 
vez, o epicurismo foi uma doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro. Em geral, apontava 
a busca moderada pelos prazeres como um caminho para a paz (CHAUÍ, 1993). 
Um dos nomes lembrados por ser um personagem especial no interior da vida grega antiga é o de 
Diógenes. Teve como principal propósito viver da forma mais simples possível. Morava nas ruas, 
tendo como único objeto uma caneca. No entanto, ao ver uma criança bebendo água com auxílio 
direto das mãos, resolveu jogar fora sua caneca. Outra feita ele foi observado pelas pessoas 
andando à noite, com uma lanterna acesa na mão. Perguntado sobre o que fazia, respondeu que 
estava à procura de um justo. Quando Alexandre “O Grande” foi falar com Diógenes, lhe perguntou 
o que poderia fazer por ele. A resposta de Diógenes foi simples e sincera, pedindo que ele saísse 
da frente de seu banho de sol. A escola filosófica que Diógenes fundou ganhou o nome de Escola 
Cínica. 
Houve uma grande influência do pensamento grego na cultura romana. Alguns dos professores 
gregos foram trazidos para Roma, com o intuito de educar os filhos das famílias abastadas. Alguns 
destes mestres tiveram a condição de escravos, porém, eram reconhecidos como importantes para 
as famílias em que trabalhavam. 
Dentre os educadores romanos, um teve grande destaque na história da pedagogia; Quintiliano. 
Ele foi professor durante mais de 20 anos na escola de retórica em Roma, como também defendeu 
princípios importantes para o desenvolvimento dos seus educandos. Em especial, por defender 
que leitura e escrita deveriam ser aprendidas de maneira conjunta, além de defender a presença 
de exercícios físicos para os educandos. 
Com relação à vida intelectual romana, uma das funções mais valorizadas era a capacidade de 
oratória. Isto porque a maior parcela dos patrícios e demais homens de poder eram membros do 
Senado, importante instituição que tinha poder de comando nas questões políticas. Dentre os 
oradores romanos, um dos mais destacados foi Cícero, um nome constantemente lembrado no que 
tange à capacidade oratória. Outros intelectuais romanos importantes foram Ovídio e Plotino. 
Ovídio foi autor de um livro sobre o amor romântico entre homens e mulheres, denominado A Arte 
de Amar. Outro intelectual importante para o desenvolvimento da filosofia ocidental foi Plotino, ao 
recuperar as ideias de Platão. 
Tanto na Grécia quanto em Roma, se desenvolveu a História enquanto disciplina do conhecimento 
humano. Heródoto de Halicarnasso foi o primeiro a utilizar o conceito, em um livro de título História. 
Plutarco, por sua vez, foi autor de um dos mais importantes textos históricos da Antiguidade, o livro 
História da Guerra do Peloponeso. Em Roma, foi destaque Caio Suetônio, autor do livro A Vida dos 
Doze Césares. 
4 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: A CRIAÇÃO DE INSTITUIÇÕES 
A educação na antiguidade clássica greco-romana possuiu modelos diferentes, e até contraditórios 
no tocante aos modelos educacionais elaborados pelos membros deste mundo cultural greco-
romano que estamos contemplando nesta unidade. Assim, uma das principais diferenciações 
possíveis são os modelos educacionais formulados em Atenas, em Esparta e em Roma. 
O modelo de educação espartana está em grande parte vinculado à possibilidade do Estado em 
reger a vida dos indivíduos. Assim, uma inculcação ideológica de grande monta era necessária 
para convencer os indivíduos de que era a função de sua vida matar e morrer por Esparta. Tal 
possibilidade de forma de organização da educação só é possível de ser compreendida se tivermos 
em mente rígida e hierárquica a estrutura social que os espartanos vivenciaram (JAEGER, 1995). 
Por volta dos seis anos de idade, o menino espartano era retirado de sua família, para que pudesse 
se transformar, na vida adulta, em um soldado que servisse aos interesses do Estado espartano. 
Portanto, uma das primeiras características que a educação forjava na mentalidade do futuro 
homem espartano era a que o Estado como entidade é mais importante que a família, pois não 
tinham os meninos espartanos um contato prolongado com os seus pais, mas, sim, com os 
instrutores militares, que buscavam transformar os meninos em guerreiros. 
A função de soldado era uma das principais a ser desenvolvida. Assim, desde a infância, os 
meninos eram designados a atividades como longas marchas, acampamentos, além de obviamente 
serem incentivados a atitudes violentas, com as quais eram testados em suas capacidades 
belicosas. Um dos principais ritos de passagem de um menino espartano, quando então ele 
passava a ser considerado um homem, e não mais um menino, era assassinar um hilota, que era 
um habitante de Esparta, mas considerado de uma classe social inferior. 
As mulheres também recebiam uma educação em Esparta. No entanto, o poder político e o maior 
investimento eram realizados em função dos rapazes, pois os futuros homens teriam destaque 
social, ao liderar a polis espartana. Todavia, no caso espartano, havia uma certa valorização da 
figura feminina, pois como poderiam dar à luz a novos guerreiros, as mulheres eram valorizadas 
pelo corpo social. Todavia, na vizinha Atenas, a mulher não recebia nenhum tipo de valorização no 
corpo social. 
A educação ateniense possuía como principal objetivo algo muito distinto da educação espartana. 
Ela tinha a principal função de educar o membro da polis, que vivia em um regime democrático. 
Assim, se pode compreender que a educação entre os atenienses tinha a função de capacitar os 
indivíduos a assumir funções públicas, desenvolvidas na praça pública, na Ágora, o local das 
principais disputas políticas. 
Dois filósofos gregos fundaram duas das instituições que nomeiam, até o presente, instituições de 
ensino: O Liceu e a Academia. Platão está relacionado à fundação da academia. Seu aluno e 
discípulo, Aristóteles, foi o criador do Liceu. Mais que isto, Aristóteles fundou uma metodologia de 
ensino denominada Peripatética. O termo provém da palavra peripatus, que em grego quer dizer 
passeio. Deste modo, ao invés de manter os alunos trancados em uma sala fechada, Aristóteles 
ensinava aos seus discípulos passeando pela cidade, observando as diferenças e semelhanças 
entre os homens, como também contemplando a natureza e observando a multiplicidade da vida 
animal e vegetal. 
O ideal da educação na Grécia pode ser resumido em uma máxima denominada Mens sana in 
corpore sano, no qual se pode concluir que o cuidado com a saúde e o bem-estar físico são tão 
importantes quanto o desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Tal perspectiva foi também 
importante para a educação romana. 
A educação em Roma é didaticamente definida em três grandes períodos. A educação latina, termo 
pelo qual se designa a educação em um períodoanterior à influência grega. Um segundo momento, 
no qual tivemos a influência dos educadores trazidos da Grécia. E, por fim, o terceiro período, no 
qual se denomina educação greco-romana, pois ocorreu uma síntese entre a educação latina, já 
realizada, e a educação grega. Ao pensarmos a formação de instituições na Roma antiga, podemos 
lembrar que existiram Escolas de Retórica. Isto porque a formação de um tribuno, de um homem 
capaz de bem falar no Senado, era uma das principais funções educacionais. 
À guisa de conclusão, podemos pensar que a educação greco-romana teve aspectos distintos, 
extremamente evoluídos, ao possibilitar o desenvolvimento intelectual da humanidade, e ao mesmo 
tempo restritos, ao excluir a maior parte da população, que era composta por escravos, assim como 
as mulheres que também não eram educadas em sua maioria. 
A educação do mundo greco-romano sofreu profundas alterações quando a sociedade ocidental 
foi influenciada pela cultura judaico-cristã, com o período denominado Idade Média. 
RESUMO DO TÓPICO 
Neste tópico você viu que: 
• A sociedade grega era dividida em cidades-estado, sendo as duas mais importantes Atenas e 
Esparta. 
• Atenas possuiu uma vida cultural intensa, enquanto Esparta era vinculada ao militarismo. 
• Roma formou um dos principais impérios da antiguidade. 
• A educação ateniense tinha como função formar um cidadão. 
• A educação espartana tinha como função formar um soldado. 
• A educação em Roma tinha como uma das principais funções formar um bom orador. 
Aristóteles. 
AUTOATIVIDADES 
UNIDADE • A filosofia se desenvolveu na Grécia antiga, cujos principais destaques foram Sócrates, 
Platão e 
1 - TÓPICO 2 
1 Como podemos compreender as diferenças existentes entre os modelos educacionais espartano, 
ateniense e romano? 
 
 
 
TÓPICO 3 
IDADE MÉDIA: PATRÍSTICA, ESCOLÁSTICA E NOMINALISMO 
1 INTRODUÇÃO 
Neste tópico vamos contemplar o processo de formação da educação na sociedade judaico-cristã 
ocidental. O cristianismo revolucionou as estruturas sociais do Império Romano. Os valores do 
cristianismo, entre os quais a solidariedade social é o ponto alto, se opuseram aos valores greco-
romanos, antropocêntricos e belicosos. 
Neste sentido, a educação na Idade Média se relaciona em grande parte às questões da teologia 
cristã. Por Idade Média compreendemos um período da História do Ocidente, que se iniciou com o 
fim do Império Romano e terminou com o fim do Império Bizantino. 
Muitos historiadores consideram o dia de hoje como o marco da queda do Império Romano do 
Ocidente, no ano de 476. Nesta data, foi deposto o usurpador Rômulo Augusto, forçado a abdicar 
do poder pelo chefe germânico Odoacro. Não se deve esquecer, contudo, que o Império Romano 
do Ocidente ainda sobreviveria por mais um milênio - a divisão em duas partes do império foi feita 
por Diocleciano em 286 d.C.. O depois chamado Império Bizantino seguiu até 1453, quando ocorreu 
a Queda de Constantinopla. Com o fim do Império Romano do Ocidente, muitos historiadores 
aproveitaram o fato para demarcar o fim da Antiguidade e o começo da Idade Média. 
Podemos afirmar que a Idade Média também é subdividida em algumas periodizações, segundo 
uma tradição dos historiadores medievalistas franceses. 
Alta Idade Média (Séculos V-X): período também denominado Antiguidade Tardia, no qual o 
processo de formação da sociedade medieval ainda se fazia em contato com a desagregação das 
instituições romanas. 
Idade Média Central (Séculos XI-XIII): período de auge de um sistema social denominado 
feudalismo. 
Baixa Idade Média (Séculos XIV-XV) desagregação do mundo feudal com o surgimento de novas 
instituições, como os Estados Nacionais. Período de expansão territorial da cristandade latina, que 
irá culminar com a descoberta da América, em 1492. Período em que temos o fim do Império 
Bizantino, com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453. 
Em geral, os cursos de Idade Média abordam três sokciedades principais. A sociedade ocidental, 
denominada como Cristandade Latina, a sociedade cristã ortodoxa do Oriente, denominada Império 
Bizantino, e, por fim, as sociedades muçulmanas, no chamado Império Árabe. Estas três 
civilizações surgiram às margens do Mar Mediterrâneo. Outras formações culturais existiram no 
período, como o Império Mongol, na Ásia, comandado por Gengis Khan, ou mesmo os Vikings, do 
norte europeu. No entanto, foi a cristandade latina que gerou as instituições escolares que temos 
no presente. Por isso, daremos destaque às instituições latinas, e também discorreremos sobre 
Bizâncio e sobre o mundo muçulmano, sociedades nas quais os ocidentais estavam em 
permanente diálogo, seja através do comércio, das guerras ou das disputas teológicas. 
Podemos afirmar que a Idade Média é, acima de tudo, um conceito historiográfico surgido por volta 
do século XVII. O pensador alemão Cellarus criou o termo Medieval (JÚNIOR, 2001). Este conceito 
é deveras preconceituoso, pois os idealizadores da Renascença consideravam a Idade Média uma 
noite de mil anos, na qual os ideais gregos e romanos seriam retomados. Alguns consideram a 
Idade Média como a Idade das Trevas, ou Noite de Mil Anos, na qual os ideais científicos e o 
conhecimento dos seres humanos sobre o seu próprio corpo e sobre a natureza como um todo 
eram obscurecidos pela fé católico-romana. Um período no qual o cristianismo seria o único 
conhecimento válido. Concomitantemente, um período no qual o conhecimento sobre a Bíblia era 
negado aos fiéis, e em que o analfabetismo era uma constante. 
Nos últimos 40 anos, as visões sobre o período medieval se renovaram. Muitos pesquisadores de 
diversos aspectos da cultura medieval, como os filósofos, os historiadores e os teólogos 
contemporâneos, buscaram expandir o conhecimento sobre o período medieval sem o olhar 
preconceituoso da Idade das Trevas. A historiadora francesa Regine Pernot, no livro O Mito da 
Idade Média, provocou a intelectualidade a repensar o período. Muitas das transformações nas 
técnicas de pesquisa que a história enquanto disciplina passou foi uma das principais contribuições 
dos medievalistas, como o holandês Joahn Huizinga, ou os franceses Henri Pirrene e Marc Bloch. 
Neste tópico, o enfoque será o Ocidente latino. No entanto, veremos sobre as sociedades 
bizantinas e muçulmanas, com as quais a intelectualidade ocidental, formuladora da educação 
cristã latina, estava em perene diálogo. Como vivemos em um país ocidental de maioria cristã 
católica, estudaremos com maior profundidade o cristianismo no Ocidente. Para um alargar de 
consciência sobre diferentes culturas, analisaremos, com respeito e interesse científico, alguns dos 
principais aspectos da sociedade, cultura religiosa e educação entre ortodoxos e maometanos. 
2 O MUNDO BIZANTINO 
O denominado Império Bizantino pode ser encarado como uma típica teocracia. Isto é, um governo 
no qual o chefe político é considerado o representante de Deus na face da Terra. (RUNCIMAN, 
1978, p. 13). A Teocracia Bizantina durou perto de mil anos, sendo o seu início a mudança da 
capital do Império Romano para a antiga cidade de Bizâncio, remodelada pelo imperador 
Constantino e renomeada Constantinopla. O fim do Império Bizantino ocorreu em 1453, quando 
turcos otomanos tomam militarmente Constantinopla, rebatizando a cidade como Istambul. 
Para a compreensão da formação de Constantinopla, antes devemos compreender o processo de 
declínio do Império Romano, pois Roma foi um império no qual a cultura grega permaneceu, vindo 
ainda como resquícios do império de Alexandre, “O Grande”. Assim, muitas regiões do Império 
Romano tinham o grego como principal idioma (LE GOFF, 2007, p. 51). Esta região foi o palco de 
um processo de cristianização, iniciado ainda no período dos apóstolos, relatado nos livros do Novo 
Testamento bíblico, alguns deles escritos em grego, como as cartas do apóstolo Paulo. Nos séculos 
posteriores, o cristianismo se arraigou na cultura popular,sendo ele um vetor de disputas políticas 
e teológicas em uma organização social romana que apresentava acentuada decadência. 
Em 395 d.c., Constantino, imperador romano, além de alterar a capital do Império para Bizâncio, 
ofertou liberdade de culto aos cristãos. No entanto, mais do que dar a liberdade de culto, convocou 
um Concílio Ecumênico, que tinha como principal pressuposto evitar disputas doutrinárias entre os 
cristãos que pudessem motivar motins ou rebeliões contra o governo imperial. 
A economia em Bizâncio girava em torno do comércio marítimo. As costas do Mar Egeu foram 
importantes pontos de trânsito de mercadorias, pois este era um entreposto entre os produtos 
orientais e Roma. Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, quando Odoacro tomou 
Roma definitivamente, destronando o último imperador romano, Rômulo Augusto, Constantinopla 
se tornou a mais importante cidade do mundo de então. 
A vida em Bizâncio em grande parte girava em torno do cristianismo. A Catedral de Hagia Sofia, 
que em português significa “Santa Sabedoria”, é um símbolo do poder eclesiástico e temporal. 
Tratava-se do local no qual o patriarca de Constantinopla celebrava as missas e, também, o local 
no qual o imperador bizantino era coroado (RUNCIMAN, 1978, p. 75). 
Até 1054, existiam concomitantemente o papa em Roma e o patriarca em Constantinopla, em uma 
unidade de fé. No entanto, a partir do século XI ocorreu o chamado cisma greco-oriental. Devido a 
este cisma, isto é, a esta divisão teológica e político-eclesiástica entre o Catolicismo Romano e a 
Igreja Ortodoxa, o cristianismo passou por sua primeira divisão em sua unidade (OLSON, 2001). 
Tanto a Igreja Romana quanto a Ortodoxa consideram-se católicas, isto é, universais. Outra 
questão que ambas consideram ter é a descendência direta dos apóstolos. No entanto, podemos 
observar que as culturas grega e latina eram muito distantes em diversos aspectos da fé, o que 
somado a intenções políticas e econômicas, explica a divisão entre o cristianismo do Oriente e do 
Ocidente. 
Bizâncio foi uma civilização que era organizada em uma teocracia. Assim, muitos dos preceitos 
educacionais da sociedade bizantina seguiam os ditames da fé. O mundo helenístico da 
denominada Ásia Menor foi fecundo em produções intelectuais nos campos da filosofia, da teologia 
e da náutica. 
Com relação à náutica, os bizantinos desenvolveram o famoso fogo grego, uma arma de guerra 
naval capaz de propelir incêndios sobre as águas do Mar Egeu. As preocupações navais do Império 
Bizantino eram justificáveis devido ao fato de ser uma nação formada por diversas e pequenas ilhas 
e pontos litorâneos cobiçados pelos europeus latinos e pelos árabes muçulmanos. Nesta sociedade 
as funções marítimas eram desempenhadas por homens que aprendiam no cotidiano da faina naval 
a arte de navegar. No entanto, no que tange à História da Educação, o ensino em Bizâncio seguia 
os ditames da fé. 
A região que compreendia o Império Bizantino em seu início era formada por diversas escolas 
teológicas de renome na história da Igreja Cristã. As cidades de Antioquia, Alexandria e 
Constantinopla possuíam uma rivalidade em disputas teológicas na época da Teologia Cristã 
denominada patrística, que compreende o início das discussões teológicas nas quais os princípios 
da fé cristã estavam sendo elaborados. 
A teologia da trindade teve nos chamados Pais Capadócios seus principais formuladores. Por esta 
alcunha eram conhecidos os teólogos Gregório de Nissa, Gregório de Nazianzo e Basílio de 
Cesareia. Foram estes os formuladores da tese segundo a qual Deus é compreendido como Pai, 
Filho e Espírito Santo, como três pessoas distintas. Comum a muitas denominações cristãs no 
Ocidente e no Oriente. 
No Egito surgiu um grupo de cristãos denominados coptas. Até o presente, os coptas formam uma 
minoria religiosa respeitada. Os cristãos coptas não aceitavam a autoridade do patriarca de 
Constantinopla, aceitando por sua vez as ideias do patriarca de Alexandria. No entanto, para 
alguns, os coptas eram grupos de hereges. Algumas heresias foram consideradas importantes para 
a compreensão das disputas entre os cristãos no interior do Império Bizantino. Uma das mais 
importantes foi a de Ário, um pensador e líder cristão que questionou a divindade do Cristo, se 
opondo às ideias trinitarianas (OLSON, 2001). 
A principal discussão teológica e social foi a chamada questão iconoclasta do século VIII, no qual 
se punham os cristãos favoráveis e os contrários à veneração de imagens. As disputas entre os 
favoráveis e aqueles que se mostravam contrários se acirraram a ponto de se conclamar o Segundo 
Concílio de Nicéia, no qual as ideias favoráveis ao culto às imagens de Maria Santíssima se 
tornaram vencedoras, em grande parte devido às ideias do sacerdote João Damasceno (OLSON, 
2001, p. 306-309). 
Alguns nomes da teologia bizantina são importantes de serem mencionados. São João Crisóstomo, 
conhecido pela alcunha Boca de Ouro. Sua eloquência era um dos fatores de liderança de revoltas 
e contestações contra o luxo em que viviam os patriarcas e imperadores. Orígenes foi um grande 
e importante místico, capaz de reflexões profundas sobre a natureza da alma humana. 
A formação dos letrados era em grande parte vinculada à Igreja, por isso, a principal fonte de 
conhecimento dos bizantinos sobre os diversos assuntos que pautam a realidade humana eram 
vinculadas à teologia. O sacerdócio na religião ortodoxa segue a princípios distintos daqueles que 
segue a Igreja Romana. Uma das principais diferenças é com relação ao celibato. No Ocidente 
latino era (pelo menos do ponto de vista formal durante a Idade Média) obrigatório. No entanto, 
para a Igreja do Oriente grego, o celibato é opcional. Os sacerdotes podem escolher em constituir 
uma família ou apenas se dedicar à Igreja. Todavia, os cargos eclesiásticos de mais alta hierarquia 
são comumente designados apenas para os celibatários. 
A formação como teólogo para a Igreja bizantina também não segue diretamente a tradição latina, 
pois para os bizantinos a função principal do sacerdote é estar em serviço do povo, não tendo uma 
distinção entre os mais capacitados intelectualmente (teólogos) e os demais sacerdotes (padres ou 
pastores). Assim, podemos concluir que a vida bizantina teve na religião cristã ortodoxa o centro 
ideológico principal do seu sistema educacional e de organização política. 
No presente, existem alguns preconceitos contra a civilização e cultura bizantina. Existe inclusive 
a pecha “discussão bizantina” para debates de temas pouco relevantes. Uma das críticas aos 
teólogos e educadores bizantinos era em relação a alguns debates de pouca importância 
instrumental, como quantos anjos cabiam na “ponta de uma agulha” ou “qual a cor dos olhos de 
Santa Maria”. Apesar deste preconceito, podemos afirmar a importância dos pensadores 
bizantinos. A Igreja Ortodoxa possui maioria entre as populações eslavas, sendo a religião mais 
tradicional e importante da Rússia. Os pensadores bizantinos influenciaram sobremodo a 
civilização ocidental, porém, não foram os únicos que estavam em contato com os europeus 
ocidentais. Os muçulmanos também estavam em um misto de diálogo e confronto com a 
“cristandade latina”. 
3 O MUNDO ÁRABE MUÇULMANO 
A sociedade muçulmana foi formada no século VII após o nascimento de Cristo. Maomé foi o 
fundador da religião muçulmana. Segundo a crença islâmica, ele teve um profundo contato com 
Deus, denominado pelos maometanos como Alá. Após este contato pessoal, sua vida se 
transformou de maneira radical. Homem que era casado com uma viúva de um rico comerciante, 
sua vida se transformou após esta experiência mística, com a qual se tornou um dos principais 
líderes carismáticos da história das religiões proféticas mundiais. 
A Arábia no tempo de Maomé era um local de grande miscigenação cultural, em que conviviam 
homens e mulheres com convicções religiosas cristãs, judaicas e de antigos ritos politeístas. Este

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