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Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento APRESENTAÇÃO A radiação eletromagnética (REM) oriunda do Sol interage diretamente com qualquer ser vivo ou objeto que esteja na superfície do planeta Terra. Com o auxílio de sensores acoplados a satélites, em órbita do planeta, podem-se obter informações da reflexão da REM incidente, as quais auxiliam na quantificação dos processos de uso e ocupação do solo, nos levantamentos topográficos, na identificação de focos de incêndios e nas análises da estrutura vertical das florestas e do estado fitossanitário das culturas e da vegetação em geral, entre outros temas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre a interação da radiação eletromagnética com a Terra e sobre os sensores mais adequados para cada mapeamento, além de entender a relação entre os sistemas de informação geográfica (SIGs) e geoprocessamento. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o processo de interação do espectro eletromagnético na Terra e a aquisição de dados de sensoriamento remoto com base nos sensores ativos e passivos. • Reconhecer os sensores mais adequados para cada tipo de mapeamento, considerando as características técnicas das imagens e os custos associados. • Identificar o relacionamento dos SIGs e do geoprocessamento na integração de dados de diversas fontes para a obtenção de resultados. • DESAFIO No cultivo do eucalipto, uma das estratégias para minimizar possíveis danos ocasionados por pragas e doenças é a utilização de diferentes clones ou espécies em determinada área. Isso minimiza os prejuízos caso determinado clone ou espécie seja mais suscetível a pragas e doenças ainda não detectadas na área. O cultivo geralmente é realizado em áreas extensas, fazendo com que toda a área seja visitada, muitas vezes, em semanas ou até mesmo meses. Para essa cultura, pragas exóticas são as principais causadoras de danos, ocasionando a perda de produtividade e, consequentemente, prejuízos. Imagine que você atue como consultor na área de sensoriamento remoto e que uma empresa solicita que você utilize seus conhecimentos para identificar ataques do percevejo-bronzeado em áreas cultivadas com eucalipto. a) Como você iniciaria esse processo? b) Como você poderia utilizar as técnicas de sensoriamento remoto e o geoprocessamento para identificar os ataques? c) Como sua abordagem auxiliaria a empresa na tomada de decisão relacionada ao combate dessa praga? INFOGRÁFICO Em ordem crescente de comprimento de onda, o espectro eletromagnético engloba os raios cósmicos, os raios gama, os raios X, os raios ultravioleta, a luz visível, o infravermelho, as micro-ondas e as ondas de rádio, que apresentam comprimentos de ondas na ordem de quilômetros. Apesar dessa divisão do espectro eletromagnético, não há diferenças abruptas entre as formas do fenômeno físico. Esses nomes indicam comprimentos de ondas separados apenas por questões didáticas e práticas. No Infográfico, veja com mais detalhes os intervalos espectrais mais utilizados no sensoriamento remoto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO Neste exato momento, existem diversos satélites em órbita do planeta Terra, cada um realizando as funções para as quais foram desenvolvidos. Em alguns deles, estão acoplados sensores que capturam imagens por meio do sensoriamento remoto. Estes fornecem uma incrível possibilidade de visualizar partes do planeta Terra de diferentes formas, sem sair de casa, do outro lado da tela do computador. No capítulo Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento, da obra Geoprocessamento, veja mais sobre essas imagens, seu processamento e como as informações obtidas auxiliam no entendimento do ambiente e em diversas tomadas de decisão. GEOPROCESSAMENTO Luiz Felipe Ramalho de Oliveira Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o processo de interação do espectro eletromagnético na Terra e a aquisição de dados de sensoriamento remoto com base nos sensores ativos e passivos. Reconhecer os sensores mais adequados para cada tipo de mape- amento, considerando as características técnicas das imagens e os custos associados. Identificar o relacionamento dos sistemas de informações geográficas e geoprocessamento na integração de dados de diversas fontes para obtenção de resultados. Introdução Sensoriamento remoto é uma forma de coleta indireta de informação que se baseia na interação da radiação eletromagnética e da superfície da Terra, como água, os solos, as rochas, vegetação e áreas construídas. Por meio dessas informações, juntamente a técnicas de geoprocessamento, é possível realizar diversas análises que podem auxiliar na tomada de decisão de diversas situações. Neste capítulo, você vai compreender o que é o espectro eletro- magnético e como é a interação que se dá entre a radiação eletro- magnética e o planeta Terra, além de entender o que são sensores ativos e passivos e quais são os sensores mais adequados para cada tipo de mapeamento. Interações entre radiação eletromagnética e Terra Radiação eletromagnética (REM) Entende-se como radiação eletromagnética (REM) a transmissão de energia em forma de ondas que possuem um componente elétrico e outro magnético. Essas ondas são produzidas pela movimentação de uma carga em um campo magnético (THOMAS, 1996). Em ordem crescente de comprimento de onda, o espectro eletromagnético engloba os raios cósmicos, os raios gama, os raios x, o ultravioleta, a luz visível, o infravermelho, as micro-ondas e as ondas de rádio que possuem comprimentos de ondas na ordem de quilômetros (Figura 1). Figura 1. Regiões do espectro eletromagnético com destaque para região do visível. Fonte: Adaptada de Vectormine/Shutterstock.com. Controle remoto Lâmpada Máquina de raio xSol Elementos radioativos E s p e c t r o v i s í v e l Ondas de rádio Infravermelho Ultravioleta Raio X Raios gama Tamanho de um edifício Tamanho de um átomo Espectro eletromagnético Apesar dessa divisão do espectro eletromagnético, não há diferenças abrup- tas entre as formas do fenômeno físico — esses nomes indicam comprimentos de ondas separados apenas por questões didáticas e práticas. Portanto, o espectro eletromagnético é contínuo e todas essas ondas irradiam-se pelo espaço com a mesma velocidade (2,998 × 108 m s-1), diferindo-se apenas por frequências (TERFIL; HAZEN, 2006). Por estudos de cientistas como Planck, Bohr e Einstein, sabe-se que quanto menor a frequência de uma onda eletromagnética, maior é a energia transportada. Isso ocasiona diferentes efeitos quando um determinado tipo Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento2 de radiação eletromagnética entra em contato com um objeto. Exemplos são o poder de penetração dos raios x e o aquecimento provocado pelo infravermelho. De acordo com o modelo corpuscular, a energia dos fótons de determinada onda interage com o alvo por meio de trocas de energia entre a energia inci- dente e contidas nos átomos e moléculas do alvo (MENESES; ALMEIDA, 2012). Essa interação acontece de forma quantizada, ou seja, para haver uma troca ou interação da energia da radiação da onda com a energia da matéria, é preciso que a REM incidente seja de uma energia em parte absorvida pelos elétrons ou moléculas e que promova uma mudança do elétron de um orbital para outro de maior energia ou que aumente a intensidade vibracional das moléculas (Figura 2). Figura 2. Absorção da radiação eletromagnética pelos materiais desloca o elétron para um orbital de maior energia. Fonte: Adaptada de Sophielaliberte/Shutterstock.com. A parte da energia da REM que não é absorvida pode ser transmitida ou é refletida para o sensor. Nesse processo, as imagens medema radiação refle- tida e podemos avaliar a energia absorvida pelos materiais. Dessa forma, por meio da energia refletida pelos alvos e captada pelos sensores nas imagens de satélite, é possível obter informações sobre a composição dos alvos terrestres. 3Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento No sistema solar, a fonte principal da REM é o Sol. Na verdade, todo objeto acima de -273,15°C emite REM, e essa radiação está diretamente relacionada com sua temperatura. O Sol, com temperatura próxima a 6000°C, apresenta uma curva de emitância radiante específica, com pico na região do visível. Fontes de radiação como o Sol emitem luz dentro de um amplo espectro. No entanto, alguns fenômenos físicos podem bloquear parte dos comprimen- tos de onda do espectro eletromagnético. Comprimentos de onda de maior frequência, mais nocivos a processos biológicos, encontram dificuldade de se propagar no espaço e não chegam com grande intensidade à superfície terrestre — por exemplo, os raios cósmicos, raios gama, raios x e uma parte dos raios ultravioletas que são refletidos pela camada de ozônio ou interagem com gases atmosféricos (TERFIL; HAZEN, 2006; KENYON, 2008). Veja, na Figura 3, a radiação solar no topo da atmosfera e após interagir com os gases presentes. Figura 3. Irradiância solar no topo da atmosfera e ao nível do mar, mostrando a absorção pelos diferentes gases atmosféricos. Fonte: Meneses e Almeida (2012, p. 15). Radiância e reflectância Sensores acoplados aos satélites interpretam a REM praticamente da mesma forma, a energia eletromagnética proveniente do Sol incide no alvo (irradiância) Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento4 e é refl etida, chegando ao sensor para ser medida e, assim, transformada em imagem. Tecnicamente, a REM que chega ao sensor é medida por sua densidade de fl uxo em uma direção defi nida por um cone elementar de um ângulo sólido em sua direção. A essa medição, dá-se o nome de radiância. Basicamente, a reflectância é a razão entre a quantidade de energia que incide sobre uma superfície (irradiância) e a quantidade de energia que é refletida por essa superfície (radiância). Sensores imageadores não medem a irradiância solar, assim, a imagem é uma representação digital da radiância. Para a maioria das aplicações de sensoriamento remoto, aceita-se os valores de radiância bem próximos dos valores de reflectância, e análises da reflec- tância espectral dos alvos podem ser realizadas por imagens multiespectrais no formato digital (MENESES; ALMEIDA, 2012). Interferências atmosféricas Além desses fenômenos de interrupção de regiões do espectro eletromagnético, existem outros que podem resultar em seu espalhamento. O espalhamento é a mudança aleatória da direção da REM incidente ocasionada pela interação dos gases atmosféricos. Os gases atmosféricos podem espalhar a REM solar ou mesmo refl etida pelos alvos terrestres; além disso, dependendo da interação entre REM em determinados comprimentos de onda e tamanho das partículas dos gases atmosféricos, o espalhamento pode ser classifi cado como espalha- mento Rayleigh, Mie ou não seletivo. O espalhamento Rayleigh ocorre quando o diâmetro das partículas dos gases atmosféricos é menor do que o comprimento de onda. O espalhamento Rayleigh é responsável pela coloração azul do céu, visto que menores comprimentos de onda na região do visível são mais afetados. Por causa desse espalhamento, imagens multiespectrais que utilizam comprimentos de onda da região visível do espectro eletromagnético devem passar por correção atmosférica. O espalhamento Mie ocorre quando o tamanho das partículas dos gases atmosféricos é maior que o comprimento de onda; esse espalhamento pode manifestar-se como uma perda de contraste na imagem de satélite. Tanto o espalhamento Rayleigh quanto o Mie podem aumentar a reflectância da superfície terrestre e diminuir o contraste dos alvos, afetando a diferenciação de superfícies distintas. O espalhamento não seletivo ocorre quando o tamanho das partículas é muito maior do que os comprimentos de onda entre o visível e termal (400 a 1400 nm). Ocorre em atmosferas muito densas, com neblinas, nuvens e poeiras e resulta na redução da radiação refletida pelos alvos. 5Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento Além dos efeitos da atmosfera na REM obtida pelos sensores, as imagens de satélite podem conter erros aleatórios dos valores digitais dos pixels ou erros de linhas de pixels com valores saturados ou sem sinal. Esses erros são chamados de ruídos e devem ser eliminados das análises por técnicas de geoprocessamento. Satélites e resoluções Sensores: passivos e ativos Sensores passivos são sensores que não possuem fonte própria de REM e utilizam como fonte a REM proveniente do Sol, enquanto sensores ativos utilizam uma fonte artifi cial de REM. Essa fonte artifi cial de REM pode ser em qualquer comprimento de onda do espectro eletromagnético. O principal sensor ativo, o Radar (Radio Detection and Ranging), uti- liza comprimentos de onda da região do micro-ondas (2,4 a 100 cm) e sua principal vantagem em relação aos sensores ópticos e termais é em relação à penetração das micro-ondas na atmosfera sem que haja absorção ou espa- lhamento pelas partículas ou gases da atmosfera. Isso permite a obtenção de imagens mesmo quando a cobertura de nuvens é total ou em qualquer hora do dia e da noite. Satélites Os principais satélites que utilizam sensores passivos são Landsat, CBERS, TERRA, AQUA e Sentinel. Esses satélites utilizam sensores que depen- dem da REM solar para coletar a imagem e dependem das variações nas condições de iluminação solar (ângulos de elevação e azimute) e condições atmosféricas. Oito satélites compõem os da missão Landsat e possuem sensores que operam principalmente na região do visível e infravermelho próximo. O Landsat 8, único ainda ativo sem restrição, possui os sensores OLI (Operation Land Imager) e TIRS (Thermal Infrared Sensor), que trabalham na região do visível (bandas 1–4), infravermelho próximo (bandaS 5–9), infravermelho de ondas curtas (bandas 6–7), pancromática (banda 8) e termal (bandas 10–11). As imagens desse satélite são utilizadas para diversos fins, como: Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento6 mapas de uso e cobertura das terras, atualização de mapas e dados cartográficos, mapas de aptidão agrícola das terras, identificação de áreas irrigadas, mudanças climáticas; mapeamentos temáticos diversos na área de recursos naturais, agri- cultura, silvicultura, pedologia, queimadas, proteção e conservação da natureza, monitoramento ambiental, poluição; hidrologia, mapeamentos de áreas alagadas, eutrofização; prospecção geológica, atualização de mapas e cartas, classificação de tipos de rochas, recursos minerais, mapas geomorfológicos; planejamento urbano e regional, infraestrutura, indicadores sociais, entre outros. Cinco são os satélites lançados da missão CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recurso Terrestre). O CBERS 4, único em operação, possui quatro sensores, Câmera Pancromática e Multiespectral (PAN), Câmera Multiespectral Regular (MUX), Imageador Multiespectral e Termal (IRS), Câmera de Campo Largo (WFI). Basicamente, esses sensores atuam na região do visível, infravermelho próximo, infravermelho de ondas curtas e termal. As imagens de satélites da missão CBERS podem ser utilizadas para: gerenciamento de recursos terrestres; geração de mosaicos regionais e nacionais; monitoramento de desmatamentos e queimadas na Amazônia Legal; geração de índices de vegetação; atualização de cartas temáticas; mapeamentos e dinâmica de uso e cobertura das terras; identificação e quantificação da expansão urbana; mapeamentos geológicos. Os satélites TERRA e AQUA possuem como sensor principal o MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) e, juntos, conseguem obter imagens daTerra de 1 a 2 dias. As imagens do MODIS oferecem uma base de dados para estudos sobre interações entre atmosfera, terra e oceano e podem servir para: obtenção de medidas de fluxo de energia radiante; aquisição de dados de umidade atmosférica; medidas de temperatura da superfície marítima e terrestre; avaliação de propriedades físicas das nuvens; 7Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento detecção de velocidade dos ventos; monitoramento de dados sobre mudanças climáticas globais; dinâmica de uso e cobertura do solo. O conjunto de satélites Sentinel possui diversos tipos de sensores (ativos e passivos) que fornecem informações precisas sobre atmosfera terrestre, solos, vegetação, oceanos, geleiras, relevo, entre outros. Esse conjunto de satélites pode ser utilizado para: monitoramento terrestre, marinho, atmosférico; em situações de catástrofes naturais e causadas por humanos; questões relacionadas à segurança das nações; estudo das mudanças climáticas; diversas aplicações na agricultura e no monitoramento florestal. Existem diversos outros tipos de satélites com sensores ópticos com diferentes resolu- ções, como, por exemplo, os satélites Ikonos, RapidEye e Hyperion. Neste texto, foram abordados os principais satélites com fontes de imagens gratuitas. Resoluções das imagens Diversos são os tipos de imagens de satélites que podem ser utilizadas em sensoriamento remoto. Cada sensor possui pelo menos quatro fatores que devem ser observados para que o sensoriamento alcance a expectativa do usuário: o campo de visada do sensor, os comprimentos de onda das bandas detectadas pelo sensor, os valores numéricos de medida da radiância do alvo e a data em que a imagem foi obtida. Esses quatro fatores são, na verdade, características inerentes a resoluções das imagens de satélites, denominadas resolução espacial, espectral, radiomé- trica e temporal. Esses conceitos são válidos para qualquer sensor imageador, com exceção do Radar. A resolução espacial está diretamente relacionada à capacidade do sensor de identificar os objetos na superfície terrestre e determina o tamanho do menor objeto que pode ser identificado na imagem. Quanto menor o valor, menor também é o pixel e maior é a resolução espacial. Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento8 Nas áreas urbanas, são necessários sensores que possuam resolução espacial de poucos metros, enquanto áreas com pouco variabilidade de alvo podem utilizar sensores com menores resolução espacial (Figura 4). Figura 4. Da esquerda para a direita, imagens dos satélites (Landsat com resolução espacial de 30 m, Spot com 10 m e Ikonos com 1 m) de uma porção do lago Paranoá de Brasília. Fonte: Adaptada de Meneses e Almeida (2012). Como visualizado na figura anterior, há uma clara relação entre resolução espacial e escala de visualização dos objetos (Quadro 1). Fonte: Adaptado de Meneses e Almeida (2012). Escala Resolução espacial (m) Sensor 1:<10.000 1 Ikonos pancromático 1:10.000 2,5 Spot pancromático 1:20.000 5 Ikonos XS 1:40.000 10 Spot HRG 1:75.000 20 CBERS 1:100.000 30 Landsat (faixa óptica) 1:200.000 60 Landsat TIR (termal) 1:350.000 90 Aster TIR (termal) Quadro 1. Escalas aproximadas de visualização de imagens multiespectrais em função da resolução espacial 9Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento A resolução espectral envolve o número de bandas do sensor, a largura em comprimento de onda das bandas e as posições em que as bandas estão situadas no espectro eletromagnético. Comparativamente, um sensor tem maior resolução espectral se possui mais bandas situadas em diferentes regiões espectrais e com larguras estreitas de comprimentos de onda. Isso porque cada objeto na superfície da Terra apresenta uma assinatura espectral e, com maior disponibilidade de informações em diferentes comprimentos de onda, mais facilmente também será a identificação de objetos distintos. Por exemplo, se um satélite possui oito bandas desde o visível até o infravermelho, enquanto outro satélite possui seis bandas na mesma região do espectro eletromagnético, o primeiro possui maior resolução espectral. Tomaremos como exemplo as aplicações das bandas do satélite Landsat 8, apresentadas no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Loyd (2019). Número da banda Comprimento de onda (nm) Resolução espacial (m) 1 433–453 30 2 450–515 30 3 525–600 30 4 630–680 30 5 845–885 30 6 1560–1660 30 7 2100–2300 30 8 500–680 15 9 1360–1390 30 10 10600–11200 100 11 11500–12500 100 Quadro 2. Bandas do satélite Landsat 8 Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento10 Banda 1 (violeta e azul): região do espectro eletromagnético difícil de ser coletada principalmente pelo espalhamento ocasionado por partículas de poeira e vapor d’água na atmosfera. Contudo, o Landsat-8 possui essa banda com alta resolução espectral, tornando-a importante no monitoramento de águas rasas e partículas na atmosfera como poeira e fumaça. Não por acaso essa banda pode ser chamada de banda para faixa costeira/aerossol. Bandas 2, 3 e 4 (regiões do visível — azul, verde e vermelho): podem ser utilizadas para diversos usos, principalmente no monitoramento do uso e da ocupação do solo. Banda 5 (região do infravermelho próximo): região muito importante para monitoramento da vegetação, principalmente porque plantas saudá- veis refletem mais a energia nessa região do espectro eletromagnético. Em contraste com a banda do vermelho, pode ser obtido o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), que varia de 1 a -1. Quanto maior seu valor, mais saudável a vegetação. Bandas 6 e 7: regiões do infravermelho de ondas curtas (SWIR). Muito úteis para monitoramento da umidade do solo e geologia. Solos muito semelhantes na composição de outras bandas aparecem de forma distante na utilização dessas bandas. Banda 8 (pancromática): funciona como um filme em preto, utilizando regiões do visível em um só canal. Como utiliza mais luz ao mesmo tempo, sua nitidez é maior. Banda 9: esta banda utiliza uma região do espectro eletromagnético que facilita o monitoramento de nuvens. Banda 10 e 11: estas bandas atuam no infravermelho termal (TIR). Essa região demonstra o calor emanado do solo, ao invés da medida da temperatura do ar, que é realizada por estações climatológicas. Resolução radiométrica: é a medida da intensidade de radiância de cada pixel da imagem. Quanto maior for a capacidade de medir diferenças de intensidades do nível de radiância, maior é a resolução radiométrica. Mediante a intensidade da radiação de entrada no sensor, a resposta de saída dos detectores é convertida em números quantizados digitalmente, em que quanto maior os números de dígitos binários (bits), maior a qualidade da imagem e maior também a resolução radiométrica. Quanto maior o número de bits, maior também são os níveis de cinza da imagem e detalhes visuais são mais facilmente percebidos (Figura 5). 11Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento Figura 5. Exemplos de imagens com diferentes níveis de quantização ou de resolução radiométrica. (a) 8 bits; (b) 6 bits; (c) 4 bits; (d) 2 bits. Fonte: Adaptada de Meneses e Almeida (2012). Sensores multiespectrais com resolução espacial de 10 a 30 m geralmente possuem resoluções radiométricas de 8 bits, o que quer dizer que esse sensor discrimina até 256 valores de radiância por banda espectral. Já sensores com alta resolução espacial possuem resoluções radiométricas de 10 ou 11 bits (1024 ou 2048 valores digitais), ou seja: 210 = 1024 e 211 = 2048. A resolução temporal é o tempo de revisita do sensor a um local es- pecífico durante sua atividade. Quanto maior a resolução temporal, mais frequente é a passagem do satélite àquele ponto específico. A resolução temporal é imprescindível para acompanhar a evolução de algum fenômeno na Terra, sejam os processos de uso e ocupaçãodo solo, desenvolvimento de cidades, desmatamento, estádios fisiológicos de espécies vegetais, desastres Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento12 ambientais, entre outros. Evidentemente, quanto mais rápido são os efeitos dos processos que queremos avaliar, menor deve ser a resolução temporal do satélite. Da mesma forma, quanto mais demorado é o fenômeno de observação, menor resolução temporal podem ter os sensores. Geoprocessamento e sistema de informações geográficas Geoprocessamento pode ser defi nido como a utilização de técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação espaciais, desenvolvimento de novos sistemas e aplicações. O termo geoprocessamento engloba a utilização da cartografi a digital, o processamento digital de imagens, a utilização de banco de dados e o sistema de informação geográfi ca (SIG). A cartografia digital é a tecnologia destinada a captação, organização e desenho de mapas. O processamento digital de imagens é o conjunto de procedimentos e técnicas destinadas à manipulação numérica de imagens digitais, como imagens de satélite, por exemplo, com o intuito de realizar diversas correções para poder aumentar a sua qualidade. O SIG, apesar de não possuir uma definição conceitual clara e unânime, tem como funções adquirir, armazenar, manipular, analisar, simular, modelar estatisticamente e apresentar os dados espacialmente da superfície terrestre, integrando diversas tecnologias e funcionalidades para que haja uma tomada de decisão. Dessa forma, o SIG é uma ferramenta útil para todas as áreas do conhecimento que trabalham com mapeamento, integram em uma única base de dados informações representando vários aspectos do estudo de uma região; permitem a entrada de dados de diversas formas; combinam dados de diferentes fontes, geram novos tipos de informações; geram relatórios, documentos gráficos de diversos tipos e auxiliam em tomadas de decisão. As principais aplicações dos SIGs são, entre outras: determinação de áreas agricultáveis; determinação de áreas de risco à erosão; geração de mapas de acidentes de trânsito ocorridos em determinados períodos e em determinada região; delimitação de áreas de proteção permanente e reserva legal; previsão de safras agrícolas; estudo de capacidade de uso das terras; planejamento do escoamento da produção; 13Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento cadastros de espécies vegetais e animais; escolha da melhor área para implantação de escolas, hospitais, creches, comércios, indústrias, represas, etc.; zoneamentos ambientais, econômicos, sociais, etc.; monitoramento ambiental; modelagens de expansão de atividades ou ocupações. Um SIG é formado por hardware para processamento, memória, armaze- namento, entre outros, banco de dados espaciais, metodologias para procedi- mentos estatísticas, recursos humanos para desenvolver, operar, administrar e operar o sistema e, é claro, um software para manipular as ferramentas. Esse sistema é capaz de gerenciar e relacionar dados espaciais, armazenando-os como vetores ou matrizes (raster), e de atributos, compostos por códigos alfanuméricos dispostos na forma de tabela. Dados vetoriais são maneiras de definir o limite do objeto ou feição, uma tentativa de reproduzir um elemento o mais exatamente possível. Um elemento vetorial tem sua forma por meio da geometria, que, quando consiste em apenas um vértice de coordenada x e y, é referida como um ponto, e, quando consiste em dois ou mais vértices e o primeiro e último vértice dessa sequência não são iguais, é formada uma linha. Quando três ou mais vértices estão presentes e o último vértice coincide com o primeiro, forma-se um polígono. Os métodos vetoriais assumem que as coordenadas dos pontos são matematicamente exatas e usam relações implícitas que permitem a redução do tamanho de dados complexos. Contudo, em decorrência disso, alguns cálculos podem consumir maior tempo de processamento para resolução. Enquanto isso, dados raster possuem uma estrutura matricial em que cada célula (pixel) corresponde a um elemento de processamento integrado ao sis- tema por suas coordenadas. Esses dados apresentam estrutura bidimensional, em que os dados apresentam uma estrutura discreta. Dessa forma, o formato raster assume que o espaço é uma superfície cartesiana plana e cada célula (pixel) representa uma porção do terreno. Basicamente, o SIG integra grandes quantidades de informação sobre o ambiente e utiliza ferramentas analíticas para explorar os dados. Pode apre- sentar o potencial de construção de um sistema formado por diversas camadas de mapas com informações de diversos atributos, como redes de transporte, hidrografia, características de população, atividade econômica, jurisdições políticas e outras características dos ambientes naturais e sociais. A capaci- dade de armazenar informação em camadas e, então, combiná-las com outras Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento14 camadas de informação torna o SIG uma ferramenta poderosa de pesquisa e apoio à tomada de decisão. Assim, após o processamento dessas informações geoespaciais e a utilização do SIG como ferramenta de processamento, constrói-se, com a modelagem de dados, um banco de dados geográficos. Bancos de dados geográficos são formados por dados relacionados entre si, podem ser formados por dados gráficos, como pontos, linhas, polígonos, símbolos e notas; dados não gráficos como áreas e propriedades; e também dados espaciais, como, por exemplo, coordenadas geográficas. As vantagens de se utilizar ou desenvolver um banco de dados geográficos se dá pelas inúmeras análises e possibilidades de informações que se pode extrair de uma área de interesse, além da possibilidade de compartilhamento dessas informações. Além disso, o banco de dados geográficos possibilita o armazenamento de um grande número de informações que podem ser geren- ciadas de forma rápida e eficiente pelo SIG. KENYON, I. P. The light fantastic. New York: Oxford University, 2008. LOYD, C. Landsat 8 bands. In: LANDSAT SCIENCE. Mississipi: Landsat, 2019. Disponível em: https://landsat.gsfc.nasa.gov/landsat-8/landsat-8-bands/. Acesso em: 23 out. 2019. MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. Introdução ao processamento de imagens de sensoriamento remoto. Brasília: Universidade de Brasília, 2012. TERFIL, J.; HAZEN, R. M. Física viva: uma introdução à física conceitual. Rio de Janeiro: LTC, 2006. v. 2. THOMAS, M. J. K. Ultraviolet and visible spectroscopy. Chichester: John Wiley & Sons, 1996. 15Conceitos básicos de sensoriamento remoto e geoprocessamento DICA DO PROFESSOR No sensoriamento remoto, uma das etapas primordiais para o sucesso de um estudo/trabalho é a correta escolha da imagem de satélite para processamento. Diante das opções, existem diversos tipos de ferramentas e sensores que podem ser aplicados. Nesta Dica do Professor, conheça mais sobre as ferramentas e as aplicações dos satélites Sentinel. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Há sensores que detectam áreas unitárias inferiores a 1 metro e que apresentam meios para visualização estereoscópica 3D, muito úteis para levantamentos cadastrais multifinalitários e urbanos e cartografia digital. Os interessados em monitoramento para o acompanhamento da evolução e de mudanças da paisagem podem recorrer aos sensores com alta taxa de revisita à área. Já os que se interessam em determinar a composição ou a constituição de minerais ou rochas podem recorrer aos sensores com um grande número de bandas espectrais. Em relação à imagem de satélite, como é definida a resolução atribuída ao tamanho do seu pixel? A) Resolução espectral. B) Resolução radiométrica. C) Resolução temporal. D) Resolução espacial. E) Resolução pixelar. 2) O Sol, fonte de radiação eletromagnética (REM) em todo o Sistema Solar, apresenta irradiância espectralde acordo com o espectro de corpo negro a 5.250°C. Por que essa radiação solar apresenta diferente intensidade no topo da atmosfera e ao nível do mar? A) Interações atmosféricas. B) Reflexão pelo mar. C) Reflexão pelo solo. D) Reflexão pela vegetação. E) Reflexão pelas rochas. 3) Sensores ativos e passivos podem ser utilizados em sensoriamento remoto para a obtenção de imagens de satélite. Assinale a opção que melhor descreve a diferença entre esses sensores: A) Sensores ativos são aqueles que apresentam maior resolução espectral, enquanto sensores passivos apresentam menor resolução espectral. B) Sensores ativos são aqueles que utilizam fontes artificiais para geração da radiação eletromagnética; sensores passivos utilizam a radiação eletromagnética proveniente do Sol. C) Sensores ativos são sensores que ainda se encontram em atividade, enquanto sensores passivos são aqueles que já foram desativados. D) Sensores ativos são sensores que se ativam (entram em funcionamento) quando iluminados pelo Sol, enquanto sensores passivos não precisam da radiação eletromagnética solar para estarem em funcionamento. E) Sensores ativos apresentam maior resolução temporal, ficando ativamente mais tempo sobre determinada posição. Sensores passivos apresentam baixa resolução temporal, e o tempo de revisita ao mesmo local é maior. 4) Os gases atmosféricos podem espalhar a REM solar ou mesmo refletida pelos alvos terrestres. Entre esses fenômenos, está o espalhamento Rayleigh. Como esse fenômeno ocorre? A) Ocorre quando o tamanho das partículas dos gases atmosféricos é maior do que o comprimento de onda. B) Ocorre quando o tamanho das partículas é muito maior do que os comprimentos de onda entre o visível e termal. C) Ocorre quando o diâmetro das partículas dos gases atmosféricos é menor do que o comprimento de onda. D) Ocorre por causa do campo magnético da Terra que interage com a radiação eletromagnética. E) Ocorre na primavera, devido à posição relativa da Terra e do Sol e ao movimento de rotação da Terra. O processamento de imagens de satélite envolve técnicas que podem proporcionar maior qualidade ao produto final que se deseja gerar. Contudo, antes de se iniciar o processamento propriamente dito, existem técnicas de pré-processamento que aumentam a qualidade das imagens e removem possíveis erros (ruídos, correção atmosférica, distorções geométricas). Quanto aos ruídos, assinale a alternativa que 5) melhor define esse erro na imagem de satélite: A) Ruídos são erros sistemáticos presentes em todos os tipos de imagens de sensoriamento remoto. B) Ruídos são desajustes da grade de pixels das imagens de satélite. C) Ruídos são degradações que alteram radiometricamente a imagem por completo. D) Ruídos são barulhos ocasionados pela captura da imagem de satélite. E) Ruídos são erros aleatórios do valor digital dos pixels ou erros coerentes de linhas de pixels. NA PRÁTICA A reflectância foliar na região do visível (400-750nm) é influenciada pela absorção da radiação solar decorrente dos pigmentos fotossintetizantes. Já a alta reflectância na região do infravermelho próximo decorre do espalhamento da radiação no interior das folhas, principalmente pela estrutura celular. Com base nisso, diversos índices de vegetação têm sido desenvolvidos com o objetivo de explorar as propriedades espectrais da vegetação, sobretudo nas regiões do espectro eletromagnético. Neste Na Prática, veja um estudo de caso em que foi utilizado o mais antigo índice: o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), aplicado para estimar teor e parâmetros biofísicos da vegetação, como índice de biomassa, produtividade e índice de área foliar. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sensoriamento remoto: princípios e aplicações Neste vídeo, você acompanhará a fala do pesquisador Miguel Monteiro, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sobre a aplicação e as características do sensoriamento remoto orbital. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Aplicação de um sistema de informação geográfica (SIG) Neste artigo, você encontrará uma aplicação do SIG no levantamento de solos e aptidão agrícola das terras como subsídios para o planejamento ambiental do município de Itaara, RS. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Geoprocessamento na delimitação de áreas de preservação permanente (APPs) Neste artigo, você verá a utilização do geoprocessamento para mapear as APPs de encostas no município de Diamantina, MG, por meio de ferramentas do Sistema de Informações Geográficas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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