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Criminologia Unidade IV

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Unidade 4
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SUMÁRIO
1. PRIMEIROS ESTUDOS 
 1.1. Escola Clássica 
 1.2. Escola Positivista 
 1.2.1. A origem da tese do criminoso 
 nato de Lombroso 
 1.3. Escola Interacionista 
 ou Labelling Approach 
 1.4. Escola de Chicago
 1.5. Escola Crítica 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CRÉDITOS 
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Olá! Neste material, vamos falar sobre 
as principais escolas ou modelos 
criminológicos. O objetivo é que você 
saiba como identificar os primeiros 
estudos sobre os criminosos e as 
principais classificações propostas.
Bons estudos!
APRESENTAÇAO˜
1. PRIMEIROS ESTUDOS 
Embora as abordagens sistemáticas acerca da criminalidade tenham apresentado manifestações 
mais tangíveis a partir da Escola Clássica, as tentativas de desvendar e classificar os fatores 
que influenciam na delinquência tiveram início na Grécia Antiga, a partir das contribuições 
de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Você lembra quando estudamos o conceito de criminologia como uma ciência empírica e 
interdisciplinar que estuda o crime, o criminoso, a vítima e as formas de controle social? Bom, 
esse conceito vai nos auxiliar bastante a compreender a ordem de contribuição das primeiras 
escolas criminológicas.
Atualmente, segue sendo uma missão impossível dar uma explicação satisfatória e única para 
a criminalidade e suas causas, ou das razões pelas quais se chega a ser delinquente ou vítima 
de um delito. Essa dificuldade se dá, dentre outras coisas, pelo próprio condicionamento 
histórico, ideológico e cultural dessas realidades, que dificultam uma visão abstrata e com 
pretensão de validade universal e, ao mesmo tempo, pela pluralidade de aspectos e fatores 
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concorrentes, impossíveis de reconduzir a um denominador comum que não seja uma vaga e 
demasiadamente abstrata invocação à própria condição humana de todos os envolvidos neste 
tipo de problema. 
1.1. Escola Clássica
A Escola Clássica foi o primeiro modelo criminológico que buscou consolidar uma teoria capaz 
de explicar o fenômeno da criminalidade. Suas contribuições iniciaram com as abordagens de 
Cesare Beccaria (1738-1794) sobre a finalidade preventiva da pena. Seu objetivo consistiu em 
romper com a aplicação de penas cruéis e infamantes, apresentando a ideia de um tratamento 
humanitário ao preso e demonstrando a ineficácia em se aplicar uma pena desproporcional 
ao preso. Após os estudos de Beccaria, autor do livro “Dos delitos e das Penas” (1763 
- 1764), a política criminal sofreu mudanças assinaláveis. Entendia-se, então, que, com a 
severidade adequada e proporcional do castigo ao crime e com a eficácia e a certeza da pena 
que seria aplicável ao infrator, o fenômeno da criminalidade tenderia a baixar. Porém, essa 
previsão na redução do crime revelar-se-ia ilusória. Na perspectiva de Beccaria, existia aqui 
um apego ao princípio da legalidade, em oposição ao cenário de incertezas legais que podia 
ser vislumbrado no período inquisitório.
Outra contribuição importante nesta escola foi a de Francesco Carrara (1805-1888). Para esse 
estudioso, a Escola Clássica apresenta forte relação com a análise do crime como um ente 
jurídico, ou seja, como uma construção abstrata que se encontra no ordenamento jurídico. O 
crime seria, então, realizado a partir da ação de um indivíduo com liberdade de escolha; as 
causas do crime estariam relacionadas com o livre arbítrio, com a escolha que cada indivíduo 
faria entre as vantagens resultantes da prática do crime e a pena que este teria a certeza de 
vir a sofrer; pena que, em termos relativos, seria suficiente para prevenir, sendo graduada 
em função das vantagens obtidas pela conduta do criminoso.
1.2. Escola Positivista
É comum se datar o aparecimento da Criminologia como ciência em 1876, ano em que foi 
publicado o famoso “O homem delinquente” da autoria de Cesare Lombroso (1835-1909). 
À Escola Positiva Italiana estão igualmente ligados, além de Lombroso, nomes como o de 
Enrico Ferri e Raffael Garofalo. Os próprios membros da escola consideravam-se como sendo 
os verdadeiros iniciadores do estudo da delinquência em bases científicas, na medida em que 
partiam de dados concretos baseados na verificação empírica.
Eles se opuseram à Escola Clássica, porquanto afirmavam que Beccaria e os seus seguidores 
sustentavam opiniões imbuídas de caráter metafísico para explicar o crime. Só eles é que 
tinham tido a oportunidade de estudar o objeto crime de uma forma verdadeiramente científica, 
isto é, positiva, na acepção que Comte lhe dava.
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A Escola Positiva Italiana se contrapõe à visão clássica do livre arbítrio e do indeterminismo ao 
defender a ideia de que as pessoas são fortemente condicionadas na sua forma de agir por razões 
de ordem interna e externa, de tal forma que o criminoso é um indivíduo que se assemelha a 
um doente e, como tal, deve ser encarado. Essa ideia de condicionamento, de comportamento 
inato, defendida pela Escola Positiva Italiana, conduz-nos à questão da “teoria dos fins das 
penas”. Se o indivíduo é alguém doente, não fará muito sentido serem-lhe aplicadas penas, 
pois o que interessa não é tanto a prevenção geral e retributiva, mas a ideia da prevenção 
especial, de internamento, direcionada a um conjunto específico de pessoas – os criminosos 
–, as quais representam, por assim dizer, um fenômeno de regressão da espécie humana, um 
atavismo, um indivíduo que historicamente encontra-se num estado de subdesenvolvimento 
relativo à esmagadora maioria dos homens. Portanto, é possível reconhecer o criminoso 
mediante certos traços fisionômicos detectáveis por um simples exame físico.
A estigmatização do criminoso opera-se no patamar da própria constituição biológica, indo ao 
ponto, segundo Lombroso, de que o homem nasce criminoso, sendo ineficaz qualquer solução 
para combater o crime, salvo aquelas que, obviamente, professassem ideias eugênicas.
A Escola Positiva Italiana, no entanto, não é uniforme ou, pelo menos, é possível detectar um 
entrecruzar de correntes de pensamento no seu seio. Vimos que o escopo da obra de Lombroso 
é procurar as origens do crime segundo uma visão antropológica. Para ele o delinquente é 
uma aberração, um fenômeno de atavismo e de regressão da espécie destrinçável nos traços 
fisionômicos. Com o passar do tempo, Lombroso redirecionará as suas teorias colocando um 
maior enfoque nas causas ambientais e sociais para explicar o crime.
Para Enrico Ferri (1856-1929), discípulo de Lombroso, o fenômeno da criminalidade 
estava concatenado com a ambiência social. O fenômeno da miséria e as condições sociais 
a ela adstritas seriam propiciadoras ao aparecimento do crime. À explicação puramente 
antropológica e biológica de Lombroso, Ferri contrapunha a dimensão social. 
Ao responsabilizar a sociedade, Ferri considerava que o criminoso não era moralmente 
culpado da sua conduta, dado que atribuía às condições de vida a razão de ser 
do comportamento delituoso. O último discípulo de Lombroso foi Raffaelle Garófalo 
(1852-1934). Este representante da Escola Positiva Italiana tendia a valorizar o ponto de vista 
psicológico na abordagem às causas do crime. Garófalo tentou encontrar um conceito de 
crime que fosse além da diversidade histórica e geográfica dos diferentes sistemas penais em 
vigor nos vários estados. Pretendia encontrar aquilo a que chamava de delito natural, dizendo 
que o crime é um ato que viola os sentimentos geralmente considerados na comunidade, 
sentimentos que seriam a piedade e o sentido de propriedade. Acreditava também que as 
pessoas tinham como certos e universais estes valores altruístas e só por razão de ordem 
psíquica seria possível explicar a sua ausência.
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O comportamento criminoso 
encontrava assim explicação graças 
à combinação de fatores ambientais, 
circunstanciais e orgânicos, 
pois estes estariam na base da 
deficiênciamoral atribuída ao 
criminoso.
A Escola Positiva Italiana deixou uma assinalável herança. A ideologia do tratamento ou da 
correção do criminoso; a tentativa de explicar etiologicamente o crime centrada na visão 
antropológica, psíquica e social. Este é o legado que, invariavelmente, está presente em muitas 
das teorias recentes da Criminologia. Tanto é que trabalhos publicados atualmente vão ainda 
beber diretamente nas premissas positivistas, designadamente as teorias biológicas dos quais 
se destacam os estudos de Richard Dugdale, sobre a influência da hereditariedade no crime, e 
as concepções de Goddar (1914), nas quais o crime resulta de uma inteligência inferior.
São ainda devedoras do positivismo as teorias acerca do perfil físico do criminoso propostas 
por William Sheldom (1949), as quais procuram caracterizar a personalidade do indivíduo de 
acordo com o tipo somático, sustentando que o criminoso é frequentemente alguém que possui 
um perfil mesomórfico. Esta abordagem, que relaciona o aspecto somático e o temperamento, 
encontra em Juan Cortés e Florence Gatti (1972) os continuadores mais recentes na forma de 
explicar a criminalidade. Os aspectos hereditários associados ao comportamento criminoso 
mereceram igualmente a atenção da parte dos investigadores.
Destacamos a pesquisa com gêmeos, nas quais se tenta estabelecer o impacto que a 
hereditariedade terá no comportamento criminoso, ficando, todavia, sem responder qual a 
influência do meio sobre a estruturação da personalidade.
1.2.1. A origem da tese do criminoso nato de Lombroso
Ao fazer a necropsia do bandido calabrês Vilela, Lombroso identificou nele a existência de 
uma fosseta média da crista occipital, que até então se sabia existir apenas em raças antigas e 
em algumas espécies de animais. Foi o bastante para Lombroso associar o delinquente à figura 
do homem primitivo, parecido fisicamente com um macaco.
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No Brasil, podemos destacar a figura do mestre Hilário Veiga de Carvalho como sendo o 
primeiro que se dedicou ao tema da classificação de criminosos (1950). Segundo Hilário, 
para falar em classificação de homens, é preciso conhecê-los bem e, para conhecê-los, é 
preciso examiná-los da forma mais completa quanto possível. Hoje não se pode entender o 
julgamento de um criminoso sem que se o tenha estudado antes detalhadamente (inclusive e 
principalmente psicologicamente).
Hilário Veiga vai mais além ao afirmar que nunca o homem pode conhecer outro homem 
100%, nem mesmo com as melhores técnicas científicas, pois a mente humana sempre tem 
espaços indecifráveis. Não obstante, muito se pode conhecer do homem infrator através da 
análise de sua mente, às vezes coisas que nem mesmo o infrator conhecia a seu respeito. 
Algumas teses da Psicologia podem nos ajudar a entender melhor esse ponto de vista:
Os quatro “eus” da Psicologia
Segundo uma corrente de doutrinadores 
da Psicologia, esta ciência teria, 
dentre muitas outras, a chamada teoria 
dos quatro “eus”, ou seja, toda pessoa 
possuiria dentro de si quatro seres 
diferentes:
1°) o “eu” aberto: eu sei como sou e 
todos sabem, porque percebem isso em 
mim;
2°) o “eu” oculto: eu sei como sou, 
mas os outros não sabem, não conseguem 
perceber; 
3°) o “eu” cego: eu não sei como sou, 
mas os outros sabem, pois eles me veem 
bem;
4°) o “eu” desconhecido: nem eu sei nem 
ninguém sabe como sou.
IMPORTANTE
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Assim, o exame criminológico visa conhecer ao máximo o infrator por meio da exploração 
desses “quatro eus” para que assim se possa compreender melhor as razões da prática do 
delito, aplicar àquele a sanção ou o tratamento adequado e, ainda, prevenir a prática 
da mesma conduta por outras pessoas. Para a realização de um exame criminológico ideal, 
é preciso se utilizar de conhecimentos e técnicas de várias ciências, como a psicologia, a 
psiquiatria (medicina), a criminologia, dentre outras.
Para que, com o exame criminológico, se alcance todos os resultados positivos pretendidos, 
o ideal seria que o delinquente fosse estudado logo após a prática do delito e antes de seu 
julgamento, o que não tem ocorrido, senão com relação a alguns doentes mentais, pois o CPP 
prevê a possibilidade de se realizar exame de sanidade mental no suspeito ainda durante o IPL.
Para que possamos ter uma boa ideia da relevância deste exame, vale a seguinte comparação: 
em uma consulta médica, se o médico não avaliar bem seu paciente, não poderá receitar 
o remédio adequado à cura da doença. Do mesmo modo, se o Estado-juiz não o conhecer 
bem, jamais a pena aplicada atingirá suas finalidades de forma adequada: preventiva e 
ressocializadora.
Quando o jurista se detém muito ao fato 
(Direito Penal do fato) e se esquece do 
infrator, julgará com superficialidade, 
o que a doutrina costuma denominar de 
charlatanismo jurídico.
IMPORTANTE
Não é por outro motivo que hoje a culpabilidade tem ganhado novas nuances. De início, era a 
culpabilidade do autor (Direito Penal do autor), depois passou a ser apenas a do fato (Direito 
Penal do fato). Mais recentemente já se fala em culpabilidade do fato, mas sem desprezar a 
culpabilidade da conduta do autor. Para se aferir esta última, é preciso se conhecer bem o 
autor. Assim, o Direito Penal vai se modernizando com o apoio da Criminologia.
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1.3. Escola Interacionista ou Labelling Approach
A perspectiva do Labelling Approach vai buscar uma explicação para os fatores que influenciam 
na criminalidade a partir do estudo do aspecto social do criminoso. Segundo esta escola,
a sociedade tem grande parcela de contribuição na formatação 
do criminoso, não sendo o livre-arbítrio sozinho uma vertente 
capaz de causar o surgimento do crime e do criminoso (GONZAGA, 
2018, p. 56).
Diferente das escolas anteriormente citadas, o Modelo Interacionista foi desenvolvido mais 
recentemente, na década de 1960 nos Estados Unidos, a partir das contribuições de Erving Goffman 
e Howard Becker. A ideia defendida aqui é que a criminalidade surge a partir de um processo de 
estigmatização, e o criminoso é individualizado em decorrência do “rótulo” que recebe.
Posto de outra forma, essa teoria infere que, a partir da caracterização das formas de 
controle social informal indicam o que a sociedade define ou rotula como conduta desviante. 
Desta forma, não só o criminoso é rotulado pela sua conduta, como também distancia-se 
do agrupamento social a partir da aplicação da pena. “Nessa interação estigmatizante, o 
sujeito acaba sofrendo reação da família, de amigos, conhecidos e colegas, acarretando a 
marginalização nos diferentes meios sociais” (GONZAGA, 2018, p. 58).
Defende-se aqui a falha do Estado em prover a chamada prevenção primária do crime, 
provendo o mínimo existencial ligado à educação, saúde e outras necessidades inerentes à 
existência digna do indivíduo que, caso tenha o acesso adequado, não vai optar em enveredar 
no caminho da delinquência.
1.4. Escola de Chicago
Se a teoria interacionista citada no tópico anterior primava pelas questões sociais e pela 
atuação estatal como fortes influenciadoras da criminalidade, a Escola de Chicago, por sua 
vez, associa a delinquência com a arquitetura da cidade.
Vamos compreender melhor o surgimento dessa escola. A ideia defendida aqui partiu do estudo 
realizado por Clifford Shaw, em 1929, na cidade de Chicago. Nesse estudo, o autor realizou 
uma análise da delinquência juvenil na cidade decorrente do crescimento desordenado na cidade 
e da possível existência de áreas criminais ou guetos. Esse crescimento desordenado aliado à 
falta de recursos de prevenção primária por parte do estado e maior foco nas formas de controle 
social foram fatores que influenciaram no aumento dos índices de criminalidade da cidade. 
Segundo os estudos que enriquecem as discussões sobre essa escola, deve-se realizar uma 
análise das chamadas zonas concêntricas, que segundo Shecaira (2014, p. 167):
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Uma cidade desenvolve-se, de acordo com a ideia central dos 
principaisautores da teoria ecológica, segundo círculos 
concêntricos, por meio de um conjunto de zonas ou anéis a 
partir de uma área central. No mais central desses anéis estava 
o Loop, zona comercial com os seus grandes bancos, armazéns, 
lojas de departamento, a administração da cidade, fábricas, 
estações ferroviárias etc. A segunda zona, chamada de zona 
de transição, situa-se exatamente entre zonas residenciais 
(3ª zona) e a anterior (1ª zona), que concentra o comércio e 
a indústria. Como zona intersticial, está sujeita à invasão 
do crescimento da zona anterior e, por isso, é objeto de 
degradação constante.
Em outras palavras, podemos compreender melhor a percepção do autor a partir das seguintes 
questões: deve-se tomar por base a formação da cidade a partir de três círculos concêntricos, 
sendo o primeiro deles o centro cívico, representado pela Prefeitura, Polícia e órgãos do Poder 
Judiciário; o segundo círculo está relacionado com a moradia ou o núcleo onde se encontram 
os dormitórios daqueles indivíduos que laboram no centro cívico. Por fim, o terceiro e último 
círculo é formado pelos guetos, periferias e/ou favelas, representando o grande catalisador da 
criminalidade.
1.5. Escola Crítica
O estudo da Escola Crítica remonta a uma caracterização marxista no que concerne ao cenário 
da luta de classes, representando a máxima “de que o crime e o criminoso surgem diante da 
interação entre dois grupos bem antagônicos, quais sejam, os pobres e os ricos.” (GONZAGA, 
2018, p. 121).
Podemos retomar uma ideia parecida com a teoria do Labelling Approach sobre a ideia de 
uma sociedade que rotula determinado segmento social. No entanto, a contribuição marxista 
menciona que esse segmento social estigmatizado representa justamente a classe trabalhadora, 
alvo mais vislumbrado pelo sistema punitivo.
O Direito Penal é visto aqui como um instrumento de dominação social, principalmente, das 
classes economicamente menos favorecidas. É nessas discussões que surge a figura do crime 
do colarinho azul, em oposição ao crime do colarinho branco, que já estudamos anteriormente. 
Ao contrário do crime do colarinho branco, o crime do colarinho azul é cometido por indivíduos 
economicamente hipossuficientes, daí a nomenclatura colarinho azul estar relacionada com a 
cor do uniforme do trabalhador “chão de fábrica”.
A partir do cenário apresentado, a Escola Crítica desenvolveu a tese de que uma vez que 
a classe trabalhadora percebe a posição desfavorável na qual se encontra em relação ao 
diagnóstico da conduta criminosa e respectiva aplicação da pena, o encarceramento deixa de 
ser uma ferramenta de prevenção do crime e ressocialização do criminoso e passa a funcionar 
como causa de retaliação por parte do criminoso que, uma vez livre do encarceramento, terá 
como objetivo devolver à sociedade todo o mal sofrido no cárcere.
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Para que possamos finalizar nossos estudos acerca das principais escolas ou modelos que 
influenciaram no estudo sistematizado da conduta ilícita, é importante frisar que a doutrina 
majoritária tece uma abordagem complementar sobre algumas das escolas que acabamos 
de estudar. A esse respeito, existe uma classificação que distingue a teoria do consenso ou 
funcionalista da teoria do conflito.
A Escola de Chicago é um exemplo que representa muito bem a teoria do consenso; ela retrata 
um cenário que
denota uma convergência de vontades no mesmo sentido, de forma 
que todas elas são compostas de pessoas que pregam o mesmo 
pensamento, havendo uma interação social entre seus componentes, 
mas sem a força estatal para usar da força e impor o seu modo 
de pensar (GONZAGA, 2018, p. 126).
A teoria do conflito, por sua vez, já apresenta um cunho mais argumentativo ou uma 
caracterização argumentativa entre dominantes e dominados. Aqui, a pacificação social não 
decorre da unanimidade de vontades, mas sim, da coerção de um grupo de indivíduos sobre 
outro. A Escola Crítica apresenta uma padronização muito fidedigna a essa teoria. 
Mas, afinal, existe mesmo o criminoso nato? Durante muito tempo se perquiriu se, de fato, 
existiria o criminoso nato, conforme a teoria de Cesare Lombroso (1835-1909), antropólogo 
e médico-psiquiatra italiano, que abriu novos horizontes aos estudos sobre o criminoso e a 
pena, atentando-se à figura do homem delinquente, observando-o antes mesmo de observar o 
crime. Lombroso parte da ideia básica da existência de um criminoso nato, cujas anomalias 
constituiriam um tipo antropológico específico.
Como bem recorda Zaffaroni (2011), Cesare Lombroso, da Escola Positiva Italiana, teorizou 
uma verdadeira estética do mal, sustentando que a própria fisionomia do sujeito poderia nos 
indicar a sua tendência delitiva.
Segundo Zaffaroni (2011), o delinquente descrito por Lombroso era um ser atávico, um 
europeu que não culminava seu desenvolvimento embriofetal, ou seja, um europeu que nascia 
mal terminado e por isso se parecia a um selvagem colonizado. Não tinha moral, se parecia 
fisicamente ao índio ou ao negro, era insensível à dor, infantil e perverso etc. O estado de 
guerra hobbesianno se havia cientificado e era o dos colonizados e dos delinquentes. A esses 
delinquentes caracterizados como atávicos ou selvagens, por sugestão de Ferri, o chamou 
“delinquente nato”, expressão plagiada a um frenólogo espanhol: Cubi y Soler. 
Lombroso fora influenciado por Charles Darwin e, com base no estudo de um criminoso famoso 
de sua época, cujo crânio mostrou algumas anomalias, que eram comuns na antiguidade, 
chegou a uma conclusão em que o agressor é o elo perdido na evolução das espécies, pois, 
o macaco se torna um homem, deixando um espaço pequeno onde entra o ofensor do sexo 
masculino, este é um ser que não chegou a se desenvolver adequadamente, de modo que foi 
deixado em um estágio intermediário entre o macaco e o homem.
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A priori, Lombroso não buscava uma teoria crimino-genética, senão um critério diferencial 
entre o enfermo mental e o criminoso, mas ao deparar-se com este descobrimento, começa a 
elaborar o que denominaria Antropologia Criminal.
Em 1872, Lombroso publica um livro denominado Memória sobre os Manicômios Criminais, 
o qual diz que há necessidade de que existam manicômios para criminosos e a necessidade de 
que os loucos não estejam nas prisões senão que entrem em instituições especiais.
Para Calhau (2003) apud Bitencourt (2009), Lombroso apontava as seguintes características 
corporais do homem delinquente: 
protuberância occipital, órbitas grandes, testa fugida, arcos 
superciliares excessivos, zigomas salientes, prognatismo 
inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária 
defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, 
anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas, 
polidactia. As características anímicas, segundo o autor, são: 
insensibilidade à dor, tendência a tatuagem, cinismo, vaidade, 
crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter 
impulsivo.(BITENCOURT, 2009, p. 56.)
Conforme seu pensamento foi evoluindo, Lombroso passou a considerar novas tipologias de 
delinquentes, bem como a influência de fatores exógenos. São tipos de delinquentes: nato, 
por paixão, louco, de ocasião e o epilético.
Apesar de pretender provar suas ideias, experimentalmente Lombroso não obteve sucesso. 
No entanto, seus estudos sobre as causas biopsíquicas do crime serviram de grande influência 
para a evolução da sociologia criminal.
Segundo Molina (2002), a contribuição principal de Lombroso para a Criminologia não reside 
tanto em sua famosa tipologia, na qual destaca a categoria do delinquente nato ou em sua 
teoria criminológica, senão no método empírico que utilizou em suas investigações. Sua teoria 
do delinquente nato foi formulada com base em resultados de mais de quatrocentas autópsias 
de delinquentes e seis mil análises de delinquentes vivos; e o atavismo que, conforme o seu 
ponto de vista, caracteriza o tipo criminoso - ao que parece - contou com o estudo minuciosode vinte e cinco mil reclusos de prisões europeias.
Se, naturalmente, com a sucessiva especificação das ciências, estas ideias revelaram-se 
passíveis de complementação - especialmente pela ciência sociológica, então em franca 
ascensão - Lombroso exerceu ainda por muito tempo, após as críticas que lhe foram 
feitas, importante influência no Direito Penal do mundo, sendo dos primeiros a defender a 
implantação de medidas preventivas ao crime, tais como a educação, a iluminação pública, 
o policiamento ostensivo - além de outras tantas ideias inovadoras referentes à aplicação das 
penas. Especialmente na América Latina, encontramos até os anos 1930 seguidores da Escola 
antropológica italiana.
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Hodiernamente, o bom senso recomenda aos cientistas que o crime é uma resultante não 
só do fator pessoal, mas também do social. No fator pessoal entra a parcela de tendência 
para o mal que todos nós temos. Se esta parcela de maldade vai se desenvolver mais em uma 
pessoa do que noutra dependerá do meio em que esta viverá.
O que prevalece hoje é que todos nascem iguais, do ponto de vista da predisposição para 
o bem e o mal. Desde o nosso primeiro dia de vida, tudo o que nos acontecer vai sendo 
armazenado e somado em nossa psique, e daí poderemos tender mais para o bem ou para o 
mal. Aí devem estar inclusas as condições de vida na família (afeto, respeito, boa educação, 
boas maneiras etc.), as amizades, as escolas, as diversas experiências de vida. A soma desses 
elementos vai moldando a personalidade e, sobretudo, o caráter do homem.
Você chegou ao final da Unidade 4. Na 
próxima unidade, vamos falar sobre 
as enfermidades mais associadas às 
práticas criminais. Até lá!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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ZAFFARONI, Eugênio Raul. Manual de Derecho Penal, 2ª Ed. Buenos Aires, 2011, Ed. 
Ediar pg. 240
Supervisão Pedagógica
Ariane Nogueira Cruz
Produção de Áudio e Vídeo
José Moreira de Sousa
Pedro Henrique de Moura Mendes
Identidade Visual/ Arte
Francisco Cristiano Lopes de Sousa
Diagramação
Régis da Silva Pereira
Programação
Francisca Natasha Q. F. de Souza
Revisão 
Janaína de Mesquita Bezerra
O trabalho Criminologia - Unidade 4 de Paulo Timbó, Fernanda de Castro Cunha e Jessie Coutinho de 
Souza Tavares está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-Sem-
Derivações 4.0 Internacional.
 CRÉDITOS 
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Núcleo de Educação a Distância
Coordenação do Núcleo de Educação a Distância
Andrea Chagas Alves de Almeida
Produção de Conteúdo Didático
Paulo Timbó
Fernanda de Castro Cunha
Jessie Coutinho de Souza Tavares
Projeto Instrucional
Bruna Batista dos Santos

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