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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO III DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – HABILITAÇÃO EM LICENCIATURA ELESIANE BONATTO FLÁVIA DE FREITAS SOUZA Aprendendo a ensinar História: experiência de estágio no 7° ano do Ensino Fundamental FLORIANÓPOLIS – SC 2016 2 ELESIANE BONATTO FLÁVIA DE FREITAS SOUZA Aprendendo a ensinar História: experiência de estágio no 7° ano do Ensino Fundamental Relatório Final de Estágio realizado na disciplina Estágio Curricular Supervisionado III, do Curso de Licenciatura em História, do Centro de Ciências Humanas e da Educação - FAED, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Sob orientação das professoras Dra. Caroline Jaques Cubas e Ms. Bibiana Werle, e coorientação do professor Dr. Manoel Pereira R. Teixeira dos Santos. FLORIANÓPOLIS - SC 2016 3 Sumário Introdução ........................................................................................................................................ 4 Capítulo. 1: Para além da sala de aula: Um estudo sobre as referências prévias de estudantes acerca da mitologia grega. ............................................................................................................... 7 Capítulo. 2: A experiência do estágio docente como fundamento da formação de um professor de história ........................................................................................................................................... 16 Considerações Finais ..................................................................................................................... 25 Anexos ........................................................................................................................................... 27 Anexo A: Projeto de Estágio Curricular Supervisionado II ...................................................... 28 Anexo B: Planos de Aulas, materiais utilizados e comentários das aulas ................................. 52 4 Introdução Este trabalho é resultado das disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado II e III cursadas nos semestres 2016.1 e 2016.2, realizado na turma do 7° ano C do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) onde desenvolvemos as observações e as práticas docentes que resultaram nos artigos redigidos individualmente por cada estagiária. A experiência prática desenvolvida na referida turma em que abordamos aspectos da mitologia grega e das populações pré-colombianas, foram realizadas com a coorientação do professor Manoel P. R. Teixeira dos Santos, que ministra as aulas de história do colégio, e com a orientação das professoras Bibiana Werle e Caroline Jaques Cubas, titulares da disciplina de estágio curricular supervisionado. O resultado desta experiência culmina no presente relatório. O primeiro contato com os alunos do 7° C se deu no semestre 2016/1 a partir do Estágio Curricular Supervisionado II, onde tivemos a oportunidade de observar melhor a turma e nos familiarizar com a sala de aula. Foi necessário fazer uma investigação1 inicial, na forma de oficina, acerca do perfil dos estudantes com o intuito de compreender a realidade da turma no que diz respeito aos aspectos sociais, econômicos e culturais. Essa oficina foi realizada no momento preparatório do estágio, quando fazíamos observações na turma. Segundo informações obtidas através da atividade proposta durante a oficina, a faixa etária dos alunos do 7º C varia entre 12 e 14 anos, tendo uma grande parcela dos alunos 12 anos. A maioria nasceu em Florianópolis, e atualmente reside em bairros distintos, isso se deve ao caráter de seleção dos alunos para o ingresso no Colégio de Aplicação que ocorre por meio de um sorteio dos candidatos. A oficina tinha, entre seus objetivos, investigar os conhecimentos prévios que os alunos possuíam acerca de fontes históricas, seus interesses, hobbies, pretensões para o futuro e como percebiam o contexto político brasileiro na atualidade. Na semana de execução da oficina o cenário político apresentava-se em intensa instabilidade decorrente do processo de impeachment da então presidente Dilma. Esse fato foi abordado pelos alunos na oficina, que comentaram suas percepções na atividade. Outro fato observado na aplicação da oficina de investigação foi a constatação do pouco interesse demonstrado pela leitura, mesmo quando questionados sobre gostos literários próprios. Em contrapartida, afirmaram-se muito "conectados" com redes sociais, youtube, jogos, filmes e demais formas de interação que envolva meios digitais tecnológicos. Porém, essa tecnologia é 1 Aula oficina realizada no dia 09 de maio de 2016. 5 muito mais utilizada como fins recreativos, pois pesquisas para a escola aparecem em segundo plano. A aplicação da segunda oficina2 direcionou-se para a temática mitologia grega, sugerida pelo professor Manoel Teixeira, onde debatemos de forma inicial, conceitos como cosmogonia, suas representações e significados3. Foram entregues aos alunos trechos de mitos de criação referente a nove sociedades antigas distintas, com a finalidade de diversificar as possibilidades de interpretação. A proposta se baseava na perspectiva de Schmidt (2009), quando reflete sobre a relação do desenvolvimento do pensamento histórico nos alunos por meio da análise de documentos. Essa atividade foi bem recebida pelos alunos. Foi a partir da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III que nos tornamos, de fato, responsáveis por assumir a regência das aulas de historia. Estas ocorreram por um período de oito semanas, com três aulas semanais ocorrendo duas delas às 2ª feiras (aula faixa) e uma na quarta-feira. Como ponto inicial, utilizamos o projeto desenvolvido no semestre anterior para nos guiar nos planejamentos das aulas, cujo objetivo geral era compreender a mitologia grega e suas relações com a sociedade grega antiga. Já nas populações Pré-colombianas, tínhamos como finalidade aprofundar a percepção dos alunos sobre estas populações como sociedades culturalmente estruturadas antes da vinda dos europeus. A boa estrutura do Colégio foi fundamental para que pudéssemos preparar e organizar as aulas e os materiais elaborados para os alunos. Além de fornecer um espaço (LEHCA) para pesquisa e consulta aos livros didáticos, tivemos livre acesso a computadores e impressora que auxiliaram na preparação das aulas. O Colégio de Aplicação (CA) foi criado no ano de 1961 com o objetivo de servir como campo de estágio para a prática docente dos/as alunos/as do curso de Didática da Faculdade Catarinense de Filosofia (FCF). Na época, o colégio só contava com a 1ª série ginasial e ao longo dos anos foram implantadas as novas séries que completaram o Ensino Médio. É somente no ano de 1980 que foi acrescentado o Ensino Fundamental4, além disso, até então os/as alunos/as que frequentavam a escola eram filhos/as de professores/as e servidores/as da (UFSC) e a partir do ano de 1992 o ingresso de alunos/as se alterou para o sorteio, tornando-se aberto à comunidade. 2 Aula oficina realizada no dia 06 de junho de 2016. 3 Plano de aula da oficina II e atividade proposta estão nos anexos 3 e 4 deste trabalho, respectivamente. 4 Informações do histórico do Colégio de Aplicação (CA) http://www.ca.ufsc.br/?page_id=7. Acesso em 29 de novembro de 2016. 6 Dessa forma, a escola conta com a diversidade socioeconômica, o que possibilita o alcance de ensino de melhorqualidade para com a comunidade. Com base na experiência individual de cada estagiária, adquirida no período em que atuamos no colégio foram elaborados os dois artigos que compõem o corpo deste relatório. O primeiro artigo, de autoria de Elisiane Bonatto, relata a experiência do estágio através da análise de atividade efetuadas pelos alunos, observando a ligação entre os conteúdos prévios dos alunos e as aulas sobre a temática da mitologia grega. O segundo capítulo traz o artigo da estagiária Flávia de Freitas Souza, que empreende uma reflexão acerca da experiência docente em um campo de estágio, e se propõe a pontuar algumas impressões preliminares sobre a relação do ensino de história e as ações práticas que constituem as competências necessárias à atuação em sala de aula. A parte final deste relatório está composta pelos anexos do projeto de estágio II, juntamente com os planos de aulas desenvolvidos e as respectivas atividades realizadas para serem aplicadas em sala de aula, durante as oito semanas em que ocorreu a prática docente que se iniciou no mês de agosto e se estendeu até outubro. Durante esse período acompanhamos os alunos em atividades, tentando adequar os planejamentos empreendidos nas disciplinas, e as discussões teóricas à realidade escolar juntamente com o cronograma apresentado no projeto de estágio. O Estágio representou um grande processo de aprendizagens. Embora as tentativas de elaborar aulas inovadoras tenham sido por vezes frustradas, serviram para refletirmos sobre novas formas de planejamento e métodos mais atrativos de abordagem dos temas em sala de aula. Tal preocupação só foi possível graças aos erros cometidos, imprevistos e insucesso com os alunos. Através disso, percebemos que a docência não é um método exato e sim, uma experiência que leva em consideração muitas variáveis sobre as quais algumas o professor não pode prever, sendo a experiência a única forma de enfrentar os desafios que a profissão docente promove. 7 Capítulo. 1: Para além da sala de aula: um estudo sobre as referências prévias de estudantes acerca da mitologia grega. Elesiane Bonatto Resumo: O presente artigo relata experiências decorrentes das disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado que possui como objetivo inserir os alunos de História na prática docente, ao longo do ano de 2016 em uma turma de alunos do 7º ano C do Colégio de Aplicação da UFSC. Através das produções em desenho dos alunos com ênfase na temática da mitologia grega, foi possível traçar paralelos entre o conhecimento prévio desses estudantes e o conteúdo abordado em sala de aula. Palavras-Chave: Docência; Ensino de História; referências prévias. Sobre o Ensinar O que consumimos visualmente através da internet, cinema, literatura e televisão, em muitos casos, altera a forma como percebemos algumas informações, dissipando-se ligeiramente a linha tênue entre a “realidade e a ficção”. Essas aglomerações são muito perceptíveis no campo da história e tornam-se evidentes no ato de ensinar, onde associações pré-estabelecidas entre o cotidiano particular do aluno e o saber escolar se encontram. Esse artigo tem como objetivo analisar por meio das atividades e debates realizados por alunos nas aulas de estágio curricular em ensino de História, durante o ano de 2016, a existência resquícios de releituras do presente ao longo do aprendizado. Essa relação é perceptível na análise de atividades realizadas por alunos do sétimo ano do ensino fundamental através da temática da mitologia grega. Onde é possível observar relações claras entre associações com o conteúdo ministrado e a vivência específica de cada aluno, tanto com o tema como de suas experiências cotidianas. A prática do estágio mostra-se um desafio quando é proposta. A responsabilidade sobre o ensinar revela-se, em muitas ocasiões, complexa em meio aos desafios que a sala de aula apresenta. Permeada por disputas políticas e ideológicas, sobre e como o saber deve ser exposto aos estudantes, as aulas de história tornam se um local de debates, não somente de qual conteúdo histórico o aluno deve ter contato, mas sobre a forma como a história deve se relacionar com o cotidiano do aluno. O ensinar exige essa aproximação e o despertar do aluno em relação ao conteúdo exposto nas aulas, pois apenas o conhecimento não é suficiente para o aprendizado: (...) o domínio dos conhecimentos históricos a ensinar pelo professor não é condição suficiente para garantir a aprendizagem dos alunos, embora dele não se possa prescindir, absolutamente. Se é correto afirmar que ninguém ensina, qualificadamente, um 8 conteúdo cujos fundamentos e relações desconhece, também é possível supor que a aprendizagem poderá ficar menos qualificada, se o professor desconsiderar os pressupostos e os mecanismos com que os alunos contam para aprender e os contextos sociais em que estas aprendizagens se inserem.(CAIMI, 2006, p. 21) Mais do que despertar o interesse pela disciplina e transmitir informações, cabe ao professor sensibilizar a consciência história dos alunos. Segundo Rüsen (2007, p. 104), “a consciência histórica é constituição de sentido sobre a experiência do tempo, no modo de uma memória que vai além dos limites de sua própria vida prática”. Sendo necessária uma ligação entre o “sujeito” e o passado, uma conexão e interpretação entre as experiências próprias e as já vividas. Absorvendo o conhecimento histórico na própria construção da identidade, buscando entender o sentido e as escolhas que transformam o meio em que vivemos e a nossa própria percepção. Essa ligação ocorre com o aprendizado, sendo responsabilidade do professor realizar o encontro entre o histórico e o individual, aproximando o conhecimento histórico do cotidiano do aluno através das formas de ensinar. O desafio de ensinar tornou-se mais complexo com o uso difundido da internet, que apresenta de forma rápida diversos tipos de informação, contudo de forma isolada e sem questionamentos. A internet oferece um aglomerado de informações, contudo não aprofunda o conhecimento sobre o tema, pois não gera reflexão, apenas apresenta uma temática, normalmente, de forma simplista. A construção do conhecimento, por sua vez, necessita de uma base mais aprofundada, promovendo questionamentos e a interação entre diversas temáticas, que possibilitando o entendimento do processo e a formação da própria opinião a partir desse processo. Nesse sentido, é necessário fugir das formas “tradicionais” de ensino, buscando despertar o interesse do aluno, juntamente com a utilização dessas informações prévias e através das aproximações entre o passado e o presente. Para Lee (2006), o passado apresenta-se para o aluno de forma muito distante, imutável e repleto de outros pré-conceitos sobre o conhecimento histórico que é formado pela falta de questionamento sobre como esse saber é construído. Schmidt (2009, p. 38) irá colaborar com esse pensamento: Hoje, vive-se o processo de transição de uma sociedade da informação para uma sociedade do conhecimento, na qual, além da função de socializar o saber elaborado, a escola enfrenta o desafio de oferecer aos alunos os instrumentos necessários à compreensão das formas pelas quais o conhecimento cientifico é produzido, para que eles possam elaborar seus próprios argumentos e critérios de seleção e elaboração do conhecimento. Como a autora destaca, a internet possibilita o acesso rápido as mais variadas informações possíveis, porém de forma superficial e no caso da história isso é agravado pela 9 simplicidade em que a maioria dos processos é explicada. Nessa perspectiva, a escola tem como papel aprofundar essas informações promovendo debates e estimulando a criação de um pensamento crítico pautado em argumentos e opiniões próprias baseados no conhecimento.Oliveira (2014, p. 45) realizou uma análise sobre o conteúdo dos sites que se apresentam como “históricos”, ressaltando que apesar da necessidade de uma reflexão mais atenta sobre suas narrativas, eles apresentam-se como uma forma de promover o debate em sala de aula: (...) os sites de pesquisa escolar apresentam conteúdos que pouco diferem dos publicados em enciclopédias e grandes manuais didáticos de história geral/história do Brasil de cunho “conteudista”. Aliás, muitos desses sites podem ser chamados de enciclopédias eletrônicas, visto que são grandes avolumados de textos nos quais os fatos históricos são apresentados de maneira simplificada, não mais que simplesmente informando, acrescentando‐lhe alguns nomes e datas importantes. (...). De qualquer modo, cabe refletir que de ambas as maneiras – seja com narrativas mais ou menos tradicionais – este tipo de escrita tem representado um papel importante no desenvolvimento da cultura histórica dos jovens estudantes brasileiros e também em seu próprio entendimento de história. (...) o conhecimento histórico é apresentado através de narrativas sintetizadas; as narrativas apresentadas não apresentam problematização; pelo contrário, são enunciadas como verdades; são feitas personificações para apresentar os feitos dos grandes personagens e estes são mostrados como responsáveis pelos fatos históricos. Diante do exposto, cabe a reflexão sobre qual a perspectiva de história e de ensino de história presentes nesses sites. O uso de fontes na sala de aula e atividades que promovam exercer essa capacidade de formular opiniões e argumentos se tornam fundamentais para o aprendizado. Dessa forma o professor deve ter uma postura de investigador e não mais detentor do saber: (...) o professor (...), terá de assumir-se como investigador social: aprender a interpretar o mundo conceptual dos seus alunos, não para de imediato o classificar em certo/errado, completo/incompleto, mas para que esta sua compreensão o ajude a modificar positivamente a conceptualização dos alunos (...). Nesse modelo, o aluno é efetivamente visto como um dos agentes do seu próprio conhecimentos (...). (BARCA, 2004, p. 133) Schmidt e Cainelli (2004, p.53) defendem a opinião de que professores e alunos devem recorrer às fontes documentais, preferencialmente partindo do seu cotidiano. “Partir do cotidiano dos alunos e do professor significa trabalhar conteúdos que dizem respeito à sua vida pública e privada, individual e coletiva”. Ainda segundo as autoras, o método utilizado em sala de aula também deve considerar que as ideias históricas dos alunos são marcadas pelas suas experiências de vida e pelos meios de comunicação. As ideias históricas são conhecimentos que estão em processo de constante transformação. O professor, ao considerar estas ideias, pode definir os conteúdos específicos e temas a serem trabalhados em sala de aula, bem como problematizá-los. Problematizar o conhecimento histórico “significa partir do pressuposto de que ensinar história é construir um diálogo entre o presente e o passado, e não reproduzir conhecimentos neutros e acabados sobre fatos que ocorreram em outras sociedades e outras épocas”(SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p. 52). 10 Diante disso, os alunos devem conhecer a interpretação do outro por meio da narrativa histórica dos sujeitos históricos. “As narrativas dos estudantes são constituídas pelas temporalidades e intencionalidades específicas deles, a partir do diálogo com as narrativas dos historiadores” (BARCA, 2001, p.58) Dessa forma, através das perguntas levantadas, da reflexão e construção sistematizada por parte dos professores em sala de aula podem possibilitar uma modificação nos paradigmas do ensino/aprendizagem dos alunos. Relações entre o passado e o presente As reflexões presentes nesse artigo fazem parte das experiências ocasionadas pela disciplina de Estágio Curricular Supervisando que ocorreu durante o ano de 2016, com a turma do 7 ano C do Colégio de Aplicação da UFSC. Onde efetuamos a observação e a regência da turma, nossas aulas tinham como temática a mitologia grega e as populações pré-colombianas. Esse trabalho aborda especificamente as aulas realizadas sobre a mitologia grega antiga. A sala era composta por 27 alunos, a maioria possuía 12 anos e apresentava perfis e interesses distintos com a disciplina de história. O que se apresentou como um desafio constante ao longo do estágio, pois exigia um domínio do conteúdo e do próprio ensinar, que possibilitasse optar por estratégias que abarcassem todos os alunos e seus interesses. Nosso contato prévio com os alunos no período de observação demostrou o interesse de muitos alunos em relação a mitologia, alguns possuíam referências sobre a temática compostos sobretudo de livros, filmes e jogos juvenis, como por exemplo a saga de filmes e livros de Percy Jackson e os olimpianos5, jogos da franquia God of War6 e o filme Thor (2011) produzido pela Marvel Studios. Analisando duas atividades realizadas por esses alunos do 7° ano, podemos observar de forma clara como esse conhecimento é apropriado e relacionado de formas diferentes por alunos da mesma faixa etária. Suas representações sobre essas temáticas apresentam diversos tipos de elementos que permeiam seu presente e direcionam seu olhar sobre o passado. Ambas as atividades analisadas nesse artigo possuíam como opção ser desenhadas ou escritas, mas como foi possível observar no decorrer das observações e da própria regência do estágio, os alunos possuem uma dificuldade em se expressar de forma clara e coesa através da narrativa, optando de forma maciça pelas ilustrações e textos curtos. 5 Composta por cinco livros escritos entre 2005 à 2009 pelo estadunidense Rick Riordan, que retrata a mitologia grega no século XXI. 6 Os jogos retratam as aventuras de Kratos um semideus espartano em busca da vingança sobre os deuses do Monte Olimpo. 11 A primeira atividade analisada diz respeito à criação de um deus ou deusa, podendo ser relacionado com elementos do presente ou do período grego. Contudo deveriam possuir um atributo específico (poder) que deveria ser justificado seguindo a lógica da mitologia grega, que já havia sido debatida em sala de aula. Optei por selecionar três imagens. Figura 1 – Atividade realizada pelos alunos Fonte: Produção do próprio autor, 2016. Figura 2– Atividade realizada pelos alunos Figura 3– Atividade realizada pelos alunos Fonte: Produção do próprio autor, 2016. A figura 1, representa um guerreiro denominado pelo aluno como “Deus Arqueiro”, sendo seus poderes ser “bom de cerco, flecha e espada”. Sua fisionomia e descrição de poderes, aparentemente faz menção aos soldados espartanos e sua dedicação à arte da guerra, entretanto 12 também é possível observar elementos de RPG (Role-Playing Game)7 nessa caracterização. Segundo Santos e Dal-Farra, “as narrativas utilizadas no RPG caracterizam-se, frequentemente, por cenários dominados pela fantasia e por personagens dotados de capacidades incomuns de lidar com a matéria e as suas propriedades” (2013, p. 33). Sua fisionomia e vestimentas também parecem fazer referências a elementos de jogos. Elementos de tecnologia estão presente na figura 2 e 3, contudo de forma distinta. Enquanto na primeira se faz analogias com o “Deus do Hack”, com seu poder de “hackear qualquer sistema”. O segundo desenho (figura 3) diz respeito ao, no período recém laçado, jogo de celular “Pokémon go” e um dos seus personagens mais icônicos o Pikachu. A segunda atividade foi referente a ornamentação de um vaso, onde cada aluno deveria ornamentá-lo com uma representação de algum elemento da cultura grega que tivesse chamado sua atenção ao longo das aulas. Essa atividade tinha como finalidade poder observar comoos alunos se envolveram com o tema e as relações entre o conteúdo ministrado e o aprendizado do aluno. Figura 4 – Atividade realizada pelos alunos Fonte: Produção do próprio autor, 2016. 7 O RPG é caracterizado por ser um jogo de interpretação muito comum, onde o jogador interpreta um personagem em um mundo fictício. Normalmente, esse personagem é um herói. 13 Figura 5 – Atividade realizada pelos alunos Figura 6– Atividade realizada pelos alunos Fonte: Produção do próprio autor, 2016. Uma representação bastante recorrente nessa atividade foi os jogos olímpicos, tanto centrado na figura do herói/vencedor grega (figura 4) representado pela coroa de louros. Assim como uma abordagem que pode ser percebida como crítica (figura 6), já que os jogos paralímpicos são iniciados posteriormente em 1948 com o nome de jogos de Stoke Mandeville, em decorrência do pós-guerra com os inúmeros soldados feridos e mutilados (CARDOSO; GAYA 2014, p. 133-135). A figura 5 é emblemática pois foi criada por uma aluna que, nos debates em sala de aula, apresentou uma inquietação muito constante sobre o papel da mulher na sociedade e mitologia grega, mas especificamente sobre sua submissão e sua invisibilidade. Esse olhar crítico está presente na imagem que é revertida em uma mulher forte, distanciando do padrão estético de uma mulher frágil e submissa ao marido. O resultado dessas atividades foi esclarecedor para percebemos de forma mais clara, os referencias que os alunos possuíam e as ligações que estavam sendo efetuadas com as aulas, além de mostrar de forma clara a individualidade de cada aluno. Um fator que se destaca nessas figuras são as relações nítidas que cada desenho possui com a personalidade e interesses dos seus criadores. Esses interesses já podiam ser observados nos debates e questões expostas por esses alunos ao longo das aulas. Além da influência de jogos, filmes e demais recursos que fazem parte do cotidiano desses jovens. 14 Propostas como essas, que denotam mais autonomia, onde o aluno pode se expressar de forma mais livre e criativa são fundamentais para um conhecimento mais profundo dos alunos em sua individualidade, demonstrando suas dificuldades e interesses. Em situações como a do estágio, onde os estagiários não possuem muito tempo para acompanhar os processos de aprendizagens dos estudantes e/ou criar estratégias para promover uma mobilidade mais dinâmica das aulas, elementos de observação como estes são vitais para uma percepção mais profunda tanto do que está sendo ensinado como da forma como está sendo compreendido. Conclusão As imagens utilizadas nesse artigo exemplificam formas de perceber como esse contato com a compreensão histórica é realizado pelos alunos levando em conta suas percepções prévias, adquiridas e relacionadas das mais diferentes formas, desde as inquietações próprias como o papel da mulher, cenários de jogos até eventos e questões debatias atualmente nos jornais. Em alguns casos, essas relações aparecem de uma forma indireta, ainda pautada nesses referenciais básicos e cabe ao professor dar sentido histórico para esses elementos encontrados em outras mídias, traçando paralelos entre o que os alunos já conhecem e a construção do conhecimento histórico. Ressaltando que “(...) o indivíduo é de certa maneira, ‘produto da história’ como resultante das ações acumuladas, em seu tempo e em seu espaço, no legado empírico da história (MARTIS 2011, p. 46). Nessa perspectiva, o ato de aprender deve ser uma construção que nunca parte do vazio, mas um processo que possui diferentes etapas nas quais os referenciais dos alunos devem ser levados em conta, estimulando sua ampliação e reformulação através do conhecimento. Segundo Caimi (2006, p. 24): “Levar em conta o universo da criança ou do adolescente não é, pois, abdicar do rigor intelectual ou do valor do conhecimento histórico, mas garantir que a apropriação deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significação, resultando em sólidas aprendizagens”. Muito mais do que estimular o aluno no conteúdo ministrado, aproximar sua realidade fazendo conexões com o passado faz com que este tenha condições de realizar seu próprio raciocínio e opiniões. Referências BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras, Porto, III Série, v.2, 2001. 15 BARCA, Isabel. Para uma educação histórica de qualidade. Actas das IV Jornadas Internacionais de Educação Histórica. Braga: Universidade do Minho, 2004 CAIMI, Flávia Eloísa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensino, aprendizagem e formação de professores de História. Tempo. Revista do Departamento de História da UFF, v. 11, p. 27-42, 2006 CARDOSO, Vinicius Denardin; GAYA, Adroaldo Cesar. A Classificação funcional no Esporte Paralímpico. Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 12, n. 2, p. 132-146, abr./jun. 2014. DOS SANTOS, Renato P.; DAL-FARRA, Rossano André. A Saga da Física: Um RPG como estratégia didática no ensino e aprendizagem de História da Física. IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – IX ENPEC. Águas de Lindóia, SP – 10 a 14 de Novembro de 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Renato_Dos_Santos3/publication/258541318_A_Saga_da_ Fsica_Um_RPG_como_estratgia_didtica_no_ensino_e_aprendizagem_de_Histria_da_Fsica/link s/0deec52938280d542d000000.pdf Acessado em 06 de novembro de 2016. LEE, Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. Revista Educar, Curitiba, Especial, pp.131-150. Ed. UFPR, 2006 . MARTINS, Estevaõ C. Rezende. História: consciência, pensamento, cultura, ensino. Educar, Curitiba, n 42. p.43-58, 2011 OLIVEIRA, Nucia Alexandra Silva de. História e Internet: conexões possíveis. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 6, n. 12, p. 23 ‐ 53, mai./ago. 2014. RÜSEN, Jörn. História Viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Editora UNB, 2007. SCHMIDT, M. A. M. S. ; CAINELLI, M. R. . Ensinar História. 2a. ed. São Paulo: Scipione, 2010. v. 01, p. 197 SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Cognição Histórica situada: que aprendizagem histórica é esta? In: BARCA, Isabel & SCHMIDT, Maria Auxiliadora (Org.) Aprender História: Perspectivas da educação histórica. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. 16 Capítulo. 2: A experiência do estágio docente como fundamento da formação de um professor de história Flávia de Freitas Souza Resumo: Este artigo resulta de reflexões acerca da experiência docente em um campo de estágio, e se propõe a pontuar algumas impressões preliminares sobre a relação do ensino de história e as ações práticas que constituem as competências necessárias à atuação em sala de aula. Neste texto, pretende-se discorrer sobre os percursos do estágio, sobre as dificuldades percebidas, o processo de aprendizado e os resultados alcançados a partir da articulação, orientada, que envolveu teoria, planejamento, método e aplicação prática de conteúdos, previamente definidos com as orientadoras do estágio, Profa. Ms. Bibiana Werle e Profa. Dra. Caroline Jaques Cubas, e o coorientador, Prof. Manoel Teixeira, professor titular da turma do 7o ano C, do Colégio de Aplicação da UFSC. Palavras-Chave: Estágio; construção do saber docente; espaço escolar. Introdução Nas fases que envolveram a preparação para a abordagem prática na turma do 7o ano do Colégio de Aplicação da UFSC, minha preocupação centrou-se, especificamente, em entender o processo metodológico para a aplicação dos conteúdos planejados e, como descrito no projeto, em desenvolver mecanismos para avaliar a apreensão do conhecimento por parte dosalunos, a fim de acompanhar seu desenvolvimento. Durante esse processo, além da apreensão teórica, o conteúdo a ser aplicado era o maior motivo de atenção. As formas de abordá-lo e comunicá-lo aos alunos parecia ser uma dificuldade menor, algo fácil de ser contornado, desde que tivesse “domínio” dos temas. Embora orientadas a observar a escola numa perspectiva da sua organicidade, alguns aspectos fundamentais ficavam na abstração e só vieram a ser melhor compreendidos na convivência cotidiana do ambiente escolar. Entre estes aspectos, a necessidade de se criar canais de comunicação interativos e envolventes para que os alunos pudessem participar de forma efetiva do processo de recepção e apreensão do conhecimento, era entre muitos, o maior desafio. O referencial teórico utilizado para pensar os pressupostos do ensino de história foram de especial importância para o desenvolvimento das competências básicas que a prática docente exige, no entanto, foi a vivência no ambiente escolar que permitiu a apreensão de um cenário muito mais amplo, que levou à compreensão de que ensinar não se resume a uma ação dentro da sala de aula. Daquilo que foi possível apreender, a didática para o ensino de história é um entre muitos domínios que o futuro professor deverá atingir nessa trajetória de experimentação e aprendizado, que se configura por um processo que demanda tempo de convívio dentro desse 17 espaço de relações que é a escola, trocas de experiências e construção de confiança. Nesse sentido, o tempo passa a ser um elemento fundamental para o nosso amadurecimento enquanto “sujeitos de experiência”. Sem o devido tempo para consolidarmos as relações com os alunos e com o espaço escolar, parece difícil fazer com que um simples planejamento tenha o sucesso que esperamos que ele tenha, principalmente nas poucas semanas que temos para perceber a escola e nos perceber nela. Seguindo os pressupostos de LARROSA (2001, p. 24-25), [...] o sujeito de experiência é sobretudo um espaço onde tem lugar os acontecimentos. [...] por isso, é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “ex-põe”. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre. Nesse processo de colocar em prática a atividade docente, o que fora planejado inicialmente – aplicar um método de ensino de História para um grupo de alunos do ensino fundamental I – se configurou para além disso, revelando um espectro de elementos que constituem o universo escolar e concebem a lógica de seu funcionamento, colocando em evidência os atores que a integram e a configuram de formas muitos particulares. Este texto buscará discutir como a percepção de alguns desses elementos produziram efeitos na minha forma de conceber o espaço escolar, cujo sentido, parece ser melhor traduzido nos termos de LARROSA (2001, p.24), como sendo “[...] o espaço do acontecer, onde o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura”. Experimentando o universo escolar Sendo este um relato de experiência, parece relevante iniciá-lo descrevendo como a prática, desenvolvida na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III, foi fundamental para a criação de um panorama que ajudou a definir o universo que constitui a escola, a lógica que estrutura e organiza esse espaço, os atores e as múltiplas relações que lhe concebem “vida” e movimento. Esse talvez tenha sido o maior desafio, compreender a escola de uma forma orgânica, explorar os espaços para além da sala de aula, entender qual o significado da escola para os alunos e a forma como eles se colocam nesse ambiente. Refletindo sobre nosso desempenho, acredito que poderíamos ter explorado melhor alguns desses elementos compartilhando algumas experiências com os nossos alunos, como por exemplo, pedindo-os para nos mostrar a sua escola e falar sobre ela a fim de entendermos a 18 relação de cada um com aquele espaço. Para Gauthier (2006, p. 31) , o professor deve conhecer profundamente a instituição em que atua e desenvolver, no processo de formação docente, representações acerca da escola, dos alunos e dos processos de ensino-aprendizagem. Essas representações são construídas, segundo argumentação do autor, antes mesmo do ingresso do professor na carreira, e se consolida na forma como ele interage, socializa e se constrói profissionalmente no espaço que pretende ocupar. Essa percepção se constatou no período de observação, quando houve a oportunidade de acompanhar uma reunião de conselho de classe e verificar como os professores interagem, trocam percepções acerca do desenvolvimento dos alunos e discutem as dificuldades enfrentadas no cotidiano – e estas não são poucas, mesmo pra quem já tem anos de prática docente. Chamou bastante atenção a forma como o debate é encaminhado. Inicia-se com uma roda de conversa que conta com a participação de um grupo de alunos, que vem representando a turma e trazem consigo considerações a serem debatidas com seus professores. Nesse momento é o coletivo que se expressa. Numa segunda etapa, da qual participam apenas os professores e a equipe de apoio docente, passa-se a discutir o desempenho individual dos alunos, e nesse momento, a diversidade presente no grupo passa a ser considerada. Os professores e a escola conhecem seus alunos e conseguem relacionar seu desempenho escolar com sua vivência fora da escola. Essa percepção parece fundamental, mas evidentemente demanda tempo de convivência e muita observação. Como estagiárias, tentamos criar um mecanismo de investigação e aproximação por meio da elaboração de uma oficina onde uma dinâmica foi pensada com a finalidade de conhecermos o universo social dos alunos e promover a primeira interação com a turma. Esta ação não tinha a pretensão de coletar informações efetivas das competências e dificuldades de cada aluno, mas evidenciar seus interesses e as formas como se relacionam com o tempo, categoria fundamental para o ensino de história e que no caso em questão, tinha que ser abordado com cuidado pois estávamos lidando com uma faixa etária que ainda está construindo esse tipo de percepção. Como um primeiro contato, esta dinâmica8 se mostrou uma boa estratégia de aproximação, e foi com base nas informações obtidas nessa oficina que conseguimos perceber como lidar com o tempo histórico em sala de aula, uma das maiores preocupações que se colocavam, haja vista que estávamos encarregados de trabalhar com períodos que remontam a antiguidade clássica e as populações da América antes da chegada dos europeus. 8 Em nosso grupo trabalhamos com uma cápsula do tempo para tentar entender como nossos alunos percebiam o presente e quais eram sua expectativas para o futuro, que no caso eram dez anos à frente, mas que para ele parecia ser muito tempo, ou seja, quase o dobro de suas vidas. 19 Optamos portanto, por incorporar os pressupostos teóricos de SIMAN (2005) quando esta articula as possibilidades e as dificuldades dos alunos de pensar historicamente fazendo uso de cronologias. Dessa forma, embora nosso planejamento envolvesse trabalhar com sociedades da antiguidade, decidimos não utilizar os critérios lineares de tempo para as nossas abordagens e sim, relacionar os processos históricos a serem abordados com outros com os quais os alunos já tivessem tido contato. Nesse sentido, o material didático foi de grande valia para concebermos alguns temas que possivelmente já haviam sido trabalhados no semestre e em anos anteriores. Foi surpreendente perceber que os alunos guardam uma lembrança muito superficial do que estudaramem anos anteriores. Essa constatação levou-nos a refletir sobre a fragilidade da relação do aluno com o objeto do conhecimento, que parece só ter sentido na medida em que o utilizam para responder as avaliações, sem a preocupação de uma apreensão consistente para além desse cenário.9 Construindo percepções acerca dos saberes docentes Ao assumirmos a regência da turma, no segundo semestre de 2016.2, outras percepções foram sendo construídas, ainda que timidamente. Na ânsia de nos situarmos naquele espaço, que não era uma zona confortável, sentia que tendíamos a nos distanciar da proposta metodológica do estágio que envolvia pensar uma ação docente que integrasse o ensino de história com o desenvolvimento de uma atitude crítica dos alunos diante das reflexões propostas e debatidas. Ao final de cada aula, prevalecia o sentimento de que estávamos sempre aquém de atingir os resultados propostos nos planos de aula. Essa insegurança acabava por nos colocar numa situação de buscar afirmação e apoio nos alunos que interagiam e participavam da aula, o que pode ter nos levado a estimular pouco a participação daqueles alunos que não se envolviam no debates, apenas realizavam as atividades que lhes eram solicitadas, podendo, por um motivo ou não assimilar o objetivo da aula. Na minha concepção o fato de estarmos inseridas naquele ambiente, cumprindo um requisito obrigatório para a nossa formação acabou por mecanizar o nosso comportamento. O aluno, a quem deveríamos direcionar nossa atenção, passara para um segundo plano, na medida em que tentávamos superar deficiências que, em certa medida, nessa fase da aprendizagem estão 9 Cito como exemplo o fato dos alunos terem apresentado dificuldades em responder uma pergunta básica a partir da qual pensávamos em problematizar o termo “descobrimento da América”. A pergunta era: “quem descobriu a América?”, e eles não se lembraram. Arrumar formatação do rodapé: espaçamento simples entre linhas. 20 fora do nosso controle. Portanto, o que poderia ter sido uma experiência muito mais agregadora para nós e para os alunos acabou por tornar-se, naquele momento, um “fardo”. De qualquer forma, ao final do estágio, quando as ideias se acomodaram, a pressão diminuiu e as frustrações deixaram de influenciar ou turvar os nossos sentidos, as reflexões nos mostraram que não há como ser diferente, estávamos inseridas em um processo que tem seus requisitos e etapas a serem percorridas. O que nos conforta é chegar ao final do estágio e perceber que sempre haverá novas oportunidades de fazermos melhor e diferente, e que essa experiência serviu para nos impulsionar frente aos desafios de aprender a ensinar história. Ao chamar a atenção para esse aspecto, não o considero uma consequência negativa do estágio, pelo contrário, esse deslocamento só é possível por meio do choque entre a realidade acadêmica e a prática docente. Só assim o aluno de graduação pode perceber seu papel como futuro professor e se comprometer com as responsabilidades que essa escolha exige. Essa trajetória parte de uma iniciativa individual, tornar-se um professor de História, no entanto a apreensão dos saberes docentes se constituem por uma experiência coletiva onde a questão central não é mais a formação, e sim a acumulação das competências necessárias para ser um professor de História. Um professor precisa compreender como a escola funciona, precisa entender as regras do campo e se adaptar da melhor forma a elas, obviamente sem comprometer seu compromisso ético com a disciplina e os seus pressupostos, que entre outros desafios está em atuar ativamente na formação de sujeitos integrais, cidadãos participativos, reflexivos, transformadores e felizes. Como aluna, a oportunidade de ingressar no universo escolar, elaborar um projeto docente e pensar ações nele desenvolvidas, resultou na constatação de que a aplicabilidade prática dos fundamentos teórico-metodológicos com os quais tivemos contato durante a trajetória acadêmica, fora de fundamental importância para nos amparar nesse processo de aprendizado. O que pude concluir, é que não há uma receita que nos ensine a organizar os conceitos, adaptar a linguagem, trabalhar a postura em sala, controlar o tempo e o conteúdo ou lidar com as nossas próprias expectativas e frustrações ao final de cada aula. Esse caminho é solitário, cada um deve vencê-lo buscando seus próprios meios. O ingresso nesse universo em fase de aprendizagem, ainda que como observadores, aliado às experiências metodológicas das disciplinas ligadas à prática reafirmam àqueles que ingressam na profissão a função social do professor de História. O aluno de graduação precisa interagir com a escola em todo o processo de formação, no entanto, penso que esse movimento deveria se dar nos dois sentidos. A escola também precisa conhecer a universidade, observar como se dá a formação de seus professores a fim de criar não apenas uma interação mas um 21 clima de empatia e alteridade às expectativas uns dos outros, dos professores em relação aos seus futuros alunos e vice-versa. Esse poderia ser um caminho possível para romper com a dicotomia entre a teoria e a prática, apontando, conforme discutem Pimenta e Lima (2006, p.7), “para o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade”. Para as autoras, o estágio deveria abandonar o método de observação e tentativa de reprodução de uma prática modelar e se constituir muito mais como uma pesquisa, uma investigação que congregue e valorize “[...] transformações históricas e sociais decorrentes dos processos de democratização do acesso, que trouxe para a escola novas demandas e realidades sociais, com a inclusão de alunos até então marginalizados do processo de escolarização e dos processos de transformação da sociedade, de seus valores e das características que crianças e jovens vão adquirindo” (2006. P. 8). Essa ação pode contribuir para que os estudantes adquiram esse entendimento, e tenham a oportunidade de vivenciar a dinâmica escolar e possam amadurecer, construir e consolidar o olhar crítico aos processos empíricos e analíticos que a própria profissão História exige na sua construção. O debate sobre a forma de produção e a função do conhecimento histórico parece ocorrer, de acordo com Rüsen (2009), no campo teórico e prático, em contextos que associem técnicas de pesquisa e formação profissional. Para o autor, as regras metodológicas por si não determinam o trabalho do historiador, a práxis também é determinante para a ciência histórica e um elemento intrínseco no processo científico de construção e apreensão desse conhecimento. A formatação do saber histórico, obtido pela pesquisa e sua função na vida prática dos historiadores e das historiadoras tem de ser seriamente levados em conta, em sua concepção da especialidade, como fatores originais e essenciais da matriz disciplinar da ciência histórica. (RÜSEN, 2007, p. 12). Se a profissão docente for devidamente compreendida como um conjunto sistemático e sistematizador de conhecimentos, o contato com a escola é o único caminho que possibilita a aproximação e o amadurecimento para uma abordagem adequada com resultados efetivos, nos campos de estágio. Deve-se ter em conta, conforme as reflexões de TARDIFF (2002), que a realidade da escola, bem como seu processo de construção está conectada com as expectativas dos atores que estão integrados a ela e que os saberes docentes se consolidam a partir da interação provenientes de fontes diversas e são construídos, relacionados e mobilizados pelos professores de acordo com as exigências de sua atividade profissional. Nesse sentido, o 22 estagiário entra nesse cenário despreparado, inseguro,tateando os espaços e adquirindo experiência por meio de tentativas de erro e acerto. Conclusão Em linhas gerais a experiência do estágio serviu para estabelecermos um primeiro panorama acerca dos desafios e peculiaridades que a profissão docente nos exigirá. Há que se ter consciência de que um percurso de aprendizado deve ser percorrido e este passa pela compreensão da profissão docente. Talvez a falta de objetividade na comunicação dos objetivos do processo formador nos cursos de licenciatura para campos especializados contribua para que o aluno só venha a ter a compreensão do papel que irá exercer dentro do campo escolar nas fases finais do curso, quando cumpre os requisitos obrigatórios das disciplinas de Estágio Supervisionado. Somos introduzidos num ambiente desconhecido, tendo que lidar com uma perspectiva de ensino-aprendizagem completamente diferente da que temos contato na graduação. Além de estarmos sob a avaliação dos orientadores e encaminhando-nos para a finalização do curso, o que aumentam as pressões formando um cenário com poucas possibilidades de sucesso. Teoricamente as discussões existem, mas até nossa inserção no campo prático, estas atuam de forma bastante abstrata. Uma apropriação prática, estruturada, que respeite a complexidade e as especificidades da escola, somente se definem no contato direto com as suas próprias demandas. Nesse sentido, a proposta de Rusen (2007, pp. 85-134. ), de que a didática da educação em história deve sempre preceder a metodologia de ensino, se aplica no nosso processo formativo. Para o autor “primeiro deve-se estar atento aos objetivos e formas de ensinar história dentro de um contexto político, social, cultural e institucional para em seguida se estabelecer os meios práticos para alcançar esses objetivos”. Esse entendimento de que a didática da história sistematiza o saber especializado e o saber docente, explica algumas dificuldades encontradas na transposição do conhecimento nas formas de comunicar esse conhecimento à turma trabalhada neste processo, na medida em que a junção dessas duas competências, ainda na fase do estágio, estão em processo de experimentação e maturação. Rusen destaca, portanto, que: Todo professor tem de conciliar pelo menos duas vocações em seu coração: a da especialização, que adquire (não com pouco esforço) durante seus estudos, e a de ensinar, a pedagógica, sem a qual, pode-se supor, não conseguirá ter sucesso no ensino de sua especialidade, (Rusen, 2007, p. 90). 23 O Estágio Supervisionado se constituiu, portanto, como uma ferramenta prática para que o aluno em formação adquira esse entendimento, o de que ele precisa lidar com a dicotomia entre os saberes da formação profissional e aqueles necessário à prática docente, entre eles, os saberes disciplinares, os saberes curriculares e os saberes experienciais (Tardif, 2002, p.38). Essa constatação, evidencia-se no campo do estágio na medida em que buscamos criar nexos entre o conhecimento científico com o qual tomamos contato na graduação e os demais saberes relacionados. Pensando a partir da prática no campo do estágio, talvez o saber experiencial seja o que mais nos faz falta, na medida em que podem ajudar o professor a lidar com os fatores imprevistos que possam se apresentar no exercício cotidiano de sua função. Os professores vivem situações concretas a partir das quais se faz necessária certa habilidade, capacidade de interpretação e improvisação, assim como segurança para decidir qual a melhor estratégia diante de um evento inesperado. Cada situação é única, mas podem guardar certas proximidades que permitem ao professor transformá-las em alternativas para a solução de episódios semelhantes. Dessa forma, concluo que a atividade pedagógica se constrói dentro de um cenário diverso e complexo, onde os agentes que dela participam se apresentam de formas diversas, tanto em relação a valores, crenças e interesses quanto em relação às suas condições de acesso, de renda, de conectividade, de expectativas e de oportunidades. Essa experiência, portanto, me propiciou boas reflexões a respeito do que seria afinal a atividade de ensinar. Certamente não é apenas um método de comunicar um conteúdo, e sim um compromisso ético de transformação, de construção indenitária e de estruturação das formas como os agentes envolvidos nessa atividade se relacionam com o mundo e percebem os eventos que fazem parte da sua história, MARTINS (2011, p. 47 - 48). Referências: GAUTHIER, Clermont. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Editora Unijuí, 2006 LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Conferência proferida no I Seminário Internacional de Educação de Campinas, traduzida e publicada, em julho de 2001, por Leituras SME; Textos-subsídios ao trabalho pedagógico das unidades da Rede Municipal de Educação de Campinas/FUMEC. MARTINS, Estevaõ C. Rezende. História: consciência, pensamento, cultura, ensino. Educar, 24 Curitiba, n 42. p.43-58, 2011. Disponível em http://www.redalyc.org/pdf/1550/155022262004.pdf, acessado em 05/12/2016. PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. Revista Poíesis -Volume 3, Números 3 e 4, pp.5-24, 2006. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/poiesis/article/view/10542 acessado em 05/12/2016. RÜSEN, Jörn. História Viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UnB, 2007. SIMAN, Lana Mara de Castro. A temporalidade histórica como categoria central do pensamento histórico: desafios para o ensino e a aprendizagem. In: De ROSSI, Vera L. S.; ZAMBONI, Ernesta (orgs.). Quanto tempo o tempo tem! 2. ed. Campinas: Ed. Alínea, 2005, p. 109-143. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 4a Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. 25 Considerações Finais A atividade docente se apresentou como um desafio pois percebemos ao longo da prática que por mais que tivéssemos apropriação teórica acerca das práticas de ensino, não tínhamos a experiência necessária para conduzir aulas com o formato dinâmico e interativo que a sala de aula exige. Especialmente quando se trata de um processo de construção de saber que exige interação e estímulo em relação ao conteúdo que por vezes é distante da realidade temporal e social dos alunos. Ao nos preparamos para a execução das aulas planejadas em cada semana, tínhamos como foco principal o conteúdo a ser transmitido, por vezes negligenciando a importância da didática. Esta foi uma das maiores dificuldades percebidas ao longo do estágio, tendo em vista que trabalhávamos com alunos com uma faixa-etária média de doze anos que facilmente se dispersava e desinteressava diante de um tema mais denso. Por mais que tentássemos diversificar a dinâmica das aulas, fomos percebendo que nos mantínhamos presas a um método que não se mostrava eficaz e era bem pouco atrativo para os alunos. A frustração era inevitável, pois nos sentíamos responsáveis pela estruturação de um conhecimento obrigatório no currículo da disciplina pelo qual nos sentíamos responsáveis, não apenas para cumprir uma disciplina obrigatória da nossa formação, mas principalmente pela responsabilidade que nos tinha sido confiada pelo professor da turma e orientadoras do estágio. A partir do encerramento do período de regência, tivemos a oportunidade de refletir sobre nossas práticas e desempenhos, avaliando com mais clareza os pontos fortes e fracos da nossa atuação. Sobre os pontos fortes vale a pena mencionar a nossa dedicação, o comprometimento com a elaboração das aulas e com a escolha dos conteúdos e das atividades. Elaboração que nos exigia muita pesquisa, escolha de bons autores e materiais didáticos,informações confiáveis e um aprofundamento no estudo dos temas a fim de lidar com segurança com as possíveis dúvidas que pudessem surgir durante as aulas. Sem dúvida mais do que termos ensinado algo, foi uma intensa aprendizagem todo o tempo: como se portar, como falar com a turma, como planejar as aulas, como aplicar a teoria lida às aulas dadas, como se “conectar” com os alunos de modo a nos fazermos ouvidos por eles, entre tantas outras dificuldades que foram aprimoradas no decorrer principalmente do último semestre e, em alguns casos, até mesmo sanadas. Como estagiárias por diversas vezes nos encontramos em posições conflituosas: ainda não obtínhamos o respeito da turma e a experiência de um professor com mais prática, também não conseguíamos nos perceber no papel de professoras já que não conseguíamos nos descolar da posição de alunos cumprindo os requisitos para sua formação. 26 Este entre lugar como estagiárias, somado ao fato de que ainda estamos no ambiente universitário, sob avaliação constante e com pouco tempo para testar novos métodos de ensino. Juntamente com o receio de sermos mal interpretados por possíveis falhas na comunicação do conteúdo nos fazia transitar por métodos mais tradicionais Nosso crescimento como professores não se mostrou sem desafios, sem decepções (principalmente quando a turma não correspondia aos nossos resultados), e muito menos concluído, mas foi sobretudo gratificante e fundamental para nosso crescimento profissional e para percebermos que esta fase foi apenas o início de uma longa trajetória de aprendizado que ainda temos a percorrer. A oportunidade para abrirmos espaço para estas reflexões, os resultados obtidos, a descoberta dos docentes até então escondidos em nós, o aprendizado para lidar com determinadas circunstâncias e a perspectiva de alguma mínima mudança de consciência foram conquistas insubstituíveis em nossa primeira prática em sala de aula, que serão levadas e aprimoradas para todas as outras que virão. 27 Anexos 28 Anexo A: Projeto de Estágio Curricular Supervisionado II UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA Elesiane Bonatto Flávia de Freitas Souza POPULAÇÕES NA ANTIGUIDADE: DESVENDANDO O SABER HISTÓRICO ENTRE ALUNOS DO SÉTIMO ANO DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFSC FLORIANÓPOLIS – SC 2016 29 ELESIANE BONATTO FLÁVIA DE FREITAS SOUZA PROJETO DE ESTÁGIO CURRILULAR SUPERVISIONADO II Projeto de Estágio apresentado na disciplina Estágio Curricular Supervisionado II, do Curso de Licenciatura em História, do Centro de Ciências Humanas e da Educação- FAED, da Universidade do Estado de Santa Catarina- UDESC. Orientadoras: Profa. Dra. Caroline Jaques Cubas e Profa. Ms. Bibiana Werle. FLORIANÓPOLIS, SC 2016 30 Sumário Introdução _____________________________________________________________ 31 Objetivos ______________________________________________________________ 33 Objetivo Geral ________________________________________________________33 Objetivos Específicos ___________________________________________________ 33 Conceitos ______________________________________________________________ 34 Metodologia ____________________________________________________________ 36 Avaliação _____________________________________________________________ 39 Cronograma das atividades _________________________________________________ 40 Projeto de pesquisa em ensino de História _____________________________________ 43 Projeto de pesquisa Flávia ______________________________________________ 43 Projeto de pesquisa Elesiane ____________________________________________ 44 Referências _____________________________________________________________ 45 Anexos _________________________________________________________________ 46 Anexo 1 – Plano de aula e atividades realizadas na oficina I _________________ 46 Anexo 2 - Atividade da Cápsula do tempo_________________________________ 47 Anexo 3 – Plano de aula e atividades da oficina II__________________________ 49 Anexo 4: Atividade dos mitos de cosmogonia ______________________________ 50 31 Introdução O presente projeto faz parte das atividades da disciplina obrigatória de Estágio Curricular Supervisionado II, da 7ª fase do curso de Gradação em História, da Universidade do Estado de Santa Catarina, com habilitação em licenciatura. Nele, estão previstas atividades que serão realizadas durante a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III, no segundo semestre de 2016. O projeto possui uma proposta de ensino e de pesquisa que será desenvolvida na turma do 7º ano C, do período vespertino, do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Estado de Santa Catarina, com a supervisão do professor Manoel P. R. Teixeira dos Santos, que ministra as aulas de história para a turma do 7 ano C, e com a orientação das professoras Bibiana Werle e Caroline Jaques Cubas, titulares da disciplina de estágio curricular supervisionado. Para desenvolvermos o projeto, foi necessário fazer uma investigação10 inicial, na forma de oficina, acerca do perfil dos estudantes com o intuito de compreender a realidade da turma no que diz respeito aos aspectos sociais, econômicos e culturais. Essa oficina foi realizada no momento preparatório do estágio, quando fazíamos observações na turma. No dia da realização da oficina investigativa11 estavam presentes 23 dos 26 alunos. Segundo informações obtidas através da atividade proposta durante a oficina, a faixa etária dos alunos do 7º C varia entre 12 e 14 anos, tendo uma grande parcela dos alunos 12 anos. A maioria nasceu em Florianópolis, e atualmente reside em bairros distintos, isso deve-se ao caráter de seleção dos alunos para o ingresso no Colégio de Aplicação que ocorre por meio de um sorteio dos candidatos. A oficina tinha, entre seus objetivos, a ideia de avaliar o conhecimento que os alunos possuíam acerca de fontes históricas, seus interesses, hobbies, pretensões para o futuro e como percebiam o cenário político brasileiro, em meio ao cenário de instabilidade política decorrente do processo de impeachment da presidente Dilma. Analisando as respostas dos alunos, foi possível perceber suas noções de tempo histórico, bem como a relação entre história, passado e presente. Ao explorarmos as experiências particulares de cada aluno, foi possível perceber que eles têm consciência da sua historicidade e se reconhecem nos eventos em que estão inseridos, e nesse sentido, conforme a reflexão de Martins (2011) o ensino de História tem um papel fundamental, na medida em que estrutura essas formas de se relacionar com o mundo e potencializa a formação de uma consciência 10 Aula oficina realizada no dia 09 de maio de 2016. 11 O Plano de Aula da oficina I (oficina investigativa), e da atividade proposta para a turma nesta primeira intervenção estão nos anexos 1 e 2 deste trabalho, respectivamente. 32 histórica a partir de uma construção identitária. Nesse sentido, buscamos analisar as experiências particulares e próprias de cada aluno relacionando-as com a construção do conhecimento histórico: (...) O ensino de história encontra sua missão mais destacada no estabelecimento da correlação substantiva entre a vida cotidiana do presente e o passado historicizados. O ensino deve tomar seu ponto de partida justamente nas questões que os estudantespercebem, em suas experiências atuais, não poderem ser adequadamente entendidas se não se recorrer a uma volta ao passado. Seu “lugar social” é também o lugar em que constroem suas experiências históricas (MARTINS, 2011, p.56). Os alunos demonstraram pouco interesse pela leitura, mesmo quando questionados sobre gostos literários próprios. Em contrapartida, afirmam-se muito "conectados" com redes socias, youtube, jogos, filmes e demais formas de ações que envolvam meios digitais tecnológicos. Porém, essa tecnologia é muito mais utilizada como fins recreativos, pois pesquisas para a escola aparecem em segundo plano. A aplicação da segunda oficina12, foi direcionada para a temática estabelecida, referente aos meses de nossa regência da turma, que irão ocorrer em Estágio Curricular Supervisando III no segundo semestre de 2016, abordando aspectos da mitologia grega e das populações pré- colombianas. Debatemos, de forma inicial, conceitos como cosmogonia, suas representações e significados13. Distribuímos excertos de mitos de criação de sociedades distintas para que cada aluno pudesse ter sua própria "ferramenta de investigação". Seguindo o pensamento de Schmidt (2009), buscando desenvolver o pensamento histórico nos alunos por meio da análise de documentos. Essa atividade foi bem recebida pelos alunos. Estas observações de Estágio Curricular Supervisionado II tinham como intuito nos proporcionar um melhor conhecimento a respeito da turma, compreendendo as dificuldades e exigências da mesma para elaborarmos um projeto de ensino a ser praticado no Estágio Curricular Supervisionado III, o qual deve contribuir para a aprendizagem histórica dos sujeitos alvo – os alunos. Fazer uso de fontes históricas nas oficinas foi de grande importância para verificarmos que concepção de história os alunos possuem. A utilização desse recurso, segundo Barca (2004) possibilitou compreender alguns dos sentidos que os alunos dão à história e ao mesmo tempo demonstrar a eles que esta não é um conceito fechado, “A História dá respostas provisórias porque pode haver pontos de vista diferentes, utilizando-se as mesmas fontes, porque vamos descobrindo novas relações sobre o passado, novas perspectivas. ” 12 Aula oficina realizada no dia 06 de junho de 2016. 13 Plano de aula da oficina II e atividade proposta estão nos anexos 3 e 4 deste trabalho, respectivamente. 33 Objetivos Objetivo Geral Compreender a mitologia grega e suas relações com a sociedade grega antiga e aprofundar a percepção sobre as populações pré-colombianas como sociedades culturalmente estruturadas antes da vinda dos europeus. Objetivos Específicos Compreender o passado histórico de forma contextualizada; Interiorizar relações entre passado compreendido, presente problematizado e futuro perspectivado; Desenvolver a capacidade argumentativa e interpretativa através do contato com fontes históricas, buscando formas diferentes de interpretar o passado; Problematizar a produção de diferentes discursos históricos por meio da análise de fontes. Compreender os conceitos de cidadania, estrangeiro e escravidão na Antiguidade, comparando-os com as noções atuais dos termos; Estabelecer diferenças e especificidades da mitologia e da religião através do estudo de Grécia e América pré-colombiana; Desenvolver a capacidade de pensar o outro como sujeito do seu próprio tempo, desconstruindo noções de hierarquia entre presente e passado; 34 Conceitos Na abordagem temática, o mito será utilizado como eixo norteador para pensar as sociedades gregas e pré-colombianas no âmbito de suas relações sociais, culturais. Assim o grupo de estágio buscará estabelecer relações entre essas sociedades e suas identidades, relacionando-as com as noções que se tem no presente. Segundo Peter Lee (2011), o ensino de história deve fazer relações entre o passado e o presente, compreendendo que as: (...) ações são realizadas por algumas razões e pessoas (individualmente, em grupos sociais ou instituições) tem objetivos, procurando ou se colocando em determinadas situações. Estas situações, por sua vez, são frequentemente compreendidas quando referidas em termos do passado (LEE, 2011, p. 21). Durante nossa atuação enquanto professores na turma do 7° ano C do Colégio de Aplicação abordaremos o conceito de mito na sociedade gregas e populações da América pré- colombiana. Analisando as relações entre o presente e passado através de debates, investigando como os alunos se apropriam e significam os conceitos e conteúdos estudados. Principais conceitos que serão relacionados durante o estágio: Mito/ Tradição oral: A tradição oral tinha um papel fundamental no mundo grego. Era por meio do mito que se refletia sobre filosofia, suas estruturas sociais e políticas. O mito abrangia todas as formas de expressão humana e explicava/justificava essas relações. No mundo grego a história se revela a partir das musas, estas são invocadas pelo historiador para que este consiga narrar grandes acontecimentos com intervenções divinas sobre as ações humanas. Nesse cenário interpretativo a escrita não era a forma mais comum de transmitir conhecimento, em virtude da difícil fabricação de pergaminhos e pela presença mínima de cidadãos letrados. Os livros eram mais escutados do que lidos, os filósofos, os médicos, os historiadores, todos se dedicavam a recitações publicas. O livro era escrito no interior de amplo sistema cultural, cuja transmissão continuava a se fazer de forma oral e auditiva. Identidades/pertencimento: As noções de identidade e pertencimento são fundamentais para a existência das sociedades na antiguidade. Sentir-se membro ou não de um grupo ou sociedade é importante para a manutenção e gera distinções que definem os sujeitos e suas formas de se relacionar. No caso grego essa relação de distinção é definida a partir da construção da dualidade entre “barbárie” e cidadania que se dá a parir da linguagem. Outra forma de distinção, interna, esta está pautada numa ideia de superioridade que define a diversidade entres as pólis, centradas na formação educacional e cultural dos sujeitos. Pensando as mesmas relações 35 nas sociedades pré-colombinas, estas noções de identidade e pertencimento eram fundamentadas na coexistência e diversidade dos grupos, que se afirmavam a partir de relações de dominação e apropriação cultural. Trocas culturais: O foco deste conceito estará pautado na noção de que povos diferentes coexistem em lugares diferentes, tem formas diferentes de viver, explicar e representar a realidade. Podendo existir assimilações dessas diferenças. Buscaremos refletir com os alunos em que medida o comércio e a circulação de bens de consumo promove trocas culturais e estabelece relação com o outro, criando pontos de contato entre culturas diferentes, mas também pontos de afastamento no sentido de reconhecimento cultural. 36 Metodologia A partir da escolha temática sobre o conceito de mito, seu surgimento nas sociedades antigas e as formas de apropriação, circulação e atribuição de sentidos adotados por grupos que pautavam suas vidas por esses esquemas explicativos. Optamos por intercalar aulas oficinas e exposições dialogadas. A leitura de textos servirá como subsídio para o desenvolvimento e construção de atividades. Seguimos os pressupostos de um ensino de história orientado para o desenvolvimento de ”competências específicas e transversais” conforme proposto por Isabel Barca (2004), quando esta define os passos para que o professor consiga atingir os objetivos desse modelo pedagógico. Enquanto estagiários, iniciaremos nossa intervenção atuando como um investigador social, tentando interpretaro universo conceitual dos alunos para em seguida propormos aulas diversificadas e desafiadoras. A escolha da aula oficina pretende colocar o aluno como agente de sua própria formação e vai ao encontro do perfil da turma e suas expectativas, percebidas durante as oito semanas de observação realizadas neste semestre (2016.1). Aulas expositivas servirão para promover uma compreensão contextualizada acerca do tema e ajudar os alunos a refletir sobre o assunto. O objetivo da abordagem expositiva é direcionar o desenvolvimento do tema. Abarcando questões como: cronologia, contextualização, fatos relativos a eventos singulares, personagens e definições poderão ser trabalhados de forma mais efetiva, explorando inclusive diferentes interpretações sobre um mesmo tema. As abordagens dialogadas buscarão estimular o levantamento de hipóteses. Nelas, serão valorizadas a opinião do aluno, seus argumentos e os elementos que estes poderão mobilizar como forma de motivar e enriquecer o estudo proposto. Para Schimidt (2004): (...) esta exposição consiste em fazer o aluno participar, de forma constante, da aula. Interrogado(...), o aluno é levado a empregar ativamente os conhecimentos informativos ou metodológicos adquiridos em trabalhos anteriores . Atrativo por ser de caráter interativo (...) (SCHIMIDT, 2004, p. 32). Tendo em vista a proposta de aulas a serem aplicadas, o grupo de estágio pensou, em um primeiro momento, retomar o conceito de mito e trabalhar as ideias prévias que os alunos possuem acerca do tema. O objetivo é explorar a diversidade de concepções, abarcar as diferentes necessidades e assim, trabalhar com atividades e conceitos condizentes com a faixa etária dos alunos e suas competências. Essa abordagem prévia considera que os alunos têm 37 contato com os conceitos de História para além da sala de aula e que estes de dão em diferentes momentos e contextos. Compreende-se também que é por meio destes contatos externos – filmes, jogos, literatura, televisão, etc. – que os alunos criam grande parte de suas referências e que estas devem ser trazidas para a sala de aula, problematizadas e convertidas em questões a serem trabalhadas com vistas a estimular o debate, a pesquisa e novas descobertas. Neste projeto de regência os alunos serão estimulados a expressar seus pensamentos e compartilhar hipóteses com o grupo, visando à troca de ideias e informações. Considerar as ideias prévias dos alunos significa enxergá-los enquanto sujeitos detentores de conhecimentos. Uma vez considerada a sua consciência histórica e o universo conceitual que os cerca, poderemos planejar diferentes abordagens e realizar intervenções, e ainda, avaliar se houve mudanças nas suas concepções, e perceber em que medida e como os temas trabalhados estão sendo apreendidos. Nosso entendimento, é que as reflexões poderão ajudá-los a desenvolver conceitos e estabelecer relações temporais que liguem o passado e suas formas de apropriação no presente. Com isso, o que se pretende é informar aos alunos que o passado não deve servir somente como ferramenta para legitimar discursos e ações no presente, mas também contribuir para uma formação integral de sujeitos que saibam compreender o passado de forma contextualizada e assim possam se posicionar de forma crítica e plena dentro da sociedade em que está inserido. (PRATS, 2006). Conforme planejado, o trabalho com documentos/fontes será aplicado por meio da realização de aulas oficinas e trabalhos em grupos, pois entendemos ser este um vasto campo de possibilidades para se pensar as experiências dos sujeitos e suas escolhas, expressas por diferentes linguagens, para registrar sua passagem no tempo. Buscaremos refletir sobre os documentos estimulando a observação, a comparação e o levantamento de hipóteses. Por meio da leitura de textos, pretendemos estimular a interpretação e fixar elementos conceituais acerca do determinado assunto e ainda ajudar na realização de atividades. Utilizaremos textos historiográficos e artigos jornalísticos e científicos, sempre enfatizado a biografia do autor, a opinião, e o contexto de quem produziu, colocando sempre em questão a noção e intenção de verdade que estas produções podem carregar. Seguindo alguns modelos propostos pelos livros didáticos, História Temática e História e Sociedade & Cidadania, elaborados para turmas de 6o e 7o ano do ensino fundamental, reunimos alguns métodos a fim de fazer o melhor uso de materiais interativos e suas diferentes linguagens: 38 Trabalhando com documentos/fontes (literatura, imagens, poesias, letras de canções, mapas, etc.): O documento também será utilizado como uma ferramenta de exploração, interrogação e problematização. Por meio destes, os alunos poderão refletir, analisar, criticar e explorar um terreno que ultrapassa as informações aparentemente dadas. Ao lançar mão do uso de fontes/documentos, nosso objetivo será estimular os alunos a elaborar questões e se sentirem instigados a perseguir as respostas. Nesse sentido, ao trabalharmos o ensino de História por meio da análise de fontes, pretendemos propor um caminho com base em questões prévias que possam guiar os alunos às formas de interpretá-las e delas tirar conclusões. Deste modo, perguntas como “Quem produziu? Em que época? Para quem? Com qual objetivo?” Serão formas de promover hipóteses e gerar debates entre os alunos. Vídeos e documentários: Utilizados como um recurso interativo, utilizados como uma forma de registrar e representar uma versão de fatos ou eventos ocorridos no passado. Ao fazermos usos desses recursos audiovisuais temos clara a necessidade de guardarmos as devidas reservas quanto a estes serem produtos industriais, artefatos de expressão cultural sem compromisso com a realidade. Ao fazer uso do filme/vídeo, lembrar o estudante que se está diante de uma versão, de uma representação, e não dos fatos históricos tal como eles ocorreram. Assim, seguindo os passos propostos por Schimidt e Barca (2004), buscaremos nos guiar pelos pressupostos sugeridos pelos parâmetros curriculares nacionais; estimularemos a construção dos conhecimentos por meio de aulas oficina, colocando o aluno como ator da sua produção de conhecimento; utilizaremos o recurso das aulas expositivas e dialogadas (aula- colóquio) nas quais os alunos serão estimulados a compreender o tema de forma contextualizada e compartilhar seu conhecimento com o grupo; e, por fim, trabalharemos com avaliações construídas em conjunto, por meio de atividades em que os alunos poderão comunicar e exprimir a sua compreensão e interpretação dos temas trabalhados em sala de aula. 39 Avaliação Durante nossa atuação na turma do 7º ano C trabalharemos com a ideia de aula-oficina e aulas expositivas. Neste sentido, em todas as aulas serão propostas atividades para que os alunos expressem aquilo que apreenderam durante um dia da semana. Utilizando da abordagem de Schimidt (2004) optaremos por uma avaliação somativa. Avaliar qualitativamente, acompanhando o desenvolvimento da aprendizagem no decorrer das aulas. Avaliando tantos os debates, participações e atividades propostas. Segundo os estudos de Schimidt (2004): O principal objetivo da avaliação somativa é realizar um diagnostico do aluno no final de um período relativamente longo (uma unidade de ensino, um bimestre, um ano). Ela poder ser utilizada no final de um período de longa duração e pode incidir sobre uma amostragem significativa dos objetivos propostos. “Os principais aspectos enfatizados nessa avaliação são os resultados da aprendizagem baseada nos objetivos (SCHIMIDT, 2004, p. 149). Observando assim alterações nos processos de conhecimento. O cronograma de aulas possibilita apresentar e debater o conteúdo nas primeiras duas aulas (com duração de duas horas) de segunda-feira e propor atividades
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