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SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL SISTEMA PENITENCIARIO BRASILEÑO Y EL ESTADO DE LAS COSAS INCONSTITUCIONALES Luiz Carlos Souto Maior Rosas1 Inverno/2020 RESUMO O presente artigo tem por objetivo abordar a realidade do sistema penitenciário brasileiro no que remete a qualidade e proteção do condenado dando ênfase na reintegração. Primeiramente será feito uma busca histórica sobre o sistema penitenciário e os motivos que levaram a esse processo de falência e inconstitucionalidade. Também será abordada a Lei n° 7.210 de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal Brasileira) que é uma das leis mais complexas do mundo, porém pouco utilizada no Brasil, onde será analisado o porquê do Brasil preferir tratar as penas como uma forma de castigo para o indivíduo que cometeu um delito e não buscar a reintegração do mesmo a sociedade. Haverá uma demonstração de como são os estabelecimento penitenciário, os motivos da superlotação. Através de ambas as metodologias quantitativa e qualitativa visando um maior esclarecimento. Ademais, trataremos da progressão dos regimes fechado, semiaberto e aberto das penas e veremos como essa crise no sistema penitenciário acaba atingindo os Direitos Humanos dos condenados. Palavras-chave: Sistema Penitenciário. Brasil. Direitos Humanos RESUMEN Este artículo tiene como objetivo abordar la realidad del sistema penitenciario brasileño en términos de calidad y protección en la reintegración. Primero, se realizará una búsqueda histórica le sistema penitenciario y las razones que llevaron a este proceso de bancarrota. También se abordará la Ley N° 7.210 del 11 de julio de 1984 (Ley de Ejecución Penal Brasileña), que es una de las leyes más complejas del mundo, pero poco utilizada en brasil, donde se analizará por qué Brasil prefiere tratar las oraciones como una forma de castigo para el individuo que cometió un delito y no busca reintegralo a la sociedad. Habrá una desmonstración de cómo son las instalaciones penitenciarias, los motivos del hacinamiento, a través de metodologías cuantitativas y cualitativas para mayor aclaración. Además, abordaremos la progresión de las oraciones cerradas, semiabiertas y abiertas, y veremos cómo esta crisis en el sistema penitenciario termina afectando los Derechos Humanos de los condenados. Palabras clave: Sistema Penitenciario. Brazil. Derechos humanos. 1 Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail: luiz.carlos.10@hotmail.com; Orientador: Dr. Mazukyevcz Ramon Santos do Nascimento Silva e e-mail: ramons.santos@unipe.edu.br. 2 1 INTRODUÇÃO O Estado é dependente dos conflitos, pois assim poderá impor seu controle, sua dominação perante a sociedade. Como podemos ver nas Teorias do Labelling Approach ou a Teoria do Etiquetamento, onde o crime não se origina da conduta humana em si e sim de um etiquetamento do comportamento enquanto criminoso. Ou seja, com as tipificações dos crimes o Estado escolhe os seus criminosos. Como, por exemplo o que aconteceu no Brasil Colônia, onde a capoeira passou a ser considerada criminosa, tornando essa tipificação algo seletivo e não neutro. O que podemos ver nos dias de hoje é que ao analisar a nossa população carcerária a maioria dos homens presos são jovens, negros e pobres. Já ao analisar as penitenciárias femininas vemos um direcionamento do aparato estatal contra as mulheres negras.Ou seja, ocorre nesse processo de criminalização uma escolha política de encarceramento de determinada parcela da sociedade. Buscando assim o Estado o próprio conflito e não a paz social. É possível observar que o tempo modificou para melhor os conceitos de pena de prisão, assim como o sistema penitenciário. Porém, nota-se que o Brasil parou no tempo e está muito atrás do que se buscava vendo as evoluções das sociedades e os direitos dos cidadãos em geral. Além de ter estagnado, começou já há um bom tempo um processo de regressão de direitos dos condenados, onde se encontra como na antiguidade os excluídos da sociedade. Onde todos os direitos que se adquirem através do nascimento com vida acabassem quando fora condenados, ressaltando ainda para aquelas prisões preventivas, quando nem mesmo foram condenados, e mesmo ainda podendo ser inocentes, se encontram junto à todos aqueles que já tiveram a sua sentença decretada. Ademais, as estruturas precárias, a má administração e superlotação desse sistema só ajudam a afundar ainda mais a sociedade brasileira. São vários os casos de réus que morrem por doenças, rebeliões que acabaram em mortes como as do Carandiru e guerra de facções. Sem contar com o total descaso para com os direitos do preso, onde pesquisas mostram que mais da metade da população carcerária no Brasil ainda nem foi julgada, fazendo o Brasil ocupar o terceiro lugar no ranking do mundo em relação a quantidade de pessoas no sistema penitenciário. Os problemas enfrentados são graves visto a evolução dos direitos no decorrer das décadas, mas parece que para o sentenciado ocorre não só a privação da liberdade, mas também a privação dos seus direitos como cidadão. A Lei de Execuções Penais – LEP n° 7.210/84 discorre sobre os direitos do condenado, só que infelizmente acaba não saindo do papel devido o fechar dos “olhos” do Estado para com os condenados. Esse trabalho visa discutir o sistema penitenciário brasileiro em face dos seus problemas e inconstitucionalidade. Foi realizada uma revisão da literatura com características descritiva e explicativa, como também, com dados reais segundo departamentos responsáveis de tal sistema. 2 CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE A PENA DE PRISÃO O ser humano era livre de direitos e regras a serem cumpridos, porém as punições sempre estiveram presentes na história da humanidade e com a necessidade de se viver em sociedade acaba surgindo o chamado Pacto Social. Quando existe a necessidade do homem de abrir mão de parte dos seus direitos 3 para o bem comum de todos, existindo a cooperação de todos contra as forças da natureza. Para CALDEIRA (2009, p. 260): O ser humano sempre viveu agrupado, em virtude de seu nítido impulso associativo e lastreou, no seu semelhante, suas necessidades, anseios, conquistas, enfim, sua satisfação. E desde os primórdios, o ser humano violou as regras de convivência, ferindo os semelhantes e a própria comunidade onde vivia, tornando inexorável a aplicação de um castigo (sanção). No início, a punição era uma reação coletiva contra as ações anti-sociais. Foi na Idade Antiga que surgiu a escrita e as primeiras civilizações, como também os primeiros Estados organizados com certo grau de nacionalidade. Nesse modelo a pena de prisão só era cogitada como forma de custódia, um modo de segurar os acusados até a hora do julgamento que poderia ser a expulsão do corpo social ou a execução. Ou seja, a prisão do indivíduo não era concebida como uma sanção, e sim uma tutela. De acordo com BITENCOURT (2011, p. 28): A Antiguidade desconheceu totalmente a privação de liberdade estritamente considerada como sanção penal. Embora seja inegável que o encarceramento de delinquentes existiu desde tempos imemoráveis, não tinha caráter de pena e repousava em outras raões. As sanções desta época eram corporais e infamantes que se esgotavam com a morte, eram estabelecidas pelo Estado e praticadas por aqueles que se sentiram ofendidos com tal ato cometido pelo acusado. A religião passou a ter também influência na Idade Antiga, pois para eles era a paz adivinha dos deuses e assim a pena passava a ser considerada como castigo para aqueles que infringissem as ordens divinas. Como a legislação não era escrita acabava sendo exposta de forma oral, onde a pena vinha da vontade divina e aplicadas em rituais e isso acabou criando regras de comportamento. Com o avanço da vingança privada e divina,as leis começaram a ser escritas e aplicadas de forma igualitária a todos, surgindo assim à Lei de Talião que trouxe a proporcionalidade em relação à aplicação da pena. Posteriormente veio a Lei das XII Tábuas, o Código de Hamurabi, o Código de Manu e o Código de Sólon e todas elas continham várias punições, entre elas várias formas de pena de morte e mutilação. A Idade Média ficou marcada com a queda do Império Romano, o surgimento da peste negra e a supremacia da Igreja Católica. Ainda era mantido o cárcere apenas como método de custódia para a espera daqueles que seriam julgados e condenados, como ocorria na Idade Antiga. As punições dessa época seguiam a mesma linha da Idade Antiga, com castigos corporais e a pena de morte. Nesse período surgem dois tipos de prisões, as prisões eclesiásticas para os membros do clero, onde as punições ocorriam com a penitência e a meditação e as Prisões de Estado onde à custódia era até o momento das execuções e se destinava aos políticos, os traidores e os inimigos do poder real. A Idade Moderna contém vestígios da prisão eclesiástica, foi um período de mudança das relações sociais e do Direito Penal. Os castigos ainda foram bastante utilizados, porém com as novas criações para a restrinção de liberdade acabou 4 deixando o Estado que tinha interesse em ressocializar o culpado através do trabalho e ensino preocupado com as novas restrições. Para BITENCOURT (2011, p. 39): A suposta finalidade da instituição, dirigida à mão de ferro, consistia na reforma dos delinquentes por meio de trabalho e disciplina. O sistema orientava-se pela convicção, como todas as idéias que inspiravam o penitenciarismo clássico, de que o trabalho e a férrea disciplina são meios indiscutíveis para a reforma do recluso. Ademais, a instituição tinha objetivos relacionados com a prevenção geral, já que pretendia desestimular outros para vadiagem e a ociosidade. Outra de suas finalidades era conseguir que o preso, com as suas atividades, “pudesse autofinanciar-se e alcançar alguma vantagem econômica”. A pena de prisão ia aos poucos ganhando existência, mesmo que de início só para os crimes mais leves. Os crimes mais graves ainda continuavam no mesmo sistema de punição corporal, pois ná época os códigos penais ainda utilizavam as penas e os castigos da Idade Antiga e Idade Média. Foi na Holanda por volta da primeira metade do século XVII, onde surge a chamada casa de trabalho que era uma forma de punição que se exigia naquele momento. Com isso, surge a prisão como pena, que acaba deixando de lado o antigo modelo cautelar. O surgimendo desse novo modelo acabou destacando alguns reformistas como Cesare Beccaria, Jhon Howard e Jhon Bentham. O pensamento de Beccaria era de uma pena ativa e não dolorosa de forma humana e racional, prevenindo que o réu chegasse a ocasionar dano a outrem; já Jhon Howard focou na humanização e necessidade de criação de instituições prisionais, com o isolamento dos acusados para que refletissem sobre os erros e aqui podemos ver algumas coisas em comum com as prisões eclesiásticas; e por fim, Jhon Bentham que se preocupou principalmente nas condições favoráveis a reincidência e o aspecto estrutural. A França também acabou implementando as casas de trabalho, onde as atividades desempenhadas eram muito cansativas e a formação religiosa era importante para a disciplina do condenado. De acordo com ANITUA (2008, p. 117-118): O trabalho era tão duro que muitos condenados rompiam literalmente as costas – “se deslombavam” – ao efetuá-lo. O êxito desta iniciativa é claro, uma vez que praticamente todas as cidades do norte da Europa adotaram modelos semeelhantes para os mendigos e delinquentes juvenis. [...] O temor a Deus era a forma de impor a disciplina. Para tal, eles tinham de aprender a ler e escrever, em horários noturnos, sendo catequizados corretamente com livros escritos especialmente para os detidos. E foi assim que começaram a aparecer às primeiras instituições que foram dando moldes às prisões de hoje em dia. Onde eram voltadas para pobres, jovens, doentes, moradores de rua e prostitutas, e com o intuito de que essas pessoas fossem “reeducadas”. A Idade Moderna ou “Tempos Modernos” foi marcado pelo período de transição que teve um aumento muito grande de delinquentes devido a pobreza que se espalhava pela Europa, fazendo com que o Direito Penal fosse uma forma de 5 retrair o cometimento de crimes. Nessa época ocorreu a mudança do modelo de produção feudal para o modelo de produção capitalista e também podemos verificar vestígios do Direito Canônico. Na Idade Contemporânea ou Pós-Modernidade marcado pela corrente iluminista, ocorre uma modernização do Direito Penal, surgindo uma Escola Clássica de Direito Penal que acaba abandonando a irracionalidade da aplicação das penas, passando a ser mais humanitária. Aqui era destinado apenas ao Estado o dever de punir e as leis não cabiam interpretações, ou seja, tinha que seguir o que lá estava escrito. Como muitos estavam cometendo crimes pela situação que se encontravam, a pena de morte para uma grande parte da população já não caberia. A Escola Clássica se atentava ao crime com pena proporcional, viam uma necessidade de reeducar e por isso acabou perdendo espaço para a Escola Positiva onde se atentava para o homem, sua personalidade, conduta e a ressocialização. Posteriormente surgem as Escolas Críticas ou Ecléticas que tinham os mesmos pensamentos que a Positiva, porém tinham uma opinião diferente sobre os loucos onde eles poderiam mudar suas atitudes. 2.1 TEORIAS DA PENA Pena é a resposta estatal consistente na privação ou restrição de um bem jurídico, ao autor de um fato punível. Ou seja, é uma resposta que o Estado da através do poder de punir com a privação ou restrição da liberdade em face do criminoso. Damásio (2003) diz que pena é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração penal, como retribuição de seu ato ilícito, consistente, e cujo fim é evitar novos delitos. É uma retribuição da ameaça de um mal causado ao autor da infração, com a finalidade de prevenção sobre novos delitos. Prevenção está que pode ser geral que atinge a todos pelo meio intimidativo e a prevenção especial que está ligada a um autor específico. A pena seria uma espécie de gênero sanção penal. Pois a sanção penal é uma resposta estatal, que exerce o direito de punir após o devido processo legal e ela se dividem em duas espécies: penas e medidas de segurança. De acordo com a doutrina é tríplice a fundamentação da pena e está dividida em: Fundamento político-estatal onde o ordenamento jurídico explica o motivo da pena, pois sem ela não teria uma resposta aos crimes cometidos; Fundamento psicossocial aquele que satisfaz a sociedade, condenando a pessoa que cometeu o delito; e por último o Fundamento ético-individual onde o autor do fato se ver livre de culpa após cumprir sua sentença. 2.1.1 FINALIDADE DA PENA São três as teorias que explicam as finalidades das penas: A Teoria absoluta ou retribucionista que surgiu através de Hegel e Kant e ela parte do presuposto de punir alguém pelo simples fato de haver delinquido. Ou seja, visa retribuir o agente pela prática do crime. De acordo com SILVA (2002, p. 35): Pela teoria absoluta ou retributiva, a pena apresenta a característica de retribuição, de ameaça de um mal contra o autor de uma infração 6 penal. A pena não tem outro propósito que não seja o de recompensar o mal com outro mal, Logo, objetivamente analisada, a pena na verdade não tem finalidade. É um fim em si mesma. A Teoria preventiva, relativa ou utilitarista é aquela que a pena passa a ser algo instrumental. Pune-se buscando combater a ocorrência e reincidência de crime, busca a prevenção do crime e ela se divide em duas. A prevenção geral e a especial já mencionadas anteriormente. Afirma BITENCOURT (2004,p. 81): A formulação mais antiga das teorias relativas costuma ser atribuída a Sêneca, que, se utilizando de Protágoras de Platão, afirmou: “nenhuma pessoa responsável castiga pelo pecado cometido, mas sim para que não volte a pecar. Para as duas teorias a pena é considerada um mal necessário”. No entanto se baseia na idéia de realizar justiça, mas na função, já referida, de inibir, tanto quanto possível, a prática de novos fatos delitivos. Teoria mista ou eclética é onde a pena é uma retribuição proporcional ao mal culpável do delito, mas também se orienta à realização de outros fins, em especial à prevenção. Ou seja, é a junção das duas outras teorias. Preceitua BITENCOURT (2004, p. 88): As teorias mistas ou unificadoras tentam agrupar em um conceito único os fins da pena. Esta corrente tenta escolher os aspectos mais destacados das teorias absolutas e relativas. Merkel foi, no começo do século, o iniciador desta teoria eclética na Alemanha, e, desde então, é a opinião mais ou menos dominante. No dizer de Mir Puig, entende-se que a retribuição, a prevenção geral e a prevenção especial são distintos aspectos de um mesmo e complexo fenômeno que é a pena. Uma primeira corrente diz que na reforma de 1984, a pena passou a apresentar natureza mista: é retributiva e preventiva, como está previsto no artigo 59, caput, do Código Penal. Uma segunda corrente diz que o Código Penal não se pronunciou e a Doutrina moderna ensina que a pena no Brasil tem uma tríplice finalidade: retributiva, preventiva e reeducativa. A tríplice finalidade da pena se divide em: 1- Pena em abstrato onde a finalidade é a prevenção geral, evitar que se cometa algo. Ela se divide em positiva que afirma a validade da norma e negativa que evita que o cidadão venha a praticar um crime; 2- Aplicação da pena que é a prevenção especial, que visa o autor do fato através da retribuição; 3- Execução da pena é onde se concretiza a prevenção especial, a retribuição e ainda à ressocialização. 2.1.2 PRINCÍPIOS DA PENA São sete os princípios da pena. Onde o primeiro é o princípio da dignidade da pessoa humana que está presente na Constituição Federal em seu artigo 1°, III e estabelece limite na atuação intersubjetiva e na atuação entre o Estado e o ser humano. Ou seja, as penas devem ser dignas. O segundo é o princípio da anterioridade que está presente no Código Penal em seu artigo 1º e na Constituição Federal em seu artigo 5°, XXXIX. Onde não 7 existe crime sem lei anterior que a defina. Ou seja, existe uma necessidade de ter uma pena prevista anteriormente para se definir o crime. O terceiro é o princípio da pessoalidade ou intransmissibilidade da pena que está previsto no artigo 5°, XLV, da Constituição Federal. Onde nenhuma pena passará da pessoa do condenado, não poderá punir terceiros através do causador do fato. Esse princípio tem duas correntes: a relativa que admite exceção, como, por exemplo, o confisco que pode atingir terceiros; e a absoluta adotada por Mirabete que prevalece nos dias de hoje, onde se transmite a terceiros o efeito da sentença e não a pena. O quarto é o princípio da individualização da pena que está previsto no artigo 5°, XLVI, da Constituição Federal e no 59°, caput, do Código Penal onde a pena é individualizada para aquele sujeito de acordo com o caso praticado. Ela se divide em três níveis, o legislativo, o judicial e o administrativo. O quinto é o princípio da proporcionalidade onde a pena deve ser proporcional à gravidade da infração, ou seja, deverá ocorrer uma resposta justa de acordo com um ato ilícito praticado. O sexto é o princípio da inderrogabilidade ou inevitabilidade da pena, onde a pena deve ser aplicada, cumprida e nela contém algumas exceções como o perdão judicial ou a suspensão condicional da pena que está nos artigos 77° ao 82°, do Código Penal. O sétimo é o princípio da humanização das penas onde não se pode aplicar penas de caráter cruel, desumano e degradante, nesses casos também estaria interligado ao princípio da dignidade da pessoa humana. Nele contém subprincípios como: a individualização da pena; impossibilidade de penas cruéis, de banimento ou de guerra (com ressalvas nos casos previstos em lei); classificação dos presos por gênero e idade; direito de amamentar; respeito à integridade física e moral do preso; princípio da legalidade, previsto na Constituição Federal no artigo 5°, XXXIX e no artigo 1°, do Código Penal fala sobre o dever de existir lei e pena anterior ao delito, salvo se a pena posterior ao delito for mais benéfica ao réu. Esse princípio abrange três subprincípios: o da reserva legal, que deve existir lei regulamentadora; o da taxatividade ou mandado de certeza, o legislador é obrigado a especificar a conduta; da anterioridade, deverá ter lei anterior que à define. 2.2 HISTÓRIA DA PRISÃO NO BRASIL Foi no período do Brasil Colônia, momento em que nosso país era explorado pelos portugueses onde ocorria uma imposição dos padrões da colônia que acabou surgindo aqui o direito português. Como o Brasil era muito grande acabou sendo dividido em capitanias hereditárias onde os responsáveis eram os donatários que atuavam como os legisladores e juízes (isso ocasionava um descontrole total de poder). Em uma tentativa de organização surgiram as Ordenações Afonsinas que acabou durando de 1447 até 1521. Após essa data vieram as ordenações Manuelinas e em 1603, em uma das revisões das Ordenações Manuelinas acabou surgindo as Ordenações Filipinas que não tinha muitas mudanças, mas trazia uma originalidade para o que ocorria na época e essas Ordenações mostravam um modelo penal que previa a pena de morte e outras penas graves. Sobre tais ordenações conclui TELLES (2006, p. 27): 8 Punições severas e cruéis, inexistência do princípio da reserva legal e do direito de defesa, penas arbitradas desproporcionalmente pelos juizes, e desiguais, conforme o status do apenado, e punição de delitos religiosos e absurdos, como a heresia e o benzimento de animais. Pena de fogo em vida, de ferro em brasa, de mãos cortadas, de tormentos, além, é claro, da transmissão da infâmia aos descendentes do criminoso, revelam o grau de crueldade e desumanidade desse direito. As Ordenações Filipinas foram as mais importantes para o Brasil, por mais que as penas fossem graves chegando até a pena de morte, acabaram perdurando por um grande período. O Período Colonial nos mostra que não existia sistema carcerário, sendo as cadeias apenas uma forma onde se aguardava até a execução. Após a proclamação da República em 1822 as Ordenações Filipinas ainda perduravam, mas já estava sendo feito um novo Código que foi sancionado em 1830 logo após a abdicação de D. Pedro I, o chamado Código Criminal do Império que trazia consigo duas formas: a prisão simples e a prisão com trabalho. Ainda perdurava a pena de morte e de trabalhos forçados que poderiam ser até perpétuos, ficando a aplicação a cargo dos governos províncias. As manifestações que ocorriam em todo o mundo acabaram tendo influência nos textos do Código Criminal, começaram a iniciar a aplicação da pena de privação de liberdade em substituição das penas de tortura aplicadas na época, onde chegavam até a pena de morte. Por mais que a pena de morte ainda estivesse sendo mantida para escravos a pena fundamental do novo sistema penal passava a ser a da prisão. Por mais que a pena de prisão tenha aparecido no Código Penal em 1830, só em 1850 ela começou a ser aplicada com a vinda da primeira casa de correção no Brasil que estava localizada no Rio de Janeiro. Mas o estabelecimento prisional não funcionou como deveria e passou a alojar os alvos sociais do sistema penal. Como afirma BRETAS (2009, p. 190): Esta prisão era uma irônica personificação dos sonhos dos reformadores. Planejada nos anos de 1830 pela Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional e baseada no modelo pan-óptico,nunca foi concluída. A primeira ala foi inaugurada em 1850, tornando-se a Casa de Correção. A segunda foi construida em alguns anos depois e reorganizada como outra prisão, a casa de detenção, enquanto as outras alas nunca foram construídas. Notamos que a mudança do Período Colonial para o Período Imperial não teve muitas modificações. Acabou ocorrendo uma estagnação do sistema carcerário, e várias mudanças foram para o regresso. Como a ira do poder punitivo estava visando os escravos, isso ocorria para manter a escravidão e assim satisfazer a economia que dependia da mão de obra escrava. Com o golpe militar de Marechal Deodoro da Fonseca em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República e logo ocorreu um novo Código Criminal que se chamava Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. O objetivo era eliminar qualquer um que fosse uma ameaça para o Estado, sendo o centro desse novo sistema a pena privativa de liberdade. Posteriormente surgiu em 1891 a Constituição Republicana que limitou a pena de morte para épocas de guerra. 9 A Primeira República encerrou-se contando com uma prisão formal, com o não cumprimento do que previa acabou superlotando os estabelecimentos que existiam. Em 1934 ocorreu a promulgação da Constituição da República Nova concedendo a União uma competência exclusiva para legislar sobre o sistema carcerário. Nessa época era nítida a falência da pena privativa de liberdade, visto que a reincidência estava aparecendo naquele momento transformando o local em uma “fábrica de criminosos”. Em 1938, Vargas confiou a Machado à elaboração de um novo Código Penal que foi submetido a uma comissão revisora. De início a pena de prisão se apresentou como uma forma ressocializadora do apenado, onde existiam quatro estágios: o primeiro era de isolamento total, o segundo era marcado pelo convívio com os outros presos na parte da manhã e com trabalhos, o terceiro era composto pelo livramento condicional e posteriormente a liberdade definitiva. Ainda no código existia a previsão de medidas que classificavam os autores dos crimes como imputáveis e inimputáveis, que daria início ao sistema do duplo binário. Para SILVA (1998, p. 46): [...] o que se vê, é uma nítida diferenciação entre os autores de crimes que são responsáveis dos irresponsáveis. Surgindo o sistema do duplo binário, ou seja, a aplicação ao delinguente irresponsável das penas normalmente aplicáveis à espécie delituosa e, ainda, medida de segurança. Vale dizer: o Código de 1940 impunha a aplicação conjunta da pena e da medida de seguranaça. Foi publicado em 1940 o atual Código Penal por meio de um Decreto-lei, e este trazia inovações e tinha como princípio a moderação por parte do poder punitivo do Estado. Esse pensamento acabou agravando ainda mais as condições do sistema penitenciário brasileiro. Em 1 de abril de 1964 ocorreu o golpe conhecido como Ditadura Militar, mas a legislação penal só veio a ser alterada em 1969 com o decreto do novo Código Penal. Nele ainda era presente as penas graves e um modelo bem autoritário, só que em 1984 foi introduzido a Lei 7.209/84 que modificou a parte geral do Código trazendo a extinção da medida de segurança para os imputáveis, sendo o réu condenado até trinta anos de prisão, considerando também penas privativas de liberdade, a reclusão e a detenção. 3 SISTEMA PENITENCIÁRIO O Sistema penitenciário é como chamamos o conjunto de prisões, cadeias e presídios que são financiados pelos Estados com as verbas do Governo Federal e tem por finalidade o cumprimento da pena, com os objetivos de reeducação, ressocialização e reinserção como foi debatido nas teorias das penas. Mas, o que ocorre na prática é muito diferente. A prisão é um local de total descaso onde são violados os Direitos Humanos em um ambiente totalmente arcaico, ultrapassado e com recursos mínimos devido a falência do sistema. No sistema penitenciário brasileiro ocorre violação generalizada dos direitos fundamentais das pessoas que se encontram em custódia no tocante à dignidade, higidez física e integridade psíquica. O artigo 5°, XLVIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 declara que a pena de prisão deverá ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. Infelizmente com a precariedade dos estabelecimentos 10 e a superlotação, acaba impossibilitando abrigar com dignidade e segurança a população carcerária. Essa insuficiência acaba gerando efeitos reversos do que à teoria mostra a respeito da reintegração da população carcerária. O nosso estatuto penal preza pelo princípio da humanidade no momento da aplicação da pena privativa, visto que, qualquer punição desnecessária acarretará no descumprimento do princípio da legalidade. Entretanto, essas alegações não passam da teoria, pois na prática a partir do momento que o preso está sobre o poder do Estado, ele não perde só o direito à sua liberdade, acaba perdendo os direitos fundamentais de um ser humano, através das agressões, abusos, constrangimentos dos próprios presos e dos agentes penitenciários despreparados, entre outros casos e a progressão ocorre de forma tão lenta que vários presos adquirem os benefícios de soltura e ainda continuam encarcerados devido a ineficácia do sistema. No Brasil, temos a pena de detenção e reclusão que estão elencadas pelo Código Penal e a Lei de Execuções Penais, como também, a pena de multa que é regulamentada pelo Código Penal. A pena privativa de liberdade que pode ser de reclusão ou detenção é o meio de punição e ressocialização do transgressor. Aquele que cometer algum delito estará sujeito a cumprir pena por um determinado período que não poderá ser maior que 30 anos (limite máximo de cumprimento de pena). O sistema penitenciário brasileiro segue o regime progressivo, através do princípio da individualização da pena. O STF entendeu em 2007 por meio da Súmula 491 onde não se pode cumprir uma pena em regime total fechado. portanto o condenado progride de regimes após ir aproximando-se do término de cumprimento da pena. Porém, essa progressão leva em consideração a conduta e o trabalho do apenado. No Brasil, são três os tipos de regime: o fechado, o semiaberto e o aberto. Para os crimes de reclusão poderão ser iniciados no fechado, semiaberto ou aberto e a detenção poderá ser iniciado no regime aberto ou semiaberto. Mas, na detenção o condenado poderá regredir até o regime fechado. O regime fechado é onde ocorre o início da execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média no caso do condenado a mais de oito anos de prisão. Onde ocorre a permanência em tempo integral do condenado, podendo o mesmo trabalhar internamente. O regime semiaberto é onde ocorre o início da execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar no caso do condenado à pena de quatro até oito anos de prisão, se não for reincidente. Em caso de reincidência o réu deverá começar no regime fechado. O condenado terá uma série de benefícios caso estejam dentro dos requisitos da liberdade antecipada, benefícios esses como: trabalhar durante o dia em outro local, poderá fazer cursos, visitar familiares. Lembrando que os condenados deveram retornar ao local para dormir, caso contrário podem perder tais benefícios. O regime aberto é onde ocorre o início da execução da pena em casa do albergado ou estabelecimento adequado no caso de ter sido condenado à pena de até quatro anos de prisão (desde que não seja reincidente). Na prática, o preso fica em liberdade total enquanto computa a sua pena. Mas, existe possibilidade de proibição de algumas atitudes. 3.1 ESTRUTURAS As regras previstas na Lei de Execução Penal - Lei n° 7.210/84, não são totalmente aplicadas, visto que, a superlotação acaba destinando para as unidades 11 diversos tipos de regimes. O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopenrevela que grande parte dos estabelecimentos não possuem todas as condições que estão previstas em lei. Onde, 51% das unidades não possuem módulos de saúde; 41% não tem espaço para educação e 70% não contém oficinas de trabalho. De acordo com a Lei de Execução Penal n° 7.210/84, todo estabelecimento deverá ter assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Entre as estruturas do sistema penitenciário brasileiro temos: as penitenciárias; as colônias agrícolas, industrial ou similar; as casas do albergado; os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico – HTCP; e as cadeias públicas. A penitenciária é o local que abriga os condenados do regime fechado (pena de reclusão). Está prevista no artigo 87°, da Lei de Execuções Penais – LEP e deverá a cela conter dormitório, aparelho sanitário e lavatório, estar limpa e deveria ser individual. A penitenciária masculina deverá ser um pouco afastada das zonas urbanas, mas que possibilitem visitas. Já a feminina deverá ter local para gestante e creche que abriguem as crianças até certa idade. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar são instalações voltadas ao regime semiaberto. Aqui os condenados poderiam ser alojados de maneira coletiva, só que deveriam ser respeitando os limites de capacidade máxima. A Lei de Execuções Penais é superficial ao tratar das colônias. A Casa do Albergado está prevista na Lei de execuções Penais – LEP e é destinada aos condenados do regime aberto e aqueles cuja a pena é de limitação de fim de semana. A mesma deve estar localizada em centros urbanos, más afastada de outros estabelecimentos e deverá conter local de palestras e dormitórios. O Hospital de Custódia e tratamento Psiquiátrico é um local destinados aos inimputáveis e semi-imputáveis comprovados através de laudos que cometem fato típico elencado no artigo 26°, do Código Penal. Acabam submetidos à medida de segurança estabelecida no artigo 99° da Lei de Execuções Penais, que tem por objetivo fazer um tratamento psiquiátrico e com restrições de liberdade. Por fim, a Cadeia Pública que é a mais comum do sistema prisional e está presente na Lei de Execuções Penais nos artigos 88° e 104° e destina-se ao recolhimento de presos provisórios, onde cada comarca deverá conter uma cadeia pública visando que os presos provisórios não fiquem muito longe de seu meio familiar e social. 3.2 LEI DE EXECUÇÕES PENAIS – LEP, N° 7.210/84 A Lei de Execuções Penais - LEP tem por objetivo regular a execução penal no que tange as penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, bem como eventuais prisões decretadas durante a persecução criminal. Sua orientação tem por base em seu artigo 1° dois principais fundamentos, o estrito cumprimento dos mandamentos existentes na sentença e a instrumentalização de condições que propiciem a reintegração social do condenado. Para ROIG (2005, p. 138): A Lei de Execução Penal é um meio de controle das condutas carcerárias, com o suposto objetivo de proporcionar a “reintegração” social do condenado, resguardando um acervo de direitos sem aplicabilidade, desse modo delegou aos órgãos da execução penal 12 julgar o comportamento dos presidiários, para tanto dispôs de uma série de procedimentos, tendo em vista a organização nos presídios. A Lei de Execução Penal é moderna e avançada, tem um caráter ressocializador da pena privativa de liberdade. Mas, o que falta é uma efetividade na parte do cumprimento e aplicabilidade dessa lei, indo mais além, não só desta lei como várias outras que não passam do plano teórico e formal. A finalidade da execução é a necessidade de uma reparação social, não é só estar voltada para o autor do fato ilícito e sim para uma melhoria social. Pois, a recuperação deste indivíduo não só o ajudaria, como também a sociedade. Discorre Mirabete (2007, p.63): Se a reabilitação social constitui a finalidade precípua do sistema de execução penal, é evidente que os presos devem ter direitos aos serviços de assistência, que para isso devem ser-lhes obrigatoriamente oferecidos, como dever do Estado. Se o Estado através da privação da liberdade se torna detentor de tal condenado, o mesmo deverá ser tratado dignamente perante a lei sobre os cuidados do Estado. Entretanto, hoje funciona como uma “faculdade do crime” composta de detentos de diferentes potenciais, indignados com o sistema e a sociedade, levando- os a crer que não são considerados como cidadãos aos olhos do Estado e ocasionalmente influenciados a continuar nesse “mundo” do crime. 4 O PROBLEMA DA PRISÃO Podemos observar através das pesquisas feitas que são vários os problemas a respeito do Sistema Penitenciário Brasileiro e o Estado de Coisas Incostitucional. Problemas esses como a superlotação carcerária, estruturas precárias, difícil acesso ao trabalho, má administração e a reincidência que serão citadas posteriormente no decorrer deste tópico. A superlotação está prevista no país todo, e segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen, no mês de fevereiro de 2020 existem 773 mil pessoas presas no Brasil e dessas 268 mil estão presas sem condenação, ou seja, são presos provisórios. O que faz o país ocupar o terceiro lugar no ranking de países com maior número de pessoas presas no mundo, perdendo apenas para Estados Unidos e China. A grande quantidade de presos junto com um sistema arcaico e falido acaba ferindo vários direitos dos condenados. Segundo ASSIS (2007, p. 75): A superlotação das celas, sua precariedade e insalubridade tornam as prisões um ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos esses fatores estruturais, como também a má-alimentação dos presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão fazem com que o preso que ali adentrou numa condição sadia de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas. [...] Desta forma, acaba ocorrendo a dupla penalização do condenado: a pena de prisão propriamente dita e o lamentável estado de saúde que ele adquire durante a sua permanência no cárcere. 13 Aqui ocorre uma dupla pena, sendo a primeira determinada pela justiça e a segunda desumanas que ocorre através das condições carcerárias que estão submetidos os custodiados do Estado. A Lei de Execuções Penais em seu artigo 84 diz que o estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com sua estrutura e sua finalidade e consta ainda um órgão responsável pela delimitação que é O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Também ocorre um difícil acesso ao direito de trabalho enquanto cumpre a pena que está também previsto em lei. Entretanto, devido a superlotação acaba não tendo como agrupar todos dentro das funções a serem exercidas. A grande quantidade de presos acaba acarretando na junção de vários condenados de esferas diferentes, ou seja, ocorre a união dos primários ou que cometeram menores crimes, com os reincidentes e de alta periculosidade. Esse convívio acaba prejudicando aquele que teria uma tendência menor a voltar a reincidir em atos contrários a lei. A falência deste sistema é tão grande que há relatos que até contêineres já foram usados como celas, visto que não cabia mais réus na celas que já tinham. Está previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos que nenhuma pessoa deverá ser colocada em tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Porém, o Brasil fecha os olhos para esses seres humanos que acabaram cometendo um erro e pagam muitas vezes com a própria vida. O método ineficaz acaba trazendo outro problema para o sistema penitenciário que é a reincidência. Ou seja, um condenado primário ou de pequeno delito poderia ser ressocializado, só que, devido ao mal funcionamento do sistema ele sai de lá acolhido pelos outros réus e com isso já sai “especializado” em outros tipos de delitos. Sem contar,que sairá com raiva da sociedade e do Estado que não os deu o mínimo para uma estadia mais digna. Estudos apontam que a reincidência criminal é maior entre homens, jovens que cometeram crimes de furto. Uma pesquisa feita em 2008 analisou 800 casos de egressos que deixaram a prisão e deles 411 pessoas voltaram a reincidência. Isso ocorre pela falta de incentivo da população, pela falta de oportunidades, mas principalmente pela falta de cumprimento das obrigações do Estado. Outro fato importante a ser discutido é a saúde precária que envolve esse sistema. Em 2018, com dados dos últimos dez anos foram confirmados mais de 10 mil casos de tuberculose entre os detentos, o que se pode ver é que detentos tem mais chances de contrair doenças não só como tuberculose, mas o vírus da imunodeficiência humana - HIV ou o da atualidade o COVID-19 do que o resto da população. De acordo com os dados do Infopen, o Ceará comandou o índice de mortalidade entre os presos no ano de 2019. Onde registrou 40 mortes para 10 mil presos e incrivelmente foi no Ceará que a equipe do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT acabou denunciando várias violações de Direitos Humanos, como também, de higiene dos presídios. A má administração é outro fato que é dificultado pela superlotação. Pois, tanto as prisões públicas, como as privadas estão sofrendo e com isso vem os custos altos e a corrupção que suga boa parte das verbas destinadas. Visto que, quanto mais detentos morrerem, menor será o gasto de verba. Por fim, a sociedade influenciada pelos discursos de ódio acabam querendo fazer justiça com as próprias mãos e não dando apoio nenhum aqueles que cometem atos ilícitos e são condenados. Mesmo que essa pessoa já esteja sem débitos perante a justiça, ser condenado acaba deixando uma “mancha” negativa 14 para aquele ser humando perante todos da sociedade e isso acaba facilitando o retorno dele para o mundo do crime, pois o mesmo terá que roubar para se sustentar e sustentar a sua família. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS É notável que nos tempos da antiguidade a prisão era feita apenas para a espera do réu em relação a uma punição. Onde, geralmente estaria relacionada a penas corporais, pena de morte ou de expulsão da comunidade que vivia, perdendo assim a proteção do seu grupo. Demorou um bom tempo até que se alterasse esse pensamento e o primeiro vestígio ocorreu nas prisões eclesiásticas onde as punições eram compostas por penitência e meditação, saindo da metodologia de punições corporais. Um pouco mais adiante surgem as casa de trabalho na Holanda e posteriormente na França que acabaram mudando a sua finalidade e abrigando os excluídos da sociedade, lá o governo encontrou uma forma de mão de obra. Na Idade Contemporânea ou Pós-Modernidade, surgiram três escolas com correntes diferentes: primeiro veio a Escola Clássica, posteriormente a Escola Positiva e por fim, a Escola Crítica ou Eclética. Surgindo assim a teoria das penas que acabou adotando um modelo geral dessas teorias com foco na tríplice finalidade, ou seja, preventiva, reeducativa e retributiva. O Brasil após muito tempo do domínio dos portugueses vai começando a criar o seu próprio código penal, saindo assim, do Código do Império. Código Penal este que passou por diversas mudanças pelo fato de que ainda existia em tal código penas corporais, até que a Lei de Execução Penai - Lei n° 7.209/84 modificou a parte geral do código. Olhando o sistema penitenciário hoje podemos ver o quanto está ultrapassado e como parou no tempo. Estruturas antigas, falta de investimentos, falta de cuidados do Estado, o descaso com aqueles que cometeram um erro é muito grande e o modelo antigo utilizado só prejudica e incentiva a reincidência. Sem contar o quanto fere os Direitos Humanos e as leis vigentes que não passam do papel, essa sociedade carcerária acaba sendo esquecida e excluída assim como acontecia antigamente. A única diferença é que na lei escrita não existe a pena de morte, mas quantos não já morreram?! Podemos notar grandes influenciadores dos problemas do sistema penitenciário. Como a falta de verba, a superlotação, a falta de defensores públicos, a falta de vontade do Estado para com os encarcerados, a falta de saúde e a má administração. Podemos juntar tudo isso e dizer que o Brasil em relação a estrutura penitenciária também parou no tempo, não existe uma vontade em se ressocializar, recuperar o indivíduo e sim excluí-lo pelo máximo de tempo possível da sociedade. Levando-se em conta o que foi observado nos problemas do Sistema Penitenciário Brasileiro. Para resolver o problema da superlotação, deverá de início julgar todos os réus que aguardam julgamento em cárcere privado. Deveria começar fazendo multirões para julgarem essas pessoas que aguardam julgamento, como também, abrir mais vagas para defensores públicos e juízes, através de concursos públicos. Sobre as estruturas, somente passando por uma grande reforma, pois as mesmas se encontram ultrapassadas. O Estado deveria disponibilizar verbas para as reformas e construções nescessárias. Como, também, uma reforma na forma de trabalho dos diretores e funcionários de tal local e melhorias salariais. 15 Ademais, partindo para o principal problema que seria a reincidência que poderia ser resolvida ou amenizada com o cumprimento total da Lei de Execução penal ou de início com a divisão dos condenados pelo grau do crime cometido, seguindo os parâmetros das Leis que deveriam ser seguidas e outro ponto importante é dar um suporte para que os condenados saiam com alguma profissão ou aprendizado para serem colocados em prática na vida em sociedade. E ainda, um acompanahmento pisicológico para os condenados. Ainda, a sociedade precisa ser reeducada sobre tal tema. Pois, muitos estão ultrapassando até as Leis quando se trata daqueles que cometeram crimes, incentivados pelos discursos de ódio, são capazes até de fazer justiça com as próprias mãos. Talvez essa reeducação da sociedade e também do sistema penitenciário consiga amenizar um pouco esse grande problema do Brasil. 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Título. UNIPÊ / BC CDU – 343.8:342.7 Rsvg/Hmcds20022020 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL RESUMO RESUMEN Este artículo tiene como objetivo abordar la realidad del sistema penitenciario brasileño en términos de calidad y protección en la reintegración. Primero, se realizará una búsqueda histórica le sistema penitenciario y las razones que llevaron a este ... 1 INTRODUÇÃO 2 CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE A PENA DE PRISÃO 3 SISTEMA PENITENCIÁRIO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLÍOGRAFICAS
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