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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS DE CURITIBA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS - PPGEM OKSANA ALPHONSE DIB PARTICIPAÇÃO DO CLIENTE NA GERAÇÃO DE IDÉIAS DE NOVOS PRODUTOS PANORAMA DO SETOR DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL CURITIBA JULHO - 2008 OKSANA ALPHONSE DIB PARTICIPAÇÃO DO CLIENTE NA GERAÇÃO DE IDÉIAS DE NOVOS PRODUTOS PANORAMA DO SETOR DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Área de Concentração em Engenharia de Manufatura, do Departamento de Pesquisa e Pós- Graduação, do Campus Curitiba, da UTFPR. Orientador: Prof. Milton Borsato , D. Eng. CURITIBA JULHO - 2008 - Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UTFPR – Campus Curitiba, D543p Dib, Oksana Alphonse Participação do cliente na geração de idéias de novos produtos : panorama do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil. Curitiba. UTFPR, 2008 XIII, 107 f. : il. ; 30 cm Orientador: Prof. Dr. Milton Borsato Dissertação (Mestrado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pro- grama de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais. Curitiba, 2008 Bibliografia f. 95 – 102 1. M áquinas agrícolas. 2. Implementos agrícolas. 3. Clientes. I. Borsato, Milton, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais. III. Título. CDD: 621.31 iii Aos meus pais, Alphonse e Marlene. E aos meus irmãos, Alphonse e Stephane. iv AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, à Deus, por ter me dado a vida e proporcionado boas oportunidades e uma família e amigos que sempre me apoiaram. À minha família, meu pai Alphonse, minha mãe Marlene e meus irmãos Alphonse e Stephane, pelo apoio e compreensão em todos os momentos. Ao meu orientador, professor Milton Borsato, pelo valioso aconselhamento e, acima de tudo, pelo apoio que um amigo sabe prestar. E por quem tenho um grande respeito e admiração. Aos professores Carlos Cziulik, Cássia Maria Lie Ugaya, Sergio Luis da Silva e Márcia Echeveste, pelas sábias sugestões e contribuições nesse trabalho. À Fundação Araucária e ao Instituto Fábrica do Milênio, pelo apoio financeiro e, conseqüentemente, pela oportunidade de desenvolver esse estudo. À UTFPR e mais especificamente ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais e ao TIDeP, pela estrutura que me foi cedida para desenvolver a pesquisa. Às empresas envolvidas no trabalho de pesquisa, pela confiança depositada ao revelar, de forma espontânea e generosa, detalhes de sua rotina. A todos os meus amigos, com os quais tenho o privilégio de compartilhar os momentos da minha vida. Em especial Amanda Carvalho, Leandro Piva e Silvia Poledna, pela troca de experiências e engrandecimento, não só profissional, mas, principalmente, pessoal. Aos colegas de São Carlos e parceiros de projeto, Felipe Dorn, Danilo Hisano Barbosa, Camila de Araújo e Euclides Reame Junior, que, apesar da distância física, me prestaram grande apoio. v Tornar o simples complicado é fácil; tornar o complicado simples, isso é criatividade. (Charles Mingus) vi DIB, Oksana Alphonse, Participação do Cliente na Geração de Idéias de Novos Produtos: panorama do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil, 2008, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 121p. RESUMO O mercado competitivo e globalizado tem exigido produtos com qualidade, em menos tempo e com custos reduzidos. Para permanecerem no mercado, as empresas devem conhecer as necessidades e desejos dos consumidores melhor que seus concorrentes. Uma forma de entender as prioridades dos clientes é envolvê-los no processo de desenvo lvimento de produto, pois os clientes são uma importante fonte de geração de idéias e são parte ativa na inovação do produto. O segmento brasileiro de máquinas e implementos agrícolas (MIA) tem como característica a constante troca de informações entre os usuários dos produtos e seus fabricantes. Considerando a importância da implementação das necessidades dos consumidores nos novos produtos e valendo-se da proximidade cliente-empresa no setor de MIA, propõe-se verificar como o cliente participa da geração de idéias de novos produtos agrícolas. A pesquisa caracteriza-se como descritiva e quantitativa e o procedimento utilizado foi o levantamento (survey). A coleta de dados foi por meio de aplicação de questionário estruturado e padronizado, via correio eletrônico ou por telefone. Dentre os principais resultados observados, pôde-se constatar que a maior parte das empresas do setor brasileiro de máquinas e implementos agrícolas é de capital nacional e está atuando no mercado há mais de dez anos, desenvolvendo principalmente produtos novos e derivados. Os clientes são uma importante fonte de idéias e participam do processo de desenvolvimento de produto, principalmente nas etapas de geração de idéias e teste do protótipo. As idéias dos clientes são capturadas por meio de visitas, reclamações e informações da revenda. Além disso, as empresas pesquisadas consideram que o grau de inovação e o sucesso do produto estão ligados fortemente à fonte geradora da idéia. Palavras-chave: Clientes; geração de idéias; máquinas e implementos agrícolas. vii DIB, Oksana Alphonse, Participação do Cliente na Geração de Idéias de Novos Produtos: panorama do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil, 2008, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 121p. ABSTRACT As the market becomes increasingly globalized, companies are required to launch products with outstanding quality, in less time and with reduced costs. To remain competitive in this scenario, companies must meet the needs and desires of their customers to overcome their competition. One way to understand the needs and priorities of customers is to involve them in the process of developing products, because customers are an important source of new ideas and, therefore, of innovation. The aim of the present work is to understand how Brazilian customers play this role when it comes to agriculture-applied machinery. The research may be characterized as descriptive and quantitative, and the procedure used has been the survey. Data has been collected by submitting a structured and standardized questionnaire by e-mail and telephone. Among the main results observed, it has been possible to confirm how important customers are as a source of ideas and to find out how they participate in the process of developing new products. Customers generate ideas by means of direct visits, customer support events, resellers' feedback, and prototypetesting. Moreover, the surveyed companies consider that the degree of innovation and success of their products is strongly related to the idea source. Keywords: Customers; source of new ideas; farming machines. viii SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................................. vi ABSTRACT ............................................................................................................................. vii LISTA DE FIGURAS................................................................................................................ x LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................ xiii 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1 1.1 Apresentação da Oportunidade............................................................................................. 2 1.2 Justificativa.......................................................................................................................... 3 1.3 Objetivos da Pesquisa.......................................................................................................... 5 1.3.1 Objetivo geral.............................................................................................................. 5 1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 6 1.4 Viabilidade da Investigação .................................................................................................. 6 1.5 Estrutura da Dissertação ...................................................................................................... 7 2 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO E A INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL .................................................................................................................9 2.1 Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP)................................................................... 9 2.1.1 Modelo de Referência para o PDP ............................................................................. 10 2.2 Setor de Máquinas e Implementos Agrícolas no Brasil ......................................................... 18 2.2.1 Processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas (PDMA) .................................... 21 2.2.2 Modelo de referência para o PDMA ............................................................................ 22 2.2.3 Perfil dos clientes ...................................................................................................... 23 2.3 Considerações ................................................................................................................... 26 3 GERAÇÃO DE IDÉIAS NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS ... 27 3.1 Inovação no Desenvolvimento de Produtos ......................................................................... 31 3.2 Sucesso de Novos Produtos ............................................................................................... 36 3.3 Cooperação e Inovação ..................................................................................................... 37 3.4 Cooperação Cliente-Empresa ............................................................................................. 39 3.5 Influência da Voz do Cliente na Geração de Idéias............................................................... 42 3.5.1 Abordagem de Von Hippel ......................................................................................... 45 3.5.2 Abordagem de Kaulio ................................................................................................ 46 3.5.3 Abordagem de Pinegar .............................................................................................. 46 3.5.4 Abordagem de Gassmann e Wecht ............................................................................ 48 3.5.5 Resumo das abordagens ........................................................................................... 49 3.6 Mecanismos de Captura de Idéias Provenientes da Voz do Cliente....................................... 49 ix 3.6.1 Centro de chamadas (Call Center) ............................................................................. 50 3.6.2 Comunidade de entusiastas ....................................................................................... 51 3.6.3 Equipes de visita ao cliente........................................................................................ 51 3.6.4 Matriz QFD ............................................................................................................... 52 3.6.5 Pesquisa de mercado ................................................................................................ 53 3.6.6 Clínicas de produtos .................................................................................................. 53 3.6.7 Brainstorming............................................................................................................ 54 3.6.8 Grupos focais (focus groups) ..................................................................................... 55 3.6.9 Cliente como conselho consultivo............................................................................... 55 3.6.10 Análise de lead users ................................................................................................ 56 3.6.11 Projetos de clientes ou usuários ................................................................................. 56 3.6.12 CRM e CEM ............................................................................................................. 56 3.7 Caracterização da Oportunidade......................................................................................... 58 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 59 4.1 Revisão da literatura .......................................................................................................... 59 4.2 Elaboração do questionário ................................................................................................ 60 4.3 Seleção da amostra ........................................................................................................... 62 4.4 Validação do instrumento proposto ..................................................................................... 64 4.5 Coleta dos dados ............................................................................................................... 64 4.6 Tabulação dos dados ......................................................................................................... 65 4.7 Análise e discussão dos resultados ..................................................................................... 65 5 APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO - SURVEY ........................................................ 66 5.1 Perfil das Empresas Pesquisadas ....................................................................................... 66 5.2 Generalidades do PDMA .................................................................................................... 73 5.3 Principais Fontes de Idéias de Novos Produtos.................................................................... 75 5.4 Participação dos Clientes no Desenvolvimento de Novos Produtos ....................................... 78 5.5 Meios Utilizados para Capturar as Idéias dos Clientes.......................................................... 84 5.6 Relação entre a Inovação dos Produtos e o Sucesso dos Produtos com a Fonte de Idéias..... 87 6 CONCLUSÕES ..............................................................................................................89 6.1 Discussões ........................................................................................................................ 89 6.2 Conclusão ......................................................................................................................... 91 6.3 Sugestões para Trabalhos Futuros...................................................................................... 93 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 95 APÊNDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO E TERMO DE SIGILO .................... 103 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO .................................................................................... 104 x LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Modelo de Pahl e Beitz (CAMARGO, 2007, adaptado de PAHL e BEITZ, 1996) ....................................................................................................................................... 12 Figura 2.2 – Modelo Stage-GateTM (SILVEIRA, 2006 adaptado de COOPER, 2001) ................................................................................................................................................. 14 Figura 2.3 - Visão geral do modelo de referência (ROZENFELD et al, 2006)............ 16 Figura 2.4 - Processo, macro-fases, fases e saídas do MR-PDMA (ROMANO, 2003) ................................................................................................................................................. 23 Figura 3.1 - Ciclo do fluxo de caixa de um produto (CARVALHO, 2007 adaptado de PATTERSON, 1993) ............................................................................................................ 30 Figura 3.2 - A inovação: um conceito social-econômico (CEBALHOS, 2005) ........... 32 Figura 3.3 – Abordagem de Pinegar (PINEGAR, 2000) ................................................. 48 Figura 3.5 – Matriz QFD (baseada em Cheng e Melo Filho, 2007).............................. 53 Figura 4.1 – Quantidade de empresas vs. Erro amostral tolerável (%) ....................... 63 Figura 5.1 – Setor de atuação dos respondentes ........................................................... 67 Figura 5.2 – Localização das empresas pesquisadas .................................................... 67 Figura 5.3 – Origem do capital............................................................................................ 69 Figura 5.4 – Posição das empresas quanto à exportação ............................................. 71 Figura 5.5 – Tipo de certificação ........................................................................................ 73 Figura 5.6 – Portfólio de produtos ...................................................................................... 74 Figura 5.7 – Principais fontes de idéias ............................................................................ 75 Figura 5.8 – Participação dos clientes no desenvolvimento de novos produtos ........ 78 Figura 5.9 – Perfil dos clientes que participam do PDMA .............................................. 79 Figura 5.10 – Perfil dos clientes que participam do PDMA nas empresas de grande porte ........................................................................................................................................ 79 xi Figura 5.11 – Perfil dos clientes que participam do PDMA nas empresas de médio porte ........................................................................................................................................ 80 Figura 5.12 – Perfil dos clientes que participam do PDMA nas empresas de pequeno porte ........................................................................................................................................ 81 Figura 5.13 – Fases do PDMA em que os clientes participam ..................................... 82 Figura 5.14 – Freqüência com que os clientes são pesquisados ................................. 82 Figura 5.15 – Meios para captura das idéias dos clientes ............................................. 85 Figura 5.16 – Áreas envolvidas na captura de idéias dos clientes ............................... 86 Figura 5.17 – Avaliação final de projeto ............................................................................ 87 Figura 5.18 – Inovação do produto vs. Fonte de idéia ................................................... 88 Figura 5.19 – Sucesso do produto vs. Fonte de idéia .................................................... 88 xii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Comparação dos Modelos de Referência .................................................. 18 Tabela 3.1 - Fontes de idéias para novos produtos ........................................................ 28 Tabela 3.2 – Resumo das abordagens ............................................................................. 49 Tabela 3.3 – CRM vs. CEM................................................................................................. 57 Tabela 4.1 – Informações desejadas vs. perguntas do questionário ........................... 61 Tabela 5.1 – Porte das empresas ...................................................................................... 68 Tabela 5.2 – Relação entre o porte da empresa e a categoria de produto ................. 69 Tabela 5.3 – Relação entre a origem do capital e o porte da empresa ....................... 70 Tabela 5.4 – Idade média das empresas.......................................................................... 70 Tabela 5.5 – Relação entre a idade média da empresa e a exportação ..................... 71 Tabela 5.6 – Relação entre a atividade de exportação e o porte da empresa ........... 72 Tabela 5.7 – Idade média das empresas vs. Desenvolvimento de produtos ............. 74 Tabela 5.8 – Relação entre as fontes de idéias e a localização das empresas ......... 76 Tabela 5.9 – Relação entre as fontes de idéias e o porte das empresas ................... 77 Tabela 5.10 – Relação entre a existência de procedimento formal, porte, origem do capital e exportação.............................................................................................................. 83 xiii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIMAQ - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ANPEI - Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras CEM - Customer Experience Management CRM - Customer Relationship Management CNA - Confederação Nacional da Agricultura CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas CSMIA - Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas DNP - Desenvolvimento de Novos Produtos FIEP - Federação das Indústrias do Estado do Paraná FNQ - Fundação Nacional da Qualidade IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBK - Indústria de Bens de Capital IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada PDMA - Processo de Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas PDP - Processo de Desenvolvimento de Produto P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PINTEC - Pesquisa de Inovação Tecnológica QFD - Quality Function Deployment SAC - Serviço de Atendimento ao Consumidor Capítulo 1 Introdução 1 1 INTRODUÇÃO Diante do cenário competitivo e globalizado, da aceleração do ritmo de inovação tecnológica com o aumento da diferenciação de produtos, e da exigência cada vez maior dos consumidores, o processo de desenvolvimento de produto (PDP) se apresenta como uma alternativa eficaz, pois proporciona para as empresas produtos com qualidade, em menos tempo e com custos reduzidos. A redução do ciclo de desenvolvimento do produto é um dos principais responsáveis pelo aumento da competitividade das empresas. O diferencial proporcionado por um ciclo de desenvolvimentomenor é o lançamento antecipado de produtos, ou seja, é ser o primeiro a disponibilizar o produto no mercado. O encurtamento do tempo de desenvolvimento de produtos faz com que as empresas tomem decisões mais rápidas, desenvolvam novos produtos mais cedo e convertam as necessidades dos clientes em especificações do produto antes de seus concorrentes. Portanto, a inovação torna-se uma característica do processo devido ao rápido ciclo de desenvolvimento de novos produtos (CLARK e WHEELWRIGHT, 1995). O custo também pode ser um ponto de diferenciação. Empresas que oferecem produtos ou serviços semelhantes, muitas vezes concorrem por preço. Nesse contexto, é importante ressaltar a diferença entre preço e valor. Preço é o dinheiro gasto para adquirir um produto ou serviço, ou seja, é quanto os clientes estão dispostos a pagar, também chamado de preço prêmio. Valor é o benefício compensador proporcionado pelos produtos ou serviços. Muitas vezes os clientes só vêem preço e não enxergam o valor. Outro fator relevante para que as empresas sejam competitivas é a qualidade do produto ou serviço oferecido. De acordo com a NBR ISO 9000:2000 (ABNT, 2000), qualidade é o “grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos (necessidades ou expectativas)”. Dentro dessa linha, a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ, 2007) define qualidade como “a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas dos clientes e demais partes interessadas”. As partes interessadas são todos os envolvidos no processo (equipe de projeto, acionistas, fornecedores, comunidade, governo e demais agentes). Capítulo 1 Introdução 2 A qualidade está relacionada com a percepção do cliente, isto é, com a capacidade das empresas de desenvolver novos produtos ou serviços que atendam às necessidades dos clientes. Neste contexto, o desenvolvimento de produtos encontra-se na interface entre a empresa e o mercado ou entre a produção e o usuário (CARVALHO e TOLEDO, 2003). Produzindo com qualidade a empresa assegura maior atuação no mercado consumidor, possui maior competitividade, trabalha com preços mais estáveis e cria maior fidelidade dos consumidores. De acordo com Wesner et al. (1995), entre os ideais da qualidade está o foco no cliente. As empresas devem conhecer as necessidades, vontades e expectativas dos consumidores melhor que seus competidores e reconhecer a importância da satisfação dos clientes para o sucesso do negócio. O atendimento às necessidades e expectativas explícitas e implícitas dos clientes passou de um mero contentamento para o encantamento. Uma forma de conseguir isso é envolver os clientes no processo de desenvolvimento de produto, entendendo assim suas necessidades e prioridades. Segundo Ferreira (1986), cliente pode ser definido como “freguês”. O mesmo autor conceitua consumidor como “aquele ou aquilo que consome, que compra para gastar em uso próprio”. A definição de usuário é “que possui ou desfruta alguma coisa pelo direito de uso, utente” (idem). Para efeito desse trabalho, os termos cliente, consumidor e usuário serão utilizados como sinônimos. 1.1 Apresentação da Oportunidade A indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas (MIA) é bastante representativa para o país, tanto pela quantidade de empresas instaladas e conseqüente geração de empregos, quanto pela participação do setor no faturamento brasileiro. No entanto, o processo de desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas no Brasil é caracterizado pela informalidade, pois a maioria das empresas não adota e não utiliza procedimentos sistemáticos para sua realização. Os projetos realizados são essencialmente derivativos e adaptações de soluções já comercializadas (ROMANO, 2003). De acordo com Rozenfeld et al. (2006), em Capítulo 1 Introdução 3 países emergentes, como é o caso do Brasil, as atividades de desenvolvimento de produtos tradicionalmente são adaptações e melhorias de produtos existentes. As empresas, por meio dos seus gerentes de desenvolvimento de produtos ou profissionais responsáveis por esta área, precisam perceber a importância de estabelecer um PDP para atender as novas e mais exigentes demandas do setor. Cada setor industrial tem as suas particularidades no que diz respeito ao relacionamento entre o cliente e a empresa durante o processo de desenvolvimento de produto. O segmento brasileiro de máquinas e implementos agrícolas apresenta como característica a proximidade entre os usuários dos produtos e seus fabricantes. Essa proximidade não se refere à localização física da empresa e dos clientes, e sim à troca de informações que há entre eles. Esse relacionamento cliente-empresa pode acontecer principalmente por meio de visitas, clínicas de produtos, treinamentos e suporte técnico. Essa percepção foi obtida por meio de visitas a duas empresas desse setor, nas quais foram realizadas entrevistas com os responsáveis pela área de desenvolvimento de produto . A proximidade cliente-empresa é uma grande vantagem competitiva, principalmente em relação aos concorrentes estrangeiros, que muitas vezes desconhecem as necessidades dos agricultores e as condições do solo brasileiro. Considerando a importância da implementação das necessidades dos consumidores nos novos produtos e valendo-se da proximidade cliente-empresa no setor agrícola, essa dissertação busca verificar como ocorre a participação do cliente na geração de idéias de novas máquinas e implementos agrícolas. 1.2 Justificativa O desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio cada vez mais crítico para a competitividade das empresas, principalmente com a crescente internacionalização dos mercados, aumento da variedade de produtos e a redução dos seus ciclos de vida (ROZENFELD et al., 2006). A gestão do processo de desenvolvimento de produto (PDP) tem proporcionado o desenvolvimento tecnológico e o crescimento econômico do Brasil. A vantagem competitiva é alcançada pelas empresas por meio da aplicação de metodologias, técnicas e ferramentas que reduzem o ciclo de desenvolvimento dos Capítulo 1 Introdução 4 produtos e visam à qualidade. Desse modo, as empresas podem ter o diferencial de lançar novos produtos no mercado em menos tempo. O setor de máquinas e implementos agrícolas pertence à Indústria de Bens de Capital (IBK). Os bens de capital são definidos como bens que geram riqueza, ou seja, são as máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo para a fabricação de outros bens. A IBK está presente na cadeia produtiva da maior parte dos setores industriais, e se constitui em fundamental alavanca da economia, por meio da difusão de tecnologia e qualidade, essenciais para a produção competitiva de bens de consumo e serviços em um país. Trata-se de uma indústria estratégica para o desenvolvimento (VERMULM e ERBER, 2002). Na década de 90, a abertura da economia brasileira incentivou a concorrência na busca de melhorias para o país e o mercado passou a exigir produtos com maior diferencial e valor agregado. O setor agrícola foi o mais beneficiado com o novo cenário. Houve grandes prioridades orçamentárias por parte do governo para o setor, além de novas tecnologias disponíveis para que o país se tornasse um dos mais significativos do mercado mundial (HERRERA et al., 2004). A indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas é bastante representativa do ponto de vista econômico e social para o país. A importância desse setor como objeto de estudo se deve: a) À participação na economia brasileira. A participação do setor de máquinas e implementos agrícolas no faturamento brasileiro, em 2005, foi de 8%, de acordo com a ABIMAQ (2006b). Além disso, o crescimento do volume produzido e a recuperação dos preços desenharam um panorama de mercado mais aquecidoem 2007; b) Ao crescimento da indústria de máquinas e equipamentos, devido ao avanço do setor sucroalcooleiro, impulsionado pela forte demanda mundial de álcool; à retomada no setor de grãos; e à expansão do mercado de biocombustíveis. Segundo dados da ABIMAQ (2006b), o faturamento interno do setor brasileiro de MIA passou de U$ 1,1 bilhões em 2000 para U$ 2,2 bilhões em 2004. As exportações também aumentaram de US$ 125 milhões para US$ 536 milhões no mesmo período. De acordo com a ANFAVEA (2008), as vendas no primeiro quadrimestre de 2008 apresentaram uma alta de 54,4%, comparado com o Capítulo 1 Introdução 5 mesmo período do ano de 2007. O mercado de exportação também está em alta, devido à expansão das safras e das colheitas em outros países; c) Ao posicionamento do Brasil como centro de irradiação de tecnologia de máquinas agrícolas para países de clima temperado e tropical, cujas condições climáticas são similares (ABIMAQ, 2006a). A indústria de máquinas e implementos agrícolas está distribuída em todo o território nacional, com maior ênfase na região centro-sul. As características do solo brasileiro geram barreiras técnicas a produtos importados. Outro fator que pode beneficiar os fabricantes localizados no Brasil é a proximidade com o agricultor, estreitando a relação cliente -empresa. Para a sobrevivência e o sucesso dos negócios, é fundamental que as organizações fabriquem produtos que atendam às necessidades e expectativas dos clientes. Para isso, as empresas devem conhecer quem são os seus clientes e o que querem. Ouvir a voz do cliente torna-se uma atividade indispensável para conquistar e fidelizar os consumidores. Portanto, a relevância de realizar estudos sobre como ocorre a participação do cliente no PDP está em estabelecer mecanismos para facilitar a comunicação entre os clientes e a empresa. Desse modo, é possível criar procedimentos e obter resultados mais eficazes, pois a informação vem diretamente do cliente, o que aumenta a confiabilidade, e chega antes à empresa, reduzindo assim o tempo de desenvolvimento de produto . 1.3 Objetivos da Pesquisa Os objetivos desta pesquisa estão fundamentados na importância da voz do cliente na geração de idéias no setor de máquinas e implementos agrícolas. 1.3.1 Objetivo geral Este trabalho tem como objetivo investigar como ocorre a participação do cliente na geração de idéias, dentro do processo de desenvolvimento de novos produtos, especificamente no setor brasileiro de máquinas e implementos agrícolas, por meio de pesquisa quantitativa (survey). Capítulo 1 Introdução 6 1.3.2 Objetivos específicos Esse objetivo geral pode ser desdobrado nos seguintes objetivos intermediários: a) Caracterizar as empresas pesquisadas; b) Conhecer as generalidades do processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas (PDMA); c) Definir as principais fontes de idéias de novos produtos utilizadas pelas empresas brasileiras de máquinas e implementos agrícolas; d) Verificar como ocorre a participação dos clientes no PDMA; e) Identificar as fases do PDMA em que os clientes são envolvidos; f) Investigar quais são os meios utilizados para capturar as idéias dos clientes; g) Verificar quais são as áreas envolvidas (setores da empresa) na captura das idéias dos clientes; h) Verificar como as empresas consideram a relação entre a inovação do produto e a fonte de idéias e entre o sucesso do produto e a fonte de idéias. 1.4 Viabilidade da Investigação Para atingir os objetivos propostos, o questionário foi utilizado como instrumento de pesquisa. O questionário foi enviado por correio eletrônico para a população selecionada, juntamente com uma carta explicação contendo: a) Proposta da pesquisa; b) Instruções de preenchimento; c) Instruções para devolução; d) Incentivo para preenchimento; e) Agradecimento pela colaboração; f) Carta de garantia de sigilo das informações repassadas; g) Pedido de permissão para o uso das respostas na pesquisa. Os informantes-alvos são os profissionais da área de Marketing e Vendas das empresas. Estes setores são fontes vitais de informação, pois por manterem contato estreito com o cliente, a fim de saber quais são suas necessidades e o que vão consumir, acabam por obter um grande volume de informação relevante a respeito deles e de seus hábitos de consumo, permitindo identificar oportunidades de Capítulo 1 Introdução 7 desenvolvimento de novos produtos. Essas informações geralmente são capturadas e armazenadas no banco de dados relativo aos clientes para auxiliar a tomada rápida de decisões. O monitoramento contínuo do cliente permite saber o momento em que ocorre a superação tecnológica dos produtos oferecidos pela empresa, bem como o instante em que param de agregar valor ao cliente. De acordo com Veryzer e Mozota (2005), geralmente é através das áreas de Marketing e de Projeto que a perspectiva do usuário do produto é incluída no PDP. O setor de Marketing, portanto, tem um papel fundamental, identificando as necessidades dos consumidores e repassando essas informações aos projetistas. No caso dos funcionários dos setores de Marketing e Vendas não estarem disponíveis, a busca foi por um profissional da área de Desenvolvimento de Produto, de Engenharia ou até mesmo o Diretor da empresa (principalmente no caso de pequenas empresas). Para a realização da pesquisa foi utilizada a infra-estrutura do TIDeP (Núcleo de Tecnologia da Informação aplicada ao Desenvolvimento de Produto), laboratório localizado nas dependências da UTFPR. Os recursos necessários para a execução da pesquisa foram provenientes do projeto WP01-SP01, do Instituto Fábrica do Milênio (IFM). 1.5 Estrutura da Dissertação A presente dissertação foi organizada em seis capítulos. O capítulo 1 apresenta o problema de pesquisa, as justificativas, os objetivos e a viabilidade da investigação. No capítulo 2 são expostas considerações apresentadas pela literatura sobre o processo de desenvolvimento de produto, em especial o modelo de referência para o desenvolvimento de máquinas agrícolas (MR-PDMA) desenvolvido por Romano (2003), além de breve histórico do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil e do perfil dos clientes desse segmento. O terceiro capítulo aborda como ocorre a geração de idéias no desenvolvimento de novos produtos. Abrange questões sobre inovação, voz do cliente, cooperação e sucesso de novos produtos. Capítulo 1 Introdução 8 O capítulo 4 trata de metodologia de pesquisa, expondo e justificando o método de pesquisa empregado neste estudo, além de detalhar a seqüência de atividades para a execução da pesquisa. No quinto capítulo são apresentados os resultados alcançados com a aplicação do questionário. Esses resultados estão organizados conforme os objetivos específicos. A discussão dos resultados, a conclusão e as recomendações para trabalhos futuros encontram-se no capítulo 6. E seguem, após esses capítulos, as referências bibliográficas e os apêndices contendo a carta de apresentação, o termo de sigilo e o instrumento de pesquisa (questionário). Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 9 2 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO E A INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL Os tópicos a seguir referem-se à fundamentação teórica sobre o processo de desenvolvimento de produto no setor de máquinas e implementos agrícolas, apresentando o modelo de referência desenvolvido por Romano (2003) para esse segmento. Também é descrito um breve histórico do setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil e é traçado, de acordo com a pesquisa realizada pela CNA, em 1999, o perfil dos clientes desse setor. 2.1 Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) A elevada competição decorrente da internacionalizaçãodos mercados e o aumento da variedade de produtos aliados à exigência cada vez maior dos consumidores têm requerido a rápida introdução de novos produtos, com menores custos e melhor qualidade. A estruturação do desenvolvimento de produto torna-se uma atividade essencial para a permanência das empresas no mercado. De acordo com Clark e Fujimoto (1991), Ulrich e Eppinger (2004) e Pugh (1990), o processo de desenvolvimento de produto (PDP) consiste na transformação de oportunidades de mercado em bens e informações para a fabricação de um produto comercial, levando em conta as possibilidades e restrições tecnológicas. A essa definição Rozenfeld et al. (2006) acrescentam o acompanhamento do produto após o seu lançamento no mercado. O desenvolvimento de produto deixou de ser um processo composto por atividades isoladas e sob a responsabilidade de áreas funcionais como Marketing, Produção, Processo e Produto (COOPER, 2001). A gestão do PDP é bastante complexa, pois engloba o produto a ser desenvolvido, os processos, as pessoas e a organização. Além disso, lida com uma grande quantidade de informações e mudanças de origem econômica e tecnológica. De acordo com Rozenfeld et al (2006), muitos produtos desenvolvidos no Brasil, por se tratar de um país em desenvolvimento, são adaptações e melhorias de produtos existentes. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 10 Uma particularidade do PDP em relação aos outros processos é a natureza de suas atividades baseadas no ciclo de projetar-construir-testar. As quatro etapas básicas que constituem as atividades de projeto são: i) reconhecer o problema; ii) gerar alternativas; iii) analisar a viabilidade de cada alternativa; e iv) definir a solução mais adequada. Daí a importância da integração e sobreposição das fases entre as atividades, pois as atividades estão em contínua mudança podendo influenciar a outra (CLARK e FUJIMOTO, 1991). Além disso, essa particularidade faz com que o retrabalho nesse processo seja mais tolerado, já que está propagado no meio de interações entre as etapas e alterações consideradas normais (TOLEDO, 1993). A formalização do PDP aumenta a probabilidade de sucesso dos projetos, uma vez que acorda entre os envolvidos as metas do projeto, estabelece um plano que mostra o caminho a ser seguido, definindo as responsabilidades e o que será usado para medir o progresso do mesmo. Cria, também, uma comunicação constante e efetiva entre cada pessoa envolvida no projeto (ROMANO, 2003). Um processo de desenvolvimento de produto bem estabelecido e documentado permite que as melhores práticas sejam replicadas e considera as lições aprendidas, evitando cometer os mesmos erros de projetos anteriores. 2.1.1 Modelo de Referência para o PDP Modelo de referência é um modelo utilizado para descrever os vários elementos de um processo de negócio. Estabelece o conjunto de atividades necessárias para produzir um produto ou serviço, envolvendo diferentes funções da empresa. Segundo Vernadat (1996), o modelo de referência é um modelo parcial ou não, que pode ser usado como base (modelo ideal) para o desenvolvimento ou avaliação de modelos particulares. A modelagem do processo de desenvolvimento de produto (PDP) é o levantamento de como ele é praticado e sua descrição formal, por meio de fases, atividades, responsáveis, recursos disponíveis, informações necessárias e geradas. Essa formalização visa a construção de uma visão unificada, ou seja, de um referencial de melhores práticas. Os modelos contribuem para que as empresas passem a executar um processo de desenvolvimento de produtos mais formal e sistemático, integrado aos Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 11 demais processos empresariais, com participantes da cadeia de fornecimento, com os clientes finais e com o envolvimento mais cooperativo e harmonioso de todos os intervenientes (ROMANO et al., 2003). A utilização de modelos de referência acelera o processo de desenvolvimento, resultando em vantagem competitiva. Esse padrão de como desenvolver os produtos permite a repetibilidade do processo, além de minimizar as chances de erro por dificuldades de comunicação ou falta de integração entre os envolvidos. Os modelos de referência servem de parâmetro de comparação para as empresas avaliarem e incorporarem melhorias em seus processos. A utilização de modelos de referência também aumenta a chance de sucesso de novos produtos, pois prevê os problemas nas fases iniciais do projeto e ajuda a redirecioná-los, além de permitir priorização e foco no mercado. Entre os modelos encontrados na literatura, destacam-se, pelo nível de detalhamento, o de Pahl e Beitz (1996), o de Cooper (2001) e o de Rozenfeld et al. (2006). Modelo de Pahl e Beitz O modelo de desenvolvimento de produto proposto por Pahl e Beitz (1996) é um dos mais conhecidos. Essa proposta representa a estrutura de um modelo seqüencial interativo, conforme ilustra a Figura 2.1. Para esses autores, as etapas do desenvolvimento de produto concentram-se na resolução dos problemas de projeto e engenharia relacionados a produtos industriais, e iniciam-se com a geração de idéias e soluções de engenharia, sem uma vinculação explícita com o mercado. A primeira fase do processo (Esclarecimento da Tarefa) destina-se a uma análise detalhada do problema a ser solucionado ou da proposta de desenvolvimento de produto, de acordo com a situação do mercado e da empresa. Nessa fase, é realizado o levantamento do estado da arte, ou seja, a identificação do que já existe, e o cliente participa do PDP por meio do levantamento das suas necessidades (voz do cliente). Como saída desta etapa tem-se a lista de requisitos do produto. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 12 Figura 2.1 – Modelo de Pahl e Beitz (CAMARGO, 2007, adaptado de PAHL e BEITZ, 1996)1 Na próxima fase, denominada de Projeto Conceitual, a atividade principal é o desenvolvimento de um princípio de solução. Isso é alcançado por meio da identificação dos problemas essenciais, do estabelecimento de estruturas funcionais, da definição da função global e da busca de princípios de solução adequados. 1 Todas as figuras e tabelas sem indicação de fonte foram compiladas pela autora. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 13 A fase de Projeto Conceitual pode ser resumida nos seguintes passos: a) Abstrair e identificar os problemas principais; b) Estabelecer estruturas de funções, funções globais e funções parciais; c) Procurar princípios de solução que satisfaçam as sub-funções; d) Combinar princípios de solução que satisfaçam as funções globais; e) Selecionar as combinações adequadas; f) Estabelecer variantes de conceito; g) Avaliar variantes de concepção contra os critérios técnicos e econômicos. Partindo de um conceito do produto, o projeto é desenvolvido de acordo com os critérios técnicos e econômicos (Projeto Preliminar). O objetivo desta fase é satisfazer a uma dada função e selecionar a forma dos componentes, os materiais mais apropriados e definir o layout. O Projeto Detalhado é a fase das definições finais. A partir do que foi estabelecido no Projeto Preliminar, são estabelecidas as prescrições definitivas sobre a forma, dimensionamento e acabamento superficial das peças, além da especificação dos materiais, verificação das possibilidades de produção e dos custos envolvidos. É uma etapa que busca compatibilizar o projeto em estudo com os recursos disponíveis na empresa, para minimizar custos e facilitar o trabalho. O resultado dessa última fase é a solução do produto. Modelo de RobertG. Cooper Cooper (2001) apresenta o modelo denominado Stage-GateTM para o desenvolvimento de novos produtos (DNP), o qual representa o processo desde a descoberta de uma idéia até o lançamento do produto. Trata-se de um processo seqüencial, dividido em etapas ou estágios. Cada estágio compreende algumas atividades que devem ser completadas antes de iniciar a próxima etapa. Entre os estágios há os pontos de decisão, chamados de portões ou gates. A Figura 2.2 apresenta o modelo Stage-GateTM. O processo de desenvolvimento do produto (PDP) começa com a geração da idéia, que pode ser uma idéia de um novo produto ou uma melhoria. É nesse momento que o cliente pode ser envolvido no PDP: ele pode fazer parte da equipe de desenvolvimento ou ter sua idéia capturada pela empresa com o auxílio de Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 14 alguns métodos (e.g. pesquisa de mercado, reclamações, visitas). Essa idéia é avaliada no Portão 1 antes de passar para o Estágio 1 (definição do escopo). Esse primeiro estágio objetiva investigar o tamanho e o potencial do mercado, avaliar a viabilidade de desenvolvimento e de execução pela manufatura, além de levantar os custos e tempos de execução do projeto. No Ponto de Decisão 2 o projeto é reavaliado com base nas informações levantadas no Estágio 1. Neste ponto, o nível de incerteza quanto às informações disponíveis é menor e se a decisão for de continuar, o projeto entra para um estágio com maiores gastos. Figura 2.2 – Modelo Stage-GateTM (SILVEIRA, 2006 adaptado de COOPER, 2001) O Estágio 2 corresponde à avaliação do negócio. Neste ponto do processo são realizadas pesquisas de mercado para determinar as necessidades e desejos dos clientes; é determinado o público-alvo; é realizada a análise da concorrência; e são definidas as especificações do produto. Deve-se verificar se as soluções técnicas são economicamente viáveis. O Portão 3 é o último ponto no qual o projeto pode ser cancelado antes de se iniciar grandes gastos. Se as atividades anteriores foram realizadas conforme planejado e se os resultados foram positivos, o produto vai para o desenvolvimento. Uma análise financeira detalhada é importante para a tomada de decisão. Voz do cliente Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 15 O Estágio 3 corresponde ao desenvolvimento do produto. Ocorre paralelamente à execução de testes detalhados, ao planejamento do marketing e ao desenvolvimento dos processos de fabricação. Nesta etapa também é preparada uma análise financeira atualizada em conjunto com questões regulatórias, legais e de patentes. O trabalho do desenvolvimento é revisado e verificado no Ponto de Decisão 4, de forma a garantir que o projeto tenha atingido o nível de qualidade esperado. É realizada uma revisão da análise financeira com base em dados novos e mais precisos. O teste e validação (Estágio 4) avalia a viabilidade global do projeto, em termos do produto, do processo de produção, da aceitação do consumidor e de questões econômicas do projeto. Abrange testes no produto, produção piloto, pré-teste no mercado e revisão detalhada da análise financeira. Após esse estágio, deve-se decidir se o produto vai para lançamento ou não (Portão 5). Essa decisão é feita com base nos resultados obtidos na avaliação da qualidade da fase anterior, além das projeções financeiras. O Estágio 5 refere-se ao início da produção, lançamento do produto no mercado, implementação do plano de marketing e distribuição do produto. Após o lançamento do produto faz-se uma revisão crítica do desempenho do projeto, levantando pontos fortes e fracos e lições aprendidas, de modo a executar melhor o desenvolvimento de produto no futuro. O projeto deve ser encerrado, a equipe envolvida é liberada e o produto se transforma em mais um produto da empresa. Esta revisão marca o fim do projeto. Modelo de Rozenfeld et al. Rozenfeld et al. (2006) sugerem o modelo denominado Modelo de Referência (MR) para o desenvolvimento de produto, voltado principalmente para empresas de manufatura de bens de consumo duráveis e de capital. Esse modelo é uma proposta brasileira que engloba desde o planejamento estratégico da linha de produtos até a sua retirada no mercado, considerando todo o ciclo de vida do produto. Essa abordagem divide-se em três macro-fases (pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento), subdivididas em fases e atividades, Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 16 conforme a Figura 2.3 . O que determina uma fase é a entrega de resultados. O final de uma fase é delimitado pela avaliação de fase ou gate. A macro-fase Pré-Desenvolvimento possui as fases de Planejamento Estratégico dos Produtos e Planejamento do Projeto. Essa macro-fase envolve as atividades de definição do projeto de desenvolvimento (que deve ser alinhado aos objetivos da empresa), delimitação dos recursos, informações sobre os consumidores e levantamento das tendências tecnológicas e mercadológicas. O Desenvolvimento compreende as fases de Projeto Informacional, Projeto Conceitual, Projeto Detalhado, Preparação da Produção e Lançamento do Produto. Durante a fase de Projeto Informacional a equipe de projeto busca conhecer quais são os clientes envolvidos e identificar suas necessidades (voz do cliente). O objetivo dessa fase é chegar às especificações do produto. Figura 2.3 - Visão geral do modelo de referência (ROZENFELD et al, 2006) No Projeto Conceitual as atividades relacionam-se à busca de soluções já existentes (e.g. análise dos concorrentes), à criação de soluções, à representação das soluções e à seleção das alternativas de solução. O Projeto Detalhado visa finalizar todas as especificações do produto, resultantes do projeto conceitual, para encaminhá-lo à fabricação. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 17 A fase de Preparação da Produção abrange a produção do lote piloto, a definição dos processos de produção e manutenção, que são as atividades que objetivam a obtenção do produto. Já a fase de Lançamento do Produto envolve o desenho dos processos de venda e distribuição, atendimento ao cliente e assistência técnica e as campanhas de marketing. A macro-fase Pós-Desenvolvimento abrange as fases de Acompanhar Produto e Descontinuar Produto do Mercado. É durante essa macro-fase que a empresa começa a se beneficiar dos lucros esperados. A equipe de desenvolvimento avalia o desempenho do produto e a satisfação do cliente e decide por descontinuá-lo do mercado quando o produto não apresenta mais vantagens e importância do ponto de vista econômico ou estratégico. Este modelo ainda apresenta os processos de apoio Gerenciamento de Mudanças de Engenharia e Melhoria do Processo de Desenvolvimento de Produto. Esses processos estão diretamente ligados ao PDP e podem estar relacionados com qualquer uma das fases citadas anteriormente. Embora as fases estejam representadas de forma seqüencial, elas podem ser executadas paralelamente durante o projeto. A participação do cliente na geração de idéias de novos produtos nesse MR pode ocorrer tanto no Pré-Desenvolvimento, quando é definido o projeto, quanto no Desenvolvimento, quando são levantadas as necessidades dos clientes com a finalidade de se chegar às especificações do produto. Trata-se de um modelo para um processo genérico, que deve ser adaptado a cada caso e que permite todas as particularidades consideradas importantes pela equipe de projeto. Esse modelo é um agrupamento das melhores práticas referentes a abordagens, métodos e ferramentas presentes nas publicações sobre PDP. Comparação entre Modelos de Referência Os modelos de referênciaconsagrados (Pahl e Beitz, Cooper e Rozenfeld et al) contemplam as atividades que ocorrem durante o PDP. Todos eles apresentam etapas nas quais pode haver a participação do cliente no processo de desenvolvimento de produto. Com o objetivo de ilustrar as diferenças entre os modelos de referência, fez-se a Tabela 2.1. A tabela foi elaborada considerando as definições de Pré- Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 18 Desenvolvimento, Desenvolvimento e Pós-Desenvolvimento apresentadas por Rozenfeld et al (2006). A confrontação de tais modelos permite destacar: a) Pahl e Beitz apresentam um modelo de referência focado nas atividades relacionadas à fase de Desenvolvimento do produto, e não se aprofundam nas macro-fases de Pré-Desenvolvimento e Pós-Desenvolvimento; b) Cooper e Rozenfeld et al apresentam um modelo mais abrangente, contemplando também as macro-fases de Pré-Desenvolvimento e Pós- Desenvolvimento. Tabela 2.1 - Comparação dos Modelos de Referência Macro-fases do PDP Autores Pahl e Beitz Cooper Rozelfeld et al. Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento 2.2 Setor de Máquinas e Implementos Agrícolas no Brasil Após a Segunda Guerra Mundial, enquanto a mecanização se tornava forte em vários países europeus e nos Estados Unidos, a indústria brasileira ainda vivia em estado embrionário. Somente na década de 60, com a instalação no país da indústria automobilística e no rastro da indústria de tratores e colhedoras automotrizes é que o setor teve um impulso, passando de 291 empresas em 1960 para cerca de 600 em 1986, empregando cerca de 34 mil trabalhadores (ABIMAQ, 2006a). A indústria de máquinas e implementos agrícolas, que até a década de 1980 era constituída exclusivamente de empresas de capital nacional, com a abertura do mercado no início dos anos 1990 passou a se globalizar por meio da junção de empresas e do surgimento de novas marcas. A adoção de juros de mercado para o financiamento da produção agrícola e as frustrações ocorridas nos anos 90 causadas, principalmente, pela forte concorrência Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 19 externa, somada a problemas estruturais como o difícil escoamento da produção, levou o setor de máquinas e implementos agrícolas a uma situação bastante desfavorável. Porém, a partir do final da década de 1990 e com mais intensidade na década atual, em razão das boas safras e melhores preços dos principais produtos agrícolas, a produção de máquinas e implementos agrícolas aumentou e a competitividade reapareceu (PASQUAL e PEDROZO, 2007). Com isso, o mercado nacional de máquinas foi redesenhado com uma nova estrutura de revendas e assistência técnica, além de mudanças nas linhas de produtos desenvolvidos, como uma maior preocupação com o conforto e a segurança do operador. Segundo Romano (2003), o setor brasileiro de máquinas e implementos agrícolas (MIA) apresenta uma estrutura de mercado bastante heterogênea, com empresas de diferentes portes e com origens de capital distintas. Geralmente, as pequenas e médias empresas de capital nacional produzem implementos agrícolas, enquanto as de grande porte e multinacionais produzem tratores e colhedoras. As máquinas e implementos produzidos no Brasil dirigem-se a inúmeros mercados nos quatro continentes, pois foram desenvolvidas soluções específicas para atender a uma grande variedade de tipos de lavouras, diferentes tipos de solos, topografias, condições climáticas e de mão-de-obra. Além disso, as máquinas e implementos nacionais concorrem hoje em qualidade e produtividade com as mais avançadas do mundo. Nos últimos dez anos houve um encurtamento significativo do tempo de introdução das novas tecnologias trazidas de fora, como a eletrônica embarcada. Outra tendência é a procura de máquinas com maior capacidade de produção, o que obriga os fabricantes a fazer mudanças não só no tamanho dos equipamentos, mas no próprio conceito do projeto original (SAVANACHI, 2007). Os fabricantes nacionais de MIA desenvolveram eficientes sistemas de assistência técnica e de atendimento pós-venda – um fator fundamental para a conquista de novos clientes e a fidelização dos antigos. Serviços diversos, como treinamento para orientar o cliente quanto à forma de operar o equipamento adquirido, práticas de manutenção preventiva, uso de peças genuínas na reposição, manutenção feita por profissionais qualificados, treinamento e reciclagem de técnicos das concessionárias, entre outros, sempre foram levados a Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 20 sério pelos fabricantes, mas se intensificaram nos últimos anos em função da incorporação de novas tecnologias. O setor de máquinas e implementos agrícolas pertence à Indústria de Bens de Capital (IBK), que é a responsável pela fabricação de máquinas e equipamentos para suprir o setor de produção das demais indústrias. De acordo com e classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), a IBK representa a Divisão da CNAE 29 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), que contempla seis grupos, entre eles o de bens de capital agrícola. Esse grupo compreende máquinas e aparelhos para projetar, pulverizar ou irrigar produtos para uso agrícola; semeadores, plantadeiras ou adubadores; máquinas para colheita; e tratores agrícolas, inclusive motocultores. Outra classificação existente é a da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ, 2006a). Ela divide as empresas por ramos de atividades, de acordo com os produtos, em Câmaras Setoriais. Dentre elas está a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), que abrange vários sub-setores que vão desde o preparo do solo, plantio, colheita, até o armazenamento e o transporte de produtos agrícolas para o consumo direto ou para a indústria alimentícia. O Brasil é um núcleo de irradiação de tecnologia, no que diz respeito a máquinas agrícolas, principalmente para países com condições climáticas parecidas (ABIMAQ, 2006a). Coexistem, no país, empresas de pequeno, médio e grande porte, nacionais e multinacionais. As empresas desse setor tendem a se especializar em um conjunto definido de produtos. A indústria brasileira de máquinas agrícolas é bastante representativa do ponto de vista econômico e social para o país. A participação do setor de máquinas agrícolas no faturamento, em 2005, foi de 8%, de acordo com o Departamento de Economia e Estatística da ABIMAQ. No primeiro trimestre de 2007 houve o crescimento do setor de máquinas e equipamentos para agricultura, com alta de 13,1% (LAGE, 2007). A recuperação do agronegócio é decorrente do avanço do setor de açúcar e álcool no país, da retomada no setor de grãos e da fabricação de equipamentos para produzir biocombustível. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 21 De acordo com a ANFAVEA (2008), o mercado interno de máquinas e implementos agrícolas continua aquecido. As vendas no primeiro quadrimestre de 2008 tiveram uma alta de 54,4%, comparado com o mesmo período de 2007, com o total de 15.645 mil unidades. Os fatores que podem estar por trás desse aumento nas vendas são o crescimento da safra, a estabilização econômica do país, e, principalmente, a renovação da frota. O mercado de exportação também está em alta, devido à expansão das safras e das colheitas em outros países. O Brasil exportou 9,7 mil máquinas no período de janeiro a abril de 2008, superando em 37,3% as exportações de idêntico período de 2007. Em valores as vendas para o exterior representam mais de US$ 4,5 bilhões (ANFAVEA, 2008). 2.2.1 Processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas(PDMA) O processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas no Brasil é caracterizado pela informalidade, pois a maioria das empresas não adota e não utiliza procedimentos sistemáticos para sua realização. Mesmo em empresas com certo grau de formalidade são observadas deficiências durante o projeto do produto, principalmente devido a não aplicação de metodologias de projeto, o que dificulta a tradução das necessidades e expectativas do mercado em requisitos de produto (ROMANO, 2003). Conforme o mesmo autor, os projetos realizados são essencialmente do tipo derivativos e adaptativos, ou seja, melhorias de soluções já comercializadas e nacionalização de produtos. De acordo com Romano (2003), a maioria das empresas de máquinas agrícolas instaladas no Brasil envolve seis áreas no processo de desenvolvimento, a saber: 1) Marketing. Identifica a oportunidade por meio de informações vindas da área de Pós-Vendas; 2) Engenharia. Desenvolve o projeto, a partir da oportunidade identificada pelo setor de Marketing; 3) Manufatura. De posse do projeto, a área de Manufatura determina os processos, as competências não disponíveis e produz as máquinas requisitadas; 4) Compras. Identifica os potenciais fornecedores para a produção das máquinas; Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 22 5) Vendas. Vendem as máquinas aos clientes (revendedores e usuários finais); 6) Pós-Vendas. Fornece suporte às máquinas no campo. As atividades executadas por estas áreas são caracterizadas pelo seqüenciamento, havendo pouca ou nenhuma integração entre a Engenharia e a Manufatura. Contudo, o modelo praticado pelas empresas pode variar em função das suas características, como, por exemplo, porte, capital, capacidade produtiva e mercado de atuação. O processo de desenvolvimento de produtos desse setor é muito baseado na definição da demanda de mercado, onde se destacam os projetos incrementais, e na adaptação de concepções de máquinas já existentes. Como resultado tem-se produtos lançados no mercado com características muito parecidas aos dos concorrentes e com baixa inovação tecnológica. 2.2.2 Modelo de referência para o PDMA O modelo de referência para o processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas (MR-PDMA) proposto por Romano (2003) abrange três macro-fases: 1) Planejamento. Corresponde à fase de planejamento do projeto, cujo principal resultado é o plano do projeto da máquina agrícola; 2) Projetação. Envolve a elaboração do projeto do produto e do plano de manufatura. Compreende as fases de projeto informacional, projeto conceitual, projeto preliminar e projeto detalhado; 3) Implementação. Abrange a execução do plano de manufatura e o encerramento do projeto. Possui três fases: preparação da produção, lançamento e validação do projeto. Esse modelo foi desenvolvido visando disseminar o conhecimento sobre o processo de desenvolvimento de máquinas agrícolas, proporcionando o entendimento e a prática do processo. A Figura 2.4 ilustra o MR-PDMA, com as macrofases, fases e saídas. A fase de Planejamento do Projeto é usada para gerenciar e controlar a execução do desenvolvimento da máquina agrícola. Tem como resultado o plano de projeto. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 23 Figura 2.4 - Processo, macro-fases, fases e saídas do MR-PDMA (ROMANO, 2003) O Projeto Informacional apresenta os objetivos que a máquina deve alcançar, de modo a atender as necessidades dos clientes (voz do cliente). As especificações de projeto (resultado desta fase) são usadas para orientar o desenvolvimento dos projetos conceitual, preliminar e detalhado da máquina agrícola. O objetivo do Projeto Conceitual é verificar a viabilidade técnica e apresentar a concepção gerada para a máquina, de modo a atender as especificações do projeto. O Projeto Conceitual orienta o desenvolvimento dos projetos preliminar e detalhado. A fase de Projeto Preliminar visa determinar a viabilidade econômica de produzir a máquina agrícola e o Projeto Detalhado é usado para descrever e solicitar os investimentos necessários à implementação da produção. Na macro-fase de implementação, a primeira fase é a Preparação da Produção, cujo objetivo é descrever e liberar o produto para lançamento. Já na fase de Lançamento, o lote inicial produzido é liberado para comercialização. Por fim, a fase de Validação compreende as atividades de validação do projeto e registro do resultado do projeto. 2.2.3 Perfil dos clientes Para descrever o perfil dos clientes do setor agrícola, é importante ressaltar o perfil do próprio setor frente ao mercado. Dentro deste panorama, o segmento pode ser dividido em: i) agricultura familiar e ii) agricultura empresarial. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 24 A agricultura familiar pode ser definida como o sistema em que os membros da família se encarregam tanto das atividades produtivas quanto da gestão da propriedade rural (CNH, 2006). Essa é a principal diferença para a agricultura empresarial. O termo não está vinculado à pequena propriedade, pois, principalmente em países desenvolvidos, grandes áreas são cultivadas com gestão familiar. Porém, no Brasil, as pequenas propriedades são geridas quase exclusivamente pela forma familiar. De acordo com CNH (2006), na agricultura familiar a família mora na propriedade, enquanto o agricultor empresarial geralmente tem sua casa na cidade e contrata agrônomos, administradores e operadores de máquinas para fazer a terra produzir. Isso faz com que as famílias que vivem no campo invistam mais em culturas e criações de subsistência, com maior diversidade de lavouras que as áreas empresariais, geralmente dedicadas a uma ou duas culturas voltadas para a exportação (commodities). Conforme CNH (2006), a agricultura familiar contribui para a manutenção da biodiversidade, o equilíbrio do clima e também é um fator de segurança alimentar, pois as famílias produzem comida para seu sus tento e ainda abastecem as cidades próximas. Além de garantir a subsistência, os pequenos agricultores são os principais produtores de alimentos do país. De suas propriedades saem 67% do feijão, 84% da mandioca, 54% do leite, 58% dos suínos e 40% das aves e ovos consumidos pelos brasileiros. Embora ocupe apenas 25% das terras cultivadas, a agricultura familiar responde por quase 40% da produção agropecuária e 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Sua importância social é ainda maior: as 4,2 milhões de propriedades rurais familiares empregam 70% da mão-de-obra do setor e fazem com que 14 milhões de pessoas (mais de 7% da população nacional) permaneçam no campo (CNH, 2006). A Confederação Nacional da Agricultura (CNA, 2000) publicou uma pesquisa, realizada em 1999, que teve como objetivo determinar o perfil dos produtores rurais brasileiros e os sistemas de produção praticados. A amostra total da pesquisa foi dimensionada em 1.837 estabelecimentos rurais, abrangendo as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Pernambuco e Ceará, incorporando os principais sistemas produtivos da agricultura brasileira (agricultura do cerrado, agricultura do tipo colonial, agricultura tradicional e monocultores). Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 25 A partir da pesquisa foi possível verificar (CNA, 2000): a) A grande maioria dos responsáveis pelos estabelecimentos é constituída por proprietários de terra, que somam 85% da amostra. Os outros se dividem entre administradores, arrendatários, parceiros e ocupantes; b) A maior parte dos estabelecimentos está sendo gerida pelos próprios proprietários, ou seja, eles são as pessoas mais indicadas para tomar as decisões relevantes em relação à adoçãode tecnologia, à capitalização, à realização de investimentos, assim como migração e venda do estabelecimento; c) Com relação ao nível de escolaridade, a maior concentração está na faixa de baixa escolaridade (um a seis anos). O nível de escolaridade é uma variável importante para determinar a capacidade de se adaptar aos novos cenários do mercado e a capacidade do produtor de entender as informações pertinentes a novas tecnologias e práticas de cultivo; d) Entre os estabelecimentos estudados predominaram as pequenas unidades familiares, com área cultivada de até 20 hectares, mas sua participação na produção perde para os grandes estabelecimentos. Na região Sul, estes grandes estabelecimentos rurais contribuem com, aproximadamente, 70% da renda gerada com a produção agrícola e agropecuária; e) O padrão tecnológico é muito heterogêneo entre as regiões, atingindo uma dispersão de até seis vezes na comparação das médias regionais, do Sul em relação aos Estados do Nordeste. Isso é verificado por meio da renda por unidade de área; f) A mão-de-obra existente nos estabelecimentos rurais foi classificada em: mão- de-obra familiar, contratada fixa e contratada temporária. A mão-de-obra familiar é utilizada em 78% dos estabelecimentos estudados. Para os fins dessa pesquisa, os clientes do setor de máquinas e implementos agrícolas são classificados, de acordo com a área de suas terras e o volume de produção, em: grandes produtores, médios produtores e pequenos produtores. Além desses, também são considerados clientes desse segmento os operadores das máquinas, que trabalham para os produtores rurais, e os revendedores e locadores das máquinas e implementos agrícolas. Capítulo 2 O Processo de Desenvolvimento de Produto e a Indústria de Bens de Capital 26 2.3 Considerações Neste Capítulo, foram exploradas publicações relacionadas ao processo de desenvolvimento de produto (PDP) e ao setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil, segmento pertencente à Indústria de Bens de Capital (IBK). Dentro do PDP, foram relacionados os principais modelos de referência existentes para representar o desenvolvimento de um produto, dentre os quais se destaca o de Rozenfeld et al (2006), por se tratar de uma iniciativa brasileira. Os três modelos de referência descritos nesse capítulo contemplam a questão do cliente como fonte de geração de idéias. Partindo de um modelo de referência geral, aplicável para o desenvolvimento de qualquer produto, focou-se no desenvolvimento de máquinas agrícolas e foi citado o modelo de referência, desenvolvido por Romano (2003), específico para esse segmento de mercado (MR PDMA). Por fim, foi descrito o perfil dos clientes do setor de máquinas e implementos agrícolas. O próximo Capítulo abordará a etapa de geração de idéias no desenvolvimento de novos produtos, focando na participação dos clientes nesse processo. Capítulo 3 Geração de Idéias no Desenvolvimento de Novos Produtos 27 3 GERAÇÃO DE IDÉIAS NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Quando se fala em geração de idéias no desenvolvimento de novos produtos torna-se necessário definir o conceito de idéia. Para Koen et al. (2002), idéia é a forma mais embrionária de um novo produto ou serviço; é uma visão geral da solução para o problema identificado por uma oportunidade. Estes mesmos autores definem oportunidade como a “lacuna tecnológica ou de mercado existente entre a realidade atual e uma realidade imaginada, que permite obter vantagem competitiva, responder a uma ameaça, resolver um problema ou amenizar uma dificuldade”. A oportunidade pode ser resultante de uma atividade de projeto ou pode surgir de forma acidental. É importante também deixar claro a diferença entre os conceitos de idéia e alternativa. Uma vez identificada e analisada a oportunidade, dá-se início à fase de geração de idéias. Somente após as idéias terem sido selecionadas é que se inicia a definição do conceito, ou seja, a geração de alternativas conceituais de produto. São as alternativas de solução que se transformam em protótipos. Para Matthing et al (2001), gerar idéias é capturar como as pessoas podem imaginar o uso da tecnologia para criar produtos ou serviços que possam ajudá-las a atingir metas em suas vidas pessoais e profissionais. Para isso, utilizam-se técnicas de criatividade, como, por exemplo, brainstorming, brainwriting e mapa mental. De acordo com Stasch (1992) apud Neto e Junior (2003), há dez fontes básicas de geração de idéias para novos produtos. A Tabela 3.1 apresenta essas fontes básicas, as fontes secundárias e suas atividades de origem. A geração de idéias requer um alto nível de integração entre a fonte de idéias, o conceito, o produto e as considerações da produção (incluindo fornecedores). Isso pode melhorar a geração da idéia no que diz respeito à visualização ou conceituação, alinhamento da forma e alteração de projeto (VERYZER e MOZOTA, 2005). Capítulo 3 Geração de Idéias no Desenvolvimento de Novos Produtos 28 Tabela 3.1 - Fontes de idéias para novos produtos Fonte básica Fonte secundária Atividade de origem 1. P&D (laboratórios de pesquisa) Pesquisa focada no produto Pesquisa própria, contrato com universidades, monitoramento de centros e grupos de pesquisa, monitoramento de bases de patentes, parcerias. Pesquisa focada no processo Descoberta acidental 2. Gestão Idéia da direção da empresa Convicção da empresa Estímulo organizacional Reuniões de levantamentos de idéias, caixa de soluções Busca de soluções completas Estudos das necessidades dos clientes 3. Estratégia da empresa Abertura de novos mercados Valorização de tecnologias em outros setores Aumento da participação no mercado Complementação de funções e/ou novas funções para os produtos Ganhar a liderança do mercado Incrementar funções existentes Viabilizar a competitividade Reconceber o produto Sair de uma situação de dificuldade Lançar novas linhas de produtos ou desenvolver produtos para novos mercados 4. Distribuidores Mudança de distribuidores Sugestão de novos serviços ou forma de trabalho Sugestões dos distribuidores Mudanças no projeto ou embalagem 5. Fornecedores Oferta de novas matérias- primas Novas funcionalidades e/ou redução de custos 6. Consumidores Reclamações e sugestões de clientes Melhorias nos projetos de produto existentes Insatisfação dos consumidores Projetos usando novos conceitos 7. Mercado Identificação de necessidade não satisfeita Projeto de novos produtos e/ou reconcepção de produtos existentes Mudanças de comportamento Novos produtos para suprir novas necessidades Descoberta acidental Idéias de novos produtos geradas para necessidade pessoal ou vivência de uma situação 8. Exterior Novos produtos lançados em outros países Adaptação de produtos lançados no exterior às necessidades locais 9. Regulamentações e legislação governamentais Entrada em vigor de novas normas Mudanças nos produtos para atendimento da legislação e criação da necessidade de novos produtos 10. Programas nacionais de P&D Pesquisa financiada por agências de fomento e centros de pesquisa Adaptação de tecnologias para uso em novos produtos Fonte: Stasch, 1992 apud Neto e Junior, 2003. As idéias podem ter origem no mercado (market push) ou no desenvolvimento científico e tecnológico (technology push). Para Cooper (2001), as idéias ou as Capítulo 3 Geração de Idéias no Desenvolvimento de Novos Produtos 29 oportunidades podem surgir de duas formas: i) “de baixo pra cima”, provenientes de funcionários das áreas de Engenharia, Produção ou Vendas; ii) “de cima pra baixo”, alinhadas com o plano estratégico da empresa e conforme os mercados em que a empresa decidiu competir e das lacunas em seu portifólio de produtos. A etapa de geração de idéias está
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