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saberes.senado.leg.br Cerimonial no Ambiente Legislativo Sumário MÓDULO I - História e Conceitos Básicos ..................................................................................... 1 Unidade 1 - A importância do cerimonial nas organizações modernas .................................... 2 Unidade 2 - Evolução Histórica ................................................................................................. 8 Unidade 3 – Conceitos ............................................................................................................ 18 Unidade 4 - Fundamentos da Etiqueta, do Protocolo e do Cerimonial .................................. 25 MÓDULO II - Cerimonial Público ................................................................................................. 36 Unidade 1 -Precedência, a base do cerimonial público .......................................................... 37 Unidade 2 - O Decreto nº 70.274 ............................................................................................ 47 Unidade 3 - A Precedência no Âmbito Oficial ......................................................................... 53 Unidade 4 - O Emprego da Precedência, situações cotidianas ............................................... 61 MÓDULO III - O uso e emprego de símbolos: nacionais, estaduais e municipais ....................... 74 Unidade 1 - Os Símbolos Nacionais ......................................................................................... 75 Unidade 2 - A Bandeira Nacional ............................................................................................ 82 Unidade 3 - O Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo .................................................... 91 Unidade 4 - O emprego correto dos símbolos ...................................................................... 101 Módulo IV - Planejamento de Cerimônias ................................................................................ 110 Unidade 1 - Tipos de Eventos ................................................................................................ 111 Unidade 2 - A organização de eventos .................................................................................. 121 Unidade 3 - O "Check-list". Convites. Roteiro para locutor. ................................................. 128 Unidade 4 - A Mesa ............................................................................................................... 137 Conclusão .............................................................................................................................. 147 Cerimonial no Ambiente Legislativo 1 MÓDULO I - História e Conceitos Básicos Ao final deste Módulo, o aluno será capaz de: o discriminar a importância do cerimonial nas organizações modernas; o contextualizar suscintamente a evolução histórica do cerimonial; o diferenciar os conceitos cerimonial, protocolo e etiqueta; e, o diferenciar particularidades dos fundamentos do cerimonial, do protocolo e da etiqueta. Cerimonial no Ambiente Legislativo 2 Unidade 1 - A importância do cerimonial nas organizações modernas “Ao longo da carreira, aprendi que a principal característica das atividades de protocolo consiste, ao mesmo tempo, na importância das sutilezas e em que tudo passe despercebido, o que é um desafio mais complicado do que aparenta a um olhar leigo.” Embaixador Sebastião do Rego Barros Olá! Você está pronto (a) para iniciarmos o nosso curso? Então, mãos à obra! Cerimonial no Ambiente Legislativo 3 Para começar, vamos refletir um pouco sobre a importância do cerimonial. Destacar a necessidade da sua correta utilização nas organizações não é muito difícil. O seu significado já extrapolou o ambiente oficial e faz parte da vida das pessoas. Hoje em dia todo mundo fala de cerimonial e protocolo com uma certa intimidade, não é? Até parece que todo mundo entende do assunto ou é obrigado a entender. Por outro lado, vemos profissionais de outras áreas envolvidos na organização de solenidades e cerimônias, sem o menor conhecimento das técnicas e instrumentos utilizados, e até da legislação que rege as atividades oficiais. Vamos fazer um teste? Pegue um papel e uma caneta e procure listar as situações, em seu ambiente de trabalho ou fora dele, em que você presenciou ou vivenciou o uso incorreto das normas de cerimonial. A lista é grande, não é? Cerimônias de casamento, confraternizações, composição de mesas erradas, formaturas, cerimônias escolares, seqüência da cerimônia trocada, precedências erradas, bandeiras postas em lugares indevidos, atraso de autoridades, etc. Os exemplos parecem não ter fim. Mas, apesar dessa universalização e aparente massificação, a atividade de cerimonial vem se consolidando como uma atividade de suma importância no dia a dia de todas as organizações, notadamente as públicas. Cerimonial no Ambiente Legislativo 4 No legislativo federal, estadual e municipal o seu exercício é determinante para o bom andamento dos variados eventos que caracterizam a natureza de nosso Parlamento, Assembléias e Câmaras Municipais. São sessões solenes, especiais, compromissos constitucionais, cerimônias de instalação, lançamentos, visitas oficiais e de cortesia, ou seja, uma sucessão de fatos solenes ou não, em que o responsável pelo cerimonial tem de conduzir o seu andamento de forma a garantir o sucesso do evento e não comprometer a imagem da instituição e da autoridade que a preside. Por isso, é necessário que o profissional responsável ou envolvido com as atividades de cerimonial de uma casa legislativa estude, pesquise e se atualize sempre sobre o assunto. A razão da importância O mundo vem passando por um processo de desenvolvimento em todos os aspectos e setores, fato sem precedentes na história da civilização. As pessoas no âmbito pessoal, profissional ou coletivo são bombardeadas, continuamente, por um volume de informações que se propaga em progressão geométrica. A reação a este movimento é uma natural procura por mais informação devido ao interesse despertado. Cerimonial no Ambiente Legislativo 5 O tão falado processo de globalização incrementou e tornou as comunicações instantâneas, aproximando e estreitando os laços entre os indivíduos seja em escala local, regional ou mesmo mundial. Em função disso, você deve estar reparando que, hoje, as pessoas se relacionam mais, e, em consequência, há um aumento natural das relações entre as organizações, o que resulta numa maior visibilidade e significação das atividades oficiais. Hoje, cada vez mais, a sociedade, como um todo, exige e clama por transparência em relação aos assuntos públicos e oficiais. Não há justificativa para a existência de organizações públicas fechadas e distantes da população, e afastadas da opinião pública pelo isolamento de seus atos. E no Legislativo, onde se encontram os representantes da população, essa situação é simplesmente impensável, concorda? As organizações, na busca constante pela excelência, pela transparência, por relações duradouras com seus públicos e pela conquista de uma boa imagem perante a opinião pública, começam a reconhecer a importância da ação do cerimonial. Os resultados de sua ação direta na organização de solenidades, programas de visitas, agenda de autoridades e recepções oficiais, contribuem de maneira concreta para o estabelecimento de relações oficiais e institucionais sólidas, equilibradas e de respeito mútuo. Cerimonial no Ambiente Legislativo 6 O Cerimonial hoje Nos dias de hoje,de acordo com o Embaixador Augusto Estellita Lins (1991:13), podemos identificar duas correntes ou escolas: a escola formalista segue regras estritas para cada circunstância. Seu exemplo máximo é o protocolo de corte encontrado no Vaticano, em casas reais européias e na Corte Japonesa. A outra corrente é da escola política ou utilitária, mais adaptada às implicações econômicas, sociais e políticas modernas, que simplifica o protocolo e o adapta a outros interesses. Na verdade, num mundo em que o conceito de tempo extrapolou a sua significância original, medidor da passagem da vida, para ser uma referência de valor econômico e medidor qualitativo de atuação profissional, a visão de longas cerimônias, almoços e banquetes com horas de duração, solenidades com início determinado e sem término previsto, tornaram-se totalmente anacrônicas. Por isso, observa-se, cada vez mais, uma tendência que tende a moldar o dia a dia do cidadão, bem como das instituições. O profissional envolvido com os assuntos de cerimonial não pode deixar de estar atento a este movimento universal que objetiva simplificar o cotidiano das instituições e organizações. Ou seja, a palavra de ordem nas relações, hoje em dia, é simplificação, o que não implica na redução de importância das instituições ou autoridades que as representam ou a elas estão ligados. Como bem coloca Lins (1991:14), esta simplificação de procedimentos não implica no abandono dos atributos de educação, discrição e bom gosto, que devem permear toda e qualquer ação de cerimonial, bem como o entendimento, claro, de que os princípios que regem a ação do profissional Cerimonial no Ambiente Legislativo 7 aqui tratado, obrigatoriamente, devem ser o de generosidade, humildade e real interesse pelas pessoas. Recapitulando, vimos nesta unidade o relevo das ações do cerimonial, e como elas são importantes numa casa legislativa. Deu para você perceber como é necessário estar bem preparado para atuar na área? Que bom! Então podemos continuar. Cerimonial no Ambiente Legislativo 8 Unidade 2 - Evolução Histórica “Não acreditamos que haja cérebro que possa guardar nos mínimos detalhes as disposições vigentes dos cerimoniais. Acreditamos, entretanto, que é preciso sentir seus princípios básicos e sua origem e história para num determinado momento estarmos aptos a decidir, e por que não – improvisar, dentro de uma linguagem onde a tônica constante é o respeito recíproco e a solidariedade” Nelson Speers O Kwaryp kamaiurá na aldeia de Ipavu Carmen Junqueira e Vaneska Taciana Vitti http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/988279/mod_book/chapter/72437/O%20kwaryp%20kamaiura.pdf Cerimonial no Ambiente Legislativo 9 Apresentação É muito importante estudar as origens do cerimonial, a sua história, de forma a entendermos melhor a aplicação das regras e normas atualmente empregadas. Na primeira unidade, você estudou sobre a importância do cerimonial para as organizações modernas, e que a grande tendência é um processo de simplificação em função das características do mundo moderno. Mas, nem sempre foi assim. Os códigos e normas de cerimonial eram muito mais complicados. Você deve lembrar que, nas civilizações antigas, os reis e imperadores eram identificados com o Deus de suas crenças, ou seja, eram a própria divindade na terra. Daí você pode imaginar a complexidade dos rituais e cerimônias. Mas, onde estão as origens do cerimonial e do protocolo? Onde encontrá- las? Vamos pesquisar? Cerimonial no Ambiente Legislativo 10 Os primeiros registros Nos registros encontrados das primeiras grandes civilizações (egípcia, chinesa, persa, indiana, mesopotâmica, grega, romana, etc), vamos encontrar códigos, conjuntos de normas e preceitos, bem como sistemas estruturados e rígidos de práticas de cerimonial voltados para o dia a dia das cortes, da burocracia oficial e religiosa e até para os cidadãos comuns. Em cada civilização, as normas definiam, em maior ou menor grau de complexidade e detalhamento, o comportamento nas cortes, a maneira de se dirigir aos governantes, as relações entre governos com outros povos, a troca de presentes, cerimônias do dia-a-dia, do casamento ao funeral, dentre outras situações. Onde você imagina que são encontrados esses registros? Pense um pouco e responda. Muito bem! Acredito que você tenha respondido algum dos seguintes registros: na literatura, no Antigo Testamento, em documentos históricos e nos registros em monumentos. Nos exemplos dados são encontradas diversas referências ao enfoque dado ao cerimonial pelos antigos, principalmente nos assuntos de precedência, normas ritualísticas e de comportamento. Cerimonial no Ambiente Legislativo 11 Alguns exemplos nas civilizações antigas Agora vamos conhecer alguns exemplos de situações de cerimonial e protocolo ao longo da história da civilização. Do terceiro milênio antes de Cristo, existem registros da civilização suméria, que tinha, já naquela época, indícios de uma organização de protocolo: “Na cidade de Mari, o palácio tinha uma área superior a 3 hectares e possuía quase trezentos aposentos. Em meio a tanto esplendor, instalado num trono sobre uma plataforma elevada, o lugar conduzia os negócios de governo, recebia emissários de outras cidades-estado ...” (Editores Time-Life Livros, 1989:27) Ainda, no Palácio de Mari: “... o rei, frequentemente, recebe os grandes personagens do império, os chefes costumeiros e os reis vassalos, bem como os representantes dos soberanos vizinhos, para banquetes que acontecem à noite na corte, e talvez na grande sala adjacente ao pátio interno. Um cerimonial rigoroso comanda o desenrolar do banquete: o rei é servido primeiro e, quando quer honrar um de seus convidados, ele mesmo lhe apresenta o prato do qual acabou de se servir. Em geral, os comensais ficam reunidos em grupos definidos com antecedência e correspondendo a seu estado, profissão ou, para os embaixadores, seu país de origem”. JOANNES (1998:59) Cerimonial no Ambiente Legislativo 12 Muito avançado para a época, você não acha? A pompa das cortes dos faraós no antigo Egito é de conhecimento generalizado, não é mesmo? Segundo SPEERS (2004:39): “O Rito da Casa da Manhã previa o banho do Faraó com água sagrada, simbolizando diretamente, um novo nascimento. Era função de dois sacerdotes, que faziam com máscaras: uma do touro IBIS, outra do falcão HORUS; ao vesti-lo e ungi-lo, investiam-no simbolicamente com os poderes dessas duas divindades. A seguir, o Faraó dirigia-se ao templo de RA, onde rompia o lacre de argila da porta, simbolizando a abertura do céu, com sua identidade de SOL. Aí, então, despertava o deus RA, oferecia-lhe alimentos, paramentava-o luxuosamente, pintava seu rosto e colocava emblemas reais. Feito isso, retirava-se lacrando a porta novamente com argila e apagando seus passos com uma folha de palmeira” Já para os assuntos de Estado, o Faraó considerava o comércio como uma questão diplomática, a ponto de que os acordos comerciais entre o Egito com outros povos eram realizados pelos embaixadores egípcios ao trocarem presentes com os monarcas estrangeiros. Cerimonial no Ambiente Legislativo 13 Os hititas que se estabeleceram na Anatólia (região entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo) por volta de 1.500 a.C. eram detentores de um código de leis bem definido e, mesmo sendo um povo extremamente guerreiro, foram pioneiros da arte da diplomacia. Pode-se afirmarque eram especialistas na arte de negociar e estabelecer tratados. Mais ou menos um século depois, por volta de 1.400 A.C., os olmecas se estabeleceram no Golfo do México e desenvolveram uma complexa civilização que privilegiava extensos centros cerimoniais e, além das conquistas, operavam uma espécie de “consulado comercial”. O historiador Heródoto relata que, no século VII a.C., o rei dos medos, povo que deu origem à antiga Pérsia, “governava a partir de uma fortaleza no topo de uma colina em Ecbátana ... ninguém podia rir ou cuspir na presença do rei e toda a comunicação com este se fazia por um intermediário” (Editores Time-Life Livros, 1989:13) Você sabia que um dos sistemas mais completos e complexos de cerimonial conhecido das civilizações antigas é da época de Chou Kung, fundador da dinastia Chou, da China do século XII a.C.? É SPEERS(2004:40) quem relata: “Estevão Cruz, em sua “História Universal da Literatura”, dá-nos notícia do Chu-Li e I-Li ... obras importantes para o conhecimento da história chinesa no que respeita ao governo da dinastia Chu. O primeiro descreve o complicado sistema administrativo e o segundo, em 17 livros, trata do ritual a ser observado nas cerimônias religiosas e profanas” Cerimonial no Ambiente Legislativo 14 Você deve ter reparado que com toda esta preocupação em ordenar tanto a vida da corte, como também a vida do cidadão comum, os chineses, no passado, foram os grandes mestres da arte do cerimonial. Mas, vamos continuar, com mais dois exemplos de civilizações antigas. Há registro de que entre os celtas, 600 a.C., a disposição dos participantes nos banquetes era definida por um protocolo extremamente rígido: membros da alta nobreza, mais corajosos, mais ricos, e melhores contadores de história. Em 500 a.C., sempre que o Imperador Dario da Pérsia se deslocava de uma capital para outra: “se fazia acompanhar por um prodigioso séquito. Havia um secretário para assuntos administrativos, um mestre de cerimônia para o protocolo, um provador que experimentava a comida do imperador, o condutor do carro real, um par de nobres que carregavam a lança e o arco reais, um grupo de sacerdotes magi, dezenas de nobres ... comandantes militares e um corpo de guarda com mil soldados ... suas seis esposas, 360 concubinas, e os eunucos para servi-las” (Editores Time-Life Livros, 1989:32) Cerimonial no Ambiente Legislativo 15 Dá para imaginar o trabalho desse mestre de cerimônia para o protocolo! Da Idade Média à Revolução Industrial Vamos dar um salto no tempo. As relações são outras, mas você ainda irá encontrar um componente de força muito explícito nas relações entre os estados. A precedência entre nações e seus representantes ainda é pelo critério da força, como veremos mais a frente quando estudarmos precedência. Mesmo assim, na Idade Média tem origem o comportamento cortesão e castelão, que vai se consolidar no Renascimento. É nesta época que se desenvolvem o código de cavalaria e também as regras e princípios da Heráldica. A influência do Império Romano no Oriente se faz sentir nas cortes europeias. O esplendor de Bizâncio é fonte de inspiração para o movimento de ostentação que se inicia nas referidas cortes, notadamente na francesa e na Santa Sé, espalhando-se por toda a Europa. Cerimonial no Ambiente Legislativo 16 Chegamos a era Napoleônica, e de acordo com LINS (1991:23): “a fúria codificadora de Napoleão e o volume crescente de negociações, reuniões, conferências e congressos internacionais contribuíram para disciplinar e regulamentar o protocolo e o cerimonial de todos os países, consagrado as normas estabelecidas pela tradição e pelo costume e estabelecendo outras mais racionais ou decorrentes de novos conceitos”. Com a Revolução Industrial, temos a crise das elites e o aparecimento dos regimes republicanos, que mudaram não só os regimes de governo, mas também alteraram as normas de convívio social para um ordenamento menos formal, o que afetou diretamente as normas de cerimonial e protocolo. Século XX e XXI Cerimonial no Ambiente Legislativo 17 Para você, não deve ser novidade o fato de que durante o desenvolver do século XX e o início deste século presencia-se uma influência cada vez maior da mídia no dia a dia das pessoas, o acentuado processo de globalização e o desenvolvimento, numa escala nunca antes vista, das comunicações organizacionais e pessoais propiciadas pelo advento da internet e da telefonia celular. Tal processo midiático da sociedade alterou significativamente a etiqueta e as normas protocolares, propiciando uma maior interação e aproximação entre as nações, as organizações e fundamentalmente entre as pessoas. Para terminar esta unidade é interessante ressaltar que as mudanças na etiqueta e normas de cerimonial e protocolo da sociedade ocidental, estão intimamente ligadas às trajetórias percorridas pelas suas elites ao longo dos últimos séculos, como podemos observar no seguinte esquema: Ao concluir, acredito que esta pequena revisão histórica o ajudou a conhecer um pouco das raízes do cerimonial e a entender que as normas e procedimentos que adotamos no nosso dia a dia profissional têm uma razão de ser e estão diretamente ligadas ao nosso processo evolutivo. Cerimonial no Ambiente Legislativo 18 Unidade 3 – Conceitos “Quando dizemos que algo é protocolar, damos ao termo o sentido de algo artificialmente formal. Já cerimonioso dá ideia de formas exteriores tais como mesuras, gentilezas, manifestações de respeito em linguagem de elite” Embaixador Augusto Estellita Lins O império da lei: ensaio sobre o cerimonial de sagração de D. Pedro I (1822) Eduardo Romero de Oliveira Apresentação Vamos agora estudar as definições e conceitos de cerimonial, protocolo e etiqueta. Como você verificou na unidade anterior, a sociedade evolui ao longo do tempo e assim também as formas de se comportar e de se relacionar. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/988279/mod_book/chapter/72436/O%20imperio%20da%20lei.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/988279/mod_book/chapter/72436/O%20imperio%20da%20lei.pdf Cerimonial no Ambiente Legislativo 19 Todo este conjunto de práticas está diretamente relacionado e constitui o que normalmente a maioria das pessoas conhece como etiqueta, protocolo e cerimonial. Neste processo, toda sociedade, ao longo de seu desenvolvimento, reúne um conjunto de normas jurídicas aliadas a regras de comportamento acordadas de forma consensual pelo grupo ou conjunto social. Estas se associam a tradições, normalmente transmitidas de forma oral de geração em geração, aos atos e costumes de uso geral, e à moda, hábitos, crenças, mitos e tabus, que caracterizam e particularizam cada nível social. Uma breve introdução Cerimonial, protocolo e etiqueta são termos usualmente utilizados como sinônimos. Esta confusão é natural, visto que a maioria dos especialistas que trata do assunto difere nas suas abordagens. Cerimonial no Ambiente Legislativo 20 Tal divergência não surpreende, pois tanto o cerimonial, quanto o protocolo e a etiqueta são códigos que se estruturaram a partir das relações humanas e tiveram por base os costumes aceitos por uma determinada sociedade, num determinado período. O objetivo comum destes três conceitos é sistematizar as relações sociais, servindo de parâmetro para a atuação dos indivíduos, organizações e governos. Quem faz uma ótima descrição sobre o tema é MELLO (1962:298): “Protocolo e cerimonial em sentido amplo são expressões sinônimas cuja finalidade consiste, principalmente, em resolver o problema dasprecedências. Este, por sua vez, reúne-se numa questão de ordem de lugares. Em sentido restrito, significam o nome da seção ou divisão que, no Ministério das Relações Exteriores, entre outras atividades, tem a zelar pelo cumprimento do cerimonial do País” Como você já deve ter percebido, os termos cerimonial e protocolo, apesar de distintos, são empregados de maneira indiscriminada. Os conceitos Agora, vamos aos conceitos: O Cerimonial, em termos gerais, estabelece a sucessão dos atos de uma cerimônia ou evento. Trata-se de um roteiro geral a ser aplicado e respeitado por todos aqueles que participarão do ato. Cerimonial no Ambiente Legislativo 21 Por suas características intrínsecas, o cerimonial tem a responsabilidade de promover a harmonia entre todos os participantes, respeitando os níveis hierárquicos das autoridades presentes, por meio do uso adequado da precedência, seu principal instrumento de orientação. Podemos afirmar que é uma síntese dos usos e costumes, das tradições e principalmente das leis e normas adotadas na diplomacia, e, na maior parte das vezes, consagradas em acordos e tratados internacionais. Protocolo é o conjunto de normas, regras e códigos utilizados nas cerimônias e atos oficiais. É reconhecido internacionalmente como um sistema de cortesia. Refere-se tanto às práticas adotadas por um país no seu relacionamento com as demais nações estrangeiras, quanto às práticas dos atos oficiais do governo no âmbito interno. Pode-se definir etiqueta como o conjunto de normas e padrões de comportamento social adotados por uma sociedade. Em decorrência da dinâmica social, as regras de etiqueta estão em constante processo de transformação e adequação. Cerimonial no Ambiente Legislativo 22 A etiqueta é o sistema que indica a forma adequada de um indivíduo viver e conviver em sociedade, abordando aspectos como: vestuário, alimentação, como convidar e ser convidado, a comunicação pelo uso da linguagem escrita, oral e gestual etc. Dessa forma, possibilita que o convívio social se recubra de uma atmosfera agradável e harmoniosa, evitando situações de embaraço e conflito. “A etiqueta é um fenômeno de cultura popular. Os ingredientes culturais da etiqueta são a cordialidade e a hospitalidade.” LINS (1995:25) Conclusão A partir dessas definições podemos estabelecer a seguinte correspondência: Cerimonial no Ambiente Legislativo 23 O CERIMONIAL é a FORMA no sentido de estruturar, organizar e caracterizar uma solenidade, cerimônia ou evento; o PROTOCOLO é a NORMA que diz respeito às leis e regulamentos a serem obedecidos e aplicados; e, a ETIQUETA corresponde à CONDUTA que os participantes dos eventos e solenidades devem seguir. Com as definições acima, você já tem condições e elementos para concluir que o profissional que atua na área de cerimonial de uma Assembleia Legislativa ou Câmara Municipal, quando planeja uma cerimônia, tem que ter em mente a diferenciação apresentada. Com esse entendimento, ficará mais fácil você planejar o evento e saber que instrumentos empregar, além de auxiliar os participantes do evento, autoridades e convidados, com o fornecimento das informações corretas de forma a evitar constrangimentos ou embaraços do tipo “Eu não sabia” ou “Não fui informado”, que com certeza estragam o brilho de qualquer cerimônia e estressam a equipe e as autoridades envolvidas. Outro aspecto importante a ser observado é que se você conduzir e organizar uma solenidade de forma correta, a instituição sairá valorizada e com uma boa imagem perante a opinião pública. O que contribuirá para que a Casa Legislativa atinja os seus objetivos e atenda os interesses da comunidade onde ela se insere. Cerimonial no Ambiente Legislativo 24 Atuando com essa compreensão, ficará mais fácil para você dar o destaque e a posição correta que as autoridades têm direito e tornará mais clara para os demais convidados a razão dessa diferenciação. Cerimonial no Ambiente Legislativo 25 Unidade 4 - Fundamentos da Etiqueta, do Protocolo e do Cerimonial “Rituais existem e é bom que sejam respeitados. Mas tudo tem hora e razão de ser. Exigir um comportamento formal sem motivo não faz nenhum sentido” Gloria Kalil Na unidade anterior, você aprendeu as diferenças conceituais entre etiqueta, protocolo e cerimonial, e como os termos são utilizados, indiscriminadamente, em muitas situações. Cerimonial no Ambiente Legislativo 26 Esta situação se deve ao fato de que as ações de cerimonial se fundamentam em valores que a sociedade estabelece como padrão de conduta. LINS (1991:27) faz uma colocação precisa sobre o assunto: “Os usos e costumes podem assumir a expressão de normas e regras de conduta que reduzem a preceito tudo aquilo que se verifica pela experiência ancestral que é benéfico ao grupo e as relações com os demais grupos. Nesse conjunto de preceitos estão em geral incluídas regras de asseio e higiene, bom-tom à mesa, respeito entre as pessoas para preservar a estrutura social, culto aos antepassados e, finalmente, honras aos deuses ou aos espirítos, ao rei e às autoridades” Pare e pense a respeito do que você acabou de ler. Para refletir: Você concorda com a opinião do autor? Depois dessa reflexão, você está pronto para estudar algumas funções humanas que, segundo o autor, dão origem à etiqueta e fundamentam as ações de protocolo e cerimonial: a alimentação e o vestuário. Cerimonial no Ambiente Legislativo 27 Alimentação Como é do seu conhecimento, a alimentação é a função básica de sobrevivência da espécie humana. Mas, ao longo do tempo, as diversas civilizações desenvolveram rituais e recobriram o ato de se alimentar de uma significância além da sobrevivência, como atestam as comemorações, as celebrações, as festas e os banquetes. Cerimonial no Ambiente Legislativo 28 As normas e procedimentos relacionados com a alimentação variam de cultura para cultura. Cada sociedade estabelece, com base no senso comum às regras de boas maneiras à mesa, as receitas, a ordem dos pratos, os menus, a relação e adequação das comidas e bebidas e o serviço. Tudo isso é muito importante. Mas, o mais importante é que você, como encarregado do cerimonial, deve ter sempre em mente que nem sempre o orçamento e as condições de infra-estrutura do local permitem organizar aquele banquete no almoço, uma recepção sem precedentes ou um grande jantar de gala. O que fazer, então? Planejar com cuidado e realizar com o maior capricho aquilo que é possível executar. Se não tem garçons e “maitres” suficientes para servir, então não é viável empregar o serviço francês ou inglês. Por que não optar pelo serviço americano, onde as pessoas se dirigem ao ”buffet” para se servir? Bem mais simples, não? Cerimonial no Ambiente Legislativo 29 Se os convidados são menos solenes e mais informais, talvez uma boa peixada ou um prato típico da região, que as cozinheiras locais são mestras em preparar, faça mais sucesso do que um “menu” com receitas estrangeiras e de difícil preparo. Hoje, colocar as travessas diretamente em cima da mesa do almoço ou jantar, já é aceito e característico do serviço brasileiro. Mas, cuidado! Este tipo de serviço é apropriado apenas para ocasiões informais. Cerimonial no Ambiente Legislativo 30 Outro cuidado que se deve ter, com respeito à alimentação, é não servir pratos e comidas ou bebidas exóticas demais ao paladar. Lembre-se que, talvez, a autoridade ou o visitante ilustre não esteja acostumado a determinado tipo de alimentoou tenha até restrições médicas ou alérgicas. Uma dica: o sucesso está no simples e bem feito. A cenografia também faz parte. Aproveite para valorizar a cultura e as características regionais e locais na definição da decoração e dos arranjos florais, na escolha das toalhas e da louça, por exemplo. Cerimonial no Ambiente Legislativo 31 Vestuário As normas de conduta não têm prazo de validade e tampouco são estabelecidas de forma uniforme e ao mesmo tempo, com data de início de vigência, como as leis. O vestuário é uma das funções em que isto pode ser considerado quase como uma regra, em função da dinâmica das mudanças sociais. A função vestiário é uma eterna preocupação, não é mesmo? De acordo com LINS (1991:20), nela são observados os estilos e qualidades das roupas, os trajes de gala e de cerimônia; os trajes de ocasião e os sinais distintivos. Para você ter uma ideia de quanto o assunto é sério, os PADRES SALESIANOS (1926) afirmavam, naquele tempo, que “No vestir, mais do que em outras coisas, deve-se guardar um razoável meio termo, evitando os exageros, isto é, o excessivo cuidado e o desleixo”. Com base no que foi comentado até agora, vamos fazer uma reflexão. Cerimonial no Ambiente Legislativo 32 Usar roupas e acessórios em perfeito estado de conservação; Para refletir: Em sua opinião, qual(is) a(s) regra(s) básica(s) que as pessoas que trabalham numa Casa Legislativa, principalmente na área de relações públicas, cerimonial ou eventos deve(m) seguir com relação a maneira de vestir? Como você percebeu, as regras e normas podem ser muitas e variadas, mas uma coisa é certa: modismos, exageros e exotismos não são permitidos nunca. Lembre-se sempre que o nosso ambiente de trabalho é público e oficial, o que exige uma dose elevada de sobriedade e discrição. Você deve estar se perguntando: então como definir o traje para uma cerimônia ou evento? As relações públicas ou o encarregado do cerimonial deve ter em mente os seguintes pontos ao definir o traje para uma determinada cerimônia ou evento: Ser sóbrio e simples; Seguir a moda apenas no que cai bem ao tipo físico; Respeitar a idade e características físicas próprias; Fugir de extravagâncias; Cuidados com a higiene e asseio pessoal; e Observar a ocasião e o horário. Cerimonial no Ambiente Legislativo 33 Uma criteriosa análise dos itens acima deve ser observada no planejamento do evento de forma a evitar-se a ocorrência de situações constrangedoras ou deselegantes. Ultimamente, em nome de uma modernidade duvidosa, alguns autores (poucos, ainda bem) afirmam que não se usa mais a indicação do traje no convite, que isso é ultrapassado. Não é. A indicação do traje no convite é uma informação extremamente importante para quem é convidado para um evento. Pelo traje indicado, a pessoa sabe como será o evento. Só para exemplificar a importância dessa indicação, vamos fazer um exercício mental: você deve lembrar de algum evento no qual um homem passa por uma situação constrangedora por estar totalmente informal numa cerimônia em que estão todos engravatados, ou daquela senhora que chega numa festa numa produção luxuosa e todas as mulheres estão informalmente de jeans, ambos por não terem recebido a informação correta sobre o evento. Vamos conhecer a classificação dos trajes? Figura à esquerda: Traje Esporte Cerimonial no Ambiente Legislativo 34 Figura à direita: Traje Passeio (Tenue de Ville) Figura à esquerda: Traje Passeio Completo ou Social Figura à direita: Traje Black-tie ou Traje a Rigor Trajes de Gala e de Cerimônia Aqui vale um comentário: a casaca, o fraque e as fardas de gala são trajes praticamente abolidos do dia a dia. Os últimos só são superados pelos trajes de corte usados em cerimônias em que se leva coroa, tiaras, manto, capa e espada ou cetro, como no Vaticano e em outras cortes europeias. Não se esqueça que os militares têm um uniforme para cada tipo de ocasião. Então, como proceder? Você não é obrigado a saber qual é o Cerimonial no Ambiente Legislativo 35 Usar roupas e acessórios em perfeito estado de conservação; uniforme do dia ou qual é a sua denominação. A solução é simples: no convite, ao indicar o traje, colocar a expressão “uniforme correspondente”. Por fim, para evitar erros, siga as recomendações abaixo: Resumo Nesta unidade, você teve a oportunidade de refletir sobre a importância de duas funções humanas que fundamentam, a partir de suas características próprias, o protocolo, o cerimonial e a etiqueta. Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Cerimonial no Ambiente Legislativo. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos, ainda, que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Ser sóbrio e simples; Seguir a moda apenas no que cai bem ao tipo físico; Respeitar a idade e características físicas próprias; Fugir de extravagâncias; Cuidados com a higiene e asseio pessoal; e Observar a ocasião e o horário. Cerimonial no Ambiente Legislativo 36 MÓDULO II - Cerimonial Público Ao final deste Módulo, o aluno será capaz de: o caracterizar os critérios de precedência; o reconhecer particularidades do Decreto nº 70.274; o diferenciar o uso dos critérios de precedência no âmbito oficial; e, o conhecer o emprego da precedência em situações cotidianas. Cerimonial no Ambiente Legislativo 37 Unidade 1 -Precedência, a base do cerimonial público “Guerras foram declaradas e tronos foram perdidos em decorrência do assunto precedência” Lilian Eichler Cerimonial no Ambiente Legislativo 38 Introdução ao Cerimonial Público No módulo I você aprendeu a diferença conceitual existente entre os termos cerimonial, protocolo e etiqueta, bem como os seus fundamentos. Agora vamos compreender mais um conceito: o de cerimonial público. O cerimonial público rege o trato formal entre os Estados. O cerimonial público trata das honras, das precedências, dos privilégios e imunidades dos agentes diplomáticos e consulares, das normas protocolares e das cerimônias oficiais. De acordo com LUZ (2000:5), o cerimonial público também é denominado cerimonial de Estado. Por seu caráter oficial, o cerimonial público, aqui no Brasil, é regido por lei -o Decreto nº 70.274, de 9 de março de 1972, que estabelece as “Normas do Cerimonial Público da República Federativa do Brasil e a Ordem Geral de Precedência”. Você vai estudá-lo, mais detalhadamente, na próxima unidade. Portanto, você já deve ter concluído que as ações de cerimonial na área pública, por sua natureza oficial, diferem das ações de cerimonial praticadas no setor privado (empresas e instituições privadas) ou mesmo daquelas Cerimonial no Ambiente Legislativo 39 ações realizadas em âmbito particular ou familiar (cerimônias de casamento, festas de 15 anos, formaturas, festas de confraternização). ETIQUETA : símbolo de "controle social" na corte de Luiz XIV Antonio Carlos Frasson No momento, é importante você saber que as ações de cerimonial realizadas no âmbito dos Poderes Executivo e Legislativo (nos níveis federal, estadual e municipal) e do Poder Judiciário (nos níveis federal e estadual) referem-se ao Cerimonial Público.Feito este esclarecimento a respeito do cerimonial público, você agora irá estudar a questão da precedência. Pronto? Precedência A precedência é um elemento chave na atividade do cerimonial. O termo se origina do latim praecedentia, que significa ordem de preferência ou primazia. Em linguagem mais simples: quem vem em primeiro lugar, quem ocupa a principal posição, quem preside. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/988281/mod_book/chapter/72482/A%20etiqueta.pdf Cerimonial no Ambiente Legislativo 40 Ao longo da história, observa–se a ocorrência freqüente de pequenos e grandes conflitos, normalmente decorrentes de disputas por precedência. Os registros sobre questão de precedência encontram–se relacionados às primeiras civilizações. Mas, pode–se dizer que, até o século XIX, a precedência sempre foi estabelecida ou pelo critério da força ou pelo critério econômico, quando não pelos dois critérios conjuntamente. Para você ter uma idéia de como a questão era levada a sério, SPEERS (2004:67) cita, entre vários casos históricos pesquisados, os seguintes: “ -Em 1661, o enviado espanhol ataca a carruagem do embaixador francês nas ruas de Londres, desbaratando seus cavalos e matando seus homens, para garantir-lhe a chegada ao palácio em primeiro lugar. -A História conta-nos que dois enviados, um de Gênova e um de Brandenburgo, lutaram no quarto do Rei em Versailles, porque nenhum queria dar ao outro a precedência para a primeira audiência. -Há, ainda, a história de dois embaixadores que se encontraram cara a cara sobre uma ponte em Praga e lá ficaram o dia inteiro, porque ambos acreditavam que ao dar ao outro a precedência seria levar seu país à desgraça. ” Cerimonial no Ambiente Legislativo 41 É LUZ (2000:8) quem relata: “Em 1713, durante o congresso de Utrech, realizado para decidir a sucessão do trono de Espanha (Felipe V) com a participação da França, Espanha, Inglaterra e Países Baixos, foi utilizada, por primeira vez, uma mesa redonda, para evitar inconvenientes de precedências o que, igualmente gerou problemas, porque o lugar de honra é aquele que está de frente para a entrada.” Somente em 1815, com a realização do Congresso de Viena, é estabelecida a base da precedência entre os Estados Modernos: internamente, cada país estabelece a precedência dos representantes diplomáticos de acordo com a data de apresentação de suas credenciais ao Chefe da Nação. Com o Protocolo da Conferência de Aix-la-Chapele, em 1818, reconhece- se o princípio da igualdade jurídica dos Estados e a precedência pela ordem de chegada das delegações, missões estrangeiras ou embaixadores nos eventos internacionais. Critérios de Precedência Como você deve ter observado, o critério mais antigo foi o da força, empregado desde os primórdios da civilização. Fazia prevalecer a precedência em função da força individual ou do grupo. Caiu definitivamente na Conferência de Viena, de 1815. Cerimonial no Ambiente Legislativo 42 Outro critério, também em desuso, é o econômico, aliado historicamente ao critério da força. Traduzido pela relevância dada ao poderio econômico entre nações e organizações, e empregado entre indivíduos como fator divisório das classes econômicas, é ainda utilizado, mas de forma velada. Cerimonial no Ambiente Legislativo 43 Hoje, em sua atividade, você poderá dispor de uma série de critérios, que poderão ser empregados de forma isolada ou combinada. Vamos conhecê- los? Já o critério hierárquico, como o próprio nome diz, hierarquiza os membros de uma determinada estrutura. Você verá sua rígida aplicação nas Forças Armadas, na Igreja Católica e no Poder Judiciário, por exemplo. Outro critério, de uso mais restrito, é o nobiliárquico, utilizado em função dos títulos existentes nos reinos, monarquias, e, também na hierarquia religiosa. Cerimonial no Ambiente Legislativo 44 Um critério muito usado é o da antiguidade histórica, onde a data de criação das organizações ou unidades administrativas é utilizada para determinar a precedência entre organizações. O cultural é um critério mais civilizado, prestigia o saber. A precedência é dada em função do grau de conhecimento acadêmico ou de relevância cultural Cerimonial no Ambiente Legislativo 45 pela qual a personalidade é reconhecida, exemplo: Fernanda Montenegro no meio artístico. O critério de antiguidade ou antecedência refere-se a uma posição hierarquicamente determinada. É usado normalmente para determinar a precedência dos representantes diplomáticos num país. Você não está sentindo falta de nenhum critério? Pare e reflita. Pense em suas atividades. Quais, na sua opinião são os dois critérios mais utilizados no dia a dia? Muito bem! É isso mesmo! São os critérios de idade e de ordem alfabética. No critério de idade, a precedência é definida de acordo com a idade das autoridades presentes, o mais idoso precede o mais jovem. Já o critério de ordem alfabética, além de ser prático, mostra um profundo amadurecimento das relações entre países, instituições e pessoas. Por ser simples e objetivo, pode ser empregado no ordenamento de pessoas, organizações e estados. É muito comum, por exemplo, em eventos esportivos internacionais, que reúnem delegações de vários países – Olimpíadas, Copa do Mundo. Cerimonial no Ambiente Legislativo 46 Este critério pode ser empregado em conjunto com outros critérios, como o de rodízio periódico, atualmente adotado por vários organismos internacionais: a precedência dos embaixadores creditados na ONU, por exemplo, é determinada, em intervalos regulares; da mesma forma, o MERCOSUL adota esta sistemática. Recapitulando, você percebeu que a precedência é um conceito muito importante na relação entre as organizações e as pessoas, principalmente na esfera pública e oficial. Saber empregar corretamente os diversos critérios para o estabelecimento da precedência é fundamental para a realização de atos e cerimônias harmoniosos e corretos. O critério da ordem alfabética é muito útil na elaboração de listas de autoridades como, por exemplo, a lista dos parlamentares de uma Casa legislativa. Exato. Normalmente, na abertura das sessões legislativas, o senador, deputado ou vereador mais idoso é quem preside a sessão, de acordo com o Regimento Interno da casa legislativa. Em qual situação é muito usado este critério nas casas legislativas? Cerimonial no Ambiente Legislativo 47 Unidade 2 - O Decreto nº 70.274 “A precedência é o ponto crucial e a base do cerimonial. É reconhecer a primazia de uma hierarquia sobre a outra, e tem sido, desde os tempos mais antigos, e em todas as partes, motivo de normas escritas, cuja falta de acatamento provoca desgraças” Embaixador Dom Jorge G Blanco Villalta Como você foi informado (a) na unidade anterior, aqui no Brasil, a precedência é regida pelo Decreto nº 70.274, de 9 de março de 1972, que aprova as “Normas do Cerimonial Público da República Federativa do Brasil e a Ordem Geral de Precedência”. Você deve ter observado que o Decreto dispõe, de maneira extensiva, sobre as questões que permeiam o cerimonial público, mais especificamente os assuntos da esfera do executivo federal. Cerimonial no Ambiente Legislativo 48 Cerimônias oficiais de caráter federal, na capital da República; Sua aplicação dá-se nas seguintes situações: Pág. 3 Alterações do Decreto nº 70.274 É importante você ter em mente que esta lei foi elaborada no tempo do regime militar. Portanto, algumas situações nele encontradas refletem a relação de poder existente àépoca. O texto da lei, apesar de seu anacronismo em relação a algumas situações de precedência, continua em vigor, tendo sofrido poucas alterações ao longo dos anos, que você irá conhecer agora: Decreto nº 83.186, de 19 de fevereiro de 1979 -Inclui na ordem de constituição histórica das unidades da federação, listada no artigo 8º, o recém criado Estado do Mato Grosso do Sul, logo após o Estado do Acre, e retira o Estado da Guanabara em função de sua fusão com o Estado do Rio de Janeiro. Decreto nº 672, de 21 de outubro de 1992 - acrescenta ao artigo 88 um parágrafo único, em função do desaparecimento do corpo do Dr. Ulisses Guimarães, em trágico acidente. O texto é o seguinte: Cerimônias oficiais com a presença de autoridades federais, nos Estados; Cerimônias oficiais de caráter estadual. Cerimonial no Ambiente Legislativo 49 Decreto nº 3.765, de 6 de março de 2001 -acrescenta ao artigo 88 um § 2º, renumerando o parágrafo único para 1º. O texto é o seguinte: Decreto nº 3.780, de 2 de abril de 2001 -menos de um mês após o decreto anterior ter sido publicado, este decreto revoga o decreto anterior. Acrescenta ao artigo 88 um § 2º, renumerando o parágrafo único para 1º. O texto é o seguinte: E foram estas as alterações processadas. A situação hoje Cerimonial no Ambiente Legislativo 50 “A evolução dos costumes e das relações institucionais entre Poderes, seus órgãos e dirigentes, foi, aos poucos, fazendo de alguns artigos do Decreto verdadeiras letras mortas. Extinção de cargos, troca de denominações e ausência de revisões no Decreto original, de há muito, recomendam a atualização do dispositivo legal, que regula os atos do Cerimonial Público.” Outro exemplo: quando da redação do texto da Lei, não existia o Superior Tribunal de Justiça. E como era uma época de restrição democrática, os Prefeitos das capitais e de cidades com população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes e os Presidentes das Câmaras Municipais das cidades de mais de 1 milhão de habitantes, em termos de precedência, vinham bem depois dos membros da Academia Brasileira de Letras, dos membros da Academia Brasileira de Ciências e dos coronéis das três forças armadas, o que hoje não faz sentido. Outra corrente não concorda com a ideia, pois acredita que as atualizações da Ordem Geral de Precedência não devem ser matéria de lei, Cerimonial no Ambiente Legislativo 51 “O Presidente da República presidirá sempre a cerimônia a que comparecer” (Art. 1º); em função do dinamismo das relações institucionais e sociais, como também da própria dinâmica de mudanças na estrutura do Estado. CORRÊA (1996:71) resume de maneira clara a situação: Para o seu conhecimento, existe uma corrente de profissionais que acredita que o Decreto 70.274 tenha que ser revisto e uma nova lei deva substituí-lo, principalmente no que diz respeito à Ordem Geral de Precedência nele prevista. Princípios gerais No seu Capítulo I, o decreto estabelece princípios gerais de precedência, que norteiam a atividade de cerimonial no País, e que você, em sua atividade, não pode deixar de conhecer. São eles: “Não comparecendo o Presidente da República, o Vice-Presidente da República presidirá a cerimônia a que estiver presente”; (Art. 2º) A precedência entre os estados e ministérios é definida pelo critério histórico de criação (Art. 4º e Art. 8º) Nas unidades da federação “o Governador presidirá as solenidades a que comparecer, salvo as dos Poderes Legislativos e Judiciário, e as de caráter exclusivamente militar.” (Art. 6º); “Nos municípios, o Prefeito presidirá as solenidades municipais” (Art. 10) Cerimonial no Ambiente Legislativo 52 Com o que aprendeu nesta unidade, você já está pronto para começar a entender e aplicar os critérios de precedência em diversas situações. Mas, antes de avançar para as próximas unidades, que tal fazer uma reflexão e leitura, com calma, do Decreto nº 70.274? Afinal, quando se trata de precedência no Brasil, ele é “a” referência. Cerimonial no Ambiente Legislativo 53 Unidade 3 - A Precedência no Âmbito Oficial “Protocolo, etiqueta e cerimonial são o cerne de qualquer evento público ou empresarial, dando-lhes forma e conteúdo” Gilda Fleury Meirelles Na unidade anterior, você aprendeu o fundamento legal do cerimonial público e tomou conhecimento da “Ordem Geral de Precedência” no nosso país. Nesta unidade, você verificará como são utilizados os critérios de precedência em situações oficiais. Nos Estados A ordem de constituição histórica dos Estados é: Cerimonial no Ambiente Legislativo 54 Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraíba, Espírito Santo, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Alagoas, Sergipe, Amazonas, Paraná, Acre, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Amapá, Roraima, Distrito Federal. Esta ordem é a que determina a precedência entre os governadores. Você deve observar que o Decreto nº 70.274, em seu Art. 94, estabelece duas situações gerais de precedência em cerimônias no Estado, abaixo apresentadas: Cerimônias oficiais nos Estados da União, com a presença de autoridades federais: 1 -Presidente da República 2 – Vice-Presidente da República Governador do Estado da União em que se processa a cerimônia Cardeais Embaixadores Estrangeiros 3 – Presidente do Congresso Nacional Presidente da Câmara dos Deputados Presidente do Supremo Tribunal Federal 4 – Ministros de Estados Vice-Governador do Estado da União Presidente da Assembleia Legislativa Presidente do Tribunal de Justiça Cerimônias oficiais de caráter estadual: 1 – Governador Cardeais 2 – Vice-Governador Cerimonial no Ambiente Legislativo 55 3 – Presidente da Assembleia Legislativa Presidente do Tribunal de Justiça 4 – Almirantes de Esquadra Generais de Exército Tenentes-Brigadeiros e Prefeito da Capital Na Esplanada dos Ministérios Como você observou, a precedência estabelecida entre os Ministros de Estado pelo Decreto nº 70.274, em seu Art. 4º, é determinada pelo critério histórico de criação do respectivo Ministério. Mas, como já foi mencionado, ministérios são criados e outros são extintos e, além do mais, existem as diversas Secretarias de Estado, cujos titulares têm prerrogativas de Ministro, para efeitos protocolares. Evidente que você não é obrigado a saber a precedência de cor. Então, o que fazer? Sempre que tiver que estabelecer a precedência entre Ministros de Estado, consulte o site da Presidência da República. No Estado e no Município Cerimonial no Ambiente Legislativo 56 Não são poucas as vezes que você tem que organizar cerimônias com a presença de Secretários de Estado e Secretários Municipais. Como proceder para não incorrer em erros e ferir suscetibilidades? Alguns estados possuem legislação específica que rege o cerimonial do estado e estabelece a sua precedência. No Estado de São Paulo, por exemplo, o cerimonial é regido pelo Decreto 11.074 de 05/01/78. Cerimonial no Ambiente Legislativo 57 Os municípios, em geral, não têm legislação sobre a matéria. Você poderá procurar saber se existe alguma norma a respeito junto ao Cerimonial da Prefeitura ou Gabinete do Prefeito. Caso não haja nenhuma norma ou regulamentação a respeito, você poderá, então, estabelecer a precedência dos Secretários Municipais, empregando o critério histórico de criação das Secretarias Municipais. No Legislativo A precedência para o Poder Legislativoestá estabelecida no Decreto nº 70.274 em seu Art. 9º: “A precedência entre membros do Congresso Nacional e entre membros das Assembleias Legislativas é determinada pela ordem de criação da unidade federativa a que pertemçam e, dentro da mesma unidade, sucessivamente pela data da diplomação ou pela idade”. A partir do que estipula o artigo 9º você pode determinar a precedência entre parlamentares no Legislativo Brasileiro da seguinte forma: 1 – Presidente do Congresso Nacional 2 – Presidente da Câmara dos Deputados 3 – Senadores (critério: criação da unidade da federação, diplomação, idade) 4 – Deputados Federais (critério: criação da unidade da federação, diplomação, idade) 5 – Presidentes de Assembléias Legislativas (critério: criação da unidade da federação) 6 – Deputados Estaduais Cerimonial no Ambiente Legislativo 58 (critério: diplomação, idade) 7 – Presidentes de Câmaras Municipais (critério: criação da unidade da federação, ordem alfabética) 8 – Vereadores (critério: criação da unidade da federação, diplomação, idade) Este ordenamento não significa nenhum tipo de linha de subordinação, visto os Poderes Legislativos Federal, Estadual e Municipal serem independentes entre si, como estabelece a Constituição Federal. Outra questão importante que você deve estar atento é: os membros das Mesas Diretoras, excetuando-se o Presidente e o Vice-Presidente, não têm precedência sobre os demais parlamentares da Casa Legislativa, pois a mesa diretora é um órgão colegiado. Ainda sobre o Poder Legislativo existe uma questão que causa uma certa confusão. Diz respeito à precedência entre os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. O Presidente do Senado Federal, por ser o Presidente do Congresso Nacional, portanto Chefe de Poder, passa à frente do Presidente da Câmara dos Deputados. Cerimonial no Ambiente Legislativo 59 Supremo Tribunal Federal - STF; Já na lista de sucessão à Presidência da República, o Presidente da Câmara dos Deputados passa à frente do Presidente do Senado Federal. Ou seja, cuidado para não confundir ordem de precedência com ordem de sucessão. Você no âmbito do Legislativo, poderá adotar os seguintes critérios para autoridades na mesma posição: No Judiciário O Decreto 70.274/72 não dispõe de nenhum artigo específico relacionado ao Poder Judiciário, a não ser o posicionamento de seus titulares na Ordem Geral de Precedência. Na área federal o Poder Judiciário está assim constituído: Superior Tribunal de Justiça - STJ; Tribunal Superior do Trabalho - TST; Tribunal Superior Eleitoral - TSE; Superior Tribunal Militar - STM; Cerimonial no Ambiente Legislativo 60 Podemos concluir afirmando que nesta unidade você aprendeu como aplicar os critérios de precedência em situações oficiais. Lembre-se que a precedência no âmbito oficial é regida por lei, e por tanto deve ser matéria da maior atenção. Você deve se inteirar junto ao Tribunal de Justiça do seu Estado se existe alguma norma que discipline o Cerimonial do Poder Judiciário do Estado. E nas unidades da federação encontram-se os Tribunais Regionais Federais - TRF, os Tribunais Regionais do Trabalho -TRT, os Tribunais Regionais Eleitorais -TER, os Conselhos de Justiça Militar e os Juízes Federais, Eleitorais e Militares. Cerimonial no Ambiente Legislativo 61 Unidade 4 - O Emprego da Precedência, situações cotidianas “Só pode ceder a precedência quem a tem” Embaixador Augusto Estellita Lins O mundo de hoje é muito mais informal do que era até meados dos anos 60 do século XX. Mas, isto não quer dizer que na área pública ocorra um processo generalizado de revestir as ações de um caráter informal. Você deve lembrar o que estudou no módulo I: a tendência é a simplificação. Não se pode tornar informal o que é oficial. KALIL (2007:25) expressa bem a questão ao afirmar que "lugares públicos pedem uma etiqueta diferente do espaço privado. Isso é a regra base de uma sociedade civilizada". Na unidade anterior você aprendeu a definir a precedência entre as autoridades dos três Poderes, de acordo com a legislação federal. Agora você terá a oportunidade de estudar a aplicação da precedência em algumas situações cotidianas. Cerimonial no Ambiente Legislativo 62 O mais velho passa à frente do mais jovem; Vamos lá? Princípios gerais de precedência Além dos critérios fixados pela Ordem Geral de Precedência, definida pelo Decreto nº 70.274/72, para cerimônias oficiais do Governo, é possível o emprego de outros critérios, que podem variar conforme a ocasião, a relevância da situação e as autoridades e personalidades envolvidas. A escolha do melhor critério para se estabelecer a precedência leva em consideração aspectos subjetivos como o ambiente social, o contexto político e, principalmente o bom senso. Um princípio geral de precedência, que você deve conhecer desde criança, estipulado pelas normas de cortesia e etiqueta, e adotado pela maioria das culturas, estabelece que: As mulheres precedem os homens; e Os adultos precedem as crianças; Cerimonial no Ambiente Legislativo 63 O princípio da direita De acordo com SPEERS (1984:132): "A direita, desde os tempos antigos, era a posição preferida. Na antiga Roma, previa-se bons e maus augúrios, observando-se uma ave se dirigia respectivamente para a direita (bom) ou para a esquerda (mau)." Cerimonial no Ambiente Legislativo 64 A questão da direita consolidou-se ao longo dos anos como a “primazia da direita”, ou seja, o lugar de honra é à direita, seja do anfitrião ou do ponto central de referência do lugar. Com esta regra um convidado de honra ou homenageado será sempre colocado à direita do anfitrião ou da máxima autoridade presente à cerimônia. É novamente SPEERS (1984:133) quem explica bem a situação: Com este entendimento você não terá dificuldade em estabelecer o Lugar de Honra, que tem as seguintes características: O centro é destinado ao convidado de honra com hierarquia superior ao anfitrião, cabendo ao anfitrião ficar à esquerda do homenageado. Cerimonial no Ambiente Legislativo 65 Presidência X precedência Tome muito cuidado para não confundir presidência com precedência. Normalmente a presidência é do anfitrião, que nem sempre terá a maior precedência no evento. Ordem dos discursos Nas cerimônias em que se faz o uso da palavra, a ordem dos discursos seguirá a ordem inversa de precedência dos respectivos oradores, isto é, usará da palavra em primeiro lugar a autoridade de menor hierarquia e, subsequentemente, os demais oradores até o de precedência mais alta. Cerimonial no Ambiente Legislativo 66 Como é do seu conhecimento a dinâmica do ambiente político muitas vezes impede a permanência das pessoas durante todo o desenrolar de uma cerimônia. Por isso é sempre bom consultar a maior autoridade para checar a sua disponibilidade de tempo. Se o tempo disponível for muito restrito, a ordem dos discursos pode ser adaptada. Assinatura de contratos Em cerimônias de assinatura de contratos, acordos e tratados, o primeiro a assinar o documento é o representante da instituição favorecida em termos financeiros ou técnicos e em seguida a outra autoridade. É usual, também, os dois representantes assinarem o contrato ao mesmo tempo. Para tanto devem ser providenciados dois originais do contrato que serão apresentados às autoridades por duas pessoas da organização e do cerimonial do evento. Após a primeira assinatura, elas recolhemas pastas, trocando-as em ato contínuo, e colhem novamente as assinaturas. Cerimonial no Ambiente Legislativo 67 A colocação de rubricas em todas as páginas não é usual. No entanto, quando exigidas, são apostas posteriormente, para não prolongar o evento. Você não pode deixar de prestar atenção a um detalhe muito importante: as canetas a serem utilizadas devem ter boa apresentação e boas condições de uso, a tinta deve ser azul, e serem apresentadas às autoridades ao mesmo tempo em que se indica o local da assinatura. Mas, qual a disposição no documento das assinaturas? Pegue uma folha de papel e tente montar três situações: documento com duas assinaturas, três assinaturas e quatro assinaturas. A pior coisa que pode acontecer numa cerimônia com assinatura de documentos é faltar uma caneta ou a mesma falhar, não é mesmo? Portanto nunca deixe de testá-las um pouco antes do início da cerimônia. Pronto? Vamos verificar os resultados? Cerimonial no Ambiente Legislativo 68 Disposição das assinaturas nos documentos: Duas assinaturas À direita (do documento) figurará a da pessoa de maior hierarquia Assinatura A Assinatura B Três ou mais assinaturas: Em 1º lugar a de maior hierarquia, e as demais por ordem decrescente de importância. Assinatura A Assinatura B Assinatura C Assinatura D A seguinte disposição também é válida: Assinatura A Assinatura B Assinatura C Assinatura D assinaturas: A de maior hierarquia assina no centro, em nível levemente superior, e as demais por ordem decrescente de importância. Assinatura A Cerimonial no Ambiente Legislativo 69 Assinatura B Assinatura C Precedência em veículos Em carros, a autoridade de maior importância senta-se à direita do banco traseiro, na posição diagonal ao motorista. A autoridade seguinte na precedência ocupa o assento à esquerda. O meio do banco traseiro deve ser evitado para não haver desconforto e a cadeira ao lado do motorista deve ser utilizada apenas por seguranças e assessores. Cerimonial no Ambiente Legislativo 70 Algumas situações Você verificará no desenvolver das suas atividades que existem várias situações em que se aplicam critérios de precedência, como por exemplo: Galeria de Retratos A mais alta precedência será em função do mandato exercido. Linha Indiana A pessoa de alta posição vai à frente e a ela seguem as demais, por precedência. Cortejos Formais A pessoa de mais alta hierarquia cerra a fileira. Em uma calçada Cabe ao de hierarquia inferior ficar mais próximo do meio fio, reservando ao mais importante o lado da parede. Cortejos de Carros Em deslocamento de comitivas, com vários carros, à frente estará sempre o carro com a maior autoridade. Cerimonial no Ambiente Legislativo 71 Nas apresentações Existem regras, universalmente aceitas, que devem ser seguidas ao se fazer apresentações: Quem faz as apresentações são os anfitriões; Os mais jovens são apresentados aos mais velhos; O homem é apresentado à mulher; A mulher solteira é apresentada à mulher casada; A pessoa de menor nível hierárquico é apresentada à pessoa de maior nível hierárquico; Cabe ao superior em hierarquia, ao mais idoso ou à senhora estender a mão. Existe regra também para se apresentar o cônjuge: Um homem ao apresentar sua esposa, dirá: “Esta é minha mulher”. Cerimonial no Ambiente Legislativo 72 A mulher ao apresentar o marido, dirá: “Este é o meu marido”. Ao apresentar a esposa de um amigo, dirá: “Esta é a esposa de fulano”. Cumprimentos O ato de apresentar alguém resulta na ação de cumprimentar. A maneira ocidental de se cumprimentar é com o “aperto de mão”. Mas, existem as formas orientais de cumprimento, notadamente a “reverência” utilizada pelos japoneses, chineses e coreanos e a saudação “em forma de oração”, à maneira dos indianos e tailandeses. Ao receber uma comitiva, usa-se a forma ocidental de cumprimento. Cerimonial no Ambiente Legislativo 73 Nesta unidade você conheceu várias situações em que são empregados critérios de precedência. Nas suas atividades cotidianas você verificará uma série de ocasiões nas quais o uso de algum critério será necessário. Mas, você não pode esquecer use o bom senso sempre será o maior critério. Até o próximo módulo! Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II de estudo do curso Cerimonial no Ambiente Legislativo. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos, ainda, que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Cerimonial no Ambiente Legislativo 74 MÓDULO III - O uso e emprego de símbolos: nacionais, estaduais e municipais Ao final deste Módulo, o aluno será capaz de: o conhecer a importância dos símbolos nacionais e a base legal que os determina; o conhecer características físicas, históricas e simbólicas da Bandeira Nacional; o conhecer a importância, o significado e a forma legal de uso do Hino Nacional, das Armas Nacionais e do Selo Nacional; e, o conhecer particularidades do emprego correto da Bandeira Nacional. Cerimonial no Ambiente Legislativo 75 Unidade 1 - Os Símbolos Nacionais “Este Brasil fez-se com o seu povo unido na identidade dos símbolos nacionais, que em suas cores, em seus sons, representam o Brasil e recontam a nossa História, louvando a nacionalidade” Senador Antonio Carlos Magalhães Cerimonial no Ambiente Legislativo 76 Para refletir: Você já parou para pensar quantas vezes por ano se preocupa com a correta utilização dos Símbolos Nacionais? Tente fazer uma pequena lista, vamos lá! As atuações são as mais diversas, não é mesmo? Mas, o que são Símbolos Nacionais? O que eles representam? O que significam? Para iniciar o estudo dos Símbolos Nacionais é importante que você reflita sobre o significado deles para cada um de nós, cidadãos brasileiros, e para o povo brasileiro enquanto Nação. LUZ (1999:9) traduz este sentimento de uma maneira bastante clara: Com esta visão abrangente de significação pode-se afirmar serem estes símbolos manifestações gráficas e musicais, de importante valor histórico, criadas para transmitir o sentimento de união nacional e mostrar a soberania do País. Vamos fazer um teste rápido. Responda: quais são os nossos Símbolos Nacionais? Cerimonial no Ambiente Legislativo 77 Muito bem! A Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional são o que há de mais importante em termos de significação para o povo brasileiro. Seu emprego não poderia deixar de estar previsto em lei, pelo fato de serem representações de nosso país. A base legal Enquanto representações da nacionalidade, o seu uso deve ser pautado sempre pelo respeito e pelo cumprimento das normas legais que regulam a sua utilização. Tudo que diz respeito aos nossos Símbolos Nacionais está previsto em lei. Cerimonial no Ambiente Legislativo 78 Os Símbolos Nacionais são regulados pela Lei n° 5.700, de 1° de setembro de 1971, que “Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos Nacionais e dá outras providências”. A lei está dividida em sete capítulos assim distribuídos: Capítulo I – Disposição Preliminar – onde são determinados e listados os Símbolos Nacionais. Capítulo II – Da Forma dos Símbolos Nacionais – apresenta como padrões dos Símbolos Nacionais os modelos compostos de conformidade com as especificações e regras básicas estabelecidas na Lei. Especifica os tipos (dimensões) da Bandeira Nacional, e como deve ser a feitura da Bandeira Nacional, das Armas da República e do Selo Nacional bem como a forma de condução do Hino Nacional. Capítulo III – Da Apresentação dos Símbolos Nacionais – Especifica as formas de apresentação da Bandeira Nacional, onde ela é hasteada diariamente, situações obrigatórias de hasteamento, como ela é apresentada em situações de funeral; como deve ser executado o Hino Nacional, a obrigatoriedade das Armas Nacionais; e a utilização do Selo Nacional, e define as cores nacionais. Cerimonial no Ambiente Legislativo 79 Capítulo IV – Das cores Nacionais Capítulo V – Do Respeito Devido à Bandeira Nacional e ao Hino Nacional Capítulo VI – Das Penalidades Capítulo VII – Disposições Gerais Alterações da Lei nº 5.700: Ao longo dos anos a Lei nº 5.700 sofreu algumas alterações em seu texto, que você irá conhecer agora: Lei 5.812, de 13 de outubro de 1972 No inciso IV do art.13, que dispõe os locais onde a Bandeira Nacional deve ser hasteada diariamente, inclui os Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e no inciso III do art. 18, que trata do hasteamento da bandeira em funeral, inclui os ministros e conselheiros dos Tribunais de Contas por ocasião do seu falecimento. Lei nº 6.913, de 27 de maio de 1981 Modifica a redação dos artigos 35 e 36 que trata como contravenção a violação de qualquer disposição da lei e define as penalidades a que está sujeito o infrator bem como o rito do processo da infração. Cerimonial no Ambiente Legislativo 80 Lei 8.421, de 11 de maio de 1992. Esta lei alterou a redação dos arts. 1º e 3º, que passaram a vigorar com a seguinte redação: “Art. 1º São Símbolos Nacionais: I – A Bandeira Nacional; II – O Hino Nacional; III – as Armas Nacionais; e IV – O Selo Nacional. Art. 3º A Bandeira Nacional, adotada pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de de 1889, com as modificações da Lei nº 5.443, de 28 de maio de 1968, fica alterada na forma do Anexo I desta lei, devendo ser atualizada sempre que ocorrer a criação ou a extinção de estados. § 1º As constelações que figuram na Bandeira Nacional correspondem ao aspecto do céu, na cidade do Rio de Janeiro, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de novembro de 1889 (doze horas siderais) e devem ser consideradas como vistas por um observador situado fora da esfera celeste. § 2º Os novos estados da Federação serão representados por estrelas que compõem o aspecto celeste referido no parágrafo anterior, de modo a permitir-lhes a inclusão no círculo azul da Bandeira Nacional sem afetar a disposição estética original constante do desenho proposto pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889. § 3º Serão suprimidas da Bandeira Nacional as estrelas correspondentes aos estados extintos, permanecendo a designada para representar o novo estado, resultante de fusão, observado, em qualquer caso, o disposto na parte final do parágrafo anterior. ” Também foi alterada a redação do inciso I do art.8º, que determina que o número das estrelas de prata da bordadura do escudo das Armas Nacionais deverá ser igual ao das estrelas existentes na Bandeira Nacional. Outra alteração foi a inclusão dos Corpos de Bombeiros Militares no inciso VIII do art. 26. Cerimonial no Ambiente Legislativo 81 Bandeira do Mercosul A partir da Lei nº 12.157, de 23 de dezembro de 2009, passou a ser obrigatório o hasteamento da bandeira do Mercosul junto à bandeira do Brasil. Nesta unidade você aprendeu a entender a importância dos Símbolos Nacionais, conheceu a sua significação bem como as leis que determinam o seu emprego. Agora, é importante que você leia atentamente a lei nº 5.700 e suas alterações, para que possa dar prosseguimento ao curso. Cerimonial no Ambiente Legislativo 82 Unidade 2 - A Bandeira Nacional “A Bandeira é o símbolo ótico da Pátria, como o Hino Nacional, o seu símbolo acústico” Conde Afonso Celso Vamos iniciar pela Bandeira Nacional, que de acordo com OLENKA LUZ (2000:23) “constitui o mais relevante símbolo de um país, devendo ser respeitada por nacionais e estrangeiros. Cerimonial no Ambiente Legislativo 83 Um pouco de história A atual Bandeira Nacional é a segunda republicana e é o quarto pavilhão oficial do Brasil desde sua independência. Ou seja, tivemos duas versões durante o Império e outras duas ao longo da República. A nossa primeira bandeira foi a Bandeira do Império do Brasil, criada a pedido de D. Pedro I por Jean-Baptiste Debret. Nela, alguns elementos de caracterização do antigo Reino de Portugal, Brasil e Algarves, como a esfera Cerimonial no Ambiente Legislativo 84 armilar e a Cruz da Ordem de Cristo, foram mantidos. E, foram introduzidas: as cores verde e amarela; os ramos de café e tabaco, culturas de destaque da nossa economia à época, que hoje são empregados como suporte do brasão nacional; a coroa imperial e o círculo com as 19 estrelas representando as províncias. Esta configuração sofreu apenas uma alteração, no Segundo Reinado, quando o número de estrelas passou a ser 20, em função da perda da Província Cisplatina e da criação das Províncias do Amazonas e do Paraná. Foi nossa segunda bandeira, que teve a coroa de D. Pedro II substituindo a coroa de D. Pedro I. Com a proclamação da República, Rui Barbosa, um dos líderes do movimento, cria uma bandeira inspirada na bandeira americana, é a nossa terceira bandeira. Mas, só foi utilizada durante quatro dias, de 15 a 19 de novembro de 1889, quando seu emprego foi vetado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. O mais provável é que o campo verde representasse a Casa de Bragança, dinastia a qual D. Pedro pertencia, e o campo amarelo seria da Casa Cerimonial no Ambiente Legislativo 85 Habsburgo, origem de D. Leopoldina. Há controvérsia sobre a questão, visto não haver nenhum documento oficial que comprove essa versão. A Bandeira Nacional De acordo com o site do Governo Brasileiro (www.brasil.gov.br): Em suas considerações, o Decreto nº 4 afirma: Nossa Bandeira tem por base um retângulo verde na proporção 07:10, sobrepondo-se um losango amarelo, tendo em seu centro a esfera celeste azul, no meio da qual está atravessada uma faixa branca, em sentido oblíquo e descendente da direita para a esquerda, com o lema nacional – “Ordem e Progresso” – em letras maiúsculas verdes sendo a letra E central um pouco Cerimonial no Ambiente Legislativo 86 menor; inseridas na esfera celeste estão vinte e sete estrelas brancas, representando as unidades da federação. A inscrição “Ordem e Progresso” é uma abreviação do lema positivista de autoria do francês Auguste Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Além desses significados não existe nenhuma definição oficial sobre o simbolismo das cores existentes na bandeira, mas, a tradição popular convencionou ser o verde a representação das nossas matas, o amarelo simbolizar nossas riquezas minerais, o azul representar o nosso céu e o branco significar a paz. Desde a sua data de criação, em 19 de novembro de 1889, a Bandeira Nacional teve apenas a adição de algumas estrelas, representantes dos novos Estados, e alguns ajustes nas posições das estrelas de forma a que correspondessem às coordenadas astronômicas. Como você pode verificar na unidade 1 deste módulo. O Uso da Bandeira Nacional É utilizada
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