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Crimes ambientais - Responsabilidade penal da PJ

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Sumário
INTRODUÇÃO
CAPITULO 1- EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1.1. BABILÔNIA
1.3. ROMA
1.4. JAPÃO
1.5. INGLATERRA
1.6. FRANCÊS
1.7. DIREITO ALEMÃO
1.8. ESTADOS UNIDOS
1.9. DIREITO BRASILEIRO
CAPÍTULO 2 - DAS PESSOAS JURÍDICAS
2.1 - Conceito
2.2 - Natureza Jurídica
2.3. Classificação
2.4 - Personalidade
CAPÍTULO 3 - A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
3.1 - Elementos do Crime e os Pontos Controvertidos Acerca de sua Aplicação à Pessoa Jurídica
3.1.1- Teoria Analítica do Crime
CAPÍTULO 4 - RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES
AMBIENTAIS
4.1 - Conceito de Meio Ambiente
4.2 - Tutela Penal Ambiental no Ordenamento Pátrio
4.2.1- Responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei. 9605/98.
4.2.2 - A Necessidade de Imputação Simultânea da Pessoa Física e da Pessoa Jurídica
4.3 - Sanções Aplicáveis à Pessoa Jurídica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
Este livro tem como tema a Responsabilidade Penal das
Pessoas Jurídicas de Direito Privado na Lei dos Crimes Ambientais, sendo a
presente temática palco atual de inúmeros debates acerca de sua
admissibilidade, ou seja, a possibilidade de a pessoa moral figurar no pólo
passivo de uma ação penal.
No Brasil, por fazer parte do sistema civil law, sempre
vigorou entre os doutrinadores da seara penal o princípio do societas
delinquere nom potest, aludindo que a pessoa jurídica é incapaz de praticar
infração penal.
Contudo, com o advento da Constituição da República
Federativa de 1988, surgiram inúmeras divergências doutrinárias, em
especial entre os estudiosos do Direito Penal, quanto a possibilidade de a
pessoa jurídica ser inserida no rol de sujeitos passivos de uma relação
processual criminal, posto que o constituinte originário encartou em nosso
ordenamento jurídico a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, via
norma constitucional de eficácia limitada.
Mais especificamente, no artigo 225, § 3º, da nova Carta
Política, o qual dispõe expressamente que “ as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados”.
Entretanto, tem-se que somente após dez anos da
promulgação da CFRB/88, em 12 de fevereiro de 1998, o legislador
infraconstitucional regulamentou o suso dispositivo com a publicação da
Lei nº. 9605/98, conhecida por Lei dos crimes ambientais, mas que também
traz sanções civis e administrativas, a qual prevê expressamente em seu
artigo 3º acerca da responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
Desde então, o ordenamento jurídico pátrio passou a contar
com um valioso aparato legal, vez que as ingerências praticadas em face do
meio ambiente, transcenderam a órbita civil e administrativa para figurar na
seara penal, como mecanismo apto e eficaz na tentativa de coibir as
violações que corriqueiramente assolam o meio ambiente.
Todavia, boa parte da doutrina clássica, mormente, os
penalistas e também constitucionalistas, entendem que a admissão do
referido instituto viola princípios básicos do direito, em ambas as esferas,
quais sejam, penal e constitucional.
Ante o exposto, este trabalho tem por finalidade analisar a
possibilidade da pessoa jurídica figurar no pólo passivo de uma demanda
criminal, nos moldes em que o instituto da responsabilidade coletiva afetos
aos crimes ambientais fora inserido na legislação brasileira.
Seu intento é servir como contribuição social, consistindo em
auxiliar os profissionais da área do direito, bem como todos aqueles que se
interessam pelo assunto, configurando-se uma fonte de pesquisa,
conhecimento e referência bibliográfica.
Para atingir esse objetivo, proceder-se-á à analise da pessoa
jurídica como sujeito apto a figurar no banco dos réus de uma ação penal,
verificando a eficácia da reprimenda em matéria ambiental no que concerne
à responsabilização dos entes coletivos trazida pela Lei nº. 9605/98.
Desse modo, será feito um levantamento doutrinário e
legislativo acerca do tema, utilizando-se da pesquisa bibliográfica, códigos,
etc. Nestes aspectos, como forma de melhor organizá-lo, foi dividido em
três partes.
No primeiro capítulo, busca-se trazer à baila o referencial
histórico da responsabilidade das pessoas jurídicas, pontuando algumas
civilizações que já se podia identificar, em menor ou maior grau, o
propósito de se punir a coletividade por determinadas condutas individuais
de seus membros.
Ato contínuo, no segundo capítulo deu-se enfoque à
conceituação e natureza jurídica da pessoa moral, analisando seus aspectos
principais, recorrendo-se às diversas teorias que embasam o fundamento
teórico das pessoas coletivas, sendo de notória importância, vez que é
justamente a partir de sua essência jurídica que se pode melhor entender o
instituto em comento, dentro da esfera coletiva, e ainda, enumerando as
classificações e a capacidade de imputação.
Diante da análise preliminar acerca do que vem a ser pessoa
jurídica, tem-se que a aceitação da responsabilidade penal dos entes
coletivos está intimamente vinculada a qual teoria servirá como
fundamento.
Oportuno esclarecer que, no decorrer do segundo capítulo,
primou-se em pontuar o critério da nomenclatura, usando alguns sinônimos
para referir-se à pessoa jurídica, tais como: pessoas coletivas, pessoas
morais, entes coletivos, entes morais, empresas, dentre outros.
Na terceiro capítulo, discorre-se sobre a tutela ambiental,
analisando os pontos de maior instabilidade, e palco de inúmeras polêmicas
quanto à aplicabilidade ou não do instituto da responsabilidade penal das
pessoas jurídicas no ordenamento jurídico pátrio. Construindo de maneira
breve, uma estruturação do crime em seu critério analítico, e assim, fazendo
um paralelo quanto à aplicabilidade da responsabilidade penal aos entes
coletivos, bem como se tal imputação não tangencia o princípio da
personalidade da pena, erigido constitucionalmente.
No quarto e último capítulo, buscou-se inicialmente
conceituar o que vem a ser meio ambiente e, por conseguinte, proceder-se
uma análise quanto à tutela penal ambiental em nosso ordenamento
jurídico.
Oportuno frisar que, em relação à responsabilidade penal da
pessoa jurídica de direito público, tal temática não figurou dentre os objetos
do presente trabalho, uma vez que se ateve apenas, no que tange à pessoa
jurídica de direito privado. Ademais, discorreu-se quanto à necessidade de
imputação simultânea da responsabilidade penal, tanto às pessoas jurídicas
quanto às pessoas físicas, em coautoria, e às peculiaridades quanto à
aplicabilidade das sanções penais, tendo em vista suas particularidades.
C APITULO 1- EVOLUÇÃO HISTÓRICA
A origem da criminalização das coletividades é algo que se
remonta às civilizações mais antigas de que se tem conhecimento. Shecaira
(2010, p. 1) elenca duas fases para uma melhor compreensão do presente
estudo, uma anterior e outra posterior ao século XVIII. Expõe que da Idade
Antiga à Idade Média predominaram as sanções coletivas impostas às
tribos, comunas, vilas, famílias etc. Após a Revolução Francesa, com o
advento do liberalismo, surgido com o pensamento iluminista, a nova
ideologia veio extinguir as sanções às corporações e todas as referências
associadas às punições coletivas que pudessem pôr em risco as liberdades
individuais.
A seguir, analisaremos a origem da criminalização das
coletividades em diferentes países, dando ênfase no que se refere ao
processo evolutivo brasileiro.
1.1. BABILÔNIA
O direito babilônico caracterizava-se pelo localismo, em que
cada cidade ou vila na região tinha um mundo jurídico particular. Shecaira
(2010, p. 2) dissertando sobre o tema, cita que com o advento do Código de
Hammurabi, no século XXIII a. C., o rei babilônico passa a impor uma
responsabilidade local ou da cidade para o cometimento de certos crimes.
Assim, conforme dispõe o parágrafo 23 do mencionado estatuto, em caso de
roubo, “se o assaltante não foi preso, o awilum assaltado declarará diante deDeus todos os seus objetos perdidos; a cidade e o governador, em cuja terra
e distrito foi cometido o assalto, o compensarão por todos os objetos
perdidos”.
O mencionado dispositivo estabelece uma alternativa ao
parágrafo anterior, hipótese em que o roubador era preso. Nessas
circunstâncias caberá ao governante (ou à própria cidade) local indenizar a
vítima do crime. O mesmo ocorreria se houvesse um latrocínio. Nessa
hipótese, caberia à cidade ou ao governador pagar uma quantidade
correspondente em ouro aos familiares da vítima.
Verifica-se, então, que o direito antigo já se preocupava em
responsabilizar coletivamente os autores de delitos, bem como a
comunidade, vez que a pena passava da pessoa do condenado atingindo
vizinhos, a cidade ou toda a sociedade.
1.2. GRÉCIA
Pode-se dividir a história do direito penal grego em duas fases:
a primeira, marcada pelo espírito coletivista, e a outra, pelo individualismo.
Até o século VII a.C. não se conhecia a terra como propriedade individual,
mas uma terra que pertencia a um grupo, a uma ideia abstrata, que era o
espírito da família encarnado sucessivamente nos seus antepassados, nele e
nos seus descendentes.[1]
Nas cidades, os cidadãos repartiam-se em agrupamentos cada
vez mais restritos: a tribo, a fatria e, enfim, imediatamente acima da família
individual, o genos, isto é, o clã ou a família ampla. Nessa época, não
existia a justiça criminal do Estado.[2]
Posteriormente, já marcado pelo individualismo, decorrente da
invenção da moeda, o espírito coletivista cede espaço aos conceitos
pessoais. Nessa época, deu-se a mais significativa evolução no plano do
direito penal, principalmente no que se refere à responsabilidade, embora
no tocante aos crimes religiosos e políticos permanecessem as sanções de
caráter coletivo.
1.3. ROMA
Inicialmente, o Direito Romano, diferente de outras sociedades
da antiguidade, desconheceu o direito coletivo, posto que no seio desta
sociedade estava arraigado o caráter jurídico positivo prático, afastando
quaisquer teorias que traziam abstração ao ordenamento regente da
sociedade.
No entanto, no transcorrer dos anos, ainda que tardio,
reconheceram a responsabilização das pessoas coletivas, embora estas eram
consideradas como sendo mera ficçao jurídica, tendo sido concebidas
apenas para a satisfaçao de necessidades práticas.
Corroborando esta ilação o Professor Sergio Salamão
Schecaira, esclarece, in litteris:
No entanto, tais entidades eram concebidas como pura ficção, um artifício
legal a que não eram diferentes- em essência- das pessoas que as
compunham. Ora, em virtude dessa natureza fictícia, as pessoas coletivas
não eram responsáveis criminalmente no direito romano; daí o adágio
societas delinquere non potest.[3]
Entretanto, outros autores, como Aquiles Mestre e Valeur,
defendem que os romanos responsabilizavam criminalmente as pessoas
jurídicas, negando, assim, a assertiva retro mencionada. Baseiam suas
afirmações, sobretudo, nos textos de Ulpiano, sustentando que a ação penal
quod metus causa podia ser dirigida contra uma universitas e que os
colégios de decuriões podiam ser considerados culpados or fatos dolosos.
[4]
Outro não é o entendimento de Affonso Arinos de Mello
Franco, sic:
Apesar, portanto, da regra “soietas delinquere non potest”, que adotavam, e
da noção, que já tinham, do conceito subjetivo da imputabilidade pessoal,
como fundamento do dolo criminal, os romanos reconheciam
implicitamente a possibilidade de delitos praticados por pessoas jurídicas,
uma vez que estas eram punidas com sanções penais.[5]
Assim, verifica-se que a responsabilidade penal coletiva é um
assunto controvertido entre os estudiosos, conforme acima demonstrado.
1.4. JAPÃO
O Japão é adepto da responsabilização penal da pessoa jurídica,
sendo adotada desde o ano de 1932, com a introdução de um novo sistema
pelo Act Preventing Escape of Capital to Foreing Coutries, denominado
Ryobatsu-Kitei, de acordo com o qual pune-se pelo delito tanto o autor,
pessoa natural, quanto a empresa.[6]
1.5. INGLATERRA
A Inglaterra influenciada pela teoria da ficção não admitia em
sua doutrina antiga a responsabilização penal das pessoas jurídicas, apesar
de ser um país integrante do sistema da common low.
Com o advento da Revolução Industrial, século XIX, cresceram
vertiginosamente o número de crimes praticados por intermédio de grandes 
empresas, culminado com uma mudança jurisprudencial, no sentido de
aplicar sanções coletivas, para delitos comissivos e omissivos, praticados
por pessoas jurídicas. [7]
Assim, apesar da evolução ter sido lenta, no ano de 1948, o
Criminal Justice Act estabeleceu a possibilidade de conversão da pena
privativa de liberdade em prestação pecuniária [8]. Desse modo, no
ordenamento em comento, a pessoa jurídica poderia responder
criminalmente por qualquer delito, desde que compatíveis com sua natureza
peculiar.
1.6. FRANCÊS
Tem-se que a responsabilidade penal da pessoa jurídica se
consagrou apenas com o advento do Código Penal em vigor a partir de 1º de
maio de 1994, instante em que a França juntou-se ao rol dos que admitem
expressamente a responsabilidade penal coletiva.[9]
O Direito francês admite a responsabilização penal da pessoa
jurídica em relação a todas pessoas jurídicas de direito privado, incluindo os
sindicatos, associações, as sociedade civis e comerciais. O referido código
excluiu de seu alcance as infrações cometidas por coletividades territoriais,
como exemplo, as comunas, departamentos, regiões quando no exercício da
atividade inerente às funções entendidas como próprias do poder público e
do próprio estado.[10]
Luiz Régis Prado em análise ao Código Penal francês, acerca
dos fundamentos ensejadores da adoção do referido instituto foram
basicamente dois; a uma, pela necessidade de se considerar apenas a
corporação responsável por fatos delituosos não imputáveis às pessoas
naturais, ou seja, visou-se evitar que os dirigentes sofressem uma presunção
de responsabilidade efetiva por delitos que poderiam até mesmo ignorar.
Necessário, portanto, imputar essa responsabilidade à pessoa jurídica como
um todo. A duas, o fundamento invocado diz respeito aos meios poderosos
de que dispõem as pessoas jurídicas e que podem atentar face à saúde
pública, ao meio ambiente e à ordem econômica e social. Nesses termos,
sua imunidade penal seria algo chocante no plano da equidade e da
legalidade.
1.7. DIREITO ALEMÃO
O sistema jurídico alemão adotou a responsabilização penal da
pessoa jurídica de uma forma diferenciada das já mencionadas, originando
um arcabouço legislativo-doutrinário de direito administrativo criminal.[11]
Para guarnecer o direito penal dentro dos princípios
constitucionais, chegou-se à definição de infrações administrativas e à
organização da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Existem
inúmeros textos, dentro de todos os setores da vida administrativa,
econômica e social, que dirigem não só aos entes coletivos legalmente
constituídos, mas às associações sem personalidade jurídica. Exigem-se que
no comportamento ilícito tenha havido a intervenção de uma pessoa
revestida da qualidade de órgão da pessoa jurídica ou, então, que pertença a
um de seus órgãos.[12]
Desse modo, a responsabilização penal da pessoa jurídica no
âmbito do direito penal alemão atrela-se ao direito administrativo e, as
penas aplicáveis são as de multa e confisco.[13]
1.8. ESTADOS UNIDOS
Nos Estados Unidos desde a promulgação do Código Penal de
Nova York, em dezembro de 1882, é admitida a responsabilidade penal dos
entes morais. Contudo, Sérgio Salomão Shecaira[14] esclarece que em
virtude do sistema federado norte-americano, não são todos os Entes que
adotam a referida imputação, citando como exemplo o Estado de Indiana
que não segue o posicionamento dos demais.
1.9. DIREITO BRASILEIRO
Durante a colonização, surgiu a necessidade de implantação de um
sistema penal no Brasil, com escopo de pacificar os conflitos sociais,
mormente entre a coroa e o povo, tendo-se por fase as Ordenações
Lusitanas, legislandosomente acerca da responsabilidade penal individual.
[15]
Com a independência do Brasil, e a instituição da República, todas
as constituições subseqüentes, 1981, 1934, 1937, 1946,1967, trataram
também, somente da responsabilidade individual.
Somente com o advento da Constituição Federativa da República
Brasileira em 5 de outubro de 1988, é que foi incorporado ao sistema
jurídico brasileiro, o instituto da responsabilidade penal da pessoa jurídica,
normatizando de forma expressa e taxativa a responsabilidade dos entes
morais.
No artigo 173, § 5º da Nossa Carta Política está disposto a
responsabilidade da pessoa jurídica contra condutas atentatórias à ordem
econômica e contra a economia popular:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração
direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
[...]
§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a
ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
Noutro prisma, o artigo 225, em seu parágrafo 3º, se enveredou na
seara penal, vez que dispôs expressamente a responsabilidade penal da
pessoa jurídica por crimes praticados contra o meio ambiente, senão
vejamos:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
[...]
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
Contudo, com a implantação do citado instituto em nosso
ordenamento jurídico, surgiram várias controvérsias acerca do tema, tanto
doutrinários, quanto jurisprudencial. Se por um lado, alguns autores
afirmam que a Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade
penal dos entes coletivos, existem os opositores, entendendo que dentro do
sistema penal pátrio não é possível tal impetração, permanecendo assim, em
vigor, o brocardo societas delinquere non potest.
Discorrendo acerca do tema, o professor Gaspar Alexandre
ressalta, que a maior parte dos constitucionalistas pátrios se posicionam no
sentido de que a Constituição Federal realmente instituiu a responsabilidade
penal corporativa.
Embasando tal assertiva no escólio de Celso Ribeiro de Bastos e
Ives Gandra Martins, os quais lecionam que a Constituição em vigor “
rompeu com um dos princípios que vigorava plenamente no nosso sistema
jurídico, o de que a pessoa jurídica não é passível de responsabilização
penal. Em que pese não concordarem com a opção dos constituintes,
reconhecem que vontade do texto constitucional lhes parece incontroversa.
[16]
Nesta esteira, alguns penalistas seguiram o entendimento de que a
novel Constituição de 1988 consagrou a responsabilidade penal dos entes
morais, a citar Márcia Dometila Lima de Carvalho:
(...) a responsabilidade penal da pessoa jurídica está prevista
constitucionalmente e necessita ser instituída, como forma inclusive de
fazer ver, ao empresariado, que a empresa privada também é responsável
pelo saneamento da economia popular e do meio ambiente, pelo objetivo
social do bem comum, que deve estar acima do objetivo individual do
lucro a qualquer preço.[17]
Corroborando do mesmo entendimento, vários estudiosos se
filiaram como partidários, de que a Constituição Federal de 1988 consagrou
a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, tais como: Pinto Ferreira,
Silvio Cappelli, Gilberto Passos de Freitas, Fernando Castelo Branco,
Sérgio Salomão Shecaira, Fausto Martins de Sanctis, Walter Claudius
Rothemburg, dentre outros.[18]
Em sentido contrário, porém, autores renomados como Luiz Regis
Prado, Walter Coelho, Miguel Reale Jr., René Ariel Doti, Luiz Vicente
Cernicchiaro, discordam que a Constituição Federal tenha instituído a
responsabilidade penal das pessoas jurídicas, tendo como principal
argumento a forma de interpretação da constituição. [19]
Dentre os citados autores, Luiz Regis Prado, afirma que o § 3º do
artigo 225 referiu-se, claramente, à conduta/atividade e em seguida às
pessoas físicas ou jurídicas, argüindo que o próprio legislador procurou
distinguir esses dois vocábulos.
Desse modo, não há que lograr êxito os posicionamentos que
afirmam que o disposto no art. 225, § 3º, da nossa Carta Política, referiu-se
claramente aos vocábulos conduta/atividade, imbuindo de forma evidente, o
primeiro às pessoas físicas, e o segundo ás pessoas coletivas, vez que o
texto constitucional apenas buscou de maneira abstrata trazer palavras que
continham o mesmo significado, não cabendo, sequer, o emprego da
hermenêutica para solução da aventada interpretação.
É também o entendimentos de Sérgio Salomão Shecaira, que
trouxe em seu escólio que os vocábulos “conduta” e “atividade” foram
empregados no texto constitucional como sinônimos, chegando a conclusão
de que tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas podem praticar condutas
ou atividades lesivas ao meio ambiente, devendo ser punidas por isso.[20]
Assim, por tal responsabilidade acobertar matéria de suma
importância, ou seja, questões afetas ao Meio Ambiente, necessário se faz a
aplicação da norma com maior rigor, atingindo não somente as pessoas
físicas, mas também as pessoas jurídicas, vez que atuam mediante a volição
daqueles, auferindo todas as vantagens provenientes do delito.
O constituinte brasileiro quando inseriu tais dispositivos na Carta
Magna, o fez baseado na realidade contemporânea, onde se verifica um
tendência de diversos países, no sentido de coibir os crimes praticados pelos
entes morais, responsabilizando-os pelos mesmos. [21]
Pelo exposto, não há que se dar guarida a qualquer outro
posicionamento, senão àqueles que afirmam a possibilidade da
responsabilidade penal dos entes coletivos trazidos pela Constituição
Federal de 1988, restringindo sua aplicabilidade apenas aos dispositivos
expressamente estabelecidos na Lei Maior, em virtude do tema ser bastante
intrincado e palco de inúmeras divergências.
CAPÍTULO 2 - DAS PESSOAS JURÍDICAS
2.1 - Conceito
Tem-se que desde a antiguidade, o homem, ciente de suas
limitações e por ser gregário por natureza, buscou auxílio mútuo com os
demais seres pertencentes à sua espécie, formando, assim, os primeiros
agrupamentos com escopo de alcançar seus objetivos.
Em razão de ser um sujeito eminentemente social, tentava atingir
seus fins unindo-se aos seus semelhantes, e com essa união de esforços
acabavam superando suas carências individuais, bem como a efemeridade
de suas vidas. Acerca do tema o Carlos Roberto Gonçalves, retrata esse
espírito de associação:
O Direito não podia ignorar essas unidades coletivas, criadas pela
evolução histórica ou pela vontade dos homens, e passou então a
discipliná-las, para que possam participar da vida jurídica como sujeitos
de direitos, a exemplo das pessoas naturais, dotando-as, para esse fim, da
personalidade própria. A razão de ser, portanto, da pessoa jurídica está na
necessidade ou conveniência de os indivíduos unirem esforços e
utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, que
transcendem as possibilidades individuais.
Com efeito, vê-se que a pessoa jurídica é proveniente de um
fenômeno histórico e social. Surgiu, asssim, a necessidade de regulamentar
e inserir no ordenamento normativo os entes morais, tornando-se sujeitos de
direitos e obrigações com plena capacidade e gozando de determinada
individualidade, podendo desempenhar suas funções em nome próprio,
desvinculando de certo forma o ser individual.
Diferentes denominações foram atribuídas a essas entidades em
diversos ordenamentos jurídicos pelomundo, a citar: pessoas morais
(Direito francês), pessoas coletivas (Direito português), pessoas civis,
místicas, fictícias, abstratas, intelectuais, de existência ideal, universais
compostas ou universalidades de pessoas. No Brasil, na Alemanha, na
Espanha e na Itália, dentre outros países, preferiu-se a expressão “pessoas
jurídicas”.
Buscando um conceito adequado em relação às pessoas
coletivas, o Professor Silvio Rodrigues define como sendo “entidades a que
a lei empresta personalidade, isto é, seres que atuam na vida jurídica, com
personalidade diversa da dos que os compõem, capazes de serem sujeitos de
direitos e obrigações na ordem civil”.
Todavia, insta ressaltar que não é toda e qualquer reunião
ocasional de pessoas naturais que pode receber a denominação pessoa
jurídica, tornando-se sujeito de direitos e obrigações distinta daquela
inerente à individualidade. As personalizações coletivas dependem da
conjunção de três requisitos básicos, de acordo com o escólio de Caio
Mário da Silva Pereira, quais sejam, a vontade humana criadora, a
observância das condições legais para sua formação e licitude de seus
objetivos.
No que diz respeito à vontade humana criadora, o animus de
constituir um corpo social diferente dos membros integrantes é
fundamental. Tem-se, também, que para a pessoa jurídica gozar de suas
prerrogativas, deverá seguir a observância de determinadas regras, bem
como dirigir-se para um fim lícito, contudo, caso haja desvios ilícitos
daqueles relacionados ao contrato social, o ordenamento possui
mecanismos legais para inibir abusos e até extinguir sua personalidade.
2.2 - Natureza Jurídica
Embora existiram teorias que negaram a existência da pessoa
jurídica (corrente negativista), o direito no decorrer dos anos foi-se
afastando desta acepção, fortalecendo a corrente afirmativista que, em suas
diversas vertentes buscaram definir a natureza jurídica dos entes coletivos.
Entretanto, é relevante ressaltar aquelas que mais se destacaram
dentre as concepções elaboradas: 1) teoria da ficção legal; 2) teoria da
equiparação; 3) teoria da realidade objetiva ou orgânica; 4) teoria da
realidade das instituições jurídicas, ou, da realidade técnica e
institucionalista.
A teoria da ficção legal teve sua origem no Direito Canônico,
partindo do pressuposto que somente o homem seria capaz de ser sujeito de
direitos, ao passo que a pessoa jurídica teria uma existência meramente
ideal ou abstrata, sendo uma criação da pura técnica do direito. É a teoria
sustentada por Saviny, que teve prevalência na Alemanha e na França no
século XVIII.
Essa teoria foi palco de fortes críticas, em especial no que se
refere à personalidade jurídica do próprio Estado, pois sendo este uma
ficção jurídica, o direito que dele emanar, também o seria. Formulando
como resposta os seguidores desta teoria, entendem que, como o Estado é
necessidade primária e fundamental, tem existência natural.
É este também o entendimento de Maria Helena Diniz, quando
discorre acerca do tema, afirmando que:
“não se pode aceitar esta concepção, que, por ser tão abstrata, não
corresponde à realidade, pois o Estado é uma pessoa jurídica e se se
concluir que é ficção legal ou doutrinária o direito que dele emana
também será.”
Na mesma esteira segue Giorgio Del Vecchio:
“A teoria da ficção não pode ser aceita. Ela não cuidou de explicar de
maneira alguma a existência do Estado como pessoa jurídica. Quem foi o
criador do Estado? Uma vez que ele não se identifica com as pessoas
físicas, deverá ser havido como ficção? Nesse caso, o próprio direito
também será outra ficção. Porque emanado do Estado. Ficção será,
portanto, tudo quanto se encontre na esfera jurídica, inclusive a própria
teoria da pessoa jurídica” 
Discorrendo sobre a teoria da equiparação defendida por
Windscheid e Brinz, Washington de Barros Monteiro entende que esta nega
qualquer personalidade jurídica como substância, posto que a indigitada
teoria considerava que as pessoas jurídicas não passavam de meros
patrimônios destinados a um fim específico, ou patrimônios personificados
pelo direito, tendo em vista o objetivo a conseguir-se.
Ainda, Washington Monteiro de Barros, citando Del Vecchio,
evidencia a inaceitabilidade de semelhante concepção, que personaliza o
patrimônio, elevando os bens ao plano de sujeitos e direitos e, por outro
lado, rebaixando as pessoas, até confundi-las com as coisas.
De acordo com a teoria em comento, depreende-se que não seria
capaz a constituição de pessoas jurídicas sem patrimônio. Contudo, tal fato
não condiz com a realidade jurídica atual, vez que diversos entes coletivos
são constituídos não com intuitos econômicos, mais sim, recreativos, ou
para praticar a caridade, a assistência social, sem que haja a finalidade de
obtenção de lucros.
De maneira diversa aos preceitos trazidos pela teoria da ficção,
que dizia que somente o homem poderia ser sujeito e titular de direitos, a
teoria da realidade objetiva ou orgânica, de procedência germânica (Gierke
e Zitelmann), buscou uma conceituação ampla, entendendo que pessoa não
é só homem, pois juntos deste há entes dotados de existência real, tão real
quanto as pessoas físicas.
Esta teoria defendia que a pessoa jurídica seria simplesmente um
organismo social vivo, a ser explicada pela sociologia e não pela técnica do
direito. Todavia, em que pese suas acepções terem buscado a corrigenda dos
preceitos fictícios defendidos, acabou por se mostrar também insuficiente,
vez que ao afirmar que a pessoa coletiva possui determinação de vontade
própria, negou-se o próprio fenômeno volitivo, algo que é inerente somente
aos seres humanos.
Surge, então, uma teoria eclética, a qual mescla preceitos da
teoria da ficção legal e da teoria da realidade orgânica, denominada de
teoria da realidade técnica ou jurídica, também conhecida por teoria da
realidade das instituições.
Vicente Ráo, afirma que embora as pessoas jurídicas sejam reais,
sua realidade jurídica não pode ser confundida com a das pessoas naturais.
Assim, tem-se que a existência das pessoas coletivas está intimamente
ligada à sua titularidade de direitos, não podendo concebê-las sem tal
prerrogativa, demonstrando, desse modo, que sua existência é real e não
fictícia.
Sendo mista, a teoria reconhece que há uma parcela de verdade
em cada uma das teorias já citadas. Do ponto de vista físico e natural, só a
pessoa física é realidade, não passando a pessoa jurídica de mera ficção. Em
contrapartida, verificou-se que a essência da personalidade, de sujeito de
direito, não é noção que vá se buscar nas ciências naturais, mas sim, na
ciência jurídica.
Desse modo, vê-se que esta teoria, mais equilibrada, reconhece
que a pessoa jurídica seria personificada pela técnica abstrata do direito,
além de ter também dimensão social integrando relações de variadas
ordens.
Apresentando-se como uma das principais objeções acerca da
teoria em análise, está o fato dela não traçar nenhum critério justificativo da
atribuição da personalidade. Além disso, não consegue explicar como seria
possível conceder personalidade jurídica para as sociedades que se
organizam sem o objetivo de prestar serviços ou preencher ofícios.
Maria Helena Diniz discorrendo acerca do tema, considera que a
teoria da realidade técnica ou jurídica, ou como prefere chamá-la, teoria da
realidade das instituições, é a que melhor atende a essência jurídica, por
estabelecer, com propriedade que a pessoa jurídica é uma realidade.
2.3. Classificação
As pessoas jurídicas podem ser classificadas quanto à
nacionalidade, à sua estrutura interna e às suas funções e capacidade.
Sob o primeiro aspecto, a pessoa jurídica divide-se em nacionais
e estrangeiras, tendo em vista sua articulação e subordinação à ordem
jurídica que lhe conferiu personalidade, sendo irrelevante a nacionalidade
dos membros que a compõem e à origem do controle financeiro. Assim,
tem-se que a sociedade nacional é aquela organizada segundo o
ordenamento jurídico pátrio e que tenha sua sede administrativa no País.Em relação à segunda classificação, no que se refere à estrutura
das pessoas jurídicas, têm-se a instituição de associações (universitas
personarum), ou fundações (universitas bonorum), sendo que, aquelas se
distinguem destas, em razão de que os requisitos integrantes daquelas são a
pluralidade de pessoas e o escopo comum que os anima, e destas o
pressuposto é eminentemente patrimonial destinados a uma finalidade.
Alicerçando o argumento exposto, afirma Andrea Torrente:
Aquelas, se referindo às associações, têm, é claro, um patrimônio, mas
esse patrimônio tem função instrumental, representa um meio para
consecução dos fins colimados pelos sócios. Nestas, nas fundações, o
patrimônio constitui elemento essencial, juntamente com o objetivo a que
ele a destina.
Por fim, quanto às funções e capacidade, as pessoas morais são
classificadas de direito público, interno ou externo, e de direito privado (art.
40, CC). As pessoas jurídicas de direito público externo são regulamentadas
pelo direito público internacional, v.g. nações estrangeiras, uniões
aduaneiras que têm por escopo facilitar o comércio exterior e organismos
internacionais (ONU – Organização das Nações Unidas, OEA –
Organização dos Estados Americanos). O artigo 42 do Código Civil dispõe:
“são pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e
todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional”.
Já em relação às pessoas jurídicas de direito público interno,
tem-se que são reguladas pelo direito interno de um país, podendo citar em
nosso ordenamento aqueles entes pertencentes à administração direta:
União, os Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, bem como os
órgão descentralizados pertencentes à administração indireta, criados por lei
e com personalidade jurídica própria para o exercício de atividades
Públicas, como ocorre com as autarquias (INSS, INCRA, IPHAN e etc.)
As pessoas jurídicas de direito privado estão enumeradas no
artigo 44, incisos de I a VI, do Código Civil. São as associações, as
sociedades (simples e a empresária), as fundações (particulares), as
organizações religiosas e os partidos políticos, sendo inseridas, com o
advento da Lei 12.441/2011, as empresas individuais de responsabilidade
limitada (EIRELI).
As associações, nos dizeres do artigo 53 do Código Civil, são
constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não
econômicos, não havendo entre os associados, direitos e obrigações
recíprocas, ressaltando, assim, seu aspecto eminentemente pessoal
(universitas personarum).
Tem-se, desse modo, que haverá a instituição de associação
quando não houver fim lucrativo ou intenção de dividir o resultado, embora
tenha patrimônio, formado pela contribuição de seus membros para
intenção de fins culturais, educacionais, esportivos, religiosos morais, etc.
Contudo, conclui-se que não se perde a categoria de associação ao realizar
negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio, sem todavia,
proporcionar ganhos aos associados.
A seu turno, a parte especial do atual Código Civil, se incumbiu
de tratar das particularidades referentes às Sociedades, em seu Livro II (Do
Direito de Empresa), Título II (Da Sociedade), nos artigos 981 a 1.141,
subdividindo-se, em sociedades empresárias, que tem por objeto o exercício
de atividade própria de empresário sujeita a registro, e sociedade simples,
que seriam todas as demais.
Por outro lado, as fundações, diferentemente das sociedades e
das associações não são formadas pela união de indivíduos, mas sim, pelo
destacamento de um patrimônio que se personifica para a realização de
finalidade ideal ou não lucrativa.
Discorrendo acerca das fundações particulares Maria Helena
Diniz, esclarece:
são universalidades de bens, personalizadas pela ordem jurídica, em
consideração com um fim estipulado pelo fundador, sendo este objetivo
imutável e seus órgãos servientes, pois todas as resoluções estão
delimitadas pelo instituidor. É, portanto, um acervo de bens livres, que
recebe da lei a capacidade jurídica de realizar as finalidades pretendidas
pelo seu instituidor, em atenção aos seus estatutos, desde que religiosas,
morais, culturais e assistenciais (CC, art. 62, parágrafo único). Não tem
fins econômicos, nem fúteis.
No que se refere às organizações religiosas, além de deverem
obediência ao Código Civil, ao estarem elencadas em inciso independente
em seu artigo 44, devem atentar-se às regras específicas a depender do tipo
de organização. Ao passo que, apesar de guardarem semelhanças com as
associações e as fundações, reclamam distinção legal, devendo aplicar-lhes,
como pessoas jurídicas de direito privado, as disposições afetas às
associações, no que for compatível.
Analisando o inciso V, do artigo 44, do CC, nota-se que os
partidos políticos figuram como sendo pessoas jurídicas de direito privado,
tendo natureza de associação civil . Contudo, os partidos políticos já foram
considerados pessoa jurídica de direito público interno, nos termos do artigo
2º da Lei de nº. 5682/71.
Por derradeiro, as empresas individuais de responsabilidade
limitada, são verdadeiras pessoas jurídicas unipessoais, sendo sua
responsabilidade limitada ao capital integralizado, que não poderá ser
inferior a cem vezes o salário mínimo vigente no país, conforme estabelece
o artigo 980-A, do Código Civil.
2.4 - Personalidade
As pessoas morais adquirem personalidade, ou seja, tornam-se
capazes de serem titulares de direitos, com a inscrição do ato constitutivo
no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas de direito privado,
oportunidade em são apresentadas duas vias do estatuto social, sendo que
uma fica arquivada em cartório e a outra é entregue ao representante, nos
termos do artigo 120 da Lei nº. 6015/73.
A partir desta solenidade começa a existência legal das pessoas
coletivas, tendo capacidade para exercer todos os direitos compatíveis com
a sua natureza, inclusive direitos da personalidade (art. 52, CC), observadas
as limitações legais.
Contudo, existem divergências doutrinárias quanto à extensão da
capacidade das pessoas coletivas. Para uns, a pessoa jurídica teria a
capacidade limitada aos direitos patrimoniais, devido sua natureza peculiar.
Caio Mário da Silva Pereira um dos maiores expoentes representante dessa
corrente, afirma:
Enquanto a pessoa física encontra na sua capacidade a expansão plena de
sua alteridade ou de seu poder de ação, com linhas de generalidade que
lhe asseguram a extensão ilimitada (em tese), as pessoas jurídicas, pela
própria natureza, têm o poder jurídico limitado aos direitos de ordem
patrimonial.
Todavia, outros, porém, alegam que a capacidade jurídica desses
entes coletivos abrange todos os campos do direito, fazendo com que a
pessoa jurídica possa exercer não só os direitos patrimoniais, mas todos os
direitos subjetivos que não forem inerentes à pessoa natural.
Assim, conforme verificado na dicção do artigo 52 do CC,
verifica-se que assiste razão ao segundo posicionamento, não se olvidando
quanto às limitações existentes que os entes morais possuem, devido sua
natureza sui generis, em virtude de que desde o momento em que adquire
capacidade jurídica, podem exercer todos os direitos subjetivos compatíveis
com sua natureza peculiar, necessitando, para isso, somente de um órgão
exteriorizador de sua vontade, qual seja a pessoa natural.
CAPÍTULO 3 - A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA
3.1 - Elementos do Crime e os Pontos Controvertidos Acerca de sua
Aplicação à Pessoa Jurídica
3.1.1- Teoria Analítica do Crime
Os doutrinadores Zaffaroni e Pierangeli, buscando demonstrar,
de maneira didática, o que vem a ser o conceito analítico de crime, o
descreve como um todo unitário, mas passível de fracioná-lo para melhor
compreensão. Tal lição ficou conhecida como conceito estratificado de
crime, sinônimo de conceito analítico de crime, aduzindo que o crime é
composto pelos seguintes estratos: ação típica, ilícita e culpável.
Outrossim, o fato típico se compõe dos seguintes elementos:
conduta, resultado, nexo de causalidadee tipicidade, analisados de maneira
progressiva.
3.1.1.1 - Conduta
Para que alguém seja responsabilizado criminalmente é
necessário que determinadas condições sejam satisfeitas, figurando a
conduta como o primeiro elemento integrante do fato típico, sendo
conceituada como ação ou omissão decorrente de um comportamento
humano.
Neste ponto, é que reside o primeiro argumento contrário ao
instituído da responsabilização penal, vez que devido à natureza peculiar
dos entes morais, estes não realizam conduta, ante à ausência de
consciência e vontade, inerente somente às pessoas naturais, expressado
pelo brocardo latino societas delinquere non potest.
Comungando desse entendimento, José Carlos de Oliveira
Robaldo, leciona:
O Direito Penal se preocupa não só com o desvalor do resultado como
também com desvalor da conduta. Somente a conduta humana reprovável
é que merece atenção da norma penal incriminadora. Para as três teorias
que se preocupam, no Direito Penal, com o conceito de conduta
(clássica/causalista, finalista e social) a mesma deve corresponder a um
comportamento humano voluntário (...).
Rogério Greco também se filia a esta corrente, entendendo que a
pessoa jurídica não comete crimes, sendo que quem os pratica são seus
sócios, diretores, etc, nunca ela própria, pois vigente a máxima societas
delinquere non potest. Esclarecendo, ainda, que esse também é o
entendimento de Eugênio Raul Zaffaroni, ao afirmar:
Não se pode falar de uma vontade, em sentido psicológico, no ato de uma
pessoa jurídica, o que exclui qualquer possibilidade de admitir a
existência de uma conduta humana. A pessoa jurídica não pode ser autora
de delito, porque não tem capacidade de conduta humana no seu sentido
ôntico-ontológico da mesma.
Em que pese os posicionamentos diversos, que preceituam que
tal responsabilização seria um retrocesso do Direito Penal, inúmeros
penalistas defendem a responsabilidade penal dos entes coletivos, ante a
previsão expressa no § 3º do artigo 225 da nossa Constituição Federal e sua
posterior regulamentação com o advento da Lei nº 9.605/98, denominada
Lei dos Crimes Ambientais.
Desse modo, na atualidade, por já estarem superadas as
concepções ficcionistas acerca da natureza da pessoa jurídica, ante a adoção
das teorias realistas, conforme exposto no capítulo II, posto atender à
essência dos entes morais, vez que tais entidades têm vontade própria e
distinta de seus dirigentes e administradores, explicitando, portanto, sua
realidade jurídica, matéria esta que será analisada com acuidade no item
3.3.3.
Nesse diapasão, Sérgio Salomão Shecaira, também afirma que a
pessoa jurídica possui vontade institucionalizada, paralela à vontade
humana que é resultante de sua própria existência natural, concluindo que a
pessoa jurídica pode tomar decisões que nem sempre se coadunam com as
opiniões de todos os membros. Por conseguinte, sustenta-se que a vontade
da pessoa jurídica, malgrada ser executada por pessoas naturais, é uma
realidade.
Na mesma linha de raciocínio de Shecaira, Fausto Martins de
Sanctis, discorre acerca do tema:
Sendo realidades jurídicas, criminológicas, sociais e econômicas, as
pessoas jurídicas são efetivamente capazes de conduta, fato não negado
pelos demais ramos do direito à exceção da dogmática penal. A vontade
dos entes coletivos, sendo independente de seus integrantes, pessoas
físicas permite afirmar que cometem, como estas, infrações não só
administrativas e civis como criminais.
Assim, tem-se que a vontade de ação ou vontade de conduta é um
fenômeno não exclusivo das pessoas naturais, mas afetos
incontestavelmente às pessoas jurídicas, materializado pela exteriorização
da vontade do colegiado, composto por pessoas físicas, podendo, desse
modo, cometer infrações penais utilizando-se de seus órgãos, cujas ações e
omissões são consideradas como ínsitas aos entes coletivos, estabelecendo
uma relação criminal de co-autoria necessária.
A negação incondicional do instituto em comento seria o
verdadeiro retrocesso do Direito Brasileiro, na medida em que os critérios
da função social da propriedade atrelado às diversas questões
transindividuais de cunho ambiental se afloram no consciente de toda
sociedade. Logo, a não aplicabilidade de sanções de cunho penal às pessoas
morais contrapõe à própria preservação do meio ambiente e, por
conseguinte, da própria sociedade.
3.1.1.2 - Relação de Causalidade
O Código Penal em seu artigo 13 aduz “o resultado, de que
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido”. Verifica-se, portanto, a adoção à teoria da equivalência dos
antecedentes causais ou da conditio sine qua non, a qual considera causa
como sendo a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Isso significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem,
desde que indispensáveis à sua ocorrência.
De igual maneira com que se procede a análise da imputação de
conduta às pessoas naturais, deve-se verificar a existência do liame que une
a conduta do ente coletivo como resultado lesivo ao bem jurídico tutelado e,
se tal ação foi realmente condicionante para ocorrência do mesmo. Em caso
afirmativo, não há que se refutar a existência da conduta ilícita.
Buscando melhor verificar se uma ação foi condicionante à
ocorrência do resultado, o professor Sueco Tryrén, criou o chamado
processo hipotético de eliminação, recomendando uma exclusão mental de
determinadas condutas da cadeia causal, e, se diante das ações subtraídas o
resultado não ocorreria, o fato suprimido deve ser considerado como causa
do resultado.
Importante ressaltar que, em se tratando de crimes formais e de
mera conduta não haverá a exigência do resultado naturalístico para que
ocorra a consumação do crime e, por conseguinte, inexistente o liame entre
conduta e resultado.
3.1.1.3- Tipicidade
A palavra tipo, na lição de Zaffaroni, “é um instrumento legal,
logicamente necessário e de natureza predominante descritiva, que tem por
função a individualização de condutas humanas penalmente relevantes”.
Assim, pelo tipo penal consistir na adequação perfeita da
conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal,
surgem alguns problemas. Observa-se que nenhum dispositivo do Código
Penal brasileiro trata de tipos específicos relacionados às pessoas jurídicas,
tendo a legislação sistematizado apenas condutas tomando-se por referência
ações humanas e, não somente lesões a bens jurídicos relevantes.
Inclusive, alguns doutrinadores têm defendido a elaboração de
um novo Código Penal específico para aplicar sanções aos entes coletivos.
Contudo, esta proposta se mostra descabida e inapropriada, vez que são
necessárias apenas adaptações ao código já existente.
Neste sentido, Fausto de Sanctis, afirma que:
Não há dúvida que colocada a questão nestes termos, não se demandaria a
elaboração de um novo Código Penal, mas a alteração de alguns
dispositivos, para que a responsabilidade criminal deixe de ser uma
exclusividade dos seres humanos.
Assim, tem-se que para evitar discussões no que se refere à
aplicabilidade do Código Penal às pessoas jurídicas, vez que o referido
ordenamento destina-se somente às pessoas físicas, cria-se a necessidade de
se realizar adequações, contudo, não deixando de atentar-se às
características peculiares dos entes morais.
3.1.1.4 - Culpabilidade
Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza
sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Nas lições de Welzel,
“culpabilidade é a reprovabilidade da configuração da vontade”. Toda
culpabilidade é, desse modo ‘culpabilidade de vontade’ somente.
Extraindo-se da concepção finalista da ação, trazida por Welzel,
determinados elementos normativos compõem a culpabilidade, quais sejam:
a) imputabilidade; b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato; c)
exigibilidade de conduto diversa.
Em que pese argumentos contrários, alguns autores, a citar Luiz
Régis Prado, afirmam que a culpabilidade,enquanto juízo de censura só
pode ser endereçada a uma pessoa natural, não se estendendo às pessoas
jurídicas.
Comungando deste entendimento César Roberto Bitencourt
analisa separadamente os elementos normativos que compõem a
culpabilidade. Esclarece, ainda, que a pessoa jurídica seria inimputável, e
que a imputabilidade do agente só existe quando ele apresenta condições de
normalidade e maturidade psíquica, e atributos como “maturidade” e
“alterações psíquicas” são exclusivos da pessoa natural, sendo impossível
serem transferidos às entidades coletivas.
Em análise à consciência da ilicitude do fato, o citado autor
afirma que não se pode exigi-la da pessoa jurídica, posto que a atividade se
desenvolve por meio de seu diretores ou prepostos. Não sendo razoável,
nessas circunstâncias, formular-se um juízo de reprovabilidade em razão de
conduta da empresa que, eventualmente, contraria a ordem jurídica.
Por outro lado, quanto ao elemento da exigibilidade de conduta
diversa, afirma que, embora, em tese, possa ser exigido, esbarra-se no
caráter sequencial de tal análise, em virtude de falecer o elemento da
imputabilidade, não podendo se falar em potencial consciência da ilicitude
do fato, vez que somente é exigido e exigível aos imputáveis.
Em sentido contrário, João Marcelo de Araújo Júnior, citado por
Gaspar Alexandre, entende que a responsabilidade da pessoa jurídica não é
igual à responsabilidade cumulativa que nasce das somas das
responsabilidades individuais, nem está fundada numa responsabilidade por
fato de outrem.
Esclarece tratar-se de uma responsabilidade originária da
entidade, de fundamento social, porquanto a entidade, do ponto de vista
ético ou moral, possui responsabilidade por atuar dentro do corpo social do
qual extrai o seu ganho e sua própria existência.
Infere-se, portanto, que no atuar do ente coletivo, não há que se
dar guarida àqueles que defendem que a culpabilidade das entidades baseia-
se em fato alheio, uma vez que o ente moral possui vontade própria, sendo
emanada de seu estatuto social, não se olvidando quanto à capacidade de
praticar condutas criminosas por intermédio e mediante a volição de seus
administradores, órgãos e prepostos.
Ademais, no que tange à imputação de fato culpável à pessoa
jurídica, por óbvio não se deve analisá-la como se fosse pessoa natural, em
razão de sua natureza peculiar.
Logo, a culpabilidade da pessoa jurídica é verificada diante da
fruição dos resultados trazidos pelos danos realizados pela pessoa natural,
possibilitando, assim, o juízo de reprovabilidade social, sobre as lesões a
bens jurídicos relevantes, isto é, dentro da análise estrita do presente
trabalho, no que concerne aos danos ambientais que são guarnecidas pelo
direito penal.
3.1.1.5 - Princípio da Personalidade da Penal
O Princípio da personalidade da pena encontra-se fulcrado no
artigo 5º inciso XLV, da Carta Política de 1988, sendo utilizado como
fundamento por aqueles que refutam a responsabilidade penal dos entes
morais, in verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido;
Preceituando o mencionado princípio que, apenas o autor da
lesão ao bem jurídico tutelado seja responsabilizado, excluindo-se da esfera
de punição terceiros que não comungaram do ilícito. Nesse sentido, pondera
Osvaldo Henrique Duek Marques, que :
Atribuir à pessoa jurídica a autoria de um infração penal, por fato de
terceiro, constituíra o retorno à responsabilidade coletiva e objetiva,
oriunda da época de totêmica, na qual os clãs primitivos atuavam como
um todo, solidários na ação e na responsabilidade. As sanções atingirão
todos os integrantes da entidade, tenham ou não participação no crime, o
que violará o princípio da personalidade da pena.
Servindo, desse modo, como argumento aos combatentes da
responsabilidade em comento, de que a condenação penal de um pessoa
jurídica atingiria todos os seus membros, incluindo àqueles que não
colaboraram com a decisão que culminou a lesão, v.g., sócios minoritários
sem direito de voto.
Estes posicionamentos, contudo, não merecem prosperar, vez
que mesmo as sanções impostas às pessoas naturais atingem de certa
maneira terceiros, exorbitando os fins almejados.
Em análise, na aplicação das penas, seja restritiva de direito seja
privativa de liberdade, em se tratando de indivíduos naturais, os efeitos
morais da condenação estendem, por exemplo, aos cônjuges, aos
dependentes e todos aqueles que tenham ligação com o condenado.
Ademais, quando da aplicação de pena de multa, muito embora, v.g.,
aplicada apenas a um dos cônjuges, a sanção recai sobre o patrimônio de
ambos.
Nesse sentido, Fernando Galvão da Rocha, observa que:
O Princípio segundo o qual nenhuma pena passará da pessoa do
condenado não constitui verdadeiro obstáculo ao reconhecimento da
responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Toda e qualquer pena deve
ser dirigida diretamente ao autor da violação à norma protetiva do bem
jurídico, mas seus efeitos podem serem sentidos por terceiros. No caso da
pessoa jurídica, a penalidade que lhe possa ser aplicada atingirá apenas
indiretamente os sócios ou quotistas que, eventualmente tenham se oposto
à realização da atividade delitiva.
Assim, em se tratando de sanções penais, não mais vigora a
aplicação de penalidades corpóreas, tais como aquelas trazidas por
Beccaria. Sobre essa questão, João Marcelo de Araújo Filho, esclarece que
no Direto Penal contemporâneo, busca-se reforçar no âmbito da cidadania a
ideia de vigência, utilidade e da importância da norma violada pelo infrator
para convivência social.
Destarte, conclui-se que não há nenhum empecilho, tampouco
violação ao princípio da personalidade da pena na aplicação de penalidades
aos entes coletivos. Contudo, deve-se observar as características sui
generis da entidade, conforme exposto no capítulo 4, acerca das
modalidades de sanções aptas à responsabilização penal coletiva.
CAPÍTULO 4 - RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
4.1 - Conceito de Meio Ambiente
Antes de adentrar na seara da tutela ambiental, oportuno buscar
os conceitos de meio ambiente, posto existir certa confusão acerca dos
elementos que o compõe. Importante frisar a definição de Aurélio Buarque
de Holanda Ferreira: “Meio ambiente. Ecol. O conjunto de condições e
influências naturais que cercam um ser vivo ou uma comunidade e que
agem sobre ele(s).”
José Afonso da Silva, em seu escólio afirma que, a própria
expressão meio ambiente é redundante, pois a palavra ambiente engloba a
de meio, uma vez que a palavra ambiente “indica a esfera, o círculo, o
âmbito que nos cerca, em que vivemos” , conceituando o meio ambiente
como sendo: “ interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e
culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as
suas formas”.
Desse modo, tem-se que integram o meio ambiente natural, o
solo, a água, o ar atmosférico, a fauna, a flora, exercendo interseções e
interação entre as espécies e meio em que vivem. Já meio ambiente
artificial, engloba o espaço urbano construído pelo homem, desdobrando
em espaço urbano fechado (conjunto de edificações) e espaço urbano aberto
(conjunto de equipamentos públicos, tais como ruas, praças e áreas verdes.
Por derradeiro, o meio ambiente cultural é constituído pelo patrimônio
histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico.
Assim, saindo da esfera do senso comum, buscando um conceito
amplo do que vem a ser meio ambiente, a Lei nº. 9605/98, conhecida por
Lei dos Crimes Ambientais, trouxe que além da tutela penal incidir sobre o
meio ambientenatural, irá aplicar penalidades àqueles que lesarem o
ordenamento urbano e patrimônio cultural, nos termos da seção IV, do
Capítulo V, da citada l
4.2 - Tutela Penal Ambiental no Ordenamento Pátrio
4.2.1- Responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei. 9605/98.
Atendendo ao dispositivo constitucional trazido pela
Constituição Federal de 1988, fulcrado em seu artigo 225, § 3º, o legislador
editou a Lei nº. 9.605, vulgarmente conhecida por Lei dos Crimes
Ambientais, no Diário Oficial em 13 de fevereiro de 1998, regulamentando
mediante legislação infraconstitucional, a responsabilidade penal das
pessoas jurídicas.
De fato, somente com o advento da referida norma e a adoção do
nominado instituto, foi que se deu início às inúmeras discussões
doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema, posto que a Lei 9605/98
regulamentou a responsabilidade penal dos entes coletivos, até então não
reconhecida no ordenamento brasileiro, porém, bastante difundida em
outros países que adotam o sistema da common law, com escopo de coibir
os crimes cometidos contra o meio ambiente, conforme exposto no capítulo
3 deste trabalho.
Em que pese os argumentos que afirmam que a lei dos crimes
ambientais fere o princípio da legalidade, posto que o texto legal não prevê
expressamente quais os crimes podem ser cometidos pela pessoas jurídicas,
o fato é que, andou bem o legislador, vez que não raras as vezes as pessoas
físicas se utilizam de todo o potencial da pessoa jurídica para cometerem
crimes ambientais, sendo que esta goza de todas as vantagens de tais
ilícitos, e a pessoa natural se esconde por de trás do ente social, na tentativa
de escusar-se da aplicação da lei penal.
Neste diapasão, infere-se, portanto, que a responsabilização do
ente moral, não exclui a pessoa natural do pólo passivo, sendo que a
recíproca também é verdadeira, uma vez que o Direito Brasileiro busca
cada vez mais, criar e aplicar normas que visem coibir as ingerências
praticadas contra o meio ambiente, sempre com um olhar de cautela,
evitando-se o tangenciamento dos preceitos estabelecidos pelo Princípio de
Intervenção Mínima buscado pelo Direito Penal.
Outro aspecto combatido na Lei 9605/98, no que tange à
responsabilização penal dos entes coletivos, refere-se à ausência de norma
processual ou procedimento específico a respeito da matéria.
Todavia, tem-se no artigo 27 do ordenamento em comento, que
os delitos de menor potencial ofensivo serão regidos pela Lei 9099/95,
inferindo-se, portanto, que apesar da lei ter-se mantido silente, deve-se
aplicar, sem óbices, as regras do JECRIM (Juizado Especial Criminal) e o
Código de Processo Penal.
Ada Pellegrini Grinover, comungando desse entendimento,
esclarece que a carência de dispositivos processuais próprios não impede a
responsabilização penal das pessoas jurídicas, devido à integração que pode
ser feita entre a Lei nº. 9605/98 e as normas existentes no ordenamento
jurídico sobre a representação em juízo, competência, processo e
procedimento, atos de comunicações processuais, interrogatório, entre
outras, além das garantias processuais.
O legislador dispôs expressamente no artigo 3º da Lei dos
Crimes Ambientais, que:
As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração
seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de
seu órgão colegiado, no interesse ou no benefício da entidade.
Assim, analisando o dispositivo colacionado acima, Luiz Regis
Prado afirma que a legislação brasileira adotou o mecanismo francês
denominado emprumt de criminalité, também denominado responsabilidade
subsequente, por ricochete ou de empréstimo, para responsabilizar
penalmente as pessoas jurídicas, de modo que, toda a infração imputada à
uma pessoa jurídica será quase sempre também imputável a uma pessoa
natural. Sendo que a responsabilidade do primeiro pressupõe a da segunda.
Fato este que será discorrido no item 4.3.3, a respeito do
entendimento firmado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, que em se
tratando de crimes ambientais, há a necessidade de imputação simultânea da
pessoa física e a jurídica, existindo uma relação de co-autoria necessária em
relação aos sujeitos envolvidos em crimes praticados contra o meio
ambiente.
Alessandra Rapassi Mascarenhas leciona que o artigo 3º em
comento segue o critério amplo em relação à responsabilidade penal da
pessoa jurídica, vez que esta surge de uma decisão de seu representante ou
de órgão colegiado, que pode ordenar ao empregado a fazer ou não fazer
determinada coisa, por conseguinte, o ilícito pode ocorrer de uma ação ou
omissão de qualquer preposto desde que tenha havido uma ordem neste
sentido, ou uma ausência de fiscalização por parte do representante ou do
órgão colegiado.
Desse modo, oportuno a ressalva em relação a esta modalidade
de responsabilização, em que as pessoas coletivas integrarão o pólo passivo
do processo criminal somente se a infração tiver sido praticada no seu
interesse ou de maneira a beneficiá-la. Assim, não seria razoável que o ente
coletivo fosse penalizado por condutas praticadas por seus membros em
benefício exclusivamente da pessoa natural, utilizando-se da entidade para
praticar o ilícito.
Contudo, tem-se que o ônus probatório de se demonstrar que a
entidade não galgou dos benefícios do ilícito, cabe à pessoa jurídica, posto
que existente uma presunção iuris tantum de que o delito ou fora praticado
no interesse coletivo ou em seu beneficio, presumindo-se, desta maneira, a
vantagem pela simples prática do crime ambiental.
4.2.2 - A Necessidade de Imputação Simultânea da Pessoa Física e da
Pessoa Jurídica
Com o advento da Lei 9.605/98, o instituto tornou-se o centro
de inúmeras controvérsias que circundam a responsabilização penal das
pessoas jurídicas, argumentos trazidos até então no presente estudo.
Dispondo o artigo 3º da referida legislação que:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil
e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração
seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de
seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. (grifo do
subscritor)
Assim, para que o ente coletivo seja responsabilizado
criminalmente, deverá se atentar ao fato de que, aplica-se somente o
instituto, em caráter de exceção, aos crimes ambientais, consoante o
princípio da intervenção mínima, o qual preceitua que o Direito Penal
tutelará apenas bens jurídicos relevantes, os quais os diversos ramos do
Direito não conseguiram guarnecê-los com eficiência, in casu, o Direito
Civil e o Administrativo.
Partindo do pressuposto da ultima ratio, observa-se o
entendimento solidificado no âmbito do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça, in litteris:
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168-A DO
CÓDIGO PENAL). RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA. RESTRIÇÃO A CRIMES AMBIENTAIS. ADESÃO AO
REFIS. DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES. NECESSIDADE
DE PAGAMENTO INTEGRAL DO DÉBITO. DATA DO
PARCELAMENTO. APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.964/2000. EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. RETIRADA DA
SOCIEDADE. IRRELEVÂNCIA. DOLO ESPECÍFICO. DIFICULDADE
FINANCEIRA DA EMPRESA NÃO EVIDENCIADA.
INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. TESE A SER
ANALISADO APÓS A INSTRUÇÃO CRIMINAL. RECURSO
IMPROVIDO. 1. A única previsão legal para a responsabilização
criminal de pessoa jurídica ocorre nas hipóteses de crimes ambientais
e, mesmo assim, desde que haja também imputação à pessoa física que
por ela responde. 2. A adesão ao REFIS não implica, necessariamente, na
extinção da punibilidade, que está condicionada ao pagamento integral do
débito. Considerando que a inclusão no REFIS ocorreu em 28.04.00,
quando já em vigor a Lei nº 9.964, publicada em 11.04.00, é esta a norma
a ser aplicada, daí decorrendo a exigência de pagamento integral do débito
para a extinção da punibilidade. 3. O fato de o paciente não mais integrar a
sociedadeno momento do descumprimento das obrigações assumidas no
REFIS não altera esse quadro, considerando que a punibilidade estava
apenas suspensa, ficando sua extinção condicionada ao pagamento integral
do débito, o que não ocorreu. 4. O tipo previsto no art. 168-A do Código
Penal não se esgota somente no "deixar de recolher", isto significando que,
além da existência do débito, deve ser analisada a intenção específica ou
vontade deliberada de pretender algum benefício com a supressão ou
redução do tributo, já que o agente "podia e devia" realizar o
recolhimento. 5. Não se revela possível reconhecer a inexigibilidade de
conduta se não ficou evidenciada a alegada crise financeira da empresa,
cabendo ao magistrado de primeiro grau melhor examinar a matéria após a
instrução processual. 6. Recurso improvido. (RHC20558/SP RECURSO
ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2006/0266781-3 Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) T6 - SEXTA TURMA
24/11/2009.(grifo do subscritor)
Todavia, para ocorrer a responsabilização criminal coletiva
deverão estar presentes no caso concreto alguns requisitos necessários.
Enumerando a necessidade da dupla imputação, isto é, pessoa física e
jurídica são denunciadas como co-autoras do delito ambiental, em que pese
ser a pessoa jurídica um ente autônomo com vontade própria, seus atos são
exteriorizados por pessoa física.
Frise-se, à colação da recente decisão também do Superior
Tribunal de Justiça, em apreciação do Resp800817/SC 2005/0197009-0,
julgado pela 6ª Turma, extraindo-se da lavra do Ministro Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP), datada de 04/02/2010, in verbis:
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA O MEIO
AMBIENTE. OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. LEGITIMIDADE
PASSIVA. PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO
SIMULTÂNEA DO ENTE MORAL E DA PESSOA FÍSICA.
POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Aceita-se a
responsabilização penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, sob a
condição de que seja denunciada em coautoria com pessoa física, que
tenha agido com elemento subjetivo próprio. (Precedentes) 2. Recurso
provido para receber a denúncia, nos termos da Súmula nº 709, do STF:
"Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela. (grifo do subscritor)
No mesmo sentido:
Conforme já pacificado neste tribunal, admite-se a RPPJ desde que
haja a imputação simultânea do ente moral e da PF que atua em seu
nome e benefício. (STJ, Quinta Turma, Habeas Corpus n° 93.867.
Julgado em 8 de abril de 2008). (grifo nosso).
Seguindo na mesma esteira do Tribunal Superior, os tribunais de
segunda instância também se posicionaram pela necessidade de haver dupla
imputação das pessoas jurídicas, in litteris, alguns trechos das mencionadas
decisões:
Indispensável, de início, fazer menção à chamada Teoria da Dupla
Imputação, segundo a qual tanto a pessoa jurídica quanto a pessoa física
que a comanda devem responder pelo crime ambiental causado. Se assim
não o fosse, os verdadeiros agentes degradadores (por meio de ação direta
ou indireta - a mando), se tornariam impunes com a persecução penal
apenas de uma entidade fictícia, pois é cediço que a pessoa jurídica é uma
ficção jurídica, dependendo de seus dirigentes para manifestação da
vontade. E por isso que o legislador procurou cominar concomitantemente
e de forma expressa a responsabilidade do dirigente frente aos abusos
cometidos pela pessoa jurídica. (...) Assim, sempre que se tratar de
responsabilidade criminal da pessoa jurídica haverá, também,
responsabilização do administrador que emitiu o comando para a conduta
(...)E não havendo imputação simultânea do administrador, pessoa física
que, no exercício de sua qualidade ou atribuição conferida pelo Estatuto
Social, teria praticado o fato delituoso, agiu com acerto a autoridade
judiciária ao rejeitar a denúncia, máxime porque, como já assentado, trata-
se de litisconsórcio passivo necessário. Ad argumentandum tantum, o
simples fato do recorrido Jorge Luiz Censi Pimentel ter assinado o auto de
intimação do departamento de fiscalização sanitária (fl. 21) não autoriza a
instauração de processo criminal por crimes praticados no âmbito da
sociedade, mormente quando não se estabeleceu qualquer liame entre o
recorrido e a conduta apontada como ilícita, sob pena de se reconhecer a
responsabilidade penal objetiva. Ademais, o próprio alvará sanitário traz
como responsável pela administração do hotel a sócia administradora
Carmen Gumz, a qual em depoimento à polícia judiciária relatou que o
recorrido Jorge Luiz Censi Pimentel cuida dos assuntos burocráticos do
estabelecimento. (...) Por fim, não é demais lembrar a impossibilidade do
recebimento da denúncia somente contra o Hotel, sob pena de tornar letra
morta a Teoria da Dupla Imputação, instituto que já mereceu a devida
análise no corpo deste acórdão. (TJSC, Segunda Câmara Criminal,
Recurso Criminal n° 2008.018939-3. Julgado em 17 de junho de 2008.)
O legislador infraconstitucional exige mais para a responsabilidade penal
da pessoa jurídica. Adotou o sistema da dupla imputação. Significa dizer,
pressupõe a co-autoria necessária entre a pessoa jurídica (coletividade) e a
pessoa física (agente individual), de conformidade com o disposto no pr.
ún. do art. 3, Lei 9.605/98. (..) A previsão de co-autoria necessária entre a
pessoa jurídica e a pessoa física se irradia desde a transação penal a exigir
desde logo a individualização de todos os autores do delito sob pena de
invalidar o ato. (TRF1, Terceira Turma, Apelação Criminal n°
2005.41.00.001246-1. Julgado em 8 de junho de 2009)
O dispositivo supracitado deixa mais claro a adoção do sistema de dupla
imputação, distinguindo-se as pessoas jurídicas dos seus membros. E,
conforme já pacificado no Colendo Superior Tribunal de Justiça, admite-
se a RESPONSABILIDADE PENAL da PESSOA JURÍDICA desde que
haja imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que age em
seu nome e em seu proveito, o que ocorreu no presente caso. (TJMG,
Quinta Câmara Criminal, Apelação Criminal n° 1.0223.06.202025-
8/001(1). Julgado em 30 de junho de 2009)
Conclui-se, portanto, que apesar de entendimentos divergentes,
os tribunais pátrios, de maneira bastante esclarecedora, buscaram aplicar, de
modo efetivo, as sanções penais compatíveis às pessoas jurídicas.
4.3 - Sanções Aplicáveis à Pessoa Jurídica
A Lei dos crimes ambientais trata-se de uma legislação de
natureza mista, vez que trouxe em seu bojo sanções de natureza
administrativa, civil e penal para condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua
entidade. (grifo do subscritor).
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Assim, o parágrafo único do dispositivo supra, ressaltou que
quando envolvidas no mesmo fato lesivo, a responsabilidade da pessoa
jurídica exclui a responsabilidade da pessoa natural, pois elas são
cumulativas, seja como co-autoras ou partícipes.
Extrai-se, ainda, do artigo 3º, in fine, a enumeração taxativa de
quais são as possibilidades concretas para se responsabilizar criminalmente
a pessoa jurídica. Sendo: decisão do representante legal; decisão contratual;
decisão do órgão colegiado; desde que a pessoa jurídica tenha recebido
alguma vantagem com prática criminosa, seja no interesse ou benefício de
sua entidade.
As normas gerais para aplicação das sansões às pessoas
jurídicas, encontram-se estabelecidas no Capítulo II, nos artigos 6 usque 24,
da Lei nº. 9.605/98.
Por sua vez, o artigo 21 da Lei dos crimes ambientais, traz as
modalidades de penas que poderão ser impostas às pessoas jurídicas: “ As
penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas
jurídicas,de acordo com o disposto no art. 3º, são: I - multa; II - restritivas
de direitos; III - prestação de serviços à comunidade.”
Todavia, em observância à característica sui generis dos entes
morais, o artigo 22 da lei dos crimes ambientais, enumera quais são as
penas restritivas de direito passíveis de serem impostas às pessoas jurídicas:
Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:
I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações.
O parágrafo 1º, inciso I, do artigo 22, dispõe que “A suspensão
de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às
disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente”.
Interpretando esse parágrafo, Luiz Paulo Sirvinskas afirma que
essa desobediência se refere às disposições legais ou aos regulamentos e
pode ser cometida por pessoa jurídica, sendo que para as pessoas físicas, a
desobediência se refere às prescrições legais, ou seja à leis.
Ainda, de acordo o referido autor, a suspensão parcial ou total da
atividade mencionada no inciso I, também está prevista como sanção
administrativa, conforme se verifica no artigo 72, inciso XI, da referida lei.
Trata-se de uma medida drástica e somente poderá ser aplicada mediante
determinação judicial, devendo o juiz fixar o período de dias em que a
empresa ficará paralisada.
O parágrafo segundo do artigo em comento, traz que “ A
interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver
funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida,
ou com violação de disposição legal ou regulamentar”.
Dessume-se, todavia, que essa modalidade de interdição deverá
ser sempre temporária, uma vez que a qualquer tempo pode regularizá-la e
retomar as atividades, ao contrário da suspensão que poderá ser ou não
definitiva.
Assim, se a pessoa jurídica regularizar sua situação junto aos
órgãos competentes, mesmo que por meio de títulos precários decorrente do
ato administrativo, poderá retomar o desenvolvimento da atividade que por
ventura estaria paralisada, em razão da falta de alguns requisitos necessários
ao normal desempenho da atividade empresarial.
Por derradeiro, o parágrafo terceiro estabelece que “A proibição
de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou
doações não poderá exceder o prazo de dez anos.”
Verifica-se, portanto, que o legislador buscou, por questões
óbvias, coibir que entidades envolvidas em delitos, in casu, ambientais,
pudessem constituir um liame obrigacional com o Poder Público, e assim,
de alguma maneira auferir recursos do erário. Consistindo a citada
proibição em uma maneira de afastar qualquer possibilidade de os Entes
Públicos, por um período de até 10 anos, não manterem nenhum vínculo
obrigacional, tampouco de fomento com as entidades criminosas.
Por sua vez, a prestação de serviço à comunidade, na forma do
artigo 23, da legislação em estudo, poderá consistir em:
Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica
consistirá em:
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
Em análise, verifica-se que as penas de prestação de serviço à
comunidade, destinadas aos entes coletivos, não guardam entre si,
finalidade com o corolário do Princípio da Prevenção que norteia o Direito
Ambiental, vez que não impõe uma atuação preventiva, apta a evitar
possíveis lesões face ao meio ambiente.
Entretanto, excepcionando a assertiva supra, o inciso I, do artigo
23, da Lei nº. 9605/98, estabelece que a pessoa jurídica causadora de crimes
ambientais, deverá obrigar-se a custear programas e projetos ambientais.
Neste prisma, a sanção servirá, de maneira mediata, para
resguardar o objeto jurídico tutelado, posto que o fomento de mecanismos
educacionais poderá evitar danos ambientais futuros, que muitas vezes
lesionam o meio ambiente de maneira tão potencial, que impossibilitam a
restauração do status quo ante.
Quanto às outras modalidades de prestação de serviço a
comunidade aplicadas às pessoas jurídicas julgadas culpadas pela prática de
crimes ambientais, estas não se vinculam à atividade-fim da empresa, sendo
prestadas em outros setores, tornando-se inócuo o caráter educativo
ambiental.
Depreende-se, assim, que a condenação deveria, sempre ser
voltada para projetos que pudessem levar à população os conhecimentos
sobre os riscos e perigos decorrentes da atividade da empresa e, ao mesmo
tempo, ensinar métodos adequados para diminuí-las.
No artigo 24 do citado ordenamento, há a inserção do instituto
da despersonalização da pessoa jurídica, já existente há tempos na seara
civilista, sendo transplantada na órbita penal.Prevendo a possibilidade de
liquidação forçada do patrimônio da pessoa jurídica constituída ou utilizada
com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crimes ambientais.
Até então, a norma se mostra adequada, contudo, na parte final
do artigo em comento, fica evidente determinada incongruência com os
ditames ambientais estabelecidos, vez que, o patrimônio será perdido em
favor do Fundo Penitenciário Nacional, órgão este que nada tem a ver com
a matéria.
Não há que se olvidar a necessidade de angariar recursos para
proporcionar uma melhoria no sistema penitenciário, que, aliás, mostra-se
decadente. Todavia, a questão ambiental merece preferência, vez que a
conduta fora dirigida a lesionar o próprio meio ambiente.
Logo, pelo exposto, extrai-se que aos aplicadores do direito cabe
a efetiva execução do disposto na Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº.
9605/98), a fim de reforçar a proteção ao meio ambiente contra o seu
principal devastador, qual seja, a pessoa jurídica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ante ao que foi exposto no presente trabalho podem ser
extraídas algumas considerações:
No que se refere às pessoas jurídicas em si, verificou-se que não
é somente ao homem, enquanto pessoa natural, que o ordenamento jurídico
confere capacidade para ser sujeito de direito e deveres. O direito atribui
personalidade jurídica também a tais entes, tornando-os sujeitos capazes de
contrair esses direitos e deveres quase da mesma maneira do que ocorre
com as pessoas naturais, observadas as suas peculiaridades.
Com efeito, pelo fato de grande parte dos doutrinadores ter
adotado a teoria da realidade técnica para as pessoas jurídicas, entende que
elas tenham existência real, distinta da dos seus membros. Uma vez
personificada, o direito lhes consagra autonomia jurídica, tornando-as
entidades inteiramente distintas das pessoas físicas que as compõem.
Em suma, as pessoas jurídicas têm capacidade para exercer
todos os direitos subjetivos que forem compatíveis com sua natureza
peculiar, necessitando para tanto, de um órgão exteriorizador de sua
vontade, qual seja o ser humano.
No que tange à responsabilidade penal das pessoas jurídicas no
contexto global, observou-se que os países que predominantemente adotam
tal instituto são, em sua maioria, aqueles pertencentes ao sistema da
common law, muito embora, alguns países pertencentes ao sistema da civil
Law, também, têm-se revelado simpatizantes do instituto em epígrafe.
Da análise dos elementos do crime da pessoa jurídica, chegou-se
ao entendimento de que as mesmas possuem vontade própria,
independentemente da vontade das pessoas naturais que as compõem, sendo
capaz, como estas de realizar sob o aspecto do direito penal, idênticos atos,
ilícitos ou não, por meio de seus órgãos, cujas ações ou omissões são
consideradas como condutas praticadas pela própria pessoa jurídica.
Acerca das questões que geram maior polêmica no que se refere
à aplicabilidade do instituto, constatou-se que as pessoas jurídicas possuem
capacidade de ação, cuja vontade é institucionalizada, sendo manifestada
através de seus

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