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PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO (1)

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3 
 
Prof. João Silveira Muniz Neto 
 
 
 
PSICOLOGIA DA 
COMUNICAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Sobral/2017
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
Palavra do Professor autor 
Sobre o autor 
Trocando ideias com os autores 
 
UNIDADE I – CIÊNCIA E MODOS DE CONHECIMENTO 
Psicologia e cotidiano: o que temos em comum? 
O Cotidiano como ferramenta fundamental para o pensamento científico 
Modos de Conhecimento 
 
UNIDADE II – CONSTITUIÇÃO DO SABER PSICOLÓGICO 
História do saber psicológico com pretensão a saber científico 
A Diversidade das Teorias Psicológicas e seus Objetos de Estudo 
A Psicologia na Idade Antiga 
A Psicologia na Idade Média 
A Psicologia na Modernidade 
Wilhelm Wundt e a proposta de uma Psicologia Científica 
 
UNIDADE III – AS PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA DO 
SÉCULO XX 
A Psicanálise 
Sigmund Freud e a Pré-Psicanálise 
A Gestação da Psicanálise 
A Segunda Tópica Freudiana e Contribuições Sociais da Psicanálise 
O Behaviorismo 
Ivan Pavlov e o estudo do Condicionamento Reflexo 
John Broadus Watson e o Manifesto Behaviorista 
O Behaviorismo Radical de B. F. Skinner 
As Psicologias Humanistas 
Contexto Histórico de Emergência das Psicologias Humanistas 
A Psicologia de Gestalt 
Principais Psicoterapias Humanistas 
 
6 
 
 
UNIDADE IV – PSICOLOGIA NA AMÉRICA LATINA: A PSICOLOGIA 
SOCIAL CRÍTICA 
Psicologia Social 
História da Psicologia Social 
Psicologia Social Crítica 
A Psicologia Social e a América Latina 
 
UNIDADE V – PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO 
Mídias e Produção de Subjetividade 
 
Leitura Obrigatória 
Bibliografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Palavra do Professor autor 
 
Olá, caríssimo aluno! 
 
Você está prestes a adentrar em um maravilhoso mundo, o mundo da 
Psicologia! Você vai perceber, de início, que a Psicologia é uma ciência plural e 
múltipla sendo mais correto, inclusive, falar Psicologias, assim no plural 
mesmo, dado a pluralidade de campos teóricos, metodológicos e de atuação 
profissional da área da Psicologia. 
 
Conheceremos neste material um pouco sobre ciência, sua importância 
e seus métodos de produção do conhecimento. Entretanto, conheceremos e 
aprenderemos a valorar outros tipos de conhecimento, tais como o senso 
comum, o artístico, o filosófico, o religioso, etc. 
 
Você verá neste material que a Psicologia tem um longo passado, mas 
uma curta história. Conhecerá, então, as principais abordagens em psicologia 
aceitas atualmente no Brasil: a Psicanálise, o Behaviorismo, as Psicologias 
Humanistas e a Psicologia Social. 
 
No fim, discutiremos um pouco sobre mídia e produção de 
subjetividades e poderemos perceber o quanto os dispositivos midiáticos 
influenciam aquilo que somos, aquilo que desejamos. 
 
Ficou curioso? Seja bem-vindo a este admirável mundo novo: o campo 
de saber das Psicologias!!! 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
João Silveira Muniz Neto é psicólogo (2011) e Mestre (2014) 
em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), 
atualmente é Coordenador da Graduação em Psicologia das 
Faculdades INTA, em Sobral-CE. Tem experiência na área de 
Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: 
psicologia clínica, psicologia escolar/ educacional e políticas 
públicas de socioassistência e de saúde pública. Tem interesse 
teórico, no âmbito da Psicologia, pela epistemologia do Behaviorismo Radical; 
pela formação do psicólogo no Brasil; e, no âmbito da Ciência Política, pelos 
estudos foucaultianos, sobretudo, os referentes ao tema da 
governamentalidade. Iniciou a faculdade de Letras/ Português, mas não 
chegou a concluir o Curso, embora a Literatura seja uma paixão para toda a 
vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Trocando ideias com os autores 
 
Agora é o momento de você trocar ideias com os autores. 
 
Propomos a leitura da obra Psicologias: uma introdução 
ao estudo de psicologia. Numa linguagem coloquial, 
clara e direta, a obra aborda as várias áreas de 
conhecimento da Psicologia, desde a sua história e 
caracterização até os temas da atualidade, com o rigor 
técnico necessário e sempre sob a ótica da Psicologia. 
Sua estrutura permite ao professor escolher a ordem dos 
conteúdos de acordo com o interesse da classe e o 
enfoque da sua programação. 
 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes 
Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
Sugerimos também a obra História da Psicologia: 
rumos e percursos. Os autores contemplam toda a 
psicologia contemporânea e, em alguns capítulos, seus 
antecedentes modernos, que se faz presente a partir de 
muitos pontos de vista. Aqui o leitor encontrará capítulos 
versando sobre os mais diferentes temas e segundo os 
mais diferentes ângulos de abordagem com as mais 
diferentes metodologias de interpretação. Este livro terá, 
certamente, um lugar de destaque nos cursos de psicologia e poderá funcionar, 
dada inclusive a vastidão da bibliografia citada, como uma fonte inesgotável de 
novos estudos e aprofundamentos. 
 
JACÓ-VILELA, Ana Maria; FERREIRA, Arthur Arruda Leal; PORTUGAL, 
Francisco Teixeira. História da psicologia: rumos e percursos. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Nau, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
CIÊNCIA E 
MODOS DE 
CONHECIMENTO 
1 
 
Conhecimentos 
 
Compreender o que temos em comum entre Psicologia e o cotidiano, bem 
como, os modos de conhecimento. 
 
Habilidades 
 
Identificar o conhecimento científico e o senso comum. 
 
Atitudes 
 
Buscar compreender o domínio teórico-metodológico da Psicologia como um 
saber amplo e diversificado, em constante inovação e reformulação. 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Psicologia e cotidiano: o que temos em comum? 
 
No nosso cotidiano de vida é relativamente frequente ouvirmos alguém 
falando ou mesmo falarmos o termo “psicologia”. Todos e qualquer um 
entendemos um pouco sobre psicologia, mesmo que não percebamos. Vamos 
ver exemplos disso? 
 
Alguma vez em suas atividades diárias você ouviu, falou ou leu que um 
tal vendedor usou de “psicologia” para vender mais um determinado produto. 
Ou, por outro lado, quando ouvimos, falamos ou lemos que dada pessoa usa 
de psicologia para seduzir alguém como parceiro amoroso (seja alguém do 
mesmo sexo ou do sexo oposto, enfim, a sedução não pode transportar em si 
preconceitos). Ou ainda, frente a questões relativas a luto (morte na família, 
principalmente), término de relacionamentos afetivos ou episódios depressivos, 
quantas vezes lemos, ouvimos ou mesmo dizemos que fulano precisa de 
alguém com psicologia para escutá-lo? 
 
Mas, vamos pensar um pouco... seria essa a Psicologia dos psicólogos? 
Seguramente não. Entretanto não pode deixar de ser considerada uma 
Psicologia e, muito menos, de ter sua grande importância. Esse saber utilizado 
largamente no dia-a-dia das pessoas pode ser chamado de Psicologia do 
Senso Comum. Deixando bem claro, o que estamos relatando é que, de algum 
modo e mesmo que isso escape à nossa percepção, há um certo domínio do 
saber acumulado pela Psicologia Científica que está pulverizado na rotina das 
pessoas. 
 
Essa pulverização deste saber acumulado pela Psicologia Científica 
torna muito provável que utilizemos termos como “trauma psicológico”, 
“depressão”, “ansiedade”, “recalque”, etc. em nossas rotinas de vida. E, muito 
mais que o simples uso dos termos acima citados, que consigamos dar 
inteligibilidade às ações cotidianas através de um ponto de vista psicológico.14 
 
No entanto, o que apresentaremos a você neste material é a Psicologia 
Científica, aquela proposta pelos psicólogos mundo afora através de suas 
pesquisas – universitárias ou não –, de suas teorias, ensaios, livros, artigos e 
que são professadas pelos profissionais de Psicologia em todo o globo. 
 
O Cotidiano como ferramenta fundamental para o 
pensamento científico 
 
 Estamos vivos e, por isso mesmo, vivenciando o mundo ao nosso redor. 
Nada há mais frequente que isso: estamos no mundo e vivenciamo-lo. Seja 
agora, quando lemos este material de Psicologia da Comunicação; seja quando 
lembramos uma parte de uma música que gostamos; seja quando recitamos 
versos que nos afetam; seja quando recebemos presentes; seja quando 
percebemos que fomos injustos com alguém; enfim. Estamos vivos e isso é 
tudo quanto basta. 
 
 Estamos vivos e isso é tudo. Apenas vivemos. Será isso mesmo? Para 
se pensar um saber que pretende ter a validade de científico, temos de seguir 
determinados métodos. O pensamento científico é justamente a reflexão sobre 
o mundo e o que vivemos nele. Não apenas viver, mas um viver refletido. A 
tarefa a qual se propõe o cientista é justamente inclinar-se sobre o mundo e 
refletir acerca do universo que o rodeia. Pensamento, reflexão, ponderação, 
prudência nas análises, tudo isso está na gênese de todo e qualquer 
empreendimento científico. 
 
 Mesmo a ciência mais elementar e mais objetiva de todas – a 
matemática – nunca teria chegado a ser um conhecimento científico caso os 
matemáticos não tivessem se submetido ao prazeroso papel de pensar, refletir 
e analisar sobre o universo dos números a partir de um método previamente 
estabelecido. As ciências, de um modo geral, são isso: reflexão sobre o mundo. 
A ciência parte da realidade cotidiana para pensar sobre ela, analisá-la e daí 
extrair e produzir suas sentenças. 
 
 
15 
 
Pense nas formas de ciência que você conhece e concorde ou discorde 
do que acabou de ser dito. Pois é justamente essa a maior tarefa do cientista: 
estar constantemente pensando sobre aquilo que está fazendo, lendo, sentindo 
ou vivenciando. Podemos resumir, portanto, assim o espírito científico em 
curso: análise e reflexão permanente do mundo que o cerca e, inclusive, de si 
mesmo (no caso do cientista refletir sobre si). 
 
O cientista, em seu fazer, afasta-se da realidade para melhor refletir 
sobre, para conhecê-la além daquilo que ela se mostra primordialmente, das 
suas aparências preliminares. A isso nomeamos de abstração. O cientista, 
desta forma, abstrai a realidade ao seu redor, tornando-a objeto de 
conhecimento. 
 
O fato é que os cientistas legislam sobre o cotidiano, apesar de fazerem 
um necessário afastamento dele quando estão produzindo conhecimento dito 
científico. Porém, o cotidiano também absorve e abocanha espaços e saberes 
da ciência. Vamos ver como? 
 
Não é necessário, por exemplo, que um cozinheiro faça grandes 
cálculos químicos para compreender a quebra de moléculas químicas para 
saber quanto tempo precisa deixar o arroz em fogo baixo para cozinhá-lo. 
Também nunca vemos uma pessoa em uma cozinha realizando cálculos 
termodinâmicos para saber por quanto tempo o café se manterá numa 
temperatura razoavelmente interessante dentro da garrafa térmica. Nem é algo 
comum ver alguém fazendo estudos laboratoriais quando receita um chá de 
boldo para dor de barriga. Quando atravessamos uma avenida a pé também 
não gastamos tempo com cálculos de mecânica física para saber a velocidade 
média que temos de imprimir para que o carro não nos alcance. E poderíamos 
citar inúmeros outros exemplos. Você consegue pensar em exemplos 
semelhantes aos apresentados? 
 
Esse conhecimento acumulado em nosso dia a dia chamamo-lo de 
senso comum. É um conhecimento espontâneo e intuitivo – diferente do 
conhecimento científico que é eminentemente reflexivo e metódico – que nos 
 
16 
 
auxilia bastante a realizar nossas atividades diárias. Imagine se não 
possuíssemos este conhecimento do senso comum: o que se tornaria mais 
dificultoso em nossas vidas? 
 
O senso comum, pensado como um conhecimento extremamente 
prático e útil ao homem começa por hábitos particulares (releia os exemplos do 
parágrafo há pouco explanado) e passa a figurar como tradição, como 
elemento constituinte da cultura. Assim, o avô explica para o neto que chá de 
cidreira serve para os nervos (se fosse em linhagem científica utilizaria outros 
termos); o professor passa para os estudantes informações básicas de 
matemática financeira; a mídia transmite as consequências de uma vida 
sedentária e as vantagens de uma alimentação saudável para o organismo 
humano. E outros tantos exemplos. De sorte que fica muito impreciso apontar a 
fronteira entre o conhecimento do senso comum e o conhecimento da ciência, 
já que ambos fazem parte da cultura. Importa dizer que ambos dialogam e se 
misturam, formando uma miscelânea indissociável. 
 
Não podemos passar para o próximo tópico sem uma reflexão 
importante. Além de considerarmos a ciência como apenas mais um tipo de 
conhecimento dentre os tantos existentes, cabe a nós refletirmos um pouco 
sobre a arrogância do saber científico. Um grande pensador francês chamado 
Michel Foucault (1926-1984), pergunta em uma de suas aulas famosas no 
Collège de France, onde lecionava: “quais tipos de saberes vocês querem 
desqualificar no momento em que vocês dizem ser esse saber uma ciência? 
Qual sujeito falante [...] vocês querem minimizar quando dizem: eu, que faço 
esse discurso, faço um discurso científico e sou cientista‘?” (FOUCAULT, 2010, 
p. 11). 
 
Daí a reflexão: há alguma arrogância no pensamento científico quando 
tenta minimizar, por exemplo, a sabedoria popular em relação às ervas 
medicinais? Se as pesquisas científicas não conseguissem “demonstrar” a 
eficácia de tais ervas elas continuariam ou não a ter eficácia? É mesmo preciso 
que a ciência referende o conhecimento do senso comum para que ele seja útil 
ou verdadeiro? 
 
17 
 
A ciência neste preciso momento em que vivemos no século XXI, 
consegue representar o conhecimento certo, verdadeiro. No entanto, se 
voltássemos no tempo poucos séculos chegaríamos a um período em que o 
conhecimento certo e válido era o conhecimento religioso, em especial aquele 
produzido pelo cristianismo e pela Igreja Católica. E se voltássemos um tanto 
mais na história chegaríamos a épocas em que o conhecimento mitológico era 
o certo, e assim por diante. Importa registrar: cada época, cada espaço 
temporal específico permite que determinado tipo de conhecimento seja 
considerado o mais certo, o mais verdadeiro, o mais válido. Portanto, cabe a 
nós nos perguntarmos: quanto que há de cultural, quanto que há de social, 
quanto que há de não-natural no conhecimento científico ser o discurso correto 
e válido da contemporaneidade? Não é algo natural que a ciência dite as 
verdades do mundo, apesar de, muitas vezes, nem nos darmos conta dessa 
naturalização que nós mesmos acabamos por ajudar a acontecer. 
 
E, para finalizar nossa reflexão, é necessário que explanemos um pouco 
sobre o financiamento das pesquisas científicas e da influência do poder 
financeiro acerca destas. Pergunte-se: quem paga para que os cientistas 
passem os dias em laboratórios de renomadas Universidades e/ ou de 
renomados Institutos de Pesquisa por anos, décadas a fio? 
 
Os cientistas, apesar de muitas vezes consideramo-los homens 
especiais e distantes do nosso cotidiano, são tão humanos quanto nós. Todos 
precisam de dinheiro para quitar contas de aluguel, supermercado, telefone. 
Grande parte tem família à qual são provedores etc. Além disso, pesquisas 
envolvem dinheiro, pois utiliza-se material, muitas vezes há o deslocamento do 
pesquisador para outros lugares (às vezes acompanhado de uma equipe), etc. 
 
Pergunte-se, pois: quem financia os grandes empreendimentos depesquisa e os grandes pesquisadores mundo afora? 
 
A resposta é um pouco complexa, mas pode ser resumida a poucas 
palavras: os financiadores de pesquisa são aqueles que lucrarão com os 
resultados advindos das pesquisas. Um exemplo bem emblemático é o da cura 
 
18 
 
da AIDS e da cura da Doença de Chagas. Por ano são investidos 
mundialmente bilhões e bilhões de dólares em pesquisas para a cura da AIDS 
e que, felizmente, têm mostrado resultados promissores ano a ano. Mas e a 
Doença de Chagas, você já ouviu falar de pesquisas acerca da cura para a 
Doença de Chagas? Certamente existe claro. Mas em proporção bem menor 
do que para a AIDS. 
 
Mas, reflitamos: por que esse quadro, se a AIDS é algo relativamente 
novo na história da humanidade (data dos anos 1980) e a doença de chagas é 
bem mais antiga (final do século XIX)? 
 
Talvez a resposta esteja justamente na população que cada patologia 
atinge. O vírus da AIDS lamentavelmente atinge a todos e a qualquer um, não 
escolhendo raça ou classe social ou etnia. Por outro lado, a Doença de Chagas 
é exclusiva de determinada classe social, a saber, as menos favorecidas, visto 
que o inseto transmissor da doença é o barbeiro, que habita casas de barro. E 
sabemos perfeitamente quem reside em moradias desse tipo: as classes 
sociais mais pobres. 
 
Qual o impacto financeiro para a indústria farmacêutica mundial 
descobrir a cura da AIDS e a cura da Doença de Chagas? Para a primeira não 
faltariam compradores de coquetéis e medicamentos no mundo todo, ao passo 
que para a segunda também não faltariam, no entanto, as classes sociais mais 
pobres acometidas pela Doença de Chagas não teria como pagá-los. 
 
É duro e cruel, caro estudante, e por isso mesmo é necessário que se 
discuta e se reflita sobre a ciência. O empreendimento científico nos ajudou e 
nos ajuda e certamente continuará nos ajudando por muito tempo ainda com 
suas técnicas e tecnologias para o bem-estar e conforto da humanidade como 
um todo. Todavia, é imprescindível que pensemos sobre os efeitos e práticas 
dos discursos ditos científicos, das formas de financiamento e, sobretudo, a 
quem interessa a forma como tem acontecido o avanço do conhecimento 
científico. A ciência faz parte do mundo e atualmente vivemos em um mundo 
capitalista e capitalizado, portanto, seria muito estranho, e talvez até ingênuo, 
 
19 
 
achar que a Ciência não se exerce sob a influência do sistema econômico 
hegemônico. 
 
Modos de Conhecimento 
 
Até aqui falamos sobre duas formas de conhecimento distintas: o 
conhecimento científico e o senso comum. Mas seriam estes os únicos 
modos de conhecimento ou haveria outros tipos? 
 
Se fizermos a linha histórica da produção de conhecimento no Ocidente 
observaremos que a Ciência é um empreendimento de data relativamente 
recente. Nasce no século XVI as primeiras luzes daquilo que concebemos hoje 
como Ciência. 
 
Na Grécia Antiga, por exemplo, há um tipo de interpretação da realidade 
baseado em figuras fantásticas, criaturas imortais e semimortais, que 
chamamos de mitologia. É bem verdade que todas as sociedades possuem 
sua própria mitologia e aqui nos referimos à sociedade grega antiga 
unicamente por ser a mais emblemática sociedade do mundo ocidental antigo, 
mas é fundamental pensarmos que povos como os incas, os tremembés, os 
maias, os guaranis, etc., evidentemente, também possuíam suas formas de 
interpretar e dar inteligibilidade à realidade através dos mitos. 
 
E foi a preocupação e a insistente especulação sobre as origens 
humanas que permitiram, na Grécia Antiga de modo especial, surgir um saber 
que é reflexivo por excelência: a filosofia. Um outro tipo de conhecimento que 
pode ser apontado é o religioso, que busca uma atitude explicativa da 
condição humana através da crença em determinados dogmas e entidades 
metafísicas. Outra forma de conhecimento diz da expressividade – seja ela 
corporal, escrita, através de instrumentos musicais ou de pintura – humana 
através da arte, é o conhecimento artístico. Talvez uma das formas de 
conhecimento mais celebradas e mais cultivadas, a arte tem a estranha magia 
de ser atemporal. 
 
20 
 
De forma panorâmica, podemos, então, elencar ao menos cinco formas 
de saber que o homem produziu e continua produzindo: conhecimento do 
senso comum, conhecimento científico, conhecimento mitológico, 
conhecimento religioso e conhecimento artístico. 
 
A função primordial desta unidade de estudo foi mostrar a você, caro 
estudante, que a Ciência é apenas mais um dentre as formas de saber 
possíveis. Claro que atualmente o conhecimento científico permite à 
humanidade expandir-se enquanto civilização e tem profundas contribuições ao 
mundo, mas é importante que fique claro que é uma das formas possíveis de 
saber, e que todos os outros saberes também contribuem em muito com o 
homem e têm sua importância inexorável. 
 
Na próxima unidade de estudo vamos adentrar naquilo que se 
convencionou chamar de Psicologia Científica, mas prezamos para que fique 
sempre tensionada a criticidade em relação aos saberes que pretendem ser 
Ciência. 
 
Para Saber mais: 
 
O estudante pode procurar os seguintes livros, caso queira aprofundar um 
pouco mais seus conhecimentos adquiridos nesta Unidade: 
 
O que é Ciência, afinal, de A. F. Chalmers; 
Psicologia – uma (nova) introdução, de Luís Cláudio Figueiredo e Pedro Luiz 
Ribeiro de Santi; 
Psicologia – uma trajetória, de Dennis Coon. 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Você estudante também é convidado a assistir aos seguintes filmes, 
como forma de aprofundamento do aprendizado: 
 
 O Nome da Rosa, direção: Jean-Jacques Annaud (França, Itália, 
Alemanha, 1986); 
 O Ponto de Mutação, direção: Bernt Amadeus Capra (EUA, 1991); 
 Nós que aqui estamos por vós esperamos, direção: Marcelo 
Masagão, (Brasil, 1999). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
CONSTITUIÇÃO 
DO SABER 
PSICOLÓGICO 
2 
Conhecimentos 
 
Compreender a diversidade das Teorias Psicológicas e seu objeto de estudo. 
 
Habilidades 
 
Identificar como era vista a Psicologia na Idade Antiga, Psicologia na Idade 
Média e Psicologia na Modernidade. Reconhecer todas as correntes da 
Psicologia: o funcionalismo, associacionismo e o estruturalismo. 
 
Atitudes 
 
Desenvolver novas formas de ser e agir, abrindo espaços para novos 
modos de vida e novas formas de ser no mundo. 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
História do saber psicológico com pretensão a saber 
científico 
 
A Psicologia é um saber antigo, que pode ser encontrado nas mais 
remotas civilizações humanas. Entretanto, como empreendimento científico é 
algo muito recente, datando do século XIX. O que veremos nesta unidade é a 
linha histórica dos saberes referentes à Psicologia e às principais abordagens 
aceitas em Psicologia no Brasil. 
 
Antes faremos uma reflexão sobre as pretensões do saber psicológico 
em se tornar ou se dizer Ciência. 
 
 
A Diversidade das Teorias Psicológicas e Seus Objetos 
de Estudo 
 
 Todo empreendimento científico tem seu objeto de estudo. Assim, a 
Química estuda os elementos químicos, a Matemática os números, a 
Astronomia os astros. Nestes casos apresentados, o cientista de cada um 
desses saberes não se confunde com seu objeto de estudo. Por exemplo, o 
astrônomo, em seu exercício de pesquisador, está a anos-luz de distância dos 
astros observados e tem acesso a eles através de equipamentos ópticos de 
alta tecnologia. Da mesma forma um matemático lidando com números não se 
confunde com estes. 
 
 Agora pare e pense um pouco: o psicólogo conseguiria fazer pesquisas 
sem se confundir com seu “objeto” pesquisado? Obviamente não. A Psicologia, 
como as demais ciências humanas – antropologia, economia, ciências sociais, 
pedagogia,etc. – são formas de saber que lidam diretamente com o humano, 
fazendo do homem, sujeito por excelência, o “objeto” alvo do estudo. 
Reparemos no paradoxo de um sujeito virar objeto de estudo. Desta forma, 
 
26 
 
pesquisador e pesquisado confundem-se, imiscuem-se, se tocam e se 
influenciam mutuamente. 
 
 Para que a Psicologia torne-se, efetivamente, uma Ciência há que 
ultrapassar dois obstáculos fundamentais. 
 
 
O primeiro entrave de uma Psicologia com pretensões ao status de 
cientificidade é justamente a falta de definição clara de onde termina o 
pesquisador e começa o pesquisado, em outros termos, onde está o limite 
entre o sujeito (que pesquisa) e o objeto (que é pesquisado). Pois se um 
cientista (um homem) debruça-se sobre um fenômeno (outro homem ou outros 
homens) semelhante a si, que garantias de objetividade e universalidade – 
características fundamentais do discurso científico – poderemos ter? 
 
 Assim, à pergunta “qual o objeto da psicologia” poderiam ser dadas 
inúmeras respostas, a depender do sujeito respondente. Caso seja um 
psicólogo comportamental, dirá que é o comportamento humano; caso seja um 
psicanalista, o inconsciente; alguns apontarão a consciência como objeto de 
estudo da psicologia, outros as relações humanas, etc. 
 
 Existem autores que inclusive defendem que o termo mais correto para 
referir-se a este campo de saber que ora estudamos neste material deveria ser, 
em vez de Psicologia, Psicologias, assim no plural mesmo, para demarcar a 
infinidade de propostas teóricas e metodológicas balizadas pelo campo. 
 
 Esta diversidade de objetos de estudo deve-se ao caráter extremamente 
recente da Psicologia como uma proposta científica. A Psicologia como ciência 
ainda não tem um século e meio de existência (abordaremos isso com mais 
detalhes logo mais). É neste multifacetado campo de saber e neste 
diversificado objeto de estudo onde a Psicologia apresenta seu segundo 
grande empecilho para se configurar como um discurso reconhecido como 
científico. 
 
 
27 
 
 Qual o objeto da Psicologia, afinal? Poderiam perguntar os mais 
exaltados, os mais curiosos. De um modo bastante geral, para que não 
deixemos a resposta em branco, podemos dizer que o objeto de estudo da 
Psicologia é a subjetividade humana. 
 
Mas o que seria a subjetividade? É aquilo que você diz ser, aquilo que 
digo que sou, meus gostos, meus lutos, meus medos, meus sonhos, meus 
desejos, enfim, eu. Conhecemos pessoas que amam chocolate e outras que 
desdenham dele; pessoas que gostam de uma boa briga e outras que fogem 
de uma, outras ainda que até gostam de uma briguinha de vez em quando; 
pessoas que tem um time de futebol que amam, outras que só assistem futebol 
na Copa do Mundo, outros tantos que nem na Copa dedicam-se a este esporte. 
Pessoas que gostam de comentar sobre política representativa, outras que 
gostam de honestidade, outras tantas que odeiam quando aparecem 
propagandas políticas em suas redes sociais. Enfim, subjetividade é aquilo que 
nos diferencia dos outros, aquilo que somente a mim pertence, aquilo que é 
próprio a cada sujeito (daí o temor subjetividade, do latim subjectivus, relativo 
ao sujeito). Você conseguiria indicar exemplos de características da sua própria 
subjetividade? 
 
Entretanto, seria ingênuo achar que a subjetividade é apenas a 
expressão de algo interno, como se fosse a essência do indivíduo. Muito 
importante lembrar que nós seres humanos somos produtos e produtores da 
história, do meio social, da cultura. Aquilo que dizemos ser, por paradoxal que 
seja, é externo, aprendido com a cultura. Mesmo aquilo que é mais íntimo meu, 
meus segredos que não conto a ninguém, são atravessados pela cultura, pelos 
conglomerados midiáticos, religiosos, comerciais, etc. Para termos uma ideia 
mais palpável, analise: quais os seus sonhos atuais não são atravessados pelo 
capitalismo? 
 
 Passaremos agora a fazer uma volta histórica, partindo da Grécia 
Antiga, para estabelecermos as principais formas de produção de 
conhecimento em Psicologia no Ocidente. Teremos assim, maiores condições 
de compreender quando desembocarmos, a partir das próximas unidades, na 
 
28 
 
expressiva figura de Wilhelm Wundt (final do século XIX) e sua proposta de 
uma Psicologia Científica e adentrarmos em quatro das principais abordagens 
em Psicologia aceitas no Brasil na contemporaneidade: a Psicanálise, a 
Psicologia Comportamental, as Psicologias Humanistas e a Psicologia Social. 
 
A Psicologia na Idade Antiga 
 
 As produções humanas – desde as mais simples como uma xícara até 
as mais complexas como tecnologia espacial ou uma teoria científica – tem 
como pano de fundo as contingências sociais e históricas que tornaram 
possível que elas próprias existissem. Assim, pode-se dizer que as técnicas 
agrícolas eram fundamentais para sociedades humanas que viviam da 
agricultura de subsistência, assim como as tecnologias espaciais acabaram se 
tornando importantes para um mundo geopoliticamente dividido pela Guerra 
Fria entre Estados Unidos da América (EUA) e União Soviética (URSS) na 
segunda metade do século XX. Por isso é muito importante recorrermos à 
História quando queremos nos aproximar de determinado assunto ou forma de 
conhecimento. Nenhum saber, nenhuma técnica, nenhum avanço científico 
está fora do seu tempo histórico. 
 
 Desta forma, fazemos nosso pouso na Grécia Antiga perguntando-nos: é 
correto afirmar que havia Psicologia neste período? 
 
 Antes do mais, é fundamental que se registre: Psicologia é uma palavra 
de origem grega, derivada dos termos psiquê, que significa alma; e logos, que 
é uma palavra plurissignificante podendo ser traduzida como estudo, 
conhecimento, razão, etc. Assim, esquematicamente teríamos: psiquê + logos 
= Psicologia. Portanto, podemos dizer que Psicologia significa, em sentido 
etimológico, estudo da alma. 
 
 Os gregos foram o povo mais evoluído da Antiguidade europeia. Não à 
toa, o estudamos desde os primórdios de nossa educação, dada a enorme 
influência que o mundo europeu exerce sobre o nosso continente americano. 
 
29 
 
Com o desenvolvimento bélico grego, havia muitos escravos – oriundos dos 
povos conquistados – a exercerem atividades braçais diárias, deixando alguns 
homens, então chamados de cidadãos, com tempo ocioso. Por conta deste 
tempo livre sustentado pela escravidão de determinados povos, muitos homens 
gregos puderam dedicar-se – em vez de todo dia trabalhar para o próprio 
sustento – a especular sobre a origem e o sentido da vida humana. Como já 
vimos na unidade de estudo I, este é o início da filosofia grega. E a filosofia 
grega, por ser a atividade que se preocupa em pensar e estudar sobre o 
homem, pode ser entendida como um das primeiras tentativas de produção de 
conhecimento acerca do humano que temos registro no Ocidente. Por isso 
mesmo estudamos alguns filósofos gregos nas aulas introdutórias de 
Psicologia, pois foram os vanguardistas em questionar e teorizar sobre o que; e 
quem somos. 
 
É importante que fique claro: a atividade especulativa de alguns homens 
só foi possível graças à escravidão de outros tantos. Apesar desta página triste 
do mundo político e cultural grego, os filósofos paridos na Grécia Antiga até 
hoje – quase 3000 anos depois! – exercem enorme influência sobre o 
pensamento ocidental. Podemos destacar três grandes filósofos da Grécia 
Antiga. 
 
O primeiro deles é Sócrates (469-399 a.C.), figura controversa que, 
segundo alguns, não chegou a existir, sendo apenas um personagem 
inventado por Platão – estudaremos sobre ele no parágrafo abaixo – em seus 
textos. Sócrates não deixou escrito nada de seu, temos acesso a ele através 
de seu discípulo Platão. Sócrates é considerado o Pai da Filosofia e, dentre 
suas principais contribuições acerca do Homem, postulava: o que nos separa 
do restante dos animais é a razão, a capacidade deraciocinar que, segundo 
ele, seria exclusiva da espécie humana. Em oposição à razão, Sócrates aponta 
o instinto, que estaria presente em todos os animais, mas que, em nosso 
caso, poderia ser domado pela razão. 
 
Outro filósofo de renome da Grécia Antiga é Platão (427-347 a.C.), 
apontado como discípulo de Sócrates. Influenciado por Sócrates, Platão 
 
30 
 
acreditava na razão como algo que nos diferenciava do restante dos animais, 
estando, porém, muito preocupado em localizá-la no corpo humano. Devemos 
a este filósofo nossa atual ideia de dizer que a razão está na cabeça (algo 
bastante atual, não é verdade?), pois seria no crânio onde residiria nossa alma. 
Seria a medula espinhal, para Platão, a estrutura anatômica que faria a ligação 
entre nosso corpo e nossa alma. 
 
Um terceiro filósofo de grande destaque da Grécia Antiga é Aristóteles 
(384-322 a.C.). Este, sendo discípulo de Platão, de tão genial, conseguiu 
superar seu próprio mestre em matéria de produção de conhecimento. Para 
Aristóteles, alma e corpo são indissociáveis, ou seja, inseparáveis. E mais que 
isso, todos os seres vivos – e não apenas o homem – detém em sim uma alma. 
Nos vegetais podemos encontrar uma alma vegetativa; nos animais irracionais, 
uma alma vegetativa e uma alma sensitiva; nos animais racionais, ou seja, no 
homem, temos, além da alma vegetativa, tanto uma alma sensitiva quanto uma 
alma racional. 
 
A Psicologia na Idade Média 
 
 Antes de mais nada, uma discussão primordial. Quando ouvimos falar 
em Idade Média, o que nos vem à cabeça? Castelos, cavaleiros e famosas 
Ordens de Cavalaria, grandes feudos, servidão voluntária de uns, opressão 
deliberativa de outros, longa noite de mil anos? Importante perguntar-se: houve 
de fato um mundo medieval, ou idade medieval foi algo circunscrito a apenas 
um continente dos cinco existentes? Poderíamos, sem incorrer em erro, dizer 
que houve uma Idade Média nesse espaço geográfico hoje chamado Brasil? 
Aliás, é até curioso: o que estaria acontecendo aqui em nossa América quando 
a Europa conhecia seu período medieval? 
 
Pois bem, às vezes utilizamos a expressão “mundo medieval” sem 
atentarmos àquilo que ela realmente diz. No entanto, continuaremos utilizando 
a expressão aqui por uma questão de economia conceitual. Feita a 
consideração, prossigamos. 
 
31 
 
Naquilo que se convencionou chamar de Idade Média, o conhecimento 
acerca do homem admite severa decadência, sobretudo, se for comparado ao 
conhecimento produzido na Grécia Antiga. 
 
Temos dois grandes expoentes da produção de conhecimento sobre o 
homem: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, ambos os escudeiros da 
Igreja Católica. Esta, inclusive, teve papel central naquilo que se produzia em 
matéria de ciência sobre o homem. Toda a produção sobre o “estudo da alma” 
esteve reduzido à exclusividade da Igreja Católica, visto que foi a única 
instituição que se dedicou à produção de saberes no Ocidente depois da queda 
do Império Romano. Por este motivo, Psicologia e Filosofia continuaram sendo 
uma e somente uma forma de saber, sem limites específicos entre ambos os 
campos de conhecimento. 
 
Santo Agostinho (354-430), teólogo e bispo da Igreja Católica, utilizou 
boa parte do pensamento do filósofo grego Platão e o forçou a dialogar com a 
doutrina cristã. Na verdade, o que fez Santo Agostinho foi “traduzir” – a bel 
prazer daquilo que acreditava – a filosofia aristotélica para aquilo que 
interessava à Igreja. Agostinho concordava com a cisão entre mente e corpo 
proposta por Platão, no entanto, a alma não seria apenas o lugar onde se 
localizava a razão, mas uma prova da manifestação de Deus no homem. E, 
desta forma, a alma passa a ser um ponto de interesse de compreensão para a 
Igreja. 
 
Algo muito parecido com a “tradução” de Agostinho, fez São Tomás de 
Aquino (1225-1274), frade dominicano nascido na Itália. Entretanto, Aquino 
utiliza de outro filósofo grego, no caso Aristóteles, para fazê-lo dialogar com a 
doutrina de Cristo, mesmo que o filósofo não estivesse se referindo à religião 
quando escrevia seus tratados. É preciso sublinhar que Tomás de Aquino viveu 
em um momento no qual havia uma grande crise na Igreja Católica, sendo esta 
contestada em muitos de seus fundamentos. A Reforma Protestante, inclusive, 
foi um movimento que evidencia esta crise. O contexto histórico de Aquino é 
importante para compreender sua leitura acerca da obra de Aristóteles, pois é 
nítida sua tentativa de produzir novas justificativas para a relação entre o 
 
32 
 
homem e Deus devido às contestações sofridas pela Igreja. Desta forma, o 
teólogo repaginou a noção aristotélica de essência e existência. Para o 
filósofo grego, o homem, em sua essência, procura a perfeição através da 
existência. São Tomás de Aquino, baseado neste raciocínio, faz o seguinte 
deslocamento: apenas Deus conseguiria reunir, a um só tempo, essência e 
existência, em termos de igualdade. Desta forma, buscar a perfeição seria 
exatamente buscar a Deus. 
 
A Psicologia na Modernidade 
 
 Tradicionalmente a Modernidade é o período que sucede a Idade Média 
na Europa, iniciando-se por volta do século XV, quando o continente europeu 
passa por uma série de transformações sociais, econômicas, culturais e 
históricas. Fazem parte desse período as Grandes Navegações e a chegada 
dos europeus no nosso continente americano; as primeiras manifestações e 
descobertas da Ciência Moderna, como as leis da Física e da Química ou a 
teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico; a modificação do sistema de 
produção feudal para o modo de produção capitalista; ascensão do modo de 
vida burguês através do acúmulo de capital; transformação dos burgos 
(cidades) em local de intensa interação comercial e pessoal, passando a 
configurarem-se como os centros de maiores concentrações de pessoas no 
continente europeu, etc. 
 
 Somadas às transformações acima, há se falar do processo de 
valorização do ser humano que passa a acontecer. Se tínhamos um 
teocentrismo (teo, Deus + centro, deus no centro) na Europa Medieval, na 
Modernidade passamos a perceber um antropocentrismo (antrophos, homem 
+ centro, homem no centro). Em pouco menos de um século vemos 
expressões nos mais variados campos artísticos que evidenciam essa nova 
possibilidade de ver o homem, agora como ente central. Como exemplos, 
podemos citar: o quadro Anunciação (1484), de Leonardo da Vinci; a escultura 
Nascimento de Vênus (1501), de Michelangelo; o livro O Príncipe (1513), de 
Nicolau Maquiavel. Que tal procurar na internet estas imagens e livros? 
 
33 
 
 Na filosofia temos, no século XVII, a expressiva figura do francês René 
Descartes (1596-1650), que inaugura o dualismo mente x corpo (algo que 
parece ser tão óbvio, sim, um dia foi inventado), apontando que o homem 
possuiria uma substância material e uma substância pensante, sendo o corpo 
apenas uma máquina mecânica. Essa possibilidade de um corpo humano tido 
como máquina permite, de agora em diante, os estudos anatômicos sobre os 
corpos mortos, pois até então os cadáveres eram invioláveis, dado serem 
concebidos como objetos sagrados pela Igreja Católica. 
 
"Temos uma sociedade que passa do caráter estático para um caráter 
extático. Na Europa feudal inexistia a possibilidade de mobilidade social, pois 
era voltada a um modo de produção de subsistência, ou seja, de produzir 
apenas o que fosse necessário para a sobrevivência – caráter estático, pois 
fechada e hermética". No entanto, na Europa Moderna, temos um modo de 
produção mais dinâmico, no qual se gera excedente, ou seja, nem toda a 
produção da comunidade se presta a ser consumida por seus integrantes, 
gerando, portanto, excedentes. E os excedentes de uma dada comunidade são 
trocados com os de outra comunidade, gerando um sistema de trocas, que é a 
gênese do sistema capitalista. Esta Europa Moderna, atravessada pelo 
capitalismoemergente, que apesar das inúmeras injustiças que causa, permite 
a mobilidade social, pois um pobre pode tornar-se rico e vice-versa (no sistema 
feudal um nobre era sempre um nobre e um servo, sempre um servo) é uma 
sociedade de caráter extático, pois muito mais dinâmica e aberta. 
 
Temos, portanto, uma Europa que se põe em movimento. E quem põe 
este mundo para mover-se é justamente o capitalismo, pois para tornar-se o 
sistema econômico hegemônico precisou de mais matérias-primas, contratou 
mais operários, fabricou mais mercadorias, produziu pessoas que 
consumissem estas mesmas mercadorias, inventou também outras 
necessidades (basta pensar que nossos avós viveram tranquilamente por muito 
tempo sem celular...) para que mais pessoas consumissem gradativamente 
mais, etc. 
 
 
34 
 
O homem passa a ser visto como um ente livre, senhor de seu destino, 
capaz de interferir e construir seu próprio futuro. O homem passa a estar 
também em movimento. Ana Bock e colaboradores (2008, p. 37) ilustra de 
forma bastante interessante esta intensa mobilização do mundo moderno: “O 
conhecimento tornou-se independente da fé. Os dogmas da Igreja foram 
questionados. O mundo se moveu. A racionalidade do homem apareceu, 
então, como a grande possibilidade de construção do conhecimento”. 
 
Certamente estas profundas transformações implicaram em produzir 
homens diferentes. Se pensarmos bem, perceberemos que o homem que 
nasceu na Grécia Antiga, apesar de muitas similitudes com o homem 
contemporâneo, tem também muitas distinções. Da mesma forma, o homem 
que nasce na Europa Moderna não é o mesmo que nasce na Europa Medieval. 
Se o homem não é o mesmo, o conhecimento que se tem sobre ele também 
não o será. 
 
Nesse interim, surgem figuras como Friedrich Hegel (1770-1831), a 
mostrar a importância da História para a compreensão do homem; Immanuel 
Kant (1724-1824), a perguntar, pela primeira vez “o que é o homem?” e tenta 
dar inteligibilidade metódica a esta indagação; Charles Darwin (1809-1882), 
que sepulta o pensamento antropocêntrico, através de sua teoria da evolução. 
 
É apenas na segunda metade de século XIX que os problemas e temas 
acerca do homem, que até então tinham sido relegados à exclusividade da 
Filosofia, passam a configurar um espaço próprio de saber, a Psicologia. É 
através de estudos da Fisiologia e da Neurofisiologia, somados aos já 
existentes em Filosofia, que vai se pavimentando a estrada pela qual a 
Psicologia Científica se mobilizará. 
 
 
 
 
35 
 
Wilhelm Wundt e a proposta de uma Psicologia 
Científica 
 
É o alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) quem primeiro tentara 
sistematizar o conhecimento concernente ao homem acumulado pela tradição 
filosófica desde a Grécia Antiga junto aos recentes estudos de Fisiologia e 
Neurofisiologia Humanas, tentando produzir uma Psicologia Científica. Em 
1879, inaugura o Laboratório de Psicologia Experimental, na Universidade de 
Leipzig, no leste da Alemanha. Por este motivo, e também por toda sua 
produção intelectual no campo psicológico, Wundt é considerado pela 
comunidade acadêmica e pelos psicólogos em geral, o Pai da “Psicologia 
Científica” ou “Psicologia Moderna”. 
 
Wundt, em seu afã cientificista, desenvolve a teoria do paralelismo 
psicofísico, doutrina que defendia que, paralelo ao mundo físico (que 
comporta forças que causam fenômenos físicos) no mundo mental também 
haveria forças causadoras de fenômenos mentais. Dito de outro modo, como 
existe leis que comandam o mundo físico, haveria paralelo ao mundo físico, leis 
que ordenariam o mundo psicológico ou mental. Assim, uma picada de agulha 
(mundo físico) também causaria efeitos na mente humana (mundo psicológico). 
 
Para realizar suas pesquisas, Wundt estabelece um método, ao qual 
denomina introspeccionismo (do latim intro, para dentro + specere, olhar, 
olhar para dentro) que consistiria no cientista (experimentador) perguntar ao 
participante da pesquisa (sujeito experimental) o que acontece quando 
determinado estímulo lhe acomete. Por exemplo, o pesquisador perguntaria ao 
sujeito experimental o que acontece em seu mundo mental enquanto está 
sendo picado por uma agulha. O relato verbal do sujeito experimental era a 
produção de conhecimento que Wundt buscava desenvolver. Wundt estabelece 
também que o objeto de estudo da Psicologia não deveria ser a alma – pois 
esta é muito metafísica e não se presta a estudos científicos – mas a mente. 
 
 
36 
 
Quanto mais Wundt desenvolvia suas pesquisas, gradativamente temos 
uma separação da Psicologia em relação à sua matriz, a Filosofia – e também 
da Neurofisiologia e da Fisiologia – convertendo-se em um saber autônomo. É 
justamente este desmembramento que vai fazendo com que os psicólogos de 
então reivindiquem um caráter científico ao nascente campo de saber da 
Psicologia. E Wundt ia produzindo, a um só tempo, conhecimento em 
Psicologia e novos psicólogos. Estes novos estudiosos criaram também outros 
modos de fazer Psicologia. Veremos a seguir. 
 
Embora os primeiros estudos de Psicologia Científica tenham surgido na 
Alemanha, é nos Estados Unidos que terão maior reverberação, pois 
encontram um país em franco crescimento econômico e que busca fortalecer 
suas Universidades (lembremos que estamos ao fim do século XIX). Surgem ali 
o Funcionalismo, o Associacionismo e o Estruturalismo, todas correntes 
em Psicologia que têm influência de W. Wundt, entretanto, que também trazem 
em si suas peculiaridades e originalidades. 
 
O funcionalismo é proposto por William James (1842-1910) e pode ser 
considerada a primeira expressão da Psicologia em terras estadunidenses. 
Uma sociedade que se preparava para ser a grande potência econômica do 
século XX exigia pragmatismo em todas as suas facetas, o que também se vê 
refletido na proposta jamesiana. Para o funcionalismo, importa quão funcional é 
determinada teoria, pois se não resulta em utilidade, a teoria não tem valor de 
verdade. A ideia de “verdade”, aliás, é lida pelo funcionalismo a partir de um 
prisma bastante original: a verdade não é absoluta, é verdadeiro aquilo que 
funciona em determinado período histórico; podemos ter algo verdadeiro no 
século XIX que não seja verdadeiro no século seguinte; e vice-versa. James 
elege a consciência como objeto de estudo para sua Psicologia 
Funcionalista. William James recebe imensa influência de Charles Darwin e a 
teoria da evolução das espécies, tentando fazer uma leitura da consciência 
humana a partir da leitura de Darwin. Nesse sentido, consciência é tida como 
uma estrutura adaptativa, que auxilia a espécie humana a melhor adaptar-se 
ao ambiente na qual está inserida. Quem primeiramente levou as ideias de 
Charles Darwin para os EUA foi outro inglês, Herbert Spencer (1820-1903), 
 
37 
 
que nutre profunda influência nos estudos sobre Psicologia em língua inglesa 
no final do século XIX. 
 
O Estruturalismo, proposto por Edward Titchner (1867-1927), assim 
como o Funcionalismo, elege a consciência como objeto de estudo. 
Entretanto, ao invés de buscar as funções adaptativas da consciência, está 
ocupado em desvendar as estruturas que formariam a consciência humana, ou 
seja, quais seriam as estruturas do sistema nervoso que constituiriam nossa 
consciência. Assim como Wundt, Titchner adota o introspeccionismo como 
método de produção de conhecimento. 
 
O Associacionismo, doutrina que tem como principal nome Edward 
Thorndike (1874-1949), propunha, tal qual William James, uma abordagem 
funcional acerca do comportamento humano. O que haveria de funcional (no 
sentido de adaptativo) na produção de conhecimento é que interessava a 
Thorndike. Ele é um dos pioneiros em estudos sobre Psicologia da 
Aprendizagem, e o nome de sua doutrina deve-se ao entendimento de que 
aprendemos graças as associações que fazemos entre determinados 
estímulos. Quando estamos em busca de conhecerum conteúdo complexo, 
aprendemos, primeiramente, ideias mais simples, que estariam associadas de 
modo a constituir algo mais complexo. 
 
Thorndike propõe como modelo teórico a lei do efeito. Segundo o autor, 
todo comportamento de um organismo vivo (um homem, um pássaro, um rato, 
etc.) ocorre em função do efeito que ele produz. Comportamentos que 
produzem efeitos recompensatórios tendem a se repetir no futuro e 
comportamentos que produzem efeitos punitivos tendem a não serem mais 
emitidos. Assim, caso apertemos um botão no celular e formos premiados com 
determinadas mensagens (efeito), tenderemos a apertar o mesmo botão em 
ocasiões semelhantes no futuro próximo. Além disso, mesmo que seja um 
modelo de celular o qual nunca tivemos acesso, tentaremos apertar um botão 
semelhante para conseguirmos as mensagens (efeito). De outro modo, caso 
um namorado tente mexer no celular da namorada buscando mensagens 
semelhantes e seja por ela punido (efeito), tenderá a não repetir o mesmo 
 
38 
 
comportamento – bem, ao menos não em sua presença. A Lei do efeito foi 
grandemente utilizada e desenvolvida pela Psicologia Comportamental de B. F. 
Skinner, teoria psicológica que veremos na próxima unidade. 
 
Importante lembrar que William James, Edward Titchner e Edward L. 
Thorndike foram alunos de Wilhelm Wundt em seu Laboratório de Psicologia 
Experimental, em Leipzig na Alemanha. A favor de Wundt, é preciso informar 
também que ele propôs, além de sua Psicologia Científica, uma 
Volkerpsychologie (que pode ser traduzida como Psicologia dos Povos), 
que pode ser considerada a gênese da Psicologia Social, que veremos com 
mais detalhes na unidade IV. 
 
Wundt sentiu necessidade de promulgar uma Volkerpsychologie quando, 
desde seus primeiros estudos no Laboratório Experimental de Leipzig, passou 
a perceber que o método introspectivo era insuficiente para dar conta da 
complexidade da vida humana. Desta forma, propôs, em paralelo ao projeto de 
Psicologia Experimental, uma Psicologia que tentasse teorizar sobre questões 
culturais mais amplas, como cultura, tradição, linguagem, etc. A Psicologia dos 
Povos wundtiana assumia um método distinto da Psicologia Individual 
(introspecção) proposta pelo autor, pois Wundt acreditava que não seria 
possível fazer perguntas diretas aos sujeitos envolvidos em atividades mais 
complexas como a cultura. Utiliza, então, métodos e estudos da Antropologia e 
da Sociologia para tentar dar inteligibilidade à sua Psicologia dos Povos. Wundt 
passou muito no tempo no ostracismo acadêmico, devido às grandes 
personalidades que o século XX produziu em matéria de Psicologia – tais como 
S. Freud, C. Rogers, J. Piaget, B. F. Skinner, entre outros – mas, em função de 
trabalhos de sérios pesquisadores contemporâneos, tem sido restituído seu 
verdadeiro papel como intelectual e produtor de conhecimento na área da 
Psicologia (estima-se que o autor escreveu mais de 40 mil páginas). 
Felizmente, Wundt tem sido redescoberto pelos psicólogos e volta a figurar no 
local de onde nunca devia ter sido retirado: o cânone dos grandes autores em 
Psicologia. 
 
 
 
39 
 
Para Saber mais: 
 
O estudante pode procurar os seguintes livros, caso queira aprofundar um 
pouco mais seus conhecimentos adquiridos nesta Unidade: 
 
 História da Psicologia Moderna, de C. J. Goodwin; 
 
 História da Psicologia Moderna, de Schultz, D. P. & Schultz, S. E; 
 
 História da Psicologia no Brasil, de Marina Massimi & Maria do Carmo 
Guedes; 
 
 História da Psicologia: rumos e percursos, organizado por Arthur 
Arruda Ferreira Leal e colaboradores; 
 
 Introdução à Psicologia, de Atkinson & Hilgard; 
 
 Matrizes do Pensamento Psicológico, de Luís Cláudio Figueiredo. 
 
O estudante também pode assistir ao seguinte filme, como forma de 
aprofundamento do aprendizado: 
 
 Quem Somos Nós, direção: William Arntz e Betsy Chasse (EUA, 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
Avance com foco no seu aprendizado 
 
Estamos disponibilizando neste espaço de aprendizagem as 
videoaulas, um recurso tecnológico, com a intenção de contribuir 
com sua aprendizagem sobre os temas referente às unidades de 
estudo da disciplina. 
 
Guiando o estudo com as videoaulas 
 Leia o cada unidade de estudo e ao final assista as 
videoaulas para ampliar seu estudo e ou dirimir as dúvidas 
sobre o tema. 
 
 Eros e Psique o mito que deu origem ao termo Psicologia 
 
 
 
 
https://vimeo.com/208053965
 
41 
 
AS PRINCIPAIS 
ABORDAGENS EM 
PSICOLOGIA DO 
SÉCULO XX 
3 
Conhecimentos 
 
Compreender de forma sucinta a Psicanálise, as contribuições sociais da 
Psicanálise, a visão do behaviorismo sobre vários aspectos e as principais 
Psicologias Humanistas. 
 
Habilidades 
 
Identificar as diferenças no estudo de Ivan Pavlov, Watson, o behaviorismo de 
B. F. Skinner, a psicologia de Gestalt. 
 
Atitudes 
Desenvolver a dinâmica das relações humanas nas sociedades atuais e a 
importância dos grupos e instituições sociais, destacando os meios de 
comunicação. 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
A Psicanálise 
 
Sigmund Freud e a pré-Psicanálise 
 
Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense (Viena, capital da 
Áustria) que trouxe contribuições muito originais acerca do entendimento da 
psique humana. Freud ousou colocar os processos misteriosos do psiquismo – 
isto é, os sonhos, as fantasias, os esquecimentos, etc – como um problema 
científico. A investigação sistemática de tais processos é o que levou Freud a 
postular uma das mais vanguardistas teorias sobre o homem em todos os 
tempos: a psicanálise. 
 
Etimologicamente falando, psicanálise significa análise da psique, ou 
análise da alma (do grego psiché, alma, sopro de vida + do grego analysis, 
análise). O termo psicanálise pode ser, a um só tempo, uma teoria, um método 
de investigação e uma prática profissional. Enquanto teoria baliza um conjunto 
de conhecimentos acerca do psiquismo humano. Enquanto método de 
investigação é um método interpretativo, que busca o significado oculto de 
manifestações humanas como sonhos, delírios, esquecimentos, atos falhos, 
entre outros. Enquanto prática profissional é a profissão do analista em si, a 
análise que tem como proposta o autoconhecimento ou a cura – que muitas 
vezes acontece justamente através do autoconhecimento – do analisando. 
 
Compreender de forma minimamente inteligível a Psicanálise é percorrer 
a trajetória intelectual de seu fundador, S. Freud. A relação entre autor e obra é 
algo muito significativa, e torna-se ainda mais ilustrativa caso façamos este 
percurso atentando também às contingências sociais e culturais que balizavam 
o tempo histórico do autor austríaco. 
 
Sigmund Freud graduou-se em Medicina pela Universidade de Viena em 
1881. Por motivos financeiros, não pode dedicar-se desde sempre à vida 
acadêmica e de pesquisador. Foi, portanto, clínico na cidade de Viena, o que 
lhe rendeu alguns casos de pessoas acometidas com “problemas nos nervos”. 
 
44 
 
Algum tempo depois, obteve uma bolsa de estudos em Paris, capital da 
França, onde foi trabalhar com Jean-Martin Charcot (1825-1893), eminente 
psiquiatra da época, que tratava “problemas dos nervos” através da hipnose. 
Em 1886 volta à sua cidade natal, Viena, e passa a utilizar com bastante 
frequência o método hipnótico, aprendido em Paris com o mestre Charcot. 
 
Em seu regresso, aproxima-se do médico Josef Breuer (1842-1925), 
importante vetor de comunicação e aprendizado para o jovem Freud. Breuer 
tem uma emblemática paciente, de nome Anna O., que apresenta alguns 
sintomas como paralisia com contração muscular, inibição do pensamento, etc. 
tais sintomas tiveram início quando a paciente passou a cuidar do pai enfermo. 
Quando cumpria esta função, Anna O. havia tido alguns pensamentosque 
desejavam a morte do pai, pensamentos estes que foram reprimidos e 
substituídos pelos sintomas apresentados. A paciente, em estado de vigília, 
não era capaz de indicar a origem de seus sintomas, todavia, em estado 
hipnótico, ela mesma relatava a origem de cada um deles, que estavam sob a 
égide do momento em que cuidara do pai enfermo. A tudo isso Breuer 
chamava de método catártico (do grego catarsis, purificação, alívio da alma 
pela satisfação de uma necessidade moral). 
 
A Gestação da Psicanálise 
 
 Freud perguntava-se: “Qual poderia ser a causa de os pacientes 
esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior?” (apud BOCK, 2008, p. 
73). Além desse questionamento, percebia que o conteúdo esquecido sempre 
tinha relação com algo doloroso ou penoso para o indivíduo, ou, de outro 
modo, a algo bom que o sujeito perdera ao longo da vida. Freud, então, 
resolveu abandonar as perguntas no trabalho terapêutico e deixou os sujeitos 
mais abertos para falar, dando livre curso às ideias dos indivíduos em análise – 
o que ele chamou de método da associação livre. Observou, então, que as 
falas livres, na maioria das vezes, deixavam os sujeitos embaraçados, 
envergonhados, com o conteúdo de suas próprias ideias. Foi quando postulou 
 
45 
 
a existência de um inconsciente nos sujeitos humanos, que seria o lugar 
psíquico no qual estaria a imensa maioria de nossas ideias e pensamentos. 
 
O médico austríaco postulou, pois, que existia uma força psíquica a 
impedir alguns conteúdos inconscientes de atingirem o nível consciente, o que 
denominou de resistência; e uma outra força psíquica que tem por objetivo 
encobrir ou fazer desaparecer da consciência alguma representação dolorosa 
ou insuportável que está na gênese do sintoma, a qual denominou repressão. 
A finalidade de uma análise terapêutica seria, portanto, descobrir as repressões 
e tentar anulá-las. Nas palavras do próprio Freud: “considerando este novo 
estado das coisas, dei ao método investigativo e cura resultante o nome de 
psicanálise em substituição ao método catártico” (apud BOCK, 2008 p. 73). 
 
 No ano de 1900, Sigmund Freud publica “A Interpretação dos 
Sonhos”, que é considerado o marco inicial da psicanálise. É neste livro que 
Freud apresenta os principais conceitos da nascente teoria e sua primeira 
representação para o aparelho psíquico. É o que denominamos de primeira 
tópica freudiana. 
 
 Segundo a primeira tópica freudiana, o aparelho psíquico é dividido 
em três regiões: 
 
 Inconsciente: aqui estão os conteúdos não presentes na estrutura atual 
do consciente. Seus conteúdos são aqueles reprimidos, que assim o 
foram devido à ação de mecanismos de censura internos. Tais 
conteúdos, inclusive, podem ter sido conscientes em algum momento, e 
terem sido reprimidos porque passaram a representar algo mais 
significativo para o indivíduo (sobretudo aquilo que o faz temer ou 
desejar), como também podem ser genuinamente inconscientes. Esta 
parte do aparelho psíquico é regida por leis autônomas, sendo, por 
exemplo, atemporal. 
 
 Pré-consciente: é a parte do sistema onde ficam conteúdos que são 
acessíveis à consciência. De uma forma bem clara, é aquilo que no atual 
 
46 
 
momento não é consciente, mas que pode ser a qualquer hora (tipo 
quando você lembra do seu número de telefone, até antes de ler esta 
última frase, tal informação não estava em seu consciente, mas foi 
facilmente acessada, pois estaria em seu pré-consciente, segundo o 
médico austríaco). 
 
 Consciente: é a estrutura do aparelho psíquico que recebe ao mesmo 
tempo informações do mundo interior e do mundo exterior. No 
consciente estão os processos psicológicos básicos como percepção, 
atenção, etc. Repare que o termo utilizado pela psicanálise é consciente, 
ao invés de consciência (que é utilizado por diversas abordagens 
psicológicas). 
 
Freud também inova quando traz sua concepção de sexualidade. Para 
ele, todos, absolutamente todos, temos sexualidade, e isso envolve também, 
logicamente, a infância. Imaginemos o caos que o autor causou na sociedade 
europeia da época do início do século XX quando propôs que as ingênuas 
criancinhas, tais como os adultos, possuíam sexualidade. Para o conhecimento 
da época, o bebê humano nascia isento de sexualidade – pois era puro e o 
sexo foi, por séculos a fio, relacionados à sujeira e ao pecado no Ocidente – e 
esta só se desenvolvia após a puberdade. Claro que o criador da psicanálise 
não inventou uma ideia assim tão despudoradamente, tal noção veio da prática 
clínica, na qual passou a perceber que muitos dos sintomas que chegavam à 
análise tinham sua origem relacionada à sexualidade e na tenra infância. 
 
Para Freud, que era médico, cientista e estava a par das inovações do 
conhecimento propostas por Charles Darwin com sua Teoria da Evolução, o 
sexo tinha a função de manter viva a espécie. Desta forma, o corpo do bebê é 
inatamente erótico, sendo o prazer encontrado no próprio corpo. Freud propôs, 
então, uma teoria do desenvolvimento psicossexual. O indivíduo humano 
passa por algumas fases em seu desenvolvimento psicossexual, que são as 
que seguem: 
 
 
47 
 
 Fase oral (até 01 ano): fase na qual a zona de erotização é a boca, todo o 
prazer do indivíduo encontra-se neste órgão localizado. Não à toa, bebês 
recém-nascidos levam tudo o que pegam à boca. 
 
 Fase anal (01 a 03 anos): fase na qual a zona de erotização principal 
desloca-se para o esfíncter anal, e boa parte do prazer da criança 
consiste justamente em controlar a saída de suas fezes de sua região 
anal. 
 
 Fase fálica (03 a 06 anos): nesta fase a região mais erotizada do corpo 
da criança é sua genitália, seja masculina, seja feminina. Nesta fase é 
desenvolvido o conceito de Complexo de Édipo. Segundo a psicanálise 
freudiana, a mãe torna-se objeto de desejo para o menino, que passa a 
rivalizar com o pai pelo amor da mãe, visto que é quem impede, muitas 
vezes, o acesso do menino à mãe. Para conseguir seu objeto de desejo – 
a mãe – o menino passa a imitar o pai, já que ele conseguiu conquistá-la, 
e passa, então, a introjetar em si as principais regras da cultura e do 
mundo externo. Para Freud, essa é uma experiência universal, ou seja, 
uma experiência pela qual todos os seres humanos passam, seja em 
qualquer cultura ou tempo histórico. Freud tira o nome Complexo de Édipo 
da dramaturgia grega, especificamente da peça Édipo em Colono, de um 
autor chamado Sófocles. 
 
 Fase de latência (06 a 12 anos): quando há uma latência na sexualidade 
das crianças, fase na qual a libido está em estágio adormecido. 
 
 Puberdade (a partir da puberdade): quando o indivíduo atinge sua 
puberdade e passa a desenvolver sua sexualidade de acordo com suas 
opções e gostos. O corpo, apesar de estar pronto para a reprodução e, 
portanto, manutenção da espécie neste planeta, não é majoritariamente 
erotizado quanto nas fases anteriores, visto que muitos objetos da cultura 
passam a também ser eróticos para o indivíduo (repare que alguns objetos 
tidos como extremamente sensuais atualmente não seriam assim 
http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0500
 
48 
 
concebidos caso não houvesse uma cultura que insistentemente nos 
dissesse que são sensuais). 
 
Importante dizer que as idades acima estabelecidas cumprem 
meramente uma função didática, pois, evidentemente, nem todos os bebês 
passarão rigorosamente por tais fases seguindo à risca a faixa etária 
apresentada. Pode-se, muito bem, termos crianças que desenvolvam o 
Complexo de Édipo a partir dos dois anos de idade, como outras que iniciem 
sua fase de latência aos cinco. Entre muitos outros exemplos. As idades 
apontadas, pretendem muito mais cumprir uma função de sistematização da 
teoria freudiana, que propriamente um engessamento da mesma. 
 
 
A Segunda Tópica Freudiana e Contribuições Sociais da 
Psicanálise 
 
Em 1923 Freudpropõe uma reatualização da estrutura do sistema 
psíquico. É o que chamamos de segunda tópica freudiana. Em vez das 
composições: inconsciente, pré-consciente e inconsciente, Sigmund Freud 
propõe uma estruturação que ainda reserva sua natureza tripartida, entretanto, 
dá uma ênfase muito maior ao mundo externo na constituição do mundo 
subjetivo e psíquico. Freud estrutura o novo aparelho psíquico em eu, supereu 
e id (em alguns livros podem ser encontradas as nomenclaturas ego, superego 
e isso para representar os termos acima, no entanto, são frutos de traduções 
erradas do alemão). 
 
O id seria governado pelo princípio do prazer, e estaria voltado para 
atender às pulsões mais intimas e naturais do ser humano, tais como as 
sexuais ou as que envolvam, de alguma forma, sobrevivência da espécie, 
como alimentação, por exemplo. Pode-se, a grosso modo, dizer que esta é a 
estrutura que assume o lugar do inconsciente na segunda tópica freudiana. 
 
 
49 
 
O supereu seria a instância emblemática da internalização da cultura. 
Esta estrutura psíquica origina-se juntamente ao Complexo de Édipo, com a 
inculcação das proibições, das regras, das tradições culturais, da moral, dos 
limites, da autoridade, etc. O conteúdo do supereu refere-se às exigências da 
cultura. É a partir desta estrutura que a psicanálise freudiana explica o 
sentimento de culpa, por exemplo. 
 
Regido pelo princípio da realidade, o eu fica exatamente no meio de 
campo entre o id e o supereu. É a estrutura responsável por fazer a mediação 
entre as exigências da cultura (mundo externo) e as exigências do eu (mundo 
interno). O eu, tem por função precípua, o equilíbrio entre as outras duas 
estruturas do sistema psíquico. 
 
Para finalizar o tópico sobre Psicanálise, cumpre lembrar o tempo 
histórico que Freud vivia quando propôs sua segunda tópica do aparelho 
psíquico. Se repararmos bem, poderemos perceber que a segunda tópica é 
muito menos internalista que a primeira, estando muito mais atenta aos 
sabores e dissabores da cultura. É a concepção de um mundo interno 
(aparelho psíquico) que não nasce pronto e acabado em definitivo nos sujeitos 
humanos, mas que é moldada a partir das experiências individuais e dos 
processos históricos e culturais nos quais estão inseridas as pessoas. Em 1923 
temos uma Europa recém-arrasada por uma guerra de proporções mundiais e 
que, lamentavelmente, já sentia o amargo sabor de uma segunda, que se 
levantaria em breve período. 
 
Fruto das leituras sociológicas do autor vienense durante a década de 
1910, a segunda tópica freudiana é a evidência de um gênio que está atento ao 
seu tempo histórico e que não se furta a teorizar sobre o mesmo. Para saber 
mais acerca do Freud implicado com as questões sociais e humanas de forma 
mais ampla, pode-se ter a prazerosa leitura de obras do autor como “Reflexões 
para o tempo de guerra e morte” (1915) ou “O mal estar na civilização” (1930). 
 
Para finalizar, uma última e lamentável informação. O gênio austríaco, 
Sigmund Freud, que era judeu, teve de exilar-se em Londres, Inglaterra, no 
 
50 
 
final da década de 1930 para fugir da perseguição nazista da Velha Europa – o 
exército nazista marchara sobre Viena em 12 de março de 1938 – que estaria 
em guerra novamente dentre em pouco. O criador da Psicanálise, inclusive, 
faleceu na cidade de Londres, no ano de 1939, no mesmo setembro em que a 
Europa entrou em guerra mais uma vez. 
 
 
O Behaviorismo 
 
Behaviorismo é uma palavra composta por elementos de duas línguas 
distintas. Etimologicamente falando, temos: do inglês behavior, comportamento 
+ do gregos ismós, que é um termo utilizado para dar ação aos verbos no 
idioma grego clássico, e largamente utilizado na língua portuguesa 
contemporânea; temos, portanto, behaviorismo como designador de um termo 
que expressa um estudo sobre o comportamento. Damos ênfase ao fato de 
ter sido feita uma aberração linguística quando da tradução para o termo em 
português, sendo o mais correto o uso da palavra comportamentalismo. 
Entretanto, respeitando questões históricas, continuaremos a utilizar neste 
material de estudo também o termo Behaviorismo. 
 
Ivan Pavlov e o estudo do Condicionamento Reflexo 
 
Ivan Pavlov (1849-1936) era um médico fisiologista russo, que estava 
muito dedicado a estudar os comportamentos reflexos dos mamíferos. 
Comportamentos reflexos são aqueles que já fazem parte do repertório inato 
de todo e qualquer indivíduo dentro de uma espécie. Por exemplo, todos os 
indivíduos da espécie canis lupus familiaris (cachorro doméstico, aquele 
mesmo que você tem em casa ou vê comumente na rua) já nascem sabendo 
latir e mamar, dentre tantos outros comportamentos. Mamíferos, de um modo 
geral, nascem sabendo suar em ambientes de temperatura mais alta, mexer os 
lábios de modo a mamar, excitar-se sexualmente, e muito mais. Todos esses 
são exemplos de comportamentos reflexos, isto é, comportamentos que não 
necessitam de aprendizagem para que sejam emitidos, são inatos em 
 
51 
 
determinada espécie. Era exatamente isso o que atraía Ivan Pavlov em seus 
estudos. 
 
Pavlov chegou a ser laureado com o Prêmio Nobel de Medicina de 1904, 
por seus trabalhos acerca do funcionamento digestivo de muitos animais, 
entretanto, ficou famoso por algo que descobriu meio que por acaso: o 
condicionamento reflexo. Pavlov estava estudando o processo de salivação 
de cachorros. Criou um aparelho que conseguia medir o nível de salivação do 
animal e o acoplou à faringe daqueles que eram objeto de seu estudo. Seus 
experimentos em laboratório, com controle das variáveis, eram relativamente 
simples: apresentava um pedaço de carne a cães e aferia o nível de salivação 
destes. Reparou que quando os animais estavam famintos, o nível de salivação 
era mais alto que quando os cães estavam saciados, por exemplo. Teorizou, 
então, que salivação é um comportamento inato para esta espécie, visto que 
não foi necessário treino anterior para que os cachorros salivassem perante 
comida quando em privação de alimento (famintos). 
 
Importante constar: nós, animais mamíferos, salivamos diante de comida 
justamente para que a digestão dos alimentos torne-se mais fácil, devido à 
lubrificação da boca e da faringe. Repare que há um valor de sobrevivência 
envolvido no comportamento inato, pois se não nos alimentássemos 
morreríamos de inanição ou caso não houvesse a necessária lubrificação do 
tubo digestório, poderíamos morrer engasgados com a própria comida. 
Normalmente os indivíduos de uma espécie nascem sabendo fazer 
determinado comportamento justamente pelo valor de sobrevivência que 
aquela ação tem para aquela espécie. Por exemplo, não é extremamente 
necessário que nós humanos saibamos nadar, mas é fundamental para os 
animais aquáticos, por isso todos já nascem sabendo. 
 
Mas algo muito curioso observou Pavlov também: determinados objetos 
passaram a eliciar a salivação nos bichos além da carne. Os passos do 
estagiário ou mesmo o jaleco de Pavlov passaram a aumentar o nível de 
salivação dos cães. De tal forma que o mero ouvir dos passos do estagiário ou 
a visão do jaleco de Pavlov pelos animais era suficiente para fazê-los encher a 
 
52 
 
boca d’água. Mas por quê? Pavlov teorizou, então, o condicionamento reflexo, 
que consiste no seguinte esquema: 
 
 
 
 
Na imagem acima, temos: 1. estímulo neutro, que originariamente em 
nosso exemplo era o jaleco do Dr. Pavlov. O jaleco, inicialmente, se 
apresentado a um dos cães, não provocaria aumento de salivação no animal; 
2. estímulo incondicionado (um estímulo incondicionado é aquele que 
provoca um comportamento inato), que era a carne. Ela, apresentada aos 
cães, faziam-no salivar. Podemos entender aqui incondicionado como sinônimo 
de inato, não é necessário aprendizagem anterior para que aquele estímulo 
provoque a resposta incondicionada, salivar; 3. uma sucessivaapresentação 
do estímulo incondicionado (carne) juntamente com o estímulo neutro (jaleco) 
para os animais. É aqui o ponto central da noção de condicionamento reflexo, 
pois sem o sucessivo emparelhamento de ambos os estímulos não há 
condicionamento; 4. estímulo condicionado (que no início do processo era o 
estímulo neutro), o jaleco, que passa a provocar a resposta condicionada, 
salivar. Repare na figura que mesmo a resposta sendo a mesma (salivar), é 
agora chamada de resposta condicionada, pois eliciada por um estímulo 
 
53 
 
condicionado. Quando era eliciada por um estímulo incondicionado (carne) era 
chamada de resposta incondicionada. 
 
De uma forma resumida, temos um jaleco que foi sucessivamente 
apresentado aos cães juntamente com a carne. Chega um momento que 
apenas a apresentação do jaleco aos animais é suficiente para fazê-los salivar. 
 
Vemos exemplos semelhantes a este em nosso cotidiano, quando, por 
exemplo, sentimos o cheiro de determinado perfume e lembramos alguém (isso 
pode nos trazer sensações boas ou ruins, dependendo do que aquela pessoa 
representou para a gente). Repare que é o mesmo mecanismo: um estímulo 
originariamente neutro (o perfume) passa a eliciar em nós sensações que outro 
estímulo (uma pessoa querida, por exemplo) no evocava. 
 
Você consegue pensar em outros exemplos de estímulo condicionado 
em seu cotidiano? 
 
 
John Broadus Watson e o Manifesto Behaviorista 
 
Como vimos, Pavlov era médico e não estava muito interessado em 
contribuir com a produção de conhecimento em Psicologia. Foi necessário 
alguém de dentro do edifício teórico da Psicologia reconhecer a potência do 
trabalho do cientista russo para este campo de saber. Quem fez isso foi o 
estadunidense John Broadus Watson (1878-1958). Em 1913, Watson publica 
um artigo intitulado Psychologie as the behaviorist views it (“Psicologia como 
um behaviorista a vê”, em tradução livre), que é considerado o marco inicial da 
Psicologia Behaviorista no mundo. Este texto é tido como o Manifesto 
Behaviorista e inaugura esta escola de Psicologia. 
 
Neste artigo o autor indica os princípios que guiarão a Psicologia que 
está propondo doravante. O objeto de estudo deve ser o comportamento 
humano, pois é diretamente observável por mais de uma pessoa ao mesmo 
 
54 
 
tempo. É preciso que se aponte o caráter vanguardista da escola de Watson, 
pois este rompe com a tradição filosófica ocidental, que via na alma o objeto de 
estudo para a Psicologia; com a nascente Psicologia Científica, que tinha como 
objeto de estudo a consciência ou a mente; e com a Psicanálise de S. Freud, 
que elege o inconsciente como seu objeto de estudo. 
 
A Psicologia Comportamental deveria basear-se unicamente na noção 
de condicionamento reflexo desenvolvido por I. Pavlov para tentar explicar o 
homem e lidar com suas mais diversas formas de expressões emotivas. Seu 
modelo explicativo seria a expressão S-R (do inglês stimulus, estímulo e 
response, resposta), ou seja, estímulo-resposta. A cada estímulo ambiental 
(externo ao indivíduo) corresponderia uma resposta (ação ou comportamento) 
específica. Para Watson, nossas emoções seriam aprendidas durante a vida 
através do condicionamento reflexo e, portanto, poderiam ser desaprendidas 
através da operação reversa do condicionamento, que consistiria em 
apresentar o estímulo condicionado sem o estímulo incondicionado até quebrar 
o emparelhamento. Trocando em miúdos, pegando o exemplo da secção 
anterior, apresentar seguidas vezes o jaleco para os cães sem associá-lo à 
carne até chegar um momento em que a simples visão do jaleco não eliciasse 
mais a resposta de salivação nos cachorros. 
 
Ainda segundo Watson, a Psicologia teria uma base experimental, 
pois se fundamentaria na noção de ciência pregada pelo Positivismo de 
Auguste Comte – o Positivismo é uma Filosofia da Ciência proposta pelo 
francês Auguste Comte (1798-1857) que teve grande aceitação entre os 
cientistas do século XIX e início do século XX, – e faria estudos em laboratórios 
com animais infra-humanos, notadamente ratos. 
 
Ao Behaviorismo de Watson não interessariam termos ou estruturas 
como inconsciente, consciência, mente, alma, espírito ou metodologias 
largamente utilizadas então como a introspecção, pois nunca se teria certeza 
que aquilo que foi experienciado por um sujeito é o mesmo fenômeno que outro 
sujeito experiencia, já que nunca temos acesso direto à mente dos indivíduos, 
apenas ao relato verbal do que ocorre no mundo interno de cada um. Por isso 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Comte
 
55 
 
a ênfase no comportamento observável como objeto de estudo, visto que mais 
de uma pessoa pode presenciar o fenômeno quando este ocorre. Para Watson, 
não é que a mente não exista, mas se a Psicologia, naquele período histórico – 
início do século XX – não dispunha de instrumentos nem metodologias 
capazes de estudar a mente, portanto, que estudasse fenômenos observáveis. 
Depois, talvez, com o desenvolvimento da área, fosse possível o estudo da 
mente. 
 
Com a proposição do comportamento como objeto de estudo Watson dá 
à Psicologia a consistência, em termos de objeto de estudo, que estava lhe 
faltando desde W. Wundt, pois trabalhava com objetos subjetivos (repare no 
paradoxo “objetos subjetivos"). Neste interim, ponto para Watson! Entretanto, o 
autor traz em seu Behaviorismo uma noção um tanto quanto mecânica e 
positivista de homem. Exatamente por este homem reducionista, tido como o 
“homem da contração muscular”, ou sua teoria sendo lida como “Psicologia do 
estímulo-reflexo” que Watson foi alvo de severas críticas, por estar tratando um 
objeto da complexidade do fenômeno humano através de noções simplistas e 
pouco pujantes, bem como desconhecendo o imenso e plural repertório de 
potencialidades humanas, relegado a um estudo mecanicista do homem. 
 
O Behaviorismo Radical de B. F. Skinner 
 
 Foi preciso outro autor que tivesse afinidade teórica com os estudos do 
condicionamento reflexo de Ivan Pavlov e J. B. Watson para dar uma 
repaginada na Psicologia Comportamental. Este homem foi B. F. Skinner 
(1904-1990). Depois de Skinner, a área de estudos sobre o comportamento 
humano nunca mais foi a mesma. Skinner propõe um Behaviorismo Radical, 
e é importante que nos atenhamos ao título de sua proposta. Se por um lado 
Skinner admite a produção de conhecimento acumulada até então (referimo-
nos à década de 1930) quando conserva o termo Behaviorismo, por outro lado 
faz uma demarcação epistemológica de que sua teoria não é uma mera 
continuação da proposta de Pavlov-Watson acerca do condicionamento reflexo 
quando adiciona o termo radical ao seu behaviorismo. É radical justamente 
 
56 
 
porque rompe, sobretudo, com boa parte dos estudos do Behaviorismo de 
Watson e, por que não dizer, da tradição de pensamento ocidental acerca do 
comportamento humano. 
 
Temos, em B. F. Skinner, uma das mais originais e vanguardistas 
abordagens sobre o homem na história da produção do conhecimento: a 
Análise do Comportamento. Skinner adere a uma visão de homem monista e 
rejeita toda e qualquer possibilidade de explicar o homem a partir de eventos 
não físicos e não naturais. Não é propósito desse texto enveredar por esta 
discussão, mas é importante que se diga que não é possível se referir ao 
Behaviorismo sem se identificar a qual Behaviorismo se está fazendo 
referência (há uma diversidade de sistemas behavioristas e, a despeito de 
muitos caírem neste deslize, não se pode dizer que há uma linearidade 
epistemológica de Watson a Skinner). 
 
A abordagem Behaviorista Radical do Comportamento foi criada por B. 
F. Skinner a partir de 1938 (com o texto “O Comportamento dos Organismos”), 
esta proposta aponta uma nova forma de estudar os comportamentos 
humanos. Segundo tal abordagem, que foi criada não como uma abordagem 
psicológica, mas como uma Filosofia

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