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1 2 3 Prof. João Silveira Muniz Neto PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO 1ª Edição Sobral/2017 4 5 SUMÁRIO Palavra do Professor autor Sobre o autor Trocando ideias com os autores UNIDADE I – CIÊNCIA E MODOS DE CONHECIMENTO Psicologia e cotidiano: o que temos em comum? O Cotidiano como ferramenta fundamental para o pensamento científico Modos de Conhecimento UNIDADE II – CONSTITUIÇÃO DO SABER PSICOLÓGICO História do saber psicológico com pretensão a saber científico A Diversidade das Teorias Psicológicas e seus Objetos de Estudo A Psicologia na Idade Antiga A Psicologia na Idade Média A Psicologia na Modernidade Wilhelm Wundt e a proposta de uma Psicologia Científica UNIDADE III – AS PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA DO SÉCULO XX A Psicanálise Sigmund Freud e a Pré-Psicanálise A Gestação da Psicanálise A Segunda Tópica Freudiana e Contribuições Sociais da Psicanálise O Behaviorismo Ivan Pavlov e o estudo do Condicionamento Reflexo John Broadus Watson e o Manifesto Behaviorista O Behaviorismo Radical de B. F. Skinner As Psicologias Humanistas Contexto Histórico de Emergência das Psicologias Humanistas A Psicologia de Gestalt Principais Psicoterapias Humanistas 6 UNIDADE IV – PSICOLOGIA NA AMÉRICA LATINA: A PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA Psicologia Social História da Psicologia Social Psicologia Social Crítica A Psicologia Social e a América Latina UNIDADE V – PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Mídias e Produção de Subjetividade Leitura Obrigatória Bibliografia 7 Palavra do Professor autor Olá, caríssimo aluno! Você está prestes a adentrar em um maravilhoso mundo, o mundo da Psicologia! Você vai perceber, de início, que a Psicologia é uma ciência plural e múltipla sendo mais correto, inclusive, falar Psicologias, assim no plural mesmo, dado a pluralidade de campos teóricos, metodológicos e de atuação profissional da área da Psicologia. Conheceremos neste material um pouco sobre ciência, sua importância e seus métodos de produção do conhecimento. Entretanto, conheceremos e aprenderemos a valorar outros tipos de conhecimento, tais como o senso comum, o artístico, o filosófico, o religioso, etc. Você verá neste material que a Psicologia tem um longo passado, mas uma curta história. Conhecerá, então, as principais abordagens em psicologia aceitas atualmente no Brasil: a Psicanálise, o Behaviorismo, as Psicologias Humanistas e a Psicologia Social. No fim, discutiremos um pouco sobre mídia e produção de subjetividades e poderemos perceber o quanto os dispositivos midiáticos influenciam aquilo que somos, aquilo que desejamos. Ficou curioso? Seja bem-vindo a este admirável mundo novo: o campo de saber das Psicologias!!! Bons estudos! 8 Sobre o autor João Silveira Muniz Neto é psicólogo (2011) e Mestre (2014) em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), atualmente é Coordenador da Graduação em Psicologia das Faculdades INTA, em Sobral-CE. Tem experiência na área de Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia clínica, psicologia escolar/ educacional e políticas públicas de socioassistência e de saúde pública. Tem interesse teórico, no âmbito da Psicologia, pela epistemologia do Behaviorismo Radical; pela formação do psicólogo no Brasil; e, no âmbito da Ciência Política, pelos estudos foucaultianos, sobretudo, os referentes ao tema da governamentalidade. Iniciou a faculdade de Letras/ Português, mas não chegou a concluir o Curso, embora a Literatura seja uma paixão para toda a vida. 9 Trocando ideias com os autores Agora é o momento de você trocar ideias com os autores. Propomos a leitura da obra Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. Numa linguagem coloquial, clara e direta, a obra aborda as várias áreas de conhecimento da Psicologia, desde a sua história e caracterização até os temas da atualidade, com o rigor técnico necessário e sempre sob a ótica da Psicologia. Sua estrutura permite ao professor escolher a ordem dos conteúdos de acordo com o interesse da classe e o enfoque da sua programação. BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 10 Sugerimos também a obra História da Psicologia: rumos e percursos. Os autores contemplam toda a psicologia contemporânea e, em alguns capítulos, seus antecedentes modernos, que se faz presente a partir de muitos pontos de vista. Aqui o leitor encontrará capítulos versando sobre os mais diferentes temas e segundo os mais diferentes ângulos de abordagem com as mais diferentes metodologias de interpretação. Este livro terá, certamente, um lugar de destaque nos cursos de psicologia e poderá funcionar, dada inclusive a vastidão da bibliografia citada, como uma fonte inesgotável de novos estudos e aprofundamentos. JACÓ-VILELA, Ana Maria; FERREIRA, Arthur Arruda Leal; PORTUGAL, Francisco Teixeira. História da psicologia: rumos e percursos. 3. ed. Rio de Janeiro: Nau, 2014. 11 CIÊNCIA E MODOS DE CONHECIMENTO 1 Conhecimentos Compreender o que temos em comum entre Psicologia e o cotidiano, bem como, os modos de conhecimento. Habilidades Identificar o conhecimento científico e o senso comum. Atitudes Buscar compreender o domínio teórico-metodológico da Psicologia como um saber amplo e diversificado, em constante inovação e reformulação. 12 13 Psicologia e cotidiano: o que temos em comum? No nosso cotidiano de vida é relativamente frequente ouvirmos alguém falando ou mesmo falarmos o termo “psicologia”. Todos e qualquer um entendemos um pouco sobre psicologia, mesmo que não percebamos. Vamos ver exemplos disso? Alguma vez em suas atividades diárias você ouviu, falou ou leu que um tal vendedor usou de “psicologia” para vender mais um determinado produto. Ou, por outro lado, quando ouvimos, falamos ou lemos que dada pessoa usa de psicologia para seduzir alguém como parceiro amoroso (seja alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, enfim, a sedução não pode transportar em si preconceitos). Ou ainda, frente a questões relativas a luto (morte na família, principalmente), término de relacionamentos afetivos ou episódios depressivos, quantas vezes lemos, ouvimos ou mesmo dizemos que fulano precisa de alguém com psicologia para escutá-lo? Mas, vamos pensar um pouco... seria essa a Psicologia dos psicólogos? Seguramente não. Entretanto não pode deixar de ser considerada uma Psicologia e, muito menos, de ter sua grande importância. Esse saber utilizado largamente no dia-a-dia das pessoas pode ser chamado de Psicologia do Senso Comum. Deixando bem claro, o que estamos relatando é que, de algum modo e mesmo que isso escape à nossa percepção, há um certo domínio do saber acumulado pela Psicologia Científica que está pulverizado na rotina das pessoas. Essa pulverização deste saber acumulado pela Psicologia Científica torna muito provável que utilizemos termos como “trauma psicológico”, “depressão”, “ansiedade”, “recalque”, etc. em nossas rotinas de vida. E, muito mais que o simples uso dos termos acima citados, que consigamos dar inteligibilidade às ações cotidianas através de um ponto de vista psicológico.14 No entanto, o que apresentaremos a você neste material é a Psicologia Científica, aquela proposta pelos psicólogos mundo afora através de suas pesquisas – universitárias ou não –, de suas teorias, ensaios, livros, artigos e que são professadas pelos profissionais de Psicologia em todo o globo. O Cotidiano como ferramenta fundamental para o pensamento científico Estamos vivos e, por isso mesmo, vivenciando o mundo ao nosso redor. Nada há mais frequente que isso: estamos no mundo e vivenciamo-lo. Seja agora, quando lemos este material de Psicologia da Comunicação; seja quando lembramos uma parte de uma música que gostamos; seja quando recitamos versos que nos afetam; seja quando recebemos presentes; seja quando percebemos que fomos injustos com alguém; enfim. Estamos vivos e isso é tudo quanto basta. Estamos vivos e isso é tudo. Apenas vivemos. Será isso mesmo? Para se pensar um saber que pretende ter a validade de científico, temos de seguir determinados métodos. O pensamento científico é justamente a reflexão sobre o mundo e o que vivemos nele. Não apenas viver, mas um viver refletido. A tarefa a qual se propõe o cientista é justamente inclinar-se sobre o mundo e refletir acerca do universo que o rodeia. Pensamento, reflexão, ponderação, prudência nas análises, tudo isso está na gênese de todo e qualquer empreendimento científico. Mesmo a ciência mais elementar e mais objetiva de todas – a matemática – nunca teria chegado a ser um conhecimento científico caso os matemáticos não tivessem se submetido ao prazeroso papel de pensar, refletir e analisar sobre o universo dos números a partir de um método previamente estabelecido. As ciências, de um modo geral, são isso: reflexão sobre o mundo. A ciência parte da realidade cotidiana para pensar sobre ela, analisá-la e daí extrair e produzir suas sentenças. 15 Pense nas formas de ciência que você conhece e concorde ou discorde do que acabou de ser dito. Pois é justamente essa a maior tarefa do cientista: estar constantemente pensando sobre aquilo que está fazendo, lendo, sentindo ou vivenciando. Podemos resumir, portanto, assim o espírito científico em curso: análise e reflexão permanente do mundo que o cerca e, inclusive, de si mesmo (no caso do cientista refletir sobre si). O cientista, em seu fazer, afasta-se da realidade para melhor refletir sobre, para conhecê-la além daquilo que ela se mostra primordialmente, das suas aparências preliminares. A isso nomeamos de abstração. O cientista, desta forma, abstrai a realidade ao seu redor, tornando-a objeto de conhecimento. O fato é que os cientistas legislam sobre o cotidiano, apesar de fazerem um necessário afastamento dele quando estão produzindo conhecimento dito científico. Porém, o cotidiano também absorve e abocanha espaços e saberes da ciência. Vamos ver como? Não é necessário, por exemplo, que um cozinheiro faça grandes cálculos químicos para compreender a quebra de moléculas químicas para saber quanto tempo precisa deixar o arroz em fogo baixo para cozinhá-lo. Também nunca vemos uma pessoa em uma cozinha realizando cálculos termodinâmicos para saber por quanto tempo o café se manterá numa temperatura razoavelmente interessante dentro da garrafa térmica. Nem é algo comum ver alguém fazendo estudos laboratoriais quando receita um chá de boldo para dor de barriga. Quando atravessamos uma avenida a pé também não gastamos tempo com cálculos de mecânica física para saber a velocidade média que temos de imprimir para que o carro não nos alcance. E poderíamos citar inúmeros outros exemplos. Você consegue pensar em exemplos semelhantes aos apresentados? Esse conhecimento acumulado em nosso dia a dia chamamo-lo de senso comum. É um conhecimento espontâneo e intuitivo – diferente do conhecimento científico que é eminentemente reflexivo e metódico – que nos 16 auxilia bastante a realizar nossas atividades diárias. Imagine se não possuíssemos este conhecimento do senso comum: o que se tornaria mais dificultoso em nossas vidas? O senso comum, pensado como um conhecimento extremamente prático e útil ao homem começa por hábitos particulares (releia os exemplos do parágrafo há pouco explanado) e passa a figurar como tradição, como elemento constituinte da cultura. Assim, o avô explica para o neto que chá de cidreira serve para os nervos (se fosse em linhagem científica utilizaria outros termos); o professor passa para os estudantes informações básicas de matemática financeira; a mídia transmite as consequências de uma vida sedentária e as vantagens de uma alimentação saudável para o organismo humano. E outros tantos exemplos. De sorte que fica muito impreciso apontar a fronteira entre o conhecimento do senso comum e o conhecimento da ciência, já que ambos fazem parte da cultura. Importa dizer que ambos dialogam e se misturam, formando uma miscelânea indissociável. Não podemos passar para o próximo tópico sem uma reflexão importante. Além de considerarmos a ciência como apenas mais um tipo de conhecimento dentre os tantos existentes, cabe a nós refletirmos um pouco sobre a arrogância do saber científico. Um grande pensador francês chamado Michel Foucault (1926-1984), pergunta em uma de suas aulas famosas no Collège de France, onde lecionava: “quais tipos de saberes vocês querem desqualificar no momento em que vocês dizem ser esse saber uma ciência? Qual sujeito falante [...] vocês querem minimizar quando dizem: eu, que faço esse discurso, faço um discurso científico e sou cientista‘?” (FOUCAULT, 2010, p. 11). Daí a reflexão: há alguma arrogância no pensamento científico quando tenta minimizar, por exemplo, a sabedoria popular em relação às ervas medicinais? Se as pesquisas científicas não conseguissem “demonstrar” a eficácia de tais ervas elas continuariam ou não a ter eficácia? É mesmo preciso que a ciência referende o conhecimento do senso comum para que ele seja útil ou verdadeiro? 17 A ciência neste preciso momento em que vivemos no século XXI, consegue representar o conhecimento certo, verdadeiro. No entanto, se voltássemos no tempo poucos séculos chegaríamos a um período em que o conhecimento certo e válido era o conhecimento religioso, em especial aquele produzido pelo cristianismo e pela Igreja Católica. E se voltássemos um tanto mais na história chegaríamos a épocas em que o conhecimento mitológico era o certo, e assim por diante. Importa registrar: cada época, cada espaço temporal específico permite que determinado tipo de conhecimento seja considerado o mais certo, o mais verdadeiro, o mais válido. Portanto, cabe a nós nos perguntarmos: quanto que há de cultural, quanto que há de social, quanto que há de não-natural no conhecimento científico ser o discurso correto e válido da contemporaneidade? Não é algo natural que a ciência dite as verdades do mundo, apesar de, muitas vezes, nem nos darmos conta dessa naturalização que nós mesmos acabamos por ajudar a acontecer. E, para finalizar nossa reflexão, é necessário que explanemos um pouco sobre o financiamento das pesquisas científicas e da influência do poder financeiro acerca destas. Pergunte-se: quem paga para que os cientistas passem os dias em laboratórios de renomadas Universidades e/ ou de renomados Institutos de Pesquisa por anos, décadas a fio? Os cientistas, apesar de muitas vezes consideramo-los homens especiais e distantes do nosso cotidiano, são tão humanos quanto nós. Todos precisam de dinheiro para quitar contas de aluguel, supermercado, telefone. Grande parte tem família à qual são provedores etc. Além disso, pesquisas envolvem dinheiro, pois utiliza-se material, muitas vezes há o deslocamento do pesquisador para outros lugares (às vezes acompanhado de uma equipe), etc. Pergunte-se, pois: quem financia os grandes empreendimentos depesquisa e os grandes pesquisadores mundo afora? A resposta é um pouco complexa, mas pode ser resumida a poucas palavras: os financiadores de pesquisa são aqueles que lucrarão com os resultados advindos das pesquisas. Um exemplo bem emblemático é o da cura 18 da AIDS e da cura da Doença de Chagas. Por ano são investidos mundialmente bilhões e bilhões de dólares em pesquisas para a cura da AIDS e que, felizmente, têm mostrado resultados promissores ano a ano. Mas e a Doença de Chagas, você já ouviu falar de pesquisas acerca da cura para a Doença de Chagas? Certamente existe claro. Mas em proporção bem menor do que para a AIDS. Mas, reflitamos: por que esse quadro, se a AIDS é algo relativamente novo na história da humanidade (data dos anos 1980) e a doença de chagas é bem mais antiga (final do século XIX)? Talvez a resposta esteja justamente na população que cada patologia atinge. O vírus da AIDS lamentavelmente atinge a todos e a qualquer um, não escolhendo raça ou classe social ou etnia. Por outro lado, a Doença de Chagas é exclusiva de determinada classe social, a saber, as menos favorecidas, visto que o inseto transmissor da doença é o barbeiro, que habita casas de barro. E sabemos perfeitamente quem reside em moradias desse tipo: as classes sociais mais pobres. Qual o impacto financeiro para a indústria farmacêutica mundial descobrir a cura da AIDS e a cura da Doença de Chagas? Para a primeira não faltariam compradores de coquetéis e medicamentos no mundo todo, ao passo que para a segunda também não faltariam, no entanto, as classes sociais mais pobres acometidas pela Doença de Chagas não teria como pagá-los. É duro e cruel, caro estudante, e por isso mesmo é necessário que se discuta e se reflita sobre a ciência. O empreendimento científico nos ajudou e nos ajuda e certamente continuará nos ajudando por muito tempo ainda com suas técnicas e tecnologias para o bem-estar e conforto da humanidade como um todo. Todavia, é imprescindível que pensemos sobre os efeitos e práticas dos discursos ditos científicos, das formas de financiamento e, sobretudo, a quem interessa a forma como tem acontecido o avanço do conhecimento científico. A ciência faz parte do mundo e atualmente vivemos em um mundo capitalista e capitalizado, portanto, seria muito estranho, e talvez até ingênuo, 19 achar que a Ciência não se exerce sob a influência do sistema econômico hegemônico. Modos de Conhecimento Até aqui falamos sobre duas formas de conhecimento distintas: o conhecimento científico e o senso comum. Mas seriam estes os únicos modos de conhecimento ou haveria outros tipos? Se fizermos a linha histórica da produção de conhecimento no Ocidente observaremos que a Ciência é um empreendimento de data relativamente recente. Nasce no século XVI as primeiras luzes daquilo que concebemos hoje como Ciência. Na Grécia Antiga, por exemplo, há um tipo de interpretação da realidade baseado em figuras fantásticas, criaturas imortais e semimortais, que chamamos de mitologia. É bem verdade que todas as sociedades possuem sua própria mitologia e aqui nos referimos à sociedade grega antiga unicamente por ser a mais emblemática sociedade do mundo ocidental antigo, mas é fundamental pensarmos que povos como os incas, os tremembés, os maias, os guaranis, etc., evidentemente, também possuíam suas formas de interpretar e dar inteligibilidade à realidade através dos mitos. E foi a preocupação e a insistente especulação sobre as origens humanas que permitiram, na Grécia Antiga de modo especial, surgir um saber que é reflexivo por excelência: a filosofia. Um outro tipo de conhecimento que pode ser apontado é o religioso, que busca uma atitude explicativa da condição humana através da crença em determinados dogmas e entidades metafísicas. Outra forma de conhecimento diz da expressividade – seja ela corporal, escrita, através de instrumentos musicais ou de pintura – humana através da arte, é o conhecimento artístico. Talvez uma das formas de conhecimento mais celebradas e mais cultivadas, a arte tem a estranha magia de ser atemporal. 20 De forma panorâmica, podemos, então, elencar ao menos cinco formas de saber que o homem produziu e continua produzindo: conhecimento do senso comum, conhecimento científico, conhecimento mitológico, conhecimento religioso e conhecimento artístico. A função primordial desta unidade de estudo foi mostrar a você, caro estudante, que a Ciência é apenas mais um dentre as formas de saber possíveis. Claro que atualmente o conhecimento científico permite à humanidade expandir-se enquanto civilização e tem profundas contribuições ao mundo, mas é importante que fique claro que é uma das formas possíveis de saber, e que todos os outros saberes também contribuem em muito com o homem e têm sua importância inexorável. Na próxima unidade de estudo vamos adentrar naquilo que se convencionou chamar de Psicologia Científica, mas prezamos para que fique sempre tensionada a criticidade em relação aos saberes que pretendem ser Ciência. Para Saber mais: O estudante pode procurar os seguintes livros, caso queira aprofundar um pouco mais seus conhecimentos adquiridos nesta Unidade: O que é Ciência, afinal, de A. F. Chalmers; Psicologia – uma (nova) introdução, de Luís Cláudio Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi; Psicologia – uma trajetória, de Dennis Coon. 21 Você estudante também é convidado a assistir aos seguintes filmes, como forma de aprofundamento do aprendizado: O Nome da Rosa, direção: Jean-Jacques Annaud (França, Itália, Alemanha, 1986); O Ponto de Mutação, direção: Bernt Amadeus Capra (EUA, 1991); Nós que aqui estamos por vós esperamos, direção: Marcelo Masagão, (Brasil, 1999). 22 23 CONSTITUIÇÃO DO SABER PSICOLÓGICO 2 Conhecimentos Compreender a diversidade das Teorias Psicológicas e seu objeto de estudo. Habilidades Identificar como era vista a Psicologia na Idade Antiga, Psicologia na Idade Média e Psicologia na Modernidade. Reconhecer todas as correntes da Psicologia: o funcionalismo, associacionismo e o estruturalismo. Atitudes Desenvolver novas formas de ser e agir, abrindo espaços para novos modos de vida e novas formas de ser no mundo. 24 25 História do saber psicológico com pretensão a saber científico A Psicologia é um saber antigo, que pode ser encontrado nas mais remotas civilizações humanas. Entretanto, como empreendimento científico é algo muito recente, datando do século XIX. O que veremos nesta unidade é a linha histórica dos saberes referentes à Psicologia e às principais abordagens aceitas em Psicologia no Brasil. Antes faremos uma reflexão sobre as pretensões do saber psicológico em se tornar ou se dizer Ciência. A Diversidade das Teorias Psicológicas e Seus Objetos de Estudo Todo empreendimento científico tem seu objeto de estudo. Assim, a Química estuda os elementos químicos, a Matemática os números, a Astronomia os astros. Nestes casos apresentados, o cientista de cada um desses saberes não se confunde com seu objeto de estudo. Por exemplo, o astrônomo, em seu exercício de pesquisador, está a anos-luz de distância dos astros observados e tem acesso a eles através de equipamentos ópticos de alta tecnologia. Da mesma forma um matemático lidando com números não se confunde com estes. Agora pare e pense um pouco: o psicólogo conseguiria fazer pesquisas sem se confundir com seu “objeto” pesquisado? Obviamente não. A Psicologia, como as demais ciências humanas – antropologia, economia, ciências sociais, pedagogia,etc. – são formas de saber que lidam diretamente com o humano, fazendo do homem, sujeito por excelência, o “objeto” alvo do estudo. Reparemos no paradoxo de um sujeito virar objeto de estudo. Desta forma, 26 pesquisador e pesquisado confundem-se, imiscuem-se, se tocam e se influenciam mutuamente. Para que a Psicologia torne-se, efetivamente, uma Ciência há que ultrapassar dois obstáculos fundamentais. O primeiro entrave de uma Psicologia com pretensões ao status de cientificidade é justamente a falta de definição clara de onde termina o pesquisador e começa o pesquisado, em outros termos, onde está o limite entre o sujeito (que pesquisa) e o objeto (que é pesquisado). Pois se um cientista (um homem) debruça-se sobre um fenômeno (outro homem ou outros homens) semelhante a si, que garantias de objetividade e universalidade – características fundamentais do discurso científico – poderemos ter? Assim, à pergunta “qual o objeto da psicologia” poderiam ser dadas inúmeras respostas, a depender do sujeito respondente. Caso seja um psicólogo comportamental, dirá que é o comportamento humano; caso seja um psicanalista, o inconsciente; alguns apontarão a consciência como objeto de estudo da psicologia, outros as relações humanas, etc. Existem autores que inclusive defendem que o termo mais correto para referir-se a este campo de saber que ora estudamos neste material deveria ser, em vez de Psicologia, Psicologias, assim no plural mesmo, para demarcar a infinidade de propostas teóricas e metodológicas balizadas pelo campo. Esta diversidade de objetos de estudo deve-se ao caráter extremamente recente da Psicologia como uma proposta científica. A Psicologia como ciência ainda não tem um século e meio de existência (abordaremos isso com mais detalhes logo mais). É neste multifacetado campo de saber e neste diversificado objeto de estudo onde a Psicologia apresenta seu segundo grande empecilho para se configurar como um discurso reconhecido como científico. 27 Qual o objeto da Psicologia, afinal? Poderiam perguntar os mais exaltados, os mais curiosos. De um modo bastante geral, para que não deixemos a resposta em branco, podemos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é a subjetividade humana. Mas o que seria a subjetividade? É aquilo que você diz ser, aquilo que digo que sou, meus gostos, meus lutos, meus medos, meus sonhos, meus desejos, enfim, eu. Conhecemos pessoas que amam chocolate e outras que desdenham dele; pessoas que gostam de uma boa briga e outras que fogem de uma, outras ainda que até gostam de uma briguinha de vez em quando; pessoas que tem um time de futebol que amam, outras que só assistem futebol na Copa do Mundo, outros tantos que nem na Copa dedicam-se a este esporte. Pessoas que gostam de comentar sobre política representativa, outras que gostam de honestidade, outras tantas que odeiam quando aparecem propagandas políticas em suas redes sociais. Enfim, subjetividade é aquilo que nos diferencia dos outros, aquilo que somente a mim pertence, aquilo que é próprio a cada sujeito (daí o temor subjetividade, do latim subjectivus, relativo ao sujeito). Você conseguiria indicar exemplos de características da sua própria subjetividade? Entretanto, seria ingênuo achar que a subjetividade é apenas a expressão de algo interno, como se fosse a essência do indivíduo. Muito importante lembrar que nós seres humanos somos produtos e produtores da história, do meio social, da cultura. Aquilo que dizemos ser, por paradoxal que seja, é externo, aprendido com a cultura. Mesmo aquilo que é mais íntimo meu, meus segredos que não conto a ninguém, são atravessados pela cultura, pelos conglomerados midiáticos, religiosos, comerciais, etc. Para termos uma ideia mais palpável, analise: quais os seus sonhos atuais não são atravessados pelo capitalismo? Passaremos agora a fazer uma volta histórica, partindo da Grécia Antiga, para estabelecermos as principais formas de produção de conhecimento em Psicologia no Ocidente. Teremos assim, maiores condições de compreender quando desembocarmos, a partir das próximas unidades, na 28 expressiva figura de Wilhelm Wundt (final do século XIX) e sua proposta de uma Psicologia Científica e adentrarmos em quatro das principais abordagens em Psicologia aceitas no Brasil na contemporaneidade: a Psicanálise, a Psicologia Comportamental, as Psicologias Humanistas e a Psicologia Social. A Psicologia na Idade Antiga As produções humanas – desde as mais simples como uma xícara até as mais complexas como tecnologia espacial ou uma teoria científica – tem como pano de fundo as contingências sociais e históricas que tornaram possível que elas próprias existissem. Assim, pode-se dizer que as técnicas agrícolas eram fundamentais para sociedades humanas que viviam da agricultura de subsistência, assim como as tecnologias espaciais acabaram se tornando importantes para um mundo geopoliticamente dividido pela Guerra Fria entre Estados Unidos da América (EUA) e União Soviética (URSS) na segunda metade do século XX. Por isso é muito importante recorrermos à História quando queremos nos aproximar de determinado assunto ou forma de conhecimento. Nenhum saber, nenhuma técnica, nenhum avanço científico está fora do seu tempo histórico. Desta forma, fazemos nosso pouso na Grécia Antiga perguntando-nos: é correto afirmar que havia Psicologia neste período? Antes do mais, é fundamental que se registre: Psicologia é uma palavra de origem grega, derivada dos termos psiquê, que significa alma; e logos, que é uma palavra plurissignificante podendo ser traduzida como estudo, conhecimento, razão, etc. Assim, esquematicamente teríamos: psiquê + logos = Psicologia. Portanto, podemos dizer que Psicologia significa, em sentido etimológico, estudo da alma. Os gregos foram o povo mais evoluído da Antiguidade europeia. Não à toa, o estudamos desde os primórdios de nossa educação, dada a enorme influência que o mundo europeu exerce sobre o nosso continente americano. 29 Com o desenvolvimento bélico grego, havia muitos escravos – oriundos dos povos conquistados – a exercerem atividades braçais diárias, deixando alguns homens, então chamados de cidadãos, com tempo ocioso. Por conta deste tempo livre sustentado pela escravidão de determinados povos, muitos homens gregos puderam dedicar-se – em vez de todo dia trabalhar para o próprio sustento – a especular sobre a origem e o sentido da vida humana. Como já vimos na unidade de estudo I, este é o início da filosofia grega. E a filosofia grega, por ser a atividade que se preocupa em pensar e estudar sobre o homem, pode ser entendida como um das primeiras tentativas de produção de conhecimento acerca do humano que temos registro no Ocidente. Por isso mesmo estudamos alguns filósofos gregos nas aulas introdutórias de Psicologia, pois foram os vanguardistas em questionar e teorizar sobre o que; e quem somos. É importante que fique claro: a atividade especulativa de alguns homens só foi possível graças à escravidão de outros tantos. Apesar desta página triste do mundo político e cultural grego, os filósofos paridos na Grécia Antiga até hoje – quase 3000 anos depois! – exercem enorme influência sobre o pensamento ocidental. Podemos destacar três grandes filósofos da Grécia Antiga. O primeiro deles é Sócrates (469-399 a.C.), figura controversa que, segundo alguns, não chegou a existir, sendo apenas um personagem inventado por Platão – estudaremos sobre ele no parágrafo abaixo – em seus textos. Sócrates não deixou escrito nada de seu, temos acesso a ele através de seu discípulo Platão. Sócrates é considerado o Pai da Filosofia e, dentre suas principais contribuições acerca do Homem, postulava: o que nos separa do restante dos animais é a razão, a capacidade deraciocinar que, segundo ele, seria exclusiva da espécie humana. Em oposição à razão, Sócrates aponta o instinto, que estaria presente em todos os animais, mas que, em nosso caso, poderia ser domado pela razão. Outro filósofo de renome da Grécia Antiga é Platão (427-347 a.C.), apontado como discípulo de Sócrates. Influenciado por Sócrates, Platão 30 acreditava na razão como algo que nos diferenciava do restante dos animais, estando, porém, muito preocupado em localizá-la no corpo humano. Devemos a este filósofo nossa atual ideia de dizer que a razão está na cabeça (algo bastante atual, não é verdade?), pois seria no crânio onde residiria nossa alma. Seria a medula espinhal, para Platão, a estrutura anatômica que faria a ligação entre nosso corpo e nossa alma. Um terceiro filósofo de grande destaque da Grécia Antiga é Aristóteles (384-322 a.C.). Este, sendo discípulo de Platão, de tão genial, conseguiu superar seu próprio mestre em matéria de produção de conhecimento. Para Aristóteles, alma e corpo são indissociáveis, ou seja, inseparáveis. E mais que isso, todos os seres vivos – e não apenas o homem – detém em sim uma alma. Nos vegetais podemos encontrar uma alma vegetativa; nos animais irracionais, uma alma vegetativa e uma alma sensitiva; nos animais racionais, ou seja, no homem, temos, além da alma vegetativa, tanto uma alma sensitiva quanto uma alma racional. A Psicologia na Idade Média Antes de mais nada, uma discussão primordial. Quando ouvimos falar em Idade Média, o que nos vem à cabeça? Castelos, cavaleiros e famosas Ordens de Cavalaria, grandes feudos, servidão voluntária de uns, opressão deliberativa de outros, longa noite de mil anos? Importante perguntar-se: houve de fato um mundo medieval, ou idade medieval foi algo circunscrito a apenas um continente dos cinco existentes? Poderíamos, sem incorrer em erro, dizer que houve uma Idade Média nesse espaço geográfico hoje chamado Brasil? Aliás, é até curioso: o que estaria acontecendo aqui em nossa América quando a Europa conhecia seu período medieval? Pois bem, às vezes utilizamos a expressão “mundo medieval” sem atentarmos àquilo que ela realmente diz. No entanto, continuaremos utilizando a expressão aqui por uma questão de economia conceitual. Feita a consideração, prossigamos. 31 Naquilo que se convencionou chamar de Idade Média, o conhecimento acerca do homem admite severa decadência, sobretudo, se for comparado ao conhecimento produzido na Grécia Antiga. Temos dois grandes expoentes da produção de conhecimento sobre o homem: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, ambos os escudeiros da Igreja Católica. Esta, inclusive, teve papel central naquilo que se produzia em matéria de ciência sobre o homem. Toda a produção sobre o “estudo da alma” esteve reduzido à exclusividade da Igreja Católica, visto que foi a única instituição que se dedicou à produção de saberes no Ocidente depois da queda do Império Romano. Por este motivo, Psicologia e Filosofia continuaram sendo uma e somente uma forma de saber, sem limites específicos entre ambos os campos de conhecimento. Santo Agostinho (354-430), teólogo e bispo da Igreja Católica, utilizou boa parte do pensamento do filósofo grego Platão e o forçou a dialogar com a doutrina cristã. Na verdade, o que fez Santo Agostinho foi “traduzir” – a bel prazer daquilo que acreditava – a filosofia aristotélica para aquilo que interessava à Igreja. Agostinho concordava com a cisão entre mente e corpo proposta por Platão, no entanto, a alma não seria apenas o lugar onde se localizava a razão, mas uma prova da manifestação de Deus no homem. E, desta forma, a alma passa a ser um ponto de interesse de compreensão para a Igreja. Algo muito parecido com a “tradução” de Agostinho, fez São Tomás de Aquino (1225-1274), frade dominicano nascido na Itália. Entretanto, Aquino utiliza de outro filósofo grego, no caso Aristóteles, para fazê-lo dialogar com a doutrina de Cristo, mesmo que o filósofo não estivesse se referindo à religião quando escrevia seus tratados. É preciso sublinhar que Tomás de Aquino viveu em um momento no qual havia uma grande crise na Igreja Católica, sendo esta contestada em muitos de seus fundamentos. A Reforma Protestante, inclusive, foi um movimento que evidencia esta crise. O contexto histórico de Aquino é importante para compreender sua leitura acerca da obra de Aristóteles, pois é nítida sua tentativa de produzir novas justificativas para a relação entre o 32 homem e Deus devido às contestações sofridas pela Igreja. Desta forma, o teólogo repaginou a noção aristotélica de essência e existência. Para o filósofo grego, o homem, em sua essência, procura a perfeição através da existência. São Tomás de Aquino, baseado neste raciocínio, faz o seguinte deslocamento: apenas Deus conseguiria reunir, a um só tempo, essência e existência, em termos de igualdade. Desta forma, buscar a perfeição seria exatamente buscar a Deus. A Psicologia na Modernidade Tradicionalmente a Modernidade é o período que sucede a Idade Média na Europa, iniciando-se por volta do século XV, quando o continente europeu passa por uma série de transformações sociais, econômicas, culturais e históricas. Fazem parte desse período as Grandes Navegações e a chegada dos europeus no nosso continente americano; as primeiras manifestações e descobertas da Ciência Moderna, como as leis da Física e da Química ou a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico; a modificação do sistema de produção feudal para o modo de produção capitalista; ascensão do modo de vida burguês através do acúmulo de capital; transformação dos burgos (cidades) em local de intensa interação comercial e pessoal, passando a configurarem-se como os centros de maiores concentrações de pessoas no continente europeu, etc. Somadas às transformações acima, há se falar do processo de valorização do ser humano que passa a acontecer. Se tínhamos um teocentrismo (teo, Deus + centro, deus no centro) na Europa Medieval, na Modernidade passamos a perceber um antropocentrismo (antrophos, homem + centro, homem no centro). Em pouco menos de um século vemos expressões nos mais variados campos artísticos que evidenciam essa nova possibilidade de ver o homem, agora como ente central. Como exemplos, podemos citar: o quadro Anunciação (1484), de Leonardo da Vinci; a escultura Nascimento de Vênus (1501), de Michelangelo; o livro O Príncipe (1513), de Nicolau Maquiavel. Que tal procurar na internet estas imagens e livros? 33 Na filosofia temos, no século XVII, a expressiva figura do francês René Descartes (1596-1650), que inaugura o dualismo mente x corpo (algo que parece ser tão óbvio, sim, um dia foi inventado), apontando que o homem possuiria uma substância material e uma substância pensante, sendo o corpo apenas uma máquina mecânica. Essa possibilidade de um corpo humano tido como máquina permite, de agora em diante, os estudos anatômicos sobre os corpos mortos, pois até então os cadáveres eram invioláveis, dado serem concebidos como objetos sagrados pela Igreja Católica. "Temos uma sociedade que passa do caráter estático para um caráter extático. Na Europa feudal inexistia a possibilidade de mobilidade social, pois era voltada a um modo de produção de subsistência, ou seja, de produzir apenas o que fosse necessário para a sobrevivência – caráter estático, pois fechada e hermética". No entanto, na Europa Moderna, temos um modo de produção mais dinâmico, no qual se gera excedente, ou seja, nem toda a produção da comunidade se presta a ser consumida por seus integrantes, gerando, portanto, excedentes. E os excedentes de uma dada comunidade são trocados com os de outra comunidade, gerando um sistema de trocas, que é a gênese do sistema capitalista. Esta Europa Moderna, atravessada pelo capitalismoemergente, que apesar das inúmeras injustiças que causa, permite a mobilidade social, pois um pobre pode tornar-se rico e vice-versa (no sistema feudal um nobre era sempre um nobre e um servo, sempre um servo) é uma sociedade de caráter extático, pois muito mais dinâmica e aberta. Temos, portanto, uma Europa que se põe em movimento. E quem põe este mundo para mover-se é justamente o capitalismo, pois para tornar-se o sistema econômico hegemônico precisou de mais matérias-primas, contratou mais operários, fabricou mais mercadorias, produziu pessoas que consumissem estas mesmas mercadorias, inventou também outras necessidades (basta pensar que nossos avós viveram tranquilamente por muito tempo sem celular...) para que mais pessoas consumissem gradativamente mais, etc. 34 O homem passa a ser visto como um ente livre, senhor de seu destino, capaz de interferir e construir seu próprio futuro. O homem passa a estar também em movimento. Ana Bock e colaboradores (2008, p. 37) ilustra de forma bastante interessante esta intensa mobilização do mundo moderno: “O conhecimento tornou-se independente da fé. Os dogmas da Igreja foram questionados. O mundo se moveu. A racionalidade do homem apareceu, então, como a grande possibilidade de construção do conhecimento”. Certamente estas profundas transformações implicaram em produzir homens diferentes. Se pensarmos bem, perceberemos que o homem que nasceu na Grécia Antiga, apesar de muitas similitudes com o homem contemporâneo, tem também muitas distinções. Da mesma forma, o homem que nasce na Europa Moderna não é o mesmo que nasce na Europa Medieval. Se o homem não é o mesmo, o conhecimento que se tem sobre ele também não o será. Nesse interim, surgem figuras como Friedrich Hegel (1770-1831), a mostrar a importância da História para a compreensão do homem; Immanuel Kant (1724-1824), a perguntar, pela primeira vez “o que é o homem?” e tenta dar inteligibilidade metódica a esta indagação; Charles Darwin (1809-1882), que sepulta o pensamento antropocêntrico, através de sua teoria da evolução. É apenas na segunda metade de século XIX que os problemas e temas acerca do homem, que até então tinham sido relegados à exclusividade da Filosofia, passam a configurar um espaço próprio de saber, a Psicologia. É através de estudos da Fisiologia e da Neurofisiologia, somados aos já existentes em Filosofia, que vai se pavimentando a estrada pela qual a Psicologia Científica se mobilizará. 35 Wilhelm Wundt e a proposta de uma Psicologia Científica É o alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) quem primeiro tentara sistematizar o conhecimento concernente ao homem acumulado pela tradição filosófica desde a Grécia Antiga junto aos recentes estudos de Fisiologia e Neurofisiologia Humanas, tentando produzir uma Psicologia Científica. Em 1879, inaugura o Laboratório de Psicologia Experimental, na Universidade de Leipzig, no leste da Alemanha. Por este motivo, e também por toda sua produção intelectual no campo psicológico, Wundt é considerado pela comunidade acadêmica e pelos psicólogos em geral, o Pai da “Psicologia Científica” ou “Psicologia Moderna”. Wundt, em seu afã cientificista, desenvolve a teoria do paralelismo psicofísico, doutrina que defendia que, paralelo ao mundo físico (que comporta forças que causam fenômenos físicos) no mundo mental também haveria forças causadoras de fenômenos mentais. Dito de outro modo, como existe leis que comandam o mundo físico, haveria paralelo ao mundo físico, leis que ordenariam o mundo psicológico ou mental. Assim, uma picada de agulha (mundo físico) também causaria efeitos na mente humana (mundo psicológico). Para realizar suas pesquisas, Wundt estabelece um método, ao qual denomina introspeccionismo (do latim intro, para dentro + specere, olhar, olhar para dentro) que consistiria no cientista (experimentador) perguntar ao participante da pesquisa (sujeito experimental) o que acontece quando determinado estímulo lhe acomete. Por exemplo, o pesquisador perguntaria ao sujeito experimental o que acontece em seu mundo mental enquanto está sendo picado por uma agulha. O relato verbal do sujeito experimental era a produção de conhecimento que Wundt buscava desenvolver. Wundt estabelece também que o objeto de estudo da Psicologia não deveria ser a alma – pois esta é muito metafísica e não se presta a estudos científicos – mas a mente. 36 Quanto mais Wundt desenvolvia suas pesquisas, gradativamente temos uma separação da Psicologia em relação à sua matriz, a Filosofia – e também da Neurofisiologia e da Fisiologia – convertendo-se em um saber autônomo. É justamente este desmembramento que vai fazendo com que os psicólogos de então reivindiquem um caráter científico ao nascente campo de saber da Psicologia. E Wundt ia produzindo, a um só tempo, conhecimento em Psicologia e novos psicólogos. Estes novos estudiosos criaram também outros modos de fazer Psicologia. Veremos a seguir. Embora os primeiros estudos de Psicologia Científica tenham surgido na Alemanha, é nos Estados Unidos que terão maior reverberação, pois encontram um país em franco crescimento econômico e que busca fortalecer suas Universidades (lembremos que estamos ao fim do século XIX). Surgem ali o Funcionalismo, o Associacionismo e o Estruturalismo, todas correntes em Psicologia que têm influência de W. Wundt, entretanto, que também trazem em si suas peculiaridades e originalidades. O funcionalismo é proposto por William James (1842-1910) e pode ser considerada a primeira expressão da Psicologia em terras estadunidenses. Uma sociedade que se preparava para ser a grande potência econômica do século XX exigia pragmatismo em todas as suas facetas, o que também se vê refletido na proposta jamesiana. Para o funcionalismo, importa quão funcional é determinada teoria, pois se não resulta em utilidade, a teoria não tem valor de verdade. A ideia de “verdade”, aliás, é lida pelo funcionalismo a partir de um prisma bastante original: a verdade não é absoluta, é verdadeiro aquilo que funciona em determinado período histórico; podemos ter algo verdadeiro no século XIX que não seja verdadeiro no século seguinte; e vice-versa. James elege a consciência como objeto de estudo para sua Psicologia Funcionalista. William James recebe imensa influência de Charles Darwin e a teoria da evolução das espécies, tentando fazer uma leitura da consciência humana a partir da leitura de Darwin. Nesse sentido, consciência é tida como uma estrutura adaptativa, que auxilia a espécie humana a melhor adaptar-se ao ambiente na qual está inserida. Quem primeiramente levou as ideias de Charles Darwin para os EUA foi outro inglês, Herbert Spencer (1820-1903), 37 que nutre profunda influência nos estudos sobre Psicologia em língua inglesa no final do século XIX. O Estruturalismo, proposto por Edward Titchner (1867-1927), assim como o Funcionalismo, elege a consciência como objeto de estudo. Entretanto, ao invés de buscar as funções adaptativas da consciência, está ocupado em desvendar as estruturas que formariam a consciência humana, ou seja, quais seriam as estruturas do sistema nervoso que constituiriam nossa consciência. Assim como Wundt, Titchner adota o introspeccionismo como método de produção de conhecimento. O Associacionismo, doutrina que tem como principal nome Edward Thorndike (1874-1949), propunha, tal qual William James, uma abordagem funcional acerca do comportamento humano. O que haveria de funcional (no sentido de adaptativo) na produção de conhecimento é que interessava a Thorndike. Ele é um dos pioneiros em estudos sobre Psicologia da Aprendizagem, e o nome de sua doutrina deve-se ao entendimento de que aprendemos graças as associações que fazemos entre determinados estímulos. Quando estamos em busca de conhecerum conteúdo complexo, aprendemos, primeiramente, ideias mais simples, que estariam associadas de modo a constituir algo mais complexo. Thorndike propõe como modelo teórico a lei do efeito. Segundo o autor, todo comportamento de um organismo vivo (um homem, um pássaro, um rato, etc.) ocorre em função do efeito que ele produz. Comportamentos que produzem efeitos recompensatórios tendem a se repetir no futuro e comportamentos que produzem efeitos punitivos tendem a não serem mais emitidos. Assim, caso apertemos um botão no celular e formos premiados com determinadas mensagens (efeito), tenderemos a apertar o mesmo botão em ocasiões semelhantes no futuro próximo. Além disso, mesmo que seja um modelo de celular o qual nunca tivemos acesso, tentaremos apertar um botão semelhante para conseguirmos as mensagens (efeito). De outro modo, caso um namorado tente mexer no celular da namorada buscando mensagens semelhantes e seja por ela punido (efeito), tenderá a não repetir o mesmo 38 comportamento – bem, ao menos não em sua presença. A Lei do efeito foi grandemente utilizada e desenvolvida pela Psicologia Comportamental de B. F. Skinner, teoria psicológica que veremos na próxima unidade. Importante lembrar que William James, Edward Titchner e Edward L. Thorndike foram alunos de Wilhelm Wundt em seu Laboratório de Psicologia Experimental, em Leipzig na Alemanha. A favor de Wundt, é preciso informar também que ele propôs, além de sua Psicologia Científica, uma Volkerpsychologie (que pode ser traduzida como Psicologia dos Povos), que pode ser considerada a gênese da Psicologia Social, que veremos com mais detalhes na unidade IV. Wundt sentiu necessidade de promulgar uma Volkerpsychologie quando, desde seus primeiros estudos no Laboratório Experimental de Leipzig, passou a perceber que o método introspectivo era insuficiente para dar conta da complexidade da vida humana. Desta forma, propôs, em paralelo ao projeto de Psicologia Experimental, uma Psicologia que tentasse teorizar sobre questões culturais mais amplas, como cultura, tradição, linguagem, etc. A Psicologia dos Povos wundtiana assumia um método distinto da Psicologia Individual (introspecção) proposta pelo autor, pois Wundt acreditava que não seria possível fazer perguntas diretas aos sujeitos envolvidos em atividades mais complexas como a cultura. Utiliza, então, métodos e estudos da Antropologia e da Sociologia para tentar dar inteligibilidade à sua Psicologia dos Povos. Wundt passou muito no tempo no ostracismo acadêmico, devido às grandes personalidades que o século XX produziu em matéria de Psicologia – tais como S. Freud, C. Rogers, J. Piaget, B. F. Skinner, entre outros – mas, em função de trabalhos de sérios pesquisadores contemporâneos, tem sido restituído seu verdadeiro papel como intelectual e produtor de conhecimento na área da Psicologia (estima-se que o autor escreveu mais de 40 mil páginas). Felizmente, Wundt tem sido redescoberto pelos psicólogos e volta a figurar no local de onde nunca devia ter sido retirado: o cânone dos grandes autores em Psicologia. 39 Para Saber mais: O estudante pode procurar os seguintes livros, caso queira aprofundar um pouco mais seus conhecimentos adquiridos nesta Unidade: História da Psicologia Moderna, de C. J. Goodwin; História da Psicologia Moderna, de Schultz, D. P. & Schultz, S. E; História da Psicologia no Brasil, de Marina Massimi & Maria do Carmo Guedes; História da Psicologia: rumos e percursos, organizado por Arthur Arruda Ferreira Leal e colaboradores; Introdução à Psicologia, de Atkinson & Hilgard; Matrizes do Pensamento Psicológico, de Luís Cláudio Figueiredo. O estudante também pode assistir ao seguinte filme, como forma de aprofundamento do aprendizado: Quem Somos Nós, direção: William Arntz e Betsy Chasse (EUA, 2004). 40 Avance com foco no seu aprendizado Estamos disponibilizando neste espaço de aprendizagem as videoaulas, um recurso tecnológico, com a intenção de contribuir com sua aprendizagem sobre os temas referente às unidades de estudo da disciplina. Guiando o estudo com as videoaulas Leia o cada unidade de estudo e ao final assista as videoaulas para ampliar seu estudo e ou dirimir as dúvidas sobre o tema. Eros e Psique o mito que deu origem ao termo Psicologia https://vimeo.com/208053965 41 AS PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA DO SÉCULO XX 3 Conhecimentos Compreender de forma sucinta a Psicanálise, as contribuições sociais da Psicanálise, a visão do behaviorismo sobre vários aspectos e as principais Psicologias Humanistas. Habilidades Identificar as diferenças no estudo de Ivan Pavlov, Watson, o behaviorismo de B. F. Skinner, a psicologia de Gestalt. Atitudes Desenvolver a dinâmica das relações humanas nas sociedades atuais e a importância dos grupos e instituições sociais, destacando os meios de comunicação. 42 43 A Psicanálise Sigmund Freud e a pré-Psicanálise Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense (Viena, capital da Áustria) que trouxe contribuições muito originais acerca do entendimento da psique humana. Freud ousou colocar os processos misteriosos do psiquismo – isto é, os sonhos, as fantasias, os esquecimentos, etc – como um problema científico. A investigação sistemática de tais processos é o que levou Freud a postular uma das mais vanguardistas teorias sobre o homem em todos os tempos: a psicanálise. Etimologicamente falando, psicanálise significa análise da psique, ou análise da alma (do grego psiché, alma, sopro de vida + do grego analysis, análise). O termo psicanálise pode ser, a um só tempo, uma teoria, um método de investigação e uma prática profissional. Enquanto teoria baliza um conjunto de conhecimentos acerca do psiquismo humano. Enquanto método de investigação é um método interpretativo, que busca o significado oculto de manifestações humanas como sonhos, delírios, esquecimentos, atos falhos, entre outros. Enquanto prática profissional é a profissão do analista em si, a análise que tem como proposta o autoconhecimento ou a cura – que muitas vezes acontece justamente através do autoconhecimento – do analisando. Compreender de forma minimamente inteligível a Psicanálise é percorrer a trajetória intelectual de seu fundador, S. Freud. A relação entre autor e obra é algo muito significativa, e torna-se ainda mais ilustrativa caso façamos este percurso atentando também às contingências sociais e culturais que balizavam o tempo histórico do autor austríaco. Sigmund Freud graduou-se em Medicina pela Universidade de Viena em 1881. Por motivos financeiros, não pode dedicar-se desde sempre à vida acadêmica e de pesquisador. Foi, portanto, clínico na cidade de Viena, o que lhe rendeu alguns casos de pessoas acometidas com “problemas nos nervos”. 44 Algum tempo depois, obteve uma bolsa de estudos em Paris, capital da França, onde foi trabalhar com Jean-Martin Charcot (1825-1893), eminente psiquiatra da época, que tratava “problemas dos nervos” através da hipnose. Em 1886 volta à sua cidade natal, Viena, e passa a utilizar com bastante frequência o método hipnótico, aprendido em Paris com o mestre Charcot. Em seu regresso, aproxima-se do médico Josef Breuer (1842-1925), importante vetor de comunicação e aprendizado para o jovem Freud. Breuer tem uma emblemática paciente, de nome Anna O., que apresenta alguns sintomas como paralisia com contração muscular, inibição do pensamento, etc. tais sintomas tiveram início quando a paciente passou a cuidar do pai enfermo. Quando cumpria esta função, Anna O. havia tido alguns pensamentosque desejavam a morte do pai, pensamentos estes que foram reprimidos e substituídos pelos sintomas apresentados. A paciente, em estado de vigília, não era capaz de indicar a origem de seus sintomas, todavia, em estado hipnótico, ela mesma relatava a origem de cada um deles, que estavam sob a égide do momento em que cuidara do pai enfermo. A tudo isso Breuer chamava de método catártico (do grego catarsis, purificação, alívio da alma pela satisfação de uma necessidade moral). A Gestação da Psicanálise Freud perguntava-se: “Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior?” (apud BOCK, 2008, p. 73). Além desse questionamento, percebia que o conteúdo esquecido sempre tinha relação com algo doloroso ou penoso para o indivíduo, ou, de outro modo, a algo bom que o sujeito perdera ao longo da vida. Freud, então, resolveu abandonar as perguntas no trabalho terapêutico e deixou os sujeitos mais abertos para falar, dando livre curso às ideias dos indivíduos em análise – o que ele chamou de método da associação livre. Observou, então, que as falas livres, na maioria das vezes, deixavam os sujeitos embaraçados, envergonhados, com o conteúdo de suas próprias ideias. Foi quando postulou 45 a existência de um inconsciente nos sujeitos humanos, que seria o lugar psíquico no qual estaria a imensa maioria de nossas ideias e pensamentos. O médico austríaco postulou, pois, que existia uma força psíquica a impedir alguns conteúdos inconscientes de atingirem o nível consciente, o que denominou de resistência; e uma outra força psíquica que tem por objetivo encobrir ou fazer desaparecer da consciência alguma representação dolorosa ou insuportável que está na gênese do sintoma, a qual denominou repressão. A finalidade de uma análise terapêutica seria, portanto, descobrir as repressões e tentar anulá-las. Nas palavras do próprio Freud: “considerando este novo estado das coisas, dei ao método investigativo e cura resultante o nome de psicanálise em substituição ao método catártico” (apud BOCK, 2008 p. 73). No ano de 1900, Sigmund Freud publica “A Interpretação dos Sonhos”, que é considerado o marco inicial da psicanálise. É neste livro que Freud apresenta os principais conceitos da nascente teoria e sua primeira representação para o aparelho psíquico. É o que denominamos de primeira tópica freudiana. Segundo a primeira tópica freudiana, o aparelho psíquico é dividido em três regiões: Inconsciente: aqui estão os conteúdos não presentes na estrutura atual do consciente. Seus conteúdos são aqueles reprimidos, que assim o foram devido à ação de mecanismos de censura internos. Tais conteúdos, inclusive, podem ter sido conscientes em algum momento, e terem sido reprimidos porque passaram a representar algo mais significativo para o indivíduo (sobretudo aquilo que o faz temer ou desejar), como também podem ser genuinamente inconscientes. Esta parte do aparelho psíquico é regida por leis autônomas, sendo, por exemplo, atemporal. Pré-consciente: é a parte do sistema onde ficam conteúdos que são acessíveis à consciência. De uma forma bem clara, é aquilo que no atual 46 momento não é consciente, mas que pode ser a qualquer hora (tipo quando você lembra do seu número de telefone, até antes de ler esta última frase, tal informação não estava em seu consciente, mas foi facilmente acessada, pois estaria em seu pré-consciente, segundo o médico austríaco). Consciente: é a estrutura do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo informações do mundo interior e do mundo exterior. No consciente estão os processos psicológicos básicos como percepção, atenção, etc. Repare que o termo utilizado pela psicanálise é consciente, ao invés de consciência (que é utilizado por diversas abordagens psicológicas). Freud também inova quando traz sua concepção de sexualidade. Para ele, todos, absolutamente todos, temos sexualidade, e isso envolve também, logicamente, a infância. Imaginemos o caos que o autor causou na sociedade europeia da época do início do século XX quando propôs que as ingênuas criancinhas, tais como os adultos, possuíam sexualidade. Para o conhecimento da época, o bebê humano nascia isento de sexualidade – pois era puro e o sexo foi, por séculos a fio, relacionados à sujeira e ao pecado no Ocidente – e esta só se desenvolvia após a puberdade. Claro que o criador da psicanálise não inventou uma ideia assim tão despudoradamente, tal noção veio da prática clínica, na qual passou a perceber que muitos dos sintomas que chegavam à análise tinham sua origem relacionada à sexualidade e na tenra infância. Para Freud, que era médico, cientista e estava a par das inovações do conhecimento propostas por Charles Darwin com sua Teoria da Evolução, o sexo tinha a função de manter viva a espécie. Desta forma, o corpo do bebê é inatamente erótico, sendo o prazer encontrado no próprio corpo. Freud propôs, então, uma teoria do desenvolvimento psicossexual. O indivíduo humano passa por algumas fases em seu desenvolvimento psicossexual, que são as que seguem: 47 Fase oral (até 01 ano): fase na qual a zona de erotização é a boca, todo o prazer do indivíduo encontra-se neste órgão localizado. Não à toa, bebês recém-nascidos levam tudo o que pegam à boca. Fase anal (01 a 03 anos): fase na qual a zona de erotização principal desloca-se para o esfíncter anal, e boa parte do prazer da criança consiste justamente em controlar a saída de suas fezes de sua região anal. Fase fálica (03 a 06 anos): nesta fase a região mais erotizada do corpo da criança é sua genitália, seja masculina, seja feminina. Nesta fase é desenvolvido o conceito de Complexo de Édipo. Segundo a psicanálise freudiana, a mãe torna-se objeto de desejo para o menino, que passa a rivalizar com o pai pelo amor da mãe, visto que é quem impede, muitas vezes, o acesso do menino à mãe. Para conseguir seu objeto de desejo – a mãe – o menino passa a imitar o pai, já que ele conseguiu conquistá-la, e passa, então, a introjetar em si as principais regras da cultura e do mundo externo. Para Freud, essa é uma experiência universal, ou seja, uma experiência pela qual todos os seres humanos passam, seja em qualquer cultura ou tempo histórico. Freud tira o nome Complexo de Édipo da dramaturgia grega, especificamente da peça Édipo em Colono, de um autor chamado Sófocles. Fase de latência (06 a 12 anos): quando há uma latência na sexualidade das crianças, fase na qual a libido está em estágio adormecido. Puberdade (a partir da puberdade): quando o indivíduo atinge sua puberdade e passa a desenvolver sua sexualidade de acordo com suas opções e gostos. O corpo, apesar de estar pronto para a reprodução e, portanto, manutenção da espécie neste planeta, não é majoritariamente erotizado quanto nas fases anteriores, visto que muitos objetos da cultura passam a também ser eróticos para o indivíduo (repare que alguns objetos tidos como extremamente sensuais atualmente não seriam assim http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0500 48 concebidos caso não houvesse uma cultura que insistentemente nos dissesse que são sensuais). Importante dizer que as idades acima estabelecidas cumprem meramente uma função didática, pois, evidentemente, nem todos os bebês passarão rigorosamente por tais fases seguindo à risca a faixa etária apresentada. Pode-se, muito bem, termos crianças que desenvolvam o Complexo de Édipo a partir dos dois anos de idade, como outras que iniciem sua fase de latência aos cinco. Entre muitos outros exemplos. As idades apontadas, pretendem muito mais cumprir uma função de sistematização da teoria freudiana, que propriamente um engessamento da mesma. A Segunda Tópica Freudiana e Contribuições Sociais da Psicanálise Em 1923 Freudpropõe uma reatualização da estrutura do sistema psíquico. É o que chamamos de segunda tópica freudiana. Em vez das composições: inconsciente, pré-consciente e inconsciente, Sigmund Freud propõe uma estruturação que ainda reserva sua natureza tripartida, entretanto, dá uma ênfase muito maior ao mundo externo na constituição do mundo subjetivo e psíquico. Freud estrutura o novo aparelho psíquico em eu, supereu e id (em alguns livros podem ser encontradas as nomenclaturas ego, superego e isso para representar os termos acima, no entanto, são frutos de traduções erradas do alemão). O id seria governado pelo princípio do prazer, e estaria voltado para atender às pulsões mais intimas e naturais do ser humano, tais como as sexuais ou as que envolvam, de alguma forma, sobrevivência da espécie, como alimentação, por exemplo. Pode-se, a grosso modo, dizer que esta é a estrutura que assume o lugar do inconsciente na segunda tópica freudiana. 49 O supereu seria a instância emblemática da internalização da cultura. Esta estrutura psíquica origina-se juntamente ao Complexo de Édipo, com a inculcação das proibições, das regras, das tradições culturais, da moral, dos limites, da autoridade, etc. O conteúdo do supereu refere-se às exigências da cultura. É a partir desta estrutura que a psicanálise freudiana explica o sentimento de culpa, por exemplo. Regido pelo princípio da realidade, o eu fica exatamente no meio de campo entre o id e o supereu. É a estrutura responsável por fazer a mediação entre as exigências da cultura (mundo externo) e as exigências do eu (mundo interno). O eu, tem por função precípua, o equilíbrio entre as outras duas estruturas do sistema psíquico. Para finalizar o tópico sobre Psicanálise, cumpre lembrar o tempo histórico que Freud vivia quando propôs sua segunda tópica do aparelho psíquico. Se repararmos bem, poderemos perceber que a segunda tópica é muito menos internalista que a primeira, estando muito mais atenta aos sabores e dissabores da cultura. É a concepção de um mundo interno (aparelho psíquico) que não nasce pronto e acabado em definitivo nos sujeitos humanos, mas que é moldada a partir das experiências individuais e dos processos históricos e culturais nos quais estão inseridas as pessoas. Em 1923 temos uma Europa recém-arrasada por uma guerra de proporções mundiais e que, lamentavelmente, já sentia o amargo sabor de uma segunda, que se levantaria em breve período. Fruto das leituras sociológicas do autor vienense durante a década de 1910, a segunda tópica freudiana é a evidência de um gênio que está atento ao seu tempo histórico e que não se furta a teorizar sobre o mesmo. Para saber mais acerca do Freud implicado com as questões sociais e humanas de forma mais ampla, pode-se ter a prazerosa leitura de obras do autor como “Reflexões para o tempo de guerra e morte” (1915) ou “O mal estar na civilização” (1930). Para finalizar, uma última e lamentável informação. O gênio austríaco, Sigmund Freud, que era judeu, teve de exilar-se em Londres, Inglaterra, no 50 final da década de 1930 para fugir da perseguição nazista da Velha Europa – o exército nazista marchara sobre Viena em 12 de março de 1938 – que estaria em guerra novamente dentre em pouco. O criador da Psicanálise, inclusive, faleceu na cidade de Londres, no ano de 1939, no mesmo setembro em que a Europa entrou em guerra mais uma vez. O Behaviorismo Behaviorismo é uma palavra composta por elementos de duas línguas distintas. Etimologicamente falando, temos: do inglês behavior, comportamento + do gregos ismós, que é um termo utilizado para dar ação aos verbos no idioma grego clássico, e largamente utilizado na língua portuguesa contemporânea; temos, portanto, behaviorismo como designador de um termo que expressa um estudo sobre o comportamento. Damos ênfase ao fato de ter sido feita uma aberração linguística quando da tradução para o termo em português, sendo o mais correto o uso da palavra comportamentalismo. Entretanto, respeitando questões históricas, continuaremos a utilizar neste material de estudo também o termo Behaviorismo. Ivan Pavlov e o estudo do Condicionamento Reflexo Ivan Pavlov (1849-1936) era um médico fisiologista russo, que estava muito dedicado a estudar os comportamentos reflexos dos mamíferos. Comportamentos reflexos são aqueles que já fazem parte do repertório inato de todo e qualquer indivíduo dentro de uma espécie. Por exemplo, todos os indivíduos da espécie canis lupus familiaris (cachorro doméstico, aquele mesmo que você tem em casa ou vê comumente na rua) já nascem sabendo latir e mamar, dentre tantos outros comportamentos. Mamíferos, de um modo geral, nascem sabendo suar em ambientes de temperatura mais alta, mexer os lábios de modo a mamar, excitar-se sexualmente, e muito mais. Todos esses são exemplos de comportamentos reflexos, isto é, comportamentos que não necessitam de aprendizagem para que sejam emitidos, são inatos em 51 determinada espécie. Era exatamente isso o que atraía Ivan Pavlov em seus estudos. Pavlov chegou a ser laureado com o Prêmio Nobel de Medicina de 1904, por seus trabalhos acerca do funcionamento digestivo de muitos animais, entretanto, ficou famoso por algo que descobriu meio que por acaso: o condicionamento reflexo. Pavlov estava estudando o processo de salivação de cachorros. Criou um aparelho que conseguia medir o nível de salivação do animal e o acoplou à faringe daqueles que eram objeto de seu estudo. Seus experimentos em laboratório, com controle das variáveis, eram relativamente simples: apresentava um pedaço de carne a cães e aferia o nível de salivação destes. Reparou que quando os animais estavam famintos, o nível de salivação era mais alto que quando os cães estavam saciados, por exemplo. Teorizou, então, que salivação é um comportamento inato para esta espécie, visto que não foi necessário treino anterior para que os cachorros salivassem perante comida quando em privação de alimento (famintos). Importante constar: nós, animais mamíferos, salivamos diante de comida justamente para que a digestão dos alimentos torne-se mais fácil, devido à lubrificação da boca e da faringe. Repare que há um valor de sobrevivência envolvido no comportamento inato, pois se não nos alimentássemos morreríamos de inanição ou caso não houvesse a necessária lubrificação do tubo digestório, poderíamos morrer engasgados com a própria comida. Normalmente os indivíduos de uma espécie nascem sabendo fazer determinado comportamento justamente pelo valor de sobrevivência que aquela ação tem para aquela espécie. Por exemplo, não é extremamente necessário que nós humanos saibamos nadar, mas é fundamental para os animais aquáticos, por isso todos já nascem sabendo. Mas algo muito curioso observou Pavlov também: determinados objetos passaram a eliciar a salivação nos bichos além da carne. Os passos do estagiário ou mesmo o jaleco de Pavlov passaram a aumentar o nível de salivação dos cães. De tal forma que o mero ouvir dos passos do estagiário ou a visão do jaleco de Pavlov pelos animais era suficiente para fazê-los encher a 52 boca d’água. Mas por quê? Pavlov teorizou, então, o condicionamento reflexo, que consiste no seguinte esquema: Na imagem acima, temos: 1. estímulo neutro, que originariamente em nosso exemplo era o jaleco do Dr. Pavlov. O jaleco, inicialmente, se apresentado a um dos cães, não provocaria aumento de salivação no animal; 2. estímulo incondicionado (um estímulo incondicionado é aquele que provoca um comportamento inato), que era a carne. Ela, apresentada aos cães, faziam-no salivar. Podemos entender aqui incondicionado como sinônimo de inato, não é necessário aprendizagem anterior para que aquele estímulo provoque a resposta incondicionada, salivar; 3. uma sucessivaapresentação do estímulo incondicionado (carne) juntamente com o estímulo neutro (jaleco) para os animais. É aqui o ponto central da noção de condicionamento reflexo, pois sem o sucessivo emparelhamento de ambos os estímulos não há condicionamento; 4. estímulo condicionado (que no início do processo era o estímulo neutro), o jaleco, que passa a provocar a resposta condicionada, salivar. Repare na figura que mesmo a resposta sendo a mesma (salivar), é agora chamada de resposta condicionada, pois eliciada por um estímulo 53 condicionado. Quando era eliciada por um estímulo incondicionado (carne) era chamada de resposta incondicionada. De uma forma resumida, temos um jaleco que foi sucessivamente apresentado aos cães juntamente com a carne. Chega um momento que apenas a apresentação do jaleco aos animais é suficiente para fazê-los salivar. Vemos exemplos semelhantes a este em nosso cotidiano, quando, por exemplo, sentimos o cheiro de determinado perfume e lembramos alguém (isso pode nos trazer sensações boas ou ruins, dependendo do que aquela pessoa representou para a gente). Repare que é o mesmo mecanismo: um estímulo originariamente neutro (o perfume) passa a eliciar em nós sensações que outro estímulo (uma pessoa querida, por exemplo) no evocava. Você consegue pensar em outros exemplos de estímulo condicionado em seu cotidiano? John Broadus Watson e o Manifesto Behaviorista Como vimos, Pavlov era médico e não estava muito interessado em contribuir com a produção de conhecimento em Psicologia. Foi necessário alguém de dentro do edifício teórico da Psicologia reconhecer a potência do trabalho do cientista russo para este campo de saber. Quem fez isso foi o estadunidense John Broadus Watson (1878-1958). Em 1913, Watson publica um artigo intitulado Psychologie as the behaviorist views it (“Psicologia como um behaviorista a vê”, em tradução livre), que é considerado o marco inicial da Psicologia Behaviorista no mundo. Este texto é tido como o Manifesto Behaviorista e inaugura esta escola de Psicologia. Neste artigo o autor indica os princípios que guiarão a Psicologia que está propondo doravante. O objeto de estudo deve ser o comportamento humano, pois é diretamente observável por mais de uma pessoa ao mesmo 54 tempo. É preciso que se aponte o caráter vanguardista da escola de Watson, pois este rompe com a tradição filosófica ocidental, que via na alma o objeto de estudo para a Psicologia; com a nascente Psicologia Científica, que tinha como objeto de estudo a consciência ou a mente; e com a Psicanálise de S. Freud, que elege o inconsciente como seu objeto de estudo. A Psicologia Comportamental deveria basear-se unicamente na noção de condicionamento reflexo desenvolvido por I. Pavlov para tentar explicar o homem e lidar com suas mais diversas formas de expressões emotivas. Seu modelo explicativo seria a expressão S-R (do inglês stimulus, estímulo e response, resposta), ou seja, estímulo-resposta. A cada estímulo ambiental (externo ao indivíduo) corresponderia uma resposta (ação ou comportamento) específica. Para Watson, nossas emoções seriam aprendidas durante a vida através do condicionamento reflexo e, portanto, poderiam ser desaprendidas através da operação reversa do condicionamento, que consistiria em apresentar o estímulo condicionado sem o estímulo incondicionado até quebrar o emparelhamento. Trocando em miúdos, pegando o exemplo da secção anterior, apresentar seguidas vezes o jaleco para os cães sem associá-lo à carne até chegar um momento em que a simples visão do jaleco não eliciasse mais a resposta de salivação nos cachorros. Ainda segundo Watson, a Psicologia teria uma base experimental, pois se fundamentaria na noção de ciência pregada pelo Positivismo de Auguste Comte – o Positivismo é uma Filosofia da Ciência proposta pelo francês Auguste Comte (1798-1857) que teve grande aceitação entre os cientistas do século XIX e início do século XX, – e faria estudos em laboratórios com animais infra-humanos, notadamente ratos. Ao Behaviorismo de Watson não interessariam termos ou estruturas como inconsciente, consciência, mente, alma, espírito ou metodologias largamente utilizadas então como a introspecção, pois nunca se teria certeza que aquilo que foi experienciado por um sujeito é o mesmo fenômeno que outro sujeito experiencia, já que nunca temos acesso direto à mente dos indivíduos, apenas ao relato verbal do que ocorre no mundo interno de cada um. Por isso https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Comte 55 a ênfase no comportamento observável como objeto de estudo, visto que mais de uma pessoa pode presenciar o fenômeno quando este ocorre. Para Watson, não é que a mente não exista, mas se a Psicologia, naquele período histórico – início do século XX – não dispunha de instrumentos nem metodologias capazes de estudar a mente, portanto, que estudasse fenômenos observáveis. Depois, talvez, com o desenvolvimento da área, fosse possível o estudo da mente. Com a proposição do comportamento como objeto de estudo Watson dá à Psicologia a consistência, em termos de objeto de estudo, que estava lhe faltando desde W. Wundt, pois trabalhava com objetos subjetivos (repare no paradoxo “objetos subjetivos"). Neste interim, ponto para Watson! Entretanto, o autor traz em seu Behaviorismo uma noção um tanto quanto mecânica e positivista de homem. Exatamente por este homem reducionista, tido como o “homem da contração muscular”, ou sua teoria sendo lida como “Psicologia do estímulo-reflexo” que Watson foi alvo de severas críticas, por estar tratando um objeto da complexidade do fenômeno humano através de noções simplistas e pouco pujantes, bem como desconhecendo o imenso e plural repertório de potencialidades humanas, relegado a um estudo mecanicista do homem. O Behaviorismo Radical de B. F. Skinner Foi preciso outro autor que tivesse afinidade teórica com os estudos do condicionamento reflexo de Ivan Pavlov e J. B. Watson para dar uma repaginada na Psicologia Comportamental. Este homem foi B. F. Skinner (1904-1990). Depois de Skinner, a área de estudos sobre o comportamento humano nunca mais foi a mesma. Skinner propõe um Behaviorismo Radical, e é importante que nos atenhamos ao título de sua proposta. Se por um lado Skinner admite a produção de conhecimento acumulada até então (referimo- nos à década de 1930) quando conserva o termo Behaviorismo, por outro lado faz uma demarcação epistemológica de que sua teoria não é uma mera continuação da proposta de Pavlov-Watson acerca do condicionamento reflexo quando adiciona o termo radical ao seu behaviorismo. É radical justamente 56 porque rompe, sobretudo, com boa parte dos estudos do Behaviorismo de Watson e, por que não dizer, da tradição de pensamento ocidental acerca do comportamento humano. Temos, em B. F. Skinner, uma das mais originais e vanguardistas abordagens sobre o homem na história da produção do conhecimento: a Análise do Comportamento. Skinner adere a uma visão de homem monista e rejeita toda e qualquer possibilidade de explicar o homem a partir de eventos não físicos e não naturais. Não é propósito desse texto enveredar por esta discussão, mas é importante que se diga que não é possível se referir ao Behaviorismo sem se identificar a qual Behaviorismo se está fazendo referência (há uma diversidade de sistemas behavioristas e, a despeito de muitos caírem neste deslize, não se pode dizer que há uma linearidade epistemológica de Watson a Skinner). A abordagem Behaviorista Radical do Comportamento foi criada por B. F. Skinner a partir de 1938 (com o texto “O Comportamento dos Organismos”), esta proposta aponta uma nova forma de estudar os comportamentos humanos. Segundo tal abordagem, que foi criada não como uma abordagem psicológica, mas como uma Filosofia
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