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Educação Musical Núcleo de Pós-Graduação METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO MUSICAL CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO MUSICAL E METODOLOGIAS APLICADAS Para uma melhor compreensão da Educação musical é necessário uma reflexão sobre o ensino de música, pois engloba campos de conhecimento diversos e a valorização da educação e da música. Para isto se faz necessária uma visão histórica dentro de uma perspectiva psicológica das teorias de ensino e aprendizagem bem como das funções social e filosófica da escola e da música, pois a Educação Musical “é um fundamento importante para a construção de uma proposta de ensino que auxilia na compreensão do sistema de crenças e valores: a forma como é percebido o mundo e o que é definido como importante” (BEINEKE, 1999, p. 117). A seguir serão apresentadas definições dos termos que serão usados com os significados pertinentes a esta pesquisa, pois achei necessário caracterizá-los dentro de uma concepção educacional. O sentido e o significado da Educação Musical A Educação Musical, entendida como ciência ou área de conhecimento, não escapa de conviver e de se defrontar com constantes situações problemáticas que são peculiares ao atual momento. Diferentes práticas, espalhadas pelo país, são propostas com a intenção de amenizar as necessidades pedagógicas musicais decorrentes da diversidade de concepções de conhecimento e de mundo. De acordo com Loureiro (2003), mesmo que o ensino de música nas escolas de ensino regular esteja diluído em práticas metodológicas diversas, muitas vezes por falta de fundamentação teórica consistente ou por formação inadequada do educador musical, a Educação Musical envolvida no contexto mais amplo do fenômeno educação não pode negligenciar-se a entender que a “pluralidade não significa renunciar à identidade e não pode, em caso algum, justificar a dispersão, a falta de rigor ou a superficialidade científica” (Pimenta, apud Souza 1996, p. 12). São muitos os problemas enfrentados pela área de educação musical, e dentre eles, é considerado como os de maior importância “a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar” (LOUREIRO, 2003, p 109). Para o professor Koellreutter, [...] a função da arte varia de acordo com as intenções da sociedade. Porque o sistema social, o sistema de convivência inter-humana, é governado pelo esquema de condições econômicas. Na sociedade, o conceito de “arte representativa”, como objeto de ornamentação de uma classe social privilegiada, como um “status-símbolo” na vida privada de uma elite social não envolvente, não é mais relevante (KOELLREUTTER, 1990, pp. 40-41). Loureiro (2003) considera importante na era tecnológica, que a arte se deve ao fato de ser um elemento essencial de integração do homem na sociedade, surgindo como um instrumento de desenvolvimento da personalidade, de libertação, de estímulo à criatividade, meio indispensável de educação. Nessa perspectiva, segundo Koellreutter, A arte torna-se essencial à existência e transforma-se em instrumento de um sistema cultura que enlaça todos os setores deste mundo construído pelo homem contribuindo para dar forma a estes setores. A arte torna-se fator preponderante de estética de humanização do processo civilizador (KOELLREUTTER, 1990, p. 40). Tourinho (1996) afirma que as questões relacionadas a valores da música ou das outras artes sempre foram objetos de contínuo debate e especulação tanto filosófica, quanto histórica ou sociológica. Não são questões generalizáveis, pois situações como tempos, espaços e culturas diferentes tiveram, têm e terão concepções variadas sobre música, suas funções, práticas e, portanto, valores atribuídos ou ligados a ela. A autora afirma que muitas questões podem ser propostas no intuito de reforçar a necessidade de uma reflexão crítica para aprofundamento do valor e da natureza da música e de suas implicações estéticas, psicológicas, históricas, culturais e sociais na vida do indivíduo. Tal reflexão para reconhecerem os valores atribuídos à música deve partir da própria prática pedagógica, possibilitando à sociedade tomar consciência das relações entre educação formal, educação musical, indivíduo e sociedade. Hentschke (1993) identifica pelo menos, cinco valores sobre os quais a prática de educação musical tem sido fundamentada ao longo dos anos. A autora aponta os valores “social, estético, multicultural, psicológico e tradicional” como valores e crenças que, através dos tempos, foram apontados por diversas correntes de pensamento, fundamentados em áreas diversas de conhecimento e que viriam refletir uma concepção de vida, de homem e de arte, dentre elas, a música. Segundo a autora, Faz-se necessário considerar que em toda prática educacional estão refletidos os valores e crenças de seus agentes. Neste sentido, se esses valores e crenças não estiverem fundamentados, eles poderão facilmente ser transformados ou subjugados a pressões externas. A convicção e clareza com que determinados valores são estabelecidos e assumidos são de fundamental importância, pois, com base neles, de modo consciente ou inconsciente, as práticas educacionais são efetivadas. Portanto, subscrever um valor falso para a Educação Musical como, por exemplo, transformando-a em algo lúdico e passageiro, pode não só trazer prejuízo ao educando como também para a própria Educação Musical (HENTSCHKE, 1993, p. 56). Loureiro (2003) se refere à música, e à educação pela música, dentro dessa nova sociedade em fase de desenvolvimento sociocultural, em que sistemas ligados à comunicação de massa, ao desenvolvimento acelerado da tecnologia dominam o cenário nacional, surge a necessidade de fazê-la interagir com este mundo globalizado, numa tentativa de torná-la mais próxima do homem, prevenindo, dessa forma, o declínio de sua importância social. A música, como qualquer conhecimento, entendida como uma linguagem artística, organizada e fundamentada culturalmente, é uma prática social, pois nela estão inseridos valores e significados atribuídos aos indivíduos e à sociedade que a constrói e que dela se ocupam. De acordo com Fonterrada O aprendizado da música envolve a constituição do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto em seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquirirá novos sentidos e significados, modificando também a própria linguagem musical (FONTERRADA, 2005, p. 41). Koellreutter (1990) acredita que somente um tipo de educação musical é capaz de reverter o quadro pelo qual passa o ensino musical: o desenvolvimento da criatividade, do senso crítico e de responsabilidade, da sensibilidade de valores e de memória, e principalmente o desenvolvimento do processo de conscientização com base no raciocínio e da reflexão. É um tipo de Educação Musical que aceita “como função da educação nas escolas a tarefa de transformar critérios e ideias artísticas em uma nova realidade, resultante de mudanças sociais, colocando o homem como objeto da educação musical” (KOELLREUTTER, 1990, p. 6). Por isso Souza (1998) afirma que “a aula de música só pode ter êxito se transformada numa ação significativa, o que pressupõe uma permanente abertura para o novo num diálogo permanente com a realidade sociocultural” (SOUZA, 1998, p. 82). Uma concepção educativa que valoriza a inclusão das disciplinas artísticas, e a música é uma delas, deve estar convencionada e preocupada em desenvolver no indivíduo o interesse pela criaçãoe pela apreciação estética, podendo compreender e até mesmo contestar, ao mesmo tempo em que busca desenvolver sua imaginação e disposição para novas atividades artísticas. Snyders (1994), apesar de reconhecer as dificuldades e as carências que o ensino da música enfrenta no espaço escolar, principalmente quando se propõe a levar aos alunos a apreciação e a experiência do belo, procura apontar caminhos que levem a superar reações adversas e indesejáveis. Para o autor O drama efetivo e cotidiano do ensino da música é que dispõe de muito pouca, verdadeiramente muito pouca, utilidade para o futuro da imensa maioria dos alunos: é preciso lembrar aqui que ele não tem muita influência em seu futuro profissional, nem mesmo em seu futuro escolar, notadamente na passagem para uma classe mais adiantada. Sonho com um ensino de música que responda a estas acusações dizendo que o que propõe não ter por finalidade favorecer um desempenho melhor “em seguida” e que nem pretende ser um modelo reduzido de tudo o que se passará “em seguida” na vida adulta, quando a juventude acabar. A vida se desenvolveria no presente, seria dado valor á existência presente dos alunos. O ensino de música tem, então, um papel exemplar: precisamente porque não visa ao futuro, ao sucesso futuro, só existe e se justifica pela alegria cultural que oferece aos alunos em sua vida de alunos (SNYDERS, 1994, p. 133). Nem todos os alunos são tocados pelas mesmas alegrias, e por isso a importância de mostrar alegrias diferentes, focalizando a escuta de obras de natureza diferente, esperando que em alguma o aluno encontre o que lhe agrade, e que a partir desta que gostou passe a gostar de outras. Nessa perspectiva é sempre importante considerar o interesse do aluno, abrindo espaços para que possa colocar suas ideias sem medo, onde suas vivências passam a colaborar com o crescimento do grupo e tornar mais interessante o momento musical. Nesse aspecto é indiscutível a importância do educador musical. Segundo Reis, Um professor de educação musical que consiga levar seus alunos a um nível verdadeiramente elevado de percepção artística, estará preparando o seu senso crítico para perceber, com maior clareza, as mazelas da sociedade. O esclarecimento tem que ocorrer em todos os níveis e em todas as disciplinas do currículo, mas através da Educação Artística, o aprofundamento ocorre de uma forma especial, atingindo de início, prazerosamente, a sensibilidade e daí partindo, de modo evolutivo – envolvendo sensibilidade, razão, imaginação e a própria “expressão” estética do aluno – num reforço produtivo altamente motivado e gratificante, para uma reflexão cada vez mais ampla, elevada e profunda. Nesta se inclui a descoberta feita pelo próprio educando de seu potencial expressivo e criador, como indivíduo capaz de transformar o mundo, dominar a natureza e influir na alteração do rumo dos acontecimentos (REIS, 1996, p. 89). O essencial é entrar em contato com a própria música, de modo prazeroso e interessante para o aluno, e que o professor de música esteja preparado para descobertas e improvisos. É fundamental o papel da escola no estudo da cultura musical, pois nela poderão ocorrer as trocas de experiências pessoais, intuitivas e diferenciadas. Daí a necessidades de não se perder de vista as práticas musicais que respondem a movimentos sociais e culturais que vão além dos muros da escola, mas que refletem, mais cedo ou mais tarde, no interior da sala de aula. Loureiro (2003) considera o Brasil rico em diversidade e manifestação musical, e é difícil de entender e aceitar que o ensino da música nas escolas não se encontra ainda disseminado. Se vivemos numa sociedade urbana e industrial, em crescente progresso de desenvolvimento, onde várias manifestações culturais se propagam de modo bastante intenso, rápido e diversificado, “não seria exagero imaginar que nossos alunos estariam imersos e que teriam à sua disposição uma variedade musical imensa e rica, formada por músicas de vários estilos, formas e épocas” (LOUREIRO, 2003, p. 122). No entanto as possibilidades não estão ao alcance de todos e isso mostra um quadro que está presente nas escolas, e vem para confirmar que a função da escola continua sendo a de transmitir conteúdos de caráter extenso e elaborado, com conteúdos musicais específicos como, por exemplo, a música clássica. Diante dessa situação, Penna (1996) coloca que o principal desafio do sistema educacional brasileiro continua sendo [...] o de promover um real acesso ao saber, à cultura e à arte. Encarando este desafio, a educação musical precisa buscar, como objetivo último, promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, preparando o aluno para que se torne capaz de aprender criticamente as várias manifestações musicais disponíveis em seu ambiente (PENNA, 1996, p. 23). Mas como a finalidade dos PCN está na configuração de uma nova proposta de ensino, seus objetivos só serão atingidos se um novo modelo de escola vier a proporcionar maiores espaços para a convivência e a interação humanas, buscando a compreensão dos aspectos dinâmicos da cultura, e consequentemente, a valorização da cidadania plural e real, que são necessários para uma prática curricular dentro de uma perspectiva crítica e desafiadora. Hentschke (1993) observa, em relação ao valor tradicional da Educação Musical, a tendência de se desenvolver em algumas habilidades específicas em música, como também a concentração na aprendizagem de história da música e outros, deixando o ensino ficar exclusivo para os que possuem dom ou ouvido musical para estas práticas. Isto gerou uma exclusão indiscriminada das pessoas, e um distanciamento em relação à prática musical. A autora destaca o valor psicológico da música como um valor que em razão da natureza do seu objeto, torna-se inevitável para a prática de educação musical. A ênfase volta-se para o desenvolvimento da criança, onde os princípios educacionais serviram de base para os propósitos da teoria progressiva, encontrando na música seguidores tais como Dalcroze, Orff e. mais tarde, Paynter e Shaffer. Os princípios desta teoria cujo métodos priorizam a aprendizagem por meio da descoberta, em que o aluno deixa de ser um simples receptor de informações, para ser como construtor do seu próprio conhecimento, se tornando um aluno descobridor ou criador. A preocupação volta-se para o aspecto cognitivo da experiência musical, onde a psicologia vem buscando conhecer o pensamento humano e ampliando a compreensão do desenvolvimento e do comportamento, relacionando com as emoções, linguagem e habilidades. Segundo Mársico (1985), O desenvolvimento musical, como todo desenvolvimento humano, parte de experiências concretas e aos poucos se orienta para o crescimento abstrato da linguagem musical. Os conceitos musicais não são adquiridos definitivamente num determinado momento. São primeiro apreendidos vagamente e depois progressivamente compreendidos e interpretados, cada vez com maior precisão (MÁRSICO, 1985, p. 22). Isso significa que diferenças individuais existem e que nem todas as crianças atingem, ao mesmo tempo, o mesmo nível de desenvolvimento. O processo de integração e amadurecimento envolve circunstâncias exteriores que irão se modificando no decorrer dos desenvolvimentos afetivo, psicomotor, cognitivo e musical. Loureiro (2003) diz que a educação musical tem uma função socializadora e que vem contribuir no desenvolvimento e na formação integral do indivíduo. “A importância do ensino de música na escola reside na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir-se sensibilizada pela música, valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p. 127). Considerando que a música desempenha um papelativo dentro da educação geral do indivíduo, o conhecimento progressivo da linguagem musical deve ser dirigido no sentido de valorizar a percepção e a expressão de elementos sonoros musicais. O processo de ensino musical não é portanto, simplesmente intelectual, mas deve ocorrer pela mediação entre a realidade musical e o sujeito. O uso e o domínio da linguagem musical modificam e transformam o sujeito e, conforme for sua vivência em um ambiente musical rico, organizado e estimulante, o levará ao domínio espontâneo e progressivo de habilidades, podendo ampliar o sentir e o fazer musicais, que serão muito benéficos culturalmente. De acordo com Loureiro (2003), encarar a música como uma linguagem tão importante quanto outra qualquer, capaz de contribuir para o desenvolvimento amplo do indivíduo, é um problema que envolve conhecimento e compreensão musical. “É ter a consciência de que a especificidade da música está no seu entendimento como linguagem, como um sistema de sinais que pode ser vivenciado e compartilhado” (LOUREIRO, 2003, p. 134). Entretanto, o uso e o significado que hoje atribuem à música no âmbito escolar evidenciam uma distorção e, consequentemente, uma insatisfação. Porém, o desenvolvimento das potencialidades torna-se evidente no fazer musical, sendo relevante na medida em que mesmo antes de ser desenvolvida a musicalidade da criança, é preciso trabalhar para se adquirir a disciplina e o relaxamento que são necessários para o bom andamento da aula, pois a música é considerada como facilitadora no processo de aprendizagem. A música no currículo escolar Para uma melhor compreensão da palavra currículo, Saviani (2000) define: Currículo é entendido comumente como a relação das disciplinas que compõem um curso ou a relação dos assuntos que constituem uma disciplina, no que ele coincide com o termo programa. Entretanto, no âmbito dos especialistas nessa matéria tem prevalecido a tendência a se considerar o currículo como sendo o conjunto das atividades (incluído o material físico e humano a elas destinado) que se cumprem com vistas a determinado fim. Este pode ser considerado o conceito ampliado de currículo, pois, no que toca à escola, abrange todos os elementos a ela relacionados. Poderíamos dizer que, assim como o método procura responder à pergunta: como se deve fazer para atingir determinado objetivo, o currículo procura responder à pergunta: o que se deve fazer para atingir determinado objetivo? Diz respeito, pois, ao conteúdo da educação e sua distribuição no tempo e espaço que lhes são destinados (SAVIANI, 2000, p. 33). Loureiro (2003) considera a importância da educação musical na sociedade contemporânea justificada pela função de promover o desenvolvimento do ser humano, não por meio do adestramento e da alienação, mas por meio da conscientização da interdependência entre o corpo e a mente, entre a razão e a sensibilidade, entre a ciência e a estética. O ensino da arte, especialmente a música, deve ser considerado na educação escolar da mesma forma que outras áreas do conhecimento, como matemática, a língua portuguesa, a história e outras. Mas como oferece uma forma de conhecimento específico deve ser visto de modo organizado, coerente, que o situa entre vivência, expressão e compreensão. No entanto esse conhecimento pode ser instituído e adquirido também na instituição escolar, e com a nova lei, torna-se esse conhecimento artístico obrigatório no currículo, aparecendo assim um problema para ser resolvido a partir do momento que sair do papel e chegar até as escolas, para ser incluído no currículo e oferecido aos alunos no horário escolar. Com isso terá que ocorrer um maior interesse por parte dos administradores escolares e dos próprios docentes, para uma maior sensibilização e pela valorização do ensino da arte na escola. O ensino da música vem lutando pelo seu espaço no contexto institucionalizado. Esta prática continua sendo privilégio de uma minoria que dispõe de recursos materiais e financeiros para sustentar um ensino desenvolvido em poucas escolas especializadas. A estruturação curricular da disciplina música vem gerando, ao longo dos anos, questões e debates quanto à sua constituição como disciplina escolar bem como quanto à sua programação como prática pedagógica no interior das salas de aula. Diante disso Hentschke (1996) colocava já nesta época que Os problemas que enfrentamos na área da educação musical vão desde a falta de institucionalização e reconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar até a falta de sistematização do ensino da música, seja este como parte do ensino formal, bem como em muitas escolas de música. Em qualquer sistema educacional há um reconhecimento no nível do senso comum a respeito do valor de determinados conteúdos na formação dos indivíduos. Estes são englobados pelas disciplinas chamadas “centrais”, ou do núcleo comum, e que são consideradas como “indispensáveis” para a formação de uma sociedade produtora e consumidora do estado atual (HENTSCHKE, 1996, p. 50). O momento requer a valorização da instituição, da criatividade e da livre expressão do aluno, para que possa se envolver com as diversas situações do seu cotidiano e consiga lidar com elas dentro ou fora do contexto escolar. Além disso, é importante a busca por um currículo inovador que requer motivação no investimento de novos projetos, novas propostas e motivação na realização de atividades e atitudes que possam recuperar o gosto e o senso crítico-musical dos alunos. Resgatar o ensino da música no currículo escolar é defendê-lo como uma área de conhecimento sério e dotada de valor e significado. É acreditar que a escola possa aumentar a alegria dos alunos e dos que com eles convivem. Loureiro (2003) coloca que o ensino da música requer uma proposta curricular que “considere as diferenças culturais, o respeito à individualidade e às experiências de cada aluno e, principalmente, as vivências musicais que os alunos levam para dentro do espaço escolar” (LOUREIRO, 2003, p. 150). O ensino da música no contexto escolar busca alargar horizontes, encontrar concepções didáticas que se apóiam no cotidiano do aluno, tirando o foco de um ensino academicista, compartimentado e arbitrário para equilibrar o conhecimento e a práxis. Mais do que transmitir conteúdos prefixados, distribuídos em planejamentos desvinculados da realidade da escola e do aluno É necessário ensinar-lhes a serem construtores ativos de um conhecimento crítico e transferível a outras situações e problemas, não necessariamente artísticos e, de maneira especial, que lhes ajude a interpretar e agir no mundo em que vivem e em suas próprias vidas (HERNÁNDEZ, 2000, p. 88). Para tanto é importante perceber que se quisermos a música inserida no contexto curricular da escola fundamental, será preciso rever valores e reavaliar o verdadeiro papel da música e sua real finalidade educativa, pois sem isto esta prática estará propensa a ficar do lado de fora da escola. Considerações sobre a Educação Musical: aportes e concepções A valorização do pensamento lógico, com o desenvolvimento do raciocínio e da capacidade de estabelecer pela mente relações que resultem em estruturações do pensamento humano, é a tendência que a educação está desenvolvendo, fragmentando a estrutura do ser. De acordo com Read (apud CAMPOS, 2000), o que está errado no sistema educacional é o hábito de se estabelecer territórios separados, explorando mais a lógica e diminuindo a atividade imaginativa e o prazer sensível. Campos (2000) fala que é da percepção e da sensibilidade que resultam imagens e sentimentos, matérias elementares com que concebemos o mundo e edificamos nosso comportamento diante dele. Pois aeducação por intermédio da arte não só dá à criança uma consciência em que a imagem e o conceito, a sensação e o pensamento se relacionam e estão unidos, como também, simultaneamente, propicia um conhecimento instintivo, que se aproveita da espontaneidade da criança, sua imaginação e sensibilidade expressas pela arte. Fusari (1993) coloca que a educação através da arte é um movimento educativo e cultural que busca formar um ser humano integral, valorizando os aspectos intelectuais, morais, estéticos, procurando despertar a consciência individual e harmonizada ao grupo social que pertence. A autora ressalta as palavras da professora Noêmia Varela como: O espaço da arte-educação é essencial à educação numa dimensão muito mais ampla, em todos os seus níveis e formas de ensino. Não é um campo de atividade, conteúdos e pesquisas de pouco significado. Muito menos está voltado apenas para as atividades artísticas. É território que pede presença de muitos, tem sentido profundo, desempenha papel integrador plural e interdisciplinar no processo formal e nãoformal da educação. Sob este ponto de vista, o arte- educador poderia exercer um papel de agente transformador na escola e na sociedade (VARELA apud FUSARI, 1993, p. 20-21). É importante revalorizar o ensino por meio da busca de novas metodologias de ensino e aprendizagem de arte nas escolas, para garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos técnicos, inventivos, que representem e se expressem em música, artes visuais, desenho, teatro, dança e artes audiovisuais. A partir destes elementos o conhecimento é ampliado, e com a arte podem ser anexadas ações como ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer, e se forem seguidos de uma conexão com os elementos da natureza e da cultura, poderão assim analisar, refletir, formar e transformá-los, pois a arte é expressão humana, que todo mundo pode usufruir, mas, somente será arte quando se expressar com inteligência. Arte é um conjunto de palavras, ou de sons, ou de cores, ou de formas, ou de movimentos, ou de fatos, ou de qualquer outra matéria de sua construção, organizado de forma inteligente a ponto de atrair ou de fascinar o ser humano (RICHERME, 2007, p. 58). Por isso Fusari (1993) fala que o professor de arte, junto com os demais professores e com um trabalho formativo e informativo, tem a possibilidade de “construir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem, e saibam compreendê-lo e nele possam atuar” (FUSARI, 1993, p. 24). Para tanto é importante entender o significado e a conotação de educação que embasa esta pesquisa na visão dos seguintes educadores. Pagano (1965) define a educação: como um processo de transmissão de valores culturais que se realiza por meio de uma relação social entre o educador e o educando. Educar é ajudar alguém a ter valor dentro da esfera cultural, seja na música ou em outra matéria (PAGANO, 1965, p. 7). A autora acredita que a educação é o conhecimento que o indivíduo adquire, e que permite contemplar melhor o que há de belo e bom. Paulo Freire (1983) fala que a educação é um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da realidade e na práxis o poder de transformação. Entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser muito mais que um processo de treinamento ou domesticação, um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora, e nesta visão, o autor critica os educandos serem qualificados como recipientes aonde são colocadas informações que são conduzidas a uma memorização mecânica sem nenhuma vivência. Ele acredita que sem “criatividade, sem participação, não haverá transformação e nem aprendizado” (FREIRE, 1983, p. 36). Outro comentário é que: A educação está presente no contato do dia-a-dia, na observação do outro e de cada um no outro. Há um aprender contínuo na percepção aguda dos mínimos contatos, um transformar que absorve gradualmente mudanças que associam novidades à vontade de aprender (CAMPOS, 2000, p. 19). Campos (2000) ressalta que na vida nada se ensina. Só se aprende conforme o grau de interesse e necessidade, e para tanto a educação deverá oferecer instrumentos e condições que ajudem o aluno a aprender a pensar, a conviver e a amar. Outro autor diz que a educação “é um processo contínuo, que começa nas origens do ser humano e se estende até a morte” (BRANDÃO, 1981, p. 45). Para Aurobindo (apud CAMPOS, 2000) a educação significa aprender a lutar, aprender a intensificar a existência e a cumpri-la com decisão e consciência. Educar, basicamente, é ajudar a assumir a vida, é levar o ser a perceber a grande possibilidade que a vida é. Paulo Freire (1983) coloca outro aspecto da educação: todos deveriam participar do processo ensino-aprendizagem, e valorizar a música, em especial a voz, participando de um coral, e desta forma se expressando socialmente. E Penna (2008) completa dizendo que a função do ensino de música na escola é justamente ampliar o universo musical do aluno, dando-lhe acesso à maior diversidade possível de manifestações musicais, “pois a música é um patrimônio cultural capaz de enriquecer a vida de cada um, ampliando a sua experiência expressiva e significativa” (PENNA, 2008, p. 25). E para uma melhor compreensão da discussão de música, destaco alguns autores como: Andrade (1995), Schafer (1991), Moraes (1983) e Aronoff (apud PENNA, 2008), que definem a música como a organização de sons, ritmos e melodias com a intenção de ser ouvida e que pode nos fazer rir, cantar e dançar, tornando-se uma experiência humana. É considerada uma arte dos sons em movimento e sintética por excelência, fazendo uma ligação do psicológico e do fisiológico. Portanto, de acordo com Sekeff (2002) para pontuar música na educação é preciso defender a necessidade de sua prática em nossas escolas, [...] auxiliar o educando a concretizar sentimentos em formas expressivas; é auxiliá-lo a interpretar sua posição no mundo; é possibilitar-lhe a compreensão de suas vivências, é conferir sentido e significado à sua condição de indivíduo e cidadão (SEKEFF, 2002, p. 120). Mas como toda comunicação envolve conflito, o educando precisa aprender a lidar com esses valores com competência e autonomia, e aparece a possibilidade da música como agente mediador, que poderá auxiliar na construção de um diálogo com a realidade. Para tanto é importante perceber que de outra maneira a musicalização desenvolve nos educandos “um processo educacional orientado que se destina a todos que, na situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas de apreensão da linguagem musical” (PENNA, 2008, p. 41). Com isso, pode-se levar o aluno a se expressar criativamente através de elementos sonoros. A educadora musical Gainza (1988) diz que o objetivo específico da educação musical é musicalizar, ou seja, tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical. Também afirma que: Corresponde à educação musical instrumentalizar com eficácia os processos espontâneos e naturais necessários para que a relação homem música se estabeleça de maneira direta e efetiva. Uma vez assegurado o vínculo, a música fará, por si só, grande parte do trabalho de musicalização, penetrando no homem, rompendo barreiras de todo o tipo, abrindo canais de expressão e comunicação a nível psicofísico, induzindo, através de suas próprias estruturas internas, modificações significantes no aparelho mental dos seres humanos (GAINZA, 1988, p. 42). Alguns educadores usam o termo musicalização ora com o sentido de alfabetizar musicalmente, ora com o sentido de desenvolver a vivência musical sem priorizaro aprendizado de notação. Existem autores que incorporam os dois sentidos acima que é “o de iniciar o indivíduo no universo da música, conservando ao mesmo tempo, os objetivos amplos da sensibilização para os fenômenos musicais” (JOLY, 2003, p. 48). Tal concepção extrapola o fato de apenas introduzir o indivíduo na linguagem musical. Cauduro (1989) acredita que a musicalização infantil não se resume a aulas de teoria ou aprendizagem técnica de um instrumento e seus objetivos não se extinguem no simples ato de cantar por cantar. Eles são amplos e suas metas almejam extrapolar a educação puramente musical, influindo também na formação geral da criança. A iniciação musical para este autor tem por finalidade aproximar a criança da música, levando-a progressivamente a gostar de ouvi-la, a desfrutar o prazer de cantar, de ritmar com as mãos e pés, de dançar e se movimentar ao som da música. Para Feres (1989), a palavra musicalização tem também um sentido bem mais amplo do que ensinar noções de leitura e escrita musical. Dizer que uma pessoa é musicalizada é dizer que ela possui sensibilidade para os fenômenos musicais e que sabe expressar-se por meio da música, quer cantando, assobiando ou tocando um instrumento. Essa forma atual de conceber a musicalização tem origem no pensamento e concepção de educadores musicais, que nas primeiras décadas do século passado contribuíram para uma série de transformações que constituem uma verdadeira revolução no campo das ideias e da prática pedagógico-musical. Feres (1989) diz a partir daí tratou-se então, de recuperar a educação musical das crianças, por meio da atividade e da experiência da vivência musical, que se havia extraviado para um caminho mecânico e formal do intelectualismo. Musicalizar para Brito (1998) é educar pela música, com o objetivo de contribuir na formação e desenvolvimento da personalidade do indivíduo, pela ampliação da cultura, enriquecimento da inteligência e a vibração da sensibilidade musical. A autora diz que é educar formando um público esclarecido e sensível capaz de ouvir e apreciar obras de arte sonora de todas as épocas e origens, favorecendo o despertar de aptidões musicais. Com a reunião e desenvolvimento dos métodos é que se busca atender musicalmente as vivências das crianças, por meio de sua participação criadora, de acordo com Fontanari (1997). Pelo aproveitamento das capacidades humanas (audição, criação, instinto rítmico) é que se consegue introduzir não só em atividades musicais ou nas formas de expressão, mas também na aprendizagem musical e na aquisição de conhecimentos básicos. Efetua-se dessa forma, “a musicalização através da atividade intuitiva, que cria um estado mental intelectual favorável à aquisição de conhecimentos musicais” (FONTANARI, 1997, p. 22). No entanto é importante a compreensão de que a musicalização e Educação Musical não se sobrepõem. Embora a musicalização seja uma forma de educação musical, entende-se que ela é mais ampla, podendo passar por várias etapas de desenvolvimento que ultrapassam a musicalização. E Arroyo (2000) coloca que: O termo "Educação Musical" abrange muito mais do que a iniciação musical formal, isto é, é educação musical aquela introdução ao estudo formal da música e todo o processo acadêmico que o segue, incluindo a graduação e pós-graduação; é educação musical o ensino e aprendizagem instrumental e outros focos; é educação musical o ensino e aprendizagem informal de música (ARROYO, 2000, p.77). E a partir destes pressupostos colocados, a musicalização é concebida como: [...] um processo educacional orientado, que, visando promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, efetua o desenvolvimento dos instrumentos de percepção, expressão e pensamento necessários à apreensão da linguagem musical, de modo que o indivíduo se torne capaz de apropriar-se criticamente das várias manifestações musicais disponíveis em seu ambiente, que é inserir-se em seu meio sociocultural de modo crítico e participante (PENNA, 2008, p. 47). Após a definição destes termos da Educação Musical que serão utilizados no desenvolvimento desta pesquisa, serão apresentados alguns autores que fundamentam a essência da Educação Musical no Brasil. Fundamentação teórico-filosófica da Educação Musical Pensar sobre os fundamentos da Educação Musical nos remete à tarefa de buscar compreender as bases em que se apoia esta atividade, pois fundamental no processo da arte é aquilo que é essencial. O autor Borges (2007) fala que os fundamentos, por sua vez, vão ser aqueles elementos indispensáveis que constituem as bases do agir, do refletir, do interagir, enfim, do “ser e do estar em”. A justificativa para a existência de uma filosofia da Educação Musical, para Reimer (2009), faz menção ao seu impacto na sociedade, que será maior ou menor conforme a qualidade do entendimento oferecido às pessoas. O teórico aponta que “a estética sempre foi usada por educadores musicais para diferentes propósitos e sempre foi considerada secundária” (REIMER, 2009, p. 125). Para este, a estética adotada precisa considerar os maiores aspectos da Educação Musical, suficientemente focados para que possa ser um guia para a ação e a reflexão do educador musical, sendo também pertinente para a arte musical e, ao mesmo tempo, capaz de explicar a natureza de todas as artes. Deve conter forte implicação com a educação e ser relevante para esta e para a sociedade em que vivemos. Para Borges (2007), o ensino de arte deve buscar a educação dos sentimentos. Para tanto, procura desconstruir a noção de arte como linguagem. O autor afirma que vivemos em uma sociedade predominantemente conceitualizadora. Neste aspecto, a Educação Musical é importante porque valoriza não apenas a cognição conceitual, mas também a afetiva, a subjetiva, a criativa e outras. Reimer (2009) define conceito como um conhecimento "sobre", enquanto arte é um conhecimento "de". A questão central da filosofia proposta por Reimer (apud BEINEKE, 1999, p. 122) é a capacidade da Educação Musical ser também estética. Reimer (apud BORGES, 2007) enumera duas categorias de experiências com música: estéticas musicais e estéticas não musicais. Experiências não estéticas podem ser funcionais, referenciais ou acontecerem ao nível técnico crítico. Funcionais são as que se referem ao caráter utilitário da experiência estética, ou seja, o uso prático, religioso, terapêutico, moral, político, comercial, entre outros, da arte. Referenciais são as que não focam a experiência musical em si. O nível técnico-crítico difere das experiências referenciais, por ser pré-estético e faz referência aos aspectos técnicos da obra (REIMER, apud, BORGES, 2007, p. 7). Depois desta argumentação, ressalta a importância da contribuição da filosofia na constituição de um currículo para a Educação Musical. O ponto central da proposta de Reimer (2009, p. 127) está assentado na audição de obras e defende claramente o programa geral de música, pois o objetivo final da Educação Musical é fazer com que o aluno sinta e reaja, por meio da percepção estética e da música. A audição é parte importante da criação e esta deve ser encorajada e sensibilizada pelo desempenho, composição e improvisação. De acordo com Reimer (2009, p. 239) a natureza e o valor da Educação Musical são determinados pela natureza e valor da música. Com base nesta premissa inicial o autor estabelece argumentos para afirmar a necessidade de uma filosofia para Educação Musical. A qualidade da compreensão sobre uma atividade profissional está relacionada ao impacto na sociedade que esta profissão pode obter. Assim, a Educação Musical só deixaria a “periferia da cultura humana” quando houvesse maior entendimento profissional do valor da Educação Musical.Para Hentschke (1996) a música não está no rol das “disciplinas sérias” por causa do “uso que se tem feito dessa área de conhecimento e da atividade profissional decorrente dela” (HENTSCHKE, 1996, p. 37). Para modificar este panorama, é preciso uma tomada de consciência dos profissionais que estão atuando no campo da pedagogia musical. Reimer (apud HENTSCHKE, 1996, p. 37) entende que o profissional consciente do valor de sua profissão, mais que um elo na comunidade pedagógica, é alguém que tem a visão modificada a respeito da natureza e do valor de sua vida pessoal. As bases para a valorização da Educação Musical exigem a configuração de uma filosofia. No entanto, seus efeitos serão mais produtivos se essa filosofia estiver em desenvolvimento durante a formação do educador musical, pois amúsica é uma disciplina do conhecimento que também constitui caminho para se entender a realidade. Reimer (2009, p. 237) afirma que o aluno que entende a natureza real da música pode partilhar as visões da realidade que a música oferece. O problema nessa questão é o contraste entre o ensino da disciplina e a prática da mesma na escola. Enquanto em suas atividades extraescolares o aluno se conecta com uma vasta gama de opções musicais e trafega por diversos contextos culturais, como a internet, TV, espaços públicos e outros, na escola ele costuma ter contato com expressões musicais que pouco ou nada tem a ver com a realidade sonora que vivencia diariamente. Em contrapartida, David J. Elliot (1995) discorda radicalmente das opiniões expressas por Reimer e outros pensadores que formularam filosofias a respeito da Educação Musical partindo de uma abordagem estética. Opondose a este tipo de pensamento, propõe a criação de uma outra filosofia, a qual denomina Filosofia Praxial da Educação Musical. Para este autor, o termo estética sugere contemplação e não “ação” sobre. (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 12). O autor argumenta no sentido de comprovar a ligação entre o surgimento da concepção estética da arte e do pensamento burguês e aponta que estética não é sinônimo de Filosofia da Arte. Elliott (1995) escreve que, assim como a experiência musical é geradora de integração e autoestima, a Educação Musical é proporcionadora de valores como crescimento individual e autoconhecimento. Na sua visão, o desenvolvimento da musicalidade permite a participação construtiva no complexo de expressões/impressões do próprio aluno e dos outros. Elliott diz também que a escola que nega a educação musical sistemática, está negando ao aluno as chaves cognitivas para uma fonte maior de valores fundamentais da vida (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 12). Mais interessado na educação musical integradora do fazer/ouvir música criativamente, o autor confronta o conceito de educação estética proposto por Reimer que tem a música como objeto. Para Elliott, o conceito de educação estética transforma a música em mero objeto de apreciação. As consequências seriam a desvalorização do desempenho e da criatividade do aluno, ênfase no consumo musical e não no fazer musical ativo e artístico e, ainda, separação entre apreciação e produção de música. Segundo Elliott (1995), a música não deve ser uma coleção de objetos estéticos independentes e o desempenho deve estar no centro da educação musical envolvendo um tipo especial de aprendizagem (ELLIOT apud BORGES, 2007, p. 33). Este ponto já nos revela um problema que atinge diretamente as escolas brasileiras, no caso, as que não são de música, visto que também são orientadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e dão ênfase à apreciação musical e à escuta “em detrimento da prática artística” (FONTERRADA, 2005, p. 38). Para Elliot (1995), faltou providenciar uma explicação racional para a natureza do fazer musical, uma vez que esta importante dimensão da musicalidade tem estado restrita à habilidade e técnica. O autor acredita que todas as formas do fazer musical envolvem um tipo de pensamento multidimensional. A imposição de um método uniforme para todos os tempos é oposto ao que é observável sobre a produção e a experiência musical, pois esta é diversa. Resumidamente, música não é um objeto, mas sim uma atividade humana intencional, a qual engloba: "um fazedor, algum tipo de feito, apenas o fazer em si e um contexto onde o fazedor produz aquilo que faz” (ELLIOTT, 1995, p. 40). O autor cria uma expressão para a qual inventaríamos um verbo para a Língua Portuguesa, tal como “musicar”. Musicar, no sentido de desempenho musical, é um tipo particular de ação humana intencional. Envolve, além de desempenho, a improvisação, a composição, o arranjo e a regência. A audição musical liga-se organicamente ao ato do fazer musical. Estas não estão apenas interligadas. Música e audiência são dimensões mutuamente definidas e reforçadas. Elliot (apud, BEINEKE, 1999, p. 123), considera que as ações dos que desempenham e improvisam não são naturais ou inatas. Elas são culturais. A Educação Musical deve empenhar-se em desenvolver a musicalidade do estudante tendo como centro o seu desempenho, que a musicalidade, desenvolve por indução. Estudantes começam a entrar e fazer parte da cultura musical e então começam a aprender. O processo de aprendizagem musical é promovido por um contexto educacional no qual avanços individuais são observados em estudantes que procuram ser, e este contexto inclui o próprio estudante, um autêntico fazedor musical. De acordo com o ponto de vista colocado por Reimer para a filosofia da Educação Musical de que a música não é um objeto, pode-se perceber que: Reimer requer uma filosofia da Educação Musical baseada na perspectiva da compreensão da obra musical enquanto “objeto estético”. Por sua vez, Elliot busca “atualizar” filosoficamente a Educação Musical e preconiza uma crítica ao que chama de “Educação Musical enquanto Educação Estética”, propondo o que denominou Filosofia Praxial e que está embasada numa perspectiva multicultural. Adorno contribui com a busca da elucidação das relações que estabelecem as contradições existentes no entendimento sobre música em nossa sociedade (FONTERRADA, 2005, p. 110). Para Swanwick (1997), Elliott fundamenta sua crítica em uma caricatura da teoria proposta por Reimer e confunde a perspectiva estética com o formalismo musical. Swanwick, inclusive, critica o formalismo por conceber a experiência musical enquanto dissociada das demais experiências: “O problema é que isto falha em conectar a experiência musical com outra experiência em alguma forma direta. A música está sendo novamente removida da vida, transformada em um tipo de jogo” (SWANWICK, 1997, p. 9). A partir de Reimer (1989) e Elliott (1995), que são exatamente da Educação Musical, percebe-se a necessidade de os Educadores Musicais buscarem conhecimentos sobre outras áreas que possam contribuir no processo de crescimento musical e pessoal próprio e dos estudantes. Elliot (1995) enfatiza o aspecto social da música e nesse sentido, o seu processo de aculturação é sempre intercedido pelo mestre. Para a filosofia praxial, a aculturação se relaciona com a apropriação de um código específico, que é o musical. Isto acontece em um tipo de ambiente musical propício e em uma comunidade que engloba desde aprendizes ao mais desenvolvidos. De acordo com Fonterrada (2005), é extremamente difícil exigir uma verdade sobre a natureza e o ato da Educação Musical. A dúvida faz parte do processo para que se ampliem as concepções. Não se concebe uma educação fechada em suas bases, e nem sem horizontes para se ampliar. Não se concebe a Educação Musical enquanto desatada da vida, sem cor ou movimento. Não se concebe uma Educação Musical apática à dúvida e afastada de uma efetiva prática. Não se concebe uma Educação Musical quenão considera o tempo e o espaço atual do estudante enquanto sujeito e da sociedade enquanto estrutura. Não é possível compreender uma Educação Musical que não busque o melhor para o estudante, que não pretenda levá-lo a um ponto diferente da partida, que não é digna de suscitar o gosto do estudante pelo conhecimento. Não se concebe uma Educação Musical que não seja “sonora”. A musicalidade é acertadamente o objeto com o qual lida o Educador Musical e é com este que devemos operacionalizar o trabalho. Possuímos limitações para entender uma Educação Musical descontextualizada, sem inserção no Projeto Político- Pedagógico da escola ou que não planeja com seus pares de outras áreas e, mesmo, de outras manifestações artísticas (BORGES, 2007, p. 56). Por outro lado, o autor partilha da ideia de música enquanto parte essencial da formação do sujeito social capaz de interagir, de compreender e até de modificar a conjuntura. Compreendemos as dificuldades encontradas nas escolas, em todos os níveis e modalidades, mas é importante lembrar que as críticas devem ser colocadas, pois o acesso à educação é direito de todos. É neste sentido que contribuir musicalmente para a formação integral dos sujeitos é garantir a estes o acesso a um tipo de conhecimento específico que pode lhes ajudar a formular um projeto de vida onde a música desempenhe o seu papel de forma mais consciente. Fonterrada (2005) considera fundamental repetir que a importância da existência da música no currículo das escolas é uma forma de assegurar o acesso dos estudantes a este tipo de manifestação cultural específica. Neste sentido é imprescindível à sociedade cobrar a oferta deste tipo de conhecimento dos condutores das políticas públicas. É importante conscientizar a necessidade do surgimento de experiências de educação musical nas escolas e, ampliando estes horizontes, em redes de ensino, tanto privadas quanto públicas, e também lembrar que “música é objeto de estudo sério sim, e também necessário para a compreensão e assimilação por parte dos indivíduos, de qualquer sociedade” (COSTA, 2004, p. 95). Não se concebe um profissional educador musical que não seja um contínuo pesquisador de seu tema de trabalho. Fazer, estudar e ensinar música são atividades interligadas. Neste sentido, o ideal é sonhar com uma Educação Musical atenta à realidade que está cercada, sempre discutindo um aspecto importantíssimo desta atividade artística que é a transformação. Música transforma o indivíduo. A experiência musical nunca nos devolve inteiros ao marco inicial. Somos transpassados por esta experiência. Transforma-se o indivíduo, pode por extensão contribuir positivamente também para transformações na sociedade (BORGES, 2007, p. 59). Para complementar este estudo da parte filosófica, busco respaldo teórico nas propostas de ensino-aprendizagem de John Dewey (1949, 1974), Jerome S. Bruner (1975), Howard Gardner (1993) e Keith Swanwick (1991, 1999) para uma melhor compreensão da trajetória do ensino da música e o desenvolvimento do aprendizado musical da criança. Contribuição teórica de educadores O pensamento de cada um dos autores citados no tópico anterior é relevante para essa discussão. Se para John Dewey (1979) a relação entre a vida social e a escolar deve ser interativa, o que faz da educação uma contínua reconstrução da experiência, e resulta em um aprendizado centrado no aluno, Jerome S. Bruner (1975), embora não compartilhe dessa convicção, tem como hipótese que qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência a quem quer que seja, em qualquer idade, desde que o indivíduo esteja em condição de aprender e o tema seja apresentado de forma apropriada e desperte o interesse. Tais informações têm implicações importantes, posto que a informação influencie diretamente a prática dos educadores de modo geral e, obviamente, os da Educação Musical. A pedagogia de Dewey, por exemplo, se baseia nas experiências de atividades nas quais a educação deve consistir em uma reconstrução ativa pela criança da experiência humana. Ele desenvolveu um esquema em cinco passos que são: Uma atividade espontânea escolhida pela criança de acordo com o seu interesse, tendo o professor o papel de interferir no ambiente do ensino, em segundo lugar o problema que pode surgir no desenvolvimento da atividade como um obstáculo que a criança não consegue resolver sozinha. É preciso formular uma questão para ser investigada. Como terceiro passo vem os dados onde a criança vai buscar informações para ajudar a responder a questão estabelecida, e o professor deverá sugerir alguns locais de informações para os problemas que surgirem. E no quarto passo tem a hipótese, que depois de recolherem os dados, as crianças formularão hipóteses para tentarem achar a solução do problema. Como último passo vem a experimentação que com o processo completo poderá produzir uma resposta adequada. Para Dewey (1979) o ensino realizado na forma deste esquema busca reproduzir as etapas do método científico. Ele acredita que a educação é um processo de vida, é um processo social, e um processo de reconstrução, de reorganização da experiência. O fundamental na educação para Dewey é a relação que se estabelece entre a imaturidade da criança e a experiência do adulto. O educando deve estar sempre buscando e com disposição para aprender. Deve ser responsável e desenvolver o hábito de pensar e investigar. O conceito central do pensamento de Dewey consiste por um lado em experimentar e por outro, em provar. Com base nas experiências testadas é que a educação torna para a criança uma forma de reconstrução constante. Bruner, em sua posição, coloca os aspectos relevantes sobre o ensino aprendizagem que serão considerados nesta pesquisa, tendo o aprendizado como um processo ativo, por meio do qual o aluno é capaz de aprender como as coisas se relacionam e de como pode aplicá-las. Para ele o currículo deve ser construído em torno de grandes temas, princípios e valores, a serem reexaminados e cujas ideias básicas devem ser trazidas de volta, repetidas vezes, valendo-se do currículo espiral (BRUNER, 1975). O principal objeto de estudo de Jerome Bruner é a aquisição dos processos cognitivos pelo ser humano. Em suas pesquisas ele confere uma nítida ênfase à linguagem como o principal meio de representação simbólica da realidade, tanto concreta quanto abstrata, ao afirmar que o homem constrói o conceito que adquire do mundo através dos símbolos linguísticos. Não obstante, estabelece uma relação intrínseca entre o modo de representação visual, com o conceito da representação linguística. Ele observa que a representação visual, um desenho, por exemplo, é uma das primeiras formas de comunicação utilizada pela criança, juntamente com as representações ativas. As representações ativas feitas pelas crianças em seus primeiros estágios de desenvolvimento, por sua vez, corresponde à tentativa de representação de determinadas realidades, através da supressão do estágio de representação lingüística. Como por exemplo, podemos citar a criança que quando ouve a palavra buraco, lhe vem imediatamente na cabeça o ato de cavar; quando ouve a palavra água, igualmente, lhe passa pela mente a ação de beber água, propriamente dita, e, daí por diante, a criança vai elaborando inúmeras representações ativas que objetivam substituir a linguagem ainda mal formada e em processo de desenvolvimento (BRUNER, 1975). Segundo o autor, na tentativa de adquirir conhecimentos básicos para decifrar o meio em que está inserido, o homem acaba por discernir estratégias sistemáticas de comportamento, reconhecendo, continuamente, regularidades dentro da complexidade dos fenômenos do mundo que o cerca. A partir daí, ele começa a formar conceitos estratégicos que, com o passar do tempo,devidamente assimilados e sedimentados, irão permitir a influência sobre o meio, com o poder de moldá-lo e transformá-lo. Bruner relaciona, basicamente, o comportamento do indivíduo com a aquisição de conhecimentos pelo mesmo. É a educação, encarada como um processo sistemático ou não, que servirá de instrumento para que o homem possa dominar o meio em que vive. Ele observou, igualmente, que a eficiência na aquisição dos processos cognitivos e seu posterior desenvolvimento não se davam, de forma alguma, de maneira igual de pessoa para pessoa. Portanto, pode-se observar, na prática, que cada indivíduo assimila informação em tempos e ritmos diferentes, de acordo com seus respectivos potenciais e capacidades. O autor ressalta que: Há uma diferença entre o comportamento que enfrenta as exigências de um problema e aquele que procura defender-se de qualquer participação (...). A última forma não é uma visão distorcida da primeira; é uma posição diversa com objetivos e necessidades diferentes (BRUNER, 1975, p. 10). Há visível preocupação em relação ao comportamento do ser humano frente ao processo de aprendizagem. Para ele, tanto o comportamento quanto a interação do homem com o mesmo, representou, em todo decorrer de seu trabalho, variáveis de suma importância para a elaboração dos conceitos sobre os processos de aquisição do conhecimento. Neste sentido, as pesquisas e as colocações desses dois autores parecem apontar na mesma direção. Ambos os autores apresentam a educação como processo a se desenvolver ao longo da vida e que implica efetiva participação dos atores nele envolvidos. Para Bruner verdadeira construção de conceitos pela criança é um processo que leva algum tempo para amadurecer em sua plenitude. Primeiramente, o que de fato ocorre, de acordo com Bruner é a captação, pela criança, de níveis de representação do mundo menos complexo, a conseqüente assimilação e construção de conceitos elementares pela mesma, até que um nível de representação superior da realidade possa ser atingido e dominado pela criança. Bruner (1975) estudou, com profundidade, a natureza do desenvolvimento intelectual humano, tendo estabelecido algumas referências: em primeiro lugar se caracteriza por independência crescente da resposta, em relação à natureza imediata do estímulo. É possível prever o comportamento da criança conhecendo os estímulos que nelas agem, durante e imediatamente antes da resposta. Em segundo lugar o desenvolvimento intelectual baseia-se em absorver eventos em um sistema de armazenamento que corresponde ao meio-ambiente. É tal sistema que permite à criança aptidão progressiva para ir além da informação encontrada em uma única ocasião. Ela faz previsões e extrapolações, partindo do modelo armazenado do universo. E em terceiro lugar o desenvolvimento intelectual entende uma capacidade crescente de afirmar, a si mesmo, e aos outros, por palavras ou símbolos, o que alguém fez ou o que alguém fará. Essa prestação de contas ou consciência própria possibilita a transição de um comportamento chamado lógico. O autor ainda ressalta que o desenvolvimento intelectual baseia-se numa interação sistemática e contingente, entre um professor e um aluno, no qual o docente, amplamente equipado com técnicas anteriormente inventadas, ensina à criança. O professor, para Bruner, é importante para a manutenção e perpetuação da cultura e conhecimento. O autor acredita que o ensino é altamente facilitado por meio da linguagem que acaba sendo, não apenas meio de comunicação, mas o instrumento que o estudante pode usar para ordenar o meio-ambiente. A natureza da língua e suas funções devem fazer parte de qualquer teoria do desenvolvimento cognitivo. O autor (1975) destaca nitidamente a importância crucial da aquisição e do domínio da representação simbólica do mundo, que é a linguagem, a comunicação, seja ela oral ou escrita. Logo, a linguagem é o principal instrumento de captação da realidade do meio pelo aluno. E por fim diz que o desenvolvimento intelectual é caracterizado por crescente capacidade para lidar com alternativas e, simultaneamente, atender a várias sequências, ao mesmo tempo, e distribuir tempo e atenção, de maneira apropriada, a todas essas demandas múltiplas. Há, naturalmente, grande distância entre a mente singela de uma criancinha e a aptidão de um menino de dez anos para enfrentar um mundo extremamente complexo. Embora as escolas privilegiem o pensamento analítico, que se caracteriza por caminhar passo a passo, com plena consciência da informação, para o ensino da música o pensamento intuitivo deverá ser altamente valorizado. Na visão de Bruner (1975) o pensamento intuitivo é fortalecido pelo desenvolvimento da autoconfiança e da coragem do aluno, pois pode-se acertar ou errar através da intuição. O professor precisa ser sensível e deve permitir que os alunos arrisquem palpites e respeitem as sugestões dos outros. Resguardadas as diferenças na forma de ver o desenvolvimento do processo educativo, uma terceira voz se soma às dos autores anteriormente citados, Howard Gardner. Uma das principais contribuições de Gardner (1995) para esta pesquisa é reforçar a importância da concepção da música como um campo intelectual autônomo. Seu livro, no capítulo “Inteligência Musical”, apresenta uma análise do desenvolvimento da competência musical, a partir dos primeiros anos de vida, quando bebês balbuciam e cantam, passando pelos vários estágios de crescimento, com forte fundamentação em Piaget. Outra afirmação de Gardner que interessa muito aos educadores musicais é a de que, apesar da bagagem genética ser um elemento muito importante no campo da música, as realizações nesta área são muito suscetíveis ao estímulo cultural (GARDNER, 1995). Ele desenvolveu uma proposta mais revolucionária que se entende por inteligência “a capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários" (GARDNER, 1995, p. 14). O destaque dentro da teoria de Gardner é considerála como possuindo várias facetas, que na verdade são talentos, capacidades e habilidades mentais que são chamadas de inteligências na teoria das Inteligências Múltiplas, como o próprio nome explicita, refutando a ideia tradicional de inteligência como uma capacidade ou potencial geral que se possui em maior ou menor extensão. De acordo com Sekeff (2002) Gardner questiona os testes de medição utilizados e considera que para envolver adequadamente o sistema de cognição humano é necessário incluir um conjunto muito mais amplo de competências, já que a inteligência não é uma propriedade única de nossa mente, como sempre se acreditou. Embora a ideia do currículo espiral em música seja largamente difundida, percebe-se a falta de aplicação e entendimento dos conceitos apresentados para o desenvolvimento do ensino musical. Considera-se importante que a construção de um currículo musical na escola que não leve em conta apenas aspectos teóricos, estruturais e históricos, mas, que “de maneira sequencial [respeite]... a capacidade da criança no processo de aquisição do conhecimento através das três atividades – composição, execução e apreciação” (HENTSCHKE, 1996, p. 69). A autora Sekeff (2002) diz que o exercício da música desenvolve a chamada inteligência musical e esta, por sua vez, colabora no desenvolvimento de todo o sistema cognitivo do educando. Esses elementos comprovam a ênfase na necessidade da música nas escolas, aonde o educador deve abrir espaço para o repertório variado. Embora possam parecer distantes umas das outras, é na somatória dessas vozes que o ensino musical tem se apoiado na consecução de seus objetivos. As pesquisas dos autores já citados anteriormente neste trabalho encontram eco particularmente na voz de Swanwick,quando evidencia que no ensino musical o professor é o facilitador do aprendizado, e deve estimular, aconselhar, perguntar e ajudar, mais do que dar informações. Para esse autor, a grande virtude dessa teoria é “promover a criatividade e a individualidade de cada aluno, cabendo ao professor a tarefa de ver e escutar com maior atenção esse fazer musical” (SWANWICK, 2003, p. 18). Swanwick é um educador musical que se empenhou em estudar como se dá o desenvolvimento musical no ser humano, buscando solucionar questões curriculares nos cursos oficiais de música ingleses. Seu trabalho não é pioneiro, mas vem acrescentar às teorias de desenvolvimento clássicas, ideias originais, elaboradas a partir de constatações fundamentadas em sua prática docente e em sua pesquisa de campo. A teoria sintetiza conhecimentos advindos da pedagogia, psicologia e psicologia da música, levando em consideração as características e necessidades de cada fase do desenvolvimento humano em relação aos processos musicais. Toda a “Teoria Espiral”, criada por ele, está baseada nas ideias de Piaget, ou seja, de que o conhecimento se dá por etapas sucessivas e é construído pelo indivíduo. De acordo com Del Ben (2002, p.77), o aprendizado musical, assim como qualquer outro ramo do conhecimento, deve obedecer etapas sucessivas, consoantes com o nível de amadurecimento psicológico do indivíduo. Swanwick fez um mapeamento do progresso desse conhecimento, estudando um grupo de estudantes na faixa entre os 3 e os 14 anos. Essas crianças, todas alunas de três escolas em Londres, eram procedentes de diversos grupos étnicos e culturais (crianças de origens asiáticas, antilhanas, africanas e sul e norte europeias). Durante quatro anos, Swanwick fez gravações de composições feitas por elas, em um total de 745 composições de um universo de 48 estudantes. É importante frisar que esse estudo foi feito dentro da ótica das oficinas de música, priorizando uma visão chamada por seus defensores de linha criativa do ensino musical. Dentro dessa ótica, defendida por muitos educadores contemporâneos, tais como John Paynter e Murray Schafer, o professor deve buscar desenvolver a criatividade e a improvisação, utilizando para isso todo e qualquer material sonoro disponível. A partir de seu estudo, Swanwick (2003) elaborou sua Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical. Para representá-la, ele elaborou um gráfico em forma de espiral. Através dele, Swanwick mostrou os níveis de desenvolvimento, relacionados com a idade das crianças compositoras estudadas. O primeiro nível, o material, ele dividiu em dois níveis: o sensorial e o manipulativo e diz respeito às crianças de 0 a 4 anos. O segundo desses níveis é o da expressão, que compreende crianças na faixa dos 5 aos 9 anos mais ou menos. O terceiro, o da forma, ele dividiu em: especulativo e idiomático, e diz respeito às crianças de 10 a 15 anos. O quarto e último nível, o do valor, ele dividiu em: simbólico e sistemático, e diz respeito às crianças de 15 anos ou mais. A partir dessa teoria, Swanwick (2003) propôs um processo de aprendizagem baseado em um modelo que ele batizou de “CLASP”, que em português foi traduzido para modelo “TECLA”. O modelo consiste em trabalhar os conteúdos de maneira vinculada, para justamente favorecer o desenvolvimento cognitivo de forma integral e não fragmentada. Sua intenção é que as fases não estejam dissociadas, mas sim, mantenham um elo contínuo entre elas. Dessa forma, para uma boa educação musical o professor deve, no entender de Swanwick, estar atento para não priorizar e nem desprezar qualquer dos elementos abaixo, resumidos na sigla TECLA, sendo o T- Técnica que é a manipulação do instrumento, notação simbólica, audição, o E- que é a execução, o tocar e o cantar, o C- é a composição, que envolve a criação, improvisação. O L- envolve a literatura com a história da Música, e o A é a apreciação com o reconhecimento de Estilos/ Forma/ Tonalidade/ Graus. Apesar de trabalhar em uma linha conhecida como oficinas de música, que prioriza a livre experimentação de materiais sonoros, Swanwick compreende a importância do universo sociocultural e afetivo do educando, deixando claro que a criança deve ser estimulada com músicas que estejam no seu dia-a-dia e dentro dos padrões musicais de sua cultura. Isso não significa dizer que não devemos ampliar esse repertório, mostrando outros universos sonoros. A Teoria Espiral pode ser considerada a primeira sequência de desenvolvimento fundamentada na natureza da experiência musical, e de acordo com Henstschke (1996), Esta teoria oferece subsídios aos educadores musicais para a construção de um currículo em música, que não só levaria em conta as dimensões de criticismo musical, como as colocaria de maneira sequencial respeitando assim a capacidade da criança no processo de aquisição do conhecimento através das três atividades que são: composição, execução e apreciação (HENSTSCHKE, 1996, p. 45). Em uma sociedade de constantes mudanças e muitas diferenças sócioculturais, é fundamental que o professor esteja aberto ao discurso musical do aluno. Daí a importância dos princípios apresentados por Swanwick para assegurar a “qualidade da experiência musical durante as interações educacionais” (RUNFOLA, SWANWICK, 2002, p. 393). Por isso é essencial manter essas relações em mente no momento da elaboração do currículo. É importante ressaltar, que esses processos desencadeiam o que chamamos de educação “para” e educação “pela” música, onde os indivíduos, em contato com as atividades artísticas (coral, musicalização, instrumentos musicais, dança) desenvolvem demais atributos como comunicação, sociabilidade, concentração, sensibilidade, senso crítico-criativo, auto-estima, ao mesmo tempo em que adquire uma habilidade artística. Portanto, a contribuição do autor será decisiva no embasamento deste trabalho e seus princípios de Educação Musical irão nortear a elaboração de nosso projeto. Para tanto, uma breve e concisa apresentação desses princípios faz-se necessária. O primeiro princípio é considerar a música como discurso, que demonstra como é importante que o professor de música busque um “forte senso de intenção musical relacionado com propósitos educacionais: as técnicas são usadas para fins musicais, o conhecimento de fatos informa a compreensão musical” (SWANWICK, 2003, p. 58). Em segundo lugar, é fundamental que o professor leve em consideração o discurso musical dos alunos, pois “cada aluno traz consigo um domínio de compreensão musical. Não os introduzimos na música; eles são bem familiarizados com ela” (SWANWICK, 2003, pp. 66 e 67). O autor ainda menciona o desenvolvimento da autonomia do aluno, e citando Bruner coloca “as energias naturais que sustentam a aprendizagem espontânea, que são a curiosidade, desejo de ser competente, querer imitar outros, necessidade de interagir socialmente” (SWANWICK, 2003, p. 67). O terceiro princípio enfatiza a fluência musical como o objetivo primordial, precedendo a leitura e escrita musical. Como afirma o autor, “ensinar música musicalmente pode somente ser feito por aqueles que se preocupam e compreendem que a atividade humana que chamamos música é uma rica forma de discurso” (SWANWICK, 2003, p. 116). Após esta trajetória pela história da educação musical com a sua fundamentação teórica e filosófica, e a compreensão dos termos Arte Educação, Música, Educação Musical e de Musicalização Infantil, considera-se importante um estudo sobre alguns educadores musicais e suas metodologias. Para tanto, serão destacados alguns educadores musicais do Brasil e de outros países, que desenvolveram métodos ativos de musicalização infantil, selecionados cronologicamente desde o final do século XIX e XX até a atualidade. EducadoresMusicais e metodologias aplicadas Após uma trajetória das concepções da educação, e da musicalização, de sua importância e benefícios, serão apresentados os métodos ativos em Educação Musical, que surgiram no início do século XX, respondendo a uma série de desafios provocados pelas grandes mudanças ocorridas na sociedade ocidental, na virada do século XIX para o XX. Contudo, nem todos os chamados métodos ativos podem na verdade ser considerados métodos, mas abordagens ou propostas. Fonterrada (2005) coloca que nas décadas de 1950 e 1960, muitos métodos foram introduzidos no Brasil, nos grandes centros urbanos e escolas especializadas de música. No entanto, em razão de uma série de circunstâncias - entre as quais a exclusão da disciplina “Música” dos currículos escolares, substituída pela educação artística, desde 1971 - muitas dessas abordagens foram esquecidas, limitando-se a poucos seguidores, que pertenciam a segmentos educacionais alternativos. Conforme a autora, as escolas de música parecem não dar conta da sua importância, permanecendo, muitas delas, no antigo esquema de iniciar as crianças e jovens diretamente no instrumento, e colocando-os em classe de teoria da música para completar a formação exigida pela aula prática. São poucas as instituições que sistematicamente adotam um trabalho apoiado nos métodos ativos para o aprendizado musical, e mesmo aquelas que investem em aulas de musicalização, é comum que o façam de maneira pouco consistente, ocorrendo, muitas vezes, mais uma recreação do que fonte de conhecimento. No entanto é preciso registrar o esquecimento dos métodos ativos de educação musical em muitos dos espaços, vem sendo danoso ao ensino de música no país, provocando duas posturas opostas: a que adota um dos métodos acriticamente e de maneira descontextualizada descartando outras possibilidades, e a que ignora seus procedimentos e investe em propostas pessoais, geralmente não acompanhadas de reflexão, e baseadas em ensaio-e-erro, que em geral privilegiam a diversão, dentro do pressuposto de que a música é lazer (FONTERRADA, 2005, p. 122). Por isso a educadora musical ressalta que se a ideia é fortalecer a área da Educação Musical, é importante que os educadores musicais pioneiros sejam revisitados cuidadosamente, não para serem adotados tal como se apresentam em suas propostas originais, mas como fonte da qual se podem extrair subsídios para propostas educacionais adequadas ao contexto da escola e da cultura brasileira atuais. Durante muito tempo confundiu-se ensinar com transmitir e, nesse contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um transmissor não necessariamente presente nas necessidades do aluno. Sabese, atualmente, que não ocorre ensino sem a aprendizagem, e esta não acontece senão pela transformação, pela ação de mediação do professor, do processo de busca do conhecimento, que deve sempre partir da criança. Em função destas necessidades, criadas a partir de um momento e ambiente determinados pela atualidade, é que se pretende, através deste trabalho, a elaboração de caminhos para aprendizagem musical, com embasamento na interdisciplinaridade das diversas artes. Este seria o resultado de uma busca constante do máximo de possibilidades para o envolvimento e estimulação das crianças na arte musical. Ao proporem-se meios diversificados para o trabalho da Educação Musical, será importante a análise de algumas relações da criança, como sendo o público alvo bem como o interessado na presente pesquisa. Estas relações são da criança com a arte, criança com o jogo, os sons e a música. Também será imprescindível o destaque dos aspectos em que a musicalização virá sanar e preencher as necessidades solicitadas pelo perfil do novo ambiente e comportamento social resultante de uma nova era. Estes destaques enfocam a relevância da Educação Musical na formação da criança, como ser global que se desenvolve de maneira surpreendente. Métodos ativos em musicalização infantil Alguns educadores musicais desenvolveram os elementos musicais, transformando-os em atividades lúdicas, que envolviam o esquema corporal e auditivo em vivências contínuas, e que foram chamados de métodos ativos. A sucinta apresentação que se faz nos tópicos seguintes sobre tais autores e seus respectivos métodos é justamente em função da relevância do professor conhecer as condições históricas e o contexto em que o ensino de música se dá em nossos dias, para que proceda tanto à avaliação crítica quanto às necessárias adaptações, e se aproveite efetivamente das contribuições que esses métodos podem trazer ao ensino da música no Brasil. O primeiro dos referidos métodos que aqui se apresenta é o de Émile Jaques Dalcroze. Artista e pedagogo, considerava a importância do equilíbrio do sistema nervoso na execução dos movimentos rítmicos. Segundo Dalcroze (1976), a ginástica rítmica é uma disciplina no sentido rítmico muscular; ela converte o corpo em um instrumento onde vibra o ritmo. Supõe então, o cultivo simultâneo do corpo e do ouvido (eurritmia- o ensino da música por meio de movimentos rítmicos). O método de Dalcroze visa desenvolver a comunicação entre ouvidos que escutam com a mente que analisa sensações orais, e o corpo que atua para produzir e interpretar os sons e sentimentos do ritmo musical. A autora Paz (2000) destaca a descoberta de Dalcroze: os alunos eram incapazes de sentir e expressar música; possuíam conhecimento mecânico, não musical. Ele quis convergir conhecimento mecânico, em entendimento musical. Os discentes desenvolveram habilidade para sentir, ouvir, inventar, imaginar, conceituar, relembrar, ler e escrever; apresentar e interpretar música. Com as descobertas de Dalcroze foram abaladas as bases tradicionais do ensino e aprendizagem do ritmo musical e da música em geral. Greif (1994) esclarece que as ideias de Dalcroze estavam em conformidade com o pensamento pedagógico da época, apoiado na biologia e na psicologia. Mostra ainda, a questão da experiência em educação, que está presente na filosofia de John Dewey, e de como esta se reflete em Dalcroze. “Seu objetivo era o experimentar ao invés do saber, como elemento detonador de um desejo de se expressar” (PAZ, 2000, p. 256). Dalcroze “explicita a funcionalidade do método mostrando que os exercícios rítmicos têm a função de auxiliar no reconhecimento da altura de sons e nos intervalos entre sons, na percepção dos sons harmônicos, na audição de cada nota dos acordes” (GREIF, 1994, p. 38). Paz (2000) coloca que para Dalcroze o ritmo é o elemento que mais afeta a sensibilidade infantil, e que a prática do método é revestida de grande prazer, concentração, criatividade, além da vivência da música propriamente dita. A autora enfatiza alguns aspectos que são desenvolvidos como o cultivo de atenção, a preparação e cultura do corpo, o desenvolvimento do ouvido e preparação para a música, os exercícios em conjunto, apreciação de espaço e disciplina grupal, e os exercícios de expressão individual espontânea musical e plástica. A influência de Dalcroze e de sua forma peculiar de lidar com o ensino musical gerou discípulos, como EdgarWillems, que também valorizou a ação corporal na concepção de seu método. Ele considerou que o verdadeiro ritmo está presente em todo o ser humano, está implícito em ações como andar, respirar, o pulsar do sistema circulatório e movimentos sutis causados pela emoção ou por pensamentos. O método Willems: É um método ativo de educação musical que tem 3 princípios básicos que são as relações psicológicas estabelecidas entre a música e o ser humano, a não utilização de recursos extra musicais dentro do ensino de música e enfatizava a necessidade do trabalho prático antes do ensino musical propriamente dito (WILLEMS, 1968,
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