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DIDÁTICA Graziella Souza dos Santos Metodologia: diferentes opções didáticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir metodologia no trabalho docente. Apontar opções metodológicas que podem ser adotadas no processo de ensino e aprendizagem. Relacionar a metodologia com o uso de diferentes recursos materiais. Introdução As metodologias não são compreendidas como simples técnicas de ensino, pois estão alicerçadas em pressupostos didáticos, políticos e pedagógicos que precisam ser explicitados. Neste capítulo, você estudará sobre as metodologias de ensino e aprendizagem e suas intersecções com o campo da didática. Além disso, conhecerá as metodologias de ensino e as principais concepções peda- gógico-didáticas que embasam as diferentes metodologias existentes. Em seguida, conhecerá alguns métodos gerais que podem ser aplicados em diferentes abordagens. Por fim, verá questões mais atuais sobre o assunto, como as contribuições das metodologias ativas de ensino-aprendizagem e o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) nas práticas metodológicas. 1 A didática e as metodologias no trabalho docente Em geral, no processo de formação de professores, tem-se muita expectativa com relação à aprendizagem sobre o que fazer e como fazer na prática pedagógica (CANDAU, 2014). Encontrar a maneira mais adequada para promover a aprendizagem dos alunos é a preocupação e o desejo de todos os educadores e educadoras. Entretanto, como veremos neste capítulo, tais questões não se restringem a uma discussão sobre métodos, embora eles sejam de grande relevância. Essas questões são tratadas, via de regra, em disciplinas voltadas à didática, campo que se dedica a pensar e produzir conhecimentos sobre as práticas pedagógicas, tendo como objeto central de estudo os processos de ensino e aprendizagem. Conforme Candau (2014, p. 14), toda a proposta didática, bem como a metodologia de ensino utilizada, está impregnada, “[...] implícita ou explicitamente, de uma concepção do processo de ensino-aprendizagem”. Por essa razão, não há como pensar em questões de método sem compreender alguns pressupostos centrais da didática. São temas centrais da didática: o processo de ensino e aprendizagem, os objetivos político-pedagógicos da educação escolar, os conhecimentos ou conteúdos escolares (currículo escolar), as metodologias e os métodos de ensino e aprendizagem, o planejamento escolar, o uso e a aplicação de recursos e técnicas e o processo de avaliação da aprendizagem (LIBÂNEO, 2013). Com isso, pode-se dizer que as discussões sobre metodologias de ensino estão inseridas no campo de estudos da didática, que envolve, para além da definição técnica de métodos, o estudo de diferentes teorias e abordagens pedagógicas. Dessa maneira, as metodologias de ensino ganham forma e um determinado sentido, situadas neste amplo espectro que envolve o campo da didática. As metodologias de ensino estão associadas aos fundamentos que orientam uma dada abordagem didática escolhida. Segundo Candau (2014), um primeiro aspecto importante no estudo da didática e das metodologias de ensino é que os processos de ensino e aprendizagem possuem três dimensões essenciais inter-relacionadas: humana, técnica e político-social. Logo, a didática utilizada e as metodologias praticadas acionam e colocam em funcionamento essas dimensões. A dimensão humana do processo de ensino e aprendizagem aponta para o aspecto individual, humano e subjetivo do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, há, certamente, um componente afetivo e aspectos peculiares que en- volvem os sujeitos de diferentes formas, implicando maneiras também distintas de aprender e, consequentemente, de ensinar. Essa dimensão do processo de ensino e aprendizagem torna necessário conhecer os sujeitos envolvidos, a fim de estabelecer vínculos e identificar as suas características, dificuldades e potencialidades, que são, portanto, plurais e diversas. Metodologia: diferentes opções didáticas2 A dimensão técnica do processo de ensino e aprendizagem envolve ações intencionais e planejadas e o saber técnico no sentido pragmático da palavra, isto é, a busca por estratégias e recursos específicos que pro- movam aprendizagem, definida a partir do conhecimento que se tem dos sujeitos (dimensão humana) e dos objetivos educativos elencados (dimensão político-social). É nessa dimensão que podemos situar mais amplamente as metodologias de ensino que buscam encontrar caminhos, recursos e formas para ensinar. Ocorre que, dado o caráter inter-relacionado dessas dimensões, tomar a dimensão técnica de maneira isolada, dissociada das demais dimensões, leva ao equívoco do tecnicismo, entendendo o método meramente como algo instrumental. Por fim, a dimensão político-social do processo de ensino e aprendizagem envolve a compreensão de que aluno se situa em um dado contexto político, social e cultural que, conforme Candau (2014), impregna toda a prática pe- dagógica. Assim, toda a prática pedagógica na qual se situam a didática e as metodologias de ensino estão implicadas em intencionalidades, objetivos e constrangimentos que visam à formação de determinados sujeitos para uma determinada sociedade. Portanto, essa dimensão aponta que as práticas pe- dagógicas e todos os aspectos que nela estão contidos não são neutros. Dessa forma, não há como pensar em metodologias de ensino sem ter clareza dos objetivos que se pretende alcançar, dos conhecimentos que se deseja construir e dos sujeitos que se pretende formar. Tendo-se em vista a complexidade das dimensões que envolvem os proces- sos de ensino e aprendizagem, não é possível apresentar uma única metodologia de ensino que seja eficaz para todos os sujeitos, em diferentes contextos. Decorre-se, então, um dos maiores desafios da didática: instrumentalizar os docentes teórica e metodologicamente para que sejam capazes de construir e aplicar as metodologias de ensino, as estratégias e as atividades que sejam adequadas aos sujeitos de forma coerente com os objetivos elencados e com a realidade encontrada. Assim, neste capítulo, são abordadas algumas questões fundamentais sobre metodologias de ensino, com devida cautela de alertar que as opções metodológicas adotadas deverão ser feitas sempre após alguns questionamentos centrais, que conferirão especificidades ao trabalho a ser empreendido pelos professores. Quem são esses sujeitos? Como é a realidade em que se encontram? Que sujeitos pretendo formar? Que habilidades e conhecimentos pretendo que meus alunos construam? Quais recursos possuo para o meu trabalho? 3Metodologia: diferentes opções didáticas De acordo com Libâneo (2013), metodologia de ensino envolve o estudo dos métodos, os conhecimentos teórico-metodológicos relacionados com determinadas concepções pedagógicas e as teorias de aprendizagem. Tais pressupostos apontam para procedimentos específicos, considerando-se a fundamentação e os objetivos de uma determinada perspectiva. Conforme o autor: A metodologia pode ser geral (por ex., métodos tradicionais, métodos ativos, método da descoberta, método de resolução de problemas, etc.) ou específica, seja a que se refere aos procedimentos de ensino e estudo das disciplinas do currículo (alfabetização, matemática, história, etc.), seja a que se refere a setores da educação escolar ou extraescolar (educação de adultos, educação especial, educação sindical, etc.) (LIBÂNEO, 2013, p. 54). Assim, quando pensamos ou falamos em metodologia, podemos nos referir a ela de uma forma bastante ampla, que envolve o modo como os educadores em geral tendem a estabelecer a relação entre alunos e objetos de conheci- mento, ou, ainda, de maneira mais específica, quando os educadores utilizam formas particulares de conduzir o processo de ensino e aprendizagem para determinados segmentos ou áreas. As metodologias de ensino guardam em si uma “[...]orientação filosófica fundada em concepções de homem, de mundo, de sociedade, de história, de existência, de educação, entre outros aspectos” (ARAÚJO, 2015, p. 4). Dessa forma, elas se inserem também em um dado contexto, em uma relação em torno de uma dada cultura, em uma concepção pedagógica, em uma escola e uma sociedade. Logo, as metodologias não são mecanismos universais que podem ser aplicados igualmente em quaisquer contextos. Assim, a busca por uma única metodologia que seja capaz de responder aos mais diversos dilemas da prática pedagógica em diferentes realidades é equivocada. Conforme Araújo (2015) e Libâneo (2013), os estudiosos do campo da didá- tica no Brasil têm mapeado e classificado as tendências pedagógico-didáticas em alguns grupos, aqui apresentados conforme a ordem de aparecimento no cenário educacional brasileiro: a) pedagogia tradicional; b) pedagogia renovada ou escolanovista; c) pedagogia libertadora; d) pedagogia tecnicista; e) pedagogia histórico-crítica ou pedagogia crítico-social dos conteúdos. Metodologia: diferentes opções didáticas4 Essas abordagens fundamentam-se em diferentes autores, em diferentes teorias pedagógicas de aprendizagem e em diferentes pressupostos políticos e filosóficos, a partir dos quais certos desenhos metodológicos são traçados e se desdobram no uso de alguns métodos e técnicas de maneira preferencial. Na pedagogia tradicional, que tem em Johann Friederich Herbart (1766–1841) um dos seus principais expoentes, a didática é uma disciplina normativa. Os métodos de ensino são centrados no professor, que é responsável por transmitir os conhecimentos aos alunos, que, por sua vez, devem receber e assimilar os conteúdos. Há uma grande importância conferida às disciplinas escolares. Os alunos tendem a assumir uma postura mais passiva no processo de ensino e aprendizagem, pois um dos principais métodos utilizados são as aulas expositivas, com apresentação oral da matéria pelo docente. A pedagogia renovada ou escolanovista possui várias correntes e diversos autores se inscrevem nessa perspectiva, conferindo aspectos distintos a essa abordagem, sendo John Dewey (1859–1952) seu principal representante. As teorias de aprendizagem de Jean Piaget e Lev Vygotsky são importantes referências nessa abordagem. No Brasil, Anísio Teixeira foi um dos nomes mais influentes no movimento da Escola Nova. Nessa abordagem, o aluno é o sujeito da aprendizagem, tornando-se ativo no processo. A ideia é que o aluno aprende melhor quando ele próprio constrói o conhecimento, fazendo descobertas em uma interação com o objeto de conhecimento e com o meio. É dessa matriz pedagógica que derivam as comumente denominadas metodologias ativas. Nelas, o professor é entendido como mediador e orientador das experiências de aprendizagem. Entre alguns dos métodos e estratégias de ensino e aprendizagem, destacam-se a realização de pesquisas, projetos, experimentos, trabalhos em grupo, estudos dirigidos, entre outros. O tecnicismo educacional ou pedagogia tecnicista tem seu aparecimento mais significativo no Brasil no período entre 1950 e 1980, com claras orientações políticas e ideológicas do regime militar, então vigente. Utilizando a teoria behaviorista (ou comportamentalista), essa abordagem pedagógica propõe uma didática bastante instrumental, tecnicista. O controle e a disciplina do processo são aspectos importantes da didática nessa perspectiva, por isso, há grande ênfase nas avaliações e nos testes realizados com os alunos. Entre as tendências consideradas mais progressistas, tem-se a pedagogia libertadora e a pedagogia histórico-crítica ou pedagogia crítico-social dos conteúdos. Essas escolas pedagógicas fundamentam-se amplamente nas teorias críticas da educação, que ganharam força no Brasil por volta da década de 1980. A tônica central dessas abordagens é a preocupação com as desigualdades so- 5Metodologia: diferentes opções didáticas ciais, propondo-se uma educação que contribua para a transformação social, de modo que há uma grande valorização da escola pública e da educação popular. No contexto brasileiro, Paulo Freire é uma das referências mais importantes dessas abordagens. Ambas as matrizes — pedagogia libertadora e pedagogia histórico-crítica ou pedagogia crítico-social dos conteúdos — possuem refe- renciais políticos-pedagógicos muito semelhantes, porém diferem em alguns aspectos, sendo um deles a sua perspectiva didática. Na denominada pedagogia libertadora, as disciplinas escolares possuem um lugar de menor destaque no cenário educacional, e não há uma grande preocupação com uma metodologia muito estruturada, delimitada, conside- rada cerceadora em alguns aspectos, visto que ofereciam alguns materiais didáticos, cartilhas ou manuais pedagógicos que propunham sequências didáticas bastante prescritivas. A proposta, aqui, é que os temas sociais e as realidades locais sejam os norteadores das atividades pedagógicas, com o intuito de analisá-las, compreendê-las e transformá-las. Embora essa tendência pedagógica não esteja interessada em oferecer uma didática específica, seus pressupostos fundamentam largamente as práticas com a educação de jovens e adultos. A pedagogia histórico-crítica ou crítico-social dos conteúdos está igualmente interessada em colaborar para a superação das desigualdades sociais, porém resguarda uma profunda preocupação com a difusão e o ensino e aprendizagem do conhecimento escolar, pois entende que ele é fundamental para a participação efetiva dos sujeitos nas lutas sociais. Nessa abordagem, há um grande interesse pelo âmbito da didática e das metodo- logias de ensino. Busca-se uma certa conciliação e superação dos limites entre a pedagogia tradicional e a escolanovista, dialogando e articulando com as principais contribuições entre essas abordagens. O aluno é visto como protagonista do processo de construção do conhecimento, e o professor ganha uma função central nessa relação. Elaboração de pesquisas, ativi- dades multiculturais, realização de projetos, atividades de sistematização e aprofundamento são alguns dos métodos e estratégias empregados nessa perspectiva (LIBÂNEO, 2013). É importante ressaltar que, embora possamos organizar cronologicamente o aparecimento dessas matrizes ao longo do tempo, com maior ou menor pre- sença, uma rápida visita a uma escola nos permite afirmar que essas abordagens circulam e se reinventam na escola contemporânea. Situar historicamente o seu aparecimento e compreender seus pressupostos é importante, pois auxilia no entendimento das opções didáticas e metodológicas que possuímos e da sua origem. De acordo com Araújo (2015, p. 1): Metodologia: diferentes opções didáticas6 Na verdade, existem expectativas e aspirações, há algumas décadas, de que as orientações tradicional, escolanovista e tecnicista tivessem sido efetivamente superadas teórica e praticamente. Porém, elas são revigoradas por estruturas e situações pedagógicas e didáticas diversas, fazendo vir à tona suas marcas. Assim, cada uma dessas concepções pedagógicas implica a tomada de alguns rumos didáticos e, consequentemente, a escolha de alguns métodos mais apropriados aos seus pressupostos e objetivos formativos. Compreender a questão das metodologias apenas como técnicas ou recursos de ensino é um equívoco. 2 As abordagens metodológicas e os métodos no processo de ensino e aprendizagem Dada uma determinada concepção metodológica, há métodos e estratégias de ensino coerentes com os fundamentos que orientam tal concepção. Segundo Araújo (2015), a análise etimológica da palavra método advém do grego e compõe-se da junção dos termos metá (que significa além de, em seguida) e hodós (caminho). Assim, a origem da expressão nos fornece alguns indicativos dos seus sentidos. Os métodos são, portanto, os caminhos, as técnicas, os meios escolhidos e definidos pelo professor para se atingir os objetivos propostos. A ideia de método como um caminho nosajuda a compreender que sempre há uma direção escolhida, ou seja, os métodos guardam em si escolhas, pressupostos teórico-metodológicos, por isso, não podem ser compreendidos apenas como técnicas e procedimentos neutros. Nesse sentido, Libâneo (2013, p. 166) afirma: Os métodos de ensino não se reduzem a quaisquer medidas, procedimentos e técnicas. Eles decorrem de uma concepção de sociedade, da natureza da atividade prática humana no mundo, do processo de conhecimento e, particu- larmente, da compreensão da prática educativa numa determinada sociedade. Nesse sentido, antes de se constituírem em passos, medidas, e procedimentos, os métodos de ensino se fundamentam em um método de reflexão e ação sobre a realidade educacional, sobre a lógica interna e as relações entre os objetos, fatos e problemas dos conteúdos de ensino, de modo a vincular a todo momento o processo de conhecimento e a atividade prática humana no mundo. 7Metodologia: diferentes opções didáticas Os métodos de ensino derivam da conjunção entre conteúdo, objetivo e pressupostos pedagógico-didáticos, e é com base nessa tríade que o método é elaborado. Considere o seguinte exemplo: tem-se o conteúdo “lixo”, cujo objetivo de aprendizagem é “compreender as relações entre o consumismo e o aumento do lixo”, e assume-se uma compreensão pedagógica que entende que “o aluno é o protagonista da construção do conhecimento, mediado pelo professor”. Quais métodos podem ser utilizados para que os alunos alcancem a aprendizagem desejada? Quaisquer que sejam as respostas que possamos aqui elencar — e serão sempre algumas, dentro de um universo de possibilidades —, elas sempre partirão do que prevê o objetivo. O objetivo em questão prevê que o aluno seja capaz de compreender dois fenômenos distintos: o consumismo e a degradação do meio ambiente por meio do aumento do lixo produzido. Ao mesmo tempo, ele deve estabelecer relações de causa e efeito entre esses fenômenos, possivelmente caminhando no sentido de uma reflexão sobre consumo consciente. Um objetivo como esse requer métodos de ensino que promovam a aprendizagem nesse sentido. Assim, podem ser utilizados os seguintes meios: ■ leitura e estudo de materiais diversos sobre os temas “lixo” e “consumismo”; ■ visita a um galpão de reciclagem para verificar quais são os materiais mais descartados; ■ elaboração de relatório e síntese da visita; ■ sessão para assistir ao filme Lixo extraordinário; ■ debate sobre o filme; ■ pesquisa individual sobre os hábitos de consumo dos alunos; ■ apresentação das pesquisas; ■ sistematização individual e coletiva sobre as relações entre o consumismo e o aumento da produção de lixo. Se o objetivo fosse outro, como “identificar os grupos que compõem a classificação dos resíduos sólidos do lixo”, teríamos um rumo diferente a seguir, com métodos que conduzissem à aprendizagem estimada. Assim, é importante ter clareza de que os conteúdos de ensino no caso exemplificado — “lixo” — não são o objeto da apren- dizagem em si. É preciso ter a compreensão do que se deseja que o aluno conheça ou saiba fazer com aquele conhecimento. Situa-se, aqui, a importância dos objetivos, pois eles delinearão o percurso a seguir. Desse modo, antes de se pensar pragmati- camente em métodos, é preciso descobrir se os conteúdos e os objetivos de ensino e aprendizagem estão claros e adequados; esse é um passo fundamental para iniciar qualquer conversa sobre métodos de ensino. Metodologia: diferentes opções didáticas8 Os objetivos de aprendizagem não ocorrem naturalmente: requerem uma ação programada, uma sequência de ações planejadas, um meio ou um método adequado para alcançá-los. Portanto, os métodos de ensino dependem dos objetivos construídos. Pode-se constatar, então, a relação de interdependên- cia entre conteúdo, objetivo e método. Os “[...] métodos [...] são as formas pelas quais os objetivos e conteúdos se manifestam no processo de ensino” (LIBÂNEO, 2013, p. 169). Buscou-se mostrar, até aqui, que o método é uma das dimensões contidas no processo de ensino e aprendizagem, inserido em uma dada metodologia e construído a partir de determinadas concepções pedagógico-didáticas. Ademais, o método ganha sentido se tomado conjuntamente com os conteúdos e, principalmente, com os objetivos de ensino. Tendo-se em vista todos esses elementos em jogo, é possível afirmar que o método de ensino de um professor é sempre algo em construção, ou seja, o professor, como intelectual criativo, arquiteta o seu método e constrói estratégias diante de uma determinada rea- lidade escolar. Dessa forma, ainda que possamos compartilhar experiências e modelos, há sempre um trabalho a ser feito pelo professor, e, nesse sentido, as metodologias são sempre, em alguma medida, inacabadas. Há riscos diversos em se pretender encaixar hermeticamente uma de- terminada proposta metodológica em outros contextos. Entretanto, para os educadores, diante de um contexto sociocultural que muda constantemente, em contextos escolares sempre desafiadores, conhecer, discutir e compreender métodos diversos são sempre tarefas relevantes. Diferentes autores agrupam e nomeiam de formas variadas os métodos de ensino. Libâneo (2013), por exemplo, apresenta o que ele denomina mé- todos gerais de ensino, que podem ser utilizados em diferentes perspectivas pedagógico-didáticas, ajustando-se aos objetivos propostos. São eles: 1. Método de exposição pelo professor ou método expositivo: esse método é centrado na ação do professor, que explica e demonstra, geralmente de forma verbal, os conhecimentos. No método expositivo, o aluno assume uma postura mais receptiva, que não significa necessariamente ser pas- siva. É importante salientar que, embora esse método receba críticas por presumir pouca participação do aluno, a exposição verbal e sistemática dos conhecimentos é um recurso importante e valioso para a assimilação e a compreensão de alguns conteúdos. O desafio, aqui, é não o utilizar como único método de ensino e aprendizagem, pois, como em qualquer outro método, há possibilidades e limites em sua utilização. 9Metodologia: diferentes opções didáticas 2. Método de trabalho independente ou método de trabalho individual: conforme o próprio nome sugere, a estratégia central nesse método é que o aluno realize, de maneira individual e independente, algumas tarefas, que podem se apresentar de inúmeras formas, mobilizando diferentes aprendizagens. Podem ser tarefas de aplicação de conteúdos, estudos dirigidos, resolução de problemas, leituras, produção escrita individual, etc. A aplicação desse método ao longo das aulas é um importante recurso para acompanhar a aprendizagem dos alunos. 3. Método de elaboração conjunta ou coletiva: nesse método, pressupõe- -se a interação e a participação entre professores e alunos na elaboração dos conhecimentos e na realização das tarefas. A aplicação desse método pode ser feita por meio de uma conversa ou uma exposição dialogada, em que, de maneira conjunta, serão construídas hipóteses e conclusões, ou, por exemplo, durante a elaboração de textos coletivos, em que há a participação e a intervenção ativa dos alunos e do professor. O funcionamento desse método se dá, sobretudo, por meio de perguntas, instigações e provocações que o professor faz à turma. 4. Método de trabalho em grupo: esse método prevê a realização e a elaboração coletiva de tarefas entre grupos de alunos. A proposta almeja construir o conhecimento em colaboração com o outro, pro- movendo trocas, escuta, diálogo, divisão de tarefas e coordenação de atividades. O trabalho em grupo pode assumir inúmeros formatos: projeto de pesquisa, debate, simulação de um júri, organização de um teatro ou apresentação de trabalhos. Contudo, independentemente das modalidades, é importante que elas sejam acompanhadas e orientadas por um plano de trabalho, com objetivos claros e construção de um relatório com uma síntese das aprendizagens construídas.5. Atividades especiais: envolvem, de maneira geral, uma estrutura ou recursos especiais que não são comumente encontrados no espaço limitado de uma sala de aula. Essas atividades podem abranger desde recursos diferenciados (vídeos, materiais, etc.) até espaços que ultra- passam, em alguns casos, os muros da escola, como, por exemplo, atividades exploratórias extraclasse, experimentos em laboratórios, visitas a museus, cinemas, entre outros espaços. Além dos métodos mais gerais, que podem ser adaptados às diferentes perspectivas metodológicas, há metodologias que se apresentam de ma- neira mais delineada, com pressupostos bastante explicitados, em que há tipificação de atividades, sequenciamento de etapas e métodos específicos Metodologia: diferentes opções didáticas10 (LIBÂNEO, 2013). Por exemplo, se nos voltarmos às experiências de alfa- betização, há inúmeras metodologias e métodos desenvolvidos, específicos a essa modalidade, que envolvem pressupostos teóricos distintos sobre o processo de ensino e aprendizagem da língua materna. Além disso, há diversos conhecimentos produzidos e uma literatura especializada para discutir essas questões. Para saber mais sobre os métodos utilizados no processo de ensino e aprendizagem da língua materna, leia o livro Alfabetização: a questão dos métodos, de Magda Soares. Com alguma frequência, surgem materiais dispostos a apresentar novas metodologias e métodos mais gerais aos professores. Ao longo dos últimos anos, as metodologias ativas têm ganhado grande notoriedade no cenário da didática. Convém lembrar que as metodologias ativas, em si, não se tratam de um fato novo no cenário educacional, pois possuem suas raízes na pedagogia da Escola Nova e, especialmente, nas formulações de John Dewey, como visto na parte inicial deste capítulo. Nessa concepção, há um deslocamento da perspectiva do docente para o estudante, que passa a ocupar o centro do processo de ensino e aprendizagem, contrapondo-se à abordagem tradicional, centrada no professor. Assim, os alunos passam a assumir um papel ativo na aprendizagem, com “[...] suas experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do conhecimento” (DIESEL BALDEZ, MARTINS, 2017, p. 270). As metodologias ativas buscam estimular a autoaprendizagem, envolvendo os estudantes em pesquisas, reflexões, tomadas de decisão e outras estratégias que promovam o seu desenvolvimento autônomo, como preconizavam os autores do movimento escolanovista. Os defensores das metodologias ativas apoiam-se, ainda, nas contribuições advindas da neurociência, conforme sinaliza Bacich e Moran (2018, p. 3): A aprendizagem é ativa e significativa quando avançamos em espiral, de níveis mais simples para mais complexos de conhecimento e competência em todas as dimensões da vida. Esses avanços realizam-se por diversas trilhas com movimentos, tempos e desenhos diferentes, que se integram como mosaicos 11Metodologia: diferentes opções didáticas dinâmicos, com diversas ênfases, cores e sínteses, frutos das interações pes- soais, sociais e culturais em que estamos inseridos. [...] As pesquisas atuais da neurociência comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, e que cada pessoa aprende o que é mais relevante e o que faz sentido para si, o que gera conexões cognitivas e emocionais. Embora as fundações dessas correntes metodológicas não sejam neces- sariamente todas recentes, a novidade em questão é que diversos estudiosos têm aprofundado o estudo de métodos e técnicas que se inscrevem nessa perspectiva, oferecendo aos professores um acervo em expansão de práticas de metodologias ativas. A visibilidade dessas metodologias também decorre do fato de que o método ativo tem sido amplamente divulgado em universidades estrangeiras, as quais têm recriado propostas, incorporando, sobretudo, contribuições e inovações oportunizadas pelas TICs. Tudo isso produz um grande apelo (inclusive comercial) pela aplicação desses métodos nos diversos níveis da docência, causando um primeiro e maior impacto em instituições privadas e na docência do ensino superior, de modo especial. Inseridos no amplo espectro das metodologias ativas, há uma série de métodos específicos à disposição dos professores, de modo que eles podem combinar as estratégias conforme a necessidade e o interesse dos alunos. Sala de aula invertida (flipped classroom): esse método pressupõe que os alu- nos sejam responsáveis por realizar um estudo prévio, fora do espaço escolar, sobre um tema específico. Assim, os alunos estudarão sozinhos, em um primeiro momento, por meio de indicações de materiais de estudo do professor. Somente depois desse processo é que o professor entrará em ação para tratar dúvidas e aprofundar questões. Aprendizagem baseada em problemas (problems-based learning): consiste em organizar o estudo, com eixo central na pesquisa para o levantamento de causas possíveis ou geradoras de um “problema” ou fenômeno. Além de encon- trar apenas uma solução, a ideia é buscar entender os processos que geraram um determinado fato ou situação. Gamificação e aprendizagem por jogos e histórias (storytelling): o fascínio pelo universo dos jogos (games), virtuais ou não, e a mobilização e a atenção em torno da narração de uma história podem ser recursos preciosos para promover a aprendizagem. Essas técnicas envolvem desde uma versão mais simplificada, Metodologia: diferentes opções didáticas12 Mais conhecida pelos educadores, a metodologia de projetos tem sido re- conhecida amplamente como uma importante prática ativa. Nessa metodologia de ensino e aprendizagem, os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolver um problema ou aprofundar um assunto de seu interesse. Hernández (1998), um dos estudiosos contemporâneos da metodologia de projetos (que também possui suas origens no pensamento de John Dewey), argumenta que essa abordagem, além de reunir diversos procedimentos capazes de mobilizar ativamente os alunos, permite o trabalho interdisciplinar. Segundo ele, a metodologia de projetos promove: 1) o tratamento da informação 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio (HERNÁNDEZ, 1998, p. 37). Na metodologia de projetos e nas demais estratégias apresentadas, o aluno é corresponsável e protagonista do processo de construção do conhecimento, porém, em todas elas, o papel do professor segue sendo primordial. Como visto, o professor é o sujeito responsável que fará a conexão entre os conteúdos, os objetivos e as concepções pedagógico-didáticas, processos fundamentais para que se vislumbrem os meios a seguir. Ademais, é importante reforçar novamente que, sejam quais forem as opções metodológicas escolhidas pelo professor, há ainda um longo trabalho criativo e intelectual a ser feito, adequando-se as práticas pedagógicas ao contexto de cada realidade escolar. Antes de encerrarmos este capítulo, é importante levantar algumas questões sobre a relação entre os recursos materiais e as metodologias. que prevê o simples uso mais recorrente e potente desses recursos nas aulas, até experiências mais complexas, como, por exemplo, elaborar um game com a turma que represente/sintetize alguma unidade de aprendizagem estudada. Ouvir, contar e compartilhar histórias também pode mobilizar muitas aprendizagens. Conforme Bacich e Moran (2018), as narrativas são elementos poderosos de motivação e produção de conhecimento. Para os autores, é importante utilizar narrativas, his- tórias, simulações, imersões e contos fantásticos sempre que possível, com ou sem recursos tecnológicos. 13Metodologia: diferentes opções didáticas 3 Metodologias e recursos materiais: as contribuições das TICs Como foi argumentado ao longo do texto, há diversoscaminhos possíveis para um professor assentar a sua metodologia. O uso de recursos materiais, sobretudo tecnológicos, pode, sem dúvida, agregar muito nesse processo. Todavia, conforme Diesel, Baldez e Martins (2017, p. 284), “Percebe-se que a utilização de novos recursos tecnológicos durante as aulas não altera esse cenário de insatisfação coletiva, posto que, sozinha, a tecnologia não garante aprendizagem, tampouco transpõe velhos paradigmas”. Assim, não restam dúvidas de que inundar a aula de recursos de tecnologia e informação não assegura o funcionamento, tampouco o sucesso de metodologias, sejam quais forem as abordagens utilizadas. Entretanto, também é amplamente reconhecido que a geração atual de estudantes, seja ela oriunda de classes favorecidas ou não, é permeada, com maior ou menor intensidade, por formas diversas de tecnologias. É um fato raro encontrar uma sala de aula em que os professores não precisem conviver e disputar a atenção com smartphones e outros dispositivos eletrônicos. Desse modo, conhecer essas tecnologias e utilizá-las em favor da aprendizagem torna- -se cada vez mais necessário. Nesse sentido, Candau (2015, p. 331) afirma que: O impacto das tecnologias da informação e da comunicação sobre os processos de ensino–aprendizagem obriga a buscar novas estratégias pedagógicas. Os sujeitos da educação, crianças e adolescentes, apresentam configurações iden- titárias e subjetividades fluidas que escapam à compreensão dos educadores/as. Assim, conhecer e dominar gradativamente as TICs é uma tarefa central para os professores de quaisquer segmentos. Não se trata apenas de deixar a aula mais atrativa e dinâmica, mas, sobretudo, de conhecer e dominar o potencial que essas ferramentas trazem consigo para promover mais aprendizagem. Além disso, é igualmente relevante promover estudos e reflexões sobre o uso e a presença das TICs na vida dos estudantes. Tendo-se em vista as incontáveis e distintas realidades existentes, não é possível apontar uma listagem de sites, aplicativos, software, ferramentas tecnológicas ou dispositivos eletrônicos que possam ser úteis e estejam dispo- níveis a todos os docentes. Uma rápida consulta em sites de busca é suficiente para se localizar facilmente inúmeras sugestões que podem deixar as aulas mais interativas, aproximando as relações e tornando as aulas mais atrativas e significativas para todos. Metodologia: diferentes opções didáticas14 Entretanto, é importante enfatizar que, em muitos contextos, antes de utilizar esses recursos, faz-se necessário, primeiro, auxiliar os alunos a faze- rem o uso consciente e crítico dessas ferramentas. Trata-se de educar para a cidadania, que, atualmente, também se manifesta de maneira virtual. Por fim, enfatizamos que o sucesso e a eficácia das metodologias não dependem exclusivamente da existência de recursos tecnológicos mais so- fisticados. Livros, filmes, músicas, pesquisas e visitações, por exemplo, são fontes ricas de aprendizagens que podem favorecer o processo de ensino e aprendizagem. Sabe-se que, em muitas realidades, as condições precárias de trabalho dos professores, o alto nível de estresse e os desafios cotidianos provocam um mal-estar entre os profissionais da educação. É recorrente, também, ouvir os docentes compartilharem suas angústias diante do aluno desses nossos tempos. Essas questões impõem à escola e a seus sujeitos a necessidade de repensar muitas vezes os seus formatos e as suas práticas (CANDAU, 2015). Nesse prisma, Candau (2015) afirma que é necessário (re)construir uma escola que seja mais capaz de dar respostas aos desafios da contemporaneidade e de promover processos de ensino e aprendizagem mais qualificados e potentes. Muito longe de responder a todos esses desafios, pretendeu-se, com este capítulo, oferecer subsídios para se pensar a didática e as metodologias de ensino que temos utilizado. Teve-se, aqui, a preocupação de apresentar, ainda, alguns percursos metodológicos e estratégias que têm sido bastante discutidos no cenário educacional, com o intuito de oferecer e ampliar o acervo de estratégias que podem ser utilizadas pelos docentes. ARAÚJO, J. C. S. Fundamentos da metodologia de Ensino Ativo (1890-1931). Anais 37ª REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, 37., 2015. Anais... Florianópolis, 2015. Disponível em: <http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt02-4216.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2018. BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. CANDAU, V. M. (Org.). A didática em questão. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2014 15Metodologia: diferentes opções didáticas Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. CANDAU, V. M.; KOFF, A. M. N. S. A didática hoje. Educação & Realidade, v. 40, n. 2, p. 329-348, abr./jun. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edreal/v40n2/2175- 6236-edreal-46058.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2018. DIESEL, A.; BALDEZ, A. L. S.; MARTINS, S. N. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Revista Thema, v. 14, n. 1, 2017. Disponível em: <http:// revistathema.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/viewFile/404/295>. Acesso em: 3 ago. 2018. HERNÁNDEZ, F. Transgressã o e mudanç a na educaç ã o: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998. LIBÂNEO, J. C. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2012. Leituras recomendadas HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016. Metodologia: diferentes opções didáticas16
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