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ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ETAPA 2 Autor Liz Ehlke Cidreira Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS 1 MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE Foi possível ver, durante a primeira etapa do Curso de Análise de Risco Socioambiental nas Instituições Bancárias, que a humanidade vem explorando o meio ambiente e os seus recursos naturais há muitos anos. Porém, com o passar dos anos, essa exploração vem aumentando, devido à necessidade da humanidade estar ficando maior, tanto do ponto de vista tecnológico quanto do ponto de vista do crescimento populacional. Para os autores Silva e Francischett (2012, p. 3) a degradação ambien- tal teve maior ênfase com a Revolução Industrial e, a partir dela, “houve um processo acelerado de urbanização e índice elevado de consumo, principal- mente de bens naturais, sem as condições e o tempo necessário para que a natureza consiga realizar o seu ciclo e assim se recompor”. Nos dias atuais, com a ampliação do êxodo rural e o aumento da cons- trução de cidades, há uma grande preocupação por toda a população no que se diz respeito à qualidade ambiental. Para Quirino e Souza (2014, p. 4), “esse assunto é de muita importância, pois a degradação das cidades é um grande fator de risco para saúde e bem-estar da população, podendo trazer consequências graves, também, para o próprio ambiente”. Como exemplo do que foi citado anteriormente, podemos observar o Gráfico contido na Figura 1. Este gráfico indica como ocorreu a urbanização brasileira dos anos 1940 até o ano de 2010. Pode-se perceber que no ano de 1940 existia cerca de 69% da população residindo em áreas rurais e apenas 31% dos habitantes brasileiros residindo em áreas urbanas. Já nos anos de 1980, a porcentagem da população urbana ficou maior do que o dobro que era encontrado em 40, passando de 31% para 66% da população residindo nas cidades e suas regiões. Conforme demostra essa tendência apresentada ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ETAPA 2 CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS no gráfico a seguir, os anos de 2010 mostraram que apenas 16% da popula- ção da época residia em áreas com características rurais, passando assim a se ter 84% da população residindo nas áreas urbanas. FIGURA 1 – GRÁFICO DA TAXA DE URNANIZAÇÃO BRASILEIRA FONTE: <https://bit.ly/354ebMF>. Acesso em: 28 mar. 2021. Descrição da imagem: gráfico que ilustra a taxa de urbanização brasileira entre os anos de 1940 e 2010. Para Gouvea (2018), com o grande crescimento populacional e a expansão dos níveis de produção, o homem foi transformando o ecossistema natural em cidades por meio de ações sociais e econômicas em conjunto com ações políticas e culturais, adaptando esse ambiente às necessidades humanas. Em outras palavras, os contornos urbanos são produtos das mudanças econômicas, políticas, demográficas e sociais, onde são observados processos contínuos de renovação urbana, resultando em ambientes mais diversificados, ou seja, o antigo e o contemporâneo. Como resultado desse avanço populacional às áreas urbanas, diversos problemas ambientais (também chamados de impactos ambientais) surgiram, devido há a progressão de centros urbanos aliado à diminuição da oferta de recursos naturais. Alguns destes problemas, que foram agravados com o aumento das cidades, são: • Desaparecimento da vegetação. • Mudanças no microclima. • Aumento de temperatura. • Aumento do consumo de produtos industrializados. • Aumento da geração de resíduos (lixo). CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS • Deposito irregular de resíduos líquidos e sólidos. • Aumento do consumo de combustíveis fósseis. • Poluição do ar. • Efeito estufa. • Chuvas ácidas. • Diminuição da disponibilidade de água potável. • Poluição dos rios e dos lençóis freáticos. • Avanço das construções sobre às áreas de preservação dos rios. • Entre outros. A Figura 2 ilustra alguns dos impactos ambientais negativos que podem ser encontrados nos centros urbanos. FIGURA 2 – IMPACTOS AMBIENTAIS NOS CENTROS URBANOS FONTE: <https://sites.google.com/site/estudandoaquiferos/impactos-ambientais>. Acesso em: 28 mar. 2021. Descrição da imagem: a imagem retrata um centro urbano e os imapctos ambientais negativos que podem ser encontrados nessas áreas, como deposito de lixo em locais irregulares, vazamentos e contaminações. Com a finalidade de buscar uma alternativa para a minimização dos impactos citados anteriormente, estudiosos da área indicam o planejamento urbano e ambiental e as cidades sustentáveis como alternativas possíveis para realizar o controle dos riscos que a população e o meio ambiente estão expostos. Na opinião dos autores Silva e Francischett (2012, p. 3): CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS A situação ambiental vem agravando-se cada vez mais e, o planejar ambientalmente significa trazer quais são as alternativas para melhorar o equilíbrio entre social e ambiental, embora sejam integrados e juntos formam o ambiente, mas o predomínio da ação antrópica vem sendo o principal desafio para a questão ambiental, pois, o planejamento tem como um dos objetivos prever a participação de diversos setores da sociedade levando em consideração a questão econômica, que, nem sempre está focada no mesmo objetivo. Por isto, o planejamento ambiental voltado ao interesse meramente econômico ainda precisa ser reavaliado. Contudo, os mesmos autores ainda informam que o planejamento e a gestão ambiental vêm encontrando seu espaço e também a acepção da população e dos políticos, pois a era contemporânea apresenta diversos instrumentos tecnológicos que propiciarão enormes benefícios, se bem utilizados, em prol do meio ambiente, pois trabalhar coletivamente será a melhor maneira para que se tenha uma melhor qualidade de vida visando à relação entre o social e o natural. Para Quirino e Souza (2014, p. 4): “a grande problemática desse assunto é quais medidas podem ser tomadas pelo governo e pela sociedade para melhorar a qualidade de vida da população nas cidades”. Existe um programa chamado Programa Cidades Sustentáveis (PCS) o qual se trata de uma agenda de sustentabilidade urbana que incorpora as dimensões social, ambiental, econômica, política e cultural no planejamento municipal. Desde 2012, o PCS atua na sensibilização e mobilização de governos locais para a implementação de políticas públicas estruturantes, que contribuam para o enfrentamento da desigualdade social e para a construção de cidades mais justas e sustentáveis (PSC, 2021). Estruturado em 12 eixos temáticos, al inhados aos Objet ivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, o programa oferece ferramentas e metodologias de apoio à gestão pública e ao planejamento urbano integrado, além de mecanismos de controle social e estímulo à participação cidadã. O PCS também oferece um banco de boas práticas com casos exemplares de políticas públicas no Brasil e no mundo, um programa de formação e capacitação para gestores públicos municipais, documentos de orientação técnica e conteúdos informativos para o público geral. As metodologias, ferramentas e demais conteúdos do programa são disponibilizados nesta plataforma, um ambiente web aberto e de acesso livre, com recursos interativos e funcionalidades para gestores públicos e outros usuários. Um projeto de destaque do PCS, relativo à questão socioambiental são áreas verdes (ou também chamados de cinturões verdes) que foram criados na região de Munique, na Alemanha. Os cinturões verdes foram criados ao redor da cidade, aliados à construção de bairros ecológicos e densos, com um excelente acesso ao transporte público. Conheça mais sobre o Programa Cidades Sustentáveis em: https://www.cidadessustentaveis.org.br/inicial/home.CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Além da questão ambiental, os impactos e a desorganização na construção das cidades têm reflexos negativos também na população. Para os autores Barbosa e Nascimento Júnior (2019), a cidade é o lugar da identidade de seus moradores. É o local onde os habitantes se encontram, trabalham, trocam experiências, praticam o lazer, expressam seus hábitos, costumes e valores. Entretanto, o valor estabelecido no mercado econômico sobrepõe- se sobre os valores humanos e sociais. O desequilíbrio no ambiente urbano é resultado dessa apropriação, instituindo-se novos espaços ocupados com outros interesses. Assim, a ecologia urbana tem se descaracterizado, porque “quem passa a organizar o ambiente é o capital ou os valores dos grandes empresários que se apropriam da natureza de forma especulativa” (BARBOSA, NASCIMENTO JÚNIOR, 2019, p. 28). Ainda, para os mesmos autores, as contradições entre as classes sociais têm relação com a falta de uma gestão favorável ao ambiente como um todo, agravando ainda mais as contradições de classes sociais, assim como as formas de utilização dos recursos. Reforçam os autores que a construção de uma concepção de modelo para a cidade deve ser repensada, saindo das visões: ecocêntricas, calcadas em semelhanças harmoniosas entre sociedade e natureza no seu significado extremo; e das tecnocêntricas, que encontram solução para todas as dificuldades nas combinações entre tecnologia, mercado e governo. De acordo com Jacobi (2006, p. 116), os desafios metropolitanos da atualidade é que “as cidades criem as condições para assegurar uma qualidade de vida que possa ser considerada aceitável, não interferindo negativamente no meio ambiente do seu entorno e agindo preventivamente para evitar a continuidade do nível de degradação”, especialmente nas regiões mais vulneráveis. 2 ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL Através da seção anterior, foi possível entender como o meio ambiente e a sociedade se desenvolveram ao longo dos anos. Malgarim (2007, p. 68) informa que para entendermos sobre os riscos e os perigos produzidos atualmente, é primordial a conceituação do risco e de suas características. Para ela, o sentido comum da palavra risco significa uma possibilidade de perigo, de dano, um acontecimento eventual, incerto, cuja ocorrência não depende da vontade dos interessados. Ganha, no entanto, nova roupagem na conceituação de Beck (2002, p. 5 apud MALGARIM, 2007, p. 68), que diz ser o risco o enfoque moderno da previsão e do controle das consequências futuras da ação humana, consequências estas que não são desejadas na modernização radicalizada. É uma intenção (institucionalizada) de colonizar o futuro, um mapa cognitivo. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Malgarim (2007) ressalta que a ideia de risco, reside na identificação de uma mudança qualitativa no conflito da condição moderna em seu período mais recente. Enquanto, num primeiro momento, a modernidade se estruturou em determinadas certezas, no momento atual elas teriam dado lugar a riscos globais expressos nas ameaças da militarização, nos problemas ambientais, nos direitos humanos. Na passagem de um a outro período, foram diminuídos os conflitos estruturados em torno da oposição capital-trabalho, típicos da sociedade industrial, e passaram ao primeiro plano estes conflitos globais que atingem diferentes classes sociais. Passa-se do progresso ao risco, das certezas à insegurança. Conforme descrito no item anterior e reforçado por Mendonça (2004, p. 140), o processo de urbanização atingiu, no final do século XX e início do XXI, índices bastante elevados, resultando que na atualidade a população do planeta é, majoritariamente, urbana. Essa condição engendra uma série de novos e complexos problemas para a compreensão e gestão do espaço e da sociedade urbanos, sendo que aqueles de ordem socioambiental se encontram destacados no contexto das cidades, particularmente daquelas de países em condições socioeconômicas de alta complexidade, como é o caso do Brasil. O mesmo autor ainda informa que muitas são as perspectivas teóricas e metodológicas lançadas nas últimas décadas para o estudo da urbanização e da cidade, todavia a abordagem dos problemas socioambientais urbanos ainda carece de propostas para o tratamento mais abrangente dos mesmos. A gravidade destes problemas no presente, demanda, por conseguinte, maior atenção de estudiosos e gestores urbanos. Já para Andrade et al. (2003, p. 460-461), na segunda metade do século XIX, o meio ambiente surgiu como um campo do conhecimento dedicado ao estudo da economia da natureza ou das relações dos seres vivos com os meios em que vivem. Problematizando a questão ambiental através do uso da equação recurso-escassez, essa vertente atribui aos elementos da natureza uma utilização econômica e coloca o controle e a proteção dos recursos naturais como a principal via de resolução dos problemas ambientais. Mendonça (2011, p. 112) corrobora que a urbanização, enquanto processo de dinamização das cidades, não apresentaria nenhum problema em si mesma não fossem suas diferentes e complexas formas de manifestação. Considerando-se a tendência de formação de macrorregiões urbanas, ou cidades-região, nos países não desenvolvidos nas próximas décadas como sequência à geografia das cidades na atualidade, muitos problemas se avizinham às preocupações humanas com a gestão urbana. A formação e agravamento de riscos de toda ordem, associados às vulnerabilidades da população, por exemplo, são aspectos que demandam um maior envolvimento da ciência, da técnica e da política no seu tratamento. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Por um considerável período os problemas relacionados aos espaços citadinos e ao ambiente urbano foram tratados na perspectiva de impactos ambientais urbanos. Nessa abordagem, dentro da qual inúmeras contribuições foram lançadas na perspectiva da solução dos problemas que afligem os homens nas cidades, privilegiou-se, na maioria das vezes, um tratamento de cunho naturalista; assim, ganharam destaques estudos relativos ao verde urbano, à degradação hídrica, do ar e dos solos, às inundações e deslizamentos de terras etc. (MENDONÇA, 2004, p. 140). Tendo como pressuposto a concepção de impactos e riscos ambientais, e observando-se a maior complexidade dos problemas atinentes aos contextos urbanos, novas perspectivas têm sido lançadas para o entendimento dos mesmos. Nesse sentido, podem ser citadas as abordagens da análise socioambiental, da sustentabilidade socioambiental e da vulnerabilidade socioambiental (MENDONÇA, 2004, p. 141). Em 1998, o Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCDS), primeiro organismo internacional puramente empresarial com ações voltadas à sustentabilidade, definiu Responsabilidade Socioambiental como: “o compromisso permanente dos empresár ios de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo” (COMINI et al., 2013, p. 4). O mesmo autor ainda informa que: a sustentabil idade socioambiental em uma corporação representa o compromisso contínuo da empresa com seu comportamento ético e com o desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo em que promove a melhoria da qualidade de vida de sua força de trabalho e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo, a sustentabilidade também é um fator importante para as empresas como a qualidade do produto ou do serviço, da competitividade nos preços e da marca comercialmente forte. Já se foi estudado que o termo sustentabilidade foi lançado e ficou conhecido mundialmente no ano de 1987, por meio da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, através da redaçãodo Relatório de Brundtland. Desse momento em diante, a sustentabilidade começou a ser aplicada em diversos setores, principalmente os que consideram o tripé do desenvolvimento sustentável em seu dia a dia, sendo este o caso da sustentabilidade empresarial, pois as empresas começaram a não considerar apenas o desempenho financeiro, como lucro e retorno sobre o investimento aplicado, mas também sob uma perspectiva ambiental, social e econômica. Para Br i to (2016), os conceitos – desenvolvimento sustentável , responsabilidade social, responsabilidade ambiental – passaram a orientar as organizações em uma prática de uma gestão responsável, considerando a relação ética e transparente com todos os públicos – stakeholders: clientes, CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS consumidores, fornecedores, acionistas etc. – que se relacionam com a empresa para o desenvolvimento sustentável do seu negócio e da sociedade, preservando os recursos ambientais e humanos para as gerações futuras proporcionando diversos benefícios para sociedade e organizações Farah (2017) informa que as empresas ao desempenhar suas funções, utilizam recursos financeiros (caixa, capital de terceiros), recursos ambientais (água, energia) e recursos sociais (pessoas da comunidade, infraestrutura dos órgãos públicos, mão de obra) e para que sejam consideradas sustentáveis, precisam medir seus resultados de modo a apresentar o retorno sobre o investimento positivo e os aspectos das três dimensões: ambiental, social e econômica. A dimensão ambiental refere-se ao capital natural de um empreendimento ou sociedade. A princípio, praticamente toda atividade econômica tem impacto ambiental negativo. Nesse aspecto, a empresa ou a sociedade deve pensar nas formas de amenizar esses impactos e compensar o que não é possível amenizar. A fase final da vida de um produto, normalmente afeta aspectos ambientais (qualidade do ar, qualidade da água, uso de energia e geração de resíduos etc.). Dessa forma, para que sejam aplicados e seguidos os conceitos de sustentabilidade, espera-se que os produtos sejam inteligentes, de uma maneira que sejam reciclados, reutilizados e manufaturados. Não havendo possibilidade de seguir nesta linha, o descarte deve ser adequado sem que prejudique e afete o meio ambiente. Já, para o mesmo autor, a dimensão social diz respeito ao capital humano de um empreendimento, comunidade, sociedade como um todo. Além de salários justos e estar adequado à legislação trabalhista, é preciso pensar em outros aspectos como o bem-estar dos seus funcionários, propiciando, por exemplo, um ambiente de trabalho agradável, pensando na saúde do trabalhador e da sua família. Além disso, é imprescindível ver como a atividade econômica afeta as comunidades ao redor. Nesse item, está contido também problemas gerais da sociedade como educação, violência, projetos sociais e até o lazer. Para Tachizawa (2014 apud FARAH, 2017), as estratégias socioambientais resultam em benefícios para as empresas que as adotam, na forma de: aumento da competitividade das exportações; atendimento do consumidor verde e de organizações ambientalistas; conformidade com a política social da empresa; melhoria da imagem perante a sociedade; atendimento de exigência licenciamento/regulamentação; aumento da lealdade e preferência do seu cliente; ajuda no acesso a novos mercados e na construção de uma marca mais forte; sustentação de sua estratégia de comunicação, reforçando os valores da organização; reforço da motivação e o comprometimento dos colaboradores, com melhoria na qualidade de seus produtos e processos; melhoria da gestão de sua cadeia produtiva; e redução dos custos dos processos industriais. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Segundo o normativo de criação e implementação de política de responsabilidade socioambiental, SARB 014/2014, da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), o qual será descrito e detalhado no próximo item do presente estudo, seu artigo 7º informa que: Art. 7º No tocante a operações financeiras, para identificação daquelas sujeitas à análise de aspectos socioambientais, a Signatária deve adotar método que considere sua capacidade de identificar previamente a finalidade da utilização dos recursos pelo tomador e observar aquelas que, por exigência legal, requeiram análise de aspectos socioambientais. Há aproximadamente duas décadas as Instituições Financeiras assumiram seu papel na gestão ambiental privada de projetos de grande impacto, inclusive sendo co-responsabilizadas por eles. Do ponto de vista do risco, o International Finance Corporation identifica três riscos principais associados as atividades financeiras e questões ambientais: o risco direto, no qual os bancos respondem diretamente como poluidores; o risco indireto, que afeta a empresa com a qual o banco tem relacionamento financeiro; e o risco de reputação, devido à pressão de ONGs e sociedade não organizada por políticas de investimentos responsáveis (BRITO, 2016). De acordo com o International Finance Corporation (IFC), os bancos, com relação às questões ambientais, estão expostos a três tipos de riscos (BRITO, p. 8-9): • Risco direto: são aqueles aos quais os bancos respondem diretamente como poluidores, associados as suas próprias instalações e uso de recursos (energia, papéis, equipamentos etc.). Nessa modalidade, se aplica diretamente o princípio do Poluidor Pagador, ou seja, o banco deve internalizar nos seus custos de operação os gastos com o controle da poluição. • Risco indireto: o risco ambiental afetaria a empresa com o qual o banco mantém relacionamento como intermediário financeiro, via operações de crédito ou detentor e títulos financeiros (ações ou títulos de dívida); • Risco de reputação: os bancos vêm sofrendo pressão pública, em especial das entidades não governamentais, para adotar polít icas de financiamento de investimentos ambientalmente corretos, sob pena de ter sua reputação prejudicada diante a sociedade. Já para a Febraban (2015, p. 9), a compreensão do impacto das questões socioambientais pode ocorrer de duas formas: • Impactos Indiretos: impacto decorrente das operações de crédito, investimentos, seguros, e operações no mercado de capitais. • Impactos Diretos: sendo uma organização, os bancos têm impactos decorrentes de suas atividades, como o consumo de recursos naturais, as relações com colaboradores, fornecedores e outros públicos de interesse. Conforme foi descrito nos capítulos anteriores, é através da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Federal n° 6938/81, que o Governo Federal objetiva e dita regras para “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]” (BRASIL, 1981). Ainda, através da mesma lei, é definida a Avaliação de Impactos Ambientais, também conhecida através da sigla “AIA”, como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, o qual visa a gestão ambiental de possíveis impactos que causem prejuízo direto ou indireto ao meio ambiente. Destaca-se que o desenvolvimento socioeconômico e análises de risco socioambiental fazem parte da avaliação de impactos. Para Brito (2017, p. 9), atualmente, diversas instituições financeiras, que atuam inclusive no Brasil, já perceberam o potencial impacto que os riscos socioambientais têm na capacidade de repagamento de seus clientes e passaram a incorporar critérios específicos para avaliá-los em seus processos de decisão de crédito e de gestão de risco. A avaliação dos riscos socioambientais por sua vez, propicia a minimização dos riscos de crédito e de reputação dessas instituições financeiras, além de gerar novas oportunidades de negócios. Segundoa Febraban (2015, p. 11), existem diversos temas, procedimentos e ferramentas para análise do risco socioambiental junto aos clientes corporativos. Na Figura 3, a seguir, são apresentados exemplos de temas, procedimentos e ferramentas uti l izadas pelas instituições f inanceiras participantes da capacitação, e que podem auxiliar na identificação dos principais riscos socioambientais de clientes corporativos. FIGURA 3 – TEMAS, PROCEDIMENTOS E FERRAMENTAS PARA ANÁLISE DO RISCO SOCIOAMBIENTAL FONTE: <https://cmsportal.febraban.org.br>. Acesso em: 2 abr. 2021. Descrição da imagem: imagem de uma tabela que ilustra os temas, procedimentos e ferramentas que são utilizadas na análise de risco socioambiental pelas instituições bancárias. Nas próximas seções, serão descritas as legislações aplicadas à análise de risco socioambiental para as instituições financeiras. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS 3 LEGISLAÇÃO APLICADA A ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL A legislação ambiental brasileira, ao determinar a reparação do dano ambiental (que pode ser identificada como a materialização do risco), bem como o cumprimento das sanções penais e administrativas, determina, mesmo que não indiretamente, uma série de dispêndios financeiros para o infrator, que associado as multas diversas e indenizações, pode ter sua saúde financeira prejudicada, ou até mesmo ser levado à falência. Os bancos, como parceiros financeiros das empresas, dependem do retorno financeiro destas; ou seja, o risco ambiental das corporações afeta direta ou indiretamente o desempenho econômico das instituições financeiras, seja pelo comprometimento da sua capacidade pagadora, seja por meio da responsabilização solidária pelo dano ambiental cometido, ou mesmo pelos danos à imagem da instituição (BRITO, 2017, p. 8). Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (2015, p. 4), por meio do Guia Prático para Elaboração e Implementação de Política de Responsabilidade Socioambiental, as exigências do Banco Central decorrem de riscos já existentes e atrelados a temas socioambientais que impactam as instituições em diferentes instâncias tais como: CRÉDITO: Possibilidade de perdas financeiras decorrentes de eventos socioambientais que causem danos a cl ientes, comprometendo sua capacidade de pagamento de compromissos com as instituições financeiras. LEGAL: Existência de arcabouço legal capaz de corresponsabilizar a instituição financeira que financie (direta ou indiretamente) cliente ou projeto que incorra em descumprimento da legislação socioambiental vigente ou cause um dano ambiental relevante. REPUTACIONAL: Possibilidade de imagem da instituição estar atrelada a irregularidades socioambientais. Em termos de legislação, no Brasil, a Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014, do Banco Central do Brasil, dispõe sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (BRASIL, 2014). Essa resolução é o resultado da compreensão de novas variáveis de riscos discutidas nos últimos anos pelo setor financeiro e seu principal órgão regulador (FEBRABAN, 2015). Cabe ressaltar que o artigo 192 da Constituição Federal de 1988 informa que o sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram (BRASIL, 1988). Senso assim, é papel do Banco Central do Brasil (BCB) agir na manutenção, regulação e supervisão do sistema financeiro nacional de modo a assegurar sua solidez, eficiência e seu fim público. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Conheça a história do Banco Central do Brasil (BCB) em: https://www. bcb.gov.br/historiacontada/index.html. Segundo o seu artigo 1º, parágrafo único, para fins do estabelecimento e da implementação da PRSA, as instituições referidas no caput (parte superior/ início do capítulo) da resolução devem observar os seguintes princípios: I - relevância: o grau de exposição ao risco socioambiental das atividades e das operações da instituição; e II - proporcionalidade: a compatibil idade da PRSA com a natureza da instituição e com a complexidade de suas atividades e de seus serviços e produtos financeiros. Com relação à Política de Responsabilidade Socioambiental, também chamada de PRSA, o artigo 2º da resolução supracitada, informa que a PRSA deve conter princípios e diretrizes que norteiem as ações de natureza socioambiental nos negócios e na relação com as partes interessadas. E complementa: § 1º Para fins do disposto no caput, são partes interessadas os clientes e usuários dos produtos e serviços oferecidos pela instituição, a comunidade interna à sua organização e as demais pessoas que, conforme avaliação da instituição, sejam impactadas por suas atividades. § 2º A PRSA deve estabelecer diretr izes sobre as ações estratégicas relacionadas a sua governança, inclusive para fins do gerenciamento do risco socioambiental (BRASIL, 2014). A Resolução, através do seu Artigo 3º, informa que as instituições devem manter estrutura de governança compatível com o seu porte, a natureza do seu negócio, a complexidade de serviços e produtos oferecidos, bem como com as atividades, processos e sistemas adotados, para assegurar o cumprimento das diretrizes e dos objetivos da PRSA. Ainda informa que a estrutura de governança deve prover condições para o exercício das seguintes atividades: I - implementar as ações no âmbito da PRSA; II - monitorar o cumprimento das ações estabelecidas na PRSA; III - avaliar a efetividade das ações implementadas; IV - verificar a adequação do gerenciamento do risco socioambiental estabelecido na PRSA; e V - identificar eventuais deficiências na implementação das ações. Já com relação ao Gerenciamento do Risco Socioambiental, os artigos 4º e 5º mencionam que: Art. 4º Para fins desta Resolução, define-se risco socioambiental como a possibilidade de ocorrência de perdas das instituições mencionadas no art. 1º decorrentes de danos socioambientais. Art. 5º O risco socioambiental deve ser identificado pelas instituições mencionadas no art. 1º como um componente das diversas modalidades de risco a que estão expostas. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Com relação ao gerenciamento do risco socioambiental, o artigo 6º informa que devem ser considerados: I - sistemas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar e controlar o risco socioambiental presente nas atividades e nas operações da instituição; II - registro de dados referentes às perdas efetivas em função de danos socioambientais, pelo período mínimo de cinco anos, incluindo valores, tipo, localização e setor econômico objeto da operação; III - avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos de novas modalidades de produtos e serviços, inclusive em relação ao risco de reputação; e IV - procedimentos para adequação do gerenciamento do risco socioambiental às mudanças legais, regulamentares e de mercado. Os artigos 7º e 8º da mesma resolução informam que as ações relacionadas ao gerenciamento do risco socioambiental devem estar subordinadas a uma unidade de gerenciamento de risco da instituição. Independente da exigência prevista no caput, procedimentos para identificação, classificação, avaliação, monitoramento, mitigação e controle do risco socioambiental podem ser também adotados em outras estruturas de gerenciamento de risco da instituição. As instituições devem estabelecer critérios e mecanismos específicos de avaliação derisco quando da realização de operações relacionadas a atividades econômicas com maior potencial de causar danos socioambientais (BRASIL, 2014). Por fim, a resolução informa que as instituições devem estabelecer um plano de ação visando à implementação da PRSA. O plano mencionado deve definir as ações requeridas para a adequação da estrutura organizacional e operacional da instituição, se necessário, bem como as rotinas e os procedimentos a serem executados em conformidade com as diretrizes da política, segundo cronograma especificado pela instituição. Conforme citado anteriormente, foi publicado no ano de 2014, um normativo SARB (Sistema de Autorregulação Bancária da Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN) nº 014/2014, o qual institui o Normativo de Criação e Implementação de Política de Responsabilidade Socioambiental, que formalizou diretrizes e procedimentos fundamentais para as práticas socioambientais dos seus Signatários nos negócios e na relação com as partes interessadas. Segundo a FEBRABAN (2015, p. 4) , com o objet ivo de criar um posicionamento setorial sobre o tema, e dar suporte aos bancos na integração das questões socioambientais, a FEBRABAN desenvolveu também um normativo específico para o tratamento do tema. O Normativo SARB nº 014/14, prevê diretrizes e procedimentos para as práticas socioambientais das instituições financeiras nos seus negócios e relações com partes interessadas. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Segundo os objetivos do normativo, publicados através do artigo 1º: fica instituído o programa de autorregulação para o desenvolvimento e a implementação de política de responsabilidade socioambiental, com o objetivo de formalizar diretrizes e procedimentos fundamentais para a incorporação de práticas de avaliação e gestão de riscos socioambientais nos negócios e na relação com as partes interessadas. As diretrizes e os procedimentos previstos devem ser compatíveis com a natureza das atividades de cada Signatária e a complexidade dos produtos e serviços oferecidos, respeitando- se os princípios da relevância, da proporcionalidade e da eficiência. Com relação às definições expostas na Autorregulação, os termos indicados a seguir, quando utilizados no normativo, com a primeira letra maiúscula, possuem os seguintes significados: Atividades: processos e práticas internos da instituição que possam causar impacto socioambiental, não se confundindo com operações ou serviços financeiros. Financiamento: modalidade de operação financeira originada no mercado primário de crédito em que a Signatária concede, por meio de mútuo financeiro de longo prazo, recursos com destinação específica prevista em contrato. Operações: operações financeiras identificadas como sendo passíveis de análise de aspectos socioambientais pela instituição, definidas com base na metodologia dos art. 7º e 8º; e Projeto: investimento realizado pelo financiado responsável pela obtenção das licenças ambientais, para implantar ou expandir instalações que causem significativo impacto socioambiental e para o qual é exigido estudo de impacto ambiental e respectivo relatório (EIA/RIMA) ou relatório ambiental simplificado (RAS), nos termos da legislação em vigor. A autorregulação citada traz em seus capítulos e artigos, informações referentes ao conteúdo que a PRSA deve conter, sobre a aplicação da PRSA, o gerenciamento dos riscos socioambientais, o financiamento do projeto, a participação das empresas, as atividades, garantias imobiliárias, registro e controle, formalização de divulgação da PRSA, entre outros assuntos. Conheça na íntegra o Normativo SARB 014/2014, através do link: http://cms.autorregulacaobancaria.com.br/Arquivos/documentos/PDF/ Normativo%20014%20SITE.pdf. Prezado aluno, na próxima etapa do curso (Etapa 3), conheceremos um pouco mais sobre gestão, atividades e implementação de políticas de responsabilidade socioambiental, conhecendo sobre os marcos regulatórios de sustentabilidade em instituições financeiras, risco ambiental para os bancos, gestão de risco socioambiental nas instituições financeiras e principais atividades desenvolvidas pelas instituições bancárias CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS REFERÊNCIAS ANDRADE, J. C. S. et al. Conflitos e riscos socioambientais: análise da relação entre o complexo Costa do Sauípe e atores locais. RAP. Rio de Janeiro, v. 37, n. 2, p. 459-476, 2003. BARBOSA, V. L.; NASCIMENTO JÚNIOR, A. F. Paisagem, ecologia urbana e planejamento ambiental. Geografia (Londrina), v. 18, n. 2, p. 21-26, 2009. BRASIL. 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