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Ultra-Sonograf ia de PEQUENAS PARTES PEQUENAS PARTES Osmar de Cássio Saito Doutor em Medicina na Área de Radiologia pela fMUSP Médico-Assistente Supervisor no Seto r de Ultra-Som no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da FMUSP Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e do Colégio Americano de Radiologia (RSNA) Médico do Centro de Medicina Diagnóstica Fleury de São Paulo Giovanni Guido Cerri Editor do Stne Professor Titular do Departamento de Radiologia da fMUSP Diretor do Instituto de Radiologia (INRAD) do Hospital das Clínicas da FMU SP Diretor da Divisão de Diagnóstico por Imagem do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP Coordenador do Centro Diagnóstico do Hospital Sirio Libanês - São Paulo. SP SUMÁRIO CApíTuLo 1 OCULAR . . . •......•.• . ... 1 José Carlos Eudes Carani + Marco Antonio de Campos Machado + Osmar de Cássio Saito CApíTULo 2 ABAULAMENTOS CERVICAIS E ALTERAÇÕES DA FACE ...... •.. .•..•...•.. • •. 53 Osmar de Cássio Saito + Ciovanni Cuido Cerri CApíTuLo} TIREÓIDE ................. . ... . .. .............. ... . . 75 Maria Cristina Chommas + Osmar de Cássio Saito + Ciovanlli Cuido Cerri CApíTuLo 4 GLÂNDULAS PARATIREÓIDES. . ......... 115 Carmen Silva C,rqueira Do Vai Fausto + Camila Freire D. 5. Dias Boilesen Osmar de Cássio Saito CApÍTuLo GLÂNDULAS SALIVARES. OSlJ1ar de Cássio Soito + Ciovanni Cuido Cerri + Anl'ónio Sérgio Mareelino CApíTuLo 6 lINFONODOS CERVICAIS .. .............. . ..... .. .... . Maria Cristina Chammas + Osmar de Cássio Saito + Ciovallni Cuido Cerri CApíTULo 7 PÊNIS .............. . Carlos Augusto Ventura + OSl11or de Cássio Saito + Ciovanni Cuido Cerri . .. 131 .... 155 . ... : 1 71 CApiTuLo 8 BOLSA ESCROTAL ... ...................... . .... 189 Osmar de Cássio Saito + Ciovanni Cuido Cerri + Jose Marcelo de Oliveira CApÍTuLo 9 PELE, SUBCUTÂNEO E PAREDE . . .245 Márcio Bouer + Osmar de Cássio Soito CApíTUlo 10 LESÕES BENIGNAS DA MAMA .... . .. .. .. . . . ...... .•...... . . .. •.•..•.. 269 Débora Rejtman .. Nestor Barros " Vem Lúcia Nunes Agl/ilar .. Osmar de Cássio Saito CApíTUlo 11 LESOES MALIGNAS DA MAMA .... ... 29 1 Paula Cemignaai Soriano .. Osmar de Cássio Saito .. Ciovanni Cuido Cerri CApíTUlo 12 CRÂNIO ................... . . . .. .. ... 307 Paula Ricci Arantes . I'ol/ya/lna Campos Fefezia .. Osmar de Cassio Saito íNDICE REMISSIVO ......... . ........... ....... . . . .... . . . . . . . . ... 337 OCulAR .. José Carlos Eudes Carani .. Marco Antonio de Campos Machado .. Osmar de Cássio Saito Capítulo 1 CONTEÚDO t/ INTRODUÇÃO. t/ ANATOM IA DO GLOBO OCULAR . . . . . . . . . t/ TÉ ICA DE EXAME t/ ULTRA-SONOGRAFIA DAS DO NÇAS OCULAR ES MAIS COM U S . . . , t/ REFERÊNCIAS BI BLlOGRÁFICAS, 2 2 3 3 51 2 INTRODUÇÃO A ultra-sonografia ocupa lugar de destaque entre os exa- mes complementares utilizados na oftalmologia. É empregada principalmente nos casos em que não há condições técnicas adequadas para um exame óptico do fundo de olho. Às vezes, o exame é empregado, mesmo nos olhos transparentes, sendo útil também no estudo de algumas doenças orbitárias. A transparência do olho está prejudicada quando há: cór- neas opacas. sangue na câmara anterior (entre a íris e a cór- nea), cataratas densas, hemorragias vítreas e turvação vítrea inflamatória (endoFtalmite. uveíte). Nos olhos com os meios transparentes, a ultra-sonografia nos permite informar se há ou não uma lesão expansiva tumoral abaixo de uma retina des- colada. se uma papila elevada apresenta-se edemaciada ou se é um caso de drusa, além de nos permitir obselvar e acompa- nhar o crescimento de um provável tumor. Por último, este exame permite-nos analisar a imagem orbitária. Normalmente a órbita tem a forma de um cone brilhante e homogêneo. Qualquer assimetria entre as órbitas, ou qualquer área escura dentro do cone brilhante, deve levantar suspeita de doença. Existem duas modalidades de ultra-sonografia que se podem empregar no estudo das alterações oculares. Basica- mente se dispõe do modo A e o modo B para estudo destas alterações. O modo A fornece informações relacionadas com a mensuração precisa e as diferentes resistências encontra- das pelo som ao atravessar os tecidos. Por sua vez o modo B fornece a imagem em tempo real nos diferentes planos de aquisição. Na órbita a ultra-sonografia modo B é utilizada principalmente no estudo das proptoses. uma vez que esta fornece dados sobre o conteúdo retroocular. A ultra-sono- grafia bidimensional (modo B) é útil nas doenças oculares, mas tem valor reduzido no estudo das doenças orbitárias, pois o som tem pouca penetração no tecido orbitário e não permite a análise tissular profunda. Nas doenças orbitárias é fundamenta l o emprego do modo A padronizado (estandardi- zado) que possibilita o diagnóstico diferencial entre as le- sões, e, além disso, é o método mais confiável para avaliar a atividade da doença de Graves na musculatura extrínseca ocular.! O modo A padronizado é de fundamental importân- IlJi'llijél§l'I3Mi h,.,' P"lNMMi ijlJ'" cia no estudo do interior do globo ocular, principalmente naqueles casos onde se necessita fazer a diferenciação entre as membranas e os tumores, como no exemplo clássico do hemangioma e o carcinoma metastático. Entendemos C]ue a descrição do modo A padronizado foge do escopo deste livro, além de exigir um aparelho especí- fico para a sua execução e um longo período de treinamento para o seu uso adequado. Ressalta-se, finalmente, a necessida- de de conhecimentos de clínica e doenças ocuJares para que um laudo ultra-sonográfico tenha uma boa credibilidade. ANATOMIA DO GLOBO OCULAR Segmento anterior O globo ocular é composto basicamente de dois segmen- tos, o anterior e o posterior. O segmento anterior é compos- to pela córnea, câmara anterior, câmara posterior, íris, corpo ciliar e cristalino. A câmara anterior corresponde ao espaço compreendido entre a córnea e a íris. Por sua vez a câmara posterior corresponde ao espaço delimitado entre a íris, o músculo ciliar e o cristalino (Esquema A). Câmara anterior Câmara posterior Músculo ciliar Cristalino Segmento posterior O segmento posterior do olho é o espaço que engtoba a câmara vítrea, retina, coróide e esclera. A câmara vítrea é preenchida pelo humor vítreo e é revestida diretamente pela retina (Esquema B). Segmento anterior Segmento posterior Região retroorbitária O globo ocular é constituído por três camadas firmemen- te aderidas entre si: a mais externa é a esclera, sendo que esta é rígida e portanto dará a sustentação e forma ao olho. Logo abaixo, encontramos a camada intermediária, denominada de coróide. A coróide é composta basicamente por um gran- de conglomerado de microvasos. A última camada e mais interna é a retina (Esquema C). 3 Região retrobulbar A região retrobulbar é composta pelo cone muscular, gordura retrobulbar, nervo óptico e estruturas vasculares (Esquema D).1 5 Nervo óptico Região retroorbitária TÉCNICA DE EXAME Método de contato indireto Cone muscular O exame do globo ocular poderá ser realizado com o pa- ciente em decúbito dorsal. olhos fechados e com uma espessa camada de gel aplicada diretamente sobre a pálpebra. Por outro lado pode-se fazer uso de um meio sólido sobre a pálpe- bra e que favoreça portanto a transmissão do som (Uquiteco"). A sua grande vantagem reside no fato de este meio permiti r uma me'lhor aná!ise das estruturas superficiais. Método de contato direto e imersão Nesta forma de exame o transdutor será aplicado direta- mente sobre a córnea, sendo que no caso da imersão uti li- za-se d.e uma solução de metilcelulose como meio de conta- to . Nestas formas de exame deverá se fazer o uso prévio de um colírio anestésico. ULTRA-SONOGRAFIA DAS DOENÇAS OCULARES MAIS COMUNS Alterações do cristalino Catarata A catarata consiste na situação clínica onde !láuma opacificação do cristalino de modo haver uma perda da visão por obstrução da passagem da luz para a câmara vítrea. Além disso esta opacificação inviabiliza o exame de fi.llldo de olho . A sua etiologia pode ser congênita, metabólica, medicamen- tosa, traumática, senil e cOlnplicada, principalmente naque- les casos que surgem após inflamações intra-oculares. Num olho com catarata, o modo B exibe o cristalino com graus va- riados de hiperecogenicidade conforme a gravidade do qua· dro (Fig. 1-1), e o modo A permite medir o comprimento axial do olho (distância entre a superficie anterior da córnea e a 4 superficie anterior da retina) e calcular o poder dióptrico da I nte intra-ocular que será utilizada para substituir o cristali- no opacificado. Luxação e subluxação No exame bidimensional com o modo B, observa-se ini- cialmente a posição do cristalino (tópico ou subluxado), al.ém do seu formato e volume (normal, intumescido ou rea'bsorvi- do). A solicitação da movimentação ativa pelo paciente do globo ocular permitirá uma análise precisa da excursão do cristalino para fora do seu sítio habitual. no caso de uma luxa- ção(Figs. 1-2e 1-3). Alterações do vítreo Degeneração vítrea O humor vítreo é constituído por uma substância gelati- nosa translúcida composta por água (959-6), colágeno, ácido hia- B ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES lurônico e que possui um aspecto anecóico ao exame de u'1- tra-sonografia. Este segmento deve ser avaliado quanto à pre- sença OLl ausência de "debris", bem como a existência de membranas livres no seu interior. Este material apresenta alta densidade e é visto ao exame ultra-sonográfico na forma de partículas hiperecogênicas isoladas ou agrupadas. As membra- nas intra-oculares geralmente correspondem a pequenos frag- mentos livres dispersos da hialóide. A hialóide é uma fina membrana que recobre a retina, sendo que em algumas situa- ções esta pode estar aderida ou descolada da re.tina; nestas dr- cunstâncias pode haver pontos de aderências ou trações sobre a retina. A importância dessa alteração decorre de sua alta inci- dência e pelo fato de muitas vezes ser confi.ll1dida erronea- mente com descolamento da retina (Figs. 1-4 e 1-5). Descolamento do vítreo posterior Da infância à vida adulta e desta à velhice, o vítreo sofre um processo de diferenciação e, ao mesmo tempo, de dege- Fig. 1·1. Al guns aspectos do cristalino na catarata. (A) Cristal ino reabsorvido após trauma. A cápsula e a íris estão aderidas. (8) Cristalino opacificado e intumescido após toque iatrogênico durante vi trectomia . pntnntil"·:'"Mi' 5 c o Fig. 1-1 (Cont.). CC) Cristalino opacificado e subluxado. A íri s, nesse caso, está afastada do cristalino subluxado . As imagens acima foram obtidas colocando-se uma bexiga preenchida com água entre a sonda e a pálpebra (pseudo-imersão). Esse método permite uma boa avaliação do segmento anterior do olho. (O) Ultra-sonograf ia no modo B mostrando hiperecogen icidade do cristalino (catarata) . Em co res branco córnea; azul = íri s; amarelo = cristalino; vermelho = outras estruturas. neração com conseqüente liquefação . Com o processo de degeneração, o vítreo torna-se mais liquefeito, e a porção líquida passa através de um grande orifício ou então por pequenos orifícios, para trás da hialóide posterior, enquanto o vítreo gel retraído desloca-se para frente. 2 É o que cha- mamos de descolamento do vítreo posterior. Nem sempre esse descolamento é completo, e o vítreo pode manter pon- tos de aderência com a papila ou mácula. Também poderão ser encontradas áreas da retina que apresentam vasoS neo- formados, como na retinopatia diabética e nas ocl.usões ve- nosas, ou ainda focos de coriorretinite (Fig. 1-5). O descola- mento do vítreo posterior ocorre na vida adulta, mas é im- portante lembrar que após um ep isódio de hemorragia vítrea ou inflamação intra-ocular, o vítreo sempre descola , indepen- dente da idade do paciente. Quando o desco1lamento do vítreo posterior ocorre após um quadro hemorrágico ou inflamatório, este costuma ser incompleto ou apresenta pontos de aderência à papila, ge- 6 1I!"*ii"§!·I3:h"hll'Bg.I'i§tiji4Mfi A Figo 7-2. Luxação do cristalino. (A e B) Modo B com cristalino com catarata e luxado no interior da cãmara vítrea. Figo 1-3. Cristalino luxado no vítreo . (A) Cristalino transparente; observar o formato achatado. (B) Crista lino opacificado e apresentando pontos de calcificação. G",mMI·I."'11 7 c D Fig. 1-3. (Cont.). (C) Cristalino calcificado causando sombra acústica sobre os tecidos subjacentes. (O) Cristalino infant il opacificado. Notar o formato esférico. ca racterístico nas crianças. rando um dilema quanto ao diagnóstico diferencial, pois nes- sas situações, a hialóide torna-se espessada e o aspecto funi- cular do clescolamento do vítreo apresenta uma grande se- melhança com o descolamento total da retina. Um detalhe importante a ser considerado no diagnóstico diferencial en- tre o descolamento infundi bula r do vítreo e o descolamento otal da retina é a diferença de espessura da hialóide vista ao modo B, sendo que no descolamento vítreo posterior obser- \'a-se uma membrana mais espessa na região posterior do que na anterior, e mais espessa inferiormente que superior- mente. Enquanto que no descolamento da retina observam- se uma espessura e um brilho constante, desde a sua inserção na ora serrata (anteriormente) até a sua inserção na papila (posteriormente). Hemorragia vítrea A hemorragia vítrea ocorre quando há sangramento ativo no interior do humor vítreo. As principais causas da hemorra- gia vítrea são: retinopatia diabética, oclusão venosa, vasculo- patias (anemia falciforme, doença de Eales), doença macular r lacionada com a idade (DMR1), ruptura retiniana, síndrome de Terson (hemorragia menÍngea) e leucemia. Quando ocorre a hemorragia vítrea, a principal dúvida a ser esclarecida é saber se a retina está ainda aderida ou não. No caso de a retina estar aderida, é necessário saber se há aderências vítreas sobre e la ou não. No caso da hemorragia vítrea recente, a ultra-sonogra- fia no modo B mostra partículas puntiformes tênues, que exi- gem ajuste de ganho do aparelho no máximo para que estas sejam detectadas. À medida que ocorre a coagulação do san- gue, surgem mais superfícies refletoras, de modo a se ver par- tículas grosseiras móveis à movimentação ativa do olho. Por volta de duas semanas após o sangramento, o vítreo , se ainda aderido, descola-se da parede ocular posterior e surgem algu- lTIas membranas no seu interior (Fig. 1-6). O perigo existe, quando há descolamento incompleto do vítreo. e reside nas trações sobre a retina, de modo a se elevar o risco de descola- mento de ret,ina que essas aderências vítreas geralmente pro- vocam. Nessas situações, o exame ultra-sonográfico deve ser repetido periodicamente enquanto o fi.ll1do de olho não esti- ver visível. No modo A, a hemorragia vítrea recente apresenta uma cadeia de picos de baixa refletividade, ao passo que as hemorragias organizadas, com seus coágulos e membranas, originam ecos de média e alta refletividade. 8 Ii,.iJli·I§i·13M'Mtj'P,·jili§MjWAiti Fig. 1-4. Descolamentos do vítreo (Carani) - com esquemas dos principais tipos encontrados ao exame ultra-sonográfico. (1) Vítreo normal, sem descolamento. (2) Descolamento do vítreo posterior não regmatogênico. (3) Descolamento regmatogênico do vítreo posterior; observar o orifício na hialóide posterior (seta). (4) Descolamento parcial do vítreo . (5) Descolamento completo do vítreo posterior, com vítreo colabado. (6) Descolamento subtotal do vítreo com aderência latera l. (7.8 9) Descolamento subtotal e funicular do vítreo posterior. (10 e 11) Descolamento subtota l do vítreo posteríor com presença de vitreosquise. (12) Descolamento subtota l f unicular do vítreo posterior associado a descolamento total da retina . Azul; vítreo; laranja = retina; vermelho; úvea; branco; esclera. A BC Fig. 1-5. (A) Descolamento regmatogênico do vítreo posterior com presença do anel de Weiss (seta). O descolamento é completo, isto é, não há aderências entre a hialóide e a parede ocular posterior. (B) Descolamento arregmatogênico do vítreo posterior. (C) Descolamento subtotal do vítreo posterior num paciente diabético. Observar a aderência e a tração sobre a retina, causando um pequeno descolamento t racional da retina abaixo da papila (seta). 9 10 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES A B Fig. 1-6. Hemorragia vítrea x hemorragia na cavidade vítrea. (A e B) Hemorragia vítrea e descolamento completo do vítreo posterior O sangue no vítreo gel gera opacidades grosseiras e bri lhantes. WliM."II'iit.i1 c D Fig. 7-6. (Cont.). (C e D) Hemorragia na cavidade vítrea, de um paciente vitrectomizado (o vítreo foi removido cirurgicamente). Observam-se opacidades homogêneas e de baixa refletividade que preenchem a cavidade e se aderem à parede. Na f igura D observa-se uma pequena área negra, arredondada, que acompanha os restos vítreos não removidos durante a cirurgia (seta). Vermelho = sangue; amarelo = parede ocular e tecido orbitário; verde = restos vítreos. 11 12 Hemorragias sub-hialóideas e sub-retinianas As principais causas de hemorragia sub-hialóidea são: diabetes, oclusão venosa , DMRI, traumas e esforços intensos como na manobra de Valsalva. Ao contrário da hemorragia vítrea, nas hemorragias sub-hialóidea e sub-retiniana o san- gue não se coagula, e se mantém líquido e com ,partículas bastante móveis. O exame com o modo B mostra debris pun- tiformes homogêneos ocupando o espaço entre a hialóide descolada e a retina na hemorragia sub-hialóidea, Oll entre a retina descolada e a parede ocular na hemorragia sub-re- tiniana (Figs.1-7 e 1-8). No modo A, as hemorragias sub-hialóidea e sub-retiniana contêm ecos de baixa refletividade. Quando o sangramento no espaço sub-hialóideo ou sub-retiniano é intenso, uma parte do sangue se precipita formando uma espécie de "lago sangüí- neo" com nível líquido na sua superficie; sobre este lago fica uma fina "neblina de sangue" que é o sangue diluído no vítreo gelou líquido sub-retiniano (Fig. 1-7 A e B). A presença do nível líquido é observada como uma linha plana e brilhante no modo B e como um pico de alta refletivi- dade no modo A. Movimentando-se a cabeça do paciente, observa-se a movimentação deste nível, atraída pela força gravitacional. Pelo fato de não se formar membranas , a he- morragia sub-hialóidea não tradona a retina. Uveíte O trato uveal do olho é constituído pela íris, corpo ciliar e corÓide. O processo inflamatório destas estruturas resultará na uveíte, sendo que esta poderá ser acompanhada por reti- nite da retina adjacente e neurite do nervo óptico. A uveíte pode ser classificada anatomicamente em anterior, interme- diária, posterior e difusa . A uveíte anterior está localizada no segmento anterior do olho e inclui situações como a irite e a iridociclite. No caso da forma intermediária há acometimento da área imediatamente posterior à íris e lente. Por último, no caso da forma posterior observam-se retinite, coroidite e neurite do nervo óptico. No caso da uveíte difusa há um envolvimento inflamatório de todos os segmentos do olho. UlTl1A-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES Nas uveítes que comprometem o vítreo, o aspecto ul- tra-sonográfico é muito variável, dependendo do agente cau- sal. Ao modo B, o aspecto mais freqüentemente observado é a presença de opacidades puntiformes homogêneas e difusas no humor vítreo, associados a alguns grumos e poucas mem- branas. A hialóide sempre aparece descolada e espessada . Nas áreas de focos ativos pode-se observar um espessamento cônico da retina e coróide (Figs . 1-9 e 1-10). Quando houver descolamento completo, o vítreo tende- rá a se retrair e ficar aderido no terço anterior da cavidade, e a membrana hialóide poderá assumir um aspecto muito diverso e repleto de ondulações. Nos descolamentos incompletos do vítreo, uma banda vítrea pode permanecer aderida ao ponto de coriorretinite, à papila ou a qualquer outra parte da retina. A aderência vi- treorretiniana na uveíte representa elevado risco de tração retiniana e descolamento tI'acional da retina (Figs. 1-4 e 1-11 l. A intensidade das variações vítrea depende do agente causal. Nas uveítes por toxocara é freqüente a presença de um granuloma parietal associado a traves vítreas. Na cisticercose ocular, a toxina liberada pelo cisto após a morte do parasita acarreta grande turvação vítrea, e pode estar assodada ao descolamento da retina e coróide. Um achado freqüente nas uveítes que cursam com hipotonia ocular é o descolamento de coróide, que pode ter um aspecto plano. Outra caracterÍs- tica da coróide nas uveítes com hipotonia é o aumento de sua espessura principalmente na metade posterior e a associação com o edema de papila "ex-vácuo". Mais recentemente des- creve-se, como característica freqüente das uveítes, a separa- ção do córtex vítreo (o córtex vítreo é a porção mais densa do vítreo, que fica próxima à retina) em dois ou mais folhetos. Denomina-se esse achado de vitreosquise (Fig. 1-11 E e F). A vitreosquise simula, às vezes com perfeição , o aspecto de uma retina descolada. Ao contrário da retina, os folhetos da vitreosquise apresentam grande mobilidade e se deslocam com movimentos serpiginosos. simulando um quadro de "natação sincronizada". Capítulo 1 • OCULAR c Fig. 1-7. Hemorragia sub-hialóidea . (A) Hemorragia sub-hia lóidea com nível líqu ido. O sangue precipitado torna-se mais brilhante e com superf ície plana (seta). (8 e C) Hemorragia sub-h ialóidea. Observa-se que não há grumos grosseiros. O sangue sub-hialóideo permanece líquido e tem no eco B aspecto homogêneo. Dependendo da impreg nação hemática, a hialóide pod@ estar pouco (8) ou muito espessada (C) . Em cores: vermelho sangue sub-hialóideo e hialóide; amarelo tecido orbitário e parede ocular. 13 fig. 1-8. (A e B) Descolamento total e antigo da retina, com presença de hemorragia sub-retiniana. Observar a presença de nível líquido (setas) que se desloca com a mudança da posição da cabeça . No espaço sub-retiniano o sangue não se coagula. Em cores: laranja = retina descolada; vermelho = sangue sub-ret inia no; azul = parede ocular e órbita . UJmm."'I3i1'*' A B Fig. 1-9. (A e B) Olhos com uveíte. Foco de coriorretinite ativo. No local da coriorretinite, a retina apresenta-se elevada, com formato cuneiforme (setas). Observar a hialóide posterior espessada e descolada, e as opacidades vítreas e sub-hialóideas. Hialóide e opacidades vítreas em amarelo; parede ocular e tecido orbitário em vermelho; cor iorretinites amarela e vermelha. B Fig. 1-10. (A e B) Uveíte e retinite. Mapeamento com Doppler de amplitude mostrando espessamento da retina e hipervascularização . 15 1 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES A B Fig. 1-11. Alterações vítreas nas uveítes. (A) Descolamento subtota l com aderência vítrea na papila . (8) Aderência vítrea abaixo da papi la. _dl •• I.III4;I c D Fig. 1-11. (Cont.). (C) Descolamento completo do vítreo posterior num caso de toxop lasmose (observar a hialóide bastante espessada) . (O) Formação de múltiplas membranas vítreas . (Continua.) 17 18 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES Eliiiiiiil F Fig. 1-11. (Cont.). (E e F) Vitreosquise; o córtex vítreo se divide em dois ou mais folhetos, simulando um descolamento total da retina; nos dois casos a retina estava colada. Uma característica freqüente na ultra-sonografia das uveítes é o espessamento da hialóide (A e F). Cores: vítreo em amarelo; parede ocular e órbita em vermelho; NO = nervo óptico. glúMt!lI,.;iaM;' Persistência do vítreo primário hiperplásico (PVPH) Trata-se de um resquício do sistema hialóideo que nutria o cristalino nas primeiras semanas de vida intra-uterina. Na PVPH, o olho geralmente é menor e pode apresentar opaci- ficação do cristalino. Oquadro é sempre unilateral. O exame no modo B mostra uma membrana retilínea fina Oll espessa que sai da papila e caminha em direção ao cristalino. No inte- rior do cordão vítreo persistente observa-se rica vasculariza- ção que pode ser demonstrada pelo mapeamento colorido com Doppler (Fig. 1-12). A c 19 Hialose asteróide A hialose asteróide do vítreo consiste no encontro de inúmeras partículas móveis de sabão de cálcio presas às fibri- las de colágeno e dispersas no gel vítreo. Clinicamente essas opacidades não provocam redução importante da visão. O exame ultra-sonográfico mostra partículas grosseiras, punti- formes, hiperecogênicas, agrupadas Oll dispersas (modo B) e de alta refletividade ao estudo com modo A. isto ocorre devi- do à presença de cálcio no seu interior. Um detalhe caracte- rístico na hialose asteróide é a presença de córtex vítreo sem partículas, deixando uma faixa escura (anecóica) entre os debris e a parede ocular (Fig. 1-13). = o ü r', : 1. (I (I I:; H I t j : '5 5 d E: Hf'lF': LOG T" (,,: 3. edB / CM Fig. 1-12. Persistência do vítreo primário hiperp lásico (PVPH ). Observa-se um cordào f ino ou grosso, ret ifi cado, saindo da cabeça do nervo óptico (A e B). Na f igura C, o ecodopp ler mostra a rica vascu larizaçào do vítreo primário persistente (pontos vermelhos) B 20 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES A B Fig_ 1-13. (A e B) Hia lose asteró ide, Ecograma de um olho com hialose asteró ide, mostrando aumentos diferentes no modo B, Observar as opacidades grosse iras e brilhantes difusas no vítreo gel, deixando, porém, um espaço anecóico entre as opacidades e a parede ocular, Nessa área o vítreo está normal (setas), Descolamento da retina Embriologicamente, a retina é formada pelos folhetos do cálice óptico. O descolamento da retina seria a situação na qual ocorre a separação desses folhetos, desde a emergência do nervo óptico até a ora serrata e que pode ocorrer por diversas causas em qualquer fase da vida (Fig. 1-14). Há várias causas de descolamento de retina. A principal é a formação de uma ruptura com um ponto de perfuração na retina, pelo qual penetraria o líquido que separa os folhetos retinianos; este processo é o chamado descolamento regma- togênico da retina (regma [gr[ = Buraco). Outra causa importante na gênese dos descolamentos da retina seria a formação de membranas vítreas que tracionam di retamente a retina. Essas trações são freqüentes na retino- patia diabética, uveítes, traumas perfurantes e na retinopatia da prematuridade. Existe ainda o descolamento seroso ou exsudativo, onde a causa do descolamento é o acúmulo de líquido sob a retina, elevando-a . Os descolamentos exsudati- vos ocorrem nos casos de uveíte (Vogt-Koyonagi-Harada), nanoftalmo, endoftalmite, esclerite e após cirurgias oculares. O descolamento pode ser parcial (um ou mais quadrantes) ou total (infimdibular). Procura-se avaliar a mobilidade da retina descolada, uma retina pouco móvel ou sem mobilidade pode estar associada a um mau prognóstico na acuidade visual. Quando a retina está aderida, dirige·se a atenção espe- cial para o pólo posterior temporalmente à papila, para ava- liação da região macular. Se houver elevação nessa região (normalmente pIana), deve ser levantada a suspeita de macu- lopatia (Doença Macular Relacionada com a Idade = DMRI). 21 1-14. Aspectos dos descolamentos de retina (Carani). (1, Retina em posição normal, aderida à parede ocular. (2 e 3) Descolamentos 'E-g matogênicos da retina, observando-se os locais da ruptura (setas). (4) Descolamento seroso da retina. (5) Descolamento da retina com ptura g igante. (6) Descolamento secundário da retina em olho com melanoma de coróide. (7 e 8) Descolamentos tracionais da retina na ""etade posterior do olho, freqüente nos casos de diabetes . (9) Descolamento tracional da retina na retinopat ia da prematuridade, estágio IV e 11} Retina com dobras fixas em casos de descolamento de retina com proliferação vitreorretiniana (PVR). (12) Descolamento antigo com nresença de cistos sub-retinianos. Laranja = retina; azul = hialóide; violeta = melanoma; amarelo = NO e fibrose . 22 Aspectos ultra-sonográfícos dos descolamentos de retina Nos descolamentos regmatogênicos, a retina apresen- ta-se no modo B l'igeiramente convexa e ondulada.3 Seus movi mentos são pouco amplos e trêmulos. Nos descolamen- tos de retina com grande ruptura, há um grande ponto de perfuração na retina , e a parte descolada fica retorcida. exi- bindo grande movimentação ao exame dinâmico. No desco- A B 1!!'@iiil§I'13iMiri,·j'PiiliJi§4iiMé' lamento total com grande ruptura. a retina retorcida lembra o desenho de um autódromo (Figs. 1-8 e 1-15). Nos descolamentos regmatogênicos de longa duração, bem como nos descolamentos recidivados. a retina fica retifi- cada e rígida. Surgem pequenas ondulações. mais bem obser- vadas no corte transversal do olho . Chamamos esse quadro de proliferação vitreorretiniana (PVR), e seu prognóstico cirúrgico é muito reservado (Fig. 1-15C e D) . Fig. 1-15. Alguns tipos de descolamento de ret ina. (A) Descolamento parcia l. metade inferior do olho. (8) Desco lamento parcial num olho com alta miopia. IilltlM.' 'eW"MI 23 c o Fig. 1-15. (Cont.). (C e O) Descolamento tota l com PVR. Notar a retificação e o aumento de espessu ra da retina . (Continua.) 24 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES F Fig. 1-15. (Cont). (E) Descolamento secundário (seta) num olho com melanoma maligno de coróide. (F) Descolamento de retina com ruptura gigante. A retina ondulada e descolada apresenta um aspecto de autód romo. Uillim·,·,,,,,S';' 25 H Fig. 1-15. (Cont.). (G) Descolamento total em funil fechado, antigo, apresentando cristais de colesterol no espaço sub-retiniano. (H) Descolamento antigo com presença de cistos sub-retinianos (setas) . Em cores: retina em laranja; melanoma em violeta; cristais de colestero l em amare lo; pared e ocu lar e órbita em verme lho. 26 Nos descolamentos por tração da retina observam-se angulações na parte descolada. A retina descolada não apre- senta movimentação. Os descolamentos podem ser peque- nos, únicos ou múltiplos, e nesses casos assumem um for- mato de tenda ou em tampo de mesa, ou podem ser exten- sos e totais (Fig. 1-16). Os descolamentos tracionais da reti- A B C ULTRA-SONOGRAFIA DE PrQUENAS PARTES nopatia diabética se localizam predominantemente na me- tade posterior do globo. Já na retinopatia da prematuri- dade, que pode acometer recém-nascidos pesando até 1.200 g, o descolamento tI'acional se inicia na porção ante- rior da retina, e o pólo posterior só é atingido nos estágios IV e V (Fig. 11-17). Fig. 1-16. Descolamentos tracionais da retina na retinopatia diabética proliferativa. (A) Descolamento tracional em forma de X. (8) Descolalllento tracional em forma de Y (C) Descolalllento tracional com extensa hemorragia sub-hialóidea. F Fig. 1-16. (Cont.). (O) Descolamento de retina na metade inferior, notar a retina angulada e aderida à hialóide sobre ela. (E) Hemorragia vítrea e descolamento t racional da retina em forma de tenda. (F) Descolamento tracional extenso com duas áreas de tração. (Continua.) 27 28 IiJ·';hii·@·!M4iM,j'Qi.liiUMi riMd Fig. 1·16. (Cont.). (G) Hemorragia vítrea e sub-hialóidea e descolamento tracional da retina em formato de tampo de mesa (table top). (H) Descolamento tracional da retina na metade posterior da cavidade. UN@·"':'''Mi' J Fig. 1-16. (I) Descolamento total da retina (setas). (J) Descolamento tota l com proliferação vítreorretin iana e espessamento da sua espessura . Nas figuras coloridas, a hia lóide está em cor amarela, a retina em laranja. HV = hemorragia vítrea; HSH = hemorragia sub-hialóidea. 29 30 'N'q'i'W'IijMitj·"AN"!§hii4iiid A B Fig. 1-17. Descolamento tracional da retiJla na retinopatia da prematuridade. (A e B) Cortes longitudinais da região temporal de uma criança prematura. Na Fig . 1-1 Ba ligeira angulação da retina mostra a origem tracional do descolamento (seta). Cores: retina em laranja; membrana vítrea em amarelo; parede ocular e órbita em vermelho . Nos descolamentos serosos, a retina assume um aspecto cupuliforme único ou múltiplo, pequeno ou grande. Nos des- colamentos serosos, a coróide geralmente encontra-se mais espessada (Fig. 1-18). Os descolamentos serosos com gran- des bolsões podem apresentar descolamentos dos bolsões com as mudanças de posição da cabeça . Por último, em qual- quer tipo de descolamento , a retina apresenta no modo A um pico cônico único de máxima refletividade (100%), Retinosquise Na retinosquise ocorre a separação da retina sensorial do epitélio pigmentar da retina. A retinosquise localiza-se na maioria das vezes no quadrante temporal inferior e pode ser bilateral (acomete os dois olhos), No modo B observa-se imagem elevada, convexa e hipere- cogênica, não aderida ao nervo óptico. Esta tende a ser imóvel, mas quando tiver amplitude muito elevada, esta poderá apre- sentar movimentos trêmulos, do tipo gelatinoso. Rupturas retinianas São pontos de ruptura na retina causados pela tração do vítreo sobre a área doente da retina. Esses pontos de ruptura têm a forma de uma ferradura, e predominam nos quadrantes superiores do olho, principalmente no temporal.6 Os seus principais fatores predisponentes são: a'lta m.iopia, hemorra- gias retinianas, retinosquise, inflamações coriorretinianas ou olhos que tenham sido submetidos à cirurgia intra-ocular. Normalmente a ruptura retinial1a está associada ao descola- Capítulo 1 • OCULAR 31 A B Fig. 1-18. Desco lamento se roso ou exsudativo da ret ina. A (olho direito) e B (olho esquerdo) do paciente com esclerite posterior. Obse rvar o grande aumento de espessura da parede ocula r, o edema ret robulbar (seta) e o descolamento exsudat ivo da retina (reti na convexa sem angulações). Nas fig uras em cores: ret ina em cor laranja; coróide e esclera amarelas; edema ret robulbar em preto; gordura retrobulbar em vermelho; L6 = corte longitudinal do meridiano das 6 horas; NO = nervo óptico . menta do vítreo que está aderido a ela .? As rupturas podem causar hemorragias, e, nesses casos, o diagnóstico só pode ser feito pela ultra-sonografia. O modo B mostra a ruptura retiniana como um pequeno feixe ou na forma de membrana ondulada . As rupturas gigan- tes , por outro lado, têm o aspecto serpiginoso concêntrico ("forma serpente enrolada") (Fig. 1-19). Descolamento antigo de retina Nos descolamelltos antigos de retina, além do aumento da sua espessura , podem ser observados cistos sub-retinia- nos únicos ou múltiplos, pequenos ou gigantes. No espaço sub-retiniano formam-se cristais de colesterol , sendo que a retina pode ter pontos de calcificação (Fig . 1-15G e H). Descolamento da coróide (cílio-coróideo) A coróide é aquela camada do olho que fica entre a escJe· ra e a retina, sendo que esta camada é composta por inúme- ros conglomerados de microvasos e esta é rica em melanina, cuja função é a de evitar a reflexão excessiva da luz dentro da câmara vítrea . Em resumo a coróide é a porção da úvea que se estende desde a ora serra ta até as margens da papila. Ante- riormente à coróide situa-se o corpo ciliar que também faz parte do tecido uveal. Os descolamentos de coróide ocorrem principalmente nos quadros de hipotonia ocular (pressão intra-ocular baixa) decorrente das cirurgias oClllares, traumas e inflamações. Nos descolamentos de coróide ocorre quase sempre um des- colamento do corpo ciliar associado, daí a terminologia cor- ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES A B Fig. 1-19. Descolamento regmatogênico da retina. Diagnóstico ultra-sonográf ico das rupturas. (A) Ruptura retiniana com flap elevado em paciente com uveíte . (8) Ruptura em paciente míope. Observar a aderência do vítreo ao ápice do flap nos casos A e B. a,um., lelS"'4;' 33 Fig. 1-19. (Cont.). (C) Paciente alto míope que apresentou sangramento súbito. Observa r a ret ina descolada e a presença da ruptura (seta). (D) Hemorragia vítrea causada por rupt ura . Observar o descolamento da retina próximo à ruptura (seta menor). Nas f iguras em co re s: HV = hemorragia vítrea; ret ina em cor laranja; hialóide em azu l; pontos amarelos = opacidades inflamatórias. reta ser descolamento cílio-coróideo. O descolamento de coróide pode ser hemorrágico ou seroso. No descolamento hemorrágico, o interior do bolsão apresenta partículas hipe- recóides flutuantes . Havendo a liquefação e reabsorção do sangue, observa-se área anecóica (soro) separada das partícu- las e material hiperecóico (sangue coagulado). No descola- mento seroso, o interior do bolsào é totalmente anecóico ou aparecem partículas flutuantes esparsas (Figs. 1-20 e '-21) . Diferente do descolamento da retina, o descolamento de coróide não se estende até a papila. Nem sempre o desco'la- mento de coróide é globoso . Pode ser plano . Se os descola- mentos são observados nos quatro quadrantes, estes rece- bem a denominação de descolamento circunferencial da co- róide. Há casos onde os descolamentos são tão volumosos que o boi são de um lado toca o bolsào do outro lado do olho, resultand o no chamado sinal do "beijo das coróides" . O exa- me ultra-sonográfico no modo B mostra uma membrana espessa, devido ao folheto de retina aderida , convexa e hi- perrefringente com pouca ou nenhuma movimentação aos movimentos do olho. Uma exceção ocorre nos descolamen- tos de coróide em olhos vitrectomizados (que não contém vítreo) . Nesses casos, podem ser observados movimentos on- dulatórios ou trêmulos na superfície do bolsão descolado. O exame com o modo A mostra na superfície do bolsão a presença de um pico bífido (retina e coróide), elevado e com base larga. 34 li'" *'i'W"d1iji ij'liPi:I,,§t&iiMéi A B Fig. 1-20. Descolamento seroso da coróide. (A) Corte axial, mostrando a relação dos bolsões com a papila; observar que o descolamento não atinge a papila . O interior dos bolsões é acusticamente vazio. (B) Corte transversal. Permite a avaliação circunferencial das lesões . Na figura observam-se bem as três bolsas que se tocam ("beijo das coróides") ""li.' '.1'''+11 35 Fig. 1-21. Descolamento hemorrágico da coróide com "beijo da coróide" . Observam-se dentro dos bolsões áreas brancas (coágulos) e negras (líquido ), demonstrando a lise do sangue. Alterações da papila A última região ocular avaliada é a papila, situada à frente da grande sombra acústica do nervo óptico. As principais alterações papilares estudadas pela ultra-sonografia são: ede- ma, drusas, coloboma e escavação (Fig. 1-22). A presença de escavação aumentada pode corresponder à atrofia glaucomatosa. Se observarmos elevações, devemos descrevê-las, pois, se em alguns olhos hipermétropes as pequenas elevações são normais. na maioria das vezes estas não o são. como ocorre nos casos das neurites, hipertensão intracraniana e drusas. No edema de papila e nas drusas de papila ocorre a elevação da cabeça do nervo óptico. No caso do edema encontram-se , sobre a superfície elevada. duas li- nhas finas e hiperecogênicas interrompidas, semelhantes às "presas de uma aranha" (Fig. 1-22B). Nas drusas, há elevação da papila e no seu interior encontra-se uma lesão hiperecóica gerada pela presença de cálcio no seu interior. Os artefatos causados pelo cálcio (reverberação) dão à lesão um aspecto ultra-sonográfico arredondado (Fi.gs . 1-22C e 1-23). A Ultra-sonografia no modo B detecta grandes escavações da papila. O encontro de escavações grandes não pode ser conclusivo de atrofia glaucomatosa, mas esse diagnóstico de- verá sempre ser sugerido. Os pequenos colobomas de papila e as fossetas do disco óptico podem ser confundidos com uma escavação aumentada da papila, mas no caso dos colobomas grandes, os achados de uma grande depressão na parede pos- terior do globo são bastante característicos (Fig. 1-220, E e F). Esclerite posterior Trata-se deinflamação externa do olho associada geral- mente a um quadro inflamatório da órbita (pseudotumor) ou doenças reumáticas . A ultra-sonografia modo B mostra grande espessamento da parede ocular, à custa da esclera e da coróide. A retina pode apresentar descol.amentos serosos ou exsudativos. Ca- racteristicamente, o espaço submentoniano apresenta ede- ma, observado como uma área hipoecogênica (escura) entre a esclera e a gordura ocular (Fig. 1-18). 36 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES A B ·c Aspecto ultra-sonográfico das alterações da papila . (A) Papila normal. A papila, situada à frente da sombra acústica do nervo óptico, apresenta-se plana e ao mesmo nível da retina . (8) Edema de papila na hipertensão intracraniana. Observa-se a elevação da papila e a presença de duas linhas brilhantes na superfície do edema, semelhantes ao aguilhão da aranha. (C) Drusa de papila é uma causa freqüente de borramento e elevação da papila . A ultra-sonograJia mostra claramente uma lesão brilhante no interior da elevação. Capítulo 1 • OCULAR D E F Fig. 1-22. (Cont.). (D) Coloboma de papila. Ocorre por falha no fechamento do cálice óptico . Observa-se uma grande depressão na parede posterior. Os artefatos acústicos criam dois esporões n parede ocu lar que "tendem a fechar a lesão" (setas). (E) Atrofia glaucomatosa avançada; a escavação da papila apresenta um formato em "asa delta" (seta) . (F) Fosseta do disco óptico. Observa-se uma escavação que parece se comunicar com a sombra do nervo. A fosseta freqüentemente associa-se ao descolamento seroso da mácu la. Nas figuras color idas, a retina e as alterações da papila foram pintadas na cor amarela . 37 38 IIlil;h§i'@iIfilM'h'f1'Pi!I"U'iWj"Lj B Fig. 1-23. Drusas da papi la: Tamanho aparente x tamanho real. As drusas contêm cálcio que provocam reverberações e lhes dão uma aparência arredondada quando observadas sob ganho alto (A) . Sob ganho baixo, as drusas são figuras lineares (B) . Em cores: drusas em amarelo; parede ocular e órbita em vermelho; NO = nervo óptico. Lesões expansivas extra e intra-oculares Melanoma maligno da coróide Os melanomas não possuem localização preferencial e são mais freqüentes na raça branca. A ultra-sonografia no mo- do B geralmente mostra uma elevação do tipo cupuliforme ou com aspecto de cogumelo. O interior da lesão mostra aspecto textural homogêneo. Na base do tumor observam-se uma sombra acústica posterior e uma escavação da coróide. Quando não diagnosticados e tratados, os melanomas po- dem atingir grandes dimensões de forma e ocupar toda a câ- mara vítrea e câmara anterior, e destruir toda a estrutura ana- tômica do olho (Fig. 1-24). Os tumores maiores podem apre- sentar aspecto de massa irregular com vasos dilatados e áreas de necrose no seu interior. Associada à lesão tumoral obser- va-se, em alguns casos, um descolamento secundário da retr- na (Fig. 1-25A). Os tumores grandes têm tendência a perfurar a esclera. No modo A. a lesão possui ecos de média e baixa refletividade. com média ou forte atenuação sonora, forman- do um ângulo kappa. O tipo fusiforme tem maior refletivida- de. e o de células epitelióides tem baixa refletividade.8 Hemangioma de coróide É um tumor vascular que se localiza geralmente na re- gião posterior do globo. Quando for difuso, pode haver as- sociação à síndrome de Sturge-Weber. O hemangioma pode levar a um descolamento seroso da retina , e , mais raramente, podemos encontrar calcificações puntiformes na base do tumor. A ultra-sonografia modo B mostra uma lesão circunscrita elevada com interior homogêneo e sem escavação da co rói- de . Com o passar do tempo observa-se o crescimento da le- são. O modo A mostra ecos de alta refletividade e presença de fluxo vascular (movimentos rápidos dos ecos) (Fig. 1-25B). Hemangioma orbitário As lesões vasculares da órbita representam uma palte importante e substancial das anomalias que acometem esta região. Basicamente estes poderão s@r de dois tipos: o capilar e o cavernoso. A forma capilar é mais comum nas crianças e pode já estar presente desde o nascimento ou aparecer mais tarde. Geralmente essa forma de tumor envolve a região cutâ- nea da pálpebra, mas pode ocorrer nas porções profundas da 39 órbita. A diferenciação clínica com outras massas orbitárias pode ser dificil de ser feita, de modo que os exames de ,ima- gem apresentam fundamental importância. O hemangioma capilar apresenta uma tendência de envolver a porção slÍpe- ro-medial da órbita, mas pode haver infiltração difusa. Os hemangiomas do espaço subcutâneo podem ser vistos como massas de contornos irregulares. Os hemangiomas caverno- sos possuem largos espaços endoteliais achatados. Alguns autores levantam a hipótese de que estes tumores na verda- de constituem ma'lformações vasculares. Habitualmente es- sas lesões mostram crescimento lento e pode atingir um ta- manho tal de modo a expandir o arcabouço ósseo. No he- mangioma cavernoso o aspecto no modo B mostra lesão encapsulada dentro do cone muscular com cavidades alonga- das com lúmen de até 1,0 mm de espessura.2.9 Osteoma da coróide É um tumor ósseo da coróide, geralmente bilateral, e que acomete a região posterior do olho. Este tumor tem maior incidência nas níulheres. A ultra-sonografia modo B mostra lesão linear, p.lana e hiperecóica, na região posterior. A presença de cálcio produz sombra acústica sobre os tecidos subjacentes. Por outro lado o modo A mostra lesão de alta refletividade. Linfangioma É lima malformação venoso-linfática que ocorre freqüen- temente na cabeça e pescoço, incluindo a órbita. A grande maioria dessas lesões é vista desde o nascimento ou nos lac- tentes. Clinicamente essas malformações apresentam sangra- mento abrupto com proptose e algumas vezes compressão do nervo óptico. Em quadros de infecção das vias aéreas su- periores ou facial pode haver o aumento volumétrico dessas lesões, provavelmente por hiperplasia do tecido linfocítico. Ao exame fisico essas lesões apresentam-se como elevação palpebral sem mudança de tamanho durante as manobras de Valsalva. Histologicamente essas lesões apresentam canais endoteliais, com parede fina, não-encapsulada e de conteúdo seroso. Os exames imagenológicos mostram lesão. d@ntro do cone muscular, mista com vários compartimentos císticos representados por componente linfático e venoso, sendo que o componente venoso apresenta aumento de calibre durante a manobra de Valsalva.2 ULTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PAIHES Fig. 1-24. Melanoma da coróide. (A) Lesão sólida ocupando toda a câmara vítrea. (8 e C) Lesão sólida deformando e ocupando todo o globo ocu lar com sombra posterior. IiImmO' •• r3"'1' A B C Fig. 1·25. Tumores intra-oculares. (A) Melanoma maligno da corÓide. Observar o aspecto cupuliforme, o interior homogêneo, o ângulo Kappa (ecos A descendentes) e o descolamento de retina secundário (seta). (8) Hemangioma de corÓide. Observar o aspecto mais difuso, o interior homogêneo e ecos A elevados no seu interior (seta). (C) Retinoblastoma. Apresenta interior heterogêneo com pontos brilhantes (presença de cálcio). O cá lcio causa reabsorção sonora e a presença de sombra acústica sobre a parede ocular e tecido orbitário (setas) . 41 42 Carcinoma metastático A doença metastática para o globo e órbita pode ser a primeira manifestação de um tumor oculto. O sítio de origem mai s comum destes tumores ocorre na mama, pulmão, prós- tata e rins. As metástases podem apresentar aspecto infiltra- tivo na gordura orbitária mimetizando um pseudotul11or in- flamatório. Por vezes as metástases podem envolver os mús- culos extra-oculares assumindo aspecto nodular. 17 A ultra-sonografia mostra uma lesão sólida, habitualmente pouco elevada e cujo interior apresenta aspecto heterogê- neo. Às vezes as lesões têm grandes dimensões, podendo ser acompanhadas por descolamento de retina. O modo A mos- tra lesão de alta refletividade. Os ecos de diferentes alturasrefletem a heterogeneidade do interior da lesão (Fig. }-26). Retinoblastoma É um tumor maligno que surge da retina imatura. O retinoblastoma ocorre predominantemente na infância, B UlTRA-SONOGRAFIA DE PEQUENAS PARTES com pico de incidência nos primeiros três a quatro anos de idade. Estes tumores estão relacionados com a mutação do cromossomo 13 ou por herança autossômica dominante. Pode ser bilateral e plurifocal, podendo existir descola- mentos de retina junto ao sítio do tumor. 10 A sua apre- sentação clínica se dá pela leucocoria, e o exame de fundo de olho mostra elevação acinzentada isolada ou múltipla da retina. A lesão geralmente apresenta crescimento lento durante a sua evoIução . A ultra-sonografia mostra uma lesão sólida de contornos irregulares com pontos hiperecogênicos no seu interior cau- sados pelo depósito de cálcio. A sombra acústica gerada pelo cálcio impossibilita a avaliação da imagem da esclera. Nos casos sem cálcio o diagnóstico diferencial é muito difícil. O uso do mapeamento com Doppler colorido mostra intensa vascularização no seu interior. No modo A, observam-se ecos altos (cálcio) alternados com ecos de médias e baixas refletivi- dades (Figs. 1-25C e 1-27). Fig ' ·26. Tumor intra-ocula r. Carcinoma metastá tico do pul mão. (A) Os tumores metastáticos intra-ocu lares são geralmente planos, pouco elevados, e o interior é heterog êneo (áreas celulares entremeadas por fib rose) . (8) Os ecos A refletem essa heterogeneidade, apresentando-se irregulares: ecos altos, médios e baixos se alternam no interior de lesão (seta). gliliMO' 't;'''"I Fig. 1-27. Retinoblastoma. (A a C) Modo B com lesão sólida irregular e calcificações no seu interior. (O e E) Lesão sólida irregular hipervascular ao mapa com Doppler colorido. (F) Grande retinoblastoma ocupando toda a retina com descolamento . 43 B 44 Tumores linfoproliferativos O linfoma e a lellcose representam aproximadamente 55Qo dos tumores mal,ignos da órbita e vêm demonstrando crescimento estatístico significativo no decorrer dos anos. Os rumores linfóides geralmente acometem os linfonodos, mas podem apresentar envolvimento extranodal como no caso da região orbitária. No caso do linfoma, o envolvimento orbitá- rio ocorre isoladamente sem haver o envolvimento sistêmico concomitantemente. Por outro lado as leucoses apresentam envolvimento orbitário conjuntamente com o envolvimento sistêmico, embora muitas vezes esse pode preceder a mani- festação sistêmica. O envolvimento da órbita pela leucose não é muito comum, mas quando este ocorre, há predomínio da leucemia mielóide aguda nas crianças e da leucemia mie- lóide crônica nos adultos. A manifestação clínica mais comum é a hemorragia retiniana e a infiltração do nervo óptico. Na leucemia há um envolvimento das partes moles do olho, ane- xos e invasão direta da órbita. Outra ocorrência comum é a infi ltração leucêmica da úvea, coróide, retina e nervo óptico, com representação imagenológica de espessamento focal ou dinlso dessas estruturas. No caso dos linfomas, o t,ipo mais comum que ocorre na órbita é o não-Hogdkin com uma porcentagem de ocorrência na região orbitária em torno de 10% dentre todas as lesões neoplásicas oculares. Entre os pacientes com linfoma orbitá- rio, cerca de 709ó a 75% também possuem a doença na forma sistêmica. Clinicamente esses pacientes apresentam uma proptose indo l:or com distúrbio da mobilidade. Embora qual- quer parte do olho possa estar envolvida há uma predileção para a glândula lacrimal com aumento volumétrico da mes- ma. Além disso há envolvimento da pálpebra, porções ante- rior e superior da órbita e conjuntiva. Conseqüentemente o principal achado clínico é a proptose e inferiorização do glo- bo e massa palpável (Fig 1-28). Existe uma maior incidência de linfoma orbitário nos pacientes com SIDA. Tumores dos nervos periféricos da órbita A órbita alberga vários nervos periféricos e os sensoriais, como os nervos trigêmeo M, oculomotor, troclear e abdu- centes. Cerca de 4% das neoplasias da órbita se devem a neo- plasias dos nervos ópticos, sendo os tumores mais comuns representados pelos neurofibromas ou schwanomas. Os tu- mores malignos da órbita são muito raros e são basicamente representados pelos schwanomas malignos e o neurofibros- sarcoma. Os neurofibromas surgem em quatro tipos de padrão: o plexiforme, o difuso, o circunscrito e os neuromas pós-ampu- tação. Os neurofibromas plexiformes ocorrem na infância e geralmente acometem as pálpebras, na forma de massa pal- pebral com ptose e aumento regional. Na ado escência estes rumores estendem-se em direção à fronte, têmpora e órbita superior com deslocamento inferior do globo. Os neurofibro- 'N"ihii'l§Iti3iMitijf1i Q"iI'WMP4;i'i'j mas difusos possuem um aspecto semelhante ao plexiforme com infiltração da gordura orbitária e dos músculos extra- oculares. Por sua vez os neurofibromas circunscritos são tu- mores de crescimento lento com efeito de massa e desloca- mento inferior do globo. Os schwallomas são clinicamente quase que indistinguí- veis dos neurofibromas, pois ambos surgem dos nervos sen- soriais e possuem crescimento lento e proptose. Diferente dos neurofibromas, os schwanomas possuem cápsula defini- da. Em termos técnicos, ambos apresentam-se aos exames de imagem como lesões sólidas bem definidas (Fig. 1-29), mas eventualmente poderão apresentar o centro cístico devido à degeneração central. No caso dos neurofibromas de forma difusa e os plexiformes apresentam lesões de margens irregu- lares e hipervascularizadas.3 Artefatos acústicos na ultra-sonografia ocular São ecos criados ou suprimidos por estruturas normais e patológicas do olho Ol.l pela introdução de materiais estra- nhos no globo ocular. Os ecos adicionados são chamados de ecos fantasmas ou parasitas. Como veremos adiante, os arte- fatos acústicos podem auxiliar no diagnóstico e localização de um corpo estranho intra-ocular (CEIO). Gás ou ar intravítreo A introdução de gás durante a cirurgia vitreorretiniana ou de ar após perfuração impede a visualização adequada de qualquer estrutura ocular atrás dele. Os gases são reabsorvi- dos em poucos dias, permitindo ao ultra-sonografista esco- lher o momento mais adequado para o exame. Nos casos em que a bolha de ar é pequena o exame pode ser realizado qua- se sem dificuldades; o paciente inclina a cabeça para trás ou senta-se , deslocando a bolha de ar e permitindo uma melhor visualização das estruturas oculares. . Óleo de silicone na cavidade vítrea É utilizado em algumas cirurgias para o tratamento de descolamento de retina. O óleo de silicone produz uma signi- ficante atenuação sonora. Dificulta o estudo da retina, da parede ocular e da órbita. A velocidade do som no vítreo é de 1.532 m/s, enquanto no óleo de silicone é de 986 m/s, o que gera uma imagem de falsa magnificação ocular ("pseu- dogigantismo ocular") (Fig. 1-30E). Perfluorcarbono líquido intra-ocular Esse fluido é claro, de baixa viscosidade e duas vezes mais pesado que a água. É usado como substituto temporário do vítreo nas cirurgias vitreorretinianas. Após sua remoção, po- dem restar algumas gotículas que geram ecos de reduplicação que atravessam a parede ocular e a órbita (Fig. 1-30C e D). UH/Md. ""UNII Fig. 1-28. (A) Proptose. (B) US e Te com lesão sólida dentro do cone muscular. (C) Mapeamento com Doppler de amplitude mostrando hipervascularização. (O) Linfoma com modo B identificando grande lesão sólida dentro do cone muscular. 45 D Fig. 1-29. Schwanoma. Lesão sólida hipoecogênica retroorbitária envolvendo o nervo. 46 TVG:2.0dB/cl"l A ===== c E Ii"éii'@'!diMitjf)'QNUWMiM;iifj B o F Fig. 1-30. Artefatos acústicos . (A) Olho com córnea calcificada . Observa-se uma sombra acústica que esconde os ecos da retina descolada, da parede ocular e do tecido orbitário . (8) Calcif icação da parede ocu lar. Olho atrófico, com perda do formato esférico. O cálcio causa umgrande brilho na parede ocular e grande atenuação dos ecos orbitários. (C e D) Restos de perfluorcarbono provocam reverberações intensas que atravessam o olho e o tecido orbitário, como a luz de um faro l na neblina. (E) Gotículas de si licone. Após alguns meses, o silicone pode se emulsificar, formando pequenas gotas que causam fortes artefatos e impedem o exame adequado das estruturas intra-oculares. (F) Lente intra-ocular (LlO). A LlO provoca reverberações em "cauda de cometa" que simulam opacidades vítreas (seta). iilma. '1:,,%;. Corpo estranho intra-ocular (CEIO) Acidentes domésticos, automobilísticos e de trabalho provocam ferimentos perfurantes na córnea e globo ocular com possibilidade de introduzir substâncias estranhas. Após a penetração de fragmento na córnea ou câmara vítrea en- contra-se grande dificuldade em se avaliar o fundo de olho devido ao sangramento que opacifica o humor vítreo e ass im impede a penetração da luz. O exame ultra-sonográfico no modo B permite o diag- nóstico e localização dos corpos estranhos intra-oculares, sejam estes radiopacos ou não. A imagem clássica é a de um ponto hiperecogênico com forte sombra acústica posterior, sendo que os locais preferenciais de encontro se restringem à câmara anterior e íris. A B 47 Ferro e aço Fragmentos de ferro ou aço formam imagens fOltemente ecogênicas com sombra acústica posterior ou reverberação so- nora posterior, independente do feixe de incidência do som so- bre estes. Se o corpo estranho estiver junto à parede, posterior- mente a este ponto hiperecogênico, observa-se sombra acústica ou reverberação impossibilitando a análise da parede ocular e tecido orbitário adjacente (Figs. 1-31A a O e 1-32). Vidro Esse corpo estranho surge normalmente após traumas automobilísticos. O vidro produz ponto hiperecogênico que gera ecos de reduplicação posterior menos intensos que os formados pelo ferro e aço. Normalmente o fragmento de vidro não gera sombra acústica posterior importante (Fig. 1-3 K) . Fig. 1-31. Corpo estranho intra-ocular (CEIO) O corpo estranho apresenta ecos de redup licação laterais e em profundidade, que lhe dão uma extensão aparente maior que seu tamanho real. A figura A com ganho G elevado - o corpo estranho metálico tem aspecto triangular; em a, com ganho reduzido, observam-se suas pequenas e reais dimensões. (Continua.) 48 'N"i6ii!lijI!@ittiiritj'P"'U!§'}ií'ti;!,lJ RI=IY=126 I::' Çl I tl : "":: d 8 T"G:2.5dB/ CM c D Fig. 1-31. (Cont.). (C) Vidro na cavidade vítrea; observam-se poucos ecos de reduplicação. (O) Fino fragmento de metal observar a abundância dos ecos de redupl icação, e a fraca sombra acústica sobre os tecidos da parede e órbita. Capílulo 1 • OCULAR Fig. 1-32. Corpo estranho. (A e B) Metal. (A) Modo B com fragmento de metal impactado na íris. (B) Ultrabiomicroscopia com fragmento de metal na câmara anterior. (C) Madeira. Lesão hiperecogênica fixa na câmara anterior com reverberação somara posterior. 49 50 Acrílico ou PMMA São causados principalmente por lentes intra-oculares (L10) luxadas no vítreo Os artefatos acústicos são parecidos com os formados por fragmentos de vidro intra-ocular (Fig. 1-30F).1 1 As L10 causam grandes artefatos acústicos, criando falsas opacidades na cavidade vítrea, simulando quadro de hemorragia ou membranas vítreas. Cristalino luxado no vítreo Cristalino ou fragmentos de cristalino que vão para o vítreo (segmento posterior do olho) geralmente ocorrem após trauma ou cirurgia intra-ocular, e eventualmente pode- rão ser confundidos com tumores intra-oculares. Na maiolia das vezes. o cristalino luxado apresenta-se móvel ao exame. porém quando fixos ao fundo do olho podem se as- semelhar a tumores. Os clistalinos adultos apresentam uma con- figuração oval ao exame, e os infantis têm um aspecto esfélico. No modo A surgem ecos múltiplos e de alta (Fig. 1-3).12 A __________________________ ___ B Ii"l;fli·W·I3itijiij."air'iiWM iMii'fi Biomicroscopia ultra-sonográfica A ultra-sonografia oftalmológica convencional modo B geralmente utiliza transdutores com freqüência de 7 a 10 MHz, os quais conseguem imagens com boa definição de 5 a 8 mm após a superfície do transdutor, permitindo uma penetração tecidual de até 50 mm. Nos últimos anos foi introduzido um novo tipo de ul- tra-sonografia ocular. Este aparelho usa transdutores de 50 MHz e passou a ser denominado de biomicroscopia ultra- sonográfica ou pela sigla UBM. O transdutor de UBM emite ondas de alta freqüência e devido a esse fenômeno este sofre maior atenuação sonora. Assim, só avalia estruturas dispostas até 12 mm da superfície do transdutor. ou seja, as imagens do segmento anterior do olho com profundidade máxima em corpo ciliar, retina e vítreo periférico. O impacto da UBM recai na sua habilidade em produzir imagens com resolução microscópica sem violar a integridade do globo ocular (Figs. 1-33 e 1-34). ---- --- - \I Fig. 1-33. Biomicroscopia ultra-sonográfica (UBM). (A) Deta lhes do ângulo irido-esclerocorneano. O exa me mostra com grande aumento a íris, o corpo ciliar e a junção esclerocorneana. (B) Aspecto de cistos do epitéli o ciliar. Em cores: vermelho = corpo cil iar; azul = íris; amarelo = córnea; branco = esclera ; CA = câmara anterior; preto = loca l do Cana l de Schlemm. Capítulo 1 • OCULAR 51 Fig. 1-34. Corte US com identificação da córnea, câmara anterior e cisto simples na câmara posterior. o exame é realizado após instilação de colírio anestésico no olho do paciente. O transdutor é colocado em uma cuba com água e metilcelulose, sendo que a cuba fica entre as pál- pebras superior e inferior. As melhores são obtidas quando a ultra-sonografia está perpendicular às estruturas que devem ser avaliadas. permitindo, assim. um maior retorno do reflexo sonoro ao transdutor. 13 A biomicroscopia ultra-sonográfica é urna excelente fer- ramenta para analisar pacientes com glaucoma de ângulo. bem como os mecanismos que o produzem. Outras estrutu- ras oculares que participam dessa patologia. como a íris e o corpo ciliar, também podem ter suas imagens visualizadas simultaneamente no exame. Este exame apresenta a habilidade única de detectar a imagem e posição das lentes intra-oculares e de seus hápti- cos nos casos pós-facectomia (cirurgia de catarata) com im- plantes de lentes intra-oculares .14 Muitas lesões de córnea, íris e corpo ciliar são acompa- nhadas normalmente apenas pelo exame na lâmpada de fen- da (biomicroscopia). A biomicroscopia ultra-sonográfica aju" da a determinar as dimensões e profundidades de tais lesões, e através de suas morfologias e refletividades internas, cola- borar no diagnóstico diferencial destas. 16 Outra vantagem deste método é que ele pode fazer o diagnóstico diferenciall entre tumores sól,idos e cistos. eluci- dando, assim, várias dúvidas no diagnóstico de patologias oculares do segmento anterior. Nos casos ol1de a radiotera- pia e/oll a remoção cirúrgica são indicadas, a UBM ajuda a determinar os limites das bordas dos tumores, colaborando no seu planejamento cirúrgico. Nos últimos anos surgiram vários avanços na cirurgia de ceratectomia a laser para correção de casos de miopia, hiper- metropia e astigmatismo, uma cirurgia de alta precisão cirúr- gica. Aqui a UBM novamente encontra emprego. colaboran- do na localização de patologias corneanas com alta eficácia, e monitorando eventuais alterações corneanas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Abyrne SF. 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In: Saito OC, Cerri CC. Órbita e globo ocular. 1. ed. São Paulo: Sarvier 1999. 186-200p. 16. Verbeek AM, Mitropoulos P. Oiagnostic ultrasound: An aid in the differentiation of anterior segment lesions of the eye. /nl Ophthalmo/1991 ;15:205-21,2. 17. Weber AL, Romo LV, Sabates NR. Pseudotumor of the orbit - clinicai, pathologic and radiologic evaluation. Radiol C/in North Am 1999;151-168. Capítulo 2 AbAUlAMENTOS CERVicAis E ALTERAÇÕES dA FACE • Osmar de Cássio Saito • Ciovanni Cuido Cerri CONTEÚDO ti' INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 54 ti' ANATOM IA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 54 ti' LESÕES CERVICAIS . . . .. .... .. . . . . . 56 ti' REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. . . . . . . . . . . 73 54 INTRODUÇÃO A anatomia cervical é complexa e em nenhuma outra re- gião do corpo possui tantos órgãos compartimentados num espaço tão restrito. A ultra-sonografia geralmente é o primei- ro exame de imagem a ser utilizado na avaliação das lesões cervicais, pois este funciona como método de triagem inicial. Desta maneira a ultra-sonografia pode confirmar a existência e avaliar a extensão das lesões cervicais palpáveis; além disso, esta possui a grande vantagem de localizar as lesões não pal- páveis. O sucesso da utilização deste método diagnóstico ba- seia-se no fato de se ter uma grande sensibilidade e especifi- cidade, não podendo se esquecer do fato de ser de baixo cus- to operacional. ANATOMIA Triângulos cervicais A região cervical é um importante meio de comunicação entre a cabeça e o corpo, sendo que através dela passam ner- vos, vasos, músculos e osso (coluna cervical). A delimitação da região cervical é feita pelo músculo miloióideo superiormente e pela primeira costela inferiormente. 1 Inúmeras são as tentati- vas de se classificar os diferentes compartimentos dessa região através da ultra-sonografia. Uma delas leva em consideração os triângulos cervicais tendo como principal referencial o múscu- lo esternocleidomastóideo. Dessa forma imaginariamente, o músculo esternocleidomastóideo divide a região cervical em dois triângulos: anterior e posterior (Fig. 2-1). 1. O triângulo anterior é demarcado pela margem anterior do músculo esternocleidomastóideo, linha mediana e o ramo da mandíbula. Por sua vez o triângulo posterior é demarca- do pela margem posterior do esternocleidomastóideo, músculo trapézio e clavícula. Estes triângulos poderão ser redivididos em triângulos menores tendo como outros referenciais os músculos digástrico e o omoióideo. Fig. 2·1. (A e B) Triângulos cervicais . "!I@ii'I§!'!fi@iK'ftliijielNi§MikMifj O triângulo anterior alberga vários triângulos me- nores. Dessa maneira os ventres anterior e posterior do digástrico demarcam o triângulo enquanto o triângulo demarcado pelos ventres anterior do digás- trico e o osso hióide demarcam o triângulo submento- niano. Outro grupo de triângulos é aquele dividido pelo ventre superior do músculo omoióideo. O triângulo, compreendido pelo ventre superior do músculo omoiói- deo, a linha mediana e o esternocleidomastóideo resulta no chamado triângulo muscular. Por sua vez o triângulo, compreendido entre o esternocleidomastóideo, ventre anterior do digástrico e porção superior do músculo omoióideo demarca o triângulo carotídeo.2 2. Triângulo posterior apresenta como limite a margem posterior do músculo esternocleidomastóideo, o mús- culo trapézio e a clavícula inferiormente. Através desse triângulo passam vasos sangüíneos nutrientes, nervos (nervo espinhal acessório e ramos do plexo cervical), lin- fonodos e gordura. O triângulo posterior por sua vez é subdividido em dois triângulos menores pelo ventre in- ferior do músculo omoióideo, sendo que o triângulo de localização superior é o chamado triângulo occipital, e o inferior é denominado de triângulo supraclavicular. Vasos A bainha jugulocarotídea localiza-se junto à borda ante- rior do músculo esternocleidomastóideo e contém a artéria carótida comum medialmente, a veia jugular interna lateral- mente e o nervo vago posteriormente. Outros grupos de va- sos importantes da região cervical compreendem as artérias e as veias tireoidianas. Cada lobo tireoidiano é irrigado por duas artérias, uma superior e outra inferior, ramos da caróti- da externa. Uma terceira artéria, denominada IMA, também pode estar presente. 'iiIIlMkt"4:MiltM'i§imiiiMI'4d'i'·ii#'·!iOj·1jgt,· Nervos Vários são os nervos que atravessam a região da cabeça e pescoço e, portanto, merecem destaque especial no seu estu- do através da ultra-sonografia. Na região infra-hióidea encon- tramos o nervo laríngeo recorrente, ramo direto do vago, o qual à direita, se origina posteriormente à artéria subclávia e à esquerda, origina-se posteriormente ao arco aórtico. O nervo laríngeo recorrente sobe cral1ialmente dento do espaço deli- mitado pela traquéia, esôfago e lobos tireoidianos. A este nível pode ser facilmente identificado à ultra-sonografia, através de cortes transversais, como pequeno círculo hipoecóico circuns- crito por halo hiperecogênico, visto à direita entre o músculo longo do pescoço e o lobo tireoidiano e à esquerda entre o esôfago e o lobo tireoidiano homolateral (Fig. 2-2). Linfonodos Os linfonodos cervicais estão distribuídos em sete níveis principais. Os de maior impOItância estão situados no triân- gulo anterior, na região parotídea e na submandibular. Os lin- fonodos podem ser reativos ou metastáticos. Os reativos 55 inflamatórios apresentam forma ovalada, são hipoecogêni- cos e com hilo hiperecogênico bem definido. Por sua vez , os linfonodos metastáticos apresentam dimensões maiores, for- mato esférico, hipoecogênicos e sem hilo evidente. Confor- me a sua distribuição, os linfonodos podem ser divididos em superficiais (cadeia jugular externa) e profundos (cadeia jugu- lar interna, espinhal acessória e cervical transversa). Grupo superficial: são distribuídos pelo trajeto da veia jugular externa desde a base do crânio até os vasos braquio- cefálicos. O grupo profundo é O mais importante clinicamen- te, pois drena as estruturas fundamentais das regiões cervical e cefálica, como o músculo esternocleidomastóideo, nasofa- ringe, orofaringe, hipofaringe, tonsilas e laringe. O maior lin- fonodo do grupo profundo é o jugulodigástrico e localiza-se na porção superior da cadeia jugular interna junto ao ângulo mandibular. Normalmente os linfonodos da região cervical apresentamdiâmetro ântero-posterior máximo de 5 mm. Por outro lado o linfonodo jugulodigástrico, por ser o entron- camento da drenagem linfática de outras cadeias, pode atin- gir dimensões máximas,no eixo ântero-posterior de até 1 cm e 2 cm no eixo longitudinal. Fig. 2·2. Nervo laríngeo recorrente . (A) Corte transversal do nervo laríngeo recorrente à dor (1). (B) Corte longitudinal do nervo laríngeo recorrente à dor (setas) . (C) Corte transversal do nervo laríngeo recorrente à esquerda . (D) Corte longitudinal do nervo laríngeo recorrente à esquerda. 56 Técnica O exame ultra-sonográfico da região cervical deve ser realizado com o paciente em decúbito dorsal e com o pesco- ço hiperestendido, o que é facilmente conseguido com a colocação de um coxim sob os ombros. Devem ser utilizados transdutores lineares de alta freqüência entre 7,5 e 14 MHz, pois estes permitem a individualização precisa de planos ana- tômicos e as principais anomalias e doenças.3 Muitas são as alterações que comprometem a região cervical, sendo as mais comuns relacionadas com o cisto de tireoglosso, cisto branquial, cisto dermóide, tireoideopatias, malformações lin- fáticas, hemangiomas e as neoplasias.4 LESÕES CERVICAIS Cistos branquiais As anomalias na embriogênese do aparato branquial resultam num amplo espectro de alterações que incluem flstulas, seios, cistos, anomalias do osso temporal e malforma- ções craniofaciais. Estes cistos desenvolvem-se a partir da primeira, segunda ou terceira fendas branquiais, sendo que a grande maioria surge da segunda fenda (90%), enquanto 8% desenvolvem-se da primeira e 2% desenvolvem-se da terceira .5 1. As anomalias do primeiro arco branquial incluem cistos intraparotídeos ou cistos do triângulo anterior em co- municação com o canal auditivo externo. Os cistos da primeira fenda branquial são de dois tipos: o tipo I no qual o cisto ocupa o interior da parótida e muito rara- mente tem comunicação com o conduto auditivo exter- no. Por sua vez o cisto do tipo 11 apresenta comunicação com o conduto auditivo externo pelo segmento proxi- Cisto ---111 do 1° arco branquial Conduto auditivo externo AL-_________________ Fig. 2·3. (A e B) Cistos do 1 Q arco. mal do cisto. A porção principal do cisto habitualmente se localiza inferiormente à parótida e clinicamente apa- rece como massa na região sub mandibular (Fig. 2-3).6 O exame ultra-sonográfico desses pacientes mostra imagem cística simples cervical alta na topografia intrapa- rotídea ou estendendo-se em direção à fossa submandi- bular, porém o seu tipo I ou 11 é muito dificil de ser inferi- do apenas com a ultra-sonografia, pois este método apre- senta limitações técnicas na avaliação da comunicação do cisto com o conduto auditivo externo, sendo melhor nes- tes casos o estudo com tomografia computadorizada. 2. As anomalias do terceiro arco branquial são muito raras e, quando presentes, estas aparecem como fistulas, cis- tos e malformações sistêmicas. As fistulas do terceiro arco possuem abertura anteriormente à margem ante- rior do músculo esternocleidomastóideo. Por sua vez o cisto do terceiro arco é recoberto por epitélio e localiza- do no compartimento cervical lateral e pode se estender inferiormente ao nível da glândula tireóide. Estes cistos podem apresentar dificuldade no diagnóstico diferencial com higromas císticos, mas geralmente quando bem definidos e localizados posteriormente à carótida e ju- guiar, estas informações sugerem a sua origem. Com relação às anomalias sistêmicas, estas se rela- . cionam à aplasia ou hipoplasia das paratireóides e timo (síndrome DiGeorges).6 3. Os cistos do segundo arco branquial resultam da obli- teração incompleta ou persistência do seio epitélio cer- vical. A topografia habitual é cervical lateral alta junto à margem anterior do esternocleidomastóideo e bifurca- ção carotídea, mas teoricamente podem surgir em qual- Cisto do 1° arco branquial Nervo facial L-_________________ Gmmt!t"4=MN"j!@"·}i-WU'tui,,·hMi·h'i·Mtiii' quer local, variando desde a fossa tonsilar, próximo ao osso hióide, até a região supraclavicular.6-8 .Estes cistos tornam-se evidentes entre os 10 a 40 anos e clinicamente eles aparecem como massa cística flutuante indolor junto ao ângulo profundo da mandíbu- la e margem anterior do esternocleidomastóideo.9 Ex- cepcionalmente pode haver degeneração com transfor- mação para carcinoma.6 Conforme a localização, podem-se classificar os cistos branquiais em quatro tipos (Fig. 2-4): • Tipo I: cistos superficiais situados na margem anterior do músculo esternocleidomastóideo e logo abaixo da fáscia cervical superficial. • Tipo 11: tipos mais comuns e que consistem de cistos pro- fundos que tocam a bainha jugulocarotídea. • Tipo lll: representam as lesões císticas que passam entre as carótidas externa e interna em direção à parede late- ral da faringe. • Tipo IV: consistem de cistos revestidos por epitélio colu- nar e que se localizam profundamente entre carótidas interna e externa. 10 o exame no modo B mostra lesão cística anecóica de paredes bem definidas e que desvia o músculo esternoclei- domastóideo, a carótida e ajugular mediai e posteriormente (Fig. 2-5).3.8.11 Quando complicado por infecção, o cisto apre- sentará inúmeros sedimentos flutuantes ("debris") e até po- Tipo I Músculo esterno- Jugular Carótida Faringe cleidomastóideo Tipo 111 Músculo esterno- Jugular Carótida Faringe cleidomastóideo Fig. 2-4. Tipos de cistos branquiais. 57 derá simular imagem nodular sólida, sendo que o emprego do mapeamento com Doppler colorido poderá confirmar a sua natureza porque este não detecta fluxo interno e tam- bém mostra artefatos sonoros. I Cistos do dueto tireoglosso Os cistos do tireoglosso constituem o grupo dos cistos não-odontogênico mais comuns da região cervical, represen- tando cerca de 70% das massas congênitas. Habitualmente estes se localizam anteriormente na linha mediana e são des- cobertos na infância, mas não raramente são vistos na fase adulta. A embriologia da tireóide explica a gênese e a topografia desses cistos. A glândula tireóide surge na linha mediana no assoalho da faringe entre o primeiro e segundo arcos bran- quiais por volta da terceira semana de gestação. A tireóide in- duz à formação de um tubo revestido por epitélio tubular chamado de dueto tireoglosso. Este dueto irá penetrar o meso- derma cervical e descerá desde a base da língua até o triângulo anterior cervical, sítio final da tireóide. Por volta da oitava à décima semana de gestação, observa-se o desaparecimento completo deste dueto. No processo de migração da tireóide. esta pode ficar presa em qualquer parte do trajeto do tireo- glosso, resultando assim nas chamadas ectopias. Mesmo quan- do a tireóide está localizada no sítio habitual pode haver res- quícios de tecido tireoidiano no curso do dueto tireoglosso . Músculo esterno- Jugular cleidomastóideo Músculo esterno- Jugular cleidomastóideo Tipo 11 Carótida Faringe Tipo IV Carótida Faringe 58 A 'N"jtii·l§!·Ift;fJuJ.j,e"'@i§ijií'Méj B Fig. 2-5. Cisto Branquial. (A) Formação cística cervical lateral com inúmeras partículas internas flutuantes ("debris"). (8) Formação cística cervical lateral apresentando parede espessa e conteúdo interno homogêneo. (C) Fistulografia em ântero-posterior evidenciando o trajeto da fistula branquial, porém não há formação de cisto propriamente dito. GIúMtIt'14=MiltMI!§'''Wi!ihlhhi1·i!Mi.lfj·X'iji' . Os cistos de tireoglosso originam-se de restos do dueto tireoglosso embrionário . Esses restos aumentam de tamanho devido às secreções da camada epitelial. A sua topografia pode variar ao longo do ducto tireoglosso e ao redor do osso hióide. Desta forma, aproximadamente 65% dos cistos tireo- glossos estão situados abaixo do osso hióide, 20% são de localização supra-hióide e 15% apresentam-se na altura do osso hióide. 12 Estes podem comunicar-se com a pele e produzir focos
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