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A_Lei,_A_Moral_e_o_Divorcio_Pr_Coty

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A Lei, a Moral e os Conflitos Conjugais Primeira Edição – 2016
Correção: Ana Glaubia de Souza Paiva Revisão Final: Marcos de
Souza Borges Diagramação: Marcos de Souza Borges Capa:
Eurípedes Mendes Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da
edição deste livro deve ser reproduzida de forma alguma sem a
autorização, por escrito, da editora, exceto em casos de citações
curtas em artigos críticos ou em resenhas.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ©
Borges, Marcos de Souza
A Lei, a Moral e os Conflitos Conjugais / Marcos de Souza Borges –
Almirante Tamandaré, PR: Editora Jocum Brasil, 2016.
192 páginas; 21cm.
ISBN 978-85-60363-55-1
Edição, Impressão 1. Vida cristã 2. Liderança.
e Acabamento
3. Aconselhamento pastoral.
Editora Jocum Brasil
4. casamento e divórcio.
5. Discipulado.
Distribuição e Vendas:
I. Borges, Marcos - II. Título.
Editora Jocum Brasil
www.editorajocum.com.br
Fone: |55| 41 3657-2708
CDD 240
Índide para catálogo sistemático: 1. Ética cristã e Teologia
devocional - 240
ÍNDICE
Introdução - O Hedonismo e a Cruz................. 05
1. Classificando as Leis ...................................... 11
2. O “Legal” e o “Moral”..................................... 25
3. O “Repúdio” e o “Divórcio” ............................ 35
4. A Lei do Divórcio .......................................... 53
5. Atenuantes e Agravantes ............................. 79
6. A Ferida do Adultério .................................... 91
7. O Divórcio e o Sacerdócio ............................. 139
8. Transformando uma Cultura de Divórcio em uma Cultura de
Casamento ................... 167
Introdução
O Hedonismo e a Cruz
Preciso começar este livro com um alerta. Como igreja, sempre
corremos o risco de perdermos a mensagem do Evangelho. Isso já
aconteceu em muitos lugares e em diversas épocas da história. A
tendência egoísta do ser humano faz com que as pessoas peguem
apenas aquela parte do Evangelho que lhes interessa, e aos poucos
a corrupção se generaliza e a apostasia se estabelece.
Ser um seguidor de Jesus tem o seu preço. Envolve renúncias,
perseverança, paciência, humildade, coerência e, acima de tudo,
integridade. A principal plataforma para exercitarmos estes valores é
o casamento e a família. Um bom casamento não é fácil, não é
barato, não é instantâneo.
Uma paixão pode rapidamente se transformar em aversão e repúdio
quando se vive em subserviência aos instintos e desejos em uma
busca incontida e sem fim pela autossatisfação. Esta é a lógica
carnal do hedonismo e do humanismo, as ideologias que mais
crescem no mundo atualmente.
As pessoas não estão interessadas em responsabilidades,
principalmente no campo da moralidade, 6 - A Lei, A MorAL e os
ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA Borges que virou sinônimo
de fundamentalismo religioso, no sentido pejorativo do termo. O que
importa é “o meu direito de ser feliz”. Não existe mais fidelidade ao
casamento, mas ao sentimento. Não somos mais fiéis ao outro, mas
ao que sentimos. O que manda não é a responsabilidade moral,
mas a química corporal.
Não importam os referenciais, os valores, apenas a autogratificação
imediata.
Estamos nos tornando em um mundo hedonista e leviano de pais
fracassados e famílias fragmentadas, impondo uma cultura de
orfandade em torno da qual orbitam as maiores tragédias sociais.
Está cada vez mais difícil encontrarmos alguém que veio de uma
família inteira e funcional.
Isto está produzindo um paradigma maligno, uma sinistra distorção
do propósito divino: “o conceito de família sem o casamento”. Ao
tirar o casamento da familia, aniquila-se a importância da fidelidade,
do compromisso, do respeito, da confiança, do altruísmo, da aliança,
que são as virtudes que garantem a formação de um bom caráter e
o sucesso de qualquer relacionamento.
Este é o maior segredo para a criação de filhos.
Desta forma, o principal alicerce que estabelece a saúde e a
prosperidade da sociedade está se esfacelan-do. Estamos
promovendo os problemas que tentamos combater. Pratica-se uma
sociologia moralmente cética, e por isso burra, contraditória. As
instituições (governo, educação, mídia, direitos humanos etc) es-
Introdução - 7
tão tentando proteger a família atacando o casamento.
Tudo incoerentemente em nome do “bem-estar” do indivíduo e dos
seus “direitos”.
Temos em pauta uma propaganda maciça promovendo a cultura da
fornicação e da infidelidade conjugal, a erotização de crianças pela
ideologia de gênero, o direito da mulher ligado à prática do aborto, a
homolatria e o casamento homossexual, a legalização das drogas, a
banalização do divórcio etc., como se as consequências morais
destas práticas pudessem ser simplesmente ignoradas em virtude
da satisfação humana.
Para onde toda esta plataforma hedonista está nos levando? Uma
geração mutante, espiritualmente contaminada, os nefilins desta era
(Gn 6:1-6), os “varões de fama” no sentido problemático do termo,
pessoas com muitos transtornos e conflitos existenciais que estão
superpopulando as clínicas e gabinetes.
Alguns com tendências e trejeitos homossexuais na mais tenra
infância. A vida emocional suprimida por uma carência afetiva que
forja um apetite precoce e insaciá-
vel para a imoralidade e outros descontroles. Também, muitos
sofrendo prematuramente com ansiedade crô-
nica (hiperatividade), e tantas outras psicopatias como acessos de
ira e violência, obsessão por práticas de ocultismo, vampirismo,
esquizofrenias (amigos imaginários), isolamento, neuroses,
automutilação etc.
Estes e outros sintomas apresentados na infância são apenas a
ponta do iceberg. Ou seja, os alarmes 8 - A Lei, A MorAL e os
ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA Borges espirituais
denunciando a existência de muitas iniquidades e desordens sendo
desenvolvidas e perpetuan-do-se ao longo das gerações no sistema
familiar dessas pessoas. Uma mensagem clara de que o passado
está comprometido e o futuro será trágico. Mudanças precisam
acontecer.
Retrocesso moral
É interessante observarmos como a história se repete. Alguém já
disse que o mundo dá voltas, e realmente gira rápido. O sábio
pregador explica: “O
que é já foi; e o que há de ser também já foi; e Deus pede conta do
que passou” (Ec 3:15). Para quem tem uma consciência sociológica
do relato bíblico acerca da história da humanidade não é difícil
perceber o nosso retrocesso moral e para onde ele está nos
levando.
Você pode rotular isso como “profecia da desgraça”, mas é um
alerta real. Na verdade, o objetivo de qualquer profecia da desgraça
não é outro senão evitar a desgra-
ça. Parafraseando, podemos categoricamente afirmar que uma
grande parte desta atual geração está defi-nhando moralmente, se
descivilizando, retrocedendo:
- Aos “dias de Noé” , que precederam a completa destruição de
toda uma geração, quando as pessoas
“casavam-se e davam-se em casamento” (Mt 24:38), ou seja, uma
sociedade caracterizada pela dessacrali-zação e banalização do
princípio do casamento.
Introdução - 9
- Aos “dias de Ló” , que precederam a destruição de cidades
inteiras, entre as mais prósperas e desenvolvidas da época, quando
a injustiça e a perversão sexual se generalizaram, e a medida da
iniquidade daquela geração chegou até os céus. Jesus alertou, Ele
disse: jamais se esqueçam, “lembrai-vos da mulher de Ló” (Lc
17:32), a tipologia de uma igreja sodomizada.
- Aos “dias de Oseias” , uma cultura de adultério, divórcio e
apostasia que precedeu a destruição de Israel na Assíria e o duro
castigo de Judá na Babilônia, que durou mais de setenta anos e
reduziu a pó e cinzas a cidade Jerusalém.
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos
ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque, se a mensagem
transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e
desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos, se
negli-genciarmos tão grande salvação?” (Hb 2:1-3).
Não podemos pensar que sairemos ilesos. Deus é paciente,
sofredor; a sua natureza é evitar a destruição, porém, mais cedo ou
mais tarde,a fatura chega, as consequências vêm, o nosso pecado
nos acha.
Como igreja, precisamos redescobrir o Evangelho da cruz. A partir
disto pode-se resgatar a integridade e
10 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges a sacralidade do matrimônio, o princípio mais elevado para a
construção de qualquer sociedade, que garante famílias funcionais,
homens honrados, mulheres seguras, filhos maduros, uma igreja
forte e uma sociedade sadia e próspera.
Capítulo 1
Classificando as Leis
Para lidarmos com um assunto tão delicado quanto é o divórcio,
precisamos desenvolver um relacionamento apropriado com a
Bíblia. Sem discernirmos as diferentes leis com as suas diferentes
aplicações para as diferentes situações certamente cometeremos
grandes equívocos.
A Bíblia, ao mesmo tempo que é um livro histórico, também
expressa uma infinidade de leis que revelam a natureza do Criador
e o propósito da criação. Podemos dizer que a Bíblia é um livro de
leis, a “Constituição da Humanidade”. O livro que é capaz de
explicar a construção e a destruição do nosso mundo.
A teologia, no lit. o estudo de Deus, abrange todas as áreas da vida,
simplesmente porque Deus é o autor e sustentador de toda a
existência. A verdadeira Ciência sempre converge com a revelação
bíblica. A essência de qualquer Ciência é descobrir e equacionar
corretamente o conjunto de leis que rege uma determinada matéria.
Portanto, a Bíblia não deve ser rotulada apenas como um “livro
religioso”. Ela é, obviamente, um ma-
12 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges nual para a verdadeira espiritualidade, mas é também um
manual de sociologia, cidadania, moralidade, filosofia, psicologia,
antropologia, biologia etc., revelando leis para estas e todas as
demais condições da existência.
Ao estudarmos qualquer assunto que seja na Bí-
blia precisamos descobrir quais são as leis associadas a esse
assunto e a classificação que devemos dar a elas. Ou seja,
primeiramente, precisamos aprender a distinguir as diferentes
classes de leis.
A pior maneira de se relacionar com a Bíblia é dividindo-a em duas
partes - Antigo e Novo Testamento - principalmente a versão
teológica de que o Antigo Testamento tivesse ficado ultrapassado
tendo sido substituído pelo Novo. Este tipo de mentalidade é
imatura, antididática e prejudicial.
Podemos dizer que o Velho Testamento é “velho”
não por ter-se tornado ultrapassado, mas por estabelecer valores e
crenças que funcionam e norteiam sociedades desde o princípio da
humanidade. Ele está recheado de leis que expressam verdades
absolutas e imutáveis. São séculos de aprendizagem que de forma
alguma devem ser descartados.
Por exemplo, se alguém quer descobrir como restaurar os alicerces
de uma nação, transformando uma comunidade escrava em um dos
mais poderosos povos da Terra, precisamos aprender com Moisés.
Todo este conteúdo didático que converge inteligência socioló-
Classificando as leis - 13
gica e espiritualidade não está no NT, mas no AT. Da mesma forma,
a construção de tantos outros assuntos como aliança, sacerdócio,
sistemas de governo, ofício profético, etc. está toda no AT.
O NT, por sua vez, carrega o cumprimento profético do propósito
eterno de Deus, estabelecendo como ponto de partida da redenção
humana um relacionamento pessoal e experimental com Deus, onde
em Cristo somos perdoados, justificados, santificados e vocaciona-
dos para cumprirmos o nosso destino. Esta mensagem de boas-
novas precisa chegar a todos, e apenas desta forma, de dentro para
fora de cada ser humano, a Terra se encherá do conhecimento da
glória de Deus.
Em suma, a Bíblia é o mais fidedigno manual de funcionamento do
ser humano, dos relacionamentos humanos em todas as suas
dimensões: física, moral, jurídica, espiritual, psicoemocional, social,
etc., e muito inteligentemente estabelece diferentes classes de leis
exercendo diferentes funções para as diferentes dimensões da vida
humana. Vejamos alguns exemplos: 1. Leis morais - a ordem
divina As leis morais são absolutas, ou seja, funcionam
independentemente da época ou do lugar. Elas expressam
princípios imutáveis que revelam a natureza da pessoa e do
propósito de Deus.
As leis morais foram resumidas por Deus através de Moisés no
“Decálogo” (Dez Mandamentos) com o
14 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges intuito de alicerçar a nação de Israel, engrandecendo-a e
servindo de modelo para todos os demais povos da Terra.
Depois de Moisés, este conjunto de leis morais foi ainda mais
resumido por Jesus através de um profundo senso de
responsabilidade motivacional e prática –
temor a Deus e compaixão ao próximo, ou seja, a Lei Áurea: “Amar
a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo”
.
Quando você ama a Deus e ao seu próximo, você não está fazendo
um favor a eles, mas, principalmente, a si mesmo. Não existe outra
receita para uma vida realizada e significativa tão poderosa como
esta. Aqui está a base para o relacionamento humano. Esta é a
essência da ética divina, a cultura do Reino de Deus.
A função da lei moral, compreendida pelos dez mandamentos e
posteriormente pela Lei do Amor, é garantir a integridade do ser
humano e o sucesso dos seus relacionamentos em todas as áreas
da vida.
Da observância dessas leis depende o sucesso ou insucesso de um
indivíduo, família e sociedade. As leis morais devem ser a base da
constituição de qualquer sociedade e nação.
O conceito de “moralidade”
A moralidade está essencialmente ligada à natureza do Criador e
aos padrões que Ele estabeleceu para os relacionamentos humanos
que provocam o
Classificando as leis - 15
desenvolvimento de sociedades saudáveis. Vejamos isto um pouco
melhor:
• Princípios morais não são práticas Uma prática que funciona em
determinada circunstância não funcionará necessariamente em
outra.
Enquanto as práticas são específicas ou estratégicas para
determinadas situações, os princípios são verdades profundas,
fundamentais, cuja aplicação é universal.
• Princípios morais não são valores Um valor pode ser descrito
como um comportamento elegido como estilo de vida. Valores
determinam o tipo de cultura, que pode ser justa ou iníqua.
Uma quadrilha de bandidos pode compartilhar valores, mas estarão
violando princípios. Os princípios são o território. Os valores são os
mapas. O território descreve a realidade, o mapa é apenas um
desenho. Um mapa pode ou não descrever o território de maneira
correta. Quando valorizamos os princípios corretos, temos a
verdade – o conhecimento das coisas como elas são e realmente
funcionam a nosso favor.
• Princípios morais são absolutos Os princípios são indiscutíveis,
pois são claros em sua essência. Funcionam como guias para a
conduta humana, cujo valor permanentemente foi comprovado.
16 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Uma forma de compreender rapidamente a natureza
evidente dos princípios morais é simplesmente refletir sobre a
tentativa absurda de se tentar viver uma vida eficaz baseada em
seus opostos: ignorância, mediocridade, idolatria, engano, mentira,
corrupção, rebelião, infidelidade, imoralidade sexual, roubo,
violência, homicídio etc.
Quanto mais nossos paradigmas se ajustam a estes princípios ou
leis naturais, mais precisos e funcionais eles serão. Paradigmas
corretos causarão um impacto incomensurável em nossa eficácia
pessoal e interpessoal.
A ética do caráter, da moral divina judaico-cristã, se baseia na ideia
fundamental de que existem princípios governando as atividades
humanas – leis naturais para o relacionamento humano que são tão
reais, imutáveis e indiscutíveis quanto a lei da gravidade no plano
físico.
Existe uma realidade maior que a nossa percepção limitada. Por
mais que seja difícil para nós compreender os princípios, eles são
como faróis sinalizadores.
Constituem leis naturais que não podem ser rompidas.
Cecill B. DeMille comentou os princípios expostos em seu filme
monumental, Os Dez Mandamentos: “É impossível para nós quebrar
a lei.No máximo, quebramos a nós mesmos contra a lei.”
Os princípios morais funcionam como leis naturais que governam a
existência humana independentemente de qualquer fé, religião ou
filosofia específica.
Classificando as leis - 17
2. Leis espirituais
As leis espirituais derivam das leis morais sendo tão absolutas como
elas, expressando discernimentos de como o mundo invisível pode
ser acionado a nosso favor ou contra nós. Alguns exemplos:
- A lei da remissão de pecados: “O salário do pecado é a morte” ,
por isso: “Sem derramamento de sangue não há remissão de
pecados” . Este é o fundamento da salvação em Cristo, o sacrifício
perfeito para a justificação de todo aquele que nele crê.
- A lei da transparência: “O que encobre as suas transgressões
jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará
misericórdia” (Pv 28:13). Ou seja, o que você confessa, você
domina. O pecado oculto aprisiona a pessoa.
- A lei da humildade: “Deus dá graça aos humildes” , em
contrapartida: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a
queda” (Pv 16:18). Quando você vir uma pessoa agindo com
arrogância, orgulho, prepotência etc., pode ter certeza que essa
pessoa, nessa mesma área, sofrerá grandes reveses podendo ser
destruída.
- A lei da generosidade: “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, genero-samente vos darão;
porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão
também” (Lc 6:38,39). A
“teologia da prosperidade” é suspeita, mas a “teologia da
generosidade” é infalível.
18 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges
- A lei do perdão: “Não julgueis e não sereis julga-dos; não
condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados”
(Lc 6:37), etc. O perdão determina se vamos ser tratados com
misericórdia ou se seremos atormentados.
Uma grande parte do conteúdo do ministério de Jesus foi dedicado
a explicar sobre as leis espirituais que governam o mundo invisível e
o impacto destas leis na nossa realidade prática.
A vida pode se tornar previsível quando conhecemos as leis que
governam o mundo espiritual. Este é o alicerce do ministério
profético. Quanto mais você discerne a forma como as pessoas
estão interagindo com estas leis, tanto mais você pode prever como
será o futuro delas.
3. Leis cerimoniais - memoriais As leis cerimoniais, na sua
essência, desempenham um papel educativo, didático. Para ser
didático é importante ter um caráter memorial, ilustrativo,
celebrativo. O mais importante não é o protocolo ex-terno ou a
formalidade praticada, mas a mensagem implícita que nos conduz
às verdades espirituais a que precisamos nos conectar.
O cerimonialismo levítico se baseia em rituais que carregam um
simbolismo profético e revelador do propósito pleno de Deus. Na
verdade, todo ele se converge essencialmente em Cristo, o plano de
Deus para a redenção humana.
Classificando as leis - 19
As leis cerimoniais na Bíblia também encontram-se diretamente
conectadas ao objetivo de promover a saúde pública. Isto vai ficar
mais claro na abordagem sobre as leis nutricionais e de higiene.
Por exemplo, o protocolo cerimonial praticado pelos sacerdotes de
lavar as mãos antes das refeições gerou uma crença equivocada de
que isto os purificava espiritualmente, como podemos ver no texto a
seguir:
“Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e
perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos
anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem... (Mt 15:1,2).
Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o
homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.
Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os
fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram?” (Mt 15:10-12).
No tabernáculo, o sacerdote antes de ministrar lavava as suas mãos
na bacia de bronze. Qual seria a verdade espiritual por trás desta
prática? Esta bacia de bronze cheia de água significa
espiritualmente o nosso relacionamento com a Palavra viva de
Deus, que serve de espelho para enxergarmos as impurezas da
nossa alma e nos purificarmos.
20 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Somos lavados espiritualmente pela lavagem da Palavra.
Jesus disse aos seus discípulos: “Vocês já es-tão limpos, pela
palavra que tenho falado” (Jo 13:11).
Nosso contato com ela produz intimidade com Deus e
transformação, o que nos capacita a servi-lo.
Obviamente, esta regra cerimonial também estabelece um princípio
de higiene e saúde. Como o sacerdote lidava diretamente com a
comida e também com as enfermidades das pessoas, era
fundamental respeitar este protocolo, evitando uma contaminação
de cunho biológico, e não espiritual. Jesus, de forma magistral, faz o
discernimento entre o aspecto espiritual e o aspecto cerimonial
daquela prática. Muitos religiosos estavam tão distantes da didática
divina que se escandalizaram com a explicação dele.
A religiosidade, no sentido distorcido da palavra, é quando alguém
faz de um “protocolo cerimonial”
um fim em si mesmo como forma absoluta de agradar
espiritualmente a Deus.
4. Leis nutricionais e de higiene: saúde e medicina Isto fala da
vital importância do saneamento básico e de uma educação
alimentar que prioriza a qualidade da água e uma dieta apropriada,
restrin-gindo a possibilidade de enfermidades e doenças, e a
proliferação de pestes e pragas.
Ao conduzir o povo de Israel por uma longa jor-nada no deserto,
onde as condições salutares eram
Classificando as leis - 21
precárias, Deus deu a eles todo um conjunto de leis que estabelecia
uma medicina preventiva através de uma dieta específica e medidas
para manter a higiene e o saneamento da comunidade. Por
exemplo, ingerir o alimento fresco (maná) - todos eram obrigados a
enterrar os próprios dejetos, evitar as carnes alergê-
nicas etc.
Principalmente os levitas e sacerdotes que estavam encarregados
do alimento e também funcionavam como médicos precisavam
constantemente lavar as mãos, purificar os utensílios, não tocar nos
leprosos, não tocar em defuntos etc. Vale mencionar, que antes de
se conhecer a “teoria dos germes”, muitos doentes acabavam
morrendo de infecção pois os médicos ao mesmo tempo que
estudavam o corpo de um defunto tocavam os doentes.
Depois de estabelecer todo um protocolo necessário em prol da
nutrição e da higiene da população, então, Deus fala que se eles o
servissem obedecendo a todos esses preceitos ninguém ficaria
doente:
“Servireis ao SENHOR, vosso Deus, e ele abençoará o vosso pão e
a vossa água; e tirará do vosso meio as enfermidades” (Ex 23:25).
Obviamente sabemos que Deus pode nos proteger
sobrenaturalmente, inclusive curando qualquer tipo de doença ou
enfermidade, mas o contexto aqui não está
22 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges relacionado apenas a isso, mas principalmente ao fato de
obedecerem às normas de nutrição e saneamento que Ele mesmo
havia estabelecido.
5. Leis civis - governamentais As leis civis são constituídas por
regras sociais que promovem a ordem e o bem estar de uma
comunidade, cidade ou nação. O conceito de “civilizar” pode ser
abrangente e específico, mas em uma colocação básica seria “fazer
sair do estado primitivo, instruir, viabilizar o progresso de uma
sociedade”.
As leis civis normalmente se norteiam pelas leis morais, viabilizando
uma melhor organização social em termos de resolução de conflitos
e demandas, delitos e crimes, uso de solo, trânsito, impostos etc.
Isso pode variar de cidade para cidade, de nação para nação, de
cultura para cultura.
As leis civis também dependem essencialmente do tipo e da forma
de governo que se adota: teocracia (profetas e juízes), monarquia,
democracia, ditadura etc. Também estão bem ligadas aos
paradigmas antropológicos, religiosos e sociológicos daquela
sociedade.
As leis civis vão sendo criadas a partir do cresci-mento das
sociedades e dos tipos de problemas que que vão surgindo.
Exatamente neste tipo de lei é que o Divórcio deve ser enquadrado,
o qual tem sidoadotado civilmente por quase todos os tipos de
governos e sociedades.
Classificando as leis - 23
Tudo o que falamos neste capítulo foi com o objetivo final de
chegarmos a esta conclusão.
A sutileza e o perigo do legalismo A grande dificuldade em
classificar as leis é que normalmente elas exercem uma conotação
múltipla, ou seja, elas revelam verdades que se aplicam distin-
tamente aos diversos tipos de leis que mencionamos anteriormente,
o que exige ainda mais discernimento e bom senso. Por exemplo, a
lei do sábado se encaixa em várias classificações:
- É uma lei memorial: Lembra-nos de que Deus é o Criador e
entender o propósito da nossa existência depende de um
relacionamento pessoal com ele.
- É uma lei cerimonial: Ensina-nos que o caminho da santidade não
se fundamenta nos nossos méritos e esforços, mas na nossa
rendição e adoração.
- É uma lei salutar: Estabelece uma proporção entre trabalho e
descanso, o que é fundamental para a saúde física e emocional.
- Possui um aspecto moral: O sábado moralmente falando não é um
dia, mas uma pessoa, Jesus, o nosso redentor, para quem podemos
e devemos entregar o peso do pecado e os excessos emocionais
etc.
Se não relacionamos adequadamente, discernindo a função e a
aplicação da lei dentro da maneira
24 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges como ela é classificada, vamos fatalmente cair no legalismo,
um uso inadequado, abusivo, distorcido e injusto da lei.
Por exemplo, ao moralizar o cerimonialismo judaico, os fariseus
perderam o sentido didático e profético dessas práticas, rejeitando o
seu objetivo maior, que foi a vinda do Messias, o qual eles
aguardavam por séculos. Da mesma forma, ao relativizar a lei
moral, muitas sociedades estão se colocando em um caminho de
desordem, sofrimento e destruição.
Capítulo 2
O “Legal” e o “Moral”
Neste capítulo vamos aguçar um pouco mais o nosso entendimento
sobre a importância de classifi-carmos as leis. Uma forma ainda
mais simplificada e eficaz de embasarmos melhor a nossa
compreensão a temas mais complexos como o divórcio é
estabelecendo um discernimento entre o “legal” e o “moral”.
As pessoas em geral facilmente se confundem cometendo graves
equívocos ao lidar com esta questão. Este é um campo vasto para o
legalismo e a injustiça serem cultivados em detrimento do bem-estar
social, produzindo uma miopia judicial que compromete o Direito.
Essencialmente falando, podemos dizer que:
• Ser “legal” vem da aprovação de uma conduta na forma de lei por
um sistema humano de governo.
• Ser “moral” vem da aprovação divina de uma conduta na forma de
um princípio absoluto e imutável.
26 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges No exercício do nosso “sacerdócio real” este discernimento
é determinante. Nem sempre o legal é moral e o moral é legal. Este
é um discernimento sutil, porém fatal. Nestas possibilidades de
diver-gências pode-se estabelecer profundos dilemas e sérios
conflitos onde a prática da justiça pode ficar comprometida.
Precisamos entender como esta balança está fun-cionando.
Podemos resumir o relacionamento entre o moral e o legal em três
situações: 1. Quando o legal é moral - Ordem e desenvolvimento
2. Quando o legal é imoral - Corrupção 3. Quando o moral é ilegal -
Perseguição 1. Quando o legal converge com o moral Assim
sendo, a justiça, o bom senso e a ordem prevalecem. O resultado é
que esta sociedade toma o caminho da civilidade e,
consequentemente, do desenvolvimento. Isto é tudo o que uma
sociedade
O “Legal” e o “Moral” - 27
precisa para crescer de maneira saudável e conquistar a verdadeira
liberdade e prosperidade.
Quando as leis constituídas são inspiradas ou estão alinhadas com
a revelação bíblica de amor, verdade e justiça, as instituições
humanas em todas as esferas de influência cumprem o seu papel,
tornam-se confiáveis e se fortalecem. A corrupção não se sustenta.
Esta sociedade terá boa governabilidade, estará salvaguardada e
será exaltada.
“Se atentamente ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, tendo
cuidado de guardar todos os seus mandamentos que hoje te
ordeno, o SENHOR, teu Deus, te exaltará sobre todas as nações da
terra” (Dt 28:1).
“Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-
aventurado é o povo cujo Deus é o SENHOR!” (Sl 144:15).
2. Quando o legal é imoral
Isto vai promover uma cultura de corrupção e abuso fazendo com
que essa sociedade seja duramente castigada, podendo tomar o
rumo da destruição.
Quando as leis são inspiradas por interesses egoístas e escusos
daqueles que legislam em detrimento do bem-
-estar social e da moral divina, a injustiça é legalizada, a
desigualdade cresce, o povo sofre e a nação é abatida.
28 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges
“Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de
opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o
direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e
roubarem os órfãos! Mas que fareis vós outros no dia do castigo, na
calami-dade que vem de longe? A quem recorrereis para obter
socorro e onde deixareis a vossa glória? Nada mais vos resta a
fazer, senão dobrar-vos entre os prisioneiros e cair entre os mortos.
Com tudo isto, não se aparta a sua ira, e a mão dele continua ainda
estendida”
(Is 10:1-4).
Desde o Movimento Feminista nos Estados Unidos logo após a
Segunda Guerra Mundial, iniciou-se uma revolução sexual que tem
impulsionado a decadência da sociedade ocidental geração após
geração, promovendo situações morais críticas cada vez mais
absurdas.
Em uma perspectiva macrossocial, a legalização da imoralidade
está gerando a multiplicação de famílias desfuncionais, um câncer
social, estabelecendo um padrão de propagação de iniquidades
baseado em delinquência, corrupção, violência e criminalidade.
Apesar do conforto e das facilidades tecnológicas, os índices de
pessoas sofrendo com distúrbios emocionais, problemas
psiquiátricos e perturbações espirituais crescem assustadoramente.
O “Legal” e o “Moral” - 29
Por exemplo, em países onde o aborto foi legali-zado, quando uma
mãe sacrifica o seu filho, apesar de estar amparada pela lei e pelo
Estado, todavia está violando um princípio moral e irá sofrer
consequências que podem afetar malignamente todas as áreas da
sua vida.
Esta pessoa torna-se refém de uma conspiração do mundo invisível
contra a sua vida e descendência.
Nestes casos, o amparo legal, apesar de silenciar a culpa e trazer
um consolo para a consciência, todavia não pode proteger a pessoa
das sansões estabelecidas pelo mundo espiritual.
Já é científico afirmar que pessoas que partici-param ativamente da
prática do aborto possuem de 7 a 14 vezes mais chances de
sofrerem de distúrbios pisicoemocionais sérios. Estas situações, na
realidade, expressam como estas sansões e prisões espirituais são
poderosas e implacáveis.
Em relação à prática de fornicação, adultério, homossexualidade ou
do aborto voluntário, como cristãos, não temos dúvidas sobre qual
deve ser o nosso posicionamento. Porém, existem outras situações
onde o conflito entre o “legal” e o “moral” torna-se mais complicado
e sutil.
A corrupção política
“Quando o governo é justo, o país tem segurança; mas quando o
governo cobra im-
30 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis| MArCos de souzA
Borges postos demais, a nação acaba na desgraça”
(Pv 29:4).
Conciliar o moral e o legal nem sempre funciona dentro de uma
matemática exata, monocromática, preto e branco. Algumas
situações são mais delicadas.
Vejamos um exemplo que está bem perto de todos nós.
Vamos pensar sobre a carga tributária do nosso país, o Brasil. Ela é
justa ou injusta? Ela é administrada de forma a favorecer a
população ou oprimí-la? O SE-BRAE afirma que dos doze meses
que o brasileiro trabalha, cinco são apenas para pagar os seus
impostos.
O mais absurdo de tudo é a tributação sobre o produto, pois estes
são impostos que ninguém deixa de pagar. Mesmo aqueles que
pensam que não pagam impostos por terem uma renda baixa,
tambémpagam.
Para se ter uma ideia, enquanto nos Estados Unidos se paga um
imposto único sobre produtos de 7%, no Brasil se paga em média
40%, seis vezes mais.
Duas constatações reais feitas por qualquer cidadão brasileiro,
inclusive aqueles que pertencem ao Governo, é que a carga
tributária, além de ser excessivamente elevada, também não retorna
na forma de benefícios básicos e essenciais para a população.
Alguém já disse que pagamos os impostos da Suécia e temos o
retorno de um país pobre da África.
Exatamente por isso, há anos vem-se falando de uma Reforma
Tributária que nunca sai, simplesmente
O “Legal” e o “Moral” - 31
por não ser do interesse daqueles que fabricam as leis, manipulam
a política e se enriquecem com as várias formas de corrupção
proporcionadas por esta situação.
Enquanto isso, a enorme maioria dos brasileiros tenta de alguma
forma se defender burlando o paga-mento dos impostos. Este é um
verdadeiro nó que impede o desenvolvimento da nossa nação. O
sistema já está tão viciado na ganância e na corrupção que força a
população a isto, apenas alimentando a cultura da sonegação.
Então, chegamos a alguns dilemas:
- Os inúmeros impostos estabelecidos pelo Governo são legais?
Sim, sem dúvidas. Eles são sancionados através de leis por aquelas
pessoas que representam a população por força de voto.
- Porém, toda esta carga tributária é moral? Todos sabem que não!
É vergonhosa, abusiva, injusta. É um estupro financeiro, uma
violação financeira imoral.
Empobrece a população e deixa os empresários brasileiros em uma
concorrência desigual com o restante do mundo.
Por favor, espero que você leitor não me interpre-te mal. Não estou
fazendo uma apologia à sonegação de impostos. Precisamos de
uma revolução moral em muitas áreas da nossa sociedade, isso se
queremos nos tornar um país sério, que não seja motivo de piada no
exterior.
Existe uma diferença sutil entre revolução e rebelião. Revolução é o
ato de revolver, mudar funda-
32 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges mentalmente uma estrutura que é injusta, imprópria,
corrupta. Rebelião é uma contestação subversiva da ordem vigente.
Quando uma lei civil é abusiva, ela perde a sua funcionalidade e
deixa de ser respeitada pela sociedade.
Quando uma lei deixa de ser respeitada pela sociedade, ela perde a
sua funcionalidade. É um ciclo. Essa lei precisa ser revista por
aqueles que legislam e que representam o povo. Mudanças
precisam acontecer.
Ao mesmo tempo que temos a obrigação civil de pagar todo imposto
que nos é devido, como lidar com a opressão e o abuso implícitos
nesta questão? Este é um bom exemplo do conflito quando o legal
tende para o imoral.
Um ponto importante é que não devemos confun-dir submissão com
tolerância ao abuso. A tolerância ao abuso gera a passividade.
Quanto mais o abuso se sistematiza, tanto mais tende a produzir a
passividade.
Assim como uma criança depois de ser persistente-mente abusada
acaba se conformando a esse absurdo, o mesmo tem ocorrido com
a nossa nação.
Desde o descobrimento do Brasil temos sido re-féns de uma cultura
extrativista de exploração, roubos e sobretaxas. A história da
colonização foi catequista, escravagista, abusiva, traumática. O que
nos salvou foi a história da imigração, já no século XX, quando
muitos europeus e asiáticos, fugindo das guerras, vieram não para
explorar, mas para morar no Brasil. Esta é uma
O “Legal” e o “Moral” - 33
conversa longa, mas o ponto que precisamos chegar é este: Como
enfrentar a nossa passividade lidando com os abusos legais sem
comprometer a moral?
Este tipo de dilema entre o legal e o moral exige muito domínio
próprio, temor de Deus e coragem para ser enfrentado. São
questões difíceis: Até que ponto temos que nos submeter a uma
situação abusiva e exploratória? Que decisão tomar quando
estamos entre obedecer a uma lei civil e uma lei moral? Que Deus
nos dê sabedoria e justiça na medida apropriada:
“Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por
que destruir-se a si mesmo?” (Ec 7:16).
3. Quando o moral é ilegal
Isto vai promover uma cultura de perseguição aos justos, às
pessoas que temem ao Senhor. Esta condição é ainda mais
ofensiva que a anterior. Como agir diante de um conflito desta
natureza?
Quando você precisa optar entre obedecer a Deus e obedecer aos
homens, entre obedecer a Verdade e obedecer a uma autoridade
humana, entre obedecer à moral e obedecer ao legal, a orientação
bíblica é obedecer a Deus, obedecer à verdade, obedecer à moral.
Isso, sem todavia, desonrar a autoridade humana. Honra é
incondicional; obediência é condicional.
“Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote
interrogou-os,
34 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges dizendo: Expressamente vos ordenamos que não
ensinásseis nesse nome; contudo, en-chestes Jerusalém de vossa
doutrina; ... En-tão, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes,
importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:27-29).
Concluindo, pode parecer que estamos fugindo do assunto do
divórcio, mas estes conflitos e a forma como lidamos com eles
estabelecem os paradigmas pelos quais construímos o nosso
discernimento e senso de justiça. Isto pode e deve ser aplicado em
muitas situações cotidianas da vida envolvendo casamento, família,
igreja, governo etc. como veremos no próximo capítulo.
Capítulo 3
O “Repúdio” e o “Divórcio”
 
Anteriormente explicamos sobre o discernimento das diferentes
classes de leis e o discernimento entre o moral e o legal. Agora
vamos fazer uma aplicação de todo este entendimento desenvolvido
até aqui. Este capítulo será fundamental para a forma como vamos
enxergar, analisar e aconselhar a diversa infinidade de casos
envolvendo o divórcio.
Este, portanto, é um dos pontos cruciais neste estudo, o
discernimento entre o “repúdio” e o “divórcio”.
Passa despercebida para a grande maioria das pessoas a
importante e determinante diferença existente entre estes dois
conceitos. Mesmo que estas palavras possam parecer sinônimas,
elas se referem a diferentes tipos de leis, o que caracteriza
especificamente a enorme diferença conceitual entre elas.
Podemos afirmar que o “repúdio” é essencialmente “moral”,
enquanto que o “divórcio” é essencialmente “legal”; o “repúdio” é
essencialmente
“espiritual”, enquanto o “divórcio” é essencialmente
“civil”. Discernir estes conceitos aprimora a nossa ótica sobre o
assunto.
36 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Com esta base podemos descrever mais precisa-mente
estas duas definições:
1. O que é o repúdio?
O sentido básico do verbo “repudiar” é desam-parar alguém, deixar
em abandono, rejeitar, mandar embora, repelir. O repúdio no
contexto do matrimônio baseia-se na atitude sistemática em relação
ao cônjuge de invalidar os votos feitos e quebrar a aliança assumi-
da com juramento no matrimônio. Ao invés de amar e proteger, a
pessoa desonra, rejeita, odeia, despreza, ameaça, agride, mente,
trai, fere, adultera, separa, abandona etc. Por fim, o relacionamento
conjugal é intencionalmente descartado no coração.
Ao invés de amadurecer com as dificuldades, a pessoa rejeita
qualquer possibilidade de reconciliação e descarta, refuga o
cônjuge. Recusa-se a amar, ceder, maleabilizar-se, perseverar,
superar os desafios, conflitos e diferenças. Não quer diálogo, não se
abre para ser ajudado. Obstina-se em uma solução imediata e
simplesmente elimina o seu cônjuge. Insiste na separação
endurecendo o seu coração. É isso o que Deus odeia, como afirma
o profeta Malaquias.
Deus é relacional, amoroso, paciente, tolerante, be-nigno,
longânimo. A essência da Sua natureza é a reconciliação. “... Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da
reconciliação” (II Co 5:19).
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 37
O repúdio expressa a antinatureza da aliança, a antinatureza de
Deus. Está na contramão do Seu caráter e propósito. O repúdio
demonstra um caráter abusivo,irresponsável, maligno, injusto, infiel,
que pode se expressar de forma aberta e rebelde, como também de
forma encoberta e dissimulada. O repúdio vem de uma motivação
hedonista e egoísta, onde as pessoas irresponsavelmente
importam-se apenas consigo mesmas, sacrificando a segurança e a
felicidade até mesmo de um filho.
“Cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de
sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da
vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR
foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com
a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da
tua aliança. Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um
pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a
descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e
ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o
SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também
aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR
dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis”
(Ml 2:13-16).
38 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Neste texto, a palavra “odeia” , no lit. “sane” , significa odiar,
abominar. A palavra “repúdio” , no lit.
“shalach” , significa despedir, deixar ir, rejeitar, mandar embora, ser
posto de lado. Portanto, o profeta expressa a postura divina através
de um trocadilho dizendo que “Deus odeia o odiar”, “rejeita a
rejeição”, “repudia o repúdio”, “abomina o abominar”...
A infidelidade e o repúdio impedem que Deus veja a nossa oferta, o
nosso serviço. Qualquer esforço de agradar a Deus fica
despercebido, invalidado. A des-lealdade, a dureza, a rejeição, o
repúdio ao conjuge produz choro, dor, gemidos e isso encobre o
altar de Deus. A atenção de Deus concentra-se nesta carga de
volência e sofrimento. Precisamos nos despir deste tipo de
comportamento se queremos agradá-lo de verdade.
2. O que é o divórcio?
O sentido básico do verbo “divorciar” é “separar-se judicialmente”. O
divórcio é simplesmente uma carta, ou seja, um documento jurídico
formalizando depois de um processo adequado a decisão de um
dos cônjuges ou de ambos de se separarem, dissolvendo civilmente
o casamento.
O divórcio é essencialmente diferente do repúdio. O
divórcio é um recurso legal para formalizar jurídica e civilmente a
dissolução de um matrimônio. É um protocolo para legalizar o
repúdio de um dos cônjuges ou de ambos.
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 39
O caráter civilizador do divórcio Enquanto o repúdio fere a família
e a sociedade, o divórcio tenta manter a civilidade. Se pensarmos
bem, na verdade, o divórcio é um mecanismo social importante, um
mal necessário que tem por objetivo evitar uma anarquia social em
virtude de tantas situações de separação conjugal, que atualmente
ocorrem de forma epidêmica, principalmente no mundo ocidental.
O divórcio, por pior que pareça ser, formaliza a situação da pessoa
separada e civiliza a sociedade evitando o caos imposto pela cultura
dos relacionamentos múltiplos. Permita-me explicar isto melhor.
Estava em um país africano e casualmente comecei assistir um
documentário mostrando os enormes desafios sociais enfrentados
pelo Governo. Primeiramente, devido à guerra civil o número de
mulheres havia se tornado bem maior que o número de homens.
Também, devido à influência islâmica, neste país existe a prática da
poligamia. Este tipo de sistema familiar, apesar de desmerecer o
valor da mulher e colocá-la em uma condição de inferioridade,
abuso e até mesmo desprezo, todavia o homem tem recursos para
cuidar do lar sustentando financeiramente as esposas e os seus
filhos.
Porém, a maior preocupação estava focada no que o Governo
daquela nação identificava como sendo o problema dos
”relacionamentos múltiplos”, ou seja, os homens se relacionam
simultaneamente
40 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges com várias mulheres gerando filhos com elas, porém não
assumindo nenhuma responsabilidade marital, paterna ou financeira
nem com estas mulheres e nem com os filhos. Esta é a lei da
anarquia: “Ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo”.
Como não havia casamento e muito menos divórcio, a informalidade
conjugal estava transformando o país em bolsões cada vez maiores
de miséria e violência, um verdadeiro nó que impedia qualquer
possibilidade de ordem e desenvolvimento.
O divórcio, apesar de não garantir, ajuda a promover o
relacionamento conjugal com apenas uma pessoa de cada vez. Ele
formaliza a separação legali-zando-a perante o Governo, dando às
pessoas separadas um status social, um estado civil, que também
responsabiliza a pessoa perante a sociedade pela sua situação
familiar. É um fator de civilidade.
Não estou defendendo o divórcio e nem tentando minimizar as suas
consequências. O que estou tentando explicar é que, de fato, o
divórcio é ruim, é traumá-
tico para o indivíduo e para a família, na maioria das sociedades o
divórcio é estigmatizante, mas sem ele cumprindo a sua função
civilizadora, seria bem pior.
Repúdio X Divórcio
Vamos voltar ao foco deste capítulo. Para isto é essencial
estabelecermos em cada caso como esta balança entre o repúdio e
o divórcio está posicionada.
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 41
Fazendo este discernimento fica fácil concluir que o que realmente
está em jogo não é o divórcio, mas o repúdio.
Essencialmente falando, podemos afirmar que o repúdio é uma falta
moral; o divórcio é um dispositivo legal. Em muitas situações, como
já falamos, estabelece-se o conflito entre o moral e o legal. São
questões difíceis. O divórcio legaliza a separação, porém existe o
aspecto espiritual. Em muitos casos o legal é absurdamente imoral,
podendo ser socialmente aceitável, mas espiritualmente
condenável.
O moral sempre pesa mais que o legal. O moral se fundamenta na
justiça divina; o legal se fundamenta na justiça humana. A justiça
humana é limitada, muitas vezes parcial, e até mesmo cega pela
falta de evidências e provas. A justiça divina é dotada dos sete olhos
do discernimento e é cercada por uma nuvem de testemunhas.
Vamos aprofundar esta conversa levantando algumas questões que
nos ajudam a pensar melhor e de forma mais clara sobre estes
conceitos.
42 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Questões fundamentais
1. Poderia uma pessoa ser “divorciada” sem nunca ter
“repudiado” o seu cônjuge?
Esta primeira questão explica o drama pessoal de muitos. Sempre
quando faço esta pergunta a uma plateia, algumas pessoas
demoram para entender a essência da questão. Poderia uma
pessoa ser divorciada sem jamais ter cogitado esta possibilidade?
Sim!Conheço muitas pessoas que se enquadram neste tipo de
situação. Elas se casaram com a firme intenção de jamais se
separarem. Ao enfrentarem os conflitos sempre procuraram
contribuir para a saúde do casamento. Diante da desistência do
parceiro, oraram, sofreram, lutaram pelo cônjuge pródigo, até que
foram definitivamente repudiadas, trocadas, abandonadas.
Por fim, não tiveram outra alternativa senão legalizar a situação,
tornando-se civilmente divorciadas.
Ou seja, apesar de civilmente divorciadas, nunca repudiaram,
jamais desejaram a separação. Muito pelo contrário, ainda
continuam alimentando uma esperança de reconciliação, mesmo
quando todos os fatos mostram que isto já não é mais possível ou
as possibilidades são extremamente remotas. Mesmo tendo falhas e
fraquezas, exibem um alto nível de compromisso e empenho pelo
casamento e pela integridade da família.
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 43
Como, então, conduzir pastoralmente este tipo de situação? O
aconselhamento enfatiza a investigação dos fatos e o discernimento
moral das escolhas que estas pessoas estão fazendo.
Sabemos que muitas separações resultam de problemas e posturas
erradas de ambas as partes, mas, principalmente nestes casos
extremos onde a pessoa foi cruelmente repudiada sem nunca ter
repudiado, indubitavelmente, a moral prevalece sobre a condição
legal. A atitude íntimae genuína de manter a aliança protege a
pessoa, inclusive, como sugere a lei do divórcio, deixando-a livre
para uma nova oportunidade de casamento. Uma condição legal e
moral favorece essa pessoa repudiada e, portanto, divorciada.
Para a pessoa que repudiou em detrimento da postura
reconciliadora do cônjuge, também a moral prevalece sobre a sua
condição legal, estabelecendo um aprisionamento maligno,
deixando-a refém da sua própria violência e infidelidade e, a
princípio, inviabilizando espiritualmente a possibilidade de um outro
casamento. Um novo casamento teria um amparo legal, mas não
moral.
Na maioria dos casos essas pessoas, de fato, vivem debaixo de
tanta perturbação, que muitas delas nem se casam, simplesmente
se amasiam com um aqui, outro ali, etc., multiplicando frustrações,
deixando muita gente machucada pelo caminho.
44 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Não podemos dizer que não existe um caminho de
restauração para essas pessoas, mas ele é muito difícil.
A decisão de destruir um lar pode provocar uma lesão moral
permanente, um aleijamento, uma limitação que tende a se impor
sobre o potencial dessa pessoa pelo resto de sua vida.
Assim, o que adultera com uma mulher é falto de entendimento;
aquele que faz isso destrói a sua alma. Achará castigo e vilipên-dio,
e o seu opróbrio nunca se apagará. (Pv 6:32,33).
2. Satanizar o divórcio e tolerar o repúdio Esta segunda questão
é ainda mais importante e enfatiza o preconceito social, o
constrangimento espiritual e um estigma existencial injusto que
muitos carregam. O aspecto fundamental desta questão reside na
tendência adotada pela sociedade em geral de
“satanizar o divórcio e tolerar o repúdio”.
Isto ocorre frequentemente no meio eclesiástico, religioso, com
pessoas que vêm de uma cosmovisão católica ou evangélica
biblicamente distorcida, onde o divórcio é muito valorizado e o
repúdio é cegamente ignorado, banalizado. Coam o mosquito e
engolem o camelo.
Tenho acompanhado alguns casos que trazem uma terrível
combinação: uma pessoa doente e imoral
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 45
em uma posição de liderança espiritual e um casamento de fachada.
Lembro-me de uma situação onde o pastor pre-gava duramente
contra o divórcio, mas o seu próprio casamento era uma tragédia.
Na sua lógica espiritual doentia, não tinha nenhum problema ele
repudiar a sua esposa, aliás o seu conceito imposto de submissão
incluía aceitar passivamente o seu comportamento abusivo. O que
não podia era divorciar. Dentro de casa agia de forma indecorosa,
extremamente abusiva.
Rejeitava, mentia, ameaçava, agredia, e até mesmo traía a esposa.
Estas não são situações incomuns para quem trabalha com
aconselhamento. No dia a dia ele estava literalmente matando a
esposa na unha, porém não se divorciava. Para ele repudiar é
permitido, divorciar é proibido. Desde que não se divorcie, o resto
“Deus perdoa”. Na igreja aparentava um santo, mas em casa era um
verdadeiro demônio. Precisamos enfatizar que este tipo de
hipocrisia injusta e covarde é o que, de fato, Deus odeia, tem
aversão, como denuncia o profeta Malaquias.
Mulheres assim tendem a se autorresignar por anos e anos em prol
dos filhos, ou, sequestradas pelo medo, mergulham em uma
frustração profunda, até que em algum momento elas não suportam
mais e pedem o divórcio. Foi o que ocorreu com a esposa desse
pastor. Só que, neste tipo de situação, ao invés
46 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges do divórcio cumprir o seu papel de legalizar a dureza e a
crueldade do seu marido, acaba sendo usado contra ela pela igreja
e sociedade como objeto de mais rejeição.
Acaba ocorrendo um abuso duplo: primeiro pelo cônjuge que
repudiou, e depois pela igreja que estigmatiza a pessoa como
divorciada, privando-a, inclusive, da chance de um novo casamento.
Obviamente estes casos precisam ser analisados com uma
integridade cuidadosa.
Devemos deixar algo muito claro aqui. Precisamos como Igreja de
uma maturidade sacerdotal para julgar cada situação sem cair nesta
“cilada evangélica” de satanizar o divórcio e tolerar o repúdio. Tenha
certeza que Deus não enxerga desta forma. Ele não sofre deste tipo
de miopia. Deus odeia o repúdio, o odiar, o rejeitar, o trair, o agredir,
o abandonar. O que está em jogo não é o divórcio, mas sim o
repúdio!
A questão maior não é quem pede o divórcio, mas quem insiste no
repúdio. Lógico que deve-se evitar de ser a pessoa quem vai dar
entrada no divórcio, mas bem pior que isso seria manter a pose
religiosa de não dar o divórcio para sustentar um casamento de
fachada, repudiando sistematicamente o cônjuge, fazendo do lar
uma sala de tortura e abusos. Infelizmente em alguns casos, que
veremos mais adiante, a única alternativa restante para a pessoa
repudiada é legalizar a dureza de coração do cônjuge através do
divórcio.
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 47
3. Banalização do divórcio
É quando o divórcio é usado como pretexto para o repúdio. Já que o
divórcio é legal e já é culturalmente aceitável, as pessoas deixam de
ser fiéis ao casamento para satisfazer os seus caprichos e desejos
com alguém que agora tornou-se mais interessante.
Esta terceira questão expressa uma mentalidade cada vez mais
imperativa. Raciocinando sociologica-mente isto é altamente
destrutivo. Já que o divórcio é uma alternativa legal, por motivos
egoístas e banais os casamentos são destruídos. Obviamente os
filhos serão uma extensão dessa destruição. Ancorados por
traumas, medos e perdas, não tomam o rumo da maturidade,
tornam-se adultos infantilizados, propensos a repetirem a mesma
situação, e muitos refugiam-se na delinquência.
Paixão, fornicação e aversão
A banalização do divórcio pode ser melhor compreendida pela
cultura da fornicação estimulada pela mídia ocidental. Precisamos
entender que fornicação e divórcio andam juntos. Muitos divórcios
começam bem antes do casamento.
Esta é uma lei espiritual que precisa ser descorti-nada: a paixão
desgovernada antes do casamento que resulta em fornicação e
rebelião irá sustentar a aversão e o ódio após o casamento,
induzindo ao repúdio e, consequentemente, ao divórcio. Isto explica
porque pessoas que tão facilmente se apaixonaram, em tão
48 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges pouco tempo estão se odiando. A cultura da fornicação
transforma a paixão em aversão, o amor em ódio, a união em
repúdio, o casamento em divórcio.
Conclusão
O futuro é indefinido. Pode alterar-se a cada escolha que fazemos.
Vai se estabelecendo dinamicamente em função de cada nova
decisão. Deus não é um Deus de condenação. Certamente Ele nos
responsabiliza pelas nossas escolhas, mas a Sua grande
expectativa é encontrar em nós um coração tratável que propicie
sempre um caminho de restauração e vida.
“... coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a
maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos
vivam” (Dt 30:19).
Podemos cruzar linhas que jamais deveríamos ter cruzado, fazendo
decisões que irão provocar sequelas irreversíveis. O repúdio é uma
destas linhas. Ele é o assassinato do casamento e da família e trará
grandes problemas. Vamos ilustrar isso através da história de um
grande homem de Deus.
O impacto de um repúdio: Abraão e Hagar Vejamos bem
resumidamente essa história. Os problemas de Abraão realmente
começam quando em virtude de uma grande prova, um tempo de
fome, ele
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 49
decide sair de Betel, o lugar para onde Deus o enviara, buscando
amparo no Egito.
Quando você não está no lugar de Deus, você perde o senso da
proteção divina. Vem o medo, e o medo promove a mentira. Abraão,
ao invés de proteger o seu casamento, supondo que poderia ser
morto, ele permite que Sarai, sua esposa, seja tomada por um outro
homem.
Do lar de Abraão, ela vai para o harém de Faraó.
A Bíblia não menciona, mas tudo indica que Sarai foi parar na cama
do Rei do Egito, o que trouxe um terrível julgamento sobre a sua
casa. “Mas o Senhor puniu o faraó e sua corte com gravesdoenças,
por causa de Sarai, mulher de Abrão” (Gn 12:17).
Não apenas Sarai foi para a cama de um egípcio, como uma egípcia
veio para a cama de Abraão. Mais tarde, Hagar, a escrava que eles
trouxeram do Egito torna-se concubina de Abraão. Um casamento
com o Egito se consuma em detrimento da promessa de Deus que
Sarai geraria um filho de seu marido Abraão.
Ou seja, envelhecido, sem esperança, Abraão cede a uma outra
alternativa para conseguir um herdeiro.
A poligamia é um ninho de conflitos. Ciúmes e inveja tendem a se
multiplicar entre as mulheres e os filhos.
É o espírito do repúdio dando as caras.
Na família de Abraão começou com Agar grávida desprezando a
sua senhora, Sarai. Depois Ismael repudiando Isaque, o irmão mais
novo tido como o filho
50 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges legítimo. Obviamente isto despertou o repúdio de Sarai por
Ismael. A situação foi ficando insustentável a ponto de Abraão
repudiar a sua concubina juntamente com o filho, outrora tão
desejado. A coisa começou mal e terminou pior ainda.
É difícil dizer se teria uma forma menos traumática de resolver a
situação, mas a ruptura aconteceu de uma forma dolorosa e cruel.
Hagar e Ismael, depois de rejeitados, ficaram desamparados no
deserto, enfrentando a face da morte. Porém, foram acolhidos pela
misericórdia de Deus. Esta situação de repúdio e abandono se
internaliza na genética espiritual de Ismael, o pai dos povos árabes:
O Anjo do Senhor encontrou Hagar perto de uma fonte no deserto,
... Disselhe ainda o Anjo do Senhor: “Você está grávida e terá um
filho, e lhe dará o nome de Ismael, porque o Senhor a ouviu em seu
sofrimento. Ele será como jumento selvagem; sua mão será contra
todos, e a mão de todos contra ele, e ele viverá em hostilidade
contra todos os seus irmãos” (Gn 16:7-12).
Curiosamente a briga do casal divorciado não cessou. Ao longo das
futuras gerações essa raiz foi tomando proporções cada vez
maiores desenvolvendo um crescente conflito, principalmente na
época das
O “Repúdio” e o “Divórcio” - 51
Cruzadas, na Idade Média. A ferida entre os descendentes de
Ismael e Isaque continua aberta até hoje.
Obviamente muitos judeus e ismaelitas superam estas questões,
mas até hoje temos uma séria sequela desta história de repúdio
ameaçando a paz mundial.
Essa guerra cultural do terror entre o bloco islâmico e o mundo
judaico-cristão mostra-nos o impacto de uma cisão familiar ao longo
das gerações.
“Ismael viveu cento e trinta e sete anos.
Morreu e foi reunido aos seus antepassados.
Seus descendentes se estabeleceram na re-gião que vai de Havilá a
Sur, ... E viveram em hostilidade contra todos os seus irmãos” (Gn
25:17,18).
Capítulo 4
A Lei do Divórcio
Na atualidade, principalmente aqueles que lidam com o dia a dia de
uma igreja precisam saber se relacionar com muito bom senso com
a conjuntura bíblica acerca do divórcio.
Como já vimos, é importante ressaltar que a lei do divórcio exerce
uma função civilizadora, ajudando a acomodar as pessoas
envolvidas direta e indiretamente nessas situações de extremo
conflito e trauma. Existem duas abordagens básicas na Bíblia
acerca do divórcio: a abordagem de Moisés e a abordagem de
Jesus.
A abordagem de Moisés
Após séculos de escravidão no Egito, enfrentando a dura tarefa de
restaurar os fundamentos da nação, amenizando tantas feridas e
desordens sociais, re-organizando civilmente a família, Moisés
legalizou o divórcio. O ideal é que não precisasse de existir uma lei
como essa, mas como não existe uma sociedade imune aos
conflitos conjugais e moralmente perfeita, ela acabou sendo
instituída. Veremos isto mais à frente estudando o corpo desta lei
em Dt 24:1-4.
54 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges A abordagem de Jesus
Essa lei instituída por Moisés, por muito tempo vinha cumprindo o
seu papel civilizador, quando no Novo Testamento surge uma séria
denúncia feita pelo próprio Jesus.
“Jesus respondeu: Moisés lhes permitiu divorciar-se de suas
mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi
assim desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se
divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar
com outra mulher, estará cometendo adultério. Os discípulos lhe
disseram: Se esta é a situação entre o homem e sua mulher, é
melhor não casar” (Mt 19:8-10).
Percebe-se por este texto que até mesmo os discípulos aderiam ao
posicionamento dos fariseu no que se refere à banalização do
casamento, o que evi-denciava uma preocupante insensibilidade à
vontade divina que Jesus qualificou como dureza de coração.
Na verdade, o sistema religioso de Israel, simboli-zado pela figueira
que Jesus amaldiçoou e que secou-se até as raízes, estava
profundamente corrompido (Mateus 23). A lei do divórcio, assim
como outras leis, havia sofrido distorções com o intuito de atender
ao interesse daqueles que as aplicavam.
Portanto, em se tratando do divórcio, é necessário advertir como
Jesus o fez ao confrontar os fariseus em
A Lei do Divórcio - 55
diversas situações, que o divórcio, apesar de ser biblicamente legal,
pode se tornar um dispositivo perigoso, distorcível, abusivo,
facilmente usado com motivações corrompidas, sendo inspirado e
praticado por egoís-mo, leviandade, lascívia, vaidade,
irresponsabilidade, maldade, como artifício de vingança etc.
Por isso é importante considerar o contexto e a direção das
declarações feitas por Jesus sobre o divórcio nos Evangelhos. Elas
foram feitas para confrontar líderes religiosos que imoralmente
estavam fazendo do divórcio um pretexto para o repúdio,
pervertendo a funcionalidade da lei.
Ou seja, a lei do divórcio foi instituída por causa do repúdio, e não
para ser um pretexto para o repúdio.
Este tipo de procedimento coloca a pessoa em um péssimo
caminho, o caminho do coração duro, da vontade inquebrável,
inflexível, do caráter não transformado, da imaturidade crônica, do
nanismo espiritual, da insubmissão ao tratamento divino!
Em praticamente todos os textos sobre o divórcio nos Evangelhos,
Jesus estava confrontando especificamente este tipo de
comportamento praticado por muitos rabinos e mestres do judaismo.
O que Jesus co-locou em cheque em relação a estes líderes
religiosos foi a maneira sagaz e cruel de usarem a lei do divórcio
como licença para trocar de esposa ao seu bel prazer satisfazendo
a sua cobiça em detrimento da aliança com a mulher da sua
mocidade.
56 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Enfrentando conflitos conjugais as pessoas me per-guntam:
“Pastor, onde tem na Bíblia uma justificativa para eu me divorciar?
Se eu deixar o meu cônjuge, posso me casar de novo? Este é o
som da religiosidade, da dureza, de um relacionamento distante
com Deus, mais baseado em regras do que na essência do Seu
caráter.
Qualquer pessoa que busca na Bíblia um respaldo para o seu
repúdio ou fazer de uma crise ou insatisfação conjugal um pretexto
para deixar o cônjuge ainda desconhece a natureza divina. Está
fugindo de combater o bom combate do verdadeiro amor, que se
fundamenta, não em um sentimento, mas no compromisso de
honrar a aliança feita. A fé sem o verdadeiro amor é inconsistente:
“... ainda que tivesse toda a fé, de maneira que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria” (I Co 13:2).
O casamento revela o que há de pior em nós e evidencia as nossas
áreas de descontrole, mas também nos refina, santifica, amadurece
e capacita.
A natureza do caráter divino: a reconciliação A fonte mais
confiável de discernimento é a revelação bíblica acerca do caráter e
da natureza divina.
Isto nos priva de pegar um texto fora do contexto e fazer um
pretexto que distorce a sua essência e fere o Espírito da verdade.
Sempre quando alguém usa como pretexto um versículo isolado que
respalda um posicionamento que
A Lei do Divórcio - 57
conflita com a natureza divina está atravessando uma linha
perigosa: este é o caminho do engano.
Todo aconselhamento precisa ser conduzido pelo trilho da
reconciliação. Istonão quer dizer que todo aconselhamento conjugal
vá lograr êxito neste sentido, mas esta precisa ser a premissa e a
motivação essencial do conselheiro. O reconciliador é imparcial, ele
não toma o partido da pessoa, mas toma o partido do
relacionamento.
A natureza de Deus é essencialmente relacional, reconciliadora.
Qualquer pessoa que queira alcançar plenamente a maturidade e
concretizar o propósito de Deus precisa abraçar este imperativo
bíblico de
“seguir a paz com todos” (Hb 12:14).
Uma casa dividida não subsiste. Deus é inimigo de contendas. A
desconexão geracional entre pais e filhos fere a terra com maldição,
perpetua a orfandade.
Deus odeia o repúdio conjugal, ele sofre com as dores existenciais
de uma família destruída.
O seu propósito é unidade na diversidade, uma convergência moral
onde respeitamos as diferenças, discernimos entre o valor intrínseco
de cada indivíduo e o seu comportamento reprovável, superamos os
conflitos, sinergizamos os relacionamentos, assumimos
responsabilidades exercitando lealdade, honestidade, integridade,
paciência, confiança e altruismo. Sem conquistarmos essa unidade
não existe maturidade, e muito menos intimidade com Deus.
58 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges A lei do divórcio é normativa, e não autorizativa Preste
atenção nisto: Deus não instituiu a separação de casais. Ela surgiu
por iniciativa do homem, da dureza do seu coração, como Jesus
afirmou. Apesar de Deus ter proibido a separação ( aquilo que Deus
ajuntou não separe o homem), pela lei do divórcio, a regulamentou.
Deus jamais ordenou que houvesse separações, nem declarou
permissão a elas. Esse jamais foi o seu propósito.
Apenas determinou que, já que se definiu a separação, essa
situação deveria ser formalizada. Deve haver uma regularização,
uma satisfação formal para a sociedade.
Portanto, a lei do divórcio não tem caráter ou uma função
autorizativa, e sim normativa. É muito importante enfatizarmos
aqui esta sutil diferença entre uma lei normativa e uma lei
autorizativa. A primeira estabelece uma satisfação em termos de
assumir as consequências sociais, a segunda respalda legalmente
uma ação.
Os cônjuges não devem apenas largar ou abandonar um ao outro,
da mesma forma como também não devem ajuntar-se sem uma
aliança de casamento que envolva a família e a igreja dessas
pessoas. Se há de acontecer a separação, que siga uma norma
apropriada.
É uma questão de civilidade. Isso freia a anarquia social.
Fique claro que o divórcio não isenta as pessoas das consequentes
maldições; apenas formaliza a nova situação perante a sociedade.
O que podemos fazer no aconselhamento após o divórcio é tentar
amenizar essas consequências.
A Lei do Divórcio - 59
Restrições contemporâneas a Moisés Após a separação
(repúdio), estava proibido o divórcio apenas quando o marido,
injustamente, acusava a mulher de infidelidade, e quando o homem
fosse compelido a casar por haver desonrado a moça
(Deuteronômio 22:13). Sem o divórcio, essas pessoas estariam
legalmente impedidas de contrair um novo matrimônio.
Em Levítico 21:7 vemos a restrição ao casamento de sacerdotes
com divorciadas, e em Ezequiel 44:21-22 a mesma restrição
também estendida a viúvas. “Ao entrar no Santuário, nenhum
sacerdote beberá vinho.
Não desposarão nem viúva, a não ser que o seja de um sacerdote,
nem divorciada, mas, sim, virgens da estirpe da Casa de Israel.”
Este é também um preceito muito sábio. Tenho constatado isso bem
de perto em algumas situações.
Qualquer pessoa que tem um chamado ministerial, ou seja, que
exerce uma função de cobertura na igreja, não deve se casar com
divorciada ou viúva que não seja de outro sacerdote. Um segundo
casamento normalmente implica em conflitos entre ex-familiares e a
nova pessoa, ou a falta de aceitação por parte de filhos, enteados
etc., o que pode gerar vários prejuízos e constrangimentos no
desempenho do ministério e do governo da igreja.
Em relação ao povo em geral, no texto da lei do divórcio instituída
por Moisés, havia impedimento
60 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges para o novo casamento apenas entre as pessoas que já
haviam sido casadas entre si. A lei mosaica prevê sucessivos
casamentos e divórcios, como infelizmente é praxe acontecer na
atualidade.
A carta de divórcio
É importante ressaltar que naquela época quem dava a carta de
divórcio era sempre o homem, nunca a mulher. Mesmo quando a
iniciativa de separar era da mulher, quem fazia a carta era o homem.
O próprio Deus, apesar de estar sendo o repudiado, como marido,
foi quem deu a carta de divórcio formalizando o repúdio de sua
esposa: “E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério
a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio...” (Jr
3:8).
Por um lado, isto colocava a mulher em uma certa desvantagem. O
principal conteúdo da carta de divórcio era o motivo da separação.
Isto iria facilitar ou dificultar o futuro da mulher. Dependendo do tipo
de conflito ou argumentação, havia uma intervenção da autoridade
sacerdotal. Uma alegação criminal, por exemplo, a de ter havido um
adultério deveria ser in-vestigada. Isto, inclusive poderia custar até
mesmo a vida da pessoa. Mas, precisava haver um julgamento
antes, mediante uma corte sacerdotal, o Sinédrio.
No caso de uma falsa acusação desta natureza contra a mulher,
aquele homem deveria ser publicamente punido, surrado com vara e
estava impedido
A Lei do Divórcio - 61
de se divorciar. Na verdade, havia várias penalizações para o
homem para os diversos pecados cometidos contra a mulher
(Deuteronômio 22:13-29). Havia um sistema que funcionava bem.
Com o tempo, devido à tendência machista presente em
praticamente todas as culturas, inclusive na hebraica, uma mulher
poderia ser despedida por motivos banais.
Esta prática injusta e abusiva assumiu o seu extremo na geração
contemporânea de Jesus, e obviamente isto não passaria batido.
Jesus não barateou este tipo de injustiça, propondo uma revolução
moral que remontava o propósito original de Deus para o
matrimônio. O casamento deve ser monogâmico e vitalício.
Fora da monogamia, consequências trágicas se impõe sobre a
pessoa e a sociedade.
O que quero ressaltar é que o motivo escrito da separação em uma
carta de divórcio era o aspecto crucial que determinaria o futuro
daquela mulher, que poderia facilitar uma nova possibilidade de
casamento ou até mesmo determinar a sua morte por
apedrejamento.
A lei mosaica acerca do divórcio
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então
será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar
coisa
62 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges
indecente, far-lhe-á uma carta de divórcio, e lha dará na sua mão, e
a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se
casar com outro homem, e este também a desprezar, e lhe fizer
carta de divórcio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa,
ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a
morrer, então seu primeiro
marido, que a despediu, não poderá tornar a
tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada;
pois é abominação perante o Senhor; assim não farás pecar a terra
que o Senhor teu Deus te dá por herança” (Dt 24:1-4).
Vamos analisar a lei do divórcio estabelecida por Moisés. O corpo
dessa lei nos permite tirar muitas conclusões, mas vamos abordar
as mais importantes para o nosso contexto atual:
1ª CONCLUSÃO: A Bíblia não estabelece de forma conclusiva
um motivo para o divórcio.
Quais sejam os motivos que justificariam uma separação conjugal,
eles são mencionados em termos gerais, não específicos, fazendo
alusão a algo que pode ser qualificado como reprovável, detestável
ou imoral, apenas relacionado à mulher: “... por nela encontrar
coisa indecente (ervah dabar)”.
A Lei do Divórcio - 63
Apesar desta situação enfatizar uma “atitude indecente” por parte da
mulher, sabemos que a maioria das separações acontece por
“atitudes indecentes”
por iniciativados homens. Obviamente, Deus não faz acepção de
pessoas.
Se você analisar bem irá perceber que esta é uma lei bem
rudimentar. Na verdade é mais um caso do que uma lei. É
importante refletir neste aspecto. O bom senso nos leva a concluir
que cada caso precisa de uma aplicação distinta da lei. Não
podemos engessar o julgamento.
Vejamos o sentido destas duas palavras no original segundo a
concordância Strong:
- “Coisa” : No literal é a palavra “dabar”, que pode ser um discurso,
uma fala, uma declaração, um negó-
cio, uma ocupação, uma maneira. Uma variação deste termo tem o
sentido de doença, peste, praga.
- “Indecente” : No literal é a palavra “ervah”, e tem o sentido
explícito de uma exposição vergonhosa, nudez, conduta imprópria.
Neste caso específico, que também estabelece o corpo da lei, dá a
entender que essa mulher estava sendo repudiada por um motivo
sério e que merecia uma intervenção judicial. Alguma coisa que
demonstrava uma atitude indecente e que causava uma constante
desonra ao seu marido.
A terminologia hebraica ervah dabar ocorre como frase apenas em
Dt 23:14-15:
64 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges
“Pois o Senhor teu Deus anda no meio do teu acampamento, para
te proteger, e para entregar-te os teus inimigos. O teu acampamento
será santo, para que Ele não veja em ti “coisa indecente” , e se
aparte de ti.”
Ou seja, o mesmo tipo de situação indecente, re-pugnante, que faz
com que Deus se aparte de nós é o que supostamente “justificaria”
um marido se separar da sua mulher. Esse é o sentido original da
terminologia, o que deixa uma margem muito grande, que pode ir
desde um problema de higiene, uma doença venérea, uma atitude
indecorosa que desmoraliza o marido, uma conduta desonrosa, até
um adultério.
Quando isso ocorria, a situação devia ser averiguada pelo ministério
sacerdotal, podendo resultar em uma separação legítima.
Jesus dá uma ênfase maior para as questões morais: “. . a não ser
por causa de prostituição” (Mt 5:32).
A palavra prostituição é porneia, o que engloba todo tipo de
imoralidade sexual. Mas este é também um termo abrangente que
pode ser adultério, prostituição, sodomia, etc.
Apesar de ervah dabar ser uma terminologia séria, ela não é
específica. Ela também inclui não apenas o tipo de fato ocorrido,
mas o tipo de atitude da pessoa em relação ao fato ocorrido, a qual
pode ser mais decisiva que o próprio fato. O mais conclusivo é que
A Lei do Divórcio - 65
não existe um motivo conclusivo ou um fato padro-nizado para
legitimar uma separação. Se houvesse, certamente as pessoas
achariam uma forma de abusar dessa prerrogativa. Por isso, os
casos deveriam ser submetidos à competência sacerdotal. A
essência do propósito do casamento é aceitar as diferenças,
superar as fraquezas e resolver os conflitos desenvolvendo
intimidade e maturidade.
Como a Bíblia não estabelece um motivo para o divórcio de forma
conclusiva, e creio que isso é pro-posital e muito sábio, porque cada
caso é um caso, minha opinião é que mesmo em uma situação
crítica de adultério, deve-se tentar de todas as formas possíveis
restaurar o casamento.
Devemos sempre conduzir a situação pelo trilho da reconciliação.
Aliás, felizmente muitos matrimônios têm sido salvos, mesmo após a
mortal ferida de um adultério. Abordaremos sobre isto mais à frente.
Ressalvas para o divórcio
Leis civis precisam ser dinâmicas. Uma sociedade tende a crescer e
mudar, e surgem novas condições, demandas e prerrogativas. Uma
lei civil que funcionou por um tempo pode deixar de ser eficaz,
precisando de uma emenda que venha aprimorar a sua
contextualização e funcionalidade.
Uma lei civil que funcionava em um tipo de regime governamental
pode não funcionar em outro. O
66 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges Oriente tem uma tendência para a teocracia, que é um
regime totalitário. No caso de Israel, a prioridade era cumprir os
termos de uma aliança feita com o Senhor.
O Ocidente tem uma tendência para a democracia que prioriza
satisfazer a vontade do povo, da maioria. Isto estabelece um outro
paradigma para a legislatura.
Com este intuito, gostaria de mencionar algumas ressalvas para o
divórcio. Vale novamente enfatizar que não existem ressalvas
bíblicas para o repúdio, apenas para o divórcio. Também, em um
contexto de cristianismo, qualquer decisão jamais deve ser tomada
isoladamente sem a competência dos anciãos da igreja.
Obviamente temos situações que exibem realidades diferentes tanto
dos dias de Moisés quanto dos dias de Jesus. Como a Bíblia não
menciona um motivo conclusivo que justifique a legalização do fim
de um casamento, precisamos considerar com muito bom senso
algumas ressalvas. Lógico que quando uma pessoa passa a ser
vítima dessas condições, o divórcio só estaria formalizando a dureza
do coração do seu cônjuge.
Neste processo é imprescindível que essa pessoa repudiada não
haja com amargura e vingança. Paulo sabiamente estabelece um
imperativo para qualquer situação crítica de conflito: “No que
depender de vós tende paz com todos” (Rm 12:18).
Perdoar não é uma opção; é um mandamento. Ao lidar com o
repúdio usando o repúdio, mordemos a isca
A Lei do Divórcio - 67
e perpetuamos nossas feridas. A pessoa repudiada nunca deve se
demover da posição de perdoar, bem como orientar os filhos da
mesma forma. A proteção desses filhos depende da atitude
incondicional de honrar pai e mãe, independentemente do seu
fracasso conjugal.
Na atual conjuntura, contextualizando realidades presentes e
auxiliando muitos casais no aconselhamento, existem algumas
situações críticas extremas que devem ser levadas em
consideração no encami-nhamento de uma separação definitiva,
mediante um consenso com conselheiros experientes. Vejamos
estas ressalvas:
1ª RESSALVA - Histórico de agressões e violência Uma ressalva
para uma necessária separação que deve ser analisada
cuidadosamente é quando um dos cônjuges está realmente
correndo risco de vida. Ou seja, quando existe a real possibilidade
de ocorrer um crime passional. Se já existe um histórico de
agressões e ameaças que comprovam isso, inclusive envolvendo
uso de armas, a situação assume uma conotação criminal.
Sob esse tipo de circunstâncias reincidentes, de-ve-se considerar
seriamente a possibilidade de uma separação definitiva, evitando
uma tragédia iminente.
Esses crimes, infelizmente, acontecem com mais frequência do que
imaginamos. O divórcio, em muitos destes casos, torna-se a única
alternativa para salvar a vida da pessoa.
68 - A Lei, A MorAL e os ConfLitos ConjugAis | MArCos de souzA
Borges 2ª RESSALVA - Infidelidade persistente sem nenhum
sinal de arrependimento A infidelidade é uma das principais
formas de expressão do repúdio. Viola o princípio da propriedade e
exclusividade do amor conjugal. Sexualmente falando, o corpo do
marido pertence apenas à esposa e o corpo da esposa pertence
apenas ao marido, a ninguém mais.
Tenho atendido e acompanhado muitos casos de adultério, que
apesar da terrível violação da aliança, a pessoa se arrepende,
procura ajuda e isto normalmente resulta em uma grande
restauração.
Porém, existe uma grande diferença entre um adultério casual
acompanhado pelo desejo genuíno de restauração e um adultério
persistente, sem nenhum resquício de arrependimento, seguido de
mentiras e tentativas de dissimulação. Isto pode envolver vários
tipos de agravantes, inclusive aquelas que colocam em risco a
saúde e a vida do cônjuge traído, ou seja, doenças venéreas, aids e
outras DSTs.
Nos casos de adultério persistente, depois de esgo-tar as tentativas
de restauração, chega um momento, o qual deve ser bem
discernido, que o casamento fica sem chances de sobreviver,
restando ao cônjuge traído a alternativa de formalizar a dureza de
coração do cônjuge infiel através do divórcio. Penso que para tais
casos se aplica tanto a colocação de Moisés “ervah dabar”
quanto a colocação de Jesus: “... a não ser por causa de porneia”
(Mt 5:32). É uma questão de bom senso.
A Lei do Divórcio - 69

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