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Tópicos de Ciências Exatas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Vinicius Azevedo Borges Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Fundamentos da Ciência • O que é Ciência? • Método Científico; • Deduções, Induções e Hipóteses; • Teorema, Teoria e Lei. • Compreender os conceitos básicos envolvidos no desenvolvimento de Ciências Exatas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Fundamentos da Ciência Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Fundamentos da Ciência O que é Ciência? Quando o tema Ciência é abordado, uma das primeiras imagens que vêm à mente na maioria das pessoas é a do cientista com jaleco, no laboratório, atuando com tubos de ensaio e fazendo muitos experimentos malucos. Figura 1 – Cientista em laboratório Fonte: Wikimedia Commons Entretanto, o termo Ciência não se resume a essa ideia. Os dicionários cos- tumam definir Ciência como um conhecimento racional, profundo e/ou rigoroso sobre determinado assunto. Na realidade, a palavra Ciência possui origem latina e quer dizer exatamente isto: conhecimento. Neste sentido, não importa quais as áreas de conhecimentos, seja em Exatas, Humanas, Biológicas, Sociais, a Ciência acontece em todas. Então, todo conhecimento é Ciência? A Filosofia costuma diferenciar o co- nhecimento em dois tipos: científico e senso comum. O conhecimento científico é aquele que possui fundamentos experimentais. Portanto, pode-se afirmar que é um conhecimento construído a partir de testes, comumente exaustivos, mo- delagem matemática, embasamento lógico, racional e comprovação prática dos fenômenos estudados. O senso comum relaciona-se ao conhecimento adquirido através de experiências vividas – diferente de experimentos –, baseado em intuições, geralmente provenien- te de tradições culturais, e costuma ser transmitido através de gerações (Figura 2). Figura 2 – Gato preto Fonte: Wikimedia Commons 8 9 É comum a crença de que gato preto dá azar. Este pensamento, de ver ou cruzar com um gato preto influenciará nas condições de sorte ou azar de uma pessoa, é passado através de gerações. Portanto, muitos acreditam nessa crença, mas nin- guém nunca provou, testou ou validou tal ideia. Aliás, os próprios conceitos de sorte e azar não são científicos, uma vez que todos os eventos podem ou não acon- tecer de maneiras diferentes com probabilidades distintas. Para se construir um conhecimento científico, alguns critérios são necessários. Determinado fenômeno deve ser estudado de maneira sistemática, seguindo as re- gras básicas do método científico, analisando sempre o fenômeno, os experimentos e resultados de maneira reflexiva. Uma vez que a Ciência é construída a partir de observações, pode ser aperfei- çoada e contestada por observadores diferentes. Um conhecimento científico hoje pode ser questionado e abandonado amanhã, caso as suas deficiências sejam com- provadas ou existam formas mais coerentes para analisar determinado fenômeno. Por exemplo, no século XVII, um químico e médico alemão chamado Georg Ernst Stahl, ao estudar acerca dos materiais inflamáveis, formulou a teoria do flogisto. Percebeu que os materiais inflamáveis perdiam massa quando eram quei- mados. Portanto, definiu que tais materiais possuíam um componente, denominado logisto, que seria perdido para o ar quando fossem queimados. Tal ideia se tornou uma teoria aceita na comunidade científica da época, pois era capaz de explicar fenômenos relacionados à combustão, tal como o fato de um material inflamável não queimar na presença do ar. Figura 3 – Queima de material infl amável Fonte: Wikimedia Commons Posteriormente, com novas descobertas, essa teoria foi abandonada; isso porque se descobriu que a queima é a reação do oxigênio do ar com compostos combustíveis. 9 UNIDADE Fundamentos da Ciência Assista ao teste de senso comum que 90% das pessoas erram no vídeo disponível em: https://youtu.be/X0hyAIKyaw8Ex pl or Método Científico O cientista Michel Blay define Ciência como “[...] o conhecimento claro e evidente de algo, fundado quer sobre princípios evidentes e demonstrações, quer sobre racio- cínios experimentais, ou ainda sobre a análise das sociedades e dos fatos humanos”. Seguindo o pensamento de Blay, podemos classificar três tipos de Ciências: 1. Formais, que fazem uso das evidências e demonstrações para a construção de conhecimentos, tal como acontece com a Matemática; 2. Experimentais, que utilizam experimentos para a comprovação ou refuta- ção de ideias, como são os casos da Física, Química e Biologia; 3. Sociais, que analisam o comportamento do ser humano inserido em seu ambiente cultural e histórico, como ocorre com a Sociologia, Linguagens, entre outras áreas. Seja qual for a área de estudo em que se deseja trabalhar, para a construção de um conhecimento científico, ou para modificá-lo e aperfeiçoá-lo, é necessário seguir uma série de regras, conhecidas como método científico. Basicamente, o método científico pode ser dividido em uma sequência de qua- tro etapas: A primeira é a fase de observação do fenômeno que será estudado. Nesta etapa é identificado determinado problema, evento, ou qualquer fenômeno de estudo e as suas relações de dependência com outros fatores. Na segunda etapa formula-se a hipótese, que deverá fornecer uma explicação racional e lógica para o fenômeno estudado e a sua relação com outros fatores. A terceira fase compreende a formulação e realização dos experimentos que deverão ser realizados para se comprovar ou refutar a hipótese. A quarta e última etapa é a que fornece os resultados dos experimentos, per- mitindo concluir se a hipótese pode ser confirmada, ou se deverá ser reformulada ou abandonada. 10 11 A Figura 4 mostra um diagrama das fases do método científico de maneira mais detalhada: Método Cientí�co (Esboço) Observação: • Sistemática • Controlada Implicações Conclusões Previsões Experimentos • Novas observações • Análise lógica Resultados corroboram teoria? Hipóteses: • Testáveis • Falseáveis Fatos: • Veri�cáveis Teoria Cientí�ca Conjunto indissociável de todos os fatos e hipóteses, harmônicos entre si. Novos Fatos SIMNÃOReciclar Hipóteses Figura 4 – Diagrama do método científico Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Veja o que é Ciência em: https://youtu.be/QA0PD7eu4yE Ex pl or Praticamente qualquer fenômeno pode ser estudado através do método cientí- fico; por exemplo, Augusto acorda de manhã e percebe que o seu telefone celular está com a bateria quase que descarregada. Conecta o aparelho no carregador en- quanto se arruma para ir ao trabalho. Quando vai pegar o telefone celular, percebe que, ao invés de a bateria ter carregado, o aparelho desligou. Augusto tenta ligar novamente o aparelho, mas este não responde. Note que sem pensar muito a respeito de Ciência, ou método científico, Augusto agiu da seguinte maneira: 11 UNIDADE Fundamentos da Ciência Figura 5 – Telefone celular sendo carregado na rede elétrica Fonte: Wikimedia Commons 1. Verificou que o telefone celular desligou, quando este deveria ter carre- gado a bateria e permanecido ligado; quando tentou religar o aparelho, nada aconteceu; 2. Pensando de maneira lógica, Augusto deduziu que o motivo de o aparelho estar desligado – e não ligar – é porque a bateria foi descarregada ao invés de carregar quando estava conectada ao carregador. Contudo, se o carregador apenas fornece energia ao telefone – e não o contrário, e obviamente isso não aconteceu –, pode ser que tenha faltado energia elétrica na rede; 3. Tentou acender uma lâmpada de casa e verificou que esta não acendeu. Pegou o controle remoto da televisão e tentou ligá-la, mas também sem sucesso. Além disso, tentou acender outra lâmpada, e nada; 4. Concluiu que realmente ficou sem energia elétrica por esse período e deci- diu tentar carregar o seu telefone celular no trabalho, onde possivelmente não teria esse problema. Perceba que seguindo esses quatro passos, Augusto utilizou, mesmo que de maneira inconsciente, o método científico: fez uma observação (primeiro passo), deduziu uma hipótese (segundo passo), realizou experimentos (terceiro passo) e concluiu que a sua hipótese estava correta (quarto passo). Todos os dias, em diversos momentos realizamos exatamente a mesma coisa. De maneira inconsciente, aplicamos o método científico para situações simples do cotidiano. Outro exemplo: Bernardo começou a estudar fenômenos termodinâmicos por conta própria. Deci- diu começar pelo congelamento da água, verificando que quando resfriava significati- vamente, a água assumia uma forma fixa, mudando do estado líquido para o sólido. 12 13 Percebendo isso, imaginou que para a água mudar de estado, algum elemento deveria estar misturado com a qual enquanto fosse resfriada. Decidiu, então, re- alizar um experimento para verificar essa hipótese, onde encheu uma garrafa de Polietileno Tereftalato (PET) com água e colocou no congelador. Após a água se tornar gelo, Bernardo percebeu que a garrafa estava estufada, e isto parecia com- provar a sua hipótese – de que algo se misturou com a água para que aumentasse o seu volume. Figura 6 – Garrafa com água em estado líquido Fonte: Wikimedia Commons Seguindo com o nosso exemplo, Bernardo decidiu melhorar o experimento e pesou a garrafa com água antes e depois de a colocar no congelador. Ao realizar tais ações, observou que o peso da garrafa com água não se alterou no processo de congelamento. Se o peso era exatamente o mesmo, então a sua hipótese tinha algum problema, pois não havia nada se misturando com a água, senão esta au- mentaria de peso quando congelasse. Observe que Bernardo, mesmo sem ter conhecimentos profundos de termodinâ- mica, recorreu a caminhos lógicos e inteligentes para testar a sua hipótese. Utilizou o método científico ao observar o fenômeno de resfriamento da água relacionado ao aumento de seu volume. Formulou uma hipótese que poderia explicar esse fenô- meno e realizou experimentos que mostrariam se a sua hipótese seria verdadeira ou não. Mesmo comprovando que a sua hipótese não estava correta, Bernardo seguiu corretamente as etapas do método científico, continuando os seus estudos sobre o resfriamento da água, reformulando as suas hipóteses e testando se estas seriam válidas ou não. 13 UNIDADE Fundamentos da Ciência Outro exemplo interessante refere-se à luz que sempre fascinou e intrigou o ser humano. Desde a Grécia Antiga já se buscava compreender a sua natureza e ex- plicar o seu comportamento. Seguindo uma teoria grega denominada atomismo, formulando que todos os corpos são compostos por partículas minúsculas e indivi- síveis, Lucrécio, um poeta e filósofo grego do século I a.C., propôs que a luz solar e o calor proveniente dessa eram também compostos por pequenas partículas. A ideia de que a luz seria formada por partículas percorreu séculos, até Isaac Newton, no século XVII, comprovar por experimentos que a luz realmente se comportava dessa forma. Em vários de seus artigos e trabalhos publicados e não publicados, Newton discutiu a natureza física da luz, explicando e argumentando se seria mesmo composta por partículas. Esta ficou conhecida como teoria corpuscular da luz. Um experimento desse pesquisador que ficou famoso foi o do prisma: Newton lacrou o seu quarto e permitiu que entrasse nesse apenas uma fresta de luz do Sol. Posicionando um prisma de vidro no caminho dessa fresta de luz, observou que após atravessar o prisma, a luz se dividia em várias cores. Com isso, determinou que partículas de cores diferentes teriam velocidades específicas no vidro, por isso, as cores se dividiriam ao atravessar o prisma. Figura 7 – Replicação do experimento do prisma de Newton Fonte: Wikimedia Commons A teoria corpuscular da luz foi amplamente estudada e desenvolvida ao longo do século XVIII; mas no século XIX, dois físicos, Thomas Young e Augustin Fresnel começaram a questionar essa natureza corpuscular da luz e desenvolveram o que ficou conhecido como teoria ondulatória da luz. Ainda no século XVII, o físico Huygens, estudando a natureza da luz, propôs que seria um fenômeno explicado pelas teorias ondulatórias. Entretanto, foram os 14 15 experimentos de interferência e difração da luz, realizados por Young e Fresnel que demonstraram que alguns comportamentos da luz não poderiam ser explicados pela teoria corpuscular da luz. O experimento mais expressivo que fundamentava a teoria ondulatória da luz ficou conhecido como experimento da dupla fenda, no qual um anteparo com duas fendas funcionava como barreira para a luz. Como a luz só poderia atravessar as fendas, caso fosse formada por partículas, era esperado que, após atravessar as fendas, existissem apenas dois feixes de luz formados pelas duas fendas. Mas não era isso que acontecia. Após atravessar as fendas, a luz se comportava como ondas sonoras, ou ondas produzidas na superfície da água – a seguinte Figura mostra o comportamento da luz obtido nesse experimento: Figura 8 – Experimento da dupla fenda de Young e Fresnel Fonte: Wikimedia Commons Após muitos novos experimentos e descobertas sobre os átomos e a composi- ção da matéria, a teoria mais aceita atualmente é a de Albert Einstein, de que a luz possui natureza dual, podendo se comportar como onda quando viaja pelo espaço e como partícula quando incide sobre uma superfície. Você percebeu como uma questão aparentemente simples foi questionada e de- senvolvida ao longo de milênios? O que acreditamos ser verdadeiro hoje é diferente do que foi proposto na Grécia Antiga e, por sua vez, difere do que foi proposto no século XVIII. Será que alguma crença atual é realmente verdade? Que tipos de experimentos poderiam comprovar ou refutar essa teoria? O que é a Dualidade Onda-Partícula? Disponível em: https://youtu.be/2vRyLAPxyEs. Ex pl or 15 UNIDADE Fundamentos da Ciência Deduções, Induções e Hipóteses Dedução, indução e hipótese são ferramentas que fazem a metodologia científica funcionar. Contudo, assim como todos os elementos do método científico, estas não são utilizadas somente para construir um conhecimento científico, mas funcio- nam para praticamente qualquer situação cotidiana. Por exemplo,suponha que você combinou de encontrar um amigo de infância em uma lanchonete. Enquanto você está lá, esperando o seu amigo no horário mar- cado, esse não aparece. Então, começam a vir as perguntas: “será que aconteceu alguma coisa? Ele se esqueceu do compromisso? Ficou preso no trabalho? Não, hoje ele não trabalha. Será que está preso no trânsito? Sim, pode ser uma possibilidade”. Figura 9 – Por qual motivo alguém poderia se atrasar para um compromisso? Fonte: Wikimedia Commons Veja que em uma situação diária comum aplicamos a dedução sobre determi- nado evento e encontramos possíveis hipóteses. As deduções funcionam como os caminhos que o cérebro traça para tentar responder às perguntas. É o que de- nominamos como raciocínio lógico. As possíveis respostas são as hipóteses que precisam ser confirmadas. Alguns problemas lógicos são facilmente solucionáveis através da dedução. Por exemplo, se você tiver um baú que contém apenas bolinhas vermelhas e disser que em sua mão fechada há uma bolinha que foi retirada desse baú. Qual é a conclusão lógica que o cérebro do interlocutor deduzirá? Obviamente que a bolinha que está na sua mão é vermelha. Não é possível deduzir, por exemplo, se esta bolinha é de madeira ou metal, se é oca ou maciça, se é pequena ou grande, pois os dados sabi- dos não nos fornecem informações para conhecer outras características da bolinha. Mas se a única cor das bolinhas contidas no baú é vermelha e você está segurando uma bolinha que retirou desse baú, logicamente deverá ser vermelha. 16 17 Perceba outro exemplo baseado nas possibilidades a seguir: • P1: todo metal conduz corrente elétrica; • P2: alumínio é um metal; • Conclusão: alumínio conduz corrente elétrica. Neste exemplo, os elementos do método dedutivo foram explicitados para faci- litar a compreensão. Temos a primeira e segunda premissas (P1 e P2, respectiva- mente) e a conclusão lógica. As premissas são as informações que você já conhece sobre o fenômeno que estuda. A conclusão lógica é proveniente da dedução que se faz a partir das premissas. No caso deste exemplo, se o alumínio é um metal (P2) e todo metal conduz corrente elétrica (P1), então, sendo o alumínio um metal, está contido no grupo dos materiais que conduzem corrente elétrica; logo, deve condu- zir corrente elétrica. Observe outro exemplo a seguir: • P1: Todos os homens que vestem roupas amarelas são empresários; • P2: César só usa roupas amarelas; • Conclusão: César é empresário. Este exemplo pode parecer absurdo – e é mesmo! Mas não por conta da de- dução; é absurdo por causa da premissa P1, que indica uma condição que não é verdadeira. É claro que se fosse verdadeira, a conclusão seria óbvia e válida. Entre- tanto, não existe comprovação alguma de que todos os homens que vestem roupas amarelas são empresários. Logo, como essa premissa não pode ser validada, a conclusão não é precisa. É importante, quando utilizamos a dedução, partirmos de premissas válidas, pois serão estas que garantirão maior precisão em nossas hipóteses. Uma boa hipótese é formulada a partir de deduções bem fundamentadas com base em pre- missas comprovadamente válidas. A hipótese não é necessariamente uma verdade, pois deve ser testada sob vários aspectos para que a sua validade seja verificada. Retomando os exemplos anterio- res, quando o seu amigo atrasado chegar, você confirmará a hipótese de que ele ficou preso no trânsito, de modo que ele dará a confirmação ou simplesmente rejei- tará a sua hipótese. No caso do baú com bolinhas vermelhas, a hipótese de que a bolinha que está na sua mão é vermelha será confirmada quando abrir a mão. Para o exemplo do alumínio, saberemos que realmente conduz eletricidade ao tentarmos produzir corrente elétrica através desse material. No caso de César, aquele que traja apenas roupas amarelas, a conclusão que chegamos é que deve ser um empresário. Entretanto, ao encontrarmos algum ho- mem que vista amarelo e não seja empresário, deveremos repensar essa hipótese, pois os fundamentos que resultaram em sua construção se mostraram frágeis. 17 UNIDADE Fundamentos da Ciência Além do método dedutivo existe também o indutivo, sendo ambos importantes para extrair conclusões científicas. A principal diferença é que no método dedutivo as conclusões obtidas são consequências lógicas das premissas, não permitindo obter conclusões que fujam às premissas. Por sua vez, com o método indutivo é possível obter previsões que não sejam necessariamente verdadeiras, mas que se- jam logicamente convincentes. Por exemplo, Dionísio realiza experimentos soltando objetos no ar e marcando o tempo que levam para cair no chão. Dessa forma, conseguiu modelar uma equação que descreve o tempo gasto para objetos atingirem o chão dependendo da altura em que foram abandonados. A equação proposta por Dionísio é baseada na indução, pois realizou diversos experimentos possíveis de se prever matematicamente quanto tempo levaria para um corpo abandonado a uma determinada altura atingir o chão. Lembrando-se das etapas do método científico, a dedução e indução são cami- nhos traçados entre a observação de determinado fenômeno e a formulação da hipótese para explicar esse fenômeno. Dedução e Indução. Disponível em: https://youtu.be/L7EI7g_yiaw. Ex pl or Teorema, Teoria e Lei Teorema é uma terminologia mais utilizada pela Matemática e se trata de uma afirmação que pode ser provada, seja por meio de demonstrações matemáticas e cálculos, ou através de outras afirmações já provadas ou demonstradas, que são conhecidas como axiomas. Em geral, os teoremas podem ser descritos como fór- mulas ou equações universais. A prova de um teorema não faz parte deste. Significa que um mesmo teorema pode ser provado ou demonstrado de mais de uma maneira. As provas de um teorema devem utilizar fundamentos lógicos, as hipóteses, que são afirmações as- sumidas logo de início como verdadeiras. A prova de um teorema, com base nas hipóteses, originará uma tese. Um teorema pode originar em outras afirmações verdadeiras, conhecidas como corolários e que são deduzidas do teorema. Por exemplo, o teorema de Pitágoras, amplamente conhecido e extremamente útil em várias áreas da Matemática e do cálculo, é uma relação matemática entre as medidas dos lados de qualquer triângulo retângulo em um espaço euclidiano, e pre- vê que em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Em linguagem matemática, o teorema de Pitágoras pode ser escrito conforme a seguir: c2=a2+b2 (1) 18 19 b2 c 2 a2c b a Figura 10 – Triângulo retângulo e relações quadráticas Fonte: Wikimedia Commons Para provar o teorema de Pitágoras é necessário definir que um triângulo retân- gulo é uma figura plana de três lados retos e três ângulos internos formados pela intersecção dos lados, sendo um dos ângulos internos igual a 90°, conhecido como ângulo reto. Além disso, é necessário saber que a hipotenusa é o lado oposto ao ângulo reto, e que os outros dois lados são os catetos. Por meio do teorema de Pitágoras podemos extrair o seguinte corolário: a hi- potenusa de qualquer triângulo retângulo será sempre maior que qualquer um dos catetos, mas nunca será igual ou maior que a soma desses. A teoria científica se refere a um conjunto de hipóteses que foram devidamente testadas de maneira repetitiva e confrontadas com evidências científicas. O fato de haver passado por exaustivos testes torna a teoria uma verdade aceita na comunida- de científica. Isso, porém, não torna a teoria uma verdade intocável, pois poderá ser também refutada caso falhe em algum teste ou experimento. Neste caso, a teoria poderá ser substituída e evoluir para outra melhor. Por exemplo, a teoria da relatividade foi proposta e testada por Albert Einstein no século XX e deriva dos estudos de Isaac Newton sobre a gravidade, substituindo a independência das coordenadas espaciais com a coordenada temporal proposta por Newton e, por sua vez, dandoorigem à ideia de um espaço-tempo geométrico de 4 dimensões. Newton havia formulado que a gravidade era uma consequência da massa dos corpos e que a força gravitacional entre dois corpos é proporcional ao produto de 19 UNIDADE Fundamentos da Ciência suas massas. Einstein demonstrou que a gravidade pode ser considerada uma de- formação no espaço-tempo, pois não afeta apenas as coordenadas espaciais, mas também afeta a coordenada temporal. Figura 11 – Ilustração da teoria da relatividade geral Fonte: Wikimedia Commons Para formular a teoria da relatividade, Einstein partiu de dois postulados: O primeiro é derivado do princípio da relatividade de Galileu e cita que as leis físicas se comportam da mesma maneira em qualquer sistema de coordenadas inerciais que forem medidas. O segundo – e mais polêmico – postulado de Einstein é o de que a luz terá sem- pre a mesma velocidade no vácuo, independentemente do sistema de coordenadas inercial que for utilizado. Postulado: algo que é considerado como verdadeiro, utilizado como ponto de partida em uma argumentação.Ex pl or Uma lei em Ciências é uma regra que determinado fenômeno obedece. É ela- borada a partir da observação do fenômeno e é extrapolada para prever compor- tamentos futuros proporcionais em situações similares às observadas. Assim como acontece com um teorema ou com uma teoria, uma lei também passa por exausti- vos experimentos, testes e confrontamentos. Por exemplo, são quatro as leis da termodinâmica, formuladas e aprimoradas a partir de inúmeras observações e constatações ao longo dos séculos, sendo que algumas das quais têm implicações em outras áreas distintas da termodinâmica, principalmente a primeira e segunda leis da termodinâmica. A primeira Lei da termodinâmica, conhecida também como Lei da conservação de energia, prevê que nenhum tipo de energia pode ser criado ou destruído, mas apenas convertido em outro tipo de energia, transferido de um sistema para outro, ou entre um sistema e a sua vizinhança; essa lei funciona em praticamente qualquer área da Física, desde a mecânica quântica até a relatividade. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A Brief History of Time HAWKING, S. A brief history of time. [S.l.]: Bantam Books, 1988. Metodologia do Trabalho Científico SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2017. Revista de Administração & Ciências Contábeis SILVA, J. Introdução ao pensamento científico: a passagem do pensamento ingênuo ao pensamento crítico. Revista de Administração & Ciências Contábeis, v. 6, n. 1, 2016. Leitura O Conhecimento em Platão e o Método das Ciências Exatas: uma tentativa de aproximação entre Filosofia e Física SILVA, J.; SILVA, A. P. O conhecimento em Platão e o método das Ciências Exatas: uma tentativa de aproximação entre Filosofia e Física. Revista Areté | Revista Amazônica de Ensino de Ciências, v. 6, n. 11, p. 83-96, abr. 2017. http://bit.ly/2MhaxHC 21 UNIDADE Fundamentos da Ciência Referências BLAY, Michel. Critique de l’histoire des sciences. Cnrs, 2017. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. KOTZ, J. et al. Química geral e reações químicas. v. 2. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. RATTAN, K. S. Matemática básica para aplicações de Engenharia. Rio de Janeiro: LTC, 2017. SEARS, F. W. et al. Física: mecânica. v. 1. 12. ed. Rio de Janeiro: A. Wesley, 2008. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física II: termodinâmica e ondas. 10. ed. [S.l.]: Pearson, [20--?a]. ________. Física III: eletromagnetismo. 10. ed. [S.l.]: Pearson, [20--?b]. 22
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