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Epistemologia da Psicologia

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOLOGIA
Como a física de Newton e a filosofia de Kant estabeleceram as bases para a formação de uma psicologia experimental em Wilhelm Wundt?
A concepção aristotélica de ciência, como um conhecimento universal, necessário, pelas causas e dedutivo, foi o pensamento dominante por todo o século XII. Com o início da Idade Moderna, novos estudiosos com novos julgamentos sobre a temática passam a questionar o pensamento clássico de ciência e assim, a partir de mudanças sociais e científicas, ocorre a ruptura com a noção aristotélica de conhecimento. 
Para Aristóteles, produzir conhecimento era produzir Metafísica, isto é, um conhecimento genuíno que integrava o universal, a necessidade, a ciência pelos princípios e dedutiva. Desse modo, em síntese, fazer ciência é no limite fazer filosofia como estudo do que as coisas são e suas causas. Porém, a partir do século XVI, com a publicação do trabalho do matemático polonês, Copérnico, o pensamento aristotélico começa a ser colocado a prova. Copérnico apresenta suas teorias no manuscrito Revolutionibus Orbium Coelestium ,no qual defendia a tese de que a Terra, assim como os demais planetas, gira em torno do sol, em uma teoria chamada de Heliocentrismo. O modelo apresentado por Copérnico é menos complexo do que o modelo vigente de Aristóteles: teoria Geocêntrica em que a Terra está no centro do Sistema Solar, e os demais astros orbitam ao redor dela ao longo de um círculo. Desse modo, o matemático mostra um caminho importante para o que, posteriormente, fundaria a física clássica e os primeiros passos para a mecânica clássica. 
Mais tarde, o estudioso Galileu Galilei, com a observação dos corpos celestes e o uso da luneta, comprova a teoria heliocêntrica proposta por Copérnico. Galileu analisou que: I) a superfície da Lua é cheia de irregularidades e que a do Sol tem manchas escuras; II) a face de Vênus era iluminada de formas variadas, indicando que o planeta tem fases, como a Lua e III) ao redor de Júpiter giravam quatro satélites naturais, conhecidas hoje como as luas de Júpiter. Assim, Galileu rompe com a ideia de que todos os corpos celestes orbitavam a Terra, além de transpor as principais características da ciência Aristotélica. Com as observações de Galileu, já não era mais possível sustentar que ciência é conhecimento dedutivo, pois a análise foi feita por inspeção direta observacional e nem que ciência é conhecimento necessário, uma vez que, os planetas não são esferas perfeitas e não giram em volta da Terra. Em vista disso, Galileu rompe de vez com o modelo Geocêntrico aristotélico e serve de combustível para o rompimento do pensamento clássico que será efetivado por Isaac Newton e Imannuel Kant no começo da modernidade.
O físico e matemático, Isaac Newton, desenvolve um dos primeiros fundamentos da Mecânica, com a observação da existência de certas leis da mecânica e subsequente movimentação dos objetos. Newton se debruça sobre as Leis de Johannes Kepler, precisamente da terceira lei, na qual afirmava que a órbita dos planetas, diferente do modelo aristotélico e de Copérnico, não eram órbitas circulares e sim elípticas. Assim, Galileu conclui que leis do movimento planetário possui relação direta, ou melhor, são iguais a Lei de Aceleração, formulada pelo próprio Galileu, em que os objetos abandonados a si mesmo caem na mesma velocidade, independente da sua massa. Portanto, com os estudos do físico, é concluído que: existe uma lei no universo descrita por uma equação matemática que vale tanto para coisas terrestres quanto para as celestes, o que contrapõe a visão aristotélica, na qual as coisas celestes se movem de modo circular e são esferas perfeitas e as terrestres se movem e possuem formatos desorganizados. 
Posteriormente, Newton formula a Lei da Gravidade que determina que a força da gravidade é diretamente proporcional às massas dos corpos em interação e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. A Lei da Gravidade explica por meio de uma equação matemática os movimentos dos planetas e da Terra, portanto é uma lei sobre a realidade que se contrapõe a noção de ciência pelas causas de Aristóteles, uma vez que a explicação pelos princípios não é formulada e sim descrita matematicamente. 
A partir disso, o filósofo Immanuel Kant propõe a ideia de rompimento de fazer filosofia pelas causas últimas dos fenômenos. Para o filósofo, a teoria da gravidade formulada por Newton é o que deve ser esperado da ciência da natureza, porque fazer ciência não é a capacidade de explicar as causas dos fenômenos e sim aplicar as leis do espaço e do tempo para os objetos da experiência. Desse modo, Kant desenvolve uma filosofia que contrapõe a ciência onde se conhece as coisas e as essências, defendidas por Aristóteles, e o conhecimento platônico das formas em si e por si. Kant defende o conhecimento da ciência pelas leis temporais espaciais, isto é, as leis matemáticas dos fenômenos. Portanto, ciência seria nada mais do que matemática aplicada à natureza, pois a matemática é passível de aplicação à experiência, uma vez que, a nossa sensibilidade é moldada espaço temporalmente. 
Imannuel Kant, durante o século XVIII, sustenta a argumentação de que não é possível fazer filosofia como metafisica, pois não há uma concordância sobre as questões. O filósofo concorda com Aristóteles na questão de ciência sendo universal e um conhecimento necessário, porém essas características, para Kant, são basicamente a matematização e não conhecimento pelos princípios. Logo, ciência só é possível a partir dos objetos da experiência, pois os objetos são construídos a priori das leis do estado temporal. Desse modo, Kant rompe com o modo clássico de enxergar a filosofia e o conhecimento. 
Após as formulações de Kant e de outros filósofos importantes, como Georg Wilhelm Friedrich Hegel novos cursos superiores começam a surgir, fazendo com que algumas disciplinas da Filosofia e da Medicina se emancipem, assim a psicologia inicia sua trajetória como possibilidade de ser um conhecimento independente. Até o século XIX, os filósofos que se encarregavam da psicologia com estudos pautados na alma e os médicos que tratavam doenças que não eram do corpo eram os únicos grupos que praticavam a psicologia. Porém, com a aparição dos cursos, um nome importante para a história da psicologia científica surge: Wilhelm Wundt.
Considerado como um dos pais da psicologia moderna, Wilhelm Wundt foi o primeiro psicólogo experimental com a fundação do seu laboratório de psicologia em Leibzin, Alemanha. Partindo de toda trajetória dos grandes filósofos e cientistas, Wundt passa a estabelecer suas próprias convicções acerca do conceito de ciência com enfoque a psicologia. Wundt se aproxima de Kant no que diz a respeito de que a psicologia não pode ser metafísica e precisa ser matematizada, pois não é possível fazer psicologia como teoria da alma já que leva a uma especulação indesejável e prejudicial a ciência, porém se afasta de Kant quando afirma que a psicologia é uma ciência. 
Visto que para Kant, ciência é pura matematização, quando um conhecimento não é passível de matematização ele não é constituído como ciência. É a partir da argumentação matemática que Kant sustenta sua afirmação que psicologia não é ciência, uma vez que: I) é inconcebível expressar matematicamente fenômenos psicológicos; II) é impossível fazer experimentação com os fenômenos psicológicos, pois não são separáveis e assim não se tem um objeto em sentido próprio e III) não é possível acessar o fenômeno psicológico por introspecção, dado que a psique é particular e sofre alterações quando observadas, resultando em nenhum objeto. Desse modo, a partir das argumentações de Kant, Wilhelm Wundt se apega a missão de provar que a psicologia pode ser matematizada e na sua, subsequente, constituição como ciência. 
Portanto, baseada na linha do tempo sobre a discussão do conhecimento científico, conclui-se que: as formulações dos pensadores clássicos, Aristóteles e Platão, foram importantes para a construçãoda ciência moderna, uma vez que, o caráter científico permite a eterna evolução, pois não é algo sólido e inalterável. Assim, a comprovação da falha nas teorias aristotélicas, contribui com o surgimento de teses e novas formas de conhecimento, assim como com a rejeição e aprimoramento das convicções de Kant e de Newton. Portanto, a história inacabada da constituição do conceito científico e as bases teóricas feitas pelos clássicos e modernos são essenciais para a evolução de saberes e surgimento de novas ciências, como a Psicologia.

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