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FUNDAMENTOS DE CLIMATOLOGIA Naomi Anaue Burda Tiago Augusto Barbosa E d u ca çã o F U N D A M E N T O S D E C L IM A T O L O G IA N ao m i A na ue B ur d a Ti ag o A ug us to B ar bo sa Curitiba 2017 Fundamentos de Climatologia Naomi Anaue Burda Tiago Augusto Barbosa Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 B949f Burda, Naomi Anaue Fundamentos de climatologia / Naomi Anaue Burda, Tiago Augusto Barbosa. – Curitiba: Fael, 2017. 264 p.: il. ISBN 978-85-60531-77-6 1. Climatologia I. Barbosa, Tiago Augusto II. Título CDD 551.6 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem da Capa Shutterstock.com/EsSueno Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Climatologia Geográfica | 7 2. Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida | 29 3. Fatores e Elementos Climáticos | 53 4. Circulação Atmosférica: Dinâmica de Funcionamento do Sistema Clima | 75 5. Temperaturas Globais: Tema Contemporâneo para Interpretação Sistêmica dos Climas | 105 6. Água e os Sistemas Climáticos e Meteorológicos | 131 7. Vegetação e Sistemas Climáticos e Meteorológicos | 153 8. Brasil: Diferenças Climáticas Regionais | 177 9. Climas Locais | 197 10. Estudos Atuais Sobre o Clima | 215 Conclusão | 237 Gabarito | 239 Referências | 253 Prezado(a) aluno(a), O ensino de Geografia exige que o futuro professor atue com conhecimentos atualizados, entendendo a dinâmica das diferentes áreas desta ciência. A Climatologia avançou em seus estudos, indo desde as medições climáticas feitas por agricultores com instrumen- tos rudimentares, até o uso de imagens de satélite e a meteorologia atual. Os autores oferecem nesta obra as diferentes formas de estudo e aplicações da Climatologia, de forma que o acadêmico torne-se preparado para compreender e utilizar esta ciência. Tenha uma exce- lente leitura e bons estudos. Carta ao Aluno 1 Climatologia Geográfica Ao pensar em sistemas, pode ser comum a associação destes com equipamentos eletrônicos sofisticados ou ainda um conjunto de procedimentos que permitem o funcionamento de algo. Neste momento introdutório aos estudos dos Fundamentos da Climato- logia, apresenta-se um convite a refletir sobre o planeta Terra como um sistema formado por outros sistemas. De maneira sinérgica, busca-se articular conhecimentos prévios acerca da Ciência Geo- gráfica, especialmente daqueles elementos físicos, componentes dos sistemas ambientais terrestres. Em linhas gerais, a abordagem de sistema indica que seus componentes são conectados e dependem uns dos outros para que todo o mecanismo terrestre possa existir e funcionar. Encontra-se na Climatologia Geográfica a relação interpretativa entres os meca- nismos do clima e as ações dos seres vivos no Planeta. A descrição dos fenômenos climatológicos se traduz como o eixo central para o entendimento do funcionamento do sistema atmosfera, essencial à vida na Terra. Desde a formação do Universo até a atmosfera atual, muitos eventos ocorreram, dando a dinâmica própria de um planeta em constante transformação. Fundamentos de Climatologia – 8 – De forma processual, o desenvolvimento do Planeta, em especial da atmosfera, promove as condições necessárias ao funcionamento dos sistemas terrestres. Estudos meteorológicos corroboram com a Climatologia no sen- tido de estabelecer clima e tempo como elementos distintos, mas sinérgicos, proporcionando estruturas fundamentais para a interpretação dos padrões de distribuição dos climas no Globo. Aproveite para organizar desde já o raciocí- nio crítico e sinérgico para a atuação em seu campo formação e, a partir deste momento, embarcar nos estudos que se orientam à Climatologia. Figura 1.1 Terra: um sistema de sistemas Fonte: Shutterstock.com/StevanZZ/Gustavo Frazao/ANDRE DIB/Fotos593/ Npeter. Comumente, a noção de sistema é relacionada, na Geografia, à vertente “física” de seus fenômenos de estudo e tem o biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy como emergente referência, considerado o principal expoente e pioneiro na formulação da Teoria Geral dos Sistemas (TGS). Em publicação recente, Capra e Luisi (2014) trazem contribuições significativas sob o prisma de uma reflexão complexa e sistêmica, na qual contribuem com a percepção de que os mecanismos sistêmicos vão além do potencial de descrição dos fenômenos físicos, mas são de fato perceptíveis em todas as esferas possíveis. – 9 – Climatologia Geográfica Dessa forma, a noção de sistema acompanha o cotidiano dos afazeres huma- nos e também os mecanismos de funcionamento da Terra. Figura 1.2 - Exemplo de observação hierárquica de um sistema científico Fonte: CC BY 3.0. De maneira simples e direta, entende-se um sistema como um con- junto que possui ordem e componentes que se inter-relacionam, utilizando a energia como elemento essencial de conexão e dinâmica. A configuração dos componentes em um sistema pode assumir vários arranjos, como uma lógica hierárquica ou uma forma de entrelaçamento. 1.1.1 Sistemas abertos e sistemas fechados Na definição de sistemas para o estudo do planeta Terra, há que se per- ceber que as características organizadas de inter-relação entre os componentes podem ser abertas ou fechadas. Um sistema aberto pode ser caracterizado pela constante troca de energia, bem como a entrada e a saída de matéria1. Em linhas gerais, levando em consideração a energia, a Terra se enquadra na lógica de um sistema aberto, pelo fato de haver trocas constantes entre o 1 Entende-se por matéria uma massa com forma física e que ocupa lugar no espaço. Fundamentos de Climatologia – 10 – sistema extraterrestre e o sistema terrestre, ou seja, o Planeta recebe energia solar, todavia, perde energia térmica, configurando uma dinâmica de entrada e de saída de energia, característica marcante de um sistema aberto. Por outro lado, pode-se perceber que a Terra pode também ser caracterizada como um sistema fechado. Ao mudar a referência para a matéria, por exemplo, é possí- vel interpretar que o sistema é fechado pelo fato de que elementos como ar, água e recursos materiais não são perdidos2 e tampouco recebidos. Surge, a partir desse contexto, uma provocação. Como profissionais da Educação Geográfica, a abordagem do funcionamento do meio natural e sua relação com as instâncias sociais serão sempre presentes, independentemente do conteúdo escolhido para o trabalho em sala de aula. Sendo assim, a per- cepção da qualificação dos sistemas em abertos ou fechados pode promover um debate proveitoso, especialmente em relação aos problemas cotidianos enfrentados por todos os seres humanos: a necessidade de recursos naturais e a crescente produção de lixo. Como pensar esses temas à luz de uma perspec- tiva sistêmica? Parece ser inevitável uma mudança de paradigma e de postura dos seres humanos em relação à sobrevivência no planeta Terra; nesse sentido é que se destacam iniciativas de educação ambiental, sensibilização na utiliza- ção mais eficiente e inteligente dos recursos naturais e a preparação de novas gerações comprometidas com o equilíbrio da vida na biosfera (esfera da vida). Nem só de entradas de e saídas se configura um sistema; de maneira intrínseca, organizam-se mecanismos internos que garantem o funciona- mento e o relacionamento entre os diferentes tipos de sistemas. Uma das características mais evidentes desses mecanismos é chamada de retroalimen- tação, o que significa que as saídas e as entradas de componentes do e no sistema ocasionam modificações na própria operação. Um bom exemplo disso é o ciclo hidrológico e todas as suas componentes, que podem sofrer modificações conformea retroalimentação. Em suma, se determinado local passa por um período de seca, é factual que haja menor precipitação e, por consequência, a vegetação pode não se desenvolver em sua totalidade, o que 2 Embora haja alguns esforços atuais que apontam na direção de que água e gases são perdidos e recebidos do e pelo sistema terrestre, o percentual dessas ocorrências ainda é difuso, justificando a proposta de interpretação da Terra como um sistema fechado em termos de matéria. – 11 – Climatologia Geográfica por sua vez ocasiona menor evapotranspiração, interferindo no padrão de umidade disponível no ar. A retroalimentação, importante mecanismo de um sistema, pode ser positiva, quando o fluxo de energia e matéria se encarrega de originar respos- tas no sistema; ou negativa, quando a retroalimentação não origina respostas no sistema. De maneira geral, a ideia defendida aqui é de que, quando há retroalimentação positiva, o sistema tende a crescer, devido à necessidade de respostas impostas a ele; por outro lado, quando há retroalimentação nega- tiva, o sistema apresenta indícios de decréscimo, uma vez que não há necessi- dade de respostas ou de fluxo de energia e matéria suficientes. Você conseguiria pensar nessas características de retroalimentação em seu cotidiano? Um exemplo de retroalimentação positiva pode ser observado no contexto econômico atual, a partir da tarifa de juros de uma dívida, por exemplo, dada pelos juros compostos, no qual quanto maior se torna a dívida, igualmente maior se torna a cobrança dos juros. Perceba como a interpreta- ção de um sistema não diz respeito somente a coisas supostamente distantes do cotidiano vivido. Pelo contrário, uma noção possível da retroalimentação negativa pode ser sentida por muitos de nós. Pensemos em uma dieta para redução da massa corporal, especialmente em tempos em que cerca de 50% da população brasileira apresenta excesso de peso (BRASIL, 2015). Isso quer dizer que, uma vez decidida a melhoria da condição física, pensando o corpo como um sistema aberto, a retroalimentação deverá ser negativa, já que o desejo é o decréscimo de massa, fato que pode ser conquistado pela diminui- ção da ingestão de calorias e pela intensificação de exercícios físicos para a aceleração metabólica. 1.1.2 Os geossistemas terrestres Abordar sistemas em Geografia implica reconhecer os variados campos de estudo dessa ciência. Nesse sentido, é interessante estabelecer uma linha de raciocínio quanto à proposta de aplicação da Geografia, científica e escolar, fundamentada na perspectiva de um continuum no qual as abordagens físicas (da natureza) e as humanas se complementam diante de um olhar geográfico integrador. Dessa forma, como já observado nos pressupostos da epistemolo- gia da Geografia, os componentes bióticos e abióticos podem ser setorizados Fundamentos de Climatologia – 12 – para fins de estudos e pesquisas, contudo, a percepção de seu funcionamento real, cotidiano, torna-se mais efetivo ao ser contemplado por uma visão holís- tica, de integração, sistêmica, portanto. Como forma didática de abordar os geossistemas terrestres, é possível organizar quatros grandes sistemas abertos, sendo um biótico (biosfera) e três abióticos (atmosfera, litosfera e hidrosfera). Tendo em vista que as esferas abióticas são, em dada escala, garantidoras da vida na Terra, a visão sistêmica e de integração dos subsistemas terrestres se mostram como uma das formas mais eficazes de se interpretar e estudar os fenômenos geográficos terrestres. Além dos componentes tradicionais estudados ao longo da vida escolar, dentro de um escopo da já deixada de lado Geografia Tradicional, fazem parte da interpretação nos moldes contemporâneos também as ações efetuadas nes- ses subsistemas, bem como a articulação de suas fronteiras, que nada mais são do que zonas de transição entre sistemas daquilo que se pode nomear de aco- plamento estrutural (LUHMANN, 1996; MATURANA e VARELA, 1995). Assim, a visão da Terra como um sistema de sistemas empreende a lógica da interconexão, dos acoplamentos de sistemas, como formas de garantir o fun- cionamento do complexo sistema planetário terrestre. Figura 1.3 – Esquema teórico do geossistema Fonte: Oliveira (2003). Buscar compreender as esferas biótica e abiótica da Terra de forma sistê- mica pode se transformar em uma tarefa salutar e transformadora nas ações pedagógicas cotidianas. Mudar uma visão de mundo implica necessariamente mudar em primeira instância a visão própria e segmentada de cada um, para depois, em uma escala mais abrangente, quebrar um paradigma e promover uma potencial evolução do pensamento. – 13 – Climatologia Geográfica 1.2 Climatologia geográfica: histórico e elementos de aplicação Desde os primórdios das civilizações humanas, possivelmente a obser- vação dos fenômenos atmosféricos tomavam um papel de destaque na orga- nização da vida das sociedades pretéritas. Contudo, com o passar do tempo e o consequente desenvolvimento de habilidades, especialmente nos últimos 20 mil anos, as noções de como acontecem os eventos climatológicos e mete- orológicos certamente se transformaram. A adoção de técnicas, o método científico e o raciocínio crítico foram elementos fundamentais na mudança de postura, do mito à ciência. A esse respeito, da evolução das sociedades humanas, é factual a rela- ção interdisciplinar possível com outras componentes curriculares, como História, Artes, Matemática, Estudos de Linguagem e Ciências/Biologia. Levando em consideração que a interdisciplinaridade e a transdiciplinari- dade são elementos sugeríveis de abordagem e aplicação em todas as esferas de educação do Brasil, é estabelecido um potencial de acoplamento sistê- mico salutar. 1.2.1 Bases fundamentais da climatologia geográfica Há muitas questões que inquietam e produzem curiosidade no que diz respeito à constituição e à evolução das ciências. A julgar pelos desafios inte- lectuais que cercam a vida, como as origens do Planeta, do ser humano, os desafios apresentados no percurso histórico vão se tornando mais complexos, pelo fato de que os acessos às lógicas de funcionamento e também às variáveis neles contidas são cada vez mais acessíveis. A busca de respostas às inquieta- ções humanas é justamente a história da ciência, e nessa história muitos capí- tulos se desenrolam, descobertas vêm à tona, verdades são quebradas e novos limites são estabelecidos. Nesse sentido, o estudo da Climatologia, como quaisquer outros campos da ciência, apresenta-se em um percurso evolutivo que logicamente ainda permanece em atividade. Assim sendo, buscou-se, de maneira sucinta e didática, ilustrar o percurso cronológico afeto aos estudos dos fenômenos atmosféricos. Fundamentos de Climatologia – 14 – Figura 1.4 - Demonstração de um perfil Ilustrativo histórico da Climatologia Fonte: Adaptado de Brooks (1926). Ao entender que o conhecimento humano se desenvolve a partir de questionamentos e de necessidades, pode-se apontar que a Gré- cia antiga é o ponto de base sistemática inicial das ciências, por meio da Filosofia. Em termos dos estudos em Climatologia, a curiosidade e a observação impulsionaram o desvendar dos fenômenos naturais atmosféricos. Segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007), foram os gregos os primeiros a registrar observações e interpretações acerca dos eventos atmosféricos, utilizando para tanto um dos princípios hoje tratados na Geografia, a analogia. Em suma, o critério adotado era de comparação de áreas ou lugares. Além disso, para os gregos e sua Filo- sofia, a vida estava ligada ao ar, bem como os eventos atmosféricos tinham relação direta com os deuses do Olimpo. Com o Renascimento, as buscas para des- vendar os mistérios do funcionamento da atmos- fera foram revigoradas. Diferentemente da busca grega, passaram a ser utilizados mecanismos e instrumentos para a interpretação de dados oriundos dos céus. Destaca-se em 1602 par a invenção do termômetro por Galileu;com um mecanismo simples para aferir a temperatura dos Figura 1.5 - Termômetro de Galileu Fonte: CC BY 3.0. – 15 – Climatologia Geográfica objetos, o inventor possibilitou importantes avan- ços nas ciências e também na Climatologia. Mais tarde, Torricelli inventou o barômetro em 1643, para aferições da pressão atmosférica, instrumento que possibilitou importantes avan- ços na investigação da atmosfera, como a forma- ção e a direção dos ventos. A partir dessas inven- ções e avanços em todos os setores das civilizações humanas, a constituição sistêmica dos conheci- mentos, especialmente acerca do mundo natural, permitiu saltos cada vez mais rápidos na direção das respostas aos questionamentos outrora irres- pondíveis diante das limitações intelectuais. É notório que a evolução da ciência a par- tir do século XIX e especialmente no século XX se deu pelas grandes dinâmicas da humanidade, incluindo nesse bojo as grandes guerras, epide- mias, corrida espacial e sistematização e forma- lização da ciência. Sobretudo nos períodos de pós-guerra, os avanços científicos puderam ser efetivamente sentidos e utilizados na sociedade, por exemplo, o emprego de utensílios domésticos, tecnologias de localização geográfica, emprego de drogas na medicina, entre outros. Para a Climato- logia, os avanços se deram, sobretudo, no campo da instrumentalização para coleta de dados e na automatização de processos para interpretação das condições atmosféricas, culminando com a fundação da Organização Meteorológica Mun- dial, em 1950 (AYOADE, 2007). O que vivemos atualmente é o que muitos pesquisadores têm chamado de a era da informa- ção (LOGAN, 2012). Se de um lado essa tem- pestade de informações pode ocasionar um sem número de possibilidades de Figura 1.6 - Barômetro Fonte: Openclipart.org/CC BY 1.0. Fundamentos de Climatologia – 16 – interpretação, por outro lado o acesso criterioso às informações fomenta uma articulação e organização do conhecimento nunca antes vista, promovendo um melhor conhecimento das dinâmicas da atmosfera, coletânea de dados e troca de experiências, além de divulgação científica. 1.2.2 Climatologia geográfica e elementos de aplicação Nos bancos escolares, muitas vezes levanta-se o questionamento da uti- lização dos pressupostos científicos. Eventualmente você já se deparou com questionamentos dessa ordem, que normalmente recebem as seguintes rou- pagens: “Para que isso servirá em minha formação? Qual a utilidade disso em meu cotidiano?”. Longe de atender a um pressuposto meramente utilitarista, a ciência se organiza para preencher lacunas estabelecidas naquelas indagações que nos acompanham desde os mais remotos tempos. Assim, sua utilização e aplicação nas sociedades humanas se dá de acordo com a demanda oriunda da atividade humana, não sendo, a ciência, responsável por dar conotação do utilitarismo de suas descobertas. Por outro lado, quando a demanda existe e a geração do conhecimento científico se apresenta como solução, é estabelecido um campo de aplicação factual e muito proveitoso para ambos os lados, ciência e sociedade. Dessa forma, em termos de aplicabilidade, a Climatologia recebeu muitas boas influências do meio científico, culminando em elementos de aplicação hoje cotidianos e quase considerados inatos aos seres humanos, como as previsões do tempo meteorológico. Em essência, a aplicação dos elementos científicos da Climatologia se iniciam pelo emprego de noções e terminologias. Uma das mais notórias é a diferenciação entre clima e tempo. Atenção Tempo é o estado atual ou momentâneo da atmosfera em determi- nado lugar e instante, caracterizado por vários elementos do clima: temperatura, umidade, vento, radiação, precipitação. A palavra clima deriva do grego e significa inclinação, referindo-se à inclinação ou curvatura da Terra que condiciona em grande parte os – 17 – Climatologia Geográfica climas terrestres. Para se definir um clima é necessária uma obser- vação sistemática das condições do tempo por 30 ou 35 anos (AYOADE, 2007). Uma das formas possíveis do emprego das noções de tempo e clima é a relação direta com o cotidiano. Especialmente na atualidade, em que há cada vez mais preocupações com o tempo meteorológico para diversas finalidades, desde o planejamento de uma viagem até a agricultura de precisão e seus aspectos recorrentes. Rotineiramente é perceptível certa confusão quanto ao uso das terminologias clima e tempo, sobretudo em veículos de comunicação de massa, como telejornais e sites da rede mundial de computadores. A popularização dos estudos em Climatologia passou a permitir um aco- plamento sistêmico entre a ciência e a sociedade, fato que é visto com bons olhos pelo motivo nobre, em essência, de produzir melhores condições de vida aos seres humanos. Evidentemente, há ainda muito a ser desvendado e utilizado, contudo, a aproximação da ciência e o cotidiano social traduzem uma busca contemporânea que envolve a ciência e a educação escolar. Cer- tamente um dos temas mais debatidos na atualidade é a mudança climática global. Nesse sentido, o Brasil tem se dedicado substancialmente aos estudos dos impactos das possíveis e prováveis mudanças no clima. Novo satélite Cbers será lançado em dezembro de 2018, prevê INPE Cbers 4A será o sexto da parceria entre Brasil e China. O satélite terá três câmeras de monitoramento, uma a menos que o atual. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos anunciou nesta segunda-feira (21/12/2015) que deve lançar um novo satélite Cbers-4A em dezembro de 2018. A missão do novo satélite será dar continuidade ao trabalho do o Cbers-4, que está em órbita desde dezembro de 2014. Fundamentos de Climatologia – 18 – A vida útil do Cbers-4 é de três anos, mas o projeto vai trocar os satélites antes do término deste prazo. “Nossa ideia é fazer a substituição de um satélite pelo outro para que não haja interrupção no monitoramento”, disse Antonio Carlos Oliveira, coordenador do programa Cbers. Os satélites sino-brasileiros são usados pelo governo para monitorar os setores agrícolas, florestal e no controle do meio ambiente, especialmente na fiscalização das áreas de floresta amazônica. O equipamento terá três câmeras de monitoramento, uma a menos que o atual. Dessas, duas serão produzidas no Brasil. NOVO satélite Cbers será lançado em dezembro de 2018, prevê Inpe. G1, 21 dez. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/ vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/12/novo-satelite-cbers-deve- -ser-lancado-em-dezembro-de-2018-preve-inpe.html>. Acesso em:14 nov. 2016. É possível perceber que, desde os tempos mais remotos, os avanços téc- nicos científicos têm ajudado a construir a ponte entre ciência e sociedade. Em termos climatológicos, isso se acelera grandemente com o aporte de saté- lites na órbita terrestre, bem como de mecanismos, ferramentas, técnicas e conhecimento acerca do sistema atmosférico, na busca por sanar problemas e otimizar a qualidade da vida humana no Planeta. 1.3.Evolução da atmosfera da Terra A palavra evolução, derivada do latim, expressa a ação de desenrolar per- gaminhos (evolutio), contudo, a acepção mais contemporânea de processo se deu a partir de 1832, com a aplicação do termo como sinônimo de desen- volvimento. Talvez essa palavra possa remeter a um clássico estudo de Biolo- gia descrito por Charles Darwin em sua obra máxima: A origem das Espécies (1859), na qual trata, entre outros campos, da evolução e da adaptação das espécies de seres vivos no planeta Terra. Contudo, o amplo sentido de evo- lução ou desenvolvimento pressupõe, a partir de agora, para a atmosfera ter- – 19 – Climatologia Geográfica restre, a ideia de transformação, dinâmica e adaptação a variados eventos ao longo do tempo. Antes da formação propriamente dita da atmosfera, há que se pensar na formação do Planeta, que aponta na direção da teoria até então mais aceita: Big Bang, tratada como uma grandeexplosão e formação do Sistema Solar e de seus protoplanetas (fase inicial da formação de um planeta). Após um conjunto complexo de processos, a Terra iniciou um processo de resfriamento e supos- tamente daí se estabeleceu o ponto inicial da formação da atmosfera, diante do processo de desprendimento dos gases aprisionados, até então, na incan- descente superfície terrestre. A consolidação (solidificação) da crosta terrestre passou a ter uma relação sistêmica importante com a atmosfera, corroborando aquilo que anteriormente se tratou por acoplamento de estruturas sistêmicas. Em termos de aplicação, caracteriza-se a atmosfera como essencial à vida no Planeta, por apresentar uma camada protetiva e de fomento ao funcio- namento dos sistemas através de gases (entradas de energia e retroalimenta- ção). Estima-se que a atmosfera da forma que se pode observar atualmente remonta há cerca de 400 milhões de anos (BARRY; CHORLEY, 2013). Por- tanto, assume-se que a atmosfera anterior ao modelo concebido hoje pode ser chamada de atmosfera primitiva; já a condição atual pode ser chamada de atmosfera moderna. 1.3.1 Atmosfera primitiva e atmosfera moderna De acordo com a teoria da formação do planeta Terra, que remonta há 4,65 bilhões de anos, de acordo com indícios geocronológicos, a atmosfera primitiva teria se formado diante do resfriamento sucessional da superfície terrestre, liberando gases que se dissiparam e/ou se fixaram pelo princípio das forças gravitacionais à agora chamada atmosfera. Sendo assim, a atmosfera primitiva tem estimativa de início de formação há cerca de 4 bilhões de anos, desde o princípio do resfriamento continental. Diante de indícios geoquími- cos de estudos da paleoatmosfera (primitiva), sua composição era provavel- mente formada por gases muito tóxicos (para a vida como se concebe hoje) como metano (CH4), hidrogênio (H2), dióxido de carbono (CO2) e vapor d’água. É reconhecido o potencial de erupções vulcânicas na Terra, e a esse fato se sugere a transformação da atmosfera pela emissão de gases e a forma- Fundamentos de Climatologia – 20 – ção dos oceanos, representantes máximos do sistema hidrosfera. No esquema a seguir, é possível notar a dinâmica de transformação da atmosfera ao longo do tempo, que ocasionou a formação da hidrosfera no Planeta. Figura 1.7 - Dinâmica de transformação da atmosfera ao longo do tempo Fonte: Elaborada pelo autor. Uma vez estabelecida a Hidrosfera, o princípio do acoplamento entre sistemas e da retroalimentação se estabeleceu com força, proporcionando modificações drásticas nos ambientes, garantindo a transformação inclusive da atmosfera, organizando aquilo que se percebe atualmente na atmosfera moderna. Figura 1.8 - Interação da radiação solar para formação do oxigênio Fonte: Elaborada pelo autor. – 21 – Climatologia Geográfica A entrada de energia no sistema possibilitou as transformações químicas e físicas necessárias à formação dos oceanos e mares, por meio das moléculas de água e também dos átomos isolados de hidrogênio e oxigênio. Estabele- cido esse afluxo de matéria química, criou-se a possibilidade da presença da vida, conforme atestado pelas teorias evolucionistas. Figura 1.9 - Fluxo de eventos da produção de oxigênio na Terra Fonte: Elaborada pelo autor. A dinâmica imposta na formulação da atmosfera moderna fomenta pro- cessos químicos e físicos complexos, como a fotossíntese, mecanismo ímpar ao entendimento do processo de retroalimentação do sistema, através da reci- clagem do CO2 e a disposição de O2. Percebe-se que a situação atual, ou seja, a atmosfera moderna, é reflexo de um longo processo de evolução ou desenvolvimento. Na atualidade, entende- -se que a atmosfera é, entre outros fatores, condição essencial à vida, que, de forma sistêmica, garante também o equilíbrio dinâmico de funcionamento da atmosfera, por meio, por exemplo, dos ciclos biogeoquímicos. Em uma proposição interessante, Mendonça e Danni-Oliveira (2007) sugerem que a camada da atmosfera na qual ocorrem os eventos que afetam diretamente a vida na Terra e consequentemente os seres humanos pode ser chamada de atmosfera geográfica, por compor um acoplamento estrutural do sistema biótico com o sistema atmosférico. Fundamentos de Climatologia – 22 – Desde cedo aprendemos na escola que a atmosfera é composta por uma fina camada de gases inodora, incolor e insípida (sem sabor). Contudo, eventualmente podem-se perceber alterações sensíveis aos sentidos humanos quanto a esse respeito, sobretudo ao que diz respeito à ausência de cores. De qualquer forma, a atmosfera apresenta potencial de alteração, por exemplo, das cores em que se percebem os raios solares. Esses efeitos se dão graças aos princípios físicos da refração e da reflexão, que alteram os comprimentos de onda do espectro eletromagnético, modificando a percepção que os sentidos humanos dão às cores. O agrupamento complexo de elementos componentes da atmosfera se traduz como um campo fértil e curioso às pesquisas científicas e ao mesmo tempo desperta o interesse dos alunos que são apresentados às componentes curriculares escolares e também às de ensino superior. Nesse sentido, abrem- -se duas vertentes complementares e técnicas aos estudos da atmosfera. Uma que compreende efetivamente os estudos dos climas, em escala mais abran- gente; e outra que trata dos estudos do tempo atmosférico, dada por pressu- postos chamados meteorológicos. 1.3.2 Tempo meteorológico e sistema climático Como já visto, há uma diferença importante entre clima e tempo. A esse respeito, os estudos voltados às condições do tempo meteorológico – condi- ção atual da atmosfera – se direcionam à interpretação de fenômenos de curta duração, que permitem uma espécie de “fotografia” da condição momentânea da atmosfera e ao mesmo tempo permitem perceber de forma mais abran- gente a situação do balanço ou do equilíbrio de energia entre a atmosfera e os demais sistemas, especialmente a litosfera. Para tanto, desenvolve-se a Mete- orologia, estudo científico da atmosfera orientado a estudos de ordem física da dinâmica atmosférica, previsões do tempo meteorológico, organização de séries de dados (usadas para estudos do clima) e modelagem de sistemas mete- orológicos para previsão de desastres, por exemplo. No Brasil, os estudos de meteorologia são gerenciados por institutos de pesquisa públicos e privados, para coleta e tratamento de dados atmos- férico, como é o caso do CPTEC/INPE, no município de São José dos Campos (SP). – 23 – Climatologia Geográfica Atenção O CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é o passaporte do Brasil para o primeiro mundo das previsões meteorológicas. Com o novo supercomputador (CRAY XT6), recém-adquirido, será possí- vel ao Centro melhorar a resolução espacial dos modelos de previsão de tempo, de clima sazonal, ambiental (qualidade do ar) e de pro- jeções de cenários de mudanças climáticas. O CPTEC já vem aper- feiçoando seus modelos para que o novo supercomputador também possa gerar previsões com mais dias de antecedência, além de prever chuvas e eventos extremos com maior confiabilidade. Anteriormente, eram utilizados os modelos vetoriais SX-6 e SX-4 fabricados pela NEC Corporation do Japão, com capacidade de processar até 768 bilhões e 16 bilhões de operações aritméticas em ponto flutuante por segundo respectivamente. O cluster UNA com 1100 processa- dores fabricado pela “SUN Microsystem” tem capacidade de pro- cessar até 5,7 trilhões de operações aritméticas em ponto flutuante por segundo. Tudo isso, significa possibilidade de utilizar modelos numéricos para simulação de tempo e clima, integrando informações atmosféricas e oceânicas. O resultado disso são previsões de tempo confiáveis, para todo o país. CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Sobre o CPTEC. 2016. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br/sobre- ocptec/pt>. Acesso em: 14 nov.2016.. De posse dos dados meteorológicos e do tempo atmosférico, é possível construir uma série de dados compilados em um banco organizado, os quais promovem uma base importante para os estudos do clima e sua distribuição ao longo do globo terrestre. Complementarmente, o estudo da Climatologia faz uso dos dados obtidos pela Meteorologia, buscando estruturar padrões de distribuição dos climas. Sabe-se, por exemplo, nos dias atuais, que fenômenos antes considerados isolados, como as monções asiáticas, são na verdade parte importante do sistema climático global, que podem explicar outros fenô- Fundamentos de Climatologia – 24 – menos que aparentemente não têm relação, como os furacões do Atlântico Norte. Mais uma vez, a ideia de interconexão sistêmica é aparente e necessária para a interpretação de toda a complexidade presente nos estudos climáticos. Analisar os padrões do tempo meteorológico é, portanto, o objetivo cen- tral da Climatologia. A distribuição dos climas e seus eventos meteorológicos particulares formam uma rede de conexões dinâmicas que por sua vez for- mam o sistema atmosfera. Perceber que os climas interferem nos ecossistemas é mais uma forma de compreender a relação estrutural de acoplamento sis- têmico, uma vez que as regiões climáticas ajudam grandemente a determinar a localização dos principais ecossistemas do mundo. Pelo fato de os climas não serem estáticos e estarem em constante transformação de acordo com sua complexidade, os biomas passam também por alterações e adaptações, conferindo uma dinâmica única e necessária à vida na Terra. Temas como aquecimento global ou mudanças climáticas globais podem levar a uma reflexão interessante diante do posicionamento pessoal e também à argumentação crítica diante de dados comprováveis. De fato, sabe-se que há modificações cíclicas e constantes nas esferas terrestres, e interpretar as ações dos seres humanos como aceleradores desses processos é, sem dúvida, uma árdua e complexa tarefa. Contudo, a tendência de popularização do conhe- cimento aliada às boas práticas culturais pode trazer benefícios no porvir da civilização humana, especialmente ao buscar o entendimento de que tudo está conectado em uma grande teia da vida (CAPRA, 1996). Figura 1.10 - Esquema do sistema climático global Fonte: MPI (2016). – 25 – Climatologia Geográfica Da teoria à prática Uma maneira salutar de aplicação das noções sistêmicas inerentes ao planeta Terra é a aplicação de atividades lúdicas e que se relacionem com o cotidiano daqueles que aprenderão conosco. Nesse sentido, a sugestão prática pode ser orientada na construção de maquetes, individuais ou em grupo, que devem se basear no recorte espacial local, atendendo ao contexto dos partici- pantes da atividade. A partir, por exemplo, de uma maquete em escala de uma área que possua vegetação, curso d’água e ocupação humana, é possível promover uma articu- lação sistêmica entre as várias esferas componentes do sistema global terrestre. Perceber, em conjunto, a interdependência entre os elementos componentes do sistema modelo (maquete) pode produzir uma quebra de paradigmas de uma visão linear para uma visão articulada, holística, portanto. A atividade proposta permite ainda a articulação interdisciplinar e transdisciplinar ao trabalhar com componentes curriculares como matemática (cálculo da escala), artes (pinturas e modelagens), língua portuguesa (análise do discurso) e história (histórico de ocupação). Reflita a respeito e coloque em prática suas ideias. Síntese A lógica empregada neste capítulo foi estabelecida a partir do paradigma sistêmico. Orientaram-se as reflexões no sentido da articulação e do acopla- mento das estruturas componentes do planeta Terra. Buscou-se desvendar que a formação do Planeta, e mais diretamente da atmosfera, é produto de um processo longo e complexo, no qual muitas variáveis se relacionam para produzir ações de (trans)formação. A dinâmica de evolução da atmosfera proporcionou a possibilidade de existir vida no Planeta, conforme os pressupostos evolucionistas. Da mesma forma, a vida no Planeta proporciona à atmosfera e a outros sistemas a pos- sibilidade de manutenção de seu funcionamento, conforme os pressupostos da retroalimentação. A atmosfera, sendo um dos geossistemas abióticos, apresenta-se como um ponto de partida para o entendimento da vida no Planeta. É também de onde se orientam fenômenos meteorológicos que a cada dia mais despertam Fundamentos de Climatologia – 26 – curiosidades nos seres humanos e ao mesmo tempo são motivo de esforços técnicos e intelectuais para desvendar seus mecanismos. No cotidiano, dife- renciar clima e tempo passa a ser agora uma tarefa mais fácil, sobretudo ao compreender que o tempo é componente indissociável do clima, o que os faz diferenciar são a escala de ação e os mecanismos de funcionamento. De agora em diante, de posse desses conhecimentos (sistemas, tempo e clima), compreender a estruturas de organização da atmosfera se tornará mais eficiente e agradável. Atividades 1. Nos meses de verão na América do Sul, é comum a veiculação de notícias pelos meios de comunicação acerca de queda de encostas, enchentes e rompimento de barragens. Infelizmente, a ocorrência desses eventos tem tirado muitas vidas nos últimos anos. Diante do exposto, assinale a opção que demonstra a qual(is) conceito(s) poderia ser atribuído o estopim desses eventos. a) Clima apenas, pelo motivo da distribuição climática gerir todos os eventos climáticos regionais. b) Tempo, por tratar-se apenas de uma condição momentânea atmos- férica, não podendo ser percebida a partir de um padrão climático. c) Ambos, clima e tempo, devido às circunstâncias de constituição de padrão climático no período do ano e também às mudanças rápidas da atmosfera que são demonstradas pelo tempo meteorológico. d) Apenas tempo, pelo fato de este demonstrar um padrão global de eventos extremos. e) Ambos, pelo motivo de o tempo proporcionar uma visão sistêmica de um padrão global de ocorrências climatológicas que são estuda- das em pelo menos 30 anos e, por outro lado, o clima denotar a condição única e atual da atmosfera. 2. Assinale a única opção que completa o mapa conceitual a seguir, de forma a permitir o entendimento da seguinte afirmação: “a Terra é ao mesmo tempo um sistema aberto e um sistema fechado”. – 27 – Climatologia Geográfica a) 1 – ar; 2 – térmica; 3 – do carbono; 4 – ganho b) 1 – ar; 2 – solar; 3 – hidrológico; 4 – perdas c) 1 – energia Solar; 2 – térmica; 3 – aberto; 4 – perdas d) 1 – energia Solar; 2 – térmica; 3 – hidrológico; 4 – perdas e) 1 – energia eólica; 2 – térmica; 3 – do nitrogênio; 4 – ganho 3. Associe as colunas e assinale a opção que apresenta a relação mais adequada. (1) Fotossíntese (2) Entrada de energia (3) Retroalimentação Positiva (4) Retroalimentação Negativa (5) Tempo ( ) Condição momentânea da atmosfera, que pode se alterar rapi- damente ao longo de um dia. ( ) Momento imprescindível ao funcionamento de um sistema, sem o qual não há possibilidade de organização da dinâmica de seus componentes. ( ) Indica o decréscimo do sistema, devido à diminuição da dispo- nibilidade de energia. ( ) Processo físico-químico realizado pelos seres vivos clorofilados que utilizam dióxido de carbono e água para obter glicose através da energia da luz solar. Fundamentos de Climatologia – 28 – ( ) Indica a possibilidade de aumento do funcionamento e amplia- ção do sistema. a) 5-1-4-2-3 b) 3-1-4-2-5 c) 5-1-4-3-1 d) 1-5-2-3-4 e) 5-2-4-1-3 4. Acerca da terminologia atmosfera geográfica, aponte a opção que a define corretamente. a) Trata-se de um termo que demonstra a interferência dos seres humanos na dinâmica climática global. b) Trata-se de um termo cunhado por Mendonça e Danni-Oliveira (2007) em que fazem a menção da proximidade dos fenômenos ocor- ridos na camada mais imediata da atmosfera com a vida no Planeta. c) Refere-se à diferenciaçãoentre os conceitos de clima e tempo. d) Relaciona-se com a localização imediata da atmosfera local. e) É um termo cunhado por Capra (2014) para indicar a visão sistê- mica da atmosfera. 2 Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Um dos grandes questionamentos que acompanham a huma- nidade por toda sua história é o denominado mistério da vida. Ao longo dos últimos séculos, cientistas de vários campos do saber se dedicaram a tentar descrever, interpretar e compreender os meca- nismos que permitem a ocorrência da vida no planeta Terra. Obser- vando pela lógica sistêmica, tratada anteriormente, fica aparente que a combinação complexa entre os elementos componentes dos sistemas produzem o cenário ideal para o desenvolvimento da vida, muito provavelmente pelo princípio da evolução. Para o funcionamento de qualquer sistema e qualquer orga- nismo no planeta Terra, é indispensável a presença de uma força motriz, chamada energia. A energia pode assumir muitos modos, estados físicos e químicos garantidores do funcionamento das esfe- ras terrestres. Um bom exemplo disso pode ser observado no pró- prio corpo humano: seu funcionamento exige energia, obtida por meio da alimentação, com contribuições dos elementos da natureza, como energia solar, oxigênio e água. Fundamentos de Climatologia – 30 – A atmosfera permite a vida, ao mesmo tempo em que a vida contribui para a produção da atmosfera, tal como já se conhece. Esta afirmação reflete o aspecto sistêmico da retroalimentação, bem como os pressupostos da evo- lução da atmosfera terrestre. Acompanhe agora noções do funcionamento e estrutura da atmosfera. 2.1 Funcionamento do Sistema Atmosfera: energia Reconhecida como uma fina camada de gases que cerca o planeta Terra, a atmosfera, tal como outros sistemas, necessita de energia para estabele- cer suas conexões naturais. Nesse sentido, a seção aqui apresentada busca demonstrar de forma inicial como se dá o funcionamento do sistema em questão, especialmente tratando dos mecanismos que permitem a presença de energia em seu contexto. Como é possível imaginar, a principal fonte de energia destinada à Terra provém do Sol. Contudo, ela não é a única. Como já visto, o processo de retroalimentação promove a ampliação ou diminuição dos sistemas. Desta forma, o que possibilitou a formação e evolução da atmosfera terrestre é o que se pode chamar de retroalimentação positiva. Desde a formação da Terra, há cerca de 4,56 bilhões de anos, a atmosfera apresenta dinâmicas de transformação contínuas que, somadas a outros fato- res do Planeta, proporcionam a possibilidade da vida na Terra. Fique sabendo Geocronologia é um ramo da ciência que contribui aos estudos de datação da Terra. Os mecanismos de datação do Planeta são deriva- tivos de princípios físicos e químicos, como o decaimento radioativo, a vida média e a meia vida. Dois métodos de datação são utilizados: o relativo e o absoluto. Para o método relativo, como o nome sugere, se utiliza a relação entre fósseis e camadas estratigráficas (geológicas) para a construção de uma ordem cronológica, do mais antigo para o mais recente. Por outro lado, a datação absoluta pressupõe que – 31 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida os materiais estudados são compostos por elementos radioativos, e estes apresentam uma liberação de material (isótopos) constante e acumulativa, que pode ser aferida por meio da meia vida (quando um átomo pai se transforma em átomo filho), possibilitando uma datação assertiva e até então irrefutável. Em um primeiro momento, a atmosfera primitiva, tóxica para os padrões de vida atual, se formou a partir das erupções vulcânicas de um jovem Planeta. Com o passar do tempo, as atividades vulcânicas foram gradativamente redu- zindo, o que ocasionou a solidificação da litosfera, que por sua vez contribuiu fortemente para a diminuição da temperatura da Terra. Nesse momento, a atmosfera terrestre não era muito diferente do que poderia se observar em Marte ou Vênus. Entretanto, uma característica fez toda a diferença: o desen- volvimento de bactérias, inicialmente anaeróbias (que não utilizam oxigênio em seus processos). De maneira geral atribui-se às cianobactérias o título de seres vivos mais antigos da Terra, bem como os primeiros organismos a produzirem oxigênio, fato que transformou drasticamente a história da vida terrestre. Pensando na lógica sistêmica, a entrada de energia no sistema permitiu a estes organismos o desenvolvimento celular, a partir da retroalimentação positiva, o que incrementou a disponibilidade de oxigênio na Terra, inicial- mente em sua totalidade orientada por um processo físico-químico bastante conhecido: a oxidação do ferro (Fe(s) g Fe2+ + 2e-). Uma vez que as estruturas litológicas (rochas) terrestres apresentavam grande riqueza do mineral ferro em suas estruturas, o contato com o agora disponível oxigênio possibilitou a oxidação, gerando o que se conhece hoje por depósitos de minério de ferro, matéria-prima essencial à vida humana nos moldes contemporâneos. Depois que todo o ferro disponível nas estruturas litológicas do fundo oceânico fora oxidado, o aporte sempre crescente de oxigênio, devido à ação fotossintética dos estromatólitos, forjou a atmosfera que se percebe hoje, com suas camadas e estruturas. A partir deste momento, a Terra passou a ter uma proteção que, até então, nenhum outro planeta Fundamentos de Climatologia – 32 – possuíra. Diante disso, possivelmente os processos evolutivos dos organismos foram garantidos, formando a vasta biodiversidade terrestre. Figura 2.1 − Estromatólitos em Lake Thetis, Austrália Fonte: CC BY 2.0. 2.1.1 Energia do Sistema Atmosfera: Sol De acordo com Ayoade (2007), a energia essencial ao funcionamento do Sistema Terra-atmosfera provém do Sol. A energia solar (99,97% de toda energia) se direciona à alimenta- ção dos sistemas de variados fins, garantindo inclusive a retroali- mentação. Essa fonte de ener- gia, portanto, é responsável por aquecer a atmosfera e a superfície terrestre, além de permitir pro- cessos físico-químicos específicos para o desenvolvimento da bio- diversidade terrestre. Fotossíntese Luz Solar Oxigênio Dióxido de Carbono Água Minerais Figura 2.2 − Processo de fotossíntese, possível graças à energia solar Fonte: Shutterstock.com/Jakinnboaz. – 33 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Embora se registre que a energia solar recebida pela Terra seja algo aproximado a 10 bilhões de “Itaipus”, a distribuição deste aporte energé- tico é desigual, variando basicamente de acordo com a latitude e a sazona- lidade. Importa aos estudos em climatologia a espacialização dessa ener- gia, sobretudo para buscar interpretar fenômenos geográficos na Terra. Desta forma, a radiação solar é responsável por diversos processos de ordem física (aquecimento, evaporação), biofísica (evapotranspiração) e biológica (fotossíntese). Fique sabendo A Itaipu Binacional é uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai. Tem capaci- dade de produção de energia de aproximadamente 89,2 milhões de MWh, o que representa em termos práticos 75% de toda ener- gia consumida pelo Paraguai e 15% da energia necessária para abas- tecer o território brasileiro. ITAIPU BINACIONAL. Geração. Disponível em: <www.itaipu. gov.br/energia/geracao>. Acesso em: 15 nov. 2016. A irradiação solar varia de acordo com o ângulo de incidência dos raios solares. Assim, a disponibilidade de energia ao sistema Terra-atmos- fera varia continuamente durante os dias e até anos, além de variar com a latitude. Acerca da radiação e seus processos físicos, é importante fazer um adendo: a irradiação é composta por ondas longas e ondas curtas. A radiação solar é baseada na irradiação de ondas curtas, por outro lado a irradiação ter- restre é dada por ondas longas. Especialmente no que diz respeito à radiação de ondas longas, há um relacionamentocom os processos físicos visíveis e sensíveis aos sentidos humanos, compreendidos por uma faixa conhecida por espectro eletromagnético visível. Fundamentos de Climatologia – 34 – Figura 2.3 − Espectro eletromagnético e seus comprimentos de onda Fonte: CC BY 4.0. De toda a energia que entra e sai do sistema Terra-atmosfera se empre- ende a percepção do balanço de radiação. Relacionado a este equilíbrio, con- forme apontado anteriormente, o modal de entrada de energia é estabelecido pelas ondas curtas (solares), ao passo em que a saída de energia do sistema é dada por ondas longas (terrestres). O trânsito de irradiação chama-se transmissão, que é a competência da passagem de energia em ondas curtas e longas pela superfície e atmosfera ter- restre. Essa característica relaciona-se diretamente com a entrada de energia no sistema, também conhecida como insolação, cuja característica essencial se reflete na distribuição de energia solar, ao longo dos dias, anos e diferentes latitudes. Acompanhe na imagem a seguir a sazonalidade de insolação para o Brasil. – 35 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Figura 2.4 − Sazonalidade da insolação no Brasil Fonte: Atlas Brasileiro de Energia Solar – Inpe. Acompanhando a insolação, alguns mecanismos físicos se destacam nos estudos da compreensão da importância da energia no funcionamento do sis- tema Terra-atmosfera. O Sol emite a energia necessária para o funcionamento dos sistemas terrestres. Quando a radiação solar atinge a Terra, são possíveis ações como a reflexão, o espalhamento e a absorção. Acompanhe seus princí- pios e interferências no sistema. Fundamentos de Climatologia – 36 – 2 Espalhamento ou radiação difusa: ao entrar em contato com os gases da atmosfera, a radiação sofre redirecionamento sem interfe- rir em seu comprimento de onda. Representa 7% da refletividade da Terra. 2 Reflexão: uma parte da radiação retorna ao espaço sem ser absor- vida ou realizar algum trabalho. Representa cerca de 30% da refleti- vidade da Terra. Aqui se utiliza uma característica chamada albedo, que significa grau ou qualidade de reflexão. 2 Absorção: assimilação da radiação pela matéria e sua conversão em outra forma de energia. Aquilo que não é refletido pelo sistema é absorvido. Pode ocorrer absorção pelas nuvens, além da superfície terrestre do solo e corpos hídricos. Fique sabendo Uma questão possível que pode surgir é: por que o céu é azul? Essa característica é proveniente da capacidade de espalhamento. Isso quer dizer que a partir deste fenômeno, em uma explicação dada pelo chamado espalhamento de Rayleigh, o tamanho das moléculas onde ocorre o espalhamento promove diferentes ações. Pequenas moléculas de gás na atmosfera espalham comprimentos de ondas de luz menores. Isso quer dizer que, por exemplo, os comprimentos de luz visível azul e violeta são pequenos. Uma vez que há mais com- primentos de luz azul do que violeta na luz solar, pelo espalhamento observa-se o céu quase sempre azul. Fonte: Christopherson (2012, p. 89). 2.1.2 O balanço de energia: atmosfera e superfície O termo sistema aparece de forma recorrente ao longo dos estudos em climatologia. Apesar da aparente exaustão de uso da terminologia, o enten- dimento dos processos e suas implicações na Geografia são melhor contem- plados a partir desta lógica. Uma forma eficaz de perceber tal questão é a – 37 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida afirmação de que, se observadas em separado, as características de energia da atmosfera e da superfície terrestre não são equilibradas. Contudo, ao observar sistemicamente, num ponto de vista de acoplamento Terra-atmosfera, é pos- sível perceber o balanço de energia equilibrado. Figura 2.5 – Balanço de energia Fonte: Christopherson (2012). De forma genérica, o balanço de radiação pode ser percebido como uma maneira de se estabelecer o equilíbrio entre entradas e saídas de radiação solar do sistema. Nesse sentido, fica nítido que a parte que mais recebe insolação (zona equatorial e tropical), emana essa energia, fazendo com que ela se movi- mente em direção aos polos. Tal ação só é possível graças aos ventos atmos- féricos, que serão estudados adiante, no tema circulação geral da atmosfera. Todavia, algumas características específicas da atmosfera e da superfície devem ser tratadas, dentre as quais podemos destacar: a) na região intertropical, a insolação é elevada pela angulação pre- sente em relação ao sol, havendo pouca variação sazonal, o que acarreta em um panorama de superávit de insolação, ou seja, ganha- -se mais calor do que se perde. Fundamentos de Climatologia – 38 – b) nas regiões polares, marcadamente com superfícies geladas e bran- cas, nas quais a reflexividade é maior, os déficits de energia são notó- rios, garantindo assim importância máxima à circulação geral da atmosfera, que permite o balanço adequado da radiação. c) há que se perceber que em termos de superfície, energia e umidade são constantemente trocadas, fato que ocasiona fenômenos em escala local, que contribuem para a constituição de situações parti- culares, como os microclimas urbanos. De toda forma, algumas evidências trazem elementos de discussão bas- tante interessantes à temática do balanço de energia/radiação no sistema Terra-atmosfera. Talvez um exemplo de maior destaque seja o do já bastante discutido efeito estufa. A esse respeito acompanhe a notícia a seguir, veiculada pelo jornal El País. Saiba mais Aquecimento global e emissão de gases do efeito estufa alcançam níveis recordes: 2015 foi o ano mais quente desde que são feitos registros e 2016 está a caminho de repetir o padrão. O ano de 2015 bateu um novo recorde em emissão de gases do efeito estufa e aumento das temperaturas no planeta, depois de um 2014 que já havia alcançado marcas históricas e fez disparar os alarmes sobre os efeitos da mudança climática. O relatório O Estado do Clima, realizado todos os anos pela Agência Nacional de Ocea- nos e Atmosfera dos EUA (conhecida de modo geral por sua sigla em inglês, NOAA), expõe em sua última edição uma tonelada de dados que levam a uma conclusão inquietante: avizinham-se mais secas e mais inundações, e está constatado o degelo dos polos. – 39 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Figura 2.6 – Elevação do aquecimento de regiões da Terra Fo nt e: S cie nt ific V isu ali za tio n St u- di o/ G od da rd S pa ce Fl igh t C en te r Segundo essa agência, o fenômeno cíclico El Niño, relacionado com o aquecimento do Pacífico, foi no ano passado o mais forte desde pelo menos 1950, o que contribuiu, junto com o aquecimento glo- bal, para que pela primeira vez fosse superada em mais de um grau centígrado a temperatura média de meados do século XVIII, que é o período que se considera representativo das condições de vida pré-industriais. MARS, A. Aquecimento global e emissão de gases do efeito estufa alcançam níveis recordes. 2016. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/02/inter- nacional/1470153337_792504.html>. Acesso em: 15 nov. 2016. A partir de tudo que foi exposto, fica evidente que os processos de entrada e saída de energia do sistema configuram fenômeno complexo e indispensável ao sistema terrestre. Nesta lógica, abordaremos em capítulos seguintes como as sociedades humanas interferem e sofrem influência diante do funcionamento deste sistema. 2.2 Composição e estruturas da atmosfera terrestre Como já foi possível perceber, a atmosfera terrestre é um espaço com- plexo e essencial à Terra. Destacam-se processos físicos e químicos que a com- Fundamentos de Climatologia – 40 – põem, formando uma rede de processos e fenômenos que dão singularidade jamais vista, por hora, em nenhum outro planeta. A principal diferença entre a Terra e os demais planetas até então conhecidos é justamente a lógica da vida que permite a existência da atmosfera que, por sua vez, permite a vida, comojá foi atestado em seções anteriores. Fique sabendo A Terra é azul! Foi o que bradou o cosmonauta russo Yuri Gagarin, que foi o primeiro ser humano a viajar ao espaço, a bordo da nave Vostok 1 e pôde ver a Terra de longe. À época desta marcante viagem, a União Soviética e os Estados Unidos travavam uma batalha silenciosa para saber qual nação levaria o primeiro ser humano à Lua. Era momento da chamada guerra espacial, recorrente à Guerra Fria. Os norte-americanos venceram a disputa em 1969, com o “pisão” inaugural de Neil Armstrong no satélite natural da Terra, mas nos oito anos anteriores, os soviéticos sempre estiveram à frente − inclusive no lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957. A Terra é azul, denuncia a dominância de massas de água no planeta (71%), fato que contribui fortemente para a presença de vida e o funcionamento de sistemas como a atmosfera, que também contribui para a percepção de que o planeta é azul. G1. Viagem pioneira de Yuri Gagarin ao espaço completa 55 anos. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noti- cia/2016/04/viagem-pioneira-de-yuri-gagarin-ao-espaco-completa-55- -anos.html>. Acesso em: 15 nov. 2016. A imprensa internacional veicula notícias de prospecção do planeta Marte. Indícios, de acordo com a agência espacial estadunidense (NASA), dão conta de que há a possibilidade de existir água no planeta vermelho, e por consequência a possibilidade de vida. Em uma comparação rápida entre a Terra e Marte, é possível perceber algumas características interessantes, con- forme apresenta a tabela a seguir. – 41 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Tabela 2.1 – Comparação entre a atmosfera da Terra e de Marte GASES TERRA - PRIMITIVA TERRA ATUAL MARTE Oxigênio Poucos indícios 21% 0,13% Nitrogênio 1,9% 77% 2,7% Dióxido de carbono 98% 0,038% 95% Fonte: The Mars Atmosphere and Volatile Evolution mission (MAVEN). A análise da tabela permite verificar que a atmosfera primitiva da Terra possuía muitas semelhanças com a marciana, fato que se alterou justamente pela presença de seres vivos produtores de oxigênio, como já visto anterior- mente. Assim, a atmosfera moderna da Terra apresenta características únicas, quanto à sua estrutura e composição. 2.2.1 A atmosfera moderna A composição atual da atmosfera é dada pela mistura de gases antigos da Terra com aqueles mais recentes, provenientes da ação da vida ao longo do tempo no sistema terrestre. Portanto, a formação desta camada de gases de suma importância é bastante complexa e processual, não simplesmente surge, mas evolui. O principal componente da atmosfera é o ar, um composto de gases sem cheiro, cor, sabor ou forma que pode ser comparado a uma capa ou membrana que protege a Terra e permite fenômenos que fomentam o funcio- namento de sistemas em constante retroalimentação. Existem várias formas de se realizar a divisão da atmosfera, de acordo com critérios. Assim, apresentam-se os três critérios aqui utilizados para uma interpretação global da atmosfera. Quadro 2.1 – Divisão da atmosfera Composição Temperatura Função Heterosfera Termosfera Mesosfera Ionosfera Fundamentos de Climatologia – 42 – Composição Temperatura Função Homosfera Estratosfera Troposfera Ozonosfera Fonte: Adaptado de Christopherson (2012). Diante dos critérios expressos no quadro 2.1, inicia-se uma breve expla- nação pelo critério da composição. De acordo com Barry e Chorley (1976) apud Ayoade (2007), a composição média da atmosfera sob um rigor de con- dição seca e abaixo de 25 quilômetros se expressa da seguinte forma. Tabela 2.2 − Composição gasosa média da atmosfera terrestre Gás Símbolo Volume (%) Nitrogênio N2 78,084 (≈78) Oxigênio O2 20,9476 (≈21) Argônio Ar 0,934 (≈1) Dióxido de carbono CO2 0,0314 (variável) Neônio Ne 0,001818 Hélio He 0,000524 Ozônio O3 0,00006 Hidrogênio H2 0,00005 Criptônio Kr 0,000114 Xenônio Xe 0,0000087 Metano CH4 0,0002 Fonte: Lide (2008). Gás Volume % (ar seco) Nitrogênio (N2) 78,08 Oxigênio (O2) 20,94 Argônio (Ar) 0,93 Bióxido de carbono (CO2) 0,03 (variável) – 43 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Gás Volume % (ar seco) Neônio (Ne) 0,0018 Hélio (He) 0,0005 Ozônio (O3) 0,00006 Hidrogênio (H) 0,00005 Criptônio (Kr) Indícios Xenônio (Xe) Indícios Metano (Me) Indícios Em acordo com a composição química da atmosfera, é possível obser- var dois compartimentos distintos: A heterosfera e a homosfera. A primeira se caracteriza pela heterogeneidade de sua composição, como o nome sugere. Isso indica que os gases presentes nesse compartimento não estão devida- mente misturados, ou seja, não apresentam uniformidade em sua disposição. A heterosfera pode ser ainda caracterizada como uma camada ou comparti- mento mais externo, com início a cerca de 80 km de altura e com direção até o espaço interplanetário. (CHRISTOPHERSON, 2012). De outro lado, a homosfera, seguindo a lógica etimológica, empreende um compartimento homogêneo, onde os gases estão dispostos e misturados de forma homogênea. Este estrato atmosférico compreende toda a estrutura desde 80 km de altura até a superfície terrestre. Assim, a composição média dos gases da atmosfera terrestre se refere a este compartimento em específico. Diante da caracterização da função, a atmosfera terrestre apresenta dois compartimentos distintos. A ionosfera é uma camada funcional, externa que se estende pela parte alta da atmosfera (termosfera e mesosfera) e tem a fun- ção de absorver determinados raios, especialmente raios X, gama e outros comprimentos de onda curtos, fato que carrega os átomos com íons, o que justifica o nome desta camada de acordo com a função, que é também pro- tetiva neste caso. De outro lado e mais abaixo, a ozonosfera, também conhecida por camada de ozônio, é bastante veiculada e discutida em âmbito global. O ozônio é uma molécula altamente reativa e composta por três moléculas de oxigênio (O3), e funciona literalmente como um filtro da radiação solar mais nociva à vida Fundamentos de Climatologia – 44 – na Terra, os raios UVC e UVB, que são potencialmente danosos devido a seus comprimentos de onda. Fique sabendo Camada de Ozônio Em volta da Terra há uma frágil camada de um gás chamado ozônio (O3), que protege animais, plantas e seres humanos dos raios ultra- violeta emitidos pelo Sol. Na superfície terrestre, o ozônio contribui para agravar a poluição do ar das cidades e a chuva ácida. Mas, nas alturas da estratosfera (entre 25 e 30 km acima da superfície), é um filtro a favor da vida. Sem ele, os raios ultravioletas poderiam aniquilar todas as formas de vida no planeta. Há evidências científicas de que substâncias fabricadas pelo ser humano estão destruindo a camada de ozônio. Figura 2.7 – Formação das moléculas de ozônio Diversas substâncias químicas acabam destruindo o ozônio quando reagem com ele, fato que supostamente contribui para o aquecimento do planeta, conhecido como efeito estufa. WWF. O que é a camada de ozônio?. Disponível em: <http://www. wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/camada_ozonio/>. Acesso em: 15 nov. 2016. Outro fator proposto para entendimento da disposição da atmosfera é, talvez, o mais corriqueiro e utilizado na maioria dos livros didáticos, que se realiza a partir do critério da temperatura. A imagem a seguir demonstra de – 45 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida forma sintética a estrutura da atmosfera quanto à temperatura e altura. A primeira camada, mais próxima da superfície, é a Troposfera, limitada pela Tropopausa; a camada seguinte é a estratosfera, delimitada pela estratopausa; a seguir há a mesosfera e termosfera, delimitadas pela mesopausa e termo- pausa, respectivamente. Figura 2.8 − Estrutura da atmosfera em relação à temperatura e à altura Fonte: www.learner.org (tradução nossa). Iniciando da camada mais distante da superfície para a mais próxima, tem-se a sequência de quatro camadas, a saber: termosfera, mesosfera,estra- tosfera e troposfera. A termosfera, com altura entre 80 km a 480 km, sugere uma zona de calor, contudo não representa necessariamente altas temperaturas. A dife- rença entre calor e temperatura está basicamente na forma de medição de suas grandezas. A temperatura é medida a partir do grau de agitação ou energia cinética. Quanto mais agitadas as moléculas, maior a temperatura. De outro lado, o calor é uma grandeza física também chamada de energia térmica, que se relaciona ao trânsito, ou seja, à transferência de um corpo para outro em razão da temperatura. Nesse sentido, mesmo aqueles corpos com baixas tem- Fundamentos de Climatologia – 46 – peraturas também possuem calor, ainda que em menor quantidade. O limite exterior da termosfera é chamado de termopausa. A mesosfera, compreendida entre 50 km e 80 km de altura, corresponde à uma estrutura na qual a temperatura diminui até um mínimo de -90 ºC, em uma área específica chamada de mesopausa, limite superior da mesosfera. Como o nome sugere, meso significa mediano, uma camada intermediária. A junção entre termosfera e mesosfera forma o que se conhece por atmosfera superior, devido às alturas previstas nestas camadas. Na sequência lógica do modelo apresentado anteriormente, inicia-se a atmosfera inferior, por se tratar da camada com menor altura, mais próxima à superfície. A estratosfera é a segunda camada da atmosfera. Partindo da super- fície, estende-se desde 50 km de altura, com a característica essencial de que suas temperaturas aumentam acompanhando a altitude, fenômeno explicado pelo fato de esta camada apresentar baixa densidade do ar, na qual qualquer absorção de energia solar aumenta a temperatura, especialmente o gás ozônio, importante proteção à Terra. Por fim, a camada mais próxima da superfície e reconhecida como uma das mais importantes para a vida no planeta: a troposfera. Neste estrato da atmosfera é que se encontra a biosfera, esfera da vida. É também onde ocorre a maioria dos eventos meteorológicos que influenciam diretamente a vida no planeta, inclusive a dos seres humanos. Na troposfera estão cerca de 90% (CHRISTOPHERSON, 2012) de toda a massa de gases da atmosfera, o que de um lado é elemento garantidor da vida, e de outro pode ser um problema ambiental sério, especialmente por conta da poluição atmosférica atestada pelas sociedades humanas. A diferente concentração de gases da atmosfera, de acordo com sua estrutura, faz com que sejam percebidas diferentes condições de base, chama- das de pressão atmosférica. Assim, quanto mais perto do nível do mar, maior a concentração de gases, maior o peso e, portanto, maior a pressão atmosférica. Essa característica da troposfera corrobora para o entendimento da possibili- dade da vida no planeta, diante da disponibilidade de gases essenciais, como oxigênio e nitrogênio. Ainda em relação aos gases da atmosfera inferior, é recorrente o debate de um fenômeno chamado Efeito Estufa, conforme já tratado anteriormente. – 47 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Contudo, esse fenômeno tende a se acelerar, diante de indícios de que o aporte de gases estufa está aumentando drasticamente no planeta por meio das ações humanas. Os principais gases responsáveis por essa condição são: dióxido de carbono, metano e óxido de nitrogênio. Você saberia explicar como é que se disponibilizam esses gases na atmosfera, além do fenômeno natural? São responsáveis pelas emissões exacerbadas desses gases: queima de combustíveis fósseis e madeira; decomposição da matéria orgânica e trato digestivo, especialmente de bovinos (ruminantes); águas poluídas; e decom- posição de fertilizantes. Como é possível notar, a ação humana interfere no fluxo de energia e gases da camada mais próxima, que é a troposfera. Desta forma, tratar de assuntos recorrentes a estes torna-se mais do que necessário na prática escolar, como um exercício de cidadania e formação. 2.2.2 Troposfera e a climatologia geográfica A troposfera carrega em si muitos gases, conforme já se discutiu ante- riormente. Contudo, muitos destes são variáveis, de fontes naturais ou de origem humana. A esse segundo compartimento designa-se a concepção de uma atmosfera geográfica (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Uma das ações responsáveis pelas alterações da atmosfera geográfica é dada pela poluição. A definição desta ação não é tarefa fácil, tanto que para operadores do direito a busca por jurisprudência a esse respeito é incessante. No entanto, pode-se entender a poluição atmosférica como a modificação da sua composição química, seja pelo desequilíbrio dos seus elementos consti- tutivos, ou pela presença de elemento químico estranho, que potencialmente possa desequilibrar o ambiente, causando prejuízo à saúde dos seres vivos. Registre-se que a poluição atmosférica não é problema recente. Desde muito tempo indícios históricos apontam que alterações na atmosfera já cha- mavam a atenção de povos pretéritos, como por exemplo os romanos, ao reportarem o ar sujo de suas cidades devido aos esgotos a céu aberto, fumaça de queimadas e outras ações. Parece assustador perceber elementos tão atuais já ocorrendo há mais de dois mil anos. Ao mesmo tempo em que a atmosfera pode sofrer com a poluição de ori- gem humana ou decorrente de suas atividades, há, por outro lado, dinâmicas Fundamentos de Climatologia – 48 – naturais interpostas a esse respeito. Assim, as fontes naturais de poluição são também importantes para o entendimento em climatologia geográfica. Quadro 2.2 − Demonstrativo de fontes naturais de poluição atmosférica Fonte Contribuição Vulcões e incên- dios florestais Óxidos de enxofre e partículas recorrentes; monóxidos e dióxidos de carbono. Plantas em decomposição Hidrocarbonetos, metano e sulfetos de hidrogênio. Oceano Lançamento de sal na atmosfera e outras partículas. Fonte: Adaptado de Christopherson (2012). Percebe-se que o princípio da poluição destina-se ao comparativo com um quadro natural. Nesse sentido, as alterações nos gases e componentes quí- micos podem ser caracterizados como aspectos de importância ambiental e de poluição ambiental. Em termos de legislação, no Brasil se registra a importân- cia e competência do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), que, por meio de resoluções, aponta diretrizes e regras ambientais. A resolu- ção CONAMA que trata do tema poluição é a n. 3 de 28 de junho de 1990. Parágrafo Único. Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, con- centração, tempo ou características em desacordo com os níveis esta- belecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: I impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; II inconveniente ao bem-estar público; III danoso aos materiais, à fauna e flora; IV prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às ativi- dades normais da comunidade. Diante do exposto, fica claro que há uma preocupação bastante grande em relação à poluição atmosférica. A compreensão e sensibilização destes meca- nismos é tarefa salutar do educador em Geografia. A julgar pelo fato de que a maioria das pessoas no mundo e no Brasil estão a se concentrar nas áreas urbanas, os poluentes antropogênicos tendem a sofrer uma aceleração sensível. – 49 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida Como qualquer processo natural e antrópico, a poluição é desvelada ao longo do tempo e evolução dos sistemas terrestres, incluindo os sistemas sociais. É válida portanto a interpretação sob a luz, por exemplo, do estudo transversal da História, mais especificamente a partir das Revoluções Indus- triais. Eis uma sugestão de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, com a finalidade de articular conhecimentos de forma sistêmica. Síntese Neste capítulo foi possível acompanhar que a atmosfera terrestre foi gerada a partir da vida, que por sua vez, garante a vida e seu pleno funciona- mento. A isto se pode chamar retroalimentação sistêmica.A presença de energia no sistema Terra-atmosfera, especialmente a ener- gia solar, é de suma importância, por ativar mecanismos necessários ao des- dobramento complexo de funcionamento da atmosfera. Assim, o balanço de energia, bem como seus atributos físicos, ajudam a explicar as dinâmicas presentes no sistema. Foi possível empreender as diferentes formas de estruturação da atmos- fera de acordo com a temperatura, função e composição, elementos que aju- dam a situar a ocorrência de fenômenos e a relação da atmosfera com a dis- ponibilidade da vida terrestre. Finalmente, apontou-se para a atmosfera geográfica, destacando o efeito da poluição, de forma genérica, em relação aos gases e estruturas da atmos- fera terrestre. Atividades 1. Baseado na compartimentação da atmosfera usando como critério a composição, quais são as divisões possíveis para sua classificação? Aponte a única alternativa correta. a) Uma região contínua. b) Duas grandes classificações: homosfera e heterosfera. Fundamentos de Climatologia – 50 – c) Duas áreas funcionais que recebem radiação do sol. d) Troposfera e estratosfera. e) Ionosfera e ozonosfera. 2. A camada mais próxima da superfície terrestre em que ocorre a maioria dos eventos meteorológicos é chamada de: a) ozonosfera. b) troposfera. c) ionosfera. d) mesosfera. e) exosfera. 3. A ozonosfera apresenta importância crítica para a vida terrestre, pois: a) afeta as temperaturas. b) absorve a luz visível. c) absorve os raios ultravioletas. d) produz as auroras. e) neutraliza a poluição. 4. A charge a seguir visa (ENADE, 2010): – 51 – Atmosfera Terrestre: um Sistema Garantidor da Vida a) alertar para a necessidade de ações mais eficazes de controle da poluição. b) apontar para possíveis ações estratégicas de conservação e de uso sustentável de recursos naturais. c) mostrar a quantidade de partículas em suspensão na atmosfera cuja concentração representa transtorno ambiental. d) apresentar um desequilíbrio irreversível causado no ecossistema pela ação predatória do ser humano. e) demonstrar a urgência de serem criadas leis mais severas de prote- ção ambiental e de exploração de recursos hídricos. 3 Fatores e Elementos Climáticos Neste capítulo estudaremos os fatores e os elementos que compõem os climas. É necessário compreender quais são o que são e como funcionam em sua dinâmica para a definição de um ou outro determinado clima. Especificaremos cada um dos elementos e fatores climáticos, assim como apontaremos as suas diferencia- ções, que, por se influenciarem mutuamente, podem provocar con- fusão no entendimento de suas definições. Ainda, diante da relação entre os seres humanos e o meio ambiente, faz-se importante levan- tar como as ações antrópicas têm influenciado os componentes dos sistemas climáticos. Fundamentos de Climatologia – 54 – 3.1 Elementos climáticos O clima de determinada região é caracterizado após um longo período de observação dos tipos de tempo que nele ocorrem (Conti, 2011). De acordo com Sorre (1951, p.13) citado por Steinke (2012, p.17), para os geógrafos o clima é “o ambiente atmosférico constituído pela série de estados da atmos- fera (estados do tempo) sobre um lugar em sua sucessão habitual”. Os sistemas climáticos possuem características definidas, se diferen- ciando de outros climas pela variação de seus elementos constituintes. Os principais elementos do clima são: a pressão atmosférica, a radiação solar, a umidade do ar e a temperatura. Esses elementos são condicionados pelos fatores do clima. Devido a sua influência sobre determinados aspectos, alguns elementos do clima podem agir sobre outros. É o caso da radiação solar, por exemplo, que, ao quantificar a disponibilidade de energia solar na superfície da Terra, condiciona a temperatura e a pressão do ar. (Steinke, 2012). 3.1.1 Pressão atmosférica Por mais que não possamos enxergar os elementos que constituem a atmosfera terrestre, é importante considerar que ela possui peso e substância. Há uma pressão exercida sobre a superfície pela massa de ar que envolve o planeta, resultado do peso da coluna de ar por unidade de área (STEINKE, 2012). De acordo com Steinke (2012), a pressão atmosférica na superfície é cerca de 100 mil N por metro qua- drado. A unidade de força newton (N) corresponde a uma massa de ar de 10 mil quilogramas submetida à aceleração da gravidade terrestre (~10 m/s2). Por sua vez, 1N/m2 é a unidade de pressão denominada pascal (Pa). Os climatologistas costumam usar, tradicionalmente, a unidade “milibar” (mb), que corresponde a 100 Pa (1 mb = 100 Pa). Portanto, a pressão na superfície será 100.000 Pa ou 1.000 mb. A pressão atmosférica é maior na superfície, em razão de a coluna de ar ser mais alta a partir do nível médio do mar. Quanto mais se sobe, mais o peso e a coluna de ar diminui, reduzindo a pressão, ou seja, quanto maior a altitude de determinado local, mais reduzida é a pressão apresentada. – 55 – Fatores e Elementos Climáticos A cidade de La Paz, na Bolívia, está situada a 3.600 metros de altitude e apresenta uma pressão atmosférica equivalente a 620 milibars. Nessa loca- lidade, o ar é rarefeito e a quantidade de oxigênio e outros gases é menor. Pela altitude, a pressão atmos- férica é menor e em consequência a temperatura de ebulição da água também, nessa cidade, a água ferve em 90°C, enquanto ao nível do mar a tempe- ratura de ebuli- ção é de 100°C. ( S T E I N K E , 2012). A pres- são atmosférica, além de ser deter- minante para a temperatura de transição da água, também condi- ciona os ventos ou o desloca- mento horizontal do ar. A variação da pressão atmos- férica na super- fície deriva da função da tempe- ratura e umidade. Quando há aque- Figura 3.1 – Carta sinótica de superfície do dia 12 de fev. de 2010, 12:00 UTC – Horário Universal – (9 horas no Brasil) Fonte: Marinha do Brasil. Serviço Meteorológico Marinho. In Steinke (2012). Fundamentos de Climatologia – 56 – cimento do ar, ele se expande e a pressão sobre ele diminui. Nas localidades de ar mais quente são conhecidas como áreas de baixa pressão, enquanto as com ar mais frio são as áreas de alta pressão. A baixa pressão apresenta ar quente e leve, enquanto a alta pressão compõe o ar frio e pesado. Na região polar da Terra, a pouca energia solar absorvida gera uma área de alta pressão. As isóbaras (linhas que unem pontos de mesma pressão) são utilizadas para representar em uma carta de pressão a distribuição espacial da pressão atmosférica. Nestas são expostas áreas de alta e baixa pressão, identificadas nas cartas sinóticas pelas letras “A” e “B”, respectivamente. Compreender o que é e como funciona a pressão atmosférica interessa para podermos entender a movimentação do ar no planeta. A umidade e os movimentos de subida e descida são relevantes para a compreensão dos cam- pos de pressão na superfície. 3.1.2 Radiação solar O Sol é o único fornecedor de energia para a atmosfera terrestre. Isso ocorre porque as outras estrelas irradiadoras de energia localizam-se a uma distância em que seus raios não podem atingir a Terra. A radiação solar é de extrema importância para todos os organismos vivos do planeta e para a dinâ- mica dos ecossistemas, para compreender a sua função na caracterização dos climas há três pontos relevantes: 2 a natureza da energia irradiada pelo Sol − a radiação solar é com- preendida como a difusão de energia sob a forma de ondas eletro- magnéticas que se propagam pelo vácuo na velocidade da luz, que corresponde a 300.000 km/s. A energia eletromagnética é com- posta por um elemento magnético e outro elétrico, se propaga atra- vés de ondas em substâncias que não se configuram na temperatura de zero absoluto. 2 o efeito da radiação para o sistema superfície-atmosfera − a lati- tude, que podemos considerar como a esfericidade da Terra, é um dos fatores que influenciam na distribuição da radiação solar na atmosfera, assim como os períodos
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