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Ana Laura Octávio - TXXII LEISHMANIOSES INTRODUÇÃO - Leishmanioses: doenças do sistema fagocítico mononuclear (características clínicas e epidemiológicas muito diversas). Leishmania sp - É um protozoário. - Possui ciclo heteroxênico. - Sua reprodução é assexuada (divisão binária). - Hospedeiros invertebrados: flebotomíneos (mosquitos do gênero Lutzomyia). - Hospedeiros vertebrados: mamíferos (gamba, cachorro, tatu, homem etc.). - Existe um leque enorme de Leishmanias. A diferenciação das espécies é feita de acordo com: ✓ Análise morfológica das formas evolutivas. ✓ Estudo do DNA, RNA e isoenzimas. ✓ Distribuição geográfica. ✓ Aspectos clínicos da infecção humana. - Na área médica é dada maior atenção as seguintes leishmanioses: 1. LEISHMANIOSE VISCERAL (Calazar) – acomete o sistema linfoide, alcançando as vísceras (Calazar). Pode ser causada pelas espécies L. chagasi, L. infantum e L. donovani. 2. LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA - LTA (úlcera de Bauru, ferida brava) – caracterizada pela presença de úlceras típicas na pele. É subdividida em alguns tipos, como: ✓ Leishmaniose cutânea – úlcera no local de picada do mosquito palha. L. braziliensis, L. guyanensis e L. laisonsi. ✓ Leishmaniose cutâneo-mucosa – leishmania se dissemina e vai para a região de nasofaringe (deformidades nas regiões de mucosa). ✓ Leishmaniose cutâneo-difusa – não apresenta úlceras, mas sim vesículas. L. amazonesis, L. mexicana e L. pifanoi. TRANSMISSÃO - Picada da fêmea do mosquito do gênero Lutzomyia (mosquito palha). OBS.: A doença/manifestação clínica depende de vários fatores, entre eles: fatores de risco para a infecção (local onde mora/frequenta) e fatores de risco para a doença (sexo, idade, genética etc.). Ana Laura Octávio - TXXII MORFOLOGIA DA LEISHMANIOSE - O protozoário se apresenta de duas maneiras: amastigotas e promastigotas. AMASTIGOTAS - Forma arredondada, possui flagelo interiorizado. - É a forma de multiplicação no organismo vertebrado e a forma evolutiva infectante para o mosquito (mosquito ingere essas formas). - Para conseguir se multiplicar, precisa estar numa célula (principalmente nos macrófagos). - Acredita-se que os neutrófilos (células circulantes) são as células que levam essa forma evolutiva para outros lugares do organismo. OBS.: Diferença com as formas do Trypanossoma: tipo de célula e tecido infectado são diferentes. PROMASTIGOTAS - Forma evolutiva flagelada, de vida livre (fluido do mosquito). - Multiplica-se no hospedeiro invertebrado, sendo a forma infetante para os homens (vertebrados). - Possuem cinetoplasto (mitocôndria rica em RNA). Ana Laura Octávio - TXXII CICLO BIOLÓGICO - O mosquito do gênero Lutzomyia tem um vestíbulo bucal curto, por isso ele não é capaz de “canular” /inocular o parasita na derme do HV (homem). Assim, para aumentar o fluxo de sangue e acúmulo de linfa no local da picada, ele dilacera o tecido. Após isso, o mosquito inocula a forma evolutiva de promastigota do protozoário no HV. OBS.: A saliva do mosquito opsoniza células sanguíneas (maxadilam). - Promastigotas são fagocitas dentro dos macrófagos e, dentro de macrófagos, se transformam em amastigotas. - Amastigotas, por divisão binária, se multiplicam até o macrófago se romper (membrana não aguenta). - Amastigotas liberadas são fagocitadas novamente por outros macrófagos. OBS.: Podem ser levadas para outros locais (células sanguíneas circulantes – neutrófilos). - Os mosquitos ingerem formas as formas amastigotas quando sugam o sangue do hospedeiro vertebrado (homem). - Na cavidade digestiva do mosquito: amastigota → paramastigota → promastigota. - Promastigota se multiplicam por divisão binaria e, por regurgitação, se acumula na região de faringe do inseto (metaciclogênese). - Quando o mosquito vai inocular o sangue de outro hospedeiro, “não cabe o sangue” na boca do mosquito, fazendo com que ele despeja promastigotas para liberar espaço para conseguir sugar o sangue. É durante esse processo, que ele infecta o HV. Ana Laura Octávio - TXXII INTERAÇÃO ENTRE O PROTOZOÁRIO E A CÉLULA HOSPEDEIRA HUMANA - A forma promastigota que foi inoculada na circulação do HV (homem) invade o macrófago (se adere na membrana do macrófago, através do intermédio de receptores expressos na superfície do macrófago). - A adesão faz com que o macrófago emita pseudópodes e fagocite a promastigota. - No momento da fagocitose, é formado o vacúolo parasitóforo. Nele, o parasita deixa o ambiente propício para sua multiplicação. - Com a formação do vacúolo, são recrutados lisossomos, os quais liberam enzimas. - Por sua vez, o parasita libera uma enzima que cliva/inativa as enzimas lisossomais, fazendo com que elas deixem de ter efeito. OBS.: Simultaneamente a todos esses eventos, a transformação da forma promastigota em amastigota está acontecendo. - Quando formadas, as formas amastigotas se multiplicam de forma exagerada, rompendo os macrófagos e sendo liberadas no meio extracelular, onde ficam até serem fagocitadas novamente por outros macrófagos. PATOGENIA ESTRATÉGIAS DE ESCAPE 1. Saliva do inseto: - Possui substâncias anticoagulante, vasodilatador e antiagregante plaquetário → favorece o fluxo de sangue e o acúmulo de linfa no local da picada. - Uma das substâncias da saliva é o Maxadilan que possui efeitos imunomodulatórios, sendo eles: - Inibição da apresentação de antígenos de Leishmania pelos macrófagos. - Inibição da secreção de citocinas do padrão Th1 (IL12 pelo macrófago e o INF- gama pelo Th1). 2. Complexo lipofosfoglicano (LPG) + GP63: - As formas promastigotas possuem essas duas estruturas, enquanto as formas amastigotas só possuem GP63. ✓ LPG serve como uma cápsula protetora, impedindo que o sistema complemento se ligue diretamente a superfície do parasita (recobre/protege/esconde). - LPG das promastigotas permite a adaptação as condições do novo ambiente. ✓ Proteína GP63 cliva o fator do complemento C3b para iC3b (forma inativa). - Proteína GP63 degrada proteínas lisossomais, inativando-as. - Sistema complemento, através do receptor principal CR3, ajuda na aderência das formas promastigotas nas superfícies dos macrófagos. OBS.: Essa via de internalização não estimula o aumento da atividade respiratória da célula (“entrada silenciosa”). Ana Laura Octávio - TXXII LEISHMANIOSE TEGUMENTAR PATOGENIA – LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) - A Leishmaniose tegumentar americana engloba as leishmanioses do tegumento (da pele), sendo elas: I. Leishmaniose cutânea (LC). II. Leishmaniose cutâneo-mucosa (LCM). III. Leishmaniose cutâneo-difusa (LCD). - Foram identificadas no Brasil em 1909, durante a construção da estrada de ferro no estado de São Paulo (Bauru) → úlcera de Bauru ou ferida brava. - Estão presente em todos os estados (maior concentração no norte e nordeste). - Período de incubação: duas a três meses. - Formas de evolução da leishmaniose tegumentar: I) FORMAS CLÍNICAS - LEISHMANIOSE CUTÂNEA (LC) - Lesões indolores e inicialmente secas (sem pus). OBS.: Contaminações bacterianas levam a formação de pus. - Localização preferencial em aéreas do corpo descobertas. II) FORMAS CLÍNICAS - LEISHMANIOSE CUTÂNEO-MUCOSA (LCM) - Agente etiológico: L. braziliensis. - Gera lesões na mucosa (nariz, bocal, faringe, laringe). LC - Lesão ulcerocrostona no ponto de invasão/penetração do protozoário. LCM - Metástases são lesões semelhantes a inicial. LCD - Lesões disseminadas (sem formação de úlceras). OBS.: As lesões disseminadas são na pele (cutâneo difusa). Ana Laura Octávio - TXXII - Início: coriza crônica, obstrução nasal e destruição do tecido e dor → destruição de cartilagens e ossos do nariz → expansão parafaringe e laringe. Isso tudo leva a mutilações (dificuldade para respirar, falar e se alimentar). OBS.: É uma complicação da leishmaniose cutânea. - Estudos mostram que a persistência do parasito na área cicatricial de antigas lesões tratadas leva a uma ineficácia do tratamento (ocorre metástases anos após o tratamento). III) FORMAS CLÍNICAS - LEISHMANIOSE CUTÂNEO-DIFUSA (LCD) - Agente etiológico: L. amazonensis. - Lesões com aspecto de vesículas disseminadas no corpo. - Início: úlcera única. - Posterior disseminação através da via linfática ou hematogênica. - Deficiência imunológica do paciente leva a uma diminuição da resposta imunológica celular, levando a um estado de anergia imunológica (individuo não reagem frente a um antígeno). Anergia: protozoário tem antígenos de superfície que levam uma resposta organismo do HV. Essa reposta é uma elevação na produção de IL-10 que é uma molécula antagônica de INF-gama. Com baixa produção de IFN-gama tem-se ausência de infiltração/proliferação linfocitária. DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) - Clínico: observação da lesão e anamnese (confissão com câncer). - Parasitológicos (pesquisa do parasita): coleta de material da borda da lesão. ✓ Lesões recentes (bom método) – maior concentração de macrófagos parasitados. ✓ Lesões crônicas – maior dificuldade de encontrar parasitas (em razão do crescimento da necrose). - Imunológico (teste de Montenegro): avaliação da resposta celular através da inoculação intradérmica de um antígeno (promastigotas mortas). ✓ Teste de Montenegro positivo – formação de nódulo ou pápula (reação de hipersensibilidade tardia). OBS.: LCD – como não possui úlceras, o teste de Montenegro não é eficiente. Então, aspira-se o conteúdo das pápulas. Ana Laura Octávio - TXXII TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) - Antimoniais (desde 1912): tartarato antimonial de potássio (muitos efeitos colaterais). - Atualmente, glucantime: ✓ Via intramuscular (endovenoso ou local). ✓ Tratamento longo (20 dias para LC e 30 dias para LCM). ✓ Atua inibindo a as enzimas da via glicolítica. ✓ Proibidos em gestantes (teratogênico - retardo mental) e cardíacos (distúrbios da repolarização ventricular). OBS.: LCD não responde ao tratamento (solustibosan é mais indicado). - Outra opção, anfotericina B lipossomal: ✓ Recomendada para gestantes e HIV+. ✓ 14 dias via intravenosa. ✓ Age na permeabilidade da membrana do protozoário (extravasamento dos conteúdos intracelulares do parasita). ✓ Medicamento caro. PROFILAXIA DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) - Controle difícil em áreas florestais. - Áreas domiciliares: uso de inseticidas. - Proteção individual: repelentes e mosqueteiros. - Proteção coletiva: limpeza de quintais e terenos. - Amazônia: construção de casas a 500 m da mata (mosquito com baixa capacidade de voos distantes). - Diagnóstico precoce. - Secretarias municipais de saúde: tratamento adequado. LEISHMANIOSE VISCERAL (Calazar neotropical ou febre negra) INTRODUÇÃO - Agente etiológico: Leishmania Leishmania infantum chagasi (américas). - Reservatórios: raposas, roedores e gambas + cães. - Vetores: Lutzomyia longipalpis (principal - américas) e Lutzomyia cruzi (Mato Grosso do Sul). - Ciclo semelhante ao da Leishmania tegumentar. - Tem-se a migração das formas amastigotas para órgãos linfoides (ex. baço, medula óssea, linfonodos). TRANSMISSÃO - Transmissão pelo vetor. - Transfusão sanguínea. Ana Laura Octávio - TXXII - Compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas. - Transmissão congênita. PATOGENIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL - Pele como porta de entrada. Inoculação dos parasitos + saliva do vetor → aumento de células fagocitarias no local → migração dos parasitos para os órgãos linfoides mais próximos → migração para as vísceras (via hematogênica ou linfática). SINTOMATOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL - Grau de controle imunológico determinará a sintomatologia (30% dos casos são assintomáticos). - Calazar clássico (sintomas clássicos): ✓ Hipertrofia e hiperplasia dos macrófagos nos órgãos afetados. ✓ O funcionamento dos órgãos atingidos é comprometido. ✓ Medula óssea – prejuízo da produção de células sanguíneas. - Outros sintomas: ✓ Febre irregular. ✓ Hepatoesplenomegalia. ✓ Anemia, perda de apetite, emagrecimento. ✓ Alterações nos rins, pulmões, linfonodos, aparelho digestivo e pele. - Falta de tratamento → óbito de 90% dos casos. DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL - Clínico: sintomatologia não é específica. - Parasitológico: punção de medula óssea, baço, fígado e linfonodos ou biopsia. - Imunológicos: ELISA ou imunofluorescência indireta. TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL - Glucantime. - Anfotericina B lipossomal. PROFILAXIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL - Diagnóstico e tratamento dos doentes. - Combate as formas adultas e larvárias do inseto vetor.
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