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Planos e eixos aplicados ao movimento humano APRESENTAÇÃO A cinesiologia é uma parte da ciência que estuda tanto o movimento humano quanto animal. O termo cinesiologia vem do grego kinesis (movimento) e logos (estudo). A importância de conhecer a cinesiologia está em compreender o movimento nas suas diversas interfaces. Para isso, a base inicial é delimitar as estruturas do corpo humano, baseado na terminologia anatômica tradicional. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a descrever os planos e eixos anatômicos, bem como relacionar os planos e eixos ao movimento humano, além de fazer uma avaliação de movimentos realizados em diferentes planos e eixos anatômicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o que são os planos e eixos anatômicos. • Identificar os planos e eixos aplicados ao movimento humano. • Avaliar os movimentos realizados em diferentes planos e eixos anatômicos. • DESAFIO A descrição de um movimento humano deve ser baseada na posição anatômica, ou seja, uma posição de referência que é “universal” no que se refere à aceitação. Trata-se de um parâmetro a partir do qual todos os movimentos iniciam. Nessa postura, todas as articulações ficam em posições neutras ou iniciais. Observe a figura a seguir: Diante disso, imagine que você é um professor e precisa descrever os movimentos da figura acima para os seus alunos, para que eles entendam como deve ser utilizado o sistema de planos e eixos, aplicados aos movimentos corporais. Quais seriam as suas considerações? INFOGRÁFICO O corpo humano permanece constantemente em movimento, caracterizado como um “aparelho ativo”. Por isso, é preciso estudá-lo com atenção, tendo em vista as suas diversas alterações de posições. As correlações entre as diferentes partes do corpo também mudam com frequência, dependendo do ângulo de observação, dos planos de secção e das relações estabelecidas. Acompanhe, neste Infográfico, os movimentos corporais associados aos seus planos e eixos. CONTEÚDO DO LIVRO As descrições em anatomia também são utilizadas para estudos cinesiológicos. Portanto, a posição anatômica de referência facilita a viabilidade e compreensão das análises e avaliações das ações. O movimento é considerado a partir da associação de planos de secção, que contam com eixos que, por sua vez, formam 90o em relação aos seus respectivos planos. No capítulo Planos e eixos aplicados ao movimento humano, da obra Estudo do movimento: cinesiologia, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai explicar o que são os planos e eixos anatômicos, identificar os planos e eixos aplicados ao movimento humano e avaliar os movimentos realizados em diferentes planos e eixos anatômicos. Boa leitura. ESTUDO DO MOVIMENTO: CINESIOLOGIA Mariluce Ferreira Romão Planos e eixos aplicados ao movimento humano Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o que são os planos e eixos anatômicos. Identificar os planos e eixos aplicados ao movimento humano. Avaliar os movimentos realizados em diferentes planos e eixos anatômicos. Introdução Para facilitar e esclarecer o estudo da anatomia humana, planos e eixos anatômicos são aplicados aos movimentos. Para isso, o corpo deve ser delimitado por planos tangenciais e cada parte do indivíduo deve ser imaginada como se estivesse no interior de uma caixa. Nesse contexto, a posição anatômica de referência facilita a compreensão das análises e avaliações das ações. Assim, cada “lado” tem uma referência topográfica e direcional. Neste capítulo, você vai conhecer em detalhes cada um dos planos e eixos anatômicos. Além disso, vai identificar os planos e eixos aplicados ao movimento humano e avaliar os movimentos realizados em diferentes planos e eixos anatômicos. 1 Planos e eixos anatômicos Para facilitar a compreensão dos planos e eixos anatômicos, vejamos antes de mais nada e resumidamente a posição anatômica e os termos direcionais anatômicos, apresentados na Figura 1. As direções anatômicas sinalizam a posição de uma parte específi ca do corpo em relação a outra. Figura 1. Posição anatômica e direções anatômicas. Fonte: Floyd (2016, p. 2). Planos anatômicos de movimento Os movimentos articulares do corpo humano devem ser analisados e caracte- rizados conforme seus respectivos planos de ação. Os planos anatômicos de movimento podem ser conceituados como uma base imaginária bidimensional ao longo da qual acontece o movimento de uma parte ou segmento corporal (Figura 2) (FLOYD, 2016). Planos e eixos aplicados ao movimento humano2 Figura 2. Planos de movimento e eixos de rotação: (a) plano sagital com eixo frontal; (b) plano frontal com eixo sagital; (c) plano transverso com eixo vertical. Fonte: Floyd (2016, p. 6). As classificações das inúmeras ações articulares são definidas de acordo com seus planos de movimento, ou planos cardinais. Cada plano de movimento divide o corpo humano em duas partes. Suas denominações são as seguintes: plano sagital, plano frontal, plano transverso e plano diagonal ou oblíquo (FLOYD, 2016; TORTORA; DERRIKSON, 2019). Em cada parte dividida, é identificada uma infinidade de planos paralelos aos planos de movimento. Para que você comece a entender essa questão, vamos iniciar examinando os movimentos que acontecem no plano sagital, também chamado de plano sagital mediano ou mediano. As flexões da região abdominal, por exemplo, que contam com a participação da coluna vertebral, acontecem no plano sagital. As flexões de cotovelo e as extensões de joelho também acontecem no plano sagital, mas podem ser classificadas especifi- camente como acontecendo no plano parassagital, ou seja, paralelamente ao plano sagital (FLOYD, 2016). 3Planos e eixos aplicados ao movimento humano Apesar dos movimentos das articulações serem classificados em relação aos planos sagital, frontal ou transverso, nossas ações não costumam acontecer integralmente em um único plano, e sim em uma combinação de planos. Nos planos combinados, os movimentos acontecem no plano de ação diagonal ou oblíquo (FLOYD, 2016, TORTORA; DERRIKSON). O plano sagital, sagital mediano ou mediano, em sentido anteroposterior (AP), secciona o corpo da parte anterior ou ventral para a parte posterior ou dorsal, dividindo-o em partes laterais simétricas, direita e esquerda. Os movimentos de flexão e extensão acontecem no plano sagital, como, a flexão do pescoço e a extensão dos dedos (FLOYD, 2016). Quando o plano sagital encontra-se exatamente no plano mediano e ainda assim está dividindo o corpo, ou um segmento ou órgão, em partes laterais direita e esquerda desiguais ou assimétricas, ele passa a ser chamado de plano paramediano ou parassagital (TORTORA; DERRIKSON, 2019). O plano frontal, coronal ou lateral secciona o corpo humano, em sentido lateral, dividindo-o em partes anterior (ou ventral) e posterior (ou dorsal). Os movimentos de abdução e adução acontecem no plano frontal, como observado nos polichinelos, que envolvem o movimento do ombro e dos quadris, bem como a flexão lateral da coluna vertebral e desvio radial e ulnar (FLOYD, 2016). O plano transverso axial ou horizontal secciona o corpo humano em partes superior (ou cefálica) e inferior (ou caudal). As rotações acontecem no plano transverso, como a pronação e a supinação do antebraço e as rotações da coluna vertebral (FLOYD, 2016). O plano diagonal ou oblíquo combina mais de um plano de movimento. Basicamente, a maior parte dos movimentos corporais que acontecem nas práticas esportivas são executados em algum ponto paralelo e/ou perpendi- cular aos planos sagital, frontal ou transverso, ocorrendo no plano diagonal ou oblíquo (FLOYD, 2016). Com a finalidade de fazer uma descrição mais específica dos movimentos que acontecem no plano diagonal, são consideradas ações em um plano diagonal altoou elevado ou em um dos dois planos oblíquos inferiores ou baixos. O plano diagonal alto ou elevado se aplica aos movimentos dos membros superiores realizados com as mãos elevadas, em nível superior ao acima do ombro; já os dois planos diagonais inferiores ou baixos se aplicam à diferenciação dos movimentos dos membros superiores, realizados com a mão em nível inferior ao ombro, e aos movimentos diagonais dos membros inferiores (FLOYD, 2016). O ponto na intersecção dos três planos de referência é o centro de gravidade do corpo (BEHNKE, 2014). Planos e eixos aplicados ao movimento humano4 Eixos de rotação Conforme o movimento acontece em um determinado plano, a articulação se move ou gira em torno de um eixo e estabelece uma relação perpendicular ou de 90° com este mesmo plano. Os eixos são indicados conforme a sua direção (Figura 2). Veja no Quadro 1 a relação entre os planos de movimento e seus respectivos eixos de rotação (FLOYD, 2016). Fonte: Adaptado de Floyd (2016). Plano Descrição do plano Eixo de rotação Descrição do eixo Movimentos comuns Sagital (AP) Divide o corpo em direita e esquerda Frontal (coro- nal, lateral ou mediolateral) Movimenta no sentido medial/ lateral Flexão, extensão Frontal (coronal ou lateral) Divide o corpo anterior e posterior Sagital (AP) Movimenta no sentido anterior/ posterior Abdução, adução Transverso (axial ou horizontal) Divide o corpo em superior e inferior Vertical (longitudinal ou longo) Movimenta no sentido superior/ inferior Rotação medial, rotação lateral Quadro 1. Planos de movimento e seus eixos de rotação O eixo frontal, coronal, lateral ou mediolateral recebe este nome devido à mesma direção do plano de ação frontal. Os movimentos acontecem lateral- mente. O eixo mediolateral é identificado, por exemplo, na flexão e extensão do cotovelo, que acontecem no plano sagital, ou na flexão do cotovelo quando o antebraço faz um movimento giratório em torno de um eixo frontal, que se movimenta de uma extremidade lateral à outra. O eixo frontal também é chamado de eixo bilateral (FLOYD, 2016). 5Planos e eixos aplicados ao movimento humano O eixo sagital ou anteroposterior acontece no plano frontal, coronal ou lateral, girando em torno do eixo sagital, que, por sua vez, acompanha a mesma direção do plano de ação sagital. Trata-se de um deslocamento da parte anterior ou ventral em sentido posterior ou dorsal, formando um ângulo de 90°, ou perpendicular, com o plano frontal de movimento. O eixo anteroposterior é identificado, por exemplo, com a abdução e adução dos quadris e no movimento de polichinelo, em que o fêmur realiza movimento giratório, em torno de um eixo que se movimenta da parte anterior para a parte posterior ao longo da articulação do coxofemoral (FLOYD, 2016). O eixo vertical, longitudinal ou longo é projetado do cume da cabeça, formando um ângulo de 90°, ou perpendicular, com o plano de ação trans- verso. No movimento do “Não”, quando a cabeça “roda” da esquerda para a direita, tanto o crânio quanto as vértebras cervicais giram em torno de um eixo descendente e verticalizado pela coluna vertebral (FLOYD, 2016). O eixo diagonal ou oblíquo (Figura 3) se move em um ângulo de 90°, ou perpendicular, com o plano diagonal. Quando a articulação glenoumeral faz abdução diagonal para adução diagonal, como acontece nos arremessos superiores ao nível da cabeça, seu eixo corre perpendicular em relação ao plano, através da cabeça do úmero (FLOYD, 2016). Figura 3. Planos diagonais e eixos de rotação: (a) movimento e eixo do membro superior no plano diagonal elevado; (b) movimento e eixo do membro superior no plano diagonal baixo; (c) movimento e eixo do membro inferior no plano diagonal baixo. Fonte: Floyd (2016, p. 7). Planos e eixos aplicados ao movimento humano6 2 Planos e eixos aplicados ao movimento humano Tipos de movimentos O movimento de translação ou linear acontece em uma linha “quase” reta entre duas extremidades. Todo objeto se movimenta pela mesma distância, mesma direção e mesmo tempo. O movimento direcionado em linha reta é denominado movimento retilíneo, como é observado em um trenó que desce com uma criança ladeira abaixo (Figura 4a) ou em um veleiro que se movimenta na água. Caso o movimento ocorra em sentido curvo sem formar um círculo, é denominado movimento curvilíneo. Um atleta que se desloca em direção à água partindo de uma prancha de mergulho, por exemplo, faz um movimento curvilíneo, como o sentido curvilíneo de um esquiador que desce em uma pista própria para o esqui (Figura 4b). Outras formas de movimento curvilíneo são observadas em uma bola ou dardo projetado ou lançado, ou na órbita da Terra em torno do Sol (LIPPERT, 2018). Figura 4. Tipos de movimentos: (a) movimento retilíneo); (b) movimento curvi- líneo); (c) movimento angular; (d) combinação de movimentos linear e angular. Fonte: Lippert (2018, p. 6). 7Planos e eixos aplicados ao movimento humano Um objeto que se movimenta a partir de um eixo ou ponto fixo está fazendo um movimento angular, ou rotatório (Figura 4c). As articulações no corpo humano atuam como eixos e em torno delas acontece o movimento angular. Nesse tipo de movimento, o objeto todo se move por um ângulo comum, no mesmo sentido e no mesmo tempo, mas em distâncias diferentes. Ao fazermos uma flexão de joelho, por exemplo, a articulação do joelho representa o eixo de rotação; o pé se movimenta mais no espaço quando comparado com o tornozelo ou com a perna (LIPPERT, 2018). Em geral, a maior parte dos movimentos que acontecem no corpo humano é angular, enquanto os movimentos em sentido externo ao corpo tendem a ser lineares. É bastante comum observar as duas formas de movimento, angular e linear, acontecendo simultaneamente, ou seja, quando um objeto considerado “no todo” se move de forma linear e as suas partes se movem de forma angular. A Figura 4d demonstra todo o corpo de um skatista se movi- mentando de forma linear, enquanto suas articulações nos membros inferiores se movimentam individualmente, de maneira que os quadris, o joelho e o tornozelo se movimentam em torno de seus próprios eixos, indicando uma forma angular de movimento. Outra forma de movimentos combinados é a marcha ou caminhada. Na caminhada, o corpo inteiro faz movimentos lineares, exceto os quadris, joelhos e tornozelos, que realizam movimentos angulares. Um indivíduo que arremessa uma bola faz movimentos angulares no membro superior, e a bola faz um percurso curvilíneo. Entretanto, é importante destacar que a escápula faz elevação/abaixamento e protrusão/retração como forma linear de movimento. Já a clavícula, articulada com a escápula, faz movimento angular, a partir da articulação esternoclavicular (LIPPERT, 2018). Movimentos articulares As articulações possuem diversas possibilidades de movimentos. As ações acontecem em torno dos eixos articulares, e, portanto, atravessam seus planos. Flexão/extensão, abdução/adução e rotação são terminologias utilizadas para descrever os diversos movimentos que podem acontecer nas articulações classifi cadas como sinoviais. Quando a avaliação correlaciona os ossos lo- calizados em torno de um eixo articular, a forma de movimento articular é denominada osteocinemática. Um exemplo de osteocinemática é o úmero se movimentando em relação à escápula. A correlação dos movimentos da superfície articular, como rotação, deslizamento e rolamento, são incluídos nas formas de movimento artrocinemático. Aqui, daremos enfoque à osteoci- nemática, correlacionada aos planos e eixos de movimento (LIPPERT, 2018). Planos e eixos aplicados ao movimento humano8 Movimentos que acontecem no plano sagital Considerando a posição anatômica, são identifi cadas as seguintes formas de movimentos que acontecem no plano sagital, sagital mediano ou mediano: fl exão, extensão e hiperextensão (Figura 5a, 5b e 5c). Figura 5. Movimentos articulares: (a) flexão; (b) extensão; (c)(hiperextensão;(d) abdução; (e) adução; (f) desvio radial; (g) desvio ulnar; (h) elevação; (i) depressão; (j) inclinação ou flexão lateral; (k) rotação lateral; (l) rotação medial; (m) supinação; (n) pronação; (o) inversão; (p) eversão; (q) abdução horizontal; (r) adução horizontal; (s) protração; (t) retracão; (u) circundução. Fonte: Lippert (2018, p. 6) e Tortora e Derrikson (2019, p. 271). 9Planos e eixos aplicados ao movimento humano O movimento de flexão (Figura 5a) indica que um osso se curva em relação ao outro, permitindo que as duas superfícies que articulam se aproximem enquanto o ângulo articular diminui. Em geral, isso acontece devido à aproximação das superfícies articulares anteriores de ossos adjacentes. Na região cervical, por exemplo, a flexão é o movimento referente à inclinação anterior, de maneira que a cabeça se movimenta ventralmente, em sentido anterior em relação ao tórax. No cotovelo, a flexão indica a aproximação das superfícies anteriores do braço e antebraço; no quadril, a flexão indica que a coxa se move anteriormente, em sentido anterior ao tronco. Nesse contexto, o joelho é considerado uma exceção, porque a flexão acontece no momento em que são aproximadas as superfícies posteriores tanto da coxa quanto da perna. A flexão no punho pode ser chamada de flexão palmar e a flexão no tornozelo pode ser chamada de flexão plantar. O movimento de extensão (Figura 5b) indica que um osso se afasta em relação a outro, aumentando o ângulo articular. Em geral, nesse movimento ocorre um retorno à posição anatômica após uma flexão. Em extensão, as faces anteriores das superfícies que se articulam têm uma tendência a se afastarem entre si. Uma extensão acontece, por exemplo, quando a cabeça se movimento em sentido superior se afastando da face anterior do tórax, bem como quando, anteriormente, a coxa se afasta do tronco e volta para a posição anatômica de referência inicial. O movimento de hiperextensão (Figura 5c) indica que ocorre uma extensão que vai além da posição anatômica. Articulações do ombro, quadril, punho, pescoço e tronco podem ser hiperestendidas. Movimentos que acontecem no plano frontal Considerando a posição anatômica, são identifi cadas as seguintes formas de movimentos que acontecem no plano frontal, coronal ou lateral: O movimento de abdução (Figura 5d) indica que um segmento ou parte do corpo se afasta da linha mediana do corpo, como, por exemplo, o membro superior que se desloca em direção lateral. Nesse movimento, um segmento ou parte do corpo se aproxima da linha mediana do corpo. O ombro e o quadril fazem movimentos de adução, mas diferem na amplitude maior e menor, respectivamente. Na mão, a linha mediana é considerada o dedo médio, ou dedo III, e no pé, a linha mediana refe- Planos e eixos aplicados ao movimento humano10 rencia o dedo II. Tanto no pé quanto na mão, considera-se uma adução quando ocorre um retorno da abdução. Os movimentos de desvio radial e desvio ulnar se aplicam à abdução e adução do punho. O movimento lateral da mão iniciando pela posição anatômica direcionado ao polegar é conhecido como desvio radial (Figura 5f). Em contrapartida, quando a mão se movimenta em sentido medial iniciando pela posição anatômica, ou seja, em direção ao dedo V, cumpre o movimento conhecido como desvio ulnar (Figura 5g). O movimento de elevação (Figura 5h) indica o deslocamento superior da cintura ou cíngulo do membro superior, enquanto o movimento de depressão (Figura 5i) indica o deslocamento inferior da cintura ou cíngulo do membro superior. O movimento de inclinação ou flexão lateral (Figura 5j) se aplica ao movimento lateral do tronco, tanto para a direita quanto para a esquerda. Se a inclinação do tronco for para a direita, o ombro também se desloca em direção ao quadril direito; portanto, essa ação é chamada de inclinação lateral direita. Movimentos que acontecem no plano transverso Considerando a posição anatômica, são identifi cadas as seguintes formas de movimentos, que acontecem no plano transverso, axial ou horizontal: O movimento de rotação medial ou interna (Figura 5k) indica que um osso gira em direção à linha mediana referencial do corpo. Já o movimento de rotação lateral ou externa (Figura 5l) indica que um osso gira se afastando da linha mediana referencial do corpo. As articulações do ombro e do quadril fazem tanto rotação medial quanto lateral, assim como o pescoço e o tronco. Quando o pescoço gira em sentido superior, ou seja, quando o olhar é voltado superiormente em relação ao ombro direito, isso sinaliza uma rotação cervical direita. O movimento de supinação e pronação se aplicam ao antebraço. Con- siderando a posição anatômica, a superfície palmar voltada anterior- mente indica uma supinação (Figura 5m). Na pronação (Figura 5m), a superfície palmar encontra-se voltada posteriormente. Observando o cotovelo em flexão, por exemplo, no momento em que a superfície palmar está voltada superiormente, a mão está supinada, e quando a superfície palmar está voltada inferiormente, a mão está pronada. 11Planos e eixos aplicados ao movimento humano O movimento de inversão (Figura 5o) indica o desvio medial da superfície plantar, enquanto o movimento de eversão (Figura 5p) indica o desvio lateral. O movimento de abdução horizontal (Figura 5q) e adução horizontal (Figura 5r) não acontecem na posição anatômica de referência. Trata-se de movimentos precedidos por flexão ou abdução do ombro, com o braço posicionado no mesmo nível. Partindo da última posição descrita, quando o ombro se move em sentido posterior, ele perfaz uma abdução horizontal. Já quando o ombro se move em sentido anterior, ele cumpre uma adução horizontal. Movimentos similares acontecem no quadril, mas com amplitude menor de movimento. O movimento de protração ou protrusão (Figura 5s) representa um movimento linear que acontece no plano paralelo ao solo e em sentido anterior, enquanto o movimento de retração ou retrusão (Figura 5t) indica um movimento linear no mesmo plano, mas em direção contrária, ou seja, posterior. A protração observada na cintura ou cíngulo do mem- bro superior indica o movimento da escápula em sentido anterior, como na protrusão da mandíbula. A retração nas duas situações anteriores sinaliza o retorno posterior, ou seja, à posição anatômica referencial. Flexão/extensão, abdução/adução e rotação são termos que costumam ser usados para descrever os movimentos osteocinéticos que ocorrem nas articulações sinoviais. Inversão/eversão e protração/retração são termos específicos que se aplicam apenas a articulações sinoviais específicas (LIPPERT, 2018). Movimentos que acontecem em múltiplos planos O movimento de circundução (Figura 5u) é circular e forma uma espécie de “cone” imaginário. Trata-se de um movimento que combina fl exão, abdução, extensão e adução. Na circunducão do ombro, é realizado um círculo, de maneira que a mão faz um círculo ainda maior. O membro superior, consi- derado na íntegra, se movimenta em um padrão sequente, em forma cônica, transitando de fl exão para abdução, extensão e adução, e reposicionando o braço de acordo com a posição de início. Planos e eixos aplicados ao movimento humano12 3 Avaliação dos movimentos em diferentes planos e eixos As análises e avaliações dos movimentos corporais são realizadas com base em coordenadas tridimensionais (Figura 6), que são alinhadas anatomicamente de acordo com os eixos mediolateral (plano sagital), anterioposterior (plano frontal) e superioinferior ou longitudinal (plano transverso). Ocasionalmente, é feita a opção pela análise bidimensional ou planar, considerando somente, dois dos três eixos citados, tendo em vista a complexidade de recursos para as observações tridimensionais (OATIS, 2014). Figura 6. Os três eixos e planos cardinais do corpo, vistos na posição anatômica. Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 6). Uma descrição do movimento humano demonstraas características tanto de posição quanto do próprio movimento da parte do corpo, que inclui elementos 13Planos e eixos aplicados ao movimento humano articulares e as suas relações espaciais e topográficas. A descrição pode fazer referência a um único segmento ou a vários segmentos reunidos, conforme a Figura 7, que demonstra várias posições articulares e segmentares do corpo humano possíveis de serem assumidas em atividades funcionais, como: a flexão do ombro, cotovelo, quadril e joelho, observado no plano sagital (Figura 7a); movimentos de abdução do ombro e quadril que acontecem no plano frontal; e movimentos de rotação do tronco, quadril e joelho que acontecem no plano transverso. Figura 7. Exemplos de posições articulares e de segmentos do corpo humano em atividades funcionais: (a) movimentos realizados no plano sagital; (b) movimentos realizados no plano frontal; (c) movimentos realizados no plano transverso. Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 5). Avaliação da marcha nos diferentes planos de movimento A marcha é a forma pela qual os mamíferos terrestres se deslocam ou se loco- movem de lugar para o outro, incluindo todas as possibilidades de movimento. No ser humano, o ciclo da marcha apresenta a seguinte sequência, conforme a Figura 8a (HOUGLUM; BERTOTI, 2014). Planos e eixos aplicados ao movimento humano14 Figura 8. Análise da marcha humana em diferentes planos: (a) ciclo da marcha; (b) plano sagital; (c) plano frontal; (d) plano transverso. Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 549-550). 15Planos e eixos aplicados ao movimento humano Fase de apoio: 1 — contato inicial; 2 — resposta à carga; 3 — apoio médio; 4 — apoio final; 5 — pré -balanço. Fase de balanço: 1 — balanço inicial; 2 — balanço médio; 3 — balanço final. No plano sagital e frontal (Figura 8b e 8c), são observados movimentos angulares de flexão e extensão acontecendo no ombro, cotovelo, quadril, joelho e tornozelo. No plano transverso, são identificadas rotações em torno dos eixos ver- ticais, nas vértebras, região pélvica, quadril, joelhos, tornozelo, e nos pés. Trata-se de movimentos, em geral, considerados “leves” e observados tanto no tronco quanto nos membros. No plano transverso, os movimentos são recíprocos dos ombros e pelve, de acordo com o membro superior direito e o membro inferior esquerdo, opostos, que balançam anteriormente (Figura 8d). Tanto os ombros quanto as vértebras superiores fazem rotação em sentido anti-horário à medida que a perna esquerda balança anteriormente. A partir de então, revertem para o sentido horário conforme a perna direita faz o balanceio para a frente. Trata-se de uma rotação que, complementarmente, acelera a velocidade da marcha, estando o local de rotação mínima próximo à sétima vértebra torácica (SMIDT, 1971). BEHNKE, R. S. Anatomia do movimento. 3. ed. São Paulo: Artmed, 2014. FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. 19. ed. Barueri: Manole, 2016. HOUGLUM, P. A.; BERTOTI, D. B. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 6. ed. Barueri: Manole, 2014. LIPPERT, L. S. Cinesiologia clínica e anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. OATIS, C. A. Cinesiologia: a mecânica e a patomecânica do movimento humano. 2. ed. Barueri: Manole, 2014. SMIDT, G. L. Hip motion and related factors in walking. Physical Therapy, v. 51, n. 1, p. 9–22, 1971. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Planos e eixos aplicados ao movimento humano16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas ACKLAND, T. R.; ELLIOTT, B. C.; BLOOMFIELD, J. (ed.). Anatomia e biomecâ nica aplicadas no esporte. 2. ed. Barueri: Manole, 2011. LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. MOORE, K. L.; DALLEY, F.; AGUR, M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 17Planos e eixos aplicados ao movimento humano DICA DO PROFESSOR As análises e avaliações em anatomia humana são feitas, em geral, por meio de comparações dos órgãos com figuras geométricas. Assim, de acordo com o órgão considerado, é feita a descrição das suas faces, margens, ângulos etc., com base nos planos essenciais para os quais eles estejam voltados. Percebe-se a relevância em estudar os planos que delimitam e seccionam o corpo humano, já que a terminologia descritiva de posição e direção é utilizada em função dele. Veja, nesta Dica do professor, a posição anatômica, os termos de posição e direção e os princípios gerais de construção do corpo humano. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS Os movimentos articulares do corpo humano devem ser analisados e caracterizados conforme os seus respectivos planos de ação. Os planos anatômicos de movimento podem ser conceituados como uma base imaginária com duas dimensões ou bidimensional, por meio da qual acontece o movimento de uma parte ou segmento corporal. Observe a figura a seguir: 1) Considerando a parte lateral esquerda da figura, os movimentos do ombro e do joelho acontecem, respectivamente, nos planos: A) Frontal e sagital. B) Sagital e frontal. C) Frontal e transverso. D) Sagital e transverso. E) Transverso e frontal. Uma descrição do movimento humano demonstra as características, tanto de posição quanto do próprio movimento da parte do corpo, que inclui elementos articulares e as suas relações espaciais e topográficas. Observe a figura a seguir: 2) Considerando os segmentos corporais do membro superior e inferior direito, da figura apresentada, são identificados: A) Movimentos lineares. B) Movimentos retilíneos. C) Movimentos angulares. D) Movimentos curvilíneos. E) Movimentos combinados. Os movimentos articulares do corpo humano devem ser analisados e caracterizados conforme os seus respectivos planos de ação. Observe a figura a seguir: 3) De acordo com os planos de secção sagital, frontal e transverso, marque a alternativa correta. A) O plano sagital permite as rotações. B) O plano transverso tem o eixo anteroposterior. C) O plano frontal divide o corpo em partes laterais. D) O eixo do plano transverso acompanha o plano frontal. E) O eixo do plano frontal acompanha o plano transverso. 4) O movimento do “sim” acontece na articulação atlanto-occipital, indicando uma inclinação anterior, de maneira que a cabeça se movimenta ventralmente, em sentido anterior em relação ao tórax. Nesse momento, o que acontece na articulação atlanto-occipital? A) Afasta da linha mediana. B) Diminui o ângulo articular. C) Gira em torno do eixo axial. D) Faz um movimento circular. E) Aproxima da linha mediana. 5) As articulações contam com diversas possibilidades de movimentos. As ações acontecem em torno de eixos das articulações, portanto, atravessam os seus planos. Sobre o movimento de abdução e adução, o que é correto afirmar? A) A abdução e adução acontecem no plano transverso. B) A abdução e adução acontecem no eixo mediolateral. C) A abdução e adução acontecem no eixo anteroposterior. D) A abdução e adução acontecem no plano de secção sagital. E) A abdução e adução acontecem no eixo longitudinal. NA PRÁTICA O movimento humano acontece em um plano ou superfície plana, que gira em torno de um eixo, ou seja, de uma linha reta, em torno da qual um objeto “roda”. Os músculos geram o movimento das partes do corpo, em um ou mais planos de movimento, que seccionam o corpo em partes: lateral direita e esquerda, anterior e posterior, bem como superior e inferior. Cada planopossui um eixo perpendicular a ele. Veja, neste Na Prática, o que o professor Miltom propôs aos seus alunos, com o objetivo de melhorar a compreensão sobre os planos e eixos anatômicos aplicados ao movimento. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Eixos e movimentos do corpo humano - flexão, abdução, rotação e circundução Neste vídeo, você verá os principais movimentos do corpo humano a partir de dois pontos de vista: anterior e perfil. Para melhor aproveitamento, é necessário que você tenha conhecimento da posição anatômica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Estudo de revisão sobre a cinesiologia dos complexos articulares Este artigo tem como objetivo de estudo sistematizar e compilar as informações sobre as bases cinesiológicas dos complexos articulares do corpo humano. Os resultados foram apresentados em forma de três quadros: articulações da cabeça e coluna vertebral, articulações do membro superior e articulações do membro inferior. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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