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Livro Contabilidade Intermediária 2

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CONTABILIDADE INTERMEDIÁRIA II
CHARLINE BARBOSA PIRES
HELEN CRISTINA STEFFEN
LUCIANA ARENHART MENEGAT
SABRINA TREJES MARENGO
Editora Unisinos, 2014
SUMÁRIO
Apresentação
Capítulo 1 – Instrumentos financeiros – Ativos e passivos
Capítulo 2 – Passivo
Capítulo 3 – Patrimônio líquido
Capítulo 4 – Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)
Capítulo 5 – Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)
Capítulo 6 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
Capítulo 7 – Notas Explicativas (NEX)
Informações técnicas
APRESENTAÇÃO
Este livro dá continuidade à discussão dos conceitos e técnicas
contábeis já abordados nas atividades acadêmicas Contabilidade
Introdutória, Contabilidade Básica e Contabilidade Intermediária I. Dessa
forma, destina-se, especialmente, aos alunos da disciplina de
Contabilidade Intermediária II do curso de graduação em Ciências
Contábeis.
A presente obra tem como objetivo possibilitar a compreensão dos
mecanismos de funcionamento da contabilidade, como instrumento de
movimentação e controle do patrimônio, bem como as normas envolvidas
no processo de mensuração, registro e evidenciação dos fatos e atos
contábeis, principalmente relacionados ao Passivo e ao Patrimônio
Líquido.
Com esse propósito, este livro está estruturado de forma a que, ao
concluir o semestre, o aluno tenha conhecimentos sobre (a) normas que
devem ser observadas no tratamento contábil das operações que
envolvem instrumentos financeiros ativos e passivos; passivo circulante e
não circulante; patrimônio líquido; participações no resultado e destinação
do resultado do exercício; (b) elaboração do Balanço Patrimonial; da
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); da Demonstração de
Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA); e da Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido (DMPL), conforme as normas contábeis aplicáveis;
e (c) normas emanadas dos organismos reguladores da atividade contábil
relativas à elaboração e publicação das notas explicativas das
demonstrações contábeis.
Cabe destacar que esta obra aborda as atualizações sofridas pela
Lei nº 6.404/76 até a presente data, bem como os Pronunciamentos
Técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
pertinentes ao tema, que foram transformados em Normas pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC) (de aplicação obrigatória pelos
profissionais da contabilidade) e em Deliberações pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), bem como recepcionados por outros órgãos
reguladores.
Os autores
CAPÍTULO 1
INSTRUMENTOS FINANCEIROS – ATIVOS E PASSIVOS
Sabrina Trejes Marengo1
O presente capítulo trata dos principais aspectos relacionados aos instrumentos
financeiros e discute os procedimentos para a sua contabil ização. Para tanto, faz-se
necessária a compreensão de termos como instrumento financeiro, ativo financeiro,
passivo financeiro, derivativo, entre outros que são abordados neste capítulo.
1.1 Considerações Iniciais
As primeiras regras relativas a esse tema surgiram no âmbito
internacional por intermédio de normas expedidas pelo IASB (International
Accounting Standards Boards). No Brasil, os primeiros normativos foram
publicados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), com a edição da
Instrução CVM nº 235/1995, e pelo Banco Central, com a publicação do
plano contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF).
Com a aprovação da Lei nº 11.638, de 2007, o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 14 –
Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação.
Esse pronunciamento foi válido para as demonstrações contábeis
referentes aos anos de 2008 e 2009, sendo que em 2009 o CPC produziu
e emitiu os Pronunciamentos CPC 38 – Instrumentos Financeiros:
Reconhecimento e Mensuração (correspondente ao IAS 39); CPC 39 –
Instrumentos Financeiros: Apresentação (correspondente ao IAS 32); e o
CPC 40 – Instrumentos Financeiros: Evidenciação (correspondente ao
IFRS 7), que entraram em vigor para as demonstrações contábeis
referentes ao ano de 2010.
O Pronunciamento Técnico CPC 14 é um resumo dos
Pronunciamentos Técnicos 38, 39 e 40. Com a emissão dos três novos
pronunciamentos, o CPC 14 foi transformado em Orientação CPC 03
(continua sendo útil para empresas que possuem instrumentos
financeiros não muito complexos e para os quais o CPC 14 oferecia
orientação).
1.2 Instrumentos financeiros
Inicialmente, apresentam-se conceitos e definições de termos
relevantes para a contabilização dos instrumentos financeiros. Os
significados dos termos seguintes são definidos segundo o
Pronunciamento Técnico CPC 39:
Instrumento financeiro é qualquer contrato que dê origem a um ativo
financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento
patrimonial para outra entidade.
Ativo financeiro é qualquer ativo que seja, por exemplo: caixa;
instrumento patrimonial de outra entidade; direito contratual de receber
caixa ou um direito contratual de liquidar um instrumento financeiro com
outra entidade sob condições potencialmente favoráveis para a entidade.
Passivo financeiro é qualquer passivo que seja, por exemplo: uma
obrigação contratual de entregar caixa ou uma obrigação de liquidar um
instrumento financeiro com outra entidade sob condições potencialmente
desfavoráveis para a entidade.
Os instrumentos financeiros podem ser utilizados com diversos
objetivos: para negociação, especulação, aplicação ou captação, ou
proteção (hedge), e podem ser classificados, de acordo com a sua
natureza, em primários e derivativos.
O s instrumentos financeiros primários dão origem a ativos e
passivos. São os recebíveis, pagáveis, empréstimos e financiamentos,
entre outros.
O s instrumentos financeiros derivativos têm como característica
principal a alteração do seu valor em resposta às mudanças em seus
indexadores, tais como taxa de juros, taxas de câmbio, preços de
mercadorias, entre outros.
Típicos exemplos de derivativos são os contratos futuros, a termo,
de swap e de opção. Uma das características que definem um derivativo é
ter um investimento líquido inicial menor do que seria exigido para outros
tipos de contratos que se esperaria tivessem uma resposta semelhante
às alterações nos fatores do mercado. Um contrato de opção satisfaz tal
definição porque o prêmio é inferior ao investimento que seria necessário
para obter o instrumento financeiro subjacente ao qual a opção está
ligada. Um swap de moeda que exija a troca inicial de diferentes moedas
de valor justo igual satisfaz tal definição porque tem investimento inicial
igual a zero.
1.3 Derivativos
Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 38, um derivativo é um
instrumento financeiro que possui todas as três características seguintes:
a. seu valor altera-se em resposta a mudanças de uma
variável subjacente (taxa de câmbio, taxa de juros, preço
de uma commodity, preço de um instrumento financeiro,
índice de preços, rating de crédito etc.);
b. não é necessário qualquer desembolso inicial, ou o
desembolso inicial é menor do que seria exigido para
outros tipos de contratos em que seria esperada uma
resposta semelhante às mudanças nos fatores de
mercado; e
c. é liquidado em uma data futura.
Os instrumentos financeiros derivativos são contratados com o
objetivo de realizar operações de proteção (hedge) de riscos financeiros
variados. Os riscos mais comuns cobertos por derivativos são os
seguintes:
risco cambial;
risco de variação de taxa de juros;
risco de variação do preço de ativos financeiros (ações);
risco de variação de índices de preços (índices de ações);
risco de variação do preço de commodities; e
risco de crédito.
Os derivativos mais comuns podem ser classificados, segundo
Padoveze, Benedicto e Leite (2012), da seguinte forma:
Contratos a termo (forward): visam a reduzir a incerteza
sobre o preço futuro das mercadorias negociadas. Esses
contratos também visam à proteção dos passivos de uma
empresa contra variações cambiais. Assim, a empresa
que possui dívidas em dólares assina um contrato com a
instituição financeira,que se compromete a vender os
dólares a essa empresa por uma taxa que ambas
julgarem adequada. Nesse caso, se a cotação do dólar
ficar abaixo da taxa especificada no contrato, a empresa
paga a diferença ao banco e, se a taxa for superior ao valor
contratado, o banco é que pagará a diferença à empresa.
Em ambos os casos, as variações positivas ou negativas
na dívida da empresa, advindas da variação cambial, são
cobertas pelas variações no contrato a termo realizado.
Contratos a futuro: são compromissos de comprar e
vender determinado ativo em uma data futura, por um
preço previamente estabelecido. Diferentemente dos
contratos a termo, os contratos futuros estabelecem uma
padronização do preço, da qualidade do produto, do local e
da data de entrega, do tamanho e do volume negociado,
de tal forma que aumente a liquidez desses contratos.
Alguns limites foram estabelecidos para garantir a
segurança do mercado contra grandes especulações por
parte dos agentes do mercado.
Opções de compra (call) e opções de venda (put):
envolvem o pagamento de um prêmio para aquisição do
contrato no mercado de opções. As opções de compra e
venda são contratos que conferem ao comprador (titular) o
direito de comprar ou vender o ativo objeto do contrato. Nas
opções de compra, o titular tem o direito de comprar, e o
lançador (vendedor da opção, aquele que cede o direito ao
titular – recebedor do prêmio), a obrigação de vender o
ativo objeto do contrato, em uma data determinada e por
um preço determinado. Já nas opções de venda, o titular
tem o direito de vender em certa data um ativo, e o
lançador, a obrigação de comprá-lo. O preço do contrato é
o valor futuro do ativo a ser negociado.
Contratos de swap: a palavra swap significa troca. Os
contratos de swap objetivam a troca de resultados
financeiros decorrente da aplicação de taxas ou índices
sobre ativos ou passivos utilizados como referenciais, tais
como taxas de câmbio, taxas de juros, entre outros. Tal
operação pode ser vista como uma estratégia financeira
em que os dois agentes chegam a concordar na troca de
fluxos futuros de fundos de uma maneira preestabelecida.
Nessa operação não há pagamento do valor principal: este
serve apenas como base de cálculo dos juros, em que a
liquidação financeira será efetivada por diferença entre
quem tem mais a pagar do que a receber.
1.4 Classificações e avaliação dos instrumentos
financeiros
Um instrumento financeiro deve ser reconhecido como ativo
financeiro ou passivo financeiro nas demonstrações financeiras quando, e
apenas quando, a entidade se torna parte das disposições contratuais do
instrumento. No momento do reconhecimento inicial, um instrumento
financeiro deve ser classificado em uma das quatro categorias seguintes,
conforme as normas contábeis internacionais e brasileiras que tratam do
assunto:
1. Ativos ou passivos financeiros mensurados pelo valor
justo, por meio do resultado (mantidos para negociação):
são ativos e passivos financeiros adquiridos ou
originados principalmente com a finalidade de venda ou
de recompra no curto prazo. São avaliados pelo valor
justo com efeitos no resultado, acrescido dos juros.
2. Investimentos mantidos até o vencimento: são ativos
financeiros não derivativos, com pagamentos fixos, ou
determináveis, com vencimentos definidos, que a
entidade tem a intenção positiva e a capacidade de
manter até o vencimento. São avaliados pelo custo,
acrescido dos juros.
3. Empréstimos e recebíveis: são ativos financeiros não
derivativos, com pagamentos fixos ou determinados que
não estão cotados em mercado ativo. São avaliados pelo
custo, acrescido dos juros.
4. Disponíveis para venda: são aqueles ativos financeiros
não derivativos que são designados como disponíveis
para venda ou que não são classificados em uma das
três categorias anteriores. São avaliados pelo valor justo
com efeitos no patrimônio líquido, acrescidos dos juros.
Conforme as normas contábeis internacionais e brasileiras, os
instrumentos financeiros podem ser classificados em uma das quatro
categorias apresentadas no Quadro 1:
Quadro 1 – Classificação e av aliação dos instrumentos financeiros
Categoria/Classificação Conceito Av aliação
Ativ os ou passiv os
financeiros
mensurados pelo v alor
justo, por meio do
resultado (mantidos
para negociação)
São ativos e passivos financeiros
adquiridos ou originados com a
finalidade de venda ou de recompra no
curto prazo.
São avaliados
pelo valor justo
com efeitos no
resultado,
acrescido de
juros.
Mantidos até o
v encimento
São ativos financeiros não derivativos,
com pagamentos fixos, ou
determináveis, com vencimentos
definidos, que a entidade tem intenção
positiva e capacidade de manter até o
vencimento.
São avaliados
pelo custo,
acrescido dos
juros.
Empréstimos e
recebív eis
São instrumentos financeiros não
derivativos, com pagamentos fixos, ou
determináveis, que não são cotados em
mercado ativo.
São avaliados
pelo custo,
acrescido dos
juros.
Disponív eis para
v enda
São ativos financeiros que a entidade
tem a intenção de vender antes do
vencimento e que não foram
classificados em uma das três
categorias anteriores.
São avaliados
pelo valor justo
com efeitos no
patrimônio
líquido,
acrescido dos
juros.
Fonte: elaborado com base no CPC 38 (correspondente ao IAS 32).
1.5 Reconhecimento e Mensuração dos
Instrumentos Financeiros
A IAS 39 e o CPC 38 apresentam as seguintes premissas para
reconhecimento e mensuração dos instrumentos financeiros:
os ativos e passivos financeiros devem ser inicialmente
reconhecidos no Balanço Patrimonial por seus valores
justos;
os custos de transação são incluídos na mensuração
inicial de todos os ativos e passivos financeiros;
os derivativos são reconhecidos nas demonstrações
contábeis;
os derivativos e ativos financeiros disponíveis para venda e
mantidos para negociação são mensurados pelo valor
justo;
a valorização dos instrumentos de hedge é a base para a
contabilidade de operações de hedge.
Os dois principais métodos de mensuração dos instrumentos
financeiros são o custo amortizado e o valor justo.
1.5.1 Instrumentos financeiros mensurados ao custo
amortizado
Os instrumentos financeiros classificados como “investimentos
mantidos até o vencimento”, “empréstimos e recebíveis” originados pela
entidade ou "passivos financeiros não classificados como ao valor justo
por meio do resultado" devem ser mensurados ao custo amortizado em
aplicação do método dos juros efetivos.
O método dos juros efetivos é o método que consiste em calcular o
custo amortizado de um ativo financeiro ou de um passivo financeiro e de
alocar a receita ou a despesa de juros no período pela aplicação da taxa
efetiva de juros do instrumento. A taxa efetiva de juros é a taxa que
desconta exatamente os pagamentos ou recebimentos de caixa futuros
estimados durante a vida esperada do instrumento, de forma a que o valor
presente dos fluxos de caixa futuros descontados pela taxa efetiva de juros
seja igual ao valor do investimento inicial, no caso de um ativo financeiro,
ou ao valor do recebimento inicial, no caso de um passivo financeiro.
Ao calcular a taxa efetiva de juros, a entidade deve estimar os fluxos
de caixa considerando todos os termos contratuais do instrumento
financeiro (por exemplo, pagamento antecipado, opções de compra e
semelhantes), mas não deve considerar perdas de crédito futuras. O
cálculo inclui todas as comissões e parcelas pagas ou recebidas entre as
partes do contrato que integram a taxa efetiva de juros, os custos de
transação e todos os outros prêmios ou descontos. Existe um
pressuposto de que os fluxos de caixa e a vida esperada de grupo de
instrumentos financeiros semelhantes possam ser estimados
confiavelmente.
1.5.2 Instrumentos financeiros mensurados ao valor justo
Os instrumentos financeiros classificados como ativos ou passivos
financeiros mensurados ao valor justo por meio do resultado são
registrados no Balanço Patrimonial ao valor justo, com contrapartida no
resultado. Os instrumentos financeiros classificados nessa categoria são
mantidospara negociação quando adquiridos ou incorridos
principalmente para a finalidade de venda ou de recompra em prazo muito
curto. Todos os derivativos que não sejam usados em operações de
cobertura financeira – chamadas operações de hedge, cujo objetivo é a
proteção dos fluxos de caixa futuros ou do valor justo de ativos ou passivos
– devem ser registrados como mantidos para a negociação e
classificados nessa categoria.
A melhor evidência de valor justo é a existência de preços cotados
em mercado ativo. Se o mercado para um instrumento financeiro não
estiver ativo, a entidade estabelece o valor justo usando uma técnica de
avaliação. O objetivo da utilização de uma técnica de avaliação é
estabelecer qual teria sido o preço de transação à data de mensuração em
uma troca entre partes não relacionadas, sem favorecidos, motivada por
considerações comerciais normais.
1.6 Hedge
O uso mais comum dos derivativos consiste em realizar operações
de proteção, as quais podem ser chamadas operações de cobertura
financeira ou operações de “hedge”.
Nas operações de proteção (hedge), o objetivo da contratação de
instrumentos financeiros derivativos consiste em contratar uma posição
simétrica, em um determinado instrumento derivativo, à exposição que é
objeto de cobertura financeira (hedge). A contratação do derivativo tem
como objetivo eliminar ou reduzir significativamente o risco financeiro
decorrente da volatilidade do preço ou do valor justo do item coberto, que é
objeto de hedge e que está sendo protegido pelo derivativo. Quando o
hedge é perfeito, a perda financeira incorrida no item objeto de hedge é
compensada integralmente por um ganho financeiro simétrico que é
realizado no instrumento derivativo, e vice versa.
1.6.1 Contabilidade das operações de hedge (hedge
accounting)
A contabilidade das operações de hedge reconhece os efeitos de
compensação no resultado das alterações nos valores justos dos
instrumentos de hedge e do item protegido. O principal objetivo da
utilização de uma contabilidade de hedge consiste em registrar os ganhos
ou perdas decorrentes dos instrumentos financeiros derivativos nos
mesmos períodos contábeis em que os itens objeto de hedge afetam o
resultado contábil da entidade, de forma a respeitar o Princípio do
Confronto das Receitas e Despesas e reduzir a volatilidade do resultado
contábil criada pelo registro dos derivativos ao valor justo.
Portanto, a utilização de uma contabilidade de hedge pode fazer que
os impactos contábeis das operações de hedge sejam idênticos aos
econômicos, a partir do regime de competência.
A IAS 39 e o CPC 38 apresentam três modelos de hedge
accounting:
Hedge de valor justo: objetiva proteger o resultado da
empresa das despesas ou receitas decorrentes da
exposição de ativos ou passivos. Exemplo: ativos e
passivos indexados em dólar sujeitos a oscilação. Item
“hedgiado” e derivativo de hedge são apresentados no
Balanço Patrimonial; ganhos e perdas dos valores justos
são ajustados no resultado.
Hedge de fluxo de caixa: objetiva proteger o fluxo de caixa
da empresa de uma obrigação firme de um ativo ou
passivo não registrado, que no futuro, porém, afetará o
resultado. Exemplos: intenção de comprar no futuro e a
preço fixo um imobilizado utilizando a moeda dólar;
proteção de oscilações futuras. O derivativo de hedge é
apresentado no Balanço Patrimonial por seu valor justo, e
a parte efetiva desse valor justo é ajustada no patrimônio
líquido, enquanto a parcela ineficaz é ajustada no
resultado.
Hedge de investimento líquido no exterior: objetiva proteger
os investimentos societários realizados no exterior.
Exemplos: subsidiária brasileira na Inglaterra; proteção de
oscilações no valor do investimento em dólar.
1.6.2 Avaliação da eficácia do hedge
De acordo com Oliveira et al. (2008, p. 128), um hedge pode ser
considerado altamente efetivo quando, na contratação e durante o prazo de
maturação, o valor justo do item protegido possa ser integralmente
compensado com o valor justo do derivativo designado para hedge.
Segundo o IAS 39 e o CPC 38, o grau de efetividade de um hedge é
definido pelo range de 80% a 125%. É determinado, ainda, que a empresa
deve possuir documentada a estratégia de hedge que incluirá os
procedimentos para avaliação da sua efetividade.
Para Padoveze, Benedicto e Leite (2012), os instrumentos
financeiros derivativos classificados na categoria de hedge de fluxo de
caixa devem ter registrada a valorização ou desvalorização do instrumento
destinado a hedge, como segue:
a parcela efetiva do ganho ou perda com o instrumento de
hedge que é considerado um hedge efetivo deve ser
reconhecida diretamente no patrimônio líquido, em conta
específica;
a parcela não efetiva do ganho ou perda com o
instrumento de hedge deve ser reconhecida diretamente
na adequada conta de receita ou despesa, no resultado do
período.
PARA COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS
Para complementar os estudos sobre o que está exposto neste
capítulo, acesse o site http://www.cpc.org.br/pronunciamentos e leia os
documentos “CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e
Mensuração”; “CPC 39 – Instrumentos Financeiros: Apresentação”; e “CPC
40 (R1) – Instrumentos Financeiros: Evidenciação”.
TERMOS-CHAVE
http://www.cpc.org.br/pronunciamentos
Instrumento financeiro – é qualquer contrato que dê origem
a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo
financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade.
Ativo financeiro – é qualquer ativo que seja, por exemplo:
caixa; instrumento patrimonial de outra entidade; direito
contratual de receber caixa ou um direito contratual de
liquidar um instrumento financeiro com outra entidade sob
condições potencialmente favoráveis para a entidade.
Passivo financeiro – é qualquer passivo que seja, por
exemplo: uma obrigação contratual de entregar caixa ou
uma obrigação de liquidar um instrumento financeiro com
outra entidade sob condições potencialmente
desfavoráveis para a entidade.
Derivativos – instrumentos financeiros cuja característica
principal é a alteração do seu valor em resposta às
mudanças em seus indexadores. Exemplos: taxas de
juros, taxas de câmbio, preços de mercadorias etc.
Hedge accounting – contabilidade das operações de
hedge, representa o tratamento específico que reconhece
os ganhos e perdas verificados nos instrumentos
financeiros utilizados para proteção (hedge), objetivando
alinhar o tempo de reconhecimento do ganho ou perda
com as transações.
Parcela efetiva – aquela em que a variação no item de
hedge, diretamente relacionada ao risco correspondente, é
compensada pela variação no instrumento de hedge,
considerando o efeito acumulado da transação.
REFERÊNCIAS
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 14, de 05 de
dezembro de 2008. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_14.pdf>.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 38, de 02 de
outubro de 2009. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_38.doc>.
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_14.pdf
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_38.doc
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 39, de 2 de
outubro de 2009. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_39.doc>.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 40 (R1), de 1º
de junho de 2012. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC40_final%20_sem%20marcas_%20
18julho2012.pdf>.
IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária:
aplicável a todas as sociedades. De acordo com as normas
internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas, 2010.
OLIVEIRA, Alexandre Martins Silva de et al. Contabilidade
internacional. São Paulo: Atlas, 2008.
PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de; LEITE,
Joubert da Silva Jerônimo. Manual de contabilidade internacional:
IFRS – US Gaap – BR Gaap. Teoria e Prática. São Paulo: Cengage
Learning, 2012.
RAMOS, César. Derivativos, riscos e estratégias de hedge:
implementação, contabilização e controle. São Paulo, 2010.
__________
1 Sabrina Trejes Marengo. Mestre e bacharel em Ciências Contábeis pela
UNISINOS. Contadora e consultora autônoma.Atua como perito-contadora nas
áreas cível e trabalhista. Ministrante de cursos sobre contabil idade gerencial.
Integrante do Núcleo de Pesquisas em Gestão de Custos (NUPEGEC). Revisora
de artigos técnicos do Congresso Brasileiro de Contabil idade. Professora
auxil iar na UNISINOS, nos cursos de Ciências Contábeis e Administração, e
tutora dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Gestão Financeira
ofertados na modalidade a distância.
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_39.doc
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC40_final%20_sem%20marcas_%20%2018julho2012.pdf
CAPÍTULO 2
PASSIVO
Luciana Arenhart Menegat2
O presente capítulo define passivo como o conjunto das obrigações de uma
entidade e descreve as suas principais características. Além disso, discute formas de
mensuração do passivo, tais como o ajuste a valor presente. Também aborda sua
estrutura, considerando-se que o passivo divide-se em circulante e não circulante, e
descreve as principais contas que o compõem.
2.1 Definição
O passivo corresponde às exigibilidades de uma empresa.
Segundo o Pronunciamento Conceitual Básico do CPC (Comitê de
Pronunciamento Contábil), um passivo é uma obrigação presente, um
dever ou uma obrigação decorrente de transações ou eventos passados.
Para haver um passivo, é essencial que exista uma obrigação presente. A
obrigação se torna presente quando, após a entidade decidir adquirir
ativos no futuro, ocorre a sua entrega efetiva, sendo irrevogável essa
decisão. Assim, gera consequências econômicas para a entidade, que
desembolsará recursos para o pagamento da obrigação correspondente.
Logo, para fazer esse pagamento, a empresa usará recursos capazes de
trazer benefícios econômicos.
São exemplos de recursos usados para liquidar os passivos:
pagamento em dinheiro;
entrega de ativos;
prestação de serviços;
troca de obrigação;
transformação da obrigação em patrimônio líquido.
A obrigação pode ser extinta pela sua liquidação, pela renúncia do
credor ou pela perda dos seus direitos.
A seguir, apresentam-se exemplos de passivos:
a compra de estoques a prazo resulta em um aumento em
“Fornecedores” (que estão situados no passivo). Os
fornecedores são uma obrigação presente originada de
um evento que já ocorreu com a compra de estoques.
Assim, apesar de o passivo originar uma obrigação
presente, esta decorre de transações ou eventos já
ocorridos.
a s obrigações tributárias e demais dívidas referentes a
processos fiscais, trabalhistas e cíveis, chamadas
provisões para contingências, que serão abordadas ao
longo deste capítulo;
o recebimento de empréstimos, que gera a obrigação de
eliminar o montante recebido.
Os lançamentos contábeis que eliminam passivos podem ser
exemplificados como segue:
a) a extinção de obrigações a pagar de $ 200 com pagamento em
dinheiro:
D – Obrigações a pagar 200,00
C – Caixa 200,00
b) a extinção de obrigações a pagar de $ 200 com entrega de ativos:
D – Obrigações a pagar 200,00
C – Ativos imobilizados 200,00
c) a extinção de obrigações a pagar de $ 200 com substituição da
obrigação original:
D – Obrigações a pagar 200,00
C – Empréstimos a pagar 200,00
d) a extinção de obrigações a pagar de $ 200 com transferência para
o capital social:
D – Obrigações a pagar 200,00
C – Capital social 200,00
Uma vez apresentada a definição de passivo, descrevem-se, a
seguir, as suas características.
2.2 Características de um passivo
Para ser um passivo, é necessário que o elemento possua as
seguintes características:
exigir desembolso de dinheiro no futuro;
ser resultado de uma transação que já ocorreu;
ser possível sua mensuração, caso ainda não tenha
ocorrido;
ter como contrapartida um ativo ou uma despesa.
Assim, para um elemento ser classificado como passivo, é
necessário que exija desembolso de recursos para sua liquidação no
futuro e resulte de um evento já ocorrido. Caso não se trate de um evento
já ocorrido, deve ser possível mensurá-lo e, finalmente, deve ter ele um
ativo ou uma despesa como contrapartida.
2.3 Tipos de passivo
O passivo divide-se em passivo circulante e passivo não circulante.
Segundo o Artigo 180 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.941/07:
As obrigações da companhia, inclusive financiamentos para
aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificadas
no passivo circulante, quando se vencerem no exercício seguinte,
e no passivo não circulante, se tiverem vencimento em prazo
maior.
O parágrafo único do Artigo 179 da referida lei complementa:
Na companhia em que o ciclo operacional da empresa tiver
duração maior que o exercício social, a classificação no circulante
ou longo prazo terá por base o prazo desse ciclo.
As obrigações devem, pois, ser classificadas no passivo circulante
quando vencerem, no máximo, até o exercício social seguinte e no passivo
não circulante quando o vencimento ocorrer após o exercício social
seguinte. Caso o ciclo operacional tenha duração superior à do exercício
social, é necessário observá-lo para fazer tal diferenciação.
Em uma empresa industrial ou comercial, o ciclo operacional
corresponde ao período de tempo entre a compra de matérias-primas ou
mercadorias e a data do recebimento das vendas. De modo geral, as
empresas adotam o ciclo operacional de um ano, apesar de o ciclo
frequentemente ser inferior a tal período. Como exceções, podem citar-se
as construtoras de edifícios, os fabricantes de navios, entre outros setores,
cujas operações costumam durar mais de um ano.
Normalmente as entidades encerram o exercício social em 31 de
dezembro, como forma de simplificar seu trabalho, uma vez que a
legislação fiscal exige a apuração do imposto de renda a partir dos
resultados obtidos no final de cada exercício civil.
2.3.1 Passivo circulante
No passivo circulante são classificadas as obrigações cuja
liquidação deverá ocorrer até o final do exercício social seguinte ou do seu
ciclo operacional. O item 69 do Pronunciamento Técnico CPC 26, que trata
das apresentações das demonstrações contábeis, explica que geralmente
um passivo circulante deve obedecer aos seguintes critérios:
a. ocorrer sua liquidação durante o ciclo operacional normal
da empresa ou em até doze meses após a data de
encerramento do último balanço;
b. a empresa não tem direito incondicional de adiar a
liquidação do passivo durante, pelo menos, doze meses
após a data do balanço;
c. ser mantido especificamente para ser negociado.
Assim, se o passivo possuir ao menos uma dessas características,
será um passivo circulante. Caso contrário, será um passivo não
circulante, cujas características serão abordadas no próximo item.
Há situações, contudo, que podem não seguir os critérios
anteriores: contas a pagar, passivos relacionados a gastos com
empregados (como provisões para férias, provisão para 13º salário etc.) e
outros custos operacionais que devem ser apropriados pelo regime de
competência. Nessas situações, são considerados passivos circulantes,
independentemente de sua liquidação ocorrer em um período superior a
doze meses após a data do respectivo Balanço Patrimonial.
Como exemplos de passivos mantidos para serem negociados
(conforme item o c, supracitado), tem-se os passivos financeiros, descritos
no Pronunciamento Técnico CPC 38, tais como saldos bancários a
descoberto, parcela circulante de passivos financeiros não circulantes,
dividendos a pagar e imposto de renda. Esses passivos financeiros
devem ser considerados circulantes, independentemente de o prazo
original para seu pagamento ser superior a doze meses ou de terem eles
sido refinanciados com pagamento a longo prazo, isto é, com previsão
para liquidação após a data do balanço e antes de as demonstrações
contábeis serem publicadas. Quando uma entidade fizer o refinanciamento
de uma obrigação cujo acordo não depender somente da própria
empresa, tratar-se-á de uma obrigação classificada como circulante.
O CPC 26 determina a seguinte composição mínima do passivo
circulante:
contas a pagar;
provisões;
obrigações financeiras;
obrigações referentes à tributação;
obrigações referentesa ativos colocados à venda.
As contas que compõem o passivo circulante serão descritas ao
longo deste capítulo.
2.3.2 Passivo não circulante
No passivo não circulante encontram-se as obrigações da empresa
cujo pagamento deverá ocorrer após o exercício social seguinte ou com
prazo superior à duração do seu ciclo operacional. Todos os passivos que
não puderem ser considerados circulantes devem ser classificados como
não circulantes. O passivo não circulante é formado pelo passivo exigível a
longo prazo.
Os passivos financeiros vinculados a financiamentos de longo prazo
– cujos valores não são usados no ciclo operacional normal da empresa e
seu pagamento ocorre em um prazo superior a doze meses após a data
do Balanço Patrimonial – devem ser considerados passivos não
circulantes. Assim, caso a empresa tenha a expectativa ou poder para
solicitar o refinanciamento de uma obrigação por prazo superior a doze
meses após a data do balanço, independentemente do prazo inicial,
deverá classificar essa operação como não circulante.
Conhecer a composição do passivo não circulante permite
compreender a capacidade de pagamento de uma empresa, pois ele
evidencia seu endividamento e suas perspectivas financeiras a longo
prazo.
O CPC 26 determina que o passivo não circulante seja composto,
no mínimo, pelas contas a seguir, que serão abordadas ao longo deste
capítulo:
provisões (exceto as provisões constituídas por benefícios
de empregados e outros custos operacionais);
obrigações financeiras;
obrigações tributárias;
obrigações exigíveis a longo prazo, relacionadas a ativos
colocados para venda;
impostos diferidos.
Em algumas situações, é possível transferir obrigações do passivo
não circulante para o passivo circulante. Como exemplos, podem citar-se
as obrigações que, no momento do encerramento das demonstrações
contábeis, encontram-se no exigível a longo prazo, uma vez que seu
vencimento ocorrerá no final do exercício social seguinte. Assim, conforme
o tempo passa e a data do vencimento da obrigação se aproxima, essa
mesma obrigação, que antes se encontrava no exigível a longo prazo, pode
ser transferida para o passivo circulante.
2.4 Avaliação do passivo
O Artigo 184 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.941/07,
define que
No balanço, os elementos do passivo serão avaliados de acordo
com os seguintes critérios: 
I - as obrigações, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis,
inclusive Imposto sobre a Renda a pagar com base no resultado
do exercício, serão computados pelo valor atualizado até a data
do balanço; 
II - as obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de
paridade cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa
de câmbio em vigor na data; 
III – as obrigações, os encargos e os riscos classificados no passivo
não circulante serão ajustados ao seu valor presente, sendo os
demais ajustados quando houver efeito relevante.
A atualização dos elementos do passivo é calculada a partir dos
dados do resultado do exercício e até o seu encerramento. Já as
obrigações contraídas em moeda estrangeira, desde que prevista
paridade cambial, serão convertidas em reais, usando a taxa cambial
vigente na época. Finalmente, os valores contidos no passivo não
circulante deverão ser ajustados pelo seu valor presente, discutido no
tópico a seguir.
2.4.1 Ajuste a valor presente
O ajuste a valor presente de um passivo deve ser feito com base
exponencial pro rata die, conforme a origem de cada transação, uma vez
que geralmente as obrigações serão pagas no futuro pelos seus valores
originais ou por encargos financeiros abaixo dos valores de mercado.
Esses ajustes retificarão os valores dos passivos, e as reversões dos
ajustes dos passivos monetários deverão ser consideradas despesas
financeiras. 
No cálculo do ajuste a valor presente, devem ser consideradas as
taxas de liquidação e de desconto, que podem ser estabelecidas em
contrato ou, na sua falta, usadas as taxas de mercado. Caso sejam de
mercado, dependerão das avaliações de mercado, considerando o valor
do dinheiro no tempo e os riscos específicos do ativo e do passivo
avaliados. Além disso, a taxa deverá ser ajustada até a data da realização
do respectivo passivo e não poderá ser alterada após efetuado o ajuste a
valor presente.
Quanto maiores as taxas de juros implícitas, maior será a distorção
causada pelo não ajuste a valor presente. Para tentar sanar essa
distorção, a Lei nº 11.638/07 permite que as obrigações classificadas no
passivo não circulante sofram ajustes pelo seu valor presente e, desde
que o efeito desse ajuste seja relevante, também pode ser usada a
mesma regra para o passivo circulante.
Quando os juros ou passivos monetários já estiverem embutidos
nas operações a prazo, é preciso um tratamento diferenciado em relação
às operações à vista. Exige-se essa diferenciação, por ser necessário
conhecer o custo do dinheiro ao longo do tempo e sua respectiva despesa
financeira. Um exemplo seria um passivo monetário, como um
empréstimo registrado na contabilidade com o valor dos seus juros
embutidos. Nesse caso, o passivo deve ser reconhecido inicialmente pelo
seu valor presente.
Para um passivo estar sujeito ao ajuste a valor presente, além do
que foi descrito, deve ser resultado de alguma forma de financiamento, ter
um ativo ou passivo com recebimento ou pagamento em data diferente da
do reconhecimento de tal ajuste. A mensuração inicial do valor contábil do
passivo é feita a partir do valor presente.
Caso uma empresa considere que determinada despesa financeira
trazida a valor presente faz parte de suas operações, sendo necessário
efetuar a reversão dos juros como atividade operacional, deve explicar o
procedimento nas notas explicativas por ela publicadas, incluindo os
efeitos, as premissas e os fundamentos que justificam as taxas de
desconto adotadas no ajuste a valor presente. Além disso, deverá detalhar
nas notas explicativas os seguintes itens:
a descrição do passivo que será mensurado a valor
presente;
os objetivos da mensuração do valor presente: associados
ao seu reconhecimento inicial ou nova mensuração e os
motivos da administração para esse reconhecimento;
as taxas de juros, a descrição dos métodos de uso dos
descontos, os modelos adotados para mensuração de
riscos, os fluxos de caixa estimados e as respectivas
probabilidades associadas.
Para uma melhor compreensão, apresenta-se o exemplo a seguir,
que envolve a aquisição de mercadorias a prazo.
Exemplo 1 – Compra a prazo de estoques em 01/12/20x8 para pagamento em
31/01/20x9
Cálculo do valor líquido da compra (ajuste a valor
presente)
Valor da compra
$
50.000,00
Ajuste a valor presente do período entre 01/12/20x8 e
31/01/20x9
($
1.000,00)
Valor descontado da compra
$
49.000,00
Nesse exemplo, os estoques foram comprados por $ 50.000,00, já
incluídas as despesas financeiras decorrentes do pagamento a ser
realizado em 31/01/20x9. Após, é efetuado o ajuste pro rata die das
despesas financeiras equivalentes ao período entre 01/12/20x8 e
31/01/20x9, obtendo-se o valor líquido de $ 49.000,00.
Sendo assim, os lançamentos a ser realizados envolvem:
D – Estoques $ 49.000,00
D – Ajuste a valor presente $ 1.000,00
C – Fornecedores $ 50.000,00
Após o lançamento, o Balanço Patrimonial da empresa apresenta a
seguinte configuração:
Passivo circulante
Fornecedores $ 50.000,00
Ajuste a valor presente ($ 1.000,00)
Valor líquido $ 49.000,00
Observa-se que a conta “Ajuste a valor presente” possui natureza
devedora e é retificadora dos “Fornecedores”.
Transcorrido o primeiro mês (01/12/20x8 e 31/12/20x8), a despesa
financeira deve ser reconhecida:
D - Despesa – Financiamento de compras $ 500,00
C - Ajuste a valor presente $ 500,00
Após o lançamento, o Balanço Patrimonial assume a seguinte
configuração:
Passivo circulante
Fornecedores $ 50.000,00
Ajuste a valor presente ($ 500,00)
Valor líquido $ 49.500,00
Verifica-se, portanto, que o valor dos encargos financeiros
relacionados à compra a prazo é reconhecido como despesa no resultado
do exercício, sendoapropriado com o passar do tempo.
Exemplo 2 – Uma empresa compra estoques por $ 1.000,00 para pagar daqui a dois
anos, sendo que $ 100,00 referem-se a juros
No momento da compra, a operação é contabilizada da seguinte
forma:
D – Estoques $ 900,00
D - Ajuste a valor presente $ 100,00
C – Fornecedores $ 1.000,00
Após a contabilização da operação, o Balanço Patrimonial da
empresa mostra a seguinte situação no passivo:
Passivo circulante
Fornecedores $ 1.000,00
Ajuste a valor presente ($ 100,00)
Valor líquido $ 900,00
No final do primeiro ano, após a determinação de juros, o novo
ajuste a valor presente passa a $ 50,00. Assim, as despesas financeiras
nesse primeiro ano foram de $ 50,00 e, seguindo o regime de
competência, a contabilização deve ser realizada da seguinte forma:
D - Despesa – Financiamento de compras $ 50,00
C - Ajuste a valor presente $ 50,00
Dessa forma, o passivo não circulante apresenta-se conforme
segue:
Passivo circulante
Fornecedores $ 1.000,00
Ajuste a valor presente ($ 50,00)
Valor líquido $ 950,00
Finalmente, ao final do período a empresa deve realizar a
apropriação dos encargos financeiros referentes ao segundo ano e o
pagamento dos fornecedores:
D - Despesa – Financiamento de compras $ 50,00
C - Ajuste a valor presente $ 50,00
D - Fornecedores $ 1.000,00
C - Caixa $ 1.000,00
2.4.2 Provisões e passivos contingentes
O CPC 00 (R1), que trata da Estrutura Conceitual para Elaboração e
Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, destaca que alguns passivos
somente podem ser mensurados por meio de estimativas chamadas
provisões. Para fazer essas estimativas, é necessário usar de forma
simultânea o julgamento e a experiência profissional em relação a
situações semelhantes e, se preciso for, analisar relatórios elaborados
por especialistas independentes. Assim, cada situação deve ser avaliada
individualmente, e as mensurações devem ser realizadas sempre antes
dos efeitos tributários. Caso haja mudanças nas estimativas, as provisões
podem ser ajustadas ao final do período de divulgação, devendo ser
utilizadas apenas para os fins previstos originariamente.
Se essa provisão for uma obrigação presente e preencher os
demais requisitos, pode ser considerada um passivo, apesar de seu valor
ser determinado por meio de estimativas. Como exemplo, há as provisões
para pagamentos de eventuais garantias, como 13º salário ou férias,
contratos onerosos, reestruturação, garantias e reembolsos que são
obrigações presentes e cujos valores são mensurados por meio de
estimativas.
O CPC 25 aborda essas provisões e os passivos contingentes.
Uma provisão é reconhecida quando um evento já ocorrido tiver gerado
uma obrigação, que pode ser legal ou implícita, envolvendo desembolso
de recursos, cujo valor é estabelecido com base em uma estimativa
confiável.
Não é possível haver uma provisão no passivo relativa a um evento
que ainda não ocorreu, pois, para uma provisão ser reconhecida no
passivo, deve decorrer de uma obrigação de um evento já ocorrido. Por
essa razão, não podem ser reconhecidas como provisões do passivo as
despesas futuras planejadas, as provisões para apólices de seguro
privado para perdas, incertezas e outros eventos que ainda não ocorreram.
Uma obrigação, cuja liquidação é improvável ou seu valor não pode
ser estimado razoavelmente, também é um exemplo de passivo
contingente. Além disso, é possível ocorrer uma obrigação relacionada a
um evento futuro que não pode ser controlada pela empresa. Essa
obrigação presente pode exigir desembolsos de recursos, embora isso
nem sempre ocorra, não podendo ser feita uma estimativa confiável do
montante dessa obrigação.
O passivo contingente somente deve ser divulgado, não havendo
necessidade de reconhecê-lo na contabilidade. Porém, caso sua
liquidação seja remota ou improvável, não deve ser divulgado.
Apresentam-se, a seguir, exemplos de passivos contingentes:
Uma empresa está sofrendo um processo tributário, e a
possibilidade de perda é bem elevada. Deverá, então,
reconhecer uma provisão para o valor total da possível
perda, uma vez que provavelmente ela ocorrerá.
Os fiscais da Receita Federal examinaram os documentos
da empresa e emitiram um auto de infração relativamente
à forma de apuração do Imposto de Renda Pessoa
Jurídica. Seus administradores acreditam que tenham
procedido corretamente. Nesse caso, há incerteza sobre o
desfecho da questão judicial.
2.5 Estrutura do passivo
As contas do passivo devem ser organizadas seguindo a ordem
decrescente de exigibilidade. A seguir, apresenta-se a estrutura do passivo
circulante e do não circulante, com suas respectivas contas:
2 PASSIVO
2.1 Passivo circulante
2.1.1.1 Fornecedores
2.1.1.1.1 (-) Ajuste a valor presente
2.1.1.2 Empréstimos e financiamentos a curto prazo
2.1.1.2.1 Empréstimos bancários a curto prazo
2.1.1.2.2 Financiamentos bancários a curto prazo
2.1.1.2.3 (-) Encargos financeiros a transcorrer
2.1.1.2.4 Duplicatas descontadas
2.1.1.2.5 (-) Encargos financeiros a transcorrer
2.1.1.3 Salários e encargos sociais
2.1.1.3.1 Ordenadores e salários a pagar
2.1.1.3.2 13º a pagar
2.1.1.3.3 Férias a pagar
2.1.1.3.4 INSS a pagar
2.1.1.3.5 FGTS a recolher
2.1.1.3.6 Contribuição sindical a recolher
2.1.1.4 Obrigações fiscais
2.1.1.4.1 ICMS a recolher
2.1.1.4.2 IPI a recolher
2.1.1.4.3 Contribuição social a pagar
2.1.1.4.4 Imposto de renda a pagar
2.1.1.4.5 IOF a pagar
2.1.1.4.6 ISS a recolher
2.1.1.4.7 PIS a recolher
2.1.1.4.8 COFINS a recolher
2.1.1.4.9 Impostos retidos a recolher
2.1.1.4.10 Outros impostos e taxas a recolher
2.1.1.5 Debêntures e outros títulos de dívida
2.1.1.5.1 Conversíveis em ações
2.1.1.5.2 Não conversíveis em ações
2.1.1.5.3 Juros e participações
2.1.1.5.4 (-) Deságio a apropriar
2.1.1.5.5 (-) Custo de transação a apropriar
2.1.1.6 Outras obrigações
2.1.1.6.1 Adiantamento de clientes
2.1.1.6.2 Contas a pagar
2.1.1.6.3 Telefone a pagar
2.1.1.6.4 Energia elétrica a pagar
2.1.1.6.5 Seguros a pagar
2.1.1.6.6 Dividendos a pagar
2.1.1.6.7 Outras contas a pagar
2.1.1.7 Provisões
2.1.1.7.1 Provisão para férias
2.1.1.7.2 Provisão de FGTS sobre férias
2.1.1.7.3 Provisão de INSS sobre férias
2.1.1.7.4 Provisão para 13º salário
2.1.1.7.5 Provisão de FGTS sobre 13° salário
2.1.1.7.6 Provisão de INSS sobre férias
2.1.1.7.7 Provisão para contingências
2.2 Passivo não circulante
2.2.1.1 Fornecedores a longo prazo
2.2.1.2 (-) Ajuste a valor presente
2.2.1.3 Empréstimos e financiamentos a longo prazo
2.2.1.3.1 Empréstimos bancários a longo prazo
2.2.1.3.2 Financiamentos bancários a longo prazo
2.2.1.3.3 Títulos a pagar
2.2.1.3.4 (-) Encargos financeiros a transcorrer
2.2.1.4 Debêntures e outros títulos de dívida
2.2.1.4.1 Conversíveis em ações
2.2.1.4.2 Não conversíveis em ações
2.2.1.4.3 Juros e participações
2.2.1.4.4 (-) Deságio a apropriar
2.2.1.4.5 (-) Custo de transação a apropriar
2.2.1.5 Tributos diferidos
2.2.1.5.1 IR e CS diferidos
Segue a descrição de cada item elencado no plano de contas
apresentado anteriormente.
2.5.1 Fornecedores
A conta “Fornecedores” possui natureza credora e se refere às
compras com pagamento a prazo de matéria-prima ou de estoques para
revenda ou de prestação de serviços conforme o tipo de empresa
analisada.
A data usada na contabilização dependerá do momento da entrega
do direito de propriedade do bem, daí que algumas vezes tal data seja
diferente da data de entrega do bem. A conta “Fornecedores” pode ser
dividida em fornecedores nacionais e internacionais, caso a entidade atue
também no mercado internacional. Assim, como essa obrigação será
paga em moeda estrangeira, o valor da respectiva dívida deverá ser
atualizado, usando a taxa cambial da data do balanço, e a eventual
variação cambial será considerada uma despesa.
A conta “Fornecedores” poderá ser classificada no passivo
circulante ou não circulante, dependendo da data de vencimento da
obrigação. Nesse grupo há uma conta redutora, ou seja, de natureza
devedora, chamada “Ajuste a valor presente”, já descrita no presente
capítulo.
2.5.2 Empréstimos e financiamentosbancários
O grupo “Empréstimos e financiamentos bancários” encontra-se no
passivo e possui natureza credora. Caso o vencimento das parcelas seja
no curto prazo, isto é, ocorra até o término do exercício social, deverá essa
obrigação ser classificada no passivo circulante. Mas, se o vencimento das
parcelas for no longo prazo, ou seja, após o encerramento do exercício
social, será classificada no passivo não circulante.
Nos “Empréstimos e financiamentos bancários a curto prazo”
encontram-se as contas “Empréstimos bancários a curto prazo”,
“Financiamentos bancários a curto prazo”, “Encargos financeiros a
transcorrer” e “Duplicatas descontadas”. Já nos “Empréstimos e
financiamentos a longo prazo” situam-se os “Empréstimos bancários a
longo prazo”, “Financiamentos bancários a longo prazo”, “Títulos a pagar” e
“Encargos financeiros a transcorrer”.
Geralmente, os “Empréstimos bancários a curto prazo” são
realizados para captar capital de giro; já os “Financiamentos bancários”
são efetuados com o objetivo de adquirir bens do ativo imobilizado ou
realizar investimentos. O registro da obrigação de empréstimos ou
financiamentos deve ser feito no momento em que a empresa recebe os
recursos financeiros.
Exemplo: uma empresa realiza um empréstimo bancário de $
500.000,00 em 31/08/20x7 e começará a pagá-lo em 01/01/20x9. No
momento da entrada dos recursos (31/08/20x7), deve ser feito o seguinte
registro contábil:
D - Banco conta movimento 500.000,00
C – Empréstimos bancários a longo prazo 500.000,00
2.5.2.1 Encargos financeiros a transcorrer
A conta “Encargos financeiros a transcorrer” é redutora (de natureza
devedora) do grupo “Empréstimos e financiamentos bancários”, podendo
estar no curto ou no longo prazo. Contempla os montantes referentes a
encargos financeiros que incorrerão no futuro, permitindo a obtenção do
valor atual da conta “Empréstimos e financiamentos bancários”, ou seja,
descontados os montantes referentes aos juros do período ainda não
incorrido.
Exemplo: a Empresa XYZ contrata um empréstimo em 10/10/x8 para
pagamento em 31/12/x9. O valor do empréstimo na data do seu
vencimento será de $ 100.000,00, e os encargos financeiros a transcorrer
no período, de $ 10.000,00. A contabilização na data da contratação do
empréstimo (10/10/x8) ficará expressa da seguinte forma:
D - Banco conta movimento 90.000,00
D - Encargos financeiros a transcorrer 10.000,00
C - Empréstimos bancários a curto prazo 100.000,00
2.5.2.2 Duplicatas descontadas
A conta “Duplicatas descontadas” indica uma operação financeira
na qual uma empresa entrega duplicatas com vencimento em data futura
para um banco que lhe antecipa o respectivo valor e, em troca, cobra juros
antecipadamente. É classificada no passivo, pois, embora transfira a
propriedade desses títulos, a empresa é solidariamente responsável pelo
seu pagamento, caso o seu devedor não faça sua liquidação no momento
oportuno. Dessa forma, apesar de envolver um terceiro, a duplicata
descontada constitui uma obrigação para a empresa que a recebeu
originariamente. Pela legislação anterior, pertencia ao ativo e representava
uma conta redutora de “Clientes”. Atualmente, foi reclassificada e pertence
ao passivo circulante dentro de “Empréstimos e financiamentos bancários
a curto prazo”.
No momento da operação de desconto, contabilmente é creditada
pelo valor de face do respectivo título e, quando for feita sua liquidação,
será debitada.
Para contabilizar os encargos financeiros, é usada a conta redutora
de “Duplicatas descontadas”, chamada de “Encargos financeiros a
transcorrer”. No momento do desconto da duplicata, deve ser debitada a
conta “Encargos financeiros a transcorrer” e, quando for feita a sua
liquidação, o valor das “Duplicatas descontadas” será creditado. No
momento da liquidação, a despesa efetivamente incorre segundo o regime
de competência.
2.5.3 Salários e encargos sociais
O grupo “Salários e encargos sociais” encontra-se no passivo
circulante e possui natureza credora, podendo contemplar as contas
“Ordenados e salários a pagar”, “13º a pagar”, “Férias a pagar”, “INSS a
pagar”, “FGTS a recolher” e “Contribuição sindical a recolher”.
2.5.3.1 Ordenados e salários a pagar
Os “Ordenados e salários a pagar” também podem ser
denominados “Folha de pagamento a pagar”. Devem ser reconhecidos
como passivos quando forem pagos no mês seguinte ao qual se referem.
Nesse valor estão incluídos todos os benefícios dos funcionários, como
horas extras, adicionais por tempo de serviço, prêmios por assiduidades
etc.
2.5.3.2 Encargos sociais
Nesse grupo encontram-se os “Encargos sociais”, como o “13º a
pagar”, as “Férias a pagar”, o “INSS a pagar”, o “FGTS a recolher” e a
“Contribuição sindical a recolher”. Sua base de cálculo deverá seguir as
regras legais vigentes. 
Os “Encargos sociais” decorrem da folha de pagamento e ainda não
foram pagos. Seus valores deverão ser apropriados como despesa no
mesmo mês dos “Ordenados e salários a pagar”, segundo o regime de
competência. O valor do INSS a pagar deverá englobar a parcela de
encargo devida pela empresa e a parcela devida pelo empregado.
2.5.4 Obrigações fiscais
As “Obrigações fiscais” situam-se no passivo circulante e possuem
natureza credora. Nesse grupo encontram-se o “ICMS a recolher”, o “IPI a
recolher”, a “Contribuição social a pagar”, o “Imposto de renda a pagar”, o
“IOF a pagar”, o “ISS a recolher”, o “PIS a recolher”, o “COFINS a recolher”,
os “Impostos retidos a recolher” e os “Outros impostos e taxas a recolher”,
referentes a fatos geradores que já ocorreram.
2.5.4.1 ICMS a recolher
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a
recolher é um imposto estadual. É calculado sobre o valor das vendas,
deduzido o valor recolhido na aquisição dos estoques ou matérias-primas
conforme a legislação vigente. Sua apuração segue o Princípio de
Competência, sendo registrados o valor referente ao período já ocorrido e
o valor a recolher no período subsequente. Caso a empresa tenha ICMS a
compensar, esse montante deverá ser registrado no ativo.
2.5.4.2 IPI a recolher
O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é um imposto
federal. É calculado a partir das vendas realizadas, deduzindo-se o valor
pago no momento das compras que geram direito a crédito segundo as
regras da legislação vigente. As empresas comerciais não recolhem esse
tipo de imposto, uma vez que já está agregado ao valor do bem adquirido.
2.5.4.3 Imposto de renda a pagar e contribuição social a recolher
O “Imposto de renda a pagar e a contribuição social a recolher”
devem ser registrados no passivo circulante, conforme a empresa
contabiliza seu lucro. Nesse caso, é utilizado o lucro fiscal, que pode ser
diferente do lucro contábil, em virtude de diferenças entre as receitas e
despesas usadas na apuração do respectivo lucro.
2.5.5 Debêntures e outros títulos de dívida
As debêntures são empréstimos contraídos com pessoas físicas ou
jurídicas, desde que não sejam instituições financeiras, lançadas na bolsa
de valores e cujas condições de resgate no futuro devem ser estipuladas
previamente. Representam títulos negociáveis no longo prazo e
proporcionam aos seus titulares direitos de créditos em relação às
empresas emissoras. Assim, apesar de realizado no mercado acionário,
seu tratamento é semelhante ao de um empréstimo. Marion (2010)
destaca as seguintes vantagens das debêntures: juros fixos ou variáveis,
correção, participação no lucro, prêmio por reembolso e eventual
conversibilidade em ações. 
O grupo “Debêntures e outros títulos de dívida” pode ser composto
pelas contas “Conversíveis em ações”, “Não conversíveis em ações”,
“Juros e participações”, “Deságio a apropriar” e “Custo de transação a
apropriar”. Conforme o vencimento da obrigação, pode ser classificado no
passivo circulante ou no não circulante.
2.5.5.1 Conversíveis em ações e não conversíveis em ações
Segundo Padoveze (2009), as debêntures resgatáveis no
vencimento são tratadas como empréstimos e as debêntures conversíveis
em ações proporcionam,no momento do vencimento, a opção de
transformar o montante em ações da própria empresa ou seu resgate
como um empréstimo, na data do seu vencimento. Esses tipos de
passivos são classificados como não circulantes quando seu vencimento
ultrapassar o final do exercício social seguinte e, conforme o vencimento
vai se aproximando, é feita a sua reclassificação para o passivo circulante.
2.5.5.2 Deságio a apropriar e custo de transação a apropriar
O “Deságio a apropriar” e o “Custo de transação a apropriar” são
contas redutoras das debêntures e de outros títulos de dívida pertencentes
ao passivo circulante, ou seja, são contas de natureza devedora. Isso pode
ocorrer quando uma empresa emite debêntures com prêmios que
permitem que os valores recebidos na ocasião de sua emissão sejam
superiores a seu valor nominal, devido ao fato de as condições de
emissão de uma apólice serem muito favoráveis e os investidores
acharem vantajoso pagar um adicional. 
2.5.6 Outras obrigações
A conta “Outras obrigações”, encontrada no passivo circulante,
possui natureza credora. Pode ser composta pelas seguintes contas:
“Adiantamento de clientes”, “Contas a pagar”, “Telefone a pagar”, “Energia
elétrica a pagar”, “Seguros a pagar”, “Dividendos a pagar” e “Outras contas
a pagar”.
2.5.6.1 Contas a pagar
Em “Contas a pagar”, encontram-se os valores referentes às
compras de estoques ou ao uso de serviços nas operações de uma
entidade, ou à compra de mercadorias para revenda. Constituem um
passivo a pagar decorrente de um bem ou serviço com pagamento a
prazo. Devem ser reconhecidas no passivo e registrada uma respectiva
despesa, cujo pagamento ocorrerá posteriormente. Nessa conta também
estão incluídas outras obrigações que não possuem uma conta
específica.
2.5.6.2 Adiantamentos de clientes
Os “Adiantamentos de clientes” contemplam os recursos que
entram em uma empresa por conta da futura entrega de bens ou serviços,
devendo ser registrados no passivo no momento de seu recebimento.
Esse tipo de antecipação é comum para empresas fornecedoras de bens
ou serviços. No passivo deve ser registrado o valor da obrigação contratual
referente à produção do bem ou à prestação do serviço. Caso não ocorra a
produção do bem ou a prestação do serviço, deverá ser devolvido o
montante recebido antecipadamente. Em geral, essa obrigação é
classificada no passivo circulante, mas pode ser um passivo não
circulante, caso exigida após o término do exercício social seguinte.
Exemplo de contabilização:
na data do recebimento do montante:
D - Caixa
C - Adiantamentos de clientes
no final do exercício social o valor correspondente ao
serviço prestado ou ao bem recebido deve ser
transferido de “Adiantamentos de clientes” para uma
conta de receita:
D - Adiantamentos de clientes
C - Receita de serviços
2.5.7 Provisões
As “Provisões” situam-se no passivo circulante e possuem natureza
credora. Como exemplos de provisões que compõem o passivo circulante,
podem-se citar “Provisão para férias”, “Provisão de FGTS sobre férias”,
“Provisão de INSS sobre férias”, “Provisão para 13º salário”, “Provisão de
FGTS sobre 13° salário”, “Provisão de INSS sobre férias” e “Provisão para
contingências”. As provisões devem ser baixadas da contabilidade à
medida que seu pagamento ocorre, como no caso da “Provisão para
férias” e da “Provisão para 13º salário”. A seguir, serão apresentadas
algumas provisões de forma mais detalhada.
2.5.7.1 Provisão para férias
A “Provisão para férias” deve ser constituída para garantir o
pagamento da remuneração das férias dos empregados da empresa. O
valor máximo a ser constituído dependerá da remuneração mensal do
empregado e do número de dias de férias a que tenha direito. Sua
contrapartida na DRE é a despesa operacional chamada férias.
2.5.7.2 Provisão para 13º salário
A “Provisão para 13º salário” pode ser tratada como um custo ou
despesa operacional. Deverá ser constituída mensalmente na base de
1/12 da folha de pagamento, apesar de geralmente ser paga no final do
ano. Caso a empresa encerre suas demonstrações em 31/12 e realize o
pagamento do 13º salário no prazo legal, não deverá restar saldo nessa
conta.
2.5.7.3 Provisão para contingências
A “Provisão para contingências” deve ser constituída com o objetivo
de evitar eventuais perdas no futuro. Como exemplos, podem citar-se
perdas decorrentes de ações trabalhistas, multas previstas por quebra de
contratos, autuações fiscais, entre outras. 
Além disso, é importante diferenciar uma provisão de uma reserva
para contingência: a provisão é constituída quando o possível fato gerador
já ocorreu, enquanto na reserva o fato gerador ainda não ocorreu.
PARA COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o passivo e os
conceitos discutidos neste capítulo, recomenda-se a leitura de “CPC
Pronunciamento Conceitual Básico (R1)”, “CPC 12 – Ajuste a Valor
Presente”, “CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos
Contingentes”, “CPC 26 (R1) – Apresentações das Demonstrações
Contábeis” e “CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e
Mensuração”.
TERMOS-CHAVE
Passivos – são as obrigações presentes de uma empresa,
decorrentes de um evento já ocorrido, cujo pagamento
exigirá desembolsos monetários.
Provisões – são passivos cujas datas de vencimentos e
respectivos montantes são passíveis de mensuração
exata. 
Passivos contingentes – são possíveis obrigações
decorrentes de eventos passados, cuja ocorrência ou não
depende de eventos futuros incertos; ou decorrentes de
uma eventual obrigação presente, oriunda de um evento
passado cujo pagamento não seja provável ou quando
seu valor não possa ser estimado de forma razoável. 
Ajuste a valor presente – é uma conta retificadora do
passivo que representa o efeito da variação do dinheiro no
tempo; constitui uma provisão cujo valor deverá ser
equivalente ao valor atual dos desembolsos esperados,
os quais devem ser suficientes para uma eventual
liquidação da obrigação. A aplicação das taxas de
desconto ocorre antes da incidência do imposto de renda
sobre o montante em questão.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Marcelo C. Curso básico de contabilidade. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
______________. Manual prático de interpretação contábil da lei
societária. São Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL. Lei nº 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF:
Senado Federal, 1976. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm >. Acesso
em: 30 jul. 2013.
BRASIL. Lei nº 11.638/07, de 28 de dezembro de 2007. Brasília, DF:
Senado Federal, 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 31 jul. 2013.
BRASIL. Lei nº 11.941/09, de 27 de maio de 2009. Brasília, DF:
Senado Federal, 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l11941.htm>. Acesso em: 20 jul. 2013.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 12, de 05 de
dezembro de 2008. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_12.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2013.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 25, de 26 de
junho de 2009. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_25.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2013.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 26 (R1), de 02
de dezembro de 2011. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC26_R1_final.doc>. Acesso em: 21 jul.
2013.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 38, de 02 de
outubro de 2009. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_38.doc>. Acesso em: 21 jul. 2013.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis – Pronunciamento
Conceitual Básico (R1), de 02 de dezembro de 2011. Disponível
em: <http://www.cpc.org.br/pdf/CPC00_R1.pdf>. Acesso em: 21 jul.
2013.
IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária:
aplicável a todas as sociedades. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_12.pdfhttp://www.cpc.org.br/pdf/CPC_25.pdf
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC26_R1_final.doc
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_38.doc
http://www.cpc.org.br/pdf/CPC00_R1.pdf
KANITZ, Stephen; RAMOS, Alkindar de Toledo; CASTILHO, Edison;
BENATTI, Luiz. Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2010.
MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 16. ed. São
Paulo: Atlas, 2012.
PADOVEZE, Clóvis Luís. Manual de contabilidade básica:
contabilidade introdutória e intermediária. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2009.
SANTOS, José Luiz dos; SCHMIDT, Paulo. Contabilidade societária.
São Paulo: Atlas, 2011.
__________
2 Luciana Arenhart Menegat. Mestre em Educação em Ciências e Matemática
pela PUCRS. Especialista em Auditoria e Perícia pela Faculdade Porto-
Alegrense. Bacharel em Ciências Atuariais e em Ciências Contábeis pela
UFRGS. Professora nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Gestão
da Produção Industrial na Universidade Feevale e no curso de Ciências
Contábeis da UNISINOS.
CAPÍTULO 3
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Sabrina Trejes Marengo
O presente capítulo versa sobre os principais aspectos relacionados ao patrimônio
líquido e sobre o modo como proceder para a sua contabil ização. Apresenta aspectos
relacionados ao capital social, às reservas de capital, aos ajustes de avaliação
patrimonial, às reservas de lucros, às ações em tesouraria e aos prejuízos acumulados.
Para um melhor entendimento, faz-se necessário o conhecimento de alguns conceitos
como provisões e reservas, entre outros, que estão abordados neste capítulo.
3.1 Patrimônio líquido
No Balanço Patrimonial, a diferença entre o valor dos ativos e o valor
dos passivos representa o patrimônio líquido (IUDÍCIBUS et al., 2010).
Trata-se, portanto, de um valor residual, pois seu montante depende da
avaliação e mensuração de ativos e passivos (exigibilidades),
demonstrado conforme a seguinte equação:
Patrimônio líquido = ativos (bens e direitos) – passivos exigíveis
No Brasil, tal equação está representada no Balanço Patrimonial da
seguinte forma:
ATIVO
Bens e direitos
PASSIVO
Obrigações
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Total do ativo Total do passivo
De acordo com a Lei nº 6.404/76, com redação modificada pela Lei
nº 11.941/09, o patrimônio líquido é dividido nos seguintes itens:
capital social;
reservas de capital;
ajustes de avaliação patrimonial;
reservas de lucros;
ações em tesouraria;
prejuízos acumulados.
Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 26 – Apresentação das
Demonstrações Contábeis, após a identificação do patrimônio líquido da
entidade, deve ser apresentada de forma destacada a participação de não
controladores, ou minoritários, no patrimônio líquido das controladas, no
caso das demonstrações consolidadas.
Necessário destacar que a Lei nº 6.404/76, em seu Art. 202, § 6º,
com redação dada pela Lei nº 10.303/01, determina que os lucros que não
forem destinados para as reservas (reserva legal, reserva estatutária,
reserva para contingências, reserva de incentivos fiscais, reserva para
retenção de lucros, reserva de lucros a realizar) deverão ser distribuídos a
título de dividendos.
Além disso, ressalta-se que nas sociedades que não sejam por
ações podem existir lucros retidos e não destinados às reservas ou à
distribuição aos sócios. Nesse caso, podem ficar sob a rubrica lucros
acumulados.
Nesse ponto, antes de discutir cada um dos elementos que
compõem o patrimônio líquido, cumpre entender as diferenças existentes
entre provisões e reservas.
As provisões são acréscimos de exigibilidade que reduzem o
patrimônio líquido, e cujos valores ou prazos não são ainda totalmente
definidos. Representam estimativas de valores a desembolsar que,
apesar de financeiramente ainda não efetivadas, derivam de fatos
geradores contábeis já ocorridos (p. ex., estimativas de valores a pagar a
título de indenizações relativas a tempo de serviço já transcorrido).
Importante: obrigações liquidadas e certas, que tenham seus
valores já definidos, não são provisões (p. ex., salários a pagar, ICMS a
recolher etc).
As reservas, por sua vez, correspondem a valores recebidos dos
sócios ou terceiros que não representam aumento de capital ainda não
formal e juridicamente incorporado ao capital social (reservas de capital),
ou que se originam de lucros não distribuídos aos proprietários.
Importante: as reservas não possuem qualquer característica de
exigibilidade imediata ou remota; se houver, deixam de ser reservas para
passarem ao passivo (p. ex., utilização de saldo para resgate de partes
beneficiárias etc.).
3.1.1 Capital social
O capital social representa valores recebidos pela empresa dos
sócios, ou que foram por ela gerados e formalmente incorporados ao
capital – ou seja, lucros que os sócios renunciaram e incorporaram como
capital.
O Art. 182 da Lei nº 6.404/76 estabelece que a conta do capital
social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda
não realizada. Assim, a empresa deve ter a conta de “Capital subscrito” e a
conta devedora de “Capital a integralizar”, sendo que o líquido entre as
duas contas representa o “Capital realizado”.
A seguir, apresentam-se os lançamentos contábeis envolvidos na
subscrição e integralização do capital social.
a) na subscrição feita pelos acionistas:
D – Capital a integralizar $ 200.000,00
C – Capital subscrito $ 200.000,00
b) na integralização pelos acionistas, cabe lembrar que pode ser
esta em dinheiro ou em bens:
D – Bancos, imobilizado etc. $ 70.000,00
C – Capital a integralizar $ 70.000,00
Após a contabilização, os elementos ficam representados da
seguinte forma no patrimônio líquido do Balanço Patrimonial:
Capital social $ 200.000,00
Menos: a integralizar $ 130.000,00
Capital realizado $ 70.000,00
3.1.2 Reserva de capital
As reservas de capital estão previstas no § 1º do Art. 182 da Lei
6.404/76 e, em regra, decorrem da diferença entre o valor das ações,
considerando ações como valor nominal, e aquele efetivamente subscrito
pelos acionistas.
Apresenta-se o seguinte exemplo: uma empresa possui patrimônio
líquido de $ 15.000,00, composto por 15 mil ações valorizadas a $ 1,00
cada. Os acionistas decidem integralizar cinco mil ações, pelas quais é
pago o valor de $ 5.500,00. Com essa integralização, o patrimônio líquido
será de $ 15.500,00 e estará desdobrado da seguinte forma:
Capital social $ 20.000,00
Reserva de capital $ 500,00 (ágio na comissão de ações)
Patrimônio líquido $ 20.500,00
Importante: segundo o Art. 200 da Lei 6.404/76, as reservas de
capital somente poderão ser utilizadas para
I - absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros acumulados
e as reservas de lucros (artigo 189, parágrafo único); 
II - resgate, reembolso ou compra de ações; 
III - resgate de partes beneficiárias; 
IV - incorporação ao capital social; 
V - pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa
vantagem lhes for assegurada (artigo 17, § 5º). 
Parágrafo único. A reserva constituída com o produto da venda de
partes beneficiárias poderá ser destinada ao resgate desses títulos.
3.1.3 Ajuste de avaliação patrimonial
“Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial,
enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao
regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de
valores atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da
sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou em normas
expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na
competência conferida pelo § 3o do art. 177 desta Lei (Redação dada pela
Lei nº 11.941, de 2009).”
Assim, devem ser incluídas nessa conta todas as variações de
preço de mercado dos instrumentos financeiros, ativos ou passivos, que
devam, em função do regime de competência, transitar pelo resultado
posteriormente.
Importante: esses conceitos são aplicáveis igualmente aos ativos e
passivos sujeitos à avaliação a valor justo!
3.1.4 Reservas de lucros
As reservas de lucros são as contas de reservas constituídas pela
apropriação de lucros da companhia (§ 4º do Art. 182da Lei nº 6.404/76).
No caso das sociedades por ações, em princípio devem elas distribuir
todos os lucros obtidos; só não podem ser distribuídos os determinados
pela lei (reserva legal), os autorizados pela lei (reserva de contingências e
reserva de lucros a realizar) e aqueles que a assembleia dos acionistas
concordar em não distribuir após justificativa fundamentada pela
administração (reserva de lucros para expansão). A sociedade anônima
não pode, em hipótese alguma, reter lucros sem total justificativa. No caso
das sociedades limitadas e outras, a obrigatoriedade dessa distribuição
não existe, pois se trata de assunto exclusivo da alçada dos sócios.
Segundo a º Lei nº 6.404/76, as contas de reservas de lucros podem
ser
Reserva legal: constituída para dar proteção ao credor,
deverá ser constituída do lucro líquido do exercício, 5%
(cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer outra
destinação, na constituição da reserva legal, que não
excederá 20% (vinte por cento) do capital social.
Reservas estatutárias: são constituídas por determinação
do estatuto da companhia, como destinação de uma
parcela dos lucros do exercício.
Reservas para contingências: a assembleia geral poderá,
por proposta dos órgãos da administração, destinar parte
do lucro líquido à formação de reserva, com a finalidade de
compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro
decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser
estimado.
Reservas de lucros a realizar: constituídas como uma
destinação dos lucros do exercício, sendo optativa a sua
constituição.
Reservas de lucros para expansão: para atender ao projeto
de investimento, a companhia poderá reter parte dos
lucros do exercício.
Reservas de incentivos fiscais: a assembleia geral poderá,
por proposta dos órgãos de administração, destinar à
reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido
decorrente de doações ou subvenções governamentais
para investimentos, que poderá ser excluída da base de
cálculo do dividendo obrigatório.
Reserva especial para dividendo obrigatório não
distribuído: a companhia deverá constituir essa reserva de
lucros quando tiver dividendo obrigatório a distribuir, mas
sem condições financeiras para seu pagamento.
3.1.5 Ações em tesouraria
Ações em tesouraria são as ações da companhia adquiridas pela
própria sociedade. Como regra, não é permitido às companhias (abertas
ou fechadas) adquirir suas próprias ações, a não ser nas seguintes
ocasiões:
a. operações de resgate, reembolso ou amortizações de
ações;
b. aquisição para permanência em tesouraria ou
cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros
ou reservas (exceto legal) e sem diminuição do capital
social ou recebimento dessas ações por doação;
c. aquisição para diminuição do capital (limitado pela
legislação).
As operações com as próprias ações estão previstas no Art. 30 da
Lei nº 6.404/76. Em se tratando de companhia aberta, deverão ser
observadas as normas expedidas pela CVM.
Para as companhias abertas, a CVM, por meio da Instrução CVM nº
10/80, veda a aquisição das próprias ações, quando
a. importar diminuição do capital social;
b. requerer a utilização de recursos superiores ao saldo de
lucros ou reservas disponíveis constantes do último
balanço;
c. criar, por ação ou emissão, direta ou indiretamente,
condições artificiais de demanda, oferta ou preço das
ações, ou envolver práticas não equitativas;
d. tiver por objeto ações não integralizadas ou pertencentes
ao acionista controlador;
e. estiver em curso oferta pública de aquisição de suas
ações.
A Instrução CVM nº 268/97 ressalta que as companhias abertas não
poderão manter em tesouraria ações da própria empresa em quantidade
superior a 10% de cada classe de ações em circulação no mercado,
incluindo aquelas mantidas na tesouraria de controladas e coligadas.
A Lei nº 6.404/76, em seu Art. 4º-A, § 2º, considera ações em
circulação no mercado todas aquelas emitidas, exceto as de propriedade
do acionista controlador, de membros de diretoria, de conselheiros de
administração e as em tesouraria.
Nesse ponto, é importante lembrar que
o preço de aquisição das ações não poderá ser superior
ao valor de mercado e, na hipótese de aquisição de ações
que possuam prazo predeterminado para resgate, o preço
de compra não poderá ser superior ao valor fixado para o
resgate;
as ações, enquanto mantidas em tesouraria, não terão
direitos patrimoniais ou políticos.
No que diz respeito à classificação, a operação de compra de ações
pela própria companhia é como se fosse uma devolução de patrimônio
líquido; por esse motivo, a conta que as registra (devedora) deve ser
apresentada como conta redutora do patrimônio.
À medida que a companhia alienar ações em tesouraria, tal
operação gerará resultados positivos ou negativos. Os custos de
transação incorridos na alienação devem ser tratados como redução do
lucro ou acréscimo do prejuízo dessa operação. Por se tratar de operações
que não fazem parte das operações normais ou acessórias da
companhia, não devem ser contabilizadas como receitas ou despesas –
ou seja, tais resultados não integram a Demonstração de Resultado do
Exercício.
Ocorrendo lucro, deverá ser registrado a crédito de uma reserva de
capital, pois sua natureza é similar à do ágio na emissão de ações.
Ocorrendo prejuízo, tal diferença deverá ser debitada na mesma
conta de reserva de capital que registrou lucros anteriores nessas
transações, até o limite de seu saldo, e o excesso (prejuízos apurados nas
transações superiores aos lucros já registrados) deverá ser considerado a
débito da própria conta de reserva que originou os recursos para aquisição
das próprias ações.
3.1.6 Prejuízos acumulados
Com a vigência da Lei nº 11.638/07, foi extinta a possibilidade de
manutenção e apresentação de saldos a título de lucros acumulados no
Balanço Patrimonial, mas apenas para o caso das sociedades por ações,
o que não significa que a conta deverá ser eliminada dos planos de contas
dessas entidades.
A conta “Lucros ou prejuízos acumulados” continuará sendo
utilizada pelas companhias para receber o resultado do período, se
positivo, e destiná-lo de acordo com as políticas da empresa. Mas no
Balanço Patrimonial só poderá aparecer quando tiver saldo negativo, e
será denominada “Prejuízos acumulados”. Nas demais sociedades
poderá aparecer também com saldo positivo, e terá o nome completo de
“Lucros ou prejuízos acumulados”, ou simplesmente “Lucros
acumulados”.
A Lei nº 11.638/07, posteriormente ratificada pela Lei nº 11.941/09,
ao estabelecer a nova estrutura do patrimônio líquido, prevê apenas a
apresentação de resultados remanescentes no Balanço Patrimonial se
estes forem negativos, devendo ser utilizada, nesses casos, a conta
“Prejuízos acumulados” (devedora).
Entretanto, a Lei nº 6.404/76, no parágrafo único de seu Art. 189,
determina que “o prejuízo do exercício será obrigatoriamente absorvido
pelos lucros acumulados, pelas reservas de lucros e pela reserva legal,
nessa ordem”, além de explicitar, no Art. 200, que as reservas de capital
poderão ser utilizadas para absorver prejuízos, quando as reservas de
lucros não forem suficientes. Assim sendo, entende-se que a
apresentação da conta “Prejuízos acumulados” no patrimônio líquido das
companhias só deverá ocorrer se as empresas não mais possuírem
reservas de lucros que possam ser utilizadas para absorver tais prejuízos,
podendo ainda ser utilizadas para absorção as reservas de capital.
3.1.7 Outras contas do patrimônio líquido
Segundo Iudícibus et al. (2010), além dos itens previstos na Lei nº
6.404/76, o grupo “Patrimônio líquido” pode apresentar outras contas para
melhor evidenciar a situação patrimonial da companhia, bem como para
atender a outras normatizações que estabeleçam a necessidade da
divulgação.
Como exemplo de outras contas que podem ser encontradas no
“Patrimônio líquido”, tem-se “Opções outorgadas reconhecidas”; “Gastos
na emissão de ações”; “Ajustes acumulados de conversão”; assim como
contas extintas, mas possuidoras de saldos remanescentes,

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