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FUNDAMENTOS DA GEOPOLÍTICA

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FUNDAMENTOS DA 
GEOPOLÍTICA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autores: Carlos José Espíndola
 Rosimar Bizello Müller
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Profa. Cristina Danna Steuck 
 Profa. Jociane Stolf
 
Revisão de Conteúdo: Prof. Vilmar Klemann
Revisão Gramatical: Sandra Pottmeier
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
 320.12
 E777f Espíndola, Carlos José
 Fundamentos da Geopolítica/ Carlos José Espíndola [e] 
 Rosimar Bizello Müller. Centro Universitário Leonardo
 da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 171.
 p.: il
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-267-2
 1. Geopolítica 2. Ciências Políticas 
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci 
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
Copyright © UNIASSELVI 2010
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Carlos José Espíndola
Possui graduação em Geografia pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (1988), 
mestrado em Geografia (Geografia Humana) pela 
Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em 
Geografia (Geografia Humana) pela Universidade 
de São Paulo (2002). Atualmente é professor da 
Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência 
na área de Geografia, com ênfase em Geografia Humana, 
atuando principalmente nos seguintes temas: 
geografia, agroindústrias, estratégias empresariais, 
competitividade e desenvolvimento regional e 
urbano.
Rosimar Bizello Müller
É mestranda em Geografia pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 
especialista em Educação Ambiental (2007) pela 
Faculdade do SENAC - FATEC (Florianópolis - SC). 
Possui graduação (licenciatura plena) em Geografia 
(2001) pela Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), bacharelado em Geografia (2003) também 
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 
Atualmente, atua como Tutora de Geografia no NEAD/
Núcleo de Ensino a Distância, na UNIASSELVI/ 
Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Sumário
APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Histórico da Geopolítica ....................................................... 9
CAPÍTULO 2
A Organização do Espaço Mundial .................................... 23
CAPÍTULO 3
Os Conflitos Étnicos: Nacionalistas e Separatistas ...... 79
CAPÍTULO 4
Os Desafios Mundiais do Século XXI ............................... 117
CAPÍTULO 5
O Brasil na Geopolítica Internacional ............................ 145
APRESENTAÇÃO
Olá caros estudantes! Bem vindos a mais uma disciplina do curso de 
Metodologia do Ensino de Geografia. 
Você certamente já ouviu falar em globalização, blocos econômicos, 
hegemonia militar, neoliberalismo, recursos energéticos, aquecimento global, 
crescimento populacional, escassez de água, nova ordem mundial, conflitos 
étnicos nacionalistas e separatistas, crise econômica, agribusiness, dentre outros. 
Temas como estes são fundamentais para compreendermos a dinâmica do 
mundo atual. Ademais, é preciso entender as relações entre política e território, 
independentemente da escala de ocorrência dos acontecimentos (conflitos, 
ascensões e depressões econômicas, bem como sociais, dentre outros), pois, 
estes repercutem em todo o espaço geográfico, e claro, de maneira geral, afeta a 
todos nós. Assim, entender a Geopolítica é imprescindível para compreendermos 
o mundo onde estamos inseridos, no que concerne principalmente a produção e 
organização do espaço geográfico e a relação da sociedade com seu meio. 
O estudo da disciplina de Fundamentos da geopolítica está pautado em cinco 
capítulos. No primeiro capítulo veremos o surgimento da Geopolítica, bem como, a 
distinção entre a geografia política. Veremos também o processo de desenvolvimento 
da Geopolítica ao longo dos tempos e as novas abordagens e/ou teorias.
No segundo capítulo vamos apresentar como o espaço geográfico foi 
sendo organizado e produzido ao longo de alguns períodos da história política 
e econômica da humanidade, principalmente após a Primeira Guerra Mundial. 
Veremos também a relação da geopolítica com a organização do espaço geográfico 
no que tange principalmente o liberalismo econômico e o processo de globalização.
No terceiro capítulo iremos abordar os principais conflitos étnicos 
internacionais da Europa, Ásia e África, bem como, as múltiplas razões que 
justificam tais conflitos.
O capítulo quatro trará os desafios econômicos para o século XXI, no que 
tange principalmente os efeitos do crescimento populacional, a infra-estrutura 
energética no mundo, a corrida pela hegemonia mundial, bem como a crise 
econômica de 2009. 
Para finalizar o quinto e último capítulo desta disciplina, você irá verificar a 
participação do Brasil na Geopolítica Internacional no que concerne a abertura 
econômica, o desenvolvimento do agribusiness no mercado nacional e 
internacional, sua potencialidade em relação a produção do petróleo e sua relação 
com o MERCOSUL.
Um ótimo estudo!
Abraços!
Os autores
CAPÍTULO 1
Histórico da Geopolítica
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Conhecer e compreender o surgimento, o significado e as principais categorias 
e princípios geográficos da Geopolítica.
� Apresentar o processo de desenvolvimento da Geopolítica ao longo dos tempos 
e as novas abordagens e/ou teorias.
10
 Fundamentos da Geopolítica
11
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
Contextualização
Nos últimos 30 anos emergiram, no discurso acadêmico, na mídia e no senso 
comum, termos como: crise econômica, hegemonia militar, geopolítica, blocos 
econômicos, globalização, competitividade, problemas ambientais, neoliberalismo, 
recursos energéticos, nova ordem mundial, fronteiras, conflitos étnicos territoriais, 
entre outros. De maneira geral, esses temas podem ser relacionados a três 
grandes áreas do conhecimento, a saber: a Política, a Economia e a Geografia.
A geografia, como as demais áreas do conhecimento, responde à 
necessidade de descrição e explicação do mundo, como foi, por exemplo, a 
filosofia de Sócrates (séculos V e IV a. C.); a política, com Maquiavel (século XVI); 
e a economia, com Adam Smith (século XVIII).
É importante ressaltar que a geografia, como forma de descrição e explicação 
do mundo, “aparece timidamente desde os tempos primitivos da humanidade 
(as tábuas de navegação dos polinésios, conforme o exemplo de De Martone)” 
(Mamigonian, 1998). Contudo, foi entre os gregos que a geografia atingiu a sua 
maturidade, com Heródoto.
A geografia moderna, descendente da filosofia clássica alemã (Kant e Hegel), 
nasceu na primeira metade do século XIX, como resposta ao atraso do processo 
de unificação do país. Segundo Pereira (1989, p. 91),
[...] é, portanto, em solo alemão que a geografia 
alcança sua forma de Ciência Moderna. O salto 
qualitativo se dá entre os alemães no momento 
em que as questões relativas ao desenvolvimento 
do capitalismo encontram-se já plenamente 
resolvidas na Inglaterra e em curso bastante 
adiantado na França, enquanto a Alemanha 
permanece ainda às voltas com o seu processo 
de unificação interna.
Cabe destacar que, na Alemanha, a unificação é pensada como 
modernização política e econômica, enquanto, na Itália, moderniza-se 
primeiro a política, depois a economia (PEREIRA, 1989).
É neste contexto que emerge Humboldt e Ritter comopais da Ciência 
Geográfica Moderna. “Com Humboldt e Ritter nasce a Geografia científica ou 
Geografia acadêmica. Isto é, uma geografia produzida agora a partir dos centros 
universitários e, mais tarde, ensinada nas escolas.” (PEREIRA, 1989, p. 114). 
Apesar de Humboldt ser naturalista e Ritter historiador, ambos possuíam uma 
visão de totalidade típica do avanço filosófico alemão (Kant, Hegel, entre outros).
Na Alemanha, 
a unificação é 
pensada como 
modernização 
política e 
econômica, 
enquanto, na 
Itália, moderniza-
se primeiro a 
política, depois 
a economia 
(PEREIRA, 1989).
12
 Fundamentos da Geopolítica
O problema da unificação alemã e a necessidade de conquista de um 
lugar privilegiado para a Alemanha no cenário mundial foi também a grande 
preocupação da geografia política, criada por Ratzel, e a Geopolítica, de 
Haushofer.
Mas o que é Geografia Política e a Geopolítica? Neste capítulo você terá 
subsídios para responder a estas perguntas.
Geografia Política e Geopolítica:
Origem e Conceitos
A Geografia Política nasceu na Alemanha, na segunda metade do século 
XIX, a partir da obra de Friedrich Ratzel: “Geografia Política” (1897), e teve 
sua continuidade na obra do geógrafo francês Camille Vallaux: “O Solo e o 
Estado” (1910).
Na sua obra, Ratzel pensa o estado como um organismo articulador entre o 
povo e o solo. Segundo Costa (1992), o solo condiciona as formas elementares e 
complexas da vida e favorece ou emperra o desenvolvimento dos Estados. 
De acordo com o mesmo autor,
Não se trata, porém, de um determinismo estreito, meramente 
causal. O que está em jogo é a idéia de que o solo e seus 
condicionantes físicos são apenas um dado geral, uma 
base concreta, um potencial enfim, cuja eficácia para o 
desenvolvimento estatal de uma nação ou de um povo 
dependerá antes de tudo da sua capacidade em transformar 
essa potencialidade em algo efetivo. (COSTA, 1992, p. 33).
É, pois, neste sentido, que a efetivação das potencialidades 
somente terá concretude com a existência de um estado forte, 
centralizador e capaz de criar políticas territoriais, econômicas, 
culturais, etc., visando a unidade nacional territorial. Outro aspecto 
importante do pensamento de Ratzel é o papel desempenhado pelo 
comércio internacional, que teria a função de transformar a terra inteira 
num vasto organismo econômico (COSTA, 1992).
 Não podemos deixar de ressaltar que apesar de insistir na 
coesão interna, Ratzel defende a ideia de que o desenvolvimento dos 
povos, sobretudo o alemão, passa necessariamente pelo alargamento 
Ratzel defende a 
ideia de que o de-
senvolvimento dos 
povos, sobretudo 
o alemão, passa 
necessariamente 
pelo alargamento 
do horizonte 
geográfico. O 
horizonte geo-
gráfico depende 
dos geógrafos e 
dos políticos para 
criar políticas e 
estratégias para a 
consolidação do 
Estado.
13
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
do horizonte geográfico. O horizonte geográfico depende dos geógrafos e dos 
políticos para criar políticas e estratégias para a consolidação do Estado.
A obra de Vallaux pretende deixar clara a sua oposição às concepções 
de Ratzel, sobretudo em relação ao Estado, enquanto organismo; e ao solo, 
enquanto meio influente no desenvolvimento da sociedade e dos Estados. Ao 
criticar as teorias sociológicas racionalistas e românticas sobre o Estado, que se 
situam no plano da inteligência das coletividades, ele afirma que, mesmo com os 
meios materiais semelhantes, os estados e as sociedades percorrem trajetórias 
diferenciadas ao longo do tempo. Assim, a relação da sociedade com o meio 
natural se desenvolve por um processo de adaptação ativa. Desse modo, o objeto 
da Geografia Política seria “o estudo das sociedades políticas e dos Estados como 
entidades particulares” (COSTA, 1992, p. 44). Para tanto, Vallaux estabelece, em 
seu método de análise, a analogia entre os tipos de sociedades políticas e Estados 
e a determinação do tipo de Estados. Quanto aos tipos, pode-se dividi-los em 
dois: os simples e os complexos. Os simples ocorrem pelo nível de coesão interna 
baixa. Os complexos apresentam uma coesão interna forte, com uma diversidade 
regional interna marcante, enquanto os simples tendem à uniformidade quanto 
aos seus aspectos físicos. Ainda, com relação aos Estados complexos, existem 
dois tipos de capitais: os naturais, que combinam forças de atração econômica 
e política numa grande cidade, típicas de Estados centralizados; e as artificiais, 
caracterizadas como Estados federativos (COSTA, 1992).
Feitas essas breves considerações, pode-se afirmar, conforme Costa 
(1992, p. 15), “que cabe à geografia política a tarefa, nada trivial, dentre outras, 
de examinar e interpretar os modos de exercício do poder estatal na gestão dos 
negócios territoriais e a própria dimensão territorial das fontes e das manifestações 
do poder em geral”.
E a Geopolítica?
O termo Geopolítica surgiu com o sueco Rudolf Kjellen, que o usou para 
expressar as suas concepções sobre o estado e o território. Segundo Costa (1992, 
p. 56) ele “concebia a Geopolítica como um ramo autônomo da ciência política, 
distinguindo-se da Geografia Política, para ele um sub-ramo da Geografia”. Costa 
(1992, p. 58) acrescenta:
Pode-se afirmar com relativa segurança que a Geopolítica, 
tal como exposta pelos principais teóricos, é antes de tudo 
um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da 
Geografia política, na medida em que se apropria de parte de 
seus postulados gerais, para aplicá-los na análise de situações 
concretas interessando ao jogo de forças estatais projetado no 
espaço.
14
 Fundamentos da Geopolítica
A partir de Kjellen emergiram novos teóricos geopolíticos que estão 
diretamente associados aos interesses do Estado-Maior, como o general geógrafo 
alemão K. Haushofer, o coronel argentino A.B. Rottenbach, o general brasileiro 
Golbery do Couto e Silva, entre outros.
Em termos gerais, a geopolítica está diretamente dirigida para os “estados-
maiores dos impérios centrais da Europa, em especial a Alemanha. Kjellen não 
escondia a sua admiração pelo Estado-maior alemão e nem o desejo de que a 
Europa viesse a ser unificada sob o imenso império germânico” (COSTA, 1992, 
p. 57).
Uma dica de leitura é o livro intitulado Geografia Política e 
Geopolítica de Wanderlei M. Costa. Nesta obra, o autor faz uma 
análise das relações entre território e poder, ou o território como objeto 
e meio do poder de Estado. Igualmente, discorre sobre a evolução 
da Geografia Política e da Geopolítica desde os primórdios do século 
XIX até a atualidade, enfatizando o modo pelo qual os geógrafos têm 
concebido e interpretado as questões da política. O autor analisa as 
ideias dos principais autores que se dedicaram ao tema, dentre os 
quais: F. Ratzel, C. Vallaux, Isaiah Bowman, K. Haushofer e Mackinder, 
debatendo questões sobre a relação entre a geopolítica e as relações 
internacionais, o ‘pensamento militar’ e a conceituação teórica que 
distingue a geopolítica e a geografia política.
O Imperialismo
Ao longo da evolução do sistema capitalista emergiram processos que, 
necessariamente, levavam ao desenvolvimento do mercado mundial: a luta pelo 
controle das fontes de matérias-primas, a caça às colônias, o progresso técnico 
e a tendência à concentração do capital. Vejamos, por exemplo, os esquemas 
ilustrativos (figuras 1 e 2).
15
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
Figura 1 – Comércio Mundial e Pilhagem da América no Século XVI
 
Fonte: Adaptação de Beaud, 1989.
Figura 2 – Comércio da Inglaterra com suas Colônias da América no Século XVIII
Fonte: Adaptado a partir de L’Expansion Européene (1600-1870), apud Beaud, 1989.
Contudo, foi ao longo do século XIX que se verificou, de forma mais intensa, 
os processos de acumulação extensiva horizontal e acumulação intensiva 
vertical. As características que marcam esse período (1815-1848) são:
1) esgotamento do uso da máquina a vapor nosetor industrial;
2) necessidade de adaptação da máquina a vapor para o setor de transporte 
marítimo e ferroviário (acumulação intensiva vertical);
3) investimentos dos ingleses na mineração da América Latina;
4) desenvolvimento dos bancos e empresas de Sociedade Anônima;
5) exportação de produtos têxteis ingleses para a Índia (acumulação extensiva 
horizontal).
Camponeses 
Escravidão Matéria-prima / alimentos
Mercadorias
M
er
ca
do
ria
sPilhagem
Metais preciosos
Metais preciosos
Tráfico de 
escravos
Espanha
Portugal
África
Inglaterra
Holanda
França
Colônias da 
América do
Norte e Central
Ilhas da
América
Ilhas da
América
Europa
Meridional
Produtos 
Manufaturados Inglaterra
G
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ad
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çú
ca
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Escravos
Escravos
Grãos, carne, madeira e peixe
Rum
16
 Fundamentos da Geopolítica
Segundo Gomes (2010), na acumulação extensiva, o 
crescimento do capital efetua-se por vagas sucessivas num campo 
mais amplo, sem alteração significativa das condições de produção. 
Na acumulação intensiva, o crescimento do capital é acompanhado 
de uma transformação rápida do processo de produção, resultando 
em importantes ganhos de produtividade pela utilização de novos 
meios técnicos.
Tais transformações ofereceram sobrevida à hegemonia britânica, no período 
compreendido entre 1848-1873, que, a partir de novos processos produtivos, 
passou a inundar a Europa com produtos baratos. Concomitantemente, países 
como Alemanha, EUA e Japão aceleravam os seus processos de unificação 
interna e de industrialização. Tanto a Alemanha como os EUA procuraram 
reduzir a defasagem em relação à Inglaterra, com a substituição de combustíveis 
vegetais pelo mineral, a química pesada (complexo sal – sódio – ácido), com a 
utilização do aço pudlado (o método de pudlagem permitiu preparar o ferro de 
modo a transformá-lo em aço), que possibilitava a produção de peças grandes, 
com o papel dos bancos no financiamento das indústrias, os subsídios estatais 
e, sobretudo, pelo direcionamento da ciência e da pesquisa científica para a 
produção.
Esse processo, iniciado em 1848, acelerou-se sobremaneira nos últimos 
trinta anos do século XIX, com o aparecimento de novas fontes de energia, como 
o motor a combustão interna e a eletricidade, e as novas fontes de matéria-prima 
(petróleo), o que se constituiu, por parte da Alemanha e dos EUA, num intenso 
processo de acumulação vertical intensiva. Isto, por sua vez, os qualifica como 
países hegemônicos, a partir de 1896, em contraste com o declínio do capitalismo 
britânico, conforme Quadro 1. Observe!
Quadro 1 – Produção Industrial (%)
Anos Grã-Bretanha EUA Alemanha
1870 32 23 13
1881-1885 27 29 14
1896-1900 20 30 17
1906-1910 15 35 16
1913 14 38 16
Fonte: Rostow, apud Beaud, 1989.
17
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
Resumidamente, o período compreendido entre 1873 e 1895 pode ser 
chamado de idade do imperialismo, e apresenta as seguintes caracteristicas:
1) Concentração do capital em grau elevado, gerando os monopólios. Quando 
as condições fundamentais do capitalismo começam a se transformar, sua 
tendência é a substituição da concorrência pelos monopólios. Nos EUA, 
o processo de concentração de capital foi intenso, pois, em 1908, os sete 
primeiros trustes possuíam 1.638 sociedades anônimas. Já em 1990, a parte 
dos trustes representa 50% da produção têxtil, 54% da indústria do vidro, 
62% da alimentação, etc. Na Alemanha, somente uma empresa elétrica 
controlava, em 1911, de 175 a 200 sociedades (BEAUD, 1989).
2) Fusão do capital bancário com o industrial, que dá origem ao capital 
financeiro e à oligarquia financeira.
3) Exportação de capitais para as colônias de além-mar menos desenvolvidas. 
Trata-se de um intenso processo de internacionalização do capital.
4) Associações internacionais monopolistas, que partilham o mundo entre si.
5) Partilha territorial do mundo entre as grandes potências. (LÊNIN, 1977, p. 
641-2).
De 1875 a 1913, apesar do protecionismo, as exportações dos EUA e da 
Alemanha multiplicaram-se muito mais que as da Grã-Bretanha. Paralelamente, 
aumentavam os investimentos externos na Grã-Bretanha com 43%, contra 20% 
na França, 13% na Alemanha e 7% nos EUA. As zonas invertidas apresentavam 
a seguinte configuração, em 1914: Europa 27%; América do Norte 24%; América 
Latina 19%, Ásia 16%, África 9% e Oceania 5% (BEAUD, 1989).
Pelo exposto, verificou-se que, juntamente com a concentração 
de capital, ocorreu o acirramento da ocorrência internacional, as 
exportações de capitais e uma poderosa onda de colonizações, 
acompanhadas por conflitos e guerras que foram fundamentais para 
o desdobramento da geografia política, enquanto forma de descrição 
e interpretação da nova organização socioespacial. Para você ter uma 
ideia, “às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o império alemão já 
disputava mercados e territórios em escala mundial”. (COSTA, 1992 
p. 63).
Para você ter uma 
ideia, “às vésperas 
da Primeira 
Guerra Mundial, 
o império alemão 
já disputava 
mercados e terri-
tórios em escala 
mundial”. (COSTA, 
1992 p. 63).
18
 Fundamentos da Geopolítica
As novas Abordagens da Geografia 
Política
É importante destacar que, devido ao Imperialismo, passamos a ter um novo 
contexto, tanto sob o olhar da Geografia Política quanto da Geopolítica.
Assim, durante todo o período posterior a 1873, a geografia política, mais 
precisamente a geopolítica, estava associada às estratégias das nações em 
relação a suas conquistas territoriais. Todavia, nos primeiros anos pós-Segunda 
Guerra Mundial, ressurgiu o debate teórico em torno da geografia política nos 
EUA, Alemanha e França. “Os objetos do debate teórico no período, como de 
resto em toda a história política, foram os conceitos e as concepções de Estado, 
nação, território e fronteira”. (COSTA, 1992, p. 147).
Contudo, desde 1945 até 1970, a geografia política, enquanto área dos 
estudos geográficos, tornou-se quase que um monopólio dos norte-americanos. 
O rompimento deste monopólio e o processo de renovação da geografia política 
manifestar-se-iam em meados dos anos1970. Esse movimento teve início com os 
trabalhos de P. Guichonnet, Raffestin e seguidos por Y. Lacoste, com a criação da 
revista Heródote e a publicação do livro “Geografia: isso serve, em primeiro lugar 
para fazer a guerra”. Foi neste sentido que se introduziu no debate da Geografia 
política temas ligados a estratégias e ideologias.
Não deixe de ler o livro “A Geografia: isso serve, em primeido 
lugar, para fazer a guerra”, de Yves Lacoste. Nesta obra, o autor 
procura responder perguntas, como: Para que serve a geografia 
e qual sua função social? Alerta para as consequências que 
ocorrem nas populações atingidas pela organização de seus 
espaços, assim como “chama” os geógrafos a assumir uma 
posição militante contra a instrumentalização da geografia pelos 
interesses estatais ou privados.
Paul Claval foi outro geógrafo que participou do processo de renovação da 
geografia política ao propor temas, como: “a gestão administrativa interna dos 
espaços nacionais em seus vários níveis, a organização do poder público, o 
problema da autonomia regional e local, e o comportamento político eleitoral das 
diversas regiões, etc.” (COSTA, 1992, p. 261).
19
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
Mas, quais são as tendências e perspectivas atuais da Geografia Política?
As transformações ocorridas nos países, a partir de 1973, como a 
ascensão do Japão na economia mundial, seguido por Coreia, Brasil, 
China; a crise de hegemonia econômica dos EUA; os novos conflitos 
territoriais étnicos; a financeirização da economia; entre outras – 
acompanhadas da tendência à interdisciplinaridade – constituem 
sérios desejos teóricos e metodológicos pela geografia política. 
Dentre os novos temas podem-se destacaro poder exercido 
pelas instituições oficializadas (ONGs, Mídia, Igrejas, etc.) e 
oficiosas (Grupos para-militares), bem como, a pressão criada pelos 
diversos movimentos populares (MST). Destacam-se ainda, os 
temas relacionados com a economia, como por exemplo, comércio 
internacional, cooperação intra e interterritorial, competitividade das 
nações, entre outros.
Algumas Considerações
Podemos dizer que a geografia política e sobretudo a geopolítica são 
produtos do contexto europeu na virada do século XIX e incio do século XX, que 
surgiram com Ratzel e Kjéllen respectivamente. Segundo Costa (1992), o interesse 
pelos fatos referentes à relação entre o espaço e o poder também manifestava um 
momento histórico que envolvia o mundo em escala global, caracterizado pela 
emergência das tendências mundiais e, com elas, o imperialismo, como uma 
maneira histórica de “relacionamento internacional”. Neste sentido, o imperialismo 
passa a atribuir-lhe um novo contexto tanto sob o olhar da geografia política 
quanto da geopolítica. 
Atualmente, parece existir certa confusão entre a geografia política e 
geopolítica. Para Azevedo (1995), ambas dependem da História e da Política 
e possuem campos de ação parecidos; porém, pertencem a ramos diferentes. 
Para muitos autores, a Geografia Política é vista como uma disciplina estática, 
que estuda as relações da política com o espaço geográfico. Já, a Geopolítica é 
tratada como uma disciplina dinâmica, com a preocupação voltada às estratégias 
políticas e à obtenção de poder sobre algum território (recursos naturais, posição 
geográfica, etc). 
”A gestão adminis-
trativa interna dos 
espaços nacionais 
em seus vários 
níveis, a organi-
zação do poder 
público, o proble-
ma da autonomia 
regional e local, e 
o comportamento 
político eleitoral 
das diversas regi-
ões, etc.” (COSTA, 
1992 p. 261).
20
 Fundamentos da Geopolítica
Portanto, concluímos que a geografia política é o estudo das estratégias 
das nações e/ou países e a geopolítica corresponde às estratégias 
propriamente ditas.
 
Atividade de Estudos: 
 
1) Explique o surgimento da Geografia Política e da Geopolítica. 
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2) Caracterize o período compreendido entre 1873 e 1895, também 
conhecido como a idade do imperialismo.
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3) Você conseguiu compreender a diferença entre a Geografia 
Política e a Geopolítica? Tente responder.
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4) O geógrafo francês Yves Lacoste, no livro: “A Geografia: isso serve 
em primeiro lugar, para fazer a guerra”, descreve a finalidade da 
Geografia e qual é a sua função social.
 Em sua opinião, para que serve a Geografia? 
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
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21
Histórico da Geopolítica Capítulo 1 
Uma sugestão de atividade para você realizar com seus 
alunos é a promoção de um debate: Geografia Política X 
Geopolítica. Divida a turma em dois grupos. Um grupo ficará 
responsável pela pesquisa da Geografia Política e o outro pela 
Geopolítica. Instigue a pesquisa e a criticidade de ambos os 
grupos. 
Referências
AZEVEDO, A. de. A Geografia a Serviço da Política. Boletim Paulista de 
Geografia, São Paulo, n. 21, p. 42-68, 1955.
BEAUD, M. A. História do Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989.
COSTA, W. M. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: EDUSP, 1992.
GOMES, C. Antecedentes do Capitalismo. 2010. Disponível em: <http://www.
eumed.net/libros/2008a/372/ACUMULACAO%20DE%20CAPITAL.htm>. Acesso 
em: 26 fev, 2010.
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios. São Paulo: Paz e Terra, 1989.
KENNEDY, P. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: 
Campus, 1989.
LENIN, W. O Imperialismo fase superior do capitalismo. In: Obras Escolhidas. 
Lisboa: Moscou Livraria Progresso, 1977.
MAMIGONIAN, A. Gênese e objeto da geografia: passado e presente. 
Florianópolis: Geosul, nº 28, 1998.
PEREIRA, R. F. do A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia. 
Florianópolis: ed. da UFSC, 1989.
22
 Fundamentos da Geopolítica
CAPÍTULO 2
 A Organização do Espaço 
Mundial 
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Entender como o espaço geográfico foi sendo organizado e produzido ao longo 
de alguns períodos da história política e econômica. 
� Compreender a Geopolítica atual, no que tange principalmente ao liberalismo 
econômico e ao processo de globalização.
24
 Fundamentos da Geopolítica
25
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
Contextualização
Neste capítulo, vamos procurar entender como o espaço geográfico foi 
sendo organizado e produzido ao longo de alguns períodos da história política 
e econômica da humanidade, principalmente após a Primeira Guerra Mundial. 
Veremos também a relação da geopolítica com a organização do espaço 
geográfico, no que concerne principalmente ao liberalismo econômico e ao 
processo de globalização. Concentre-se, pois este estudo será um pouco denso e 
complexo. Contudo, importantíssimo!
A Geopolítica entre 1873 – 1920
A depressão de 1873 marca sobremaneira o sistema econômico mundial, 
devido sobretudo à quebra e/ou ao colapso da Bolsa de Viena, às falências 
bancárias na Áustria, Alemanha, EUA, Grã-Bretanha e França. Acompanhadas 
dessas crises financeiras, verifica-se, no período compreendido entre 1873-1896, 
um intenso processo de:
• queda de preços e redução das produções;
• desemprego e redução dos salários reais;
• queda do consumo.
Essa crise provocou o sufocamento dos setores industriais da primeira 
geração, o acirramento da concorrência intercapitais, novos setores industriais, 
novas relações entre patrão e classe operária, a cartelização da economia, a 
concentração e centralização do capital, o protecionismo e a expansão territorial.
Para Costa (1992, p. 60), “[...] o caráter imperialista da economia e das 
políticas territoriais das grandes potências assentava-se em dois movimentos 
principais, envolvendo estratégias de dominação em escala global [...]”. Um 
dos movimentos correspondia às disputas hegemônicas de vizinhanças, 
circunscritas aos espaços sujeitos à influência direta de cada Estado, 
como foi o caso da Europa, principalmente. O outro, à competição pelo 
domínio dos territórios de expansão colonial. Podemos dizer que ambos os 
movimentos envolviam, simultaneamente, lutas no nível de poder dos estados 
e concorrência internacional entre os capitais monopolistas de cada grande 
potência.
26
 Fundamentos da Geopolítica
Entretanto, a conquista imperialista das grandes potências diferenciava-se 
em escalas, formas de organização e domínio. Assim, conforme Costa (1992), 
existiam dois grandes grupos. No primeiro, destacava-se a Inglaterra com sua 
histórica política colonialista. No segundo grupo, destacavam-se as grandes 
potências, cujos respectivos estados estavam estruturados como Império 
(Alemanha, Rússia, Áustria-Hungria, Japão e Turquia). As áreas de influências 
destes Estados compreendiam, principalmente, territórios europeus ou asiáticos 
contíguos. 
Trata-se, pois, de:
[...] impérios territoriais, isto é, situaçõesem que o conceito 
de grande potência acha-se associado muito mais ao poder 
do Estado obtido e exercido diretamente em hegemonias 
territoriais internas ao império e indiretamente a territórios 
contíguos, que propriamente a hegemonia precipuamente 
econômica de tipo imperialista e neocolonial. (COSTA, 
1992, p. 62).
O vasto império colonial britânico envolvia territórios da África, 
Ásia, Oceania e América. Estão ainda inseridos neste primeiro grupo 
vários países, como: a França, a Bélgica, a Holanda, Portugal.
Quais foram, no entanto, os territórios conquistados e quais as áreas de 
influência?
A Alemanha, após apossar-se da Alsácia Lorena, estendeu sua área de 
influência sobre os Bálcãs e sobre o Oriente Médio e obteve possessões em 
Camarões, Togo, parte do sudoeste africano e Tanzânia. O Japão estendeu seu 
domínio sobre parte da China e sobre a Coréia. A Rússia expandia seu domínio 
direto sobre a Europa Oriental (em direção ao mar Báltico e Mediterrâneo). Já 
os EUA, adquiriram da França o território da Lousiania (Meio oeste dos EUA), 
a Flórida, da Espanha, o Texas, a Califórnia e o Novo México, do México, o 
Alasca, da Rússia, o Havaí, as Filipinas, Porto Rico e áreas do Caribe. Ademais, 
transformou Cuba em seu protetorado (COSTA, 1992).
A quase totalidade desse expansionismo fez-se através de conflitos bélicos 
que, por sua vez, ampliaram as despesas das principais potências envolvidas 
nestes movimentos, a exemplo da Grã-bretanha, França, Alemanha, EUA, Rússia, 
Itália, entre outros. 
Acesse o material de apoio e veja as despesas militares dos 
países referenciados anteriormente.
O vasto império 
colonial britânico 
envolvia territórios 
da África, Ásia, 
Oceania e Amé-
rica. Estão ainda 
inseridos neste 
primeiro grupo 
vários países, 
como: a França, a 
Bélgica, a Holan-
da, Portugal.
27
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
A corrida armamentista fortaleceu os exércitos das principais nações e 
reforçou a política de alianças entre as nações, como forma de enfrentamento 
diante das rivalidades. Assim, formou-se a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria 
e Itália) e a Tríplice Entente (Inglaterra, Rússia e França). As tensões entre as 
duas alianças foram ampliadas com a disputa entre a Alemanha e a França, 
pela conquista de Marrocos, e o conflito entre a Sérvia (apoiada pela Rússia) e 
a Áustria, pela anexação da Bósnia Herzegovina. A partir deste segundo conflito, 
emergiu “a típica Guerra Imperialista”, como afirmava Lênin.
A figura 3 apresenta as potências europeias e seus planos de guerra, em 
1914. Observe-a.
Figura 3 – As Potências Europeias e seus Planos de Guerra em 1914.
 
Fonte: Kennedy, 1989.
Indicamos o filme “A Trincheira”, do diretor William Boyd, que 
conta a história de um grupo de jovens soldados, motivados pela 
propaganda antialemã, durante a Primeira Guerra Mundial. Eles 
estão prestes a participar de uma das batalhas mais sangrentas 
da história.
28
 Fundamentos da Geopolítica
Atividade de Estudos: 
1) Vimos que o caráter imperialista da economia e das políticas 
territoriais das grandes potências assentava-se em dois movimentos 
principais, com os quais envolvia estratégias de dominação em 
escala global. Quais eram esses dois movimentos?
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
Você saberia dizer quais foram as transformações ocorridas no período 
posterior à primeira Guerra Mundial? Pense um pouco. 
 A Geopolítica Pós-Primeira 
Guerra Mundial
A guerra provocou profundas transformações na Europa como, por 
exemplo, a destruição de diversas estruturas produtivas, a escassez 
de alimentos, grandes perdas populacionais e a modificação jurídico-
territorial, com o surgimento de uma série de estados-nações (Polônia, 
Tchecoslováquia, Áustria, Hungria, Iugoslávia, Finlândia, Estônia, 
Letônia e Lituânia).
Segundo Kennedy (1989, p. 270), “cerca de 8 milhões de homens 
foram mortos na luta, enquanto outros 7 milhões ficaram permanentemente 
incapacitados, e mais 15 milhões, feridos”.
Ademais, no extremo oriente, o Japão “herdou alguns dos antigos grupos de 
ilhas alemãs no norte do Equador, embora devolvesse Chang-tung à China em 
1922.” (KENNEDY, 1989, p. 269).
Contudo, a mais surpreendente transformação política e 
econômica deu-se com o tratado de Versalhes, assinado em 
28/06/1919, e a Revolução Russa, em 25/10/1917. O tratado de 
Versalhes foi assinado por 27 nações e impôs duras condições 
aos alemães, por exemplo, restituir a região da Alsácia-Lorena à 
Segundo Ken-
nedy (1989, p. 
270), “cerca de 
8 milhões de 
homens foram 
mortos na luta, 
enquanto outros 
7 milhões ficaram 
permanentemente 
incapacitados, e 
mais 15 milhões, 
feridos”.
A mais surpreen-
dente transfor-
mação política e 
econômica deu-se 
com o tratado 
de Versalhes e a 
Revolução Russa.
29
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
França; ceder as regiões para a Bélgica, para a Dinamarca e para a Polônia; 
a eliminação do estado maior prussiano; a redução total de sua força militar; 
e o pagamento de enormes indenizações em dinheiro aos países vencedores.
Além do tratado de Versalhes foram assinados vários outros visando à 
diplomacia política e financeira entre os países.
Assista ao filme do diretor Ivan Passer, intitulado “Stalin”. Ele 
faz uma abordagem da longa trajetória do ditador soviético Stalin, 
desde o princípio da Revolução Russa (1917) até sua morte em 1953. 
Veja no Material de Apoio desta disciplina como ficou a Europa 
após a Primeira Guerra Mundial.
Segundo Kennedy (1989, p. 279), “as indenizações, o corredor polonês, as 
restrições às forças armadas, a separação de regiões de língua alemã da Pátria, 
não seriam toleradas para sempre. As únicas dúvidas eram a rapidez com que 
essas restrições poderiam ser abolidas [...].”
Se, na Alemanha e Itália, se presenciava a ascensão de partidos nazifacistas, 
na Rússia, o pós-Primeira Guerra Mundial seria marcado pela Revolução Socialista 
de outubro. Governado por uma oligarquia absolutista, o império russo promovia 
sua industrialização, ao longo do século XIX, com capitais estrangeiros oriundos 
da França, Alemanha e da Bélgica (KENNEDY, 1989). Era uma industrialização 
tardia que se combinava com relações tipicamente feudais no campo.
A política expansionista do início do século XX – conquistas de territórios 
na China – levou a Rússia a confrontar-se com o Japão. A derrota promoveu 
uma série de revoltas sociais, resultando nos primeiros conselhos de operários 
(soviets) (KENNEDY, 1989). 
Com empréstimos obtidos no exterior e a repressão aos soviets houve um 
reforçamento ao governo de Nicolau II e, em 1914, a Rússia envolveu-se na 
Primeira Guerra Mundial. Derrotada, a população reduziu-se, juntamente com 
a produção industrial e agrária, sobretudo, em função da perda da Polônia, 
Finlândia e estados bálticos e cresciam as insatisfações das forças políticas 
de oposição. Assim, em 15 de março de 1917 foi deposto o governo Czarista. 
Contudo, foi somente com o regresso de Lênin à Rússia, em abril de 1917, 
que a oposição organizou o Partido Bolchevique. que liderou a revolução de 
outubro.
30
 Fundamentos da Geopolítica
A população russa tinha caído de 171 milhões em 1914 para 132 
milhões em 1921. A produção industrial, em 1920, representava 13% 
da produção de 1913 (KENNEDY, 1989).
Entre 1918 e 1920, as forças contrarrevolucionárias – lideradas 
pelo imperialismo inglês e francês – procuraram derrubar o governo 
Bolchevique, sobretudo, pela política de estatização da economia e o 
repúdio aos empréstimos feitos maciçamente pela Rússia (KENNEDY, 
1989). O comunismo de guerra, que vigorou entre 1918 e1920, 
viria então a ser substituído em março de 1921 pela Nova Política 
Econômica (NEP) e, em 1922, foi fundada a União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas – URSS – formadapelas Repúblicas da Rússia, 
Ucrânia, Rússia Branca, Transcaucásia, Uzbequistão, Turcomenistão e 
Tadjiquistão.
Se algumas nações foram mais pesadamente afetadas pela 
guerra, outras tiveram, neste episódio, uma melhora em termos 
econômicos e tecnológicos. Pode-se destacar os EUA, na produção de 
automóveis, aviões, petróleo, corantes, aço, enlatamento, refrigeração, 
etc. Por isso, EUA, Canadá, Austrália, África do Sul, Índia e parte das Américas 
“tiveram suas economias estimuladas pela demanda industrial e de matérias-
primas e alimentos para uma Europa destruída.” (KENNEDY, 1989, p. 271).
As estratégias americanas de recusar o tratado de Versalhes e a adesão 
dos EUA à Liga das Nações contribuiram para o projeto americano: American 
First. Assim, os Estados Unidos começaram a ampliar seus horizontes na 
América.
Em termos gerais, os EUA haviam se transformado na principal 
potência capitalista mundial. Em contrapartida, os países beligerantes 
iniciaram um intenso processo de restauração de suas economias. Na 
França, na Alemanha e na Inglaterra, na segunda metade dos anos de 
1920, já ocorrera a retomada do crescimento econômico. Na Alemanha, 
por exemplo, intensificou-se a especialização nos setores químicos 
e eletrônicos, principalmente. De acordo com Kennedy (1989), o potencial da 
indústria alemã era, em 1928, de 30 a 40% superior ao período antiguerra.
As estabilizações monetárias dos anos de 1920, decorrentes dos créditos 
e empréstimos norte-americanos, pareciam inaugurar um período de relativa 
harmonia do sistema econômico mundial.
Assim, esquematicamente, poderíamos afirmar que se dava início ao 
processo de bipolarização do mundo, conforme figura 4. Nela verifica-se 
a estrutura de um mundo sob os desígnios do sistema capitalista, com a 
A população russa 
tinha caído de 
171 milhões em 
1914 para 132 
milhões em 1921. 
A produção in-
dustrial, em 1920, 
representava 13% 
da produção
 de 1913.
URSS – formada 
pelas Repúblicas 
da Rússia, Ucrâ-
nia, Rússia Bran-
ca, Transcaucásia, 
Uzbequistão, 
Turcomenistão e 
Tadjiquistão.
Os EUA haviam se 
transformado na 
principal potên-
cia capitalista 
mundial.
31
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
presença da formação soviética em seu interior, em busca da construção do 
socialismo.
Figura 4 – Esquema simplificado da Organização do 
Espaço Mundial Pós-Primeira Guerra Mundial
 
Fonte: Elaboração dos autores.
 A Geopolítica e a Crise dos anos 
Trinta
Afirmou-se anteriormente, que as estabilizações monetárias, a reconstrução 
da Europa, os novos investimentos produtivos, a construção da URSS, parecia 
indicar que os anos da década de 1920 constituir-se-iam na harmonia do sistema 
econômico internacional. Contudo, os desequilíbrios do mercado internacional, 
decorrentes da produção e circulação de mercadoria, por um lado; e os circuitos 
monetários e o sistema de pagamentos por outro, desembocou na grande crise 
de 1929.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a demanda por produtos, 
por parte dos países beligerantes, se voltou para os EUA, levando 
fazendeiros à expansão da produção. Completada a recuperação 
das agriculturas europeias, após a Primeira Guerra Mundial, a oferta 
tornou-se relativamente elevada (superprodução), de forma que, nos 
EUA, manifestou-se na queda dos preços agrícolas e na consequente 
redução do poder aquisitivo em relação aos produtos industriais 
(KENNEDY, 1989).
Paralelamente, os países europeus foram progressivamente adotando 
políticas de proteção a sua agricultura, o que resultou na lenta recuperação do 
comércio internacional pós-guerra. As práticas protecionistas adotadas pela 
Europa prejudicaram as exportações extra-Europa, mas, em direção oposta, suas 
economias eram invadidas por capitais oriundos dos EUA. Havia, portanto, uma 
MUNDO CAPITALISTA
Formações 
capitalistas 
articuladas
Formações capitalistas 
hegemônicas
Formações socialistas
Durante a Primeira 
Guerra Mundial, a 
demanda por pro-
dutos, por parte 
dos países belige-
rantes, se voltou 
para os EUA, 
levando fazendei-
ros à expansão da 
produção.
32
 Fundamentos da Geopolítica
deterioração dos termos de troca.
Segundo Kennedy (1989, p. 274),
[...] com o dinheiro a curto prazo sendo empregado dessa 
forma em projetos de longo prazo, com consideráveis 
volumes de investimentos (especialmente na Europa central 
e oriental) ainda destinados à agricultura, aumentando com 
isso as pressões depreciativas dos preços agrícolas, com os 
custos do serviço dessas dívidas aumentando de maneira 
alarmante, e como não podiam ser pagos pelas exportações, 
sendo mantidos apenas com novos empréstimos, o sistema 
já estava desmoronando no verão de 1928, quando o surto 
de prosperidade interna americano (e o aumento reativo das 
taxas de juros pelo Federal Reserve) reduziram drasticamente 
a saída de capital.
Kennedy (1989) afirma, ainda, que a nova redução dos empréstimos 
americanos ocasionou uma reação em cadeia, que parecia ser incontrolável. 
Entenda por que a falta de crédito fácil reduziu tanto o investimento quanto 
o consumo: a recessão da demanda entre os países industrializados atingiu 
produtores de alimentos e matérias-primas, que entraram praticamente em 
desespero, aumentando a oferta e testemunhando, em seguida, o colapso quase 
total dos preços – o que tornava impossível, por sua vez, a compra de produtos 
manufaturados (KENNEDY, 1989). Ainda de acordo com o mesmo autor,
deflação, abandono do padrão ouro e desvalorização da 
moeda, medidas restritivas sobre o comércio e o capital, e 
não pagamento de dívidas internacionais foram os vários 
expedientes da época; e cada um deles representou novo 
golpe no sistema global de comércio e crédito. (KENNEDY, 
1989, p. 247).
Ressalte-se ainda o fato de que o sistema internacional de pagamentos, 
vinculado ao ouro, aumentou os desequilíbrios entre impossibilidade de 
exportação e elevação dos créditos e investimentos oriundos dos EUA. Houve 
então um descompasso entre as valorizações e desvalorizações das moedas 
europeias. A libra esterlina continuava valorizada, enquanto o franco (francês) era 
subvalorizado. O desfecho das desvalorizações cambiais e/ou controles cambiais 
foi o movimento de capitais de um país para outro, criando com isso a estabilidade 
política e monetária.
Esta instabilidade foi ainda impulsionada pelo caráter especulativo 
dos negócios pós-1925. Surgiu na época, um cem número de 
sociedades de poupança e investimentos que direcionavam recursos 
monetários para a especulação com títulos. Um dos exemplos é a 
Goldman, Sachs and Company. Esse caráter especulativo levaria ao 
Esse caráter espe-
culativo levaria ao 
crack da bolsa de 
valores de Nova 
York, em 1929.
33
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
crack da bolsa de valores de Nova York, em 1929. As consequências imediatas da 
crise foram:
• redução dos gastos em consumo;
• a brusca diminuição da inversão industrial como resultado da demanda efetiva 
e da crise;
• redução do crédito e perda de ativos;
• fuga de capitais e deterioração do balanço de pagamento;
• insolvência dos EUA como credor do mundo.
Assim, a crise que teve início nos EUA irradiava-se para o mundo 
todo. A Organização Mundial do Trabalho calculou em 1933, uns 30 
milhões de indivíduos sem trabalho no mundo inteiro (BEAUD, 1989). 
Nos EUA, o PNB nacional caiu de US$ 98,4 bilhões, em 1929, pra 
cerca da metade, em 1933. “Quase 15 milhões de trabalhadores tinham 
perdido seus empregos. O valor das exportações americanas tinha 
caído de US$ 5,24 bilhões para US$ 1,61 bilhão.” (KENNEDY,1989, p. 
317).
A depressão mundial, o desemprego e a competição entre 
manufaturados, matéria-prima e produtos agropecuários aumentaram 
os ressentimentos nacionais e inflamaram os grupos de direita. Esses passaram 
então a questionar o sistema liberal capitalista e, em contrapartida, exigiram 
políticas nacionalistas. Assim, de acordo com Kennedy (1989),as democracias 
mais frágeis como a Alemanha, Romênia, Espanha, entre outras, dobraram-se 
a essas pressões. Já no Japão, os conservadores cautelosos foram afastados 
pelos nacionalistas e militaristas.
A este contexto econômico-financeiro e político somou-se ainda a intensa 
aplicação da ciência e tecnologia a fins militares. Merece destaque, os 
novos aviões de caça, os encouraçados, os porta-aviões, os tanques. Além 
disso, todo aparato armamentista foi auxiliado pelo aperfeiçoamento dos 
instrumentos de navegação, pelo radar, novos equipamentos de comunicação, 
etc. (KENNEDY, 1989).
É, pois, neste contexto, que os países passam a aumentar suas despesas 
com a defesa do país.
Mas quais foram as estratégias das nações pós-1930? Vejamos:
A depressão mun-
dial, o desempre-
go e a competição 
entre manufatu-
rados, matéria-
-prima e produtos 
agropecuários 
aumentaram os 
ressentimentos 
nacionais e infla-
maram os grupos 
de direita. 
34
 Fundamentos da Geopolítica
Nos EUA, o presidente Roosevelt lançou o New Deal que, em 
sua essência, buscou: reorganização e a reativação de setores de 
atividades, como os bancos, a indústria, a agricultura e os transportes. 
Para a indústria foi criado o NIRA (National Industril Recovery Art); para 
a agricultura o AAA (Agricultural Adjustment Art) e para os transportes o 
REA (Railroad Emergency Art) (KENNEDY, 1989).
A intervenção estatal fez-se ainda no controle dos preços de 
diversos produtos agrícolas e industriais; na concessão de empréstimos 
aos empresários, na realização de obras públicas, criação do salário 
desemprego e fixação do salário mínimo, etc. O resultado de tais 
medidas foi a retomada da produção industrial, o que possibilitou a 
recuperação da produção industrial de países, como a Alemanha, Itália, 
Japão e o Reino Unido. 
Na Alemanha, por exemplo, a recuperação contou com os 
investimentos em armamentos, pois, em 1938, 52% das despesas 
governamentais eram destinados aos armamentos (KENNEDY, 1989). A 
produção de aviões elevou-se de 36 unidades, em 1932, para 1.938 em 
1934, e 5.112 em 1936. Contudo, essa frenética política de rearmamento 
de Hitler entra em choque com a dependência alemã de matérias-primas (minério de 
ferro, cobre bauxita, níquel, petróleo, borracha, entre outros). Assim, em 1938, anexou 
a Áustria, que contribuiu com cinco divisões de tropas, minério de ferro, campos 
petrolíferos e 200 milhões de dólares em ouro para o poderio da Alemanha. Outra 
contribuição foi a anexação da Tchecoslováquia. Os investimentos em armamentos 
foram também a estratégia japonesa e italiana. Segundo Kennedy (1989), no Japão, 
os dispêndios governamentais passaram de 31%, em 1931-32, para 47% em 1936-
37. Hitler ascendeu ao poder, na Alemanha, em 1933, tornando-se chanceler. O seu 
governo procurou exercer controle sobre diversos setores da sociedade alemã.
Já, na URSS, os investimentos em armamentos ocorreram internamente 
somente a partir de 1937. Os 16,5% do orçamento destinado aos gastos com 
defesa, em 1937, salta para 32,6%, em 1940 (KENNEDY, 1989). De acordo 
este autor, anteriormente, os Planos Quinquenais de Stalin aumentaram a renda 
russa de 24,4 para 96,3 bilhões de rublos entre 1928 a 1937; a produção de 
carvão aumentou de 35,4 para 128 milhões de toneladas e a produção de aço 
de 4 para 177 milhões de toneladas. Paralelamente o governo passou a dedicar 
esforços para o desenvolvimento industrial com a criação de escolas técnicas e 
universidades.
Se no plano interno, Japão, Alemanha e Itália dirigiram esforços para sua 
recuperação econômica e o desenvolvimento militar, externamente, assumiram a 
política de expansão territorial conforme demonstra o quadro 2. Observe-o!!!
O New Deal que, 
em sua essência, 
buscou: reorga-
nização e a reati-
vação de setores 
de atividades, 
como os bancos, 
a indústria, a 
agricultura e os 
transportes.
Hitler ascendeu 
ao poder, na 
Alemanha, em 
1933, tornando-se 
chanceler. O seu 
governo procurou 
exercer controle 
sobre diversos 
setores da socie-
dade alemã.
35
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
Quadro 2 – Política expansionista
Anos Países Operação País
1931 Japão Invasão Manchúria
1935 Itália Invasão Abissínia
1936 Alemanha Ocupação Renânia
1938 Alemanha Anexação Sudetos Tcheco
1939 Itália Anexação Albânia
1939 Alemanha Anexação Polônia
1939 Rússia Invasão Polônia
Fonte: Elaboração do autor a partir de Kennedy (1989).
Destaca-se que a invasão à Polônia por parte da Alemanha, 
desembocou na Segunda Grande Guerra Mundial. Os primeiros anos 
da Guerra caracterizaram-se pela ofensiva alemã na Dinamarca 
(1940), Holanda (1940), Bélgica (1940), Noruega (1940) e França 
(1940). Já nos anos de 1942-45 verifica-se a expansão da guerra 
na Europa, na África, na Itália e na Ásia. Formaram-se, com isso, 
dois grandes blocos: potências do eixo (Alemanha, Itália e Japão) e 
potências aliadas (Inglaterra, EUA e URSS). 
Enquanto países europeus e asiáticos recuperavam suas economias 
politicamente, economicamente e militarmente, no Brasil, a crise de 1929 
promoveu a eclosão da revolução de 1930, que iria modificar radicalmente 
a estrutura produtiva brasileira. A crise econômica mundial de 1929 afetou a 
economia agroexportadora e promoveu uma crise política no interior da aliança 
café-com-leite estabelecida entre Minas Gerais e São Paulo. Foi neste contexto 
que nasceu a Aliança Liberal, reunindo lideranças do Rio Grande do Sul, Paraíba 
e Minas Gerais e que lançou Getúlio Vargas nas eleições de 1930. Apesar da 
derrota nas eleições, Getúlio Vargas articula um movimento que resultou na 
Revolução de 1930.
Segundo Mamigonian (2000), no Brasil, a Primeira Guerra Mundial e a crise 
de 1929 foram favoráveis à industrialização, devido à incapacidade de importação 
do país, “inaugurando” uma visão de uma industrialização impulsionada 
nos momentos de crise das relações centro-periferia, substituindo assim as 
importações.
O governo getulista adotou medidas político-institucionais que impulsionaram o 
processo de industrialização brasileira, como: 
Nos anos de 1942-
45, formaram-se 
dois grandes blo-
cos: potências do 
eixo (Alemanha, 
Itália e Japão) e 
potências aliadas 
(Inglaterra, EUA e 
URSS).
36
 Fundamentos da Geopolítica
a) proibição das exportações de sucatas;
b) uso seletivo das reservas cambiais;
c) criação da CSN;
d) criação do SENAI/SENAC; 
e) estímulo à diversificação da produção agrícola;
f) criação da CLT;
g) implantação da política substitutiva de importações;
h) subsídios à iniciativa privada.
Como você pode perceber para o Brasil, a primeira Guerra Mundial, 
bem como a crise de 1929, “proporcionaram” os primeiros passos da 
industrialização brasileira. 
Atividade de Estudos: 
1) Quais foram as consequências imediatas da crise de 1929? 
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
2) Para muitos, a Primeira Guerra Mundial e a crise de 1929 foi 
favorável à industrialização brasileira. Justifique por quê? 
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
Para o Brasil, a 
primeira Guerra 
Mundial, bem 
como a crise de 
1929, “propor-
cionaram” os pri-
meiros passos da 
industrialização.
37
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
A Geopolítica Pós-Segunda Guerra 
Mundial
Logo após a segunda Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e do 
Japão, emerge o movimento de fracionamento do mundo em dois blocos, um 
dominado pelos EUA (capitalismo) e o outro dominado pela URSS (socialismo). 
Paralelamente, ocorre a constituição do Fundo Monetário Internacional (FMI), 
do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, o Acordo Geral de 
Tarifas e Comércio (GATT), o Plano Marshall, aONU, o Banco Mundial, a OTAN, 
entre outros organismos.
A hegemonia norte-americana na Europa estabeleceu-se, inicialmente, 
a partir da lei de empréstimos e arrendamentos e o Plano de Reconstrução 
das economias da Europa Ocidental. A lei de empréstimos e 
arrendamentos deu ao governo norte-americano poderes para 
vender, arrendar, emprestar ou ceder armamento aos países cuja 
defesa fosse considerada estratégica para os EUA. A Lei possibilitou 
a expansão da indústria bélica norte-americana. Já, o Plano Marshal 
(1947) possibilitou aos EUA tornar-se o credor da Europa. Igualmente, 
a URSS, através do COMECON (Conselho para Assistência Econômica Mútua) 
passou a constituir-se no país hegemônico do Leste Europeu o que possibilitou 
a criação do Bloco Socialista. Militarmente, o apoio fez-se via Pacto de Varsóvia. 
Dentro do bloco Socialista merecem destaque a China, onde, em 1949, após vários 
anos de conflito entre Chiang Kaishek e Mao Tse-Tung, foi criada a República 
Popular da China; e Cuba, ilha que, em 1959, sob o comando de Fidel Castro e 
“Che” Guevara, foi transformada em uma República Socialista (KENNEDY, 1989).
A disputa estabelecida entre as duas superpotências (EUA e URSS) gerou o 
que foi denominado de Guerra Fria, e que se manifestou na corrida armamentista 
e espacial. O primeiro grande conflito entre as ideologias capitalista e 
socialista deu-se no sudoeste asiático, na década de 1950. A Coreia foi 
dividida, em 1945, em Coreia do Norte, apoiada pela URSS e China, 
e Coreia do Sul, apoiada pelos EUA. Cabe destacar que, em 1945, 
foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), que objetivava 
a manutenção da paz e a segurança internacional. Em 1948, a 
Assembleia da ONU aprovou a declaração Universal dos Direitos 
Humanos.
Neste sentido, ambas as superpotências passaram a direcionar 
recursos para a defesa de suas estratégias. A política armamentista do 
governo norte-americano não cessou, mesmo com o fim da Guerra 
Fria, no final da década de 1980, conforme demonstra a figura 5. 
O Plano Marshal 
(1947) possibilitou 
aos EUA tornar-
-se o credor da 
Europa.
Em 1945, foi 
criada a Organiza-
ção das Nações 
Unidas (ONU), 
que objetivava a 
manutenção da 
paz e a segurança 
internacional. Em 
1948, a Assem-
bleia da ONU 
aprovou a declara-
ção Universal dos 
Direitos Humanos.
38
 Fundamentos da Geopolítica
Figura 5 – Distribuição mundial das forças americanas, 1987
Fonte: Kennedy (1989).
É importante destacar que três grandes fatores foram 
determinantes para o fim da Guerra Fria: a queda do muro de 
Berlim; a unificação da Alemanha e a política de desarmamento, 
impulsionada pela URSS. 
Através dos movimentos de descolonização surgem novos países, conforme 
o quadro que segue:
Quadro 3 – Processos de descolonização
Ano Processos
1943 Independência da Coréia.
1945 Independência da Indonésia, Laos, Camboja e Vietnã. 
 Criação do Estado da Líbia. Independência da Síria e do Líbano. 
 Criação da Liga Árabe.
1946 Independência da Indonésia, de Filipinas e Transjordânia.
1947 Independência da Índia, do Paquistão e da Birmânia.
1949 Criação dos Estados da Jordânia e Israel.
1956 Independência de Marrocos, Tunísia, Malásia, Sudão e Gana.
1961 Kuwait
1965 Cingapura
1967 Iêmen
1971 Catar
1972 Bangladesh
Fonte: Beaud (1989).
39
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
A necessidade de reformulação do sistema monetário 
internacional, fez surgir na cidade Bretton Woods, no estado New 
Hampshire, nos EUA, o sistema Bretton Woods que foi composto 
por duas etapas. A primeira 1945-49 caracteriza-se pela presença de 
duas moedas: o dólar e a libra esterlina, que passavam por acordos 
bilaterais: 1) os débitos com o Reino Unido deveriam ser saldados em 
libras; 2) alguns países aceitavam libra até um limite; 3) outros, como 
a Suíça, aceitavam apenas o pagamento em ouro. A segunda etapa 
1958-71, caracterizada pela convertibilidade de moedas dos diversos 
países entre si, e do dólar em ouro. Contudo, no início dos anos 1970, 
com a recuperação das economias europeias, o financiamento da 
Guerra Fria, a Guerra do Vietnã e a falta de ouro, a conversibilidade 
do dólar em relação ao ouro e, consequentemente, a conversibilidade 
entre dólar e outras moedas foram suspensas (GONÇALVES et al, 
1998). Em 1971, o presidente Nixon pôs fim à conversibilidade do dólar 
e impôs sobretaxas às importações norte-americanas. Essas medidas resultaram 
na necessidade de negociações entre os países do G10, visando ajustar as taxas 
de câmbio.
A necessidade de prover liquidez e o financiamento do desenvolvimento fez 
emergir os aparatos institucionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e 
o Banco Mundial. 
Para você ter uma ideia, o Banco Mundial passou a trabalhar com temas 
relacionados ao desenvolvimento econômico, sobretudo junto aos países 
subdesenvolvidos, no financiamento de grandes projetos de infra-estrutura. A 
partir dos anos de 1960, passou a financiar projetos ligados ao desenvolvimento 
rural e urbano, à educação e, mais recentemente, ao meio ambiente.
Segundo Toussaint (1996, p. 171), “em matéria de desenvolvimento, o Banco 
Mundial interveio com um forte conteúdo produtivista: a Revolução verde dos anos 
60, que visava oficialmente aumentar a produção agrícola dos países 
do Sul para satisfazer as necessidades alimentares das populações 
locais”. Ainda, segundo Toussaint (1996, p. 171), “os projetos do Banco 
Mundial têm um forte conteúdo político: conter o desenvolvimento 
de movimentos anti-imperialistas, inspirando-se nas experiências da 
Coreia do Sul e de Taiwan”. 
No processo de definição e institucionalização do mundo 
capitalista foi criado ainda, em 1947, o Acordo Geral sobre Tarifas e 
Comércio (GATT). O sistema de regras do comércio internacional foi 
estabelecido através de oito rodadas de negociações multilaterais. 
O sistema Bretton 
Woods, 1945-49 
caracteriza-se 
pela presença 
de duas moedas: 
o dólar e a libra 
esterlina, que 
passavam por
acordos bilate-
rais e 1958-71, 
caracterizada pela 
convertibilidade 
de moedas dos 
diversos países 
entre si, e do dólar 
em ouro.
Os projetos do 
Banco Mundial 
têm um forte 
conteúdo político: 
conter o de-
senvolvimento 
de movimentos 
anti-imperialistas, 
inspirando-se nas 
experiências da 
Coreia do Sul e de 
Taiwan.
40
 Fundamentos da Geopolítica
As seis primeiras visavam reduzir os direitos aduaneiros. As duas últimas 
incluíam reduções tarifárias. A oitava rodada, a do Uruguai, foi a mais 
complexa, iniciada em 1986, na cidade de Punta Del Este, e terminada em 
1994, na cidade de Marraqueche, visava não apenas a redução de tarifas, 
mas também integrar as regras do GATT a setores antes excluídos, como a 
agricultura e os têxteis. Ademais buscou introduzir os setores de serviços, 
investimentos e propriedade intelectual (THORSTENSEN, 1999).
A partir da Rodada do Uruguai emergiu a Organização Mundial do Comércio 
(OMC). Os fatores determinantes para o surgimento deste organismo foram: 1) o 
fim do mundo bipolar das relações internacionais e a sua substituição por 
um modelo multipolar; 2) a nova reorganização econômica dos países em 
acordos regionais de comércio; 3) o papel das multinacionais no comércio 
internacional (THORSTENSEN, 1999).
Podemos dizer que, em termos gerais, o período do Pós-Guerra 
constituiu-se como o grande Boom da economia capitalista, que se 
estendeu até o final dos anos 1960. Neste contexto, quatro fatores 
foram fundamentais: 1) a adoção do dólar como moeda internacional; 
2) a reconstrução das economias devastadas pela Guerra; 3) a abertura 
de novos investimentos à base de tecnologias desenvolvidas durante a 
guerra nos campos da eletrônica, do avião a jato, das telecomunicações, 
etc.; 4) a intensificação do processo de automobilização e indústrias 
correlatas (petróleo, vidro, borracha, etc.).
O resultado final do processo de crescimento do ocidente pode ser 
visualizado no gráfico 1.
Gráfico 1 – Taxasde crescimento da produção industrial
Fonte: Adaptado a partir de Rangel (1990).
Contudo, o crescimento também se fez presente na URSS e nos 
países periféricos, como pode ser observado no gráfico 2.
O período do Pós-
-Guerra constituiu-
-se como o grande 
Boom da econo-
mia capitalista, 
que se estendeu 
até o final dos 
anos 1960.
41
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
Gráfico 2 – Taxas de crescimento da produção industrial
Fonte: Adaptado a partir de Rangel (1990).
Pelo gráfico 2, você pôde verificar o excelente desempenho da economia 
brasileira no período pós 1950. 
Mas, quais foram as medidas adotadas para o crescimento da economia 
brasileira? Vejamos:
Dentre as principais medidas, destacam-se: 
• a instrução 70 da SUMOC que estabelecia leilões de câmbio flexível para 
várias categorias de importações e criava barreiras cambiais à importação de 
produtos manufaturados de consumo;
• criação da Petrobrás;
• desenvolvimento do setor automobilístico;
• construção de Brasília;
• Plano de Metas.
Outro país que apresentou extraordinário dinamismo foi o Japão. 
Logo após a segunda Guerra Mundial, as empresas japonesas 
passaram por profundas transformações tanto organizacionais quanto 
patrimoniais. Segundo Silva (2008, p. 53), “associadas a estas, não 
faltaram, todavia, transformações de grande impacto nas relações 
sociais de produção em toda a indústria nipônica, e mesmo na 
agricultura”.
Cabe destacar que, nos primeiros anos pós-segunda Guerra 
Mundial, ocorreu um retrocesso econômico no Japão: a renda 
nacional, em 1946, foi de apenas 57% do que tinha sido em 1934-1936, e os 
Logo após a 
segunda Guerra 
Mundial, as em-
presas japonesas 
passaram por 
profundas trans-
formações tanto 
organizacionais 
quanto patrimo-
niais.
42
 Fundamentos da Geopolítica
salários haviam caído 30% As exportações eram de apenas 9% dos números de 
1934-1936 (KENNEDY, 1989). Segundo Silva (2004, p. 214), “essas alterações 
decorreram da demanda curta por bens duráveis; a grande desordem que reinava 
em matéria de programação da produção e do estoque, a organização combativa 
dos sindicatos”. Conjunturalmente, soma-se à crise financeira que acometeu a 
empresa Toyota, a greve dos trabalhadores da Toyota. Não foi por acaso que as 
alterações fizeram-se na Toyota, sob a coordenação do engenheiro Ohno, que 
introduziu a gestão pelos olhos, a redução dos estoques, sistemas de informações 
(Kanban), produção em tempo justo, etc.
Podemos dizer que, em termos gerais, o mundo pós-segunda Guerra Mundial 
apresenta um configuração espacial, conforme figura 6. Observe-a atentamente.
Figura 6 – O mundo pós-segunda Guerra Mundial
Fonte: Elaboração dos autores.
Atividade de Estudos: 
1) Vimos que a disputa estabelecida entre EUA e URSS, manifestada 
na corrida armamentista e espacial, denominou-se de Guerra Fria. 
Vimos também que o término desta “guerra” ocorreu no final da 
década de 1980. Três grandes fatores foram determinantes para 
que ocorresse. Quais foram eles?
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
2) Quais foram as duas etapas que compuseram o sistema Bretton 
Woods?
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 
MUNDO CAPITALISTA
Formações 
capitalistas hegemônicas
Formações 
socialistas hegemônicas
Formações 
periféricas articuladas
Formações 
periféricas dependentes
43
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
A Geopolítica Pós -1973
No decorrer da década de 1970, a economia mundial entrou em uma grande 
fase de expansão lenta. Segundo Toussaint (1999), durante o período 1960-1973, 
o crescimento anual médio da Europa era de 4,7%, os dos EUA, 3,9%, e do 
Japão, de 9,6%. Entre 1982-1994 os crescimento foram de 2,1%, de 2,4% e de 
3,6%. Enquanto, no período 1995-2000, a taxa de crescimento foi de 2,2%, 3,5% 
e 1,8%, respectivamente (TOUSSAINT, 1999).
 Quais foram as estratégias das nações?
Inicialmente, cabe destacar que a crise do Petróleo de 1973 resultou no 
transporte caro e no reescalonamento dos preços. Paralelamente “esgotava-se” 
o uso das tecnologias forjadas no pós-segunda Guerra Mundial. A combinação 
desses fatores indicava a necessidade de investimentos, visando a reestruturação 
do aparelho produtivo. Todavia, o que se viu foi um processo de desaceleração 
tecnológica implantada, sobretudo, pelos EUA. 
a) A Estratégia dos EUA
Na verdade, os EUA promoveram inovações incrementais, 
prolongamento da vida útil dos produtos e dedicaram-se às 
exportações de capitais, bem como induziram a economia mundial a 
taxas de câmbios flutuantes, como forma de assegurar-lhe a emissão 
de sua própria moeda sem convertibilidade. Resumidamente, as 
tentativas de controlar o sistema financeiro internacional fizeram-se em 
vários períodos. Vejamos:
• O período de 1973-1979: A desvalorização do dólar sustentou o 
mercado interno via importação de produtos manufaturados da 
Ásia e alimentos da América Latina. O resultado foi o aumento 
do déficit em seu Balanço de Pagamento.
• O período de 1979-1985: A diplomacia do dólar forte em decorrência da 
política monetária restritiva e o segundo choque do Petróleo resultou nas 
desvalorizações de todas as moedas internacionais frente à americana. Além 
do mais, os principais impactos foram: 1) recessão mundial até 1983 com a 
queda dos preços das commodities e a deterioração dos termos de troca dos 
países exportadores de matéria-prima; 2) dívida do terceiro mundo dobrou 
e provocou crise bancária na Polônia, México, Chile; 3) política keynesiana 
adotada por Reogon (1981-84) permitiu a recomposição patrimonial dos 
Os EUA promo-
veram inovações 
incrementais, 
dedicaram-se às 
exportações de 
capitais, induzi-
ram a economia 
mundial a taxas de 
câmbios flutuan-
tes, como forma 
de assegurar-lhe 
a emissão de sua 
própria moeda 
sem convertibili-
dade.
44
 Fundamentos da Geopolítica
bancos dos EUA e dos Fundos de Pensão; 4) a dívida interna americana, que 
passou a servir de lastro aos mercados monetários e financeiros, converteu-
se em dívida externa via absorção por poupadores estrangeiros (Port-Fólios); 
5) na esteira da moratória mexicana (1982), o FMI recomendou aos países 
devedores apenas o pagamento dos juros da dívida; 6) abertura comercial 
promovida pelos EUA, que serviu como locomotiva para os países da OCDE e 
da Ásia; 7) surgimento de praças financeiras na Ásia.
Fundos de Pensão: Espécie de pecúlio ou poupança formada 
por um conjunto de pequenos investidores e poupadores, com 
o intuito de garantirem para si uma pensão mensal, depois de um 
prazo determinado.
Port-Fólio: Carteira de títulos. Conjunto de ativos financeiros 
pertencentes a uma empresa (SANDRONI, 1999).
Para você ter uma ideia da evolução da dívida externa de alguns países da 
America Latina, observe o quadro a seguir.
Quadro 4 – Evolução da dívida externa da América Latina (em milhões de US$)
PAÍSES 1970 1980 1982 1985 1990 1995 2000
Brasil 6 72 SD 105 120 159 245
México 7 57 SD 98 104 167 167
Argentina 6 27 SD 34 33 36 36
Chile 3 12 SD 20 19 26 38
Venezuela 1 29 SD 34 33 36 36
Peru 3 9 14 17 25 33 SD
Colômbia 3 12 SD 20 19 26 38
TOTAL 26 214 SD 334 376 542 700
Fonte: Adaptado a partir do Banco Mundial, 2001.
• O período de 1985-1989: 1) Desvalorização do dólar, sob o comando 
dos EUA – nos acordos de Plaza e Louvre. O Banco Central alemão 
assumiu a coordenação das políticas cambiais européias, com vistas 
à criação do Sistema Monetário Internacional; 2) crises nas bolsas de 
Londres (1986), Nova Iorque (1987)e Japão (1990); 3) surgimento de 
instrumentos financeiros como a securitização que se generalizou; 4) 
os bancos japoneses detentores da dívida pública americana, sofreram 
45
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
1970
1980
1997
1999 - 
2000
2001
2002
perdas patrimoniais em função da desvalorização do dólar de 1985-87. 
Suas perdas obrigaram a relocalização das suas formas, visando manter a 
competitividade.
• O período de 1989-1996: Desvalorização do dólar: 1) saída dos fundos 
de pensão dos EUA para os mercados da Ásia e América Latina; 2) bolhas 
especulativas; 3) surgimento de novos polos de crescimento industrial e 
financeiros na Ásia. 
O quadro 5 indica a cronologia dos “Tigres Asiáticos”. Verifique-o.
Quadro 5 – Cronologia dos Tigres Asiáticos
CRONOLOGIA DOS TIGRES ASIÁTICOS
A partir da década de 1970, desenvolvimento da indústria 
automobilística, têxtil e eletrônica para a exportação trouxe 
prosperidade econômica e rápida para alguns países da 
Ásia, como a Coreia do Sul, Formosa (Taiwan), Hong Kong e 
Cingapura.
Durante a década de 80, as indústrias têxteis e eletrônica 
passaram a se localizar também na Tailândia, Malásia 
e Indonésia, via transferência de tecnologia através de 
investimentos estrangeiros; os EUA e o Japão foram os 
principais parceiros econômicos e investidores. Em geral, as 
economias destes países dispunham de mão de obra barata, 
organizações sindicais incipientes e legislações trabalhistas 
muito brandas.
1997 Em 1997, as economias dos “Tigres Asiáticos” sofreram 
ataques contra suas moedas, motivados pela valorização 
exacerbada de seus ativos e pela precariedade de seus 
sistemas bancários, excessivamente endividados e pouco 
fiscalizados.
Entre 1999 e 2000, os “Tigres Asiáticos” recuperaram o otimismo 
apoiados no crescimento da economia norte-americana.
A desaceleração da economia norte-americana em 2001, 
a principal importadora de equipamentos de tecnologia no 
mundo, impôs novamente dificuldades às economias do 
sudeste asiático.
2002 Em 2002, os “Tigres Asiáticos” mantiveram baixas 
taxas de juros, aqueceram o consumo interno, tiveram seus 
papéis em bolsa valorizados e mostraram sinais de retomada 
do crescimento.
Fonte: Os autores.
46
 Fundamentos da Geopolítica
• O período de 1996-2000: A valorização do dólar promoveu a entrada de 
capital externo nos EUA. A taxa nominal de juros, acima dos demais países 
avançados, mais uma vez atraiu uma grande entrada de capital externo nos 
EUA. Podemos dizer que a grande valorização da bolha, que começou em 
1995, estimulou ainda mais a entrada de capital externo em busca de ganhos 
de capital.
• O período pós-2001: Foi marcado pela redução da taxa de 
juros e desvalorização da moeda. Entre 2001 e 2003 a queda do 
dólar foi de 35% em relação ao euro e 24% em relação ao iene. O 
objetivo do governo Bush era fazer com que os países com moedas 
fortes se tornassem demandantes dos produtores dos EUA. Isto, por 
sua vez, promoveria o crescimento econômico americano. Contudo, 
o que se viu foi entre 2001-2004, a China transformar-se na maior 
potência do comércio internacional. Somente no Sul da Ásia o seu 
comércio com a Índia subiu de 300 bilhões em 1994 para 91 milhões 
de dólares em 2005. Conforme Arrighi (2008, p. 216), “entre 2001 e 
2004, a China foi responsável por um terço do aumento total do volume 
mundial de importações, tornando-se assim ‘a locomotiva do restante 
da Ásia Oriental’ e desempenhando papel importante na recuperação 
econômica do Japão”.
Podemos dizer que a política norte-americana de promover alterações nas 
taxas cambiais visava à “globalização americana” e, ao mesmo tempo, “ganhava” 
tempo suficiente para alterar a sua estrutura produtiva, “sucateada” em relação 
à Europa e ao Japão. Essas estratégias alteraram, por sua vez, a dinâmica dos 
então países superavitários em relação aos EUA.
b) A Estratégia Japonesa
Essa “economia da bolha” foi decorrente das valorizações do 
mercado de ativos japoneses. Para se ter ideia, em 1983, os terrenos 
do centro de Tóquio já davam mostras de sua valorização. Segundo 
Torres Filho (1999), o índice Nikkey, que mede a valorização das ações 
na bolsa de Tóquio, havia saltado de 13.113 no último dia útil de 1985 
para 26 mil em outubro de 1987, chegando a 30 mil no início de 1988. 
Em 1989, o banco do Japão decidiu “estourar” a bolha especulativa. 
Com isso, a deflação dos ativos se fez presente, levando a economia a 
uma severa recessão. Entre 1990 e 1997 a economia cresceu 1,5% ao 
ano contra 4% da década anterior (TORRES FILHO, 1999). A estratégia 
japonesa foi a de desregulamentar o seu sistema financeiro e liberalizar 
setores antes dominados pelos Keiretsu.
O objetivo do 
governo Bush era 
fazer com que 
os países com 
moedas fortes se 
tornassem deman-
dantes dos pro-
dutores dos EUA. 
Contudo, o que se 
viu foi entre 2001-
2004, a China 
transformar-se na 
maior potência do 
comércio interna-
cional.
Economia da bo-
lha” foi decorrente 
das valorizações 
do mercado de 
ativos japone-
ses. A estratégia 
japonesa foi a de 
desregulamentar 
o seu sistema 
financeiro e libera-
lizar setores antes 
dominados pelos 
Keiretsu.
47
 A Organização do Espaço Mundial Capítulo 2 
No Japão, afirmou-se que as valorizações e desvalorizações do dólar 
promoveram significativas alterações em sua economia. Mas como isso foi 
possível?
Os anos que se seguiram, de 1945-1973, foram marcados, no Japão, por um 
intenso processo de reestruturação econômico-produtiva. Sobretudo, quando os 
conglomerados japoneses (zeibatsu) se rearticularam em empresas industriais, 
comerciais e financeiras. Os keiretsu são grupos “caracterizados por um network 
estável e complexo de relações entre empresas, capaz de coordenar estratégias 
globais de concorrência, sem, no entanto, tolher a autonomia e a flexibilidade 
decisória de cada um de seus membros”. (TORRES FILHO, 1999, p. 236).
Segundo Silva (2004, p. 214), “as principais mudanças ocorreram nas 
relações entre as firmas core e as firmas satélites, fornecedoras de partes e 
peças”. Segundo o mesmo autor, foram introduzidos arranjos de subcontratação 
com as firmas satélites, que permitiram às firmas core, disputar as vantagens 
da integração vertical da produção e da distribuição, sem enfrentar os limites 
burocráticos que sufocam o dinamismo tecnológico e organizacional. Cabe ainda 
ressaltar que houve também alterações nas relações capitalistas de produção, 
visando à redução do custo operário.
As chamadas firmas core representam as grandes empresas 
centrais (na maioria, montadoras) que, muitas vezes, detêm títulos 
de propriedades no capital das chamadas firmas satélites (pequenas 
empresas).
A partir de 1973, o departamento de bens de consumo passou a ter papel 
de liderança no cenário econômico alemão, o que por sua vez transformou a 
Alemanha em um grande país exportador de capitais. A redução da sua demanda 
interna promoveu, por outro lado, uma difusão de novas técnicas de informação 
por todo aparelho produtivo (TAVARES, BELLUZZO, 2004), o que possibilitou 
dirigir o potencial de crescimento para os setores automobilístico, eletroeletrônico 
e de computadores.
Contudo, as constantes valorizações e desvalorizações de suas moedas 
criaram impactos econômicos espaciais na sua estrutura produtiva, como por 
exemplo, relocalização das plantas e a valorização dos ativos patrimoniais. Os 
superavits dos anos 1980, que foram aplicados pelas empresas japonesas em 
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 Fundamentos da Geopolítica
ativos patrimoniais, acabaram desembocando na economia da bolha, como 
demonstram as figuras 7 e 8. Observe-as atentamente.
Figura 7 – Determinantes da “economia da bolha”
Fonte: Tonooka (2004).
Figura 8 – “Economia da bolha” e crise
Fonte: Tonooka (2004).
Segundo Medeiros (2004, p. 154), “a revisão do Código Comercial 
e a introdução de uma nova Lei de Telecomunicações, fortemente 
influenciadas pela Câmara Americana

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