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1 joel REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 2 www.revistamaiseducacao.com E-mail: artigo@revistamaiseducacao.com Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 – Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 Tel.: (11) 95075-4417 EDITORA CENTRO EDUCACIONAL SEM FRONTEIRAS R454 Revista mais educação [recurso eletrônico] / [Editora chefe] Prof.ª Mestre Fatima Ramalho Lefone - Vol. 4, n. 7 (Setembro 2021) -. São Caetano do Sul: Editora Centro Educacional Sem Fronteiras, 2021 745p.: il. color Mensal Modo de acesso: <https://www.revistamaiseducacao.com/sumario- v4-n7-2021> ISSN:2595-9611 (on-line) DOI: https://doi.org/10.51778/2595-9611.v4i7 Data da publicação: 30/09/2021 1.Educação. 2. Pedagogia. I Ramalho Lefone, Fatima, ed. II. Título CDU: 37 CDD: 370 Gustavo Moura – Bibliotecário CRB-8/9587 REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 3 EDITORIAL EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: A APRENDIZAGEM POR MEIO DO CONTRADITÓRIO Ao tomar como base de nosso pensamento acerca da formação da escola enquanto instituição social dos processos inerentes à educação, a sociologia de Émile Durkheim, ao qual “toda educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não chegaria espontaneamente”, se torna passível de considerarmos que a instituição educacional serviria para que a harmonia social se mantivesse em maior harmonia possível, tendo como principal função do professor a formação de cidadãos capazes de contribuir para o equilíbrio da sociedade. Lembremo-nos de que Durkheim analisa a sociedade e, logo, a educação, de maneira funcionalista e, sob o aspecto vigente de seu tempo, como um organismo vivo em que cada parte deve atuar para o bem social. A par da constituição de relações coesas, em que a educação funcione como instrumento de adaptação para que os indivíduos promovam o bom andamento da sociedade, bem como seu equilíbrio, algumas estratégias são apresentadas para que deem suporte aos discursos que demonstrem a educação como prioridade, alternativa de ascensão social e democratização das oportunidades. Assim, ao pensar em uma proposta que se mostre dinâmica e que, de alguma forma, interfira de maneira prática nas relações entre os atores sociais que se encontram presentes nessa parte institucional de formação cidadã a que se propõe a escola, um tecido pautado pelo cotidiano se deve, sempre, estabelecer relações que contemplem a ética e a responsabilidade constituída tanto por educadores, quanto por educandos. Embora o constructo social como um todo anseie para que a educação seja a salvação de todos os problemas sociais que estamos acostumados a observar e, inclusive, participar, a intenção aqui não é essa. Entendemos a importância da educação e dos processos de ensino-aprendizagens, contudo não podemos manter uma postura ingênua diante do movimento sistêmico pelo qual estamos imersos, bem como com todas as implicações que a sociedade exerce sobre tais processos educacionais. Mas nos cabe intencionar - e provocar - novas maneiras para que as relações perceptíveis entre educadores e educandos, além, é claro, das interferências externas à sala de aula – gestores, diretores, coordenadores, etc. – estejam dispostas de maneiras a se constituírem menos mecânicas, abstratas e conceituais, e possivelmente mais ecológicas – como nos apresenta Boaventura de Souza Santos, ao defender a ideia de que cada saber existe apenas em meio a outros saberes, e nenhum é capaz de se bastar – e que se manifestem claramente os movimentos intrínsecos à compreensão do todo em conjunto com as partes, em movimentos que dialoguem entre si e para si. CONSELHO EDITORIAL Rodrigo da Silva Gomes Patrícia Regina de Moraes Barillari Lindalva Freitas Lucinéia Contiero Jayson Magno da Silva Luiz Gonzaga Lapa Júnior Mário Cézar Amorim de Oliveira Marcos Serafim dos Santos Humberto Lourenção Marcus Vinicius de Melo Oliveira Alex Rodolfo Carneiro Hercules Guimarães Honorato William Bezerra Figueiredo Teresa da Glória Paulo Elias Rocha Gonçalves Gabriel Gomes de Oliveira Jónata Ferreira de Moura EDITORA-CHEFE Fatima Ramalho Lefone REVISÃO E NORMALIZAÇÃO DE TEXTOS Fatima Ramalho Lefone Rodrigo da Silva Gomes PROGRAMAÇÃO VISUAL E DIAGRAMAÇÃO Fabíola Larissa Tavares PROJETO GRÁFICO Mônica Magalnik COPYRIGTH REVISTA MAIS EDUCAÇÃO Editora Centro Educacional Sem Fronteiras (Setembro, 2021) - SP Publicação Mensal e multidisciplinar vinculada a Editora Centro Educacional Sem Fronteiras. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Conselho Editorial É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte. Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 - Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 4 Dessa maneira, os artigos que se seguem têm a intenção de provocar reflexões acerca do papel e da capacidade da educação contemporânea nos contextos sociais, bem como as intervenções, os antagonismos e as relações entre as diversas aprendizagens e as políticas públicas intrínsecas aos processos de construção de saberes demasiados específicos, mas desejosos de amplos propósitos. Prof. Me. Rodrigo Gomes Mestre em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em Filosofia Contemporânea e História, Graduado em Sociologia e Política. Autor dos livros: Sertão Humano, Os sabores do mundo. Vontade poética REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 5 SUMÁRIO 9 A APRENDIZAGEM DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL: A COMPARAÇÃO TÁTIL COMO FORMA DE ENSINO Rafael Rizzaro de Almeida Mariana Lopes da Silva 19 A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 4 A 5 ANOS Isete Batista Navarro 31 A ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Erivelton Fernandes França 43 A CONTRIBUIÇÃO DO SUPERVISOR PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM CONTAÇÕES DE HISTÓRIAS E O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE Cláudia Del Papa Hostin 59 A EDUCAÇÃO DOS DEFICIENTES AUDITIVOS NA ESCOLA NOS DIAS ATUAIS Selma Jorge Costa Miranda 68 A ESCOLA E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DE DESCENDENTES DE POVOS NEGROS: UMA VISÃO PSICANALÍTICA Luana Brandão Cisi Luiz 96 A ESCOLA E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DIÁLOGO COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA SOBRE AS DIFICULDADES DE INCLUSÃO E ACOMPANHAMENTO Luciano dos Santos Robson José de Moura Silva Geraldo Rodrigues de Paiva Yara Alves Damião de Lima Patrícia Nonnenmacher Maria Navegantina de Souza Elilde Cardozo Sabino do Nascimento Antonia Vanicia de Queiroz Silva 107 A FORMAÇÃO E O OFÍCIO DOCENTE: A UTOPIA DE SER PROFESSOR NO SÉCULO XXI Kethullin Rezende Trindade 120 A HISTÓRIA E O TEMPO Elisângela Gambini da Silva 134 A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Eliete Maria Neves Torres 147 A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E DA LITERATURA INFANTIL NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Gisele Batista Magre de Oliveira 156 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLADalva Beatriz Werner Dellker Berigo de Souza Maria das Dores Silva da Silva Maria de Fátima Freire Noeli Reichert 166 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL Weslley Nunes de Souza 175 A INFÂNCIA ESCOLAR CAMPESINA: CONTEXTOS IMIGRATÓRIOS EM MOVIMENTOS DE PESQUISA E A FORMAÇÂO DO DOCENTE INTELECTUAL Giovana Barbosa da Silva 189 A MÚSICA: UM DOS CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DO DEFICIENTE INTELECTUAL Rita de Cássia Santana 199 A PEDAGOGIA DA ESCUTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Marinalva Santos Ribeiro 208 A UTILIZAÇÃO DE PODCASTS NO ENSINO SUPERIOR NA ÁREA DA SAÚDE: UM ESTUDO DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICAMonalisa de Cássia Fogaça REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 6 222 A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA Érica Maria Renno Villela Dario 231 A VIDA AMEAÇADA EM TEMPOS DE PANDEMIA Suzana Rosa dos Santos Silva 242 ALFABETIZAÇÃO – REFLETINDO SOBRE O PASSADO PARA COMPREENDER PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO QUE PERDURAM NOS DIAS ATUAIS Paula Dias da Cunha Ferreira 260 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Abinoan Ferreira Cunha Claudia Akemy Pereira Matsumoto Maciano Delidia Rodrigues da Silva Ivonete Franchini Souza Marizete Sauer de Arruda 269 AS BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS Patrícia Murador Nunes 277 AS INTERAÇÕES SOCIAIS E A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA AS CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN Lenir dos Santos Oliveira Regina Celia Mangoli Barros Sidineia Gomes da Silva Simoni Rodrigues Barrim Wendy Wendy de Arruda Lima 289 AS MULHERES CERAMISTAS DO BAIRRO CANSANÇÃO NA CIDADE DE JEQUIÉ – BA: IDENTIDADE, CULTURA E TRADIÇÃO Bruna Vitoria Nascimento Nogueira Paulo Roberto Nogueira Silva Antônio Rocha Silva Maria de Fátima Di Gregorio 298 ATIVIDADES EXPLORATÓRIAS PARA A COMPREENSÃO DO BALANCEAMENTO DE REAÇÕES QUÍMICAS EM ÁLGEBRA LINEAR José Cirqueira Martins Júnior Weberson Sousa dos Anjos 312 AUTISMO E EDUCAÇÃO Daniele Frias 320 AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TEORES DE CAL HIDRATADA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LATOSSOLO VERMELHO Gabriel Zugaiar de Abreu Diogo Antonio Correa Gomes Eduardo Hélio de Novais Miranda Ana Carolina Corrêa Furtini Gustavo Monteiro Costa Sbampato Resende Jacinta Veloso de Carvalho Evandro Pereira da Silva 329 AVALIAÇÃO DE ATIVOS INTANGÍVEIS DIRECIONADORES DE VALOR NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR Beatriz Lucia Salvador Bizotto Aprígio Teles Mascarenhas Neto Marcelo Teles de Souza Mascarenhas Daniel Souza Tabosa 340 COMPARAÇÃO DOS CUSTOS DESDE O PLANTIO ATÉ A COLHEITA DO TIFTON E DO MILHO Evelize de Fatima Gequelin Sergio Cavagnoli Guth Beatriz Lúcia Salvador Bizotto Marta Elisete Ventura da Motta Aprigio Teles Mascarenhas Neto 352 COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS NA PRIMEIRA INFÂNCIA E EDUCAÇÃO POSITIVA Gladys Roberta Garcia Tatiara Helena Marques Labre 363 CONHECENDO E PROBLEMATIZANDO SOBRE FANFICTIONS: LITERATURA E REDES NA CONTEMPORANEIDADE Erisvelton Sávio Silva de Melo Emilly Carolina Héstia Sobral de Melo Erik Henrique Campos da Silva 374 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PSICOMOTRICIDADE COMO CONDIÇÃO DA APRENDIZAGEM Gletchen Camila Cirilio REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 7 386 CONTRIBUIÇÕES DO BRINCAR NA NATUREZA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA EM CONEXÃO COM O AMBIENTE NATURAL Ana Claudia Vasconcellos Barbas 394 DESENHO ANIMADO CAPITÃO PLANETA: POTENCIALIZADOR NA TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Vinicius Azambuja Ribeiro Leticia Azambuja Lopes 405 DISLEXIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO Josiane Aparecida Vergnianini 417 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CIEJA CAMPO LIMPO: UM OLHAR DIFERENTE, MAS NÃO DESIGUAL Georgia Carina Oliveira Santos 431 EDUCAÇÃO INFANTIL: A EDUCAÇÃO MUSICAL NA INFÂNCIA Paola Silva Zamarioli 441 EDUCAÇÃO INFANTIL: PARA ALÉM DO CUIDAR Roberta do Carmo 450 ESTADO DE COISA INCONSTITUCIONAL: O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO Aprígio Teles Mascarenhas Neto 458 FORMAÇÃO EDUCACIONAL DE SURDOS Ruth Fabiana Caetano da Silva 466 INCLUSÃO DO SURDO NA REDE REGULAR DE ENSINO Elaine Martins Godinho 475 INCLUSÃO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Silvia Maria Carvalho Nishimura 487 LEITURA DE MUNDO A PARTIR DO LUGAR NO ENSINO FUNDAMENTAL DE GEOGRAFIA: UMA EXPERIMENTAÇÃO TEÓRICO- METODOLÓGICA Iris Maria Ribeiro Porto 505 MICROAGULHAMENTO NO MELASMA: TRATAMENTO E TÉCNICAS Marcia da Cunha Barros Suzanne Abreu Rodrigues 518 O BINÔMIO CUIDAR E EDUCAR NA CRECHE Fabiane Angenilda dos Reis 530 O ENSINO DE HISTÓRIA NOS CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Melissa Rodrigues Garcia 539 O ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO DA SALA DE AULA INVERTIDA NO CONTEXTO ON-LINE Natália Leão Prudente 552 O MEIO AMBIENTE E A CONSCIENTIZAÇÃO EM SALA DE AULA Sandra Cristina Rizzo 559 O MULTICULTURALISMO E AS GÍRIAS Rosania Silva Bittante 568 O OLHAR DIRECIONADO À CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Flávia Corrêa Solidade Freire 577 O PARADOXO DAS AULAS PRESENCIAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM ATO RESPONSÁVEL OU IRRESPONSÁVEL? Adalberto Alabarce 591 O PODER DAS REDES SOCIAIS NA DECISÃO DE COMPRA NA REGIÃO SERRANA DE SANTA CATARINA: CLIENTES SATISFEITOS COM QUALIDADE Maria Silvia Lorenci Macarini Moacir da Silvia Paes Mateus Santos de Souza Tainá Morais Ribeiro Beatriz Lucia Salvador Bizotto Aprígio Teles Mascarenhas Neto Marcelo Teles de Souza Mascarenhas REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 8 599 O SUJEITO SURDO E A MUSICALIDADE: PANORAMA SOBRE A INTERAÇÃO ENTRE MÚSICA E SURDEZ Daiane de Oliveira Piergiorge Letícia Gonçalves Ricardo Gildete da Silva Amorim Mendes Francisco 608 O UNIVERSO DO BRINCAR E AS INÚMERAS POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGENS - RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS Edilene Santana Pereira 616 O USO DO APLICATIVO STOP MOTION NA ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL Sandra Moraes Nogueira Marcos Serafim dos Santos 628 O USO DO APP HAND TALK NO PROCESSO DE ENSINO – APRENDIZAGEM DA PESSOA SURDA Rosa Maria Oliveira da Silva Marcos Serafim dos Santos 639 O USO DO JOGO COMO METODOLOGIA ATIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Mariza dos Santos Rodrigues 648 PLANEJAMENTO FINANCEIRO NA BASE FAMILIAR PODE SER UM FATOR DETERMINANTE NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Jocemar Ribeiro da Silva Beatriz Lucia Salvador Bizotto Aprígio Teles Mascarenhas Neto Marcelo Teles de Souza Mascarenhas Daniel de Souza Tabosa 660 PLATAFORMAS DIGITAIS EM TEMPOS DE FAKE NEWS E O PAPEL DA GEOGRAFIA NO PROCESSO EDUCACIONAL Fernanda Machado de Andrade Evelyn Morgan Monteiro 669 PROCESSOS COGNITIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Adriana Aneas Castilho 677 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Roseli Nunes Szabo 683 RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO E INTUIÇÃO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE CONTAGEM Isadora Dias Mariano Se Oliveira Francis Miller Barbosa Moreira 696 REFLETINDO SOBRE A DUALIDADE DA ESTRUTURAÇÃO SOCIAL PELA PERSPECTIVA EDUCACIONAL: GÊNERO E RAÇA Daiana de Arimatéia Rocha Silva 708 RESENHA DA OBRA A LÍNGUA DE EULÁLIA: UMA NOVELA SOCIOLINGUÍSTICA Ana Martins Paiva 719 SÍNDROME DE DOWN E O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR Magali Pereira de Melo 737 TRATADOS INTERNACIONAIS RELACIONADOS AO DIREITO ECONÔMICO BRASILEIRO E AO MEIO AMBIENTE Aprígio Teles Mascarenhas Neto REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 9 A APRENDIZAGEM DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL: A COMPARAÇÃO TÁTIL COMO FORMA DE ENSINO Rafael Rizzaro de Almeida 1 Mariana Lopes da Silva2 RESUMO: A aprendizagem da pessoa com deficiência visual passa pelo toque e pela percepção tátil do que se quer apresentar para o indivíduo. Pensar em como o toque pode contribuir na percepção do mundo é um dos fatores cruciais para a pessoa que não possui o sentido da visão. Mas o tato não é um sentido como a visão, onde só de olhar percebemos o que está na nossa frente, aprender a tocar e perceber a composição do elemento apresentado é um dos desafios a ser enfrentados no ensino da pessoa cega. Palavras-Chave: Deficiência visual; Tato; Comparação tátil. 1 Professor de Design Gráfico nas Universidades Estácio de Sá e Unisuam. Graduação: Bacharel em Comunicação Social e Pós-graduado em Design Digital. 2 Professora das SériesIniciais do Instituto Benjamin Constant. Mestre em Novas Tecnologias Aplicada à Educação e Graduada em Pedagogia. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 10 THE LEARNING OF THE PERSON WITH VISUAL IMPAIRMENT: TACTILE COMPARISON AS A TEACHING METHOD ABSTRACT: The learning of the visually impaired person involves touch and tactile perception of what one wants to present to the individual. Thinking about how touch can contribute to the perception of the world is one of the crucial factors for the person who does not have a sense of sight. But touch is not a sense like vision, where just by looking we can perceive what is in front of us, learning to touch and understand the composition of the element presented is one of the challenges to be faced in teaching blind people. Keywords: Visual impairment; Touch; Tactile comparison. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 11 INTRODUÇÃO O ensino para a pessoa com ausência de um dos sentidos primordiais, como a visão, pressupõe a adequação de outros, como o tato, que no ensino da criança com deficiência visual, passa a ter protagonismo na aprendizagem dela, que passa a perceber parte do mundo à sua volta por meio do toque e da exploração tátil. A aprendizagem por meio do tato exige sua compreensão e treino para que a pessoa perceba o objeto que está sendo apresentado, com suas características e relevos que contribuam para a percepção e interação da pessoa cega com o elemento apresentado. Para tanto a aprendizagem da pessoa com deficiência visual passa pela aprendizagem de utilizar o tato para perceber o mundo à sua volta e utilizar os seus sentidos remanescentes para compreender o que se passa a sua volta. O uso da percepção tátil, que não somente engloba o toque com as mãos e sim tudo que encosta na pele do indivíduo, é de vital importância para o acesso da pessoa cega ao uso de recursos que possam contribuir com a experiência necessária para que o sujeito tenha acesso as informações do mundo ao seu redor. O presente trabalho visa apresentar como esses elementos se apresentam e como eles podem ser explorados para aprimorar o desenvolvimento da pessoa com deficiência visual, apresentando a exploração e a percepção tátil como processo de aprendizagem da pessoa cega. 3 Fonte: Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2016/08/quando-e-como- o-bebe-desenvolve-os-cinco-sentidos.html. Data de Acesso: 20/08/2021. O TATO O tato é o primeiro sentido a se desenvolver no ser humano, surgindo na 5ª ou 6ª semana de gestação nas regiões próximas aos lábios e o nariz e, em todo corpo por volta da 12ª semana. O tato para a criança é extremamente importante para desenvolver as habilidades táteis e motoras, além do bem-estar emocional recebendo estímulos de outras pessoas, adquirindo confiança e autoestima31. Diferentemente dos outros sentidos, o tato não é encontrado em uma região específica do corpo, e sim em toda a pele. Em um corpo saudável, o sistema perceptivo háptico utiliza entradas cutâneas e cinestésicas que recebem e transmite ao cérebro a sensação de toque reagindo a estímulos mecânicos, químicos, térmicos e dolorosos, para obter informações sobre as propriedades de alguma coisa (LEDERMAN, 1990). Apesar de podermos sentir com toda a extensão da pele, há uma diferença técnica entre “tocar” e ser “tocado”. Para Gibson (1962), toque ativo refere-se ao que normalmente é chamado de tocar e que toque passivo é o ato de ser tocado. No primeiro caso, a impressão na pele é provocada pela própria pessoa e, no segundo, por algum agente externo. O toque ativo é um sentido exploratório e não meramente receptivo. Quando uma pessoa toca algo com os dedos, ela produz uma estimulação. O que acontece nos dedos da pessoa depende dos movimentos que ela faz e do objeto que ela toca. Estes movimentos REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 12 exploratórios com os dedos são como os movimentos dos olhos. Por meio do toque ativo, muitas propriedades do ambiente podem ser percebidas na ausência de visão. Os cegos dependem disso para obter a maioria das informações sobre o mundo, graças à grande quantidade de receptores táteis existentes nas pontas dos dedos de todos os seres humanos. Para construir a noção do objeto, deficientes visuais precisam agir sobre os objetos: manipulá-los, saber seu nome, como funcionam, para que servem, fazer experiências. Desde pequeno eles precisam aprender a fazer coisas: pegar a mamadeira, o copo, beber água, pegar o biscoito, a fruta, apreciá-los, descobrir de onde saem, onde ficam, tirar a meia, a roupa, o sapato. Participando ativamente da rotina de casa, da creche e brincando com outras crianças é que a criança com deficiência visual pode conhecer o real e construir o sistema de significação e linguagem. TATEANDO OS OBJETOS Para Gibson (1962), o ato de tocar é uma busca por estímulo ou, mais exatamente, um esforço para obter o tipo de estímulo que produz uma percepção do que está sendo tocado. Quando alguém explora algo com a mão, os movimentos dos dedos são propositais. Um órgão do corpo está sendo ajustado para o registro de informações. Segundo Gil (2000), para que o sentido do tato e seus principais agentes, as mãos, sejam ajustadas e façam um bom serviço ao deficiente visual é preciso que ocorram duas adaptações: As mãos devem ser ‘educadas’ para se transformarem em órgãos de percepção, em instrumento de exploração e de conhecimento. A coordenação bimanual (das duas mãos) e a coordenação ouvido/mão precisam substituir a coordenação olho/mão estabelecida pelas crianças que enxergam. Ignorando completamente o fato de que a percepção tátil dos deficientes visuais precisa ser “treinada”, a maioria das pessoas costuma simplesmente pressupor que o alto-relevo e a escultura são formas tão acessíveis ao tato quanto à visão e isto não é verdade. Neste contexto, uma prática que tem se tornado cada vez mais comum, por exemplo, é a disponibilização de obras de arte ao toque. Porém, isto muitas vezes é feito com pouca ou nenhuma consideração pela adequação das peças à percepção tátil, resultando em experimentações malsucedidas, que deixam confuso o espectador que se desejava incluir (ALMEIDA, CARIJÓ E KASTRUP, 2010). ...é comum oferecer ao toque obras que o tato, enquanto sistema perceptivo, nem sempre é capaz de apreender. Na verdade, muitas destas obras e adaptações, por desconsiderarem o funcionamento próprio do sistema tátil (muitas vezes tomando-o equivocadamente como análogo ao da visão), acabam por retirar as próprias condições de uma percepção dotada de sentido estético (ALMEIDA, CARIJÓ e KASTRUP, 2010). Normalmente são utilizadas três formas de adaptar obras bidimensionais de modo a torná- las acessíveis a pessoas com deficiência visual: a) linhas táteis – quando é utilizado uma linha ou barbante para delinear os contornos de uma imagem; b) alto-relevo – são figuras esculpidas sobre uma superfície plana que sobressaem em REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 13 relevo; c) tridimensional – os objetos possuem volume, isso significa que possuem altura, largura e profundidade. Figura 01 – da direita para a esquerda: linhas táteis, alto- relevo e objeto tridimensional. Fonte: Compilação do autor.41 Apesar de amplamente utilizados, nenhuma destas três formas de adaptação é 100% adequada. Aliás, em pesquisas com deficientes visuais Lederman et al. (1990), não conseguiram que mais de 10,4% deste público acertasse os objetos adaptados por estas técnicas. O desempenho dos cegos congênitos foi tão ruim que até mesmo quando as respostas corretas eram fornecidas, no final do experimento, para indicar os itens não reconhecidos anteriormente, eles não conseguiam usar essefeedback para reconhecer o objeto retratado no desenho em uma segunda tentativa. E, os autores complementam que pesquisas feitas anteriormente representaram consistentemente que o nosso sistema háptico não é muito eficiente para aprender sobre o mundo concreto. O sistema parece produzir um erro substancial ao perceber a posição, a distância e a direção. Parece uma afirmação absurda, mas até mesmo em testes com pessoas com apenas os olhos vendados 4 Montagem a partir de imagens coletadas no site de buscas Google. 5 Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/864198615971831951/>. Data de Acesso: 20/08/2021. somente 33,5% delas adivinharam o objeto tateado. (LEDERMAN, et al.,1990). Quando se trata das técnicas de linhas táteis e alto-relevo Almeida, Carijó e Kastrup (2010), afirmam que uma pessoa cega pode sentir-se um pouco perdida, encontrando dificuldade em distinguir as linhas que compõem este emaranhado bidimensional, principalmente ao encontrar um ponto em que muitas linhas se convergem. Além disso, estas técnicas não são recomendadas para representar um plano em perspectiva e/ou com sobreposição, ou seja, esta técnica não é capaz de representar bidimensionalmente as distâncias que separam um objeto do outro, criando a ilusão de profundidade nas figuras. Figura 02 – a convergência de muitas linhas pode causar confusão ao deficiente visual. Além disso, a paisagem ao fundo é uma sobreposição que pode causar confusão também. Fonte: Pinterest.52 Para Lederman, et al. (1990), na maioria dos objetos bidimensionais, normalmente há pouquíssimas informações disponíveis, para as mãos exploradoras, que sejam potencialmente aproveitáveis. Geralmente, não há variação de substâncias na confecção do objeto tátil, REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 14 deixando apenas informações limitadas de contorno planar que devem ser sequencialmente apreendidas, recuperadas e integradas. Até mesmo objetos em formatos tridimensionais podem apresentar o mesmo problema de reconhecimento tátil, se não forem confeccionados com o mesmo material do objeto original. Quando reconhecemos um objeto do nosso cotidiano pelo tato, acreditamos que a sua forma é a propriedade mais importante para sua identificação, porém esta nossa percepção pode estar enganada. É possível, que o nosso tato dependa muito mais das propriedades substanciais (textura, dureza, características térmicas e peso) e estruturais (volume, forma e tamanho dos objetos) do que se acredita normalmente. Pois, o ponto forte do nosso sistema háptico é justamente a capacidades anatômica, sensorial e motora que fazem a análise da substância e da tridimensionalidade dos objetos. É a multidimensionalidade das interpretações hápticas e a maneira com a qual consegue extrair informações sobre substância e estrutura tridimensional dos objetos que o faz ter um desempenho tão excelente (ALMEIDA, CARIJÓ e KASTRUP, 2010) (LEDERMAN, et al.,1990). De maneira nenhuma, o objetivo aqui é desestimular a confecção de objetos táteis para os deficientes visuais. Pelo contrário, a ideia é alertar sobre o que funciona e o que não funciona, para estimular a todos que se dediquem cada vez mais a encontrar novas soluções para atender este público. Quando se trata das linhas táteis, por exemplo, apesar delas não serem muito eficientes para representar as complexidades de uma obra de arte, outras áreas científicas, como a matemática e a geografia, tem obtido bons resultados com o uso desta técnica em coisas mais simples como ângulos e cartografia. A recomendação de Lederman, et al (1990), é tentar, sempre que possível, ao projetar imagens em relevo, incorporar diferentes substâncias para diagnóstico (como, textura, propriedades térmicas, dureza). A técnica de anexar materiais diferentes à superfície de uma tela pode oferecer uma gama mais ampla de valores do que trabalhar apenas com o plástico, como tem sido comum hoje em dia. E que às vezes, é preciso pesar cuidadosamente as vantagens e desvantagens de fornecer apenas informações espaciais ao sistema tátil contra a decisão de apresentar essas informações em um formato alternativo e não gráfico (por exemplo, texto escrito ou auditivo). A COMPARAÇÃO TÁTIL COMO FORMA DE ENSINO A palavra comparação tem origem no latim comparare, formada pelo prefixo com, que quer dizer “junto”, e o sufixo parare, que significa “fazer par, colocar lado a lado para observar as semelhanças e diferenças”. As comparações fazem parte da natureza humana e servem, de certo modo, para definir algumas particularidades: a grama do vizinho é mais verde do que a minha; determinada pessoa é mais alta do que a outra; este é mais bonito do que aquele; isso é mais macio do que aquilo. A comparação pode ser um recurso fundamental para que os deficientes visuais possam conhecer as coisas de maneira mais detalhada. O ato de comparar começa por REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 15 descrever cada objeto e depois confrontá-los entre si, para assinalar semelhanças e diferenças quanto suas aparências, formas e funções. De maneira geral, costuma-se simplesmente pressupor, por exemplo, que o alto-relevo e a escultura são formas tão acessíveis ao tato quanto à visão, são tomados como correlatos táteis naturais de obras bidimensionais (ALMEIDA, CARIJÓ e KASTRUP, 2010), mas este pensamento não está correto. Antes é necessário que o tato dos deficientes visuais seja ajustado para fazer um bom serviço de reconhecimento (GIL, 2000), ou seja, é necessário que eles aprendam sobre a forma dos objetos. Se pedirmos que uma pessoa sem deficiência visual tateie um objeto de olhos vendados, ela provavelmente encontrará algumas características peculiares do objeto em mãos e fará comparações mentais, buscando em sua memória visual que outros objetos possuem as mesmas características: forma, textura, temperatura, dureza e etc. Por exemplo, se entregamos a esta pessoa um pequeno bibelô com a forma de um elefante. A dimensão, a textura, a temperatura e a dureza obviamente não serão as mesmas do seu correlato natural, portanto só resta a forma como pista para que esta pessoa acerte o objeto que está em suas mãos. Que características peculiares tem este bibelô que possa auxiliar esta pessoa a fazer uma comparação com algo que ela já viu? A tromba, suas duas grandes orelhas, suas quatro curtas patas podem ser boas pistas que farão com que a pessoa acerte o que está segurando. Com o deficiente visual congênito obviamente a comparação não se dará por memória visual. Logo, se colocarmos este mesmo bibelô em suas mãos, ele não terá parâmetros para correlacionar o que está segurando com o seu correspondente real. É necessário que alguém primeiramente o instrua, mostrando-lhe as características peculiares que aquele objeto possui que são semelhantes ao verdadeiro. Quando contemplamos uma obra de arte, acionamos todo um repertório visual ou uma gramática que permite decifrar esse código e apreender uma obra como obra de arte. O deficiente que nunca enxergou, e que por isso não teve acesso à gramática da representação artística, não possui de imediato, elementos de decifração desse código (LINARDI, et al., 2015). O ato de comparar coisas em sala de aula pode ser um recurso valioso para que os professores consigam aumentar a gama de objetos reconhecíveis pelos deficientes visuais. Mas, este recurso deve ser usado com cautela, pois se usado em demasia alguns alunos, de tanto tatear objetos, podem se cansar rapidamente perdendo o interesse pelas peças (ALMEIDA, CARIJÓ e KASTRUP, 2010). Apesar do grande potencial deste recurso, não faz muito sentido usá-lo para demonstrar composições que são formadas por objetos que o cego tateia cotidianamenteem sua casa, como uma arte em Natureza Morta, cuja obra geralmente é composta por uma mesa com copos, jarro e uvas, por exemplo (LINARDI, et al., 2015). O recurso da comparação pode ser melhor empregado nas situações em que seja difícil descrever a obra de arte exposta por falta de correspondentes reais como o Surrealismo e o Cubismo, por exemplo. Afinal, explicar relógios REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 16 derretendo ou elefantes com pernas compridas pode ser bastante complicado. Figura 03 – A esquerda: A persistência da memória – Salvador Dali, 1931 e a direita: A tentação de Santo Antônio – Salvador Dali, 1946. Fonte: MoMA NYC61 RMFAB 72 Para não atrapalhar a fruição e o entendimento da obra, talvez seja melhor que o processo comparativo aconteça antes da descrição do quadro. Pois, munido da gramática da representação artística, ficará mais fácil para o aluno cego mentalizar o que o professor/mediador está tentando descrever. Um professor em sala de aula que deseje explicar o quadro de Salvador Dali, A tentação de Santo Antônio, por exemplo, poderia utilizar miniaturas com a forma de elefante, como citado anteriormente, para demonstrar a diferença entre um elefante real e o elefante de pernas compridas do quadro. 6Fonte: Disponível em : https://www.moma.org/collection/works/79018?artist_id=1364&page=1&sov_referrer=artist. Data de Acesso: 20/08/2021. 7Fonte: Disponível em : https://www.fine-arts-museum.be/en/exhibitions/dali-magritte Data de Acesso: 20/08/2021. Figura 04 – À esquerda uma miniatura com proporções reais de um elefante. À direita uma miniatura simulando aplicação de epóxi nas pernas. Fonte: Compilação do autor O processo comparativo pressupõe que a forma de um determinado objeto possui características que o diferenciam, pouco ou muito, de algum outro – por isso a importância de demonstrar duas versões diferentes dele – porém, se não houver um segundo item a ser equiparado, deixa de ser uma comparação e torna-se uma simples identificação. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso do tato como elemento intermediador da aprendizagem para a pessoa com deficiência visual é de grande importância para a compreensão do mundo e para que o cego tenha acesso ao sistema de leitura e escrita. Pensar na aprendizagem da pessoa com deficiência, passa pela aprendizagem do uso do tato, e de como as sensações, que passam desapercebidas, por muitos, no contato com a pele fazem parte para melhor compreensão do que ocorre a volta da pessoa com deficiência visual. Contudo essa aprendizagem passa por escolhas de objetos que represente significativamente o que precisa e quer ser representado, respeitando características principais e elementos indispensáveis para a compreensão da pessoa do elemento a qual se deseja representar. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 18 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Clara de; CARIJO, Filipe Herkenhoff; KASTRUP, Virgínia. Por uma estética tátil: sobre a adaptação de obras de artes plásticas para deficientes visuais. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro , v. 22, n. 1, p. 85-100, Apr. 2010 . GIBSON, J. J. Observations on active touch. Psychological Review, [S.l.], v. 69, p. 477-490, 1962. GIL, M. (org.). – Brasília : MEC. Secretaria de Educação a Distância, 2000. Ministério da Educação. Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação sinalização: deficiência visual. [4. ed.], 2006. LEDERMAN, S. et al. Visual mediation and the haptic recognition of two dimensional pictures of common objects. Perception & Psychophysics, [S.l.], v. 47, n. 1, p. 54-64, 1990. LINARDI Ana Beatriz; Ramos, Fernando da Silva; Garotti, Flavio Valverde; Damiani, Vitor; A impressão 3D como suporte para o ensino das artes para deficientes visuais, p. 564-568 . In: . São Paulo: Blucher, 2015. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 19 A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 4 A 5 ANOS Isete Batista Navarro1 RESUMO: Este artigo apresenta uma reflexão sobre nosso trabalho pedagógico, junto ao educando. A finalidade é contextualizar algumas formas de utilizar a arte na educação infantil, ressaltando a importância das artes como instrumento didático na educação infantil. O avanço das novas tendências pedagógicas nos permite afirmar que as artes contribuem na formação da criança como valor interdisciplinar, contribuindo para despertar a criatividade nos educados e tornar o aprendizado cada vez mais prazeroso. Palavras-Chave: Artes; Criança; Professor. 1 Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo. Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Pós-graduanda em Ludopedagogia. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 20 ART IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION WITH CHILDREN FROM 4 TO 5 YEARS ABSTRACT: This article presents a reflection on our pedagogical work, together with the student. The purpose is to contextualize some ways of using art in early childhood education, highlighting the importance of the arts as a didactic tool in early childhood education. The advance of new pedagogical trends allows us to say that the arts contribute to the formation of children as an interdisciplinary value, contributing to awaken creativity in educated and make learning more and more pleasurable. Keywords: Arts; Kid; Teacher. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 21 INTRODUÇÃO O trabalho com as artes proporciona o desenvolvimento da capacidade de ver, ouvir, perceber e discriminar cuidando sempre para que o trabalho não fique sempre na área do desenho, mas passe também pelo teatro dança e música. A criança brinca e expressa sensações, sentimentos e pensamentos quando se expressa artisticamente e comunica- se por meio da arte. A criança aprende com a arte, ela cria, improvisa e é um fator de formação e equilíbrio do sistema nervoso, que proporciona a criança mais confiança em si, e a oportunidade de expressão por meio do próprio corpo com criatividade, liberdade e espontaneidade. Baseado nesse processo de interação e prazer à pesquisa tem por intuito resgatar a importância das artes na Educação Infantil no desenvolvimento e na formação da criança, contribuindo para despertar a criatividade no educando e tornar o aprendizado cada vez mais prazeroso e divertido. A arte está presente em todas as transformações culturais humanas começando pelas pinturas rupestres desenhadas nas paredes das cavernas e a partir daí vem evoluindo. A arte é uma forma de o homem entender o mundo que o cerca e de se relacionar com ele, é uma das formas com que podemos representar todas as mudanças históricas da humanidade, com suas características específicas, e é por meio desse conhecimento que o aluno desenvolve a sensibilidade, percepção e a imaginação, tanto para realizar como para observar uma obra artística. CONTRIBUIÇÃO DA ARTE PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS Por meio da leitura de vários livros e artigos descritos por inúmeros teóricos, podemos observar que a arte em suas várias vertentes apresenta resultados promissores que podem ser alcançados ao ser trabalhado na educação infantil, possuindo várias formas de utilização como instrumento didático junto ao educando. A educação em arte no Ensino infantil tem um papel primordial envolvendo os aspectos reflexivos, sensíveis, expressivos e culturais. A arte visual, a música e o teatro se interligam entre si e proporciona ao professor uma fonte de subsídios para o desenvolvimento do seu trabalho. As crianças são sensíveis a beleza. A possibilidade de criar, também de entrar em contato com a arte produzida pelo homem ao longo de sua história, amplia seu horizonte possibilitando o uso de coisas belas. A produção artística das crianças também pertence ao patrimônioda humanidade, e como tal deverá ser considerado pelos professores. Observamos que os resultados são sempre benéficos para os educandos, no decorrer do trabalho pedagógico tendo a arte como ponto de partida. Desenvolvem o raciocínio, os movimentos corporais e o imaginário, colaborando também para o contato com outras culturas por meio da arte, a criança desde a tenra idade mediada pelo professor entra em contato com o fazer artístico e o traz para sua realidade transformando-o e fazendo o seu próprio fazer artístico. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 22 Para alcançar resultados positivos, trabalhando com a arte junto a criança pequena é necessário que o professor assuma uma disponibilidade em relação a essa linguagem e faça um trabalho contínuo de auto formação no sentido de :Sensibilizar se em relação as questões inerentes a música, reconhecer a arte com linguagem cujo conhecimento se constrói e entender e respeitar como as crianças se expressam musicalmente em cada fase para a partir daí fornecer os meios necessários(vivências, informações e materiais) ao desenvolvimento expressivo (RCNEI, 1998, p.67). Partindo desse ponto, o professor dará continuidade ao trabalho com a arte, refletindo, avaliando, fazendo e refazendo sua ação pedagógica nesta exploração de aprendizagem. CAPACIDADES DESENVOLVIDAS POR MEIO DO USO DIDÁTICO DA MÚSICA • Explorar e identificar elementos da música para se expressar interagir com outros e ampliar seu conhecimento do mundo; • Perceber e expressar sensações e pensamento por meio da música; • Explorar materiais e a escuta de obras musicais para desenvolver a apreciação de vários estilos musicais; • Diferenciar sons fracos e fortes e aumentar a memória musical; • Perceber e valorizar o silêncio, descobrir que o corpo também produz sons; • Desenvolver a atenção, concentração, posturas que devem estar presentes em todo processo educativo, em suas diferentes fases; • Desenvolver o esquema corporal e de coordenação, flexibilidade e ritmo; • Acompanhar estruturas rítmicas simples com palmas e batidas de pé: ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros e produções musicais; • Estimular a expressão oral; • Levar a criança a compreender e desenvolver suas habilidades corporais, e que o corpo das crianças se transforme de fato num instrumento de comunicação e expressão; Outro resultado importante para uso da música na educação infantil e que o trabalho com a criança se torna mais significativo e prazeroso tomando sempre o cuidado para não tomá-lo como fim em si mesmo. RESULTADOS OBTIDOS COM O USO DIDÁTICO DAS ARTES VISUAIS Em relação às artes visuais, também para alcançar resultado satisfatório e necessário que o professor planeje conteúdos de aprendizagem que poderão ser organizados de modo a permitir que utilize aquilo que já conhece e tem familiaridade e possa também estabelecer novas relações, ampliando seu saber. O educador obterá maiores resultados se sua ação educativa garantir que: A criança possa compreender e conhecer a diversidade da produção artística; exista a possibilidade do uso de diferentes materiais; os pontos de vista de cada criança sejam respeitados; troca de experiência para posterior reflexão; o prazer lúdico seja o gerador do processo de produção; a arte seja compreendida como linguagem que constrói objetos plenos de sentido; a valorização da REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 23 ação artística e o respeito pela diversidade dessa produção sejam elementos sempre presentes (RCNEI, 1998, p.107). É necessário que o professor esteja atento para redimensionar as atividades propostas seja em relação ao tempo ou a própria atividade. Pois cada criança tem seu ritmo e deve ser respeitado. Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998): Ao trabalhar de forma significativa, reflexiva e organizada em relação às artes visuais o educador estará proporcionando grandes resultados no desenvolvimento do educando tais como: • Ampliar o conhecimento de mundo que possuem, manipulando diferentes objetos; • Interessar-se pelas produções e pelas de outras crianças; • Conhecer diferentes culturas e a respeitar; • Produzir trabalhos de artes, utilizando varias linguagens desenho, modelagem, colagem, construção; • Desenvolver respeito pelo processo de produção e criação; • Cuidar dos materiais e dos trabalhos e objetos produzidos coletivamente e individualmente; • Criar desenhos, colagens, modelagens a partir do seu próprio repertório; • Apropriação e utilização de alguns procedimentos necessários para desenhar, pintar, modelar etc. • Apreciação de obras de arte a partir da observação, narração, descrição, interpretação de imagens e objetos. • Propiciar às crianças utilização de instrumentos, materiais e suportes diversos como lápis, pincéis, tintas, papéis, cola entre outros para que ela possa manusear criar e recriar percebendo assim, marcas, gestos, e texturas explorando o espaço físico construindo e desenhando objetos variados. DESENHO Segundo Aroeira (1996), a expressão gráfica da criança inicia-se por volta de um ano e meio, é a fase das garatujas; depois passa pela fase pré-esquemática e a seguir, pela fase esquemática. Na fase das garatujas, os rabiscos são projetados como um ato de busca pelo prazer do gesto. Seguidamente, ele se torna um ato de prazer pelo efeito que o lápis, o pincel ou a caneta realiza no papel, na parede, no quadro etc. A fase das garatujas estende-se até, mais ou menos, três anos e meio, quando a criança começa a dar nomes aos rabiscos. Aos poucos, os rabiscos ganham forma e se tornam figuras e formas reconhecíveis. O desenho é a atividade artística que a criança mais realiza. Por meio dele, a criança desenvolve habilidades motoras, expressivas e cognitivas e representa as experiências vividas e apreendidas no seu dia-a-dia. Segundo Aroeira (1996), neste momento a intervenção do professor é importante no sentido de orientar e acompanhar o desenvolvimento da criança. O professor tem a oportunidade, nessas atividades, de se aproximar de seus alunos e compartilhar experiências, buscando saber o que a criança representou e o que aquele desenho significa para ela. O desenho, assim, possibilita uma conexão entre o real e as representações, o que contribui para a elevação da criação. Desse modo, a criança passa a buscar novas possibilidades expressivas por meio do desenho. No trabalho com REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 24 desenhos, é preciso estar atento aos modos mecânicos de sua realização. Segundo Aroeira (1996), se o professor propõe à criança que copie uma figura ou que preencha os pontilhados, por exemplo, estará reforçando o modo mecânico e não estimulando a expressão própria da criança. Copiar desenhos prontos não é aconselhável, mas a repetição de atividades é importante. As crianças gostam de realizar as mesmas atividades e, segundo Reily (1993), a repetição faz com elas relembrem as técnicas que utilizaram, o que facilita a elevação do nível de sua construção artística. Quando a criança produz de modo livre, ela está construindo, em si, segurança, está demonstrando a ela mesma que é capaz de inventar, explorar, combinar, criar e, ao mesmo tempo, passa a entender que, como qualquer pessoa, ela pode errar, não acertar sempre. De acordo com Reily (1993), nas atividades livres, não se deve, simplesmente, oferecer materiais, de modo aleatório, às crianças. O professor deve, ao propor uma atividade espontânea, sugerir as possibilidades de utilização dos materiais oferecidos, de modo que a criança possa escolher dentre as diversas opções. Mesmo que o professor apresente um temacomum para todos, é importante que as crianças criem o seu próprio desenho, a partir de suas concepções de imagem, de suas vivências e experiências anteriores. É importante, também, que as crianças trabalhem de modo livre e que o professor não apresente modelos prontos, mas permita que elas inventem. Permitir que as crianças após realização do desenho possam comentá-lo, descrever suas características, suas intenções, além de perceber detalhes, assim como são capazes de percebê-los em outras situações: a preferência pela utilização de determinadas cores, a temática desenvolvida, a ocupação do espaço da folha; conhecer a produção do outro que alimenta o acervo de imagem de todo grupo (DIAS, 1999, p. 193;194). Como ressalta a autora, momentos assim levarão as crianças a apreciar também o trabalho do outro e a conhecer outras formas de produzir, novas possibilidades de criação, o que propicia o desenvolvimento de atitudes de respeito pela subjetividade de seus companheiros de turma e pela diferença. RESULTADOS DO USO DIDÁTICO DAS ARTES TEATRAIS Quando pensamos no teatro inserido no âmbito das artes o papel do professor é o de mediador, pesquisador, articulador do conhecimento, para que o resultado do trabalho pedagógico tenha resultados efetivos no desenvolvimento cognitivo das crianças. Para que os educandos possam viver experiências de ser, imaginar, criar é preciso que seus professores priorizem isto. Um trabalho assim só pode desenvolver - se o educador for alguém profundamente interessado em compreender como as crianças pensam o que elas dizem o que fazem como brincam e os temas que surjam em seu repertório lúdico. Sendo assim, o uso das atividades teatrais como recursos didáticos na CEIs, e EMEIs tem como resultado pedagógico junto às crianças: • O acesso aos bens culturais disponíveis ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, aos REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 25 afetos, à interação social, ao pensamento, à ética e a estética; • Desenvolve uma imagem positiva de si e do outro; • Descobre o próprio corpo e suas potencialidades e seu limite; • Estabelece vínculos afetivos e de troca com adulto e criança, fortalecendo a autoestima e ampliando gradativamente as possibilidades de comunicação e interação social; • Estabelece e amplia as relações sociais aprendendo aos poucos a articular seus interesses e ponto de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de colaboração; • Conhece as manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse respeito, valorizando a diversidade. Apesar de ser um produto da fantasia e da imaginação, a Arte não está separada da Economia, da Política e dos padrões sociais que operam na sociedade. Ideias, emoções, linguagens, diferem de tempos em tempos, de lugar em lugar, e não existe visão desinfluenciada e isolada. Construímos a história a partir de cada obra de Arte examinada pelas crianças, estabelecendo conexões e relações entre outras obras de Arte e outras manifestações culturais (BARBOSA, 1991, p.19). Para finalizar o capítulo devemos sempre nos lembrar de que o desenvolvimento artístico de uma criança jamais pode ser comparado com o de outra; cada uma tem seu tempo, cabe a nós enquanto professores, interferir nesta particular evolução. Em função de a criança ser constantemente movida por meio de estímulos, devemos oferecer lhe ferramentas encorajadoras desse processo, mas sem interferência na sua expressão artística. Dessa forma, se envolvermos a criança num contexto social e conseguirmos organizar as ideias para que esta invente, crie e construa, acreditamos que a linguagem da arte se fará presente na Educação Infantil, ajudando a criança a fazer por si só as várias leituras do mundo. A ARTE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL Ao dissertar sobre a importância da arte na educação de crianças, é também necessário abordar sobre a atuação do professor neste contexto, sobre sua importância no aprendizado e desenvolvimento dos alunos, assim como, sobre sua formação nesse processo. Para exercer qualquer profissão ou função é necessário que se tenha preparo para o cargo. Na docência não é diferente. Para que possam realizar um trabalho de qualidade com as crianças, os professores de educação infantil e dos anos iniciais precisam estar em constante reciclagem teórica e metodológica, numa busca pelo aprimoramento da prática pedagógica. A cultura é construída e transmitida por meio das relações que se estabelecem socialmente, inclusive em sala de aula, assim, professores e alunos também são produtores e assimiladores de cultura (LOPES, 1999), e de acordo com Ketzer: Ter cultura independe de ter erudição, trata- se de uma condição inerente a todo ser vivo que, com suas experiências, produz significados individual e coletivamente no conjunto de REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 26 atores sociais de seu tempo (KETZER, 2003, p. 12). Conforme Martins Filho (2005), a criança, com suas brincadeiras, sua forma de compreender o mundo, seu modo mágico de pensar e sua construção individual como pessoa também produz cultura. Neste sentido, considera-se: [...] suas manifestações como provenientes de uma cultura própria da infância, seja sob a forma como as interpretam e interagem, seja nos efeitos que nelas produzem, a partir de suas próprias práticas... formas de ação social próprias deste grupo, ou seja, maneiras específicas de ser criança (MARTINS FILHO, 2005, p. 19). O professor não é somente o produto, o resultado de um curso de licenciatura. A formação do professor não se constrói de uma só vez, mas é um processo constante, contínuo, que se dá ao longo da sua formação e da sua atuação como professor, da sua vivência na prática, assim como, nas relações e desafios que encontra em seu trabalho com as crianças, nas necessidades visíveis e não-visíveis que elas apresentam ou deixam transparecer em seus comportamentos, e na conscientização progressiva sobre o que é realmente importante que as crianças vivenciem, aprendam e construam como sujeitos da história e da cultura. “Assim, parece inconcebível que os professores favoreçam a construção de conhecimento se não são desafiados a construir o seu” (LOPES, 1999, p. 117). É importante que o professor tenha conhecimento da relevância de se trabalhar as diversas artes com as crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, porém, é fundamental que tenha preparo para desenvolver atividades de forma adequada, de modo que as artes sejam trabalhadas nos seus diversos aspectos: afetivo, cognitivo, sensível, intuitivo e social (RCNEI, 1998). Para tanto, é necessário que o professor busque conhecer obras de arte, a vida dos artistas, o contexto em que essas obras foram criadas, suas características mais marcantes, assim como, é preciso conhecer as diversas técnicas utilizadas em pintura, desenho, escultura e, da mesma forma, na música, na dança e no teatro. Envolver a arte no processo educacional de crianças para buscar uma educação significativa para elas, não se limita apenas em incluí-la em um currículo. Para Iavelberg (2003), a arte não pode ser encarada como mágica. Portanto, para provocar um desenvolvimento educacional mais rico e significativo entre as crianças, é necessário que se reconheça a importância do envolvimento do educador e da instituição escolar. Segundo Guimarães, Nunes e Leite (1999), experiências com artes plásticas, teatro, dança, música, fotografia, cinema, literatura, entre outras, não podem estar desvinculadas da formação do professor, pois, assim como todo cidadão, ele tem direito de vivenciarconhecimentos múltiplos da sua e de outras culturas. Conforme os autores, é preciso enfatizar que muito mais necessário se torna o contato com experiências desta natureza para o profissional que estará envolvido diretamente com cidadãos que estão em processo inicial de construção cognitiva, afetiva, social, física e cultural. É comum muitas pessoas relatarem que não sabem ou não gostam de desenhar, que não REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 27 sabem produzir trabalhos artísticos. Muitas vezes, o que produziram quando ainda eram crianças, parecia não agradar os outros. Ao se analisar as razões possíveis para isso, pode-se chegar à conclusão de que não se trata o desenho e as pinturas como atividades que podem ser aprendidas por meio da cultura, mas de atividades construídas essencialmente por dons inatos (GUIMARÃES; NUNES e LEITE, 1999). A escola tem a sua parcela de responsabilidade na formação humana, na construção sensível do olhar sobre o pensar e do olhar sobre o mundo. A escola não é somente espaço para se aprender a ler, escrever e fazer contas e deve ir além do que é imediatamente utilizável. Assim, é preciso que a escola se comprometa com a sensibilização das crianças, ou seja, que oportunize experiências novas de descobertas e que possibilite a expressividade do aluno, permitindo que ele conheça a si mesmo e olhe para aquilo que o cerca com curiosidade e sentimento. No entanto, isso só será possível no espaço escolar, se os seus educadores também passarem por esse processo, pois “o caminho da maturidade parece afasta- los do ser poético – precisam ser sensibilizados para que possam resgatar em si, o ser da poesia, o olhar sensível, a expressividade, o potencial criador” (DIAS, 1999, p. 178). Esse processo de enriquecimento estético deveria se dar também na formação inicial do professor, porém, os vários saberes que compõem os currículos de formação do docente acabam por impedir a inclusão de conhecimentos relacionados às artes, entretanto, nada justifica esta ausência. Para preencher essa lacuna em sua formação, o professor pode buscar tais conhecimentos de forma independente ou coletivamente. Dias (1999, p. 179), comenta que essa busca pode ser pessoal ou em grupos de professores e que “os encontros devem ser realizados na própria instituição, sendo previstos também, visitas a museus, galerias de arte, ateliês e passeios pela cidade”. Dessa forma, o professor estará ampliando seu entendimento sobre as diversas formas de arte, sensibilizando assim o seu olhar estético, permitindo-se novas experiências e potencializando a sua criação. Dias ressalta ainda que: É preciso criar em nossos educadores o gosto pelo belo, pela arte, estimulando-os a frequentar museus, galerias de arte, centros culturais, espetáculos de música e dança. Dessa maneira estaremos contribuindo para a democratização do conhecimento e para a formação pessoal do educador que consequentemente, repercutirá na relação estabelecida por ele com seus alunos na qualidade do trabalho pedagógico por ele desenvolvido (DIAS, 1999, p. 188, 189). Ao desenvolver o gosto pela arte, além de apurar a sua sensibilidade, o professor entrará em contato com diferentes obras e conhecerá o material utilizado para a criação das mesmas, o contexto histórico, político e social no qual foram produzidas e a vida dos artistas que as produziram. Assim, é possível que o professor se forme e se construa culturalmente para uma atuação que integre, no seu cotidiano com os alunos, um envolvimento maior com o patrimônio cultural, com a criação, com a expressão, com o olhar curioso e sensível, enfim com a liberdade. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 28 A ARTE E O TRABALHO DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL A arte “constitui-se como experiência estética e humana, como área de conhecimentos que tem seus conteúdos próprios” (BORBA e GOULART, 2007, p. 48). Nesse sentido, é preciso que o professor tenha como foco a dimensão cultural e estética e apresente, para os alunos, a vida dos artistas, o contexto em que as obras foram criadas, as técnicas utilizadas e os sentimentos expressos nessas obras, que carregam em si, a visão de mundo de seu criador. Entre as atividades que possibilitam o conhecimento e a vivência da arte como área de conhecimento necessária à formação humana, Borba e Goulart (2007), sugerem a participação em exposições culturais e artísticas, de vários gêneros e tipos, como visita a museus, a cinemas ou locais onde são apresentadas danças, peças teatrais ou músicas de vários compositores, de diversas épocas e gêneros. Pode-se propiciar o acesso a livros de arte, de literatura e biografias de artistas, entre muitas outras possibilidades de exploração cultural. É importante considerar o que propõem documentos como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), e os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), para o trabalho com artes na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O RCNEI (1998), apresenta, como eixos de trabalho, a “Música” e as “Artes Plásticas”; para o mesmo, a música deve possibilitar às crianças a audição, a percepção, a imitação e a reprodução de sons, para que possam explorar e identificar os elementos da mesma e, assim, desenvolver a expressão, interação e a ampliação do conhecimento de mundo. O trabalho com artes plásticas, segundo o documento, deve considerar a competência da criança. As atividades devem possibilitar a espontaneidade. Sendo um elemento de suma importância para o desenvolvimento do indivíduo, a linguagem visual possibilita momentos de construção que envolvem ideias, valores e sentimentos. As artes visuais devem envolver atividades como a pintura, a escultura, o desenho, a fotografia entre outras formas de artes plásticas. Os PCNs – Arte (1997), propõem, como elementos de trabalho, a música, a dança, as artes visuais e o teatro, considerando-os como objetos de conhecimento e de manifestações culturais. Sugerem também que a dança pode ser vivenciada de forma coletiva e individual, sendo os dois modos importantes para o desenvolvimento social e da autonomia. O trabalho com as artes visuais deve propiciar uma apreciação significativa, ou seja, o desenvolvimento da percepção, a decodificação das mensagens e reconhecimento da importância da arte para a sociedade e para a história da humanidade. Na música, deve-se desenvolver a apreciação, o canto, a composição e o manuseio de instrumentos musicais. Para o teatro, é preciso que se considere o nível de desenvolvimento da criança, iniciando-se com trabalhos que valorizem a espontaneidade, evoluam até o cumprimento de regras e que partam do individual para o trabalho coletivo, considerando-se este, um processo gradativo. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabemos que as crianças são curiosas, que usam diferentes partes do corpo para conhecer o mundo. Elas acabaram de dar o primeiro passo e ainda estão incorporando esses movimentos em sua rotina assim como andar, podem cantar, explorar instrumentos, dançar, pintar, desenhar, descobrir o próprio corpo e o do outro e interpretar. Usam a mão e o corpo para descobrir esse mundo novo e logo trazem tudo para perto de si, para a barriga, para a boca, para o rosto. Quer sentir conhecer, ver mais do que os olhos mostram. Considera-se então que a arte se apresenta no cotidiano infantil na forma de expressão da sua visão do mundo, a criança representa sua realidade quando desenha ou rabisca, canta ou interpreta; nestes momentos elas utilizam se da arte para se expressar. Quando referirmo-nos a arte na educação infantil referirmo-nos as investigação e descobertas. Tudo o que a criança toca viraum objeto de investigação. Os olhinhos e mãos curiosas movem-se rapidamente, são ouvidos que ouvem e percebem sons de música ou histórias. A magia das vozes e o movimento do corpo os envolvem e encanta. Quando a criança compreende o que a arte significa, classifica, e mostra o seu saber artístico. E é o nosso papel aguçar o olhar da criança propiciando condições de contato com arte inclusive durante as rotinas diárias mantendo-as em contato direto com o fazer artístico, suas diferentes linguagens, técnicas e materiais desde os primeiros anos de vida, ajudando-as assim a desenvolver seu potencial criativo, estimulando seu espírito lúdico, despertando seu interesse pela experimentação, abrindo caminho para a superação de limites, facilitando o processo de aprendizagem e tornando-o prazeroso. Considera-se que além da arte trabalhar o afetivo e a interação social da criança, ela contribui para o desenvolvimento da motricidade infantil e de outros conteúdos trabalhados em sala de aula que irão refletir, futuramente, na vida pessoal, escolar e profissional do indivíduo. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 30 REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: Leitura no subsolo. 7. ed. São Paulo: Cortez,2008. 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Revista Eletrônica de Musicologia, 2006, v. 10. ISSN 1415-952X. http://www.rem.ufpr.br/REMv10/simpemus2poster6.htm . Data de Acesso:20/08/2021. GRANJA, C, E, S, C, (2006) Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação. São Paulo: Escrituras Editora. GUERRA, M. Terezinha Telles; MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa. KRAMER, Sonia; GUIMARAES, Daniela; NUNES, Maria F. R.; LEITE, Maria I. OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007. REVERBEL, Olga Garcia. Um caminho do teatro na escola. Minas Gerais: Scipione, 1989. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. 38 ed. São Paulo: Vozes, 2011. SÃO PAULO. Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagem e orientações didáticas para educação infantil/Secretaria Municipal de Educação. São Paulo: SME/DOT, 2007. ZILIO apud FERRAZ, Maria Heloísa C. de Toledo; FUSARI, Maria F. de Rezende. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 2001, p. 121. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 31 A ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Erivelton Fernandes França1 RESUMO: A formação continuada é crucial, pois os professores lidam com situações diversificadas e imprevisíveis nos mais variados contextos educacionais. Aliado a isso, os momentos formativos tornam-se essenciais na medida em que auxiliam na defasagem da formação inicial de professores. Neste sentido, o Coordenador Pedagógico deve desempenhar muito além dos aspectos burocráticos inerentes a sua função, este deve compreender-se como um dos alicerces para a harmonia do ambiente escolar, que deve centrar-se numa educação significativa e de qualidade a todos os discentes. Para isso, os momentos formativos conduzidos pelo Coordenador Pedagógico que caracterizam a formação continuada dos docentes são imprescindíveis. Sendo assim, este estudo tem como objetivo retratar a importância do Coordenador Pedagógico na formação continuada de professores por meio de uma revisão bibliográfica. Palavras-Chave: Coordenador Pedagógico; Formação continuada; Projeto Político Pedagógico; Gestão democrática e participativa. 1 Professor de Ensino Fundamental II e Médio nas Redes Municipal e Estadual de Ensino de São Paulo. Professor do Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade (UNIDRUMMOND). Formação acadêmica: Doutor em Engenharia Biomédica; Especialização em Medicina do Esporte e da Atividade Física; Graduado em Educação Física, Ciências biológicas e Pedagogia. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 32 THE PERFORMANCE OF THE PEDAGOGICAL COORDINATOR IN THE CONTINUOUS TEACHER EDUCATION ABSTRACT: Continuing education is crucial, as teachers deal with diverse and unpredictable situations in the most varied educational contexts. Allied to this, the formative moments become essential as they help in the delay of initial teacher education. In this sense, the Pedagogical Coordinator must perform far beyond the bureaucratic aspects inherent to his role, this must be understood as one of the foundations for the harmony of the school environment, which must focus on meaningful and quality education for all students. For this, the training moments conducted by the Pedagogical Coordinator that characterize the continuing education of teachers are essential. Therefore, this study aims to portray the importance of the Pedagogical Coordinator in the continuing education of teachers through a literature review. Keywords: Pedagogical Coordinator; Continuing education; Political Pedagogical Project; Democratic and participatory management. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 33 INTRODUÇÃO O contexto educacional brasileiro é extremamente complexo e multifacetado. Na tentativa de atender as variadas demandas atuais, muitos professores e pesquisadores da área da educação sugerem que é premente uma intensa reestruturação do sistema nacional de ensino. Isso leva muitos a cogitarem estratégias eficientes para tal. Em plena era tecnológica, os discentes chegam as salas de aula detentores de múltiplas e variadas informações, entretanto caberá ao professor possibilitar que estas se tornem conhecimento de fato. Deve-se evitar que a instituição escolar seja compreendida como um local “sagrado”, sendo considerada como o único lugar em que os estudantes aprendem. Ademais, a escola precisa ser significativa aos alunos não apenas do ponto de vista intelectual, mas também no que se refere ao desenvolvimento de valores e atitudes, bem como uma formação cidadã com princípios éticos e democráticos (GADOTTI, 2000). Diante disso, novas perspectivas e desafios surgiram para a profissão docente. Logo, neste mundo contemporâneo globalizado surge a necessidade de estudar os aspectos relacionados a formação de professores, que é incumbida ao Coordenador Pedagógico. Analisando a magnitude e a rapidez dos desafios educacionais, sobretudo nesta temática, é ainda mais exigido dos docentes e Coordenadores Pedagógicos estratégias formativas que os ajudem a lidar com as demandas didático-pedagógicas oriundas da realidade escolar (GIRARDELO, 2019). A formação docente é extremamente complexa e importante, o que torna isso uma intervenção muito desafiadora. Alguns fatores como a desvalorização cultural do professor, bem como baixos salários acabam influenciando os mesmos a dobrarem, e em alguns casos até mesmo triplicarem a sua rotina de trabalho. Isso ressalta a necessidade dos profissionais de educação serem resistentes no enfrentamento às dificuldades emergentes cotidianas (GIRARDELO, 2019). Em favor da ideia, alguns teóricos sugerem que, realmente,o contexto educacional atual está num processo de mudanças contínuas. Dentre elas merecem destaque as novas tecnologias e a sua evolução abrupta, contínua e exponencial, bem como as descobertas e avanços científicos nas mais variadas áreas do conhecimento. Individualmente, estas mudanças já são complexas, tomadas em conjunto tal complexidade é ainda maior, pois requerem competências distintas para a atuação docente, que repercutirão não somente no campo educacional, mas também na sociedade (LACERDA,2011). Em muitos casos, tem ocorrido uma política de desvalorização do profissional docente. Em partes, este tem sido visto enquanto um mero transmissor de conteúdos, que gerencia programas de ensino pré moldados, um agente pouco qualificado, isso coloca em questão a continuidade da existência deste profissional (com estas características deficitárias e ultrapassadas). Em muitos casos, a profissão de professor é vista como subemprego a profissionais com experiencias frustradas em outras áreas profissionais. Isso faz com que estes profissionais recorram ao exercício da docência motivados pela remuneração, mesmo que ínfima em alguns casos (MARTINS; PEREIRA, 2002). REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 34 Nesta perspectiva, é premente almejar novos conhecimentos, saberes, estratégias, metodologias e propostas de ensino. Levando em consideração as necessidades docentes, acreditamos na formação deste, mediada pelo Coordenador Pedagógico, visando torná-lo um sujeito crítico e reflexivo, com potencial para transformar a cultura escolar como um todo. Para isso, está incumbido ao Coordenador Pedagógico a missão de propiciar uma formação continuada de qualidade, que entendemos aqui como uma formação, de fato, significativa à realidade escolar e as relações didático pedagógicas. Um fato importante é que para que isso ,realmente ocorra, é necessário que o Coordenador Pedagógico possua as habilidades e competências necessárias e essenciais para uma efetiva formação docente. Mais especificamente, o Coordenador Pedagógico deverá ter recursos que estimulem no docente uma reflexão constante de sua prática sendo capaz de readequar sua intervenção docente sempre que necessário (VEIGA, 2009). Isto posto, este artigo tem como objetivo por meio de um levantamento bibliográfico analisar como o Coordenador Pedagógico pode contribuir na formação continuada dos professores. Desta maneira, organizamos a revisão de literatura deste artigo de modo a contemplar: 1- Gestão democrática escolar, 2- A importância e função do Coordenador Pedagógico e 3- A formação continuada de professores regida pelo Coordenador Pedagógico. REVISÃO DA LITERATURA A gestão escolar democrática que trataremos aqui, tem amparo na Constituição Federal de 1988, que denota a gestão democrática enquanto um dos princípios norteadores da educação brasileira, preconizada também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei nº 9394/96 e ainda mais recente o Plano Nacional de Educação (PNE). De acordo com Vieira (2005), a gestão escolar democrática é um maneira de gerenciar uma instituição de ensino de modo que seja possível a todos os envolvidos na vida escolar, inclusive os agentes comunitários, a participação e a transparência das ações escolares. Na instituição escolar, sobretudo pública, a gestão democrática deve ser de fato concretizada de modo a garantir a participação coletiva nas tomadas de decisões. Isto posto, no Artigo 14 da LDB – Lei no 9394/96, está estabelecida a seguinte determinação: [...] a referida lei define que os sistemas de ensino devem estabelecer normas para o desenvolvimento da gestão democrática nas escolas públicas de educação básica e que essas normas devem, primeiro, estar de acordo com as peculiaridades de cada sistema e, segundo, garantir a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”, além da “participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (BRASIL,1996). Neste sentido, a gestão escolar democrática tem como premissa a ação coletiva, que contemple uma participação ativa e efetiva de toda comunidade escolar. Desta forma, professores, estudantes, pais, funcionários e os demais representantes da comunidade, devem participar de ações como a elaboração e construção do projeto político pedagógico da escola, discutir a destinação de verbas e REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 35 recursos, enfim, toda e qualquer decisão que ocorra no âmbito escolar deve consultar a todos estes atores, que deverão ser ouvidos e, democraticamente, atendidos em seus anseios e necessidades de uma escola de qualidade (VIEIRA, 2005). De fato, as instituições escolares, sobretudo as públicas, devem ser vistas como um espaço democrático e por consequência um compromisso de todos. No que se refere a gestão escolar democrática, um instrumento indispensável que deve ser preconizado é o Projeto Político Pedagógico (PPP), que é indispensável para o aspecto “democrático" da gestão. Este instrumento que deve ser construído coletivamente, representa os anseios e necessidades da escola no que se refere aos objetivos educacionais. Sendo assim, se o objetivo da instituição escolar for uma formação de cidadãos críticos, reflexivos e responsáveis no exercício da cidadania, uma elaboração conjunta e democrática do PPP poderá subsidiar o alcance deste e outros objetivos (VIEIRA, 2005). O Coordenador Pedagógico é um profissional de suma importância na instituição escolar. Ele deve mediar a interação entre docentes e discentes e de todos os demais que estão direta ou indiretamente relacionados ao processo de ensino aprendizagem, de modo a garantir uma relação harmoniosa e síncrona nas relações interpessoais estabelecidas no ambiente escolar. Ainda, no que se refere a direção escolar e os docentes, este profissional também deve ser um agente articulador (VIEIRA, 2005). Para que o Coordenador Pedagógico seja de fato um agente articulador, é necessário que sua rotina de trabalho esteja pautada na constante ação-reflexão, sempre almejando o êxito na qualidade do ensino. Sem sombra de dúvidas, o trabalho deste profissional é de grande complexidade, pois mesmo diante da freneticidade e imprevisibilidade do contexto escolar, ele tem que coordenar todas as atividades escolares, sendo um agente mediador na atuação docente. Um fato que deve ser ressaltado é que esta proximidade do Coordenador Pedagógico no trabalho docente não deve ser entendido como uma vigilância, muito pelo contrário, os professores devem entender esta proximidade do Coordenador Pedagógico como um agente parceiro e auxiliador (VIEIRA, 2005). Segundo Libâneo (2005), o Coordenador Pedagógico deve garantir a integração e articulação do trabalho pedagógico na escola. Como dito anteriormente, deve estar em constante contato com os docentes, pais de alunos e discentes. Ademais, deve refletir constantemente sobre a relações didático pedagógicas estabelecidas em sua unidade escolar, de modo a auxiliar neste processo e, em conjunto com os docentes, atingir os objetivos e metas estabelecidas. Essa tarefa de coordenar o pedagógico não é uma tarefa fácil. É muito complexa porque envolve clareza de posicionamentos políticos, pedagógicos, pessoais e administrativos. Como toda ação pedagógica, esta é uma ação política, ética e comprometida, que somente pode frutificar em um ambiente coletivamente engajado com os pressupostos pedagógicos assumidos (FRANCO, 2008, p. 128). Neste cenário, o Coordenador Pedagógico deve desenvolver atributos como criatividade, motivação, dinamismo, responsabilidade dentre outras. Todas estas características REVISTA
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