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Resumo: Constructing Norms of Humanitarian Intervention, de Martha Finnemore A autora começa apontando para o fato de que, com o fim da Guerra Fria, existe um esforço cada vez maior para se intervir militarmente no sentido de defender questões humanitárias, que almeja proteger cidadãos estrangeiros de desastres humanitários. Para a autora, as teorias convencionais (realismo e liberalismo) não são capazes de explicar esse tipo de comportamento por parte dos estados, uma vez que este não ocorre de acordo com interesses nacionais óbvios. A maioria das intervenções ocorre em estados de pouca importância geoestratégica ou econômica aos interventores: Somália, Camboja, Bósnia, etc. Ao longo de sua obra, a autora irá procurar responder porquê os estados intervêm em questões humanitárias. No sentido de encontrar respostas, Finnemore começa argumentando o padrão de intervenção não pode ser entendido fora do contexto normativo sempre em transformação do qual faz parte. O contexto normativo é importante porque molda as concepções de interesse, que são cambiantes. Uma visão mais mainstream que pressupõe os interesses dos estados e dos atores de forma geral tendem a deixar a fonte dos interesses vaga ou não especificada. Logo, para ela, estes interesses têm origem e estão ligados ao contexto normativo no tempo. Normas são passíveis de mudança e não existem em um nível individual, sendo compartilhadas intersubjetivamente entre os atores. Voltando à questão das intervenções, Martha busca mostrar como mudanças no comportamento do interventor estão associadas e correspondem com mudanças nos padrões normativos articulados por estados no que diz respeito aos fins e meios da intervenção militar (se é para se salvar um grupo humano, se esse grupo é “humano”, se a intervenção ocorre por interesses geoestratégicos mais do que propriamente por interesses humanitários, se essa intervenção é unilateral, multilateral ou mista, etc). Entendimentos normativos sobre que humanos merecem proteção militar e o modo como essa proteção deveria ser implementada mudaram, e o comportamento do estado mudou também. Finnemore divide seu trabalho em 5 partes: 1. Using Norms to Understand International Politics Aqui ela mostrará que as abordagens convencionais (realismo e liberalismo) não explicam nem a prática das intervenções humanitárias nem sua mudança ao longo do tempo, propondo uma abordagem construtivista que considere o papel das normas internacionais que permitem problematizar interesses e mudanças de interesses no tempo. O realismo e o neoliberalismo enxergam as intervenções humanitárias de modo estranho porque estas não estão de acordo com as concepções de interesse que essas teorias especificam. Os primeiros procurariam alguma vantagem política ou geoestratégica a ser obtida pelos estados interventores, enquanto que os segundos buscariam vantagens comerciais e econômicas por parte dos interventores em certa ação. No entanto, na maioria dos casos de intervenções humanitárias após 1989 é muito difícil identificar vantagens para quem intervém. Vide a Somália, no qual os EUA não buscou pacificar o país pela força, e sim foi motivado nesta empreitada por questões humanitárias como fome e massacres, não pretendendo “democratizar” o país; e o Camboja, país insignificante economicamente e estrategicamente, sendo os EUA motivados por questões morais de oposição doméstica ao retorno do regime Khmer Vermelho, que no passado havia massacrado seus próprios nacionais. Abordagens realistas ou neoliberais não oferecem resposta a esse tipo de comportamento. Essa linha teórica não investiga interesses, mas os tomam como dados. A abordagem construtivista consegue entender e investigar interesses pois considera o papel das normas internacionais, as entende como sendo socialmente construídas e percebe que estas normas mudam na dinâmica da interação social. Além disso, o construtivismo não nega que poder e interesses sejam importantes, pelo contrário. Indo mais a fundo no pensamento construtivista, Martha Finnemore coloca que a natureza social da política internacional cria entendimentos normativos entre os atores que, por sua vez, coordenam valores, expectativas e comportamento. Pelo fato de normas criarem afirmações comportamentais similares em atores diferentes (não- similares), estas normas criam padrões de comportamento que podem ser estudados e teorizados. Seu argumento é de que normas moldam interesses e interesses moldam a ação dos atores. Nenhuma dessas conexões é determinante. Outros fatores além das normas podem moldar interesses, na verdade, nenhuma norma sozinha ou até mesmo um conjunto de normas é capaz de o fazê-lo, há de se considerar todo o contexto normativo. Além disso, não são apenas interesses que moldam comportamentos e resultados, as capacidades e constrangimentos de poder, por exemplo, também têm seu papel aqui. A autora considera que a conexão entre normas e ação não é determinista, e sim de condições de permissão, ou seja, normas criam condições que permitem certas ações ocorrerem, e a existência de normas não significa imediatamente que estas ações ocorrerão. Novamente, é salientada a característica cambiante: normas que mudam podem mudar interesses estatais e criar novos interesses, mas o fato de que os estados agora possuem novos interesses não garante que eles irão perseguir mais estes interesses que outros em todos os momentos (imagino que ela esteja criticando a idéia de ator racional que possui uma hierarquia de preferências, presente nas teorias convencionais). Logo, normas novas ou modificadas permitem comportamentos novos ou diferentes, mas não garantem tais comportamentos. Voltando a focar mais diretamente nas questões humanitárias, Martha nos lembra que, nas teorias convencionais, o que importa são as motivações, não as justificativas. Porém, para ela, a justificativa é importante pois está diretamente ligada ao contexto normativo: “Quando estados justificam suas intervenções, estão desenhando e articulando valores e expectativas compartilhadas por outros decision makers e outros públicos em outros estados”. É uma tentativa de conectar as próprias ações a padrões de justiça, a padrões de comportamento apropriados e aceitáveis. Por isso as justificativas são mais importantes que as motivações aqui, já que por meio delas pode-se examinar quais os padrões internacionalmente vigentes e como eles mudam com o tempo. Normas podem oferecer utilidade e plausibilidade para explicar comportamento internacional, e esta é a meta da autora. Comportamento agregado por um longo período denota padrões que correspondem a noções de conduta correta ao longo do tempo. Optando por analisar as intervenções humanitárias em sua obra construtivista, Finnemore investiga as mudanças na prática destas “operações” entre o século XIX e o século XX. A análise irá mostrar que (1) justificativas humanitárias para ação estatal e uso da força por parte do estado não é algo novo; (2) o conteúdo e aplicação das justificativas tem mudado ao longo do tempo, como a definição de quais seres humanos merecem proteção (ela se refere a essa mudança como mudança de identificação, não de identidade, o que será melhor explicado pelos exemplos); (3) justificativas sofrem contestação e isso leva a mudanças (como por exemplo o fato de que, cada vez mais, agir unilateralmente em uma intervenção humanitária é visto com censura por parte da maioria dos estados); (4) existem relações entre normas de intervenção humanitária com outras, como as de universalização da “humanidade”, de descolonização e de auto- determinação, sendo que estas normas reforçam umas as outras; e, por último, (5) a análise enfatiza o fato de como a institucionalização de normas em organizações internacionais (como a ONU, o Conselho de Segurança, a “responsabilidade de proteger”,etc.) é algo crítico para a evolução dos padrões de normas. As mudanças no coração da estrutura normativa tendem a promover e facilitar mudanças normativas associadas em toda a sociedade. Normas mutualmente reforçadas e consistentemente lógicas parecem ser mais difíceis de atacar e tem uma vantagem nas contestações normativas atingem a vida social. Além disso, as lógicas internas às normas moldam o seu desenvolvimento e consequentemente sua mudança social. Resumo feito por Luis Henrique Reis Dias IRiscool 2011.2
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