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Máquinas de Fluxo 10.1 Introdução e Classificação de Máquinas de Fluxo 10.2 Análise de Turbomáquinas 10.3 Bombas, Ventiladores e Sopradores 10.4 Bombas de Deslocamento Positivo 10.5 Turbinas Hidráulicas 10.6 Hélices e Máquinas Eólicas 10.7 Turbomáquinas de Escoamento Compressível 10.8 Resumo e Equações Úteis Estudo de Caso em Energia e Meio Ambiente Energia Eólica: Turbina Eólica e Projeto de Ventiladores Usando Tubérculos No Estudo de Caso do Capítulo 9, aprendemos que a incrível agilidade das baleias jubarte se deve à presença de irregularidades sobre as bordas das suas nadadeiras, conhecidas como tubérculos. Ernst van Nierop, um postulante a doutorado na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard, é coautor de um estudo para explicar esse fenômeno em conjunto com o professor de matemática Michael Brenner e com o pesquisador Silas Alben. Tal como acontece com os aerofólios discutidos no Capítulo 9, quando o ângulo de ataque de uma nadadeira de baleia torna-se demasiadamente íngreme, o resultado é estol.* Experiências anteriores demonstraram, no entanto, que o ângulo de ataque antes do estol ocorre para uma nadadeira de baleia jubarte é muito mais acentuado que na nadadeira lisa. A equipe de Harvard mostrou que os tubérculos alteram a distribuição da pressão sobre a nadadeira de forma que algumas partes estolam antes das outras, evitando, assim, a perda de sustentação brusca, dando à baleia mais liberdade para atacar segundo ângulos maiores e mais capacidade de prever melhor as suas limitações hidrodinâmicas. Os tentáculos sobre a pá da turbina WhalePower (Foto de cortesia de J. Subirana, WhalePower.) Estudar os seres vivos, a fim de desenvolver ideias para melhorar a tecnologia é uma prática conhecida como biomimética, área que vem sendo utilizada cada vez mais para aumentar a eficiência das máquinas. Neste caso, temos a aplicação prática da tecnologia de tubérculos, especificamente no que se aplica às turbomáquinas, o tema deste capítulo. Uma companhia em Toronto, Ontário, chamada WhalePower, demostrou as vantagens dos tubérculos quando eles são integrados nas bordas de turbinas eólicas e nas pás do ventilador. A fotografia mostra o protótipo das pás de uma turbina eólica incorporando tubérculos em sua borda. Testes desses protótipos têm mostrado o dobro do desempenho das turbinas, permitindo que a turbina capte mais energia mesmo em baixa velocidade de ventos. Como nos referimos no Estudo de Caso do Capítulo 9, esse aumento de desempenho pode ser explicado observando como o estol afeta o fluxo total sobre pás rotativas. Em particular, é bem sabido que o estol experimentado por pás convencionais faz com que o ar se desloque do centro para a periferia das pás, em vez de se deslocar paralelamente ao eixo de rotação. O resultado desse efeito, por vezes referido como spanwise, é que é necessária uma energia adicional para mover o ar na direção desejada, diminuindo a eficiência do ventilador. Da mesma forma, uma turbina eólica que experimenta estol, irá gerar menor sustentação, extraindo, assim, menos ar. Além disso, o componente radial do fluxo de ar aumenta as vibrações das pás, causando ruído e aumento do desgaste. Testes em andamento no Instituto de Energia Eólica do Canadá revelam que, devido ao atraso no estol, pás revestidas com tubérculos são mais estáveis, silenciosas e duráveis do que as pás convencionais. Estudos recentes mostram que a adição de tubérculos nas bordas de ataque das pás da turbina faz gerar sustentação mais estável, com menor arrasto, mesmo em ângulo agudo, e quando há estol, ele é gradual, e não drástico. WhalePower alega que a melhora na geração de energia em velocidades de vento fraco é decorrente das pás serem mais silenciosas do que as pás convencionais, e que há uma redução na trepidação periférica (vibrações na ponta das lâminas devido a instabilidades de fluxo); em outras palavras, nas condições reais, as pás reforçadas com tentáculos parecem mais estáveis e sensíveis do que o tipo de turbina anterior. WhalePower também mostrou que pás com tubérculos alinhadas em ventiladores industriais podem operar com eficiência de 20% a mais do que as pás convencionais e que elas fazem um trabalho melhor de circulação de ar em um prédio. Os resultados foram significativos o suficiente para convencer a Envira-Norte, a maior fabricante de ventiladores do Canadá, a licenciar o projeto. Desde a Antiguidade, o homem tem buscado controlar a natureza. O homem primitivo transportava água em baldes ou conchas; com a formação de grupos maiores, este processo foi mecanizado. As primeiras máquinas de fluxo desenvolvidas foram rodas de conchas e bombas de parafuso para elevar água. Os romanos introduziram a roda de pás em torno de 70 a.C. para extrair energia dos cursos de água [1]. Mais tarde, foram desenvolvidos os moinhos para extrair energia do vento, mas a baixa densidade de potência do vento limitava a produção a poucas centenas de quilowatts. O desenvolvimento de rodas de água tornou possível a extração de milhares de quilowatts de um único local. Hoje, tiramos proveito de várias máquinas de fluxo. No dia a dia, obtemos água pressurizada de uma torneira, usamos um secador de cabelos, dirigimos um carro, no qual máquinas de fluxo operam os sistemas de lubrificação, refrigeração e direção, e trabalhamos em um ambiente confortável, com circulação de ar condicionado. A lista poderia ser estendida indefinidamente. Uma máquina de fluxo é um dispositivo que realiza trabalho sobre um fluido ou extrai trabalho (ou potência) de um fluido. Como você pode imaginar, este é um campo de estudo muito vasto, de modo que limitaremos nosso estudo principalmente aos escoamentos incompressíveis. Inicialmente, vamos apresentar a terminologia do assunto, classificando as máquinas em função do princípio de operação e de suas características físicas. Em vez de tentar uma abordagem de todo o assunto, concentramos nossa atenção em máquinas em que a transferência de energia do fluido, ou para o fluido, é realizada por meio de um elemento rotativo. Equações básicas são revistas e em seguida simplificadas para formas úteis na análise de máquinas de fluxo. As características de desempenho de máquinas típicas são consideradas. São dados exemplos de aplicações de bombas e turbinas em sistemas típicos. Em seguida, vamos discutir hélices e turbinas eólicas, equipamentos singulares, que absorvem energia de um fluido sem tirar proveito de uma carcaça. Uma discussão de máquinas de escoamento compressível conclui o capítulo. 10.1 Introdução e Classificação de Máquinas de Fluxo As máquinas de fluxo podem ser classificadas, de modo amplo, como máquinas de deslocamento positivo ou como máquinas dinâmicas. Nas máquinas de deslocamento positivo, a transferência de energia é feita por variações de volume que ocorrem devido ao movimento da fronteira na qual o fluido está confinado. Essas incluem dispositivos do tipo cilindropistão, bombas de engrenagens (por exemplo, a bomba de óleo de um motor de carro) e bombas de lóbulos (por exemplo, aquelas usadas na medicina para recirculação de sangue através de uma máquina). Não vamos analisar esses dispositivos neste capítulo; faremos uma breve revisão deles na Seção 10.4. Os dispositivos fluidomecânicos que direcionam o fluxo com lâminas ou pás fixadas em um elemento rotativo são denominados turbomáquinas. Em contraste com as máquinas de deslocamento positivo, não há volume confinado em uma turbomáquina. Todas as interações de trabalho em uma turbomáquina resultam de efeitos dinâmicos do rotor sobre a corrente de fluido. Esses dispositivos são largamente usados na indústria para geração de potência (por exemplo, o turbo compressor de um carro de alto desempenho). A ênfase neste capítulo é em máquinas dinâmicas. Umadistinção adicional entre os tipos de turbomáquinas é fundamentada na geometria do percurso do fluido. Nas máquinas de fluxo radial, a trajetória do fluido é essencialmente radial, com mudanças significativas no raio, da entrada para a saída. (Tais máquinas são, por vezes, denominadas máquinas centrífugas.) Nas máquinas de fluxo axial, a trajetória do fluido é aproximadamente paralela à linha de centro da máquina, e o raio de percurso não varia significativamente. Nas máquinas de fluxo misto, o raio da trajetória do fluido varia moderadamente. Diagramas esquemáticos de algumas turbomáquinas típicas são mostrados nas Figs. 10.1 a 10.5. Toda interação de trabalho em uma turbomáquina resulta de efeitos dinâmicos do rotor sobre a corrente de fluido, isto é, a troca de trabalho entre o fluido e o rotor da máquina tanto pode aumentar quanto diminuir a velocidade do escoamento. Contudo, em conjunção com a transferência de energia cinética, máquinas que possuem uma carcaça (por exemplo, compressores, bombas e turbinas) também envolvem a conversão de energia de pressão em energia cinética ou viceversa. Essa aceleração ou desaceleração do escoamento permite a obtenção de uma máxima razão pressão em bombas e compressores e uma máxima geração de potência em turbinas. Máquinas para Realizar Trabalho sobre um Fluido As máquinas que adicionam energia a um fluido, realizando trabalho sobre o fluido, são denominadas bombas, quando o escoamento é de líquido ou pastoso, e ventiladores, sopradores ou compressores para unidades que lidam com gás ou vapor, dependendo do aumento de pressão. Em geral, os ventiladores geram um pequeno aumento de pressão (inferior a 25 mm de água) e os sopradores geram um aumento de pressão moderado (da ordem de 25 mm de mercúrio); bombas e compressores podem ter aumentos de pressão muito grandes. Os sistemas industriais da atualidade operam com pressões de até 1 GPa (104 atmosferas). Fig. 10.1 Diagramas esquemáticos de turbomáquinas centrífugas típicas, adaptados de [2]. Fig. 10.2 Diagramas esquemáticos de turbomáquinas típicas de fluxo axial e de fluxo misto, adaptados de [2]. Bombas e compressores consistem em um elemento rotativo (chamado de impulsor ou rotor dependendo do tipo de máquina), acionado por uma fonte de energia externa (por exemplo, um motor ou outra máquina de fluxo) para aumentar a energia cinética do escoamento. Na sequência, um elemento desacelera o fluxo, aumentando, assim, sua pressão. Essa combinação é conhecida como estágio. Uma bomba ou compressor pode consistir em vários estágios com uma só carcaça, dependendo do valor da razão de pressão requerida da máquina. Esses elementos estão contidos na carcaça ou alojamento. O eixo que transfere energia mecânica para o rotor penetra na carcaça. Um sistema de mancais e selos é necessário minimizar as perdas (mecânicas) por atrito e prevenir vazamentos do fluido de trabalho. VÍDEO Fluxo e um Compressor de Fluxo Axial (Animação) (em inglês) Três máquinas centrífugas típicas são mostradas esquematicamente na Fig. 10.1. O elemento rotativo de uma bomba ou compressor centrífugo é frequentemente chamado de impulsor. O fluido adentra cada máquina quase axialmente através do olho do impulsor, diagrama (a), no raio pequeno r1. O fluxo é então defletido e sai pela descarga do rotor no raio r2, em que a largura é b2. O escoamento deixando o rotor é coletado no caracol ou voluta, que aumenta gradualmente de área à medida que se aproxima da saída da máquina, diagrama (b). O rotor geralmente tem pás; ele pode ser fechado (envolto) como mostrado no diagrama (a), ou aberto como mostrado no diagrama (c). As pás do rotor podem ser relativamente retas, ou encurvadas para tornaremse não radiais na saída. O diagrama (c) mostra que pode haver um difusor entre a descarga do rotor e a voluta; o difusor faz a difusão ser mais eficiente, mas aumenta os custos de fabricação. Máquinas centrífugas são capazes de maiores razões de pressão que as máquinas axiais, mas elas apresentam uma maior área frontal por unidade de vazão mássica. Fig. 10.3 Fotografia de um rotor de compressor axial de múltiplo estágio para uma turbina a gás. (Foto de cortesia da General Electric Company. © 2010 General Electric Company. Todos direitos reservados.) Turbomáquinas típicas de fluxo axial e de fluxo misto são mostradas esquematicamente na Fig. 10.2. A Fig. 10.2a mostra um estágio de um compressor de fluxo axial típico. O escoamento entra quase paralelo ao eixo do rotor e mantém aproximadamente o mesmo raio através do estágio. A bomba de fluxo misto no diagrama (b) mostra o escoamento sendo defletido para fora e deslocando para raios maiores à medida que atravessa o estágio. Máquinas de escoamento axial apresentam maiores eficiências e menores áreas frontais que máquinas centrífugas, mas elas não podem gerar altas razões de pressão. Por isso, máquinas de fluxo axial são geralmente de múltiplos estágios, o que as tornam mais complexas que as máquinas centrífugas. A Fig. 10.3 mostra um compressor axial de múltiplos estágios. Nesta fotografia, a carcaça (que está presa nos difusores do estator) foi removida para permitir uma melhor visualização das linhas dos difusores do rotor. O aumento de pressão que pode ser alcançado eficientemente em um único estágio é limitado, dependendo do tipo de máquina. A razão dessa limitação pode ser entendida com base no gradiente de pressão dessas máquinas (veja a Seção 9.6). Em uma bomba ou compressor, as camadaslimite adjacentes para um gradiente de pressão adverso não são estáveis; logo, é comum haver separação da camadalimite em um compressor ou bomba. A separação da camadalimite aumenta o arrasto sobre o impulsor, resultando em uma diminuição da eficiência; portanto, trabalho adicional é necessário para comprimir o fluxo. Ventiladores, sopradores, compressores e bombas são encontrados em vários tamanhos e tipos, desde unidades residenciais a unidades industriais, complexas, de grande capacidade. Os requisitos de torque e potência para bombas e turbossopradores idealizados podem ser analisados pela aplicação do princípio do momento da quantidade de movimento ou princípio da quantidade de movimento angular, usando um volume de controle adequado. As hélices são essencialmente dispositivos de fluxo axial que operam sem uma carcaça externa. Elas podem ser projetadas para operar em gases ou em líquidos. Como seria de se esperar, as hélices projetadas para essas aplicações tão diferentes são bastante distintas. As hélices marítimas tendem a ter pás largas comparadas com seus raios, conferindolhes alta solidez. As hélices de aviões tendem a ter pás longas e delgadas, com solidez relativamente baixa. Essas máquinas serão discutidas em detalhes na Seção 10.6. Máquinas para Extrair Trabalho (Potência) de um Fluido As máquinas que extraem energia de um fluido na forma de trabalho (ou potência) são chamadas turbinas. Nas turbinas hidráulicas, o fluido de trabalho é água, de modo que o escoamento é incompressível. Nas turbinas a gás e nas turbinas a vapor, a massa específica do fluido de trabalho pode variar significativamente. Em uma turbina, um estágio consiste normalmente em um elemento para acelerar o escoamento, convertendo parte da energia de pressão em energia cinética, seguido por um rotor, roda ou elemento rotativo que extrai energia cinética do escoamento por meio de um conjunto de difusores, pás ou conchas montados na roda. As duas classificações mais gerais de turbinas são turbinas de impulsão e de reação. As turbinas de impulsão são acionadas por um ou mais jatos livres de alta velocidade. O exemplo clássico de umaturbina a impulsão é a roda d’água. Em uma roda d’água, o jato de água é gerado pela gravidade. A energia cinética da água é transferida para a roda, resultando em trabalho. Em turbinas de impulsão mais modernas, o jato é acelerado em um bocal externo à roda da turbina. Se o atrito e a gravidade forem desprezados, nem a pressão, nem a velocidade relativa ao rotor mudam enquanto o fluido passa sobre as conchas da turbina. Desse modo, em uma turbina de impulsão, a aceleração do fluido e a queda de pressão decorrente ocorrem em bocais externos às pás, e o rotor não trabalha cheio de fluido; o trabalho é extraído como um resultado da grande variação na quantidade de movimento do fluido. Nas turbinas de reação, parte da variação de pressão do fluido ocorre externamente e a outra parte dentro das pás móveis. Ocorre aceleração externa e o escoamento é defletido para entrar no rotor na direção apropriada, à medida que passa por bocais ou pás estacionárias chamadas de pásguias ou de pás diretrizes. Uma aceleração adicional do fluido relativa ao rotor ocorre dentro das pás móveis, de modo que tanto a velocidade relativa quanto a pressão da corrente mudam através do rotor. Como as turbinas de reação trabalham cheias de fluido, elas podem, em geral, produzir mais potência para um dado tamanho total do que as turbinas de impulsão. A Fig. 10.4 mostra turbinas usadas para diferentes aplicações. A Fig. 10.4a mostra uma roda de Pelton, um tipo de roda de turbina de impulsão usada em usinas hidroelétricas. A Fig. 10.4b é uma fotografia de um rotor de uma turbina axial a vapor, um exemplo de turbina de reação. A Fig. 10.4c é uma fazenda de turbinas eólicas. Uma turbina eólica é outro exemplo de turbina de reação, mas, como um impulsor, também opera sem uma carcaça externa. Turbinas eólicas modernas coletam energia do vento e a convertem em eletricidade. Fig. 10.4 Fotografias de turbinas usadas em diferentes aplicações. (Foto de cortesia de (a) Andy Dingley; (b) e (c) Siemens Energy 2010.) Fig. 10.5 Diagramas esquemáticos de turbinas hidráulicas típicas, adaptados de [2]. Várias turbinas hidráulicas típicas estão mostradas esquematicamente na Fig. 10.5. A Fig. 10.5a mostra uma turbina de impulso acionada por um único jato, que se situa no plano do rotor da turbina. Á água do jato atinge cada concha sucessivamente, que gira e sai com uma velocidade relativa em sentido quase que oposto aquele de entrada na concha. Em seguida, á água cai no canal de fuga (não mostrado). Uma turbina de reação do tipo Francis é mostrada na Fig. 10.5b. A água que entra escoa circunferencialmente através da carcaça da turbina. Ela entra na periferia das pásguias estacionárias e escoa em direção ao rotor. A água entra no rotor quase radialmente e é defletida para baixo para sair aproximadamente na direção axial; a configuração do escoamento pode ser imaginada como a de uma bomba centrífuga reversa. A água saindo do rotor escoa através de um difusor conhecido como tubo de extração antes de entrar no coletor. A Fig. 10.5c mostra uma turbina de impulsão do tipo Kaplan. A entrada da água é similar aquela da turbina Francis, mas a água flui quase que axialmente antes de encontrar o rotor da turbina. O fluxo de saída do rotor pode passar para um tubo de extração. Desse modo, as turbinas vão desde simples moinhos de vento até complexas turbinas a vapor ou a gás, com muitos estágios de pás cuidadosamente projetadas. Estes dispositivos também podem ser analisados de uma forma idealizada, aplicandose o princípio da quantidade de movimento angular. Em geral, a queda de pressão em um estágio da turbina é maior que a razão de pressão permitida em um estágio do compressor. Essa diferença é decorrente do gradiente de pressão favorável (veja a Seção 9.6), que causa separação da camadalimite em uma escala muito menor do que no caso do compressor. Parâmetros adimensionais, tais como velocidade específica, coeficiente de vazão, coeficiente de torque, coeficiente de potência e razão de pressão são frequentemente usados para caracterizar o desempenho das turbomáquinas. Esses parâmetros foram introduzidos no Capítulo 7; seus desenvolvimentos e usos serão considerados com mais detalhes adiante neste capítulo. Abrangência De acordo com Japikse [3], “Turbomáquinas representam um mercado de 400 bilhões de dólares (possivelmente muito mais), apresentando, neste momento, um crescimento mundial enorme. Estimase que apenas as bombas centrífugas industriais consumam 5% de toda energia produzida nos EUA”. Além disso, demandas por energia amplamente disponível, econômica e não poluente continuaram dirigindo a pesquisa e o desenvolvimento na indústria das turbomáquinas [4]. Portanto, o projeto apropriado, a construção, a seleção e a aplicação de bombas e compressores são aspectos economicamente significativos. O projeto de máquinas reais envolve diversos conhecimentos técnicos, incluindo mecânica dos fluidos, materiais, mancais, vedações e vibrações. Esses tópicos são abordados em inúmeros textos especializados. O nosso objetivo aqui é apresentar somente detalhes suficientes para ilustrar a base analítica do projeto de escoamento de fluido e discutir brevemente as limitações dos resultados obtidos a partir de modelos analíticos simples. Para informações mais detalhadas de projeto, consulte as referências. A engenharia de aplicações ou de “sistemas” requer vasta experiência. Boa parte dessa experiência deve ser ganha no campo, trabalhando com outros engenheiros. Nossa abordagem não pretende ser completa; discutimos somente os aspectos mais importantes para a aplicação sistêmica, e bemsucedida, de bombas, compressores e turbinas. O material apresentado neste capítulo é de natureza diferente daqueles discutidos nos capítulos anteriores. Os Capítulos 1 a 9 cobriram muito dos fundamentos de mecânica dos fluidos, com resultados analíticos em muitos casos. Este capítulo também abordará análises, mas a complexidade inerente do assunto nos conduzirá a algumas correlações e a resultados empíricos. Para o estudante, isso pode parecer um tanto o quanto forçado, mas a obtenção de resultados a partir da combinação de teoria e experimentação é uma prática bastante comum na ciência da engenharia. 10.2 Análise de Turbomáquinas O método de análise usado para turbomáquinas é escolhido de acordo com a informação desejada. Quando se quer informações gerais sobre a vazão, a variação de pressão, o torque e a potência, uma análise de volume de controle finito deve ser usada. Caso se queiram informações detalhadas sobre ângulos de pás ou perfis de velocidade, elementos de pás individuais devem ser analisados por meio de um volume de controle infinitesimal ou outro procedimento detalhado. Consideramos apenas processos de escoamento idealizado neste livro, de modo que nos concentramos na aproximação por volume de controle finito, aplicando o princípio da quantidade de movimento angular. A análise seguinte aplicase tanto a máquinas que realizam trabalho quanto a máquinas que extraem trabalho de um escoamento. O Princípio da Quantidade de Movimento Angular: A Equação de Euler para Turbomáquinas O princípio da quantidade de movimento angular foi aplicado a volumes de controle finitos no Capítulo 4. O resultado obtido foi a Eq. 4.46, A Eq. 4.46 estabelece que o momento das forças superficiais e das forças de campo, mais o torque aplicado, levam a uma variação na quantidade de movimento angular do escoamento. [As forças superficiais são decorrentes do atrito e da pressão, a força de campo é decorrente da gravidade, o torque aplicado pode ser positivo ou negativo (dependendo se o trabalho é realizado pelo fluido ou sobre o fluido) e a variação na quantidade de movimento angular pode aparecer como variação na quantidade de movimento angularno interior do volume de controle, ou como fluxo de quantidade de movimento angular através da superfície de controle.] Agora, vamos simplificar a Eq. 4.46 para a análise de turbomáquinas. Primeiramente, para a análise de turbomáquinas, é conveniente escolher um volume de controle fixo englobando o rotor, a fim de avaliar o torque de eixo. Como estamos considerando volumes de controle para os quais são esperados grandes torques de eixo, os torques decorrentes de forças de superfícies podem ser ignorados em uma primeira aproximação. A força de campo gravitacional pode ser desprezada por simetria. Então, para escoamento permanente, a Eq. 4.46 tornase Fig. 10.6 Volume de controle finito e componentes da velocidade absoluta para análise da quantidade de movimento angular. A Eq. 10.1a estabelece: Para uma turbomáquina com entrada de trabalho, o torque requerido causa uma variação na quantidade de movimento angular do fluido; para uma turbomáquina com saída de trabalho, o torque produzido é decorrente de uma variação na quantidade de movimento angular do fluido. Vamos escrever essa equação na forma escalar, ilustrando a sua aplicação a máquinas de fluxo axial e radial. Conforme mostrado na Fig. 10.6, selecionamos um volume de controle fixo que inclui um rotor genérico de uma turbomáquina. O sistema de coordenadas fixas é escolhido com o eixo z alinhado com o eixo de rotação da máquina. As componentes de velocidades idealizadas são mostradas na figura. O fluido entra no rotor na localização radial r1, com velocidade absoluta uniforme 1; o fluido sai do rotor na localização radial r2, com velocidade uniforme absoluta 2. O integrando no lado direito da Eq. 10.1a é o produto de × pela vazão mássica em cada seção. Para escoamento uniforme entrando no rotor na seção 1, e saindo do rotor na seção 2, a Eq. 10.1a tornase (Note que na expressão × , o vetor posição é puramente radial, de modo que apenas a componente da velocidade tangencial Vt deve ser levada em conta.) Na forma escalar, As suposições feitas na dedução dessa equação são: escoamento permanente, sem atrito; escoamento unidirecional na entrada e na saída; e efeitos de pressão desprezíveis. A Eq. 10.1c é a relação básica entre torque e momento da quantidade de movimento para todas as turbomáquinas. Ela é comumente chamada de equação de Euler das turbomáquinas. Cada velocidade que aparece na Eq. 10.1c é a componente tangencial da velocidade absoluta do fluido cruzando a superfície de controle. As velocidades tangenciais são escolhidas positivas, quando no mesmo sentido da velocidade da pá, U. Esta convenção de sinal conduz a Teixo > 0 para bombas, ventiladores, sopradores e compressores e Teixo < 0 para turbinas. A taxa de trabalho realizado sobre um rotor de uma turbomáquina (a potência mecânica, m) é dada pelo produto escalar da velocidade angular do rotor, pelo torque aplicado, eixo. Usando a Eq. 10.lb, obtemos ou De acordo com a Eq. 10.2a, a quantidade de movimento angular do fluido é aumentada pela adição de trabalho de eixo. Para uma bomba, m > 0 e a quantidade de movimento angular do f1uido deve aumentar. Para uma turbina, m < 0 e a quantidade de movimento angular do fluido deve diminuir.movimento angular do fluido deve diminuir. A Eq. 10.2a pode ser escrita em duas outras formas úteis. Introduzindo U = rω, em que U é a velocidade tangencial do rotor no raio r, temos Dividindo a Eq. 10.2b por g, obtemos uma quantidade com as dimensões de comprimento, que pode ser vista como uma carga teórica adicionada ao escoamento.1 As Eqs. 10.1 e 10.2 são formas simplificadas da equação da quantidade de movimento angular para um volume de controle. Todas elas estão escritas para um volume de controle fixo com as hipóteses de escoamento permanente e uniforme em cada seção. As equações mostram que apenas a diferença no produto rVt ou UVt, entre as seções de saída e de entrada, é importante na determinação do torque aplicado ao rotor ou na potência mecânica. Embora r2 > r1 na Fig. 10.6, nenhuma restrição foi feita quanto à geometria; o fluido pode entrar e sair nos mesmos ou em diferentes raios. Portanto, estas equações podem ser usadas para máquinas de fluxo axial, radial e misto. Diagramas de Velocidade As equações que deduzimos também sugerem a importância de definir claramente as componentes de velocidade do fluido e do rotor nas seções de entrada e de saída. Para este fim, é útil desenvolver diagramas de velocidade (frequentemente chamados de polígonos de velocidade) para os escoamentos de entrada e de saída. A Fig. 10.7 mostra os diagramas de velocidade e introduz a notação para os ângulos das pás e do escoamento. Vale relembrar que a variável V é usada tipicamente para indicar velocidade absoluta, isto é, a velocidade do escoamento relativa a um observador estacionário, enquanto a variável W é usada para indicar a velocidade do escoamento em relação às pás girantes. As máquinas são projetadas de modo que, na condição de projeto, o fluido movese suavemente (sem perturbações) através das pás. Na situação idealizada para a velocidade de projeto, o escoamento relativo ao rotor é suposto entrar e sair tangente ao perfil da pá em cada seção. (Esta condição de entrada idealizada é por vezes chamada de escoamento de entrada sem choque.) Para velocidades diferentes da velocidade de projeto (e, na verdade, algumas vezes mesmo para a velocidade de projeto!), o fluido pode sofrer impacto com as pás na entrada, na saída em um ângulo relativo à pá, ou pode haver separação significativa no escoamento, levando a uma redução na eficiência da máquina. A Fig. 10.7 é representativa de uma máquina de fluxo radial típica. Consideramos que o fluido está se movendo sem maiores perturbações no escoamento, conforme mostrado na Fig. 10.7a, com os ângulos de entrada e de saída nas pás β1 e β2, respectivamente, relativos à direção tangencial. Note que, embora os ângulos β1 e β2 sejam ambos menores que 90º na Fig. 10.7, em geral, eles podem ser menores, iguais, ou maiores a 90º. A análise seguinte aplicase a todas estas possibilidades. A velocidade do rotor na entrada é U1 = r1ω, e é, portanto, especificada pela geometria do rotor e pela velocidade de operação da máquina. A velocidade absoluta do fluido é a soma vetorial da velocidade do rotor com a velocidade do escoamento relativa à pá. A velocidade absoluta de entrada pode ser determinada graficamente, conforme mostrado na Fig. 10.7b. O ângulo da velocidade absoluta do fluido, α1, é medido a partir da direção normal à área de escoamento, como mostrado.Fig. 10.7b. Note, da geometria da figura, que em cada seção a componente normal da velocidade absoluta, Vn, e a componente normal da velocidade relativa à pá, Wn, são iguais (porque a pá não possui velocidade normal). Fig. 10.7 Geometria e notação usadas para desenvolver diagramas de velocidade para máquinas típicas de fluxo radial. Para facilitar a determinação da velocidade absoluta na entrada da máquina, é necessário determinar se há redemoinho na entrada. O redemoinho, que pode estar presente no escoamento de entrada, ou introduzido pelas pás guias de entrada, é a presença de componente de velocidade circunferencial. Quando o escoamento de entrada é livre de redemoinhos, a velocidade absoluta de entrada é puramente radial. O ângulo de entrada da pá pode ser especificado para a vazão e a velocidade de projeto da bomba de modo a gerar um escoamento na entrada suave relativo à orientação das pás. O diagrama de velocidade é construído de maneira similar na seção de saída. A velocidade do rotor na saída é U2 = r2ω, que novamente é conhecida a partir da geometria e davelocidade de operação da turbomáquina. O escoamento relativo é suposto sair do impulsor tangente às pás, como mostrado na Fig. 10.7c. Esta consideração idealizada de orientação perfeita fixa à direção do escoamento de saída relativo nas condições de projeto. Para uma bomba centrífuga ou turbina de reação, a velocidade relativa à pá geralmente muda de intensidade da entrada para a saída. A equação da continuidade deve ser aplicada, usando a geometria do rotor, para determinar a componente normal da velocidade em cada seção. A componente normal, junto com o ângulo de saída da pá, é suficiente para estabelecer a velocidade relativa à pá na saída do rotor, para uma máquina de fluxo radial. O diagrama de velocidade é completado pela soma vetorial da velocidade relativa à pá com a velocidade do rotor, como mostrado na Fig. 10.7c. Os diagramas de velocidade de entrada e de saída fornecem todas as informações necessárias para calcular o torque ou a potência ideal, absorvida ou entregue pelo rotor, usando as Eqs. 10.1 ou 10.2. Os resultados representam o desempenho da turbomáquina sob condições ideais no ponto de operação de projeto, desde que tenhamos considerado: • Torque desprezível devido às forças superficiais (viscosas e de pressão). • Escoamentos de entrada e de saída, tangentes às pás. • Escoamento uniforme na entrada e na saída. Uma turbomáquina real não se comporta de modo a atender todas estas considerações. Por isso, os resultados de nossa análise representam o limite superior do desempenho de máquinas reais. O desempenho de uma máquina real pode ser estimado usando esta mesma aproximação básica, mas levando em conta variações nas propriedades do escoamento através da extensão da pá nas seções de entrada e de saída, e desvios entre os ângulos das pás e as direções do escoamento. Tais cálculos detalhados estão além do escopo deste livro. A alternativa é medir o desempenho global de uma máquina em uma bancada de testes adequada. Dados de fabricantes são exemplos de informação de desempenho medido. No Exemplo 10.1, usaremos a Equação de Euler para Turbomáquina para analisar uma bomba centrífuga ideal. Exemplo 10.1 BOMBA CENTRÍFUGA IDEALIZADA Uma bomba centrífuga é utilizada para bombear 0,009 m3/s de água. A água entra no rotor axialmente através de um orifício de 32 mm diâmetro. A velocidade de entrada é axial e uniforme. O diâmetro de saída do rotor é 100 mm. O escoamento sai do rotor a 3 m/s em relação às pás, que são radiais na saída. A velocidade do rotor é 3450 rpm. Determine a largura de saída do rotor, b2, o torque de entrada e a potência requerida prevista pela equação de Euler para turbinas. Dados: Escoamento conforme mostrado na figura: Vr2 = 3 m/s, Q = 0,009 m3/s. Determinar: (a) b2. (b) Teixo. (c) m. Solução: Aplique a equação da quantidade de movimento angular a um volume de controle fixo. Equações básicas: Considerações: (1) Desprezar torques causados por forças superficiais e de campo. (2) Escoamento permanente. (3) Escoamento uniforme nas seções de entrada e de saída. (4) Escoamento incompressível. Então, da continuidade, (−ρV1 π ) + (ρVr22πR2b2) = 0 ou = ρQ = ρVr22πR2b2 de modo que Para uma entrada axial, a velocidade tangencial Vt1 = 0, e para pás de saída radial Vt2 = R2ω, de modo que a Eq. 10.1c fica reduzida a Teixo = ω = ω ρQ em que usamos a continuidade ( = ρQ). Portanto, e Este problema ilustra a aplicação da equação de Euler para turbomáquina para um volume de controle fixo a uma máquina de fluxo centrífuga. Eficiência – Potência Hidráulica O torque e a potência previstos pela aplicação da equação da quantidade de movimento angular ao rotor de uma turbomáquina (Eqs. 10.1c e 10.2a) são valores idealizados. Na prática, a potência do rotor e a taxa de variação da energia do fluido não são iguais. A transferência de energia entre o rotor e o fluido causa perdas por efeitos viscosos, por desvios do escoamento uniforme e por desvios de direção do escoamento em relação aos ângulos das pás. A transformação de energia cinética em aumento de pressão pela difusão do fluido no invólucro fixo introduz mais perdas. Dissipação de energia ocorre em selos e mancais e no atrito do fluido entre o rotor e a carcaça (perdas “windage”). A aplicação da primeira lei da termodinâmica a um volume de controle envolvendo o rotor mostra que estas “perdas” na energia mecânica são conversões irreversíveis de energia mecânica em energia térmica. Da mesma forma que no caso de escoamento em tubo discutido no Capítulo 8, a energia térmica aparece sob a forma de energia interna na corrente de fluido, ou como calor transferido para a vizinhança. Por causa dessas perdas, a potência real entregue ao fluido por uma bomba é menor do que aquela prevista pela equação de quantidade de movimento angular. No caso de uma turbina, a potência real entregue ao eixo é menor do que a potência cedida pela corrente de fluido. Podemos definir a potência, a altura de carga e a eficiência de uma turbomáquina, baseados em que a máquina ou realiza trabalho (ou potência) sobre o fluido ou extrai trabalho (ou potência) do fluido. Para uma bomba, a potência hidráulica é dada pela taxa de energia mecânica cedida ao fluido, em que
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