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CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS A ROTINA ESCOLAR DE UM PORTADOR DE UMA DOENÇA RARA AUTOINFLAMATÓRIA: ESTUDO DE CASO SILVA, Mirlene Adomaite.1 SILVA, Ricardo Carvalho.2 RESUMO As doenças autoinflamatórias são patologias de origem genética e fazem parte do grupo de doenças raras. Por tratar-se de patologia genética, as manifestações de atividade da doença têm início já nos primeiros meses de vida, podendo acarretar além das consequências fisiológicas, em atraso no desenvolvimento social, provocando rotina diferenciada a seu portador, inclusive na vida escolar. A presente pesquisa foi fundamentada no estudo de caso da rotina escolar de uma criança portadora de Cryopyrin Associated Periodic Syndrom, a quem atribuímos o codinome Clarice, atualmente com 12 anos e cursando o 7º ano do ensino fundamental 2 em um Colégio público do Estado de Goiás. O objeto de análise usado nesse estudo, foi um questionário, portanto o início do trabalho se deu quando os professores, os colegas de classe, os pais e a própria criança em questão, responderam os questionários propostos no estudo. As análises dos dados demonstraram que apesar de sua condição, Clarice não apresenta dificuldade de aprendizagem e se sente acolhida em sua atual escola. PALAVRAS – CHAVE: Síndrome auto inflamatória. Doença rara. Inclusão escolar. 1 INTRODUÇÃO As doenças auto inflamatórias são patologias de origem genética, fazem parte do grupo de doenças raras, ou seja, têm incidência de menos de 65 casos a cada 1 Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas. Centro de Ensino e Aprendizagem em Rede – Universidade Estadual de Goiás. Aparecida de Goiânia/GO, 2020. Email: mirlenebioueg@gmail.com 2 Ricardo Carvalho Silva, mestre em medicina Tropical (IPTSP/UFG), Farmacêutico (UFG). Professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Campus Henrique Santillo – Anápolis, ricardo.carvalho@ueg.br 100 mil pessoas, sendo que até o momento, as estatísticas de incidência das CAPS (Cryopyrin Associated Periodic Syndrome) apresentam índice de 0,0001% da população mundial. A primeira doença auto inflamatória descrita foi a Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM), em 1997, por Daniel Kastner. A partir de então, a sociedade imuno- pediatra tem se virado para o cenário apresentado por essas novas doenças, que atualmente possuem caracterização e classificação bem estabelecidas em crianças. Em adultos, seja por fenótipos diferentes ou por atraso de diagnóstico, pouco se sabe até o momento. As mutações relacionadas à estas patologias fazem parte das chamadas mutações invisíveis, em que não há má formações ou evidências físicas que possibilitem relacionar seus portadores as limitações que de fato possuem (MENDONÇA et al. 2017). Estes dados tornam evidente a dificuldade em se chegar ao diagnóstico correto, tratamento e condutas ideais que garantam a qualidade de vida de seus portadores. Por tratar-se de patologia genética, as manifestações de atividade da Síndrome têm início já nos primeiros meses de vida, podendo acarretar além das consequências fisiológicas, em atraso no desenvolvimento social, provocando rotina diferenciada a seu portador, inclusive na vida escolar. Em contrapartida, mesmo sendo notória a preocupação das escolas em se adequar à diversidade de alunos, que independente de suas características, devem estar envolvidos em projetos de inclusão de crianças com necessidades educativas especiais, é evidente que nem sempre o sucesso pretendido é alcançado (DIOGO, 2015). Diante da complexidade da patologia e seu tratamento, torna-se claro a necessidade do melhor entendimento da rotina de seus raros portadores, que por vezes, tornam-se alvo de preconceito, sendo desacreditados em suas rotinas, inclusive escolar, por parte de professores, colegas e direção das instituições escolares, que por falta de informações e conhecimento, podem afetar negativamente o desenvolvimento acadêmico destes estudantes (DIOGO 2015; MELO et al. 2010). Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo, mostrar a rotina diária de uma aluna portadora da CAPS, a quem atribuiu-se, neste estudo, o codinome de Clarice. A aluna, a qual os pesquisadores acompanham durante um período, cursa atualmente o ensino fundamental em um colégio estadual do estado de Goiás e apesar de ser portadora de uma doença genética, onde logo após o nascimento apresentou-se sintomas, só foi diagnosticada aos 10 anos de idade. 2 SÍNDROMES AUTOINFLAMATÓRIAS As síndromes autoinflamatórias são doenças monogênicas que se manifestam geralmente através de febre recorrentes, podendo ou não estar associada ao rash cutâneo, linfadenopatia ou artrite. Diferente de doenças autoimune, não há presença de auto- anticorpos, são doenças provocadas por distúrbios no sistema imune inato. Os receptores presentes nessa imunidade são responsáveis pelo reconhecimento de patógenos ou danos celulares, e seus distúrbios provocam a ativação exagerada de inflamassoma. Entre as síndromes autoinflamatórias estão a Febre Familiar do Mediterrâneo, Síndrome Periódica associada ao receptor do fator de necrose tumoral (TNF), TRAPS (receptor associated periodic syndrome), Síndrome febril periódica e hiperimunoglobulinemia D (HIDS) e CAPS (cryopyrin associated periodic syndrome), sendo esta a responsável pela Síndrome neurológica e articular infantil crônica (NOMID/CINCA), Síndrome de Muckle-Wells (MWS) e Urticaria Familiar ao Frio (FCU) (CUNHA et al. 2009). Responsável pela primeira barreira que diferencia o próprio do não próprio no organismo, a imunidade inata reconhece e distingue através de padrões pelos pattern- recognition receptors (PRRs), que são formados por células de primeira linha de defesa (macrófagos, monócitos, dendríticas, neutrófilos e epiteliais). (MENDONÇA, et al. 2017). Os PRRs extracelulares (Toll-like receptors – TLRs e C-typelectins – CTLs) são capazes de reconhecer moléculas patogênicas (PAMPs) e então sinalizam à célula qual tipo de organismo a está atacando, para que os PRRs intracelulares façam a diferenciação da resposta ideal, ativando então uma via inflamatória (MENDONÇA, et al. 2017). As CAPS são causadas por mutações nos genes responsáveis pela tradução da proteína Criopirina, podendo a mutação acontecer nos genes NLRP3, NLRP12 ou NLRC4. No Brasil, a prevalência das síndromes ainda é desconhecida, enquanto na França a mutação acomete 1:360.000 indivíduos, e sendo a estatística mundial de 0,0001% (MENDONÇA et al. 2017). Segundo Pereira e colaboradores (2010), os achados clínicos incluem febre recorrente, rash urticariforme, artralgia, mialgia, conjuntivite, cefaleia, dor abdominal e retardo no crescimento. Há possibilidade de perda auditiva neurossensorial progressiva. A amiloidose secundária está presente em cerca de 25% dos casos, é a complicação mais grave, debilitando predominantemente os rins. A doença é de gravidade espectral, e relaciona-se as síndromes: - FCAS (familial cold autoinflammatory syndrome; - Syndrome Muckle – Wells (MWS); - Doença multissistêmica de início neonatal (NOMID) ou Síndrome neurológica, cutânea e articular crônica infantil (CINCA). As três doenças compartilham o gene mutado e algumas características e seus sintomas podem ser induzidos pelo frio ou estresse, e obrigatoriamente tem marcadores inflamatórios elevados quando submetidos à analises clínica. O diagnóstico em qualquer dos espectros é primeiramente clínico, sendo necessário além das taxas elevadas de marcadores inflamatórios, dois ou mais dos sinais citados, sendo a febre o sinal que mais há queixas (MELO et al. 2010; MENDONÇA et al, 2017). A Criopirina é a proteína que faz a ponte que une a IL-1 inflamatória ao complexo multiprotéico responsável pela clivagem da IL-1 ß de um precursor inativo para a IL-1 ß ativada, formando uma citocina pró inflamatóriapotente. As mutações nos genes NLRP3, NLRP12 e NLRC4 promovem formações aberrantes de inflamação e produção inapropriada da IL-1 ß ativada, favorecendo a não inibição da criopirina mutante. As diferenças fenotípicas e genética individual refletem no impacto diferenciado das mutações na atividade inflamatória. Os limites entre as síndromes não são claros e os quadros de disfunção são de penetrância variada. Baseado em achados clínicos, a confirmação de diagnóstico é obtida através de painel genético que avalia os genes em questão. O tratamento não responde a anti-inflamatórios convencionais ou específicos como a colchicina (SILBER, 2008). Existem evidências de melhora nos quadros de crise quando administrado doses elevadas de corticoides, e como medicamentos promissores estão os biológicos Anakinra (antagonista da IL-1 humana) e o Canaquinumabe (anticorpo mononucleal voltado para IL-1 ß). Atualmente, o Canaquinumabe é comercializado no Brasil com o nome comercial Ilaris, e o Anakinra pode ser obtido apenas por importação (PEREIRA et al. 2008). 2.1 A Rotina Escolar de Portadores de Doenças Raras Faz-se notório por todos do meio educacional o grande desafio que as escolas enfrentam para proporcionar a seus alunos um aprendizado significativo, visando o sucesso educacional, acima de suas características de ordem física e social, econômica, familiar ou cultural. Existe uma necessidade de que o sistema educativo responda de forma diferente à diversidade de alunos, sendo necessário que os profissionais da educação estejam em constante atualização e procura de novas perspectivas, que os capacitem ao melhor entendimento das reais necessidades destes alunos, ajustando uma resposta mais assertiva e resiliente possível, e buscando conduzir a elevados níveis de sucesso aos que a aprendizagem lhes foi confiada, independentemente de suas condições individuais. Quando se fala em filosofia de educação inclusiva é pretendido que esta alcance todas as crianças, garantindo o direito à educação em escolas do ensino regular, mesmo que se façam necessário adaptações que garantam a melhor resposta possível, bem como mudanças nas práticas pedagógicas e educacionais, sempre com intuito de melhor desenvolvimento pedagógico e resposta às necessidades das crianças, independentemente de suas limitações pessoais (DIOGO, 2015). Diante deste contexto, estará realmente a escola de hoje preparada para a educação inclusiva? Será a escola capaz de promover a inclusão de todos os seus alunos, diante de suas diferenças e respeitando à diversidade? O relatório Warnock, redigido em 1978 impulsionou a introdução do conceito de Necessidades Educativas Especiais (NEE) para os alunos com dificuldades de aprendizagem, sendo considerado marco de viragem de uma nova perspectiva sobre a educação especial, assim como a Declaração de Salamanca (1994), uma vez que ambos defendem que os alunos com necessidades educativas especiais frequentem escolas do ensino regular, e que estas devem estar preparadas para acolher todos os seus alunos (DIOGO, 2015). Crianças portadores de doenças raras são elegíveis para a Educação Especial, já que normalmente apresentam dificuldades em seguir o currículo regular, seja pela necessidade de acompanhamento especializado por parte da educação especial, ou mesmo quando não se faz necessário, mas pelas dificuldades enfrentadas em crises ou pelo tratamento, o que frequentemente pode acarretar em ausência durante as aulas, a depender da patologia apresentada (SANCHES, 2011). Mesmo sabendo que grande parte dos portadores de doenças raras possuem inteligência normal, não obstante, estes podem enfrentar dificuldades específicas de aprendizagem, quer seja por limitações ligadas diretamente a suas variações de saúde, quer seja pelos processos a que são expostos em busca do aprendizado em escolas regulares. (DIOGO, 2015). As pesquisas relacionadas a inclusão escolar de crianças portadoras de doenças raras são escassas, e portanto, subentende-se que tais doenças ou síndromes são negligenciadas, o que reforça a necessidade de novos estudos sobre o tema, para que estes contribuam e ampliem o real conhecimento sobre a rotina escolar destas crianças. 3 METODOLOGIA A presente pesquisa teve como base o estudo da rotina escolar de uma aluna atualmente com 12 anos de idade e cursando o 7º ano do ensino fundamental 2 em Colégio da rede Pública do Estado de Goiás, a qual atribuiu-se o pseudônimo Clarice. Após aprovação de Conselho de Ética em Pesquisa, para este estudo foram convidados a responder questionário avaliativo: a própria estudante, os pais, colega(s) de sala de aula, e professora(s), representando a instituição de ensino a qual a estudante pertence. A coordenação pedagógica da escola indicou 5 colegas de classe e 3 professores para que participassem da pesquisa. Após assinados os devidos termos de assentimento e consentimento, os participantes responderam individualmente os questionários específicos de múltipla escolha, de acordo seu vínculo com o estudo e grau de relacionamento com a menor em questão. As entrevistas e os questionários foram aplicados no período entre 09 e 13 de novembro de 2020. Os dados obtidos com os resultados dos questionários foram avaliados por meio de estatística descritiva básica utilizando o Software Microsoft® Office Excel 2016 e apresentados em forma de tabelas, facilitando a visualização da abordagem proposta neste trabalho, expondo a realidade enfrentada pela portadora da síndrome autoinflamatória, quanto aos impactos em sua rotina escolar, buscando refletir parte da realidade escolar de diferentes portadores de doenças raras. O presente trabalho foi avaliado segundo os padrões éticos recomendados pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde – CNS onde constam as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa que envolvem seres humanos. Sob a ótica do indivíduo e suas coletividades, esta Resolução assegura os quatro referenciais básicos da Bioética: confiabilidade, confidencialidade, fidedignidade e sigilo em relação aos sujeitos da pesquisa, garantindo a veracidade e validade dos dados coletados, sendo os sujeitos da pesquisa foram abordados através do TCLE. Todos os dados obtidos ficarão em poder e responsabilidade dos pesquisadores por dois anos. Foi garantido o anonimato nesta pesquisa, portanto não serão divulgados nomes dos participantes. Além disso, foi garantido aos sujeitos da pesquisa o direito de se retirar do estudo a qualquer momento, sem gerar qualquer prejuízo moral ou financeiro, além de assegurar não haver no estudo qualquer risco, já que envolve apenas o preenchimento de questionários e entrevista. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES O Colégio Público em que atualmente Clarice está matriculada é uma escola grande, com mais de 1.500 alunos distribuídos por duas turmas mistas do ensino fundamental 2 e ensino médio. O prédio é amplo e bem estruturado, possui recepção, 18 salas de aula, diretoria, sala de coordenação pedagógica, sala de coordenação disciplinar, sala de coordenação de merenda, enfermaria, biblioteca, laboratório de ciências, laboratório de informática, cinema, sala de música, sala de ballet, sala de artes marciais, ginásio, 4 praças de convívio social, 2 pátios, refeitório e 4 banheiros. O prédio foi projetado com acessibilidade total, com rampas de acesso que garantem o acesso de todos os alunos a todos os ambientes. Representando a escola, a coordenação pedagógica solicitou que três professores, identificados como professor A, B e C, respondessem ao questionário de forma online, preservando suas identidades. Conforme Quadro 1, destes 3 professores, 2 possuem especialização para educação especial e os 3 afirmam que a escola desenvolve frequentemente atividades de conscientização e combate ao bulling. Umdos professores afirma ter contato com Clarice 3 dias por semana e os outros dois mencionam contato 4 ou mais dias por semana. Nenhum dos três professores observaram que Clarice apresente qualquer dificuldade de aprendizagem. Quando questionados sobre o papel da escola na adequação de crianças com síndromes raras, um professor acredita que a escola possui papel parcial, em que os professores e direção escolar devem promover mecanismos de inclusão destas crianças apenas no ambiente escolar, sendo fora da escola a responsabilidade unicamente dos pais. Já para os outros dois professores entrevistados, a escola possui papel equivalente aos pais independente da criança estar ou não na escola, uma vez que crianças com condições raras necessitam da interação dos pais junto aos professores para otimizar este processo de inclusão (dentro e fora da escola). Quadro1: Professores IDENTIFICAÇÃO: PROFESSOR A PROFESSOR B PROFESSOR C Possui especialização em educação especial? SIM SIM NÃO Frequência de contato com Clarice 4 ou mais dias/semana 4 ou mais dias/semana 3 dias/semana Clarice apresenta alguma dificuldade de aprendizagem? NÃO NÃO NÃO Frequência que a escola desenvolve atividades contra bulling SEMPRE SEMPRE SEMPRE Papel da escola na adequação de crianças raras: PARCIAL EQUIVALENTE EQUIVALENTE Fonte: A autora (2020). 4.2 Os colegas de classe Atualmente matriculada no 7º ano do ensino fundamental 2, Clarice pertence a uma turma com quase 40 alunos. Dentre estes alunos, nenhum é portador de deficiência física, sendo Clarice a única criança da turma com condição diferenciada, ainda que provocada por mutação invisível. Por indicação da coordenação pedagógica da escola responderam de forma online ao questionário cinco alunos, os quais foram chamados de Aluno 1, Aluno 2, Aluno 3, Aluno 4 e Aluno 5, preservando assim a identidade das crianças. Conforme Quadro 2, dentre estes cinco alunos, três se declaram muito próximos à Clarice, um razoavelmente próximo e o quinto aluno, pouco próximo à Clarice. Três destas crianças já sabiam que Clarice é portadora de uma doença rara e duas desconheciam este fato. Os cinco alunos que responderam ao questionário definem o comportamento de Clarice igual ao da maioria das crianças, não tendo observado nela grandes diferenças, mas também responderam, de maneira unanime, já terem percebido que Clarice não participa de algumas atividades. Quando questionados sobre terem observado se houve tentativa de inclusão para realização das atividades das quais Clarice não participou, duas crianças referem que os professores buscaram alternativas para inclui-la, outras duas crianças disseram que a tentativa de inclusão partiu dos colegas e uma criança diz que todos tentam incluí- la. Em relação a frequência com que a escola desenvolve atividades de prevenção e enfrentamento ao bulling, uma criança diz nunca ter participado de atividades com esta finalidade, uma criança refere que a escola sempre desenvolve atividades desse tipo e os outros três alunos mencionam raramente a escola desenvolve atividades com este propósito. Todas as respostas constam no quadro abaixo, em que os alunos foram identificados como 1, 2, 3, 4 e 5, mantendo a preservação de suas identidades: Quadro 2: Colegas de Classe IDENTIFICAÇÃO ALUNO 1 ALUNO 2 ALUNO 3 ALUNO 4 ALUNO 5 Proximidade com Clarice: Muito Muito Muito Razoável Pouco Já sabia da condição rara de Clarice? Sim Sim Sim Não Não Como define o comportamento de Clarice? Como a maioria Como a maioria Como a maioria Como a maioria Como a maioria Já observou Clarice não participar de atividades? Sim, algumas Sim, algumas Sim, algumas Sim, algumas Sim, algumas Quem tentou envolve-la na atividade? Colegas Todos Colegas Professores Professores Frequência que a escola desenvolve atividades contra bulling Raramente Raramente Sempre Nunca Raramente Fonte: A autora (2020). 4.3 Os Pais Casados e pais de três crianças, sendo Clarice a mais velha, os pais mencionam ter iniciado a busca por um diagnóstico ainda antes de seu primeiro ano de vida, já que a menina apresentou problemas de saúde a partir de quatro ou cinco meses de nascida. Dentre os problemas mencionados, os mais frequentes são febre sem causa aparente, infecções e inflamações repetitivas e de difícil tratamento, atraso no crescimento e alteração em exames laboratoriais. Todos os episódios foram tratados isoladamente, e apenas aos 10 anos de idade, após suspeita de um reumatologista e com o auxílio da Associação Nacional de Doenças Autoinflamatórias (ANDAI) a família chegou ao único especialista em doenças autoinflamatórias no Brasil, confirmando o diagnóstico através de painel genético. Em relação a rotina escolar de Clarice, os pais consideram que a condição de sua filha influencia razoavelmente seu desempenho escolar, havendo poucas adequações necessárias para o desenvolvimento das atividades escolares, já que a menina não tem autorização médica para participar de atividades de educação física que tenham impacto, devendo então não participar ou ser adaptada. Em relação ao impacto que a condição da criança trouxe à família, os pais avaliam que a rotina foi pouco afetada, e quanto ao papel da escola na adequação de crianças com síndromes raras, os pais afirmam acreditar que a escola possui papel equivalente a família, já que independente da criança estar ou não na escola, crianças com condições raras necessitam da interação dos pais junto aos professores para otimizar este processo de inclusão (dentro e fora da escola). As respostas dos pais seguem ilustradas no quadro abaixo: Quadro 3: Pais Influência no desempenho escolar: Necessidade de Adequações: Impacto na rotina da família: Papel da escola: Não é influente poucas adequações Não afetou nada Nenhum Pouco influente muitas adequações Afetou pouco Parcial Razoavelmente influente nenhuma adequação Afetou consideravelmente Equivalente Muito influente Fonte: A autora (2020). 4.4 Clarice Clarice diz tentar viver o mais próximo possível do que uma criança normal, mesmo com as limitações impostas por seu diagnóstico, CAPS. Estudiosa e com muitos sonhos, a menina conta que antes de iniciar o tratamento correto, com Canaquinumabe, seu maior desafio era não ser prejudicada devido as faltas na escola, provocadas pelas crises da doença ou pelos frequentes exames e consultas médicas. Por se tratar de uma síndrome provocada por mutação invisível, não é possível a percepção de qualquer anormalidade, mas para ela não é um problema ter que explicar sua condição a qualquer pessoa, o que segundo ela, “é um dever de todos conscientizar e buscar respeito para todas as diferenças”, e por isso a escola deveria desenvolver mais atividades sobre bulling. Clarice relatou ainda ter sofrido com a penalidade de não ser aceita como representante de classe em sua escola anterior, mesmo sendo escolhida por seus antigos colegas de classe e com excelente desempenho nas avaliações, mas impedida por sua professora, sob a alegação de que as faltas devido o tratamento não permitiam que ocupasse a posição. Quanto a atual escola, a menina se refere como “o início da realização de um sonho”, já que pretende seguir carreira militar, além disso, nesta escola sempre se sentiu acolhida. Sobre a influência de sua condição sobre seu desempenho escolar, Clarice diz que se sente razoavelmente afetada, apesar de poucas adequações serem necessárias para o desenvolvimento de suas atividades; a única recomendação médica é nas aulas de educação física, onde está contraindicado a realização de exercícios que exijam mais esforços. Quando a pergunta é referente ao impacto geral que a síndrome trouxe à sua rotina (escolar, lazer e dia-a-dia), a menina acreditater sido consideravelmente prejudicada. Os quadros abaixo são formados pelas respostas de Clarice ao questionário aplicado: Quadro 4: Clarice Influência no desempenho escolar: Necessidade de Adequações: Impacto na rotina geral Acolhimento na escola atual: Não é influente poucas adequações Não afetou muito acolhida Pouco influente muitas adequações Afetou pouco Parcialmente Razoavelmente influente nenhuma adequação consideravelmente Não acolhida Muito influente Acolhimento escolas anteriores: Não acolhida por: Frequência que a escola desenvolve atividades contra bulling muito acolhida Colegas Sempre Parcialmente Professores Raramente Não acolhida Coordenação Nunca Silva, Mirlene A. (2020). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A preocupação em que a escola seja um ambiente de inclusão e respeito, independente das características e necessidades individuais de cada aluno é uma realidade cada vez mais presente na literatura, mas ainda é uma utopia em muitos casos, como relatado em situações vividas por Clarice, aluna que fundamentou esta pesquisa. Fatores econômicos, sociais e culturais estão diretamente ligados a maneira como cada escola encara a responsabilidade de inclusão de crianças portadoras de condições especiais e raras, e além da união de esforços em busca de mudanças de mentalidade, é necessário que estas mudanças possam ir além dos sonhos em papeis, e ganhem força real, na construção da verdadeira escola inclusiva (Diogo, P. C. M.,2015). Considerando quão rara é a condição de Clarice, e principalmente que esta condição não está visível em suas características físicas, torna-se de extrema importância que escola e pais trabalhem unidos e com responsabilidade equivalente para garantir que seus direitos estejam assegurados, o que observa-se estar ameaçado em diferentes situações relatadas, pela própria criança, por colegas e inclusive por um dos professores, que mesmo possuindo especialização para educação especial, acredita que sua responsabilidade em casos como este seja tão somente no ambiente escolar, sendo fora da escola a responsabilidade exclusivamente dos pais, quando o ideal é que a família interaja e compartilhe suas expectativas e necessidades com a escola, podendo inclusive sugerir atividades que auxiliem no processo de inclusão da criança em questão, o que sem dúvidas aliviaria o impacto sofrido pela família diante de uma rotina tão diferente. O estudo dos dados obtidos através desta pesquisa tornam claro que muito há a se fazer para que a inclusão vá além de rampas de acesso e projetos não executados, com evidência na discordância de informações, em que os professores relatam que atividades que previnam e combatam o bulling no ambiente escolar sempre são desenvolvidas na escola, enquanto seus alunos, entre eles uma portadora de doença rara relata raramente ter presenciado atividades com este fim. Mesmo assim, é de extrema importância que se destaque o efeito benevolente que o acolhimento por parte da instituição escolar proporciona, o que é notório quando Clarice relata sobre seus sonhos e esperança de alcançá-los, mesmo não sendo condizentes com sua atual condição de saúde. No que se refere ao convívio com as demais crianças, o estudo dos dados obtidos evidenciaram que os alunos da escola em questão se mostram acolhedores e mesmo os que não tinham conhecimento da condição especial de sua colega se mostraram atentos sobre o desenvolvimento ou não de determinadas atividades, evidenciando que uma vez orientados, sempre estarão aptos a apoiar seus semelhantes, independentemente de suas características individuais. REFERÊNCIAS CUNHA, Thaís Matos; TERRERI, Maria Teresa Ramos Ascensão; PETRY, Daniela Gerent; BARBOSA, Cássia Maria; LEN, Claudio Arnaldo; HILÁRIO, Maria Odete Esteves. Síndromes Autoinflamatórias: Relato de três casos. 5p. Revista médica de São Paulo. Vol 127, nº 5. 2009. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S1516-31802009000500012 > Acesso em 25/mar/2020. DIOGO, Paula Cristina Martins. INCLUSÃO DE UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE TURNER NUMA ESCOLA DO ENSINO REGULAR. 2015. 140 f. 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( ) Sim, muito acolhida ( ) Parcialmente acolhida ( ) Não me sinto acolhida 06- Considerando toda sua vida escolar, sempre se sentiu acolhida? ( ) Sim, muito acolhida ( ) Parcialmente acolhida ( ) Não me sinto acolhida 07- Nas ocasiões em que não se sentiu acolhida, isso se deu por parte de quem? ( ) Colegas ( ) Professores ( ) Coordenação da escola 08- Com que frequência sua escola desenvolve atividades ou debates que combatam o bulling? ( ) Muito frequente ( ) Frequência razoável ( ) Pouco frequente QUESTIONÁRIO 02 (Pais) 01- O quão influente é a condição do(a) seu(sua) filho(a) para o desempenho escolar? ( ) Não é influente ( ) Pouco influente ( ) Razoavelmente influente ( ) Muito influente 02- A síndrome inflamatória do(a) seu(sua) filho(a) gera uma adequação específica para as atividades dele(dela) na escola? ( ) sim, poucas adequações ( ) sim, muitas adequações ( ) não, nenhuma adequação específica 03- Se sim, quais adequações precisam ser tomadas? 04- Ainda em relação às adequações, caso as haja, com que intensidadevocê considera que isso afetou sua rotina (de trabalho, de lazer, do dia a dia)? ( ) Não afetou nada, pois não houve adequações específicas ( ) Afetou pouco minha rotina ( ) Afetou consideravelmente minha rotina 05- Particularmente, qual sua visão quanto ao papel da escola na adequação de crianças com síndromes raras? ( ) Nenhum, pois a obrigação de promover mecanismos de inclusão cabe unicamente aos pais ( ) Papel parcial, pois quando no ambiente escolar, cabe aos professores e direção promover mecanismos de inclusão de crianças nesta situação. Fora da escola, a responsabilidade é unicamente dos pais ( ) Papel equivalente aos pais independente da criança estar ou não na escola, pois crianças com condições raras necessitam da interação dos pais junto aos professores para otimizar este processo de inclusão (dentro e fora da escola). QUESTIONÁRIO 03 (Professores) 01- Qual sua função na escola? ( ) Professor(a) ( ) Diretor (a) ( ) Coordenador(a) pedagógico 02- Possui alguma especialização para educação especial? ( ) Sim ( ) Não 03- Com que frequência mantêm contato com Clarice? ( ) Até 2 dias por semana ( ) 3 dias por semana ( ) 4 ou mais dias por semana 04- Considera que Clarice apresente alguma dificuldade de aprendizagem? ( ) Nenhuma dificuldade de aprendizagem ( ) Pouca dificuldade de aprendizagem ( ) Muita dificuldade de aprendizagem 05- Com que frequência a escola desenvolve atividades de prevenção e enfrentamento ao bulling estudantil? ( ) Sempre desenvolve ( ) Raramente desenvolve ( ) Nunca desenvolveu 06- Particularmente, qual sua visão quanto ao papel da escola na adequação de crianças com síndromes raras? ( ) Nenhum, pois a obrigação de promover mecanismos de inclusão cabe unicamente aos pais ( ) Papel parcial, pois quando no ambiente escolar, cabe aos professores e direção promover mecanismos de inclusão de crianças nesta situação. Fora da escola, a responsabilidade é unicamente dos pais ( ) Papel equivalente aos pais independente da criança estar ou não na escola, pois crianças com condições raras necessitam da interação dos pais junto aos professores para otimizar este processo de inclusão (dentro e fora da escola) QUESTIONÁRIO 04 (Colegas de Classe) 01- Você é um(a) colega próximo(a) a Clarice? ( ) Muito próximo(a) ( ) Razoavelmente próximo(a) ( ) Pouco próximo(a) 02- Você sabia que ela é portadora de uma doença rara? ( ) Sim ( ) Não 03- Como pode definir o comportamento de Clarice durante as aulas? ( ) Como a maioria das crianças ( ) Diferente da maioria das crianças 04- Em algum momento a percebeu ausente ou “sem interesse” por alguma atividade/ brincadeira? ( ) Não, ela participa de todas as atividades ( ) Sim, ela não participa de algumas atividade ( ) Sim, ela nunca participa das atividades 05- Se sim, notou se alguém tentou envolve-la na atividade? Quem? ( ) Não, ninguém tentou envolve-la na atividade ( ) Sim, os colegas tentam envolve-la em todas as atividades ( ) Sim, os professores tentam envolve-la em todas as atividades ( ) Sim, todos tentam envolve-la em todas as atividades 06- Com que frequência sua escola desenvolve atividades de prevenção e enfrentamento ao bulling estudantil? ( ) Sempre desenvolve ( ) Raramente desenvolve ( ) Nunca desenvolveu Guia de Entrevistas Clarice: 01- Como você se descreve diante de seu diagnóstico? 02- Em algum momento se sentiu prejudicada ou discriminada? 03- Pode falar sobre alguma situação em especial? 04- Como está seu tratamento? 05- O que espera para o futuro? Pais: 01- Quando observaram os primeiros sinais de que algo era diferente em Clarice? 02- Quais foram os primeiros sintomas? 03- Como e quando chegaram ao diagnóstico?
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