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A incubação como uma metodologia que se recicla
Magali Mendes de Menezes (1), Juliana Alves Loureiro (2) e Marcelo Noronha de Mello (3)
(1) Professora Doutora em Filosofia, Incubadora de Economia Solidária, Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. E-mail: magalimm@
terra.com.br
(2) Aluna de Pós-Graduação em Educação Socioambiental, Bolsista de extensão, Incubadora de Economia Solidária, Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. E-mail: juloureiro@feevale.br
(3) Aluno de Comunicação Social, Bolsista de extensão, Incubadora de Economia Solidária, Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. E-mail: noronha@feevale.br
1. INTRODUÇÃO
“A universidade sem condições”, este é o título de um livro de Jacques Derrida (2001). Seu título já instiga pelo padoxismo (e paroxismo) de sentidos presente no próprio título, flagrando a condição que vive a maioria das universidades hoje, principalmente na América Latina. Sem condições significa, ao mesmo tempo, a incondicionalidade da universidade, ou seja, a necessidade de autonomia para produzir conhecimento através da responsabilidade em responder às questões emergentes presentes em nossa sociedade. Nada estaria livre ao questionamento que neste espaço se produz inclusive a possibilidade mesma de autoquestionar-se; de uma universidade que neste exercício é capaz de revitalizar-se. “(...) O principio de liberdade, de autonomia, de resistência, de desobediência ou dissidência, principio este extensivo a todo campo do saber acadêmico” (DERRIDA, 2001, p.25). Mas como decidimos e justificamos a importância de nossas pesquisas e o tipo de diálogo que devemos construir com a comunidade, através da
experiência de extensão universitária? Em um contexto que se define como globalizado, repensar o sentido e a importância da universidade torna-se fundamental.
2. OBJETIVO
É a partir destas questões iniciais que este texto se propõe a refletir sobre o exercício da Extensão Universitária como um espaço possível de resistência e incondicionalidade. Como foco central desta análise, apresentaremos o trabalho desenvolvido pela Incubadora de Economia Solidária da FEEVALE/Novo Hamburgo/RS, destacando, fundamentalmente, a assessoria que a Incubadora realiza em uma Cooperativa de Separação de Resíduos Sólidos neste mesmo município. Fundada em 1997, a Cooperativa é formado por 80 cooperados, com idades entre 17 a 70 anos. Os trabalhadores integram-se ao grupo por diversas razões, entre elas: a falta de oportunidades no mercado de trabalho formal, a desqualificação, além do sentimento de inclusão por meio do trabalho na cooperativa, que em muitos momentos surge na fala dos trabalhadores como um espaço de acolhida. As atividades desenvolvidas pela Incubadora têm como propósito permitir um espaço de discussão e reflexão sobre as representações que os trabalhadores têm quanto às questões ambientais, do trabalho com o lixo, dos processos autogestionários, da qualidade de vida - para que possamos compreender como se percebem e como procuram resolver os paradigmas encontrados, por meio de iniciativas de inserção social, de desenvolvimento da economia solidária, de cuidados com a saúde e meio ambiente, entre outros.
3. METODOLOGIA
O processo de formação ocorre por meio de dinâmicas de grupo, realizadas semanalmente no ambiente de trabalho da cooperativa. Entre as ações, podemos destacar a organização de uma agenda coletiva, onde eles têm autonomia para apontar as datas e eventos de interesse na formação dos trabalhadores (ex: Fórum Regional de Recicladores; Seminários de Economia Solidária; Visitas a empreendimentos do mesmo segmento), bem como a organização e planejamento das atividades internas (ex: Venda de fardos; pagamento dos cooperados; reuniões e assembléias). Além disso, deu-se início a elaboração de um jornal comunitário,
com foco nas questões ambientais. Os estudos sobre a educação ambiental e a comunicação comunitária, especificamente, tendem a focar as relações entre os dois campos do conhecimento, principalmente na questão do ensino-aprendizagem enquanto mediada por um processo de comunicação. “(...) a comunicação comunitária tem como objetivo expressar interesses coletivos, conquistar autonomia, expressar as necessidades em nível local, contribuindo para a elaboração de outros valores” (PERUZZO, 1998, p.148). Quanto à educação ambiental compreendemos que no espaço de extensão é tomada como “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas” (TAMAIO, 2000, p.136). A cada encontro realizado com o grupo, podemos perceber que as reflexões ultrapassam o tema proposto inicialmente pela dinâmica, permitindo novas discussões e questionamentos relacionados às práticas cotidianas dos trabalhadores do lixo. É o que aparece na fala dos trabalhadores quando comentam que, “Estamos trabalhando com uma
esteira só. O trabalha acumula e precisamos dispensar as pessoas” (condições de trabalho); “A verdade é que eles fazem a gente acreditar em nossos sonhos e depois nos esquecem” (relação da cooperativa com o Poder Público); “Queremos retomar a coleta seletiva. É muito importante contarmos com a participação das escolas e das crianças na separação do lixo” (educação ambiental).
4. RESULTADOS PARCIAIS
Neste espaço (entre) aberto onde buscamos pensar a extensão coloca-se o trabalho da Incubadora de Economia Solidária da Feevale. A Incubadora define-se como um projeto de extensão continuado, ou seja, o tempo institucional adere ao tempo dos grupos incubados, garantindo uma continuidade de diálogos, tornando-se um espaço vivo de troca de saberes. A opção por grupos populares que vivem na
precariedade de suas organizações ratifica também nossas opções teóricas e nossa compreensão do sentido do conhecimento produzido na universidade. Faz-se urgente pensar em uma outra idéia de desenvolvimento social, que parta “da interação da população, a partir do reconhecimento de que a fusão do saber popular com o conhecimento especializado proporciona ferramentas poderosas para a inclusão social e progresso humano” (RUTKOWSKI, 2005, p.192). É dessa forma, que no trabalho da Incubadora
pensamos a Tecnologia Social, como uma concepção de conhecimento que a partir dos saberes científicos, tecnológicos e populares constrói coletivamente um exercício de extensão que não apenas “abrem como arrombam as portas” da universidade. A Tecnologia Social, que não possui uma única significação, é compreendida aqui como uma reflexão metodológica construída na relação com o grupo incubado, onde a decisão sobre o que, como e por que se produz deve se fazer dentro do coletivo. A perspectiva metodológica
é pensada não apenas como um meio que nos orienta, com caminhos seguros para atingirmos determinados objetivos. O trabalho na cooperativa tem nos mostrado que estes caminhos seguros não existem, pois a todo o momento vamos repensando e reelaborando nossos referenciais. Foi assim que fomos aprendendo a dialogar com os trabalhadores/as, nos aproximando de uma realidade complexa e que necessita antes de tudo, da compreensão das falas destes sujeitos. A construção de grupos de discussão entre os trabalhadores/as tem sido decisiva nesta aproximação, pois neste espaço rico em depoimentos, foram aparecendo rostos, antes anônimos, que muitas vezes se misturavam com o próprio lixo. Dai emergiu um saber construído na experiência mesma de separação dos resíduos atravessado por histórias de vida profundamente arraigadas a este trabalho. Percebemos que a reflexão sobre a questão ambiental deveria partir da escuta e da compreensão das vidas destes trabalhadores e de suas percepções sobre o trabalho.
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DERRIDA, Jacques. A Universidade sem condições.São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Comunicação nos Movimentos Populares: A participação na construção da cidadania. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998.
RUTKOWSKI, Jacqueline E.In: LIANZA, Felipe Addor (org). Tecnologia e desenvolvimento social e solidario.Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2005.
TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito de natureza. Dissert.(Mestr.) FE/Unicamp, Campinas, 2000.

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