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o bahir - arieh kaplan

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O Bahir - Índice 
 
Introdução 
 
O Bahir 
 
Comentário sobre o Bahir 
 
Notas da Introdução 
 
Notas do Bahir 
 
Bahir (Texto em hebraico) 
 
Ilustrações 
 
Figura 1. O Espaço Vazio resultante do Tzimtzum, mostrando a fina Linha de Luz 
que se dirige ao seu centro. 
 
Figura 2. A letra Bet, mostrando como possui uma cauda nas costas (à direita) e é 
aberta na frente. 
 
Figura 3. Alef, mostrando Bet em sua cauda. 
 
Figura 4. Como Guimel se transforma em Dalet, e depois em Heh. 
 
Figura 5. Dalet com um Patach no topo e, ao lado, três pontos que representam o 
Segol. 
 
Figura 6. Tzadi, mostrando como é formado pelo Nun e pelo Yud. 
 
Figura 7. Alef, formado de dois Yuds e um Vai'. 
 
Figura 8. As Sefirot. 
 
Figura 9. Sobre a letra Nun 
 
Figura 10. Os Trinta e Dois Caminhos. 
 
Quadros 
 
Matriz Tríplice das Dez Sefirot 
 
As Vogais e as Sefirot 
 
Os Quatro Níveis 
 
Os Cinco Níveis da Alma 
 
As Personificações 
 
As Quatro Enunciações de YHVH 
 
As Sefirot e os Nomes de Deus 
 
As Sefirot e a Representação Antropomórfica 
 
Níveis de Expressão 
 
Os Doze Nomes 
O Bahir - Introdução 
 
O Bahir é um dos mais antigos e importantes textos clássicos da Cabala. 
Até a publicação do Zohar, o Bahir era a principal fonte de informação sobre os 
ensinamentos cabalísticos, a obra mais influente e largamente citada. 
É mencionado em quase todos os trabalhos relevantes que tratam da Cabala, o 
mais antigo deles sendo o comentário do Raavad a respeito do Sefer Yetzirá e o 
Rabino Moisés Nachman (Ramban), em seu comentário sobre a Torá, a ele se 
refere várias vezes. 
É, outrossim, com freqüência parafraseado e transcrito no Zohar. 
 
O nome Bahir deriva-se do primeiro versículo citado no texto (Jó 37:21): 
"E agora não se vê a luz, o céu é luminoso (Bahir)" 
É, também, chamado de "Midrash do Rabino Nehuniá ben HaKana", particularmente 
pelo Ramban, talvez porque o nome do Rabino Nehuniá está no início no livro, mas, 
realmente, a maioria dos cabalistas atribui o Bahir a ele e à sua escola. 
Alguns o consideram o mais antigo texto cabalístico escrito. 
 
Embora o Bahir seja um livro bastante pequeno, contendo ao todo cerca de 12.000 
palavras, era altamente conceituado entre aqueles que indagavam seus mistérios. 
Escreve o Rabino Judá Chayit, emérito cabalista do século XV: 
"Torna este livro uma coroa para a tua cabeça.” 
Grande parte do texto é de difícil compreensão, e diz o Rabino Moisés Cordovero 
(1522-1570), diretor da escola de Cabala da cidade de Safé: 
"As palavras desse texto são luminosas (Bahir) e cintilantes, mas o seu brilho pode 
cegar. " 
 
A primeira publicação do Bahir deu-se por volta de 1176, por iniciativa da escola 
cabalística de Provença, e circulou, sob a forma de manuscrito, entre limitado 
número de leitores. 
A primeira edição impressa surgiu em Amsterdã (1651), e edições subseqüentes 
foram impressas em Berlim (1706), Koretz (1784), Shklav (1784) e Vilna (1883). 
A melhor edição é a que foi feita recentemente pelo Rabino Reuven Margolius, 
publicada em 1951, junto ao seu comentário, Or HaBahir ("Luz do Bahir"). 
 
Edições do Bahir 
1 - Amsterdã, 1651. 
2 - Berlim, 1706. 
3 - Sklav, 1784. 
4 - Koretz, 1784. 
5 - Lvov, 1800. 
6 - Lvov, 1830. 
7 - Lugar desconhecido. 
8 - Lvov, 1865. 
9 - Vilna, 1883. 
10 - Vilna, 1913. 
11 - Jerusalém, 1951. 
 
O mais antigo comentário sobre o Bahir foi escrito em 1331, pelo Rabino Meir ben 
Shalom Abi-Sahula, discípulo do Rabino Shlomo ben Avraham Aderet (Rashba), e 
publicado anonimamente sob o título Or HaGanuz ("A Luz Encoberta"). 
Notas sobre a primeira parte do Bahir (até 36) foram escritas pelo Rabino Eliahu, o 
Gaon de Vilna (1720-1797), e estão, também, incluídas na edição de Margolius. 
 
Outros comentários, existentes apenas em manuscrito, foram escritos pelos 
Rabinos Eliahu ben Eliezer de Candia, David Chavillo e Meir Poppers. 
No final do século XV, o Bahir foi traduzido para o latim por Flavius Mitridates, mas 
essa tradução é prolixa e virtualmente incompreensível. 
Em 1923, uma tradução para o alemão foi publicada por Gerhard (Gershom) 
Scholem. 
 
Autoria 
A maioria dos cabalistas atribui o Bahir ao Rabino Nehuniá ben HaKana, sábio 
talmúdico do séc. I e principal místico de sua geração. 
A razão disso parece ser o fato de que é o sábio a iniciar o texto, bem como o fato 
de saber-se ter sido ele o líder de uma importante escola mística que floresceu na 
Terra Santa. 
Todavia, além dessa tradição, existiria pouca evidência no texto para apoiar essa 
autoria. 
O fato da autoria ser atribuída ao Rabino Nehuniá parece surpreendente por outro 
motivo, isto é, porque, depois do primeiro parágrafo, seu nome não mais é 
mencionado no texto. 
Uma interessante possibilidade é ser, de fato, o Rabino Amorai, que desempenha 
importante papel no Bahir, um pseudônimo do Rabino Nehuniá. 
Estudo cuidadoso indica que esse misterioso Rabino Amoral, mencionado nove 
vezes no texto, é, na verdade, a origem dos principais ensinamentos encontrados 
no Bahir. 
Uma possível razão desse pseudônimo não ser usado no primeiro parágrafo é 
discutido na última parte dessa introdução. 
 
O Rabino Amorai é particularmente intrigante, pois seu nome não é encontrado em 
nenhuma outra obra da literatura clássica judaica. 
Todas as tentativas para identificá-lo foram inúteis, e muitos presumem tratar-se 
de um nome fictício. 
Mais provável é assumir que fosse um pseudônimo do Rabino Nehuniá. 
A palavra Amorai significa "oradores" e indicaria que o Rabino Nehuniá seria o 
principal porta-voz do grupo, utilizando-se o plural como sinal de respeito. 
O emprego de tal pseudônimo não seria demasiado surpreendente, pois 
encontramos outros exemplos no Talmud. 
Essa hipótese é, também, apoiada pelo fato de outros sábios presentes no 
Bahir falarem do Rabino Amorai com grande respeito e envidarem enormes 
esforços para explicar seus ensinamentos. 
 
Embora o Rabino Nehuniá ben HaKana seja mencionado no Talmud apenas umas 
poucas vezes, essas citações não deixam dúvidas sobre a importante posição por 
ele ocupada. 
Quando jovem, estudou na escola do Rabino Yochanan ben Zakai, apesar de já ter 
sido ordenado rabino. 
Certa vez, o Rabino Yochanan pediu a seus discípulos que interpretassem um 
versículo bíblico e, quando o Rabino Nehuniá respondeu, o Rabino Yochanan disse 
que a explicação do Rabino Nehuniá era ainda melhor que a sua própria. 
O Rabino Nehuniá nasceu em Ematís e, aparentemente, era rico o bastante para ter 
servos, os quais, em certa ocasião, ergueram-se para proteger sua honra. 
Viveu até idade avançada e, quando lhe perguntaram sobre a razão de sua 
longevidade, respondeu ser porque jamais ganhara coisa alguma com a derrota dos 
outros, nunca levara uma desavença para a cama e sempre assumira uma atitude 
relaxada com relação ao dinheiro. 
A interpretação precisa da Torá era a busca principal do Rabino Nehuniá, e foi ele 
quem ensinou ao Rabino Ismael (ben El isha) como interpretar adequadamente 
cada palavra. 
Posteriormente, baseado nessa tradição, o Rabino Ismael exporia seus famosos 
Treze Princípios para a interpretação da Torá. 
A opinião do Rabino Nehuniá a respeito da Lei Judaica é também citada numerosas 
vezes no Talmud, e um antigo Midrash o cita a respeito do poder do 
arrependimento. 
Tão cuidadoso era o Rabino Nehuniá em seus ensinamentos que, conforme registra 
a Mishná, cada dia, antes de iniciar seus estudos, ele rezava para não errar. 
Seu ditado predileto era: 
"Quem quer que aceite o jugo da Torá está isento do jugo do governo e do 
sustento." 
Outro retrato do Rabino Nehuniá, ausente no Talmud, é encontrado em Hechalot 
Rabatai, escrito pelo Rabino Ismael, seu discípulo. 
Esse é o mesmo Rabino Ismael que serviu como Alto Sacerdote um pouco antes da 
destruição do Templo, e umade suas visões transcendentais é descrita no Talmud. 
Em Hechalot, o Rabino Ismael descreve como o Rabino Nehuniá o instruiu a 
respeito das câmaras celestiais e os nomes dos anjos que guardavam seus portais. 
Surge um nítido retrato do Rabino Nehuniá como mestre das artes místicas e 
mestre de toda a sua geração. 
Em certa passagem, o Hechalot descreve como ele ensinou o modo correto de 
projetar-se nos universos divinos. 
Sentados diante dele, na qualidade de discípulos, estavam os luminares de sua 
época: Rabino Shimon ben Gainaliel, Eliezer, o Grande, Akiba, Yonatan ben Uziel e 
muitos outros. 
Quando surgiu uma lei que mandava matar os sábios, foi o Rabino Nehuniá quem 
ascendeu aos céus para averiguar o motivo. 
 
Além do Bahir, atribui-se também ao Rabino Nehuniá a oração Anna BeKoach. 
As letras iniciais das palavras da oração formam o Nome de Deus de quarenta e 
duas letras, discutido extensivamente na literatura mística. 
 
Sábios do Bahir 
Embora o Bahir tivesse suas origens nos ensinamentos do Rabino Nehuniá, porções 
consideráveis são diretamente atribuídas a outros sábios. 
O Rabino Nehuniá ensinou os mistérios da Cabala a muitos sábios de sua geração e 
presume-se que essa escola tenha preservado seus ensinamentos após a sua 
morte. 
Atribui-se o principal texto do Bahir a essa escola. 
Numerosos sábios mencionados no Bahir são, também, bastante conhecidos 
através do Talmud. 
Como seria de se esperar, eram eles os que se ocupavam das artes místicas, 
muitas das quais teriam aprendido dos ensinamentos do Rabino Nehuniá. 
 
Portanto, o Rabino Akiba é citado três vezes no Bahir (19, 32, 186), e diz o Talmud 
ter sido ele o único sábio a entrar no Paraíso (Pardes) a emergir ileso. 
O Rabino Eliezer o Grande é, também, citado (104), e ele é igualmente conhecido 
pelas suas experiências místicas. 
Seu principal trabalho, Pirkey DeRabi Eliezer ("Capítulos do Rabino Eliezer"), 
também exibe considerável influência do Bahir. 
Conforme o Hechalot ambos aprenderam as artes místicas com o Rabino Nehuniá. 
O sábio mais destacado do Bahir, mencionado com maior freqüência do que 
qualquer outro, é o Rabino Rahumai, cujo nome aparece treze vezes no texto. 
Nenhuma menção ao Rabino Rahumai é encontrada no Talmud ou no Midrash, mas 
no Zohar constatamos ter ele conhecido o Rabino Pinchas ben Yair, sogro do autor 
do Zohar, Rabino Shimon bar Yochai. 
Dizem que estava com o Rabino Pinchas, próximo ao Kineret, no dia em que o 
Rabino Shimon emergiu da caverna onde o Zohar lhe fora revelado. 
Conta-se, também, que passou uma semana em Ono, subúrbio de Jerusalém, junto 
ao Rabino Kisma ben Gueira, que não é, de outro modo, identificado. 
No próprio Bahir encontramos evidência de ter sido o Rabino Rahumai quem dirigiu 
a escola após a morte do Rabino Nehuniá. 
Também proeminente no texto é o Rabino Berachia, mencionado sete vezes ao 
todo. 
Igualmente não mencionado pelo Talmud, ele é citado em Pirkey DeRabi Eliezer, 
bem como na literatura zoharista. 
No Bahir, é ele quem define numerosos termos difíceis do Sefer Yetzirá (106), e 
explica o significado do Mundo Vindouro (160). 
A partir do contexto de uma afirmação (97), parece ter sido ele discípulo do Rabino 
Rahumai. Isso, juntamente com o fato de ser o segundo mencionado no Bahir, 
ajuda a apoiar a teoria de ter sido o Rabino Berachia quem dirigiu a escola 
cabalística depois do Rabino Rahumai. 
Seu destaque pode ser devido também ao fato de o rascunho inicial do Bahir ter 
sido composto sob sua influência. 
Um certo Rabino Yochanan tem, igualmente, destaque no Bahir, sendo mencionado 
seis vezes ao todo. 
Embora não diretamente identificável com qualquer sábio talmúdico, seu nome é 
encontrado numerosas vezes em Pirkey DeRabi Eliezer. 
Probabilidade interessante é que ele tenha sido o Rabino Yochanan ben Dahabai, 
citado como discípulo do Rabino Nehuniá nas artes místicas. 
É óbvio que esse Rabino Yochanan foi um místico, pois, no Talmud, são relatadas 
quatro coisas que lhe foram ensinadas pelos anjos. 
Outro sábio que podemos tentar identificar é o Rabino Levitas ben Tavros. 
É de especial importância, pois, em certa passagem, parece que o Rabino Rahumai 
responde aos seus ensinamentos (23). Pode ser identificado como o Rabino Levitas 
de Javné, mencionado no Mishná e no Pirkey DeRabi Eliezer. 
Assumindo-se que se mudou, pode, igualmente, ser o mesmo Rabino Levitas de 
Ono, mencionado no Zohar. 
O fato de ter vivido em Ono é significativo, pois, conforme indicado anteriormente, 
sabe-se que o Rabino Rahumai visitou esse lugar. 
Esse fato permite formular a hipótese de que Ono possa ter sido um centro de 
atividades cabalísticas, e sugerem-se pesquisas mais profundas a este respeito. 
Existe, também, a possibilidade de que o Rabino Levitas tenha vivido originalmente 
em Emaús, junto ao Rabino Nehuniá. 
Essa escola mística manteve-se ativa durante todo o período talmúdico, conforme 
evidências em numerosos relatos da literatura. 
Dentre os últimos a empregar abertamente essas artes místicas encontravam-se 
Raba e Rav Zeira, que viveram na Babilônia do século IV. 
O Talmud registra como eles realizaram curas milagrosas e usaram a Cabala para 
criar seres vivos. Um desses relatos é narrado no Bahir (196) e é o antepenúltimo 
tema principal do texto. 
Uma vez que Raba e Rav Zeira foram os líderes dessa escola, e uma vez que eles 
são os sábios mais recentes mencionados no Bahir, presume-se ter sido feita, por 
volta de sua época, a redação final do texto. 
Por isso existe a tradição de que o Bahir foi escrito por Amaraim, o último dos 
sábios do Talmud 
 
Publicação 
Com o encerramento do período talmúdico, o círculo de cabalistas diminuiu e, em 
certas épocas, pode não ter ultrapassado uma parca dúzia de indivíduos. 
Tão unido era esse grupo que, muitas vezes, pessoas estranhas nem suspeitavam 
de sua existência. 
Embora fosse importante manter a tradição da Cabala, era igualmente importante 
que não caísse em mãos erradas. Durante alguns períodos, a liderança dessa escola 
era dos líderes religiosos da época, enquanto em outros pode ter incluído indivíduos 
cujos nomes se perderam totalmente. 
Sabe-se que tais indivíduos, como Natronai Gaon (794-861) e Hai Gaon (939-
1038), possuíam conhecimento desses mistérios. 
Há, também, evidência de que Sherira Gaon (906-1006) teve acesso a muitos 
desses ensinamentos. 
Ao mesmo tempo que esses indivíduos eram líderes da comunidade judaica como 
um todo, eles eram ativos, também, no círculo da Cabala. 
O Bahir era o centro de grande parte dessa atividade. 
Não se sabe quão amplo era o circulo de pessoas que teria acesso ao texto durante 
esse período, mas não devia ser grande. 
Podem ter existido manuscritos, mas permaneciam nas mãos dos líderes dos 
grupos, enquanto as demais pessoas recebiam oralmente a tradição. 
Os membros do grupo prestavam juramento de não revelar seus mistérios aos 
outros, e a existência do grupo era desconhecida por toda a comunidade. 
Por isso não surpreende que eméritos eruditos, como Saadia Gaon (882-942) e 
Maimônides (1135-1204), nunca tivessem visto o Bahir, ou que o Rabino Yehudá 
ben Barzilai de Barcelona (1035- 1105) não fizesse qualquer menção a ele em seu 
extenso comentário sobre o Sefer Yetzirá. 
O texto era de domínio privado e restrito a uma pequena sociedade secreta, onde 
pessoas estranhas ao círculo não deviam sequer saber de sua existência. 
Assim sendo, em um dos mais antigos textos cabalísticos publicados, o Rabino 
Avraham ben David (Raavad) declara: "Todas essas coisas e seus mistérios eram 
transmitidos apenas de uma boca para outra." 
Isto não causa nenhuma surpresa, pois Os mistérios da Cabala não deviam ser 
transmitidos a todos. 
Alude-se a muitos desses mistérios nos primeiros capítulos de Ezequiel, e, em 
geral, a Cabala é muitas vezes chamada de "mistérios da Carruagem", termo 
tambémempregado no Bahir. 
Segundo a norma, os sábios declaravam que esses mistérios "nem mesmo podem 
ser analisados por um único indivíduo, a menos que ele seja sábio o bastante para 
compreender com seu próprio conhecimento". 
Mesmo assim, a tradição completa era apenas concedida ao líder do grupo, que 
então restringiria sua instrução àqueles que considerasse aptos. 
Apenas os indivíduos possuidores das mais elevadas qualidades de erudição e 
religiosidade seriam admitidos ao círculo de iniciados. 
Outra relevante proibição era: 
"O que é transmitido oralmente não pode ser escrito. " 
Como resultado, durante o período talmúdico mais antigo, até mesmo 
ensinamentos mundanos que envolvessem a lei Oral não eram escritos. 
Embora cada mestre conservasse anotações pessoais, essas eram consideradas 
"documentos ocultos" e não estavam disponíveis nem mesmo aos discípulos mais 
próximos. 
Se isso se aplicava aos assuntos mundanos, era certamente verdadeiro a respeito 
da Cabala, que, acreditava-se, continha os "segredos da Torá". 
Se os textos existiam, eram guardados com o máximo cuidado. 
 
Diz a tradição que o Bahir foi preservado por uma pequena escola cabalista na 
Terra Santa. 
Durante esse período, partes do Bahir foram parafraseadas em outro texto 
cabalístico conhecido como Raza Rába ("Grande Mistério"), o qual foi perdido em 
sua totalidade, embora seja citado por alguns escritores ocidentais do século X. 
A partir daí, o centro de atividade deslocou-se para a Alemanha e a Itália, levando 
consigo o Bahir. 
Por volta do ano 1100, alguns dos ensinamentos do Bahir eram conhecidos por um 
pequeno grupo na Espanha, e sua influência pode ser observada nos escritos do 
Rabino Avraham bar Chiyá, em particular no trabalho de sua autoria Meguilat 
HaMeguilá ("Rolo dos Rolos"). 
Logo depois, a principal escola cabalística mudou-se para a França - principalmente 
para a Provença. Essa região tornou-se um importante centro de Cabala e lá foi 
tomada a decisão de publicar o Bahir. 
Os mais antigos membros dessa escola, dos quais temos conhecimento, eram Isaac 
Nazir e Yaakov Nazir de Lunel. 
O título "Nazir" indicava que não participavam de qualquer atividade mundana, mas 
eram sustentados pela comunidade a fim de estarem aptos a devotar toda a vida a 
Torá e ao culto. 
Nessa vida contemplativa os ensinamentos da Cabala podiam florescer. 
 
O Rabino David ben Isaac e o Rabino Avraham ben Isaac de Narbone, autor do 
Eshkol, eram, também, de grande importância nesse grupo. 
O Rabino Avraham ben David (Raavad) de Posqueres - autor de um comentário 
sobre o Código de Maimônides, era filho do Rabino David ben Isaac e genro do 
Rabino Avraham ben Isaac. 
Mestre das artes místicas, recebeu a tradição de seu pai e de seu sogro e, 
posteriormente, tornou-se o líder da escola. 
Em seus comentários legais, ele escreve que essa escola estava sujeita à inspiração 
divina e à revelação dos mistérios. 
Foi o filho de Raavad, conhecido como Isaac, o Cego, quem herdou a liderança da 
escola cabalística e a trouxe para Provença. 
Embora fosse cego, possuía a reputação de ser capaz de ver a alma de uma pessoa 
e de ler seus pensamentos. Em seu comentário sobre a Torá, o Rabino Bachya ben 
Asher (1276-1340) chama Isaac, o Cego, de "pai da Cabala". 
 
Existia certa tradição dizendo que um tipo de revelação retornaria em 1216, fato 
conhecido até por Maimônides, o qual aprendera de seus ancestrais. 
Do mesmo modo que a entrada na Terra Santa, esse acontecimento iria requerer 
quarenta anos de preparação, e a disseminação da Cabala fazia parte dessa 
preparação. 
Dentro desse espírito, o Bahir teve a sua primeira publicação por volta de 1176. 
Como durante centenas de anos o Bahir restringiu-se a um pequeno grupo fechado, 
tem havido considerável confusão dentre os historiadores no que diz respeito à sua 
transmissão e publicação. 
Tradições orais e sociedades secretas não se prestam à pesquisa histórica, e 
manuscritos enciumadamente guardados não chegam até as bibliotecas. 
Os únicos dados plausíveis a respeito do Bahir originam-se das tradições 
preservadas através dos séculos e, conforme muitos historiadores e antropólogos 
modernos descobriram, essas tradições são, em geral, confiáveis e acuradas. 
O Rabino Isaac, o Cego, transmitiu a tradição aos seus discípulos Ezra e Azriel e, 
eles, ao Rabino Moisés ben Nachman (Nachmanides), conhecido como Ramban 
(1194-1270). 
Através de seu comentário sobre a Torá, onde freqüentemente cita o Bahir, 
popularizou muitos de seus ensinamentos no mundo judaico. 
 
Até o Zohar ser publicado por volta de 1295, o Bahir continuou sendo o texto mais 
importante da Cabala clássica. 
Existem muitos lugares onde o Zohar se estende a respeito de conceitos 
encontrados no Bahir, e um estudo cuidadoso revela considerável semelhança de 
conteúdo em ambos os trabalhos. 
Tal fato não causa surpresa, pois o autor do Zohar, Rabino Shimon bar Yochai, 
conhecia, sem dúvida alguma, os ensinamentos do Rabino Nehuniá. 
Mesmo antes da especial revelação na caverna, o Rabino Shimon deve ter sido 
iniciado na tradição mística, e o elo provável pode ter sido seu sogro, Rabino 
Pinchas ben Yair que, conforme mencionado anteriormente, era íntimo do Rabino 
Rahumai. 
Um ponto interessante é o fato e que os nomes de ambos, o Bahir e o Zohar, 
encerram uma conotação de luz e brilho. 
 
Estrutura 
Embora um exame superficial não revele qualquer ordem aparente no Bahir, um 
estudo cuidadoso desvenda uma estrutura definida. 
O texto pode, aproximadamente, ser dividido em cinco partes. 
1. Os primeiros versículos da criação (1-16). 
2. O alfabeto (27-44). 
3. As Sete Vozes e Sefirot (45-123). 
4. As Dez Sefirot (123-193). 
5. Mistérios da Alma (194-200). 
 
O texto principia por uma declaração do Rabino Nehuniá. 
Em rápida seqüência, os Rabinos Berachia, Rahumai e Amorai entram no debate, 
explicando o conceito de "o que preenche" (Maley), provavelmente uma alusão a 
(Isaías 6:3): "Sua glória preenche toda a terra" (2-7). 
 
Em particular, Bet, a letra inicial da Torá, recebe considerável atenção. 
A segunda parte trata das oito primeiras letras do alfabeto hebraico, de Alef a Chet. 
O fato do debate terminar antes de alcançar a letra Tet pode ser justificado por 
uma declaração posterior, de que letra não diz respeito às Sefirot (124). 
Também examinados no final dessa parte estão numerosas vogais e sinais de 
anulação (40-44). 
O conceito de criação também está entrelaçado à essa parte, porém desempenha, 
claramente, um papel secundário. 
 
A terceira parte principia por um exame das sete vozes escutadas no Sinai e, ao 
indagar a relação entre as sete vozes e os Dez Mandamentos, inicia um exame das 
Sefirot. 
As Sefirot são usadas para explicar os antropomorfismos que surgem na Bíblia 
(82), e isso é desenvolvido até a parte seguinte. 
Subseções importantes dessa parte incluem explicações de Isaías (51-56) e do 
terceiro capítulo de Habacuc (68-81). 
Numerosos conceitos do Sefer Yetzirá são introduzidos e explicados (63, 106), o 
que conduz a um exame dos diversos nomes místicos de Deus (106- 112). 
De especial importância é o número trinta e dois, que corresponde aos caminhos da 
Sabedoria, ao valor numérico de Lev (ou coração) (63) e ao número de fios do 
Tzitzit (92). 
Todos esses conceitos são introduzidos em relação a esse número. 
 
A quarta parte contém o primeiro exame das Sefirot encontrado no Bahir. 
É introduzida por uma explicação sobre a Bênção Sacerdotal, onde diz-se que os 
dez dedos correspondem às Dez Sefirot, conceito encontrado, também, no Sefer 
Yetzirá. 
A palavra Sefirá é definida, sendo aquilo que expressa (Saper) o poder e a glória de 
Deus (125). 
As Sefirot são, então, relacionadas e definidas, uma a uma, e na devida ordem. 
Dentro do contexto das Sefirot, existem subseções sobre a permanência dos 
israelitas em Elim(161-167) e sobre o mandamento a respeito do Lulav (172-178). 
A seção se encerra com um exame do relacionamento entre as Sefirot e as esferas 
(179ss.), e uma breve introdução à reencarnação (183), igualmente em relação às 
Sefirot. 
 
A quinta parte, e final, trata da alma, principiando por um discurso sobre a 
reencarnação e seu relacionamento com a justiça divina (194). 
O conceito de alma é também examinado dentro do contexto da criação da vida 
através das artes místicas, sendo esse o relato de Raba e Rav Zeira mencionado 
anteriormente (196). 
Finalizando, é introduzido o conceito de almas masculinas e femininas, principiando 
por uma análise do Tamar (197) e terminando com uma explicação do motivo pelo 
qual Eva foi a pessoa a ser tentada. Isso conclui o texto. 
 
Ensinamentos 
Embora o Bahir seja o principal texto da Cabala, não emprega essa pajavra, 
preferindo o termo mishnaico, Maasé Merkavá, que significa literalmente "Mistérios 
da Carruagem", em referência à visão de Ezequiel. 
Diz que sondar esses mistérios é tão aceitável quanto a oração (68), mas adverte 
ser impossível fazê-lo sem errar (150). 
Declara o Talmud que a Cabala deveria somente ser ensinada de sugestões e 
alusões, e essa é a diretriz seguida pelo autor do Bahir. 
Quem o ler meramente como qualquer livro, encontrará longas passagens que 
fazem pouco ou nenhum sentido. 
Não é tema para leitura casual, mas para estudo sério e concentrado, o que era 
aceito entre os cabalistas, para os quais os principais textos foram escritos para 
serem compreendidos apenas quando analisados como um todo integrado. 
Somos advertidos de que quem lê sobre Cabala de maneira literal e superficial, 
decerto não a compreenderá. 
A maneira adequada de se estudar todos os textos cabalísticos é considerá-los 
como um todo, usando cada parte para explicar qualquer outra. 
O estudante deve encontrar seqüências de idéias que percorram o texto, segui-las 
de trás para diante até que se estabeleça o significado total. 
Em um pequeno texto como o Bahir, esse procedimento é relativamente direto e 
nosso índice pode se mostrar útil. 
Em textos maiores, como o Zohar, essa metodologia assume ainda maior 
importância e, sem ela, muitos dos escritos do Ari parecerão pouco mais que 
algaravia. 
 
Um dos conceitos mais importantes revelados no Bahir é o das Dez Sefirot, e, com 
exceção de três, seus nomes são também introduzidos. 
Uma análise cuidadosa dessa exposição revela muito do que será encontrado em 
trabalhos cabalísticos posteriores, bem como seu relacionamento com os 
antropomorfismos e o motivo dos Mandamentos. 
A ordem em que as Sefirot são relacionadas é de especial interesse. 
As sete últimas correspondem aos sete dias da semana e derivam do versículo 
(1 Crônicas 29:11): 
"Teus são, Ó Deus, a Grandeza, a Força, a Beleza, a Vitória e o Esplendor, tudo 
(Fundação) que se encontra no céu e na terra, Teu, Ó Deus, é o Reino". 
É a seqüência adotada pela maioria dos textos cabalísticos. 
Todavia, no Bahir, a ordem das últimas quatro é invertida. 
As últimas quatro Sefirot são, então: Reino (Aravot, 7), Fundação (8), Vitória (9), e 
Esplendor (10). 
O fato de que o Reino deva estar no meio das sete parece ser o motivo dessa 
modificação e, por corresponder ao Shabat, é, também, apropriado que seja a 
sétima Sefirá (153, 157). 
Do mesmo modo, como a Fundação corresponde ao sinal da circuncisão, é 
apropriado que seja a oitava, pois a circuncisão é executada no oitavo dia (168). 
Com exceção de Beleza, Esplendor e Reino, dá-se a todas as Sefirot seus nomes 
tradicionais. 
A Beleza é chamada de Trono da Glória (146), enquanto o Reino é chamado de 
Aravot (153). 
O Esplendor é simplesmente chamado de segunda Vitória (170). 
Em numerosas passagens, a Fundação é também chamada de O Justo (102, 180), 
a Vida dos Mundos (180ss.) e "Tudo" (22, 78). 
Outro importante conceito revelado é o da reencarnação ou Guilgul. 
É interessante observar que, a princípio, essa idéia é introduzida em nome do 
Rabino Akiba (121, 155). 
Usa-se esse conceito para explicar o problema da injustiça aparente e porque até 
mesmo crianças inocentes sofrem e nascem deformadas. 
O fato de Saadia Gaon rejeitar a reencarnação é prova suficiente do que ele não 
teve acesso aos ensinamentos secretos da Cabala. 
Esse conceito é melhor desenvolvido no Zohar e, em maiores detalhes, no Sefer 
Guilgulim e nos diversos trabalhos da escola do Ari. 
 
Os assuntos abrangidos pelo Bahir incluem uma interpretação das letras do alfabeto 
hebraico, quinze das quais são mencionadas. 
Mandamentos como Tefilim, Tzitzit, Lulav e Etrog, bem como "enviar a mãe 
pássaro", são em geral examinados dentro do contexto das Sefirot ou através de 
outros conceitos introduzidos anteriormente. 
São abordadas numerosas idéias encontradas no Sefer Yetzirá, tais como a dos 
Trinta e Dois Caminhos da Sabedoria (63), as doze fronteiras diagonais (95), bem 
como o "Eixo, a Esfera e o Coração" (106). 
No Bahir, em geral, os números desempenham papel altamente significativo. 
 
Dois termos incomuns são encontrados no Bahir, e ambos parecem se referir aos 
anjos ou às forças angélicas. 
Um deles é “Tzurá”, que literalmente significa "forma", e o outro é “Komá”, o qual 
pode ser traduzido como "estrutura" (8, 166). 
Na literatura cabalística, são mais conhecidos em sua forma aramaica, sendo o 
primeiro “Diukna”, o último “Partzuf”. 
Outros termos usados para designar os anjos são Diretores (Manhiguim) e 
Funcionários (Pekidim). 
 
Outra revelação importante são os diversos nomes de Deus, sendo o mais místico 
deles encontrado em 112. 
O Nome contendo doze letras, citado no Talmud, é também examinado (107, 111), 
Como o é, igualmente, o Nome de setenta e duas combinações, que é também um 
derivado (94, 107, 110). 
Esse nome é mencionado em antigos registros talmúdicos e sua origem é 
examinada em torno do ano 1100 pelo Rashi (1040-1105) e o Midrash Lekach Tov. 
 
Tzimtzum 
O Tzimtzum é um dos importantes conceitos introduzidos pelo Bahir, a auto-
constrição da Luz Divina. 
Envolve um dos conceitos filosóficos mals importantes da Cabala, conceito que 
também tem sido fonte geradora de confusão para muitos eruditos. 
A explicação mais clara do Tzimtzum pode ser encontrada nos escritos do Rabino 
Isaac de Luria (1534-1572), conhecido como o Ari, diretor da escola cabalística de 
Safé. 
Conforme descrito em Etz Chaim (Árvore da Vida), o processo era o seguinte: 
 
Antes de todas as coisas serem criadas... a Luz Divina era simples e enchia toda a 
existência. 
Não havia espaço vazio... 
Quando Sua simples Vontade decidiu criar todos os universos... Ele comprimiu os 
lados da Luz, deixando um espaço vazio... Esse espaço era perfeitamente 
redondo... 
Após essa compressão ter ocorrido.., passou a existir um lugar onde todas as 
coisas poderiam ser criadas... 
Ele, então, traçou uma única linha reta de Luz Infinita.., e a trouxe até aquele 
espaço vazio... 
A Luz Infinita loi trazida para baixo por intermédio dessa linha... 
 
 
 
Em seu sentido literal, o conceito do Tzimtzum é direto. 
Deus primeiro "suprimiu" Sua Luz, criando um espaço vazio, onde teria lugar toda a 
criação. 
Para que Seu poder criador estivesse presente, Ele estendeu uma "linha" de Sua 
Luz naquele espaço. 
Toda a criação aconteceu por intermédio dessa "linha". 
Advertem quase todos os cabalistas mais recentes que não se deve tomar o 
Tzimtzum literalmente, pois é impossível aplicar-se a Deus qualquer conceito 
espacial. 
Trata-se, sobretudo, de um sentido conceitual, pois se Deus preenchesse cada 
perfeição, não haveria motivo para a existência do homem. 
Deus, portanto, comprimiu Sua perfeição infinita, permitindo a existência de um 
"lugar para o livre-arbítrio e a realização do homem". 
Outro ponto importante, ressaltado por muitos cabalistas, é o fato do Tzimtzumnão 
ter acontecido na essência de Deus, mas em Sua Luz. 
Essa Luz foi a primeira coisa trazida à existência e representa o poder criativo de 
Deus, tendo sido esse próprio poder criativo trazido à existência com o propósito de 
criar o universo. 
Muitos historiadores, erroneamente, concluem que o Tzimtzum originou-se dos 
ensinamentos do Ari. 
Contudo é, de fato, um ensinamento muito mais antigo, e encontra-se clara 
referência a isso no Zohar. 
Consideremos a seguinte passagem: 
Na cabeça da autoridade do Rei Ele talhou da luminescência divina, uma Lâmpada 
de Trevas. E ali emergiu do Oculto dos Ocultos — o Mistério do Infinito — uma linha 
sem forma, embutida em um anel... medida por uma linha... 
 
De acordo com a maioria dos cabalistas, trata-se de referência direta ao Tzimtzum. 
Estudo mais profundo do Bahir revela uma clara alusão ao Tzimtzum. 
O Rabino Berachiá diz que a Luz era como um "belo objeto" para o qual o Rei não 
tinha lugar. 
É explicitamente declarado que essa luz existia antes, mas não havia onde colocá-
la. A luz pode ser revelada apenas após a criação de um "lugar". 
É uma referência óbvia a "linha" de Luz, mencionada em Etz Chaim, a qual 
precipitou toda a criação. 
É, também, a "linha sem forma, embutida em um anel", mencionada no Zohar. 
O motivo do Tzimtzum tem origem em um paradoxo básico: Deus deve estar no 
mundo, todavia, se Ele não Se restringir, toda a criação seria completamente 
dominada pela Sua Essência. 
No Bahir encontramos claras alusões tanto ao paradoxo quanto à sua resolução. 
Existe, entretanto, um paradoxo mais difícil envolvido no Tzimtzum. 
A Sua Essência deveria estar ausente do espaço vazio, pois Deus removeu dali a 
Sua Luz. 
Todavia, Deus deve, também, preencher esse espaço, pois "não existe lugar onde 
Ele não esteja". 
Esse é um paradoxo totalmente básico e relaciona-se intimamente à dicotomia da 
imanência e transcendência de Deus. 
O ponto principal exposto por esse paradoxo é o fato desse espaço ser apenas 
"escuro" e "vazio" naquilo que nos diz respeito. A "Lâmpada das Trevas" 
mencionada no Zohar é "escuridão" para nós, mas em relação a Deus, é, também, 
"lâmpada". 
No que se refere a Deus, é, de fato, luz, pois para Ele é como se o Tzimtzum jamais 
tivesse acontecido. O Tzimtzum teve lugar para que a criação acontecesse, e isso é 
necessário para nós, mas não para Deus. 
Estudo detalhado indica que a resposta encontrada na declaração de abertura do 
Bahir é precisamente a essa pergunta. 
É de especial interesse observar-se que o Rabino Nehuniá abre o Bahir exatamente 
com esse paradoxo aparente. 
O ponto principal da Cabala teórica é resolver o paradoxo de como um Deus 
absolutamente transcendental pode interagir com Sua criação. 
A estrutura das Sefirot, e conceitos semelhantes, é o que forma a ponte entre Deus 
e o universo. 
Para não pensarmos que isso inclui qualquer transformação no próprio Deus, o 
Rabino Nehuniá afirma claramente serem, de fato, luz as trevas do espaço vazio, 
no que diz respeito a Deus. 
A criação do espaço vazio, bem como de todos os mundos nele existentes, 
espiritual e físico, não transformou ou diminuiu a Luz de Deus. 
Tal introdução lembra a advertência semelhante encontrada no princípio do Idra 
Raba, uma das partes mais misteriosas do Zohar, e que contém bastante 
simbolismo antropomórfico. 
Logo no princípio dessa parte, o Rabino Shimon cita o versículo (Deuteronômio 
26:15): 
"Amaldiçoado do homem que faz qualquer imagem... e a coloca em lugar 
escondido." 
Neste contexto, o "lugar escondido" se refere ao mais elevado dos universos 
divinos. 
Mesmo que possam ser usados antropomorfismos ao descrever as Sefirot e outros 
conceitos cabalísticos, de modo algum devemos toma-los literalmente. 
 
No princípio do Bahir, o Rabino Nehuniá formula uma advertência semelhante. 
Não pense que as Sefirot sejam luzes destinadas a preencher qualquer escuridão 
referente a Deus pois, para Ele, tudo é Luz. 
Para evitar erros, o nome do Rabino Nehuniá aparece em nossos textos sem 
disfarce — esse princípio é tão importante que deve ser apoiado pelo prestígio total 
do próprio mestre. 
 
Fim 
 
 
O Bahir – Parte 1 
 
1. Disse o Rabino Nehuniá ben HaKana: 
Relata certo versículo (Jó 37:21): 
"E agora não se vê a luz, o céu luminoso (Bahir)... [Deus envolve-se em 
assombrosa majestade]." 
Diz, todavia, outro versículo (Salmos 18:12): "Ele fez das trevas o Seu 
esconderijo." 
Está, também, escrito (Salmos 97:2): "Nuvens e trevas O envolvem." 
Trata-se de aparente contradição. 
Surge um terceiro versículo, e reconcilia os dois. 
Está escrito (Salmos 139:12): "Mesmo a treva não é treva para Ti. A noite 
reluz qual o dia - luz o treva são o mesmo." 
 
Comentário: 
Esse parágrafo já foi examinado na Introdução, onde se fala sobre o tzimtzum. 
Expõe uma dicotomia básica, onde Deus deve ser a um tempo imanente e 
transcendente — preenche toda a criação, e, todavia, é ao mesmo tempo 
totalmente dissociado dela. 
Aqui, a Luz se refere à Essência Divina, conforme é percebida no estado místico. 
Devido à Constrição (tzimtzum), não vemos essa Luz quando olhamos na direção 
de Deus, e Ele, portanto, parece estar cercado de escuridão. 
A criação deve existir como entidade independente e, por isso, não pode estar 
totalmente impregnada pela Presença Divina. 
Ao mesmo tempo, contudo, não se pode dizer que essa Essência não esteja 
impregnando toda a criação, pois "não existe lugar vazio Dele". 
Assim sendo, quando olhamos em direção a Deus, essa Luz deve, de fato, estar ali. 
Essa é a dicotomia. 
O Rabino Nehuniá soluciona essa questão ao explicar que a Constrição existe 
apenas no que diz respeito à criação, mas não no que diz respeito ao Criador. 
Embora O vejamos cercado pela treva, Ele Se vê cercado de Luz — pois, para Ele, 
mesmo essa treva é, realmente, luz. 
Nesse estudo, o autor usa uma dialética, que compreende tese, antítese e síntese. 
O último dos Treze Princípios da Exegese do Rabino Ismael (discípulo do Rabino 
Nehuniá) contém alusão ao mesmo conceito: "Dois versículos que se opõem, até 
um terceiro versículo ser trazido para os reconciliar". 
É essa a dialética resultante da estrutura tríplice básica, tão freqüentemente 
encontrada na Cabala. 
Todavia, além de ensinamento filosófico, o Rabino Nehuniá também oferecia uma 
importante lição aos iniciados nos mistérios. 
A visão pode ser de nuvens e trevas, mas, para Deus, até essa escuridão é luz. 
A palavra Shechakim, palavra hebraica para "céus", é uma alusão a isso, conforme 
encontramos no versículo Jó 37:21, bem como nos Salmos 18:12. 
Essa palavra, Shechakim, indica sempre as Sefirot Netzach e Hod , Sefirot 
envolvidas na profecia e na visão mística. 
Diz um versículo que existe brilho nessa visão: "O céu (Shechakim) é luminoso", 
enquanto diz o outro versículo: "nuvens espessas dos céus (Shechakim)" (Salmos 
18:12). 
 
2. Disse o Rabino Berachiá: 
Está escrito (Gênese 1:2): 
"A terra era Caos (Tohu) e Desolação (Bohu)‖. 
Qual é o significado da palavra "era" nesse versículo? 
Indica que o Caos existia anteriormente [e que já era]. 
O que é Caos (Tohu)? 
Algo que confunde (Taha) as pessoas. 
O que é Desolação (Bohu)? 
É algo que tem substância. Por isso é chamada Bohu, isto é, ―Bo Hu‖ - 
"está nisso". 
 
Comentário 
Embora Tohu e Bohu tenham, em geral, a simples conotação de caos e desolação, 
são descritos aqui como os ingredientes básicos da criação. 
Deus faz existir todas as coisas e é, portanto, o Doador máximo. 
A criação, por outro lado, recebe a sua própria existência de Deus, e é, por isso, o 
receptor máximo. 
Outro princípio relevante é o fato de Deus ser uma Unidade absolutamente simples, 
e não poder, de modo algum, ser descrito por quaisquer qualidades. 
Cada conceito necessário à criação deve, por isso, também ser criado. 
Conforme observamos, osconceitos de “dar” e “receber” são dois dos mais básicos. 
Em terminologia cabalística, referimo-nos ao conceito de "dar" como "Luz", 
enquanto o de "receber" é chamado "Vaso". 
Ambos, Tohu (Caos) e Bohu (Desolação), contêm uma alusão a esses Vasos 
primevos. 
Tohu refere-se aos primeiros Vasos, que foram despedaçados, enquanto Bohu 
refere-se a esses Vasos após serem restaurados e corrigidos. 
Os Vasos originais consistiam das Dez Sefirot em sua forma mais primitiva. 
Nesse estado, não podiam interagir e, assim sendo, eram incapazes de dar 
qualquer coisa uns aos outros. Somente estavam habilitados a receber de Deus. 
Contudo, para receber a Luz de Deus, um Vaso deve estar, de alguma forma, ligado 
a ele. 
A diferença básica entre o espiritual e o físico é o fato do espaço não existir no 
plano espiritual, e, assim sendo, as Sefirot não podem, fisicamente, permanecer 
ligadas a Deus. 
Por isso, o único relacionamento possível é a semelhança. 
Portanto, para receber a Luz de Deus, o Vaso deve, pelo menos até certo ponto, 
assemelhar-se a Deus. 
Entretanto, encontramos aqui uma dificuldade. 
Se Deus é o Doador máximo, enquanto o Vaso apenas recebe, os dois são, então, 
absolutamente opostos. 
Por isso, para que um vaso adequadamente receba, deve, também, dar. 
O necessário, portanto, é um vaso que tanto dê quanto receba. 
Tal vaso fundamental é o homem. 
Se o homem deve receber a Luz de Deus, primeiro deve se assemelhar a Deus, na 
condição de doador. 
Realiza essa faculdade ao guardar os mandamentos de Deus, e através deles, 
provendo sustento espiritual aos mundos divinos. 
Antes que possa fazê-lo, todavia, deve, também, se assemelhar a Deus por ter 
tanto livre arbítrio quanto livre escolha, o que é somente possível quando existirem 
ambos, o bem e o mal. 
O primeiro estágio da criação é chamado de Universo do Caos, ou Tohu. 
É um estado onde os Vasos, que eram as Dez Sefirot primitivas, podiam receber a 
Luz de Deus, mas não podiam dar ou interagir. Por não se assemelharem a Deus, 
esses Vasos eram incompletos e, portanto, incapazes de reter a Luz. 
Como não podiam cumprir seu propósito, foram subjugados pela Luz e 
"despedaçados", sendo esse o conceito da "Quebra dos Vasos". 
Por essa razão, os Vasos são chamados Tohu, que se origina de uma raiz cujo 
significado é "confuso". 
Quando uma pessoa está "confusa", significa que está captando uma idéia incapaz 
de ser retida por sua mente. 
Similarmente, os vasos de Tohu-Caos receberam uma Luz que eram incapazes de 
conter. 
Do mesmo modo que a confusão e a desordem quebram o processo do 
pensamento, assim esses vasos foram despedaçados. 
As partes quebradas desses Vasos caíram em um nível espiritual menos elevado e, 
subseqüentemente, tornaram-se a origem de todo o mal. 
Por isso, diz-se que Tohu-Caos é a origem do mal. 
Os Vasos foram, a princípio, criados sem a capacidade de conter a Luz com a 
finalidade de que o mal viesse à existência, dando ao homem, assim, liberdade de 
escolha, a qual, como observamos, era necessária para a retificação dos Vasos. 
Além do mais, uma vez que o mal se originava do Vaso primevo mais elevado, 
pôde ser retificado e re-elevado até esse nível. 
Encontra-se referência a essa Quebra dos Vasos no Midrash que diz: "Deus criou 
universos e os destruiu" (Bereshit Rabá 3:7). 
Surge, igualmente, menção a isso na Torá, na passagem sobre os Reis de Edom, no 
final de Gênese 36. 
A morte desses reis, diz-se, pressupõe a quebra de um determinado vaso, e sua 
queda a um nível inferior, enquanto o versículo refere-se a essa queda como 
"morte". 
Para o motivo de serem chamados "reis", ver mais adiante o verso 49 do Bahir. 
 
A palavra Tohu é soletrada Tav Hu, sendo Tav a última letra do alfabeto hebraico. 
Por ser Malchut-Reino a última das Sefirot, é representada pela letra Tav. 
Tohu — Tav Hu — refere-se, portanto, ao plano desses "reis". 
Após serem despedaçados, os Vasos foram re-retificados e re-construídos em 
Personificações (Partzufim), e numeradas em 62. 
Cada uma dessas Personificações consiste de 613 partes, correspondendo às 613 
partes do corpo, bem como aos 613 mandamentos da Torá. 
Essas Personificações estavam, então, aptas a interagir umas com as outras. 
E, ainda de maior importância, através da Torá, eram capazes de interagir com o 
homem, por isso se tornaram doadores e, também, receptores. 
No estado retificado, os Vasos estavam habilitados a receber a Luz de Deus. 
Em terminologia cabalística, esse estado é chamado de Universo da Retificação 
(Tikun). 
Do mesmo modo que aqui, é, também, chamado de Bohu-Desolação. 
Estando os vasos de Bohu capacitados a interagir, costuma-se dizer que existe 
"paz" entre eles. 
Bohu, portanto, é visto como a origem da paz. 
Traduz-se Bohu como "desolação", ou, mais precisamente, "vazio". 
Representa o "vazio" de um Vaso pronto a receber. 
A palavra Bohu pode também ser lida como duas palavras, Bo Hu, literalmente: 
"nisso está" ou "está nisso." 
Porque, inclusive, trata-se de um "isso" que pode manter a Luz "nisso". 
Os cabalistas falam, também, de Tohu como sendo o estado intermediário entre o 
potencial e a realização. 
Em seu estágio inicial, os Vasos tinham apenas existência potencial, na Entidade 
Infinita e, nesse estado, não podiam ser compreendidos. 
Por outro lado, seu estado de realização é o de Bohu. 
Tohu é o estado intermediário entre esses dois. 
Para os iniciados, isso contém, também, uma lição para aqueles que entrariam no 
plano místico. 
As Cascas (Klipot), derivadas de Tohu-Caos, são as forças que "confundem as 
pessoas", e fazem com que tenham visões enganadoras. 
Um vaso completo é uma visão que encerra um conceito completo e compreensível, 
enquanto um vaso partido traz desordem e confusão. 
O estado ao qual deve-se ansiar é, portanto, Bohu, pois é o que contém a visão 
verdadeira - "está nisso". 
 
3. Por que a Torá principia pela letra Bet? 
Para que principie por uma bênção (Berachá). 
Como sabemos que a Torá é chamada de bênção? 
Porque está escrito (Deuteronômio 33:23): 
"O que preenche é a bênção de Deus apossando-se do Mar e do Sul." 
O Mar nada mais é senão a Torá, conforme está escrito (Jó 11:9): 
"É mais extenso que o mar." 
Qual é o significado do versículo: 
"O que preenche é a bênção de Deus"? 
Significa que onde quer que encontremos a letra Bet, estará indicada uma 
bênção. Está, portanto, escrito (Gênese 1:1): 
"No princípio (BeReshit) Deus criou o céu e a terra." BeReshit é Bet Reshit. 
A palavra "princípio" (Reshit) não é outra senão a Sabedoria. 
Está, portanto, escrito (Salmos 111:10): "O princípio é a sabedoria, o 
temor a Deus." 
A Sabedoria é uma bênção. 
Está, portanto escrito: "E Deus abençoou Salomão." 
Além do mais, está escrito (1 Reis 5:26): "E Deus concedeu Sabedoria a 
Salomão." Assemelha-se a um rei que casa sua própria filha com seu filho. 
Ele a concede ao filho e, no casamento, diz ao filho: "Faça com ela o que 
desejar." 
 
 
Comentário 
Na condição de prefixo, a letra Bet significa "em". 
Pode indicar um "preenchimento". 
O "preencher" alude à (Isaías 6:3): 
"Sua glória preenche toda a terra. " 
A primeira letra da Torá é Bet, segunda letra do alfabeto hebraico. 
É, também, a primeira letra da palavra Berachá, que significa "bênção". 
Quando estudamos a Torá, nos referimos, em geral, aos Cinco Livros de Moisés, ou, 
em sentido mais amplo, à toda estrutura teológica que está fundamentada nesses 
Livros. 
Todavia, em sentido cabalístico, a palavra "Torá" se refere ao plano da criação em 
sua totalidade. 
Quando os cabalistas falam da imanência e da transcendência de Deus, dizem que 
Ele "preenche todos os mundos e envolve todos os mundos" (Zohar). 
A letra Bet se refere ao intercâmbio entre esses dois conceitos e, assim, o nome da 
letra Bet está relacionado à palavra Bait, que significa "casa". 
O conceitoque diz "Deus preenche todos os mundos" é indicado pela palavra 
"Bênção". 
Sempre que Deus revela Sua Essência em qualquer coisa, diz-se que Ele "abençoa" 
aquela coisa, e o versículo, portanto, diz: "o que preenche é a bênção de Deus". 
O veículo dessa bênção não é outro senão a Torá. 
Para que um Deus totalmente transcendental se relacione com Sua criação, uma 
série de Dez Sefirot (Emanações) teve que ser trazida à existência. 
As duas primeiras dessas Sefirot são Keter-Coroa e Chochmá-Sabedoria. 
A primeira Sefirá é chamada Coroa, pois é a coroa usada acima da cabeça. 
Portanto, a Coroa se refere a coisas que se encontram acima da capacidade de 
compreensão da mente. 
Por conseguinte, a Sabedoria é a primeira coisa que a mente pode apreender e, 
assim sendo, é chamada de "começo". 
Sendo Chochmá-Sabedoria a segunda Sefirá, e a letra Bet, segunda letra do 
alfabeto hebraico, contém uma alusão a essa Sefirá. 
 
4. Como sabemos que a palavra Berachá [em geral traduzida como 
"bênção"] vem da palavra Baruch [que significa ―abençoado‖]? Talvez 
venha da palavra Berech [que significa ―joelho‖]. 
Está escrito (Isaías 44:23): "Para Mim, todos os joelhos se dobrarão." 
[Berachá pode, portanto, significar] o Lugar ao qual todo joelho se dobra. 
A que exemplo se assemelha? 
As pessoas desejam ver o rei, mas não sabem onde encontrar sua casa 
(Bait). Primeiro perguntam: "Onde é a casa do rei?" 
Somente então podem perguntar: "Onde está o rei?" 
Está, portanto, escrito: 
"Para Mim, todos os joelhos se dobrarão" — mesmo os mais elevados — 
"todas as línguas jurarão". 
 
Comentários 
A palavra Berachá (bênção) está intimamente relacionada à palavra Berech, que 
significa "joelho". 
Do mesmo modo que dobrar os joelhos abaixa o corpo, assim o conceito de 
Berachá abaixa a Essência de Deus de modo que ele possa Se relacionar com o 
universo, e ser compreendido através de Seus atos. 
A "Bênção", por conseguinte, é nossa compreensão mais elevada de Deus, que é o 
"Lugar ao qual todo joelho se dobra". 
É a casa (Balt) que se deve buscar antes de ser possível encontrar o Rei. 
Outra vez mais, contém uma alusão à Sefirá Chochmá-Sabedoria, representada 
pela letra Bet. 
Aqui, um importante conceito, a ser encontrado muitas vezes, é a idéia cabalística 
de que antes de haver um "despertar de acima", deve haver primeiro "um 
despertar de abaixo". 
Isto é, antes que qualquer sustento espiritual seja concedido, deve haver primeiro 
algum esforço por parte do recipiente. 
Relaciona-se intimamente ao conceito de que cada recipiente da Luz de Deus deve 
ser, também, doador, conforme observado anteriormente. 
A palavra "Bênção" se refere principalmente ao sustento dado como resultado de 
um "despertar de abaixo". 
Os principais meios de tal "despertar" são a Torá e os mandamentos. 
 
5. O Rabino Rahumai sentou-se, e explicou: 
Qual é o significado do versículo (Deuteronômio 33:23) "O que preenche é 
a bênção de Deus, apossando-se do Mar e do Sul"? 
Significa que, onde quer que encontremos a letra Bet, esse lugar estará 
abençoado. É "aquilo que preenche" a que se refere o versículo "O que 
preenche é a bênção de Deus". 
Daí, nutre os necessitados. 
Desse "preenchimento", Deus buscou conselho. 
A que exemplo isso se assemelha? 
Um rei desejava construir seu palácio em meio a enormes rochedos. 
Escavou a rocha e descobriu enorme nascente de água pura. 
Disse o rei: "Uma vez que disponho de água corrente, plantarei um jardim. 
Deliciar-me-ei, então, nele, do mesmo modo que todo o mundo." 
Está, portanto, escrito, (Provérbios 8:30): 
"Eu estava junto com Ele como mestre-de-obras, eu era o seu encanto por 
um dia, um dia, todo o tempo brincava em sua presença." 
A Torá está dizendo: "Durante dois mil anos eu estava no regaço do Santo 
Abençoado como seu encanto." 
Diz, portanto, o versículo: "um dia, um dia". 
Cada dia do Santo Abençoado tem mil anos, conforme está escrito (Salmos 
90:4): "Mil Anos são aos Teus olhos como o dia de ontem que passou." 
Daí em diante, é às vezes, conforme declara o versículo: "'brincava em Sua 
[presença] todo o tempo". O restante é para o mundo. 
Está, portanto, escrito (Isaías 48:9): "Através do Meu nariz, expirarei Meu 
louvor para você." 
Qual o significado de "Meu louvor"? 
Conforme está escrito (Salmos 145:2): "Um louvor de Davi, eu Te exaltarei, 
[meu Deus, Ó Rei, e abençoarei Teu nome para o mundo e eternamente]." 
Por que é um louvor? 
Porque "Te exaltarei". 
E o que é essa exaltação? 
Porque "abençoarei Teu nome para o mundo e eternamente". 
 
Comentários: 
Aqui, o Rabino Rahumai explica que a Sefirá Chochmá-Sabedoria, representado 
pelo Bet, é a transição entre a transcendência de Deus e Sua imanência. 
Não apenas envolve, como, também, "preenche". 
A Sabedoria é o canal da Essência de Deus e, portanto, sustenta todas as coisas. 
Na condição de elo entre Criador e criação, é o veículo que contém o potencial de 
todas as coisas. 
Assim sendo, diz o Talmud:: "Quem possui Sabedoria? Aquele que vê o que ainda 
não nasceu". 
Chochmá-Sabedoria é o conceito através do qual Deus percebeu, inicialmente, toda 
a criação (e, portanto, corresponde aos olhos), e por isso, diz-se: O ter 
aconselhado. Encontramos referência a esse fato em um Midrash, que diz haver 
Deus buscado o conselho da Torá antes de criar o universo. 
Já foi dito que a Torá é comparada ao Mar. 
A Torá é representada pela água, pois flui das mais elevadas fontes espirituais para 
impregnar os níveis espirituais mais inferiores, e até mesmo o mundo físico, que se 
encontra abaixo de todos. 
Aqui, contudo, a analogia é usada em sentido diferente e a Torá é comparada a 
uma fonte d'água que jorra da rocha. 
A rocha representa o poder do Tzimtzum-Constrição, o qual refreia a Luz Divina. 
Conforme observamos na Introdução, depois do processo do Tzimtzum, uma linha 
de Luz foi impulsionada para o Espaço Vazio. 
Essa "linha de Luz" é a "fonte". 
Para conter alguma coisa, um vaso deve ser capaz de impedir que essa coisa se 
espalhe. 
Uma peneira não pode conter a água. 
A mesma força que atua como Vaso para manter a Luz de Deus também serve, por 
conseguinte, para refreá-la e constringi-la. 
Esse é o conceito de Bohu, conforme examinado anteriormente. Aqui, é 
representado como uma rocha, e as Escrituras, similarmente, falam das "Rochas de 
Bohu" (Isaías 34:11). 
As sete últimas das Dez Sefirot correspondem aos sete dias da semana. 
Essas sete Sefirot inferiores são chamadas de Atributos (Midot). A 
cima dessas sete, estão as três sefirot superiores, chamadas de Mentalidades 
(Mochin), a saber: Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão. 
A Torá se origina da Sabedoria de Deus e está, portanto, dois níveis acima das sete 
Sefirot inferiores. 
Por isso diz-se que a Torá foi criada dois "dias" antes dos sete dias da criação. 
Na Cabala, encontramos as seguintes correspondências: 
 
Chochmá-Sabedoria Milhares Olhos Atzilut Yud 
Biná-Compreensão Centenas Ouvidos Beriyá Heh 
As Seis Sefirot Seguintes Dezenas Nariz Yetzirá Vav 
Malchut-Reino Unidades Boca Asiyá Heh 
 
Assim sendo, esses quatro níveis correspondem às quatro letras do Tetragrama 
(YHVH). Correspondem, também, aos quatro universos: Atzllut-Proximidade, o 
universo das Sefirot; Beriyá-Criação, o universo das almas e do Trono; Yetzirá-
Formação, o universo dos Anjos; e Asiyá-Manifestação, o universo físico e sua 
sombra espiritual. 
Como o nível de Chochmá-Sabedoria é o dos milhares, cada dia se torna mil anos. 
É, também, o nível dos Olhos, e por isso está escrito: "mil anos diante de Teus 
olhos..." 
Quando atinge o nível dos seis dias da criação, é, então, soprado pelo nariz. 
Conforme observado anteriormente, antes que qualquer bênção ou sustento seja 
concedido, deve primeiro haver um "despertar de abaixo". 
Por isso, diz Davi que, quandoele exalta Deus, Seu nome é também abençoado, ou 
seja, é trazido abaixo, para reluzir sobre toda a criação. 
Aqui, a palavra Louvar (Tehilá) representa a Sefirá Malchut-Reino, a Sefirá mais 
inferior, recipiente e Vaso máximo. 
Essa Sefirá está, também, relacionada a Davi, que iniciou em Israel o conceito do 
Reino. Através desse atributo, Deus é chamado de Rei e, por isso, diz o versículo: 
"Eu te exaltarei, meu Deus, Ó Rei." 
Na criação, o propósito de Deus era que Ele devia conceder o Seu bem ao Seu 
trabalho. Quando esse propósito é cumprido, por intermédio do "despertar de 
abaixo", o propósito de Deus está cumprido, e Ele, de fato, é "exaltado". 
 
Continua 
 
 
 
O Bahir – Parte 2 
 
6. O que é uma bênção? 
Explica-se por intermédio de um exemplo. 
Um rei plantou árvores em seu jardim. A chuva pode cair e aguá-las, e o 
solo pode estar úmido e supri-las de umidade, porém, ainda assim, ele as 
deve regar com a água da fonte. 
Está, portanto, escrito (Salmos 111:10): 
"O princípio é a Sabedoria, o temor a Deus, todos os que o praticam têm 
bom senso [Seu louvor permanece para sempre]." 
É possível pensar que falta algo. 
Está, portanto, escrito: 
"Seu louvor permanece para sempre." 
 
Comentários 
Aqui o exemplo enfatiza o "despertar de abaixo" envolvido no conceito da bênção. 
A chuva, vinda de cima, representa o sustento de Deus que desce do aspecto pelo 
qual Ele "envolve todos os mundos". 
A umidade do solo é aquilo que vem do aspecto onde Ele "preenche todos os 
mundos". 
Todavia, a "água" deve, também, vir de abaixo, da fonte. 
Isso alude ao fato de que o "despertar de abaixo" dá-se, principalmente, por 
intermédio da Torá. 
É, também, o conceito do Louvor, o qual principia do mais inferior, com o Reino, e 
ascende. 
Para o simbolismo da árvore, ver verso 119. 
 
7. O Rabino Amorai sentou-se, e explicou: 
Qual o significado do versículo (Deuteronômio 33:23): "O que preenche é a 
bênção de Deus, apossando-se do Mar e do Sul"? 
Moisés dizia: 
"Se seguirdes minhas regras, herdareis tanto esse mundo quanto o 
próximo." 
O Mundo Vindouro é comparado ao mar, conforme está escrito (Jó 11:9): 
"É mais extenso que o mar." 
O mundo presente é chamado de Sul. 
Está, portanto, escrito (Josué 15:19): 
"[Dá-me uma bênção,] visto que me destinaste a terra do sul, [dá-me, 
pois, fontes de água]." 
O Targum traduz como "olhe, a terra é o sul". 
 
Comentários: 
Embora fosse dito anteriormente que o mar alude à Torá, diz-se aqui que se refere 
ao Mundo Vindouro. 
Não se trata de uma contradição, pois a Torá é a emanação da Luz de Deus, e, 
assim sendo, é, em si, a principal recompensa do Mundo Vindouro. 
Essa recompensa será a revelação da glória de Deus, a qual é "O que preenche". 
O sul se refere ao presente mundo físico, pois o sul corresponde à Sefirá Chessed-
Amor. 
Enquanto a recompensa do Mundo Vindouro deve ser merecida, a que é concedida 
no mundo atual é uma dádiva do Amor. 
 
8. Por que Deus acrescentou a letra Heh ao nome de Abraão, ao invés de 
qualquer outra letra? 
Foi assim, para que todas as partes do corpo do homem fossem dignas de 
vida no Mundo Vindouro, o qual é comparado ao mar. Tanto quanto 
podemos expressar, a Estrutura foi completada em Abraão. [A respeito 
dessa Estrutura] está escrito (Gênese 9:6): "Pois à imagem de Deus, Ele 
fez o homem." 
O valor numérico de Abraão é 248, número das partes do corpo do homem. 
 
Comentários 
Quando Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, Ele o fez acrescentando a letra 
Heh. 
De acordo com a tradição, o número de partes do corpo humano é 248. 
Quando Deus acrescentou esse Heh ao nome de Abraão, Ele lhe concedeu domínio 
sobre as cinco partes finais de seu corpo, a saber, os dois olhos, dois ouvidos, e o 
órgão sexual, conforme mencionado no Talmud. 
A letra Heh tem valor numérico cinco, e é uma alusão aos cinco níveis da alma. 
O fato dessa letra ter sido acrescentada ao nome de Abraão indica que esses cinco 
níveis finais lhe foram concedidos. 
Outra conotação da letra Heh é "manter". 
O valor numérico de Heh é cinco, em alusão aos cinco dedos da mão. 
Está igualmente indicado pelo modo como a letra Heh é usada como prefixo e 
sufixo. 
No final de uma palavra, indica o feminino, e é também usada como sufixo para 
apontar o feminino possessivo. Como prefixo, é o artigo que abarca e especifica um 
determinado objeto. 
Em ambos os contextos, a letra Heh tem o teor de delinear e manter. 
Essa é, também, a conotação dos dois Hehs no Tetragrama, 
formado por Yud Heh Vav Heh. 
O primeiro Heh corresponde à Sefirá Biná-Compreensão, e essa é a "mão" com a 
qual Deus concede a recompensa do Mundo Vindouro, O Heh final é a Sefirá 
Malchut-Reino, e é a mão que Ele nos concede, para que sejamos capazes de 
aceitar essa recompensa. 
Assim sendo, por intermédio desse Heh, Abraão se tornou merecedor do Mundo 
Vindouro. 
É comparado ao mar, pois, qual o mar, é um receptáculo. 
A "forma" de Deus na qual Ele criou o homem é, de fato, a forma prototípica do 
homem. Essa "forma" ou "projeto" era o primeiro pensamento de Deus acerca da 
criação, e, por isso, é o mais alto nível da criação. 
Textos cabalísticos posteriores referem-se a essa "forma" como Adão Kadmon 
(Homem Primevo). 
Esse "plano" contém 248 partes, e quando Abraão foi aperfeiçoado por intermédio 
do mandamento da circuncisão, tornou-se sua exata contraparte. 
 
9. Qual o significado de (Deuteronômio 33:23): "[O que preenche é a 
bênção de Deus, o Mar e o Sul] ele herdará (YiRaShaH)"? 
Teria sido bastante o versículo dizer "herdar (RaSh) [o Mar e o S ui] " . 
A que se assemelha? 
Um rei tinha dois tesouros e escondeu um deles. 
Depois de muitos dias, disse ao seu filho: "Tomai o que está nesses dois 
tesouros." O filho respondeu: "Talvez não me estejas dando tudo o que 
escondeste." 
O rei disse: "Tomai tudo." 
Está, portanto, escrito: 
"o Mar e o Sul, ele herda". 
Herdar Deus (YH RaSh) — tudo te será dado se guardares meus preceitos. 
 
Comentarios 
A forma gramatical Rash é, realmente, encontrada em diversas passagens, tais 
como Deuteronômio 1:21, 2:24, 2:31, e 1 Reis 21:15. 
O autor diz que Deus deve estar incluído na totalidade dos trabalhos do homem, 
isto é, todos esses trabalhos devem ser feitos em nome de Deus, e não meramente 
por qualquer futura recompensa antecipada. 
Pode-se, então, "herdar Deus", uma vez que a principal recompensa futura é a 
percepção da Entidade Infinita. 
No Tetragrama, o Yud é pertinente à Chochmá-Sabedoria, enquanto o Heh, à Biná-
Compreensão. 
Deus já dera o Heh a Abraão, e, portanto, pode-se conjecturar que o Yud deva 
permanecer oculto, e que não seja concedido no Mundo Vindouro. 
Por isso, Deus diz: "Pega tudo", ambos, o Yud e o Heh. 
Em certo sentido, o filho nessa parábola é uma referência a Abraão. 
O exemplo ensina, também, que Deus deve ser buscado, e que não é, meramente, 
uma recompensa. 
Se o filho buscasse os tesouros e não perguntasse pelo Rei, não teria recebido 
nada. 
Apenas após buscar o próprio Rei, recebeu todos os tesouros. 
O Yud e o Heh correspondem, também, aos "dois mil anos" mencionados no verso 
5. 
 
10. Disse o Rabino Bun: 
Qual é o significado do versículo (Provérbios 8:23) "Desde a eternidade fui 
estabelecido (Me-Olam), desde o princípio, antes da terra "? 
Qual é o significado de "desde a eternidade (Me-Olam)"? 
Significa que deve estar escondido (He-elam) do mundo. 
Está, portanto, escrito (Eclesiastes 3:11): 
"Ele, também, colocou o mundoo (Ha-Olam) em seus corações [para que 
não possam atinar com a obra que Deus realizou desde o princípio até o 
fim]." 
Não leia Ha-Olam (o mundo), mas He-elam (esconder). 
Disse a Torá: "Fui o primeiro, para que Eu fosse o chefe do mundo." 
Está, portanto, escrito: "Desde a eternidade fui estabelecido, desde o 
princípio." Podem pensar que a terra existiaantes. Está, por isso, escrito 
―antes da terra". Está, portanto, escrito (Gênese 1:1): "No princípio, Deus 
criou o céu e a terra." Qual o significado de "criou"? 
Ele criou tudo o que era necessário a todas as coisas. E, então, Deus. 
Somente depois está escrito "o céu e a terra". 
 
Comentários 
Nesse versículo, é a Sabedoria (a Torá) que fala, como está óbvio em Provérbios 
8:1. 
No verso 5, o versículo Provérbios 8:3 foi estudado, e, agora, nesse verso, o autor 
retorna a um versículo anterior semelhante. 
 
Em hebraico, a palavra Olam, que significa "universo" e "eternidade", é derivada da 
mesma raiz que Elam, que significa "encobrimento". 
O "universo", portanto, encobre Deus, e não permite que Ele seja visto 
diretamente. 
A eternidade é o encobrimento máximo, pois a mente humana não é capaz de 
penetrar o tempo infinito, nem pode penetrar a atemporalidade da verdadeira 
eternidade. 
Esse "encobrimento" é uma alusão à Keter-Coroa, que está acima de Chochmá-
Sabedoria, sendo, também, sua origem. 
Keter-Coroa é mencionada pela palavra Kedem, que significa "antes". 
Keter-Coroa representa a vontade de Deus, que é a origem da Torá. 
A Coroa, portanto, é usada acima da "cabeça", uma vez que a "cabeça" representa 
Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, que são aspectos da mentalidade 
consciente. A Torá é a Sabedoria, e é, portanto, a "cabeça" da criação. 
Pode-se pensar que a Torá foi criada apenas para retificar a criação tal como 
existia. Se assim o fosse, a Torá teria sido criada depois da terra. 
Mas, de fato, a Torá era o plano da criação, e, portanto, a antecedera. 
A palavra BeReshit - "No princípio" - se refere à Sabedoria. 
Elohim, um dos nomes hebraicos de Deus, se refere à Compreensão, pois quando 
usamos a palavra "Deus", estamos, de fato, falando de nossa compreensão Dele. 
Nesse mesmo versículo, Shamaim (céus) indica as seis Sefirot seguintes e, por 
isso, a palavra Shamaim é uma palavra plural. 
"Terra" é Malchut-Reino. 
Assim, o versículo "No princípio Deus criou os céus e a terra", contém uma alusão 
aos quatro níveis básicos da criação (ver comentário sobre verso 5). 
Mostra esse versículo, que a palavra "criou" é redundante nesse esquema, sendo, 
por isso, questionada. 
O autor responde que a palavra "criou" indica que Chochmá-Sabedoria continha o 
potencial de tudo que seria trazido à existência. 
Antes da criação, apenas a Entidade Infinita existia, e, por isso, tudo era igualdade 
e homogeneidade. 
Igualdade é, portanto, o conceito mais elevado a respeito da Entidade Infinita que a 
mente está habilitada a compreender e, assim sendo, é a essência de Chochmá-
Sabedoria. 
A criação, todavia, se encontra no pólo oposto ao Criador, pois o Criador dá 
existência, enquanto a criação a recebe. Por conseguinte, antes que a criação 
pudesse ser trazida à existência, o conceito de diferenciação teve que ser trazido à 
existência. 
É a essência de Biná-Compreensão. 
Por isso, a palavra Biná partilha da mesma raiz que Bein, que significa "entre". 
O Talmud nos fala que Compreensão diz respeito a "compreender uma coisa a 
partir de algo diferente" . 
No nível do "Princípio" ou Sabedoria, tudo o que existe é potencial não diferenciado. 
Quando surge o plano de Elohim (Deus), ou Compreensão, pode ser diferenciado 
em Céu e Terra. 
 
Continua 
 
 
 
 
O Bahir – Parte 3 
 
11. Qual o significado do versículo (Eclesiastes 7:14): 
"Deus fez tanto um quanto seu oposto"? 
Ele criou Desolação (Bohu), e colocou-a na Paz; e Ele criou Caos (Tohu), e 
colocou-o no Mal. 
Desolação é Paz, conforme está escrito (Jó 25:2): "Ele faz a paz nas Suas 
alturas." Ensina que Miguel, o príncipe à direita de Deus, é água e granizo, 
enquanto Gabriel, o príncipe à esquerda de Deus, é fogo. 
Os dois são harmonizados pelo Príncipe da Paz. 
Esse é o significado do versículo "Ele faz a paz nas Suas alturas". 
 
Comentários 
O nome de Deus usado no versículo do Eclesiastes é, também, Elohim, que se 
refere à Biná-Compreensão. 
A mente diferencia as coisas por intermédio da compreensão e, assim, a 
Compreensão é o conceito mais geral de diferenciação. 
O versículo "Deus (Elohim) fez tanto um quanto o seu oposto" está dizendo que o 
oposto se origina do conceito Elohim, isto é, Biná-Compreensão. 
Para um estudo sobre Desolação e Caos, ver o comentário do verso 2. 
Miguel é o anjo que zela pelo Amor, o conceito de dar livremente, enquanto Gabriel 
é o anjo da justiça, a restrição do Amor, bem como o receber sem dar. 
Representam dois opostos, e sua única reconciliação é Bohu-Desolação, o conceito 
do livre-arbítrio, que permite que um recipiente seja, também, doador. 
Conforme observaremos, os anjos estão no universo de Yetzirá-Formação, que é 
uma reflexão de Atzilut-Proximidade, o universo das Sefirot. 
Miguel é a contraparte da Sefirá Chessed-Amor, enquanto Gabriel é a de Guevurá-
Força. 
O nome de Deus El está associado a Chessed-Amor, e Miguel significa, literalmente, 
Mi KaEl - "Aquele que é semelhante a El". 
Gabriel é Gavri El: "A Força de Deus". 
A Paz está mais intimamente relacionada a Daat-Conhecimento, o qual é uma 
quase Sefirá, intermediário entre Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão. 
Daat-Conhecimento vem depois de Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão e esta 
diretamente acima de Tiferet. Por isso ele responde que “um esta acima do outro”. 
Do mesmo modo que Biná é a origem de Guevurá, assim Daat é a origem de 
Tiferet. 
Daat-Conhecimento desce para se tornar a Sefirá Tiferet-Beleza. 
O "Príncipe da Paz" é o anjo que corresponde à Tiferet-Beleza, e é identificado 
como o arcanjo Uriel. 
 
12. Como sabemos que Caos está no Mal? 
Está escrito (Isaías 45:7): "Ele faz a paz e cria o mal." 
Qual é o resultado? 
O Mal está no Caos, enquanto a Paz está na Desolação. 
Portanto, Ele criou o Caos e colocou-o no Mal, [conforme está escrito: "Ele 
faz a paz e cria o mal." Ele criou a Desolação e a colocou na Paz, conforme 
está escrito: "Ele faz a paz nas Suas alturas."] 
 
Comentários: 
Diz-se que "criação", em geral, se refere ao primeiro passo, criar "algo do nada". 
"Fazer", por outro lado, se refere à finalização de um conceito. 
Está, portanto, escrito que Deus "cria o mal". 
Isso se refere ao Universo de Tohu-Caos, que foi o primeiro passo da criação, e era 
"algo do nada". 
A realização máxima da criação é o conceito da paz, onde todos os opostos estão 
resolvidos, e, por isso, o versículo diz: "Ele faz a paz." 
A mais importante realização da paz é a reconciliação entre os opostos máximos, 
Criador e criação. 
Foi somente realizado através da criação do Mal (ver comentário do verso 2). 
 
13. O Rabino Bun também sentou-se, e explicou: 
Qual o significado do versículo (Isaías 45:7): 
"Ele forma a luz cria as trevas"? 
A luz não possui substância. 
Portanto, o termo "formação" é usado sobre o que lhe diz respeito. 
As trevas não têm substância e, portanto, o termo "criação" é usado sobre 
o que lhe diz respeito. 
Similarmente, está escrito (Amós 4:12): "Ele forma as montanhas e cria o 
vento." Essa é outra explicação: 
A luz foi, de fato, trazida à existência, conforme está escrito (Gênese 1:3): 
"E Deus disse: haja luz." 
Uma coisa não pode ser trazida â existência a menos que seja formada. 
O termo "formação" é, portanto, usado. 
Todavia, no caso das trevas, não houve formação, apenas separação e 
distanciamento. Por isso o termo "criado" (Bara) é usado. 
Tem o mesmo sentido que a expressão "Aquela pessoa ficou boa (hi Bria)". 
 
Comentário: 
Aqui, outra vez, o conceito de "criação" significa "algo do nada", enquanto 
"formação" é "algo de alguma coisa ". 
A Luz emana da essência de Deus e é, por conseguinte, "algo de alguma coisa". 
A Treva, por outro lado, é um conceito completamente inédito e não tem relação 
com Deus. 
É, portanto, "criada" - "algo de alguma coisa". 
Esse parágrafocontém, também, urna alusão ao Tzimtzum, a Constrição original 
examinada na Introdução. 
Toda a criação foi, originalmente, preenchida com a Luz da Entidade Infinita e, 
portanto, a "escuridão", que é o refreamento e a constrição dessa Luz, era algo 
completamente inédito. Por isso, a palavra "criou" é usada a respeito da treva. 
A linha de Luz que penetrou essa treva desde o Espaço Vazio, contudo, teve sua 
origem na Luz Infinita original, e, por isso, diz-se que foi "formada". 
Em geral, diz-se que o pensamento está no nível da Criação, pois o pensamento é 
"algo do nada". 
Por outro lado, a fala emana do pensamento — "algo de alguma coisa" — e está, 
portanto, no nível da Formação. 
Quando o versículo diz: "Deus disse: 'Haja luz ' " , a frase "Deus disse" indica o 
nível da fala, que é, também, o nível da Formação. 
Entretanto, passagem alguma referente ao relato da criação declara que "Deus 
disse" que a treva deveria ser criada. Por conseguinte, a treva não inclui a fala, 
mas apenas pensamento, que está no nível da Criação. 
Assim sendo, dizem as Escrituras, "As trevas encobriam o abismo" (Gênese 1:2), 
sem menção alguma de que isso tenha sido dito por Deus. 
O conceito da treva inclui, também, separação, conforme diz a Torá: 
"Ele separou a luz e as trevas" (Gênese 1:4) e, no caso de se "tornar boa", uma 
pessoa, similarmente, se separa de sua doença (Or HaGanuz). 
 
14. Por que a letra Bet é fechada em todos os lados e aberta na frente? 
Ensina que é a Casa (Bait) do mundo. 
Deus é o lugar do mundo, e o mundo não é Seu lugar. 
Não leia Bet, porém Bait (casa). 
Está, portanto, escrito (Provérbios 24:3): "Com a sabedoria se constrói 
uma casa, e com a compreensão ela se firma, [e com o conhecimento 
enchem-se os quartos]." 
 
 
Comentário: 
Deus abrange todas as coisas, até espaço e tempo, e não é abrangido por elas. 
Isso também é verdadeiro em relação a Chochmá-Sabedoria, que é o conceito do 
Princípio — sem fim — antes da criação do espaço e do tempo. 
A respeito do significado do Bet, ver comentário sobre verso 3. 
 
15. A que se assemelha Bet? 
É como um homem, formado por Deus com sabedoria. 
Ele é fechado em todos os lados, mas aberto na frente. 
Alef, todavia, é aberto atrás. 
Ensina que a cauda de Bet é aberta atrás. Se não fosse por isso, o homem 
não poderia existir. Do mesmo modo, se não fosse por Bet na cauda de 
Alef, o mundo não poderia existir. 
 
 
Comentário: 
Os dois órgãos principais da expressão humana, a boca e o órgão sexual, são 
"abertos" na frente. 
O Bet representa Chochmá-Sabedoria, a primeira Sefirá através da qual Deus Se 
expressa. 
Chochmá-Sabedoria é apenas uma sefira, mas, todavia, é uma emanação da glória 
de Deus, e não deveria ser considerada, de forma alguma, igual a Deus. 
Portanto, Bet tem uma denteação acima de sua cauda protuberante, indicando um 
receptáculo, e em alusão ao fato de que recebe sua existência de um poder ainda 
mais elevado, isto é, do Alef. 
Alef é a primeira Sefirá, que é Keter-Coroa. 
É totalmente oculto, e serve apenas para receber de Deus, refreando Sua luz para 
que não subjugue a criação. Por isso, o Alef é aberto atrás. 
Até mesmo Keter-Coroa deve receber existência da Entidade Infinita, que é 
infinitamente mais elevada que essa Sefirá. 
É mais do que certamente verdadeiro a respeito de Chochmá-Sabedoria, que é a 
segunda, após Keter-Coroa. 
Embora Keter-Coroa seja o mais elevado elemento da criação concebível, é 
infinitamente inferior à Entidade Infinita. 
Diz o Zohar que, apesar de Keter ser a luz mais brilhante, é total escuridão quando 
comparada à Entidade Infinita. 
Assim sendo, mesmo o Alef principia por um Bet, isto é, na forma do Alef existe um 
Bet diagonal. (Ver Ilustração). 
 
 
16. Disse o Rabino Rahumai: 
A iluminação antecedeu o mundo, pois está escrito (Salmos 97:2): 
"Nuvens e trevas O envolvem." 
Está, portanto, escrito ((Gênese 1:3): "E Deus disse: 'Haja luz', e houve 
luz." Disseram-Lhe: 
"Antes da criação de Israel, seu filho, farás, então uma coroa para ele?" 
Ele respondeu sim. 
A que isso se assemelha? 
Um rei desejava um filho. Um dia, encontrou uma bela e preciosa coroa, e 
disse: "Isso é apropriado para a cabeça de meu filho." 
Disseram-lhe: "Estás certo de que seu filho será digno dessa coroa?" 
Ele respondeu: "Silencie. Isso é o que surge em pensamento." 
Está, portanto, escrito (2 Samuel 14:14): "Ele pensa pensamentos [para 
que ninguém seja excluído]." 
 
Comentário: 
Aqui, a pergunta é: sendo a luz somente concedida como uma questão de livre-
arbítrio, como se terá certeza de que a vontade do homem será dela merecedora? 
Deus responde com o versículo de Samuel, indicando que Ele realiza coisas de 
modo a, no final, tudo ser merecedor dessa Luz e "ninguém ser excluído". 
A "Luz" criada antes do mundo é uma alusão, também, ao fato de que o Mundo 
Vindouro foi criado antes do universo (ver o verso 160). 
Essa Luz é representada por uma coroa, pois, em referência ao Mundo Vindouro, 
ensina-se que "os justos se sentarão com suas coroas em suas cabeças" (Talmud). 
Significa que a Luz mais elevada, que emana de Keter-Coroa, será, então, 
compreendida pelo homem. 
 
17. O Rabino Amorai sentou-se, e explicou: 
Por que a letra Alef está no princípio? 
Porque estava antes de tudo, até mesmo da Torá. 
 
Comentário: 
A Torá emana de Chochmá-Sabedoria, enquanto Alef alude à Keter-Coroa, que é 
superior à Sabedoria. 
Keter-Coroa não é discernível nesse mundo, sendo, por isso, Chochmá-Sabedoria o 
mais elevado nível capaz de ser percebido. 
O alfabeto contém letras como conceitos abstratos, e, portanto, pode começar pelo 
Alef. Mas a Tora se ocupa da percepção de Deus, e, por isso, deve principiar pelo 
Bet, que é uma alusão à Chochmá-Sabedoria. 
 
18. Por que Bet a segue? 
Porque estava primeiro. 
Por que possui uma cauda? 
Para apontar o lugar de onde veio. Dali o mundo é mantido, dizem alguns. 
 
Comentário: 
A letra Bet tem uma "cauda" apontando para trás. (ver o verso 15). 
 
19. Por que Guimel está em terceiro? 
Tem três partes, ensinando-nos que confere (gomel) bondade. 
Mas, não disse o Rabino Akiba que Guimel tem três partes porque confere, 
cresce e mantém? 
Está, portanto, escrito (Gênese 21:8): "O rapaz cresceu e foi agraciado." 
Ele disse: Ele diz o mesmo que eu. Ele cresceu e conferiu bondade aos seus 
vizinhos e àqueles que lhe foram confiados. 
 
Comentário: 
Guimel contém uma alusão à Biná-Compreensão, a Mão que concede a Sabedoria 
(ver comentário sobre verso 8). 
A menos que seja compreendida, a Sabedoria não tem significado, enquanto que 
por intermédio da Compreensão, pode-se conceder Sabedoria à outra pessoa. 
 
20. E por que existe uma cauda na parte mais inferior de Guimel? 
Ele disse: Guimel tem uma cabeça no topo e é qual uma calha. 
Do mesmo modo que a calha, Guimel recolhe o que vem de cima, através 
de sua cabeça, e dispensa através de sua cauda. 
Isso é Guimel. 
 
Comentário: 
O Guimel consiste de uma cabeça, um corpo e uma cauda. 
Recebe da cabeça, e dispensa sabedoria por intermédio de sua cauda. 
 
 
 
Continua 
 
 
O Bahir – Parte 4 
 
21. Disse o Rabino Yochanan: Os anjos foram criados no segundo dia. 
Está, portanto, escrito (Salmos 104:3): "Ele apóia suas câmaras superiores 
com água [Ele faz das nuvens sua carruagem, Ele caminha sobre as asas 
do vento]." 
Está, portanto, escrito (Salmo 104:4): "Ele faz dos ventos, Seus anjos; das 
chamas do fogo, Seus ministros. "( O primeiro versículo se refere à criação 
do firmamento, no segundo dia da criação) 
[Disse o Rabino Haniná: Os anjos foram criados no quinto dia, conforme 
está escrito (Gênese 1:20): "Que as coisas voadoras voem sobre o 
firmamento do céu." 
A respeito dos anjos, está escrito (Isaías 6:2): "Com duas asas eles 
voavam.] 
Disse o Rabino Levitas ben Tavros: Todos concordam,

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