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TEOLOGIA-FUNDAMENTAL_2020 1_revisado

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3 
 
Gerardo Aceves Conde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEOLOGIA 
FUNDAMENTAL 
 
 
 
 
 
1ªEdição 
2017 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
 
Palavra do Professor autor 
Sobre o autor 
Ambientação à disciplina 
Trocando ideias com os autores 
Problematizando 
 
Conteúdo 
 
UNIDADE I A TEOLOGIA E SEUS PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS 
 
A Teologia Fundamental e a apologética 
O que é apologética 
Crise e renovação da Teologia Fundamental 
A nova forma de ser da Teologia Fundamental como Fundamental. 
A necessidade da Teologia Fundamental 
Como falar do inominável 
Metáforas como discurso correspondente de Deus. 
Revelação e fé 
Dimensão antropológica da fé 
Questões linguísticas 
Fundamentos Bíblicos 
A fé fiducial 
Fé e realidade humana 
Antropologia teológica 
Síntese do pensamento tradicional 
Aspectos humanísticos da fé 
Aspecto prático da fé 
Aspecto Escatológico 
 
6 
 
 
UNIDADE II O ATO DE FÉ 
 
A natureza do ato da fé 
O livre-arbítrio do ato da fé 
A liberdade no reino da necessidade 
O Paradoxo da fé: Autonomia e Dom 
A fé na dinâmica da liberdade 
Liberdade cristã 
Ameaças à liberdade da fé 
A beleza da fé 
A sobre naturalidade da fé 
Dialética entre certeza e obscuridade da fé 
Dimensão teológica da fé: A Revelação 
 
UNIDADE III REVELAÇÃO E A ESCRITURA 
 
O conhecimento da Escritura Sagrada 
As grandes etapas da história da salvação 
A história dos livros bíblicos 
A inspiração 
Inspiração no concílio vaticano II 
Inspiração e os teólogos 
Como saber se a Bíblia fala a verdade 
Vocabulário fundamental para a Teologia Fundamental 
 
Explicando melhor a pesquisa 
Leitura Obrigatória 
Pesquisando na internet 
Saiba Mais 
Vendo com os olhos de ver 
 
7 
 
Revisando 
Autoavaliação 
Bibliografia 
Bibliografia da Web 
Vídeos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
Palavra do professor 
 
Sejam bem-vindos ao estudo da disciplina de Teologia Fundamental. 
 
Antes de iniciar a leitura destas páginas, é conveniente estarem convencidos da 
importância desta disciplina, tanto pela necessidade de darem razão de vossa fé cristã à 
sociedade com a qual convivem, quanto pelo vosso próprio proveito, pois pode ajudar-vos 
a purificar vossa fé dos fundamentalismos nascidos da ignorância, dos mitos que suprem 
a inteligência, das superstições que ofuscam a compreensão da verdade transmitida 
através da linguagem literária, e dos preconceitos que as diferentes estruturas sociais 
religiosas criaram com o passar do tempo e que definem nossa vivência religiosa, nem 
sempre coerente com nossa natureza racional. 
 
Além do mais, esta disciplina é útil para fundamentar a reaproximação da fé 
institucional ao estudo exegético da Sagrada Escritura, na qual deve fundamentar-se toda 
profissão de fé cristã e na qual se encontram os princípios que devem guiar todo diálogo 
ecumênico e inter-religioso. 
 
Seria uma pretensão muito perigosa para a fé cristã, além de falsa, dizer que esta 
disciplina oferece provas para convencer alguém a se fazer cristão. Mas não seria digno 
para qualquer cristão ficar de braços cruzados e ignorar a necessidade de explicar por 
que pode crer em Deus, na Bíblia, na divindade de Cristo, em outra vida, ou numa 
salvação definitiva. Cada um desses temas será estudado em diferentes disciplinas 
teológicas. Entretanto, na Teologia Fundamental você encontrará várias reflexões acerca 
da possibilidade racional de crer, dos diferentes tipos de fé, da necessidade de defender a 
fé cristã, da importância do estudo racional dos dogmas professados, de como Deus se 
comunica ao ser humano e de como o ser humano pode entender a Deus e até falar d’Ele 
com propriedade. 
 
 
10 
 
A realidade sociocultural na qual convivemos (e da qual falaremos na ambientação) 
é consumista porque é imanentista (não crê nem espera nada além do aqui e o agora), 
imediatista (busca a satisfação imediata de suas pulsões) e epicurista (identifica o sentido 
da vida com o prazer). Ela tem acesso à informação como nenhuma outra sociedade na 
história já teve, e quer ser radicalmente autônoma enquanto a suas decisões éticas, para 
o qual entra em confronto direto com as estruturas que, tradicionalmente foram 
transmissoras e defensoras dos valores sociais: a família tradicional, as Igrejas Históricas 
e o Estado como entidade legisladora e punitiva. Nesse confronto, no entanto, a 
sociedade pós-moderna busca novas formas de satisfazer a capacidade inegavelmente 
humana de crer em algo além de si mesma e exercer espiritualidade. 
 
Essa realidade exige de nós, cristãos, não somente a coerência de nossa conduta 
com a fé cristã que professamos, mas também que sejamos capazes de justificar por que 
cremos e para que serve crer em Jesus Cristo. Quais são as peculiaridades de nossa fé? 
Em que nos distinguimos de outras crenças? E, no final das contas, qual é a nossa 
identidade específica? 
 
Este estudo não dará respostas prontas. É um conjunto de reflexões com as quais 
o estudante poderá ter elementos para construírem racional e coerentemente suas 
próprias respostas. 
 
Gerardo Aceves Conde. 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Sobre o autor 
 
 
Gerardo Aceves Conde, bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. 
Licenciado em Ciências Eclesiásticas pela Universidade de Navarra, 
Espanha. Bacharel em Teologia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e 
Institucional pelas Faculdades INTA. Licenciado em Letras Espanholas, pela 
Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Gerontologia, pela 
Universidade Aveiro-Portugal. Atualmente é professor de Língua Espanhola 
e Formação Humana na Escola Profissionalizante Dom Walfrido T. Vieira e 
professor universitário, lecionando várias disciplinas na área de humanas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Ambientação 
 
Por que é necessário estudar a Teologia Fundamental? A resposta é simples: 
Porque, embora pareça redundante, ela é fundamental. Como disciplina teológica, resume 
uma série de reflexões e argumentos que ajudam o cristão a posicionar-se racionalmente 
perante sua fé e, ao mesmo tempo, a justificar sua posição religiosa perante a sociedade 
onde tiver que dar testemunho de seu cristianismo. Ou seja, oferece fundamentos à 
resposta que os cristãos podem dar quando questionados acerca de sua fé. 
Isso não é uma alternativa sobre a qual possamos fazer opção, mas é mandato 
bíblico e uma verdadeira obrigação moral. Como mandato, ele encontra-se em 1Pe 3,15: 
"Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir 
a razão de vossa esperança”. Como obrigação moral, justificar a fé cristã diante dos que 
pedem razões. É comparável ao dever de defender a honra da mãe diante de uma 
calúnia. Isso é feito desde a razão, mas também desde a lembrança das virtudes vividas 
por ela e desde o afeto pelo qual perdoamos os seus erros e promovemos seu bem-estar. 
Da mesma forma, no cumprimento de nossa obrigação cristã de defender 
racionalmente nossa fé, esta disciplina utilizou ao longo de sua história argumentos de 
razão, argumentos históricos, jurídicos e afetivos para defender a crença no monoteísmo, 
na Escritura Sagrada, no Cristianismo e em cada uma de suas doutrinas. 
Sua estrutura tomista e sua finalidade eminentemente apologética mudaram a 
partir dos anos 60 do século XX, e passou a ser mais discursiva, passou a utilizar outros 
sistemas filosóficos além do tomista e a dialogar com as ciências empíricas. 
Como autor desta obra, estou ciente de que não é possívelabranger tudo o que é 
necessário ter em conta para construir um estudo completo desta disciplina. Por isso, eu 
fiz opção por apresentar uma estrutura que possibilitasse o leitor de formar uma ideia 
global dos temas que ela trata, se encantasse com a matéria e procurasse, no futuro, 
investir no seu estudo pessoal acerca de seus múltiplos assuntos. 
 
 
13 
 
Falaremos dos conceitos necessários para os alunos fundamentarem seus próprios 
juízos de valor acerca das críticas às quais, como cristãos, eles estão submetidos na 
sociedade em que vivemos. 
Grande parte dessa sociedade não se conforma com as tradições, crê poder 
responder por si mesma a todos os desafios intelectuais que a natureza propõe à razão, 
acha poder encontrar na imanência a resposta a sua constante insatisfação, sem 
perceber que ela é que a abre ao absoluto, no qual deixou de crer, e se concentra em 
satisfazer o antes possível sua emotividade e suas pulsões fisiológicas evitando as 
consequências que possam comprometer sua própria comodidade. 
Outra parte da sociedade, insatisfeita e frustrada no cristianismo tradicional, por mil 
razões e justificativas de toda índole, deixa o cristianismo e busca a satisfação de sua 
dimensão espiritual em rituais exotéricos, religiões naturais, ou espiritualidades de origem 
asiática ou africana. As múltiplas culturas religiosas oferecem-se num leque de 
possibilidades tão grande que gera insegurança nas opções (muitas pessoas vivem 
simultaneamente o cristianismo e alguma outra forma de religião, como o espiritismo ou o 
candomblé), banalizando e relativizando a fé cristã. 
Há ainda outros grupos sociais que, constituídos por crentes sinceros e formados 
nas ciências empíricas, querem compreender e fundamentar sua fé racionalmente. 
Incluso os jovens universitários, que no meio de suas crises de fé procuram permanecer 
fiéis, querem compreender racionalmente – e nós temos a obrigação de lhes dar uma 
resposta – porque não é absurdo crer. 
Sobre essas e muitas outras circunstâncias, como cristãos devemos estar 
preparados para dar razão de nossa esperança àqueles que nos pedirem fundamentar 
nossa fé e nosso amor a Cristo e à sua Igreja. Desejo-vos, caros alunos de Teologia, que 
este singelo trabalho vos ajude a darem, quando for preciso, razão de vossa esperança. 
Também esclareço que esta disciplina é abordada na perspectiva da Teologia 
Católica. Sendo este curso de natureza interconfessional é compreensível que se 
apresente conteúdos numa visão plural. 
 
14 
 
Trocando ideias com os autores 
 
Pensando no aprofundamento da disciplina, escolhi duas obras para enriquecer 
suas ideias e aprendizado nesse curso. 
 
 Este escritor brasileiro é um dos Teólogos latino-americanos 
mais prolíficos. Neste trabalho utilizamos principalmente sua obra 
Eu creio, nós cremos: Tratado da fé. Mas também utilizamos Igreja 
contemporânea: Encontro com a modernidade e Teologia da 
revelação a partir da modernidade. O valor da obra de Libânio 
encontra-se na profunda sabedoria com que sabe dialogar com a 
Sagrada Escritura, a Tradição teológica, a História, a Filosofia e os 
mais eminentes teólogos, tanto clássicos como da modernidade. 
Porém, Libânio dialoga com o discurso modernista que assalta a fé cristã quando 
exalta à razão, à liberdade, à subjetividade e ao consumismo, contrapondo-os aos valores 
cristãos e, portanto, à fé. Libânio responde argumentando a partir da razão com 
pensamentos próprios e dos mais famosos teólogos cristãos. 
João Batista Libânio. Eu creio, nós cremos: Tratado de Fé. Loyola, São Paulo, 
2000. 
 O autor, O’Collins Gerald, em o clássico da teologia 
fundamental contemporânea, e nesta obra revaloriza e exalta a 
subjetividade da experiência humana com Deus. Essa é sua 
principal riqueza. Para isso, desenvolve sua teoria da 
experiência e depois enfrenta os temas clássicos da revelação, 
a tradição, a inspiração nas Escrituras e o diálogo com não 
cristãos. Suas reflexões partem do fato de que ao longo das 
gerações, a humanidade experimenta Deus comunicando-se e, 
através das tradições, a sociedade interpreta e transmite essas 
experiências, até ficarem escritas. Nesse sentido, a revelação divina e a salvação que 
promete não acontecem fora da experiência dos seres humanos. A experiência é o lócus 
 
15 
 
onde revelação e salvação aconteceram e continuam a acontecer. Mas a tradição 
defende o autor católico, não coincide literalmente com a revelação e não pode transmitir 
a experiência da revelação como o faz a testemunha. No entanto, a tradição é necessária 
para apontar para a revelação, oferecendo meios de experimentá-la ao longo da história. 
Pessoalmente acho que O’Collins teve a nobreza moral de valorizar a subjetividade 
humana como âmbito no qual a Revelação acontece, algo que estava muito longe de 
acontecer nos manuais tradicionais de apologética. Todavia, sinto falta nesta obra de um 
interesse pelo âmbito social e político, circunstâncias reais onde a comunidade concreta 
experimenta a Revelação. 
GERALD, O’Collins. Teologia Fundamental. Loyola: São Paulo, 1991. 
 
 
Guia de Estudo: Após a leitura das obras, realize uma comparação entre as ideias dos 
autores, em seguida faça um texto dissertativo-argumentativo sobre o que mais lhe 
chamou atenção. Disponibilize-o no ambiente virtual. 
 
 
16 
 
Problematização 
Desde que adentramos a modernidade por volta do século XVII, cada vez mais o 
Ocidente passou a ser pautado pelo paradigma racionalista. A razão passou a ser o 
divisor de águas ao se discutir qualquer assunto. Desde então, a ciência vem ganhando 
cada vez mais, prestígio, e alto grau de confiabilidade e credibilidade. Até parece que ela 
tem resposta para tudo. 
Durante a Idade Média, a razão foi utilizada para explicar a fé, agora, ela seria 
usada contra a fé e a religião, especialmente contra o cristianismo. O que talvez possa 
explicar esse antagonismo seja o fato político da Igreja ter se posicionado ao lado da 
monarquiam, quando a classe burguesa deu os primeiros sinais de que seguiria pelo 
caminho da democracia e do sistema capitalista. Esse antagonismo ferrenho da Igreja 
sem dúvida explica, ao menos em parte, a aversão que a nova classe de intelectuais 
manteve contra a religião Cristã. 
O processo de secularização não é nada mais do que um esforço coordenado para 
se colocar a religião para fora do domínio público. A filosofia da religião também contribui 
para desacreditar o pensamento religioso cristão como um todo. 
Essa nova realidade criou a necessidade de teólogos responderem a pertinente 
pergunta, que certamente você já deve ter feito a si mesmo: 
A fé cristã é defensável à luz da razão? Ou, dito de outro modo, a fé cristã está em 
harmonia com a racionalidade ou é irracional? 
Esperamos que ao longo da disciplina você possa responder a esta questão. 
Guia de Estudo: 
Baseado nas situações acima faça uma resenha sobre as respostas. Disponibilize no 
ambiente virtual. 
 
 
 
 
 
17 
 
 
A TEOLOGIA E SEUS 
PRESSUPOSTOS 
FUNDAMENTAIS 
1 
 
OBJETIVO 
 
Conhecer os pressupostos e os temas básicos da Teologia Fundamental. 
 
HABILIDADE 
 
Reconhecer textos sobre o tema, bem como ser capaz de fazer exposição escrita 
pública em eventos, palestras, seminário em ambiente acadêmico acerca do tema 
estudado. 
 
 
COMPETÊNCIA 
 
Desenvolver técnicas de leitura e compreensão para aperfeiçoar a capacidade reflexiva 
nos textos bíblicos. 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
A teologia fundamental e a apologética 
 
 
Existe Deus? Se existe, podemos conhecê-lo racionalmente? Se for possível 
chegar a concluir Sua existência pela luz da razão, podemos falar d’Ele? 
 
 
A tentativa de a humanidade aproximar-se do mistério exige dos crentes o esforço 
por pensarem sua fé e estarem dispostos adar razão de sua esperança (1Pe 1, 13). A 
começar pelo esforço racional por concluir a existência de Deus e justificar que Ele pode 
revelar-se. Depois saber como Ele é e como Ele não pode ser, organizar coerentemente o 
que acreditamos e provar que não há contradição com a fé ad intra (ou seja, entre os 
dogmas professados) e ad extra (ou seja, com a razão e os conhecimentos que a 
humanidade vai acumulando na história). 
 
Dar razão de nossa fé e nossa esperança é uma exigência da razão unida à 
emoção (a unidade do Eu), pois o homem e sua força de pensar, justificar e explicar 
precisa definir o que crê e expandir sua fé apresentando os fatos da fé como uma unidade 
coerente racionalmente. 
 
Os fatos revelados precisam ser relacionados com a vida humana e, pela vida 
humana, com o mundo. Não se trata de fazer uma apresentação doutrinal, mas de tentar 
que a razão humana compreenda que a Doutrina que lhe será apresentada não ofende a 
razão. É, pois, um ato prévio ao ato de crer. 
 
Nesta Unidade será explicado o papel da Teologia Fundamental e de sua vertente 
apologética, uma necessidade urgente num mundo que nega a existência de Deus. 
 
 
 
 
 
20 
 
O que é a apologética? 
 
Apologética é um conjunto de conhecimentos ordenados e sistematizados que 
pretende demonstrar racionalmente a credibilidade da fé cristã, defendendo-a das críticas 
e os ataques provenientes dos diferentes grupos agnósticos ou dos que não professam a 
mesma fé. Estuda o que Tomás de Aquino chamou de preâmula fidei (preâmbulos da fé), 
ou seja, os pressupostos racionais que se impõem à vontade humana para que seu ato 
de fé não seja um ato irracional, senão o render-se ao mistério que se lhe impõe. 
 
Antes de crer na Revelação, é necessário mostrar que crer em Deus não é um 
absurdo, que a razão humana pode humildemente aproximar-se do conhecimento de sua 
existência e deduzir suas qualidades, que não é irracional pensar que ele possa ser 
conhecido e que não é um contrassenso ele rebelar-se. Este esforço da razão é, aliás, 
uma obrigação para o cristão imposta por Pedro: “Estai sempre dispostos a dar razão de 
vossa esperança” (1 Pe 3.15). 
 
A Apologética é um esforço da Teologia por justificar perante a razão humana as 
exigências intelectuais e éticas, a religião cristã com argumentos de razão, por isso 
trabalha com provas filosóficas, históricas e científicas, evitando fundamentar-se na 
Sagrada Escritura ou em argumentos de Autoridade emanados da Igreja. Entretanto, nas 
suas origens, os chamados Padres Apologistas dos séculos II a V (estudados na 
Patrística e na História da Igreja) sim apelavam à Escritura Sagrada, procurando defendê-
la historicamente e esclarecendo as verdades dogmáticas que iam se formando a partir 
dos dados expressos na Escritura, os quais sempre se consideraram inspirados pelo 
Espírito de Deus. Porém, principalmente, defendiam a Igreja dos ataques e das 
acusações caluniosas dos pagãos e da contaminação que podiam supor o encontro do 
gnosticismo com o cristianismo primitivo. 
 
A apologética clássica (que durou do século XVI ao XX) se estruturava em três 
grandes blocos chamados “demonstrações” referidas respectivamente à fé em Deus, à Fé 
em Jesus Cristo e à fé na Igreja (entendendo-se a Católica, a partir do Imperador 
Teodósio). 
 
 
21 
 
Essas demonstrações apologéticas são racionais e servem à fé, mas não a 
substituem. A fé cristã é sempre um ato da inteligência movido pela vontade seduzida 
pela graça. Portanto, é um dom que envolve a pessoa em sua totalidade e exige o 
assentimento da vontade. A apologética, que é puramente racional, não exige a fé. De 
fato, um apologista erudito pode não crer necessariamente naquilo que defende; o que é 
bastante contraditório defender algo em que não se acredita. 
 
No entanto, crer exige um mínimo de racionalidade, pois é necessário saber dar 
razões e provas de que o que se crê é, no mínimo, acreditável. Os motivos da 
credibilidade precisam ser racionais para não fazer da fé um fundamentalismo cego. 
Conhecer as razões para crer estimula, por sua vez, o conhecimento da relação existente 
entre as diferentes verdades de fé que se professam, a não contradição interna entre 
eles, a complementariedade mútua entre os dogmas professados, sua fidelidade à 
tradição recebida e, por incrível que pareça, sua não oposição à razão. Efetivamente, a fé 
cristã é, como toda fé, incompreensível racionalmente, porém, a diferença de outras 
crenças, não é absurda e é coerente consigo mesma. Por isso, a apologética estimula a 
fé e, quando estudada com a disposição moral adequada, a faz desejar. 
 
Os manuais de Teologia Fundamental tinham uma finalidade apologética eminente 
e sua estrutura era basicamente a mesma estrutura consagrada por Tomás de Aquino na 
sua Summa Theologica: título da tese, exposição da doutrina, argumentos contrários, 
contra-argumentos, explicação da doutrina oficial. 
 
 Crise e Renovação da Teologia Fundamental 
 
A Teologia Fundamental foi um dos tratados teológicos mais afetados com a 
renovação teológica iniciada na década de 1950 e que permitiu ao Vaticano II aproximar o 
cristianismo das ciências. Houve vários fatores que a afetaram, principalmente, a 
renovação dos estudos bíblicos e patrísticas (“Padres da Igreja”) dentro do âmbito 
católico, o acento personalista e antropológico que tomaram os novos estudos e o 
abandono repentino daqueles moldes sistemáticos da escolástica (mencionados no 
parágrafo anterior). Em contraposição, a Teologia Fundamental evitava aprofundar nos 
textos bíblicos, pois partia da evidência de sua verdade racional, não considerava o 
 
22 
 
aspecto subjetivo do conhecimento e se expressava naqueles moldes clássicos da 
neoescolástica. 
 
Nessas circunstâncias não tinha como subsistir, e entrou numa profunda crise nos 
anos 60, crise que até hoje não foi superada completamente, pois ainda existem questões 
muito complexas a ser resolvidas. Uma delas é em relação às diferentes concepções 
acerca do que atualmente deve ser a Teologia Fundamental. Para alguns, deve ser o 
fundamento do discurso teológico, para outros, o estudo da credibilidade da revelação 
cristã. Outro desafio a ser superado é a forma de propor os princípios desta disciplina 
teológica. Para alguns autores (sobretudo norte-americanos) ela deve continuar a ter uma 
função apologética, ainda que abandonando a frieza do hiper intelectualismo e dando 
espaço aos problemas vitais e práticos da humanidade. Para outros pensadores, a nova 
Teologia Fundamental deve construir-se como uma Filosofia transcendental e para outro 
grupo de teólogos, ela deve ser uma teologia da práxis, com fundamento empirista ou 
liberacionista. 
 
A crise da Teologia Fundamental afetou diretamente a publicação dos manuais de 
Teologia posteriores ao Concílio. Os textos que tentaram substituí-los não estavam 
suficientemente maduros para serem bons instrumentos de transmissão do pensamento 
teológico. Mas esse problema foi solucionado nos anos 80 como resposta à Instrução 
sobre o ensino da teologia nos seminários da Congregação para a Educação Católica 
(1976) e à Constituição Apostólica Sapientia Christiana do Papa João Paulo II (1979). A 
partir dela, a Teologia Fundamental passou a ser uma Assinatura Teológica obrigatória no 
âmbito da formação teológica católica. 
 
Nesse novo ambiente, a historicidade da reflexão acerca da fé permite manter viva 
a pergunta sobre a inteligibilidade do mistério e encontrar uma resposta que seja 
conforme as diferentes conquistas do saber humano. A mudança de pensamento criada 
com o Vaticano II distanciou a Teologia Fundamental do contexto da controvérsia que 
caracterizou a Apologética desde a Idade Média e a colocou em diálogo com as culturas e 
as ciências, enriquecendo a globalidade do saber humano e dando novos motivos para 
valorizar a existência humana. 
 
 
23Na nova perspectiva da Teologia Fundamental, os alicerces filosóficos se 
ampliaram, deixaram de lado a dependência absoluta do Tomismo e se abriram à 
pluralidade de referências propostas pelos novos sistemas filosóficos e, este é um dado 
novo para a Teologia Fundamental, aos conhecimentos histórico-culturais advindos do 
aprofundamento nos estudos Bíblicos. Isto se deve a que o Concílio Vaticano II exigiu 
uma teologia mais bíblica e mais pastoral, centrada no mistério de Cristo e na história da 
salvação. A partir do Concílio, toda a Teologia produzida no âmbito católico passou a ser 
a reflexão sistemática e científica da Igreja sobre o mistério de Cristo que se realiza na 
história da humanidade e da qual ela se sente Signo Universal, para verificar a 
conformidade de sua pregação e de sua vida com a Palavra de Deus e poder assim 
anunciá-la e vivê-la eficazmente à humanidade de hoje. 
 
 A nova forma de ser da Teologia Fundamental como 
fundamental. 
 
A Teologia Fundamental atual inclui a função apologética, porém não se identifica 
simplesmente com aquele tratado. Por outro lado, ela se constrói como uma teoria do 
conhecimento teológico orientado a refletir acerca das relações entre a revelação e a fé, a 
propor o método da Ciência Teológica e a demonstrar a racionalidade da fé. 
 
A Teologia Fundamental deve fazer descobrir, através de argumentos racionais, 
que o ponto de partida da Teologia deve ser a fé mesmo da Igreja como resposta na 
situação atual à Palavra de Deus. Preocupa-se por fundamentar de que forma essa 
Palavra foi pronunciada num período determinado da história e culminou no evento Cristo, 
e foi dirigida a todos os homens. 
 
 
A Teologia Fundamental é essencial porque propõe os fundamentos para 
responder aos desafios que o ato de crer lança à razão. 
 
 
 
24 
 
A Palavra e a resposta de fé da comunidade vêm expressas numa linguagem 
humana, expressão das situações socioculturais, mutáveis e relativas, dos diversos 
momentos e lugares da história. A Teologia Fundamental tem a missão de ajudar a 
comunidade eclesial a colher e compreender melhor o apelo da Palavra de Deus e a 
exprimir a própria resposta de fé na situação concreta na qual vive. A situação atual é de 
rápidas e profundas mudanças socioculturais e põe novos problemas à fé cristã. 
Problemas novos exigem respostas novas, não simples repetição das fórmulas 
dogmáticas e respostas do passado a problemas passados. 
 
A Teologia Fundamental coloca os alicerces racionais que ajudam a encontrar as 
novas respostas que os estudos bíblicos e a Teologia Sistemática devem procurar na 
Sagrada Escritura como cristalização inspirada da Palavra de Deus, brotada na 
comunidade cristã primitiva sob o impulso do Espírito Santo. A própria Bíblia não fornece 
imediatamente no seu texto literal a nova resposta; mas, sendo a cristalização da 
revelação de Deus, deve poder inspirar respostas aos problemas de hoje. 
 
A Teologia Sistemática é a procura de uma interpretação para a nossa situação, 
em parte nova, da mesma mensagem que é escrita no texto bíblico para outra situação. 
Essa mensagem, enquanto oferta do amor misericordioso de Deus em Cristo a todos os 
homens de todos os tempos e de todas as culturas, transcende a própria formulação 
bíblica no seu sentido literal. Essa, contudo, permanece sempre o ponto de partida para 
descobrir e enunciar a mensagem cristã e a Teologia fundamental coloca os alicerces 
racionais que ajudam a descobrir a mensagem divina a iluminar as novas situações. 
 
A tarefa da teologia é ajudar cada geração cristã a encontrar a resposta nova do 
evangelho aos problemas que a situação nova põe à fé da Igreja. “O ponto de partida da 
teologia é a Escritura, a qual é lida e interrogada do ponto de vista dos problemas dos 
homens de hoje. O teólogo tem necessidade da exegese, mas aquilo que o move e o 
anima são os problemas que hoje a Igreja levanta e que são levantados hoje à Igreja. Não 
obstante muitas vezes damos respostas a problemas que não se põem e não sabemos 
responder aos problemas que realmente se põem” (W. Kasper). 
 
 
 
25 
 
 
A necessidade atual da Teologia Fundamental 
Dentro do âmbito do cristianismo tradicional, tanto quanto fora dele, várias 
circunstâncias contemporâneas desafiam constantemente os fiéis cristãos, colocando-os 
em dúvida, ou incluso, fazendo-os perder a fé por não saberem dar razões para 
permanecerem crendo na tradicional fé cristã num ambiente de contínuas mudanças e 
sobre tudo perante os movimentos agnósticos e ecléticos da Nova Era. 
 
Os protestantes desprezaram tradicionalmente a perspectiva racional das reflexões 
propostas na Teologia Fundamental e incluso na sua dimensão apologética, pois eles 
tendem a ver nela uma mera obra da razão, uma das obras humanas contrapostas à 
graça de Deus e à fé, não necessária à salvação (sola gratia, sola fides, sola Scriptura). A 
tendência fideísta do protestantismo pode conduzir a desprezar o esforço racional para 
fundamentar a credibilidade da fé. A fé cristã seria tanto mais pura quanto menos se 
apoiasse na luz da razão.1 
 
Por outro lado, o Liberalismo e a Nova Era têm influenciado a reflexão teológica na 
construção de uma teologia progressista que tende a ver a apologética como o intento 
fanático e intolerante de impor a própria fé aos não crentes. Nessa ótica distorcida, a 
apologética opõe-se ao espírito de diálogo e à convivência pacífica entre as diferenças e 
valores bem assumidos nas sociedades contemporâneas. 
 
A Teologia da prosperidade, o fundamentalismo bíblico oposto à razão, a liberdade 
radical de interpretação dos Textos Sagrados e outras características dos movimentos 
evangélicos, incluso presentes em diversos graus nos movimentos Carismáticos católicos, 
desafiam também a razão ao questionar acerca do sentido e da forma da Revelação, da 
inspiração dos hagiógrafos e dos leitores da Palavra, da dimensão social da fé, da 
necessidade de um magistério, e da comunhão entre os cristãos. 
 
Nessa perspectiva, os católicos entendem que o homem contribui à obra divina da 
redenção por meio de sua resposta livre à graça de Deus, resposta que, aliás, é também 
 
1
 Isso não deve ser tomado de modo absoluto, visto que existirem teólogos protestantes apologetas. 
 
26 
 
moção da graça. Por isso, a teologia fundamental e sua dimensão apologética tornam-se 
uma nova forma de partilhar com o mundo a alegria da fé e da esperança da salvação 
sem recorrer à violência, mas confiando na força da verdade revelada por Deus em Jesus 
Cristo, verdade que não contradiz a razão humana, mas que, embora a transcenda, o 
satisfaz e complementa. 
 
Perante o laicismo antirreligioso e contra o ateísmo em suas mais diversas formas, 
que atacam com irreverência, ironia e até com violência, os cristãos não podem reagir 
com brutalidade, mas também não podem ficar calados. Sua forma de responder deve ser 
a retidão exemplar na vida e a força da coerência dos argumentos racionais e históricos 
com os quais se explicam a fé e os costumes dos cristãos. Acerca dessa necessidade, a 
Conferência Geral do Episcopado Latino americano e do Caribe V (Aparecida, São Paulo, 
2007), se manifestou. 
 
Hoje é necessário reabilitar a autêntica apologética que faziam os Pais da Igreja 
como explicação da fé. A apologética não tem por que ser negativa ou meramente 
defensiva per se. Implica, melhor, a capacidade de dizer o que está em nossas mentes e 
corações de forma clara e convincente, como diz São Paulo “fazendo a verdade na 
caridade” (Ef 4. 15). “Os discípulos e missionários de Cristo de hoje precisam, mais do 
que nunca, uma apologética renovada para que todos possam ter vida nEle” (Documentos 
de Aparecida, n. 229). 
 
O Sínodo dos Bispos, reunido em Roma em 2012, tratou o tema da Nova 
Evangelização para a transmissão da fé cristã. Naproposição 17 os bispos trataram 
acerca dos preâmbulos da fé e sobre a Teologia da credibilidade: 
 
No contexto contemporâneo de uma cultura global, muitas dúvidas e obstáculos 
causam um estendido ceticismo e introduzem novos paradigmas de pensamento e vida. É 
de primordial importância, para a Nova Evangelização, sublinhar o rol dos Preâmbulos da 
Fé. É necessário não somente mostrar que a fé não se opõe à razão, senão também 
destacar uma série de verdades e realidades que se referem a uma antropologia correta, 
que é iluminada pela razão natural. Entre elas estão o valor da Lei Natural e as 
consequências que ela tem para toda a sociedade humana. As noções de ‘lei natural’ e 
 
27 
 
‘natureza humana’ são susceptíveis de demonstrações racionais tanto no nível acadêmico 
como no popular. Esse desenvolvimento e empreendimento intelectual ajudarão no 
diálogo entre os fiéis cristãos e as pessoas de boa vontade, abrindo uma via para 
reconhecer a existência de um Deus Criador e a mensagem de Jesus Cristo, o Redentor. 
Os padres sinodais pedem aos teólogos que desenvolvam uma apologética do 
pensamento cristão, isto é, uma teologia da credibilidade adequada a uma Nova 
Evangelização. O Sínodo chama aos teólogos a aceitarem e responderem aos desafios 
intelectuais da Nova Evangelização participando na missão da Igreja de anunciar a todos 
o Evangelho de Cristo. (SÍNODO, 2012. Proposição 17). 
 
O atual Papa Francisco, também se pronunciou a respeito da necessidade de uma 
nova Apologética: 
O anúncio à cultura implica também um anúncio às culturas profissionais, 
científicas e acadêmicas. Trata-se do encontro entre a fé, a razão e as ciências 
que procura desenvolver um novo discurso da credibilidade, uma original 
apologética que ajude a criar as disposições para que o Evangelho seja escutado 
por todos. Quando algumas categorias da razão e das ciências são acolhidas no 
anúncio da mensagem, essas mesmas categorias se convertem em instrumentos 
de evangelização; é a água convertida em vinho. Eis aquilo que, assumido, não 
somente é redimido, mas também se torna instrumento do Espírito para iluminar e 
renovar o mundo. (Papa Francisco, Exhortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 
132). 
 
Como falar do Inominável 
 
Para a teologia mística de Dionísio o divino é inefável, não pode ser apreendido no 
pensamento. Para Damasceno “o divino é inefável e incompreensível”. Os nomes divinos 
são equiparáveis aos nomes que o amor encontra para o amado, os que adoram e 
louvam para o adorado e louvado, a saudade para quem a sente, o medo para o temido. 
Não expressam mais o arrebatamento e entusiasmo e a comoção dos que denominam 
que a essência do denominado? O Iluminismo quis permitir apenas o discurso racional de 
Deus. Kant tinha falado “o homem só pode falar de Deus em termos antropomórficos”. 
Jacobi defendeu o antropomorfismo de todo discurso sobre Deus como legítimo e 
adequado ao objeto. Para L. Feuerbach o discurso sobre Deus exige ser decifrado como 
 
28 
 
discurso sobre o gênero humano e seu desígnio. Não será a fala humana a deformação e 
distorção de Deus pela linguagem humana orientada por interesses e necessidades? Não 
será mais adequado calar a respeito de Deus do que forçá-lo com nossa linguagem? 
 
Falar de Deus a partir do silêncio: as vias negativas, da eminência e da 
causalidade. 
 
A tradição da teologia negativa entende-se neste sentido de caminho para o 
silêncio, embora como caminho no qual o pensar e falar dão conta de si e se dispõem a 
calar. A teologia negativa de Dionísio encontra-se na tradição do neoplatonismo no qual o 
protofundamento da realidade se apresenta como supra-essencial, inacessível ao 
pensamento classificador e definidor, ao discurso que distingue e delimita e acessível pela 
união mística do pensante e falante com o próprio Uno. A apófase libera o pensar e falar 
de sua fixação no que é impregnar de silêncio e desconhecimento, não o bastante 
liberando o falar para glorificar o inominado com os nomes que lhe cabem como 
protofundamento de todo ente, mas não como causa definível, e sim, como arché 
(princípio de tudo), a ser tudo em tudo e telos (finalidade, meta, objetivo). 
 
De Deus só pode-se falar corretamente trilhando simultaneamente a via negationis 
(sabemos o que não pode ser), a via eminentiae (em Deus as virtudes e valores têm que 
ser sublimes e exemplares) e a via causalitatis (via da negação, via da eminência e via da 
causalidade). Somente o louvor que chama pelo nome reúne adequadamente as três 
vias. É a linguagem dos amantes, dos entusiasmados; mas não só exprimem seu amor e 
entusiasmo, mas também aquilo que é amado e entusiasma porque nominam o ser arché 
supre essencial de Deus e assim a sua relação com o que é. 
 
Discurso analógico a respeito de Deus. 
 
Não podemos saber, a respeito de Deus o que Ele é, mas podemos, ao invés da 
definição essencial, a partir de seus efeitos, fazer uma afirmação da causa em si (Tomás 
de Aquino). Podemos nomear Deus a partir das criaturas, porém o nome que o nomeia 
então não exprime a entidade divina tal qual ela é. Os nomes de Deus dizem algo a 
respeito da sua essência, mesmo que não reproduzem toda a sua essência. Designam a 
 
29 
 
Deus por meio das obras da sua criação (realidades criaturais) que o representam apenas 
imperfeitamente. Deus não pode ser percebido nas criaturas propriamente como ele 
mesmo, em sua plenitude divina de ser, mas justamente apenas como seu princípio, 
origem concessora do ser. 
 
Os nomes atribuídos a Deus o exprimem corretamente como proto-realidade de 
tudo que é que lhe deve existência e perfeições do ser. Os nomes querem dizer 
inicialmente realidades criaturais, uma vez que delas são tirados; mas, segundo a seu 
teor, eles têm realidade intrínseca primeira em Deus. Eles designam a imagem, mas 
remetem o designante, com base na imagem, ao original. 
 
Os mesmos nomes designam a realidade criatural e a divina de diferentes 
maneiras. Isso exclui que os nomes sejam utilizados univocamente ou equivocamente, 
mas são usados no sentido da analogia. 
 
 
A analogia pode ser de atribuição ou de proporcionalidade. 
 
A doutrina da analogia fundamenta o discurso adequado de Deus em cima de uma 
correspondência: a correspondência do criado para com o seu Criador e a linguagem 
humana consegue expressar Deus verbalmente não só de forma inadequada e distorcida, 
mas correta. Baseado na dedicação de Deus ao gênero humano pecaminoso na obra 
redentora de Deus, o ser humano estaria novamente chamado a corresponder a Deus por 
sua fé e a expressá-lo verbalmente mercê dessa correspondência. 
 
Metáforas como discurso correspondente de Deus 
 
Paul Ricoeur tenta uma teoria da linguagem religiosa como linguagem de 
metáforas. Quando a pessoa humana, bafejada pelo Espírito de Deus, procura 
corresponder linguisticamente a Deus e a sua comunicação, suas palavras e sentenças 
muitas vezes entram em estranha tensão com o linguajar habitual. Teoria diferente da 
teoria retórica da metáfora. 
 
 
30 
 
Linguagem metafórica é uma linguagem que ultrapassa a si mesma ao entrar em 
tensão com as associações semânticas usuais, introduzindo, por alusão de imagem, 
novas associações de sentido. 
 
As pessoas falam acertadamente a respeito de Deus na medida em que se deixam 
determinar pelo próprio Deus em sua vida e até em sua linguagem, na medida em que 
correspondem a Deus. A tradição escolástica fundamentou essa capacidade de 
correspondência no fato do ser humano ter sido criado, de ser a semelhança de Deus. A 
teologia moderna, e principalmente contemporânea propõe, além disso, que o ser 
humano sempre precisa ser desafiado novamente pelo Espírito de Deus, no sentido de 
buscar a correspondência de sua vida e linguajar com a autocomunicação de Deus; que 
em função dessa correspondência também seu linguajar sempre precisa de nova 
conversão.As tentativas atuais de descrever a linguagem da fé como processo metafórico 
procuram ir ao encontro dessa preocupação. 
 
Jesus Cristo é a nova imagem de Deus Pai, o resplendor da glória de Deus e a 
expressão do seu ser; quem vê o Filho, vê o Pai. O que se pode ver, ouvir, sentir, 
experimentar e perceber de Deus, abre-se à pessoa humana nele (e partindo dele, no 
corpo de Cristo, que é a Igreja). Deus é como Jesus Cristo: essa metáfora central é à 
base da fé cristã; ela encontra sua interpretação na proclamação que procura interpretar 
Jesus Cristo como parábola pessoal de Deus e verbalizar, prometer às pessoas o Deus 
que se expressa linguisticamente no Logos Jesus Cristo. 
 
 Metáfora e conceito 
 
A metáfora apresenta riqueza de associações; em interpretações sempre novas ela 
pode ser atualizada, potencializada, relativizada, associada a outras metáforas. Só que 
riqueza de associações não significa arbitrariedade e é preciso reconhecer e excluir 
associações ambíguas da metáfora, corrigindo conotações errôneas pelo conceito. 
 
O conceito trabalha as metáforas, as inter-relaciona de forma coerente e nessa 
compreensão do seu nexo recíproco destaca a clareza unívoca do Deus-Logos; procura 
 
31 
 
controlar as associações evocadas pela metáfora de modo que não levem ao 
descaminho, mas sem sacrificar a riqueza de associações das metáforas. 
 
A teologia, em seu trabalho conceitual, recorre novamente a metáforas, cria 
metáforas. Não se compromete exclusivamente com a univocidade conceitual. Os 
conceitos de qualquer forma derivaram da metáfora e a derivação da metáfora 
proporciona ao conceito seu teor de realidade. 
 
A forma linguística do discurso teológico conceitual é indispensável. Seu lugar está 
na doutrina, na qual é preciso transmitir adiante e assumir a responsabilidade por aquilo 
que o Deus-Logos ao se pronunciar nas metáforas dá a pensar e fazer aqui e agora. 
 
A forma linguística do dogma eclesial tem seu lugar na responsabilidade oficial 
(doutrinal) pela identidade do que é cristão, identificando o que é interpretação normativa 
da Escritura e de tradições interpretativas normativas, rejeitando alternativas enganosas, 
redutoras do Logos. Mas existem gradações dessa normatividade, graus de certeza 
teológica. A interpretação dos dogmas deve orientar-se segundo sua forma linguística 
específica bem como segundo suas funções eclesiais, como palavra rememorativa, 
demonstrativa e prognóstica. A hermenêutica dos dogmas sempre se orientou segundo o 
nexo entre os diversos dogmas e entre estes e o alvo último dos seres humanos, tomando 
os dogmas como testemunhos da Tradição de uma interpretação eclesial da Escritura, 
com intenção de sistematização da fé. O concílio fala de hierarquia das verdades. O 
dogma sempre deve ser entendido a partir da lógica da controvérsia a ser por ele 
resolvida; como um enunciado dentro do mistério; como formulação historicamente 
contingente, segundo os esquemas de conceituação disponíveis em cada caso; a fórmula 
dogmática em casos foi imposta precipitadamente. Nenhuma sentença isolada, nem 
mesmo dogma algum pode esgotar a plenitude do Evangelho. Cada um enuncia a 
verdade infinita, o mistério de Deus e a sua salvação em Jesus Cristo de forma finita e, 
portanto, imperfeita, suscetível de melhoria, ampliação e aprofundamento. 
 
É inegável o desenvolvimento da doutrina eclesial, o desenvolvimento dos dogmas. 
A Revelação é interpretada segundo a situação; no curso dessa interpretação pode 
ocorrer que traços não claramente percebidos da autoexplicação de Deus em Jesus 
 
32 
 
Cristo fiquem mais ressaltados pela atuação do Espírito de Deus na comunidade dos 
crentes. 
 
 Revelação e fé 
 
A revelação divina é a proposta que a Trindade faz ao ser humano acerca de seu 
projeto salvador. Deus Trino se revela salvando a humanidade. Salva-a revelando-se. 
Porém, no seu ser salvo, a humanidade joga um papel fundamental, pois foi criada livre e 
consciente. Deus não anula a liberdade nem a consciência do ser humano, que precisa, 
num ato humano (ou seja, consciente e livremente), acolher a Revelação e responder a 
ela. Essa resposta é a fé. 
 
Revelação e fé constituem uma unidade profunda. São duas faces de uma mesma 
moeda. Não há Revelação sem uma intencionalidade em relação à acolhida do ser 
humano. Não à acolhida sem que lhe apresente uma resposta. 
 
A Revelação salvífica do Deus Trino constitui o ser humano na sua realidade 
ontológica, e a resposta é, portanto, possibilitada pelo ato revelador trinitário que, por si 
mesmo, se deu para ser acolhido pela humanidade, o povo de Deus, que a partir das 
suas circunstâncias históricas e socioculturais tem a obrigação e a possibilidade de 
analisar o conteúdo da Revelação e dar razão da sua esperança. 
 
O objetivo deste capítulo será por tudo isso, analisar a relação íntima e 
fundamental entre a Revelação e a fé, a proposta de Deus e a resposta do homem. 
Entretanto, por que precisamos refletir sistematicamente nessa dupla vertente da religião 
cristã? Porque esta abarca todos os níveis da nossa realidade humana, comprometendo 
assim, a racionalidade, a liberdade e o que de amoroso possam ter o homem e o dado 
revelado por Deus. 
 
 
 
 
 
 
33 
 
A Dimensão Antropológica da Fé 
 
No ato de fé, Deus não pode ocupar o lugar do ser humano. Não é Deus quem crê 
pelo homem e no lugar do homem, mas sim é o homem quem declara ou nega a Jesus 
Cristo (Lc12,8s), ainda que dependa da graça de Deus para acolhê-lo (1Cor 12,5). 
 
A confissão de fé é um ato do ser humano e por isso deve respeitar-lhe a 
estrutura humana. 
 
 
A fé, como resposta global da pessoa diante da proposta salvífica de Deus, pode 
ser analisada sob diferentes aspectos: 
 
a) É um ato humano. Ato humano é aquele ato onde o indivíduo sabe que é o que 
faz, é consciente de que está a agir e é livre para decidir agir. A fé é uma resposta livre ao 
apelo gratuito de Deus, para uma amizade de intimidade. 
b) Manifesta uma opção fundamental da criatura consciente e livre em relação a 
Deus. A opção fundamental é uma opção primeira e tão importante que define toda a 
série de decisões que a pessoa virá a fazer movida por aquela primeira opção, para 
proteger aquela primeira opção e se ajudar a realizar aquela primeira opção. 
c) É a salvação da pessoa humana, enquanto possibilita sua justificação. 
Se complexa é a realidade humana, mais complexa ainda é a relação dele com 
Deus. Neste capítulo estudaremos o que entendemos por ‘ter fé’, ou ‘crer’ e quais são os 
elementos principais da estrutura do ato de fé. 
 
Questões linguísticas 
 
a) Etimologia e Semântica de crer: 
 
Para nos referir à ação da fé, usamos o verbo “crer”, que desde sua origem teve 
um sentido religioso e outro econômico. Em ambos os sentidos a raiz indo-europeia 
significa o mesmo: “confiar uma coisa com a certeza de recuperá-la”. As palavras “crença” 
 
34 
 
e “crédito” eram utilizadas pelos antigos para se referir ao seu desejo de serem satisfeitos 
e fortificados por parte dos deuses. Portanto, nesse sentido, a fé implica, além da 
confiança, uma entrega que conta com a certeza da remuneração divina. 
 
Os latinos sublinham a dimensão existencial da entrega, aceitação e acolhimento 
da interpelação de Deus. ‘Crer’ vem do verbo latino credere, que está formado pelas 
palavras cor e dare (coração e dar). O verbo credere vai sempre acompanhado do 
adjetivo alicui (alguém). Assim, etimologicamente, ‘crer em alguém’ significa: dar o 
coração a alguém. Até aqui podemos tirar uma primeira definição de fé: Entregar a Deus o 
mais íntimo do ser: os sentimentos mais nobres, a liberdade e a razão em um ato de 
infinita confiança. 
 
b) Regências gramaticais do verbo ‘credere in’ (crer em): 
 
Existe um duplo objeto do verbo ‘crer’: Crer em Deus e crer nas outras realidades. 
O jeito de crer em cada um desses objetosé diferente, como também o jeito de nos 
expressar gramaticalmente com relação a eles. 
 
A língua latina possibilita ver melhor essa diferença, pois o acusativo pode ser 
antecedido de uma preposição e pode não ter preposição. A Igreja primitiva escreveu o 
símbolo da fé utilizando essa diferença para ressaltar a distinção radical entre crer no 
Deus Pai, no Filho e no Espírito Santo (‘credo in Deum Patrem et in Filium et in Spiritum 
Sanctum’) e crer na Igreja e nos outros símbolos da fé (‘credo Eclessiam’, sem 
preposição). 
 
O sentido dessa diferença é claro: Não se crê no Deus Trino e na Igreja da mesma 
maneira: Não creio ‘na’ Igreja, mas creio que a Igreja existe, como obra do Espírito Santo, 
em quem creio. 
 
A tradição latina conhece quatro regências do verbo ‘credere’ em relação a Deus: 
Credere Deum, credere Deo, credere in Deo, credere in Deum. 
 
 
35 
 
Credere in Deum e credere in Deo podem ter o mesmo significado, porém as 
outras três expressões não. Analisemos a diferença a partir do comentário que fez 
Agostinho de Hipona (430) à frase de Jesus: “A obra de Deus é que creiais naquele que 
Ele enviou” (Jo 6. 29). Agostinho comenta: “Ele pede que creiais naquele (in eum), e não 
a ele (ei). Pois, se credes nele, credes a ele; não se segue, porém, que quem crê a ele, 
crê nele. Pois os demônios criam a ele, mas não criam nele”. 
 
Aparece dessa análise de Agostinho de Hipona que a verdadeira fé teologal, que 
salva, está expressa com a preposição in no acusativo. Crer que Jesus existiu é 
necessário, porém só acreditar nele, isto é, acreditar que ele possibilita a filiação divina 
por meio da adoção da graça, dá a salvação. 
 
Quem faz uma análise metodológica das três expressões é Tomás de Aquino. Ele 
distingue: 
 
a) Credere Deum = Objeto material da fé: Só se propõe algo à fé enquanto 
isso diz respeito a Deus. 
b) Credere Deo = Razão formal do objeto da fé: Isto é, a razão pela qual se crê 
em tal ou qual verdade de fé. 
c) Credere in Deum = É o objeto final da nossa fé. Ou seja, a Verdade Primeira 
à qual se refere nossa vontade e razão. 
 
Resumindo essa reflexão, consideremos os seguintes sentidos: 
 
Credere Deum = “Creio que Deus existe”. É um fundamento da fé, mais é 
insuficiente, pois, embora possa se chegar a ele por um simples raciocínio lógico, não 
implica nenhuma aceitação que comprometa existencialmente a pessoa que crê: “Os 
demônios também creem, e tremem” (Tt 2, 12). Esta forma de crer em Deus está muito 
próxima do ateísmo prático e possibilita a idolatria do prazer, o poder e o dinheiro. 
 
Credere Deo = “Creio que é verdadeiro o que Deus revelou”. Esta forma de 
acreditar indica que se aceita que Deus possa revelar qualquer coisa, porém, também não 
compromete existencialmente a pessoa. De fato, ficar nessa forma de fé poderia ser 
 
36 
 
equivalente ao dogmatismo, ou seja, a aceitar uma verdade como de fé por ser absurda à 
razão. É uma fé morta, sem caridade (sem adesão existencial a Deus), chamada pela 
escolástica de fides informis (Fé informe). 
 
Credere in Deum = É a fé viva, informada pela caridade; a fé como virtude 
teologal, no qual se passou de aceitar a existência de Deus e a sua revelação para uma 
aceitação de Deus na vida pessoal. É uma fé que integra e leva à plenitude as formas 
anteriores de fé. É uma fé na qual o ato de crer adquire a sua verdadeira grandeza e 
significado; compromete a pessoa existencialmente e lhe possibilita abraçar a salvação 
que lhe é oferecida. 
 
Fides quae, fides qua: 
 
Na teologia escolástica há outras duas expressões utilizadas para mostrar 
aspectos diversos da fé que se tornaram clássicas: 
 
a) “Fides quae creditur” (A fé que se crê) = O que se crê. É o objeto, o 
conteúdo da fé (fé passiva); relaciona-se com o credere Deum e o credere Deo. 
b) “Fides qua creditur” (A fé pela qual se crê) = É a fé pela qual a pessoa 
acolhe a graça e volta-se para Deus em quem crê. Relaciona-se com o Credere in Deum. 
 
 
ASPECTO EXISTENCIAL DA FÉ 
 
A fé é fundamentalmente um compromisso de vida, de existência pessoal (do 
crente) e comunitário (da igreja), na qual toda a comunidade se põe em atitude de escuta 
diante da Palavra interpeladora de Deus, reflete, louva, agradece e celebra culturalmente, 
transformando sua vida pela graça que recebe da gratidão divina. 
 
 
 
 
 
 
37 
 
A fé no Antigo Testamento 
 
Muitos termos indicam o ato da fé no Antigo Testamento: crer, confiar, apoiar-se 
em sentir-se seguro. Estes termos aparecem sempre no contexto da História da Salvação, 
sobretudo na boca de Abraão, dos profetas e dos salmistas. 
 
Os termos hebraicos mais significativos são Emunah e Aman (Amém), que indicam 
compromisso, aceitação, confirmação da vontade de Deus a quem se dá uma confiança 
total. 
 
Crer, para Israel, indica uma relação íntima de aceitação e amor com YAHWH, 
quem toma a iniciativa de se revelar e salvar ao povo cumprindo as suas promessas. 
 
 A fé no Novo Testamento (fé cristológica) 
 
Os rasgos típicos da fé no Antigo Testamento se conservam no Novo, sublinhando-
se o ‘Amém’, que é muito utilizado nas doxologias das cartas e os escritos cultuais. Aliás, 
os cristãos utilizam um termo novo para indicar a aceitação e sua adesão à obra salvífica 
de Cristo, no kerigma da Páscoa: Pistis (que pode se traduzir por “acredito”). 
 
Nos Evangelhos Sinópticos a fé aparece como: 
 
1. Um convite a crer na obra salvífica de Jesus ante situações desesperadas 
(curas, reverificações). 
2. Um convite a deixar tudo para seguir Jesus, aceitando-o como o Messias 
anunciado pelos profetas. 
3. Um Dom do Pai (Mt 16, 15-17; Lc 22, 32). 
 
No livro dos Atos dos Apóstolos a fé aparece como a adesão a Jesus ressuscitado, 
que possibilita a salvação: At 3. 16. 
 
 
38 
 
Para João é o encontro salvífico com a pessoa de Jesus: Jo 6. 69; 20. 28; Ap 14. 
12. 
 
Nas cartas de Paulo a fé é confiança em Jesus, compromisso com sua pessoa, 
seguimento iniciado num chamado, resposta: Rm 3. 25; Gl 2. 20; 3, 22. 
 
A fé em Hebreus 11. 1-40: “A fé é uma posse antecipada do que se espera um 
meio de demonstrar as realidades que não se veem...”. 
 
O autor fala aos cristãos desanimados na perseguição e os encoraja a se 
manterem firmes na fé em Jesus Cristo para alcançarem a perfeição final à que chegarão 
pela fé, com todos os seus antepassados mortos na perseguição. A chamada “Carta aos 
Hebreus” mostra a fé como um convite à esperança e, portanto, com uma dimensão de 
futuro no qual se participará do ser de Deus passando assim da morte à vida (por isso 
Abraão é apresentado como o crente por excelência). 
 
O autor de Hebreus define fé como “prova do que não se vê, porém se espera”, 
pondo-a em relação com a esperança (a eternidade em Deus) e a caridade (caminho à 
paz e à reconciliação). Aliás, a fé é uma atitude vital, de confiança plena em Deus, por 
quem se alcança a salvação na História, pois a salvação da pessoa se dá na História da 
Salvação do povo. Por isso é que, citando os antepassados, o autor descreve a fé como: 
 
a) Posse antecipada do que se espera; 
b) Entendimento da Palavra Criadora; 
c) Obediência e resposta a Deus; 
d) Confiança em Deus; 
e) Discernimento de valores; 
f) Esperança na ressurreição e aperfeiçoamento final. 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 A Fé fiducial (esperança e confiança) 
 
Sem negar o aspecto cognitivo e o assentimento intelectual do ato de fé ou os 
mistérios salvíficos de Deus, Lutero valoriza mais a dimensão de seu significado salvador 
“para mim” e não tanto a dimensão intelectual do ato de fé. 
 
A fé, entendida como uma atitude vital de esperança e confiança (fé fiducial) é uma 
atitude subjetiva que possibilita ao crente, de acordo à iluminação do Espírito Santo, 
interpretar a seu critérioas verdades reveladas. 
 
Dado o assentimento intelectual à Palavra de Deus escrita, o ser humano confia 
firmemente que a justiça de Cristo lhe é imputada por Deus individualmente, e seus 
pecados já não lhe são imputados em ordem à sua condenação. A fé é um ato de 
confiança tal que inclui uma certeza da justificação pessoal. 
 
A obra de salvação é unicamente de Deus. A fé fiducial é dom e obra exclusiva de 
Deus. Somente pela fé (sola fides), mesmo permanecendo interiormente pecador, o 
homem consegue a justificação. O ser humano, porém, permanece, ao mesmo tempo, 
justo e pecador. Com outras palavras, para Lutero a fé é a confiança que a pessoa dá a 
Cristo, pelo qual os pecados não são tidos em conta, embora permaneçam, e não um 
assentimento intelectual à revelação objetiva de Deus. 
 
No entanto, como resposta ao dado revelado objetivamente e historicamente, a fé 
implica uma objetividade, uma racionalidade e uma história; por isso um magistério e a 
reflexão sistemática sobre a fé tornam-se, em algum momento, necessárias a todas as 
congregações cristãs. 
 
 
 Fé e realidade humana 
 
Se a fé afeta as estruturas formais ontológicas de nossa existência humana, sua 
compreensão depende muito do jeito de entender o ser humano. 
 
 
40 
 
Na história da antropologia filosófica encontramos várias posições que 
influenciaram e ainda influenciam nossa religiosidade, mas devemos considerar que as 
três filosofias a serem explicadas logo a seguir, não têm um transfundo bíblico, mas estão 
influenciadas por filosofias alheias à tradição judaico-cristã: 
 
a) Dualismo Maniqueu: (“O corpo é o cárcere d’alma”) Durante muitos séculos, 
influenciada pela filosofia aristotélico-tomista e esta pelo dualismo maniqueu, a fé cristã 
considerou o corpo como uma realidade distante da dignidade humana. O corpo foi 
considerado o inimigo da alma, frágil, marcado pelo pecado e condenado a desaparecer. 
Era a prisão da alma. A sexualidade chegou a ser sinônimo de concupiscência e foi 
considerada nesta mentalidade um mal necessário para a preservação da espécie 
humana. A fé, nessa antropologia, é vista em oposição ao corpo, como a forma que lhe 
possibilita uma existência humanizante e que lhe abre ao absoluto. Ainda, nos setores 
mais conservadores, prevalece esta mentalidade. 
 
b) Bem de produção e consumo: (“A religião é o ópio [ação analgésica] do povo” ou 
“A religião é um bem de consumo”). Resultado da modernidade e dos novos meios de 
produção industrial nos dois grandes sistemas econômicos. O alimento, o lazer e a saúde 
condicionam-se à produtividade. A pessoa humana é considerada também na sua psique, 
capaz de relações interpessoais. Nessa mentalidade se considera o corpo como um 
instrumento de ação capaz de relação e a fé, é observada como uma realidade alienante. 
 
c) Fonte de prazer: (“Carpe diem” = “Aproveita o dia”). Na pós-modernidade se 
ressalta a tomada de consciência do ser corporal e a sociedade se reconcilia com ele. O 
corpo aparece como fonte de prazer consigo mesmo e em sua relação com os outros e 
com o mundo. Sublinha-se até o exagero a relação intrínseca do humano com o mundo e 
se considera a “salvação” como “felicidade”. Não há um compromisso (alteridade), só 
prazer (egocentrismo). Não há permanência nem futuro, só momentos concretos, e eles 
têm que vivê-los. A fé é um instrumento de prazer, e assim como o corpo pega do mundo 
o melhor para si mesmo, assim a fé pode pegar de todas as religiões o que melhor lhe 
parece (ecletismo). A fé aqui não tem nenhum elemento objetivo nem pessoal nem 
relacional. A oração e a contemplação não são um diálogo de amor de Deus com o 
homem, mas um relacionar-se o homem com um “Transcendente” sem nome por meio de 
 
41 
 
técnicas orientais de meditação que procuram “sentir o corpo” na sua complexidade 
macrocósmica, na qual se dilui. 
 
Antropologia Teológica na Perspectiva Católica 
 
“O Deus da paz vos conceda santidade perfeita; e que o vosso ser inteiro, o espírito, a 
alma e o corpo, sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da Vinda de nosso 
Senhor Jesus Cristo” (1Tes 5, 23). 
 
 
A concepção antropológica da Igreja Católica esteve, durante muito tempo, 
influenciada pelo dualismo filosófico aristotélico-tomista e ainda fincam nela raízes dessa 
mentalidade. Porém, a partir do Concílio Vaticano II e a revalorização que ele fez dos 
fundamentos na Escritura Sagrada, tem-se considerado o ser humano como uma unidade 
de corpo, psique (alma) e espírito em relação indissolúvel. No texto acima citado, 
observamos uma divisão tripartida do homem (espírito, alma e corpo), que só aparece 
aqui, nas cartas de Paulo. 
 
Paulo não tem uma “antropologia sistemática” perfeitamente coerente. Além do 
corpo (Rm 7. 24) e da alma (1Cor 15. 44) aqui fala do espírito, que pode ser o princípio 
divino, a vida nova em Cristo (Rm 5. 5) ou “a parte” mais elevada do ser humano aberta à 
influência do Espírito Santo (Rm 1.9). 
 
Paulo considera o homem em sua situação histórica e existencial: o homem é 
criatura de Deus, e se compreende como um dos termos de uma relação, da qual o outro 
termo é Deus. Daí que o Corpo natural deva entender-se como o corpo não informado 
pelo Espírito de Deus, a pura carne e sangue, enquanto o corpo espiritual, o corpo 
transformado, divinizado por Deus, é o Corpo Espiritual. 
 
Deixemo-nos iluminar agora por outro texto paulino, 1 Cor 15, 46-58. 
 
Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; 
ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. 
 
42 
 
Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo natural, 
ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. 
Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o 
último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o 
natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo 
homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual 
o celestial, tais também os celestiais. 
 
Na continuação seguem-se os comentários exegéticos da Bíblia de Jerusalém, 
que nos ajudarão a interpretar corretamente as palavras de Paulo: 
 
Na mentalidade popular, a germinação era um processo que dependia da 
benevolência da divindade, não um fenômeno natural. Ao descrever as relações entre o 
corpo atual e o corpo de glória, Paulo insiste muito mais nas diferenças do que na 
continuidade. Para Paulo, como para a tradição bíblica, a psyché (em hebreu nefesh; = 
alma), é o princípio vital que anima o corpo humano (1 Cor 15.45). É a “vida” do corpo 
(Rm 16. 4; Fl 3. 30; 1 Ts 2. 8; Mt 2. 20; Mc 3.4; Lc12,20; Jo 10.11; At 20.10; etc) e a alma 
viva do corpo (2 Cor1.23). A mesma palavra pode designar o homem inteiro (Rm 2,9; 
13,1; 2 Cor12,15; At 2.41-43; etc). A psyché (alma), porém ficar sendo um princípio de 
vida natural, que deve apagar-se diante do pneuma (em hebreu ruach), para que o 
homem encontre de novo a vida divina. Essa substituição, que se inicia já durante a vida 
mortal pelo Dom do Espírito (Rm 5.5), atinge a sua plenitude após a morte, na 
ressurreição. 
 
Enquanto a filosofia grega só professava a sobrevivência imortal da alma superior 
(nous), liberta do corpo, o cristianismo concebe a imortalidade estritamente como 
restauração integral do homem, ou seja, como ressurreição dos corpos pelo Espírito, 
princípio divino que Deus retirou do homem como consequência do pecado (Gn 6. 3) e 
que lhe devolve pela união ao Cristo ressuscitado (Rm 1. 4; 8.11), homem celeste e 
Espírito vivificante (1 Cor 15. 45-49). 
 
De “psíquico” (= vivificado) o corpo (em hebreu basar) se tornará então 
“pneumático”, (= vivificado na vida divina) incorruptível, imortal (1Cor 15. 53), glorioso (1 
 
43 
 
Cor 15. 43; Rm 8.18; 2 Cor 4.17; Fl 3. 21), liberto dasleis da matéria terrestre (Jo 20.19, 
26) e das suas aparências (Lc 24.16). 
 
Em sentido mais amplo a psyché pode designar, por oposição ao corpo, a sede 
da vida moral e dos sentimentos (Fl 1.27; Ef 6.6; Mt 32.37; Lc 1.46; Jo 12.27; At 4.32; 
14.2) e até mesmo a alma espiritual e imortal (Mt 10.28,39; At 2.27; Tg 1.21; 1 Pe 1.9; Ap 
6.9 etc). 
 
Que Adão seja feito “alma vivente” significa que foi feito um ser dotado de vida 
puramente natural e submetido às leis do desgaste e da corrupção (A Bíblia de 
Jerusalém, 1995, p. 2170-2171. 7° ed.). 
 
Como vemos Paulo não tem uma antropologia bem definida (são os 40 primeiros 
anos de cristianismo e está tendo que traduzir conceitos especificamente bíblicos a uma 
cultura pagã, que não tinha esses conceitos), porém podemos distinguir nele dois 
pensamentos fundamentais: A unidade e a continuidade. Em efeito, Paulo não fala de 
aniquilamento nem de separação, mas de transformação, ressurreição e permanência, e 
sempre dentro da tradição bíblica, que considerou o ser humano na unidade indivisível de 
corpo e alma. 
 
Alguns autores católicos (como Juan Luís Ruiz de la Peña) e alguns protestantes 
(como Bultmann) ressaltam a possibilidade de que estes textos tinham sido escritos 
defendendo os cristãos do gnosticismo, que pregava a impossibilidade da ressurreição 
dos corpos. 
 
 Síntese do pensamento católico tradicional acerca do homem 
 
 
O ser humano é corpo e alma: Segundo o esquema clássico, tem uma alma que 
informa um corpo. A compreensão psíquica da alma depende de como perceber essa 
relação com o corpo, ora mais dicotômica, ora mais unitária. A alma faz a ponte entre a 
dimensão corporal e a espiritual e possibilita a permanência da pessoa humana após a 
morte biológica. 
 
44 
 
 
O ser humano se faz presente no mundo pelo corpo, se relaciona, sente e ama 
com o corpo. Pelo corpo o ser humano é capaz de sair de si, de transcender-se e de doar-
se. Pelo corpo o ser humano pode viver a fé além da própria experiência de 
individualidade, que também é dada pelo corpo informado pela alma. 
 
O ser humano é espírito. Aqui aparece mais claramente a dimensão humana 
aberta à fé. O ser humano é espírito porque está aberto à transcendência. Sua estrutura 
ontológica está aberta para o Outro, e na fé pode experimentar sua dimensão teologal. Na 
fé encontra sua maior realização. Nunca o homem é tão ele mesmo como quando crê. De 
fato, ainda sendo relativo e contingente, só encontra sua máxima realização na sua 
relação com o Necessário e Absoluto. 
 
Aspecto hermenêutico da fé - (a fé como conhecimento e interpretação 
da revelação) 
 
Não podemos entender a fé somente a partir da estrutura ontológica da nossa 
existência (subjetividade da fé), pois vivemos dentro de um processo histórico em que a 
interpelação de Deus necessita, a cada momento, ser interpretada. A fé se situa diante de 
um conteúdo, de um objeto “real”, pois a revelação tem um conteúdo “real” e concreto. 
Por isso, a fé é conhecimento objetivo (objetividade da fé). Nas próximas páginas nos 
moveremos dentro do aspecto objetivo do conteúdo da fé (a fides quae, o credere Deum). 
 
As Escrituras Sagradas, comunicação do projeto de Deus. 
 
O projeto de Deus nos é comunicado por meio das Sagradas Escrituras (Antigo e 
Novo Testamentos). Esses escritos transmitem a mensagem de Deus, formulada dentro 
de um determinado horizonte cultural, por meio de formas linguísticas bem definidas. Em 
si mesmos, esses textos são um esforço interpretativo dos profetas, dos homens 
inspirados, dos escritores da comunidade que escrevem as tradições orais, para propor 
em termos culturais e historicamente inteligíveis a experiência religiosa que faziam, e por 
ela, a mensagem que Deus lhes transmitia. 
 
45 
 
a) Processo de apropriação da Revelação 
 
Ao longo da história as comunidades de fé assumem e fazem própria e inteligível a 
Revelação transmitida (movimento de interiorização), e comunicam à geração seguinte o 
que assimilaram (movimento de exteriorização). Esse é o aspecto hermenêutico da fé e, 
como todo conhecimento, além de que evidentemente estejamos assistidos pelo Espírito 
Santo, funciona segundo a estrutura humana do conhecimento. Sim, Deus respeita nossa 
condição de conhecimento e os riscos inerentes a ela. 
 
A tarefa hermenêutica (“de interpretação”) se dá na leitura simples, direta, e até nas 
elaborações sofisticadas da linguística e a ciência propriamente exegética. O simples fiel, 
na intuição profunda de seu instinto espiritual, de seu sensus fidei, interpreta para si e 
para a comunidade essa Revelação divina. O teólogo, o exegeta, em seu árduo trabalho 
intelectual; o catequista, os pais de família que educam seus filhos na fé... Todos fazem 
hermenêutica, tornando a Revelação de Deus viva para todos os fiéis ao longo da história. 
 
A fé é interpretação porque, além de compromisso, é conhecimento de Deus e de 
seu projeto salvífico. O conhecimento exprime o elemento fundamental do ato de fé. A fé 
não se reduz ao assentir intelectual, mas implica-o em sua estrutura, ao afirmar um 
conteúdo. 
 
Os protestantes luteranos afirmaram que a fé é só a experiência pessoal interna da 
manifestação da salvação realizada por Deus (fé fiducial) e fazem sobressair o papel da 
fé (fiducial) na justificação realizada por Deus. 
 
Os católicos insistiram até radicalizar, pelo menos desde a contrarreforma até o 
Vaticano II, o aspecto objetivo de conhecimento de verdade. Assim se vê refletido na 
definição do Vaticano I: 
 
“Esta fé (que a Igreja católica professa) é uma virtude sobrenatural pela qual, com 
a inspiração e ajuda de Deus, cremos que o revelado por Deus é verdadeiro, não por 
causa da verdade intrínseca das coisas percebidas pela nossa razão natural, mas por 
 
46 
 
causa da autoridade do próprio Deus que revela quem não pode enganar-se nem 
enganar-nos”. 
 
b) Fundamento Escriturístico do aspecto hermenêutico da fé: 
 
Este aspecto da fé como conhecimento tem seu fundamento nas Sagradas 
Escrituras, pois nelas se evidencia como alguém interpreta uma mensagem de Deus, 
como o faz próprio, como o transmite e como é aceito; por exemplo: Abraão crê no fato 
que sua esposa lhe dará um filho; o povo crê naquilo que Moisés lhe diz da parte de 
Deus, etc. No N. T. a fé aparece muitas vezes como aceitação do que Jesus fala em 
nome do Pai. 
 
c) Fundamento racional do aspecto hermenêutico da fé: 
 
Este aspecto da fé, ou seja, o fato de que a fé possa ser interpretada como 
conhecimento de uma verdade objetiva, origina-se do fato de que o mistério de Jesus 
Cristo não pode transformar-se numa mera realidade interior, mas deve ser uma realidade 
extra subjetiva. A inteligência humana só pode atingi-lo pela afirmação de sua existência, 
pelo conhecimento. A natureza do intelecto é que só atinge o real, como real, afirmando-
o. Com isso, no fundo, se aceita que a intervenção de Deus na história humana é real, e 
que pode ser conhecida. 
 
Graças ao aspecto hermenêutico da fé, a fé em Jesus Cristo pode libertar do 
fundamentalismo, de interpretações vãs, do perigo de considerá-lo um mito e da projeção, 
acusações que, ao longo da história, têm desprezado a dimensão religiosa do 
cristianismo. 
 
d) Motivo formal e objeto formal da fé: 
 
Motivo formal do assentimento da fé não é a própria evidência da Verdade 
revelada, mas o testemunho divino ou a autoridade do Deus revelante, como ficou 
definido pelo Vaticano I. 
 
 
47 
 
Objeto formal da fé é tudo o que o testemunho ou autoridade divina testificar 
principalmente o mistério de nossa salvação, operada por Deus em Jesus Cristo. Esse 
mistério salvífico foi interpretado na história da Igreja dentro de três grandes esquemas 
teóricos: 
 
• Esquema metafísico-cosmológico: Se caracteriza pela atenção à 
imutabilidade da verdade revelada, pelo estudo da essência de cada uma das verdadesreveladas conhecidas e pela conservação da ortodoxia, realizada através de definições 
irreformáveis. 
• Esquema antropológico: Centra a atenção no sujeito que interpreta a fé, 
interessando-se pelo significado da sua existência, a partir do conhecimento das verdades 
reveladas. 
• Esquema histórico-dialético: Se define pela percepção do sujeito em relação 
com o contexto social e histórico que o condiciona. O sujeito (nos três esquemas) é 
sempre o povo de Deus (Igreja) ao longo da história. 
 
Aspecto práxico da fé (a fé como compromisso na práxis) 
 
Conhecer as verdades reveladas (aspecto hermenêutico) e aderir-se a elas 
respondendo a Deus desde o mais íntimo do ser (aspecto existencial) sem um 
compromisso na práxis, não é suficiente. O Apóstolo Tiago já advertia que a fé sem obras 
é morta (Tg 2.17). 
 
A fé se encarna em compromissos com a história, com a realidade concreta vivida 
pelo sujeito e a comunidade. Não há uma verdadeira fé sem práxis; não há ortodoxia sem 
uma ortopraxis. De fato, a fé vai além do conhecimento da verdade. É vida, e a fé viva 
está sempre articulada com a caridade. 
 
Na América Latina a fé pode ser vivida na prática, no compromisso, na luta de 
libertação das situações que mantêm nossos povos na miséria. Assim se manifestaram os 
bispos reunidos em Santo Domingo, e com eles, Pastores e outros representantes das 
diferentes Igrejas cristãs do Continente Americano: “No nosso continente se dá um 
divórcio entre fé e vida, a ponto de produzir clamorosas situações de injustiça, 
 
48 
 
desigualdade social e violência”. “A falta de coerência entre a fé que se professa e a vida 
cotidiana é uma das várias causas que geram pobreza em nossos países, porque os 
cristãos não souberam encontrar na fé a força necessária para penetrar os critérios e as 
decisões dos setores responsáveis pela liderança ideológica e pela organização da 
convivência social, econômica e política de nossos povos”. 
 
Aspecto Escatológico (a fé como prenda das realidades futuras) 
 
Os três aspectos anteriores da fé, “formam” a dimensão intra-histórica do agir 
humano. Mas o homem é, também, transcendência. 
 
A fé responde a essa dimensão inserindo o homem na vida de Deus. Por isso, a fé 
é o início da vida definitiva de comunhão com a eternidade, o início da vida definitiva em 
comunhão com o Deus Trino, o início, já começado, da plenitude de vida eterna, o início 
da salvação humana. 
 
Se Deus é eternidade, só o que participa da eternidade participa de Deus, e se de 
Deus vem o Dom da fé, que é também uma resposta nossa, estabelecemos com Deus 
uma relação que goza da sua mesma realidade divina. Essa mesma doação de Deus ao 
homem e do homem a Deus nos garante a eternidade. 
 
Para o Evangelista João o conceito de “vida” implica a presença da eternidade no 
tempo. De dentro da vida (tempo) emerge a vida (eternidade), pois quem crê já tem (e 
não diz terá, mas tem) a vida eterna (Jo 3. 36; 5.24). Sua reflexão teológica está 
construída sobre a presença da vida definitiva e eterna na fé, na participação no Batismo 
e na Eucaristia. São atos do tempo e no tempo, mas que carregam, por assim dizer, a 
eternidade. 
 
São Paulo nos ensina que pela fé nos tornamos herdeiros de Deus e coerdeiros 
com Cristo (Gl 4.7; Rm 8.17). Ser herdeiro é já viver a realidade definitiva de que se é 
herdeiro. 
 
 
49 
 
Aliás, Paulo compara a fé com a visão, pela qual se atinge a mesma realidade: na 
fé, de modo incoativo; pela visão de modo pleno; pela fé “no espelho, e de modo 
confuso”, e na visão, “face a face” (1 Cor 13. 12). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
 
 
O ATO DE FÉ 
2 
 
CONHECIMENTO 
 
Conhecer a natureza e seus desdobramentos do ato de fé. 
 
HABILIDADE 
 
 Identificar textos sobre o tema, ser capaz de fazer exposição escrita, pública em 
eventos, palestras, seminários em ambiente acadêmicos acerca do material estudado. 
 
ATITUDE 
 
 Desenvolver a capacidade reflexiva crítica acerca do objeto estudado e incorporá-
la nas suas práxis. 
 
 
 
 
 
 
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
 
 A natureza do ato da fé 
 
Consciência, liberdade, racionalidade e capacidade relacional, estas são as 
realidades humanas onde melhor se expressa nosso ser, imagem e semelhança de Deus 
(Gn1. 27). Por isso, não pode haver uma verdade revelada que contradiga a racionalidade 
humana, que contradiga racionalmente outra verdade de fé ou que atente a qualquer uma 
das faculdades humanas transcendentes. 
 
Assentir com nosso “amém” ao mistério divino só pode ser um ato livre e individual 
da criatura humana. De fato, ao falar de mistério, já falamos de liberdade, pois a razão 
nunca poderá tornar evidente o dado revelado, embora a razão possa argumentar a 
unidade das verdades da fé, a não contradição com a ciência empírica, a não contradição 
interna entre as verdades que se professam e a relação do ato de fé com a integridade da 
pessoa. 
 
 Ante a evidência o assentimento se torna consequência lógica, porém, ante o 
mistério somente a Revelação - e não os silogismos da lógica - pode apresentar à pessoa 
humana uma verdade não evidente. 
 
A Igreja Católica teve que definir que os católicos precisavam aceitar que o ato de 
fé é um movimento livre do homem a Deus, pois o Pastor de Hermes (1725-1831), 
influenciado pela filosofia Kantiana, pregava que a fé é um assentimento intelectual 
necessário com respeito à evidência das verdades religiosas. Essa evidência nasceria, 
segundo Hermes, da demonstração racional evidente do dado revelado, e da 
obrigatoriedade moral, prova racional da existência de Deus. 
 
Assim se expressa o Concílio de Trento: “Os fiéis, provocados e ajudados pela 
graça divina, concebendo a fé ‘pelo ouvido’ (Rm 10, 17), são movidos livremente para 
Deus, crendo que é verdade tudo o que Deus revelou e prometeu divinamente”. 
 
“Se alguém disser que o assentimento da fé não é livre, mas produzido 
necessariamente por argumentos da razão humana; ou que para a fé viva, que é obra da 
caridade, somente a graça de Deus é necessária, seja anátema”. 
 
54 
 
O Deus Onipotente que se revela salvando, “precisa” da resposta livre do 
homem para nos salvar? Esta será a pergunta que tentaremos responder. 
 
 
 A liberdade no reino da necessidade 
 
Fomos criados por Deus, e fomos criados livres. Essa é uma das conclusões e um 
dos principais ensinamentos dos relatos da criação do Gênesis. Qual foi o processo da 
criação da criatura mais perfeita jamais vista na terra? 
 
As ciências, com suas diversas teorias evolucionistas, estão procurando nos dar 
uma resposta. Seja qual for à teoria certa, o que aqui, como crentes nos incumbem, é que 
somos resultado necessário de um processo criativo complexo e perfeito, no qual todos 
os fatores que intervêm nele podem, em teoria, ser previstos. 
 
Na sua mais conhecida obra, Teilhard de Chardin escreveu: 
 
Numa região bem determinada, no centro dos Mamíferos, precisamente onde se 
formam os mais poderosos cérebros jamais construídos pela Natureza, elas 
chegam ao rubro. E já se acende no âmago dessa zona um ponto de 
incandescência. Não percamos de vista essa linha que se empurpura de aurora. 
Depois de Ter subido por trás do horizonte durante milhares de anos, vai agora 
romper uma chama – Aí está o pensamento. 
 
Aqui é onde Chardin formula seu famoso Princípio Antrópico segundo o qual o 
homem na sua liberdade e raciocínio é o término de todo o processo evolutivo, resultado 
da combinação de uma série de fatores, inteligível só se é presidida por uma finalidade: o 
surgimento do ser humano. 
 
Nossa reflexão de que o homem pode dispor de si mesmo em ordem a um fim: 
chegar a ser

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