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CASO SAMANTA NUNES DA SILVA RESUMO: Esse estudo tem por escopo analisar a denuncia oferecida a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sobre o caso Samanta Nunes da Silva, descrevendo a posição das partes e a decisão da corte, realizando uma análise crítica sobre o assunto. O fato ocorreu no dia 17 de outubro de 1997, onde a denunciante marcou uma consulta médica com um ortopedista da rede privada em decorrência de dores recorrentes em sua coluna. Durante a consulta a denunciante alega que fora abusada sexualmente pelo médico ortopedista mediante “fraude e ameaças”. Onde o médico mandou que tirasse a roupa, realizando carícias em seus seios, genitália e ânus, sempre com perguntas e elogios absurdos. Diante da denúncia de Samanta Nunes da Silva, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos entendeu pela admissibilidade da petição, por suposta violação de direitos garantidos pela Convenção Americana e Convenção de Belém do Pará1. Palavras-Chave: Direitos Humanos. Admissibilidade. Corte Interamericana de Direitos Humanos. 1 INTRODUÇÃO A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), no ano de 2003, recebeu uma denúncia de violação ao devido processo legal ocorrida no Brasil, onde fora alegada a responsabilidade internacional desse país, diante da investigação penal de agressão sexual sofrida pela vítima Samanta Nunes da Silva, que na época era uma criança de apenas 16 anos de idade. A alegação era de que foram violados os direitos garantidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos de liberdade e integridade pessoal, proteção da honra e da dignidade, igualdade perante a lei, direitos da criança, proteção judicial, bem como, a violação das obrigações de ser respeitado os direitos e o seguimento das medidas estabelecidas no artigo 1.1 dessa Convenção. Alega ainda a violação dos artigos referentes a prevenção, criação de leis e erradicação da violência contra a Mulher. Contudo, o Estado brasileiro solicitou que a denúncia fosse declarada inadmissível, pelo fato de que não foram cumpridos todos os requisitos necessários 1 Ver CIDH, Relatório Nº 42/08, Petição 1271-04, Karen Atala e Filhas (Chile), 23 de julho de 2008, parágrafo. 59; CIDH, Relatório No. 52/02, Caso 11.753, Mérito, Ramón Martínez Villareal, Estados Unidos, 10 de outubro de 2002, parágrafos. 53; CIDH, Relatório No. 39/96, Caso 11.673, Santiago Marzioni (Argentina), Relatório Anual da CIDH 1996, parágrafos. 48 – 51; CIDH, Relatório Nº 54/01, Caso 12.051, Maria da Penha Maia Fernandes (Brasil), 16 de abril 2001, parágrafos. 28. para a aceitação dessa petição. Entendendo que, caso essa for aceita, haveria um verdadeiro tribunal de “quarta instância”, que reexaminaria o conteúdo probatório dos procedimentos judiciais brasileiros, em relação aos fatos do caso em questão. A CIDH, sem pré-julgar o mérito, decidiu pela admissibilidade da petição, fundamentando nos artigos 46 e 47 da Convenção Americana. Diante disso, notificou as partes e deu procedimento a análise do mérito relativo a suposta violação dos direitos assegurados pela Convenção Americana. Destaca-se a inadmissibilidade da petição quanto a violação dos artigos 5.1, 7 e 11.1 dessa Convenção. Assim, esse artigo tem por objetivo analisar a denuncia oferecida a CIDH, sobre o caso Samanta Nunes da Silva, descrevendo a posição das partes e a decisão da corte, realizando uma análise crítica sobre o assunto. A metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica com análise do relatório nº 93/09 da CIDH, por este tipo de pesquisa oferecer meios que auxiliam na definição e resolução dos problemas já conhecidos, como também permite explorar novas áreas onde os mesmos ainda não se cristalizaram suficientemente. 2 POSICIONAMENTO DAS PARTES NA DENÚNCIA 2.1 Denuncia de Samanta Nunes da Silva a CIDH A denuncia é direcionada para a falta de acesso à justiça e a desigual proteção da lei pela sua condição de gênero, raça, idade e situação econômica. Pois no curso do processo criminal não foram respeitados o devido processo, pelo fato desta merecer uma proteção especial, havendo também discriminação contra ela, não foi ouvida como vítima, houve imparcialidade pelos operadores judiciais de segunda instância, pelo preconceito discriminatório contra as mulheres que sofrem violência sexual (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). Destacou ainda que o judiciário no Brasil não possui preparação adequada para coletar as provas importantes em caso de violência sexual, afetando diretamente a prova necessária no caso em concreto. Especifica a denunciante que em seu processo criminal ocorreram influências negativas da discriminação sociocultural existente contra as mulheres que são vítimas de violência sexual, essa situação é decorrente da história discriminatória contra as mulheres que o Brasil possui. Principalmente pela situação de vulnerabilidade que Samanta Nunes da Silva possuía, era criança, afrodescendente e pertencente à camada pobre da sociedade, fatores estes que a colocavam em desigualdade diante das autoridades. Aduz ainda que sua palavra não foi respeitada no curso do processo criminal, tendo sua credibilidade valorada por suposto comportamento sexual, mesmo esta afirmando que era virgem, não possuía namorado e de boa índole. Esse desrespeito é demonstrado no interrogatório de Samanta Nunes da Silva pelo tribunal de primeira instância, onde as perguntas foram direcionadas para a possível vida sexual desta, se possuía algum relacionamento e qual seria a roupa que utilizava durante a consulta médica. Um fato grave ocorrido no curso do processo criminal, na segunda instância foi o Ministério Público2 apontar uma opinião de transtorno histriônico de personalidade ainda em formação da vítima. Esse transtorno faz com que a pessoa impute falsos abusos sexuais. Questionando ainda o Ministério Público o porque da revivência do processo de algo que lhe causou tanto transtorno e trauma. Indicando o Ministério Público que o agressor tinha cometido erros no desempenho de sua função, mas que tais erros não poderiam receber sanção criminal, como se observa na citação abaixo: Sem dúvida [o doutor] cometeu seus erros. Aceitou trabalhar em uma clínica que não punha à disposição enfermeiras, jalecos e biombos para preservar o pudor dos pacientes. Foi excessivamente auto-confiante em receber uma adolescente desacompanhada dos pais e levar a efeito um exame invasivo desprezando o pudor da moça. Mais ainda, ao notar o seu nervosismo, dar- lhe seguimento e tentar acalmá-la com observações sobre o seu profissionalismo, quiçá afagando-a. Talvez haja sido incauto ao ponto de elogiar sua beleza antes de ela despir-se para o exame. E não é de todo improvável que sua libido tenha sido despertada pela presença da menina- moça na flor da idade. Daí a dizer que satisfez sua lascívia mediante fraude e por aqueles modos imputados vai uma larga distância. Se cometeu todos ou apenas algum desses erros, já pagou com sobras pela só existência do processo e superveniência da condenação, e continuará a pagar ainda por longo tempo, porque nesses crimes, ainda que absolvidos os seus imputados ou autores, sempre sobram fiapos de suspeita, olhares de esguelha e sorrisos de canto de boca. Aquele que tende a crer nos maiores absurdos da conduta sexual é justamente o que se faz capaz de os praticar, e quem se condena mais apaixonadamente trata de fechar a sete chaves os gigantes que atormentam a própria alma. Convém ter muito cuidado, então, no julgar os outros, seja no plano moral, seja no plano jurídico” (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). 2 Parecer do Ministério Público, Tribunal de Justiça, Câmara Especial Criminal, Apelação de Delito Nº 70-002-059-764, Porto Alegre, 23 de março de 2001. Observa-se ainda a presença discriminatória por parte do Ministério Público quandodescreve o agressor como pessoa respeitável e bem sucedido na sociedade, diminuindo a condição da vítima, por ser mulher, e só contradizendo o testemunho dela. De um lado, esse depoimento, de outro, a negativa do recorrente. Médico relativamente jovem e muito bem sucedido, sendo casado, porque haveria o recorrente de necessitar satisfazer sua luxúria de modo tão tolo e inconsequente? Nunca fora antes envolvido em qualquer reclamação de abuso. Poria em risco o seu nome e respeitabilidade para “roçar bigodes” nas costas de uma adolescente? Não vemos como possa ter sido proclamada uma certeza incriminatória (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). Assim, a denunciante quer que seja reconhecido que o Brasil, por meio de seus agentes públicos, violou os princípios da Convenção Americana de Direitos Humanos, Convenção do Belém do Pará e a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Entendendo que não há confronto com as decisões judiciais brasileiras, mas sim, um direito de ser analisado o caso concreto no tocante a discriminação e violação dos direitos humanos das mulheres, embasados em comportamento moral e sexual destas. 2.2 Resposta do Estado Brasileiro quanto a denuncia apresentada a CIDH O Estado brasileiro solicitou que a denuncia não fosse aceita, entendendo que esta não preenche os requisitos necessários estabelecidos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Bem como, considera o Estado brasileiro que, caso fosse aceito a petição, o CIDH estaria atuando como um tribunal de “quarta instância”, pois estaria reexaminando o acervo probatório dos procedimentos judiciais internos relacionados à presente petição. Assim, pelo caráter subsidiário dos órgãos do sistema interamericano, tanto a Corte quanto a Comissão, tem entendimento jurisprudencial indicando que só serão revistos as decisões judiciais internas em situação de não cumprimento do devido processo ou que claramente violem qualquer dos direito garantidos na Convenção. Na defesa do Estado brasileiro, foi alegado que: o Estado estima que o Regulamento da CIDH em seu artigo 29.1.a prevê que a data determinante para contar o prazo do artigo 46.1.b da Convenção Americana é a data em que a petição foi apresentada perante a CIDH, data que é confirmada pelo selo de recebimento. O Estado, assim, não tem acesso ao selo postal que provaria que a denúncia foi enviada em 18 de abril de 2003, como os peticionários alegam. O requisito presente no artigo 29.1.a do Regulamento da Comissão existe justamente para garantir aos Estados certeza e segurança jurídica sobre o cumprimento ou não do prazo estabelecido pela Convenção Americana (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). Por isso, o Estado brasileiro alegou que esta fora apresentada depois de vencido o prazo, mais precisamente uma semana após o seu vencimento, segundo o artigo 46.1.b da Convenção Americana de Direitos Humanos e o artigo 32.1 do Regulamento da Comissão. No tocante ao esgotamento dos recursos judiciais internos, aponta o Estado brasileiro a culpabilidade da vítima, por esta não ter fundamentado corretamente o Agravo de Instrumento, baseando-se apenas na solicitação do reexame da prova, esquecendo-se da indicação dos dispositivos constitucionais, tratados ou leis federais que foram violadas. Com isso, diante da deficiente fundamentação da vítima do Recurso Extraordinário e a apresentação tempestiva da petição na CIDH corroboram para “para que essa Comissão demonstre claramente que as elevadas finalidades do sistema interamericano de direitos humanos de direitos humanos não afastam o velho adágio, corolário da segurança jurídica” (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). Por último, alega o Estado brasileiro que a denuncia tem por fim que a Comissão conceda um valor superior a determinados elementos de prova, principalmente os que diretamente favorecem à suposta vítima, contrariando o entendimento do Tribunal interno competente que examinou as provas em segunda instância. Ainda sustenta o Estado brasileiro que a Comissão não pode servir como uma “válvula de escape” para o exame de fatos cometidos pelos tribunais internos que atuaram dentro de sua competência. Entendendo que decisões desfavoráveis, mas que possuam fundamentação correta não viola os direitos humanos. 3 DECISÃO DA CORTE SOBRE A DENUNCIA A Corte entendeu possuir competência ratione personae, ratione loci, ratione temporis e ratione materiae para aceitar a petição. Possui competência ratione personae, por o artigo 44 da Convenção Americana possibilitar que sejam apresentadas denuncias por qualquer pessoa em casos de violação da Convenção. Bem como, o Brasil é Estado parte na Convenção Americana desde 1992, e participa também da Convenção de Belém do Pará (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). A competência ratione loci é demonstrada pela alegação da vítima de violação a direitos que são resguardados pela Convenção Americana e pela Convenção de Belém do Pará, sucedido dentro de território brasileiro. Já a competência ratione temporis é especificada por o Brasil já possuir o dever de respeitar e garantir os direitos resguardados pela Convenção Americana e Convenção de Belém do Pará. E, a competência ratione materiae é verificada pela denuncia ser referente a violação a direitos protegidos por essas Convenções. Com relação ao esgotamento dos recursos internos, a Corte seguiu o que prediz o artigo 46.1.a da Convenção Americana, que para que uma petição seja aceita, basta “que hajam sido interpostos e esgotados todos os recursos de jurisdição interna, de acordo com os princípios do Direito Internacional geralmente reconhecidos” (GIALLUCA, TÁVORA, 2012, p. 1913). Assim, entendeu a Corte que todos os recursos foram esgotados dentro do sistema judiciário interno brasileiro Sobre o prazo de apresentação da petição, a Corte seguiu o disposto no artigo 46.1.b, “que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva” (GIALLUCA, TÁVORA, 2012, p. 1913). Nesse aspecto houve discordância entre as partes, pois a denunciante alega estar dentro do prazo por enviar a denuncia por correio postal dentro do período. Já o Estado brasileiro alega que a petição fora recebida depois de vencido o prazo. Diante desse impasse, a Corte entendeu que a petição está dentro do prazo, pois a CIDH considera os dias que sucederam para que a petição chegasse na Comissão, por ter sido enviada por correi postal. Esclarece ainda a Corte, sobre a duplicação de procedimentos e coisa julgada internacional, que: Não surge dos autos que a matéria da petição esteja pendente de outro procedimento de solução internacional, nem que reproduza uma petição já examinada por este ou órgão internacional. Portanto corresponde dar por cumpridos os requisitos estabelecidos no artigo 46.1.c da Convenção Americana (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2009). No tocante a caracterização dos fatos alegados, a Corte entendeu que a admissibilidade da petição é possível por versar sobre violação de direitos garantidos pela Convenção Americana e Convenção de Belém do Pará3. Na admissibilidade, a Corte não adentra no mérito do caso concreto, apenas analisa se os fatos narrados podem caracterizar possíveis violações aos direitos garantidos pela Convenção Americana. A apreciação ocorrerá com a criteriosa avaliação e estudo da denuncia, buscando saber se houve violação aos direitos resguardados. Ressalta-se que compete a Comissão, o dever de receber petições ou comunicações quando são violados qualquer direitos estabelecidos pela Convenção, reconhecendo: a) Se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações ao Governodo Estado apontado como responsável pela violação alegada; b) Recebidas as informações, ou transcorrido o prazo sem que sejam recebidas, verificará se existem motivos da petição. Se não existirem mandará para arquivo. c) Poderá também declarar inadmissibilidade da petição. d) Se for necessário, a Comissão procederá uma investigação a fim de chegar a uma solução amistosa do assunto. e) Em caso de solução amistosa, será encaminhado relatório ao peticionário e aos estados-parte na Convenção, para publicação. f) Se não tiverem chegado a uma solução, a Comissão redigirá um relatório com suas conclusões, proposições e recomendações, que será encaminhado aos Estados sem autorização para publicação. g) Se no prazo de três meses, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, a Comissão poderá emitir suas conclusões sobre a questão e recomendações para o Estado. h) Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá se o Estado tomou ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu relatório (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, s/d). Pelo exposto, a Comissão Interamericana considerou ser competente para analisar o mérito do caso, aceitando a admissibilidade da petição, com seus argumentos de fato e de direito especificados na denuncia. 3 Ver CIDH, Relatório Nº 42/08, Petição 1271-04, Karen Atala e Filhas (Chile), 23 de julho de 2008, parágrafo. 59; CIDH, Relatório No. 52/02, Caso 11.753, Mérito, Ramón Martínez Villareal, Estados Unidos, 10 de outubro de 2002, parágrafos. 53; CIDH, Relatório No. 39/96, Caso 11.673, Santiago Marzioni (Argentina), Relatório Anual da CIDH 1996, parágrafos. 48 – 51; CIDH, Relatório Nº 54/01, Caso 12.051, Maria da Penha Maia Fernandes (Brasil), 16 de abril 2001, parágrafos. 28. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os Direitos Humanos reconheceram as pessoas como sujeitas de direitos internacionais, possibilitando a estes direitos e capacidades de postularem na Corte Internacional de Direitos Humanos. Dentro dessa concepção das pessoas, os Direitos Humanos garantem direitos, como fonte de soberania para os indivíduos, entendidos não apenas dentro dos Estados-Nação, mas uma verdadeira soberania popular. Para Arendt (1990), os Direitos Humanos não são um dado, mas foram construídos pelos humanos que estão em constante processo de construção e reconstrução. Sendo assim, os Direitos Humanos são frutos de uma construção social que vem sendo estabelecidos ao longo da história. Assim, os Direitos Humanos são paradigmas e referencias éticas capazes de orientar os Estados na contemporaneidade. E a Comissão Interamericana de Direitos Humanos possui competência perante todos os Estados partes da Convenção, no tocante aos direitos humanos resguardados por esta. Para Piovisan (2006) a Comissão possui por principal função a promoção e observância da defesa dos direitos humanos, devendo ser formuladas recomendações aos Estados partes quando ocorrerem casos de desrespeito aos Direitos Humanos no âmbito de suas leis internas e preceitos de suas Constituições Federais, promovendo também ações para o respeito a esses direitos. Dentro desse cenário, compete a Comissão o preparo de estudos e relatórios que sejam pertinentes para desempenhar suas funções, podendo pedir que os Estados providenciem informações sobre determinadas medidas que adotem relativas aos Direitos Humanos. Existe ainda a possibilidade dos indivíduos reclamarem seus direitos lesados pelos Estados na Comissão através de petições, como prevê o artigo 41.f, 44 e 51 da Convenção (AITH, 2006). No caso estudado, a discriminação da mulher na sociedade é um fenômeno universal de todas as épocas e de todos os países, embora haja divergências imensas de uns para outros, em função do grau de desenvolvimento, dos regimes políticos e econômicos, das ideologias das tradições, dos costumes e de tantos outros fatores. Assim, ao se entender que a problemática da violência vem desde a antiguidade, desperta-se um fator bastante preocupante para a sociedade, pois se desvincula do comportamento social, caracterizando-se pela predominação nos tempos históricos. Tal fator é um desafio para as sociedades contemporâneas, necessitando desmistificar para a consciência moral dos tempos atuais. Diante disso, por a violência ter características fortes e reais em nossa sociedade, e sua existência demonstra um fator de interrogação da consciência humana e dos fenômenos naturais, a Constituição Federal resguardou a importância do respeito à vida, sendo garantido que não se viole os direitos inerentes as pessoas, dentre eles o direito a vida, que está estabelecido no art. 5º, da Constituição Federal. Mesmo com esses direitos garantidos na Constituição, normalmente os agressores tentam enfraquecer suas vítimas, para que se sintam inferiores e submissas, passando a viver em uma situação de grande humilhação, proporcionando assim que essas vítimas não denunciem seus agressores. Com isso, observando esse caso concreto, a vítima não teve resistência para mudar essa situação, não teve medo de agir diante da agressão sofrida, realizando a devida denuncia as autoridades competentes, mesmo passando pelas humilhações e discriminações do próprio poder público. Discriminação essa que demonstra uma verdadeira dificuldade para que as mulheres atinjam o seu espaço de direito na sociedade, com o resguardo de seus Direitos Humanos assegurados pela Convenção de Direitos Humanos e Convenção de Belém do Pará. Nesse sentido, a denunciante Samanta Nunes da Silva possui legitimidade para postular o respeito aos direitos violados pelo Estado brasileiro frente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. E que, sua petição segue todos os requisitos necessários para a admissibilidade, como o esgotamento dos recursos na jurisdição interna. Bem como, a petição foi protocolada dentro do prazo de seis meses e não possui nenhuma pendência de outro processo que requeira solução internacional, por isso foi admitida pela Comissão. A admissibilidade da petição de Samanta Nunes da Silva representa a efetivação da proteção dos Direitos Humanos por parte da Comissão, pela possibilidade de ser investigada corretamente sua reclamação de discriminação dos agentes públicos, por sua condição de mulher, afrodescendente e pobre. O prosseguimento do expediente por parte da Comissão, procedendo para a investigação do caso concreto, não afeta a soberania do Brasil, pelo fato deste reconhecer a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos desde 1998, para os casos de violação a direitos e liberdade por parte do Estado, podendo essa Corte analisar e tomar providências quando constatada a violação. Destaca-se correto o entendimento da Corte dar prosseguimento a petição não entendendo ser sua atitude uma “quarta instância”, pelo fato desta apenas analisar os casos de violação as devidas medidas de Direitos Humanos não seguidos pelos tribunais internos. REFERÊNCIAS AITH, Fernando Mussa Abujamra. Teoria geral do direito sanitário brasileiro. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2006. ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório nº 93/2009. Disponível em: http://cidh.oas.org/annualrep/2009port/Brasil337.07port.htm. Acesso em: 02.12.2013. GIALLUCA, Alexandre; TÁVORA, Nestor. Vade mecum: 2012. 2 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2012. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e justiça internacional. São Paulo: Saraiva, 2006. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, USP. BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana de Direitos Humanos, 1969 (Pacto de San José da Costa Rica). S. d. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OEA-Organiza%C3%A7%C3%A3o- dos-Estados--Americanos/convencao-americana-de-direitos-humanos-1969-pacto--de-san-jose-da-costa-rica.html. Acesso em: 04.12.2013. http://cidh.oas.org/annualrep/2009port/Brasil337.07port.htm http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OEA-Organiza%C3%A7%C3%A3o-dos-Estados--Americanos/convencao-americana-de-direitos-humanos-1969-pacto--de-san-jose-da-costa-rica.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OEA-Organiza%C3%A7%C3%A3o-dos-Estados--Americanos/convencao-americana-de-direitos-humanos-1969-pacto--de-san-jose-da-costa-rica.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OEA-Organiza%C3%A7%C3%A3o-dos-Estados--Americanos/convencao-americana-de-direitos-humanos-1969-pacto--de-san-jose-da-costa-rica.html
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