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Project1 6/3/08 8:12 AM Page 1 Project2 6/3/08 8:19 AM Page 2 Relações Interpessoais e Comunicação Relações Interpessoais e Comunicação � ÍNDICE NOTA DE BOAS-VINDAS 5 1. A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM 7 1.1. Os príncipiOs de cOmunicaçãO 8 1.2. a realizaçãO pessOal 14 1.3. a cOmpetência prOfessiOnal 15 2. A RELATIVIDADE: "AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?" 19 2.1. a infOrmaçãO falível e limitada 20 2.2. Os “duelOs da razãO” 22 3. A INFLUÊNCIA DO JUÍZO DE VALOR 27 3.1. a cOnstruçãO dO juízO de valOr 28 3.2. a “percepçãO dO mundO a 2 cOres”a “percepçãO dO mundO a 2 cOres” 32 4. A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL 39 4.1. a “culpa” e a “respOnsabilidade” 40 4.2. a avaliaçãO da respOnsabilidade 41 4.3. O desenvOlvimentO mOral 46 5. A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR 51 5.1. a cOmunicaçãO nãO-verbal 52 5.2. O dOmíniO dOs estilOs de cOmunicaçãO 56 �Relações Interpessoais e Comunicação 6. A ARTE DE SABER MOTIVAR 67 6.1. O autO-cOnhecimentO e a crítica 68 6.2. a capacidade de mOtivar Os OutrOs 70 7. A EMPATIA COMO "PONTE DE UNIÃO" 75 7.1. a cOmunicaçãO empática 76 7.2. a cOmpreensãO e a aceitaçãOa cOmpreensãO e a aceitaçãO 81 ANEXOS 85 respOsta aOs exercíciOs 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 95 FICHA TÉCNICA 100 Relações Interpessoais e Comunicação � NOTA DE BOAS-VINDAS Bem-vindo ao Manual de Relações Interpessoais e Comunicação do CECOA! Este manual relaciona-se com a habilidade para comunicarmos com os outros, sejam eles colegas, clientes, amigos ou familiares. E qualquer um de nós, ao começar a ler este manual, não parte do zero em termos da sua aprendizagem nesta temática... Todos já desenvolvemos a nossa maneira particular de comunicarmos, que foi sendo moldada e condicionada pelas nossas experiências de vida e pelas pessoas que se cruzaram no nosso caminho. Pretende-se que esta seja uma oportunidade para repensar essas experiências, as nossas formas de interagir com os outros e com o mundo, no sentido de as questionar e eventualmente legitimar, corrigir e aperfeiçoar. Para que o nosso objectivo seja cumprido, é necessário a sua colaboração: peço-lhe que interaja com o manual, personalizando-o à medida que for realizando os vários exercícios, e que reflicta sobre esta temática, relacionando- a com a sua experiência de vida. �Relações Interpessoais e Comunicação Relações Interpessoais e Comunicação � A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Capítulo 1 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Compreender a importância da imagem que comunicamos enquanto pessoas; Compreender que existem diversas formas de comunicar para expressar o mesmo ponto-de-vista e que cada uma tem um impacto diferente nas outras pessoas; Reconhecer a importância da adaptação ao contexto e da obtenção de feedback; Compreender o papel das competências interpessoais no mundo do trabalho; Reconhecer o papel das competências interpessoais para a realização pessoal. 1.1. OS PRINCÍPIOS DE COMUNICAÇÃO Vamos começar por ver alguns princípios genéricos sobre comunicação, que irão ser aprofundados nos capítulos seguintes. O objectivo é nivelar inicialmente alguns conhecimentos básicos de forma a facilitar a leitura do manual. "Veja-se na TV" O ponto-de-partida para se ser um bom comunicador é conhecer a imagem que "se comunica globalmente como pessoa". Para o ajudar, eis um exercício de apresentação: • • • • • A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Relações Interpessoais e Comunicação � Exercício 1.1. 1- Se eu fosse um animal, seria... 2- O meu prato de comida preferido é... 3- O electrodoméstico que eu uso mais é... 4- Se não tivesse a minha profissão actual, seria... 5- Os outros pedem-me ajuda para... 6- O provérbio que uso mais é... Princípio n.º 1: "A Importância das Aparências" Através da sua "Imagem na TV", o que se pode concluir sobre a sua imagem como pessoa? Comunica uma imagem de "leão", cheio de força nos gestos, extroversão no seu "rugido" (voz), e talvez também intimidante? Ou de "gato", mais sofisticado e misterioso na sua forma de se movimentar, mas assustadiço e inseguro? • • �Relações Interpessoais e Comunicação A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Instruções do Exercício de Apresentação Imagine que está a ver um programa de Televisão, no qual foi entrevistado e teve que dar resposta às seguintes questões: O seu corpo dá impressão de ser apreciador de cozido à portuguesa (forte, conservador e sedentário), ou de uma simples salada (nervoso, moderno e activo)? Conclusões: 1- A "imagem como pessoa" é criada sobretudo com base na comunicação não-verbal (expressão corporal/facial e colocação/tom de voz). 2- As vantagens de uma dada imagem correspondem também a desvantagens (ex.: À vantagem "Forte" pode corresponder a desvantagem "Intimidante"). 3- A sua imagem como pessoa é uma variável omnipresente em todo o processo de comunicação. Lembre-se que: Ainda antes de falar com uma pessoa, ela estará a formu- lar, tal como você, uma primeira impressão (muitas vezes errada, mas que tende a ser duradoura!). Cuidados a ter: 1- Tornar consciente a sua imagem como pessoa e o impacto que pode criar no seu interlocutor. 2- Quando formar uma impressão de alguém, lembre- se que pode estar errado e que deve deixar abertura para actualizar e corrigir essa imagem. • A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Relações Interpessoais e Comunicação 10 Frequentemente, "escon- demos-nos" a t rás do nosso estatuto prof is- sional ou social e criamos uma imagem que mostra pouco de nós. Princípio n.º 2: "A Ditadura da Opinião" Muitas vezes julgamos que o conteúdo da nossa comunicação (i.e. opinião) dita a forma de o expressar. Na verdade, indepentemente do que "se tem para dizer" há sempre múltiplas formas de o expressar. Exemplo 1 A Maria gosta de dar a sua opinião e de ser crítica. E não gosta do vestido da Joana. Sendo assim, ela terá de dizer: "Esse vestido fica-te mal!!" ?! …ou pode dizer "Acho que este vestido não te favorece. Faz-te parecer menos elegante do que és"; ou "Gosto mais de te ver com o teu vestido azul!" ? Princípio n.º 3: "A Ditadura do Mau Feitio do Outro" A forma do nosso interlocutor se comportar é sobretudo uma reacção ao nosso comportamento, e não tanto uma consequência do seu feitio. A maneira como nos comportamos é um dos factores que influencia a forma como o outro vai agir. Exemplo 2 O João é descrito por um formador como "antipático e desmotivado" e por outro como "inteligente e colaborante". Porque será…? Os dois formadores estimulam comporta- mentos diferentes no João, que assim reage de formas muito distintas. 11Relações Interpessoais e Comunicação A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Vou buscar alguns exemplos... Princípio n.º 4: "A Ditadura do Meu Feitio" Pode ter "só uma cara", mas com o mesmo rosto pode fazer muitas expressões e caretas! Pode ter apenas uma personalidade, mas ainda assim cabem lá muitas opiniões, sentimentos, desejos, competências, inseguranças, contradições, a que importa dar visibilidade nas alturas certas... Devemos diversificar o nosso repertório de palavras, gestos e expressões faciais/corporais em função das exigências da situação. Devemos evitar "receitas" ou fórmulas estereotipadas de comportamento (ex.: "devo ser uma pessoa séria e respeitável", "não posso deixar ninguém aproveitar-se de mim", "tenho de mostrar-me simpático e engraçado") que nos limitam na adaptação ao contexto em que estamos envolvidos. Devemos agir com respeito a cada contexto específico, caracterizado por variáveis como: Quais as pessoas envolvidas? Qual a relação entre ambas? Qual é o seu estado de humor presente? Em que situação se encontram elas?.... Exemplo 3 Se vai reclamar numa loja, comunique firmeza e convicção. Se vai a uma entrevista de emprego, comunique simpatia e disponibilidade. • • • • • • A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Relações Interpessoais e Comunicação1� A nossa personalidade é um "diamante": é valiosa e tem muitos lados dife- rentes. Princípio n.º 5: "O Código da Estrada" Devemos estar atentos aos sinais emitidos pelo nosso interlocutor (feedback) que nos permitam interpretar melhor o seu comportamento e assim adequar o nosso - o feedback é "um código que guia o nosso caminho". Exemplo 4 Enquanto o João fala com o Rui, este olha noutra direcção, abana o pé debaixo da cadeira, e diz "sim, sim, pois é, pois é…". E o João muda de assunto. O feedback deve guiar o nosso comportamento seguinte, no sentido de nos ajustarmos simultaneamente ao outro e ao que queremos realmente comunicar. Princípio n.º 6: "A Força dos Hábitos" A vontade de mudar encontra resistência na força dos nossos hábitos. No início, sente-se mais o efeito das desvantagens de mudar e as vantagens ainda não estão presentes - é uma altura propícia a desistir. No entanto, se persistirmos, o novo comportamento transforma-se num hábito. Exercício 1.2. Estes pensamentos denotam resistência à mudança ao nível da comunicação: 1- “Isto de saber comunicar é muito bonito, mas com algumas pessoas não há nada a fazer." 1�Relações Interpessoais e Comunicação A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM EXERCÍCIO Imagine que o Zé quer deixar de fumar. No iní- c io , por cada c igarro que não fumar, vai ficar frustrado e os seus pul- mões não f icam mais “limpos”. Nesta altura, o Zé está mais vulnerável a desistir... 2- “Para isto resultar, os outros também tinham que mudar." 3- "O meu feitio não dá para isto." 4- "Isto não me sai de uma forma natural. Pode parecer ridículo!" Crie um pensamento alternativo. 1.2. A REALIZAÇÃO PESSOAL As pessoas que comunicam bem conseguem estabelecer relações de proximidade - porque, quando comunicamos bem, conseguimos dar-nos a conhecer na dimensão que queremos e aumentamos a probabilidade dos outros tam- bém fazerem o mesmo connosco. E assim, na mercearia, no banco, nos jantares de convívio, no trabalho, em casa, conseguimos conquistar uma rela- ção personalizada com as diferentes pessoas com quem nos relacionamos e que constituem a nossa rede social de suporte. Quando temos algum problema ou necessi- dade, podemos obter a ajuda especializada de determi- nada pessoa para nos ajudar. A nossa realização pessoal depende largamente da nossa rede social de suporte que, por sua vez, depende da nossa capacidade de estabelecer relações sociais de qualidade. A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Relações Interpessoais e Comunicação 1� 1.3. A COMPETÊNCIA PROFISSIONAL Quando falha a nossa capacidade de comunicar, o trabalho é posto em causa... Exemplo 1 O colega Manuel: "Pára! Não é assim que se faz isso!" O colega Roberto: "Tu fazes à tua maneira, eu faço à minha!!" Exemplo 2 Colega: "...olha, acabei agora de enviar um fax lá para cima para pedir uma máquina para o departamento." Colega: "...mas nós já temos a máquina nova desde há 3 semanas!" Colega: "Não me digas! E eu que passei a manhã toda a tratar disso!" 1�Relações Interpessoais e Comunicação A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Miguel: Gestor de conta no banco Explica-me as "entrelinhas". Rita: Colega de trabalho Se for preciso, troca os horários comigo. Duarte: Médico Posso ligar -lhe a qualquer hora. Fernando: Amigo de infância Ajuda-me a tomar decisões. R E D E S O C IA L D E S U P O R T E Mas para o t raba lho ser bem feito, é essen- cial criar uma "maneira" comum! Como foi a comunicação dos 2 colegas nas últimas 3 semanas? O nosso trabalho implica sempre interdependência dos outros. Para que seja bem feito é necessário comunicar infor- mação (partilhar ideias, dúvidas, procedimentos, resultados). Comunicar bem é trabalhar bem! Exemplo 3 Numa reunião, dois colaboradores apresentam ao chefe o seu conflito interpessoal. O chefe responde: - "Não me venham cá com essas "tricas", cada um tem o seu feitio, e devem deixá-lo em casa. Isto aqui é trabalho." E termina, dizendo: -"...Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque!!" ... O "nosso feitio" faz parte do nosso trabalho? Ou é "conhaque"...?? O nosso "feitio" está presente no trabalho, na nossa forma particular de lidarmos com os colegas, chefe, procedimentos, prazos, projectos novos... O "Feitio" é uma parte incontornável do trabalho; assim sendo, é nosso dever desenvolver uma "personalidade profissional" (ex.: ser caloroso, motivado, pontual, moti- vado, rigoroso e flexível). O objectivo é estabelecer uma relação de confiança, o que implica 2 níveis de comunicação: 1- Técnico: comunicar que sabe realizar as tarefas (não basta saber fazer, há que o mostrar!); 2- Relacional: comunicar que age de boa fé (mostrar ao outro que está em "boas mãos"). A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM Relações Interpessoais e Comunicação 1� Vamos fazer uma pausa e ver outro exemplo! Em vez de se dizer “O colega David é boa pessoa, mas pouco com- petente.”, ...é preferível: “O David é competente na área da comunicação, mas insatisfatório na área técnica.” Comunicar uma imagem de “boa pessoa” (acessí- vel e simpático) já é fazer uma parte do trabalho bem feita! O colaborador X tem uma dúvida que precisa de escla- recer: o colega Y mostra que é simpático e prestável, mas pouco conhecedor (confiança apenas a nível relacional); o colega Z mostra que é muito conhecedor, mas muito arrogante (confiança apenas a nível técnico). Resultado: X não vai confiar em nenhum dos colegas, pois os 2 níveis de confiança são necessários! A dúvida fica por esclarecer e o trabalho por fazer! Exercício 1.3. O Eng. André não foi escolhido para um lugar que impli- cava domínio das novas tecnologias de informação. Na realidade, o André é das pessoas mais conhecedoras na empresa a este nível, e não percebe porque não foi no- meado. O André "faz o seu dever" (cumpre instruções, e "não inventa, para não criar confusões") e é muito discreto e conservador (ex.: tem o mesmo visual desde que entrou na empresa há 30 anos). Qual é a sua explicação para o André não ter sido pro- movido? (Relacione com os 2 Níveis de Confiança) • • 17Relações Interpessoais e Comunicação A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR BEM EXERCÍCIO Relações Interpessoais e Comunicação 1� A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Capítulo 2 A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Relações Interpessoais e Comunicação �0 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Distinguir o Pensamento Absoluto do Pensamento Relativo; Identificar os 4 "Erros de Percepção" que se devem evitar de forma a se relativizar o nosso ponto-de- vista; Identificar os motivos que levam a um "Duelo da Razão"; Compreender as consequências dos "Duelos da Razão" para as Relações Interpessoais; Aplicar os 3 passos para evitar os "Duelos da Razão". 2.1. A INFORMAÇÃO FALÍVEL E LIMITADA A nossa opinião sobre os outros e o mundo em geral deve ser vista como uma hipótese (ser-se relativo) e não como uma afirmação (ser-se absoluto). • • • • • Relações Interpessoais e Comunicação �0 Ser Relativo A nossa experiência de vida é limitada A informação que temos está sempre incompleta face à que existe A nossa interpretação de uma experiência é subjectiva A informação fica rapidamente desactualizada Não confunda a sua per- cepção do mundo com a realidade. A ciência está cheia de exemplos de teorias que foram tidas como ver- dades garantidas e foram destronadas por outras consideradas melhores aproximações da reali- dade. Ex.: veja-se o caso de Galileu e da sua teoria "revolucionária" de que é a Terra que roda à volta do Sol. �1Relações Interpessoais e Comunicação A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» �1Relações Interpessoais e Comunicação Exemplo 1 Na formação, um formando diz: "Essa solução nunca vai funcionar nesta empresa pois tenho 30 anos de trabalho e já sei o que a casa gasta…"O formador responde: "…mas os estudos mostram que esta é uma solução eficaz, e no meu mestrado, as novas teorias que aprendi demonstram que..." Tendemos a percepcionar apenas os factos que confirmam as nossas opiniões e a ignorar ou distorcer os restantes que as pôem em causa ("Filtro Perceptivo"). Exemplo 2 O João está convencido que a Rita é antipática, pois tem aquele "ar de nariz empinado". A Rita convida-o para a sua festa, e ele interpreta: "Deve ser uma cilada!" Resolve nem responder ao seu convite, e no dia seguinte, ela não o cumprimenta. E ele pensa: "É muito antipática! Eu tinha mesmo razão." Exercício 2.1. Eis algumas opiniões absolutas. Qual é o erro de percep- ção em cada uma delas? 1- "As pessoas não mudam. Olha o exemplo do Zé!..." 2- "Tenho a certeza de que a reunião é amanhã." Erro n.º 1: A experiência de vida é limitada. Outros c o l e g a s d a m e s m a e m p r e s a p o d e m t e r uma experiência muito diferente. Erro n.º 2: A informação está incompleta. Erro n.º 3: A informação es tá desactual izada . Podem exist ir estudos novos que desconhece. Erro n.º 4: A interpretação d o c o m p o r t a m e n t o de a lguém é sempre subjectiva e tendemos a p r o c u r a r s e m p r e confirmá-la. EXERCÍCIO A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Relações Interpessoais e Comunicação �� 3- "Não vale a pena usar luvas ou máscara! Há 25 anos que trabalho sem elas, e a minha saúde está de ferro." 4- "Ela não me respondeu ao email porque não gostou do poema que lhe enviei." 2.2. OS "DUELOS DA RAZÃO" Segundo Karl Popper, se nós acreditarmos que a nossa teoria sobre a realidade é verdadeira, vamos procurar (de forma "automática") ter em atenção apenas os factos que a confirmam, e vamos negligenciar todos os outros que a possam desmentir. Devemos preocupar-nos em refutar a nossa teoria e não em tentar prová-la; caso contrário, geram-se os "Duelos da Razão"… Exemplo 1 Um pai leva, por sua iniciativa, o filho ao médico pois está desconfiado que este não está bem. O filho sente-se bem e a mãe também o acha saudável. O médico faz os exames, e na consulta diz: "Tenho boas notícias! Está tudo bem com o vosso filho!" O pai dá um murro na mesa e vocifera: "Está a dizer-me que eu gastei todo este tempo e dinheiro para você agora vir dizer-me que não tenho razão?!" O médico abana em cabeça em sinal de incompreensão e responde: "Prefere ter razão e o seu filho estar doente ou não ter razão e ele estar saudável?!" • • • • • Relações Interpessoais e Comunicação �� Mas que exemplos tão exagerados! Estas pessoas não são normais... ��Relações Interpessoais e Comunicação A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Exemplo 2 Um casal recorre a um terapeuta conjugal. A meio da con- versa, a esposa emociona-se e diz ao terapeuta: - "pois, porque no fundo eu critico-o muito porque gosto muito do meu marido!" (com os olhos cheios de lágrimas) O marido, sobressaltado e indignado, diz: - "Está ver como eu tenho razão?! Ela nunca me diz as coisas em 1º lugar; primeiro conta sempre a terceiros!" Muitas vezes, ter razão "cega-nos", levando a pôr em cau- sa os nossos interesses em geral, bem como as relações de afecto e trabalho, em particular. Geralmente, parte-se do princípio que a razão está apenas de um dos lados do conflito. Na realidade, na maior par- te das situações, cada uma das partes tem uma parte de razão. E, se à partida, é muito mais vantajoso perceber a parte de razão do outro e assim aumentar o nosso conhe- cimento e relacionarmo-nos melhor com os outros, porque é isto feito tão poucas vezes?... Exemplo 3 João: "A nossa professora de Geografia é gorda, mal-fei- ta, disforme!" Isabel: "Eu acho que ela até é elegante!" João: "O quê?! Bem, então prova-me que estou errado!!!" Isabel: "Sempre que eu tenho uma opinião diferente da tua, dizes-me que tenho que provar que estás errado! E isso é muito aborrecido... Não podemos ter os dois direito à nossa opinião e estarmos um "bocadinho certos"? …Nem sei se estás errado! Porquê é tão díficil para ti aceitar que tenho uma opinião diferente?" ��Relações Interpessoais e Comunicação Eu sou melhor que tu! Defende-te lá deste meu argu- mento... A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Relações Interpessoais e Comunicação �� João: (calado) Isabel: "…então?" João: "O que eu detesto é que digam que eu estou a dizer um disparate, como se eu fosse burro ou menos que os outros... A minha mãe sempre mostrou que eu estava er- rado e que era a "ovelha ranhosa" da família quando fazia coisas com que ela não concordava." …O "duelo do ter razão" não é tanto sobre defender a razão, mas sobre lutar pela nossa auto-estima. Fomos educados a valorizar as pessoas que provam que têm razão. Exercício 2.2. Diga como é o que o Bruno podia ter utilizado os 3 passos para evitar o "Duelo da Razão". Numa reunião, o Bruno corrige o colega: -"Essa informação não está correcta. O prazo para entrega é 3 de Abril! Relações Interpessoais e Comunicação �� EXERCÍCIO 1- Expressar a nossa opinião como uma hipótese 2- Procurar argumentos que refutem a nossa opinião 3- Procurar argumentos que confirmem a opinião do outro Para evitar os «duelos do ter razão» ��Relações Interpessoais e Comunicação A RELATIVIDADE: «AS COISAS SÃO COMO ELAS SÃO OU COMO NÓS AS VEMOS?» Colega: - Tenho a certeza de que é já 16 de Março. Posso provar no email que recebi. Bruno: - Deves estar a fazer confusão. Eu acabei agora de falar com o chefe e ele disse-me que era 3 de Abril! Colega: - Desculpa, mas é 16 de Março. Bruno: - Não, não... é 3 de Abril! ��Relações Interpessoais e Comunicação Relações Interpessoais e Comunicação �� A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Capítulo 3 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Definir o conceito de Juízo de Valor; Identificar os 5 erros comuns subjacentes à construção de um Juízo de Valor; Compreender as consequências dos Juízos de Valor para as Relações Interpessoais; Identificar a "tendência automática" para tomar sempre partido por um dos lados de um conflito; Identificar as diferenças entre a "Forma Comum de Narrar um Conflito" e a "Forma Adequada"; Narrar de forma adequada um conflito. 3.1. A CONSTRUÇÃO DO jUÍZO DE VALOR O Juízo de Valor é a nossa apreciação sobre o que está certo ou errado, i.e., é uma avaliação moral da nossa con- duta e a dos outros. É construído com base na nossa educação e experiência de vida. Tendemos a confundir as nossas referências in- ternas (valores) com os pilares adequados para nivelar a realidade. Geralmente, tecemos um Juízo de Valor negativo sobre os aspectos que implicam um desvio dos nossos padrões morais (Erro n.º 1 de formação de Juízo de Valor). Quanto mais rígidos forem os nossos padrões morais, mais o juízo de valor tende a ser negativo. • • • • • • A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �� Erro n.º 1: O Juízo de Valor é visto como uma sentença sobre o com- portamento do outro: "O João é perfeccionista." Na real idade, O Juízo de Valor é apenas uma comparação connosco próprios: "O João é mais perfec- cionista do que eu". Exemplo 1 (Erro n.º 1 de formação de Juízo de Valor) A Ana vai visitar a casa do amigo Manuel e repara que as coisas estão muito desarrumadas (i.e. há livros e roupa fora do sítio) e pensa: "O Manuel é muito desleixado! Eu não conseguia viver nesta casa..." Por sua vez, o Manuel vai visitar a amiga Filipa e repara que as coisas estão muito desarrumadas (i.e. há pó em cima dos móveis e louça por lavar) e pensa: "A Filipa é muito desleixada!! Eu não conseguia viver nesta casa..." Erro n.º 2: Tendemos a avaliar o comportamento dos outros em termos de traços de personalidade (se ele se comporta de forma y, então ele é Y), e o nosso próprio comportamento em termos circunstanciais(se eu me comporto de forma y, foi devido à circunstância X). Exemplo 2 (Erro n.º 2 de formação de juízo de valor) Um colega da Ana chega ao trabalho de manhã e não cum- primenta ninguém. A Ana pensa: "Este é arrogante". No dia seguinte, a Ana fica "presa" num engarrafamento de trânsito no caminho para o trabalho, e só mais tarde se lembra que quando chegou ao gabinete, não cumprimen- tou os colegas. E pensa: "Tenho desculpa: o dia começou tão mal!" Erro n.º 3: Tendemos a fazer a um juízo negativo das pessoas que nos promovem emoções negativas (estas são projectadas no outro, sob a forma de uma característica negativa). ��Relações Interpessoais e Comunicação A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Avaliação em termos de Traço de Personalidade Avaliação em termos Cir- cunstanciais Pff t ! , eu já fu i a casa deles todos e qualquer uma pre- cisava de uma boa limpeza!! Exemplo 3 (Erro n.º 3 de formação de Juízo de Valor) Uma colega do Jorge tem sempre os trabalhos prontos antes do prazo terminar, ao contrário de si próprio. O Jorge (desmotivado) acha que ela é uma "engraxadora"! Quando sai do trabalho, o Jorge vai jogar ténis com um colega. Este é irmão do Joaquim, que já não tem tempo para jogar ténis. O Joaquim (frustrado) acha que o Jorge é um "irresponsável" e gasta o tempo de forma "fútil". O Joaquim ajuda os filhos nos trabalhos da escola. Colocou uma questão ao professor de um dos filhos, e este não soube responder. O professor (inseguro) acha que o Joaquim é um "convencido". Por vezes, tendemos a considerar que aqueles que nos promovem emoções negativas são "culpados" por isso, e concluimos que: 1- há intencionalidade no seu comportamento de nos ofender, denegrir, prejudicar, etc (Erro n.º 4); 2- o seu comportamento prova que não gostam de nós (Erro n.º 5). Exemplo 4 (Erros n.º 4 e 5 de formação de juízo de valor) Um colaborador fala de forma eloquente e "rouba" algum protagonismo ao chefe. Este (inseguro) acha que ele tem a intenção de lhe "roubar" o lugar. Enquanto está com estes pensamentos, não repara que a sua secretária lhe faz uma pergunta. Esta (frustrada) con- clui "Ele não gosta de mim!". • • • A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �0 Ele é mais rápido do que eu! Mal-educado!! As consequências dos Juízos de Valor nas relações in- terpessoais são: 1- Os Juízos de Valor são uma justificação "distorcida" para o comportamento do outro, que impede a nossa compreensão dos verdadeiros motivos que o levaram a agir; 2- Dificultam o estabelecimento de relações de intimidade e a troca de perspectivas com terceiros. Conclusão: Só podemos avaliar o comportamento de alguém (ou seja, fazer um Juízo de Valor adequado), quando conhecemos os seus motivos para agir e as alternativas de que dis- punha na situação para agir. Exercício 3.1. Faça corresponder com setas cada um dos seguintes exemplos de Juízos de Valor aos 5 Erros de formação de Juízo de Valor: Exemplos de Juízos de Valor A- Um professor considera que um aluno é um "arrua- ceiro", pois está sempre a provocá-lo na aula. B- "A Joana está sempre a dizer piadas, que me fazem corar. Eu já percebi que ela me acha patético." C- "A Teresa é pouco atenciosa, pois nem deu prenda quando o Gustavo fez anos. Eu, por acaso, não lhe dei no ano passado mas foi porque não tinha dinheiro..." �1Relações Interpessoais e Comunicação A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR ...mas assim com tan- tos cuidados, quase nunca podemos fazer um Juízo de Valor!! Que aborrecimento! EXERCÍCIO D- "Ele é um convencido: faz-me aquelas perguntas de propósito para me inferiorizar e enaltecer-se a si próprio!" E- "O Leonardo é um avarento!" 5 Erros de Formação do Juízo de Valor 1- O Juízo de Valor é visto como uma sentença sobre o comportamento do outro, quando devia ser assumido que é apenas uma comparação connosco próprios. 2- Avaliamos os outros com base em traços de personali- dade, e a nós próprios tendo em conta as circunstân- cias. 3- Fazemos um Juízo de Valor negativo de quem nos pro- move emoções negativas. 4- Julgamos que os outros promovem-nos intencional- mente emoções negativas. 5- Julgamos que o facto de nos promoverem emoções negativas, é uma prova de que não gostam de nós. 3.2. A "PERCEPÇÃO DO MUNDO A 2 CORES" Cada um de nós desenvolveu um "automatismo interno" que nos leva a reduzir constantemente a complexidade da realidade a uma perspectiva simples: quem está certo/er- rado e qual é o lado pelo qual vamos tomar partido. Exemplo 1 O Manuel contou aos seus colegas: "O Zé não é leal! Fui de carro com ele em trabalho, e en- contrei um amigo que já não via há muito tempo. Fui beber um café com o meu amigo e atrasei-me. Pedi ao Zé para ele omitir ao nosso chefe que o trabalho não tinha ficado A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �� todo feito. Expliquei-lhe que não havia necessidade de lhe dizer (pois o chefe "ferve em pouca água"), e eu no dia seguinte voltaria para acabar o trabalho. Ele disse-me que sim. Mas depois quando chegámos ao trabalho, foi contar tudo ao chefe!! Depois disto, nunca mais falei ao Zé!" De imediato, choveram comentários solidários da parte dos colegas, que entoaram em coro: "O Zé é cobarde!" De forma a evitar Juízos de Valor "fáceis", é importante perce- ber os dois lados de uma "história", e não apenas um: LADO A - Por um lado, o Manuel achou desnecessário avisar o chefe pois trataria de completar o trabalho em falta. Mas não devia ter pedido ao colega para "omitir", colocando-o numa situação em que podia ser prejudicado por sua causa. LADO B - Por outro lado, o Zé deveria ter conseguido dizer que não; ou, quando mudou de ideias, deveria ter avisado primeiro o Manuel da sua nova decisão. Podia inclusive dizer-lhe que preferia que fosse o Manuel a contar ao che- fe (mas que, se ele não o fizesse, ele seria "forçado" a fazê-lo). Os conflitos alimentam grande parte das conversas que as pessoas têm. Basta ir para um café ou andar de transportes públicos. Quantas vezes já ouviu contarem um episódio de conflito em que inevitavelmente o próprio é o "bom-da-fita" e cabe ao outro o papel de "mau"? ��Relações Interpessoais e Comunicação A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR ...nós achamos que quem procedeu mal fo i o Manue l ! Um oportunista! Irrespon- sável! Exemplo 2 (Parte I) A mulher queixa-se a uma amiga ao telefone: "Imagina que eu fiz anos, e ele nem me deu uma prenda. E eu que lhe dou sempre prendas nos anos dele, e passo o mês antes a pensar no que lhe vou dar. Tudo bem que nós estávamos aborrecidos nesse dia, mas não é razão para não me dar uma prenda ou, pelo menos, felicitar-me. Mas aprendi a minha lição. Ele que não pense que vai continuar a rebaixar-me, quem é que ele pensa que é? É vingativo, um egoísta. Só pensa nele. Mas vai ver, agora quando forem os anos dele também me vou "esquecer"! Exemplo 2 (Parte II) Por sua vez, o marido ouve esta conversa e pensa: "Que calúnia! Eu não me esqueci, simplesmente já não tinha vontade de festejar o seu dia de aniversário, quando no dia anterior ela me chamou todos os nomes. O que é que ela pensa que sou? Um "saco de boxe"? Primeiro ofende-me, e depois pensa que lhe vou dar uma prenda como se estivesse tudo bem. Eu posso não lhe ter expli- cado nada disto... aliás, não tenho de o fazer quando ela quer! Ela é uma ditadora! Da próxima vez que ela começar a "mandar vir comigo", vou-me embora e deixo-a a falar sozinha." A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �� É por causa destas coisas que eu prefiro os animais às pessoas!!! ��Relações Interpessoais e Comunicação A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR FORMA COMUM DE NARRAR UM CONFLITO FORMA ADEQUADA DE NARRAR UM CONFLITO 1- Conta-se a história apenas a partir do nosso ponto-de- vista. Parte-se do princípio de que nós temos toda a razão e o outro não tem nenhuma. 1- Conta-se os 2 lados dahistória, incluindo a versão do outro como ele a contaria, validando os seus motivos para agir (a "razão" do outro). 2- Faz-se uma selecção dos factos que reforçam o nosso ponto-de-vista (aumenta-se o nosso ponto-de-vista). 2- Faz-se uma auto-crítica à nossa forma de agir e procuram-se os factos que nos retiram razão. 3- Distorcem-se ou omitem- se os factos que reforçam o ponto-de-vista do outro (diminui-se o ponto-de-vista do outro). 3- Critica-se o outro de forma objectiva e procuram-se os factos que reforçam o seu ponto-de-vista. 4- Mostram-se sinais de ofensa, injustiça em relação ao outro, que são a maior prova de que se tem razão. 4- Conta-se o nosso lado da história, distinguindo os factos dos nossos sentimentos. 5- Atribui-se ao outro traços de personalidade que justificam o nosso mal-estar (ex.: sinto- -me traído, logo o outro não é de confiança). 5- Evita-se rotular o outro em termos da sua personalidade e procuram- -se comportamentos seus que mostrem que nem sempre age da mesma forma. 6- Formulam-se regras de interacção para nos defendermos no futuro do outro (ex.: "nunca mais lhe conto nada") 6- Sugere-se como as 2 partes podem mudar o seu comportamento, de modo a que tenha em conta as necessidades de ambos. ...só um santo é que consegue contar um conflito da forma "adequada"! Aplicação ao Exemplo 2 (Parte I) A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �� Discurso Comum Discurso Alternativo 1- "Imagina que eu fiz anos e ele nem me deu uma prenda." 1- "Estamos aborrecidos: eu porque ele não me deu uma prenda no meu aniversário e ele por causa de umas coisas que lhe disse". 2- "E eu que lhe dou sempre prendas nos anos dele, e passo o mês anterior a pensar no que lhe vou dar." 2- "Eu no dia anterior excedi- -me e insultei-o, e ele não me disse nada, pois eu também não o deixo falar naquelas alturas". 3- "Tudo bem que nós estávamos aborrecidos nesse dia, mas não é razão para não me dar uma prenda ou, pelo menos, felicitar-me." 3- "Eu percebo que ele tivesse ficado ofendido mas, mais tarde, podia ter vindo falar comigo quando as coisas já estivessem mais calmas." 4- "Ele que não pense que vai continuar-me a rebaixar- -me." 4- "Fiquei magoada pois acho que ele não devia ter misturado as duas situações." 5- "É um rancoroso, vingativo, um egoísta. Só pensa nele." 5- "Quando ele está bem comigo, até é uma pessoa muito generosa e preocupada." 6- "Quando forem os anos dele, também me vou "esquecer"! 6- "Gostava que, quando ele fica ofendido comigo, o dissesse em vez de o mostrar com gestos. E eu vou controlar-me mais nas discussões. E aprender a pedir desculpa..." Viste como é que se faz?! Já sabes, para a próxima... Cuidados a ter: 1- Lembre-se sempre que, quando começar a contar a história, terá uma "tendência automática" para dar mais razão a si do que ao outro. 2- Tenha muito cuidado com a escolha das palavras que podem contaminar o seu racíocinio (evite palavras car- regadas de Juízos de Valor). 3- Desenvolva uma voz auto-crítica que verifique até que ponto está a ser isento quando narra um conflito. 4- Tenha sempre presente que, se não comunicar adequa- damente o que espera do outro, não lhe deve exigir ou censurar por não o ter feito. Se não comunicar as suas expectativas, elas não são uma realidade para o outro. 5- Se não compreender os motivos do seu interlocu- tor e se o comportamento dele não lhe fizer sentido, evite "saltar" imediatamente para a explicação fácil: "é porque ele/a tem aquele defeito". Opte por reconhecer que "não sei o que o/a levou a agir assim." 6- Acima de tudo, lembre-se que defender o seu ponto de vista não é necessariamente proteger os seus interesses. Se colocar em causa o seu ponto-de-vista e aspectos da sua maneira de ser, está a salvaguardar a sua relação com amigos, familares e colegas dos quais depende largamente o seu bem-estar. �7Relações Interpessoais e Comunicação A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Isto implica mudar todos os meus fusíveis! Exercício 3.2. - Crie um discurso alternativo e adequa- do para narrar este conflito A INFLUÊNCIA DO jUÍZO DE VALOR Relações Interpessoais e Comunicação �� Discurso Comum Discurso Alternativo 1- "A Luísa aborreceu-se comigo porque ela não suporta que eu a critique. Se ela não fizesse tantos erros, eu não necessitava de dizer nada..." 2- "Eu só quero que ela melhore. Critico-a por que me importo com ela e sou sua amiga..." 3- "Tudo bem que eu posso ter falado com um tom brusco, mas às vezes também perco a paciência com ela!" 4- "Pois, fez uma "cena", amuou comigo e ainda me deixou nervosa para o resto do dia!" 5- "É uma "florzinha-de- estufa", não se pode dizer nada!" 6- "Se é assim que ela me "agradece" quando lhe faço críticas, para a próxima não lhe digo nada!" EXERCÍCIO A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Capítulo 4 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Identificar as diferenças entre os conceitos de "Culpa" e "Responsabilidade"; Enumerar as vantagens de uma Avaliação de Responsabilidade para as Relações Interpessoais; Relacionar os 5 Critérios de Avaliação de Responsabilidade com situações do quotidiano profissional e pessoal; Seleccionar os Critérios de Responsabilidade mais adequados à avaliação de uma dada situação. 4.1. A "CULPA" E A "RESPONSABILIDADE" Quando está em causa sermos culpados / acusados de algo (e portanto de um defeito ou de uma falta de quali- dade da nossa pessoa), tendemos a não reconhecer os nossos erros e "empurrar a culpa" para outro. • • • • A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Relações Interpessoais e Comunicação �0 A culpa é vivida inter- namente de uma forma ansiosa e "paralisante", pois pomos em causa a nossa pessoa; assim, não conduz a nenhuma acção objectiva para reparar ou melhorar a situação em causa. Sou culpado! Exemplo O Vítor sem querer dá um toque num copo, este cai ao chão e parte-se. O pai ralha: "Já partiste o copo! És um desastrado!" O Vítor responde: "ora, tu é que tens a culpa! Puseste o copo mesmo na beira da mesa!" Numa perspectiva de avaliação de responsabilidade, existem duas premissas básicas: 1- Tem-se em atenção os comportamentos e não as pessoas (Ex.: a pessoa mentiu, em vez de a pessoa é mentirosa); 2- Uma situação é o resultado de uma cadeia de acontecimentos que estão interligados, e os vários intervenientes contribuem todos para o resultado final- visão de partilha de responsabilidades (em vez de haver apenas "um que tem a culpa"). A avaliação em termos de responsabilidade aumenta a probabilidade de haver mudança de comportamentos, pois a pessoa sente que "fez um erro", e não que "é errada". Neste sentido, devem-se fazer críticas baseadas na responsabilidade e não na culpa (Ex.: em vez de dizer "És um desastrado, dizer "Deves ter mais cuidado"). 4.2. A AVALIAÇÃO DA RESPONSABILIDADE A responsabilidade individual de cada interveniente numa situação é apurada com base nos seguintes 5 critérios: �1Relações Interpessoais e Comunicação A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Maior Objectividade Maior Complexidade Critério n.º 1: como é que o comportamento de cada um (por presença ou ausência) contribuiu de forma directa/ indirecta para o desenlace da situação; Exemplo 1.1. (por presença) O Zé partiu uma jarra que o Vasco tinha colocado à beira da mesa. O Zé é mais responsável pois foi ele que teve a acção determinante (directa) para a jarra se partir. O Vas- co também é responsável na medida em que contribuiu de forma indirecta (colocou a jarra numa posição de risco). Exemplo 1.2. (por ausência) Numa discussão sobre o tema para um trabalho, o grupo toma uma decisão inadequada. O João não concordava e manteve-se calado. É também responsável porque não argumentou para evitar que tal acontecesse. Critério n.º 2: a liberdade de escolha que o indivíduo tinha (atéque ponto as circunstâncias "forçaram-no" a agir); Exemplo 2 A Rita convidou o Miguel para o seu jantar de aniversário. O Miguel disse que ia, mas não apareceu, nem avisou que não ia. Este tinha recebido um telefonema urgente a infor- mar que um familiar tinha tido um problema de saúde. A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Relações Interpessoais e Comunicação �� " A r e a l i d a d e q u a n t o ma is comp lexa , ma is completa é." Fernando Pessoa E u t a m b é m s o u responsável. Podia não ter comido o isco... Critério n.º 3: quais as alternativas que o indivíduo dis- punha (avaliar os seus recursos); Exemplo 3 Um grupo de turistas ingleses perdeu-se por causa das instruções incorrectas do Miguel. Este não sabe falar bem inglês (não tinha este recurso), mas podia ter utilizado o mapa da cidade para apontar o caminho ou ter dito que não conseguia responder (tinha 2 recursos que não usou). Critério n.º 4: Tem-se em conta até que ponto outra pes- soa na mesma situação agiria de outro modo; Exemplo 4 Um colega acabou de ser informado que ia ser despedi- do, e tem um ataque de cólera e rasga uns papéis impor- tantes. A maior parte das pessoas teria provavelmente uma reacção diferente e mais adequada. Critério n.º 5: Avalia-se a responsabilidade em termos de probabilidades e não de certezas (pois a informação disponível está sempre incompleta e é falível). Exemplo 5 Com base na informação disponível, concluiu-se que um segurança era provavelmente responsável pelo roubo de uma sala do departamento. Mas, mais tarde, veio a desco- brir-se que a responsabilidade maior era de um colega que se tinha esquecido de ligar o alarme. ��Relações Interpessoais e Comunicação A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL A responsabilidade dá muito trabalho! A culpa é mais fácil... Os 5 critérios de avaliação da responsabilidade não são igualmente relevantes e úteis em todas as situações. Ve- jamos esta situação… Situação Um colaborador tem de fazer relatórios regularmente, e o seu chefe tem de os rever e corrigir se necessário. Veri- fica-se que o colaborador recebe os seus relatórios cada vez mais rasurados a vermelho, e o chefe recebe cada vez mais relatórios que o deixam insatisfeito. Avaliação em termos de culpa: "O chefe é o culpado pois é prepotente e anti-pedagógico" ou "O colaborador é o culpado pois é incompetente e pou- co perseverante". Avaliação em termos de responsabiliade: O colaborador é responsável na medida em que: contribuiu directamente para o problema pois entregou gradualmente relatórios de pior qualidade (presença). não teve a iniciativa de ter um diálogo esclarecedor com o chefe (ausência). O chefe é responsável na medida em que: contribuiu directamente para o problema pois corrigiu de forma pouco pedagógica - rasurou a vermelho (presença). não deu inicialmente instruções, não soube elogiar os aspectos mais positivos e não teve a iniciativa de ter um diálogo reparador (ausência). • • • • A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Relações Interpessoais e Comunicação �� Aplicação do Critério n.º 1 para a Avaliação de Responsabilidade. Considera-se que o chefe é provavelmente mais responsável (é apenas uma hipótese, dada a escassez de informação). Julga-se que outro chefe, no seu lugar, teria um desempenho mais adequado às suas funções. Exercício 4.1. Relacione as seguintes situações com cada um dos 5 cri- térios de avaliação de responsabilidade: A- O Nuno insultou o Paulo, que lhe deu um estalo.O Paulo diz que a responsabilidade é do Nuno, pois ele provo- cou-o primeiro. B- A mulher queixa-se que o marido gastou mal o dinheiro dos dois e arranjou muitas dívidas. Ela tinha encarregue o marido da gestão financeira, e por isso não sabia de nada. C- O Manuel fica aborrecido por o Nuno não lhe ter dito directamente o que pensava e ter estado com rodeios. Esquece-se que o Nuno não consegue fazer isso com ninguém, pois é muito tímido. D- São vários os casos de pessoas condenadas à pena de morte, que mais tarde se vem a provar que eram inocentes. E- A Júlia está muito aborrecida com o filho, pois ele já lhe devia ter ligado a dizer que chegou bem da viagem. Acontece que ele está num sítio onde não tem rede. ��Relações Interpessoais e Comunicação A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Aplicação dos critérios n.º 4 e n.º 5 para a Ava- liação de Responsabili- dade. EXERCÍCIOS Exercício 4.2. Dê a sua opinão em termos de responsabilidade de cada uma das partes envolvidas: Um chefe pede a um colaborador a realização de uma tarefa. O colaborador não concorda, diz que vai fazer mas depois "esquece-se". Como o chefe também não voltou a falar no assunto, o colaborador convenceu-se que ele tinha esquecido o assunto. Passados meses, o chefe dá uma avaliação formal de de- sempenho negativa a este colaborador com base nesse "esquecimento". 4.3. O DESENVOLVIMENTO MORAL "Há mar e mar, há ir e voltar" Alexandre O´Neill Ser responsável deriva da premissa que todos os nossos comportamentos são escolhas nossas, pelo que temos de prever e assumir as consequências dos nossos actos. Como diz a frase do poeta, quando optamos por nos afastar e nadar para mais longe, devemos pensar nas consequências (se vamos ter força para nadar de volta). Exemplo 1 O Luís opta por sair mais cedo de uma festa de forma a poder levantar-se cedo no dia seguinte e acabar um projecto. A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Relações Interpessoais e Comunicação �� Mas se f izer algo incor rec to e n in- guém souber, já não há problema, certo?! O desenvolvimento moral relaciona-se com uma prática responsável na medida em que quando alguém escolhe a forma como vai agir, deve ter em conta as consequências que o seu comportamento vai ter nos outros. Exemplo 2 Um colega tem um determinado prazo para enviar o relatório para ser fotocopiado. Como ele se atrasou, es- colhe entregar o relatório mais tarde e ser ele a tirar as cópias, para não prejudicar terceiros pela sua opção. Um desenvolvimento moral superior relaciona-se com a capacidade de agir de forma reflectida tendo como base o maior bem para o maior número de pessoas (e não apenas o interesse próprio ou das pessoas próximas). Exemplo 3 Um grupo está desmotivado para a aprendizagem e o for- mador sabe que, se proposer apenas exercícios ligeiros e divertidos, terá o seu trabalho facilitado e a avaliação final que os formandos irão fazer do seu desempenho será positiva. No entanto, opta por arriscar e motivá-los para a aprendizagem porque entende que é para o bem de to- dos. Mas o conceito de bem e mal não é fácil de definir... A maioria de nós pode concordar na adopção de um código de valores como a verdade, amor, altruísmo, respeito e liberdade, mas já será difícil obter consenso quanto à sua aplicação prática e concreta. �7Relações Interpessoais e Comunicação A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL O mesmo comportamento é visto por pessoas diferentes como significando valores diferentes ou opostos. Exemplo 4 Colaborador: "Devia ter acompanhado melhor o trabalho da sua equipa, em vez de simplesmente agora pedir justificações pelos maus resultados! Assim não resulta..." Chefe: "…Do meu trabalho, percebo eu! Veja lá se res- peita isso! Já cá estou há mais anos!" Colaborador: "Queria só dizer-lhe o que penso porque respeito o seu trabalho!" Por outro lado, para a mesma pessoa, um comportamento num dado contexto é visto com um significado, en- quanto que noutro pode ter o significado oposto. Exemplo 5 A Isabel trata um colega novo por "você" como sinal de res- peito; e passou a tratar por "você" um colega antigo a quem costumava tratar por "tu", como sinal de estar ofendida. A aplicação dos nossos valores nas situações concretas implica: 1- hierarquização dos vários valores envolvidos: Ser altruísta é agir sempre em função do bem dos outros, mesmo quando se é explorado? Ser verdadeiro é dizer sempre a verdade, mesmoque se magoe os outros e se ponha em causa o trabalho de equipa? • • A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL Relações Interpessoais e Comunicação �� Ele é mesmo boa p e s s o a ! ! P o d e m "p isá- lo" que e le nunca se queixa! Nunca arranja con- flitos... Só é possível discut ir caso a caso, e devem- - s e e v i t a r m á x i m a s , frases feitas e discursos genéricos de defesa de valores. 2- coordenação de vários pontos-de-vista: Ser justo implica dar uma promoção a X, mesmo quando Y também merece (e só se pode promover um)? Exercício 4.3. Comente à luz dos conceitos de Prática Responsável/ Desenvolvimento Moral: 1- A D. Maria sacode frequentemente a toalha à janela, e o lixo vai parar às varandas dos vizinhos de baixo. 2- O João gastou o ordenado em livros e Cds, e ficou sem dinheiro para pagar a prestação da casa ao banco. 3- A Joana fica irritada com a falta de respeito dos seus convidados, pois atrasaram-se 30m face à hora combi- nada para jantar. Estes julgaram que "era de bom-tom" não chegar a horas. 4- O Bruno falta ao compromisso com os seus colegas, porque a sua esposa está a precisar da sua compan- hia. 5- A Esmeralda costuma dar esmola aos pedintes, mas nunca dá às mães com bébé ao colo que mendigam. 6- O Ricardo é sempre verdadeiro, mas mentiu quando lhe perguntaram se sabia o que se passava com a Teresa. Tinha prometido a esta segredo. • ��Relações Interpessoais e Comunicação A PRÁTICA DE UMA ATITUDE RESPONSÁVEL EXERCÍCIO Relações Interpessoais e Comunicação �0 A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Capítulo 5 A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Reconhecer a importância da comunicação não- verbal enquanto "veículo de emoções"; Compreender o efeito de dominância da mensagem não-verbal sob a verbal, em caso de inconsistência entre ambas; Identificar a dificuldade da interpretação objectiva da comunicação não-verbal e as respectivas consequências para as relações interpessoais; Compreender que o domínio dos estilos de comunicação é uma questão de flexibilidade, e não de personalidade; Definir para cada estilo de comunicação as vantagens, desvantagens, características da comunicação verbal e não-verbal; Aplicar os estilos de comunicação a situações do quotidiano profissional e pessoal; Reconhecer a importância da assertividade na expressão de sentimentos nas relações de maior proximidade afectiva. 5.1. A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL A comunicação não-verbal é muitas vezes desvalorizada e, no entanto, sobrepõe-se ao discurso verbal e tem o poder de distorcer ou anular por completo a mensagem oral. Chama-se comunicação não-verbal à forma como comu- nicamos um dado conteúdo. • • • • • • • Relações Interpessoais e Comunicação �� Ex.: Dar notícias infelizes com um ar feliz. Vão fazer ventos ciclónicos... ��Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR A forma como comunicamos com a voz, corpo e ex- pressão facial é a que traduz de modo mais fiel as nos- sas emoções; se porventura conseguimos manipular com facilidade as palavras com que nos exprimimos (de forma, a por vezes, omitir o ponto-de-vista verdadeiro), é mais difícil esconder as nossas emoções ou conseguir mostrar sentimentos que não são reais (ex.: o caso do famoso "sorriso amarelo"). No entanto, apesar da sua importância, a informação emo- cional que retiramos da outra pessoa não é frequentemente processada a nível verbal. Num dado momento, detecta- mos um sinal não-verbal, num outro podemos inclusive reagir "automaticamente", mas não dizemos na altura a nós próprios o que esse sinal significa em palavras (i.e., não há tradução da informação não-verbal em verbal), e rapidamente esse sinal é esquecido. Exemplo 1 Um chefe deu-se conta de que achava que um seu colaborador era submisso, mas não sabia porque é que tinha essa impressão. Depois de muito pensar, lembrou- se de repente: sempre que este senhor o cumprimentava, apertava-lhe a mão e fazia uma ligeira vénia! No caso de haver inconsistências entre a mensagem verbal e a não-verbal (contradição entre o significado da mensagem verbal e não-verbal), há uma tendência para uma sobreposição da última sobre a primeira; ou seja, no caso de mensagem verbal versus não-verbal, o re- sultado é "ganhar" a mensagem não-verbal. ��Relações Interpessoais e Comunicação Desenvo lver a nossa "Inteligência Emocional" ajuda-nos a conseguir estar atentos simulta- neamente aos sinais ver- bais e não-verbais que recebemos numa inter- acção social. A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Exemplo 2 1- Um chefe que dá ordens, mas com um tom de voz baixo e interrogativo que soa a um "pedido". Resultado: vê-se muitas vezes desobedecido sem compreender porquê. 2- O formador que começa a formação a explicar "como a acção vai ser divertida", mas com um olhar distante e postura estática. Resultado: os formandos parecem abor- recidos e não participam. 3- A amiga diz "fico feliz por ti", mas com um tom de voz irónico e uma expressão facial tensa, quando a outra ami- ga lhe conta que conseguiu emprego. Resultado: esta re- solve mudar de assunto. Uma dificuldade da comunicação não-verbal é o facto de também dar azo a mal-entendidos e a interpretações di- versas; o significado de um gesto ou expressão facial pode ser muito diverso em função do contexto; uma expressão facial séria e contida pode ser sinal de: 1- aborrecimento e desinteresse (ex.: contexto de um formando numa acção de formação); 2- ansiedade e insegurança (ex.: contexto de um candidato numa entrevista de selecção de emprego); 3- zanga e revolta (ex.: contexto de um cliente que pede o livro de reclamações num restaurante). Relações Interpessoais e Comunicação �� Parece contrariada! O melhor é nem agradecer o café... ��Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Exemplo 3 Uma amiga queixa-se de que as pessoas são muito indi- vidualistas e que se perdeu o valor da amizade. Amigo: Mas porque dizes isso? Amiga: Fui passar um fim-de-semana a um hotél do qual sou cliente habitual, e sempre pensei que podia travar conhecimentos e fazer algumas amizades. Amigo: E já estou a ver que tal não aconteceu! Mas tu se calhar não tiveste nenhuma iniciativa nesse sentido...? Amiga: Aí é que te enganas! Várias vezes me aproximei de um grupo de pessoas a ver se me convidavam para ir passear com elas. Amigo: Mas disseste alguma coisa? Amiga: Sim, cumprimentei-os com "Bom dia". Amigo:...Não disseste mais nada? Amiga: Não era preciso!! Então, não se percebia que a razão de me aproximar deles seria querer ir com eles? De qualquer forma, não teria coragem para tanto! Nervosa já estava eu... Amigo: Pois, já estou a ver: quando ficas nervosa e in- segura, não queres mostrar isso aos outros, e ficas com aquele ar sério e semblante arrogante. E com a tua roupa muito formal, deves ter parecido a... Margaret Thatcher!! Amiga: Achas?! Bem, eles fugiram de mim a "sete pés".... Por vezes, achamos que estamos a transmitir um sinal não-verbal que é claro para os outros (i.e. como vivemos tão intensamente um sentimento, deduzimos que ele é evi- dente aos olhos de terceiros), quando na realidade a men- sagem captada é oposta à que queremos transmitir. Convém ter sempre presente a forma como os outros re- agiram a essa mensagem, pois essa informação pode dar- nos o "espelho de nós próprios". ��Relações Interpessoais e Comunicação Uma mensagem não- verbal pode ser inter- pretada como "arrogância e indi ferença" quando o seu significado real é o desejo de conhecer o outro, combinado com medo de rejeição! Não sei porque é que n inguém me leva a sério?! A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� 5.2. O DOMÍNIO DOS ESTILOS DE COMUNICAÇÃO Os estilos de comunicação relacionam-se com a forma que escolhemos para exprimirmos o nossoponto-de- -vista. Podemos fazê-lo de uma forma: 1- directa (de forma explícita) ou indirecta (de forma implícita e que dá lugar a várias interpretações); 2- diplomática (expressar o ponto-de-vista próprio e respeitar que o outro tenha um diferente) ou persuasiva (procurar convencer o outro a adoptar o nosso próprio ponto-de-vista). A combinação destes critérios gera os 3 estilos de comunicação: Relações Interpessoais e Comunicação �� " S e j a v o c ê m e s m o , mas não seja sempre o mesmo." Gabriel, "o Pensador" Forma de Expressão de um Ponto-de- -Vista Diplomática Persuasiva Directa Assertivo Agressivo Indirecta Passivo (Geral) Passivo (Manipulador) �7Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Pretende-se que saiba utilizar os 3 estilos de comunica- ção, pois todos podem ser-lhe úteis; no entanto, na maio- ria das situações, deverá utilizar o estilo assertivo (*). Mas, de forma a estar sempre adequado às diferentes situa- ções (inclusive àquelas que fazem parte de uma minoria e que pedem uma resposta mais "excepcional") é importante adquirir domínio dos vários estilos de comunicação. É uma questão de flexibilidade, e não de estilo de personalidade. �7Relações Interpessoais e Comunicação ( * ) Ex i s tem mode los que defendem que se deve utilizar só o estilo assertivo. No modelo desta autora, utilizam-se redefinições do estilo passivo e agres- sivo que os tornam úteis numa minoria de situa- ções. Estas redefinições tornam estes estilos mais asserti- vos, no sentido de mais adequados. D e f e n d e - s e q u e n e n h u m d o s e s t i l o s é o b r i g a t o r i a m e n t e negativo; tudo depende do uso que lhes é dado, ou seja, da adequação do estilo de comunicação à situação em causa. -"Não gosto de conflitos, o meu feitio não permite que eu seja agressivo!" -"Eu digo sempre aquilo que penso, não consigo ser passivo!" -"Quem é assertivo, acerta pouco! De tanto escolher as palavras para dizer, soa-se a falso. Eu sou muito natural para ser assertivo!" -"Não tem de se ser uma pessoa conflituosa para se ser agressivo"!" -"Dizer sempre aquilo que se pensa não é necessariamente uma virtude!" -"Pensar duas vezes antes de falar é uma questão de treino. Com o tempo, começa a ser deixar de ser artificial." Objecções comuns aos vários estilos Pensamentos alternativos A p e s a r d e c a d a u m ter um est i lo pessoal, u s a m o s u m e s t i l o casual, desportivo, ou de cerimónia em função da ocasião. Apesar de cada um ter a sua persona l idade, devemos usar (“vestir”) um estilo de comunicação (ou uma m is tu ra de estilos) adequada a cada situação. A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Existem estereótipos populares para cada estilo que cor- respondem às suas utilizações incorrectas: 1- o estilo agressivo é usualmente o mais mal- visto pois está associado a pessoas conflituosas, arrogantes, ofensivas e egocêntricas; 2- o estilo passivo está associado a pessoas submissas e inseguras; 3- o estilo assertivo, por ser menos utilizado, não é tão estereotipado; ainda assim, às vezes é associado às pessoas muito elaboradas na sua comunicação ou demasiado formais para a situação em causa. ESTILO PASSIVO Quando se expressa o ponto-de-vista de forma indirecta e diplomática; ou indirecta e persuasiva (vertente manipulador). Utilização Adequada: É útil em situações em que, por prudência, reserva, ou de- sejo de escutar o outro, prefira não expôr (explicitamente) o seu ponto-de-vista. Pode também ser utilizado quando se quer convencer de forma implícita os outros a agir de acordo com a nossa vontade (vertente manipulador). Utilização Inadequada: Resulta numa atitude de submissão, insegurança, desres- ponsabilização, vitimização ou manipulação negativa. Relações Interpessoais e Comunicação �� OutroEu Passivo Utilização dos espaços de comunicação Só lhe passo o bisturi se for assertivo comigo! ��Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Modalidades da Comunicação Verbal: 1- Usam-se frases enigmáticas e evasivas (por vezes inacabadas e na 3ª pessoa), 2- Defendem-se dois pontos-de-vista diferentes, de forma a não se comprometer com nenhum deles, ou a manipular; 3- Desvia-se a atenção para outro aspecto ou assunto; 4- Usam-se provérbios, comentários sarcásticos e irónicos. Nota: veja na barra lateral exemplos de cada modalidade Características da Comunicação Não-Verbal: Tom de voz baixo e pausado, poucos gestos, postura cor- poral curvada, contacto visual mal estabelecido, poucas expressões faciais. ESTILO ASSERTIVO quando se expressa de forma directa e diplomática o ponto-de-vista. Utilização Adequada: É útil na maioria das situações em que é necessário esta- belecer um bom diálogo com o interlocutor. Utilização Inadequada: Quando mal utilizado, pode resultar numa atitude exces- sivamente diplomática e pouco genuína. ��Relações Interpessoais e Comunicação Numa reunião de con- domínio em que os "âni- mos estão ao rubro" , os vizinhos não querem fazer obras. Você não concorda. E x e m p l o d a s v á r i a s m o d a l i d a d e s d e respostas passivas: 1-"se a maioria entende que deve ser assim..." 2- " pois as obras dão trabalho e são caras ...mas cada vez vão ficar mais caras..." 3-"Se calhar é melhor decidir na próxima reu- nião, quando estiver- mos todos." 4 - " N ã o a d i e s p a r a amanhã o que podes fazer hoje!" A resposta 3 pode ser mais adequada, pois pro- cura adiar a decisão e assim ganhar tempo. Utilização dos espaços de comunicação Assertivo Diálogo Eu Outro A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �0 Modalidades da Comunicação Verbal: 1- Fala-se na primeira pessoa (Eu), é-se claro e objectivo a dizer o que pensamos e queremos do outro, mas sempre sob a forma de um pedido (tom colaborativo); 2- Procura ser-se relativo e valorizar a nossa perspectiva, sem diminuir outras; 3- Valoriza-se a opinião do outro, mas critica-se de forma construtiva (usa-se um discurso elaborado e "cirúrgico"). Nota: veja na barra lateral exemplos de cada modalidade. Características da Comunicação Não-Verbal: Contacto visual bem estabelecido, postura corporal direita, gestos afáveis, tom de voz bem colocado e audível, expressões faciais vivas. ESTILO AGRESSIVO Quando se expressa de forma directa e persuasiva o pon- to-de-vista. Utilização Adequada: É útil nas situações em que queira impôr limites impor- tantes à actuação de terceiros, que não pretenda ver dis- cutidos ou relativizados. Relações Interpessoais e Comunicação �0 Na aula, um aluno diz "Es ta matér ia é uma seca!". Exemplos das vár ias modalidades de respos- tas assertivas do profes- sor: 1- "Eu compreendo que não gostes, mas gostava que te esforçasses por ver como é importante". 2- "Já vi que tens outra opinião, mas eu acho a matéria interessante!" 3- "Gosto que dês a tua opinião, mas para a próxima, prefiro que digas "não gosto desta matéria." A resposta 1 é adequada porque reforça a relação com o aluno; a resposta 3 porque o educa a criti- car, mas sem o "mandar calar". Utilização dos espaços de comunicação Eu Outro Agressivo �1Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Utilização Inadequada: Quando mal utilizado, pode resultar numa atitude demasiado autoritária, ofensiva ou egocêntrica. Modalidades da Comunicação Verbal: 1- Critica-se a perspectiva do outro com um tom acusatório (fala-se na 2ª pessoa do singular); 2- Diz-se o que queremos do outro de forma exigente/ autoritária (usam-se frases mais curtas e directas); 3- Fazem-se afirmações absolutas (são "certezas"; usa-se a 3ª pessoa do singular) e pode ser-se muito argumentativo (ex: recorre-se a factos), eloquente ou dramático; 4- Ameaça-se com represálias ou consequências negativas. Nota: veja na barralateral exemplos de cada modalidade. Características da Comunicação Não-Verbal: Contacto visual bem estabelecido (por vezes, intimidante), expressões faciais muito enfáticas, gestos aparatosos, voz bem colocada e ritmo de discurso acelerado. �1Relações Interpessoais e Comunicação Um colega seu chega s e m p r e a t r a s a d o , o que o prejudica a si. Já falou com ele de forma assertiva, mas ele não mudou o comportamento! E x e m p l o d a s v á r i a s modalidades de respos- tas agressivas: 1-"Estás a prejudicar-me com os atrasos!" 2- "Vais ter de começar a chegar a horas!" 3-"Este teu comporta- mento não é correcto! Já pensaste se todos os colegas fizessem como tu?!" 4- "Se não alterares o teu comportamento, vou ser forçado a relatar esta situação! " Nota: a resposta 4 pode ser adequada, pois apela às consequências de ter ultrapassado um limite importante. A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Vamos comparar os estilos de comunicação dois a dois, de forma a ver as diferenças na construção das frases: Relações Interpessoais e Comunicação �� 1- "Pois, há vantagens e desvantagens em qualquer das opções…" 2- Algumas opções são boas para quem não pede muito da vida... 3- "Sim, claro que podes sair. Eu fico bem sozinha...": 1- "Tenho dúvidas sobre a decisão a tomar." 2- "Acho que a tua opção revela que às vezes podias ser mais exigente." 3- "Preferia que não saísses, pois vou ficar sozinha." FRASES PASSIVAS FRASES ASSERTIVAS 1- "A proposta não está actualizada." 2- "Apanha o copo que deixaste cair!" 3- "Tu desiludiste- me!" FRASES AGRESSIVAS FRASES ASSERTIVAS 1- "Acho que a proposta não está actualizada." 2- "Gostava que apanhasses o copo!" 3- "Eu sinto-me desiludida com o teu comportamento!" Se eu estiver a dizer as coisas como elas são, es tou a ser agressivo...?! ��Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Estes foram alguns exemplos de como se pode "passar" de um estilo para outro, em que se salientam as diferenças nas frases utilizadas (de acordo com as pág. 58-61). Outro aspecto a considerar é que os estilos de comunicação podem ser aplicados na expressão de 3 tipos diferentes de ponto-de-vista: 1- na expressão de opinião; 2- na expressão de direitos; 3- na expressão de sentimentos. ��Relações Interpessoais e Comunicação 1- “Diz o roto ao nú!” 2- “Da próxima vez espero que tudo corra melhor.” 3- “Talvez amarelo fique bem...” 1- "Tu não podes falar de mim, pois não estás em melhor posição!" 2- "Espero que da próxima vez faças melhor!" 3- "O amarelo é a melhor opção!" FRASES PASSIVAS FRASES AGRESSIVAS A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Vejamos exemplos para cada tipo de ponto-de-vista: Exemplo 1 (na expressão de opinião) Situação: Discussão com colegas sobre adiar a entrega de um trabalho Passivo: "Não sei bem o que será melhor, há vantagens e desvantagens..." Assertivo: "Não concordo convosco, julgo que o melhor será adiar porque…" Agressivo: "É um erro não adiar o trabalho!" Exemplo 2 (na defesa de direitos) Situação: Reclamação na loja Passivo: "Este artigo tem defeito…" Assertivo: "Gostaria que trocasse este artigo por outro, uma vez que este tem defeito." Agressivo: "Troque este artigo por outro em condições, por favor. Vendeu-me este com defeito!" Exemplo 3 (na expressão de sentimentos) Situação: Um colega faz um comentário sarcástico so- bre o seu ritmo lento de trabalho Passivo: "Mais vale devagar, mas bem feito…" Assertivo: "Fico nervoso quando me pressionam para tra- balhar mais rápido. Prefiro que não me digas nada." Agressivo: "Estás a enervar-me! Pára com isso!" Relações Interpessoais e Comunicação �� ... isto com exem- plos, já se digere melhor! ��Relações Interpessoais e Comunicação A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR A assertividade ao nível da expressão de sentimentos é importante nas relações de maior intimidade, nas quais é mais difícil ser posta em prática. Consiste em: 1- apropriarmo-nos de todos os nossos sentimentos numa dada situação (desejos, mágoas, dúvidas, insatis- fações...); 2- conseguir traduzi-los em palavras (e não em acções); 3- falar apenas a partir da nossa perspectiva (Ex. dizer "Eu sinto a falta de", em vez de "Tu não me dás..."). Versão I (Passivo/Agressivo na expressão de senti- mentos) Marido (chega a casa): Olá, que tal foi o teu dia hoje? Mulher (tom irónico): Óóóóptimo! Marido: Mas aconteceu alguma coisa de especial? Mulher (olha-o nos olhos, zangada): O problema é esse, é que não aconteceu nada de especial. Nem hoje, nem nunca. Marido: Já estou ver que estás insuportável! Mulher (em tom elevado): E tu és insensível! Versão II (Assertivo na expressão de sentimentos) Mulher: Olha, para mim é difícil ter esta conversa. Estou muito zangada contigo, pois esqueceste-te... Marido: …Já viste as flores que te deixei em cima da mesa? Mulher: O quê?! Então, não te esqueceste! Agora sinto- me um bocado parva, pois estive o dia triste sem neces- sidade... Marido: Pronto, mas agora sabes que está tudo bem! ��Relações Interpessoais e Comunicação Aumenta a probalidade d e h a v e r t r o c a d e acusações, conflitos não- resolvidos e deterioração da relação. Aumenta a probalidade de have r compreen - são mútua e resolução do conflito com vista ao melhoramento da rela- ção. A CIÊNCIA DE BEM COMUNICAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Mulher: Mas não consigo passar por cima de tudo o que senti hoje! Eu preciso de mais estímulo, e menos rotina da tua parte. Eu sei que estou sempre a exigir mais... Exercício 5.1. 1- Diga se as seguintes situações são uma situação de expressão de Direito, Opinião ou Sentimentos; 2 - Dê exemplo para cada situação de uma resposta passiva, assertiva e agressiva. 1- Está na fila para pagar o IRS há 2 horas, e quando chega a sua vez, alguém lhe passa à frente. 2- Você elogia bastante o seu parceiro/parceira, mas ele/ ela nunca o elogia a si. 3- O seu irmão comprou um fato para ele que você não gosta. 4- Um amigo seu contou a outros uma confidência que você lhe tinha feito. 5- Os seus colegas são a favor de aderir à greve, mas você tem a opinião contrária. 6- No avião, alguém está sentado no seu lugar. Relações Interpessoais e Comunicação �� EXERCÍCIO A ARTE DE SABER MOTIVAR Capítulo 6 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Relacionar o auto-conhecimento com a crítica; Reconhecer a importância de se desenvolver uma atitude receptiva à crítica de terceiros; Reconhecer a importância de ter um repertório comportamental rico e diversificado para se conseguir motivar os outros; Reconhecer formas adequadas de elogiar os outros; Adoptar um tom colaborativo nas interacções interpessoais; Desenvolver uma crítica construtiva. 6.1. O AUTO-CONHECIMENTO E A CRÍTICA Desenvolver o nosso auto-conhecimento implica ir actuali- zando a "nossa teoria sobre nós próprios" à medida que vamos passando por várias experiências de vida, que nos mostram a nossa forma particular de reagir. O auto-conhecimento é uma variável essencial nas rela- ções interpessoais, sem o qual não temos controlo sobre as nossas reacções nem sobre o impacto que criamos no outro. A maior fonte de auto-conhecimento é o feedback (em particular, a crítica) que recebemos dos outros sobre nós. • • • • • • A ARTE DE SABER MOTIVAR Relações Interpessoais e Comunicação �� Chamam-me "múmia", não devo ser muito divertido... Quadro 1.1. Pensamentos Comuns de Reacção à Crítica 1- "Isso só prova que tu não me conheces!" 2- "Dizes isso porque sempre tiveste a vida facilitada, nun- ca tiveste os problemas que eu tive." 3- "Eu não sou demasiado exigente, tu é que não te preo- cupas com as coisas serem bem feitas!" Se reagirmos de forma positiva, há maior probabilidade de enriquecermos o nosso auto-conhecimento. Quadro 1.2. Alternativa aos Pensamentos Comuns 1- "Podes conhecerum lado da minha personalidade (que se calhar eu conheço mal) mesmo que não me co- nheças há muito tempo." 2- "Posso ter em conta a tua opinião mesmo que não tenhas os mesmos problemas/vida que eu." 3- "Posso dar-te ouvidos mesmo que sejas muito diferente de mim (aliás, ainda é mais útil neste caso)." Para aumentar a probalidade de os outros nos criticarem (para eles se sentirem mais "à-vontade" em fazê-lo), con- vém dar alguns sinais em como estamos receptivos: 1- evite falar das suas decisões, trabalho ou de si próprio de uma forma apenas positiva e segura (mostrar dúvidas); 2- critique-se a si próprio antes dos outros o fazerem (ex.: a partir da leitura do feedback não-verbal) 3- pergunte se os outros discordam de si, em vez do contrário (atenção aos tiques de linguagem: muitas vezes terminamos as frases, com "...está bem?", "..., compreendes?!", "..., certo?!"). ��Relações Interpessoais e Comunicação A ARTE DE SABER MOTIVAR P o r v e z e s , q u a n d o recebemos uma crítica, esta é vista como um alerta e ameaça à nossa auto-estima. Faz-nos sentir insegu- ros e daí a necessidade de negar a validade da crít ica para diminuir o foco da ameaça. Exercício 6.1. Crie pensamentos alternativos aos seguintes (que deno- tam resistência à crítica): 1- "Pois, dizes que eu devia arriscar mais porque és mais nova do que eu. Quando tiveres a minha idade, vais pensar de forma diferente!" 2- "Estás a dizer que conduzo muito depressa porque és daqueles que "andam a pisar ovos!" 3- "Que disparate, eu nunca sou agressiva!… Se falares com alguém meu amigo, todos te vão dizer isso." Exercício 6.2. Transforme as frases seguintes de forma a mostrarem uma maior receptividade à crítica: 1- "Esta casa que eu comprei foi excelente, a melhor coisa que fiz na vida, não achas?" 2- "Toda a gente me diz que tenho feito um excelente tra- balho; e tu, também concordas?" 3- "A Maria no outro dia veio com uma conversa de que eu devia chegar mais a horas. Que descaramento! O que achas que ela queria dizer?" 6.2. A CAPACIDADE DE MOTIVAR OS OUTROS Por vezes, relacionamo-nos com as outras pessoas tendo em conta apenas as nossas características pessoais e pouco as da outra pessoa em particular. Tendemos a lidar com diferentes pessoas da mesma forma. A ARTE DE SABER MOTIVAR Relações Interpessoais e Comunicação 70 EXERCÍCIOS O objectivo é desenvolver um repertório comportamental rico e diversificado com diferentes soluções de comunicação e, por outro lado, escolher uma alternativa adequada à outra pessoa (com base na empatia). Exemplo 1 O Filipe é uma pessoa normalmente muito assertiva e que costuma dar sempre a sua opinião. Trabalha com o Pedro, que é mais rigoroso e inflexível no que toca a procedimen- tos e regras. Recebe um telefonema do Pedro: - "Não cumpriste com o protocolo de candidatura e vou ter de exigir que faças tudo de novo!" O Filipe acha que a atitude do Pedro é exagerada, mas sabe que, quando ele está inseguro, fica mais autoritário. E responde: - "Pois, realmente devia ter tido mais cuidado. Compreen- do que tenhas de tomar essa medida. Só estás a fazer o teu trabalho." O Pedro responde, com um tom de voz mais sereno: - "Pois, mas eu também sei que é aborrecido para ti. Eu ainda não tomei a decisão definitiva..." Relativamente a este exemplo, pode-se pensar que o Filipe não foi uma pessoa verdadeira pois não foi fiel ao seu ponto- de-vista; mas foi fiel ao seu desejo de querer manter uma boa relação com o Pedro e resolver o problema de trabalho! O nosso repertório comportamental, para além de incluir técnicas para desenvolver uma relação personalizada com a outra pessoa, deve incluir outras soluções essenciais para a motivar: 71Relações Interpessoais e Comunicação A ARTE DE SABER MOTIVAR Se não tivéssemos um repertório rico de soluções, não tería- mos ido tão longe! O Fil ipe optou por ser passivo e conseguiu ter uma actuação empática junto do Pedro, que assim reagiu de forma di fe- rente da habitual (mais flexível). 1- Saber elogiar. Os elogios devem ir além de dizer "Estiveste bem" ou "Gostei do teu trabalho", e concretizar aspectos específicos do trabalho, iniciativas, capacidade de empenho / esforço, ou a forma de estar da pessoa (ex.: "Achei que a tua ideia de dividir por pontos-chave foi óptima."; "Tu ajudas a criar bom ambiente no gabinete!"); 2- Pedir a opinião ou a ajuda à outra pessoa de forma a mostrar que ela é importante e útil; 3- Mostrar que teve em conta na sua forma de agir a opinião, interesses ou sentimentos do outro (ex: "Como gostas de música jazz, trouxe-te uns CDs."); 4- Dar as instruções / ordens em tom colaborativo. É mais provável que alguém nos "obedeça" quando formulamos uma ordem sob a forma de um pedido pois, quando se impõe uma forma de agir, o outro tende a resistir e a escolher a alternativa contrária. (ex.: veja-se a diferença entre "Podes apanhar o copo, se faz favor?" e "Apanha o copo."); 5- Criticar de forma construtiva. Deve-se criticar quando já existe uma relação de confiança entre as duas partes. A crítica construtiva implica: a) começar por dizer quais os aspectos a manter e depois aqueles a melhorar no desempenho da pessoa (ex.: "Acho que a tua apresentação foi muito completa e fundamentada, mas podias ser mais objectivo."); A ARTE DE SABER MOTIVAR Relações Interpessoais e Comunicação 7� Diz-se em África: "Deve-se dar uma pos- sibilidade de fuga ao leão pois se est iver encur- ralado, ataca. Mas se puder fugir, aproveita!". Deve-se também dar sempre a possibilidade de o ou t ro esco lhe r como va i ag i r ; caso contrário, aumentamos a probabil idade de ele resistir e "atacar". Os elogios são para os fracos!!! b) dar sugestões concretas para a pessoa melhorar o seu desempenho no futuro (ex.: "Podias fazer um resumo de ideias por tópicos."). Exercício 6.3. Reformule os seguintes "elogios": 1- A Joana estudou muito para o teste, e conseguiu levan- tar a nota para positiva. Quando soube, a mãe disse- -lhe: "Já sabia que ias conseguir, não és burra!" 2- O chefe diz ao colaborador, a propósito de um projec- to que levou meses a ser feito: "Gostei, estava muito bem!" 3- O Miguel comenta a peça de teatro com uma amiga, que fazia parte do elenco: "Gostei, foi interessante, enfim, foi diferente…" Exercício 6.4. Dê um tom colaborativo às seguintes frases: 1- "Acabas isso até amanhã, se faz favor!" 2- "O horário da loja é até às 19h. Faça favor de sair!" 3- "Volte a pôr isso no seu lugar. Isso não é oferta." 4- "O lixo não é para se deitar no chão. Apanha imediata- mente!" 7�Relações Interpessoais e Comunicação A ARTE DE SABER MOTIVAR EXERCÍCIOS Exercício 6.5. Desenvolva críticas construtivas para as seguintes situa- ções: 1- O seu marido/mulher resolveu levá-lo(a) a um restau- rante mexicano novo e não teve em conta que você de- testa comida mexicana. O objectivo dele era fazer-lhe uma surpresa. 2- O seu colega continua a entregar os trabalhos fora do prazo, embora, desde que lhe chamou a atenção, tenha diminuído o nº de dias de atraso. 3- Recebeu um relatório muito mal feito de um colaborador seu, e sabe que ele levou vários dias a fazê-lo. A ARTE DE SABER MOTIVAR Relações Interpessoais e Comunicação 7� A EMPATIA COMO "PONTE DE UNIÃO" Capítulo 7 OBjECTIVOS No final do capítulo deverá ser capaz de: Compreender o conceito de empatia; Enumerar as 3 vantagens principais da empatia; Identificar o potencial acrescido da empatia em relação às respostas comuns de "Animar", "Aconselhar" e "Repreender"; Aplicar a empatia a situações do quotidiano pessoal e profissional; Distinguir a compreensão da aceitação do comportamento de terceiros; Saber combinar a empatia com a assertividade para gerir situações interpessoais. 7.1. A COMUNICAÇÃO EMPÁTICA Por vezes, no nosso dia-a-dia, utilizamos a palavra empa- tia como um sinónimo de simpatia. Ex: "Eu empatizei logo com ele" (i.e. "Eu simpatizei
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