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DISTRIBUIÇÃO LEAN NA LOGÍSTICA E CADEIA DE SUPRIMENTOS Edmilson Rampazzo Klen G es tã o D IS T R IB U IÇ Ã O L E A N N A L O G ÍS T IC A E C A D E IA D E S U P R IM E N T O S E d m ils on R am p az zo K le n Este livro convida o leitor a entender melhor as parcerias e técnicas colabora- tivas que ocorrem entre empresas e que podem envolver consumidores. Para tanto, apresenta a fundamentação teórica do assunto e ilustra o tema com casos, projetos e o desenvolvimento de cenários em um ambiente de cocriação e coinovação de produtos. Baseando-se nas novas tendências comportamen- tais das organizações e dos consumidores, as quais viabilizam a concepção, o desenvolvimento e a implementação de atividades colaborativas, o livro foca na busca de uma cadeia de valor enxuta, com o objetivo de rever processos e melhorar a distribuição, por meio da execução de operações simplificadas e sem falhas nem desperdícios. Hwpfcèçq"Dkdnkqvgec"Pcekqpcn KUDP";9:/:7/5:9/84;5/7 9 7 8 8 5 3 8 7 6 2 9 3 5 Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos.indd 1 07/03/2017 16:46:48 Edmilson Rampazzo Klen IESDE BRASIL S/A 2017 Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ K72d Klen, Edmilson Rampazzo Distribuição Lean na logística e cadeia de suprimentos/Edmilson Rampazzo Klen. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 208 p. il. ISBN: 978-85-387-6293-5 1. Logística empresarial. 2. Canais de distribuição - Administração. 3. Administração da produção. I. Título. 17-39086 CDD: 658.5 CDU: 658.5 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2009-2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa Shutterstock.com/nowuseeit/VAlex Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Novas estruturas organizacionais | 7 2. A evolução da produção e dos consumidores | 25 3. A produção colaborativa e a volta do cliente prosumer | 43 4. Sistemas de informação e de comunicação | 59 5. Governança e parcerias colaborativas | 77 6. Competências no mundo colaborativo | 99 7. Gestão da competência em ambiente colaborativo | 117 8. Modelos de referência | 133 9. Projetos e casos | 149 10. Desenvolvendo cenários | 167 Gabarito | 179 Referências | 185 Carta ao aluno O mundo globalizado tem vivido nos últimos anos a sua mais intensa e rápida evolução tecnológica. Os reflexos e as con- sequências dessa (re)evolução são inúmeros e podem ser sentidos nos comportamentos das empresas e dos consumidores. No caso das empresas, novas estruturas organizacionais vêm tomando forma contribuindo, inclusive, para o surgimento de uma nova disciplina científica denominada de redes colaborativas. No caso dos consu- midores, um papel mais ativo – e menos reativo – é o que se vem sentindo, com essa mudança de comportamento sendo diretamente influenciada pelas novas ferramentas baseadas em tecnologias de informação e comunicação. A nova geração web vem participando – na maioria dos casos, sem se dar conta – de um movimento silen- cioso de formação de prosumers (produtor + consumidor). – 6 – Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos As parcerias e técnicas colaborativas na cadeia de suprimentos passam a demandar necessidades novas dos pontos de vista tecnológico, humano e organizacional, em termos de modelo de referência e de governança, metodo- logias, métodos, técnicas de trabalho e competências (individuais, funcionais e organizacionais). Este livro convida o leitor a entender melhor as parcerias e técnicas cola- borativas que ocorrem entre empresas e que podem envolver consumidores. Para tanto, apresenta a fundamentação teórica do assunto e ilustra o tema com casos, projetos e o desenvolvimento de cenários em um ambiente de cocriação e coinovação de produtos, baseados nas novas tendências compor- tamentais das organizações e dos consumidores e que viabilizam a concepção, o desenvolvimento e a implementação de atividades colaborativas. Novas estruturas organizacionais O conceito de colaboração entre empresas não é novo. Em países como a Noruega, por exemplo, existe desde 1957 entre pequenas e médias empresas (PMEs) independentes. Por esta via, PMEs conseguiam criar e usufruir de infraestruturas que lhes facul- tavam meios a que, individualmente, não teriam acesso (NEVES, 2004). Adicionalmente, várias formas de alianças estratégicas entre empresas e organizações (joint ventures, consórcios, alianças oportu- nistas, terceirização, subcontratação e outras) já se constituem em práticas empresariais há algum tempo (AMATO, 2005, p.18). A nova disciplina de redes colaborativas (RCs), que vem se firmando nos últimos anos nos meios acadêmico e industrial, cons- titui um esforço na direção da concretização e, principalmente, da modernização do conceito tradicional de colaboração entre empre- sas. As RCs são formadas por um grupo de atores (instituições e/ ou empresas – do setor privado ou público –, profissionais liberais, organizações não governamentais etc.) que têm a predisposição de 1 Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 8 – colaborar por meio de uma rede para atender a uma oportunidade de negócio ou a um interesse comum fazendo uso de tecnologias de informação e comu- nicação (TIC). A variedade de tipos e formas de redes colaborativas (RCs) é imensa. Engloba desde uma simples negociação B2B (Business-to-Business, negócios entre empresas), considerada como um tipo de “fronteira” entre a colaboração e a transação comercial segundo Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2005a), passando por iniciativas de internacionalização de empresas até chegar em redes altamente dinâmicas de colaboração suportadas por ambientes de criação de organizações virtuais (VBEs – Virtual Breeding Environment). As razões para o surgimento destes variados tipos e formas de RCs são muitas. Ken´ichi Imai (1990 apud CASTELLS, 2005), por exemplo, na sua tese de transformação de empresas em redes, baseia-se em estudos sobre multinacionais japonesas e nor- te-americanas para afirmar que o processo de internacionalização da atividade empresarial baseou-se nas estratégias: 2 de múltiplos mercados domésticos, 2 que visam ao mercado global e 2 redes internacionais como característica de um estágio econômico e tecnológico mais avançado. Bremer (1996 apud AMATO, 2005) destaca como razões estratégicas o compartilhamento de recursos, instalações e, eventualmente, competências a fim de ampliar o alcance geográfico ou tamanho aparente que um concor- rente pode oferecer a um cliente, além da possibilidade de dividir os riscos e os custos de infraestrutura. RCs são, portanto, constituídas por uma variedade de entidades (ex.: organizações e indivíduos) que são em grande parte autônomas, geografica- mente distribuídas e heterogêneas em termos de seus ambientes de operação, cultura, capital social e objetivos. Entretanto essas entidades colaboram para melhor atingir objetivos comuns ou comparativos e suas interações são supor-tadas por redes computacionais (CAMARINHA-MATOS, 2005b). O quadro 1 a seguir apresenta uma descrição sucinta das principais mani- festações na área das RCs. Algumas siglas dessas manifestações foram adequa- das à língua portuguesa e algumas foram mantidas da sua origem inglesa. – 9 – Novas estruturas organizacionais Quadro 1 – Descrição de algumas manifestações de redes colaborativas. Empresa estendida (EE – Extended Enterprise) – nesta condição, a empresa não mais relaciona-se com os seus forne- cedores e seus clientes como sendo “eles”. Ao invés disso, são tratados como “nós”. Quando essa empresa estendida torna-se dinâmica, por exemplo adaptando seus processos para a demanda corrente do cliente ou para o desenvolvimento de um produto particular, esta empresa pode ser chamada de empresa virtual (CASKEY, 1995). Empresa virtual (EV – Virtual Enterprise) – é uma aliança temporária de empresas para que juntas possam dividir habilidades ou competências essenciais e recursos para melhor responder às oportunidades de negó- cio, e cuja cooperação é suportada por rede computacional (CAMARINHA- MATOS; AFSARMANESH, 2004). Organização virtual (OV – Virtual Organization) – conceito similar ao de empresa virtual, compreendendo um conjunto de orga- nizações (legalmente) independentes que com- partilham recursos e habilidades para alcançar uma missão ou objetivo, mas que não estão somente limitadas a uma aliança que visa ao lucro. Similarmente ao caso de EV, essas orga- nizações provêm ao mercado um conjunto de serviços e funcionalidades, como se todas elas juntas representassem uma única organização. uma empresa virtual é, portanto, um caso par- ticular de organização virtual (CAMARINHA- MATOS; AFSARMANESH, 2004). Ambiente de criação de organiza- ções virtuais (VBE – Virtual Breeding Environment) – representa uma associa- ção de organizações e suas instituições de suporte, que têm potencial e desejo para cooperar mutuamente através do estabelecimento de uma base de acordo de cooperação a longo prazo e infraestru- tura interoperável. Quando uma oportu- nidade de negócio é identificada por um membro (agindo como agente/ broker), um subconjunto dessa organização pode ser selecionado e desse modo formar uma OV (SANCHÉZ et al., 2005). Comunidade virtual profissional (PVC – Professional Virtual Community) – união natural entre tecnologia inovadora e uma forma organizacional já existente. Uma comuni- dade virtual é um grupo social mediado por computador, o qual é baseado na convicção que os humanos são criaturas sociais e que comunidades possibilitam socializar, e a comunidade virtual é a resposta tecnológica para essa necessidade humana. Comunidades profissionais são subconjuntos de comunidades virtuais, as quais colocam esses profissio- nais em relacionamento (KATZY, 2002a). Time virtual (VT – Virtual Team) – a definição de VT é similar a OV, mas formada por pessoas, não organizações. É um grupo temporário de profissionais que trabalham juntos para um objetivo em comum, como para a realização de serviço de consultoria, um projeto em comum etc., e que usam redes de com- putadores como seu principal ambiente de interação (ECOLEAD, 2005a). Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 10 – Laboratório virtual (LV – Virtual Laboratory) – representa um ambiente hetero- gêneo e distribuído que permite um trabalho conjunto de pesquisadores geograficamente dispersos, dividindo recursos (equipamentos, ferramentas, dados e informações relacionados aos experimentos etc.) (ECOLEAD, 2004). Organizações em redes colaborati- vas (ORC – Collaborative Networked Organizations) – quando a rede passa a dominar todas as etapas da cadeia, e cada empresa desempenha sua fun- ção de acordo com sua competência essencial (AMATO NETO, 2005). Redes colaborativas (RCs – Collaborative Networks) – termo que representa todas as formas colaborativas emer- gentes com propriedades similares às citadas anteriormente (CAMARINHA- MATOS; AFSARMANESH, 2004). Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 1 – Algumas manifestações de redes colaborativas. Ambiente de criação de organizações virtuais (VBE) Organizações em redes colaborativas (ORC) Empresa virtual (EV) Organização virtual (OV) • Cadeia de suprimento • Estrela ou cubo • Par a par • ... Redes colaborativas (RCS) Time virtual (VT) Comunidades virtuais de profissionais (PVC) Laboratório virtual (LV) Empresa estendida (EE) Fonte: CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2004. Adaptado. – 11 – Novas estruturas organizacionais Entre as várias manifestações existentes é possível relacionar algumas delas como mais tradicionais e mais voltadas à cooperação e também como emergentes e mais voltadas à colaboração (figura 2). Figura 2 – Formas de cooperação/colaboração entre organizações. Joint venture Outsourcing Consórcio Franchising Alianças Holding Arranjos produtivos locais ... Formas de cooperação tradicionais Empresa estendida (EE) Organização virtual (OV) Time virtual (VT) Laboratório virtual (LV) Empresa virtual (EV) Ambiente de criação de organizações virtuais (VBE) Comunidades virtuais profissionais (PVC) ... Formas de colaboração emergentes Fonte: GASPARETO, 2003; VALLEJOS, 2005. Fonte: CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2004. Para um esclarecimento sucinto das formas de cooperação tradicio- nais, temos: 2 Joint venture – criação de uma empresa com a participação de parceiros unindo recursos e experiências; 2 Alianças – parceria entre duas ou mais empresas (podendo ser inclusive competidoras) para complementar o fornecimento (de valor) ao longo da cadeia; Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 12 – 2 Outsourcing – também conhecido por terceirização, é uma trans- ferência de tarefas para um fornecedor especializado; 2 Holding – parceria entre duas ou mais empresas (podendo ser inclusive competidoras) para complementar o fornecimento (de valor) ao longo da cadeia; 2 Consórcio – forma de cooperação contratual geralmente restrita a um único projeto; 2 Franchising – forma de cooperação em que o fabricante de um produto coopera com empresas de comércio independente; 2 Arranjos produtivos locais – aglomerações territoriais que envol- vem a participação e a interação de empresas com foco em um con- junto específico de atividades econômicas que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Cabe aqui ressaltar uma diferenciação entre os termos cooperação e cola- boração que aparecem com frequência dentro da área de redes colaborativas. Ambos envolvem a troca de informações, ajustes de atividades (alinhamento) e compartilhamento de recursos para que possam atingir objetivos específi- cos. A diferença está na colaboração que se apresenta como um estágio mais alto de relacionamento, compartilhando maiores responsabilidades, riscos, recursos e recompensas entre as empresas, para que, de maneira conjunta, possam planejar, implementar e avaliar ações de produção e serviços disponi- bilizados no mercado. Entre as várias manifestações existentes (figura 1 e figura 2) este trabalho foca diretamente as manifestações emergentes de OVs, VBE e PVC, pois estas já podem ser percebidas como novas estruturas organizacionais dentro do mercado atual. Por essa razão serão descritas em mais detalhes nas subseções seguintes. 1.1 Rede orientada a objetivo: a organização virtual Na taxonomia de redes colaborativas (CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2006) o grande destaque das redes orientadas a objetivos é dado às organizações virtuais (OV), que são definidas como um conjunto – 13 – Novas estruturas organizacionais de organizações (legalmente) independentes que compartilham recursose habilidades para alcançar uma missão ou objetivo, mas que não estão somente limitadas a uma aliança que visa ao lucro. Essas organizações pro- vêm ao mercado um conjunto de serviços e funcionalidades, como se todas elas juntas representassem uma única organização (CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2004). Segundo Katzy et al. (2005), três tipos de OVs aparecem frequente- mente citadas na literatura (figura 3): 2 cadeia de suprimentos ou Supply Chain: em que o padrão de inte- ração dos parceiros segue uma cadeia na qual as relações se dão basicamente entre os parceiros vizinhos; 2 tipo estrela: em que os parceiros interagem com um cubo (hub) central ou com um centro estratégico (também conhecido como empresa dominante); e 2 par a par: em que existem múltiplas relações entre todos os nós, sem seguir uma determinada hierarquia. Figura 3 – Tipos de organizações virtuais (OVs). Cadeia de suprimentos Par a parEstrela Fonte: KATZY et al. 2005. Independentemente da topologia da OV, algumas características são comuns a todas elas. Por exemplo, o número de membros pode variar e os papéis que eles representam também. Muitas vezes chamados de atores ou nós, os membros das OVs são os participantes que desempenham variadas funções ao longo do ciclo de vida da OV. Um ator de uma OV pode ser representado por uma organização ou por um indivíduo representando uma Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 14 – organização. Os papéis – ou as funções – a serem desempenhados por esses membros podem ser assumidos simultaneamente pela mesma organização/ indivíduo, dependendo do tamanho da OV e dos princípios de governança adotados, já que cada um dos papéis pressupõe diferentes responsabilidades como, por exemplo, níveis de acesso à informação (ECOLEAD, 2005b). A figura 4 exemplifica alguns dos papéis que podem ser exercidos ao longo do ciclo de vida de uma OV que conta, basicamente, com quatro fases principais: criação, operação, evolução e dissolução (SPINOSA et al., 1998; CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 1999; PEREIRA-KLEN et al., 2005). A seguir, serão apresentados alguns detalhes dessas fases. 2 Criação: fase inicial quando a OV é criada e configurada e para a qual algumas das principais funcionalidades são: seleção e busca de parceiros, negociação de contrato, definição de direitos de acesso e nível de compartilhamento de informação e recursos, definição dos procedimentos de entrada e saída da OV, configuração etc. 2 Operação: fase na qual a OV está executando os processos de negócios a fim de atingir seu objetivo comum e a qual requer fun- cionalidades como: mecanismos básicos de troca segura de dados, compartilhamento de informação e direitos de visibilidade, gestão de ordens, processamento de ordens incompletas, planejamento e escalonamento distribuído e dinâmico, coordenação de tarefas, ati- vidades e processos etc. 2 Evolução: esta fase pode ou não ocorrer durante o ciclo de vida de uma OV. Sua ocorrência depende, entre outros, da necessidade de se adicionar ou substituir um participante à/da OV. Isso pode acontecer devido ao acontecimento de eventos inesperados como, por exemplo, capacidade de produção (temporariamente) insufi- ciente, falta de recursos humanos adequados etc. Nesta fase são requeridas funcionalidades semelhantes àquelas da fase criação. 2 Dissolução: esta é a última fase. Existem basicamente duas possibi- lidades para a dissolução da OV: dissolução positiva (quando a OV finaliza seus negócios tendo atingido com sucesso seus objetivos inicialmente especificados) ou dissolução negativa (quando algum problema ocorre durante a fase de operação e que, por alguma – 15 – Novas estruturas organizacionais razão, não consegue ser resolvido). No último caso, o objetivo comum não é atingido e os participantes decidem não seguir em frente com a colaboração. A definição das obrigações e responsa- bilidades de todos os participantes envolvidos é um aspecto muito importante que precisa ser devidamente (e previamente) negociado já que é de extrema importância para a fase de dissolução da OV. Figura 4 – Alguns principais papéis exercidos no ciclo de vida de uma OV. Operação Evolução DissoluçãoCriação Planejador da OV Broker Membros da VBE Coordenador da VBE Membros da OV Gestor da OV OV Fonte: ECOLEAD, 2005b. A fase de criação encontra-se dentro do chamado ambiente de criação das organizações virtuais ou virtual breending environment (VBE) (CAMARINHA- MATOS et al., 2005; ECOLEAD, 2005b). Os principais papéis ligados à OV nessa fase são os membros VBE e os membros da OV. 2 Membros VBE: organizações/entidades/instituições predispostas a trabalhar conjuntamente. 2 Broker da OV: busca identificar as demandas, nichos de mer- cado e oportunidades de negócios. É um papel normalmente realizado por um participante do VBE, mas também pode ser executado por uma pessoa de fora do VBE, em forma de um serviço prestado. Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 16 – 2 Planejador da OV: papel executado por um participante da VBE que identifica e avalia as competências necessárias dos possíveis participantes da OV, seleciona os parceiros mais apro- priados e desenha/estrutura a nova OV. Em muitos casos os papéis do broker e do planejador da OV são executados pelo mesmo ator, ou seja, além de buscar a oportunidade de negócio também indica os possíveis parceiros. 2 Coordenador da VBE: também conhecido como gerente da VBE ou administrador da VBE, este papel é executado por uma pessoa responsável pela operação e evolução da VBE, promoção da cooperação entre os membros da VBE, gestão diária dos pro- cessos gerais da VBE, executando políticas comuns entre eles. 2 Membros da OV: organizações/entidades/instituições participan- tes da VBE e que foram selecionadas para participar de uma OV com base principalmente nas suas competências. 2 Gestor da OV: papel realizado geralmente por um membro da OV que a coordena de maneira a executar com sucesso todas as atividades previstas para que os objetivos traçados sejam plena- mente alcançados de acordo com o planejado. Tanto os membros como o gestor da OV são ativos durante as fases de operação, evolução e dissolução. Adicionalmente, durante a dissolução da OV o coordenador da VBE também é envolvido. 1.2 Redes estratégicas de longa duração Segundo Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2006), existem duas mani- festações de redes estratégicas de longa duração: VBE e PVC. 1.2.1 Virtual Breeding Environment (VBE) Ambiente de criação de organizações virtuais representa uma associação ou um pool de organizações – juntamente com as instituições de suporte a elas relacionadas – que tem tanto potencial quanto vontade de cooperar entre si através do estabelecimento de um acordo de cooperação “base” de longa – 17 – Novas estruturas organizacionais duração. Um VBE é um ambiente adequado e propício para o estabelecimento de acordos de cooperação, de infraestruturas comuns, de ontologias comuns, e de confiança mútua, os quais constituem os elementos facilitadores necessários para a criação de uma nova EV/OV (CAMARINHA – MATOS, 2004). Segundo Afsarmanesh (2005), o VBE é uma associação regulamen- tada de seus membros, a qual é aberta, mas cujas fronteiras são controladas. Objetiva melhorar a preparação dos seus membros para potencial articulação de futuras OVs, consequentemente provendo uma base para estabelecimento ágil e dinâmico de oportunidades dirigidas para RCs. Como representado na figura 5, é mais barato e mais efetivo para criar rapidamente uma OV em um ambiente de criação (1b) do que através de uma busca de parceiros gene- ralizada (2). Em outras palavras, VBEs contribuem substancialmente para incrementar o nível de preparação dos seus membros paraparticipação em potenciais processos colaborativos. Figura 5 – Duas abordagens para a formação de OVs. Oportunidade de negócio 1a 1b 2 O rganização virtual (OV) Universo aberto de organizações • Aquisição de membros • Acordo de cooperação • Infraestrutura comum • Princípios de divisão • Ampla busca e seleção de parceiros • Definição de estrutura comum e suas parametrizações • Princípios de divisão • Negociação de contrato • Acordo de cooperação • Seleção de parceiros da OV • Rápida negociação de contrato • Parametrização de infraestrutura Universo de fronteiras controladas Ambiente de criação de organizações virtuais (VBE) Fonte: AFSARMANESH, 2005. Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 18 – Um VBE não necessita ser uma organização fechada, novos membros podem se juntar e aderir a essa associação, mas eles devem concordar com os princípios gerais de operação dessa associação (ECOLEAD, 2005b). Sánchez et al. (2005) complementam que, um VBE encoraja colabora- ção entre seus membros permitindo complementar suas competências. 1.2.2 Comunidades virtuais profissionais (PVC) PVC representa a combinação dos conceitos de comunidade virtual e comunidade profissional. Comunidades Virtuais são definidas como sis- temas sociais de redes de indivíduos que usam tecnologias computacionais para mediar as suas relações. Comunidades Profissionais provêm ambientes para profissionais dividirem o corpo de conhecimento (body of knowledge) de seus profissionais tal como culturas de trabalho similares, percepções de problema, técnicas de resolução de problema, valores profissionais, e compor- tamento. PVCs são um dos elementos mais relevantes para manter o ecossis- tema de negócio “vivo” e para o lançamento e operação de OVs dinâmicas (CAMARINHA-MATOS et al., 2005b). Katzy (2002b) modela o processo de criação de PVC na figura 6 a seguir. Figura 6 – Modelo do processo para criação de PVCs. Crescimento da comunidade Desenvolvimento da comunidade em geral Projeto de tecnologia Desenvolvimento da comunidade central Planejamento Fonte: KATZY, 2002b. – 19 – Novas estruturas organizacionais Planejamento – antes de criar um PVC, um grupo inicial precisa estar a postos. Esse grupo (virtual) estabelece entidades facilitadoras, o provedor inicial de conhecimento e o catalisador ou estimulador. Desenvolvimento da comunidade central – o objetivo aqui é reunir e organizar um grupo de “criadores” para a comunidade. Esse grupo central tem a responsabilidade de facilitar a criação do conhecimento coletivo (shared meaning, de acordo com Katzy (2002b)), produção de novas ideias, disponi- bilizar ideias existentes, e também prover a liderança intelectual e social para a comunidade. Projeto de tecnologia – uma comunidade de sucesso precisa ter uma junção flexível e complementar entre elementos técnicos e sociais. O papel da tecnologia nesse contexto é para superar a distância de espaço e atingir a coesão social. Desenvolvimento da comunidade em geral – para sustentar o cres- cimento contínuo da comunidade e adquirir massa crítica dos membros é a tarefa primária para estender a comunidade existente para uma mais ampla. Crescimento da comunidade – o estágio final do processo de criação é a manutenção de eventos contínuos. Agrupamento esmerado de eventos, de acordo com seus estágios de ciclo de vida, facilitarão o processo de compara- ção (eventos relacionados). Discussões organizadas parecem ser um caminho efetivo para extrair o conhecimento de cada indivíduo e para dividí-lo entre outros e o banco de dados de conhecimento pode ser usado como medida de sucesso da comunidade. Dentro de uma empresa, PVC pode ser um meio de criar compe- tências e de gerenciar conhecimento como recurso estratégico através dos níveis da organização hierárquica, divisão de barreiras e de diferença cultu- ral (KATZY, 2002b). 1.3 Termos e definições Por ser ainda uma disciplina recente, os termos e definições advindos da área de redes colaborativas podem ser apresentados com pequenas variações em outras publicações, inclusive as abreviações. Esse ajuste se fará através do tempo Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 20 – ou em ações de respaldo como aconteceu na Europa com a aplicação do Projeto Ecolead, disponível em: <http://ecolead.vtt.fi/>, cofinanciado pela Comissão Europeia, que vem servindo como base para melhor interpretação do tema. Ampliando seus conhecimentos Visão do Projeto Ecolead (ECOLEAD, 2008) “Em 10 anos, em resposta à rápida mudança nas condições de mercado, mais empresas e especialmente as PMEs farão parte de alguma rede colaborativa sustentável que atuará como Ambiente de Criação para a formação de Organizações Virtuais Dinâmicas”. O Projeto Ecolead (European Collaborative Networked Organizations Leadership Initiative) foi um “Projeto Integrado” cofinanciado pela Comissão Europeia dentro do 6.° Programa Quadro (6th Framework Programme). Teve como objetivo criar mecanismos e fundamentações necessários para estabele- cer a mais avançada rede colaborativa de indústrias na Europa. A principal ideia no Ecolead foi que um impacto substancial na materialização de redes colaborativas de negócios requer uma abordagem holística compreensível. Dada a complexidade da área e as múltiplas interdependências entre as entidades de negócios, atores sociais e abordagens tecnológicas envolvi- dos, barreiras substanciais não podem ser quebradas com ino- vações incrementais em áreas isoladas. Desta forma, o projeto Ecolead atuou em três áreas fundamentais e inter-relacionadas, que são a base para organizações em rede dinâmicas: ambien- tes de criação (Breeding Environments), organizações virtuais dinâmicas (Dynamic Virtual Organizations) e comunidades virtuais profissionais (Professional Virtual Communities). – 21 – Novas estruturas organizacionais Esse projeto contou inicialmente com 20 parceiros entre uni- versidades, empresas e institutos de pesquisas provenientes de 14 países: Finlândia, Portugal, Holanda, Suíça, Espanha, Eslovênia, República Tcheca, França, Itália, Alemanha, Áustria, Polônia, além de Brasil e México – fora da Europa –, onde universidades e institutos de pesquisa se envolveram mais com a concepção dos modelos e das ferramentas, empresas de software desenvolveram os protótipos e os “usuários finais” testaram, avaliaram e validaram o resultado final. Fonte: IESDE BRASIL S/A. Adaptado. As redes colaborativas buscam: 2 prover uma base para competitividade; 2 excelência mundial; 2 agilidade em condições turbulentas de mercado; 2 apoiar PMEs a identificar e explorar novos potenciais de negócio; 2 impulsionar inovação e aumentar seus conhecimentos. “Os novos paradigmas estratégicos e de gestão alteraram os requisitos de negócio, exigindo novas habilidades e Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 22 – competências dos atores da cadeia, em função da maior inte- gração e interdependência.” Cadeia de suprimentos tradicional Fonte: IESDE BRASIL S/A. Adaptado. 2 Cadeia linear / rígida 2 Distribuição física 2 Informação ao final do ciclo 2 Otimização dos recursos da empresa 2 Processos / sistemas rígidos 2 Lead times longos 2 Processos internos 2 Cadastro de materiais do ERP 2 ERP e/ou sistema legados 2 Conectividade por e-mail / telefone 2 Gestão interna 2 Planejamento estático 2 Gestão com foco na empresa 2 Métricas de performance internas da empresa – 23 – Novas estruturas organizacionais Redes colaborativas Fonte: IESDE BRASIL S/A. Adaptado. 2 Rede não linear / dinâmica 2 Distribuição da informação 2 Informação a cada evento 2 Otimização interempresas 2 Processos / sistemas flexíveis 2 Lead times curtos 2Processos externos e fragmentados 2 Catálogo multiatributo com padrões compartilhados 2 Gestão de processo multiempresa 2 Browser / integração entre sistemas 2 Visibilidade de eventos e exceções 2 Planejamento estático e dinâmico 2 Gestão com foco multiempresa 2 Métricas de performance comparti- lhadas e interempresas [...] Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 24 – Atividades 1. Como podemos enfatizar o termo colaboração em relação ao termo cooperação dentro da área de redes colaborativas? 2. Indique três formas de colaboração emergentes. 3. Quais são as principais fases no ciclo de vida de uma OV? A evolução da produção e dos consumidores Figura 1 – Evolução da produção e dos consumidores. X Fonte: Wikimedia Commons. Fonte: IESDE BRASIL S/A. A definição de produção, segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), diz respeito àquilo que é produzido ou fabri- cado pelo homem e, especialmente, por seu trabalho associado ao capital e à técnica. Segundo Klen (2006), geração é o conjunto dos indivíduos nascidos na mesma época (a geração do pós-guerra, por 2 Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 26 – exemplo) ou, ainda, o espaço de tempo – aproximadamente 25 anos – que vai de uma geração a outra. A produção, a qual a grande maioria das pessoas está acostumada a se refe- rir, normalmente está associada a bens e serviços. Produzir bens e serviços para benefício próprio ou de terceiros é algo que contribui para a evolução humana. E da mesma maneira como a produção e os meios utilizados por ela evoluem, isso também acontece com a geração de pessoas a quem ela serve. Isso significa dizer que se a produção começou de maneira artesanal, evoluiu para a produção em massa, para a customização em massa e agora se depara com a produção colaborativa, algo também deve ter acontecido – ou deve estar por acontecer – com as gerações de clientes a quem essa produção serve. Este capítulo apresenta um paralelo da evolução da produção e da geração que a acompanha ou que a sucede, impulsionada pelas transforma- ções tecnológicas. 2.1 A “manu” “fatura” Antes do século XVIII e da sua famosa Revolução Industrial, “manu” “fatura” (no seu estrito sentido da palavra, isto é, do latim: manu + factura – “feito a mão”) era o único tipo de produção conhecido. Os artesãos da cha- mada Idade Moderna (1453-1789) eram simultaneamente responsáveis pelo planejamento, desenvolvimento e execução do produto, assim como pelo tra- balho de venda e pós-venda. Desde produtos relacionados à tecnologia de ponta da época (como os inventos de Leonardo da Vinci) até aqueles consi- derados gêneros de primeira necessidade, como roupas e sapatos. A tecnologia disponível era precária e rudimentar. Mas, ainda assim, aten- dia aos anseios daquela geração. Os produtores daquela época, muitas vezes, eram eles próprios os clientes, ou seja, produziam para consumo próprio. Ou, então, como a grande maioria dos produtos era “manu” “faturado”, os clientes tinham grande poder de influência sobre o produtor, tanto no caso de produ- tos (roupas ou sapatos feitos especialmente para uma determinada pessoa, por exemplo) como no caso de serviços. Era uma produção tipicamente artesanal em que trabalhadores altamente qualificados, usando ferramentas manuais, fabricavam cada produto (e um de cada vez) de acordo com as especificações – 27 – A evolução da produção e dos consumidores do consumidor. É famosa, por exemplo, a história da pintura da Capela Sistina. Diz-se que, para a realização desta obra, Michelângelo teria feito o trabalho contrariado, convencido de que era mais um escultor do que um pintor. Mas o Papa Júlio II, sobrinho de Sisto IV (que vem a dar nome à Capela) e quem o encarregou de pintar o famoso teto, exerceu seu poder de cliente. Mas a negociação não parou aí. Michelângelo deveria, originalmente, pintar os 12 Apóstolos, mas negociou com seu cliente e pediu uma tarefa mais audaciosa. 2.2 Comportamento prosumer Durante a Idade Moderna, e os tempos que a precederam, a maioria das pessoas consumia o que elas mesmas produziam. Era uma “produção para uso”. Ou seja, as pessoas não eram nem produtoras nem consumidoras. Toffler, escritor norte-americano especialista em apontar tendências para o futuro, os chamou de prosumers (contração de: producer (produtor) + consumer (consumidor, cliente); tradução livre: “prossumidores”) (TOFFLER, 1980). Existia, como Toffler mesmo afirmou, uma pequena quantidade de produção para troca, ou seja, para o mercado. Mas predominava a produção para o uso. E, mesmo quando a produção era para troca (ou venda), o cliente exercia um grande poder de influência sobre o produtor. Entre os séculos XV e XVIII, estruturou-se uma ordem socioeconômica, denominada capitalismo comercial. Durante esse período, a nobreza, cuja posi- ção social era ainda garantida por suas propriedades rurais e títulos, passou a buscar ansiosamente meios para se impor segundo os novos padrões econô- micos (GEOCITIES, 2009). Por seu lado, a burguesia, mesmo prosperando nos negócios, estava longe de ser a classe social dominante. Nas cidades, as relações produtivas eram mescladas: o artesanato, praticado em oficinas, nas quais o mestre artesão e os artesãos auxiliares eram produtores e donos dos meios de produção necessários à confecção do produto, dominando todas as etapas da transformação, da matéria-prima até chegar ao produto final; e as manufaturas, onde os trabalhadores urbanos eram muitas vezes reunidos num mesmo local de trabalho, cada um desempenhando uma atividade espe- cífica, utilizando principalmente as mãos para transformar a matéria-prima (um sistema de produção caracterizado basicamente pela divisão do trabalho Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 28 – e aumento da produtividade, mas ainda sem o auxílio de máquinas em grande escala) (PORTAL BRASIL, 2009). Foi apenas no final da Idade Moderna que a classe burguesa reuniu meios para edificar uma ordem social, política e econômica à sua própria imagem, embora somente os acontecimentos da segunda metade do século XVIII, como a Revolução Industrial, a independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, consolidassem definitivamente a posição da burguesia, inaugurando a Idade Contemporânea. Assim, sendo um período de transi- ção, a Idade Moderna reforçou a importância do comércio e da capitalização, que constituíram a base sobre a qual se desenvolveria o sistema capitalista, o qual foi um dos principais responsáveis por separar as funções dos prosumers nascendo, assim, o que agora conhecemos por produtores e consumidores (TOFFLER, 1980). 2.3 A produção na Idade Contemporânea Nos anos que imediatamente precederam o início da Idade Contemporânea (1789 até os dias atuais) o sentido da palavra “manu” “fatura” começou a tomar novos rumos. Com a Revolução Industrial deflagrada na Inglaterra no século XVIII (BRAICK; MOTA, 2006) e que, aos poucos, se espalhou pelo mundo, teve início a era da disseminação da produção em massa. Graças à invenção das máquinas a vapor, a manufatura de itens como roupas e sapatos aumentou consideravelmente. A habilidade de produzir com eficiência grandes quantidades de pro- dutos foi aumentando com o passar do tempo e com as pesquisas que foram sendo realizadas. Os estudos do francês Perronet em 1760 e do matemático inglês Charles Babbage em 1820 sobre tempos e movimentos (CHANDLER; DALMS, 1980; BABBAGE, 1963) juntamente com os clássicos A Riqueza das Nações (SMITH, 1776) e Princípios do Gerenciamento Científico (TAYLOR, 1911) serviram de catalisadores para a produção em massa. Smith traba- lhou na teoria da divisão e subdivisão do trabalho na qual propunha que a estrutura dos processos de manufatura deveria ser quebrada em atividades“indivisíveis” formando uma sequência simples de passos, cada um deles rea- lizado por uma pessoa que dedicaria toda a sua vida à tarefa de realizar este – 29 – A evolução da produção e dos consumidores trabalho e nada mais. Taylor reforçou esta teoria e classificou o trabalho em tarefas e elementos, começando a chamar a atenção de todos não só para as tarefas consideradas “produtivas”, mas também para aquelas consideradas “gerenciais”. Surgia, assim, uma das mais famosas estruturas organizacional e gerencial que defendia a separação do trabalho mental do trabalho físico e a retenção de todo o poder de decisão nas mãos da gerência. 2.3.1 Fordismo Seguindo a cronologia dos fatos, em 1903 é criada a “Ford Motor Company” (FORD, 2008). Um marco na história da manufatura que deve seu mérito ao seu idealizador, Henry Ford. Considerado o inventor da produ- ção em massa (que, por essa razão, também ficou conhecida como Fordismo) Ford consagrou a montagem em série para a produção em massa de automó- veis em menos tempo e a um menor custo (ROCHA, 2003). Ford era considerado um pacifista e via no consumismo uma chave para a paz. Dessa forma, seus “clientes consumidores” eram estimulados ao consu- mismo através do preço baixo dos veículos que produzia (o famoso “modelo T” era vendido em 1908 por US$825,00, mas seu preço foi baixando gra- dativamente a cada ano e chegou a ser vendido em 1916 por US$360,00) e também graças à alta produção conseguida pelos seus métodos considerados pouco ortodoxos para a época, como a montagem em esteiras em movimento e o processo de pintura não diferenciado. É célebre a frase de Ford em que ele diz: “O cliente pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto” (FORD; CROWTHER, 2003). Com isso, nascia juntamente com a produção em massa o cliente con- sumidor. O modelo T, de Ford, correspondia à metade dos carros na América do Norte por volta de 1918. O carro passou a ser uma realidade acessível, pela primeira vez. E o consumismo passou a fazer parte do vocabulário cotidiano. Hoje em dia a produção em massa divide opiniões. Segundo Godinho Filho (2004), existem duas vertentes de pensamento com relação ao atual e futuro papel que a produção em massa desempenha e desempenhará nos próximos anos. Segundo ele, a primeira vertente entende que a produção em massa passou a ser vista como um conceito obsoleto, tecnicamente Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 30 – ultrapassado. Essa mesma vertente entende que a produção em massa não funciona mais, ou seja, não deve ser uma prática adotada pelas empresas para enfrentar a concorrência altamente globalizada. Uma segunda vertente entende que, apesar de existirem outros paradigmas estratégicos de gestão da manufatura mais modernos (manufatura enxuta e ágil, por exemplo) e mui- tas vezes melhores que a produção em massa, ela continua a existir e ainda é insuperável quando o objetivo estratégico perseguido é o preço baixo – uma consequência direta da economia de escala. Assim, para essa segunda ver- tente, ainda existe lugar no mercado para produção em massa e as empresas que competem em preços baixos ainda têm nesse paradigma um diferencial competitivo. Godinho Filho faz parte dessa segunda vertente e, em seu tra- balho, mostra como a produção em massa ainda ocupa um papel bastante importante para a indústria de calçados brasileira. 2.3.2 Manufatura enxuta ou lean manufacturing Os anos se seguiram e, no início dos anos 1950, encontramos Taiichi Ohno, que trabalhava para uma pequena e quase falida empresa de carros japo- neses conhecida como Toyota. A empresa buscava reduzir os custos e aumentar a eficiência – assim como Ford havia feito no início do século. Por isso, Ohno foi até a fonte. Viajou para os Estados Unidos para estudar as linhas de mon- tagem da Ford e logo percebeu que a produção em massa no Japão enfrentaria grandes problemas, por diversos motivos (GODINHO FILHO, 2004): 2 o Japão tinha um mercado interno limitado, que demandava uma vasta variedade de veículos, tornando a produção em massa inviável; 2 a força de trabalho nativa do Japão não era propensa a ser tratada como custo variável ou peça intercambiável; 2 inexistiam no Japão os trabalhadores-hóspedes, isto é, trabalhado- res temporários dispostos a enfrentar condições precárias de traba- lho em troca de remuneração compensadora. Esses indivíduos no Ocidente constituíam o grosso da força de trabalho na maioria das empresas de produção em massa; 2 a economia do Japão encontrava-se devastada pela guerra. – 31 – A evolução da produção e dos consumidores Assim, na sua volta ao Japão, juntamente com seus colegas da Toyota, Ohno desenvolveu o Sistema Toyota de Produção (GHINATO, 1996) que revo- lucionou, mais uma vez, os modelos de manufatura. Era cunhado, então, o termo lean manufacturing (manufatura enxuta). Com a manufatura enxuta, Ohno propôs que se concentrassem na eliminação incansável do desperdício de tempo e de atividades em cada parte do processo de manufatura. O resul- tado disso é que foram capazes de reduzir radicalmente os custos e os prazos de entrega da produção. Eles também desenvolveram um processo que possibilitou a mudança rápida do equipamento e das linhas de produção para produzir dife- rentes modelos (TMB, 2009). Como resultado, a Toyota foi capaz de produzir uma variedade de modelos numa única linha de produção flexibilizando, assim, a ideia de Ford. Esse conceito ganhou notoriedade no Ocidente principalmente no final da década de 1980 e no início da década de 1990 com a publica- ção do clássico moderno A Máquina que Mudou o Mundo (WOMACK et al., 1990), um relatório do conceituado instituto americano MIT (Massachusetts Institute of Technology). A manufatura enxuta foi, então, definida como uma abordagem que busca melhor organizar e gerenciar os relacionamentos de uma empresa com seus clientes, cadeia de fornecedores, desenvolvimento de produ- tos e operações de produção, e segundo a qual é possível fazer cada vez mais com menos (menos equipamento, menos esforço humano, menos tempo etc.). Assim, o pensamento enxuto sugere que se produza somente o que é necessário no momento, buscando atacar e eliminar os sete tipos de desperdícios dentro da empresa (GIANESI; CORRÊA, 1996): 2 Desperdício de superprodução – provém, em geral, de proble- mas e restrições do processo produtivo, tais como altos tempos de preparação de equipamentos (setup), induzindo à produção de grandes lotes; incerteza da ocorrência de problemas de qualidade e confiabilidade de equipamentos, levando a produzir mais do que o necessário; falta de coordenação entre as necessidades (demanda) e a produção, em termos de quantidades e momentos; grandes distâncias a percorrer com o material, em função de um arranjo físico inadequado, levando à formação de lotes para movimenta- ção, entre outros. Desse modo, a filosofia enxuta sugere que se pro- duza somente o que é necessário no momento e, para isso, que se Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 32 – reduzam os tempos de setup, que se sincronize a produção com a demanda, que se compacte o layout da fábrica, e assim por diante. 2 Desperdício de material esperando no processo – resulta na formação de filas que visam garantir altas taxas de utilização dos equipamentos. A sincronização do fluxo de trabalho e o balancea- mento das linhas de produção contribuem para a eliminação desse tipo de desperdício. 2 Desperdício de transporte – encaradas como desperdícios de tempo e recursos, as atividades de transporte e movimentação devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo, através da elabo- ração de um arranjo físico adequado, que minimize as distâncias a serem percorridas. Além disso, custos de transporte podem ser reduzidos se o material for entregueno local de uso. 2 Desperdício de processamento – é comum que os gerentes se preocupem em como fazer algo mais rápido, sem antes questio- nar se aquilo deve realmente ser feito. Nesse sentido, torna-se importante a aplicação das metodologias de engenharia e análise de valor, que consistem na simplificação ou redução do número de componentes ou operações necessários para produzir determi- nado produto. Qualquer elemento que adicione custo e não valor ao produto é candidato a investigação e eliminação. 2 Desperdício de movimentação nas operações – aqui, justifica-se a importância das técnicas de estudo de tempos e métodos, pois a produção enxuta é um enfoque essencialmente de “baixa tecnolo- gia”, apoiando-se em soluções simples e de baixo custo, ao invés de grandes investimentos em automação. Ainda que se decida pela automação, devem-se aprimorar os movimentos para, somente então, mecanizar e automatizar. Caso contrário, corre-se o risco de automatizar o desperdício. 2 Desperdício de produzir produtos defeituosos – produzir pro- dutos defeituosos significa desperdiçar materiais, disponibilidade de mão de obra, disponibilidade de equipamentos, movimentação de materiais defeituosos, armazenagem de materiais defeituosos, inspeção de produtos, entre outros. – 33 – A evolução da produção e dos consumidores 2 Desperdícios de estoque – significam desperdícios de investi- mento e espaço. A redução dos desperdícios de estoque deve ser feita através da eliminação das causas geradoras da necessidade de manter estoques. Eliminando-se todos os outros desperdícios, reduz-se, por consequência, os desperdícios de estoque. Isso pode ser feito reduzindo-se os tempos de preparação de máquinas e os lead times1 de produção, sincronizando-se os fluxos de trabalho, reduzindo-se as flutuações de demanda, tornando as máquinas confiáveis e garantindo a qualidade dos processos. As metas colocadas pela manufatura enxuta em relação aos vários pro- blemas de produção são: 2 zero defeito; 2 tempo zero de preparação (set up); 2 estoque zero; 2 movimentação zero; 2 quebra zero; 2 lead time zero; 2 lote unitário (uma peça). O modelo taylorista é, portanto, abandonado em favor de uma abor- dagem de equipe cooperativa, projetada para aproveitar a capacidade mental total e a experiência prática de todos envolvidos no processo de produção englobando uma grande variedade de práticas gerenciais (just-in-time2, sis- temas de qualidade, manufatura celular, filosofia de melhoria contínua etc.) para produzir produtos no ritmo que o cliente deseja, sem desperdícios. O Sistema Toyota de Produção (Lean Manufacturing), como também é conhecida a manufatura enxuta, permitiu à Toyota uma produção constante 1 Lead time ou tempo de aprovisionamento, em português europeu, é o período entre o início de uma atividade, produtiva ou não, e o seu término. 2 just-in-time: no fluxo de produção, os materiais e componentes só serão produzidos ou recebidos nas quantidades certas, com a qualidade desejada, no momento necessário (DE MOURA, 2004). Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 34 – de veículos de modo muito mais rápido e eficiente do que os concorren- tes – uma vantagem crítica. A Toyota passou a Ford em 2004, assumindo o segundo lugar em vendas de veículos no mundo. É importante ressaltar que as chamadas tecnologias de manufatura avan- çada (CAD, CAM, CAPP3, e toda a família de tecnologia de manufatura auxi- liada por computador – computer aided) tiveram um papel importantíssimo a partir dos anos 1970 e, principalmente, nos anos 1980. A ideia da integração total e plena, possibilitada pelo CIM (Computer Integrated Manufacturing – Manufatura Integrada por Computador), embora não tenha correspondido totalmente às expectativas, foi um marco para as empresas de manufatura, já que prometia a integração e o controle de todos os processos de produção através do computador. A visão dos anos 1980, que também ficou conhecida como manufatura digital4, tinha como um de seus objetivos principais flexibi- lizar ainda mais a manufatura (WALDNER, 1992; DE TONI; TONCHIA, 1998). Foi mais uma época de grandes mudanças e adaptações para as empre- sas. A integração vislumbrada à época não chegou a se tornar uma realidade, mas enormes avanços foram feitos nessa direção. 2.3.3 Manufatura ágil Ainda no ínício dos anos 1990, a manufatura ganhou novos con- tornos. Ela passou, agora, a ser ágil. Os pesquisadores que cunharam o termo manufatura ágil (GOLDMAN et al., 1991) receberam do congresso norte-americano a incumbência de realizar um estudo para definir as bases da indústria do próximo século (ou seja, do século XXI, no qual nos encon- tramos hoje). O estudo deveria definir como as empresas americanas pode- riam voltar a se tornar competitivas internacionalmente, fazendo frente às novas potências industriais e principalmente ao Japão. 3 CAD – Computer Aided Design; CAM – Computer Aided Manufacturing; CAPP – Computer Aided Process Planning. 4 A manufatura digital é uma iniciativa alinhada aos objetivos estratégicos de fortalecer a colaboração nas empresas. Ela integra o projeto do produto ao planejamento dos processos de manufatura e de suporte ao produto. Produtos, processos e recursos são modelados a partir de dados reais, em uma fábrica virtual. O funcionamento desta fábrica virtual é testado até sua validação. Ao final, os resultados são aplicados na fábrica real (CARLI; DELAMARO, 2007). – 35 – A evolução da produção e dos consumidores No relatório intitulado 21st Century Manufacturing Strategy, os pesquisa- dores vislumbravam um ambiente caracterizado pela incerteza e por mudan- ças constantes, ou seja, eles anteviram desafios que precisariam ser enfrentados de uma maneira diferente. Assim, surgia a manufatura ágil com o objetivo de desenvolver propriedades ágeis (KIDD, 1994a, 1994b). Essa agilidade é então usada para alcançar vantagem competitiva e, com isso, responder rapidamente às mudanças que ocorrem em um ambiente de mercado turbulento e fazendo uso da habilidade das pessoas para usar e explorar os recursos fundamentais de conhecimento. Kidd define a manufatura ágil como a integração de organização, pessoas altamente capacitadas e tecnologias avançadas para obter cooperação e inovação em resposta à necessidade do fornecimento de produtos customizados e de alta qualidade aos clientes. A manufatura ágil, então, se apresentava como extremamente adequada a ambientes de mudanças rápidas e com alta incerteza. Ainda segundo Kidd, a manufatura ágil segue cinco princípios básicos: mudança contínua; resposta rápida; melhoria da qualidade; responsabilidade social; e foco total no cliente. E, com base nesses princípios, Colin et al. (1997) listam os principais conceitos (cujas características genéricas devem ser adaptadas para cada caso) para a elaboração de uma metodologia de pro- jeto e de implementação de uma manufatura ágil: 2 Uma estratégia para transformar um empreendimento convencional em um empreendimento com manufatura ágil: o objetivo deve ser o uso das habilidades humanas associadas à utilização de recursos computacionais disponíveis. Deve-se levar em consideração os fato- res organizacional, pessoal e tecnológico de uma maneira associativa, integrativa e complementar, sem priorizar nenhum dos mesmos. 2 Uma estratégia para explorar a agilidade, obtendo-se vantagem com- petitiva: assim como o item anterior, uma estratégia para tornar um empreendimento ágil deve levar em consideração a organização, as pessoas e a tecnologia. Como exemplo pode-se citar os tempos mais curtos no processamento e no desenvolvimento de produtos; os custos de operação reduzidos através de menores estoques e menor quantidade de material em processamento; as respostas rápidas às necessidades dosclientes; os baixos custos indiretos etc. Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 36 – 2 Integração da organização, pessoas e tecnologia em um sistema de coordenação interdependente: o maior inconveniente encontrado nesse conceito é a dificuldade de um balanceamento entre organi- zação, pessoas e tecnologia. Por exemplo, empresas que são alta- mente automatizadas costumam dar uma maior importância para a tecnologia em detrimento das pessoas e da organização. 2 Uma metodologia de projeto interdisciplinar para obter uma integra- ção da organização, pessoas e tecnologia: essa metodologia deve estar estreitamente associada à integração da organização, pessoas e tecnolo- gia. Desde seu princípio, o empreendimento deve ser encarado de uma maneira interdisciplinar e fatores como o projeto organizacional, por exemplo, não podem ser deixados de lado. Devem-se deixar oportuni- dades para as possíveis alterações de estratégia. 2.3.4 Customização em massa As décadas de 1980 e 1990 foram muito proveitosas em termos de modelos de produção. Também nessa época surgiu a customização em massa. Apesar de ser considerada uma estratégia de negócios relativamente recente (VIGNA, 2007), a customização em massa foi idealizada em meados dos anos 1980 e emergiu no meio empresarial em meados dos anos 1990. A cus- tomização em massa apareceu para quebrar alguns paradigmas da realidade da manufatura: oferecer produtos e/ou serviços customizados a um custo similar ao que seria conseguido pela produção em massa. Na verdade, a customização em massa é algumas vezes vista como um antagonismo (TROQUE; PIRES, 2003), pois junta duas noções contraditórias: a produção e distribuição de bens e serviços customizados em uma base de produção em massa, sinteti- zando a habilidade de prover produtos e serviços individualizados para satis- fazer qualquer necessidade, mas por um caminho eficiente de custo. Segundo Godinho Filho (2004) o termo customização em massa surgiu em 1987 no livro O Futuro Perfeito, de Stanley Davis, que deixou claro que as tecnologias existentes na época não permitiam uma ampla customização de produtos e serviços. Mas o próprio Davis previa que, no futuro, a customi- zação em massa prevaleceria. Ainda de acordo com Godinho Filho, autores como Kotha (1995), Pine (1993), Duray et al. (2000) e outros sustentam – 37 – A evolução da produção e dos consumidores a tese de Davis ao sugerir que os avanços na tecnologia da manufatura e da informação associados com a evolução dos princípios administrativos tor- naram a customização em massa uma prática mais viável. Dessa forma, a customização em massa pode ser entendida como uma evolução natural dos processos de negócios, resultante do aperfeiçoamento das tecnologias e dos padrões tradicionais de organização de processos que possibilitou aumentar significativamente a flexibilidade e agilidade da empresa, bem como melhorar seus índices de qualidade, mantendo os custos competitivos (SAHIN, 2000). Existe uma grande literatura disponível que trata de produção em massa, da manufatura enxuta, da manufatura ágil, da customização em massa e de outros tantos modelos relacionados (como a manufatura responsiva, a manu- fatura flexível etc.), incluindo estudos comparativos dos modelos em ques- tão (DE CAMPOS, 1998; GODINHO FILHO, 2004). Contudo, não é o objetivo desta seção incursionar exaustivamente através de cada um desses modelos. O objetivo maior é dar ao leitor uma pequena amostra da evolução dos modelos de manufatura nos últimos tempos e associá-la tanto à evolução das tecnologias de comunicação e informação quanto à mudança do compor- tamento dos clientes. 2.4 O consumidor e as novas abordagens Segundo Karsaklian (2000), ser consumidor é ser humano. Ou seja, ser consumidor é alimentar-se, vestir-se, divertir-se... é viver. Assim sendo, já é senso comum o reconhecimento de que compreender o consumidor é uma necessidade vital não apenas para as empresas, mas para toda a organização que se assuma como orientada para o mercado (DUBOIS, 1998, apud VIEIRA, 2004). Por esta razão, o estudo do comportamento do consumidor surgiu como um campo de estudo na década de 1960, mais precisamente em 1968, através da influência de escritores como Engel, Blackweel e Miniard (RODRIGUES; JUPI, 2004), que visavam identificar as variáveis que rodeiam o consumidor5. Em seu artigo “O comportamento do consumidor – fatores que influenciam em sua decisão de compra”, Rodrigues e Jupi (2004) apresentam como fatores 5 Estudos sobre o consumo, entretanto, são mais antigos e remontam ao século XIX (VEBLEN, 1994). Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 38 – de influência na decisão de compra as motivações, a personalidade e as percep- ções dos consumidores. Também destacam as variáveis, que são consideradas muito importantes no ato da compra: as classes sociais, as variáveis sociais, as variáveis econômicas e as variáveis culturais. Perspectivas extremamente impor- tantes para a caracterização do consumidor que podem refletir tanto o consumo utilitário quanto o consumo do supérfluo. Lage (2008), em seu artigo “O pensamento capitalista, o futuro do consumo e o equilíbrio entre desejo e necessidade” sugere que a base do entendimento, de como o pensamento mercadológico e da própria socie- dade de consumo, passou a interpretar o consumismo moderno na história do pensamento filosófico capitalista. Segundo ele, o pensamento filosó- fico liberal estabelecia as bases para o desenvolvimento de uma sociedade baseada no livre interesse pessoal. Os indivíduos são autônomos e quando buscam satisfazer seus desejos buscam por utilidade – atributo abstrato que determinado bem possui de satisfazer um desejo. Os bens não teriam uti- lidade em si, mas somente aos olhos dos observadores, e a utilidade de um bem estaria na esfera do juízo individual particular. Assim, segundo Lage, preferências são interesses manifestados ou revelados, e o ato de consumo é uma ação que indica a livre preferência. Adam Smith (1776) via no consumo dos bens supérfluos uma forma de desenvolvimento econômico da humanidade. De acordo com McKendrick et al. (1982), na Inglaterra do século XVIII deu-se, ao lado da Revolução Industrial, a emergência de práticas regulares de aquisição de bens duráveis, mais especificamente voltadas ao vestuário, fenômeno reconhecido como a Revolução do Consumo. De acordo com os estudos feitos por Almeida Jr. e Andrade (2007), para alguns autores, o comportamento consumista já pôde até ser percebido ao longo dos séculos XVII e XVIII em manifestações de grupos abastados e na corte de grandes monarcas, como Luis XIV, mas seria somente no final do século XX que se configuraria um consumo massivo e institucionalizado, como o que conhecemos hoje. A sociedade do consumo da Idade Contemporânea foi influenciada por diversos fatores. Essa geração de consumidores evoluiu à medida que também evoluíram as técnicas de marketing, as tecnologias de produção, as modali- dades de financiamento e também à medida que foi se tornando crescente a – 39 – A evolução da produção e dos consumidores importância do design. Não obstante a tudo isso, o comportamento do cliente da Idade Contemporânea em relação às empresas da mesma época é a de um consumidor predominantemente passivo. Ou seja, o envolvimento da geração pré-internet no ciclo de vida do produto é mínimo ou praticamente inexistente. Com o surgimento da internet e logo em seguida com a sua popularização (algo em torno de 10 a 15 anos atrás), o comportamento dos consumidores mudou. Mais uma revolução do consumo. Surge, agora, o consumidor colaborativo. É ele, juntamente com o advento da Web 2.0, que formam a base para o surgi- mento – ou melhor, o reaparecimento – do cliente prosumer. Ampliando seus conhecimentosA importância da manufatura enxuta em um mercado competitivo (OLLITA JR. et al., 2016) [...] TPS – Sistema Toyota de Produção O Sistema Toyota de Produção TPS, também chamado de pro- dução enxuta e lean manufacturing, surgiu no Japão, na fábrica de automóveis Toyota, logo após a Segunda Guerra Mundial. Nesta época a indústria japonesa tinha uma produtividade muito baixa e uma enorme falta de recursos, o que naturalmente a impedia de adotar o modelo de produção em massa. O sistema objetiva aumentar a eficiência da produção pela eliminação contínua de desperdícios. No Sistema Toyota de Produção a preocupação com a qualidade do produto é extrema. Foram desenvolvidas diversas técnicas simples mas extremamente eficientes para proporcionar os resultados espe- rados, como o Kanban e o Poka-Yoke. Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 40 – A base de sustentação do Sistema Toyota de Produção é a absoluta eliminação de desperdício e os dois pilares necessários à sustentação são o Just-in-Time e a autonomação (jidoka). O Sistema de Toyota de Produção vem sendo implantado em várias empresas no mundo todo, porém nem sempre com grande sucesso. A dificuldade reside no aspecto cultural. Toda uma herança histórica e filosófica conferem uma singula- ridade ao modelo japonês. Princípios básicos do Lean Os princípios básicos do Lean são facilmente definidos na sequência de ações mostrada abaixo: • Especificar valor sob a ótica do cliente (foco no valor). • Alinhar na melhor sequência as atividades que criam valor (fluxo de valor). • Realizar essas atividades sem interrupção (fluxo contínuo). • Sempre que alguém as solicita (produção puxada). • De maneira cada vez mais eficaz (melhoria contínua). a) Foco no valor O foco no valor é o primeiro e talvez o mais decisivo prin- cípio do Lean, pois nele determina-se a conexão, o foco estratégico da organização com os processos internos e, con- sequentemente, com as ações cotidianas. A definição do valor deve sempre contemplar as perspectivas dos Stakeholders da empresa ou instituição, tais como acionistas, clientes, sociedade, meio ambiente, e ser definida de forma clara e inequívoca. b) Fluxo de valor De acordo com os princípios enxutos, o objetivo principal da produção enxuta é o fluxo de valor enxuto da matéria-prima ao produto acabado, o que significa levar em conta o quadro – 41 – A evolução da produção e dos consumidores mais amplo e não apenas os processos individuais e buscar melhorar o todo e não somente as partes isoladas. Rother e Shook (1999) afirmam que para criar o fluxo de valor enxuto a técnica mais apropriada e importante é o mapeamento do fluxo de valor, uma ferramenta extremamente simples desen- volvida e difundida mundialmente pelos próprios autores. c) Fluxo contínuo Fluxo contínuo é o alinhamento das etapas que realmente criam valor para o processo, de modo que elas ocorram em uma sequência rápida. Esse fluxo exige que cada etapa do processo seja capaz de produzir peças com qualidade, que as máquinas estejam sempre prontas para operar e que as linhas estejam balanceadas, ou seja, com capacidade ideal, evitando gargalos e ociosidade. O conceito de trabalho em células de montagem retrata bem o objetivo do fluxo contínuo. d) Produção puxada É um processo que só faz o necessário, quando necessário. Na produção puxada um processo somente será acionado quando o processo seguinte solicitar. Essa solicitação dá-se através do consumo de um estoque controlado chamado supermercado, localizado entre os processos. Esse processo também é conhecido como sistema Kanban. O objetivo é construir um processo para fazer somente o que o outro pro- cesso necessita. Em outras palavras, o cliente é quem deve puxar o produto, puxar a produção e puxar o valor. e) Melhoria contínua A melhoria contínua também é conhecida como Kaizen, uma palavra de origem japonesa, em que Kai significa mudar e Zen significa para melhor. Porém, a tradução que expressa melhor o significado desta filosofia é melhoria contínua. Ter vontade e querer melhorar continuamente é preciso, tanto em âmbito pessoal, quanto em âmbito profissional, portanto, Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 42 – preocupar-se com a melhoria contínua significa preocupar-se com a sobrevivência, pois esta contribui e muito para alavan- car uma organização. [...] Atividades 1. Indique, de forma resumida, o sentido para o termo prosumer. 2. Indique alguns temas marcantes, relacionados à produção, após o iní- cio da Revolução Industrial. 3. O que pode ser indicado como fator(es) estimulador(es) para o retor- no do consumidor prosumer? A produção colaborativa e a volta do cliente prosumer A evolução do paradigma da produção em massa para novos paradigmas está, sem dúvida, estreitamente relacionada ao desen- volvimento tecnológico dos sistemas produtivos, bem como das próprias tecnologias de informação e de comunicação. As facilida- des proporcionadas por esses avanços tecnológicos têm um papel fundamental em todo esse processo de transição e evolução. Recentemente, com o surgimento das redes colaborativas, mais um paradigma foi quebrado e um novo surgiu. Como con- sequência direta da globalização e do avanço das tecnologias de informação e de comunicação, as empresas tiveram que se adaptar e mudar a sua maneira de fazer negócios. A produção se tornou colaborativa. Empresas se juntam em redes para compartilhar habi- lidades e recursos e, com isso, atingir um objetivo comum. Tudo isso, com o apoio e o suporte fundamental e indispensável das novas tecnologias. 3 Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 44 – 3.1 Tipos e níveis de integração de atividades em rede Com base nos conceitos de cooperação e colaboração adotados por Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2006) dentro da área de redes colaborati- vas, é possível identificar, por meio da figura 1, as principais diferenças de tipo de coalizão e de nível de integração entre esses conceitos. Figura 1 – Exemplos de atividades conjuntas. Objetivos comuns Entidades articuladas trabalhando juntas (criando junto) Objetivos compatíveis Entidades individuais trabalhando separada- mente (com alguma coordenação) Objetivos compatíveis Entidades individuais trabalhando separada- mente (com alguma coordenação) Objetivos complemen- tares (atividades alinha- das para o benefício mútuo) Objetivos complemen- tares (atividades alinha- das para o benefício mútuo) Objetivos complemen- tares (atividades alinha- das para o benefício mútuo) Troca de informação e comunicação Troca de informação e comunicação Troca de informação e comunicação Troca de informação e comunicação Rede Coordenação em rede Nível de integração Tipo de coalizão Cooperação em rede Colaboração em rede Fonte: CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2006. 3.1.1 Rede Rede (networking) envolve a comunicação e a troca de informações para o benefício mútuo. Um exemplo de rede é o caso de um grupo de entidades que divide informações sobre suas experiências com o uso de uma ferramenta específica. Todos podem se beneficiar das informações disponíveis, mas não há necessa- riamente um objetivo comum ou estrutura da forma e do tempo de contri- buição individual. – 45 – A produção colaborativa e a volta do cliente prosumer 3.1.2 Coordenação em rede Adicionalmente à troca de informações, a coordenação envolve o alinha- mento e a alteração de atividades para que se possa alcançar resultados mais eficientes. Coordenação, definida como o ato de trabalhar junto de forma harmoniosa, é um dos principais componentes da colaboração. Um exemplo de atividades coordenadas acontece quandoentidades heterogêneas dividem alguma informação e ajustam, por exemplo, o seu calendário (timing) de atividades de lobbying1 ou marketing para um novo projeto a fim de maximizar o seu impacto. Entretanto cada entidade pode ter um objetivo diferente e usar seus próprios recursos e métodos para criar impacto. 3.1.3 Cooperação em rede Envolve não somente troca de informações e ajustes de atividades, mas também compartilhamento de recursos para atingir objetivos compatíveis. Cooperação é atingida pela divisão de algum trabalho (não extensivo) entre os participantes. Uma cadeia de suprimentos tradicional é um exemplo de um processo de cooperação entre seus participantes: 2 cada participante executa sua parte do trabalho (de uma maneira quase independente); 2 plano comum (o qual, na maioria dos casos, não é defini- do conjuntamente); 2 objetivos compatíveis (de modo que seus resultados possam ser somados ou compostos em uma cadeia de valor resultando no pro- duto final ou serviço). 3.1.4 Colaboração em rede Consiste no processo em que as entidades compartilham informações, recursos e responsabilidades para que, de maneira comum, possam planejar, 1 Lobbying: ação de intermediar. Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 46 – implementar e avaliar um programa de atividades visando atingir um obje- tivo comum. Colaborar tem origem no latim collaborare, significa “trabalhar junto” e pode ser entendido como um processo de criação conjunta, ou seja, um processo no qual um grupo de entidades intensifica as aptidões um do outro. Isso implica compartilhar riscos, recursos, responsabilidade e recom- pensas. Requer confiança, tempo, esforço e dedicação. A engenharia concorrente é um exemplo de colaboração, em que um time de especialistas desenvolve conjuntamente um novo produto. Assim, cada bloco da figura 1 constitui um “bloco de construção” para a próxima definição, em que coordenação estende o conceito de rede ( networking), cooperação estende coordenação e, finalmente, colaboração estende cooperação. Quanto mais alta a camada desses blocos, maior é o com- prometimento e a quantidade de recursos investidos pelos parceiros. A colaboração em rede, também chamada de peering por Tapscott e Williams (2006), é definida como uma nova maneira de produzir bens e serviços através da utilização da força da colaboração em massa. Segundo esses autores, o peering, na sua forma mais pura, depende totalmente de comunidades auto-organizadas e igualitárias de indivíduos que se unem voluntariamente para produzir um resul- tado compartilhado. Assim, o peering mistura elementos de hierarquia e auto- -organização e depende de princípios meritocráticos de organização, ou seja, os membros mais capacitados e experientes fornecem liderança e ajudam a integrar as contribuições da comunidade. Tapscott e Williams sugerem que o peering fun- ciona melhor quando pelo menos três condições estão presentes: 2 o objeto da produção é informação ou cultura, o que mantém o custo de participação baixo para os colaboradores; 2 as tarefas podem ser fragmentadas em pedaços pequenos, que os indivíduos podem fornecer aos poucos e independentemente de outros produtores (por exemplo, os verbetes de uma enciclopédia). Isso torna o investimento total deles, em termos de tempo e ener- gia, mínimo em relação aos benefícios recebidos em troca; 2 os custos para integrar essas partes a um produto final acabado, incluindo os mecanismos de liderança e controle de qualidade, devem ser baixos. – 47 – A produção colaborativa e a volta do cliente prosumer Adicionalmente, os autores chamam a atenção para o fato do peering enfrentar obstáculos. Eles alertam que as comunidades de peering precisam de sistemas para analisar os colaboradores e de líderes que possam ajudar a orien- tar e administrar as interações, assim como auxiliar na integração das contri- buições díspares dos usuários. Além disso, elas precisam estabelecer regras de cooperação e colaboração e descobrir maneiras de motivar e coordenar a ação coletiva durante longos intervalos de tempo. Mas eles concluem que, apesar de todas as dificuldades que as comu- nidades de peering possam ter que enfrentar, o peering funciona porque a nova dinâmica econômica – que passou de uma economia industrial para uma economia baseada em informações – alterou permanentemente os cus- tos e os benefícios da produção de informação e colaboração. Já existem, inclusive, alguns casos de referência do modelo de produção colaborativa que provam essa assertiva. Talvez um dos mais significativos seja a Wikipédia <www.wikipedia.org>, considerada hoje a maior enciclopédia do mundo, que é oferecida gratuitamente e criada inteiramente por voluntários em uma pla- taforma aberta que permite que qualquer um seja editor. E é este justamente o fator que distingue a Wikipédia de todas as outras enciclopédias: qualquer pessoa com acesso à internet pode modificar qualquer artigo, e cada leitor é potencial colaborador do projeto. A enciclopédia está disponível em 257 idiomas ou dialetos com um total de 7,5 milhões de artigos. Desde seu início, a Wikipédia tem aumentado firmemente sua popularidade e se tornou um dos sites mais visitados na web. Contudo, o fato de qualquer um, especialista ou não, poder editar o conteúdo da Wikipédia tem gerado controvérsias. Algumas revistas ou enci- clopédias “tradicionais” têm criticado os artigos contidos na Wikipédia, que afirmam serem abordados de tal forma que condigam com a opinião da maio- ria e não com os fatos. Mas a contra-argumentação é forte: da mesma maneira que os programadores de código aberto se reúnem rapidamente para identi- ficar e consertar defeitos, os “wikipedianos” podem facilmente detectar erros e consertá-los. Segundo um estudo do MIT (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2006), uma obscenidade incluída aleatoriamente na Wikipédia é removida, em média, em 1,7 minuto. Enfim, na economia de hoje, desencadeada pelos avanços tecnológi- cos, bilhões de pessoas podem cooperar e colaborar para fazer quase tudo o Distribuição Lean na Logística e Cadeia de Suprimentos – 48 – que requer criatividade humana, um computador e uma conexão à internet. Ao contrário de antes, quando os custos de produção eram altos, as pessoas hoje podem produzir colaborativamente e compartilhar as suas criações a um custo muito pequeno. Estamos, agora, na era da cocriação e da coinovação. Uma era impulsionada e potencializada pela internet. 3.2 Web 2.0 – a internet da nova geração Web 2.0 é um termo relativamente recente, cunhado em 2004 pela empresa americana O’Reilly Media para designar uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma web, como wikis, aplicações baseadas em folksonomia2 e redes sociais. Uma tendência que reforça o con- ceito de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e ser- viços virtuais (FOLHA DE S.PAULO, 2006). Embora o termo tenha uma conotação de uma nova versão para a web, ele não se refere à atualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é enca- rada por usuários e desenvolvedores. Ao que tudo indica (O’REILLY, 2005), o marco divisor entre a Web 1.0 e o surgimento da Web 2.0 foi o que os especialistas da economia chama- ram de “estouro da bolha” das empresas ponto-com, em 2001. Segundo Tim O’Reilly (2006), o precursor do uso do termo, a Web 2.0 significa a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nessa nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a “inteligência coletiva”. Assim, os aplicativos “Web 2.0” são desenvolvidos de modo que fiquem melhores quanto mais são
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