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6 Crise do Capitalismo e sua Reinveção no Século XXI

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DESCRIÇÃO
Estudar a dinâmica do capitalismo, suas crises e reinvenções nas últimas décadas dos séculos XX
e primeiras décadas do XXI.
PROPÓSITO
Compreender os fenômenos do capitalismo contemporâneo, parte fundamental na dinâmica
mundial, é importante para profissionais que precisam analisar o mundo contemporâneo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a dinâmica do modelo neoliberal de acumulação capitalista
MÓDULO 2
Examinar o fortalecimento dos projetos políticos que, no início do século XXI, questionaram o
modelo neoliberal do capitalismo internacional
MÓDULO 3
Identificar o fortalecimento de populismos de extrema-direita
INTRODUÇÃO
O capitalismo se consolidou como realidade histórica num longo e complexo processo, que teve
início no século XIV e se estendeu até o final do século XVIII. Nesse período, várias experiências
colaboraram para o amadurecimento, lento e não linear, da ordem capitalista: a crise do
feudalismo, a formação do Estado moderno, as reformas religiosas, a revolução científica, o
descobrimento da América e as revoluções burguesas, especialmente a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial. No início do século XIX, o capitalismo já era realidade estruturada e não
havia região no mundo imune à sua influência. Mas seria equivocado supor que a afirmação do
capitalismo como modo de vida hegemônico significa que o sistema não foi desestabilizado por
crises internas e por questionamentos daqueles que tentaram superá-lo, propondo ordem social
alternativa.
Ainda no século XIX, podemos destacar as revoluções sociais de 1848 e de 1871 na França, que
trouxeram ao primeiro plano de suas reivindicações a superação do capitalismo. A crise geral de
1873 mostrou como a própria dinâmica interna do capitalismo era capaz de abalar o sistema. A
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi, em parte, resultado das contradições internas do
capitalismo. Ao mesmo tempo, acontecia a Revolução Russa, que deu origem à União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, com seu projeto de superação do capitalismo através da
implantação do comunismo. Poderíamos falar, ainda, da crise geral do capitalismo da década de
1929, da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e da Guerra Fria, na segunda metade do século
XX.
Em 1973, o capitalismo foi balançado por mais uma crise geral. A história do sistema econômico,
portanto, é a história de suas mais diversas experiências críticas. É uma história marcada mais
pela instabilidade do que pela estabilidade. Aqui, neste conteúdo, estamos interessados em
estudar os capítulos mais recentes dessa história. Neste nosso século XXI, novamente a crise do
capitalismo é realidade incontornável, seja no aspecto político, com a emergência de populismos
de extrema-direita que ameaçam o modelo da democracia liberal burguesa, seja com a pandemia
da covid-19, que colocou o ocidente capitalista de joelhos.
Nossa reflexão está dividida em quatro momentos: primeiramente, tratamos do neoliberalismo,
modelo de acumulação capitalista hegemônico no final do século XX e que se tornou alvo de
questionamentos ao longo das duas primeiras décadas do século XXI. Em seguida, estudamos os
dois governos do democrata Barack Obama nos Estados Unidos (2009-2017), especialmente o
programa “ Obama Care”, que, em diversos aspectos, tensionou o modelo neoliberal. Depois, nos
debruçamos sobre os governos de centro-esquerda que ascenderam ao poder na América Latina
na primeira década do século XXI, negando as premissas neoliberais. Ainda aqui, abordamos o
desenvolvimentismo chinês, o grande adversário do neoliberalismo ocidental no cenário mundial.
Nosso próximo passo é analisar a dinâmica ideológica dos populismos de extrema-direita, que se
fortaleceram em meio à crise social provocada pelo neoliberalismo e colocaram em risco o modelo
da democracia liberal burguesa ao longo da década de 2010. Por último, examinamos os efeitos
da pandemia da covid-19 para o sistema capitalista internacional.
OBAMA CARE
Programa de saúde governamental do governo Obama, que foi muito criticado pela oposição.
MÓDULO 1
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 Descrever a dinâmica do modelo neoliberal de acumulação capitalista
CONHECENDO O NEOLIBERALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez apresentando o papel do neoliberalismo.
NEOLIBERALISMO: HISTÓRIA E CONCEITOS
FUNDAMENTAIS
 Manifestação contrária ao Imposto Comunitário na Trafalgar Square, em 31 de março de
1990.
No final da década de 1980, alguns governos de importantes países centrais, como Estados
Unidos e Inglaterra, começaram a colocar em prática uma modalidade de gestão político-
administrativa que ficaria conhecida como “neoliberalismo”.
O presidente norte-americano Ronald Reagan (1911-2004) e a primeira-ministra britânica Margaret
Thatcher (1925-2013) foram os primeiros líderes a seguirem o receituário neoliberal, caracterizado
pelo corte abrupto nos gastos do Estado, o que significa precarizar serviços públicos e reduzir
o arco de direitos sociais garantidos pelo governo. Em questão está o debate sobre qual seria
a função do Estado, que, na lógica liberal, deve ficar restrita à garantia da segurança interna e
da soberania nacional, intervindo o mínimo possível na economia, que deveria funcionar de
acordo com a “lei do livre mercado”.
Assim, a relação capital versus trabalho, entre patrões e empregados, aconteceria sem nenhuma
mediação do poder público, com o Estado se eximindo da responsabilidade de garantir proteção
social aos trabalhadores e aos pobres em geral. Margaret Thatcher e Ronald Reagan chegaram
ao comando político de seus países comprometidos com a agenda neoliberal, o que fez com que
seus governos tenham sido marcados por muitas tensões e protestos promovidos pelos
trabalhadores e por outros setores da sociedade civil organizada. Thatcher já era figura relevante
na cena política inglesa desde meados da década de 1970, quando liderava a oposição
conservadora contra o governo trabalhista comandado por James Callaghan (1912-2005).
 O presidente Ronald Reagan com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, em Camp
David, em 1986.
Em síntese, o governo trabalhista estava fundado no projeto da social-democracia, que defende o
Estado como centro planejador do desenvolvimento econômico, da promoção da justiça social e
da ampliação dos direitos sociais, como alimentação, moradia e proteção laboral aos
trabalhadores. Todos esses direitos estariam garantidos através daquilo que alguns economistas
chamam de taxação progressiva da sociedade.
OU SEJA, AS PESSOAS PAGARIAM IMPOSTOS DE
ACORDO COM SUA RIQUEZA. OS RICOS
PAGARIAM MAIS E FINANCIARIAM OS DIREITOS
SOCIAIS DOS MAIS POBRES, QUE PAGARIAM
MENOS IMPOSTOS. ASSIM, O ESTADO
FUNCIONARIA COMO GARANTIDOR DA
EQUIDADE SOCIAL.
Como podemos perceber, trata-se de uma concepção de Estado completamente diferente daquela
que caracteriza o pensamento neoliberal. Margaret Thatcher se fortaleceu como liderança política
questionando esse uso do Estado, argumentando que a taxa tributária necessária para garantir a
manutenção da social-democracia seria demasiadamente alta e oneraria equivocadamente a
sociedade civil, sufocando a iniciativa privada e o empreendedorismo individual. Assumindo o
comando político da Inglaterra em maio de 1979, Thatcher fundou seu governo na ideia de
desregulamentação: alterou a legislação trabalhista, o que provocou muitos protestos
organizados pelas principais centrais sindicais do país; privatizou empresas públicas e
diminuiu impostos. A popularidade que Thatcher havia acumulado nos anos de oposição diluiu-
se rapidamente, a ponto de ela ter sido alvo, em 1984, de uma tentativa de assassinato.
TENTATIVA DE ASSASSINATO
A tentativa ocorreu em um atentado terrorista reivindicado pelo IRA (Exército Republicano
Irlandês), com uma explosão no Grand Hotel Brighton, onde ocorria uma reunião do partido
conservador.
javascript:void(0)
 Grand Hotel após a explosão de atentado ao assassinato de Thatcher.
 RonaldReagan.
Ronald Reagan foi eleito o 40° Presidente dos EUA em novembro de 1980, após derrotar o
candidato democrata Jimmy Carter, que, na época, era o presidente em exercício, tentando
reeleição. A vitória de Reagan foi esmagadora e traduziu um desejo de mudança compartilhado
pela sociedade norte-americana.
A situação, em parte, era semelhante à inglesa. Na década de 1930, em virtude da crise geral do
capitalismo, os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Franklin Delano Roosevelt (1882-
1945), estabeleceram um tipo de governo que podemos definir como sendo de matriz social-
democrata.
O Estado se tornou o principal investidor e, por meio de obras públicas, gerou milhares de
empregos, agindo também como protetor social dos mais pobres, com forte legislação trabalhista.
Isso tudo, às custas e tributação progressiva da sociedade civil, na qual os ricos pagam mais
impostos e os pobres são os principais receptores dos direitos sociais garantidos pelo Estado.
O plano de reestruturação econômica idealizado por Roosevelt, que ficou conhecido como New
Deal, impactou o mundo no período entreguerras, demonstrando os limites práticos da tese do
livre mercado, fundamental para o repertório liberal a partir do século XVIII, desde os textos de
Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). As guerras mundiais e o colapso do
sistema capitalista internacional mostraram que, em momentos de crise aguda, somente o Estado
é capaz de promover movimentos anticíclicos e estimular a economia quando os investidores
privados estão assustados e pouco dispostos a correrem riscos. Segundo Pierre Dardot e
Christian Laval, foi a “necessidade prática de intervenção do governo que pôs em crise o
liberalismo dogmático, pautado numa ideia de desregulamentação que nunca se consolidou na
prática” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 38).
NEW DEAL
O plano tinha uma relação com um modelo econômico baseado em um capitalismo dirigido e
intervencionista conhecido como keynesianismo.
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 Sinais para a eleição de 1936 nas ruas de Hardwick, Vermont, EUA.
A cultura do New Deal foi fundamental para a superação da crise catastrófica que se abateu
sobre os EUA entre as décadas de 1930 e 1950. Porém, a partir do final da década de 1960,
ganharam força os questionamentos ao modelo rooseveltiano do Estado provedor. Como
demonstra Jürgen Habermas, as críticas à social-democracia, nos EUA, tiveram o resultado de
refundar a direita norte-americana, dando início àquilo que o autor chama de “A nova
obscuridade”. Além das críticas à carga tributária necessária para a manutenção do experimento
social-democrata, ganhou forma, também, um tipo de crítica cultural, que explicava o
comportamento considerado desregrado da juventude (movimento pelos direitos civis da
população negra, movimento hippie, festival de Woodstock) pelas alegadas comodidades que o
“Estado assistencialista” possibilitava. Isso teria dado origem a uma geração preguiçosa,
hedonista e pouco afeita ao trabalho.

SEGUNDO OS NEOLIBERAIS, A SITUAÇÃO DE
COLAPSO MORAL QUE ESTARIA SENDO VIVENCIADA
NOS EUA, NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970, SE
EXPLICAVA PELA “INFLAÇÃO DE EXPECTATIVAS E
REINVINDICAÇÕES IMPULSIONADA PELA
CONCORRÊNCIA ENTRE OS PARTIDOS, PELAS MÍDIAS
DE MASSA, PELO PLURALISMO DE ASSOCIAÇÕES ETC.
ESSA PRESSÃO DAS EXPECTATIVAS DOS CIDADÃOS
“EXPLODE” EM UMA AMPLIAÇÃO DRÁSTICA DAS
TAREFAS ESTATAIS. OS INSTRUMENTOS DE CONTROLE
DA ADMINISTRAÇÃO SE SOBRECARREGAM COM ISSO.
A SOBRECARGA LEVA TANTO MAIS ÀS PERDAS DE
LEGITIMIDADE QUANTO O ESPAÇO DE AÇÃO ESTATAL
É ESTRANGULADO POR BLOCOS DE PODER PRÉ-
PARLAMENTARES, E QUANDO OS CIDADÃOS
RESPONSABILIZAM O GOVERNO PELAS PERDAS
ECONÔMICAS PERCEPTÍVEIS. ISSO É TANTO MAIS
PERIGOSO QUANTO MAIS A LEALDADE DA
POPULAÇÃO DEPENDE DE COMPENSAÇÕES
MATERIAIS.
(HABERMAS, 2015, p. 67)
Foi nesse clima de acirrado conflito e intensas disputas entre concepções de Estado
diametralmente opostas que aconteceram as eleições presidenciais de 1980. Todo o debate
eleitoral girou ao redor do legado do modelo rooseveltiano. A vitória esmagadora de Reagan
decretou um novo momento na história dos EUA, caracterizado pela radicalização da perseguição
às esquerdas, pelo enfraquecimento dos sindicatos e pelo desmonte da legislação destinada à
proteção social.
 Ronald Reagan dando seu discurso de aceitação da nomeação na Convenção Nacional
Republicana, em Detroit, no estado de Michigan, em 17 de julho de 1980.
Com todo custo social que tiveram, os governos de Thatcher e Reagan conseguiram diminuir os
gastos públicos e garantir maior rendimento aos setores mais dinâmicos e poderosos do
capitalismo na época, transformando o modelo neoliberal de gestão em padrão hegemônico.
A FORÇA DO NEOLIBERALISMO PARECIA
INABALÁVEL, TENDO SIDO COROADA PELO
CONSENSO DE WASHINGTON, REALIZADO EM
1989.
O “consenso”, como ficou conhecido, foi um fórum internacional comandado pelo Banco Mundial,
pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI, e pelo Departamento de Tesouro dos EUA que
definiram o receituário neoliberal como o único tecnicamente correto para administrar as
economias nacionais. O encontro estabeleceu algumas “regras de ouro” para a boa prática da
gestão econômica, como a desregulamentação dos gastos obrigatórios do Estado, a privatização
das empresas públicas e diminuição da carga tributária.
O principal efeito ideológico do Consenso de Washington foi transformar aquilo que era uma
orientação ideológica em obrigação técnica e, dessa forma, conseguir pautar o debate econômico
mundial.
 ATENÇÃO
A hegemonia neoliberal, no entanto, não duraria para sempre. O alvorecer do século XXI trouxe
diversos questionamentos ao modelo neoliberal, impulsionando diferentes experiências de crise,
como estudaremos nas próximas seções. Por enquanto, é importante dedicar mais atenção ao
próprio neoliberalismo, às suas transformações, tentando entender seu lugar na história do
pensamento político/econômico liberal.
AGENDA POLÍTICA NEOLIBERAL
A agenda política e econômica do neoliberalismo consiste na radicalização de preceitos liberais
que vinham sendo desenvolvidos desde o século XVIII. Na primeira geração do liberalismo
econômico, podemos situar:
 David Ricardo.
David Ricardo (1772-1823)
 Adam Smith.
Adam Smith (1723-1790)
Cada um a seu modo, ambos defenderam as ideias do Estado mínimo e do livre mercado, sem
desconsiderar o dilema do combate à pobreza social, questão fundamental para o pensamento
econômico liberal.
PARA RICARDO E SMITH, A POBREZA SOCIAL SE
RESOLVERIA NATURALMENTE PELA LÓGICA DA
COMPLEMENTARIEDADE.
Ou seja, setores com excesso produtivo compensariam o deficit produtivo de outros setores,
naturalmente, em troca impulsionada pelo livre fluxo da atividade econômica, sem interferência do
Estado, que somente atrapalharia o processo. Havia, nesses autores e nas práticas políticas que
eles inspiraram, aquilo que podemos chamar de “utopia liberal”, segundo a qual o aprimoramento
das liberdades individuais levaria à erradicação da pobreza social.
 ATENÇÃO
O dilema da pobreza social tornou-se ainda maior no século XIX, com o aprofundamento da
Revolução Industrial. Surgiram grandes conglomerados urbanos em diversos países da Europa,
com trabalhadores amontoados em bairros proletários, com acesso precário à água e aos serviços
sanitários. As doenças se espalhavam, assim como a violência.
Todos os grandes pensadores oitocentistas trouxeram a pobreza social para o primeiro plano de
suas reflexões. No final do século XIX, o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) promoveu
algumas mudanças no pensamento econômico liberal, especialmente no que se refere à questão
da pobreza social, tornando-se matriz daquilo que posteriormente seria conhecido como
neoliberalismo.
Tal como Ricardo e Smith, Spencer também defendia que a pobreza social seria naturalmente
extinta pelo livre mercado. Porém, diferentemente dos seus antecessores, Spencer negava a
lógica da complementariedade produtivae, evocando os princípios do darwinismo, falava em
competição social.
 Herbert Spencer
PARA SPENCER, A POBREZA DESAPARECERIA
COM O DESAPARECIMENTO DOS POBRES, QUE,
MENOS PREPARADOS PARA A DISPUTA SOCIAL,
TENDERIAM A DESAPARECER, A MORRER.
Para isso, o Estado não deveria intervir no processo, tampouco garantir amparo social aos pobres.
Na lógica spenceriana, a pobreza social acabaria na medida em que os pobres desaparecessem.
Nas palavras do próprio Spencer no livro O indivíduo contra o Estado , publicado pela primeira
vez em 1884:

SENDO A AQUISIÇÃO DE UM BEM PARA O POVO O
TRAÇO EXTERNO VISÍVEL COMUM NAS MEDIDAS
LIBERAIS NOS TEMPOS ANTIGOS (E ESSE BEM
CONSISTIA ESSENCIALMENTE NUMA DIMINUIÇÃO DA
COERÇÃO), RESULTOU QUE OS LIBERAIS VIRAM O
BEM DO POVO NÃO COMO UM OBJETIVO QUE ERA
NECESSÁRIO ATINGIR DIRETAMENTE. E, PROCURANDO
ATINGI-LO DIRETAMENTE, EMPREGARAM MÉTODOS
INTRINSECAMENTE CONTRÁRIOS AOS QUE HAVIAM
SIDO EMPREGADOS ORIGINALMENTE. (...) QUEREM
LASTIMAR AS MISÉRIAS DOS POBRES MERITÓRIOS,
EM VEZ DE REPRESENTÁ-LAS – O QUE NA MAIORIA
DOS CASOS SERIA MAIS CORRETO – COMO AS
MISÉRIAS DOS POBRES DEMERITÓRIOS. EM MINHA
OPINIÃO, PODE-SE CONSIDERAR QUE UM DITADO
CUJA VERDADE É ACEITA IGUALMENTE PELA CRENÇA
COMUM E PELA CRENÇA DA CIÊNCIA GOZA DE UMA
AUTORIDADE INCONTESTÁVEL. POIS BEM! O
MANDAMENTO: “SE UMA PESSOA NÃO DESEJA
TRABALHAR, NÃO DEVE COMER” É SIMPLESMENTE O
ENUNCIADO CRISTÃO DESSA LEI DA NATUREZA SOB
IMPÉRIO DA QUAL A VIDA ATINGIU SEU GRAU ATUAL,
A LEI SEGUNDO A QUAL UMA CRIATURA QUE NÃO É
SUFICIENTEMENTE ENÉRGICA PARA SE BASTAR DEVE
PERECER.
(SPENCER apud DARDOT; LAVAL, 2016, pp. 46-47)
O spencerianismo inspirou a formação de um grupo de economistas que ficaria conhecido como
Escola de Chicago, formada por nomes como George Stigler (1911-1991) e Milton Friedman
(1912-2006). Em síntese, a Escola de Chicago defendia o monetarismo, confrontando o
keynesianismo, que era o fundamento econômico da social-democracia. Outro importante grupo
de economistas que sistematizou os valores do neoliberalismo foi a Escola Austríaca,
representada por nomes como Carl Menger (1840-1921), Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) e
Ludwig von Mises (1881-1973). As ideias de voluntariedade e agência são norteadoras do
pensamento econômico desenvolvido pela Escola Austríaca. Para os autores, as partes individuais
devem ser totalmente livres para negociar suas interações econômicas, sem nenhum tipo de
regulação por parte do Estado. Para os economistas da Escola Austríaca, o indivíduo é a célula
fundamental da atividade econômica e, por isso, não deve ser constrangido por interesses
externos a ele.
Nas palavras de Mises:
 Ludwig von Mises
Como podemos perceber na citação, o Estado, para Mises, é força coercitiva, cuja única função é
constranger e limitar a liberdade individual. Estamos aqui muito distantes da concepção de Estado
que foi desenvolvida por outros autores do escopo liberal, como John Locke (1632-1704), para
quem o Estado tinha a função de garantir as liberdades individuais através da aplicação da lei. Em
Mises, o Estado é a ameaça à liberdade individual, e, quanto menos Estado, mais liberdade.
Foi esse modelo neoliberal que se tornou hegemônico no capitalismo internacional em fins do
século XX e, como veremos a seguir, entrou em colapso já nos primeiros anos do século XXI.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Examinar o fortalecimento dos projetos políticos que, no início do século XXI,
questionaram o modelo neoliberal do capitalismo internacional
CRISES DO NEOLIBERALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez sobre a crise do modelo neoliberal no
mundo.
CRISE DO NEOLIBERALISMO NAS
AMÉRICAS
O século XXI nasceu sobre os impactos da lógica neoliberal acumulados ao longo da década de
1990. Em regiões mais pobres do mundo, sobretudo na América Latina, as diretrizes do Consenso
de Washington provocaram o empobrecimento geral das sociedades civis, a precarização de
serviços públicos e o comprometimento da soberania nacional, com a privatização em empresas
públicas estratégicas. Um dos principais efeitos do neoliberalismo se deu na transformação na
ideia de Estado e, consequentemente, de função do poder público.
O ESTADO DEIXOU DE SER VISTO COMO O
RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA E PELO BEM-
ESTAR SOCIAL DA COMUNIDADE PARA SER
TRATADO COMO UMA EMPRESA QUE JAMAIS
PODE DAR PREJUÍZO.
É o “Estado-firma”, nas palavras de Wendy Brown.

TANTO AS PESSOAS QUANTO OS ESTADOS SÃO
BASEADOS NO MODELO DA EMPRESA
CONTEMPORÂNEA, ESPERA-SE QUE TANTO AS
PESSOAS QUANTO OS ESTADOS SE COMPORTEM DE
MODOS QUE MAXIMIZEM SEU VALOR CAPITAL NO
PRESENTE E AUMENTEM SEU VALOR FUTURO, E
TANTO AS PESSOAS QUANTO OS ESTADOS O FAZEM
ATRAVÉS DE PRÁTICAS DE EMPREENDEDORISMO,
AUTOINVESTIMENTO E ATRAÇÃO DE INVESTIDORES.
(BROWN, 2015, p. 22)
Como o autor deixa claro, a racionalidade liberal, ou a “nova razão do mundo”, para usarmos as
palavras de Pierre Dardot e Christian Laval, afetou todas as relações humanas, tanto as públicas
como as privadas. É como se o neoliberalismo tivesse inflado a lógica econômica a tal ponto que
todas as ações humanas passaram a ser vividas a partir das ideias de lucro e prejuízo. Até mesmo
a temporalidade, como argumenta Arthur Ávilla, foi afetada pela lógica neoliberal, com horizontes
de futuro sendo fechados e a experiência humana sendo encerrada no eterno presente, no curto
tempo da performance, da eficiência e do consumo.
A mundialização dos preceitos neoliberais provocou desconforto e mal-estar em diversas regiões
do mundo, o que deu origem ao surgimento de diversos questionamentos que se fortaleceram já
nos primeiros anos do século XXI. Podemos começar pela eleição de governos de centro-
esquerda em vários países da América Latina, fortalecidos pela insatisfação daquelas sociedades
com o modelo de administração neoliberal. Em 2005, a empresa de comunicação britânica BBC
realizou uma pesquisa e concluiu que ¾ dos 350 milhões de pessoas que viviam na América
Latina naquela altura estavam sendo governadas por projetos políticos de esquerda ou de centro-
esquerda.
Clique no botão abaixo e confira a lista de presidentes de esquerda e seus períodos de duração.
Clique no botão para ver as informações. Objeto com interação.
VEJA AQUI!
Na época, o fenômeno ficou conhecido como “guinada latino-americana”. Abaixo, a lista desses
governos, com seus períodos de duração:
Néstor Kirchner, na Argentina, entre 2003 e 2007.
Cristina Kirchner, na Argentina, entre 2007 e 2015.
Evo Morales, na Bolívia, entre 2006 e 2019.
Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, entre 2003 e 2011.
Dilma Rousseff, no Brasil, entre 2011 e 2016.
Ricardo Lagos, no Chile, entre 2002 e 2006.
Michelle Bachelet, no Chile, entre 2006 e 2010 e entre 2014 e 2018.
Oscar Arias, na Costa Rica, entre 2006 e 2011.
Maurício Funes, em El Salvador, entre 2009 e 2014.
Salvador Sánchez Cerén, em Salvador, entre 2014 e 2019.
Rafael Correia, no Equador, entre 2007 e 2017.
Manuel Zelaya, em Honduras, entre 2006 e 2009.
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Daniel Ortega, na Nicarágua, desde 2007.
Fernando Lugo, no Paraguai, de 2008 a 2012.
Tabaré Vázquez, no Uruguai, de 2005 a 2010 e depois de 2015 a 2020.
José Mujica, no Uruguai, de 2010 a 2015.
Hugo Chávez, na Venezuela, entre 1999 e 2013.
Nicolás Maduro, na Venezuela, desde 2013.
 Bandeira de Hugo Chávez durante as eleições presidenciais de abril em Caracas, Venezuela,
2018.
É claro que esses governos têm suas particularidades e qualquer tentativa de generalização é
analiticamente perigosa. Entre esses governos, podemos encontrar desde projetos de conciliação
nacional que tentaram negociar com as forças do capital, como foram os casos do kirchnismo na
Argentina e do petismo no Brasil. Encontramos, também, governos de enfrentamento e de ruptura,
como foi o de Chávez, na Venezuela, e de Morales, na Bolívia.
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Mas, se é possível pensarmos em características comuns a todos esses governos, como a
rejeição ao neoliberalismoe às diretrizes do Consenso de Washington e a recuperação da função
social do Estado, suas trajetórias políticas também foram bastante diversas.
Alguns encontraram resistências e foram golpeados logo no início, como foram os casos de
Manuel Zelaya, em Honduras, e de Hugo Chávez, na Venezuela, sendo que Chávez conseguiu
reverter a situação e se manter no poder. Também Evo Morales foi golpeado, mas depois de anos
de governo. Fernando Lugo, no Paraguai, e Dilma Rousseff, no Brasil, foram objeto de processos
de impeachment polêmicos e definidos como “golpe parlamentar” por parte da bibliografia
especializada.
KIRCHNISMO
Nome atribuído ao casal que se revezou na presidência argentina – Cristina e Néstor.
As resistências ao neoliberalismo nos primeiros anos do século XXI não ficaram restritas à
América Latina. Também nas duas principais potências do mundo, nos EUA e na China,
aconteceram críticas e questionamentos ao neoliberalismo.
Seria exagerado dizer que o governo do democrata Barack Obama, entre 2009 e 2017, rompeu
com os preceitos neoliberais. Mas seria equivocado supor que sua administração seguiu os
mesmos passos dos governos republicanos anteriores, herdeiros de Ronald Reagan, que fizeram
dos EUA o laboratório mundial das práticas neoliberais. Obama, ao menos dentro dos EUA,
relativizou algumas dessas práticas, ainda que tenha as imposto a países mais pobres.
Barack Obama iniciou seu governo sob grande euforia da sociedade civil norte-americana. Cerca
de 2 milhões de pessoas compareceram à cerimônia de posse em 24 de fevereiro de 2009, num
clima de congraçamento político que poucas vezes se viu naquele país. Não era para menos, pois
os EUA acabavam de eleger o primeiro presidente negro, concluindo um ciclo de lutas da
população afro-americana que havia começado na década de 1960, com a jornada dos direitos
civis. O governo de Obama foi bastante contraditório no que se refere à comparação entre as
políticas externa e interna. Poucos presidentes dos EUA foram tão belicistas como Barack Obama,
cuja administração foi marcada por intensa movimentação militar, sobretudo no Oriente Médio.
 RESUMINDO
No plano da política interna, Obama tentou corrigir problemas estruturais históricos da sociedade
norte-americana, como, por exemplo, a falta de um sistema de saúde ao qual os cidadãos
pudessem recorrer. Pode parecer estranho aos nossos olhos, mas os EUA não têm um sistema de
saúde para atender à população que não tem dinheiro para pagar pelo serviço privado. Até o
governo de Obama, os pobres não tinham atendimento médico, o que traduz os valores de um
país construído historicamente a partir da lógica do mercado, da iniciativa privada, que desconfia
de tudo que é público.
Ao criar o “Obama Care”, em 2010, Obama ofereceu plano de saúde subsidiado pelo Estado a
todos os cidadãos americanos em situação de vulnerabilidade social. Com isso, o presidente
trouxe o Estado para o debate nacional sobre o direito à saúde, recuperando a ideia, de matriz
social-democrata, de que cabe ao poder público garantir acesso a direitos sociais básicos.
Posteriormente, Donald Trump, sucessor de Obama, tomou o desmonte do “Obama Care” como
prioridade política, o que estudaremos com mais calma na próxima seção, quando nos
dedicaremos aos populismos de extrema-direita, que se fortaleceram em diversas partes do
mundo como um dos resultados do colapso do neoliberalismo.
CRISE DO LIBERALISMO NO MUNDO
Também do outro lado do Oceano Atlântico, na Ásia, diversos países organizaram estratégias de
desenvolvimento econômico que confrontaram preceitos do neoliberalismo. Analisando justamente
a crise do império capitalista estadunidense, o cientista político norte-americano Chalmers
Johnson (1931-2010) foi o primeiro a utilizar o conceito “desenvolvimentismo asiático” para
analisar projetos econômicos emergentes naquela região do mundo ao longo dos primeiros anos
do século XXI. O livro de Johnson, publicado em 1982, se dedica principalmente ao “milagre
econômico japonês”, mas as linhas gerais da análise do autor podem nos ajudar a compreender
outros casos que configuram, em grande medida, a crise contemporânea do capitalismo
neoliberal.
Em outra obra, publicada em 1993, Johnson se debruçou especificamente sobre a história
econômica dos países asiáticos na segunda metade do século XX. Depois do trabalho de
Johnson, tornou-se recorrente dizer que o “estado desenvolvimentista” foi o grande responsável
pelo desenvolvimento econômico acelerado da Coreia do Sul, Taiwan e Singapura entre os anos
1960 e 1980, da China, a partir dos anos 1990, e do Vietnã, no início do século XXI.

O “MODELO ECONÔMICO” JAPONÊS DO PÓS-GUERRA
NÃO ERA ORIGINAL E VINHA DOS ANOS 1920; E SUA
CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL NÃO ERA
ECONÔMICA, TINHA A VER COM A “INTENSIDADE” COM
QUE A SOCIEDADE E O GOVERNO JAPONÊS SE
DEDICAVAM AO ESTABELECIMENTO E CUMPRIMENTO
DOS SEUS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS. ESTA
“INTENSIDADE” SE DEVIA AO FATO DE QUE O
“MODELO” TINHA SIDO CONCEBIDO COMO UM
INSTRUMENTO DE GUERRA E DE RECONSTRUÇÃO,
DEPOIS DA GUERRA, E COMO INSTRUMENTO DE
DEFESA DA SOBERANIA JAPONESA, FRENTE AOS
DESAFIOS DO MUNDO E DO CONTEXTO GEOPOLÍTICO
ASIÁTICO, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX.
(JOHNSON, 2017, p. 91)
O QUE O AUTOR ESTÁ DIZENDO? 
 
OS MOTIVOS QUE EXPLICAM O SUCESSO
ECONÔMICO JAPONÊS SÃO MAIS POLÍTICOS DO
QUE PROPRIAMENTE ECONÔMICOS.
Em um contexto de reconstrução nacional após a Segunda Guerra Mundial, o Estado japonês
tomou para si a responsabilidade de zelar pelos interesses nacionais, condicionando toda
atividade econômica ao que Johnson chamou de “pacto de desenvolvimento coletivo”. Não é difícil
perceber que essa forma de tratar a relação do Estado com a economia é diametralmente oposta
ao receituário neoliberal. A trilha aberta pelo Japão foi seguida por outras nações asiáticas.
O recado que vinha da Ásia parecia claro: o neoliberalismo ocidental, com sua concepção de
“Estado-firma”, não servia para aquela região do mundo. Foi exatamente dessa negação ao
neoliberalismo que se fortaleceu outra ideologia político-econômica que na transição do século XX
para o século XXI acabou reequilibrando a geopolítica mundial, fazendo da Ásia a região mais
economicamente ativa e desenvolvida do planeta.
Em 1989, foi publicado outro livro sobre o desenvolvimentismo asiático, dessa vez assinado pela
economista norte-americana Alice Amsden (1943-2012). Sugestivamente intitulado Asia’s Next
Giant (O próximo gigante asiático , em tradução livre), Amsden ampliou a análise de Johnson
para a Coreia do Sul, para o “milagre econômico coreano”, nas palavras da própria autora.
Segundo Amsden, no caso da Coreia do Sul, o modelo de desenvolvimento também era
caracterizado pelo protagonismo do Estado, fincando suas raízes na primeira metade do século
XX, na luta anticolonialista contra o próprio Japão.
Sobre a China, Johnson também chama atenção para a experiência da guerra anticolonialista, o
“campesinato revolucionário” como força de impulsão desenvolvimentista. Para os autores, as
guerras fizeram com que as sociedades asiáticas criassem vínculos de solidariedade e confiança
com o Estado, visto como o guardião dos interesses nacionais. A partir da leitura desses autores,
podemos analisar o desenvolvimentismo asiático em quatro características principais:
Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
A prosperidade asiática observada em fins do século XX se deu pelo fortalecimento dos Estados
nacionais, algo que aconteceu em meados do século passado, a partir de diversas experiências
de guerras emancipatórias. Isso deu origem a um sistema interestatal regional altamente
competitivo que ajudou a potencializar ainda mais o desenvolvimento dos países locais.
A estratégia econômica destes países asiáticos esteve sempre muito longe dos valores
neoliberais, rejeitando frontalmente a premissa do “Estado mínimo”, ou do “Estado-firma”.
Não há nenhuma instituição ou política que explique isoladamenteo sucesso do crescimento
asiático, e que possa ser transplantada para países que tenham se constituído ou estejam fora de
sistemas de poder altamente competitivos. A simples condição de latecomer ou de “capitalismo
tardio” não explica nada, nem é capaz de gerar um projeto e uma estratégia de alto crescimento.
Os asiáticos nunca se referiram a si mesmos como “desenvolvimentistas”. Suas estratégias
econômicas não têm nada a ver com o chamado “desenvolvimentismo latino-americano”. Sua
política industrial, comercial e macroeconômica sempre esteve a serviço de sua “grande
estratégia” social e nacional e da sua luta pela conquista ou reconquista de uma posição
internacional autônoma e preeminente. Os asiáticos têm plena consciência de que a política
econômica entregue a si mesma é cega e incapaz de gerar seus próprios objetivos. E muito
menos ainda de definir os objetivos de uma sociedade e de uma nação.
Ao longo dos últimos séculos, os olhares do chamado “mundo ocidental” permaneceram bastante
concentrados nos países que orbitavam em torno das economias europeias e dos Estados Unidos.
Não fossem os países árabes, por sua participação decisiva no mercado global de petróleo, e pela
Rússia, em função de seu desenvolvimento econômico e das tensões vestigiais da Guerra Fria,
nossas preocupações provavelmente seriam ainda mais ocidentalizadas. Não sem razão, muitos
se viram perplexos diante da emergência da China no cenário global, que passou a ostentar taxas
médias de crescimento econômico de 10% a partir da década de 1990.
Ao longo dos anos, nenhum país ocidental conseguiu rivalizar com esses índices e, gradualmente,
a frase Made in China começou a se fazer bastante presente em nossa vida cotidiana. Caso
esteja lendo esse texto em seu computador, recomendamos que vire o mouse e procure o local
em que o produto foi fabricado. A chance de encontrar um Made in China é grande. Se não
acontecer, basta uma busca simples e você perceberá que muitos produtos que temos à nossa
disposição são chineses. Ainda que os EUA continuem responsáveis por boa fatia do comércio
internacional, o país asiático deve assumir a dianteira até 2026.
Por esse motivo, nenhuma análise sobre as dinâmicas comerciais do século XXI pode ignorar a
participação chinesa no mercado global. Apesar das inúmeras variáveis e divergências que
compõem o complexo jogo que garantiu essa mudança, muitos analistas se apoiam em duas
explicações gerais para esse processo.
Segundo Rhys Jenkins (2019, p. 22), essas mudanças podem ser observadas a partir de duas
lentes, uma externa e outra interna.
EXTERNA
Do ponto de vista externo, observa-se o impacto significativo do "abandono das políticas
keynesianas do consenso pós-guerra e a adoção do neoliberalismo, especialmente sob Reagan
nos Estados Unidos e Thatcher no Reino Unido. Uma das estratégias do capital para restaurar a
lucratividade foi deslocar a mão de obra para reduzir os custos da produção”.
INTERNA
Em contraste, a abordagem interna “toma como ponto de partida as mudanças ocorridas na China
após a morte de Mao Tsé-Tung em 1976. As reformas na política econômica começaram com
Deng Xiaoping em 1978 e desencadearam um processo dinâmico de crescimento que ampliou a
competitividade da China" (JENKINS, 2019, p. 22).
Nesse sentido, enquanto os países “ocidentais” diminuíram significativamente a presença do
Estado na economia, a China adotou uma posição oposta, que permitiu o desenvolvimento
tecnológico, a ampliação do mercado consumidor global e diversas outras ações que tornaram o
país atrativo, inclusive, a investidores estrangeiros.
Em 2001, as exportações chinesas ganharam novo impulso com a adesão à Organização Mundial
do Comércio (OMC). Diversas empresas da China começaram a realizar obras no exterior, e os
empréstimos de bancos chineses também consolidaram sua presença nos mercados financeiros
globais.
EM SUMA, ESSA MUDANÇA ECONÔMICA
DESENCADEOU UMA SÉRIE DE EFEITOS, COMO
AS CHAMADAS “GUERRAS COMERCIAIS”, QUE
REPRESENTAM, TALVEZ, UM DOS ASPECTOS
MAIS VISÍVEIS DO PROTAGONISMO CHINÊS
NESSE INÍCIO DO SÉCULO XXI.
MERCADOS IRREGULARES
Ainda que a ênfase nos estudos sobre as dinâmicas comerciais se dê a partir de elementos
visíveis, parte importante das transações econômicas globais acontece à margem dos esforços
oficiais de contabilização. Para além dos grandes debates acerca do modus operandi de parte do
mercado financeiro, da ausência de transparência em muitas transações, dos processos de
lavagem de dinheiro e de depósitos que se avolumam em paraísos fiscais, parte do movimento no
comércio global se desdobra para além da superfície através da venda e compra de produtos de
inegáveis impactos políticos, sociais e econômicos.
 EXEMPLO
O comércio ilegal de armas de fogo é um exemplo conhecido, assim como o de substâncias
psicoativas. Esse último caso, inclusive, merece uma observação mais atenta.
Não menos importante, os processos de globalização e multilateralismo contribuíram francamente
para o aumento do comércio internacional de drogas. Ainda que parte dos processos de
importação e exportação de drogas se dê por vias próprias, a ampliação dos circuitos de trocas
comerciais permitiu que muitos comerciantes incluíssem suas mercadorias proibidas em redes
regulares, o que exige permanente esforço de fiscalização por parte das autoridades aduaneiras.
Também é difícil rastrear o destino dos valores adquiridos com comércio ilegal. Ainda que
traficantes locais façam investimentos locais e fracionados para “lavar” o dinheiro ilícito, acredita-
se que parte importante das cifras seja regularizada através de aplicações no mercado financeiro,
muito mais difíceis de identificar.
 Oficial da aduana dos EUA recompensa seu cão farejador após identificar narcóticos
escondidos em uma embalagem em Chicago.
Os números estimados ao longo do século XXI são bastante esclarecedores em relação ao poder
desse mercado ilegal. Em 2003, o mercado varejista de drogas teria arrecadado algo em torno de
322 bilhões de dólares, soma que é maior do que o PIB de muitos países. De acordo com o
relatório Estimating Illicit Financial Flows Resulting From Drug Trafficking and Other Transnational
Organized Crimes (2011), o comércio irregular teria sido responsável por valores próximos a
1,5% do PIB mundial em 2009, com destaque para o narcotráfico. Estimativas do World Drug
Report , publicação anual do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, mostram que,
no início do século XXI, cerca de 5,2% da população mundial entre 15 e 64 anos fez uso, regular
ou esporádico, de alguma substância psicoativa ilegal. Em 2012, atingiu-se o número de 4,7% e,
em 2015, 5,5%. O relatório aponta que o aumento no consumo acompanha o crescimento
demográfico, mas se mantém percentualmente estável (UNODC, 2019).
Também vale destacar que a distinção geral entre drogas lícitas (tabaco, álcool, ansiolíticos etc.) e
ilícitas (maconha, cocaína, crack, metanfetamina) não depende das características de cada droga,
haja vista que muitas substâncias, hoje ilegais, já foram permitidas e muitas drogas, hoje ilegais, já
foram autorizadas sem qualquer regulamentação. Há inúmeras questões envolvidas nessa
equação, desde o estigma social do usuário até a criminalização da pobreza.
Refletindo
Com o passar dos anos, a crise do neoliberalismo foi ganhando contornos mais trágicos,
motivados pela insatisfação social provocada pela precarização da qualidade de vida em diversos
países ocidentais. Esse ambiente de frustração e ressentimento serviu como combustível para a
ascensão de governos de extrema-direita, que, nos anos 2010, colocaram em risco a própria ideia
de democracia liberal representativa, que estudaremos na próxima seção.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Identificar o fortalecimento de populismos de extrema-direita
A EXTREMA-DIREITA E A DEMOCRACIA LIBERAL
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez apresentando o debate da ascensãode
movimentos de extrema-direita no mundo.
COMO AS DEMOCRACIAS MORREM
Em 2018, chegou ao Brasil o best seller Como as democracias morrem , de Steven Levitsky e
Daniel Ziblatt, publicado originalmente nos EUA em 2017. O sucesso do livro escrito pelos
professores de Ciência Política da Universidade de Harvard foi mundial, o que pode ser explicado
pelo tema tratado no texto, o que nos interessa diretamente aqui, em nossos estudos. Os autores
analisaram as crises democráticas contemporâneas e o seu principal desdobramento no plano
político: a ascensão de governos de extrema-direita em diversos países, como EUA,
Georgia, Hungria, Filipinas e Brasil.
O tema também foi explorado por outro livro de destacado sucesso no mercado editorial
internacional: trata-se de O povo contra a democracia , escrito pelo cientista político Yascha
Mounk e publicado no Brasil também em 2018. É a partir desses dois textos que discutimos as
crises democráticas contemporâneas, explorando suas relações com o colapso internacional da
ordem capitalista neoliberal.
MAS DE QUE TIPO DE CRISE DEMOCRÁTICA
ESTAMOS FALANDO?
Tanto “crise” como “democracia” são termos bastante polissêmicos no vocabulário político
ocidental. Começaremos esclarecendo com cuidado qual modalidade de democracia está
colapsando nos dias de hoje. Trata-se do experimento democrático liberal burguês que nasceu no
século XVIII na Europa e nos EUA, tendo se tornado hegemônico mundialmente no final da
década de 1980, com o fim da URSS e com o término da Guerra Fria.
A convicção de que a democracia liberal era vitoriosa foi tão forte que o cientista político norte-
americano Francis Fukuyama chegou a decretar o “fim da história”, como se a humanidade
houvesse chegado, definitivamente, ao ponto final de sua evolução política. Em trabalho conjunto,
os cientistas políticos norte-americano e alemão Alfred Stepan e Juan Linz afirmaram que a
democracia liberal era a “única opção” e que tinha “vindo para ficar”.
 Queda do muro de Berlim, simbolizando o fim da Guerra Fria, 1989.
A história teria acabado com o triunfo da democracia liberal, fundada no princípio da
representação política e na proteção das liberdades individuais contra a tirania do Estado, que
seria o melhor arranjo já inventado pela humanidade no sentido de viabilização da vida coletiva.
Diz Yascha Mounk:

IMPRESSIONADOS COM A ESTABILIDADE SEM
PARALELO DAS DEMOCRACIAS RICAS, OS CIENTISTAS
POLÍTICOS COMEÇARAM A CONCEBER A HISTÓRIA DO
PÓS-GUERRA EM DIVERSOS PAÍSES COMO UM
PROCESSO DE “CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA”.
PARA SUSTENTAR UMA DEMOCRACIA, O PAÍS DEVIA
ATINGIR UM ALTO NÍVEL DE RIQUEZA E EDUCAÇÃO.
TINHA DE CONSTRUIR UMA SOCIEDADE CIVIL
VIBRANTE E ASSEGURAR A NEUTRALIDADE DE
INSTITUIÇÕES DE ESTADO FUNDAMENTAIS, COMO O
JUDICIÁRIO. GRANDES FORÇAS POLÍTICAS TIVERAM
DE ACEITAR QUE DEVIAM DEIXAR OS ELEITORES – E
NÃO O PODER DE SEUS EXÉRCITOS OU DE SUAS
CARTEIRAS GORDAS – DETERMINAR OS RESULTADOS
POLÍTICOS. TODOS ESSES OBJETIVOS
FREQUENTEMENTE SE REVELARAM ESQUIVOS.
(MOUNK, 2018, pp. 18-19)
Qualquer eventual crise nas democracias liberais era explicada, e justificada, pelas condições
inadequadas das sociedades em que a crise se manifestou, sempre em países pobres, sobretudo
na América Latina, África e Ásia.
 ATENÇÃO
O argumento era o de que a desigualdade social, a pobreza estrutural e o baixo nível de
industrialização dificultavam a consolidação da democracia, potencializando projetos políticos
autoritários, como as ditaduras militares que governaram a América Latina, incluindo o Brasil,
entre as décadas de 1960 e 1980.
 John F. Kennedy durante a visita do então presidente João Goulart aos Estados Unidos em
1962. Posteriormente descobriu-se que o presidente estadunidense planejava invadir militarmente
o Brasil para depor o governo de Goulart.
A causa das crises democráticas, então, não seria o modelo liberal, mas o precário
desenvolvimento capitalista desses países, sendo os ataques à democracia originários sempre de
atores políticos exteriores ao funcionamento da própria democracia, como as forças armadas.
Sobre essas crises democráticas, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt escreveram:

DURANTE A GUERRA FRIA, GOLPES DE ESTADO
FORAM RESPONSÁVEIS POR QUASE TRÊS EM CADA
QUATRO COLAPSOS DEMOCRÁTICOS. AS
DEMOCRACIAS EM PAÍSES COMO ARGENTINA, BRASIL,
GANA, GRÉCIA, GUATEMALA, NIGÉRIA, PAQUISTÃO,
PERU, REPÚBLICA DOMINICANA, TAILÂNDIA, TURQUIA
E URUGUAI MORRERAM DESSA MANEIRA. (...) COM UM
GOLPE DE ESTADO, A MORTE DA DEMOCRACIA É
IMEDIATA E EVIDENTE PARA TODOS. O PALÁCIO
PRESIDENCIAL ARDE EM CHAMAS. O PRESIDENTE É
MORTO, APRISIONADO OU EXILADO.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.17)
A segunda década do século XXI negou os prognósticos feitos no final dos anos 1980. A
democracia liberal não era uma realidade eterna. O mundo viu um novo tipo de crise democrática,
bem diferente do modelo “clássico” observado no século XX e capaz de desestabilizar o ambiente
político, também, em países ricos. Agora, a democracia não está colapsando apenas em
países pobres.
Países ricos, de desenvolvimento capitalista avançado, estão vendo seus sistemas democráticos
ruírem. Dessa vez, a morte da democracia não acontece em dia marcado, demarcada claramente
por um evento de ruptura, por um golpe de Estado. A democracia morre aos poucos, de dentro
para fora, sendo assassinada por líderes políticos eleitos pelos próprios ritos democráticos.

PORÉM, HÁ OUTRA MANEIRA DE ARRUINAR UMA
DEMOCRACIA. É MENOS DRAMÁTICA, MAS
IGUALMENTE DESTRUTIVA. DEMOCRACIAS PODEM
MORRER NÃO NAS MÃOS DE GENERAIS, MAS DE
LÍDERES ELEITOS – PRESIDENTES OU PRIMEIROS-
MINISTROS QUE SUBVERTEM O PRÓPRIO PROCESSO
QUE OS LEVOU AO PODER. ALGUNS DESSES LÍDERES
DESMANTELAM A DEMOCRACIA RAPIDAMENTE, COMO
FEZ HITLER NA SEQUÊNCIA DO INCÊNDIO DO
REICHSTAG EM 1933 NA ALEMANHA. COM MAIS
FREQUÊNCIA, PORÉM, AS DEMOCRACIAS DECAEM
AOS POUCOS, QUE MAL CHEGAM A SER VISÍVEIS.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.15)
Levitsky e Ziblatt afirmam que, do ponto de vista das defesas democráticas, os novos tipos de
crise dificultam ainda mais a autodefesa dos regimes democráticos. Como não há um momento
claro de ruptura, pois o processo de erosão da democracia se dá dentro dos próprios ritos
democráticos, nada é capaz de disparar os dispositivos de alarme da sociedade.
 Uma mulher com a foto de Hugo Chávez em protesto a favor dele. Caracas, Venezuela, 2007.
Assim, quando a sociedade civil se dá conta, o autoritarismo já está instalado. Os autores
destacam dois casos emblemáticos desse novo tipo de crise democrática: a Venezuela, com a
ascensão de Hugo Chávez, em 1999, e os EUA, com a eleição de Donald Trump, em 2016.
Em ambas as situações, argumentam Levitsky e Ziblatt, a própria democracia, representada pelos
partidos políticos estabelecidos e pelas instituições legislativas e judiciárias, falhou ao permitir que
lideranças com evidentes ideias antidemocráticas tivessem a oportunidade de apresentar seus
projetos à sociedade civil. O aspecto aparentemente contraditório desse novo tipo de crise
democrática está no fato de que as lideranças populistas chegam ao poder legitimadas pelas
eleições (o rito mais sagrado da democracia) sendo, inclusive, apoiadas por segmentos relevantes
da sociedade civil.
Se essas lideranças foram eleitas, se são apoiadas por segmentos relevantes da sociedade civil,
por que representam ameaças à democracia? Novamente, é relevante prestar atenção no que
dizem Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.

UMA VEZ QUE UM ASPIRANTE A DITADOR CONSEGUE
CHEGAR AO PODER, A DEMOCRACIA ENFRENTA UM
SEGUNDO TESTE CRUCIAL: IRÁ ELE SUBVERTER AS
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS OU SER
CONSTRANGIDO POR ELAS? AS INSTITUIÇÕES
ISOLADAMENTE NÃO SÃO O BASTANTE PARA CONTER
AUTOCRATAS ELEITOS. CONSTITUIÇÕES TÊM QUE SER
DEFENDIDAS – POR PARTIDOS POLÍTICOS E CIDADÃOS
ORGANIZADOS, MAS TAMBÉM POR NORMAS
DEMOCRÁTICAS, QUE NEM SEMPRE ESTÃO
CODIFICADAS EM LEI.
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, pp. 18-19)
ASCENSÃO DE TRUMP
Em março de 2016, e-mailsparticulares de John Podesta, principal responsável pela campanha de
Hillary Clinton, foram divulgados pela WikiLeaks. As mensagens não continham nada que pudesse
levantar suspeitas. No entanto, fóruns da internet com usuários anônimos passaram a explorar a
repetição das palavras pizza e cheese (queijo) nas mensagens. Eles alegaram que o termo
cheese pizza era uma espécie de código para child pornography (pornografia infantil),
amparados sobretudo na coincidência que criaram entre as iniciais "c" e "p". A história continuou
sendo alimentada e novas palavras foram associadas à pedofilia: segundo esses usuários, por
exemplo, a palavra sauce (molho) fazia referência, naqueles e-mails, a orgias. A narrativa
começou a ficar ainda mais intrincada: esses abusos sexuais aconteceriam em um suposto porão
da pizzaria Comet Ping Pong, em Washington.
O irmão do coordenador da campanha de Hillary, Tony Podesta, frequentava esse
estabelecimento. O dono da pizzaria, James Alefantis, foi apresentado a John Podesta e
chegaram a organizar um jantar de arrecadação de fundos para a campanha de Hillary. Não
tardou para que outras questões fossem associadas à pizzaria, como suposto envolvimento dos
donos com cultos satânicos. A então candidata passou a ser acusada de associação com uma
rede de pedofilia e a repercussão foi tão enfática que até mesmo investigações policiais foram
realizadas e, como era de se supor, nenhum indício que sustentasse essas alegações foi
identificado. O FBI, ainda que acionado, se recusou a investigar um fato visivelmente falso, criado
no meio da disputa política.
Não menos importante, e ainda que a campanha de Hillary Clinton também tenha adotado esse
expediente, as fakes news circularam mais e de forma mais intensa em favor de Donald Trump,
conforme diversas análises sugerem (SILVERMAN, 2016).
Muitos consideram que a eficácia dessa tática de Trump não pode ser apartada do conhecimento
dos dados dos usuários fornecidos ilegalmente pelo Facebook: conhecer minuciosamente o
perfil dos eleitores permitiu produzir notícias falsas que exploravam questões sensíveis
para o eleitorado norte-americano. Um dos nomes mais expressivos nesse contexto foi de
Steve Bannon, diretor executivo da campanha de Trump que também era responsável pelo
Breitbart News , um veículo de mídia de extrema-direita.
As instituições da democracia (tribunais de justiça, parlamento, órgãos regulatórios e instituições
policiais), em si, não são capazes de resistir aos ataques dos autocratas eleitos, que, uma vez no
governo, investem no aparelhamento desses espaços.
É NECESSÁRIO QUE OS ATORES POLÍTICOS E A
SOCIEDADE CIVIL ZELEM PELO CUMPRIMENTO
DAS NORMAS QUE MUITAS VEZES NÃO ESTÃO
CODIFICADAS, MAS QUE SÃO FUNDAMENTAIS
PARA O PLENO FUNCIONAMENTO DA
DEMOCRACIA.
Levitsky e Ziblatt chamam essas normas de “padrões de comportamento democrático não
escritos”, como, por exemplo, o comedimento no uso das prerrogativas constitucionais, o respeito
à liturgia no exercício do cargo, confiança nos tribunais eleitorais, aceitação dos resultados
eleitorais. Os autores demonstram como Donald Trump, eleito em 2016 o 45° Presidente dos EUA,
atuou como inimigo da democracia, corroendo por dentro aquela que tinha a fama de ser a
república mais estável do mundo.
Os autores, convencidos de que os EUA são o país mais “livre do mundo”, o que denota postura
algo etnocêntrica, mostram estupefação com o comportamento de Donald Trump no governo
daquele país.
 Uma forca foi pendurada perto do Capitólio dos Estados Unidos durante a invasão do
Capitólio dos Estados Unidos em 2021
Sem contar que o texto foi escrito antes da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, quando,
em um evento inédito na história dos EUA, o candidato derrotado não reconheceu o resultado das
eleições e insuflou seus apoiadores a invadirem o parlamento. Definitivamente, o novo tipo de
crise democrática não acontece, apenas, em países pobres, de desenvolvimento capitalista
atrasado.
Mas ainda podemos investir mais na questão elementar para essa reflexão: se esses
autocratas foram eleitos e são apoiados por setores relevantes da sociedade civil, por que
representam um perigo para a democracia?
Agora, é Yascha Mounk quem nos ajuda na reflexão.

AS DEMOCRACIAS LIBERAIS TÊM MUITOS
MECANISMOS DE CONTROLE CRIADOS PARA IMPEDIR
UM PARTIDO DE ACUMULAR DEMASIADO PODER E
PARA CONCILIAR OS INTERESSES DE GRUPOS
DIFERENTES. MAS NA IMAGINAÇÃO DOS POPULISTAS
A VONTADE DO POVO NÃO PRECISA SER MEDIADA E
QUALQUER COMPROMISSO COM AS MINORIAS É UMA
FORMA DE CORRUPÇÃO. NESSE SENTIDO, OS
POPULISTAS SÃO PROFUNDAMENTE DEMOCRATAS:
MUITO MAIS FERVOROSOS DO QUE OS POLÍTICOS
TRADICIONAIS, ELES ACREDITAM QUE O DEMOS DEVE
GOVERNAR. MAS TAMBÉM SÃO PROFUNDAMENTE
ILIBERAIS: AO CONTRÁRIO DOS POLÍTICOS
TRADICIONAIS, DIZEM ABERTAMENTE QUE NEM AS
INSTITUIÇÕES INDEPENDENTES NEM OS DIREITOS
INDIVIDUAIS DEVEM ABAFAR A VOZ DO POVO.
(MOUNK, 2018, pp. 23-24)
Se debruçando sobre diversos exemplos de lideranças autocráticas de extrema-direita que vêm se
fortalecendo no mundo recentemente, o autor propõe uma tipologia geral desse tipo de orientação
política ideológica. Seja nos EUA de Donald Trump, na Hungria de Viktor Orbán, na Grã-Bretanha
de Nigel Farage, na França de Marine Le Pen ou no Brasil de Jair Bolsonaro, está acontecendo a
perversão da própria ideia de democracia que vem sendo construída na cultura ocidental desde os
gregos.
TEMOS AQUI UMA DISCUSSÃO MUITO DIFÍCIL E
QUE EXIGE DE NÓS MUITA ATENÇÃO!
A democracia não é simplesmente o governo fundado na vontade da maioria. Esse é um aspecto
elementar da democracia, mas não a esgota. A democracia não pode se esgotar na simples
manifestação da vontade da maioria porque é função do Estado democrático proteger, também, as
minorias, muitas vezes contra a vontade da maioria. Posições políticas minoritárias e derrotadas
nas eleições, minorias étnicas, grupos socialmente vulneráveis por questões de raça e gênero. É
dever da democracia garantir a existência, na diversidade, dessas pessoas, com pleno
acesso a todos os direitos garantidos pela cidadania. Por isso, ao transformar a democracia
em tirania da maioria, esses autocratas eleitos, mesmo que contando com apoio de setores
numericamente relevantes da sociedade, se transformam em risco para a ordem democrática.
Há ainda outra questão fundamental em nosso exercício de compreensão das crises democráticas
contemporâneas. Yascha Mounk demonstra dados que apontam para um cenário bastante
preocupante:

HÁ UM QUARTO DE SÉCULO, A MAIORIA DOS
CIDADÃOS DAS DEMOCRACIAS LIBERAIS ESTAVA
MUITO SATISFEITA COM SEUS GOVERNOS E O ÍNDICE
DE APROVAÇÃO DE SUAS INSTITUIÇÕES ERA
ELEVADO; HOJE, A DESILUSÃO É MAIOR DO QUE
NUNCA. HÁ UM QUARTO DE SÉCULO, A MAIORIA DOS
CIDADÃOS TINHA ORGULHO DE VIVER NUMA
DEMOCRACIA LIBERAL E REJEITAVA ENFATICAMENTE
UMA ALTERNATIVA AUTORITÁRIA A SEU SISTEMA DE
GOVERNO; HOJE, MUITOS ESTÃO CADA VEZ MAIS
HOSTIS À DEMOCRACIA.
(MOUNK, 2018, p. 19)
O que mudou? Por que o povo está contra a democracia? A resposta passa pela situação de mal-
estar social gerado pela própria lógica econômica neoliberal que já estudamos.
Até mesmo nos países ricos, cada vez mais, o neoliberalismo está cobrando um alto preço social.
Na medida em que o Estado, movido pela necessidade de corte de gastos e pela imposição de
projetos de ajuste fiscal, vai abandonando sua vocação protetora, as pessoas se sentem mais
desamparadas.
O trabalho nunca esteve tão precarizado, a ponto de, mesmo nas economias centrais, ser raro
encontrar trabalhador, fora do serviço público, sendo protegido pelos direitos tradicionais
garantidos pela social-democracia, como férias remuneradas, 13° salário, licença-maternidade.
Soma-se à “flexibilização das relações trabalhistas” a precarização dos serviços públicos
provocada pela redução da capacidade de investimento dos governos. A máxima neoliberal do
“Estado mínimo” é especialmente opressora com as pessoas comuns, trabalhadoras,e generosa
com os grandes investidores que atuam no mercado financeiro.
É COMO SE FOSSE “ESTADO MÍNIMO” PARA A
MAIORIA DA POPULAÇÃO E “ESTADO MÁXIMO”
PARA OS GRANDES OPERADORES FINANCISTAS.
A população percebe isso, entende que a política se transformou no avalista da especulação e
direciona sua revolta às instituições democráticas e à classe política tradicional. Não à toa, Donald
Trump foi eleito nos EUA com um discurso contra Wall Street, e prometendo defender os
empregos da indústria norte-americana. Nesse sentido, a ascensão dos populismos de extrema-
direita, que no mundo inteiro estão abalando a ordem liberal-democrática, é um dos
desdobramentos do esgotamento do modelo neoliberal de acumulação capitalista. Na próxima
seção, estudaremos como a pandemia da covid-19, decretada pela OMS em março de 2020, vem
intensificando as contradições do neoliberalismo.
A PANDEMIA E O CAPITALISMO
Assista ao vídeo abaixo com o professor Rodrigo Perez sobre a pandemia da covid-19 e a
intensificação das contradições do neoliberalismo.
COVID-19 E O MUNDO EM CRISE
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde usou pela primeira vez o termo
“pandemia” para se referir à covid-19. Naquela altura, a doença já estava espalhada pelo mundo,
impondo desafios estruturais à ordem social, política e econômica capitalista. Liberdades
individuais como o direito de ir e vir, livre mercado, Estado mínimo. Todo o sistema de valores
construído desde o século XVI, que estruturou historicamente o capitalismo, foi desafiado pela
doença que se mostrou ser, antes de tudo, uma patologia social.
Desde o início, os especialistas foram claros: até o desenvolvimento de vacinas capazes de
imunizar em massa a população mundial e de remédios com poder de atenuar os efeitos da
doença, o isolamento e o distanciamento social eram as únicas formas de conter o avanço do
vírus. Começou, então, aquele que talvez tenha sido o mais espetacular capítulo da história da
ciência.
Os cientistas mais brilhantes do mundo começaram a trabalhar 24 horas por dia com o objetivo de
desenvolver substâncias capazes de controlar o contágio e a letalidade do SARSCOV-19. A
vacina foi desenvolvida em tempo recorde. A “corrida pela vacina” se tornou mais do que uma
urgência de saúde pública. Transformou-se mesmo em questão geopolítica de primeira
importância.
Em agosto de 2020, a Rússia, sob desconfianças da comunidade científica internacional, registrou
a SPUTNIK V, primeira vacina contra a covid-19. O governo russo, comandado por Vladimir Putin,
viu na vacina a oportunidade de reeditar o protagonismo do país vigente nos tempos da Guerra
Fria.
O mundo, entretanto, recebeu a vacina russa com ressalva e o imunizante não foi usado pelas
nações centrais. Isso aconteceria apenas com a vacina BNT162b2 desenvolvida pela farmacêutica
multinacional Pfizer, em parceria com o laboratório alemão Biontech.
 SAIBA MAIS
Em 08 dezembro de 2020, Margaret Keenan, mulher inglesa com 90 anos, se tornou o primeiro
ser humano vacinado contra a covid-19. A partir de então, a “vacina do Pfizer”, como ficou
popularmente conhecida, passou a ser usada em diversos países do mundo, com a exceção
daqueles que tiveram o infortúnio de serem governados por lideranças negacionistas.
Mesmo com o desenvolvimento em tempo recorde da vacina, a pandemia continuou avançando,
provocando milhares de mortes por dia, em todos os países do mundo, com destaque para EUA,
Índia e Brasil, que rapidamente se tornaram epicentros mundiais da pandemia. A limitação
operacional dos laboratórios e a dificuldade da comunidade internacional em avançar na
discussão sobre a quebra das patentes foram os principais obstáculos para que a humanidade
avançasse em ritmo acelerado no sentido da imunização em massa e do fim da pandemia.
PORTANTO, MESMO COM VACINAS DISPONÍVEIS,
A COVID-19 CONTINUOU AVANÇANDO E
MATANDO.
Governos de quase todos os países do mundo se viram, então, obrigados a adotar medidas de
restrição de movimentação social, decretando toques de recolher, lockdowns , multando pessoas
que transitassem nas ruas sem justificativa. Criou-se, assim, a normalização de um Estado de
exceção que durou muitos meses, nos quais os direitos de livre movimento e de reunião, dois
entre os mais importantes no repertório do liberalismo político democrático, foram sacrificados.
Aqueles que por séculos foram considerados direitos individuais sagrados, como símbolos da luta
da sociedade contra a tirania do Estado, foram suspensos, mostrando na prática, como os valores
políticos ocidentais não eram capazes de enfrentar o novo desafio que se impunha ao mundo.
Outro recado claro que a pandemia da covid-19 deu ao mundo foi em relação ao esgotamento do
neoliberalismo como modelo viável de organização da economia capitalista.
 ATENÇÃO
O SARSCOV-19 não mata apenas as pessoas, mas também a capacidade do Estado em tratar os
doentes. Como o vírus tem grande capacidade de contágio, muitas pessoas adoecem ao mesmo
tempo, o que sobrecarrega os hospitais públicos e privados, demandando dos governos mais
investimentos na construção de estruturas hospitalares de emergência, na aquisição de insumos
médicos e na viabilização de assistência social e políticas públicas de distribuição de renda para
aqueles cujo sustento depende da atividade social, da circulação de pessoas.
Em outras palavras, para sermos mais diretos: com as necessárias medidas de restrição de
atividade social, a economia mundial entrou na maior recessão desde 1929, o que praticamente
anulou a capacidade de investimento das empresas privadas. Se a iniciativa privada não é capaz
de, por si só, contrariar o ciclo econômico recessivo, quem seria? A resposta é óbvia: o Estado, o
poder público, os governos. Mas como fazê-lo dentro da cartilha neoliberal? A resposta está vindo
da economia mais capitalista do mundo, que, simplesmente, propõe o abandono da cartilha
neoliberal.
ESTAMOS FALANDO DO GOVERNO DO
DEMOCRATA JOE BIDEN NOS EUA.
NOVOS RUMOS?
Biden assumiu a Casa Branca no início de 2021 em um cenário político bastante conflituoso, como
já vimos na seção anterior. Logo nos primeiros dias de seu mandato, Biden anunciou um pacote
de recuperação econômica na ordem de 2,3 trilhões de dólares, o maior da história daquele país.
Trata-se de investimento público direto em proteção social a pessoas e empresas e obras de
infraestrutura com o objetivo de gerar empregos. Segundo o economista norte-americano Paul de
Grauwe, Biden está rompendo com a herança de Reagan e retomando herança ainda mais antiga,
de Franklin Roosevelt (1882-1945), o New Deal . Biden estaria, portanto, ainda segundo Paul de
Grauwe, apresentando para a sociedade norte-americana um Great New Deal e, com isso, está
dizendo ao mundo que os preceitos neoliberais não são capazes de solucionar a crise provocada
pela pandemia, que só o Estado, agindo como indutor do desenvolvimento e não como “firma”,
pode proteger a economia e a vida das pessoas.
A China e a Rússia, adversários globais dos EUA, também aumentaram a participação dos
investimentos públicos em suas economias. O mesmo aconteceu na Espanha, Portugal, Inglaterra
e França, também segundo os dados apresentados por Paul de Gauwe. Poucos países do mundo
ainda insistem na fórmula neoliberal do ajuste fiscal e da redução de gastos públicos, como o
Brasil e a Índia. Não à toa, são países que, após mais de um ano de pandemia, encontram mais
dificuldades em controlar o número de pessoas infectadas e mortas pelo SARSCOV-2.
NÃO SERIA EXAGERADO, PORTANTO, AFIRMAR
QUE A PANDEMIA DA COVID-19 REPRESENTA
MAIS UM CAPÍTULO NA HISTÓRIA DAS CRISES
DO CAPITALISMO, TENDO A ESPECIFICIDADE DE
TER ESCANCARADO OS LIMITES DA LÓGICA
NEOLIBERAL.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, nos dedicamos a entender com mais cuidado a história recente do capitalismo
internacional, com atenção especial à dinâmica neoliberal e às crises por ela provocada. Como
vimosna primeira seção, o neoliberalismo é hegemônico no sistema capitalista desde a década de
1980, quando nasceu com a promessa de desonerar a sociedade civil da carga tributária
necessária para a manutenção do Estado de Bem-Estar Social. Com o tempo, entretanto, o
resultado foi o contrário, tendo como consequências o aumento das desigualdades sociais e a
precarização das condições de vida em diversas cidades do mundo. O aumento das insatisfações
sociais levou a diversos questionamentos do modelo neoliberal ao longo das duas primeiras
décadas do século XXI, indo desde governos progressistas na América Latina e nos EUA até os
populismos de extrema-direita, passando pelo desenvolvimentismo asiático.
A pandemia da covid-19, deflagrada no início de 2020, se tornou a prova cabal da dificuldade do
neoliberalismo em reagir a crises estruturais, quando a economia precisa de incentivos e a
iniciativa privada não pode investir, seja porque não tem dinheiro, seja porque não tem confiança
para gastar suas reservas. Em situações desse tipo, somente o Estado, agindo como indutor do
desenvolvimento social e econômico, é capaz de romper com o ciclo da carestia.
É impossível saber de antemão os desdobramentos da atual crise do capitalismo. Certo mesmo é
que a história do capitalismo, desde o início, é a história de suas crises, mas também de suas
refundações. A ver o que acontece dessa vez.
 PODCAST
Escute o podcast com o resumo sobre a crise do capitalismo: reinvenção do século XXI.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Arthur Lima de. Apontamentos sobre o fim da temporalidade: elementos para uma
discussão. In : PEREZ, Rodrigo; SILVA, Daniel. Tempos de crise: ensaios de história política. Rio
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2015.
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neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
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Tenertie: Universidade de La Laguna, 1998.
HABERMAS, Jürgen. A nova obscuridade. São Paulo: UNESP, 2015.
JENKINS, Rhys. How China is Reshaping the Global Economy. Development Impacts in Africa
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SILVERMAN, Craig; ALEXANDER, Lawrence. How teens in the Balkans are duping Trump
supporters with fake news. Buzzfeed News, v. 3, p. 874-888, 2016. Consultado na internet em: 4
maio 2021.
EXPLORE+
Leia o artigo Neoliberalismo: genocídio de almas , publicado pela Revista Cult , sobre formas
críticas de pensar o capitalismo.
Leia também o texto publicado em Opera Mundi , intitulado Hoje na História: 1933 -Roosevelt
apresenta New Deal ao congresso , sobre o pensamento de Roosevelt.
Por último, consulte o texto Coronavírus: OMS decreta pandemia; o que muda nos cuidados com a
saúde? , publicado no portal UOL, sobre a pandemia de coronavírus.
CONTEUDISTA
Rodrigo Perez Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
NOTAS
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