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CLÍNICA CIRURGICA QUEIMADOS Toda lesão tecidual decorrente de trauma térmico, elétrico, químico ou radioativo será uma queimadura Quanto maior e mais profunda a queimadura, pior a inflamação · Epidemiologia Brasil: 1 milhão de vítimas por ano, 100000 procuram atendimento médico, 2500 mortes (direta e indiretamente), crianças e pessoas de baixa renda sofrem mais com elas, 2ª causa de morte na infância · Função da pele Barreira contra micro-organismos, substâncias químicas, traumatismos Fazem a síntese de vitamina D 1ª linha de defesa do sistema imune (por isso podem ter infecção depois) Regulação térmica (podem tender a hipotermia) Função sensitiva (tátil e dolorosa) · Classificação 1º grau: epiderme, hiperemia, dolorosas, queimadura por raios solares (normalmente não vão para o PS), normalmente não chegam a emergência, analgesia e hidratação da pele 2º grau: 2 tipos Superficial: toda a epiderme e porção superficial da derme (papilar), são muito dolorosas, superfície rosa, úmida, bolhas (12-24h após o evento), se não houver infecção (resolução em até 3 semanas), bom resultado estético, raras cicatrizes Profunda: toda epiderme e derme (camada papilar), dor moderada, pele seca com coloração rosa pálido/esbranquiçado, cicatrização em 3-9 semanas, risco razoável de cicatrização hipertrófica principalmente em negros e crianças, as vezes não tem bolhas 3º grau: toda a derme e epiderme e parte da hipoderme (subcutâneo), pálida ou vermelho amarelada, pele firme, semelhante a couro, sensibilidade tátil e de pressão diminuídas (pode não ter dor), pode se apresentar translucida ou com aspecto de cera 4º grau: toda espessura da pele incluindo tecido profundos como ossos e músculos, queimadura elétrica · Avaliação Fazer o ABCDE Pré hospitalar: Considerar vítima de trauma Em caso de incêndio afastar a vítima da chama Interromper o processo de queimadura Ver ser precisa intubar ou não (prevenir) Retirar a roupa, irrigar com água a área queimada, retirar roupas e anéis, envolver paciente com lençol, manta térmica para evitar hipotermia (manta térmica) Suspeita de lesão inalatória: Queimadura em ambiente fechado com acometimento da face, presença de rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia, queimadura das vibrissas, insuficiência respiratória Mantenha a cabeceira elevada (30º) Intubação – indicações: Obstrução da via aérea por lesão direta ou pelo edema maciço resultante da lesão causada pela queimadura (rouquidão, estridor, uso de musculatura acessória, retração esternal) Superfície corporal queimada >40-50% Queimaduras faciais e intra oral profundas Edema significativo ou risco de edema Dificuldade de engolir RNC Gasglow menor ou = a 8 se intuba Aspire as vias aéreas superiores, se necessário Administrar O2 a 100% (máscara umidificada) e na suspeita de intoxicação por monóxido de carbono, mantenha a oxigenação por três horas Avaliar se há queimaduras circulares no tórax, nos membros superiores e inferiores e verificar perfusão distal e o aspecto circulatório (oximetria de pulso) Avalie traumas associados, doenças prévias ou outras incapacidades e adote providencias imediatas Exponha a área queimada Queimadura circunferencial (pode fazer a pele ficar muito restrita, podendo causar problemas para respirar ou uma síndrome compartimental) Acesso venoso: De preferência calibroso, acesso venoso periférico e calibroso (mínimo 16G), mesmo em área queimada, e somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso central (VCI ou VCS através de veias que vão para ela) Instale a sonda vesical de demora para o controle da diurese nas queimaduras em área corporal superior a 20% em adultos e 10% em crianças Avaliação da área queimada: Avaliar a gravidade da lesão Auxilia como prognóstico Importante saber as circunstâncias em que ocorreu a lesão (para saber se tinha lesão associada...) Regra dos 9 de Wallace: quanto de superfície corporal queimou. Na criança a porcentagem da cabeça é maior, por ter a cabeça maior Regra da palma da mão: inclui os dedos · Áreas nobres/queimaduras especiais Olhos, orelhas, face, pescoço, mão, pé, região inguinal, grandes articulações (ombro axila, cotovelo, punho, articulação coxofemoral, joelho e tornozelo) e órgãos genitais, bem como queimaduras profundas que atinjam estruturas profundas como ossos, músculos, nervos e/ou vasos desvitalizados. Pode fazer retração Libera mioglobina e pode evoluir para IRA (prevenir hidratando o paciente) Classificar a queimadura e fazer a regra dos 9 · Tratamento Principal medida é a desidratação (ressuscitação volêmica): Superfície corporal queimada (SCQ) > 20% (contém lesões de 2º a 4º, as de 1º não contam) Fórmula de Parkland Ringer lactato: 2ml x Peso X SCQ. 4ml de ringer somente em queimadura elétricas independentemente da idade (é uma solução cristaloide - ringer) ½ (metade) nas 1ªs 8h ½ nas próximas 16h Em 24h precisa receber todo o volume calculado Essa é uma necessidade inicial de reposição após essa quantidade a reposição volêmica será ajustada e baseado no débito urinário de 0,5ml/kg/h em adultos e 1ml/kg/h para crianças menores que 30kg Tratamento da dor: Para adultos: dipirona (500mg a 1g em injeção endovenosa (EV). Morfina (1ml/10mg) diluída em 9ml de SF a 0,9% considerando-se que a cada 1ml é igual a 1mg. Administre de 0,5 a 1mg para cada 10kg de peso Para crianças: dipirona (15 a 25 mg/kg em EV ou morfina 10mg diluída em 9 ml de SF a 0,9% considerando-se que cada 1ml é igual a 1mg Administre de 0,5 a 1mg para cada 10kg de peso Hospitalar: Avaliar necessidade de desbridamento Curativos locais diários: Proteger de infecção, evitar perda de calor, proteger a pele danificada, Imobilização para manter a posição funcional (para evitar a retração) Avaliação da gravidade: Extensão/profundidade >20% de SCQ em adultos Extensão/profundidade >10% de SCQ em crianças Idade menor do que 3 anos ou maior do que 65 anos Presença de lesão inalatória Politrauma e doenças prévias associadas Queimadura química Trauma elétrico Áreas nobres/especiais Violência, maus-tratos, tentativa de autoextermínio (suicídio)... Limpe a ferida com água e clorexidina degermante a 2% (se falta – use água e sabão neutro) Posicionamento: cabeceira elevada, pescoço em hiperextensão e MMSS elevados e abduzidos, se houver lesão em pilares axilares Administre toxoide tetânico para profilaxia/reforço antitétano Administre bloqueador receptor de H2 para profilaxia da úlcera de estresse Administre heparina subcutânea para profilaxia TEV Administre sulfadiazina de prata 1% como antimicrobiano tópico Curativo exposto na face e no períneo Curativo oclusivo em quatro camadas: atadura de morim ou tecido sintético (rayon) contendo princípio ativo (sulfadiazina de prata 1%), gaze absorvente/gaze de queimado, algodão hidrófilo e atadura de crepe ATB profilático: queimaduras potencialmente colonizadas e com sinais de infecção local ou sistêmica. Em outros casos, evite o uso Evite o uso indiscriminado de corticoides por qualquer via (imunossupressor) Queimaduras circunferencial do tórax se faz escarotomia para melhorar a expansão da caixa torácica Para escarotomia de MMSS e MMII, realizar incisões mediais e laterais Avaliar a perfusão periférica para descartar a síndrome compartimental. Nas queimaduras esta condição resulta da combinação da diminuição de elasticidade da pele e do aumento de edema dos tecidos moles Aumento da pressão dentro do compartimento devido a diminuição da elasticidade da pele, aumento do edema do tecido mole Redução ou ausência do pulso Dor maior que o esperado pelo estímulo Edema tenso do compartimento afetado Parestesia ou sensação alterada Queimadura química: Exposição a ácidos, álcalis e produtos petrolíferos Queimaduras ácidas: necrose de coagulação, que impede a penetração do ácido até certo ponto Queimaduras alcalinas: mais graves que as ácidas, pois penetra mais profundamente no tecido Remoção rápida do produto químico e imediata atenção ao tratamento de feridas Queimadura elétrica: Fonte de eletricidadefaz contato com um paciente, e a corrente é transmitida através do corpo Calor gerado resulta em lesão térmica no tecido Necrose muscular profunda, trombose, lesão nervosa, contratura da extremidade afetada Identifique se o trauma foi por fonte de alta tensão e se houve passagem de corrente elétrica com ponto de entrada e saída Avalie traumas associados (queda de altura e outros traumas) Avalie se ocorreu perda de consciência ou parada cardiorrespiratória (PCR) no momento do acidente Avalie a extensão da lesão e a passagem da corrente Monitorização cardíaca continua por 24-48h e faça a coleta de sangue para a dosagem de enzimas (CPK e CKMB) Internação Avalie eventual mioglobinúria e estimule o aumento da diurese com maior infusão de líquidos Na passagem de corrente elétrica pela região do punho (abertura do túnel do carpo), avalie o antebraço, o braço e os membros inferiores e verifique a necessidade de escarotomia com fasciotomia em tais segmentos VA+oxigenação+acesso venoso Monitorização de ECG + SVD Arritmias cardíacas e PCR Rabdomiólise (liberação de mioglobina – IRA) Ressuscitação volêmica: 4ml/kg/% de SCQ Diurese: 100ml/h em adultos e 1-1,5ml/kg/h em crianças com peso inferior a 30kg · Sinais e sintomas de infecção em queimadura Mudança de coloração da lesão Edema de bordas das feridas ou de segmento corpóreo afetado Aprofundamento das lesões Mudanças de odor (cheiro fétido) Deslocamento precoce da escara seca e transformação em escara úmida Coloração hemorrágica sob escara Celulite ao redor da lesão Vasculite no interior da lesão (pontos avermelhados) Aumento ou modificação da queixa dolorosa · Transferência para centro de queimados Queimaduras de espessura parcial ou total comprometendo + que 10% ASC (área da superfície corpórea) Queimadura de qualquer tamanho que afete (face, olhos, orelhas, mãos, pés, genitália, períneo, pele sobre grandes articulações) Todas as queimaduras de espessura total (III grau) – qualquer idade Queimaduras elétricas significativas, incluindo lesões por raios Queimaduras químicas significativas Lesão por inalação Doenças preexistentes que possam complicar o tratamento ou recuperação (diabetes, IR, ) Lesões associadas que possam necessitar de tratamento em centro de trauma, antes da transferência para centro de queimados
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