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2019 1a Edição Fundamentos de mecânica dos solos Profa. Narayana Saniele Massocco Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profa. Narayana Saniele Massocco Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M419f Massocco, Narayana Saniele Fundamentos de mecânica dos solos. / Narayana Saniele Massocco. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 205 p.; il. ISBN 978-85-515-0286-0 1. Mecânica do solo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 624.151 III apresentação Olá, caro aluno de Engenharia da UNIASSELVI. Bem-vindo a mais um módulo! Este livro refere-se ao curso de Fundamentos da Mecânica dos Solos. Você, aluno de Engenharia, que está acostumado a analisar os esforços de materiais como aço e concreto, cujas propriedades são relativamente bem ajustadas, terá que lidar com um material denominado solo e a rocha. Na construção civil, a Engenharia é bem definida quando escolhemos a estrutura que queremos construir, porém qual fundação utilizar? Isso dependerá do solo no qual aquela estrutura deverá ser apoiada. O tipo de solo determina a condição básica para as fundações. Em obras de terras, por exemplo, dependendo do tipo de constituição do perfil de solo, a mudança no projeto é bastante evidente, pois afeta diretamente a economia do empreendimento. O estudo do comportamento do solo vem desde Coulomb (1773), Rankine (1856), Darcy (1856) e Terzaghi (1936). Estes verificaram a necessidade de estudar o comportamento dos solos quando as tensões são aplicadas, por exemplo, em fundações, e quando as tensões são aliviadas, no caso de escavações. Além disso, a Mecânica dos Solos estuda o escoamento da água no solo pelos seus vazios e isto constitui a Engenharia Geotécnica ou Engenharia de Solos. A análise técnica do solo, ou seja, a Geotecnia, é fundamental para a nossa formação como engenheiros, pois não adianta sabermos construir um prédio se não temos noções do substrato geológico em que essa estrutura será apoiada. A partir disso, a proposta deste livro é mostrar os conceitos básicos de Mecânica dos Solos, explorar a origem e estruturas do solo, conhecer as relações entre as fases do solo, classificá-lo a partir de ensaios de granulometria e limites de consistência, estudar a influência da água no solo e, por fim, ter noções básicas de investigação do solo. Para um melhor aprendizado, este curso divide-se em três unidades. A Unidade 1 contempla os conteúdos de origem e formação dos solos e sobre as estruturas dos solos e seus índices físicos. A Unidade 2 define a representatividade do solo em termos de granulometria, plasticidade e consistência e, por fim, a classificação do solo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! A Unidade 3 foca na condição de água nos solos, características básicas de percolação, finalizando com os passos de uma investigação do subsolo. Bons estudos. Profa. Narayana Saniele Massocco NOTA V VI VII UNIDADE 1 – FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS ............................................................. 1 TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS ...................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 TIPOS DE ROCHA ............................................................................................................................... 4 3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS SOLOS ................................................. 10 3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS ................................................................................................... 10 3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA ............................................................................................ 13 3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR .................................................................................................... 16 4 TIPOS DE SOLOS ................................................................................................................................ 17 4.1 SOLOS RESIDUAIS ......................................................................................................................... 18 4.2 SOLOS ORGÂNICOS ..................................................................................................................... 19 4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS ................................................................................................................. 20 4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS) ........................................................................ 21 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS .................................................. 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS ..................................................................................................... 27 2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS ............................................................................. 28 2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS ........................................................................................ 32 3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA ................................................................................................................. 36 4 FORMA DAS PARTÍCULAS ............................................................................................................. 38 5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS ................................................................................ 39 5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO ................................................................... 41 5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES .............................................................................. 42 5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS ................................................................. 43 6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA ESPECÍFICA APARENTE E REAL,ÍNDICE DE VAZIOS, POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO ............................................. 44 6.1 UMIDADE ....................................................................................................................................... 44 6.2 ÍNDICE DE VAZIOS ........................................................................................................................ 45 6.3 POROSIDADE .................................................................................................................................. 45 6.4 GRAU DE SATURAÇÃO ................................................................................................................ 45 6.5 PESO ESPECÍFICO DO SÓLIDO ................................................................................................... 46 6.5.1 Peso específico da água .......................................................................................................... 46 6.5.2 Peso específico natural ........................................................................................................... 47 6.5.3 Peso específico aparente seco ................................................................................................ 47 6.5.4 Peso específico aparente saturado ........................................................................................ 47 6.5.5 Peso específico submerso ....................................................................................................... 47 6.5.6 Densidade relativa dos grãos (Gs)........................................................................................ 47 6.6 RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS ....................................................................................... 48 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 50 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 sumário VIII UNIDADE 2 – O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS...............................................59 TÓPICO 1 – GRANULOMETRIA .....................................................................................................61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................61 2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA .....................................................................................................61 2.1 PENEIRAMENTO GROSSO .......................................................................................................65 2.2 PENEIRAMENTO FINO ............................................................................................................65 2.3 SEDIMENTAÇÃO ........................................................................................................................66 2.4 DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA ....................................................................................68 2.5 ANÁLISE GRÁFICA DE UMA CURVA GRANULOMÉTRICA ...........................................70 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................73 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................74 TÓPICO 2 – PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA .......................................................................79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................79 2 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA ....................................................................................................80 3 LIMITE DE LIQUIDEZ .....................................................................................................................82 4 LIMITE DE PLASTICIDADE ..........................................................................................................87 5 LIMITE DE CONTRAÇÃO ..............................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................96 TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ................................................................................99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................99 2 SISTEMA TRILINEAR: USDA .......................................................................................................100 3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO (AASHTO)..............................................................................101 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................118 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................119 UNIDADE 3 – INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS ....................................................121 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO ...............................................................123 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................123 2 CONCEITO DE TENSÕES ..............................................................................................................124 3 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO SECA OU NATURAL .................126 4 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO GEOSTÁTICA COM ÁGUA ....129 4.1 PRESSÃO NEUTRA ....................................................................................................................129 4.2 TENSÕES EFETIVAS: DEFINIÇÕES DE TERZAGHI .............................................................130 5 CAPILARIDADE NO SOLO ...........................................................................................................133 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................140 TÓPICO 2 – PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO ............................143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................143 2 ÁGUA NO SOLO SEM FLUXO .....................................................................................................143 3 ÁGUA NO SOLO COM FLUXO: LEI DE DARCY ......................................................................145 3.1 CARGAS HIDRÁULICAS ...........................................................................................................147 3.2 VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL ......................................................151 3.3 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE (k) .............................................................................153 3.4 FORÇA DE PERCOLAÇÃO .......................................................................................................159 3.5 TENSÕES NO SOLO DEVIDO À PERCOLAÇÃO .................................................................160 IX 3.6 GRADIENTE CRÍTICO ...............................................................................................................162RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................164 TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO ..............................................................................167 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................167 2 RETIRADA DE AMOSTRAS .........................................................................................................168 3 ENSAIOS DE CAMPO .....................................................................................................................170 3.1 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) .................................................................................170 3.2 ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU) .................................................................175 3.3 ENSAIO DE PALHETA (VANE TEST) .......................................................................................177 3.4 SONDAGEM ROTATIVA ...........................................................................................................180 3.5 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO .....................................................................................................181 4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO ......................................................................................................181 5 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO ..............................................................................................184 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................186 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................200 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar a composição do solo e a influência no comportamento; • diferenciar as diversas formações dos solos residuais, transportados, orgânicos e lateríticos; • conhecer as relações entre as fases do solo; • saber calcular os índices físicos do solo. Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 1 INTRODUÇÃO Os solos são, na maior parte, produtos da desintegração e da decomposição das rochas constituintes da crosta terrestre. Estas rochas, por sua vez, podem resultar da cristalização de magma ejetado do interior da Terra para a crosta terrestre ou podem ter se desenvolvido a partir da alteração de outras rochas em resultado de variações de pressão e temperatura. As rochas originais com o tempo podem vir a se desintegrar e decompor- se em solos, os quais, por sua vez, no momento em que são sujeitos a superiores pressões e temperaturas, se modificam novamente em matéria rochosa constituindo as chamadas rochas sedimentares. Se as temperaturas forem suficientemente altas, as partículas individuais do solo podem perder a sua identidade numa massa em fusão que, recristalizando, forma as rochas metamórficas. Nesses processos de formação dos solos e das rochas na crosta terrestre, as rochas e os solos podem se formar alternadamente muitas vezes, sendo ocasionalmente desintegrados e reagregados os materiais da crosta. Com a exposição à superfície da Terra, o maciço rochoso fraturado estará submetido à ação física da água, do vento e da gravidade, fazendo blocos da massa rochosa original se desligarem e se moverem para novas posições de equilíbrio. “O movimento será geralmente acompanhado por novo fraturamento e fissuração de cada bloco, quando este entra em contato com outras rochas ou fragmentos, à medida que é movido e cai em resultado do vento, da água ou da ação do gelo nas fissuras” (FERNANDES, 2016, p. 99). Assim, qualquer massa rochosa tende a ser gradualmente desintegrada em fragmentos cada vez menores, formando os solos. Esse processo é designado intemperismo. Quanto mais aqueles fragmentos entram em contato com outros em resultado do escorregamento pelas encostas, do transporte pelos cursos de água ao longo dos respectivos leitos ou pelo vento sobre desertos, tanto mais arredondados tornam. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 4 À medida que os grãos do solo se tornam cada vez menores, a sua massa diminui de tal forma que, para minerais com determinada resistência, atinge-se o limite a partir do qual as tensões resultantes do choque dos grãos com qualquer outra massa deixam de ser suficientes para ocasionar fraturas e subdivisões nos mesmos grãos (FERNANDES, 2016, p. 100). Desse modo, os processos físicos de formação dos solos têm um limite inferior no que diz respeito às dimensões médias das partículas dos solos que originam (com exceção já referida dos solos de origem glaciar). Se outros processos de tipo diferente não existissem, entre os grãos mais finos dos solos não haveria, em média, dimensões inferiores a algumas dezenas de mícrons (0,001 mm). Contudo, existem de fato processos de outro tipo – processos químicos –, que intervêm também na formação dos solos. As reações químicas entre os ácidos dissolvidos na água e as partículas do solo dão lugar à solução de minerais presentes nos grãos; esses minerais em solução recombinarão e recristalizarão sob diferentes condições de pressão e temperatura em outros pontos nos quais a água os conduzir, dando lugar a novos minerais. Esse processo tende a criar partículas minerais muito pequenas, de forma laminar, com diâmetro ou comprimento dezenas ou centenas de vezes superiores à respectiva espessura, em contraste com as partículas aproximadamente equidimensionais formadas pela alteração física das rochas. “Os novos minerais formados pela ação química são conhecidos como minerais de argila e as partículas que os constituem tem diâmetros que vão de algumas dezenas de mícrons a alguns centésimos do mícron” (FERNANDES, 2016, p. 101). Muitos processos estão envolvidos na transformação das rochas em solos. Com a alta diversidade de processos naturais disponíveis, nota-se que a diversidade de solos daqueles que podem resultar é grandiosa. Desse modo, este tópico visa definir os diferentes tipos de rochas com o tipo de processo ao qual elas se submetem. 2 TIPOS DE ROCHA Quando falamos de solos, lembramos de rocha e basicamente sabemos que esta, por sua vez, tem características provenientes da crosta terrestre, ou seja, onde habitamos. As rochas, conhecidas como agregados naturais de um ou mais minerais, são divididas em três tipos: sedimentares, metamórficas e magmáticas (ígneas). Segundo Chiossi (2013, p. 22): a) Rochas magmáticas: São aquelas formadas a partir do resfriamento e da consolidação do magma, um material em estado de fusão no interior da Terra. Por esse motivo, as rochas magmáticas são também chamadas de endógenas (Figura 1). TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 5 FIGURA 1 – EXEMPLO DE ROCHAS MAGMÁTICAS TÍPICAS DO RESFRIAMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO MAGMA FONTE: Instituto de Educación Secundaria Xoán Montes, 2016 b) Rochas sedimentares: São aquelas formadas por materiais derivados da decomposição e desintegração de qualquer rocha. Esses materiais são transportados, depositados e acumulados nas regiões de topografia baixa,como bacias, vales e depressões. Posteriormente, pelo peso das camadas superiores ou pela ação cimentante da água subterrânea, consolidam-se, formando uma rocha sedimentar. As rochas sedimentares são também chamadas de exógenas, por se formarem na superfície da Terra; e estratificadas, por normalmente apresentarem camadas (Figura 2). UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 6 FIGURA 2 – EXEMPLO DE ROCHA SEDIMENTAR: O ARENITO É BASTANTE UTILIZADO NA CONSTRUÇÃO CIVIL (a) Arenito (b) Argilito (a) Quartzito (b) Mármore FONTE: Native Garden Design (2018) c) Rochas metamórficas: São aquelas originadas pela ação da pressão da temperatura e de soluções químicas em outra rocha qualquer. Por meio desses fatores, as rochas podem sofrer dois tipos de alterações básicas: a) Na sua estrutura, principalmente pela ação da pressão, que irá orientar os minerais, ou pela ação da temperatura, que irá recristalizá-los; b) Na sua composição mineralógica, pela ação conjunta dos dois fatores citados, bem como de soluções químicas (Figura 3). FIGURA 3 – EXEMPLOS DE ROCHAS METAMÓRFICAS COMUNS FONTE: Núcleo de Geotecnia UFJF (2018, p. 30) O interessante é que os processos de formação das rochas estão interligados entre si. A Figura 4 mostra isso de forma mais clara. Percebe-se que, através da solidificação do magma, formam-se as rochas magmáticas, a partir disso, com a variação de calor e pressão com o metamorfismo, as rochas se tornam TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 7 metamórficas, a ação do intemperismo e transporte e deposição dão surgimento ao solo (sedimentos) e, por fim, através da compressão e cimentação (litificação), surgem as rochas sedimentares. Você sabia que a crosta terrestre é constituída em volume por 95% de rochas magmáticas e 5% de rochas sedimentares? Porém, quando falamos em área de rocha, as rochas sedimentares avançam com 75% da área da crosta, ganhando de 25% das rochas magmáticas. NOTA FIGURA 4 –CICLO E FORMAÇÕES DOS DIFERENTES TIPOS DE ROCHA FONTE: Ferreira (2012, p. 30) Por que estamos falando de rocha e não de solo? Os solos provêm da decomposição das rochas que compunham inicialmente a crosta terrestre. Por isso devemos retomar o assunto rocha. Segundo Chiossi (2013), o intemperismo, ou meteorização, é primordial para a formação do solo, pois é o conjunto de processos que ocasiona a desintegração e a decomposição de rochas e dos minerais, por ação de agentes atmosféricos e biológicos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 8 Não existe processo algum que seja tão geral que se desenvolva em formas variadas como o intemperismo, e, em toda a superfície terrestre, não existe rocha alguma que possa escapar da sua ação. Até mesmo uma rocha tão resistente quanto o granito, quando sujeita por muito tempo ao intemperismo, chega a desfazer-se entre os dedos. A maior importância geológica do intemperismo está na destruição das rochas, com a consequente produção de outros materiais, que irão constituir os solos, os sedimentos e as rochas sedimentares (CHIOSSI, 2013). A decomposição ocorre devido aos agentes físicos e químicos. Alterações de temperaturas (físico) ocasionam trincas, nas quais penetra água, atacando quimicamente os materiais. O congelamento da água nas trincas, entre outros fatores, exerce elevadas tensões, do que decorre maior fragmentação dos blocos. A presença da fauna e flora promove o ataque químico, através de hidratação, hidrólise, oxidação, lixiviação, troca de cátions, carbonatação, etc. O conjunto desses processos, que são muito mais atuantes em climas quentes do que em climas frios, leva à formação dos solos que, em consequência, são misturas de partículas pequenas que se diferenciam pelo tamanho e composição química (PINTO, 2006, p. 19). A maior ou menor concentração de cada tipo de partícula num solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem. ATENCAO Em geral, no intemperismo físico não ocorre alteração mineralógica da rocha, somente fragmentação, e os principais agentes são: a) Temperatura. b) Água corrente e ondas. c) Vento (com e sem partículas em suspensão). d) Gelo (água que preenche fissuras e, ao dilatar-se, ocasiona fissuras). O intemperismo químico é responsável pelos processos de decomposição por ataque químico. Um dos exemplos é a água ácida das chuvas, que forma argilominerais e sílica: 2 2 2 3+ →H O CO H CO (Ácido carbônico) 2 3 3 8 1 2 2 2 5 4+ → +H CO KAlS O S O Al S O (OH) (sílica + argilominerais caulinita) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 9 O intemperismo físico tende a gerar solos mais grossos, solos arenosos, por exemplo. No entanto, o intemperismo químico tende a gerar solos mais finos, como argilas e siltes. NOTA Por fim, o conceito de solos para engenheiros difere um pouco dos conceitos geológicos, uma vez que, para eles, o termo inclui todo tipo de material orgânico ou inorgânico inconsolidado ou parcialmente cimentado encontrado na superfície da Terra, materiais estes classificados em Geologia como rochas sedimentares ou sedimentos (CHIOSSI, 2013). Como foi visto, todo solo é proveniente de uma rocha preexistente, e desse modo, na natureza, o solo continua se modificando, ao ponto de poder voltar a ser rocha. Assim, o solo é formado por partículas minerais que resultam da desintegração física e da decomposição química das rochas, podendo também conter matéria orgânica. Os espaços não ocupados pelas partículas são designados como poros ou vazios, os quais podem conter água e ar, de forma isolada ou conjunta. Quando os poros estão integralmente preenchidos por água, diz-se que o solo está saturado, quando estão parcialmente com água, chamamos de solos não saturados, e totalmente sem água, chamamos de solos secos (Figura 5). FIGURA 5 – AS CONDIÇÕES DO SOLO COM ÁGUA E SEM ÁGUA FONTE: A autora Desse modo, observamos que com os processos de intemperismo, decomposição, erosão há o surgimento dos sedimentos, e assim, denominados na engenharia geotécnica como solos. Os solos estão em todo globo terrestre, e principalmente nas regiões urbanas mais habitadas estão assentadas as infraestruturas, como: fundações, contenções, aterros etc. Existem vários tipos, formatos, tamanhos, composição de solos, e isto é essencial para entender a resistência desse solo e os parâmetros de cálculo para o dimensionamento de infraestruturas. Então, vamos entender um pouco mais? Solo não saturado Solo saturado Solo Seco UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 10 3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS SOLOS Quando analisamos um solo muitas das vezes a composição química e mineralógica ajudam a definir o comportamento em diferentes aspectos, entre eles o de compressibilidade, permeabilidade e resistência. O primeiro passo é definir o tamanho das partículas e após entender isto, analisaremos os aspectos mineralógicos dos quais o solo faz parte. Desse modo poderemos ter noções mais precisas sobre o solo com que estaremos lidando na pesquisa ou no cotidiano do projeto. Vamos começar? 3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS Segundo Pinto (2006), o tamanho das partículas é uma das primordiais componentes que diferencia os solos de um depósito. Solos como grãos de pedregulho ou a própria areia do mar, podemos identificar a olho nu, identificando, portanto, solos mais grossos com diâmetros perceptíveis. Com respeito aos grãos finos estes quando molhados, se transformam numa pasta (barro), e não se pode visualizar as partículas individualmente. FIGURA 6 – SOLO ARENOSO: POSSIBILIDADE DE OBSERVAR OS GRÃOS A OLHO NU FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 11 FIGURA 7 – SOLO ARGILOSO: FORMAÇÃO DE PASTA. DIFICULDADE DE ENXERGAR OS GRÃOS A OLHO NU FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010) A diversidade do tamanho dos grãosé enorme. Não se percebe isto em um primeiro contato com o material, simplesmente porque todos parecem muito pequenos perante os materiais com os quais se está acostumado a lidar. Mas alguns são consideravelmente menores do que outros. Existem grãos de areia com dimensões de 1 a 2 mm e existem partículas de argila com espessura da ordem de 10 Angstrons (0,000001 mm). “Isto significa que, se uma partícula de argila fosse ampliada de forma a ficar com o tamanho de uma folha de papel, o grão de areia citado ficaria com diâmetro da ordem de 100 a 200m” (PINTO, 2006, p. 30). FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE O GRÃO DE AREIA E O GRÃO DE ARGILA gr ão de ar gil a grã o d e a rei a 20 0 x gr ão de ar gil a FONTE: A autora UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 12 Sabemos, portanto, que no solo, devido à diversidade de tamanho de partículas, existem diferentes tipos de solos com porções e quantidades infi nitas de dimensão de grãos. Porém, solos areno-argilosos são um exemplo de difi culdade de identifi car o tamanho da partícula apenas a olho nu. Desse modo, sabemos que há difi culdade de identifi car o tamanho das partículas, pois os solos podem estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, fi níssimas, fi cando com o mesmo aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente por uma grande quantidade dessas partículas. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) determina uma faixa de valores que denominam e caracterizam o grão. Os valores adotados pela ABNT são indicados na Figura 9, lembrando que a fi gura é meramente ilustrativa. FIGURA 9 – DEFINIÇÃO DOS TAMANHOS DOS GRÃOS A PARTIR DA ABNT FONTE: A autora, adaptado de Núcleo de Geotecnia UFJF (2018) Diferentemente da terminologia adotada pela ABNT, a separação entre as frações silte e areia é frequentemente tomada como 0,075 mm, correspondente à abertura de peneira n° 200, que é a mais fi na peneira correntemente usada nos laboratórios. O conjunto de silte e argila é denominado como a fração de fi nos do solo, enquanto o conjunto areia e pedregulho é denominado fração grossa ou grosseira do solo. “Por outro lado, a fração argila é considerada, com frequência, como fração abaixo do diâmetro de 0,002 mm, que corresponde ao tamanho mais próximo das partículas de constituição mineralógica dos minerais-argila” (PINTO, 2006, p. 20). Para um melhor entendimento, a classifi cação das partículas mais detalhada segundo a NBR6502 é apresentada na Tabela 1. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 13 TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEGUNDO A NBR6502 Solo Dimensão [mm] Matacões Φ>250 Pedra de mão 60<Φ<250 Pedregulho grosso 20<Φ<60 Pedregulho médio 6<Φ<20 Pedregulho fino 2<Φ<6 Areia grossa 0,6<Φ<2 Areia média 0,2<Φ<0,6 Areia fina 0,06<Φ<0,2 Siltes 0,002<Φ<0,06 Argilas Φ<0,002 FONTE: A autora, adaptado de NBR6502 (1995) Os grãos de argila são os menores constituintes em tamanho, ganhando até dos grãos de siltes, que vêm logo em seguida. NOTA 3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA As partículas resultantes da desagregação da rocha dependem da composição da rocha matriz. Nos itens anteriores verificamos que o intemperismo é um fator-chave para a formação do solo, pois ajuda na desagregação por meio de ações físicas, químicas e biológicas. Verifica-se também que, dependendo do tipo de rocha fragmentada, forma-se um tipo de solo. Desse modo, os diferentes tipos de solo possuem minerais distintos, ou seja, essa é outra forma de identificar o solo: a partir da constituição mineralógica. As partículas maiores, como pedregulhos e matacões, na grande maioria são constituídas frequentemente de agregações de minerais que são bastante resistentes ao intemperismo, por exemplo, rochas que possuem o quartzo como um mineral presente na sua constituição. O quartzo é altamente resistente, e, portanto, quando há a desagregação, torna-se evidente em uma porção de solo. Nós observamos este fato em solos que vêm de rochas graníticas, fica evidente que o solo é decomposto, mas os grãos de quartzo permanecem inalterados. Segundo Pinto (2006), sua composição química é simples, SiO2, as partículas são equidimensionais, como cubos ou esferas, e apresentam baixa atividade superficial. Outros minerais, como feldspato, gipsita, calcita e mica, também podem ser encontrados nesse tamanho. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 14 Quando falamos de feldspatos, verificamos que estes são minerais mais atacados pela natureza e dão origem aos argilominerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com dimensão inferior a 2 mm. “Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que essas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia” (PINTO, 2006, p. 20). FIGURA 10 – DIFERENÇA MINERALÓGICA DOS PRINCIPAIS MINERAIS CONSTITUÍDOS NA ROCHA PARA FORMAÇÃO DO SOLO Quartzo SiO2 Forma grãos de silte e areia Resistente a desagregação Feldspato SiO2+AL(OH)3 Forma os argilominerais São minerais mais atacados pela natureza FONTE: A autora Os argilominerais apresentam uma estrutura complexa. Os mais comuns são a caulinita, ilita e a montmorilonita, que apresentam comportamentos bem distintos, principalmente na presença de água. São elas que conferem coesão e plasticidade aos solos. Suas estruturas são distintas entre si, o que ocasiona comportamentos diferentes, geralmente as caulinitas são os menos plásticos e a montmorilonitas os mais plásticos. Na composição química das argilas, existem dois tipos de estrutura: uma estrutura de tetraedros justapostos num plano, com átomos de silício ligados a quatro átomos de oxigênio (SiO2) e outra de octaedros, em que átomos de alumínios são circundados por oxigênio ou hidroxilas [Al(OH)3] conhecidos como gipsita. Essas estruturas ligam- se por meio de átomos de oxigênio que permanecem simultaneamente a ambas (PINTO, 2006, p. 17). A Figura 11 representa as estruturas dos principais argilominerais. O item (a) corresponde as caulinitas, estas são formadas por uma camada tetraédrica e uma octaédrica (estrutura de 1:1), as camadas têm aproximadamente 7 Ȧ (1 Angstron = 10-¹° m) e são unidas por pontes de hidrogênio que impedem sua separação e a introdução de moléculas de água entre elas. As ligações de hidrogênios são fracas, mas suficientemente fortes para evitar a penetração de água entre as unidades estruturais. Por esta razão, as caulinitas apresentam pequena expansão, difícil dispersão na água e baixa plasticidade. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 15 As ilitas consistem em lâminas de gipsita ligadas a duas folhas de sílica – uma na parte superior e outra na parte inferior, pode ser chamada de mica de argila. As camadas de ilita são ligadas por íons de potássio. O arranjo tetraédrico é encontrado entre duas estruturas (estrutura de camada 2:1), com uma espessura de cerca de 10 Ȧ. Apenas nas ilitas, os átomos de silício das camadas de sílica são substituídos parcialmente por alumínio. Quando a substituição do silício das camadas de tetraedros por alumínio for pequena, as ligações entre as unidades estruturais proporcionadas pelos cátions K podem ser deficientes e permitirão a entrada de água; quando este processo ocorre, as ilitas chegam próximo das propriedades das montmorilonitas. No geral as ilitas possuem plasticidade, expansão e dispersão de água maior que as caulinitas e menor que as montmorilonitas. FIGURA 11 – DIAGRAMA DAS ESTRUTURAS DOS PRINCIPAIS ARGILOMINERAIS nH20 e cátions intercambiáveis ba sa l Va ri áv el d e es pa ça m en to (c) Montmorilonita(b) llita(a) Caulinita Potássio 10 Ȧ 7,2 Ȧ Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílicaLâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsitaFolha de gibsita FONTE: Das e Khaled(2017, p. 200) As partículas montmorilonitas caracterizam-se por apresentarem, sempre, o alumínio das camadas de octaedros substituído parcialmente ou totalmente por magnésio e ferro. Esta substituição gera um aumento de valências negativas na camada interna. A estrutura das montmorilonitas apresenta moléculas de água entre as unidades estruturais. Desse modo, a água penetra com mais facilidade, assim mostrando ser de fácil dispersão de água, grande expansão e alta plasticidade. Para neutralizar as cargas negativas existem cátions livres nos solos, por exemplo, cálcio, Ca++, ou sódio, Na+, aderidos às partículas. Esses cátions atraem camadas contíguas, mas com força relativamente pequena, o que não impede a entrada de água entre as camadas. A liberdade de movimento das placas explica a elevada capacidade de absorção de água de certas argilas, sua expansão quando em contato com a água e sua contração considerável ao secar (PINTO, 2006, p. 17). Outro fato que condiciona infinidade de comportamentos dada aos argilominerais é que as mudanças químicas nessas estruturas (os cátions e íons) são facilmente trocáveis por percolação de soluções químicas. Desse modo, o tipo de cátion presente numa argila condiciona o seu comportamento. Uma argila montmorilonita com sódio adsorvido, por exemplo, é muito mais sensível à água do que com cálcio adsorvido. Daí a diversidade de comportamentos apresentados pelas argilas e a dificuldade de correlacioná-los por meio de índices empíricos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 16 O tipo de cátion presente na argila determina a sua estabilidade, o que condiciona seu comportamento. O conhecimento das estruturas permite o entendimento de diversos fenômenos notados no comportamento dos solos, um deles é a sensibilidade da argila. UNI UNI 3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR Quando falamos de sistema ou estrutura solo-água, recaímos no fato de a água entrar em contato com as partículas de solo e assim estar submersa nesse meio. As moléculas se orientam em relação a elas e aos íons que circundam as partículas. Quando duas partículas de argila, na água, estão muito próximas, ocorrem forças de atração e de repulsão entre elas. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que elas possuem e que ocorrem desde que as camadas duplas (por exemplo, na Figura 11) estejam em contato. As forças de atração decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes. Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas resultam a estrutura dos solos e as forças entre elas. Considera-se a existência de dois tipos básicos de estrutura: a) Floculada, quando os contatos se fazem por faces e arestas. b) Dispersa, quando as partículas se posicionam paralelamente. Estas estruturas (floculada e dispersa) são consideradas simplificadas, pois para solos residuais e compactados, a posição da partícula é mais elaborada. Existem aglomerações de partículas argilosas que constituem em vazios de maiores dimensões e existem microporos nos vazios entre as partículas argilosas que constituem as aglomerações. Segundo Pinto (2006), esses tipos de estrutura comprovam certos comportamentos do solo, como a elevada permeabilidade de certos solos residuais argilosos em seu estado natural. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 17 Na engenharia geotécnica, o solo pode ser visualizado como um esqueleto de partículas sólidas compressível. Este esqueleto, na condição saturada, tem seus vazios preenchidos por água, e na condição não saturada tem, em seus vazios, ar e água. A Mecânica dos Solos clássica foi desenvolvida baseando- se no comportamento do solo na condição saturada; por isso, a previsão do comportamento mecânico e suas propriedades hidráulicas são atualmente bem estabelecidas na teoria e na prática para o solo saturado. Porém, o solo nem sempre se apresenta na condição saturada. Em regiões de clima árido e semiárido, onde a evaporação excede as precipitações, é comprovado que existe um comportamento diferenciado ao solo saturado. Quando existe ar na composição solo-água, há a formação de uma película contrátil, também conhecida como membrana contrátil, que é defi nida por canais que são formados devido às tensões capilares e a água adsorvida nos grãos (Figura 12). Estes canais geram tensões, o que pode conferir uma maior resistência ao solo. Este fato chamamos de sucção. FIGURA 12 – A SUCÇÃO MATRICIAL EM SOLO NÃO SATURADO Partículas Água capilar Água adsorvida FONTE: Massocco, 2017 apud Hillel (1971, p. 40) Existem estudos, como o de Massocco (2017), que mostram o comportamento de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo. Estudar solos não saturados e todos os possíveis estados do solo é essencial para conhecer o seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos. 4 TIPOS DE SOLOS Existem estudos como de Massocco (2017) que mostram o comportamento de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo. Estudar solo não saturados, e todos as possíveis estados do solo, é essencial para conhecer o seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 18 4.1 SOLOS RESIDUAIS São solos provenientes da decomposição das rochas e não foram submetidos a ações de transporte, se conservam no local da rocha-mãe. Para que haja a ocorrência destes solos, é necessário que o processo de decomposição da rocha seja mais rápido que o processo de remoção das partículas de solo por meio do agente de transporte atuante. A estrutura do solo residual depende da velocidade de alteração da rocha e, a partir do grau de decomposição, este tipo de solo pode ser dividido em várias camadas, com classificações particulares, as quais são (Figura 13): a) Rocha sã: Rocha inalterada. b) Alteração de rocha: Preserva parte da estrutura e seus minerais, porém com dureza inferior à da rocha matriz (muito fraturada). c) Saprólito: Guarda características da rocha sã e tem basicamente os mesmos minerais, porém sua resistência é bem reduzida. d) Solo residual jovem: Grande quantidade de pedregulho e bastante heterogênea (coloração, resistência, compressibilidade e permeabilidade). e) Solo residual maduro: É mais homogêneo e não apresenta nenhuma relação com a rocha-mãe. FIGURA 13 – PERFIL TÍPICO DE SOLO RESIDUAL Re si st ên ci a D ef or m ab ili da de Rocha sã Rocha alterada Saprólito Solo jovem Solo maduro FONTE: Machado e Machado (2007, p. 60) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 19 Podemos perceber na Figura 13 que o perfil de rocha sã é o que determina o solo preexistente, desse modo, a composição química do solo vem dos minerais da rocha que dará existência ao solo. Percebe-se o aumento de resistência, da textura e da heterogeneidade com o aumento de profundidade. Desse modo, a coleta e análise de amostras de solo torna-se exigente de detalhes nas camadas superiores (saprólito e residual jovem). Com o tempo há o surgimento de fraturas que determinam o perfil de alteração da rocha. Esta rocha alterada é o perfil em que a rocha inicia o fraturamento, logo, quando há a existência de fraturas iniciais, o perfil é chamado de alteração de rocha. O surgimento dos primeiros sedimentos ocorre no solo saprolítico, chamamos esse nome pois é onde se inicia a formação do solo e a diminuição da dimensão das rochas, além disso, ocorre a diminuição da resistência em relação à rocha sã. É neste perfil que podemos encontrar resquícios de rocha, por exemplo, os matacões. Após o surgimento do solo saprolítico, temos a formação do solo residual jovem, este solo possui alterações na resistência mecânica, uma vez que a transformação de rocha em solo não é uniforme em cada etapa, o que pode resultar em pedaços de rocha. O solo residual maduro corresponde ao mais distante da rocha sã e o mais próximo da superfície, isto colabora com que haja solos transportados, contribuindo parasua alteração em um solo com influência da ação de outros componentes, como: homem, vento, animais etc. Este fato corrobora para que o solo não tenha a mesma composição da rocha sã. Para não esquecer o significado de solos residuais, lembramos que equivale a resíduos da rocha matriz e que nascem, crescem e se estabelecem no local. NOTA 4.2 SOLOS ORGÂNICOS Os solos orgânicos são constituídos por sedimentos, possuem alto teor de matéria orgânica em decomposição e apresentam coloração escura. Estes solos são encontrados em regiões ribeirinhas, locais onde o nível do lençol freático é alto. Devido ao nível de água elevado, há a facilidade no desenvolvimento de plantas aquáticas, e estas, por sua vez, ao decompor-se, formam os solos orgânicos. Os solos turfosos são exemplos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 20 De acordo com Das e Khaled (2017, p. 80), estes solos possuem as seguintes características: a) Teores de umidade altos (entre 200 e 300%). b) São altamente compressíveis. c) Os testes laboratoriais indicam que, sob carga, a grande parcela de recalque dá-se por recalque secundário. FIGURA 14 – PERFIL DE SOLO TIPICAMENTE TURFOSO FONTE: Granfield University (2018) 4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS São solos que após o processo de formação, são alterados por processos físico-químicos, como lixiviação, laterização, cimentação etc. O solo laterítico é um exemplo de solo pedogênico, este, por sua vez, é formado pelo processo de laterização do solo, que é comumente encontrado em regiões com grande variação entre os períodos secos e os de chuvas. O processo caracteriza-se pela lavagem de sílica coloidal presente nas camadas superiores do solo, seguida de deposição desta sílica lavada nas camadas mais profundas, o que faz com que este solo, na camada superficial, possua uma grande quantidade de óxidos de ferro e alumínio. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 21 4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS) São solos que, após o processo de alteração, foram transportados para outros locais por algum agente transportador, tais como: a) Solos coluviais: O transporte ocorre pela ação da gravidade e são muito heterogêneos. A ocorrência é localizada, em pé de encostas ou provenientes de escorregamentos. Apresentam boa resistência, porém elevada permeabilidade. São divididos em colúvio (material predominantemente fino, Serra do Mar e planalto brasileiro), tálus (material predominantemente grosseiro, Sul da Bahia e Salvador); b) Solos aluvionares: Origem pluvial ou fluvial, fonte de materiais de construção, mas péssimos como fundação; c) Solos eólicos: O vento é o agente de transporte, os grãos tendem a ser arredondados e uniformes (Areias finas e siltes); d) Solos glaciais: Localizam-se em regiões temperadas e altitudes elevadas. São os solos formados pelas geleiras ao se deslocarem pela ação da gravidade. 22 Neste tópico, você aprendeu que: • O solo provém da rocha e a formação desta se dá por alterações físicas, químicas, fusões e variação de pressão. • As alterações na formação resultam em três tipos de rocha: metamórfica, sedimentar e magmática. • O tipo de solo depende da composição química e mineralógica e isto é diferenciado pelo tamanho das partículas, constituição mineralógica e estrutura solo-água-ar. • Os tipos de solo se dividem em residuais, sedimentares, orgânicos e pedogênicos. • Para melhor entendimento, temos a Figura 15, que corresponde ao fluxograma resumido deste capítulo. RESUMO DO TÓPICO 1 FIGURA 15 – RESUMO DO CAPÍTULO ESTUDADO Origem e Formação das Rochas Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo Tamanho das partículas Estrutura solo-água-ar Tipos de solo Constituição mineralógica Composição química e mineralógica Ciclo das Rochas Tipos de Rocha FONTE: A autora 23 1 Em relação à origem e formação dos solos, analise as informações: I- Os solos são materiais que resultam do intemperismo das rochas, por desintegração mecânica ou decomposição química. II- Por desintegração mecânica, através de agentes como a água, temperatura e ação do gelo, formam-se os pedregulhos e areia. III- Decomposição química consiste no processo em que há modificações químicas ou mineralógicas das rochas de origem, por meio de reações de óxido-redução. IV- A formação de um solo “s” é função da rocha de origem (r), da ação de organismos vivos (o), do clima (cl), da fisiologia (p) e do tempo (t). Estão CORRETAS apenas as afirmativas: a) ( ) I, II e III. b) ( ) I e IV. c) ( ) I, II e IV. d) ( ) II, III e IV. e) ( ) II e III. 2 As pesquisas das argilas revelam, apesar da aparência amorfa do conjunto, que elas são constituídas de pequeníssimos minerais cristalinos, chamados minerais argílicos, dentre os quais se distinguem três grupos principais, são eles: a) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Lixitas. b) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Ilitas. c) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Lixitas. d) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Ilitas. e) ( ) Caulinitas, Amórficos e Ilitas. 3 Sobre como pode se dar o processo de intemperismo por meio físico, analise os itens a seguir e assinale (V) para o que for Verdadeiro ou (F) para o que for Falso: ( ) Pela variação da temperatura. ( ) Pelo congelamento da água. ( ) Pelo alívio de pressões. ( ) Pela carbonatação. A sequência correta é: a) ( ) F, V, V, V. b) ( ) V, F, V, V. AUTOATIVIDADE 24 c) ( ) V, V, F, F. d) ( ) V, V, V, F. e) ( ) F, F, V, F. 4 Acerca da origem e formação do solo, preencha as lacunas do texto a seguir: Os solos ____________são os que permanecem no local da rocha de origem, observando-se uma gradual transição do solo até a rocha. Já os solos ____________ são os que sofrem a ação de agentes transportadores, podendo ser ____________ quando transportados pela água, _____________quando pelo vento, ____________ quando pela ação da gravidade e _______________pelas geleiras. Assinale a alternativa que apresenta as palavras que preenchem CORRETA e respectivamente as lacunas: a) ( ) orgânicos, sedimentares, residuais, eólicos, aluvionares e coluvionares. b) ( ) sedimentares, residuais, coluvionares, aluvionares, eólicos e glaciares. c) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e orgânicos. d) ( ) sedimentares, residuais, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares. e) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares. 5 Um proprietário de uma fazenda por onde passa um rio resolveu contratar um estudo de viabilidade técnica para exploração da areia nesse rio. Como você classificaria esse tipo de solo pela classificação genética e qual tipo de intemperismo predominou na formação dele? a) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo físico. b) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo químico. c) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo físico. d) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo químico. e) ( ) Solo pedogênico. 6 Defina intemperismo físico e químico citando as principais características dos solos formados pela predominância de um ou outro tipo de intemperismo. Qual a principal diferença entre eles? 7 Quanto à origem, os solos podem ser classificados em residuais, transportados, orgânicos e pedogênicos. Descreva como é formado cada um deles. Desenhe um perfil esquemático de solo residual destacando cada horizonte. Com relação aos solos transportados, quais os principais agentes de transporte e a que tipo de solo eles dão origem? 8 As propriedades físicas do solo dependem: a) ( ) Do tamanho dos grãos. b) ( ) Do formato dos grãos de solo. c) ( ) Da composição química dos grãos do solo. d) ( ) Todas as alternativas. 25 9 Os argilominerais são um produto de intemperismo químico de: a) ( ) Feldspato. b) ( ) Ferromagnesianos. c) ( ) Micas. d) ( ) Todas as alternativas. 10 Os solos transportados e depositados pelo vento são chamados de: a) ( ) Solos aluviais. b) () Solos eólicos. c) ( ) Solos lacustres. d) ( ) Solos glaciais. e) ( ) Solos fluviais. 11 Os solos formados pelos produtos intemperizados no local de origem são chamados de: a) ( ) Solos transportados. b) ( ) Preenchimentos. c) ( ) Solos aluviais. d) ( ) Solos residuais. e) ( ) Solos coluvionares. 12 No local de construção, a investigação de subsuperfície indica a presença de depósito de solo residual. O tamanho dos grãos neste local, geralmente: a) ( ) Não variará com a profundidade. b) ( ) Diminuirá com a profundidade. c) ( ) Aumentará com a profundidade. d) ( ) Inicialmente aumentará com a profundidade e depois diminuirá. e) ( ) Não ocorrerá variação. 13 As partículas menores que 0,075 mm são referidas como: a) ( ) Argila b) ( ) Silte c) ( ) Areia d) ( ) Grãos finos e) ( ) Grãos grossos 14 A caulinita consiste em camadas repetidas de folhas elementares de sílica- gipsita em: a) ( ) Arranjo 1:1 b) ( ) Arranjo 1:2 c) ( ) Arranjo 2:1 d) ( ) Arranjo 2:2 e) ( ) Arranjo 3:1 26 15 Selecione a declaração incorreta: a) ( ) Os solos orgânicos geralmente são encontrados em áreas de baixa altitude onde o lençol freático está próximo ou acima da superfície do solo. b) ( ) Os solos orgânicos são altamente compressíveis. c) ( ) O teor de umidade dos solos orgânicos pode variar de 200% a 300%. d) ( ) Os depósitos de solo orgânico geralmente são encontrados em áreas desertas. e) ( ) Um exemplo de solo orgânico é a turfa. 27 TÓPICO 2 ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Dependendo do tipo de solo e da sua condição no meio, a resposta com relação à resistência, compressibilidade e permeabilidade ocorre de forma diferenciada. A identificação da estrutura do solo, bem como o índice físico dele, é bastante importante para modelagem de estruturas na prática geotécnica, pois o melhor conhecimento das condições do solo possibilita melhores dimensionamento. Este tópico trata das relações entre as propriedades físicas dos solos. A princípio, estabelece-se a natureza das partículas em solos coesivos e não coesivos. Após teremos uma introdução a respeito da forma das partículas e a relação entre fases. Em seguida, apresentam-se os índices propriamente ditos, como a umidade, as relações de massas, de pesos específicos e de massas específicas (seca, úmida, de água, de ar) e relações de vazios (água e ar). Vamos começar? 2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS Sabemos que o solo são grãos minerais e pode apresentar em sua constituição matéria orgânica. Há solos, como no caso dos arenosos, a areia, por exemplo, em que as partículas geralmente são facilmente visualizadas, de encontro aos solos argilosos, que precisam de um auxílio de microscópios para distingui-las. Estas partículas estão parcialmente livres para se deslocarem uma em relação a outra não tão facilmente, como os elementos de um fluido, como também não são fortemente ligadas, como num cristal de metal. O sistema de partículas do solo é o que o diferencia do mecanismo sólido e do fluido. As frações grossas do solo são maioritariamente de grãos silicosos e os minerais que ocorrem nas frações argilosas são de tamanhos pequenos, como as caulinitas, as montmorilonitas e as ilitas. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 28 Quando falamos de aspectos estruturais do solo, defi nimos a estrutura solo como o arranjo ou a disposição geométrica das partículas de um solo entre si e verifi camos que, entre os inúmeros fatores que afetam a estrutura, estão o formato, o tamanho, a composição mineralógica das partículas do solo e a natureza e composição da água do solo. Geralmente, os solos podem ser divididos em dois grupos: não coesivos e coesivos. Vamos entender melhor esses dois grupos? As estruturas encontradas em cada solo estão descritas a seguir: 2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS Solos não coesivos são aqueles com baixa predominância de fi nos, a estrutura geralmente encontrada em solos não coesivos pode ser dividida em duas categorias principais: granular simples (ou de grãos isolados) e em favos (ou alveolares). Nas estruturas granulares simples, as partículas do solo estão em posição estável e em contato com as outras partículas no entorno. A forma e a distribuição do tamanho das partículas de solo e as posições relativas infl uenciam na densidade de pacote, assim é possível uma ampla gama de índices de vazios. FIGURA 16 – ESTRUTURA GRANULAR SIMPLES (a) Representatividade de um solo fofo (b) Representatividade de um solo compacto/denso FONTE: A autora TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 29 Para se ter uma ideia da variação do índice de vazios causada pelas posições relativas das partículas, vamos considerar o modo de empacotamento com esferas iguais (Figura 17). FIGURA 17 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS (VISTAS PLANAS) d (a) Empacotamento muito fofo (b) Empacotamento mais denso 2d FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 88) UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 30 Podemos perceber na Figura 17 um exemplo de estado de empacotamento do solo muito fofo, ou seja, com um índice de vazios grande. Das e Khaled (2017) verificaram que se isolarmos um cubo no qual cada lado meça d, que é igual ao diâmetro de cada esfera, como mostra a ilustração, é possível calcular o índice de vazios, como: sv s s V VVe V V − = = Onde: V= volume do cubo = d³; Vs= volume da esfera (isto é, o sólido) dentro do cubo. Ao observar que V=d³ e Vs=πd³/6, teremos: ∏ ∏ d³d³- 6e = =0,91d³ 6 Podem existir outras formas de empacotamento de esferas iguais entre os estados fofos e densos, e estes são indicados na Figura 18a e 18b. A Figura 18a mostra um empacotamento de escalonamento simples. Observa-se que cada esfera encosta em seis esferas próximas na própria camada e as esferas em distintas camadas são empilhadas diretamente na parte superior de cada uma. O índice de vazios para o padrão de escalonamento simples é 0,65. A Figura 18b mostra um empacotamento de escalonamento duplo. Isso é parecido ao padrão de escalonamento simples, exceto que cada esfera em uma camada desliza para cima e para baixo para entrar em contato com duas esferas na segunda camada. O índice de vazios para disposição do escalonamento duplo é 0,43. FIGURA 18 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS (a) Escalonamento simples TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 31 (b) Escalonamento duplo FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017) Segundo Das et al. (2017), existem pesquisas em que, para analisar o comportamento dos solos não coesivos, utilizaram-se alguns ensaios colocando esferas de aço de tamanhos iguais em um recipiente para determinar o índice de vazios mínimos, que era 0,6. Em tais ensaios, aproximadamente 20% das esferas formaram-se em arranjo de escalonamento duplo (e=0,43) e aproximadamente 80% das esferas formaram em arranjo de escalonamento simples (e=0,65). NOTA Sabemos que o solo verdadeiro se diferencia do modelo com esferas idênticas, pois nesse caso as partículas são heterogêneas, não apresentam o mesmo tamanho e não são esféricas. As partículas menores podem ocupar os espaços vazios entre as partículas maiores e, portanto, o índice de vazios do solo é reduzido em comparação ao modelo com esferas idênticas. No entanto, a irregularidade nos formatos das partículas geralmente produz um aumento no índice de vazios dos solos. Como resultado desses dois fatores, os índices de vazios deparados em solos reais têm aproximadamente a mesma faixa obtida em esferas iguais (DAS; KHALED, 2017). Na estrutura alveolar (Figura 19), o silte e a areia relativamente finos formam pequenos arcos com correntes de partículas. Os solos que apresentam estrutura alveolar possuem índices de vazios maiores e podem suportar uma carga estática moderada. Porém, sob condições de carga mais pesada ou quando submetidos a cargas de impacto, a estruturacolapsa, o que resulta em um grande recalque de solo (DAS; KHALED, 2017). UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 32 FIGURA 19 – ESTRUTURA ALVEOLAR FONTE: A autora 2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS Os solos coesivos, aqueles chamados popularmente como solos que contêm uma cola entre as partículas de solo, as famosas argilas, fazem parte deste grupo. No entanto, o entendimento da estrutura básica é complexo, pois para compreender a estrutura, precisamos conhecer os tipos de forças que atuam entre as partículas de argila suspensas na água. Quando duas partículas de argila em suspensão se aproximam uma da outra, a tendência para interpenetração das camadas duplas difusas gera repulsão entre as partículas. Ao mesmo tempo, existe uma força de atração entre as partículas de argila, causada pelas forças de Van der Waals e é independente das características da água. Tanto a força de repulsão quanto a força de atração aumentam com a diminuição da distância entre as partículas, mas em taxas diferentes. Quando o espaçamento entre as partículas é muito pequeno, a força de atração é maior que a força de repulsão. Essas são as forças estudadas pelas teorias coloidais (DAS; KHALED, 2017). Ao analisar o comportamento da argila na forma de uma suspensão diluída, quando a argila é inicialmente dispersa na água, as partículas se repelem entre si. Essa repulsão ocorre porque, com o maior espaçamento interpartículas, as forças de repulsão entre elas são maiores que as forças de atração (forças de Van der Waals). A força da gravidade sobre cada partícula é desprezível. Assim, cada partícula individual pode se sedimentar muito lentamente ou permanecer em suspensão, submetida a um movimento browniano (um movimento aleatório em zigue-zague de partículas coloidais em suspensão). O sedimento formado pela decantação de partículas individuais apresenta uma estrutura dispersa (Figura 20) e uma orientação aproximadamente paralela entre si. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 33 FIGURA 20 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO DISPERSO FONTE: A autora Se as partículas de argila dispersas inicialmente na água se aproximarem umas das outras durante o movimento aleatório em suspensão, elas podem se agregar formando fl ocos visíveis com contato entre as bordas. Nesse caso, as partículas são mantidas unidas pela atração eletrostática das bordas carregadas positivamente com faces com cargas negativas. Essa agregação é chamada de fl oculação (Figura 21). Quando fi cam maiores, os fl ocos decantam pela ação da gravidade. O sedimento formado dessa maneira possui uma estrutura fl oculada. FIGURA 21 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO FONTE: A autora Quando se adiciona sal a uma suspensão de argila-água que tenha sido inicialmente dispersa, os íons tendem a enfraquecer a camada dupla ao redor das partículas. Essa depressão reduz a repulsão interpartículas. As partículas de argila são atraídas para formar fl ocos e sedimentação. A estrutura fl oculada formada de sedimentos é exibida na Figura 22. Nas estruturas fl oculadas sedimentares salinas, a orientação da partícula se aproxima de um alto grau de paralelismo em razão das forças de Van der Waals. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 34 FIGURA 22 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO COM SAL FONTE: A autora As argilas que apresentam estruturas fl oculares são leves e possuem um alto índice de vazios. Os depósitos de argila formados no mar são altamente fl oculados. A maioria dos depósitos de sedimentos formados em água doce possui estrutura intermediária entre dispersa e fl oculada. Um depósito puro de argilominerais é raro na natureza. Quando um solo tem pelo menos 50% de partículas com tamanhos de 0,002 mm, geralmente, é denominado de argila. Estudos realizados com microscópio eletrônico de varredura mostraram que as partículas individuais de argila tendem a se agregar ou fl ocular em unidades submicroscópicas. Essas unidades são chamadas domínios. Em seguida, os domínios se agrupam e esses grupos são chamados de aglomerados. Os aglomerados podem ser observados em um microscópio óptico. Esse agrupamento para formar aglomerados é causado principalmente pelas forças entre partículas. Os grupos, por sua vez, se agrupam para formar agregados. Os agregados podem ser observados sem microscópio. Os agregados são unidades macroestruturais com juntas e fi ssuras. A Figura 23 (item a) mostra o arranjo de agregados e os espaços dos macroporos. O arranjo de domínios e aglomerados com partículas do tamanho de silte é exibido na Figura 23 b. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 35 FIGURA 23 – ESTRUTURA DO SOLO Agregados Macroporos (a) Arranjo de agregados Silte Agrupado Silte Domínio (b) Arranjo dos domínios e aglomerados com partículas de silte FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 91) Com base na discussão anterior, podemos ver que a estrutura dos solos coesivos é altamente complexa. As macroestruturas têm importante influência no comportamento dos solos, do ponto de vista da engenharia. A microestrutura é mais importante do ponto de vista fundamental. A Tabela 2 apresenta um resumo das macroestruturas de solos de argila. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 36 TABELA 2 – ESTRUTURAS DE SOLOS ARGILOSOS Estruturas dispersas Formadas pela sedimentação de partículas isoladas de argila; orientação mais ou menos paralela. Estruturas floculadas Formadas pela sedimentação de flocos de partículas de argila. Domínios Unidades submicroscópicas agrupadas ou floculadas de partículas de argila. Agregados Os aglomerados se agrupam para formar os agregados; podem ser vistos sem microscópio. Aglomerados Os domínios se agrupam para formar os aglomerados; podem ser observados em microscópio óptico. FONTE: Das e Khaled (2017, p. 91) A gravidade é o principal fator de arrumação das partículas. Por isso, a estrutura dos solos grossos se difere apenas quanto ao grau de compacidade. Já os solos finos, preferencialmente as argilas, possuem maiores possibilidades de estruturação, por causa da ação de forças elétricas, mais atuantes que a gravidade. 3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA Define-se superfície específica como a relação entre a área da superfície de um material e seu volume. Normalmente, é expressa em m²/m³ ou m²/g ou qualquer variação das grandezas. Quanto maior o tamanho de um material, menor sua superfície específica. Em relação aos argilominerais, quanto maior a superfície específica (menor o material), maior a atuação das forças elétricas, o que influencia nas demais propriedades. Em ordem decrescente de tamanho, temos as seguintes superfícies específicas médias por tipo de argilomineral: Caulinita = 10m²/g; Ilitas = 80m²/g e Montmorilonita = 800 m²/g. Para compreender melhor, Ribeiro (2016) desenvolveu o cálculo de superfície específica, tomando como base os cubos a seguir, de lado = 10 cm e lado = 5 cm, respectivamente. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 37 FIGURA 24 – ANÁLISE DA SUPERFÍCIE ESPECÍFICA Cubo 2 Cubo 1 FONTE: A autora, adaptado de Ribeiro (2016) Calcula-se a área superficial, que é a soma da área de todas as faces da figura e, posteriormente, divide-se o valor encontrado pelo volume da figura. No caso do cubo, serão seis faces de mesmas dimensões. e ÁreasuperficialS Volume = 1 6 e l²S l³ × = (corresponde ao cubo 1) 1 6 10 10e ²S ³ × = 1 0 6eS , cm² / cm³= 2 6 e l²S l³ × = (corresponde ao cubo 2) 1 6 5 5e ²S ³ × = 1 1 2eS , cm² / cm³= Desse modo, percebemos que os cubos acima demonstram claramente que quanto maior for o tamanho do objeto em questão, menor sua superfície específica, pois são grandezas inversamente proporcionais. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 38 4 FORMA DAS PARTÍCULAS O formato das partículas presentes em uma massa de solo tem a mesma importância da distribuição granulométrica, porque tem influência significativasobre as propriedades físicas de determinado solo. No entanto, não é dada muita atenção ao formato da partícula porque é mais difícil de determinar. O formato da partícula geralmente é dividido em três principais categorias: a) Volumosa. b) Lamelar. c) Fibrilar. As partículas volumosas são formadas principalmente pelo intemperismo físico de rochas e minerais. Os geólogos utilizam termos como angular, subangular, subarredondado e arredondado para descrever os formatos das partículas volumosas. Estes formatos são indicados qualitativamente na Figura 26. Pequenas partículas de areia localizadas próximo de sua origem são geralmente muito angulares. As partículas de areia carregadas pelo vento e pela água, por longas distâncias, podem apresentar formatos que vão desde o subangular ao arredondado. O formato de partículas granulares em uma massa de solo exerce grande influência sobre as propriedades físicas, como índice de vazios máximo e mínimo, parâmetros de resistência ao cisalhamento, compressibilidade etc. A angularidade é definida pela equação: Raio _médio _ dos _ cantosebordasA Raio _ da _ esferamáxima _ inscrita = A esfericidade das partículas volumosas é definida como: e p DS L = Onde: De = diâmetro equivalente da partícula = 3 6 ∏ V ; V= volume da partícula; Lp= comprimento da partícula. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 39 FIGURA 25 – FORMATO DAS PARTÍCULAS FONTE: Das e Khaled (2017, p. 44) As partículas lamelares têm esfericidade muito baixa – geralmente 0,01 ou menos. Estas partículas são predominantemente argilominerais. As partículas fibrilares são muito menos comuns que os outros dois tipos de partícula. Alguns depósitos de corais e argilas atapulgitas são exemplos de solo contendo partículas fibrilares. 5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS Determinado volume de solo em ocorrência natural consiste em partículas sólidas e em espaços vazios entre as partículas. O espaço vazio pode ser preenchido com ar e/ou água, desse modo constitui-se um sistema trifásico. Se não houver água no espaço vazio, é um solo seco. Se todo o espaço vazio for preenchido com água, é referido como solo saturado. No entanto, se o espaço for parcialmente preenchido com água, é um solo úmido. Portanto, é importante que, em todos os trabalhos de engenharia geotécnica, estabeleçam-se relações entre peso e volume em determinada massa de solo. Uma amostra de solo natural não é composta apenas dos grãos (fase sólida - pedregulhos, areias, siltes e argilas), mas também de espaços vazios. Esses espaços vazios são, comumente, preenchidos com água (fase líquida) e ar (fase gasosa), conforme Figura 26, a seguir. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 40 FIGURA 26 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO Partícula sólida Ar Água FONTE: A autora A fase gasosa, de acordo com Caputo (1996), é composta por ar, vapor d’água e carbono combinado. Também pode ser encontrada na forma de bolhas de ar dentro da fase líquida. É a fase mais compressível do solo. A fase líquida compreende a água e esta, por sua vez, é essencial em seu estudo para a Mecânica dos Solos, uma vez que a presença de água é responsável pela maioria dos problemas da construção civil. A Figura 28 corresponde aos diversos tipos de água que compõem a fase líquida de uma amostra de solo. FIGURA 27 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO ÁGUA CAPILAR ÁGUA ABSORVIDA ÁGUA HIGROSCÓPICA PARTÍCULA DE ARGILA ÁGUA LIVRE ÁGUA CAPILAR ÁGUA ADESIVA FONTE: Caputo (1996, p. 25) Os diversos tipos de água que formam a fase líquida são: a) A água de constituição: esta faz parte da estrutura molecular dos grãos do solo. b) A água adesiva ou adsorvida: é a que adere e envolve todo o grão. c) A água livre: está presente no meio e preenche os vazios. d) A água higroscópica: é a que está presente no solo quando esse se encontra na mesma temperatura que o ambiente ao seu redor. e) A água capilar: é a água que sobe pelos interstícios capilares deixados pelas partículas sólidas, além da superfície livre da água. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 41 O efeito do calor pode evaporar as águas livre, higroscópica e capilar, a partir de uma temperatura de 100 °C. NOTA O que diferencia a mesma condição do solo é a variação dos vazios. Os vazios são constituídos pelo volume de ar mais o volume de água. No entanto, o volume do sólido permanece constante (Figura 28). FIGURA 28 – VARIAÇÃO DE VOLUME DE AR E ÁGUA, PORÉM O SÓLIDO É INCOMPRESSÍVEL SÓLIDO ÁGUA AR SÓLIDO ÁGUA AR SÓLIDO ÁGUA AR FONTE: A autora 5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO As propriedades dos solos exigem o estudo dos índices físicos. Já vimos que um solo, no ambiente natural, é composto por grãos sólidos e vazios. Esses vazios, por sua vez, podem ser compostos de água e ar. De início, já se pode estabelecer algumas relações entre pesos e volumes e entre massas e volumes. A Figura 29, a seguir, demonstra as fases do solo e suas possíveis relações. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 42 FIGURA 29 – AS FASES DO SOLO COM RELAÇÃO A VOLUME, MASSA E PESO SÓLIDO ÁGUA AR Vs Vt Vv Vw Va SÓLIDO ÁGUA AR wt Ws, ms Ww, mw Wa, ma=0 (a) Fases com relação a volumes (b) Fases com relação ao peso e massa FONTE: A autora 5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES Verificando a Figura 30, percebemos que o volume total corresponde ao somatório do volume sólido, volume de água e volume de ar, conforme a equação a seguir: s w arVt V V V= + + TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 43 As partículas de solo também são preenchidas de vazios, estes, por sua vez, são o somatório do volume de água e volume de ar dos constituintes do solo. v w aV V V= + Então, o volume total também pode ser escrito como a soma do volume de sólidos com o volume de vazios: t s vV V V= + 5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS No meio estudantil sempre existiu a dúvida entre massa e peso específico. A massa é a quantidade de matéria que um corpo apresenta e é expressa em gramas, quilos ou quaisquer múltiplos e submúltiplos dessa grandeza. No entanto, o peso é relativo, varia de acordo com a variação da gravidade, o que significa que, para calcular o peso de um corpo, deve-se obter o produto entre sua massa e a gravidade do ambiente onde esse corpo se encontra no momento, assim: P = m × g A equação acima é baseada nos estudos de Newton, que afirma que a força é o produto da massa (kg) de um corpo e de sua aceleração (m/s²). Isso significa que a força resultante (F) é dada na grandeza kg.m/s², ou, simplificando, a força é dada em Newton (N). Dependendo do local, o peso de um material varia, porém a massa permanece constante. Um exemplo simples é notar a diferença entre as gravidades do Sol (274m/s²), da Terra (9,8m/s²) e da Lua (1,7m/s²). DICAS Sabemos que a massa total (Mt) é a soma das massas de água (Mw) e de sólidos (Ms). Com isso, temos que o peso total (Pt) é a soma do peso da água (Pw) com o peso dos sólidos (Ps), de acordo com as equações, a seguir. t s wM M M= + t s wP P P= + UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 44 “O peso do ar e a massa do ar não são considerados, pois são ambos desprezíveis. Assim, mesmo que a massa e o peso do ar não sejam considerados, o seu volume deve ser calculado, uma vez que o volume de ar é parte componente do volume total e que pode ser compressível quando sujeito a uma força ou substituído por água quando submerso” (RIBEIRO, 2016, p. 20). 6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA ESPECÍFICA APARENTE E REAL, ÍNDICE DE VAZIOS, POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO Os índices físicos são de fundamental conhecimento, pois o comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases: partículas sólidas, água e ar. Quando falamos de índices físicos, comparamos às propriedades constituintes do solo, que têm relação com as três fases básicas. A importância dos índices físicos é que saberemos a quantidade em relação
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