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2019 1a Edição Fundamentos de mecânica dos solos Profa. Narayana Saniele Massocco Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profa. Narayana Saniele Massocco Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M419f Massocco, Narayana Saniele Fundamentos de mecânica dos solos. / Narayana Saniele Massocco. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 205 p.; il. ISBN 978-85-515-0286-0 1. Mecânica do solo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 624.151 III apresentação Olá, caro aluno de Engenharia da UNIASSELVI. Bem-vindo a mais um módulo! Este livro refere-se ao curso de Fundamentos da Mecânica dos Solos. Você, aluno de Engenharia, que está acostumado a analisar os esforços de materiais como aço e concreto, cujas propriedades são relativamente bem ajustadas, terá que lidar com um material denominado solo e a rocha. Na construção civil, a Engenharia é bem definida quando escolhemos a estrutura que queremos construir, porém qual fundação utilizar? Isso dependerá do solo no qual aquela estrutura deverá ser apoiada. O tipo de solo determina a condição básica para as fundações. Em obras de terras, por exemplo, dependendo do tipo de constituição do perfil de solo, a mudança no projeto é bastante evidente, pois afeta diretamente a economia do empreendimento. O estudo do comportamento do solo vem desde Coulomb (1773), Rankine (1856), Darcy (1856) e Terzaghi (1936). Estes verificaram a necessidade de estudar o comportamento dos solos quando as tensões são aplicadas, por exemplo, em fundações, e quando as tensões são aliviadas, no caso de escavações. Além disso, a Mecânica dos Solos estuda o escoamento da água no solo pelos seus vazios e isto constitui a Engenharia Geotécnica ou Engenharia de Solos. A análise técnica do solo, ou seja, a Geotecnia, é fundamental para a nossa formação como engenheiros, pois não adianta sabermos construir um prédio se não temos noções do substrato geológico em que essa estrutura será apoiada. A partir disso, a proposta deste livro é mostrar os conceitos básicos de Mecânica dos Solos, explorar a origem e estruturas do solo, conhecer as relações entre as fases do solo, classificá-lo a partir de ensaios de granulometria e limites de consistência, estudar a influência da água no solo e, por fim, ter noções básicas de investigação do solo. Para um melhor aprendizado, este curso divide-se em três unidades. A Unidade 1 contempla os conteúdos de origem e formação dos solos e sobre as estruturas dos solos e seus índices físicos. A Unidade 2 define a representatividade do solo em termos de granulometria, plasticidade e consistência e, por fim, a classificação do solo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! A Unidade 3 foca na condição de água nos solos, características básicas de percolação, finalizando com os passos de uma investigação do subsolo. Bons estudos. Profa. Narayana Saniele Massocco NOTA V VI VII UNIDADE 1 – FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS ............................................................. 1 TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS ...................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 TIPOS DE ROCHA ............................................................................................................................... 4 3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS SOLOS ................................................. 10 3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS ................................................................................................... 10 3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA ............................................................................................ 13 3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR .................................................................................................... 16 4 TIPOS DE SOLOS ................................................................................................................................ 17 4.1 SOLOS RESIDUAIS ......................................................................................................................... 18 4.2 SOLOS ORGÂNICOS ..................................................................................................................... 19 4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS ................................................................................................................. 20 4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS) ........................................................................ 21 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS .................................................. 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS ..................................................................................................... 27 2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS ............................................................................. 28 2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS ........................................................................................ 32 3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA ................................................................................................................. 36 4 FORMA DAS PARTÍCULAS ............................................................................................................. 38 5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS ................................................................................ 39 5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO ................................................................... 41 5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES .............................................................................. 42 5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS ................................................................. 43 6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA ESPECÍFICA APARENTE E REAL,ÍNDICE DE VAZIOS, POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO ............................................. 44 6.1 UMIDADE ....................................................................................................................................... 44 6.2 ÍNDICE DE VAZIOS ........................................................................................................................ 45 6.3 POROSIDADE .................................................................................................................................. 45 6.4 GRAU DE SATURAÇÃO ................................................................................................................ 45 6.5 PESO ESPECÍFICO DO SÓLIDO ................................................................................................... 46 6.5.1 Peso específico da água .......................................................................................................... 46 6.5.2 Peso específico natural ........................................................................................................... 47 6.5.3 Peso específico aparente seco ................................................................................................ 47 6.5.4 Peso específico aparente saturado ........................................................................................ 47 6.5.5 Peso específico submerso ....................................................................................................... 47 6.5.6 Densidade relativa dos grãos (Gs)........................................................................................ 47 6.6 RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS ....................................................................................... 48 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 50 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 sumário VIII UNIDADE 2 – O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS...............................................59 TÓPICO 1 – GRANULOMETRIA .....................................................................................................61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................61 2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA .....................................................................................................61 2.1 PENEIRAMENTO GROSSO .......................................................................................................65 2.2 PENEIRAMENTO FINO ............................................................................................................65 2.3 SEDIMENTAÇÃO ........................................................................................................................66 2.4 DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA ....................................................................................68 2.5 ANÁLISE GRÁFICA DE UMA CURVA GRANULOMÉTRICA ...........................................70 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................73 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................74 TÓPICO 2 – PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA .......................................................................79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................79 2 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA ....................................................................................................80 3 LIMITE DE LIQUIDEZ .....................................................................................................................82 4 LIMITE DE PLASTICIDADE ..........................................................................................................87 5 LIMITE DE CONTRAÇÃO ..............................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................96 TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ................................................................................99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................99 2 SISTEMA TRILINEAR: USDA .......................................................................................................100 3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO (AASHTO)..............................................................................101 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................118 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................119 UNIDADE 3 – INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS ....................................................121 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO ...............................................................123 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................123 2 CONCEITO DE TENSÕES ..............................................................................................................124 3 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO SECA OU NATURAL .................126 4 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO GEOSTÁTICA COM ÁGUA ....129 4.1 PRESSÃO NEUTRA ....................................................................................................................129 4.2 TENSÕES EFETIVAS: DEFINIÇÕES DE TERZAGHI .............................................................130 5 CAPILARIDADE NO SOLO ...........................................................................................................133 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................140 TÓPICO 2 – PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO ............................143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................143 2 ÁGUA NO SOLO SEM FLUXO .....................................................................................................143 3 ÁGUA NO SOLO COM FLUXO: LEI DE DARCY ......................................................................145 3.1 CARGAS HIDRÁULICAS ...........................................................................................................147 3.2 VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL ......................................................151 3.3 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE (k) .............................................................................153 3.4 FORÇA DE PERCOLAÇÃO .......................................................................................................159 3.5 TENSÕES NO SOLO DEVIDO À PERCOLAÇÃO .................................................................160 IX 3.6 GRADIENTE CRÍTICO ...............................................................................................................162RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................164 TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO ..............................................................................167 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................167 2 RETIRADA DE AMOSTRAS .........................................................................................................168 3 ENSAIOS DE CAMPO .....................................................................................................................170 3.1 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) .................................................................................170 3.2 ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU) .................................................................175 3.3 ENSAIO DE PALHETA (VANE TEST) .......................................................................................177 3.4 SONDAGEM ROTATIVA ...........................................................................................................180 3.5 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO .....................................................................................................181 4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO ......................................................................................................181 5 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO ..............................................................................................184 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................186 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................200 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar a composição do solo e a influência no comportamento; • diferenciar as diversas formações dos solos residuais, transportados, orgânicos e lateríticos; • conhecer as relações entre as fases do solo; • saber calcular os índices físicos do solo. Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS TÓPICO 2 – ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 1 INTRODUÇÃO Os solos são, na maior parte, produtos da desintegração e da decomposição das rochas constituintes da crosta terrestre. Estas rochas, por sua vez, podem resultar da cristalização de magma ejetado do interior da Terra para a crosta terrestre ou podem ter se desenvolvido a partir da alteração de outras rochas em resultado de variações de pressão e temperatura. As rochas originais com o tempo podem vir a se desintegrar e decompor- se em solos, os quais, por sua vez, no momento em que são sujeitos a superiores pressões e temperaturas, se modificam novamente em matéria rochosa constituindo as chamadas rochas sedimentares. Se as temperaturas forem suficientemente altas, as partículas individuais do solo podem perder a sua identidade numa massa em fusão que, recristalizando, forma as rochas metamórficas. Nesses processos de formação dos solos e das rochas na crosta terrestre, as rochas e os solos podem se formar alternadamente muitas vezes, sendo ocasionalmente desintegrados e reagregados os materiais da crosta. Com a exposição à superfície da Terra, o maciço rochoso fraturado estará submetido à ação física da água, do vento e da gravidade, fazendo blocos da massa rochosa original se desligarem e se moverem para novas posições de equilíbrio. “O movimento será geralmente acompanhado por novo fraturamento e fissuração de cada bloco, quando este entra em contato com outras rochas ou fragmentos, à medida que é movido e cai em resultado do vento, da água ou da ação do gelo nas fissuras” (FERNANDES, 2016, p. 99). Assim, qualquer massa rochosa tende a ser gradualmente desintegrada em fragmentos cada vez menores, formando os solos. Esse processo é designado intemperismo. Quanto mais aqueles fragmentos entram em contato com outros em resultado do escorregamento pelas encostas, do transporte pelos cursos de água ao longo dos respectivos leitos ou pelo vento sobre desertos, tanto mais arredondados tornam. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 4 À medida que os grãos do solo se tornam cada vez menores, a sua massa diminui de tal forma que, para minerais com determinada resistência, atinge-se o limite a partir do qual as tensões resultantes do choque dos grãos com qualquer outra massa deixam de ser suficientes para ocasionar fraturas e subdivisões nos mesmos grãos (FERNANDES, 2016, p. 100). Desse modo, os processos físicos de formação dos solos têm um limite inferior no que diz respeito às dimensões médias das partículas dos solos que originam (com exceção já referida dos solos de origem glaciar). Se outros processos de tipo diferente não existissem, entre os grãos mais finos dos solos não haveria, em média, dimensões inferiores a algumas dezenas de mícrons (0,001 mm). Contudo, existem de fato processos de outro tipo – processos químicos –, que intervêm também na formação dos solos. As reações químicas entre os ácidos dissolvidos na água e as partículas do solo dão lugar à solução de minerais presentes nos grãos; esses minerais em solução recombinarão e recristalizarão sob diferentes condições de pressão e temperatura em outros pontos nos quais a água os conduzir, dando lugar a novos minerais. Esse processo tende a criar partículas minerais muito pequenas, de forma laminar, com diâmetro ou comprimento dezenas ou centenas de vezes superiores à respectiva espessura, em contraste com as partículas aproximadamente equidimensionais formadas pela alteração física das rochas. “Os novos minerais formados pela ação química são conhecidos como minerais de argila e as partículas que os constituem tem diâmetros que vão de algumas dezenas de mícrons a alguns centésimos do mícron” (FERNANDES, 2016, p. 101). Muitos processos estão envolvidos na transformação das rochas em solos. Com a alta diversidade de processos naturais disponíveis, nota-se que a diversidade de solos daqueles que podem resultar é grandiosa. Desse modo, este tópico visa definir os diferentes tipos de rochas com o tipo de processo ao qual elas se submetem. 2 TIPOS DE ROCHA Quando falamos de solos, lembramos de rocha e basicamente sabemos que esta, por sua vez, tem características provenientes da crosta terrestre, ou seja, onde habitamos. As rochas, conhecidas como agregados naturais de um ou mais minerais, são divididas em três tipos: sedimentares, metamórficas e magmáticas (ígneas). Segundo Chiossi (2013, p. 22): a) Rochas magmáticas: São aquelas formadas a partir do resfriamento e da consolidação do magma, um material em estado de fusão no interior da Terra. Por esse motivo, as rochas magmáticas são também chamadas de endógenas (Figura 1). TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 5 FIGURA 1 – EXEMPLO DE ROCHAS MAGMÁTICAS TÍPICAS DO RESFRIAMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO MAGMA FONTE: Instituto de Educación Secundaria Xoán Montes, 2016 b) Rochas sedimentares: São aquelas formadas por materiais derivados da decomposição e desintegração de qualquer rocha. Esses materiais são transportados, depositados e acumulados nas regiões de topografia baixa,como bacias, vales e depressões. Posteriormente, pelo peso das camadas superiores ou pela ação cimentante da água subterrânea, consolidam-se, formando uma rocha sedimentar. As rochas sedimentares são também chamadas de exógenas, por se formarem na superfície da Terra; e estratificadas, por normalmente apresentarem camadas (Figura 2). UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 6 FIGURA 2 – EXEMPLO DE ROCHA SEDIMENTAR: O ARENITO É BASTANTE UTILIZADO NA CONSTRUÇÃO CIVIL (a) Arenito (b) Argilito (a) Quartzito (b) Mármore FONTE: Native Garden Design (2018) c) Rochas metamórficas: São aquelas originadas pela ação da pressão da temperatura e de soluções químicas em outra rocha qualquer. Por meio desses fatores, as rochas podem sofrer dois tipos de alterações básicas: a) Na sua estrutura, principalmente pela ação da pressão, que irá orientar os minerais, ou pela ação da temperatura, que irá recristalizá-los; b) Na sua composição mineralógica, pela ação conjunta dos dois fatores citados, bem como de soluções químicas (Figura 3). FIGURA 3 – EXEMPLOS DE ROCHAS METAMÓRFICAS COMUNS FONTE: Núcleo de Geotecnia UFJF (2018, p. 30) O interessante é que os processos de formação das rochas estão interligados entre si. A Figura 4 mostra isso de forma mais clara. Percebe-se que, através da solidificação do magma, formam-se as rochas magmáticas, a partir disso, com a variação de calor e pressão com o metamorfismo, as rochas se tornam TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 7 metamórficas, a ação do intemperismo e transporte e deposição dão surgimento ao solo (sedimentos) e, por fim, através da compressão e cimentação (litificação), surgem as rochas sedimentares. Você sabia que a crosta terrestre é constituída em volume por 95% de rochas magmáticas e 5% de rochas sedimentares? Porém, quando falamos em área de rocha, as rochas sedimentares avançam com 75% da área da crosta, ganhando de 25% das rochas magmáticas. NOTA FIGURA 4 –CICLO E FORMAÇÕES DOS DIFERENTES TIPOS DE ROCHA FONTE: Ferreira (2012, p. 30) Por que estamos falando de rocha e não de solo? Os solos provêm da decomposição das rochas que compunham inicialmente a crosta terrestre. Por isso devemos retomar o assunto rocha. Segundo Chiossi (2013), o intemperismo, ou meteorização, é primordial para a formação do solo, pois é o conjunto de processos que ocasiona a desintegração e a decomposição de rochas e dos minerais, por ação de agentes atmosféricos e biológicos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 8 Não existe processo algum que seja tão geral que se desenvolva em formas variadas como o intemperismo, e, em toda a superfície terrestre, não existe rocha alguma que possa escapar da sua ação. Até mesmo uma rocha tão resistente quanto o granito, quando sujeita por muito tempo ao intemperismo, chega a desfazer-se entre os dedos. A maior importância geológica do intemperismo está na destruição das rochas, com a consequente produção de outros materiais, que irão constituir os solos, os sedimentos e as rochas sedimentares (CHIOSSI, 2013). A decomposição ocorre devido aos agentes físicos e químicos. Alterações de temperaturas (físico) ocasionam trincas, nas quais penetra água, atacando quimicamente os materiais. O congelamento da água nas trincas, entre outros fatores, exerce elevadas tensões, do que decorre maior fragmentação dos blocos. A presença da fauna e flora promove o ataque químico, através de hidratação, hidrólise, oxidação, lixiviação, troca de cátions, carbonatação, etc. O conjunto desses processos, que são muito mais atuantes em climas quentes do que em climas frios, leva à formação dos solos que, em consequência, são misturas de partículas pequenas que se diferenciam pelo tamanho e composição química (PINTO, 2006, p. 19). A maior ou menor concentração de cada tipo de partícula num solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem. ATENCAO Em geral, no intemperismo físico não ocorre alteração mineralógica da rocha, somente fragmentação, e os principais agentes são: a) Temperatura. b) Água corrente e ondas. c) Vento (com e sem partículas em suspensão). d) Gelo (água que preenche fissuras e, ao dilatar-se, ocasiona fissuras). O intemperismo químico é responsável pelos processos de decomposição por ataque químico. Um dos exemplos é a água ácida das chuvas, que forma argilominerais e sílica: 2 2 2 3+ →H O CO H CO (Ácido carbônico) 2 3 3 8 1 2 2 2 5 4+ → +H CO KAlS O S O Al S O (OH) (sílica + argilominerais caulinita) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 9 O intemperismo físico tende a gerar solos mais grossos, solos arenosos, por exemplo. No entanto, o intemperismo químico tende a gerar solos mais finos, como argilas e siltes. NOTA Por fim, o conceito de solos para engenheiros difere um pouco dos conceitos geológicos, uma vez que, para eles, o termo inclui todo tipo de material orgânico ou inorgânico inconsolidado ou parcialmente cimentado encontrado na superfície da Terra, materiais estes classificados em Geologia como rochas sedimentares ou sedimentos (CHIOSSI, 2013). Como foi visto, todo solo é proveniente de uma rocha preexistente, e desse modo, na natureza, o solo continua se modificando, ao ponto de poder voltar a ser rocha. Assim, o solo é formado por partículas minerais que resultam da desintegração física e da decomposição química das rochas, podendo também conter matéria orgânica. Os espaços não ocupados pelas partículas são designados como poros ou vazios, os quais podem conter água e ar, de forma isolada ou conjunta. Quando os poros estão integralmente preenchidos por água, diz-se que o solo está saturado, quando estão parcialmente com água, chamamos de solos não saturados, e totalmente sem água, chamamos de solos secos (Figura 5). FIGURA 5 – AS CONDIÇÕES DO SOLO COM ÁGUA E SEM ÁGUA FONTE: A autora Desse modo, observamos que com os processos de intemperismo, decomposição, erosão há o surgimento dos sedimentos, e assim, denominados na engenharia geotécnica como solos. Os solos estão em todo globo terrestre, e principalmente nas regiões urbanas mais habitadas estão assentadas as infraestruturas, como: fundações, contenções, aterros etc. Existem vários tipos, formatos, tamanhos, composição de solos, e isto é essencial para entender a resistência desse solo e os parâmetros de cálculo para o dimensionamento de infraestruturas. Então, vamos entender um pouco mais? Solo não saturado Solo saturado Solo Seco UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 10 3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DOS SOLOS Quando analisamos um solo muitas das vezes a composição química e mineralógica ajudam a definir o comportamento em diferentes aspectos, entre eles o de compressibilidade, permeabilidade e resistência. O primeiro passo é definir o tamanho das partículas e após entender isto, analisaremos os aspectos mineralógicos dos quais o solo faz parte. Desse modo poderemos ter noções mais precisas sobre o solo com que estaremos lidando na pesquisa ou no cotidiano do projeto. Vamos começar? 3.1 TAMANHO DAS PARTÍCULAS Segundo Pinto (2006), o tamanho das partículas é uma das primordiais componentes que diferencia os solos de um depósito. Solos como grãos de pedregulho ou a própria areia do mar, podemos identificar a olho nu, identificando, portanto, solos mais grossos com diâmetros perceptíveis. Com respeito aos grãos finos estes quando molhados, se transformam numa pasta (barro), e não se pode visualizar as partículas individualmente. FIGURA 6 – SOLO ARENOSO: POSSIBILIDADE DE OBSERVAR OS GRÃOS A OLHO NU FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 11 FIGURA 7 – SOLO ARGILOSO: FORMAÇÃO DE PASTA. DIFICULDADE DE ENXERGAR OS GRÃOS A OLHO NU FONTE: Meio Ambiente cultura mix (2010) A diversidade do tamanho dos grãosé enorme. Não se percebe isto em um primeiro contato com o material, simplesmente porque todos parecem muito pequenos perante os materiais com os quais se está acostumado a lidar. Mas alguns são consideravelmente menores do que outros. Existem grãos de areia com dimensões de 1 a 2 mm e existem partículas de argila com espessura da ordem de 10 Angstrons (0,000001 mm). “Isto significa que, se uma partícula de argila fosse ampliada de forma a ficar com o tamanho de uma folha de papel, o grão de areia citado ficaria com diâmetro da ordem de 100 a 200m” (PINTO, 2006, p. 30). FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE O GRÃO DE AREIA E O GRÃO DE ARGILA gr ão de ar gil a grã o d e a rei a 20 0 x gr ão de ar gil a FONTE: A autora UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 12 Sabemos, portanto, que no solo, devido à diversidade de tamanho de partículas, existem diferentes tipos de solos com porções e quantidades infi nitas de dimensão de grãos. Porém, solos areno-argilosos são um exemplo de difi culdade de identifi car o tamanho da partícula apenas a olho nu. Desse modo, sabemos que há difi culdade de identifi car o tamanho das partículas, pois os solos podem estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, fi níssimas, fi cando com o mesmo aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente por uma grande quantidade dessas partículas. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) determina uma faixa de valores que denominam e caracterizam o grão. Os valores adotados pela ABNT são indicados na Figura 9, lembrando que a fi gura é meramente ilustrativa. FIGURA 9 – DEFINIÇÃO DOS TAMANHOS DOS GRÃOS A PARTIR DA ABNT FONTE: A autora, adaptado de Núcleo de Geotecnia UFJF (2018) Diferentemente da terminologia adotada pela ABNT, a separação entre as frações silte e areia é frequentemente tomada como 0,075 mm, correspondente à abertura de peneira n° 200, que é a mais fi na peneira correntemente usada nos laboratórios. O conjunto de silte e argila é denominado como a fração de fi nos do solo, enquanto o conjunto areia e pedregulho é denominado fração grossa ou grosseira do solo. “Por outro lado, a fração argila é considerada, com frequência, como fração abaixo do diâmetro de 0,002 mm, que corresponde ao tamanho mais próximo das partículas de constituição mineralógica dos minerais-argila” (PINTO, 2006, p. 20). Para um melhor entendimento, a classifi cação das partículas mais detalhada segundo a NBR6502 é apresentada na Tabela 1. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 13 TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEGUNDO A NBR6502 Solo Dimensão [mm] Matacões Φ>250 Pedra de mão 60<Φ<250 Pedregulho grosso 20<Φ<60 Pedregulho médio 6<Φ<20 Pedregulho fino 2<Φ<6 Areia grossa 0,6<Φ<2 Areia média 0,2<Φ<0,6 Areia fina 0,06<Φ<0,2 Siltes 0,002<Φ<0,06 Argilas Φ<0,002 FONTE: A autora, adaptado de NBR6502 (1995) Os grãos de argila são os menores constituintes em tamanho, ganhando até dos grãos de siltes, que vêm logo em seguida. NOTA 3.2 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA As partículas resultantes da desagregação da rocha dependem da composição da rocha matriz. Nos itens anteriores verificamos que o intemperismo é um fator-chave para a formação do solo, pois ajuda na desagregação por meio de ações físicas, químicas e biológicas. Verifica-se também que, dependendo do tipo de rocha fragmentada, forma-se um tipo de solo. Desse modo, os diferentes tipos de solo possuem minerais distintos, ou seja, essa é outra forma de identificar o solo: a partir da constituição mineralógica. As partículas maiores, como pedregulhos e matacões, na grande maioria são constituídas frequentemente de agregações de minerais que são bastante resistentes ao intemperismo, por exemplo, rochas que possuem o quartzo como um mineral presente na sua constituição. O quartzo é altamente resistente, e, portanto, quando há a desagregação, torna-se evidente em uma porção de solo. Nós observamos este fato em solos que vêm de rochas graníticas, fica evidente que o solo é decomposto, mas os grãos de quartzo permanecem inalterados. Segundo Pinto (2006), sua composição química é simples, SiO2, as partículas são equidimensionais, como cubos ou esferas, e apresentam baixa atividade superficial. Outros minerais, como feldspato, gipsita, calcita e mica, também podem ser encontrados nesse tamanho. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 14 Quando falamos de feldspatos, verificamos que estes são minerais mais atacados pela natureza e dão origem aos argilominerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com dimensão inferior a 2 mm. “Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que essas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia” (PINTO, 2006, p. 20). FIGURA 10 – DIFERENÇA MINERALÓGICA DOS PRINCIPAIS MINERAIS CONSTITUÍDOS NA ROCHA PARA FORMAÇÃO DO SOLO Quartzo SiO2 Forma grãos de silte e areia Resistente a desagregação Feldspato SiO2+AL(OH)3 Forma os argilominerais São minerais mais atacados pela natureza FONTE: A autora Os argilominerais apresentam uma estrutura complexa. Os mais comuns são a caulinita, ilita e a montmorilonita, que apresentam comportamentos bem distintos, principalmente na presença de água. São elas que conferem coesão e plasticidade aos solos. Suas estruturas são distintas entre si, o que ocasiona comportamentos diferentes, geralmente as caulinitas são os menos plásticos e a montmorilonitas os mais plásticos. Na composição química das argilas, existem dois tipos de estrutura: uma estrutura de tetraedros justapostos num plano, com átomos de silício ligados a quatro átomos de oxigênio (SiO2) e outra de octaedros, em que átomos de alumínios são circundados por oxigênio ou hidroxilas [Al(OH)3] conhecidos como gipsita. Essas estruturas ligam- se por meio de átomos de oxigênio que permanecem simultaneamente a ambas (PINTO, 2006, p. 17). A Figura 11 representa as estruturas dos principais argilominerais. O item (a) corresponde as caulinitas, estas são formadas por uma camada tetraédrica e uma octaédrica (estrutura de 1:1), as camadas têm aproximadamente 7 Ȧ (1 Angstron = 10-¹° m) e são unidas por pontes de hidrogênio que impedem sua separação e a introdução de moléculas de água entre elas. As ligações de hidrogênios são fracas, mas suficientemente fortes para evitar a penetração de água entre as unidades estruturais. Por esta razão, as caulinitas apresentam pequena expansão, difícil dispersão na água e baixa plasticidade. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 15 As ilitas consistem em lâminas de gipsita ligadas a duas folhas de sílica – uma na parte superior e outra na parte inferior, pode ser chamada de mica de argila. As camadas de ilita são ligadas por íons de potássio. O arranjo tetraédrico é encontrado entre duas estruturas (estrutura de camada 2:1), com uma espessura de cerca de 10 Ȧ. Apenas nas ilitas, os átomos de silício das camadas de sílica são substituídos parcialmente por alumínio. Quando a substituição do silício das camadas de tetraedros por alumínio for pequena, as ligações entre as unidades estruturais proporcionadas pelos cátions K podem ser deficientes e permitirão a entrada de água; quando este processo ocorre, as ilitas chegam próximo das propriedades das montmorilonitas. No geral as ilitas possuem plasticidade, expansão e dispersão de água maior que as caulinitas e menor que as montmorilonitas. FIGURA 11 – DIAGRAMA DAS ESTRUTURAS DOS PRINCIPAIS ARGILOMINERAIS nH20 e cátions intercambiáveis ba sa l Va ri áv el d e es pa ça m en to (c) Montmorilonita(b) llita(a) Caulinita Potássio 10 Ȧ 7,2 Ȧ Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílicaLâmina de sílica Lâmina de sílica Lâmina de sílica Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsita Folha de gibsitaFolha de gibsita FONTE: Das e Khaled(2017, p. 200) As partículas montmorilonitas caracterizam-se por apresentarem, sempre, o alumínio das camadas de octaedros substituído parcialmente ou totalmente por magnésio e ferro. Esta substituição gera um aumento de valências negativas na camada interna. A estrutura das montmorilonitas apresenta moléculas de água entre as unidades estruturais. Desse modo, a água penetra com mais facilidade, assim mostrando ser de fácil dispersão de água, grande expansão e alta plasticidade. Para neutralizar as cargas negativas existem cátions livres nos solos, por exemplo, cálcio, Ca++, ou sódio, Na+, aderidos às partículas. Esses cátions atraem camadas contíguas, mas com força relativamente pequena, o que não impede a entrada de água entre as camadas. A liberdade de movimento das placas explica a elevada capacidade de absorção de água de certas argilas, sua expansão quando em contato com a água e sua contração considerável ao secar (PINTO, 2006, p. 17). Outro fato que condiciona infinidade de comportamentos dada aos argilominerais é que as mudanças químicas nessas estruturas (os cátions e íons) são facilmente trocáveis por percolação de soluções químicas. Desse modo, o tipo de cátion presente numa argila condiciona o seu comportamento. Uma argila montmorilonita com sódio adsorvido, por exemplo, é muito mais sensível à água do que com cálcio adsorvido. Daí a diversidade de comportamentos apresentados pelas argilas e a dificuldade de correlacioná-los por meio de índices empíricos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 16 O tipo de cátion presente na argila determina a sua estabilidade, o que condiciona seu comportamento. O conhecimento das estruturas permite o entendimento de diversos fenômenos notados no comportamento dos solos, um deles é a sensibilidade da argila. UNI UNI 3.3 ESTRUTURA SOLO-ÁGUA-AR Quando falamos de sistema ou estrutura solo-água, recaímos no fato de a água entrar em contato com as partículas de solo e assim estar submersa nesse meio. As moléculas se orientam em relação a elas e aos íons que circundam as partículas. Quando duas partículas de argila, na água, estão muito próximas, ocorrem forças de atração e de repulsão entre elas. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que elas possuem e que ocorrem desde que as camadas duplas (por exemplo, na Figura 11) estejam em contato. As forças de atração decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes. Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas resultam a estrutura dos solos e as forças entre elas. Considera-se a existência de dois tipos básicos de estrutura: a) Floculada, quando os contatos se fazem por faces e arestas. b) Dispersa, quando as partículas se posicionam paralelamente. Estas estruturas (floculada e dispersa) são consideradas simplificadas, pois para solos residuais e compactados, a posição da partícula é mais elaborada. Existem aglomerações de partículas argilosas que constituem em vazios de maiores dimensões e existem microporos nos vazios entre as partículas argilosas que constituem as aglomerações. Segundo Pinto (2006), esses tipos de estrutura comprovam certos comportamentos do solo, como a elevada permeabilidade de certos solos residuais argilosos em seu estado natural. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 17 Na engenharia geotécnica, o solo pode ser visualizado como um esqueleto de partículas sólidas compressível. Este esqueleto, na condição saturada, tem seus vazios preenchidos por água, e na condição não saturada tem, em seus vazios, ar e água. A Mecânica dos Solos clássica foi desenvolvida baseando- se no comportamento do solo na condição saturada; por isso, a previsão do comportamento mecânico e suas propriedades hidráulicas são atualmente bem estabelecidas na teoria e na prática para o solo saturado. Porém, o solo nem sempre se apresenta na condição saturada. Em regiões de clima árido e semiárido, onde a evaporação excede as precipitações, é comprovado que existe um comportamento diferenciado ao solo saturado. Quando existe ar na composição solo-água, há a formação de uma película contrátil, também conhecida como membrana contrátil, que é defi nida por canais que são formados devido às tensões capilares e a água adsorvida nos grãos (Figura 12). Estes canais geram tensões, o que pode conferir uma maior resistência ao solo. Este fato chamamos de sucção. FIGURA 12 – A SUCÇÃO MATRICIAL EM SOLO NÃO SATURADO Partículas Água capilar Água adsorvida FONTE: Massocco, 2017 apud Hillel (1971, p. 40) Existem estudos, como o de Massocco (2017), que mostram o comportamento de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo. Estudar solos não saturados e todos os possíveis estados do solo é essencial para conhecer o seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos. 4 TIPOS DE SOLOS Existem estudos como de Massocco (2017) que mostram o comportamento de solos não saturados e o efeito da sucção na resistência do solo. Estudar solo não saturados, e todos as possíveis estados do solo, é essencial para conhecer o seu comportamento em termos mecânicos e hidráulicos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 18 4.1 SOLOS RESIDUAIS São solos provenientes da decomposição das rochas e não foram submetidos a ações de transporte, se conservam no local da rocha-mãe. Para que haja a ocorrência destes solos, é necessário que o processo de decomposição da rocha seja mais rápido que o processo de remoção das partículas de solo por meio do agente de transporte atuante. A estrutura do solo residual depende da velocidade de alteração da rocha e, a partir do grau de decomposição, este tipo de solo pode ser dividido em várias camadas, com classificações particulares, as quais são (Figura 13): a) Rocha sã: Rocha inalterada. b) Alteração de rocha: Preserva parte da estrutura e seus minerais, porém com dureza inferior à da rocha matriz (muito fraturada). c) Saprólito: Guarda características da rocha sã e tem basicamente os mesmos minerais, porém sua resistência é bem reduzida. d) Solo residual jovem: Grande quantidade de pedregulho e bastante heterogênea (coloração, resistência, compressibilidade e permeabilidade). e) Solo residual maduro: É mais homogêneo e não apresenta nenhuma relação com a rocha-mãe. FIGURA 13 – PERFIL TÍPICO DE SOLO RESIDUAL Re si st ên ci a D ef or m ab ili da de Rocha sã Rocha alterada Saprólito Solo jovem Solo maduro FONTE: Machado e Machado (2007, p. 60) TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 19 Podemos perceber na Figura 13 que o perfil de rocha sã é o que determina o solo preexistente, desse modo, a composição química do solo vem dos minerais da rocha que dará existência ao solo. Percebe-se o aumento de resistência, da textura e da heterogeneidade com o aumento de profundidade. Desse modo, a coleta e análise de amostras de solo torna-se exigente de detalhes nas camadas superiores (saprólito e residual jovem). Com o tempo há o surgimento de fraturas que determinam o perfil de alteração da rocha. Esta rocha alterada é o perfil em que a rocha inicia o fraturamento, logo, quando há a existência de fraturas iniciais, o perfil é chamado de alteração de rocha. O surgimento dos primeiros sedimentos ocorre no solo saprolítico, chamamos esse nome pois é onde se inicia a formação do solo e a diminuição da dimensão das rochas, além disso, ocorre a diminuição da resistência em relação à rocha sã. É neste perfil que podemos encontrar resquícios de rocha, por exemplo, os matacões. Após o surgimento do solo saprolítico, temos a formação do solo residual jovem, este solo possui alterações na resistência mecânica, uma vez que a transformação de rocha em solo não é uniforme em cada etapa, o que pode resultar em pedaços de rocha. O solo residual maduro corresponde ao mais distante da rocha sã e o mais próximo da superfície, isto colabora com que haja solos transportados, contribuindo parasua alteração em um solo com influência da ação de outros componentes, como: homem, vento, animais etc. Este fato corrobora para que o solo não tenha a mesma composição da rocha sã. Para não esquecer o significado de solos residuais, lembramos que equivale a resíduos da rocha matriz e que nascem, crescem e se estabelecem no local. NOTA 4.2 SOLOS ORGÂNICOS Os solos orgânicos são constituídos por sedimentos, possuem alto teor de matéria orgânica em decomposição e apresentam coloração escura. Estes solos são encontrados em regiões ribeirinhas, locais onde o nível do lençol freático é alto. Devido ao nível de água elevado, há a facilidade no desenvolvimento de plantas aquáticas, e estas, por sua vez, ao decompor-se, formam os solos orgânicos. Os solos turfosos são exemplos. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 20 De acordo com Das e Khaled (2017, p. 80), estes solos possuem as seguintes características: a) Teores de umidade altos (entre 200 e 300%). b) São altamente compressíveis. c) Os testes laboratoriais indicam que, sob carga, a grande parcela de recalque dá-se por recalque secundário. FIGURA 14 – PERFIL DE SOLO TIPICAMENTE TURFOSO FONTE: Granfield University (2018) 4.3 SOLOS PEDOGÊNICOS São solos que após o processo de formação, são alterados por processos físico-químicos, como lixiviação, laterização, cimentação etc. O solo laterítico é um exemplo de solo pedogênico, este, por sua vez, é formado pelo processo de laterização do solo, que é comumente encontrado em regiões com grande variação entre os períodos secos e os de chuvas. O processo caracteriza-se pela lavagem de sílica coloidal presente nas camadas superiores do solo, seguida de deposição desta sílica lavada nas camadas mais profundas, o que faz com que este solo, na camada superficial, possua uma grande quantidade de óxidos de ferro e alumínio. TÓPICO 1 | ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 21 4.4 SOLOS SEDIMENTARES (TRANSPORTADOS) São solos que, após o processo de alteração, foram transportados para outros locais por algum agente transportador, tais como: a) Solos coluviais: O transporte ocorre pela ação da gravidade e são muito heterogêneos. A ocorrência é localizada, em pé de encostas ou provenientes de escorregamentos. Apresentam boa resistência, porém elevada permeabilidade. São divididos em colúvio (material predominantemente fino, Serra do Mar e planalto brasileiro), tálus (material predominantemente grosseiro, Sul da Bahia e Salvador); b) Solos aluvionares: Origem pluvial ou fluvial, fonte de materiais de construção, mas péssimos como fundação; c) Solos eólicos: O vento é o agente de transporte, os grãos tendem a ser arredondados e uniformes (Areias finas e siltes); d) Solos glaciais: Localizam-se em regiões temperadas e altitudes elevadas. São os solos formados pelas geleiras ao se deslocarem pela ação da gravidade. 22 Neste tópico, você aprendeu que: • O solo provém da rocha e a formação desta se dá por alterações físicas, químicas, fusões e variação de pressão. • As alterações na formação resultam em três tipos de rocha: metamórfica, sedimentar e magmática. • O tipo de solo depende da composição química e mineralógica e isto é diferenciado pelo tamanho das partículas, constituição mineralógica e estrutura solo-água-ar. • Os tipos de solo se dividem em residuais, sedimentares, orgânicos e pedogênicos. • Para melhor entendimento, temos a Figura 15, que corresponde ao fluxograma resumido deste capítulo. RESUMO DO TÓPICO 1 FIGURA 15 – RESUMO DO CAPÍTULO ESTUDADO Origem e Formação das Rochas Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo Tipos de solo Tamanho das partículas Estrutura solo-água-ar Tipos de solo Constituição mineralógica Composição química e mineralógica Ciclo das Rochas Tipos de Rocha FONTE: A autora 23 1 Em relação à origem e formação dos solos, analise as informações: I- Os solos são materiais que resultam do intemperismo das rochas, por desintegração mecânica ou decomposição química. II- Por desintegração mecânica, através de agentes como a água, temperatura e ação do gelo, formam-se os pedregulhos e areia. III- Decomposição química consiste no processo em que há modificações químicas ou mineralógicas das rochas de origem, por meio de reações de óxido-redução. IV- A formação de um solo “s” é função da rocha de origem (r), da ação de organismos vivos (o), do clima (cl), da fisiologia (p) e do tempo (t). Estão CORRETAS apenas as afirmativas: a) ( ) I, II e III. b) ( ) I e IV. c) ( ) I, II e IV. d) ( ) II, III e IV. e) ( ) II e III. 2 As pesquisas das argilas revelam, apesar da aparência amorfa do conjunto, que elas são constituídas de pequeníssimos minerais cristalinos, chamados minerais argílicos, dentre os quais se distinguem três grupos principais, são eles: a) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Lixitas. b) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Ilitas. c) ( ) Calcitas, Montmorilonitas e Lixitas. d) ( ) Caulinitas, Montmorilonitas e Ilitas. e) ( ) Caulinitas, Amórficos e Ilitas. 3 Sobre como pode se dar o processo de intemperismo por meio físico, analise os itens a seguir e assinale (V) para o que for Verdadeiro ou (F) para o que for Falso: ( ) Pela variação da temperatura. ( ) Pelo congelamento da água. ( ) Pelo alívio de pressões. ( ) Pela carbonatação. A sequência correta é: a) ( ) F, V, V, V. b) ( ) V, F, V, V. AUTOATIVIDADE 24 c) ( ) V, V, F, F. d) ( ) V, V, V, F. e) ( ) F, F, V, F. 4 Acerca da origem e formação do solo, preencha as lacunas do texto a seguir: Os solos ____________são os que permanecem no local da rocha de origem, observando-se uma gradual transição do solo até a rocha. Já os solos ____________ são os que sofrem a ação de agentes transportadores, podendo ser ____________ quando transportados pela água, _____________quando pelo vento, ____________ quando pela ação da gravidade e _______________pelas geleiras. Assinale a alternativa que apresenta as palavras que preenchem CORRETA e respectivamente as lacunas: a) ( ) orgânicos, sedimentares, residuais, eólicos, aluvionares e coluvionares. b) ( ) sedimentares, residuais, coluvionares, aluvionares, eólicos e glaciares. c) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e orgânicos. d) ( ) sedimentares, residuais, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares. e) ( ) residuais, sedimentares, aluvionares, eólicos, coluvionares e glaciares. 5 Um proprietário de uma fazenda por onde passa um rio resolveu contratar um estudo de viabilidade técnica para exploração da areia nesse rio. Como você classificaria esse tipo de solo pela classificação genética e qual tipo de intemperismo predominou na formação dele? a) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo físico. b) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo químico. c) ( ) Solo transportado com predominância de intemperismo físico. d) ( ) Solo residual com predominância de intemperismo químico. e) ( ) Solo pedogênico. 6 Defina intemperismo físico e químico citando as principais características dos solos formados pela predominância de um ou outro tipo de intemperismo. Qual a principal diferença entre eles? 7 Quanto à origem, os solos podem ser classificados em residuais, transportados, orgânicos e pedogênicos. Descreva como é formado cada um deles. Desenhe um perfil esquemático de solo residual destacando cada horizonte. Com relação aos solos transportados, quais os principais agentes de transporte e a que tipo de solo eles dão origem? 8 As propriedades físicas do solo dependem: a) ( ) Do tamanho dos grãos. b) ( ) Do formato dos grãos de solo. c) ( ) Da composição química dos grãos do solo. d) ( ) Todas as alternativas. 25 9 Os argilominerais são um produto de intemperismo químico de: a) ( ) Feldspato. b) ( ) Ferromagnesianos. c) ( ) Micas. d) ( ) Todas as alternativas. 10 Os solos transportados e depositados pelo vento são chamados de: a) ( ) Solos aluviais. b) () Solos eólicos. c) ( ) Solos lacustres. d) ( ) Solos glaciais. e) ( ) Solos fluviais. 11 Os solos formados pelos produtos intemperizados no local de origem são chamados de: a) ( ) Solos transportados. b) ( ) Preenchimentos. c) ( ) Solos aluviais. d) ( ) Solos residuais. e) ( ) Solos coluvionares. 12 No local de construção, a investigação de subsuperfície indica a presença de depósito de solo residual. O tamanho dos grãos neste local, geralmente: a) ( ) Não variará com a profundidade. b) ( ) Diminuirá com a profundidade. c) ( ) Aumentará com a profundidade. d) ( ) Inicialmente aumentará com a profundidade e depois diminuirá. e) ( ) Não ocorrerá variação. 13 As partículas menores que 0,075 mm são referidas como: a) ( ) Argila b) ( ) Silte c) ( ) Areia d) ( ) Grãos finos e) ( ) Grãos grossos 14 A caulinita consiste em camadas repetidas de folhas elementares de sílica- gipsita em: a) ( ) Arranjo 1:1 b) ( ) Arranjo 1:2 c) ( ) Arranjo 2:1 d) ( ) Arranjo 2:2 e) ( ) Arranjo 3:1 26 15 Selecione a declaração incorreta: a) ( ) Os solos orgânicos geralmente são encontrados em áreas de baixa altitude onde o lençol freático está próximo ou acima da superfície do solo. b) ( ) Os solos orgânicos são altamente compressíveis. c) ( ) O teor de umidade dos solos orgânicos pode variar de 200% a 300%. d) ( ) Os depósitos de solo orgânico geralmente são encontrados em áreas desertas. e) ( ) Um exemplo de solo orgânico é a turfa. 27 TÓPICO 2 ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Dependendo do tipo de solo e da sua condição no meio, a resposta com relação à resistência, compressibilidade e permeabilidade ocorre de forma diferenciada. A identificação da estrutura do solo, bem como o índice físico dele, é bastante importante para modelagem de estruturas na prática geotécnica, pois o melhor conhecimento das condições do solo possibilita melhores dimensionamento. Este tópico trata das relações entre as propriedades físicas dos solos. A princípio, estabelece-se a natureza das partículas em solos coesivos e não coesivos. Após teremos uma introdução a respeito da forma das partículas e a relação entre fases. Em seguida, apresentam-se os índices propriamente ditos, como a umidade, as relações de massas, de pesos específicos e de massas específicas (seca, úmida, de água, de ar) e relações de vazios (água e ar). Vamos começar? 2 NATUREZA DAS PARTÍCULAS Sabemos que o solo são grãos minerais e pode apresentar em sua constituição matéria orgânica. Há solos, como no caso dos arenosos, a areia, por exemplo, em que as partículas geralmente são facilmente visualizadas, de encontro aos solos argilosos, que precisam de um auxílio de microscópios para distingui-las. Estas partículas estão parcialmente livres para se deslocarem uma em relação a outra não tão facilmente, como os elementos de um fluido, como também não são fortemente ligadas, como num cristal de metal. O sistema de partículas do solo é o que o diferencia do mecanismo sólido e do fluido. As frações grossas do solo são maioritariamente de grãos silicosos e os minerais que ocorrem nas frações argilosas são de tamanhos pequenos, como as caulinitas, as montmorilonitas e as ilitas. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 28 Quando falamos de aspectos estruturais do solo, defi nimos a estrutura solo como o arranjo ou a disposição geométrica das partículas de um solo entre si e verifi camos que, entre os inúmeros fatores que afetam a estrutura, estão o formato, o tamanho, a composição mineralógica das partículas do solo e a natureza e composição da água do solo. Geralmente, os solos podem ser divididos em dois grupos: não coesivos e coesivos. Vamos entender melhor esses dois grupos? As estruturas encontradas em cada solo estão descritas a seguir: 2.1 ESTRUTURAS EM SOLOS NÃO COESIVOS Solos não coesivos são aqueles com baixa predominância de fi nos, a estrutura geralmente encontrada em solos não coesivos pode ser dividida em duas categorias principais: granular simples (ou de grãos isolados) e em favos (ou alveolares). Nas estruturas granulares simples, as partículas do solo estão em posição estável e em contato com as outras partículas no entorno. A forma e a distribuição do tamanho das partículas de solo e as posições relativas infl uenciam na densidade de pacote, assim é possível uma ampla gama de índices de vazios. FIGURA 16 – ESTRUTURA GRANULAR SIMPLES (a) Representatividade de um solo fofo (b) Representatividade de um solo compacto/denso FONTE: A autora TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 29 Para se ter uma ideia da variação do índice de vazios causada pelas posições relativas das partículas, vamos considerar o modo de empacotamento com esferas iguais (Figura 17). FIGURA 17 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS (VISTAS PLANAS) d (a) Empacotamento muito fofo (b) Empacotamento mais denso 2d FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 88) UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 30 Podemos perceber na Figura 17 um exemplo de estado de empacotamento do solo muito fofo, ou seja, com um índice de vazios grande. Das e Khaled (2017) verificaram que se isolarmos um cubo no qual cada lado meça d, que é igual ao diâmetro de cada esfera, como mostra a ilustração, é possível calcular o índice de vazios, como: sv s s V VVe V V − = = Onde: V= volume do cubo = d³; Vs= volume da esfera (isto é, o sólido) dentro do cubo. Ao observar que V=d³ e Vs=πd³/6, teremos: ∏ ∏ d³d³- 6e = =0,91d³ 6 Podem existir outras formas de empacotamento de esferas iguais entre os estados fofos e densos, e estes são indicados na Figura 18a e 18b. A Figura 18a mostra um empacotamento de escalonamento simples. Observa-se que cada esfera encosta em seis esferas próximas na própria camada e as esferas em distintas camadas são empilhadas diretamente na parte superior de cada uma. O índice de vazios para o padrão de escalonamento simples é 0,65. A Figura 18b mostra um empacotamento de escalonamento duplo. Isso é parecido ao padrão de escalonamento simples, exceto que cada esfera em uma camada desliza para cima e para baixo para entrar em contato com duas esferas na segunda camada. O índice de vazios para disposição do escalonamento duplo é 0,43. FIGURA 18 – EXEMPLO DE EMPACOTAMENTO COM ESFERAS IGUAIS (a) Escalonamento simples TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 31 (b) Escalonamento duplo FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017) Segundo Das et al. (2017), existem pesquisas em que, para analisar o comportamento dos solos não coesivos, utilizaram-se alguns ensaios colocando esferas de aço de tamanhos iguais em um recipiente para determinar o índice de vazios mínimos, que era 0,6. Em tais ensaios, aproximadamente 20% das esferas formaram-se em arranjo de escalonamento duplo (e=0,43) e aproximadamente 80% das esferas formaram em arranjo de escalonamento simples (e=0,65). NOTA Sabemos que o solo verdadeiro se diferencia do modelo com esferas idênticas, pois nesse caso as partículas são heterogêneas, não apresentam o mesmo tamanho e não são esféricas. As partículas menores podem ocupar os espaços vazios entre as partículas maiores e, portanto, o índice de vazios do solo é reduzido em comparação ao modelo com esferas idênticas. No entanto, a irregularidade nos formatos das partículas geralmente produz um aumento no índice de vazios dos solos. Como resultado desses dois fatores, os índices de vazios deparados em solos reais têm aproximadamente a mesma faixa obtida em esferas iguais (DAS; KHALED, 2017). Na estrutura alveolar (Figura 19), o silte e a areia relativamente finos formam pequenos arcos com correntes de partículas. Os solos que apresentam estrutura alveolar possuem índices de vazios maiores e podem suportar uma carga estática moderada. Porém, sob condições de carga mais pesada ou quando submetidos a cargas de impacto, a estruturacolapsa, o que resulta em um grande recalque de solo (DAS; KHALED, 2017). UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 32 FIGURA 19 – ESTRUTURA ALVEOLAR FONTE: A autora 2.2 ESTRUTURAS EM SOLOS COESIVOS Os solos coesivos, aqueles chamados popularmente como solos que contêm uma cola entre as partículas de solo, as famosas argilas, fazem parte deste grupo. No entanto, o entendimento da estrutura básica é complexo, pois para compreender a estrutura, precisamos conhecer os tipos de forças que atuam entre as partículas de argila suspensas na água. Quando duas partículas de argila em suspensão se aproximam uma da outra, a tendência para interpenetração das camadas duplas difusas gera repulsão entre as partículas. Ao mesmo tempo, existe uma força de atração entre as partículas de argila, causada pelas forças de Van der Waals e é independente das características da água. Tanto a força de repulsão quanto a força de atração aumentam com a diminuição da distância entre as partículas, mas em taxas diferentes. Quando o espaçamento entre as partículas é muito pequeno, a força de atração é maior que a força de repulsão. Essas são as forças estudadas pelas teorias coloidais (DAS; KHALED, 2017). Ao analisar o comportamento da argila na forma de uma suspensão diluída, quando a argila é inicialmente dispersa na água, as partículas se repelem entre si. Essa repulsão ocorre porque, com o maior espaçamento interpartículas, as forças de repulsão entre elas são maiores que as forças de atração (forças de Van der Waals). A força da gravidade sobre cada partícula é desprezível. Assim, cada partícula individual pode se sedimentar muito lentamente ou permanecer em suspensão, submetida a um movimento browniano (um movimento aleatório em zigue-zague de partículas coloidais em suspensão). O sedimento formado pela decantação de partículas individuais apresenta uma estrutura dispersa (Figura 20) e uma orientação aproximadamente paralela entre si. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 33 FIGURA 20 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO DISPERSO FONTE: A autora Se as partículas de argila dispersas inicialmente na água se aproximarem umas das outras durante o movimento aleatório em suspensão, elas podem se agregar formando fl ocos visíveis com contato entre as bordas. Nesse caso, as partículas são mantidas unidas pela atração eletrostática das bordas carregadas positivamente com faces com cargas negativas. Essa agregação é chamada de fl oculação (Figura 21). Quando fi cam maiores, os fl ocos decantam pela ação da gravidade. O sedimento formado dessa maneira possui uma estrutura fl oculada. FIGURA 21 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO FONTE: A autora Quando se adiciona sal a uma suspensão de argila-água que tenha sido inicialmente dispersa, os íons tendem a enfraquecer a camada dupla ao redor das partículas. Essa depressão reduz a repulsão interpartículas. As partículas de argila são atraídas para formar fl ocos e sedimentação. A estrutura fl oculada formada de sedimentos é exibida na Figura 22. Nas estruturas fl oculadas sedimentares salinas, a orientação da partícula se aproxima de um alto grau de paralelismo em razão das forças de Van der Waals. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 34 FIGURA 22 – ESTRUTURA SEDIMENTAR DE UM SOLO COESIVO FLOCULADO COM SAL FONTE: A autora As argilas que apresentam estruturas fl oculares são leves e possuem um alto índice de vazios. Os depósitos de argila formados no mar são altamente fl oculados. A maioria dos depósitos de sedimentos formados em água doce possui estrutura intermediária entre dispersa e fl oculada. Um depósito puro de argilominerais é raro na natureza. Quando um solo tem pelo menos 50% de partículas com tamanhos de 0,002 mm, geralmente, é denominado de argila. Estudos realizados com microscópio eletrônico de varredura mostraram que as partículas individuais de argila tendem a se agregar ou fl ocular em unidades submicroscópicas. Essas unidades são chamadas domínios. Em seguida, os domínios se agrupam e esses grupos são chamados de aglomerados. Os aglomerados podem ser observados em um microscópio óptico. Esse agrupamento para formar aglomerados é causado principalmente pelas forças entre partículas. Os grupos, por sua vez, se agrupam para formar agregados. Os agregados podem ser observados sem microscópio. Os agregados são unidades macroestruturais com juntas e fi ssuras. A Figura 23 (item a) mostra o arranjo de agregados e os espaços dos macroporos. O arranjo de domínios e aglomerados com partículas do tamanho de silte é exibido na Figura 23 b. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 35 FIGURA 23 – ESTRUTURA DO SOLO Agregados Macroporos (a) Arranjo de agregados Silte Agrupado Silte Domínio (b) Arranjo dos domínios e aglomerados com partículas de silte FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 91) Com base na discussão anterior, podemos ver que a estrutura dos solos coesivos é altamente complexa. As macroestruturas têm importante influência no comportamento dos solos, do ponto de vista da engenharia. A microestrutura é mais importante do ponto de vista fundamental. A Tabela 2 apresenta um resumo das macroestruturas de solos de argila. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 36 TABELA 2 – ESTRUTURAS DE SOLOS ARGILOSOS Estruturas dispersas Formadas pela sedimentação de partículas isoladas de argila; orientação mais ou menos paralela. Estruturas floculadas Formadas pela sedimentação de flocos de partículas de argila. Domínios Unidades submicroscópicas agrupadas ou floculadas de partículas de argila. Agregados Os aglomerados se agrupam para formar os agregados; podem ser vistos sem microscópio. Aglomerados Os domínios se agrupam para formar os aglomerados; podem ser observados em microscópio óptico. FONTE: Das e Khaled (2017, p. 91) A gravidade é o principal fator de arrumação das partículas. Por isso, a estrutura dos solos grossos se difere apenas quanto ao grau de compacidade. Já os solos finos, preferencialmente as argilas, possuem maiores possibilidades de estruturação, por causa da ação de forças elétricas, mais atuantes que a gravidade. 3 SUPERFÍCIE ESPECÍFICA Define-se superfície específica como a relação entre a área da superfície de um material e seu volume. Normalmente, é expressa em m²/m³ ou m²/g ou qualquer variação das grandezas. Quanto maior o tamanho de um material, menor sua superfície específica. Em relação aos argilominerais, quanto maior a superfície específica (menor o material), maior a atuação das forças elétricas, o que influencia nas demais propriedades. Em ordem decrescente de tamanho, temos as seguintes superfícies específicas médias por tipo de argilomineral: Caulinita = 10m²/g; Ilitas = 80m²/g e Montmorilonita = 800 m²/g. Para compreender melhor, Ribeiro (2016) desenvolveu o cálculo de superfície específica, tomando como base os cubos a seguir, de lado = 10 cm e lado = 5 cm, respectivamente. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 37 FIGURA 24 – ANÁLISE DA SUPERFÍCIE ESPECÍFICA Cubo 2 Cubo 1 FONTE: A autora, adaptado de Ribeiro (2016) Calcula-se a área superficial, que é a soma da área de todas as faces da figura e, posteriormente, divide-se o valor encontrado pelo volume da figura. No caso do cubo, serão seis faces de mesmas dimensões. e ÁreasuperficialS Volume = 1 6 e l²S l³ × = (corresponde ao cubo 1) 1 6 10 10e ²S ³ × = 1 0 6eS , cm² / cm³= 2 6 e l²S l³ × = (corresponde ao cubo 2) 1 6 5 5e ²S ³ × = 1 1 2eS , cm² / cm³= Desse modo, percebemos que os cubos acima demonstram claramente que quanto maior for o tamanho do objeto em questão, menor sua superfície específica, pois são grandezas inversamente proporcionais. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 38 4 FORMA DAS PARTÍCULAS O formato das partículas presentes em uma massa de solo tem a mesma importância da distribuição granulométrica, porque tem influência significativasobre as propriedades físicas de determinado solo. No entanto, não é dada muita atenção ao formato da partícula porque é mais difícil de determinar. O formato da partícula geralmente é dividido em três principais categorias: a) Volumosa. b) Lamelar. c) Fibrilar. As partículas volumosas são formadas principalmente pelo intemperismo físico de rochas e minerais. Os geólogos utilizam termos como angular, subangular, subarredondado e arredondado para descrever os formatos das partículas volumosas. Estes formatos são indicados qualitativamente na Figura 26. Pequenas partículas de areia localizadas próximo de sua origem são geralmente muito angulares. As partículas de areia carregadas pelo vento e pela água, por longas distâncias, podem apresentar formatos que vão desde o subangular ao arredondado. O formato de partículas granulares em uma massa de solo exerce grande influência sobre as propriedades físicas, como índice de vazios máximo e mínimo, parâmetros de resistência ao cisalhamento, compressibilidade etc. A angularidade é definida pela equação: Raio _médio _ dos _ cantosebordasA Raio _ da _ esferamáxima _ inscrita = A esfericidade das partículas volumosas é definida como: e p DS L = Onde: De = diâmetro equivalente da partícula = 3 6 ∏ V ; V= volume da partícula; Lp= comprimento da partícula. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 39 FIGURA 25 – FORMATO DAS PARTÍCULAS FONTE: Das e Khaled (2017, p. 44) As partículas lamelares têm esfericidade muito baixa – geralmente 0,01 ou menos. Estas partículas são predominantemente argilominerais. As partículas fibrilares são muito menos comuns que os outros dois tipos de partícula. Alguns depósitos de corais e argilas atapulgitas são exemplos de solo contendo partículas fibrilares. 5 RELAÇÕES ENTRE AS FASES DOS SOLOS Determinado volume de solo em ocorrência natural consiste em partículas sólidas e em espaços vazios entre as partículas. O espaço vazio pode ser preenchido com ar e/ou água, desse modo constitui-se um sistema trifásico. Se não houver água no espaço vazio, é um solo seco. Se todo o espaço vazio for preenchido com água, é referido como solo saturado. No entanto, se o espaço for parcialmente preenchido com água, é um solo úmido. Portanto, é importante que, em todos os trabalhos de engenharia geotécnica, estabeleçam-se relações entre peso e volume em determinada massa de solo. Uma amostra de solo natural não é composta apenas dos grãos (fase sólida - pedregulhos, areias, siltes e argilas), mas também de espaços vazios. Esses espaços vazios são, comumente, preenchidos com água (fase líquida) e ar (fase gasosa), conforme Figura 26, a seguir. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 40 FIGURA 26 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO Partícula sólida Ar Água FONTE: A autora A fase gasosa, de acordo com Caputo (1996), é composta por ar, vapor d’água e carbono combinado. Também pode ser encontrada na forma de bolhas de ar dentro da fase líquida. É a fase mais compressível do solo. A fase líquida compreende a água e esta, por sua vez, é essencial em seu estudo para a Mecânica dos Solos, uma vez que a presença de água é responsável pela maioria dos problemas da construção civil. A Figura 28 corresponde aos diversos tipos de água que compõem a fase líquida de uma amostra de solo. FIGURA 27 – CONSTITUIÇÃO COMUM DO SOLO ÁGUA CAPILAR ÁGUA ABSORVIDA ÁGUA HIGROSCÓPICA PARTÍCULA DE ARGILA ÁGUA LIVRE ÁGUA CAPILAR ÁGUA ADESIVA FONTE: Caputo (1996, p. 25) Os diversos tipos de água que formam a fase líquida são: a) A água de constituição: esta faz parte da estrutura molecular dos grãos do solo. b) A água adesiva ou adsorvida: é a que adere e envolve todo o grão. c) A água livre: está presente no meio e preenche os vazios. d) A água higroscópica: é a que está presente no solo quando esse se encontra na mesma temperatura que o ambiente ao seu redor. e) A água capilar: é a água que sobe pelos interstícios capilares deixados pelas partículas sólidas, além da superfície livre da água. TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 41 O efeito do calor pode evaporar as águas livre, higroscópica e capilar, a partir de uma temperatura de 100 °C. NOTA O que diferencia a mesma condição do solo é a variação dos vazios. Os vazios são constituídos pelo volume de ar mais o volume de água. No entanto, o volume do sólido permanece constante (Figura 28). FIGURA 28 – VARIAÇÃO DE VOLUME DE AR E ÁGUA, PORÉM O SÓLIDO É INCOMPRESSÍVEL SÓLIDO ÁGUA AR SÓLIDO ÁGUA AR SÓLIDO ÁGUA AR FONTE: A autora 5.1 RELAÇÕES FÍSICAS ENTRE AS FASES DO SOLO As propriedades dos solos exigem o estudo dos índices físicos. Já vimos que um solo, no ambiente natural, é composto por grãos sólidos e vazios. Esses vazios, por sua vez, podem ser compostos de água e ar. De início, já se pode estabelecer algumas relações entre pesos e volumes e entre massas e volumes. A Figura 29, a seguir, demonstra as fases do solo e suas possíveis relações. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 42 FIGURA 29 – AS FASES DO SOLO COM RELAÇÃO A VOLUME, MASSA E PESO SÓLIDO ÁGUA AR Vs Vt Vv Vw Va SÓLIDO ÁGUA AR wt Ws, ms Ww, mw Wa, ma=0 (a) Fases com relação a volumes (b) Fases com relação ao peso e massa FONTE: A autora 5.2 RELAÇÃO DAS FASES ENTRE VOLUMES Verificando a Figura 30, percebemos que o volume total corresponde ao somatório do volume sólido, volume de água e volume de ar, conforme a equação a seguir: s w arVt V V V= + + TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 43 As partículas de solo também são preenchidas de vazios, estes, por sua vez, são o somatório do volume de água e volume de ar dos constituintes do solo. v w aV V V= + Então, o volume total também pode ser escrito como a soma do volume de sólidos com o volume de vazios: t s vV V V= + 5.3 RELAÇÕES DAS FASES ENTRE MASSAS E PESOS No meio estudantil sempre existiu a dúvida entre massa e peso específico. A massa é a quantidade de matéria que um corpo apresenta e é expressa em gramas, quilos ou quaisquer múltiplos e submúltiplos dessa grandeza. No entanto, o peso é relativo, varia de acordo com a variação da gravidade, o que significa que, para calcular o peso de um corpo, deve-se obter o produto entre sua massa e a gravidade do ambiente onde esse corpo se encontra no momento, assim: P = m × g A equação acima é baseada nos estudos de Newton, que afirma que a força é o produto da massa (kg) de um corpo e de sua aceleração (m/s²). Isso significa que a força resultante (F) é dada na grandeza kg.m/s², ou, simplificando, a força é dada em Newton (N). Dependendo do local, o peso de um material varia, porém a massa permanece constante. Um exemplo simples é notar a diferença entre as gravidades do Sol (274m/s²), da Terra (9,8m/s²) e da Lua (1,7m/s²). DICAS Sabemos que a massa total (Mt) é a soma das massas de água (Mw) e de sólidos (Ms). Com isso, temos que o peso total (Pt) é a soma do peso da água (Pw) com o peso dos sólidos (Ps), de acordo com as equações, a seguir. t s wM M M= + t s wP P P= + UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 44 “O peso do ar e a massa do ar não são considerados, pois são ambos desprezíveis. Assim, mesmo que a massa e o peso do ar não sejam considerados, o seu volume deve ser calculado, uma vez que o volume de ar é parte componente do volume total e que pode ser compressível quando sujeito a uma força ou substituído por água quando submerso” (RIBEIRO, 2016, p. 20). 6 ÍNDICES FÍSICOS: TEOR DE UMIDADE, MASSA ESPECÍFICA APARENTE E REAL, ÍNDICE DE VAZIOS, POROSIDADE, GRAU DE SATURAÇÃO Os índices físicos são de fundamental conhecimento, pois o comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases: partículas sólidas, água e ar. Quando falamos de índices físicos, comparamos às propriedades constituintes do solo, que têm relação com as três fases básicas. A importância dos índices físicos é que saberemos a quantidade em relaçãoà estrutura total do solo, bem como poderemos calcular as tensões que serão aplicadas a ele. Existe um determinado número de grandezas necessárias para descrever o estado físico que não é usado no estudo de outros materiais. Todas as grandezas definidas encontram-se inter-relacionadas. Por exemplo, quanto maiores forem essas duas grandezas, menores serão os pesos específicos, o peso seco, o peso específico submerso etc. 6.1 UMIDADE Quando queremos saber a umidade de um solo, verificamos a relação de água com a quantidade de sólidos de uma certa quantidade de solo. A equação a seguir representa a fórmula da umidade: 100w s Wh W = × Onde: Wa é o peso da água, Ws é o peso do sólido. Atualmente também é utilizada a umidade volumétrica do solo, em que se relaciona o volume de água com o volume total da amostra. w t Vè V = TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 45 6.2 ÍNDICE DE VAZIOS O índice de vazios corresponde a um resultado adimensional e também à relação dos vazios com respeito à quantidade de sólidos em um sistema de solo. s d YVve = = - 1 Vs Y Onde: Vv é o volume de vazios, Vs é o volume de sólidos. 6.3 POROSIDADE A porosidade, diferente do índice de vazios, relaciona a quantidade de vazios com o volume total da amostra. O resultado é em percentual ou entre valores de 0 a 1 (caso não haja multiplicação por 100). 100Vvn Vt = × Onde: o Vv é o volume de vazios, e Vt é o volume total. Quando falamos de porosidade, lembramos dos conceitos de microporosidade e macroporosidade, em que a porosidade total é o somatório desses dois conceitos. Nas partículas maiores, como nos solos não coesivos, por exemplo a areia, há a predominância de poros grandes (macroporos), no entanto, entre partículas pequenas, como no caso de solos coesivos (argila), predominam poros pequenos, ou chamados de microporos. Os microporos são responsáveis pela retenção de água e os macroporos, pela aeração. 6.4 GRAU DE SATURAÇÃO O grau de saturação está relacionado com o quanto de água os vazios estão preenchidos, desse modo: 100VwS Vv = × Onde: Vv corresponde ao volume de vazios, Vw corresponde ao volume de água. UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 46 0% <S<100% S = 0% S = 100% Completamente Saturado Não saturado Completamente Seco = VwS Vv FIGURA 30 – ESTRUTURA DO SOLO COM A VARIAÇÃO DE ÁGUA NOS VAZIOS FONTE: GEOFAST (2015, s.p.) O grau de saturação age no surgimento de poropressões, e, desta forma, altera as tensões efetivas atuantes, desse modo atua diretamente na resistência ao cisalhamento do solo. Quando verificamos que o solo está não saturado, podemos perceber o efeito da sucção, essencial para o conhecimento em estabilidades de taludes, pois quanto menor a sucção, menor a resistência do solo. 6.5 PESO ESPECÍFICO DO SÓLIDO Os pesos específicos são relacionados à força peso. O peso específico do solo é relacionado à quantidade de grãos do solo pelo volume de sólidos, desconsiderando o peso de água, assim: = ss s WY V (kN/m³) 6.5.1 Peso específico da água Embora varie com a temperatura, adota-se sempre: 10=wY kN / m³ TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 47 6.5.2 Peso específico natural Relação entre o peso total no seu estado natural pelo volume total. A expressão pode ser substituída por peso específico do solo. = nn t WY V (kN/m³) 6.5.3 Peso específico aparente seco É a relação entre o peso dos sólidos pelo volume total de uma amostra. Corresponde ao peso específico do solo caso estiver na condição seca, ou seja, os vazios preenchidos somente de ar. = sd t WY V (kN/m³) 6.5.4 Peso específico aparente saturado Peso específico do solo se estivesse saturado sem variação de volume. Neste caso, os vazios são totalmente preenchidos por água. Desse modo, deve-se estabelecer a relação entre o peso total com o volume total da amostra. + + × = = =t w s w v wsat t t t W W W W V YY V V V (kN/m³) 6.5.5 Peso específico submerso É o peso específico efetivo do solo, quando lidamos com deformação do solo. É utilizado nos cálculos de tensões efetivas. O solo submerso está completamente sob a água, portanto, para calcular deve-se considerar o peso específico. = −sub sat wY Y Y 6.5.6 Densidade relativa dos grãos (Gs) Podendo chamar de G ou Gs, isto corresponde ao peso relativo ou gravidade específica e representa a razão entre o peso específico dos grãos do solo pelo peso específico da água. = ss w YG Y (adimensional) UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E NATUREZA DOS SOLOS 48 O Gs pode ser obtido diretamente pelo ensaio de massa específica dos sólidos (NBR 6508). A Tabela 3 corresponde ao Gs de alguns minerais que encontramos na Engenharia. TABELA 3 – VALORES DE GS DE ALGUNS MINERAIS Quartzo 2,65 Caulinita 2,61 Ilita 2,84 Montmorilonita 2,65-2,80 Biotita 2,8-3,2 Muscovita 2,76-3,1 Limonita 3,6-4,0 Clorita 2,6-2,9 Olivina 3,27-3,7 Hornblenda 3-3,47 FONTE: Das e Khaled (2017, p. 90) 6.6 RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS Dessa imensidão de fórmulas, ou seja, para encontrar os índices, apenas três são determinados diretamente em laboratório: a umidade, o peso específico do sólido e o peso específico natural. Sabendo que o peso específico da água é adotado como 10 kN/m³. Uma maneira de fazermos as correlações com os índices físicos entre si é através dos seguintes passos: a) Fixar o Volume de sólidos igual a 1 m³ Desse modo, podemos relacionar com o índice de vazios, peso específico dos sólidos, assim, conforme Figura 31, teremos relações com o índice de vazios (e=Vv), =s sY w e = ×w sW Y h . TÓPICO 2 | ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS 49 FIGURA 31 – CORRELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS e = VvVs = 1 = =ss s s s WY Y W V × = × × =s as s w s s W WY h Y h W V W FONTE: A autora Desse modo, algumas correlações determinadas são: 1 v v t v s V V en V V V e = = = + + 1 + + × = = = + + t s w s s n t v s W W W Y Y hY V V V e 1 = = = + + s s s d t v s w W YY V V V e 1 + + × = = = + + + t w s s v w sat v s v s W W W Y V YY V V V V e Outras deduções: 1 = + n d YY w 100 ×= × = × sw v w Y wVS V e Y Relações entre pesos e volumes são denominadas pesos específicos, como definidos, e expressos geralmente em kN/m³. No entanto, relações entre quantidade de matéria (massa) e volume são denominadas massas específicas, e expressas geralmente em ton/m³, kg/dm³ ou g/cm³. ATENCAO 50 LEITURA COMPLEMENTAR POR QUE ESTUDAR ÍNDICES FÍSICOS? EM QUAL PARTE DA ENGENHARIA NÓS UTILIZAMOS? Os índices físicos estão na maioria dos conteúdos de engenharia civil, quando queremos construir uma fundação, em estabilidade de taludes, construção de contenções, projetos de muros de arrimo, em pavimentação, em corte e construção de aterro, misturas de materiais, dimensionamento de drenagem etc. Ter noção das fases constituintes do solo é essencial para indicar o tipo de solo que deve ser utilizado para cumprir melhor um objetivo na engenharia. É indispensável na classificação prever o comportamento do solo em algumas situações, avaliar a utilização ou descarte de jazidas, pois auxilia na obtenção de parâmetros de permeabilidade, resistência etc. Compactação Em pavimentação, faz-se o uso da compactação, que basicamente requer análises de variação do índice de vazios. A compactação é a densificação do solo por meio de equipamento mecânico ou manual. Um solo, quando transportado e depositado para a construção de um aterro, fica em um estado relativamente fofo e heterogêneo e, portanto, pouco resistente e muito deformável. Por isso, realiza-se a compactação, para melhorar duas características: aumentar o contato entre os grãos e para tornar o aterro mais homogêneo. Ocorre assim um aumento da densidade do solo e a redução do índice de vazios, o que melhora muitas propriedades do solo. A compactação é empregada para: a) Aterros; b) Nas camadas construtivas dos pavimentos; c) Na construção de barragens de terra; d) No preenchimento de terra atrás dos murosde arrimo; e) Preenchimento de valas abertas diariamente nas ruas, etc. O início da técnica de compactação do solo é creditada ao engenheiro norte-americano Proctor, que em 1933 publicou seus estudos sobre compactação. Ele demonstrou que aplicando-se certa energia de compactação (um certo número de passadas de um determinado equipamento no campo ou um certo número de golpes de um soquete sobre o solo contido em um molde), a massa específica resultante é em função da umidade em que o solo estiver. Quando se comporta com umidade baixa, o atrito entre as partículas é muito alto e não consegue significativa redução de vazios. 51 Quando a compactação está com umidades elevadas, a água provoca um certo efeito de lubrificação entre as partículas que deslizam entre si, acomodando- se num arranjo mais compactado. Na compactação as quantidades de partículas e de água permanecem constantes, o aumento da massa específica ocorre pela eliminação de ar. A partir de um certo teor de umidade, entretanto, a compactação não consegue expulsar o ar dos vazios, pois o grau de saturação já é elevado e o ar que ainda está no solo pode estar ocluso (envolto por água). Há, portanto, para uma determinada energia aplicada, um certo teor de umidade denominado umidade ótima que conduz a uma massa específica máxima ou a uma densidade máxima. Dos estudos de Proctor surgiu o ensaio de compactação, mais conhecido como ensaio de Proctor. Percolação em geotecnia Quando analisamos percolação de água em um meio, por exemplo, verificamos o quanto importante é analisar a porosidade. Quando o solo está saturado, o volume de água iguala-se ao volume de vazios. Quanto mais poroso for o solo, maior será a infiltração e menor sua capacidade de retenção. FONTE: LAMBE, T. William; WHITMAN; Robert V. Resumo do capítulo 1. In: Soil Mechanics. Massachusetts Institute of Technology. New York: John wiley & Scans. 1969. 52 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Conforme a natureza das partículas, podemos dividir os solos em coesivos e não coesivos. • Quanto maior o tamanho de um material, menor sua superfície específica. • A forma das partículas podem ser: volumosa, lamelar e fibrilar. • A relação do solo depende dos constituintes água, ar e solo. • Com a variação dos índices físicos é possível obter relações, como: umidade, peso específico, saturação, índice de vazios etc. • Para melhor entendimento temos a Figura 32, que corresponde ao fluxograma resumido deste capítulo. FIGURA 32 – FLUXOGRAMA RESUMO Relação entre fases dos solos Índices Físicos Forma das partículas Superfície específica Natureza das partículas Estrutura dos solos e índices FONTE: A autora 53 1 Diante do que foi explicado sobre a natureza dos solos, os solos não coesivos se fazem presentes no meio da engenharia. Sobre os solos não coesivos, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) A estrutura do solo não coesivo pode ser dividida em solos com grãos isolados ou em favos. b) ( ) Possuem alta predominância de finos. c) ( ) As partículas do solo estão em posição estável e em contato com as outras partículas no entorno. d) ( ) Na estrutura alveolar, o silte e a areia relativamente finos formam pequenos arcos com correntes de partículas. e) ( ) A forma e a distribuição do tamanho das partículas de solo e as posições relativas influenciam na densidade de pacote. 2 Os solos coesivos são aqueles chamados popularmente de solos que contêm uma “cola”, por aderirem firmemente entre as partículas devido ao seu tamanho que não é identificado a olho nu, como exemplo, temos as famosas argilas. Podemos dividir a estrutura do solo coesivo como: a) ( ) Dispersa, alveolar e floculado. b) ( ) Alveolar, floculado e angulado. c) ( ) Alveolar, dispersa e tramitado. d) ( ) Floculado, dispersa e angulado. e) ( ) Floculado com sal, floculado e dispersa. 3 O que é floculação? a) ( ) Ocorre em solos não coesivos e é formada por sedimentos em suspensão, submetida a um movimento browniano. b) ( ) Ocorre em solos coesivos e é formada por sedimentos em suspensão que caracterizam a floculação. c) ( ) Ocorre em solos coesivos. Se as partículas de argila dispersas inicialmente na água se aproximarem umas das outras durante o movimento aleatório em suspensão, as partículas podem se agregar formando flocos visíveis com contato entre as bordas. d) ( ) Ocorre em solos do tipo silte e areia, e estes, por sua vez, formam arcos com correntes de partículas. e) ( ) Ocorre em solos coesivos e é um processo de empacotamento das partículas formando uma estrutura flocular. AUTOATIVIDADE 54 4 Sobre a estrutura em solos coesivos, relacione o tipo de estrutura a seguir: I- Estruturas dispersas. II- Estruturas floculadas. III- Domínios. IV- Agregados. V- Aglomerados. a) ( ) Agrupam-se para formar os agregados; podem ser vistos sem microscópio. b) ( ) Formados(as) pela sedimentação de flocos de partículas de argila. c) ( ) Unidades submicroscópicas agrupadas ou floculadas de partículas de argila. d) ( ) Formados(as) pela sedimentação de partículas isoladas de argila; orientação mais ou menos paralela. e) ( ) Agrupam-se para formar os aglomerados; podem ser observados em microscópio óptico. 5 Qual o principal fator de ordenação das partículas em solos arenosos? a) ( ) A gravidade. b) ( ) A troca de cátions e íons da solução. c) ( ) A floculação. d) ( ) A mudança de temperatura. e) ( ) A força elétrica. 6 Qual o principal fator de ordenação das partículas em solos argilosos? a) ( ) Ação das forças elétricas. b) ( ) A gravidade. c) ( ) A sedimentação das partículas. d) ( ) O ordenamento estrutural. e) ( ) A força potencial gravitacional. 7 Sobre superfície específica, marque o item INCORRETO: a) ( ) Define-se superfície específica como a relação entre a área da superfície de um material e seu volume. b) ( ) Em relação aos argilominerais, quanto maior a superfície específica (menor o material), maior a atuação das forças elétricas, o que influencia nas demais propriedades. c) ( ) Em ordem decrescente de tamanho, temos as seguintes superfícies específicas médias por tipo de argilomineral: Montmorilonita = 800m²/g; Ilitas = 80m²/g e Caulinita = 10 m²/g. d) ( ) O cálculo da superfície específica é a área superficial pelo volume total. 55 8 Considerando o cálculo de uma superfície específica, calcule a área superficial de um grão com lados de 5 cm. a) ( ) 1,2 cm²/cm³. b) ( ) 2,0 cm²/cm³. c) ( ) 1,0 cm²/cm³. d) ( ) 0,5 cm²/cm³. e) ( ) 1,5 cm²/cm³. 9 O formato das partículas presentes em uma massa de solo tem a mesma importância da distribuição granulométrica, porque tem influência significativa sobre as propriedades físicas de determinado solo. Quais as três principais categorias? a) ( ) Volumosa, lamelar e fibrilar. b) ( ) Lamelar, angular, retangular. c) ( ) Volumosa, lamelar e angular. d) ( ) Lamelar, fibrilar e hexagonal. e) ( ) Fibrilar, angulosa e lamelar. 10 Como as partículas volumosas são formadas? a) ( ) São muito menos comuns que os outros dois tipos de partícula. Alguns depósitos de corais e argilas atapulgitas são exemplos de solo contendo partículas fibrilares. b) ( ) Têm esfericidade muito baixa – geralmente 0,01 ou menos. Estas partículas são predominantemente argilominerais. c) ( ) São as partículas de areia carregadas pelo vento e pela água. d) ( ) As partículas volumosas são formadas principalmente pelo intemperismo físico de rochas e minerais. Os geólogos utilizam termos como angular, subangular, subarredondado e arredondado para descrever os formatos das partículas volumosas. e) ( ) Têm esfericidade alta – geralmente 0,01 ou menos. Estas partículas são predominantemente argilominerais. 11 Uma amostra de solo natural mais o peso da cápsula foi colocada na estufa a 101°, obtendo uma massa de solo de 90 g. Considerando que a massa da cápsula possui 10g e que a massade solo natural mais a cápsula corresponde a 110g, qual a umidade da amostra? a) ( ) 13%. b) ( ) 12%. c) ( ) 15%. d) ( ) 11%. e) ( ) 20%. 56 12 Uma amostra de solo com índice de vazios 1,3 e um volume de 1 m³. Qual a porosidade desta amostra? a) ( ) 56,5%. b) ( ) 60,7%. c) ( ) 13%. d) ( ) 15%. e) ( ) 45,7%. 13 Uma amostra indeformada de solo com 1 m³ de volume possui o peso específico dos grãos de 28,8 kN/m³, umidade de 14%, índice de vazios com 0,71. Qual o Grau de Saturação dessa amostra? a) ( ) 56,7%. b) ( ) 70,5%. c) ( ) 45,5%. d) ( ) 60,5%. e) ( ) 35,7%. 14 (PINTO, 2006, p. 30) Para uma amostra indeformada tomou-se uma amostra com 72,54g no seu estado natural. Depois de imersa n’água de um dia para o outro e agitada em um dispersor mecânico por 20 min, para eliminar as bolhas de ar. A seguir, o picnômetro foi enchido com água deaerada até a linha demarcatória. Esse conjunto apresentou uma massa de 749,43g. A temperatura da água foi medida, acusando 21° C, e para esta temperatura uma calibração prévia indicava que o picnômetro cheio de água até a linha demarcatória pesava 708,7g. Determinar a massa específica dos grãos. a) ( ) 2,88 g/cm³. b) ( ) 2,77 g/cm³. c) ( ) 2,55 g/cm³. d) ( ) 2,44 g/cm³. e) ( ) 2,36 g/cm³. 15 Um grupo de estudantes, querendo analisar a estabilidade de um talude, verificou a necessidade de calcular o peso específico natural de amostras indeformadas. Moldaram um corpo cilíndrico com 3,57 cm de diâmetro e 9 cm de altura. No momento da pesagem verificou uma massa de 173,74g. Determine a massa específica natural deste solo. a) ( ) 1,93 g/cm³. b) ( ) 1,75 g/cm³. c) ( ) 1,67 g/cm³. d) ( ) 1,88 g/cm³. e) ( ) 1,55 g/cm³ 57 16 No estado natural, um solo úmido tem um volume de 9,34 x 10-3 m³ e pesa 177,6 x 10-3 kN. O peso do solo seco em estufa é 153,6 x 10-3 kN. Se Gs = 2,67, calcule: a) Teor de umidade. b) Peso específico úmido. c) Peso específico seco. d) Índice de vazios. e) Porosidade. f) Grau de Saturação. 58 59 UNIDADE 2 O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir o tipo de solo, frações e proporções; • analisar a plasticidade e o índice de consistência; • classificar o solo segundo a norma. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – GRANULOMETRIA TÓPICO 2 – PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 60 61 TÓPICO 1 GRANULOMETRIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Aprendemos que existem diferentes tipos de solos, estes solos são diferenciados pelos processos químicos, físicos e mineralógicos. No entanto, ao analisá-los, observa-se que na condição sólida, estes possuem partículas de diferentes tamanhos em proporções variadas em uma ampla faixa. Desse modo, notou-se que determinar o tamanho das partículas é um método que também identifica o tipo de solo com o qual estamos lidando, e este, por sua vez, é normatizado pela NBR:6502 (ABNT, 1980). Chamamos este procedimento de análise granulométrica. A análise granulométrica da distribuição das dimensões dos grãos objetiva determinar as dimensões dos diâmetros equivalentes das partículas sólidas em conjunto com a proporção de cada fração constituinte do solo em relação ao peso seco naturalmente. A representação gráfica das medidas realizadas é denominada de curva granulométrica, que relaciona a quantidade fracionada de grãos e é definida pela curva semilogarítmica (no eixo x) dos diâmetros equivalentes em relação à porcentagem passante de solo (eixo y). A análise granulométrica possui importância significativa, pois pode indicar características de permeabilidade, por exemplo, além de identificar o possível comportamento do solo frente à variação de diâmetros efetivos. 2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA O primeiro passo para caracterizar granulometricamente um solo é através da preparação da amostra. Deve-se retirar uma quantidade de amostra representativa do solo. Para isso, utiliza-se a NBR6457 (ABNT, 1986). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 62 A amostra de solo como recebida do campo deverá ser seca ao ar. Todo o material é reduzido e preparado com o auxílio de um repartidor de amostras ou pelo quarteamento. No quarteamento divide-se o solo coletado em várias partes com a intenção de obter uma amostra representativa. São utilizados cerca de 1500 g para solos argilosos e 2000 g para solos arenosos ou pedregulhosos. Em seguida essa quantidade de amostra é pesada e, por fim, anotada como amostra seca ao ar. A Tabela 1 corresponde ao passo a passo para a preparação do solo com secagem prévia. TABELA 1 – OPERAÇÕES PRELIMINARES DE AMOSTRAGEM DO SOLO 1° Passo: Secar a amostra ao ar, até próximo da umidade higroscópica 2° Passo: Desmanchar os torrões, evitando-se quebra de grãos, e homogeneizar a amostra 3° Passo: Com o auxílio do repartidor da amostra, ou pelo quarteamento, reduzir a quantidade de material até se obter uma amostra representativa em quantidade suficiente para a realização dos ensaios requeridos. FONTE: ABNT (1986) A Figura 1 corresponde ao equipamento utilizado para quartear o solo, ou seja, dividi-lo em partes representativas. FIGURA 1 – QUARTEAMENTO DE UMA QUANTIDADE SIGNIFICATIVA DE SOLO FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018, p. 20) Segundo a NBR6457:1986, podem ser utilizados dois processos para a preparação de amostras para ensaios de caracterização: um com secagem prévia e outro sem secagem prévia da amostra. Porém, para o ensaio de análise granulométrica deve ser utilizada a metodologia com secagem prévia. TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA 63 A NBR6457 especifica a quantidade necessária após a utilização do repartidor. Após a escolha do material (retirada uma porção fracionada do quarteamento), deve-se passar esta quantidade de solo em uma peneira de 76 mm, tomar uma quantidade em função da Tabela 2, que corresponde à quantidade mínima de solo que deve ser utilizada para o ensaio de peneiramento fino, grosso com e sem sedimentação. TABELA 2 – QUANTIDADE DE AMOSTRA PARA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA Dimensões dos grãos maiores contidos na amostra, determinada por observação visual (mm) Quantidade mínima a utilizar (kg) <5 1 5 a 25 4 >25 8 FONTE: ABNT (1986) Esta quantidade de material obtida conforme a Tabela 2 deve ser a amostra a ser ensaiada para a obtenção da curva granulométrica. Esse material deve ser destorroado com a utilização de almofariz, para que os grãos fiquem com seu tamanho natural de partícula (Figura 2). FIGURA 2 – DESTORROAMENTO DO SOLO COM USO DE ALMOFARIZ FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018, p. 20) Após este processo, define-se a porção que será ensaiada, em amostras com grãos com diâmetro maior que 25 mm, utiliza-se balança com resolução de 1g, valores entre 5 a 25 mm usa-se com resolução de 0,5g e para grãos com diâmetro menor que 5 mm, utiliza-se balança com resolução de 0,1g. Deve-se pesar a amostra seca ao ar e anotar como Mt. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 64 O segundo passo é levar a amostra à peneira de 2 mm, os grãos retidos devem ser utilizados para o peneiramento grosso, no entanto, o solo que passa por essa peneira é utilizado para peneiramento fino, além de ensaios de massa específica, limite de liquidez, limite de plasticidade, umidade, sedimentação etc. Para um melhor entendimento, a Figura 3 representa um fluxograma simples do processo. FIGURA 3 – FLUXOGRAMA DE DESTINAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA ANÁLISE Peneiramento Fino Sedimentação Amostra passante 2 mm Peneiramento grosso Amostra retida na 2mm Passa o solo na peneira de 2mm Amostra de solo FONTE: A autora Ao analisar a Figura 3, percebe-se que existem dois processos de peneiramento fino: o com sedimentação, em que é feita a análise para as partículas menores que 0,075mm, e o sem sedimentação,ou seja, apenas o peneiramento, em que são apenas observados os grãos com diâmetros entre 0,075mm e 2mm. As amostras de solo devem ser padronizadas com o objetivo de conseguir resultados com o menor erro percentual e para que não haja diferenças significativas entre as amostras estudadas. Em resumo, o procedimento é feito em cinco etapas: secagem ao ar, quarteamento da amostra, destorroamento do material, pesagem e peneiramento. TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA 65 2.1 PENEIRAMENTO GROSSO O processo de peneiramento grosso é realizado a partir das amostras retidas na peneira de 2mm. Deve-se lavar o material retido nesta peneira com o objetivo de eliminar o material fino aderente, e após a lavagem, coloca-se o material em cápsula de porcelana e deixa-se secar em estufa a 105 °/110 °C. Após a secagem em estufa, deve-se pesar o material retido na peneira de 2 mm e anotar como Mg. Este material é levado para as peneiras de 50, 38, 25, 19, 9,5 e 4,8 mm, e utiliza-se o agitador mecânico para o solo passar pelas peneiras. Por último, anota-se as massas retidas acumuladas em cada peneira. A massa total seca da amostra é determinada utilizando a equação (1): 100 (100 ) t g s g M M M M h − = × + + (1) Onde: Ms= massa total da amostra seca Mt= massa da amostra seca ao ar Mg= massa do material seco retido na peneira de 2 mm h= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2 mm Para calcular as porcentagens do solo que passam nas peneiras 50, 38, 25, 19, 9,5, 4,8 e 2 mm faz-se uso da equação (2): 100s ig s M MQ M − = × (2) Onde: Qg = porcentagem de material passado em cada peneira; Ms= massa total da amostra seca; Mi= massa do material retido acumulado em cada peneira. 2.2 PENEIRAMENTO FINO Sabemos que o peneiramento fino é dividido em duas etapas: sem sedimentação e com sedimentação. Para o processo sem sedimentação e, portanto, a determinação da distribuição granulométrica do material apenas por peneiramento, seguem os passos: 1° Passo: A partir do material passante em 2 mm, utilizar aproximadamente 120 g. Pesar esse material com resolução de 0,01 g e anotar a Mh. Retirar ainda 100 gramas para a determinação da umidade higroscópica (h), conforme NBR 6457; 2° Passo: Lavar na peneira de 0,075 mm o material assim obtido, vertendo- se água à baixa pressão. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 66 3° Passo: Secar o material em estufa, à temperatura de 105 ° a 110 °C, até constância de massa, e utilizando o agitador mecânico, deve-se passar nas peneiras: 1, 2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075 mm. 4° Passo: Anotar os valores das massas retidas em cada peneira. O cálculo para encontrar as porcentagens de materiais que passam nas peneiras: 1,2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075 mm é fornecido na equação (3): 100 (100 ) 100 h i f h M M hQ N M × − × + = × × (3) Qf= Porcentagem de material passado em cada peneira; Mh= massa do material úmido submetido ao peneiramento fino à sedimentação, conforme o ensaio tenha sido realizado apenas por peneiramento ou por combinação de sedimentação e peneiramento, respectivamente; h= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2mm; Mi= massa do material retido e acumulado em cada peneira; N= porcentagem de material que passa na peneira de 2 mm conforme equação (2). 2.3 SEDIMENTAÇÃO A sedimentação é o processo que determina a porcentagem de solos na curva granulométrica menores que 0,075mm. Utiliza-se a análise da deposição das partículas mais finas do solo em suspensão e estabelece-se a sua dimensão de forma indireta pela Lei de Stokes. Os passos do ensaio conforme a NBR7181 (ABNT, 1982b) são: 1° Passo: Do material passado na peneira de 2mm, tomar cerca de 120g, para solos arenosos, e 70g, para solos argilosos e siltosos, para sedimentação e peneiramento fino. 2° Passo: Pesar esse material (anotar como Mh), tomar 100 g para umidade do solo; 3° Passo: Transferir o material de 70g e colocar em um béquer de 250 cm³ e juntar com auxílio de proveta, com defloculante (solução de hexametafosfato de sódio). Agitar o béquer e deixar agindo por, no mínimo, 12h; 4° Passo: Após 12 h, mexer o material que está no béquer por 15 min para homogeneizar a mistura (pode utilizar um copo de dispersão ou uma bisnaga de vidro e mexer no próprio béquer); 5° Passo: Após a agitação, transferir para uma proveta e remover com água destilada, com auxílio de bisnaga, todo material aderido no copo. Juntar água destilada até atingir o traço correspondente a 1000 cm³; em seguida, colocar a proveta no tanque ou em local com pouca variação térmica; 6° Passo: Logo que a dispersão atinja a temperatura de equilíbrio, tomar a proveta, e tapando a abertura da proveta com a mão, mexer de baixo para cima por 1 min. TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA 67 7° Passo: Imediatamente após terminada a agitação, colocar a proveta sobre uma mesa, anotar a hora exata do início da sedimentação e mergulhar cuidadosamente o densímetro na dispersão (Fazer um teste para ver aonde o densímetro ficará.); 8° Passo: Efetuar as leituras do densímetro correspondentes aos tempos de 0,5, 1, 2 min. Retirar lenta e cuidadosamente o densímetro da dispersão. Caso o ensaio esteja sendo realizado em local de temperatura constante, colocar a proveta no banho, onde permanecerá até a última leitura. Fazer leituras subsequentes 4, 8, 15 e 30 minutos, 1, 2, 3, 4, 8 e 24 horas, a contar do início da sedimentação; 9° Passo: Cerca de 15 a 20 segundos da leitura, mergulhar lenta e cuidadosamente o densímetro na dispersão. Todas as leituras devem ser feitas na parte superior do menisco com interpolação de 0,0002, após o densímetro ter ficado em equilíbrio. Assim que uma leitura for feita, retirar o densímetro e colocar em uma proveta de água limpa à mesma temperatura da dispersão; 10° Passo: Após cada leitura, observar a temperatura da dispersão. Realizada a última leitura, verter o material da proveta na peneira de 0,075mm, proceder à remoção com água de todo o material que tenha aderido às suas paredes e efetuar a lavagem do material na peneira mencionada, empregando- se água potável a baixa pressão, ou seja: utilizar o material da sedimentação para o peneiramento fino. Secar o material retido na 0,075mm em estufa à 105 ° a 110 °C, até constância de massa, e, utilizando-se o agitador mecânico, passar nas peneiras de 1,2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075mm. As porcentagens correspondentes a cada leitura do densímetro, referidas à massa total da amostra, são definidas utilizando-se a expressão (4). ( ) ( ) 100 100 c d s hd V L LQ N M h δδ δ δ − = × × − × + (4) Onde: Qs= porcentagem de solo em suspensão no instante da leitura do densímetro; N= porcentagem de material que passa na peneira de 2 mm, calculado conforme equação (2); δ= Massa específica dos grãos do solo, em g/cm³; δd= Massa específica do meio dispersor, à temperatura de ensaio, em g/cm³, considerar 1 g/cm³; V= volume da suspensão, em cm³, considerar 1000 cm³; δc= Massa específica da água, à temperatura de calibração do densímetro (20 °C), em g/cm³, considerar 1 g/cm³; L= leitura do densímetro na suspensão; Ld= leitura do densímetro no meio dispersor, na mesma temperatura da suspensão; Mh= massa do material úmido submetido à sedimentação, em g; H= umidade higroscópica do material passado na peneira de 2 mm. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 68 Para o cálculo do diâmetro máximo das partículas em suspensão, no momento de cada leitura do densímetro, utilizando-se a Lei de Stokes chega-se à equação (5): 1800 d ad t µ δ δ = × − (5) Onde: d= diâmetro máximo das partículas, em mm; μ= coeficiente de viscosidade do meio dispersor, à temperatura de ensaio, em gxs/cm²; a= altura de queda das partículas, com resolução de 0,1 cm, correspondente à leitura do densímetro, em cm (em anexo na NBR7181). O diâmetro máximo das partículas em suspensão, no momento de cada leitura do densímetro, pode também ser determinado pelo método gráfico deCasagrande (em anexo na NBR7181). Após este processo, determina-se a quantidade de porcentagem passante através da equação (3). 2.4 DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA A partir desse processo de determinação das porcentagens, esses dados são colocados em um gráfico, dispondo-se em abcissas os diâmetros das partículas, em escala logarítmica, e em ordenadas as porcentagens das partículas menores do que os diâmetros considerados, em escala aritmética (Figura 4). TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA 69 FIGURA 4 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM SEDIMENTAÇÃO A rg ila Si lte 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0,001 0,01 1000,1 1 10 Po rc en ta ge m P as sa nt e (% ) Diâmetro dos Grãos (mm) A re ia F . A re ia M . A re ia G . Pe dr eg ul ho FONTE: Massocco (2017) Os solos recebem designações segundo as dimensões das partículas compreendidas entre determinados limites convencionais, conforme a Figura 5, em que estão representadas as classificações adotadas pela American Society for Testing Materials (ASTM), American Association for State Highway and Transportation Officials (AASHTO), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (GONÇALVES; MONTEIRO, 2018). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 70 FIGURA 5 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM SEDIMENTAÇÃO PEDREGULHO AREIA SILTE ARGILA COLOIDE G M F PEDREGULHO AREIA SILTE ARGILA COLOIDE G F PEDREGULHO AREIA SILTE COLOIDE G M F G M F G M F PEDREGULHO AREIA SILTE COLOIDE G M F G M F 0 0 0 0 0,001 0,001 0,002 0,002 0,005 0,005 0,06 0,075 0,075 0,06 0,2 0,425 0,425 0,2 0,6 2,00 2,0 0,6 2,0 4,75 2,0 6 6 60 60 60 20 2060 ASTM AASHTO M.I.T ABNT FONTE: Gonçalves e Monteiro (2018) 2.5 ANÁLISE GRÁFICA DE UMA CURVA GRANULOMÉTRICA A partir dos dados de peneiramento realizados com ou sem sedimentação deve-se formar um gráfico que relaciona o material passante ou retido nas peneiras. A Figura 6 corresponde a um exemplo de curva granulométrica, em que é possível perceber os dados em relação ao peneiramento e em relação ao processo de sedimentação. Verifica-se, portanto, a quantidade de solo com respeito ao diâmetro efetivo de cada partícula, na figura apresentada percebe-se que o solo possui: 10% de argila, 30% de silte, 10% de areia fina, 28% de areia média, 12% de areia grossa e 10% de pedregulho. A maior porcentagem do constituinte determina o tipo de solo, neste caso o solo é siltoso. TÓPICO 1 | GRANULOMETRIA 71 FIGURA 6 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM SEDIMENTAÇÃO A rg ila Si lte 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0,001 0,01 1000,1 1 10 Po rc en ta ge m P as sa nt e (% ) Diâmetro dos Grãos (mm) A re ia F . A re ia M . A re ia G . Pe dr eg ul ho 30% de site 10% argila Sedimentação 28% de areia média Peneiramento 10% areia fina FONTE: A autora, adaptado de Massocco (2017) A colocação de pontos representativos dos pares de valores diâmetro equivalente – porcentagem de ocorrência, em papel semilogaritmo, permite traçar a curva de distribuição granulométrica, em que no eixo das abscissas estão representados os diâmetros equivalentes, e, no eixo das ordenadas encontram-se as porcentagens passantes (SOARES et al., 2006, p. 26). Para entendermos a utilização da granulometria, iniciamos com o estudo em solos granulares, esses podem ser divididos em mal graduados ou bem graduados a partir da análise da curva granulométrica. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 72 A expressão “bem graduado” expressa o fato de que a existência de grãos com diversos diâmetros confere ao solo, em geral, melhor comportamento sob o ponto de vista de engenharia. As partículas menores ocupam os vazios correspondentes às maiores, criando um entrosamento, do qual resulta menor compressibilidade e resistência (PINTO, 2006, p. 65). O grau de entrosamento entre as partículas, ou seja, solos bem graduados são expressos pelo coeficiente de uniformidade Cu. Dado pela equação (6): 60 10 u DC D = (6) Onde: D60 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 60% em peso das partículas, e D10 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 10% em peso das partículas. Quanto maior o coeficiente de uniformidade, mais bem graduada é a areia. C u maior que 4 é considerado pedregulho bem graduado. C u maior que 6 é considerada areia bem graduada. Areias com C u menor que 2, pode-se dizer que são uniformes. UNI O Cu identifica a amplitude do tamanho dos grãos, no entanto, para identificarmos o melhor formato da curva granulométrica, e assim para encontrar descontinuidades ou concentração muito elevada de grãos mais grossos no conjunto, denominamos o coeficiente de curvatura, o qual chamamos de Cc (equação 7). Valores de Cc entre 1 e 3 são considerados bem graduados. ( ) 2 30 10 60 DCc D D = × (7) Onde: D30 é o diâmetro abaixo do qual corresponde a 30% em peso das partículas. Para a análise de solos finos lidamos com o efeito da plasticidade dos solos e, assim, a atividade da argila, a qual discutiremos mais a fundo no próximo tópico, sobre plasticidade e consistência. 73 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Na preparação de uma amostra utiliza-se cerca de 1kg a 1,5 kg. • As diferenças e os procedimentos realizados segundo a norma para obter a curva granulométrica de um solo são divididos em dois tipos: peneiramento grosso (NBR) e peneiramento fino com sedimentação e sem sedimentação. • O processo de sedimentação e a importância da utilização do defloculante em solos finos são primordiais para definir a estrutura do solo, pois o defloculante ajuda a separar os grãos e a definir a curva granulométrica realisticamente. • A análise gráfica depende das dimensões de solo que passaram ou ficaram retidas nas peneiras. A Figura 7 corresponde ao resumo do tópico estudado. Peneiramento fino Com Sedimentação Sem Sedimentação Peneiramento grosso Preparação de amostra Análise Gráfica Granulometria Distribuição Granulométrica FONTE: A autora 74 AUTOATIVIDADE 1 (PINTO, 2006) Para fazer a análise granulométrica de um solo, tomou-se uma amostra de 53,25 g, cuja umidade era de 12,6%. A massa específica dos grãos do solo era de 2,67 g/cm³. A amostra foi colocada em uma proveta com capacidade de um litro (V=1000 cm³), preenchida com água. Admita-se neste exercício que a água é pura, não tendo sido adicionado defloculante, e que a densidade da água é de 1,0 g/cm³: Ao uniformizar a suspensão (instante inicial da sedimentação), qual deve ser a massa específica da suspensão? E qual a leitura do densímetro nele colocado? 2 (PINTO, 2006) No caso do ensaio descrito no exercício anterior, 15 minutos depois da suspensão ser colocada em repouso, o densímetro indicou uma leitura de L=13,2. Em relação à situação inicial, quando a suspensão era homogênea, qual a porcentagem (em massa) de partículas que ainda se encontrava presente na profundidade correspondente à leitura do densímetro? 3 (PINTO, 2006) Conforme o ensaio anterior, a leitura do densímetro acusava a densidade a uma profundidade de 18,5 cm. Qual o maior tamanho de partícula que ainda ocorria nessa profundidade? Considerar que o ensaio foi feito a uma temperatura de 20 °C, na qual a viscosidade da água é de 10,29 x 10-6 g.s/cm². 4 (PINTO, 2006, p. 32) Quando se deseja conhecer a distribuição granulométrica só da parte grosseira do solo (as frações areia e pedregulho), não havendo, portanto, a fase de sedimentação, pode-se peneirar diretamente o solo no conjunto peneiras? 5 (Adaptado de PINTO, 2006) Na Figura 8 são apresentados os resultados de dois ensaios de granulometria por peneiramento e sedimentação de uma amostra de solo: um com a utilização de defloculante e outro sem a utilização de defloculante. Como interpretar a diferença de resultado? Essetipo de comportamento é comum a todos os solos? 75 FIGURA 8 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM SEDIMENTAÇÃO FONTE: Borges (2014, p. 49) Po rc en ta ge m q ue p as sa (% ) Diâmetro das partículas (mm) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10,10,010,001 0 10 10 Com defloculante Sem defloculante 6 O ensaio de Granulometria de uma amostra de solo é composto por duas etapas: o peneiramento e a sedimentação. O peneiramento é realizado com a amostra de solo em dimensões grandes, conhecido como solos grossos, e a sedimentação é realizada para definir a granulometria da amostra de solos finos. A seguir temos uma curva granulométrica de um solo. Responda: a) Quais são as porcentagens/frações dos constituintes de grãos neste solo estudado? b) Ao analisar o gráfico, qual tipo de solo é este? Como podemos chamá-lo? 76 FIGURA 9 – CURVA GRANULOMÉTRICA POR PENEIRAMENTO GROSSO E FINO COM SEDIMENTAÇÃO A rg ila Si lte 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0,001 0,01 1000,1 1 10 Po rc en ta ge m P as sa nt e (% ) Diâmetro dos Grãos (mm) A re ia F . A re ia M . A re ia G . Pe dr eg ul ho FONTE: A autora, adaptado de Massocco (2017) 7 A curva de granulometria é utilizada apenas para classificar os solos. Essa afirmação é verdadeira ou falsa? Justifique. 77 8 Os itens a seguir referem-se ao ensaio de caracterização física dos solos, denominado de análise granulométrica. Analise os itens quanto à sua veracidade, assinalando V para verdadeiro e F para falso: a) ( ) No ensaio de granulometria são determinados os tamanhos das partículas que compõem o solo e as suas porcentagens de ocorrência, possibilitando a elaboração da curva granulométrica. b) ( ) Na curva granulométrica, o eixo das ordenadas representa os diâmetros dos grãos. c) ( ) Na realização do ensaio de granulometria, a secagem ao ar livre do solo faz-se necessária para a etapa de destorroamento. d) ( ) Apesar da secagem ao ar livre, o solo apresenta ainda um certo teor de umidade, denominado de umidade de constituição. e) ( ) No ensaio de granulometria, dependendo do diâmetro do solo, faz-se necessário realizar o peneiramento grosso, o peneiramento fino e a sedimentação. 78 79 TÓPICO 2 PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A distribuição granulométrica é uma forma que caracteriza o solo e seus constituintes em frações equivalentes. Muitas vezes, a granulometria não caracteriza bem solos finos, como argila e silte, necessitando, portanto, de outras formas de análise. Existem outras maneiras de analisar o comportamento dos solos sob o ponto de vista de engenharia, principalmente quando lidamos com os solos finos. Segundo Pinto (2006, p. 24), quanto menores as partículas, maior é a superfície específica (superfície das partículas divididas por seu peso ou por seu volume). Dessa forma, faz com que o comportamento de partículas com superfícies específicas tão distintas perante a água seja bastante diferenciado. As partículas de minerais de argila diferem acentuadamente pela estrutura mineralógica, bem como pelos cátions adsorvidos, dessa maneira, para a mesma porcentagem de fração de argila, o solo pode ter comportamento muito diferente, dependendo das características dos minerais. Em solos finos, como siltes e argilas, é necessária a análise de outros parâmetros, como: forma da partícula, composição mineralógica e química e as propriedades plásticas, que estão relacionadas com o teor de umidade. Todos esses fatores mostram a complexidade no estudo do comportamento do solo em argilas. Sempre houve a necessidade de encontrar parâmetros do solo a partir da adição de água. Como uma forma de analisar o comportamento das argilas e siltes, o engenheiro Atterberg adaptou ensaios junto com Arthur Casagrande para determinar índices e padronizar uma forma de analisar a plasticidade e liquidez dos solos. Esses limites basearam-se nas variações no comportamento do solo argiloso devido à quantidade de água presente em seus poros. Este tópico explica os conceitos básicos para a caracterização do comportamento plástico e da consistência dos solos com grande presença de argila. Estes, por serem os mais complicados, requerem cuidado especial tanto na caracterização quando na classificação, portanto, este tópico fornece informações sobre limite de liquidez, limite de plasticidade, bem como os métodos de cálculo para fornecer tais limites. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 80 2 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA Sabemos que há uma complexidade dos minerais-argilas, em termos estruturais, químicos e físicos. Atterberg realizou pesquisas sobre as propriedades dos solos finos (consistência). As pesquisas mostraram que o solo argiloso possui aspectos distintos conforme seu teor de umidade, ou seja, quando há bastante água, ele se comporta como líquido, quando diminui a umidade, torna-se plástico e, por fim, quanto mais seco, faz-se quebradiço. Esses fatores de comportamento do solo fino com a adição ou a retirada de certa quantidade de água formam o conceito denominado por Atterberg: consistência. Este termo se relaciona com o grau de resistência e plasticidade do solo, que depende das ligações internas entre suas partículas. Estes solos finos, chamados coesivos, mostram consistência plástica entre certos teores limites de umidade, os quais denominamos: Limites de Atterberg ou limites de consistência. Os limites confirmam que teores de água antes dessa fronteira estipulada apresentam uma consistência sólida (chamamos de limite de contração) e após essa linha uma consistência semissólida, também se percebem as mudanças de estado entre as linhas LP (limite de plasticidade) e LL (limite de liquidez). A Figura 10 corresponde a um gráfico que mostra os teores de umidade em relação à variação de volume, estes, por sua vez, permitem caracterizar e diferenciar diversos estados de uma massa amolgada de solo. FIGURA 10 – ESTADOS E LIMITES DE CONSISTÊNCIA Estado líquido Estado plástico Estado semi-sólidoEstado sólido Sr = 100% Sr < 100% LLLPLC0 Vo Vi Vf V ar ia çã o de v ol um e (Δ V ) Teor de umidade (w%) FONTE: Soares et al. (2006, p. 42) TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 81 Uma massa de solo argiloso no estado líquido (por exemplo, lama) não possui forma própria e tem resistência ao cisalhamento nula. Retirando-se água aos poucos, por secamento da amostra, a partir de um teor de umidade, esta massa de solo torna-se plástica, quando passa a ter um teor de umidade constante poderá ter sua forma alterada, sem apresentar uma variação sensível do volume, ruptura ou fissuramento. Continuando o secamento da amostra, atinge-se um teor de umidade no qual o solo deixa de ser plástico e adquire a aparência de sólido, mas ainda apresentando uma variação de volume para teores de umidade decrescentes, porém mantendo-se saturado, se encontrando no estado semissólido. Finalmente, a partir de um teor de umidade, a amostra começará a secar, mas a volume constante, até o secamento total, tendo atingido o estado sólido (SOARES et al., 2006, p. 42). Os limites de plasticidade, liquidez e contração são os chamados limites de consistência ou Limites de Atterberg. ATENCAO Para Terzaghi, as propriedades de engenharia (isto é, a permeabilidade, a compressibilidade e a resistência ao cisalhamento) dependem de fatores físicos, tais como a forma das partículas, o seu diâmetro efetivo e o grau de uniformidade do solo. Como os Limites de Atterberg também dependem desses fatores, com base no seu conhecimento é possível fazer inferências sobre as propriedades de engenharia de solos de mesma origem geológica. Foi de Terzaghi a ideia de agrupar os solos com propriedades de engenharia análogas utilizando uma classificação baseada nos Limites de Atterberg (MASSAD, 2016, p. 106). Atualmente existem ensaios padronizados para determinar os aspectos de limite de liquideze plasticidade do solo, o qual será explicado nos próximos itens. Porém, mesmo que estes limites possam ser encontrados a partir de ensaios simples, ainda assim a interpretação física e o relacionamento quantitativo dos seus valores, com os fatores de composição do solo, tipo e quantidade dos minerais, tipo de cátion adsorvido, forma e tamanho das partículas e composição da água, são difíceis e complexos (SOARES et al., 2006, p. 42). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 82 3 LIMITE DE LIQUIDEZ Percebemos que o limite de liquidez (LL) corresponde à faixa com que o solo está em comportamento plástico limite, a partir desse momento, ao adicionar água e assim, maiores valores de umidade para o solo remoldado começam a se apresentar em estado líquido. A NBR 6459:2016 diz que o LL é o teor que separa o estado de consistência líquido do plástico, no qual o solo apresenta uma pequena resistência ao cisalhamento. Para a determinação do limite de liquidez utiliza-se o equipamento de Casagrande, e este tem esse nome pois refere-se ao desenvolvedor do equipamento. Estudos deste pesquisador (1932) mostraram que, com a visualização do limite de liquidez, é possível correlacionar com dados de resistência ao cisalhamento do solo. A Figura 11 corresponde ao aparelho de Casagrande em que é possível verificar a superfície de deslizamento. Seus estudos mostraram que resultados de limite de liquidez correspondem à resistência entre de 2kPa a 3 kPa. Esses valores, considerados baixos, resultam de resistência devida às forças atrativas entre partículas que, por sua vez, estão relacionadas à atividade superficial dos argilominerais. FIGURA 11 – EXEMPLO DO EQUIPAMENTO DE MEDIÇÃO DO LL E AS SUPERFÍCIES DE DESLIZAMENTO COMO FORMA DE VERIFICAR A RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DEPOIS DO ENSAIO ANTES DO ENSAIO FONTE: A autora, adaptado de Soares et al. (2006) TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 83 A NBR 6459 (ABNT, 2016) define o procedimento de determinação do limite de liquidez. A norma foi originalmente publicada em 1984 e formatada em 2016, com nenhuma mudança técnica, apenas de formatação. Conforme a Figura 12, o aparelho consiste na formação de uma base dura, uma concha de latão, um sistema de fixação da concha à base e um parafuso excêntrico ligado a uma manivela, que, movimentada a uma velocidade constante, de duas rotações por segundo, eleva a concha a uma altura padronizada, para, a seguir, deixá-la cair sobre a base. Um cinzel (gabarito), com as dimensões mostradas na mesma figura, completa o aparelho (SOARES et al., 2006, p. 47). FIGURA 12 – APARELHO DE CASAGRANDE E SEUS ACESSÓRIOS FONTE: Soares et al. (2006, p. 43) A escolha do cinzel dependerá do tipo de solo a ser trabalhado. Em solos argilosos utiliza-se o cinzel cônico; no entanto, em solos arenosos, faz-se uso do cinzel achatado. ATENCAO O solo utilizado no ensaio corresponde à fração que passa na peneira de 0,42mm (#40) de abertura e uma pasta homogênea deverá ser preparada e colocada na concha; utilizando o cinzel, deverá ser aberta uma ranhura, conforme mostrado na Figura 13. No momento em que a concha vai batendo na base, os taludes tendem a escorregar e a abertura na base da ranhura começa a se fechar. O ensaio continua até que os dois lados se juntem, longitudinalmente, por um comprimento igual a 10 mm, interrompendo-se o ensaio nesse instante e anotando-se o número de golpes necessários para o fechamento da ranhura (SOARES et al., 2006, p. 43). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 84 FIGURA 13 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE LIQUIDEZ DE UM SOLO FONTE: Pires (2011, p. 47) O limite de liquidez corresponde à umidade do solo para 25 golpes encontrados no ensaio de Casagrande. A ideia é obter vários valores de golpes entre 35 e 15, obter umidades e, por fim, encontrar um gráfico/função umidade versus golpes, ao substituir na função encontrada o valor de 25 golpes encontraremos o LL. ATENCAO Processo executivo O processo executivo segue a NBR6459:2016. Após a preparação da amostra pela NBR6457, seguem-se os procedimentos: 1° Passo: Colocar a amostra na cápsula de porcelana e adicionar água destilada em pequenos incrementos, amassando e revolvendo, vigorosa e continuamente com o auxílio da espátula, de forma a obter uma pasta homogênea, com cerca de 15 min (areias) e 30 min (argilas); 2° Passo: Transferir parte da mistura para a concha, moldando-a de forma que na parte central a espessura seja na ordem de 10mm; 3° Passo: Realizar essa operação de maneira que não fiquem bolhas de ar no interior da mistura; 4° Passo: Retornar o excesso de solo para a cápsula; TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 85 5° Passo: Dividir a massa de solo em duas partes, passando o cinzel através da massa, de maneira a abrir uma ranhura em sua parte central, normalmente à articulação da concha. O cinzel deve ser deslocado perpendicularmente à superfície da concha; As operações do 4° e 5° passo devem ser realizadas com a concha na mão do operador, e, quando houver dificuldades na abertura da ranhura, deve-se tentar obtê-la por passagens sucessivas e cuidadosas com o cinzel. Para começar o ensaio, a consistência tem que estar no ponto em que sejam necessários cerca de 35 golpes para fechar a ranhura. NOTA NOTA 6° Passo: Recolocar, cuidadosamente, a concha no aparelho e golpeá-la contra a base, deixando-a cair em queda livre, girando a manivela à razão de duas voltas por segundo. Anotar o número de golpes necessário para que as bordas inferiores da ranhura se unam ao longo de 13mm de comprimento, aproximadamente. 9° Passo: Com o resultado de aproximadamente 35 golpes. Transferir imediatamente uma pequena quantidade do material de junto das bordas que se uniram para um recipiente adequado para a determinação da umidade. 10° Passo: Transferir o restante da massa para a cápsula de porcelana. Lavar e enxugar a concha e o cinzel. 11° Passo: Adicionar água destilada à amostra e homogeneizar durante pelo menos três minutos, amassando e revolvendo vigorosa e continuamente com auxílio da espátula. 12° Passo: Repetir as operações do 2° até o 6° passo, de modo a obter pelo menos mais três pontos entre o intervalo de 35 a 15 golpes. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 86 Se a amostra apresentar umidade inferior à correspondente ao primeiro ponto, proceder para o item 1. NOTA Com esses dados, deve-se formar um gráfico no qual o eixo das abscissas (em escala aritmética) sejam os teores de umidade; e o eixo das ordenadas (em escala logarítmica) corresponda ao número de golpes; por fim, construir a reta respeitando os pontos obtidos. O limite de liquidez corresponde à umidade referente a 25 golpes e esse dado é expresso em porcentagem. A Figura 14 corresponde a dados de limite de liquidez determinados pelo ensaio de Casagrande. A Tabela 3 corresponde aos dados de golpes e a umidade encontrada, esses dados correspondem a uma função com R² 0,79, e ao substituir na função para 25 golpes, encontra-se o Limite de liquidez de 31%. TABELA 3 – DADOS DE ENSAIO DE LIMITE DE LIQUIDEZ Tentativa 1 Tentativa 2 Tentativa 3 Tentativa 4 Tentativa 5 Número de golpes 40 37 18 26 16 Umidade (%) 30,49 29,75 31,76 30,95 31,45 FONTE: A autoram FIGURA 14 – GRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE LIQUIDEZ DO SOLO NÚMERO DE GOLPES (Esc Log) TE O R D E U M ID A D E (% ) 32 32 31 31 30 30 10 100 y= -1,716ln(x) + 36,447 R2= 0,7906 LL=31% FONTE: A autora TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 87 A NBR 6459 utiliza o padrão de cinco pontos para cinco umidades, com esses dados é possível obter uma função (Figura 14), e assim, correlacionando o valor de 25 golpes, encontra-se o limite de liquidez. Olmstead e Johnston (1954) e WES (1949) também demonstram a possibilidade de determinar o limite de liquidez a partir de um único ponto, e assim, fazendo o procedimento do ensaio apenas uma vez, assim, faz-se uso das equações (6) e (7) .1,419 0,3log hLL n = − (6) Onde: h é a umidade encontrada; n o número de golpes. 0,121 25 nLL h = (7) Onde: h é a umidade encontrada no ensaio; n é o número de golpes. 4 LIMITE DE PLASTICIDADE O Limite de plasticidade (LP) corresponde à umidade em que a água no seu estado livre começa a existir em excesso, ou seja, numa quantidade maior que aquela necessária para satisfazer a adsorção forte. Quando atinge o LP, a água começa a formar a camada dupla. Pode ser também interpretado como o teor de umidade limite, abaixo do qual o solo perde plasticidade, isto é, deforma-se, com mudança de volume e trincamento (MASSAD, 2016, pág. 110). Ao observar o gráfico de estado de consistência do solo, pode-se dizer que o LP é o valor de umidade que corresponde à divisão entre o estágio semissólido e plástico. A NBR7180 define o procedimento de determinação do limite de plasticidade. O equipamento necessário à realização do ensaio é muito simples: tendo-se apenas uma placa de vidro com uma face esmerilhada e um cilindro padrão com 3mm de diâmetro, conforme Figura 13. O ensaio inicia-se rolando, sobre a face esmerilhada da placa, uma amostra de solo com um teor de umidade inicial próximo do limite de liquidez, até que duas condições sejam, simultaneamente, alcançadas: o rolinho tenha um diâmetro igual ao do cilindro padrão e o aparecimento de fissura (início da fragmentação). O teor de umidade do rolinho, nesta condição, representa o limite de plasticidade do solo (SOARES et al., 2006, p. 45). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 88 FIGURA 15 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE PLASTICIDADE FONTE: Ribeiro (2016, p. 19) O limite de plasticidade é determinado pela repetição do ensaio em cinco vezes. Por fim, a determinação do limite de liquidez é dada pela média das umidades encontradas, devendo o erro não passar de 5% para mais ou para menos. UNI Processo executivo O processo executivo segue a NBR7180: 2016. Após a preparação da amostra pela NBR6457, seguem-se os procedimentos: 1° Passo: Colocar a amostra na cápsula de porcelana, adicionar água destilada em pequenos incrementos, amassando e revolvendo, vigorosa e continuamente, com o auxílio de espátula, de forma a obter uma pasta homogênea, de consistência plástica. 2° Passo: Começa-se colocando a amostra na cápsula de porcelana e umedecendo-a de forma contínua e devagar, revolvendo-a e tentando torná-la uma pasta homogênea, com o auxílio da espátula. 3° Passo: Tomar cerca de 10 g da amostra assim preparada, formar uma pequena esfera e manualmente rolá-la sobre a placa de vidro até que se forme um cilindro com espessuras semelhantes ao gabarito. TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 89 4° Passo: A condição para que uma amostra de solo esteja no estado plástico é a possibilidade de com ela ser possível moldar um cilindro de 10 cm de comprimento por 3 mm de diâmetro, por rolagem, sobre uma placa de vidro. 5° Passo: Ao se fragmentar o cilindro, com diâmetro de 3mm e comprimento de 10 mm (o que se verifica com o gabarito de comparação), transferir imediatamente as partes dele para um recipiente adequado, para determinação da umidade conforme a NBR6457. 6° Passo: Repetir as operações de 3 a 5, e assim obter no mínimo três valores de umidade. O Limite de plasticidade satisfatório de pelo menos três valores, e, nenhum deles diferir da respectiva média em 5%. ATENCAO 5 LIMITE DE CONTRAÇÃO Conforme a Figura 8, o limite de contração (LC) é a linha que separa os estados semissólido e sólido, sendo, portanto, o valor de teor de umidade que o solo deixa de contrair embora continue perdendo o peso. Uma argila, inicialmente saturada e com um teor de umidade próximo ao limite de liquidez, ao perder água, sofrerá uma diminuição do seu volume igual ao volume de água evaporada, até atingir um teor de umidade igual ao limite de contração. A partir deste valor, a amostra secará a volume constante (SOARES et al., 2006, p. 45). Percebe-se na Figura 16 o limite de contração, este por sua vez corresponde aos aspectos básicos da teoria limite de contração. Este exemplo mostra o solo com um volume inicial no item (a), logo após a perda de umidade o volume diminui (b) e, por fim, há a diminuição de umidade sem a variação de volume, caracterizando o limite de contração do sistema (c). UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 90 FIGURA 16 – ASPECTOS BÁSICOS DA TEORIA DO LIMITE DE CONTRAÇÃO (c)(b)(a) Vf VS VW W0 WW WS WS V0 Ar Sólidos Sólidos Sólidos Água Água FONTE: Soares et al. (2006, p. 45) Ao analisar a Figura 16, percebe-se que o limite de contração é igual a (8): w s WLC W = (8) Com relação ao peso específico dos sólidos, o peso de água é calculado por (9): s w f w s WW V γγ = − × (9) Por fim, resulta em (10): 1s w s s WLC γ γ γ = × − Caso o peso específico dos sólidos não seja conhecido, o limite de contração é determinado por (10): 0 0 ( )f w s V VLC w Wγ − = − × (10) Onde: w0 é o teor de umidade de moldagem do corpo de prova. Utiliza-se a NBR 7183:1982 para calcular o LC. No entanto, essa norma foi cancelada devido ao desuso do setor. A norma previa as seguintes aparelhagens: cápsula de porcelana, espátula, cápsula de contração para secagem da amostra. Também se faz necessária a utilização de: régua de aço e cuba de vidro, placa de vidro com pinos de metal, balança sensível a 0,1g, mercúrio suficiente para encher a cuba de vidro e estufa. TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 91 FIGURA 17 – ENSAIO PARA OBTENÇÃO DO LIMITE DE CONTRAÇÃO MERCÚRIOPLACA DEPOIS DO ENSAIO ANTES DO ENSAIO 10 9 FONTE: Soares et al. (2006, p. 46) O ensaio em laboratório para determinar o limite de contração é realizado inicialmente com a preparação da pasta, com teor de umidade aproximado ao limite de liquidez e, após a preparação, é colocado em recipiente próprio e extraído o ar contido na amostra. Após este processo leva-se a amostra para secar, no início ao ar e, por fim, em estufa. O volume da pastilha seca é obtido imergindo-a em mercúrio e determinando o peso do mercúrio extravasado (SOARES et al., 2006, p. 45). a) ÍNDICE DE PLASTICIDADE A diferença entre os limites de liquidez e plasticidade é considerado como índice de plasticidade. Representa, portanto, a quantidade de água que é necessário adicionar a um solo, para que ele passe do estado plástico para o estado líquido. A equação (11) representa a diferença entre o LL e o LP caracterizando-se a sigla IP. IP LL LP= − (11) O valor de IP tem como principal função caracterizar o quão plástico é o solo, maiores índices (IP) correspondem a solos mais plásticos. Adicionado a este fato, sabe-se que este item afeta o grau de compressibilidade dos solos, ou seja, quanto maior o IP, mais características compressíveis tem o solo. A Tabela 4 corresponde à classificação do solo com relação à porcentagem de IP. UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 92 TABELA 4 – CONDIÇÕES DE PLASTICIDADE COM RELAÇÃO AO ÍNDICE DE PLASTICIDADE Não plástico IP=0 Fracamente plástico 1 ≤ IP ≤ 7 Mediamente plástico 7 ≤ IP ≤ 15 Altamente plástico IP > 15 FONTE: Ribeiro (2016, p. 23) Um material livre de argilas tem índice de plasticidade nulo, uma vez que a plasticidade é uma propriedade específica das argilas. Quanto maior o índice de plasticidade, mais compressível é a argila (RIBEIRO, 2016, p. 23). b) ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA Quando deseja-se obter o estado do solo fino em campo, ou seja, natural, opta-se pela descoberta do índice de consistência do solo. A NBR6502:1980 divide essa condição em: mole, muito mole, médias, rijas e duras. O índice de consistência é determinado pela equação (12): LL wIC IP − = (12) Onde: w é a umidade em campo, LL é o limite de liquidez e IP é o índice de plasticidade. O índice de consistência busca situar o teor de umidade do solo no intervalo de interesse para a utilização na prática, ou seja, entre o limitede liquidez e o de plasticidade. As argilas moles, médias e rijas situam-se no estado plástico; as muito moles no estado líquido e as duras no estado semissólido. Assim, quantitativamente cada um dos tipos pode ser identificado quando se tratar de argilas saturadas, pelo índice de consistência através da Tabela 5. TABELA 5 – CORRELAÇÕES COM DADOS DE ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA E RESISTÊNCIA DO SOLO FONTE: Ribeiro (2016, p. 23) Classificação Identificação Gradação Resistência Kg/cm² Nspt Estado Muito mole Escorrem entre os dedos IC<0 R<0,25 2≤ Líquido Mole Facilmente moldável 0 ≤ IC<0,5 0,25 ≤ R<0,5 3 a 5 Plástico Média Moldável 0,5 ≤ IC<0,75 0,5 ≤ R<1,0 6 a 10 Plástico Rija Dificilmente moldável 0,75 ≤ IC<1,00 1,0 ≤ R<4,0 11 a 19 Plástico Dura Não são moldáveis IC ≥ 1,00 R ≥ 4,00 >19 Semissólido TÓPICO 2 | PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA 93 c) ÍNDICE DE LIQUIDEZ O índice de liquidez (IL) corresponde às tensões que o solo sofreu em sua história geológica. À medida que a umidade de um solo coesivo se aproxima do limite inferior do estado plástico, maior será a resistência e sua compacidade (TERZAGHI; PECK, 1976). Desse modo corresponde à fórmula para encontrar o IP (13): w LPIL LL LP − = − (13) Onde: w é a umidade do solo, LP é o limite de plasticidade e LL é o limite de liquidez. A Tabela 6 corresponde à classificação dos índices de liquidez com relação às tensões no solo. Argilas normalmente adensadas têm índices de liquidez próximos da unidade, ao passo que argilas pré-adensadas têm índices próximos de zero. Valores intermediários para o índice de liquidez são frequentemente encontrados. Excepcionalmente pode exceder a unidade, como no caso das argilas extrassensíveis, ou pode ser negativo, como no caso das argilas excessivamente pré-adensadas (SOARES et al., 2006, p. 48). TABELA 6 – CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ IL< 0 Argilas excessivamente pré-adensadas (h natural menor que LP) IL ≈ 0 ou =0 Argilas pré-adensadas (h natural próximo ou igual ao LP) IL ≈ 1 ou =1 Argilas normalmente adensadas (h natural próximo ou igual ao LL) IL > 1 Argilas extrassensíveis (h natural maior que LL) FONTE: Ribeiro (2016, p. 22) d) ATIVIDADE DA ARGILA A atividade da argila é um conceito empregado por estudos de Skempton (1953). O autor percebeu que solos de mesma origem geológica, e assim com os mesmos argilominerais, possuíam índices de plasticidade (IP) linearmente crescentes de acordo com o aumento do teor da fração de argila (C). Dessa maneira, a atividade de argila torna-se a relação entre o índice de plasticidade e a porcentagem da fração argilosa menor que 2 microns (0,002 mm). A equação (14) corresponde à atividade da argila: IPA C = (14) UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 94 Onde: IP é o índice de plasticidade, e C é o teor da fração de argila no solo para teores superiores a 40%. Quanto maior a atividade de um solo, mais importante é a influência da fração argila em suas propriedades e mais suscetível ele é aos tipos de íons trocáveis e à composição dos fluidos dos poros. Uma atividade elevada indica um solo que pode causar problemas em virtude de sua alta capacidade de retenção de água e de troca catiônica e sua alta sensibilidade e tixotropia (MASSAD, 2016, p. 107). Tixotropia é o ganho de resistência de um solo após amolgamento ou compactação, resulta de uma restauração (parcial) de um equilíbrio rompido, envolvendo a água e os íons. DICAS Com relação à faixa de atividade e tipo de argila, a Tabela 7 resume o valor com o tipo de argilomineral. TABELA 7 – ATIVIDADE DA ARGILA PARA CADA ARGILOMINERAL Tipo de argilomineral Atividade da argila Montmorilonita 5 a 7 Caulinita 0,3 Ilita 0,9 FONTE: Massad (2016, p. 107) Trabalhos de Seed, Woodward e Lundgren (1964a, b) mostraram que existe uma relação entre o limite de liquidez, o teor de argila e a atividade do solo independentemente da sua composição mineralógica. Assim, solos com a mesma origem geológica alinham-se aos gráficos de Casagrande e a atividade é definida pela equação 14, no entanto, para solos com porcentagem de argilominerais entre 10% e 40% houve melhor congruência dos valores com a equação 15 (MASSAD, 2016, p. 107). 10 IPA C = − (15) Onde: IP é o índice de plasticidade e C é o teor da fração de argila no solo para teores entre 10% e 40%. 95 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os estados de consistência são divididos em: líquido, plástico e de contração. Os limites confirmam que teores de água antes dessa fronteira estipulada apresentam uma consistência sólida (chamamos de limite de contração) e, após essa linha, uma consistência semissólida, também se percebem as mudanças de estado entre as linhas LP (limite de plasticidade) e LL (limite de liquidez). • Para a determinação do limite de liquidez, utiliza-se o equipamento de Casagrande, e este tem esse nome pois refere-se ao desenvolvedor do equipamento. Estudos deste pesquisador (1932) mostraram que, com a visualização do limite de liquidez, é possível correlacionar dados de resistência ao cisalhamento do solo. • O Limite de liquidez corresponde à umidade do solo para 25 golpes encontrados no ensaio de Casagrande. A ideia é obter vários valores de golpes entre 35 e 15, obter umidades e, por fim, encontrar um gráfico/função umidade versus golpes, ao substituir na função encontrada o valor de 25 golpes encontraremos o LL. A Figura 18 corresponde ao resumo do tópico estudado. FIGURA 18 – RESUMO DO TÓPICO ESTUDADO Limite de liquidez NBR6459:2016 Limite de plasticidade BR7180:2016 Limite de contração NBR7183:1982 Estados de consistência Plasticidade e Consistência Índice de plasticidade/Índice de consistência/Índice de liquidez/ atividades da argila FONTE: A autora 96 AUTOATIVIDADE 1 A resistência e a compressibilidade de um solo variam de forma considerável em função da consistência em que ele se encontra. A consistência de um solo pode ser determinada a partir de um índice, denominado “Índice de Consistência (IC)”. Dessa forma, analisando uma argila que apresenta no campo um teor de umidade natural (hnat) de 23% e seus LL e LP são, respectivamente, 28% e 15%, responda: a) Em que estado de consistência (IC) se encontra essa argila? b) Este solo é mais ou menos resistente que uma argila cujo índice de consistência (IC) é igual a 0,2? 2 Os itens a seguir referem-se aos índices de consistência dos solos ou Limites de Atterberg: limite de liquidez e limite de plasticidade. Analise os itens quanto à sua veracidade, assinalando V para verdadeiro e F para falso: a) ( ) O limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP) não são teores de umidade. b) ( ) O LL e o LP são constantes de um solo e podem ser determinados através de ensaios em laboratório. c) ( ) O LP é o teor de umidade em percentual, no qual a transição do estado semissólido para o plástico ocorre. d) ( ) O LL é o teor de umidade em percentual, no qual a transição do estado plástico para o líquido ocorre. e) ( ) A plasticidade é uma propriedade que os solos finos apresentam, logo, em um solo, quanto maior o percentual de argila, menor será a sua plasticidade. 3 Os itens a seguir referem-se aos ensaios de caracterização física dos solos: limite de liquidez (NBR 6459) e limite de plasticidade (NBR 7180). Analise os itens a seguir e identifique F para Falso e V para Verdadeiro. a) ( ) Para a realização do ensaio do Limite de Plasticidade e do Limite de Liquidez, utilizar solo passante na peneira de 0,42mm. b) ( ) O Limite de Plasticidade corresponde à umidade que o solo apresenta ao se fragmentar formando um cilindro com diâmetro de 3 mm e comprimento da ordem de 100 mm. c) ( ) Na determinação do Limite de Plasticidade, para que o ensaio seja satisfatório, pelo menos três umidades não podem diferir da respectiva média de mais de 5% dessa média. d) ( ) Na determinação do Limite de Liquidez, inicialmente, adiciona-seágua destilada na amostra em pequenos incrementos, de forma a obter uma pasta homogênea, com consistência tal que sejam necessários cerca de 15 golpes para fechar a ranhura. 97 e) ( ) Na determinação do Limite de Liquidez, após obter a umidade necessária para fechar a ranhura com cerca de 35 golpes, adicionar mais água, de forma a obter, no mínimo, mais dois pontos de ensaio, cobrindo o intervalo de 35 a 15 golpes. 4 Com a execução dos ensaios para a determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade foram obtidos os seguintes resultados: Ensaio de Limite de Plasticidade Cápsula No 1 2 3 4 5 Cápsula + Solo Úmido (g) 9,66 8,24 9,94 13,03 8,96 Cápsula + Solo Seco (g) 9,31 7,82 9,49 12,63 8,44 Peso da Capsula (g) 8,59 6,95 8,59 11,75 7,44 Peso da Água (g) 0,35 0,42 0,45 0,40 0,52 Peso Solo Seco (g) 0,72 0,87 0,90 0,88 1,00 Teor de Umidade (%) 48,61 48,28 50,00 45,45 52,00 Ensaio Limite de Liquidez Cápsula N0 6 7 8 9 10 Cápsula + Solo Úmido (g) 9,66 10,16 10,90 14,20 9,37 Cápsula + Solo Seco (g) 8,80 9,38 9,96 13,49 8,60 Peso da Cápsula (g) 7,63 8,23 8,55 12,49 7,52 Peso da Água (g) 0,86 0,78 0,94 0,71 0,77 Peso Solo Seco (g) 1,17 1,15 1,41 1,00 1,08 No. de Golpes 15 34 31 15 18 Teor de Umidade (%) 73,50 67,83 66,67 71,00 71,30 Determine: a) Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade do solo. b) O Índice de Plasticidade do solo. Classifique-o. 98 99 TÓPICO 3 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Percebe-se que os diferentes tipos de solos mostram comportamentos distintos, devido à sua diversidade e situação em que se encontra. Estas situações determinadas pela engenharia enfatizam o agrupamento em conjuntos distintos como forma de classificação das propriedades dos solos. Essa necessidade de formar conjuntos e classificar o solo surgiu de maneira natural, consolidando os vários tipos de classificação dos solos. Em termos de engenharia, o principal objetivo da classificação dos solos, segundo Pinto (2006, p. 64), é a possibilidade de estimar o provável comportamento do solo ou, pelo menos, orientar o programa de investigação necessário para proporcionar apropriada análise de uma problemática. Até hoje a validez da classificação dos solos é colocada em dúvida, este fato deve-se à variabilidade que os solos possuem; um exemplo prático é um solo A e C, que possuem índices próximos aos limites e, por sua vez, apresentam-se em grupos distintos (um é silte e outro argila, por exemplo), porém há possibilidade de ter comportamento mais parecidos do que um solo B que apresenta a mesma classificação do solo A. Este fato conclui que a utilização dos parâmetros de solos em termos de resistência é mais aceitável do que propriamente sua condição física. No entanto, Pinto (2006, p. 64) diz que a classificação é necessária para a transmissão do conhecimento, pois quando um tipo de solo é citado, é primordial que a designação seja entendida por todos, ou seja, é importante que exista um sistema de classificação para categorizar. A divisão do solo serve como primeiro passo para a previsão do seu comportamento, pois ajuda a organizar as ideias e a orientar os estudos e o planejamento das investigações para obtenção dos parâmetros mais importantes para cada projeto. Na Engenharia há diversas formas de classificar os solos, tais como: pela origem, pela evolução, estrutura, pelos preenchimentos de vazios, e até mesmo pela quantidade de matéria orgânica presente. Este tópico mostrará os principais sistemas de classificação, tais como: Trilinear, Sistema Unificado, Sistema rodoviário de classificação, classificações regionais e, por fim, algumas classificações com respeito à origem do solo. Vamos começar? 100 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 2 SISTEMA TRILINEAR: USDA Também conhecido como triângulo de Feret, este é utilizado para identificar o tipo de solo a partir das porcentagens/frações de solos determinados nos ensaios de granulometria (curva granulométrica), ou seja: a análise textural que se refere à aparência da superfície. Este método foi desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e parte do pressuposto de que no solo natural há misturas de partículas de diversos tamanhos. Nesse sistema os solos são nomeados após os principais componentes, como exemplo: solo areno-argiloso, que mostra que a maior quantidade vem do percentual de areia presente no solo; além disso, a USDA possui o tamanho padronizado dos grãos que corresponde ao tipo de solo (Tabela 8). TABELA 8 – CLASSIFICAÇÃO GRANULOMÉTRICA PELO DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA DOS ESTADOS UNIDOS Tamanho do grão [mm] Pedregulho Areia Silte Argila >2 2 a 0,05 0,05 a 0,002 <0,002 FONTE: Das e Khaled (2017, p. 25) A análise baseia-se em um formato triangular em que o lado esquerdo corresponde à porcentagem de argila e o lado direito, à porcentagem de silte e, por fim, sobra a base do triângulo, que corresponde à quantidade de areia determinada pelo ensaio de granulometria (Figura 19). Ao analisar o triângulo, percebe-se a palavra “lemo” que, por Caputo (1988, p. 33), foi utilizada para substituir as misturas de proporções variadas de argila, silte e areia. A Figura 19 mostra um exemplo ao lado, ou seja, um solo com proporções: 40% de areia, 32% de argila e 28% de silte. Ao colocar estes dados no triângulo, encontra-se um solo do tipo argila lemosa. Perceba que o triângulo de Feret só possui informações para solos finos, ou seja, passantes na peneira de n° 10 (<2mm), porém, o que se deve fazer ao encontrar um solo com pedregulhos? Obriga-se corrigir a porcentagem dos solos para a análise USDA, ou seja, um solo com 20% de pedregulhos, 10% de areia, 30% de silte e 40% de argila tem, na análise de Feret, de acordo com os 80% de finos (100%-20% de pedregulhos): 12,5% de areia (10/80), 37,5% de silte (30/80) e 50% de argila (40/80). ATENCAO TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 101 FIGURA 19 – CLASSIFICAÇÃO USDA: TRIÂNGULO DE FERET FONTE: A autora, adaptado de Christ (2016) Embora a classificação textural do solo seja relativamente simples, ela é baseada totalmente na distribuição de partículas. Para os engenheiros geotécnicos faz-se necessária a análise de quantidade e o tipo de argilominerais presentes em solos granulares finos, pois estes ditam uma grande extensão das propriedades físicas. Existem outros métodos, como: AASHTO e SUCS, que adicionam a análise da plasticidade do solo, ou seja, é possível interpretar os argilominerais presentes no solo. 3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO (AASHTO) Este sistema foi desenvolvido por volta de 1929, considerado um sistema de classificação de Administração de Rodovia Pública, atualmente é utilizado pelos engenheiros para qualificar solos para bases de estradas (rodovias e ferrovias) e para construção de aterros. A norma que explica este método de classificação é a ASTM D-3282 e é conhecida como American Association of State Highway and Transportation Official (AASHTO). 102 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS Esta classificação divide o solo em sete grupos principais mais os solos orgânicos: A-1 a A-7. Os solos que são classificados entre A-1 e A-3 são os granulares, em que 35% do solo no máximo é passante na peneira n° 200. No entanto, os solos com mais de 35% passante na peneira n° 200, os quais são definidos por argila e siltes, são classificados: A-4, A-5, A-6, A-7. Os critérios iniciais utilizados são os demonstrados na Tabela 9. TABELA 9 – CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO AASHTO 1. Tamanho dos grãos 2. Plasticidade 3. Observações a. Pedregulhos: Passa na peneira 75mm e fica retida na peneira de 10. O termo siltoso é aplicado quando as frações de grãos finos do solo têm índice de plasticidade de, no máximo, 10. O termo argiloso é aplicado quando as frações de grãos finos têm um índice de plasticidadede, pelo menos, 11. Se as pedras de calçada e pedregulhos (tamanho maior que 75 mm) forem encontradas, elas serão excluídas da parte da amostra de solo, porém a porcentagem de tal material é registrada. b. Areia: Passa na peneira 10 e fica retida na 200. c. Silte e Argila: Passa na peneira 200. FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017) O primeiro passo para classificar o solo é pelas tabelas (Tabela 10, 11 e Figura 20) desenvolvidas pela ASTM D-3282, em que se aplicam os dados de ensaio da esquerda para a direita. Pelo processo de eliminação, o primeiro grupo que se ajusta aos dados de ensaio é a classificação correta. TABELA 10 – CLASSIFICAÇÃO DOS GRANULARES SUBGRADUADOS DE ESTRADA Classificação geral Materiais granulares (35% ou menos da amostra total passam pela peneira de n° 200) Classificação de grupo A-1 A-3 A-2 A-1-a A-1-b A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7 Ensaio de peneiramento (porcentagem passante) N° 10 (2 mm) 50 no máximo N° 40 (0,42 mm) 30 no máximo 50 no máximo 51 no máximo N° 200 (0,075mm) 15 no máximo 25 no máximo 10 no máximo 35 no máximo 35 no máximo 35 no máximo 35 no máximo Características de fração passante n° 40 TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 103 Limite de Liquidez 40 no máximo 41 no mínimo 40 no máximo 41 no mínimo Índice de Plasticidade 6 no máximo NP 10 no máximo 10 no máximo 11 no mínimo 11 no mínimo Tipos comuns de materiais constituintes significantes Fragmentos de pedra, pedregulho e areia Areia fina Silte ou pedregulho argiloso e areia Avaliação Excelente para bom FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 98) TABELA 11 – CLASSIFICAÇÃO DOS SILTES E ARGILAS SUBGRADUADOS DE ESTRADA Classificação geral Materiais silte e argila (mais de 35% da amostra total passam pela peneira de n° 200) Classificação de grupo A-4 A-5 A-6 A-7 A-7-5ª (IP≤LL-30) A-7-6º(IP>LL-30) Ensaio de peneiramento (porcentagem passante) N° 10 (2 mm) N° 40 (0,42 mm) N° 200 (0,075mm) Características de fração passante n° 40 36 no mínimo 36 no mínimo 36 no mínimo 36 no mínimo Limite de Liquidez 40 no máximo 41 no mínimo 40 no máximo 41 no mínimo Índice de Plasticidade 10 no máximo 10 no máximo 11 no mínimo 11 no mínimo Tipos comuns de materiais constituintes significantes Solos com silte Solos argilosos Avaliação Fraco para ruim FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 98) 104 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS FIGURA 20 – FAIXA DE LIMITE DE LIQUIDEZ E ÍNDICE DE PLASTICIDADE PARA SOLOS EM GRUPOS DE A-2, A-4, A-5, A-6, A-7 A-5A-2-5A-4A-2-4 L-[%] A-7-5 A-2-7 A-7-6 A-2-6 A-6 IP [%] 0 0 10 10 20 20 30 30 40 40 50 50 60 60 70 70 80 80 90 90 100 100 FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017, p. 99) A Figura 20 corresponde a um gráfico que avalia a faixa de limite de liquidez e índice de plasticidade para solos que estão no grupo A-2, A-4, A-5, A-6, A-7. O próximo passo é determinar o índice de grupo (IG), este é responsável pela análise da qualidade de um solo como subgraduado de estrada, e assim verificar se este possui capacidade suporte suficiente como terreno de fundação do pavimento. É determinado pela equação 16. 0,2 0,005 0,01IG a a c b d= × + × × + × × (16) Onde: a= Corresponde à porcentagem que passa na peneira n° 200 - 35 (%#200 - 35), caso a porcentagem que passa for maior que 75% adota-se a=40%, se for menor que 35% adota-se a=0; b= Corresponde à porcentagem que passa na peneira n° 200 – 15; se a % que passa for maior que 55% adota-se 40%, se for menor que 15% adota-se b=0; c= Valor de LL – 40; caso LL≥60% adota-se c=20, caso o LL < 40% adota-se c=0; d= Valor do IP – 10; se IP > 30% adota-se d=20, se IP <10% adota-se d=0. TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 105 Se a equação 16 fornece valores negativos de IG, deve-se considerar igual a zero. O índice de grupo de solos que pertence a A-1, A-2-4, A-2-5, A-3 é sempre 0. Geralmente o grau de desempenho de um solo com material subgraduado é inversamente proporcional ao índice de grupo. DICAS a) SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DO SOLO (SUCS) O Sistema Unificado de Classificação do Solo teve origem com estudos de Casagrande e atualmente é normatizado pela ASTM D-2487 e amplamente utilizado como classificação para os diferentes tipos de solo na engenharia geotécnica. A classificação consiste a partir de análises obtidas pela Curva Granulométrica e pelos Limites de Atterberg, defendidos por Casagrande (Limite de liquidez e plasticidade), ou seja, para termos ideia do comportamento real do solo, necessitamos da análise para solos grossos (granulometria) e a atividade de solos finos (como o índice de plasticidade para a determinação da atividade da argila). Com esses ensaios é possível determinar as seguintes informações necessárias neste sistema: a) Porcentagem de Pedregulhos (passante na peneira 76,2 mm e retido na de 4,75 mm); b) Porcentagem de areia (passante na de 4,75 mm e retido na 0,075mm); c) Porcentagem de silte e argila (passante na peneira de 0,075mm); d) Coeficiente de uniformidade (Cu) e coeficiente de curvatura (Cc); e) Limite de Liquidez e Plasticidade da fração do solo passante na peneira n° 40. O sistema divide-se em duas categorias, a principal e a complementar. A principal divide-se em solos arenosos ou pedregulho e argilosos a partir de símbolos, e a complementar define as condições dos grãos (bem graduado, mal graduado, plástico, não plástico e orgânico). A Tabela 12 corresponde aos símbolos utilizados neste sistema unificado. 106 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS TABELA 12 – TERMINOLOGIA DO SISTEMA UNIFICADO Grupo Principal G Pedregulho S Areia M Silte C Argila O Solo orgânico Grupo complementar W Bem graduado P Mal graduado H Alta plasticidade L Baixa plasticidade Pt Turfas FONTE: A autora Após os ensaios e com a curva granulométrica, limite de liquidez e limite de plasticidade realizados, chega-se à segunda etapa, em que se pode classificar o solo em duas categorias: a) Solos grossos: São solos que possuem a natureza de pedregulhos ou areias e o passante pela peneira de 0,075mm seja menor que 50% do solo. Classifica-se como G ou S. b) Solos finos: São solos que possuem mais que 50% passante na peneira de 0,075mm. Classifica-se como C, M, O ou Tf. A terceira etapa consiste em analisar a classificação empregada dependendo do grupo em que está o solo estudado. A Tabela 13 resume as nomenclaturas e análises deste método e a Figura 21 corresponde ao gráfico proposto por Casagrande para análise em solos finos com a nomenclatura SUCS. Neste gráfico, para a classificação do solo, basta plotar o par de valores IP e LL na carta de plasticidade. TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 107 FIGURA 21 – CARTA DE PLASTICIDADE SUCS 0 0 10 10 20 20 30 30 40 40 50 50 60 60 70 70 80 LL [%] IP [%] CL-ML ML ou OL CL ou OL MHou OH Lin ha A I P=0 ,73 (L L-2 0) Lin ha U IP =0, 9 ( LL -8) CH ou OH 90 100 FONTE: Das e Khaled (2017, p. 101) A norma D-2487 da ASTM criou um sistema mais detalhado para determinar os nomes de grupos aos solos. Este sistema está resumido a partir das Tabelas 14, 15 e 16. TABELA 13 – SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS (SUCS) – SIMPLIFICAÇÃO Critérios para atribuir símbolos aos grupos Símbolo Solos grossos Mais de 50% de material retido na peneira n° 200 Pedregulhos Mais de 50% da fração grossa retida na peneira n° 4 Pedregulhos puros Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ 3 GW Menos de 5% de finosa Cu < 4 e/ou 1> Cc > 3 GP Pedregulhos com finos IP < 4 ou representado abaixo da linha A GM Mais de 12% de finosa,c IP > 7 e representado acima ou na linha A GC Areias 50% ou mais da fração grossa passa pela peneira n° 4 Areias Puras Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 3 SW Menos de 5% de finosb Cu < 6 e/ou 1> Cc > 3 SP Areias com finos IP < 4 ou representado abaixo da linha A SM Mais de 12% de finosb,c IP > 7 e representadoacima ou na linha A SC 108 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS Solos Finos 50% ou mais do material passa pela peneira n° 200 Siltes e Argilas Limite de liquidez menor que 50 Inorgânicos IP > 7 e representado acima ou na linha Ad CL IP < 4 ou representado abaixo da linha Ad ML Orgânicos 0,75<Limite de liquidez - seco em estufa limite de liquidez - não foi seco ; zona OL OL Siltes e Argilas Limite de liquidez de 50 ou mais Inorgânicos IP representado acima ou na linha A CH IP representado abaixo da linha A MH Orgânicos 0,75<Limite de liquidez - seco em estufa limite de liquidez - não foi seco ; zona OH OH Solos altamente orgânicos Matéria essencialmente orgânica, de cor escura e odor orgânico Pt W – bem graduado; P – mal graduado; L – baixa plasticidade; H – alta plasticidade; S – areia; G – pedregulho; M – silte; C – argila aPedregulhos com 5 a 12% de finos exigem classificação com dois símbolos: GW-GM, GW-GC, GP-GM, GP-GC. bAreias com 5 a 12% de finos exigem classificação com dois símbolos: SW-SM, SW-SC, SP-SM, SP-SC. cSe 4 ≤ IP ≤ 7 e é representado na área hachurada da carta de plasticidade, use classificação com dois símbolos GC-GM ou SC-SM. dSe 4 ≤ IP ≤ 7 e é representado na área hachurada da carta de plasticidade, use classificação com dois símbolos CL-ML. FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017) TABELA 14 – CLASSIFICAÇÃO (SUCS) PARA SOLO COM PEDREGULHO E AREIA Símbolo do Grupo Nome do grupo GW <15% de areia Pedregulho bem graduado ≥15% de areia Pedregulho bem graduado com areia GP <15% de areia Pedregulho mal graduado ≥15% de areia Pedregulho mal graduado com areia GW-GM <15% de areia Areia bem graduada com silte ≥15% de areia Pedregulho bem graduado com silte e areia GW-GC <15% de areia Pedregulho bem graduado com argila (ou argila siltosa) ≥15% de areia Pedregulho bem graduado com argila e areia (ou areia e argila siltosa) GP-GM <15% de areia Pedregulho mal graduado com silte ≥15% de areia Pedregulho mal graduado com silte e areia GP-GC <15% de areia Pedregulho mal graduado com argila (ou argila siltosa) ≥15% de areia Pedregulho mal graduado com argila e areia (ou argila siltosa e areia) TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 109 GM <15% de areia Pedregulho siltoso ≥15% de areia Pedregulho siltoso com areia GC <15% de areia Pedregulho argiloso ≥15% de areia Pedregulho argiloso com areia GC-GM <15% de areia Pedregulho argilo-siltoso ≥15% de areia Pedregulho argilo-siltoso com areia SW <15% de pedregulho Areia bem graduada ≥15% de pedregulho Areia bem graduada com pedregulho SP <15% de pedregulho Areia mal graduada ≥15% de pedregulho Areia mal graduada com pedregulho SW-SM <15% de pedregulho Areia bem graduada com siltes ≥15% de pedregulho Areia bem graduada com silte e pedregulho SW-SC <15% de pedregulho Areia bem graduada com argila (ou argila siltosa) ≥15% de pedregulho Areia bem graduada com argila e pedregulho (ou argila siltosa e pedregulho) SP-SM <15% de pedregulho Areia mal graduada com silte ≥15% de pedregulho Areia mal graduada com silte e pedregulho SP-SC <15% de pedregulho Areia mal graduada com argila (ou argila siltosa) ≥15% de pedregulho Areia mal graduada com argila e pedregulho (ou argila siltosa e pedregulho) SM <15% de pedregulho Areia siltosa ≥15% de pedregulho Areia siltosa com pedregulho SC <15% de pedregulho Areia argilosa ≥15% de pedregulho Areia argilosa com pedregulho SC-SM <15% de pedregulho Areia argilo-siltosa ≥15% de pedregulho Areia argilo-siltosa com pedregulho FONTE: A autora, adaptado de Das e Khaled (2017) 110 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS TA B E LA 1 5 – N O M E S D E G R U P O S P A R A S O LO S C O M S IL T E E /O U A R G IL O SO S IN O R G Â N IC O S LL <5 0 In or gâ ni co s IP >7 e re pr es en ta do ac im a ou n a lin ha A C L <3 0% re tid o na n ° 20 0 <1 5% re tid o na n ° 2 00 A rg ila d e ba ix a pl as tic id ad e 15 % -2 9% re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho A rg ila d e ba ix a pl as tic id ad e co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho A rg ila d e ba ix a pl as tic id ad e co m pe dr eg ul ho ≥ 30 % re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% p ed re gu lh o A rg ila d e ba ix a pl as tic id ad e ar en os a ≥1 5% p ed re gu lh o A rg ila d e ba ix a pl as tic id ad e co m pe dr eg ul ho % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a A rg ila p ed re gu lh os a de b ai xa p la st ic id ad e ≥1 5% d e ar ei a A rg ila p ed re gu lh os a de b ai xa p la st ic id ad e co m a re ia 4≤ IP ≤7 e re pr es en ta do ac im a ou n a lin ha A C L- M L <3 0% re tid o na n ° 20 0 <1 5% re tid o na n ° 2 00 A rg ila s ilt os a 15 % -2 9% re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho A rg ila s ilt os a co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho A rg ila s ilt os a co m p ed re gu lh o ≥3 0% re tid o na n ° 20 0 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% p ed re gu lh o A rg ila s ilt o- ar en os a ≥1 5% p ed re gu lh o A rg ila s ilt o- ar en os a co m p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a A rg ila s ilt o- pe dr eg ul ho sa ≥1 5% d e ar ei a A rg ila s ilt o- pe dr eg ul ho sa c om a re ia IP <4 o u re pr es en ta do ab ai xo d a lin ha A M L <3 0% re tid o na n ° 20 0 <1 5% re tid o na n ° 2 00 Si lte 15 % -2 9% re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho Si lte c om a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho Si lte c om p ed re gu lh o ≥ 30 % re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% p ed re gu lh o Si lte a re no so ≥1 5% p ed re gu lh o Si lte a re no so c om p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a Si lte p ed re gu lh os o ≥1 5% d e ar ei a Si lte p ed re gu lh os o co m a re ia O rg ân ic os O L (ir p ar a Ta be la x) O L Ir n a ta be la x TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 111 In or gâ ni co s IP re pr es en ta do ac im a ou n a lin ha A <3 0% re tid o na n ° 20 0 <1 5% re tid o na n ° 2 00 A rg ila d e al ta p la st ic id ad e 15 % -2 9% re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho A rg ila d e al ta p la st ic id ad e co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho A rg ila d e al ta p la st ic id ad e co m p ed re gu lh o ≥ 30 % re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% p ed re gu lh o A rg ila a re no sa d e al ta p la st ic id ad e ≥1 5% p ed re gu lh o A rg ila a re no sa d e al ta p la st ic id ad e co m pe dr eg ul ho % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a A rg ila p ed re gu lh os a de a lta p la st ic id ad e ≥1 5% d e ar ei a A rg ila p ed re gu lh os a de a lta p la st ic id ad e co m a re ia IP re pr es en ta do ab ai xo d a lin ha A M H <3 0% re tid o na n ° 20 0 <1 5% re tid o na n ° 2 00 Si lte e lá st ic o 15 % -2 9% re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho Si lte e lá st ic o co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho Si lte e lá st ic o co m p ed re gu lh o ≥ 30 % re tid o na n° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% p ed re gu lh o Si lte e lá st ic o ar en os o ≥1 5% p ed re gu lh o Si lte e lá st ic o ar en os o co m p ed re gu lh o % ar ei a<% pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a Si lte e lá st ic o pe dr eg ul ho so ≥1 5% d e ar ei a Si lte e lá st ic o pe dr eg ul ho so c om a re ia O rg ân ic os O H (i r p ar a Ta be la x) O H Ir n a ta be la x FO N T E : A a u to ra , a d ap ta d o d e D as e K h al e d ( 2 0 17 ) 112 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS TA B E LA 1 6 – N O M E S D E G R U P O S P A R A S O LO S C O M S IL T E O R G Â N IC O E S O LO S A R G IL O SO S O L IP ≥4 e re pr es en ta do ac im a ou n a lin ha A <3 0% re tid o na n ° 2 00 <1 5% re tid o na n ° 2 00 A rg ila o rg ân ic a 15 -2 9% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a co m p ed re gu lh o ≥3 0% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% d e pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a ar en os a ≥1 5% d e pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a ar en os a co m p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa ≥1 5% d e ar ei a A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia IP <4 o u re pr es en ta do ab ai xo d a lin ha A <3 0% re tid o na n ° 2 00 <1 5% re tid o na n ° 2 00 Si lte o rg ân ic o 15 -2 9% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o co m p ed re gu lh o ≥3 0% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% d e pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o ar en os o ≥1 5% d e pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o ar en os o co m p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a Si lte o rg ân ic o pe dr eg ul ho so ≥1 5% d e ar ei a Si lte o rg ân ic o pe dr eg ul ho so c om a re ia C H Re pr es en ta do na o u ac im a da lin ha A <3 0% re tid o na n ° 2 00 <1 5% re tid o na n ° 2 00 A rg ila o rg ân ic a 15 -2 9% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a co m a re ia s % ar ei a< % pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a co m p ed re gu lh o ≥3 0% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% d e pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a ar en os a ≥1 5% d e pe dr eg ul ho A rg ila o rg ân ic a ar en os a co m p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa ≥1 5% d e ar ei a A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia Re gi st ro a ba ix o da li nh a A <3 0% re tid o na n ° 2 00 <1 5% re tid o na n ° 2 00 Si lte o rg ân ic o 15 -2 9% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o co m a re ia % ar ei a< % pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o co m p ed re gu lh o ≥3 0% re tid o na n ° 2 00 % ar ei a≥ % pe dr eg ul ho <1 5% d e pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o ar en os o ≥1 5% d e pe dr eg ul ho Si lte o rg ân ic o ar en os o co m p ed re gu lh o % ar ei a< % pe dr eg ul ho <1 5% d e ar ei a Si lte o rg ân ic o pe dr eg ul ho so ≥1 5% d e ar ei a Si lte o rg ân ic o pe dr eg ul ho so c om a re ia FO N T E : A a u to ra , a d ap ta d o d e D as e K h al e d ( 2 0 17 ) TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 113 b) CLASSIFICAÇÕES REGIONAIS Os sistemas mencionados de classificação são bastante utilizados, porém seu uso e estudo adequou-se a regiões temperizadas (utilização em solos transportados), e faz com que haja a necessidade de outras classificações para outras regiões. Em regiões tropicais, a maior parte dos solos, em função das suas características físico-químicas originárias do processo de formação, apresenta alta porosidade e grande sensibilidade das ligações cimentícias em presença de água, sobretudo quando estas correspondem a solos argilosos. A atuação diferenciada do intemperismo aliada aos aspectos geológicos, entre outros fatores, faz com que as propriedades desses solos apresentem uma grande variabilidade, por isso necessitam de estudos regionalizados. Os solos comuns nessas regiões são comumente conhecidos como saprolíticos (residuais) e lateríticos, o que foi explicado na Unidade 1 deste livro. Uma proposta de sistema de classificação dos solos tropicais é a defendida por Nogami e Villibor (1995) e (2009). Nesse sistema, os solos são classificados primeiramente em areias, siltes e argilas e secundariamente em lateríticos e saprolíticos. No Brasil também existe o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SIBCS). Este sistema é bastante detalhado e teve como objetivo definir um sistema hierárquico, multicategórico, que busca a adição de novas classes e que torne possível a classificação de todos os solos existentes no território nacional. 114 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS LEITURA COMPLEMENTAR PERFIS TÍPICOS DE SOLOS TROPICAIS NO BRASIL Paulo Burgos O Brasil é um país imenso, e por ser um País localizado em uma região tropical, apresentam-se perfis típicos de solos que permanecem na grande parte do tempo em um estado não saturado. Na parte costeira da região Nordeste (Figura 1), por exemplo, caracterizam-se por solos transportados, e o indicativo de cor avermelhada significa a composição de íons ferro-aluminosos, no entanto na parte inferior, o solo está na coloração esbranquiçada indicando material silicoso. A umidade para essa evolução vem, principalmente, da brisa soprada do mar. Além disso, observa-se que mesmo sendo um perfil de areia do mar, a região mais elevada topograficamente sofre menos erosão, e isto se deve à cimentação produzida pelos materiais ferro-aluminosos. FIGURA 1 – PERFIL COSTEIRO EM CANOA QUEBRADA, CEARÁ FONTE: W. Conciani apud Burgos (2015, p. 31) A Figura 2 corresponde a um perfil de solo típico da região centro oeste, este solo também denominado saprolítico de encosta. O material exposto é parte saprolítico e parte rocha alterada. TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 115 FIGURA 2 – PERFIL DE SOLO RESIDUAL DE ROCHA SEDIMENTAR, SALVADOR – BA FONTE: Moacyr Schwad apud Burgos (2015, p. 33) Na região Sudeste é comum perfis de solos residuais, a Figura 3 mostra um perfil de solo no Rio de Janeiro, às margens da BR 116. Este perfil representa um corte que mostra a estratificação do solo, em que no topo do perfil, o solo mais marrom, da camada superficial é considerado o mais maduro, e, em seguida com uma camada de transição, de cor mais clara, separada por uma linha roxa. O trecho mais baixo possui cor cinza claro, quase branco, e indica um acúmulo de material silicoso. FIGURA 3 – PERFIL DE SOLO SAPROLÍTICO EM PARATINGA MATO GROSSO FONTE: W. Conciani apud Burgos (2015, p. 33) 116 UNIDADE 2 | O ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS Devido às limitações dos procedimentos tradicionais de classificação no que se refere aos solos tropicais, os ensaios tradicionais explicados nesta apostila muitas vezes não caracterizam o solo tropical de forma correta, por exemplo, não se consegue analisar se o solo possui características lateríticas e expansibilidade. Assim uma metodologia recomendada para solos tropicais foi apresentada por Nogami e Villibor (1995) e (2009) conhecida como a Classificação Geotécnica M.C.T (Miniatura, Compactado, Tropical), esses autores analisaram que alguns solos com mesmas características de limite de liquidez e limite de plasticidade, possuíam grau deexpansibilidade diferenciados entre eles. A classificação MCT pelo método das pastilhas por Nogami e Villibor (1995) constitui-se que a partir de dados de penetração (mm) e contração diametral (mm) obtém-se o grupo ao qual o solo pertence. A Figura 4 mostra uma das cartas para identificação do solo. FIGURA 4 – CARTA DE CLASSIFICAÇÃO DO MÉTODO DAS PASTILHAS NS'-NG'NS'/NA'NS'-NA'NA-NS' NA LA LG'LA'-LG'LA'LA-LA' Pe ne tr aç ão (m m ) Coeficiente c' 1,71,30,90,50,2 5 4 3 2 1 0 0,15 0,22 0,55 0,9 1,4 Contração diametral (mm) FONTE: Nogami e Villibor (1995) A Figura 4 indica três grupos correspondentes aos solos de comportamento lateríticos – L (LA, LA’ e LG’) e os quatro grupos de solos de comportamento saprolítico – N (NA, NA’NS’ e NG’). Os solos lateríticos subdivididos com a letra L são classificados em areia lateríticas quartzosa (LA), solo arenoso lateríticos (LA’), solo argiloso lateríticos (LG’). Os solos de comportamento não lateríticos (saprolítico), designados pela letra N, são subdivididos em: areias, siltes e misturas de siltes com predominância de grão de quartzo e/ou mica, não laterítico (NA); misturas de areias quartzosas com finos de comportamento não lateríticos, solo arenoso (NA’); solo siltoso não lateríticos (NS’) e solo argiloso não lateríticos (NG’). TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 117 Nogami e Villibor (2009) aperfeiçoou o método e com a adição de duas técnicas: ensaio de perda de massa por imersão em água e ensaio de compactação mini-M.C.V, pode-se utilizar a carta de classificação disposta na Figura 5. FIGURA 5 – CLASSIFICAÇÃO MCT A PARTIR DE ENSAIOS DE IMERSÃO E M.C.V L = LATERÍTICO N = NÃO LATERÍTICO A = AREIA A' = ARENOSO G' = ARGILOSO S' = SILTOSO Ín di ce e ' Coeficiente e' NA NS' NG'NA' LA LX' LG' 1,700,700,450,27 1,75 1,40 1,15 3,02,52,0 2,0 1,5 1,5 1,0 1,0 0,7 0,5 0,5 00 FONTE: Nogami e Villibor (2009) A nova classificação MCT foi elaborada a partir dos coeficientes c’ ( eixo das abscissas) e e’ (eixo das ordenadas), esses valores são retirados das técnicas do ensaio mini MCV e da perda de massa por imersão. FONTE: <https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/livros/Solos_nao_saturados_no_ contexto_geotecnico_2015.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2019. 118 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • É possível classificar o tipo de solo pelo sistema Trilinear: esta classificação necessita apenas da curva granulométrica. • A classificação do tipo de solo pelo sistema rodoviário, que é bastante utilizado na engenharia rodoviária, necessita da curva granulométrica e os índices de Atterberg. • O sistema Unificado é amplamente utilizado e necessita de dados da curva granulométrica e índices de Atterberg. • Essas classificações são insuficientes quando lidamos com solos de regiões não intemperada, como é o caso dos solos tropicais, para isso temos ensaios como MCT e SIBCS. A Figura 22 corresponde ao resumo do tópico estudado. FIGURA 22 – RESUMO DO TÓPICO ESTUDADO Classificação dos solos Sistema Trilinear (USDA) Departamento de Agricultura dos USA Sistema de Classificação (AASHTO) ASTM D-3282 Sistema Unificado de Classificação do solo (SUCS) ASTM D-2487 Classificação Regional MCT; SIBCS FONTE: A autora 119 1) Na figura a seguir estão as curvas granulométricas de diversos solos, cujos índices de consistência estão indicados no quadro a seguir. Determine a classificação de oito desses solos pelos métodos SUCS e AASHTO. Para os solos argilosos, determine os índices de atividade da argila e para os solos arenosos, os índices de consistência (adaptado de PINTO, 2006, p. 75). AUTOATIVIDADE QUADRO 1 – CURVAS GRANULOMÉTRICAS Solo Descrição do solo LL IP A Argila orgânica de Santos 120 75 B Argila porosa laterítica 80 35 C Solo residual de basalto 70 42 D Solo residual de granito 55 25 E Areia variegada de São Paulo 38 20 F Solo residual de arenito 32 12 G Solo residual de migmatito 44 18 H Solo estabilizado para pavimentação 24 3 I Areia fluvial fina NP NP J Areia fluvial média 1 NP NP K Areia fluvial média 2 NP NP Peneira #200 Diâmetro dos grãos (mm) Po rc en ta ge m p as sa da 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (k)(i) (i) 1010,10,010,001 (a) 120 121 UNIDADE 3 INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir os conceitos de tensões no solo; • entender a influência da permeabilidade e percolação da água no solo; • entender e diferenciar os ensaios geotécnicos para cada condição do solo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO TÓPICO 2 – PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 122 123 TÓPICO 1 INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Na Engenharia Civil lidamos com infraestrutura, seja ela para construir fundações, aterros ou propor melhorias nas condições do solo. Assim, tudo o que está acima do solo e o próprio depósito geram tensões sobre a partícula, pois o solo funcionará como suporte para distribuir e dissipar as tensões até a uma certa profundidade. Para a assimilação do comportamento do solo em frente às cargas em que este é solicitado, o entendimento das tensões dissipadas na estrutura do solo se faz necessário para iniciarmos os estudos e para termos a capacidade de compreender como a estrutura reage em diferentes composições e solicitações. Além disso, é conveniente entendermos as tensões que são causadas pelo peso próprio e pela água. Para os alunos de graduação, os conceitos mais utilizados são os princípios de Terzaghi (1963). Estes definem que a estrutura do solo – e a consequente saída de água – é a responsável pela deformação, na interpartícula. Assim, determinada como tensão efetiva, esta é a tensão total aplicada ao solo menos a poropressão, embasado em um fenômeno teste. A estrutura solo-água-ar é capaz de se deformar quando existe exposição de diversas solicitações, desse modo, para compreendermos o comportamento dessa estrutura é importante conhecermos as tensões que atuam no solo. Vamos começar? UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 124 2 CONCEITO DE TENSÕES O conceito de tensão no solo, segundo Pinto (2006), inicia-se no momento em que tratamos o meio solo constituído de partícula (solo), água e ar, desse modo, as forças fornecidas a eles são transmitidas de grão em grão, além das que são suportadas pela água dos vazios. O princípio de tensão parte da fórmula básica (1), em que a tensão é força aplicada sobre uma área qualquer. σ F = A (1) Ao aplicar essa força ela exerce uma transmissão, podendo comprimir o material, e este material pode conseguir suportar essa carga ou não. No caso do solo, pode haver compressão e, assim, reduzir os vazios e mobilizar os grãos. A Figura 1 serve para exemplificar o comportamento de um sistema antes da aplicação de uma carga e após aplicação da carga (com variação de volume). FIGURA 1 – COMPORTAMENTO DE UM SISTEMA ANTES DA APLICAÇÃO E DEPOIS COM APLICAÇÃO DE CARGA E VARIAÇÃO VOLUMÉTRICA FONTE: A autora Quando se começa a analisar a aplicação de força sobre o solo, verifica- se que as forças são transmitidas de partícula a partícula, e esta transmissão é bastante complexa, porque depende do tipo de mineral de que aquele solo é composto. Para solos arenosos (areia e siltes), em que o diâmetro do grão na grande maioria é considerado grande (maiores que 0,072 mm), a transferência se faz pelo contato direto do grão. Para solos tidos como argila (grãos menores que 0,072 mm), as forças de cada contato são muito pequenas e a transmissão pode ocorrer por água adsorvida. Segundo Pinto (2006, p. 96), a transmissão ocorre nos contatos, e, portanto, em áreas muito reduzidas em relaçãoà área total cercada. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 125 A Figura 2 corresponde à exemplifi cação de que a transmissão de carga depende do tipo de mineral. Percebe-se a magnitude entre solos arenosos (não coesivos) e solos argilosos (coesivos). FIGURA 2 – COMPORTAMENTO DAS TENSÕES EM RELAÇÃO AO TIPO DE SOLO σ = F/A Solos coesivos - solos argilosos Depende do material Solos não coesivos - arenosos FONTE: A autora Para exemplifi car, e entender o comportamento, Pinto (2006, p. 95) utilizou um corte de um solo e ampliou em escala (Figura 3) com uma placa; com isto, foi possível analisar as tensões envolvidas de grão em grão. FIGURA 3 – CONCEITO DE TENSÕES APLICADO NO SOLO FONTE: Adaptado de Pinto (2006) UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 126 Ao analisar a Figura 3, percebe-se que os grãos transmitem forças à placa, estas forças podem ser decompostas em tangenciais e normais à placa. Como é difícil desenvolver modelos matemáticos com base nas inúmeras forças, a sua ação é substituída pelo conceito de tensões. Desse modo, a somatória das componentes normais ao plano, dividida pela área total que abrange as partículas em que os contatos ocorrem, é definida por tensão normal, dada pela equação 2. σ ∑N= área (2) No entanto, a somatória das forças tangenciais, dividida pela área, refere- se como tensão cisalhante, que é demonstrada pela equação (3). τ ∑ N = área (3) Ao analisar as tensões cisalhantes no solo, estas são anuladas pelo conjunto de tensão em vários sentidos. Desse modo, o conceito de tensão apresentado conduz ao conceito de tensão do meio contínuo, assim não está cogitando se um ponto no sistema está ocupado por vazio ou solo. Assim, o que será mostrado são as tensões atuantes em planos horizontais no interior do subsolo (PINTO, 2006, p. 96). 3 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO SECA OU NATURAL As tensões no solo são causadas por dois fatores: peso próprio do solo e cargas externas. No entanto, a principal tensão no solo é o próprio peso do solo, por isso merece ser estudado e entendido para posterior análise com carga externa. Para entendermos o conceito das tensões normais no solo, utilizamos um perfil de solo. A Figura 4 corresponde a um perfil qualquer, e, ao seu lado, as componentes x (largura), y (comprimento) e h (altura da camada de solo), para iniciarmos nossas análises. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 127 FIGURA 4 – PERFIL DE SOLO x y h FONTE: A autora, adaptado de <https://binged.it/2E6jLS1>. Sabemos que a defi nição de tensões normais é dada pela equação (2). Como, para este caso, o solo encontra-se na condição seca, e sabe-se que a principal causadora de tensão é o próprio peso do solo, desse modo substituiremos na equação (2), na força normal, o peso próprio do solo, e assim se defi ne a nova fórmula (3): σ ∑N= área (3) Onde: W é o peso próprio da coluna analisada, Área é a área da base da Figura 4. O peso próprio do solo é defi nido pela equação (4), que corresponde ao peso específi co do solo pelo volume analisado: W = γ × x × y × h (4) Substituindo a equação (3) na (4), temos: σ ã × x × y × h = x × y (5)γ UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 128 Desse modo surge a definição de tensão normal do solo, finalizada pela equação (6). σ = γnatural×h (6) Onde: γ é o peso específico do solo natural ou seco. Desse modo, o peso de um prisma de terra corresponde às tensões verticais em dado ponto. Quando o solo é constituído de camadas aproximadamente horizontais, a tensão vertical resulta no somatório do efeito das diversas camadas (PINTO, 2006, p. 97). Vamos fazer um exemplo? A Figura 5 corresponde a um solo sem nível de água, na condição seca, este solo é estratificado com dois tipos diferentes, mostrados abaixo: FIGURA 5 – TENSÕES TOTAIS VERTICAIS: SOLO SEM NÍVEL DE ÁGUA z = 2 m z = 2 m γ = 15 kN/m3 γ = 20 kN/m3 Solo b Solo a FONTE: A autora FONTE: A autora Para resolução, a tensão é o próprio peso do solo, assim, ao utilizar a equação 6, temos o comportamento do solo, e suas respectivas tensões aumentando com a profundidade (Figura 6). FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES CONFORME PROFUNDIDADE σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2 σ 2 = 40 kN/m2 σ 0 = 0 kN/m2 TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 129 4 TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO: CONDIÇÃO GEOSTÁTICA COM ÁGUA Até aqui analisou-se o comportamento do solo em seu estado seco ou natural. No entanto, quando adicionamos a água no solo (em seu estado geostático), automaticamente mobilizará a formação da pressão neutra e a efetiva. 4.1 PRESSÃO NEUTRA Para entendermos o significado de pressão neutra, iremos analisar inicialmente um perfil de solo, porém com identificação do nível de água. A Figura 7 corresponde a um perfil de solo, e nele indica-se uma região de surgência de água, mostrando, portanto, o possível nível do lençol freático, ao lado, temos a representação tridimensional da camada de água. Ao analisar a Figura 7 percebe-se que a tensão causada pela coluna de água (Na) é resultante do peso específico da água em relação ao volume total, desse modo, chega-se à equação (7): µ = γágua× h (7) Onde: h corresponde à altura de coluna de água. FIGURA 7 – PERFIL DE SOLO COM CONSIDERAÇÃO DO NÍVEL DE ÁGUA Poropressão Pressão neutra Água no solo x y z Na FONTE: A autora UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 130 Assim, com a consideração da água da poropressão, ou pressão neutra, é adicionada às tensões totais a tensão neutra. Pode-se, portanto, considerar no local em que o nível de água é admitido, o peso específico saturado do solo, conforme equação (8). Por fim, a tensão total do solo pode ser determinada pela coluna de solo seco mais a coluna de água existente neste perfil (9). σ = γ saturado × z (8) σ = γseco× h + γágua × z (9) A água no interior dos vazios, abaixo do nível d’água, estará sob uma pressão que independe da porosidade do solo; depende só de sua profundidade em relação ao nível do lençol freático. Assim, a tensão total do solo é aquela que corresponde a todas as pressões solicitantes em relação a um ponto (PINTO, 2006, p. 98). 4.2 TENSÕES EFETIVAS: DEFINIÇÕES DE TERZAGHI Diante da existência das forças atuantes, Terzaghi constatou as tensões efetivas no solo que são as responsáveis pela efetividade da deformação do solo. Este fato deve-se aos efeitos mensuráveis resultantes de variações no solo, como compressão, distorção e resistência ao cisalhamento (PINTO, 2006, p. 98). Nos solos, as deformações correspondem a variações de forma ou de volume do conjunto, resultantes do deslocamento relativo de partículas. A compressão das partículas, individualmente, é totalmente desprezível perante as deformações decorrentes dos deslocamentos das partículas, umas em relação às outras. Por esta razão, entende-se que as deformações nos solos sejam devidas somente a variações das tensões efetivas, que correspondem à parcela das tensões referente às forças transmitidas pelas partículas (grão a grão) (PINTO, 2006, p. 99). As tensões efetivas são aquelas que efetivamente deformam o solo. Pode- se perceber como exemplo a Figura 8, neste perfil de solo há a existência de água. O princípio das tensões efetivas defendidas por Terzaghi mostra que mesmo com os vazios preenchidos por água, a coluna de água aumenta as tensões totais no solo, porém as forças transmitidas nos contatos entre grãos não se alteram, desse modo, não deformam o solo, dando sentido ao nome de pressão neutra, ou seja, a pressão neutra reflete o sentido de inexistência de qualquer efeito mecânico. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 131 FIGURA 8 – CONTATO ENTRE GRÃOS COM ÁGUA FONTE: Adaptado de Pinto (2006) Ao analisar a Figura 8, o acréscimo de água só aumenta as tensões totais no solo, porém as tensões transmitidas nos grãos não se alteram em relação à condição seca ou úmida. Assim, a tensão efetiva é dada pela diferença entre tensãototal e pressão neutra (10): σ' = σt - µ (10) Na Figura 8, só haverá aumento das tensões efetivas caso haja aumento das tensões totais (acréscimo de uma camada de solo ou uma carga distribuída), para assim possibilitar o movimento relativo dos grãos. Para melhor entendimento do conceito de tensões efetivas, temos o exemplo do livro de Pinto (2006, p. 99). A Figura 9 corresponde a três etapas a serem analisadas sobre o comportamento de uma esponja. A etapa (a) corresponde a uma esponja em repouso com o nível de água elevado, percebe-se que esta permanece intacta, porém a partir do momento em que se aplica uma carga, haverá uma deformação (etapa b). Assim, para entendermos o conceito de tensão efetiva, adiciona-se água em uma quantidade que equivale ao peso de carga aplicado; percebe-se, portanto, que na etapa (c), com elevação de água, não há deformação da esponja, ou seja, de forma análoga ao solo, a pressão neutra não participa da deformação das partículas. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 132 FIGURA 9 – SIMULAÇÃO DO CONCEITO DE TENSÃO EFETIVA FONTE: Adaptado de Pinto (2006) Para um melhor entendimento, vamos fazer um exemplo? Determinaremos as tensões totais, neutras e efetivas do perfi l da Figura 10. FIGURA 10 – PERFIL DE SOLO ESTRATIFICADO COM NÍVEL DE ÁGUA z = 2 m z = 2 m γsat = 15 kN/m3 γsat = 20 kN/m3 Solo b Solo a Na FONTE: A autora FONTE: A autora σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2 σ 2 = 40 kN/m2 σ 0 = 0 kN/m2 As tensões totais são encontradas pela equação (8), desse modo, a Figura 11 corresponde às tensões totais nas profundidades. FIGURA 11 – TENSÕES TOTAIS POR PROFUNDIDADE TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 133 Sabemos que a tensão efetiva corresponde à tensão total menos a poropressão, assim, a Figura 12 representa o comportamento do solo em termos de tensões totais (8), efetivas (9) e neutras (7). FIGURA 12 – DIAGRAMA DE TENSÕES TOTAIS, EFETIVAS E NEUTRAS σ 4 = 40 + 30 = 70 kN/m2 50 kN/m2u = 20 kN/m2 σ 2 = 40 kN/m2 σ 0 = 0 kN/m2 FONTE: A autora Outra forma de encontrar a tensão efetiva é através do peso específico submerso, que relaciona com o empuxo que as partículas sofrem, dessa forma, a tensão efetiva pode ser determinada pela equação (10). σ' = (γsat - γW) × Z (10) 5 CAPILARIDADE NO SOLO A água tem uma característica diferenciada quando está na superfície em contato com o ar, diferentemente do que ocorre no interior do fluido, onde as moléculas estão envoltas por outras moléculas de água em todas as direções. A Figura 13 ilustra este fato: na superfície, as distribuições de tensões acontecem de forma desigual com relação à molécula no interior da água. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 134 FIGURA 13 – COMPORTAMENTO DA ÁGUA NO INTERIOR E DENTRO DO FLUIDO FONTE: A autora Na superfície, a água gera uma tensão superficial que pode corresponder a um efeito de membrana. Quando a água fica em contato com um corpo sólido, tende a formar uma curvatura, e esta curvatura depende do tipo de material. Quanto maior a curvatura, maior a diferença entre as pressões internas e externas (Figura 14). FIGURA 14 – EQUILÍBRIO DE TENSÕES T T σi σe FONTE: Pinto (2006, p. 102) As tensões que são geradas (tensões internas e externas) acabam por ser equilibradas pela resultante da tensão superficial (T). Esse exemplo, na realidade, faz com que em solos a água tenda a se elevar até uma certa altura acima do nível de água, ou seja, uma altura capilar. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 135 Na Figura 15 pode-se perceber esse fenômeno de capilaridade, os pontos A e D correspondem a pressões iguais à atmosférica; no ponto B as tensões são definidas pelo valor da pressão atmosférica mais o peso específico da água vezes a altura em relação à superfície; no entanto, o ponto D corresponde a uma elevação da água, ou seja, a pressão atuante nesse ponto corresponde à pressão atmosférica menos a coluna de água vezes o peso específico; já o ponto F corresponde à pressão atmosférica. Os pontos E e F correspondem às tensões internas e externas, respectivamente, assim: Percebe-se, portanto, que as tensões no ponto E são negativas, e a diferença de pressão entre os pontos E e F é suportada pela tensão superficial da água. ATENCAO FIGURA 15 – EFEITO DA CAPILARIDADE hhc.γw hc F E A B D C u FONTE: Pinto (2006, p. 103) Nos solos, essas tensões negativas ocorrem, pois, os vazios funcionam como canais que auxiliam como tubos, fazendo a água se elevar. Desse modo, para uma análise mais verídica, a capilaridade deve ser considerada nas análises de engenharia. Esses esforços negativos acontecem sempre acima do lençol freático, ou seja, nesse caso a pressão neutra é negativa. Com a pressão neutra negativa, a tensão efetiva aumentará, assim, possivelmente aumentando a resistência do solo. A equação 11 corresponde à tensão efetiva considerando a poropressão negativa. σ' = σt - (-u) (11) UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 136 Segundo Pinto (2006), a altura de elevação da água depende do tipo de solo, solos pedregulhosos tendem a elevar-se em poucos centímetros; solos arenosos, de 1 a 2 metros; de 3 a 4 metros para siltes, e maiores que 5 metros para argilas. Em termos de mecânica dos solos, quando analisamos um perfil de solo, a situação da água acima do lençol freático dependerá da evolução anterior do nível do lençol freático. De qualquer forma, existirá uma faixa de solo, correspondente a uma certa altura, em que a água dos vazios estará em contato com o lençol freático e sua pressão negativa será determinada pela cota em relação ao nível d’água livre. Eventualmente, acima dela, ocorrerá água nos vazios, alojada nos contatos entre partículas, mas isolada do lençol, para isso chamamos de meniscos capilares (PINTO, 2006, p. 106). Para ilustrar, a Figura 16 corresponde às condições definidas em um perfil de solo. O solo não saturado (com efeitos dos meniscos capilares e da franja capilar) e o solo saturado, quando os vazios estão totalmente preenchidos por água. FIGURA 16 – VISUALIZAÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS MOSTRANDO O PAPEL DA CONDIÇÃO DE FLUXO DE ÁGUA Poropressão de ar Fluxo descendente Tensão total Hidrostático Poropressão d'água positiva Solo Saturado Solo não Saturado N.A Franja capilar Poropressão d'água negativa Fluxo ascendente EvapotranspiraçãoEvaporação Efeito dos meniscos capilares Efeito da capilaridade Solo condição saturada FONTE: Adaptado de Fredlund (1996). TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS TENSÕES NO SOLO 137 Os meniscos capilares evidenciam a poropressão negativa entre as partículas, ou seja: a água encontra-se em uma pressão abaixo da atmosférica. O aumento da tensão superficial da água (T) faz surgir uma força P que tem a capacidade de aproximar grãos de solo. Desse modo, como sabemos, há o aumento da tensão efetiva que confere uma coesão aparente, pois não permanece se o solo saturar ou secar (PINTO, 2006, p. 106). E como ficaria a análise de tensões da Figura 10 com a consideração do efeito da capilaridade? A Figura 17 corresponde ao diagrama das tensões no solo considerando o efeito da capilaridade de forma simplificada. Percebe-se que acima do nível da água a poropressão é negativa até a superfície, com isso há um aumento da tensão efetiva do solo, esse promove uma coesão aparente do solo, também conhecida como sucção. FIGURA 17 – CONSIDERAÇÃO DA POROPRESSÃO NEGATIVA DEVIDO À CAPILARIDADE z = 2 m z = 7 m z = 0 m σ 2 = 40 kN/m2 u = -20 kN/m2 u = 20 kN/m2 σ' = 20 kN/m2 σ' = 50 kN/m2 σ 0 = 0 kN/m2 σ3 = 70 kN/m2 FONTE: A autora Para um melhor aprendizado, a Figura 18 corresponde a um perfil de solo. Neste solo foram determinadas características básicas como umidade, saturação e pesos específicos. Foi comprovado que existe uma franja capilar de aproximadamente 1 metro com relação ao nível de água. Desse modo, verificaremos as tensões em cada ponto do perfil (A, B, C e D). UNIDADE 3 | INTRODUÇÃOÀ MECÂNICA DOS SOLOS 138 FIGURA 18 – PERFIL DE SOLO PARA ANÁLISE CONSIDERANDO A CAPILARIDADE 1 m 2 m 2 m 2 m S = 40% γd = 11 kN/m3 γsat = 15 kN/m3 S = 100% γd = 12 kN/m3 γsat = 17 kN/m3 Yn = ? u = ? Na W = 33% A C B D E Silte Argila FONTE: A autora Primeiramente define-se o peso específico natural entre os pontos A e B: γnA-B = γd × (1 + w) = 12 × (1 + 0,33) = 15,96 kN/m3 (12) A poropressão e o peso específico natural entre os pontos B e C são definidos a partir da equação (13). wγ× × × ×u = -S h = -0,4 1 10 = -4kN / m³ (13) O Peso específico natural entre os pontos B e C é definido com uma simples regra de 3, conforme equação 14. γnB-C = (γsat - γd) × S + γd = (17 - 12) × 0,4 +12 = 14kN/m3 (14) A Tabela 1 corresponde aos valores de poropressões, tensões efetivas e totais em cada ponto. TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES AO LONGO DA PROFUNDIDADE Pontos Tensão total (kN/m³) Poropressão (kN/m³) Tensão efetiva (kN/ m³) A 0 0 0 B sem capilaridade 31,92 0 31,92 B com capilaridade 31,92 -4 35,92 C 45,92 0 45,92 D 79,92 20 59,92 E 109,92 40 69,92 FONTE: O autor 139 Neste tópico, você aprendeu que: • As principais tensões que atuam no solo são o próprio peso do solo e qualquer carregamento externo aplicado. • As tensões totais são definidas a partir do peso específico saturado do solo vezes a profundidade em relação a um ponto. • As tensões efetivas são as pressões que efetivamente deformam o solo, ou seja, as que correspondem unicamente ao contato de grãos, desse modo corresponde à tensão total menos a poropressão (pois água não deforma solo). • A poropressão corresponde à coluna de água abaixo do nível de água, assim, é o peso específico da água vezes a profundidade de análise. • O efeito da capilaridade mostra que a água tem capacidade de elevar-se pelos vazios, devido às tensões superficiais, esse efeito forma-se poropressões negativas e causa uma coesão aparente. A Figura 19 corresponde ao resumo do tópico estudado. RESUMO DO TÓPICO 1 FIGURA 19 – RESUMO DOS TÓPICOS ESTUDADOS Tensão total Tensão efetiva Poropressão Efeito da capilaridade Introdução às tensões no solo FONTE: A autora 140 1 (Adaptado de DAS e KHALED, 2017) A tensão total provocada pela água nos vazios, chamada de poropressão, em qualquer ponto dentro da massa de solo saturada, age: a) ( ) Na direção vertical. b) ( ) Na direção horizontal. c) ( ) Com intensidade desigual em todas as direções. d) ( ) Com intensidade igual em todas as direções. e) ( ) Apenas em uma direção e sentido. 2 A poropressão nos vazios de uma massa de solo é chamada de: a) ( ) Tensão neutra. b) ( ) Tensão efetiva. c) ( ) Tensão vertical. d) ( ) Tensão total. e) ( ) Capilaridade. 3 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) A soma das componentes verticais das forças desenvolvidas em pontos de contato das partículas sólidas por área transversal seccional da massa de solo é chamada de: a) ( ) Tensão vertical. b) ( ) Tensão total. c) ( ) Tensão efetiva. d) ( ) Tensão neutra. e) ( ) Força de percolação. 4 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) O princípio de tensão efetiva para solos saturados fornece uma expressão que envolve a tensão total (σt), a tensão efetiva (σ') e a poropressão (µ), que é determinada pela equação: a) ( ) σt = σ' + µ. b) ( ) σ'= σt + µ. c) ( ) µ = σt - σ'. d) ( ) σt = σ' × µ. e) ( ) nenhuma das alternativas acima. 5 Qual das seguintes tensões não pode ser determinada experimentalmente em laboratório e em campo? a) ( ) Tensão total. b) ( ) Poropressão. c) ( ) Tensão efetiva. AUTOATIVIDADE 141 d) ( ) Poropressão negativa. e) ( ) Todas as alternativas acima. 6 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) Qual dos seguintes itens depende muito da tensão efetiva? a) ( ) Compressibilidade do solo. b) ( ) Resistência do solo. c) ( ) Propriedades índice do solo. d) ( ) (a) e (b). e) ( ) (a), (b) e (c). 7 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) O aumento do nível de água quando ocorre acima do nível do terreno causa: a) ( ) Nenhuma mudança na tensão total e poropressão em qualquer ponto abaixo do nível do terreno. b) ( ) Nenhuma mudança na tensão efetiva em qualquer ponto abaixo do nível do terreno. c) ( ) Aumento ou diminuição por igual na tensão total e poropressão em qualquer ponto abaixo do nível do terreno. d) ( ) (b) e (c). e) ( ) (a), (b) e (c). 8 Se o lençol freático coincidir com o nível do terreno e o peso específico saturado do solo for de 19 kN/m3, a tensão efetiva a uma profundidade de 4 m abaixo do nível do terreno será de aproximadamente: a) ( ) 19 kN/m2. b) ( ) 36 kN/m2. c) ( ) 76 kN/m². d) ( ) 30 kN/m². e) ( ) Nenhuma das alternativas. 9 Na Questão 8, a poropressão a uma profundidade de 3 m abaixo do nível de superfície será de aproximadamente: a) ( ) 10 kN/m2. b) ( ) 19 kN/m2. c) ( ) 30 kN/m2. d) ( ) 57 kN/m2. e) ( ) 60 kN/m². 142 10 (Adaptado de DAS; KHALED, 2017) Se o lençol freático permanecer abaixo do nível do terreno, a tensão efetiva em qualquer ponto abaixo do lençol freático: a) ( ) Aumenta com o aumento do lençol freático. b) ( ) Diminui com o aumento do lençol freático. c) ( ) Tende a ser zero com o aumento do lençol freático. d) ( ) Permanece constante com o aumento ou a queda do lençol freático. e) ( ) Nenhuma das alternativas. 143 TÓPICO 2 PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO No tópico 1 estudamos sobre as tensões existentes em um perfil de solo, em que a condição definida é a geostática, ou seja, não há fluxo de água. Na engenharia de barragens, rebaixamento e drenagens existe o fluxo de água e, quando há fluxo, as tensões efetivas e neutras são modificadas. Este fato mostra a necessidade de também estudarmos questões em relação à permeabilidade do solo e migração da água e as tensões por ela provocadas. Segundo Pinto (2006), estudar e entender o comportamento da percolação é essencial, pois esta intervém em um grande número de problemas práticos na engenharia, que são: verificação da vazão de infiltração em escavações, análise de recalques, estudos de estabilidade etc. Devido a toda essa importância, este tópico abordará sobre a permeabilidade do solo, utilizando para efeitos didáticos um permeâmetro, e a partir disso, uma explicação sobre os coeficientes de permeabilidade para cada tipo de solo, analisaremos a velocidade de descarga e real da água, conceitos de cargas hidráulicas, forças de percolação, gradiente crítico e as tensões no solo submetido à percolação. Vamos começar? 2 ÁGUA NO SOLO SEM FLUXO Para entendermos o comportamento da água no solo com fluxo e sem fluxo, utilizaremos como exemplo um permeâmetro. O permeâmetro serve de introdução ao entendimento do comportamento da água ao passar pelos vazios do solo e se adéqua como um modelo do fluxo d’água em problemas reais de engenharia. Inicialmente, vamos observar um permeâmetro sem fluxo e as tensões que nele ocorrem. A Figura 20 corresponde a um permeâmetro onde não há deslocamento de água, pois a bureta que o alimenta está no mesmo nível de saída da água, ou seja, na mesma cota. 144 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS FIGURA 20 – PERMEÂMETRO SEM FLUXO DE ÁGUA L Comprimento de solo z Coluna d'água Bureta FONTE: A autora Ao analisar a Figura 20, verifica-se as mesmas condições de tensões no solo no estado geostático. Dessa forma, a Figura 21 representa o gráfico do comportamento das tensões no solo com o aumento da profundidade. FIGURA 21 – TENSÕES ATUANTES NO SOLO NA CONDIÇÃO GEOSTÁTICA σef = ( z × γw + L × γ sat) - ( z + L) × γw σef = L × (γ sat - γW) σef = z × γw + L × γ sat - zγW - LγW σ, u σtotal σtotal σef σef u L z z • c • b • a Referencial Peneira FONTE: A autora TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 145 FONTE: A autora As tensões efetivas, na condição sem fluxo, são, portanto, a diferença entre a tensão total pela poropressão,a pressão neutra é a coluna de água no ponto analisado vezes o peso específico da água, e, por fim, a tensão total do solo é o somatório da pressão neutra atuante mais a efetiva do solo. E quando há fluxo? Quais os valores de tensão total, tensão efetiva e poropressão? 3 ÁGUA NO SOLO COM FLUXO: LEI DE DARCY Quando analisamos um solo em que há contínua alimentação, e assim, em termos de permeâmetro, uma adição de uma coluna de água acima do nível de saída da água, existirá um fluxo. Desse modo, as tensões efetivas e neutras do solo apresentam um comportamento diferenciado em relação ao estado geostático. A Figura 22 representa um permeâmetro onde há fluxo de água, neste exemplo existe uma coluna de água acima do nível de saída (h), que corresponde que há deslocamento de fluido. FIGURA 22 – PERMEÂMETRO COM FLUXO L h z Referencial Peneira Permeâmetro COM fluxo Saída de água Entrada de água • c • b • a 146 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS A dinâmica da análise do comportamento do solo com deslocamento de água vem dos princípios básicos de Darcy (1850). Os princípios de Darcy mostram que a vazão que entra é igual à vazão que sai e o que varia é a velocidade de entrada e saída da água no solo. Além disso, ele concluiu que os fatores geométricos influenciam a vazão da água e a velocidade. Assim, Darcy (1850) determinou a equação 15. h Q =k × ×A L (15) Onde: k é o coeficiente de permeabilidade; A é a área do permeâmetro; Q a vazão do solo; h é a carga que dissipa; L é o comprimento do solo. FIGURA 23 – DEFINIÇÃO DA EQUAÇÃO PROPOSTA POR DARCY (1850) hQ k A L = × × Área do permeâmetro Uma constante para cada solo, conhecida como coeficiente de permeabilidade Vazão FONTE: A autora A relação entre h sobre L é essencial para o entendimento da perda de carga ao longo de um perfil de solo. A relação entre h/L também é chamada de gradiente hidráulico, que corresponde ao quanto de coluna de água é dissipada (h) por unidade de comprimento (L) ao longo de uma faixa de solo (Figura 24). TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 147 FIGURA 24 – FATORES QUE INFLUENCIAM NO SOLO COM FLUXO DE ÁGUA L h z Peneira A carga que se dissipa na percolação Distância ao longo da qual a carga se dissipa Gradiente hidráulico Influencia no movimento do solo Contínua alimentação • c • b • a hi L Q k i A ∆ = = × × FONTE: A autora 3.1 CARGAS HIDRÁULICAS No estudo de fluxos de água, é conveniente expressar as componentes de energia pelas correspondentes cargas em termos de altura de coluna d’água. As leis de Bernoulli dizem que a carga total ao longo de uma linha de fluxo incompressível é igual à soma de três parcelas: carga piezométrica, carga altimétrica e carga cinética (equação 16). ht = hp + ha + hc (16) Onde: hp altura piezométrica, ha altura altimétrica, hc altura que corresponde à carga cinética. Quando lidamos com solo despreza-se a carga cinética, pois a velocidade é considerada muito pequena em relação à carga piezométrica e altimétrica. Desse modo, a carga total é definida pela equação 17. t p ah =h +h (17) 148 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS A carga piezométrica corresponde à altura em que a água se eleva e a carga altimétrica corresponde à altura do ponto analisado em relação ao referencial, e isto depende de como o fluxo ocorre, ou seja, se o fluxo é descendente ou ascendente. A Figura 25 corresponde a um resumo para podermos fixar melhor estes conceitos e podermos aplicá-los na análise no permeâmetro para, por fim, utilizar em casos gerais de engenharia. FIGURA 25 – RESUMO DOS CONCEITOS DE CARGA HIDRÁULICA APLICADA EM SOLOS Cuidado com fluxo ascendente e descendente Carga com que a água se eleva no tubo piezométrico Ht (carga total) Muito baixa V = 0 Altura do ponto V em relação ao referencial Pressão de água ou pressão neutra no ponto, expressa em coluna de água Carga Cinética Carga Altimétrica Carga Piezométrica= + + FONTE: A autora O fluxo ascendente é aquele que indica que a água está no sentido de ascendência ou elevação, em termos técnicos pode-se dizer que a água vai do ponto de maior carga hidráulica para o de menor carga hidráulica e, muitas vezes, o sentido do fluxo mostra-se para cima, ou seja, ascendente. Para entendermos melhor, a Figura 26 corresponde a um permeâmetro de fluxo ascendente. A Tabela 2 corresponde à análise de cargas altimétricas, piezométricas e totais. Percebe-se que a carga total do ponto D é maior que a do ponto B, isso mostra que o líquido tende a subir, ou seja, é ascendente. A diferença de cargas totais entre os pontos D e B corresponde a h, que é basicamente a carga hidráulica que será dissipada pelo comprimento L. TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 149 FIGURA 26 – PERMEÂMETRO DE FLUXO ASCENDENTE Haverá fluxo quando a carga total for diferente a qualquer ponto L h z Referência y • d • b • c • a FONTE: A autora FONTE: A autora TABELA 2 - ANÁLISE DOS PONTOS DO PERMEÂMETRO ASCENDENTE Pontos ha hp ht D y L+z+h y+L+z+h B L+y z L+y+z A z+L+y 0 z+L+y A Figura 27 corresponde a um permeâmetro de fluxo descendente. Este fato é percebido pois o sentido é do maior valor de carga hidráulica que se encontra no ponto B e segue em direção a C, e assim, mostra-se o sentido de B a C. A diferença entre as cargas hidráulicas B e C resulta em y+L+z que corresponde à carga a ser dissipada durante o trajeto da água. 150 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS FIGURA 27 – FLUXO DESCENDENTE L z x Referência Saída de água Entrada de água y • b • a • c FONTE: Modificado de Pinto (2006) A Tabela 3 corresponde às cargas altimétricas, piezométricas e totais em cada ponto analisado. TABELA 3 – CARGAS HIDRÁULICAS COM RELAÇÃO AO FLUXO DESCENDENTE Pontos ha hp ht A y+L+x+z 0 y+L+z+h B L+x+z y L+y+z+x C x+z -x z FONTE: A autora Carga piezométrica corresponde à altura em que a água varia em relação ao ponto. A carga altimétrica corresponde à distância do ponto ao referencial adotado. DICAS De modo geral, não haverá fluxo quando a carga total for igual a qualquer ponto e haverá fluxo quando a carga total for diferente a qualquer ponto. Por fim, a diferença entre cargas totais é a carga usada para o cálculo do gradiente hidráulico (Figura 28). TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 151 FONTE: A autora FIGURA 28 – RESUMO DOS CONCEITOS BÁSICOS hi L ∆ = A diferença entre cargas totais é a carga usada para o cálculo do gradiente hidráulico Haverá fluxo quando a carga total for diferente a qualquer ponto Não haverá fluxo quando a carga total for igual a qualquer ponto 3.2 VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL A partir dos conceitos definidos de gradiente hidráulico e com a equação definida por Darcy (1850), chega-se à definição de velocidade de descarga ou à velocidade com que a água sai do solo (equação 18). FIGURA 29 – DEDUÇÃO DA VELOCIDADE DE DESCARGA DE DARCY 2 2 2 m m s m m k i m s × × = × × × 3 hi= L Q = k × i × A m s v = k i A velocidade com que a água sai do solo Gradiente hidráulico Influencia na movimentação do solo FONTE: A autora 152 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS ×v =k i (18) Onde: k é o coefi ciente de permeabilidade do solo e depende do tipo de solo; i é o gradiente hidráulico. No entanto, existe a velocidade real, que corresponde à velocidade que passa entre os vazios do solo e a velocidade de descarga o qual corresponde a velocidade antes de passar entre os poros do solo. A Figura 30 ilustra as duas velocidades: Vd (velocidade de descarga) defi nida pelas leis de Darcy e a Vr (velocidade real ou de fl uxo). A velocidade real é deduzida pelo princípio de Darcy, em que a vazão de descarga é igual à vazão que passa pelos vazios das partículas, igualando as proposições chega-se à relação de áreas, que se pode relacionar com a porosidadedo solo. Dessa forma, a velocidade real é igual à velocidade de descarga dividido pela porosidade do solo. FIGURA 30 – VELOCIDADE REAL E VELOCIDADE DE DESCARGA n = = Vreal × Areal = Vdescarga × A descarga Vreal > Vdescarga Qreal = Qdescarga Vd A Af • b • a • d • c •V Vreal Vdescarga Vreal Vdescarga Areal A descarga =Vreal n Vdescarga FONTE: O autor TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 153 3.3 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE (k) Da expressão proposta por Darcy temos o coeficiente de permeabilidade (k), este por sua vez indica a velocidade de percolação da água quando o gradiente é igual a 1, e este coeficiente encontra-se em unidade m/s. Os valores de permeabilidade dependem do tipo de solo, do tamanho das partículas, das disposições em que se encontram as partículas, pois quanto menores os vazios no solo, maior será a dificuldade de a água escapar, e assim, menores os valores de permeabilidade desse solo. Além disso, o estado do solo (fofo ou compacto, por exemplo), o grau de saturação do solo, temperatura, estrutura e anisotropia também influenciam o grau de permeabilidade de uma porção de solo. Devido a isto, existem métodos diretos e indiretos de obtenção do coeficiente de permeabilidade. Os métodos diretos são aqueles obtidos por ensaios laboratoriais e de campo. Os métodos indiretos são aqueles definidos por fórmulas e correlações e, indiretamente, por ensaios utilizados para outras análises (ensaio de adensamento). A Figura 31 representa as formas de obtenção do k, nesta figura são mostrados os ensaios de laboratório: o permeâmetro, a carga constante e a variável. Os ensaios de campo mais utilizados são SPT, Slug test. FIGURA 31 – POSSIBILIDADES DE OBTENÇÃO DO COEFICIENTE K Formas de obter o coeficiente de permeabilidade Permeâmetro de carga constante Permeâmetro de carga variável Ensaios de Campo Métodos indiretos FONTE: A autora 154 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS O permeâmetro à carga constante é uma experiência de Darcy (Figura 32). Mantida a carga h, durante um certo tempo, a água percolada é colhida e seu volume é medido. Conhecidas a vazão e as características geométricas, o coeficiente de permeabilidade é diretamente calculado pela Lei de Darcy (equação 15) (PINTO, 2006, p. 115). O permeâmetro geralmente se apresenta com a configuração conforme Figura 33. FIGURA 32 – PERMEÂMETRO A CARGA CONSTANTE Repetição da experiência de Darcy (1980) A mesma quantidade de água que entra é a mesma quantidade de água que sai L h Entrada de água Saída de água • a • b • c Q v A Qk i A = × = × FONTE: A autora TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 155 FIGURA 33 – ESQUEMA DO PERMEÂMETRO A CARGA CONSTANTE FONTE: Higashi (2013, p. 8) 156 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS Quando o coeficiente de permeabilidade é muito baixo, a determinação pelo permeâmetro de carga constante é pouco precisa, e demorado. Preferencialmente deve-se empregar o permeâmetro à carga variável quando lidamos com solos coesivos (argilosos). A Figura 34 corresponde a um modelo esquemático do equipamento à carga variável. Utiliza-se o permeâmetro à carga variável e verifica-se o tempo que a água leva para baixar a altura inicial para a altura final. A fórmula utilizada é a demonstrada pela equação (19): i f ha ×L k = 2,3 log A ×t h (18) Onde: a é área da bureta; L comprimento do solo; A área da amostra de solo; t tempo para obter a altura final (hf); hi é a altura inicial. FIGURA 34 – ESQUEMA DE DETERMINAÇÃO DA PERMEABILIDADE À CARGA VARIÁVEL L Área da bureta Integrando: Resulta: A vazão de água que passa pelo solo é a mesma que passa pela bureta: A vazão de água que passa pela bureta A vazão de água que passa pelo solo Permeâmetro de carga variável Solo argiloso dh hi hfh Entrada de água Saída de água • a • b • c . .hQ k A L = .a dhQ dt − = . .dh ha k A dt L − = . . dh Ak dt h a L = − . . hf AIn k t hi a L = − 0.2,3 .log . 1 ha LK A t h = ∆ FONTE: A autora Os ensaios de campo utilizados para a determinação da permeabilidade comumente conhecidos são o SPT (Standard Penetration test) e o Slug Test. O SPT será explicado na próxima unidade e é o ensaio mais utilizado para obtenção TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 157 FONTE: A autora FIGURA 35 – DETALHES DO ENSAIO SLUG TEST de parâmetros geotécnicos, no entanto, pode-se obter a permeabilidade com este ensaio no decorrer da sondagem de simples reconhecimento. O SPT é realizado através da cravação de um amostrador padrão de 65 kg a uma altura de 75 cm. Se no decorrer da sondagem de simples reconhecimento, a perfuração for interrompida e se encher de água o tubo de revestimento, mantendo- se o seu nível e medindo a vazão para isso, pode-se calcular o coefi ciente de permeabilidade do solo. Para isto, é preciso conhecer diversos parâmetros, como: altura livre da perfuração (não envolta pelo tubo de revestimento), posição do nível da água, espessura das camadas, etc. Também é necessário o conhecimento de teorias sobre escoamento da água através de perfurações (PINTO, 2006, p. 117). O Slug test é uma técnica de ensaio normatizada pela norma americana ASTM D4044 e usualmente executada em poços de pequenos diâmetros, piezômetros ou trechos de sondagens isolados por obturadores. Este ensaio é realizado pela aplicação do tarugo no poço e assim mede a variação instantânea do nível d’água no interior do poço, ou seja, através da inserção, ou retirada, de um cilindro rígido. As variações do nível de água são medidas através de um transdutor localizado no interior do furo. A Figura 35 mostra os detalhes do equipamento e processo de ensaio. 158 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS Os ensaios de campo são métodos que possuem pouca acurácia ao comparar com os ensaios realizados em laboratório, no entanto, por serem realizados no campo, indicam a situação real que muitas vezes as amostras que são levadas ao laboratório podem não apresentar. Existem outras formas de encontrar o coeficiente de permeabilidade, estas são em função de itens, como: viscosidade, estado do solo, grau de saturação, estrutura e anisotropia do solo e influência da temperatura. A Figura 36 ilustra os fatores definidos por Taylor (1948). Com o conhecimento dos itens de dependência, o estudo definiu o coeficiente pela equação (19). × × 3 2 wγ ek=D C μ 1+e (19) Onde: D é o diâmetro de uma esfera equivalente ao tamanho dos grãos do solo; e é o índice de vazios do solo; μ é a viscosidade do líquido e C é o coeficiente de forma. FIGURA 36 – OUTROS FATORES QUE INFLUENCIAM NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE Variação do coeficiente de cada solo Viscosidade Influência do estado do solo Grau de Saturação Estrutura e anisotropia Influência de temperatura FONTE: A autora A Tabela 4 representa valores de coeficientes de permeabilidade em solos sedimentares. TABELA 4 – DEFINIÇÃO DE VALORES DE K PARA SOLOS SEDIMENTARES SOLO K (m/s) ARGILAS <10E-9 SILTES 10E-6 a 10E-9 AREIAS ARGILOSAS 10E-7 AREIAS FINAS 10E-5 AREIAS MÉDIAS 10E-4 AREIAS GROSSAS 10E-3 FONTE: Pinto (2006, p. 117) TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 159 FONTE: A autora Segundo Pinto (2006), os pedregulhos e algumas areias grossas, por terem alto índice de vazios, a velocidade do fl uido passante acaba sendo muito alta e assim o fl uxo torna-se turbulento, desse modo não é aconselhável utilizar as propostas de Darcy (1850) para estes tipos de solo. 3.4 FORÇA DE PERCOLAÇÃO As forças de percolação indicam a ação da água que passa entre os vazios do solo quando há fl uxo. Essa força ocorre devido à carga que irá se dissipar (h), resultando em uma pressão d’água em relação à área de solo, que corresponde a uma força dissipada conforme a equação (20). F = γw× h × A (20) Onde: h é a carga d’água, A corresponde à área ao quando a pressão d’água está atuandoperpendicular à direção horizontal, conforme Figura 37. FIGURA 37 – DEFINIÇÃO DE PERCOLAÇÃO L A wF h Aγ= × × Em um fl uxo uniforme, essa força se dissipa uniformemente em todo o volume de solo, AxL, de forma que a força por unidade de volume é igual a uma força de percolação, e esta é igual ao produto do gradiente hidráulico pelo peso específi co. w w w h A hj i A L L γ γ γ × × = = × = × × (21) 160 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS A força de percolação é uma grandeza semelhante ao peso específico e atua da mesma forma que a força gravitacional. As duas se somam quando atuam no mesmo sentido (fluxo d’água de cima para baixo) e se subtraem quando em sentido contrário (fluxo d’água de baixo para cima), esse aspecto fica mais claro quando se analisam as tensões no solo submetido à percolação (PINTO, 2006, p. 122). 3.5 TENSÕES NO SOLO DEVIDO À PERCOLAÇÃO Diferentemente da condição geostática, quando há fluxo existe alteração das tensões que deformam o solo (as efetivas), quando lidamos com o fluxo descendente há um aumento dessas tensões de deformação e, quando é o oposto, fluxo ascendente, há uma diminuição. Consequentemente, as pressões neutras também são modificadas e estas sofrem influência da altura piezométrica do solo com fluxo. Para entendermos melhor o comportamento, analisaremos um permeâmetro com fluxo ascendente conforme Figura 38. FIGURA 38 – DEFINIÇÕES DE TENSÃO TOTAL, EFETIVA E NEUTRA COM FLUXO ASCENDENTE LReferencial Peneira Entrada de água Saída de água Tensões ao qual o solo transmite a peneira! h z • b • a • c σef = ( z γw + L γ n) - ( z + L + h) × γw σt= (zγ w + Lγn) u = (z + L + h) ×γW σ, u σtotal σtotal σef σef u U z FONTE: A autora TÓPICO 2 | PERMEABILIDADE E PERCOLAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO 161 A Figura 38 apresenta três pontos (a, b e c), ao analisar o ponto c, obteremos os seguintes valores de tensão total (22): ( )t w satz Lσ γ γ= + (22) Ou seja, a tensão total do solo será a mesma do que na condição geostática, porém a poropressão (23) define-se diferentemente da condição da água sem fluxo, e representa a coluna piezométrica do ponto em análise. ( ) wu z L h γ= + + × (23) Assim, a tensão efetiva do ponto c, considerando o fluxo ascendente, é formada a partir da equação (24). ( ) ( )ef w n wz L z L hσ γ γ γ= + − + + × (24) Quando há fluxo ascendente pode-se relacionar a tensão efetiva com a força de percolação, a Figura 39 mostra a dedução para chegar em valores de tensão efetiva que correlaciona com a força de percolação (25). ( )ef subL jσ γ= × − (24) FIGURA 39 – DEDUÇÃO DA TENSÃO EFETIVA EM FLUXO ASCENDENTE ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ef w n n ef n w w ef n w w ef n w w ef n w ef sub ef sub z L z L h L h LL h L L i L L j L L j L L j σ γ γ γ σ γ γ γ σ γ γ γ σ γ γ γ σ γ γ σ γ σ γ = + − + + × = − − × = − − × × = − − × × = − − × = − × = − Quando há percolação deve descontar a força de percolação!! FONTE: A autora 162 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS Por outro lado, a tensão efetiva em fluxo descendente será aumentada com a força de percolação, chegando-se à equação (25). σef = L × (γsub + j) (25) Quando há fluxo ascendente existirá diminuição das tensões efetivas com o efeito da força de percolação, no entanto, para fluxo descendente há o aumento das tensões efetivas. DICAS 3.6 GRADIENTE CRÍTICO Ao analisar o fluxo ascendente, percebe-se que com o aumento da força de percolação, menor será a tensão efetiva do solo. O gradiente crítico equivale ao fato de quando a força de percolação é tão alta que anula a tensão efetiva, chegando a zero. σef = L × (γsub - j) (26) σef = L × (γsub -i × γw) (27) 0 = L × (γsub -i×γw) (28) sub crit w i = γ γ (29) O gradiente crítico é correspondido na engenharia com resistência das areias, e por ser proporcional à tensão efetiva, quando esta se anula, a areia perde completamente sua resistência e fica num estado definido como areia movediça. 163 Neste tópico, você aprendeu que: • Ao analisar um permeâmetro em que há contínua alimentação, e assim, com adição de uma coluna de água acima do nível de saída da água, existirá um fluxo. Desse modo, as tensões efetivas e neutras do solo apresentam um comportamento diferenciado em relação ao estado geostático. • Haverá fluxo quando a carga total for diferente entre dois pontos da água que passa pelo solo. • Os fluxos são definidos entre ascendentes e descendentes, estes, por sua vez, indicam o sentido com que a água move. Para saber o tipo de fluxo é só verificar o movimento da água que é definido pelo valor da carga total, que se movimenta entre o maior valor de carga para o menor. • A permeabilidade do solo é definida pela velocidade de percolação (m/s) em que o gradiente hidráulico é igual a 1, ela pode ser definida por fatores como: viscosidade, estado do solo, grau de saturação, estrutura e anisotropia, influência da temperatura. Podem ser encontrados valores de permeabilidade em laboratórios e em campo. • Quando há fluxo a poropressão é definida pela altura piezométrica. • O gradiente crítico equivale ao fato de quando a força de percolação é tão alta que anula a tensão efetiva, chegando a zero. RESUMO DO TÓPICO 2 164 AUTOATIVIDADE 1 Em um fluxo de água passando pelo solo, a carga total em qualquer ponto é adequadamente representada por: a) ( ) carga piezométrica somada à carga altimétrica. b) ( ) carga de velocidade somada à carga hidráulica. c) ( ) permeabilidade vezes o gradiente hidráulico. d) ( ) carga piezométrica vezes a carga altimétrica. e) ( ) carga de pressão somada à carga de velocidade. 2 Os solos são permeáveis em razão da existência de: a) ( ) Grãos finos. b) ( ) Vazios. c) ( ) Vazios interconectados. d) ( ) Carga piezométrica. e) ( ) Partículas maiores. 3 A velocidade de descarga de água: a) ( ) É a quantidade de água que flui em um tempo específico por uma área transversal seccional bruta do solo em ângulos retos na direção do fluxo. b) ( ) Tem unidade SI como m/s. c) ( ) É a quantidade de água que flui em um tempo específico por uma área transversal seccional bruta específica do solo. d) ( ) a e b. e) ( ) É a velocidade calculada devido à passagem da água entre os vazios do solo. 4 Com relação à permeabilidade do solo e ao fluxo de água, selecione a declaração INCORRETA: a) ( ) A velocidade de descarga é a quantidade de água que flui em um tempo específico por uma área transversal seccional bruta do solo em ângulos retos na direção do fluxo. b) ( ) A carga de pressão em um determinado ponto é a pressão de água neste ponto dividida pelo peso específico de água. c) ( ) A carga altimétrica ou de elevação em um determinado ponto é a distância vertical acima ou abaixo do plano de referência. d) ( ) A unidade SI de carga é cm. e) ( ) A velocidade real é a velocidade calculada devido à passagem da água entre os vazios do solo. 165 5 Sobre gradiente hidráulico do solo, assinale o item CORRETO: a) ( ) É determinado a partir da perda entre dois pontos, e é considerado adimensional. b) ( ) É utilizado para definir características do solo tais como permeabilidade, velocidade de percolação e porosidade do solo. c) ( ) É semelhante ao gradiente de velocidade. d) ( ) O gradiente hidráulico corresponde à quantidade de carga dissipada por uma faixa de solo, este valor é definido em cm. e) ( ) Quando analisamos o gradiente crítico do solo, sabemos que o fluxo é descendente e este fato corresponde ao estado de areia movediça. 6 A Lei de Darcy explica que a velocidade de descarga é definida por: a) ( ) É determinada a partir da perda entre dois pontos, e é considerada adimensional. b) ( ) Corresponde ao coeficiente de permeabilidade vezes o gradiente hidráulico. c) ( ) Corresponde à relação entre o coeficiente de permeabilidade divididopelo gradiente hidráulico. d) ( ) O gradiente hidráulico dividido pelo coeficiente de permeabilidade. e) ( ) O gradiente hidráulico vezes o coeficiente de permeabilidade vezes a velocidade de descarga. 7 A velocidade real da água é chamada de: a) ( ) Fluxo operacional. b) ( ) Velocidade de percolação. c) ( ) Pressão de percolação. d) ( ) Velocidade entre vazios. e) ( ) Velocidade exponencial. 8 A velocidade de descarga de água pelo solo é de 24 cm/h, sabendo que a porosidade é de 30%, a velocidade de percolação será: a) ( ) 24 cm/h b) ( ) 72 cm/h. c) ( ) 80 cm/h. d) ( ) 30 cm/h e) ( ) 40 cm/h. 9 A condutividade hidráulica do solo não depende de: a) ( ) Peso específico de sólidos de solo. b) ( ) Peso específico de água fluindo pelos vazios do solo. c) ( ) Viscosidade de água fluindo pelos espaços vazios do solo. d) ( ) Índice de vazios. e) ( ) Porosidade. 166 10 O ensaio de laboratório utilizado para determinar a permeabilidade em solos granulares finos é: a) ( ) Ensaio de permeabilidade de carga variável. b) ( ) Ensaio de permeabilidade de carga constante. c) ( ) Teste de bombeamento. d) ( ) Slug test. e) ( ) SPT. 167 TÓPICO 3 INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A necessidade de um conhecimento do ambiente físico, descrito a partir das condições do subsolo, compõe em pré-requisito para projetos geotécnicos seguros e econômicos. No Brasil, atualmente, a despesa envolvida na execução de sondagens de reconhecimento geralmente varia entre 0,2% e 0,5% do custo total de obras convencionais, podendo ser mais elevada em obras especiais ou em condições adversas de subsolo (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014). Os dados geotécnicos encontrados são indispensáveis à previsão dos custos fixos associados ao projeto e sua solução. As causas mais frequentes de problemas de fundações e obras de infraestrutura ocorrem devido à má execução da obra e à falta de sondagem ou sondagens incorretas. Este fato, sondagem – ou seja, a descrição do solo – é imprescindível, pois avalia a representatividade do solo e o tipo de solo em que a estrutura será apoiada. Desse modo, os primeiros passos para construção de uma obra são os ensaios geotécnicos e, para isso, o engenheiro civil deve ter noção da amostragem e dos equipamentos que são utilizados para cada situação. Segundo Schnaid e Odebrecht (2014), a experiência internacional faz referência frequente ao fato de que o conhecimento geotécnico e o controle de execução são mais importantes para satisfazer aos requisitos fundamentais de um projeto do que a precisão dos modelos de cálculo e os coeficientes de segurança adotados. Devido à decorrência da grande gama de equipamentos e procedimentos disponíveis no mercado brasileiro, o estabelecimento de um plano racional de investigação constitui-se na etapa crítica de projeto. Conhecimento, experiência, normas e práticas regionais devem ser considerados durante o processo de “julgamento geotécnico” de seleção de critérios necessários à solução do problema (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014). Reconhecida a relevância de caracterizar o subsolo e estabelecer suas características geológicas, geotécnicas e geomorfológicas, é importante estabelecer a amostragem do solo, a abrangência do programa de investigação, contextualizando-se a aplicabilidade de cada técnica e os parâmetros de projeto passíveis de obtenção. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 168 Este tópico mostrará os principais tipos de ensaios para a obtenção de parâmetros geotécnicos, além disso, aprenderemos sobre os diferentes tipos de coleta de amostras. Por fim, entenderemos sobre o programa de investigação e a utilização de cada ensaio para os diferenciados tipos de solos existentes. Vamos começar? 2 RETIRADA DE AMOSTRAS A coleta de amostras pode ser de forma que é retirada do solo na condição de campo (natural); esta, por sua vez, é chamada de amostra indeformada. A amostra indeformada tem como função preservar as condições do solo do local, e são utilizadas para ensaios de laboratório que necessitem da preservação da estrutura do solo, tais como cisalhamento direto e adensamento. As amostras deformadas correspondem a uma porção de solo amolgado e representam a profundidade do solo amostrado. Essas amostras são utilizadas para caracterização do solo, ensaios de compactação e na preparação de corpos- de-prova para ensaios. As amostras deformadas possuem a facilidade de coletar, pois não necessitam da estrutura intacta do campo. No entanto, a retirada da amostra deve ser feita de forma minuciosa e delicada, deve verificar se não há contaminação da amostra, pois este fato pode levar a erros na classificação do material. A Figura 40 corresponde à retirada de uma amostra de solo natural (indeformada). A confecção do bloco é realizada de forma cautelosa e é essencial que sejam retirados blocos com dimensões entre 20 cm a 30 cm, pois valores menores podem não apresentar representatividade e valores maiores podem causar problemas em termos de desplacamento do solo, podendo a amostra vir a perder as características físicas. Essas amostras podem ser retiradas na parte lateral de taludes, ou a partir da construção de trincheiras e poços. Em amostras naturais, que o solo apresenta baixa resistência, pode-se utilizar os tubos shelbs (tubos cilíndricos em formato cônico). O processo de confecção de amostra indeformada deve ser criterioso, esta, por sua vez, deve ser impermeabilizada através do uso de parafina e tecido com o objetivo de evitar a perda de umidade. Lembrando que o transporte até o laboratório deve ser feito de forma rápida e indicar com etiqueta o topo do bloco, para quando se iniciar os ensaios sabermos o posicionamento correto da amostra no campo. TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 169 FIGURA 40 – EXEMPLO DE COLETA DE AMOSTRAS DEFORMADAS E INDEFORMADAS FONTE: Massoco (2017, p. 98) A retirada de amostras indeformadas é mais sensível a possíveis erros. A escolha do equipamento a ser utilizado depende da natureza do solo a ser amostrado, da profundidade da amostra e do nível d’água (MACHADO; MACHADO, 2007). UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 170 Seja a amostra deformada ou indeformada, no processo de amostragem deve ser elaborado um mapa que indique a localização da amostra em que foi feita a retirada. Além disso, em todas as amostras deve-se indicar a data, o nome da pessoa que executou a amostragem, fazer uma descrição do clima no dia e também qualquer característica que for relevante que possa alterar as análises sobre esses materiais. Apesar de todos esses cuidados, pode acontecer uma distorção estrutural e uma variação no estado de tensão da amostra, já que ela sai do estado de confinamento em que estava. As argilas moles são mais sensíveis a essa perturbação (MACHADO; MACHADO, 2007). 3 ENSAIOS DE CAMPO No meio da engenharia civil, na fase da construção da infraestrutura, ou seja, quando engloba aspectos geotécnicos, a caracterização do solo é importante para entender e garantir a segurança da estrutura ao longo dos anos. Por este motivo faz-se necessário caracterizar o solo física, mecânica e hidraulicamente. Essa caracterização e compreensão total do material utilizado ocorre por meio de ensaios, sejam eles de campo ou de laboratório. Estes, por sua vez, muitas vezes são negligenciados devido ao custo e à cultura de achar que não há necessidade, porém deve-se ter em mente que a realização de uma campanha eficiente de ensaios traz economia com o emprego correto do material e das técnicas construtivas de acordo com o solo em que aquela estrutura estará. Com relação aos ensaios de campo, os comumente utilizados, dependendo do tipo de solo, são: SPT (standard penetration test), Ensaios de cone (CPT) e piezocone (CPTu), ensaios de palheta, ensaio pressiométrico, ensaio dilatométrico, rotativa e etc. 3.1 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) O primeiro ensaio a ser feito em qualquer obra é oensaio SPT (Standard Penetration test). Este é o equipamento mais utilizado no mundo e é o que indica se se deve analisar mais precisamente com outros ensaios ou se só os valores obtidos por ele são suficientes. O ensaio serve como indicativo da densidade de solos granulares e é aplicado também na identificação da consistência de solos coesivos, e mesmo de rochas brandas. Métodos rotineiros de projeto de fundações diretas e profundas usam sistematicamente os resultados de SPT, especialmente no Brasil (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 21). O ensaio é definido conforme a NBR:6484 e consiste em uma medida de resistência dinâmica conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é obtida por tradagem e circulação de água, utilizando-se um trépano de lavagem como ferramenta de escavação. TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 171 O SPT constitui-se em uma medida de resistência dinâmica conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. Amostras representativas do solo são coletadas a cada metro de profundidade por meio de amostrador padrão com diâmetro externo de 50 mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação do amostrador no fundo de uma escavação (revestida ou não), usando-se a queda de peso de 65 kg de uma altura de 750 mm. O valor do Nspt é o número de golpes necessários para fazer o amostrador penetrar 300 mm, após uma cravação inicial de 150 mm (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 21). O ensaio basicamente consiste em cravação nos primeiros 15 cm, e este valor é anotado, logo em seguida existe a cravação nos próximos 15 cm e este valor também é anotado; por fim, a última cravação que corresponde ao número de golpes nos últimos 15 cm, que também é computado, assim o valor de Nspt corresponde ao número de golpes dos últimos 30 cm de cravações. Após esses 45 cm, é realizada nos 55 cm retirada de amostra para ensaios e reconhecimento do tipo de solo, ou seja, a análise táctil visual. A Figura 41 corresponde ao processo de análise das cravações e retirada de solo. FIGURA 41 – PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DO ENSAIO SPT Lavagem, análise táctil-visual, w, granulometria, diferenciar as camadas 15 15 15 55 cm 45 cm Cravação para o somatório do Nspt Cravação para o somatório do Nspt Cravação inicial FONTE: A autora As vantagens desse ensaio com relação aos demais são: simplicidade do equipamento, baixo custo e obtenção de um valor numérico de ensaio que pode ser relacionado por meio de propostas não sofisticadas, mas diretas, com regras empíricas de projeto. Apesar das críticas pertinentes que são continuamente feitas à diversidade de procedimentos utilizados para execução do ensaio e à pouca racionalidade de alguns dos métodos de uso e interpretação, esse é o processo dominante ainda utilizado na prática de Engenharia de Fundações (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 22). UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 172 A Figura 42 corresponde a um desenho esquemático do equipamento de SPT e a Figura 42 corresponde a um relatório de ensaio de SPT. FIGURA 42 – DESENHO ESQUEMÁTICO DO ENSAIO SPT FONTE: Pinto (2006, p. 47) A Figura 43 mostra um laudo de SPT com uma escala de Nspt considerada a cada metro. A terceira coluna corresponde aos valores de golpes por 15 cm ou a depender do quanto o amostrador penetrou, por exemplo, na camada um verifi ca-se o valor de 1/45 cm, ou seja, um golpe penetrou 45 cm, neste caso o valor do Nspt é 1/45 ou 1. Na camada 3 existem três valores, neste caso o valor de Nspt corresponde ao somatório dos últimos 30 cm, ou seja, 18 + 34 que corresponde a 52. Quando não ocorre penetração de todo amostrador, registra-se o SPT em forma de fração (por exemplo, 20/14, indicando 20 golpes, houve uma penetração em 14 cm). TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 173 FIGURA 43 – LAUDO DE ENSAIO SPT FONTE: A autora UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 174 A Tabela 5 e a Tabela 6 correspondem à classificação do solo quanto à compacidade e consistência definidos pela NBR 6484:2001 da ABNT. TABELA 5 – COMPACIDADE DAS AREIAS EM FUNÇÃO DE VALORES DE NSPT Resistência à penetração (número N do SPT) Compacidade da areia 0 a 4 Muito fofa 5 a 8 Fofa 9 a 18 Compacidade média 18 a 40 Compacta Acima de 40 Muito compacta FONTE: NBR 6484: 2001 TABELA 6 – CONSISTÊNCIAS DAS ARGILAS EM FUNÇÃO DE DADOS DE NSPT Resistência à penetração (número N do SPT) Consistência da argila < 2 Muito mole 3 a 5 Mole 6 a 10 Consistência média 11 a 19 Rija > 19 Dura FONTE: NBR 6484: 2001 O Nspt é utilizado intensamente em projetos de fundação. Em projetos multifamiliares, unifamiliares e de infraestrutura, a definição do tipo de fundação e análises de projeto, como comprimento de estaca, tipo de estaca etc., são usualmente baseadas nos resultados de sondagens (identificação visual e SPT), estas são analisadas de acordo com a experiência regional e o conhecimento geológico do local. O primeiro ensaio a ser utilizado em qualquer região é o ensaio SPT, pois permite verificar a estratigrafia do solo e as condições básicas de resistência. No entanto, quando o solo apresenta resistência baixíssima (0 a 5), os dados que correspondem ao N spt são insuficientes, pois o equipamento em si não mensura pequenas resistências (as medições não são satisfatórias em solos moles, por exemplo). Além disso, o ensaio não ultrapassa matacões e o impenetrável, fazendo com que haja a necessidade de ensaios específicos para determinado solo. ATENCAO TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 175 A cravação irá parar quando estiver definido no boletim ou quando: • Em qualquer dos três segmentos de 15 cm de um total de 45cm, o número de golpes ultrapassar a 30; • Um total de 50 golpes tiver sido aplicado durante toda a cravação; • Não se observar avanço do amostrador padrão durante a aplicação de cinco golpes sucessivos do martelo. 3.2 ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU) Os ensaios CPT (Cone Penetration Test) e CPTu (Piezocone Penetration Test) são utilizados principalmente em solos moles e caracterizam-se como um equipamento importante de prospecção geotécnica. Os resultados do ensaio podem ser utilizados para determinação de capacidade suporte do solo/fundação, análise de resistência, determinação estratigráfica de perfis de solos etc. O ensaio tem formato de uma estaca em dimensões reduzidas e é acompanhado de uma ponteira, o princípio de funcionamento (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 68) do ensaio de cone é determinado a partir da cravação, no terreno, desta ponteira cônica (60° de ápice) a uma velocidade constante de 20 mm/s a 5 mm/s. A seção transversal do cone é, em geral, de 5 cm² a 15 cm² dependendo das condições. Os equipamentos podem ser classificados em três categorias: (a) cone mecânico, que caracteriza-se pela medida na superfície, dos esforços necessários para cravar a ponta cônica ( cq ) e do atrito lateral ( cq ) (Figura 44); (b) cone elétrico, em que a adaptação de células de carga instrumentadas eletricamente permite a medida de cq e cq diretamente na ponteira; e (c) piezocone, que, além das medidas de cq e sf , mede as dissipações das poropressões, ou seja, a contínua monitoração das pressões neutras geradas durante o processo de cravação (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 68). FIGURA 44 – DISTINÇÃO DA RESISTÊNCIA DE PONTA E ATRITO LATERAL DO APARELHO CPT Resistência de ponta, qc Sem análise das dissipações de poropressões Atrito lateral, fs FONTE: A autora A grande vantagem do ensaio é o fornecimento dos parâmetros até a profundidade desejada, ou seja, em perfis (registro contínuo) e não pontualmente, como o ensaio SPT e outros. Este fato faz com que haja uma descrição detalhada do perfil do subsolo e a eliminação da influência de um operador. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 176 FIGURA 45 – DETALHES DO EQUIPAMENTO DE CPTU Resistência de ponta, qc Poro-pressão, u1 Poro-pressão, u2 Poro-pressão, u3 Com análise das dissipações de poropressões Atrito lateral, fs FONTE:A autora O procedimento do CPT mecânico se dá pela cravação apenas do cone, inicialmente ao longo de 4 cm, registrando-se apenas a resistência de ponta. Em seguida, as hastes internas são avançadas mais 4 cm, fazendo com que seja cravado o conjunto cone e luva de atrito e, assim, medida a resistência de ponta acrescida da resistência de atrito lateral, sendo esta última obtida pela diferença. Procede-se a descida das hastes externas ao longo de 20 cm, as quais trazem consigo as luvas de atrito por 16 cm e o cone por 12 cm, a partir daí, repete-se o procedimento. A Figura 46 exemplifi ca este processo de inserção da haste ao solo. Sabe-se que o grande diferencial do ensaio CPTu ou piezocone, além das informações de cq e sf , é o registro da poropressão do solo (u). A penetração é obtida através da cravação contínua de hastes de comprimento de 1 m, seguida da retração do pistão hidráulico para posicionamento de nova haste. O registro das leituras é contínuo e automático por meio de cabos elétricos que atravessam o interior das hastes conectando a ponteira a um computador. O registro da poropressão é realizado através de anéis que são posicionados no equipamento, conforme Figura 45, e são defi nidos por u1, u2 e u3. FIGURA 46 – PROCEDIMENTO DE INSERÇÃO DO APARELHO CPT FONTE: Higashi et al. (2013, p. 18) TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 177 FONTE: A autora Existem vários métodos de identifi cação do tipo de solo ao longo do perfi l determinado pelos gráfi cos e por fórmulas específi cas, porém uma maneira mais fácil e rápida é através da identifi cação visual dos perfi s obtidos, com esse método é possível analisar e supor se naquela profundidade o solo tem comportamento arenoso ou argiloso. Solos arenosos são constituídos normalmente por partículas maiores e isto possibilita que os vazios entre os grãos permitam a passagem da água mais facilmente; por outro lado, com relação aos solos argilosos, as partículas são muito pequenas e há uma difi culdade na passagem da água entre os espaços vazios do solo. Este fato faz com que, ao aplicar qualquer carga sobre o solo saturado (cheio de água), a água tenderá a sair por todos os lados; ela, portanto, dissipa-se mais rapidamente se for um solo com características arenosas ou mais lentamente se for um solo fi no (argilas e siltes). Ao analisar a Figura 47 percebe-se três perfi s: resistência de ponta ( cq ), resistência lateral ( sf ) e poropressão (u). Solos arenosos apresentam resistência de ponta bem maior (representa picos) do que um solo argiloso a mole, porém quando analisamos o gráfi co de poropressão, os solos fi nos (argilosos) apresentam- se maiores do que os solos arenosos, isto devido à facilidade que a água tem de escapar dependendo do tipo de solo. FIGURA 47 – PERFIS DE RESISTÊNCIA OBTIDOS PELOS ENSAIOS CPTU 3.3 ENSAIO DE PALHETA (VANE TEST) O ensaio de Palheta, também conhecido como Vane test, é tipicamente utilizado em solos moles e de baixa resistência (argilas moles), seus resultados correspondem a valores de resistência não drenada (Su) que são determinados em campo. A palheta é um equipamento de seção cruciforme que e é cravado em argilas saturadas de consistência mole a rija, é submetido a um torque fundamental para cisalhar o solo por rotação em condições não drenadas. É necessário, portanto, UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 178 o conhecimento prévio da natureza do solo onde será realizado o ensaio, não só para avaliar sua aplicabilidade, como para, posteriormente, interpretar adequadamente os resultados (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014). Embora o ensaio possa ser executado em argilas com resistências de até 200 kPa, a palheta especifi cada na Norma Brasileira apresenta desempenho satisfatório em argilas com resistências inferiores a 50 kPa. Algumas das recomendações, segundo Schnaid e Odebrecht (2014, p. 128), para usabilidade do ensaio são: a) Nspt menor ou igual a 2, correspondendo à resistência de penetração (qc) menor ou igual a 1000 kPa; b) Matriz predominante argilosa (>50% passando na peneira #200, LL>25, IP>4); c) Ausência de lentes de areia (a ser defi nida previamente por ensaios de penetração). A palheta normalmente possui dimensões: a) Diâmetro de 65 mm e altura de 130 mm, porém admite-se placa menor de diâmetro de 50 mm e altura de 100 mm quando ensaiadas argilas rijas de Su>50 kPa; b) Altura igual ao dobro do diâmetro; c) O torque é aplicado em uma rotação com velocidade de 6 +-0,6°/min, e as leituras são feitas a cada 2 graus, permitindo determinar a curva torque x ângulo. A Figura 48 corresponde a detalhes do equipamento de Vane test. FIGURA 48 – DETALHES DO EQUIPAMENTO DE VANE TEST FONTE: Adaptado de Schnaid e Odebrecht (2014) TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 179 O torque e a rotação são definidos em gráficos e o ponto máximo corresponde ao torque máximo que é o utilizado pela equação 30 para encontrar a resistência não drenada (Su). Após o ensaio ser realizado há o rotacionamento da palheta em sentido contrário para encontrar a resistência não drenada amolgada. A Figura 49 corresponde a um resultado de ensaio de palheta, em que há a rotação em sentido horário (amostra indeformada) e em sentido anti-horário (amostra deformada). FIGURA 49 – ENSAIO DE PALHETA amolgadoindeformado Graus To rq ue (N .m ) Atrito 10 20 20 30 30 40 40 50 50 60 70 80 90 10 0 0 FONTE: A autora Π 3 0,86T Su= D (30) Onde: T o torque máximo; D o diâmetro da palheta. Os valores de Su amolgado e Su indeformado são utilizados para encontrar a sensibilidade da argila, ou seja, o quanto a argila resiste em relação ao estado amolgado. A equação 31 corresponde à relação para encontrar a sensibilidade da argila. S u S t = S ua (30) Onde: Sua corresponde à condição amolgada. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 180 Valores de sensibilidade entre 2 e 4 correspondem a argilas não sensíveis, ou seja, têm capacidade de recuperar e o amolgamento não influi tanto na resistência, valores próximos a 100 são argilas extremamente sensíveis com baixa recuperação e perda de resistência. 3.4 SONDAGEM ROTATIVA A sondagem rotativa é bastante utilizada quando a região possui bastantes matacões ou quando se quer analisar a qualidade do maciço rochoso. Pode-se utilizar a sondagem rotativa intercalada com o ensaio SPT. A rotativa tem como função perfurar rochas e medir a qualidade delas, a perfuração faz com que haja a obtenção de testemunhos de rochas e, através destes, é possível verificar a qualidade. Os testemunhos são armazenados em caixa e coletados normalmente com tamanhos que variam de 1 a 1,5 metro, dependendo do comprimento do barrilete utilizado. Isto permite determinar a qualidade do maciço rochoso através do índice RQD (Rock Quality Designation), conforme a seguir: RQD (ROCK QUALITY DESIGNATION) = Comprimento total do barrilete Comprimento de fragmentos recuperados x 100 Porcentagem de recuperação Fragmentos com mais de 10 cm A escala de qualidade é definida por rocha de má qualidade a rocha de boa qualidade, esta é mostrada na Tabela 7. TABELA 7 – QUALIDADE DA ROCHA RQD (%) Qualidade do Maciço Rochoso 0 – 25 Muito fraco – rocha de má qualidade 25 – 50 Fraco – rocha de má qualidade 50 – 75 Regular – Rocha de qualidade regular 75 – 90 Bom – Rocha de boa qualidade 90 – 100 Excelente – Rocha de excelente qualidade FONTE: Adaptado de Schnaid e Odebrecht (2014) TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 181 3.5 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO O ensaio pressiométrico é realizado tendo maior aplicação nos solos e rochas brandas ou solos duros, e consiste na introdução de uma sonda cilíndrica dentro de um furo aberto no solo e na aplicação de uma pressão que levará à expansão da sonda. Tem como consequência uma compressão horizontal do solo na zona envolvente e determinação de comportamento tensão versus deformação. FIGURA 50 – MODELO DE EQUIPAMENTO E FUNCIONAMENTO DO ENSAIO PRESSIOMÉTRICO FONTE: Adaptadode Schnaid e Odebrecht (2014) 4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO Os ensaios de laboratório utilizados para analisar os estados de consistência e plasticidade foram explicados na Unidade 2. Assim, neste item será dada ênfase a ensaios de determinação de resistência (cisalhamento direto) e de deformação (ensaio de adensamento). UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 182 a) Cisalhamento direto Para entendermos e começarmos a projetar fundações e obras infraestruturais (aterros, barragens etc.), temos que ter noções de resistência que o solo irá suportar, devido a toda essa estrutura sobre o solo aplicada não vir a ocasionar ruptura. Ao denominar ruptura, percebemos que este é um fenômeno característico de cisalhamento direto, ou seja: A resistência ao cisalhamento se caracteriza como a máxima tensão que o solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento do solo no plano em que a ruptura ocorrer (PINTO, 2006, p. 260). A resistência de um solo está ligada a dois fatores principais: coesão e ângulo de atrito do solo. O ângulo de atrito vem dos conceitos básicos de atrito dos solos, este por sua vez, corresponde à intensidade a qual o grupo de partículas tem dificuldade de deslizar uma as outras, e a inclinação do deslizamento corresponde ao ângulo de atrito, quanto maior o ângulo de atrito, mais atrito entre as partículas existem. Assim, o atrito corresponde aos efeitos mecânicos das partículas entre si, diferentemente da coesão, em que devido às atrações químicas entre partículas forma-se uma resistência independente da tensão normal, fazendo um papel de cola, ou seja, uma coesão real. Os ensaios mais utilizados para definição das condições cisalhantes devidas a tensões aplicadas são: cisalhamento direto e triaxial. O ensaio de cisalhamento direto pode ser realizado com amostras compactadas e indeformadas de campo. Este ensaio é um dos mais antigos equipamentos utilizados para encontrar a resistência ao cisalhamento e se baseia no critério de Mohr Coulomb. O processo consiste em aplicar uma tensão normal em um plano e verificar a tensão cisalhante que provoca a ruptura. O ensaio triaxial é realizado através de uma compressão triaxial convencional, e esta consiste na aplicação de um estado hidrostático de tensões e de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico do solo. Para isto, o corpo-de-prova é colocado dentro de uma câmara de ensaio, conforme Figura 51, e envolto por uma membrana de borracha. A câmara é enchida com água e há a aplicação de uma pressão confinante, esta pressão confinante atua em todas as direções, e o corpo fica em um estado hidrostático de tensões (PINTO, 2006, p. 266). TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 183 FIGURA 51 – ESQUEMA DA CÂMARA DO ENSAIO TRIAXIAL FONTE: A autora b) Ensaio de adensamento O efeito da formação de um solo sedimentar, num elemento, é bem representado pelo ensaio de compressão edométrica. Nos dois casos, carregamentos verticais são feitos sem que haja possibilidade de deformação lateral. O ensaio de adensamento é bastante utilizado para o cálculo de recalques de um aterro, de uma fundação sobre o solo. Este ensaio é essencial para analisar o comportamento do solo em termos de deformações que o solo já tenha sofrido e para estimar o que vai sofrer. Procedimentos do ensaio: • Moldagem do corpo-de-prova. • Transferir a amostra para a célula de adensamento e posicioná-la na prensa. • Preencher a célula de adensamento com água até que toda a amostra seja submersa. • Aguardar em torno de 24 horas para que ocorra a acomodação das partículas e que a água preencha todos os vazios. • Iniciar as etapas de carregamento (no mínimo, cinco estágios de carregamento seguindo uma PG de ordem 2. O primeiro carregamento a ser imposto na amostra são 5 kPa). Portanto os estágios iniciais do ensaio são: 5kPa, 10kPa, 20kPa, 40kPa, 80kPa. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 184 • Os estágios de carregamento deverão continuar até que a máxima tensão vertical que atuará em campo seja ultrapassada. • Para cada estágio de carregamento são medidas as variações de altura do cp por meio de um extensômetro instalado no topo da amostra. As leituras deverão ser realizadas nos seguintes intervalos de tempo: 8, 15 e 30 segundos, 1, 2, 4, 8, 15, 30 minutos, 1, 2, 4, 8, 16 e 24 horas, ou até que ocorra a estabilização das mesmas. • Após o término no último estágio de carregamento, costuma-se fazer estágios de descarregamentos para avaliar o aumento do volume do cp. As medidas da variação de altura da amostra devem ser feitas da mesma forma que nos estágios de carregamento. São obtidas duas curvas: variação da altura do corpo-de-prova versus raiz quadrada do tempo; e a curva de compressibilidade (variação do índice de vazios versus tensão vertical efetiva em escala log (Figura 52), na qual são determinados os coeficientes necessários para o cálculo do recalque por adensamento primário e secundário. FIGURA 52 – UM DOS GRÁFICOS RESULTANTES DO ENSAIO DE ADENSAMENTO Ín di ce d e V az io s Fi na l CURVA DE COMPRESSIBILIDADE Pressão (kg/cm2) 100,0010,001,000,100,01 1,40 1,50 1,60 1,70 1,80 1,90 2,00 2,10 2,20 2,30 FONTE: A autora 5 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO A investigação geotécnica pode ser dividida em três métodos (Figura 53) e depende do porte da obra a ser construída. Para estruturas de pequeno porte, deve-se utilizar uma investigação limitada, porém é adotada uma abordagem mais conservadora, com valores de segurança altos. Para estruturas convencionais sem risco e em que as cargas estão dentro dos padrões conhecidos, é possível projetar com recomendações baseadas na prática regional, porém quando o solo se apresenta com baixa resistência, deve-se fazer uma investigação detalhada. TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 185 FONTE: A autora FIGURA 53 – MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE UMA LOCALIDADE De forma geral, o julgamento geotécnico deve ser feito em três etapas: a) Projeto conceitual: Analisar o entorno da região e fazer um projeto com dados regionais; b) Projeto básico: A partir de estudos técnicos preliminares c) Projeto executivo: conforme NBR12722:1992 e NBR8036:1983 FIGURA 54 – RESUMO DAS ETAPAS DE JULGAMENTO GEOTÉCNICO Julgamento geotécnico Projeto conceitual Ver as alternativas na região Projeto básico A partir de estudos técnicos preliminares Projeto executivo NBR 12722/1992 NBR 8036/1983 FONTE: A autora A NBR 8036:1983 é utilizada para saber o quanto de sondagens, localização e profundidade da sondagem de simples reconhecimento, já a NBR12722:1992 são orientações para análise de projeto. É fundamental ter conhecimento das normas e ensaios para cada situação e tipo de perfi l estratigráfi co encontrado no local da obra, além deste fato, verifi ca- se a importância dos equipamentos utilizados, pois quanto melhor houver um conhecimento sobre equipamentos, mais acertado será o instrumento para o uso, e assim, consequentemente os parâmetros geotécnicos defi nidos no local de obra serão os mais próximos da realidade. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 186 LEITURA COMPLEMENTAR É imprescindível aplicar os conhecimentos de mecânica dos solos em análises de infraestrutura. Esta leitura complementar mostra um artigo apresentado em 2018 no Congresso Brasileiro de mecânica dos solos e engenharia geotécnica pelos Autores: Narayana Saniele Massocco, Ângela Grando e Marciano Maccarini. 1 INTRODUÇÃO O adequado conhecimento das características e parâmetros geotécnicos dos solos, principalmente daqueles relacionados com a resistência, conduz a uma maior probabilidade de otimização dos projetos de natureza geotécnica (fundações de edifícios, estrutura de contenção de terras, aterro entre outros). Do ponto de vista geotécnico, o traçado da rodovia que liga BR-101 à São Martinho, em Tubarão (Santa Catarina-Brazil), foi projetado em uma área de rizicultura, onde o lençol freático encontra-se próximo da superfície e háa predominância de solo mole. Também chamados de solos compressíveis, os solos moles são geralmente constituídos por uma alta porcentagem de materia orgânica e altos teores de umidade. São solos finos (argilas e siltes), e possuem baixa resistência a esforços de cisalhamento. Ao considerar que o local da pesquisa pertence a uma faixa litorânea, e que são nessas áreas que atualmente a demanda de infraestrutura é maior, fazem-se necessárias soluções geotécnicas na execução de obras sobre este tipo de solo. Para isso, deve-se ter acurácia na determinação dos parâmetros de resistência não drenada que condizem com as condições reais do subsolo. Além disso, a execução de sondagens específicas nos solos moles, gera suporte a análise da resistência à ruptura e recalques. Para solos argilosos, especialmente os solos moles, os parâmetros da resistência não drenada são mais precisos quando obtidos com ensaios específicos e, atualmente os ensaios de piezocone (CPTu) em conjunto com os resultados dos ensaios com palhetas são os mais utilizados em perfis de solos compressíveis. Os resultados dos ensaios definem que a resistência de cone (qt) é alta em areias e baixa em argilas, e a razão de atrito (Rf) é elevada em argilas e baixa em areias. Este fato destaca o uso do fator de cone Nkt para as análises e, com isso, pode- se utilizar o número dos golpes do ensaio SPT (NSPT) apenas para uma análise prévia. O Fator de Cone Nkt é utilizado para depósitos argilosos e estima o fator da capacidade de carga que pode ser obtida por meio da aplicação da teoria de equilíbrio limite ou do método da trajetória das deformações. A correlação entre ensaios de Piezocone e resistência não drenada (obtidos pelo ensaio de Vane Test) para encontrar o fator de cone (Nkt) e determinar o comportamento da resistência não drenada (Su) ao longo da profundidade são efetivos. Magnani (2006) realizou estudos de solo mole localizado no interior da Baía Sul da Ilha de Santa Catarina, no município de Florianópolis, estado de Santa Catarina-Brasil, através de ensaios triaxial, CPTu e Vane Test encontrou valores de Nkt igual a 12 com perfil de Su variando com a profundidade. Também TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 187 é possível verificar estudos de Rocha Filho e Alencar (1985) obtiveram Nkt de 10- 15 e Danziger (1990) com Nkt de 8-12 na região de Sarapuí/RJ; no Nordeste do Brasil estudos de Coutinho et al. (1993) e (2014) com Nkt 10-15, e estudos no sul do Brasil de Soares et al. (1997) com Nkt de 8-16. Os parâmetros de resistência não drenada (Su) advindos dos ensaios de palheta podem ser correlacionados com os ensaios de piezocone, e desse modo ser possível estimar a resistência não drenada com o aumento de profundidade. Esta análise é uma das soluções para analisar os problemas de estabilidade relativos aos solos saturados. Segundo Schnaid (2010) a determinação de valores representativos da resistência ao cisalhamento não drenada (Su) da argila, constitui-se em fator determinante de projetos porque estes valores permitem: a avaliação da estabilidade dos taludes do aterro e o dimensionamento de fundações e pavimentos. Assim, o objetivo dessa pesquisa, a qual fez parte do desenvolvimento de uma monografia, refere-se a uma análise e obtenção dos valores dos fatores de cone dos solos compressíveis a partir dos ensaios CPTu e Palhetas e, posterior análise do fator de segurança de um aterro sobre este solo para a construção da rodovia. 2 ÁREA DE ESTUDO A área em estudo localiza-se próximo ao município de Tubarão-SC. A implantação da rodovia está localizada nos municípios de Tubarão que liga a rodovia BR-101 ao bairro São Martinho, como mostrado na Figura 1. O comprimento total da rodovia é de aproximadamente 4 km de extensão e será o objeto de investigações do comportamento do solo quanto à implantação desta obra. FIGURA 1 – Localização da rodovia Fonte: (MASSOCCO, 2013) UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 188 Os dados pedológicos do Município descreveram predominância dos solos classificados como Argissolos. Também chamados de Argissolos Vermelho- Amarelos (PVA) os quais são desenvolvidos de rochas cristalinas ou sob influência destas. Apresenta horizonte de acumulação de argila, B textural (Bt), onde há textura franco arenosa com incremento de argila, com cores vermelho- amareladas devido à presença da mistura dos óxidos de ferro hematita e goethita (EMBRAPA, 2012). Segundo Higashi (2001), as características geológicas mais presentes no município são: Suíte Intrusiva Tabuleiro, Sedimentos síltico-arenosos e sedimentos argilo-arenosos contendo matéria orgânica de origem fluvio-lagunar. 3 METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho refere-se a uma análise de dados obtidos em um banco de dados geotécnicos que foram utilizados por Massocco (2013) e fazem parte da pesquisa de Grando (2016). Foram utilizados dados de ensaios standard penetration test (SPT), Piezocone (CPTu) e ensaio de palheta (Vane test), bem como dados de ensaios laboratoriais de adensamento. 3.1 Determinação do Perfil estratigráfico A partir dos dados de sondagem SPT, o perfil estratigráfico do solo pode ser constituído e subdividido em 8 pontos para a definição dos locais de realização dos ensaios de Piezocone e Palheta. TABELA 1 – Subdivisão dos trechos da rodovia Trechos Nomenclatura 1 CPTu-01 2 CPTu-02 3 CPTu-04 4 CPTu-05 5 CPTu-06 6 CPTu-07 7 CPTu-08 8 CPTu-09 3.2 Identificação dos fatores de resistência do solo Nesta pesquisa, o peso específico do solo utilizado foi o peso do solo saturado, pois foi considerado que o nível do lençol freático está próximo a superfície. Desse modo, a partir dos ensaios de adensamento, realizados em laboratório em amostras coletadas por meio de tubo Shelby, foram obtidos os valores do peso específico para o solo úmido (γsat). TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 189 A nomenclatura adotada para cada ponto foi denominada segundo os pontos do ensaio de Piezocone (CPTu). Então, com o valor do peso específico dos pontos de ensaio foi possível encontrar os valores das demais camadas da estratigrafia, a partir de aproximações dos valores calculados pelo ensaio de adensamento. Ainda, para cada ponto, nas camadas subjacentes foi definido valores de pesos específicos conforme o aumento da profundidade e subdivisão das camadas. A tensão vertical total do solo (σv0) foi utilizada para os cálculos, pois é considerada a parcela de poropressão atuante, uma vez que, o solo é considerado saturado. Assim, esta tensão foi identificada para cada divisão de camada e profundidade nos oito pontos de realização dos ensaios de Palheta e Piezocone, por meio da equação (1) e da equação (2): σv0= γsat × h (1) σv0= γsat × z (2) Onde: σv0 é a tensão vertical total do solo [kPa]; qt é a resistência de ponta corrigida [kPa], determinada pelo ensaio de Piezocone; h são as profundidades [m] medidas pelo ensaio de Piezocone; z é profundidade [m] no ponto de medida do ensaio de Palheta. 3.3 Fator de cone (Nkt) e da resistência não drenada (Su) O ensaio de palheta fornece a resistência não drenada do solo (Su) [kPa]. A partir dos dados medidos neste ensaio foi possível calcular os valores do fator de cone (Nkt) para 19 dados de ensaio de Palheta pela equação (3): qt- v0Nkt= Su σ (3) Com os valores de Nkt encontrados pela equação (3) foi possível obter uma média desses valores para cada local de ensaio de Piezocone, por meio da equação (4): Nkt +...+Nktn1Nktmédio= n (4) Onde: Nkt1 é o valor inicial; Nktn é o valor final; n é o número de valores de Nkt. Adotando o valor médio de Nkt para cada ponto do ensaio de Piezocone foi possível encontrar o Su nas demais profundidades deste ensaio, equação (5): qt - v0Su = Nkt σ (5) UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 190 Os ensaios de Piezocone (CPTu) foram realizados em 8 locais. Como a obtenção dos valores de Nkt depende dos dados do ensaio de Palheta, foi possívelencontrar os valores de Nkt para os 19 pontos do ensaio de Palheta. Em cada local foram realizadas medidas de Su em diferentes profundidades e a partir disso, a média dos valores de Nkt foi encontrada para cada um desses pontos. Plotando os valores de Nkt com a profundidade foi encontrada a faixa de valores que este se encontra e assim, definido um valor único deste fator para representação em projeto. No entanto, neste trabalho, para uma análise aprofundada o Nkt utilizado para fins de cálculo foi o médio para cada CPTu analisado. Com os valores de Nkt médios encontrados foi realizada uma correlação com resultados determinados por outras pesquisas. A partir dos valores de Su foram obtidos para cada ponto de ensaio de Piezocone e Palheta, um gráfico Su versus profundidade. Assim, foi possível construir gráficos para pontos de ensaio e escolhido um valor de Su médio para cada gráfico, ou seja para cada trecho. 3.4 Análise de estabilidade Para a análise de estabilidade foi escolhido, apenas um perfil: o trecho 5. A partir dos valores obtidos de resistência não drenada neste perfil de solo, foi admitido uma altura crítica de 3m de aterro. O perfil de resistência não drenada, para uma melhor análise, foi dividido em valores médios de Su por camadas. Definidos os perfis de resistência não drenada, com as dimensões e parâmetros do aterro foi possível utilizar o software Slide para a verificação do fator de segurança. 4 RESULTADOS 4.1 Fatores de resistência do solo A partir dos valores de resistência não drenada (Su) obtidos pelo ensaio de palheta, foram determinados os fatores de cone (Nkt) para os pontos deste ensaio. A tabela 2 corresponde aos valores dos parâmetros de γsat, Su (medidos pelo ensaio de palheta), qt, Nkt e Nktmédio (estimados). TABELA 2 – Valores de parâmetros do Solo compressível. Prof γsat Su σv0 qt Nkt Nkt (m) (kN/m³) (kPa) médio 10 14 13,8 15,5 34,61 46,63 138 205 684 804 16 13 14 6 14 13,8 13,8 28,47 33,33 83 216 424 818 12 18 15 5 12,9 12,61 64 219 12 12 TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 191 4 10 16 14,6 14,6 14,9 12,44 14,51 17,69 58 146 237 205 447 638 16 21 23 18 4 10 16 8,03 21,8 31,65 8,03 21,80 31,65 52 129 210 205 439 - 19 14 - 17 4 10 16 10,49 14,77 22,57 10,49 14,77 22,57 54 135 215 230 439 629 17 18 18 18 2 4 6 10,52 8,42 8,60 10,52 8,42 8,60 24 48 72 151 250 250 12 24 21 19 4 8 12 10,17 13,22 19,62 10,17 13,22 19,62 54 108 162 208 282 396 15 13 12 13 A partir dos dados fornecidos na tabela 2, pode-se perceber a distribuição dos valores da profundidade versus Nkt (Figura 2), em que foi possível definir a faixa de valores deste parâmetro e adotar um valor único de projeto. O valor de Nkt médio considerado (16) está coerente ao comparar com as pesquisas da literatura para este solo com argila mole, Schnaid (2008) ao estudar um depósito em Porto Alegre/RS obteve Nkt na faixa de 8 à 16 e Magnani na região de Florianópolis (SC) com Nkt de 12. Para analisar a distribuição dos dados a Figura 3 corresponde aos valores de resistência não drenada versus (qt-σv0) a inclinação de 0,0629 corresponde a um Nkt de 15,89 (aproximadamente 16) com R² de 0,8308. Para obter uma análise geral a Figura 4 corresponde aos valores de Nkt encontrados nesta pesquisa com valores obtidos na literatura de diferentes regiões do Brasil. FIGURA 2 – Valores de Fator de cone (Nkt) dos perfis de solo Fator de cone - Nkt Nkt adotado no projeto: 16 Pr of un di da de (m ) 3010 0 0 5 10 15 20 20 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 192 Desse modo, confirma-se que o valor de Nkt adotado (16), para o projeto está de acordo com a faixa de valores encontrada pelos autores descritos, e neste caso, é considerado conservacionista, ou seja, está a favor da segurança do aterro, uma vez que, um valor maior de fator de cone (Nkt) indica que o solo possui menor resistência. FIGURA 3 – Relação de Su versus qt-σv 0 qt - σv0 [kPa] Su = 0,0629 (qt - σv0) R2 = 0,8308 Nkt adotado 14 Su [k Pa ] 30 6005004003002001000 0 5 10 15 20 25 qt - σv0 [kPa] Su [k Pa ] 30 6005004003002001000 0 5 10 15 20 25 Almeida (2002) Dados Schnaid et al (2001) Baroni (2010) Magnani (2006) Almeida (2002) Tendência FIGURA 4 – Correlação entre Nkt com regiões do Brasil TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 193 4.2 Variação da resistência não drenada Com os valores da média de Nkt para cada trecho do ensaio de piezocone, foi possível determinar para as demais profundidades deste ensaio os valores médios de resistência não drenada (Su), bem como a variação da resistência não drenada ao longo da profundidade que são mostradas nas figuras 5, 6 (de a até e) e 7. FIGURA 5 – Perfil de Su do Trecho 1 Foi possível verificar nos perfis de resistência não drenada que nas camadas iniciais há um pico de resistência para todos os trechos analisados. Este fato foi justificado pela presença de turfa na camada superficial do solo, o que originou valores de Su aparentemente incoerentes, pois a composição orgânica (fibras e raízes) geram valores de resistência imprecisos. Os valores altos de resistência não drenada foram desconsiderados por se tratar de solos com alta capacidade suporte, característico de solos não coesivos. Assim, os valores de resistência não drenada variaram de 8 a 30 kPa. UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 194 a) Perfil de Su do Trecho 2 b) Perfil de Su do Trecho 3 c) Perfil de Su do Trecho 4 d) Perfil de Su do Trecho 5 TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 195 FIGURA 6 – Perfis de Su dos Trechos 2 a 7 e) Perfil de Su do Trecho 6 f) Perfil de Su do Trecho 7 g) Perfil de Su do Trecho 8 FIGURA 7– Perfil de Su do Trecho 8 UNIDADE 3 | INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 196 3.4 Análise de estabilidade A análise da estabilidade foi realizada para o trecho 5, com os parâmetros que constam na tabela 3, calculados e definidos para cada profundidade. O fator de segurança foi obtido por meio dos parâmetros da tabela 3, com o auxílio do software slide. A figura 8 corresponde ao desenho do aterro, bem como as dimensões das camadas e o fator de segurança. Verificou-se que neste perfil o fator de segurança foi 0,705, considerado baixo, mostrando que o aterro necessita de melhorias na estabilidade para obter um ganho de resistência. Além disso, verificou-se que os recalques proeminentes do adensamento do solo devem ser calculados, pois os perfis são na sua maioria compostos por solos compressíveis. TABELA 3 – Parâmetros de cálculo do fator de segurança Camadas γnat γsat φ Su [kN·m-3] [°] [kPa] Pavimento 20 - 45 - Aterro 20 - 35 5 Colchão drenante 18 - 30 - Turfa - 12.9 - 10 Argila muito mole, cinza escuro (A) - 12.9 - 15 Argila muito mole, cinza escuro (B) - 13.1 - 20 Argila mole a média, cinza escuro (C) - 13.1 - 30 FIGURA 8 – Análise da estabilidade TÓPICO 3 | INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 197 4 CONCLUSÕES Foram observados, com esta pesquisa, que os parâmetros geotécnicos de um depósito de solo que contém camadas drenantes e/ou turfosas apresentou dispersão quando relacionados ao fator Nkt, por exemplo. A partir da grande variabilidade (Nkt: 12 a 24) notou-se que a melhor forma de abordagem para o dimensionamento é a definição dos parâmetros inicialmente por perfis individuais. Ao relacionar o valor médio de Nkt com os encontrados na literatura notou-se que este depósito apresentou resistências baixas e originou o valor de Nkt igual a 16. Adicionalmente, quando analisados, os perfis de resistência não drenada foi verificado que os picos de Su condizem a camadas de areia, e os valores médios de Su apresentaram-se de forma conservadora em relação aos solos compressíveis. Por conseguinte, no momento da verificação da estabilidade do aterro houve a ruptura com um fator de segurança de 0,705, indicando que para este depósito o solo precisa de soluções de melhoria de capacidade suporte. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. S. S; MARQUES, M. E.S. (2010). Aterros sobre solos Moles: Projeto e desempenho. São Paulo: Editora Oficina de texto. ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S.; FONSECA, O. A. (2002). Características do solo de fundação da terceira pista do aeroporto de Guarulhos. In: XII Congresso brasileiro de mecânica dos solos e engenharia geotécnica, São Paulo: vol. 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D. (1997). Determination of the characteristic of a soft clay deposit in southern Brazil. In: International symposium on recent developments in soil and pavement mechanics, Rio de Janeiro. P. 297-302. 199 Neste tópico, você aprendeu que: • Os ensaios são realizados dependendo dos parâmetros que são necessários em projeto. • O primeiro ensaio a ser realizado é o SPT, caso os valores de Nspt forem baixos ou o ensaio não conseguir ir até a profundidade buscada, deve-se partir para outros ensaios. • Os parâmetros utilizados em projeto são coesão e ângulo de atrito do solo. • O ensaio de cisalhamento direto pode ser realizado com amostras compactadas e indeformadas de campo. Este ensaio é um dos mais antigos equipamentos utilizados para encontrar a resistência ao cisalhamento. • Existe um programa de investigação baseado em porte de obra e definido em projetos conceitual, básico e executivo. RESUMO DO TÓPICO 3 200 AUTOATIVIDADE 1 O engenheiro Florêncio está analisando um projeto de fundações e quer escolher o ensaio mais adequado. Inicialmente ele estudou sobre os tipos de solo. Relacione o tipo de solo com os ensaios geotécnicos de campo e com as suas respectivas características de operacionalidade, aplicabilidade e informações obtidas: a) O engenheiro percebeu que as casas ao redor possuem solos com bastantes pedregulhos e matacões e após o ensaio retiraram um testemunho (L=2 m). Que ensaio é este? Explique o funcionamento e resolva a questão. b) Geralmente esse é o primeiro ensaio que o engenheiro pensa em realizar. O ensaio popularmente chamado de SPT. Preencha os dados do laudo de SPT nas colunas de número de golpes e desenhe o gráfico. Por fim, assinale o que for verdadeiro; se for falso, justifique sua resposta. L = - 35 cm L = - 20 cm L = 0 L = 0 L = 17 cm L - 38 cm 38 17 20 35 0,55 Rocha de qualidade regular 200 + + + = = →RQD 201 I- ( ) É possível determinar na sondagem SPT a extensão, a profundidade, a espessura e a resistência das camadas do subsolo. II- ( ) É possível identificar a granulometria, a cor, a resistência (Nspt), a consistência e a compacidade dos solos de cada camada do subsolo. III- ( ) É possível coletar amostras indeformadas de solo. IV- ( ) É possível determinar a profundidade do nível do lençol freático. V- ( ) É possível obter informações sobre a profundidade da superfície rochosa, e, a partir de amostras coletadas, verificar o estado de alteração e variação da rocha encontrada. Amostra Nº ENSAIO DE PENETRAÇÃO Golpes/ cm GRÁFICO .... ―― 1º + 2º 2º + 3º 1 8 8 2 5 6 3 2 2 4 5 4 5 7 6 6 2 2 7 1 1 8 2 2 9 3 2 10 2 2 11 4 3 12 2 2 13 1 1 14 3 2 15 2 2 16 2 2 17 2 2 18 3 4 19 3 3 20 19 24 45403530252015105 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 202 c) Em relação aos procedimentos de execução desse ensaio (SPT), analise-os quanto à sua veracidade; se forem falsos, justifique sua resposta. VI- ( ) Inicialmente limpa-se o local, para na sequência avançar com o trado até 3 m de profundidade. VII- ( ) Posicionar e cravar o amostrador padrão no solo. Trata-se de uma cravação com martelo de 65 kg caindo a uma altura de 75cm. VIII- ( ) Anotar a resistência do solo a cada dois metros de profundidade. IX- ( ) Descrever a textura e a cor do solo através da coleta de amostras. X- ( ) Realizar a leitura do nível do lençol freático após a realização do ensaio e após 24h. 203 REFERÊNCIAS ABNT NBR 6459: 2016. Solo – Determinação do limite de liquidez e plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. ______. Análise granulométrica – Rochas e Solos. NBR 6502, Rio de Janeiro, 1995. ______. NBR 6457:1986. Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1986. ______ NBR 7183: 1982. Solo – Determinação do limite e relação de contração dos solos. Rio de Janeiro,1982. ______. NBR 7181: 1982. Solo – Análise Granulométrica. Rio de Janeiro, 1982. ______. NBR 7180: 2016. Solo – Determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. ______. NBR 6502:1980. Rochas e solo. Rio de Janeiro, 1980. ASTM D-3282. Standard Practice for Classification of Soils and Soils and Soil- aggregate mixture for Highway Construction Purposes. ASTM International. West Conshohocken, PA, 2018. ASTM D-2487. Standard Practice for Classification of Soils for Engineering Purposes (Unified Soil Classification System). ASTM International. West Conshohocken, PA, 2011. BORGES, C. R. 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