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DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 SUMÁRIO AULA 01 – INQUÉRITO POLICIAL ........................................................................................................................................... 2 AULA 02 – CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL ..................................................................................................... 3 AULA 03 – CARACTÉRISTICAS INQUÉRITO POLICIAL ..................................................................................................... 5 AULA 04 – VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL .......................................................................................... 7 AULA 05 – NOTITIA CRIMINIS E DELATIOS CRIMINIS ..................................................................................................... 10 AULA 06 – PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO ................................................................................................................... 13 AULA 07 – DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL ................................................................................................................. 17 AULA 08 – GARANTIAS DO INVESTIGADO ........................................................................................................................ 19 AULA 09 – ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO .................................................................................................................... 22 AULA 10 – DA PROVA ............................................................................................................................................................. 23 AULA 11 – CADEIA DE CUSTÓDIA ....................................................................................................................................... 25 AULA 12 – QUESITOS E ASSISTENTES TÉCNICOS ......................................................................................................... 28 AULA 13 - PERÍCIAS ESPECIAIS .......................................................................................................................................... 31 AULA 14 – INTERROGATÓRIO DO ACUSADO................................................................................................................... 35 AULA 15 – INTERROGATÓRIO DO ACUSADO................................................................................................................... 38 AULA 16 INTERROGATÓRIO DO ACUSADO ...................................................................................................................... 41 AULA 17 – PROVA TESTEMUNHAL ..................................................................................................................................... 43 AULA 18 – DOCUMENTOS DE PROVA ................................................................................................................................ 46 AULA 19 – MEDIDAS DE CAUTELA...................................................................................................................................... 49 AULA 20 – MEDIDAS CAUTELARES .................................................................................................................................... 52 AULA 21- PRISÃO EM FLAGRANTE ..................................................................................................................................... 55 AULA 22 – PRISÃO EM FLAGRANTE ................................................................................................................................... 57 AULA 23 – PRISÃO PREVENTIVA ......................................................................................................................................... 60 AULA 24 – PRISÃO PREVENTIVA ......................................................................................................................................... 63 AULA 25 – PRISÃO TEMPORÁRIA ....................................................................................................................................... 65 AULA 26 – PRISÃO TEMPORÁRIA ....................................................................................................................................... 67 AULA 27 – AÇÃO PENAL ........................................................................................................................................................ 70 AULA 28 – AÇÃO PENAL ........................................................................................................................................................ 73 AULA 29 – AÇÃO PENAL ........................................................................................................................................................ 78 AULA 30 – AÇÃO PENAL ........................................................................................................................................................ 79 AULA 31 – HABEAS CORPUS ............................................................................................................................................... 85 AULA 32 – HABEAS CORPUS ............................................................................................................................................... 89 2 AULA 01 – INQUÉRITO POLICIAL HISTÓRICO DO INQUÉRITO POLICIAL Historicamente, o fato criminoso atrai a presença do Estado para as relações interpessoais. As- sim, para o exercício pleno do jus puniendi, se fez necessária a criação de um instrumento que assegurasse a devida averiguação do delito. Grécia: A origem do Inquérito Policial se deu na Grécia antiga, onde havia a necessidade de in- vestigar o comportamento profissional e familiar dos candidatos à carreira de policial. Roma: Em Roma, o instituto denominado “inquisitio” consagrava a possibilidade de o magistrado delegar poderes à vítima para a realização de diligências a fim de encontrar o culpado pela infra- ção. Tal instituto também conferia ao acusado o direito de buscar provas de sua inocência, isto é, a ele era conferido o direito à ampla defesa e ao contraditório. Brasil Colônia: Posteriormente, houve uma transformação do instituto, tendo o Estado reivindi- cado para si a investigação e o jus puniendi, sendo esta a fase da denominada vingança pública. Neste contexto, o procedimento investigativo introduzido no Brasil Colônia se deu através das Ordenações Filipinas, instituídas por Portugal. Brasil Império: Já no Brasil Império, acompanhando a linha evolutiva encontramos os dispositi- vos do Código de Processo Penal Brasileiro de 1832 que, ao tratarem do procedimento informa- tivo, delinearam algumas características do atual Inquérito Policial, como a separação da Polícia e do Poder Judiciário. Primeiro conceito de inquérito: Somente através da Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871, regulamentada pelo Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, é que o Inquérito Policial propriamente dito surgiu em nosso ordenamento jurídico, sendo assim definido pelo artigo 42 da referida norma: "O Inquérito Policial consiste em todas as diligências necessárias para o desenvolvimento dos fa- tos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito”. Previsão atual do inquérito: Por fim, em 1941, o atual Código de Processo Penal dedicou-se ao Inquérito Policial em seu Título II, especificamente dos artigos 4º ao 23. NATUREZA DO INQUÉRITO POLICIAL O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial. É um procedimento, isto é, uma sequência de atos voltados a uma finalidade. Não é um processo administrativo e sim um procedimento, não resultando nenhuma sanção ao seu final. É administrativo e não judicial, pois não é realizado no âmbito doPoder Judiciário e sim da admi- nistração pública, presidido por autoridade administrativa. A natureza inquisitiva decorre da ausência de contraditório e ampla defesa. 3 Persecutório porque persegue a satisfação do direito de punir do Estado (jus puniendi). Persecução criminal (persecutio criminis): é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia, oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como informatio delicti, na fase pré-processual (informativa, preliminar e inquisitiva). Em seguida, ocorre a fase processual, que é o momento da persecução criminal em juízo, por meio da a ação penal. Por inquérito policial compreende-se o conjunto de diligências realizadas pela autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, bem como as circunstâncias, permitindo ao Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes de ação penal privada) o oferecimento da de- núncia e da queixa-crime, respectivamente. Legitimidade para conduzir o inquérito: O inquérito policial é atividade específica da polícia denominada judiciária, isto é, a Polícia Civil, no âmbito da Justiça Estadual, e a Polícia Federal, no caso da Justiça Federal. NÃO EXCLUSIVIDADE DA INVESTIGAÇÃO A atribuição para apuração das infrações penais não é exclusiva da Polícia Judiciária, podendo a lei autorizar outras autoridades administrativas para a função investigativa: Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s) Polícia Militar (IPM) Polícia da Câmara e do Senado (Súmula nº 397 do STF) Ministério Público. FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a apuração da existência de infração penal (materialidade) e indicar a respectiva autoria, bem como as cir- cunstâncias da ação criminosa, a fim de fornecer ao titular da ação penal elementos mínimos pa- ra que ele possa ingressar em juízo, contribuindo para formação de seu convencimento (opinio delicti). O titular da ação penal, em regra é o Ministério Público (Ação Penal Pública) e excepcional- mente, o ofendido ou querelante (Ação Penal Privada). A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato criminoso. Apurar a autoria consiste na autoridade policial desenvolver a necessária atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal, ao menos de forma indiciária. AULA 02 – CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL I) Procedimento escrito/formal: O inquérito policial é um procedimento escrito, já que destinado a fornecer elementos ao titular da ação penal, que adota também a forma escrita. Dispõe o artigo 9° do CPP que "todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade". 4 Não há impedimento que o registro dos depoimentos seja realizado por outros meios, como a gravação magnética, digital ou meio audiovisual. II) Procedimento sigiloso: Essa qualidade é importante para que possa a autoridade policial providenciar as diligências necessárias ao esclarecimento do fato criminoso sem que se lhe opo- nham, no caminho, empecilhos para impedir ou dificultar a colheita de informações com oculta- ção ou destruição de provas, influência sobre testemunhas, etc. Por isso dispõe a lei que "a auto- ridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade" (art. 20 do CPP). Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá men- cionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes (art. 20, parágrafo único, CPP). O sigilo não se estende ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos investigatórios, nem ao Poder Judiciário. ATENÇÃO! Advogado - Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do repre- sentado, ter acesso amplo aos elementos de prova que já documentados em procedimento in- vestigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercí- cio do direito de defesa. III) Discricionariedade: O delegado conduz as investigações de acordo com a conveniência e a oportunidade, sempre buscando a eficiência na elucidação dos fatos investigados. Por esta ra- zão, o inquérito não possui um rigoroso rito procedimental previsto em lei. Compete ao delegado, em cada caso concreto, estabelecer o rito de suas atividades. Além disso, o ofendido, seu representante legal e o indiciado podem requerer diligências, mas estas serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial (art. 14, CPP). Exceções à discricionariedade do inquérito policial: a) requisições do MP e do juiz: neste caso, o delegado estará obrigado a atender, salvo impossi- bilidade de fazê-lo; b) realização do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígio: este exame pode ser direto ou indireto, a teor do art. 158, CPP. No exame direto, os peritos dispõem de vestígio para análise; no indireto, os peritos se valem de elementos acessórios, como fotografias e prontuários médicos. IV) Procedimento inquisitivo: No inquérito policial, todo o poder de direção se concentra nas mãos da autoridade policial, não sendo aplicados os princípios do contraditório e da ampla defe- sa. À vista disto, o ofendido, seu representante legal e o indiciado podem requerer diligências, mas estas serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial dirigente (art. 14, CPP). Exceções: a) Admite contraditório o inquérito instaurado pela Polícia Federal, por determinação do Ministro da Justiça, para expulsão de estrangeiro (art. 70, Lei nº 6.815/1980); 5 b) A defesa técnica nos procedimentos investigativos contra servidores vinculados às institui- ções dispostas no art. 144 da Constituição Federa (Art. 14-A do CPP, introduzido pela Lei nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime). V) Indisponibilidade: Uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela auto- ridade policial (artigo 17 do CPP). O arquivamento depende de manifestação judicial, após pedi- do do titular da ação penal. Logo, uma vez instaurado o inquérito policial, mesmo que a autorida- de policial conclua pela atipicidade da conduta investigada, não poderá determinar o arquivamen- to do inquérito policial. Verificação de Procedência de Informação (VPI): A jurisprudência tem reconhecido a validade de investigações preliminares realizadas antes da instauração do inquérito policial, a partir de denúncia anônima, por meio de procedimento alcunhado de VPI, que pode ser arquivado pelo delegado de polícia, caso não se confirmem os fatos criminosos preliminarmente apurados. AULA 03 – CARACTÉRISTICAS INQUÉRITO POLICIAL VI) Dispensável: O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obri- gatória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o ofen- dido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a ação penal. Assim, caso o titular da ação penal já disponha elementos suficientes de prova da materialidade e indícios de autoria, não há necessidade de se recorrer ao inquérito, cabendo-lhe, oferecer a ação penal. Além disto, os referidos elementos de informação podem ser obtidos por meio de ou- tros instrumentos de investigação criminal, como os inquéritos parlamentares, inquéritos civis pú- blicos, investigações do próprio MP, etc. TCO: Nas infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes com pena de até 2 anos não haverá inquérito policial, que será substituído pelo Termo Circunstanciado de Ocorrência. VII) Procedimentooficial: o inquérito policial é atividade investigatória realizada exclusivamente por órgãos oficiais do Estado, no âmbito da administração pública, não podendo ficar a cargo de particular, mesmo no caso de ação penal privada, em que a titularidade da ação é atribuída à pessoa ofendida. VIII) Procedimento oficioso: ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, independentemente de provoca- ção da vítima e/ou qualquer outra pessoa. Deve, pois, instaurar o inquérito policial de ofício, nos exatos termos do art. 5º, I, do CPP, procedendo, então, às diligências investigatórias no sentido de obter elementos de informação quanto à infração penal e sua autoria. Nos caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação penal de ini- ciativa privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à manifestação da vítima ou de seu representante legal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm 6 Porém, uma vez demonstrado o interesse do ofendido na persecução penal, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, determinando as diligências necessárias à apuração do delito. IX) Procedimento unilateral: A direção dos trabalhos investigativos levados a efeito no inquérito cabe à Polícia Judiciária, na pessoa da autoridade policial, sem a participação da defesa, embora possa atender requerimento dos interessados. X) Procedimento unidirecional: Significa dizer que o inquérito tem uma única finalidade, qual seja a de apuração dos fatos, não cabendo ao Delegado de Polícia emitir nenhum juízo de valor na apuração dos fatos. XI) Autoritariedade - Trata-se de uma exigência expressa do Texto Constitucional a qual dispõe que o inquérito deverá ser presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial, ou seja, o delegado de polícia de carreira, conforme preceito expresso no art. 144 da Constituição da República Federativa do Brasil. XII) Procedimento temporário - Diz o Código de Processo Penal, em seu art. 10, § 3º, que, quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. Diante da inserção do direito à razoável duração do processo na Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII), o inquérito policial não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado indefinidamente. Em situações mais complexas, envolvendo vários acusados, o prazo para a conclusão das investigações deverá ser sucessivamente prorrogado. Porém, uma vez verificada a impossibilidade de colheita de elementos que autorizem o oferecimento de denúncia, deve o Promotor de Justiça requerer o arquivamento dos autos. FUNDAMENTO LEGAL DO INQUÉRITO POLICIAL Na Constituição Federal, encontra-se previsto, como atividade privativa da polícia judiciária, nos §§ 1.º e 4.º do art. 144: § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:" (...) IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. (...) § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. No CPP os arts. 4º a 23 são as principais normas que fundamentam e disciplinam o inquérito po- licial. Também a Lei nº 12.830, de 20/06/2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pe- lo Delegado de Polícia traz previsão de regras para o inquérito policial: 7 Art. 1º (...) § 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investiga- ção criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. TITULARIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL A presidência do Inquérito Policial cabe à autoridade policial, o delegado de polícia de carreira, embora as diligências realizadas possam ser acompanhadas pelo representante do Ministério Público, que detém o controle externo da polícia. GRAU DE COGNIÇÃO Grau de cognição do Inquérito Policial: a) Para iniciar o procedimento: Juízo de possibilidade – para dar início ao inquérito policial, o plano de cognição deverá ser sumário, em juízo de possibilidade, limitando-se a atividade míni- ma de comprovação e averiguação dos fatos e da autoria, para justificar o processo ou o não processo. b) Para indiciamento: Juízo de probabilidade - já para o indiciamento, realizadas diligências investigativas, será exigido juízo de probabilidade, estando comprovada a materialidade do delito e colhidos suficientes indícios de autoria. Anote-se que, para o juiz e para o Ministério Público, o juízo de cognição é diverso: Juiz e Ministério Público: Para o julgamento, o juiz deve chegar a um juízo de certeza, sendo necessário esgotar toda a matéria probatória, através de uma cognição plena, o que justificaria uma sentença condenatória. Já para o Ministério Público dar início de uma ação penal, é necessário tão somente um juízo de probabilidade, que seria o predomínio das razões positivas que afirmam a existência do delito e sua autoria. AULA 04 – VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL O inquérito policial tem valor probante relativo, considerando a ausência das garantias constituci- onais da ampla defesa e contraditório, ficando sua utilização como instrumento de convicção do juiz condicionada a que as provas nele produzidas sejam renovadas ou ao menos confirmadas pelas provas judicialmente realizadas sob o manto do devido processo legal e dos demais princí- pios informadores do processo. Tem, portanto, conteúdo apenas informativo, que visa fornecer elementos necessários para a propositura da ação penal. 8 ATENÇÃO: Exatamente porque o inquérito não está precedido de contraditório, as provas colhi- das não têm valor absoluto, razão pela qual, o juiz, embora possa formar sua convicção pela livre apreciação da prova produzida, não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos elemen- tos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e an- tecipadas. Elementos migratórios: são assim chamadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipa- das porque migram do IP para o processo, podendo servir de base para eventual decisão conde- natória. As provas cautelares são aquelas em que há risco de perecimento do objeto de prova e o con- traditório é diferido. Exemplo: interceptação telefônica. As provas antecipadas são as produzidas perante o juiz, em uma fase que não seria, em regra, a adequada. Pode ocorrer até mesmo antes de instaurado o processo, em razão da urgência. Exemplo: Depoimento de testemunha - artigo 225 do CPP. As provas não repetíveis são as produzidas na fase de inquérito. Todavia, descabe sua repro- dução em juízo. Exemplo: Exame de corpo de delito em alguém que sofreu lesões corporais le- ves. O STF já se manifestou admitindo, de um modo geral, a utilização subsidiária, no sentido de que os elementos do inquérito podem influir na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam outros indícios e provas que passam pelo contraditório em juízo. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL 1) CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA Pode ser instaurado das seguintes formas: a) de ofício: por força do princípio da obrigatoriedade, que também se estende à fase investiga- tória, caso a autoridade policial tome conhecimentoimediato e direto do fato, por meio de dela- ção verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do povo (delatio criminis simples), por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no caso de prisão em flagrante, deve instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, independentemente da provocação de qualquer pessoa (CPP, art. 5º, I). ATENÇÃO: a denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de inquéri- to policial, mas, a partir dela, pode a Polícia proceder a Verificação de Procedência da Informa- ção (VPI), que se constitui de diligências preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e, então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito, caso restem fundadas suspeitas de ocorrência de delito. Com exceção da prisão em flagrante, cujo Auto de Prisão inicia o inquérito policial, nos de- mais casos a peça inaugural do inquérito será uma portaria, que deve ser subscrita pelo Delega- do de Polícia e conter o objeto da investigação, as circunstâncias já conhecidas quanto ao fato delituoso, assim como as diligências iniciais a serem cumpridas. 9 b) requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: diz o art. 5º, inciso II, do CPP, que o inquérito será iniciado, nos crimes de ação pública, mediante requisição da autorida- de judiciária ou do Ministério Público. Diante de requisição, a autoridade policial está obrigada a instaurar o inquérito policial, não por força de hierarquia, mas em obediência ao princípio da obri- gatoriedade, que impõe às autoridades policiais o dever de agir diante da notícia da prática de in- fração penal. ATENÇÃO: O STJ já decidiu que a “recusa no cumprimento das diligências não consubstancia, sequer em tese, o crime de desobediência, repercutindo apenas no âmbito administrativo- disciplinar” (RHC 6511, Rel. Min. Vicente Leal, DJ 27.10.1997). c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal: também é possível a instauração de inquérito policial a partir de requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para re- presentá-lo. Esse requerimento conterá, sempre que possível: I) a narração do fato, com todas as suas circunstâncias; II) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de fazê-lo; III) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência (CPP, art. 5º, § 1º). ATENÇÃO: Convencendo-se que a notitia criminis é totalmente descabida, sem respaldo jurídico ou material, deve a autoridade policial indeferir o requerimento do ofendido para instauração de inquérito poli- cial, cabendo recurso inominado ao chefe de Polícia da decisão de indeferimento. d) notícia oferecida por qualquer do povo: de acordo com o art. 5º, § 3º, do CPP, qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pú- blica poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Cuida-se da chamada delatio criminis simples, comumente realizada através de uma ocorrência policial. Mais uma vez, verificada a procedência e veracidade das informações, deve o delegado determinar a instauração do inqué- rito policial. ATENÇÃO! O cidadão, a princípio, não tem o dever de noticiar a prática de infração penal, tratando-se de mera faculdade. Já as autoridades públicas, notadamente aquelas envolvidas na persecução penal, por força do princípio da obrigatoriedade, têm o dever de noticiar fatos possivelmente criminosos, sob pena de responderem administrativamente e de incorrerem no delito de prevaricação, caso comprova- do que a inércia se deu para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (CP, art. 319). 10 2) CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA a) Representação do ofendido: Por representação, também denominada de delatio criminis postulatória, entende-se a manifestação da vítima ou de seu representante legal no sentido de que possuem interesse na persecução penal, não havendo necessidade de qualquer formalismo. Por exemplo, no crime de ameaça, capitulado no art. 147 do Código Penal, em que, após a des- crição do tipo penal e da cominação da pena, estabelece o parágrafo único do citado dispositivo: “somente se procede mediante representação”. Ou seja, a instauração do inquérito policial estará na dependência da manifestação da vítima ou de seu representante legal, de onde se possa concluir que têm intenção de ver apurada a responsabilidade penal do autor da infração. b) Requisição do Ministro da Justiça: Nas hipóteses em que a ação penal pública for condicio- nada à requisição do Ministro da Justiça, esta será encaminhada ao chefe do Ministério Público para que, desde logo, ofereça denúncia ou requisite diligências à Polícia. A exigência de requisição ocorre em determinados casos elencados no Código Penal: nos crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República ou chefe de governo estran- geiro (art.145, § único, primeira parte), nos delitos praticados por estrangeiro contra brasileiro fo- ra do Brasil (art.7º, §3º). 3) CRIMES DE AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada, o Estado fica condicionado ao re- querimento do ofendido ou de seu representante legal. Nessa linha, dispõe o art. 5º, § 5º, do CPP, que a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito nos crimes de ação privada a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. No caso de morte ou ausência do ofendido, o requerimento poderá ser formulado por seu côn- juge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31). Como se vê, esse requerimento é condi- ção de procedibilidade do próprio inquérito policial, sem o qual a investigação sequer poderá ter início. AULA 05 – NOTITIA CRIMINIS E DELATIOS CRIMINIS ATENÇÃO: O inquérito policial também pode começar mediante Auto de Prisão em Flagrante, além da ação penal pública incondicionada, também nos casos de ação penal pública condicionada e ação pe- nal privada, sendo que, nestes dois últimos casos, o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h), sob pena de tornar sem efeito a prisão em flagrante. “NOTITIA CRIMINIS” (Notícia do crime) a) Conceito: É o conhecimento pela autoridade policial, de forma espontânea ou provocada, de um fato aparentemente delituoso. A ciência da infração penal pode ocorrer de diversas maneiras, e esta comunicação, provocada ou por força própria, é chamada de notícia do crime. 11 b) Espécies: I) “Notitia Criminis” espontânea (de cognição direta, imediata, ou inqualificada): ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas ativi- dades rotineiras de investigação. Exemplo: imprensa, encontro do corpo de delito ou até pela de- núncia anônima, esta última somente se precedida de diligências policiais preliminares que con- firmem a veracidade dos fatos noticiados. II) “Notitia Criminis” provocada (de cognição indireta, mediata, ou qualificada): ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de algum ato jurídico de co- municação formal, como a requisição do juiz ou do ministério público, requerimento da vítima, re- presentação do ofendido. III) “Notitia Criminis” coercitiva: ocorre quando a notícia do crime se dá juntamente com a apresentação do infrator preso em flagrante, pela Polícia ou por particular. Observações: A denúncia anônima, por si só, não pode ensejar a instauração de inquérito policial. Se o crime for de ação pública condicionada ou de iniciativa privada, o auto de prisão em flagran- te somente poderá serlavrado se forem antes observados os requisitos legais, ou seja, represen- tação do ofendido (ação pública condicionada) ou requerimento da vítima (ação de iniciativa pri- vada), na forma dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do CPP. DELATIO CRIMINIS a) Conceito: Delatio criminis é a comunicação feita verbalmente ou por escrito, por qualquer pessoa do povo à autoridade policial, acerca da ocorrência de infração penal em que caiba ação penal pública incondicionada. Caso a autoridade policial verifique a procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar oficialmente os fatos delatados. Ex.: se alguém presen- ciar um homicídio pode comparecer ao distrito policial, comunicando o acontecimento. É chamada de delatio criminis simples quando o delator se limitar a comunicar o crime, não re- querendo providências, nos casos de crime de ação pública incondicionada, que impõe o dever de atuação do Estado. A delatio criminis também pode ser dirigida ao Ministério Público, titular da ação penal, que pode- rá apresentar denúncia ao Poder Judiciário de logo, caso o delator envie documentos suficientes para instruir a propositura da ação penal, ou requisitar a instauração de inquérito policial. Delatio criminis postulatória – é aquela em que a vítima comunica a infração penal à autorida- de policial e pede a instauração do inquérito para apuração. Também se refere à comunicação da vítima, nos mesmos termos, fornecendo a representação para que o Ministério Público possa agir nos crimes de ação pública condicionada. PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS O Código de Processo Penal traz, em seu arts. 6º e 7º, um rol exemplificativo de diligências investigatórias que poderão ser adotadas pela autoridade policial ao tomar conhecimento de um fato delituoso. 12 Algumas são de caráter obrigatório, como, por exemplo, a realização de exame pericial quando a infração deixar vestígios; outras, no entanto, têm sua realização condicionada à discricionariedade da autoridade policial, que deve determinar sua realização de acordo com as peculiaridades do caso concreto (v.g., reconstituição do fato delituoso). Vejamos, então, quais são essas diligências: PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS 1º) Dirigir-se ao local do crime providenciando para que não se alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais (CPP, art. 6º, I) Preservação do local do crime - tem um objetivo precípuo preservar os vestígios deixados pela infração penal (corpo de delito), a fim de não prejudicar o trabalho a ser desenvolvido pelos peri- tos criminais. Um dos requisitos básicos para que os peritos criminais possam realizar um exame pericial satis- fatório é que o local esteja adequadamente isolado e preservado, a fim de que não se perca qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos sujeitos ativos na cena do crime. 2º) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais (CPP, art. 6º, III) Apreensão de objetos – O dever de apreensão dos objetos relacionados ao fato delituoso, após liberados pelos peritos criminais, tem os seguintes objetivos: a) futura exibição do instrumento utilizado para a prática do delito, como, por exemplo, durante o plenário do Tribunal do Júri; b) necessidade de contraprova; c) eventual perda em favor da União como efeito da condenação (confisco). É possível a apreensão de quaisquer objetos que guardem relação com o fato delituoso, pou- co importando sua origem lícita ou ilícita. Ao final, os instrumentos do crime, bem como os obje- tos que interessarem à prova, devem acompanhar os autos do inquérito (art. 11). Os instrumentos empregados para a prática da infração serão submetidos a exame a fim de se lhes verificar a natureza e eficiência (art. 175). Decreta-se, aliás, a perda em favor da União, res- salvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que con- sistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (art. 91, II, a, do CP). 3º) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias (CPP, art. 6º, III) Confirmando a discricionariedade dispensada ao trabalho investigatório da autoridade policial no curso do inquérito policial, podem ser apreendidos todos aqueles objetos que sejam úteis à bus- ca da verdade real, podendo tratar-se de armas, mas também de coisas totalmente inofensivas e de uso comum, que, no caso concreto, podem contribuir para a formação da convicção dos peri- tos. 4º) Ouvir o ofendido (CPP, art. 6º, IV) 13 Deve a autoridade policial proceder à oitiva do ofendido, se possível. Conquanto o depoimento do ofendido deva ser colhido com certa reserva, haja vista seu envolvimento emocional com o fa- to delituoso e consequente interesse no deslinde da investigação, as informações por ele presta- das poderão ser muito úteis na busca de fontes de provas, contribuindo para o êxito das investi- gações. Com efeito, o próprio sucesso da investigação e, consequentemente, o bom resultado final do processo dependem muito do interesse da vítima em colaborar. É ela quase sempre quem co- munica o crime e indica as principais testemunhas. O seu retorno para prestar ou fornecer novos esclarecimentos é de máxima importância. A sua participação é necessária para a realização de diligências relevantes, tais como os reconhecimentos de pessoas e coisas e a elaboração do exame de corpo de delito. ATENÇÃO: De acordo com o art. 201, § 1º, do CPP, se, intimado para esse fim, o ofendido dei- xar de comparecer, é possível que a autoridade policial determine sua condução coercitiva. AULA 06 – PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO 5º) Ouvir o Indiciado (CPP, art. 6º, V) A autoridade policial deverá ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, os mesmos preceitos do interrogatório judicial, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemu- nhas que lhe tenham ouvido a leitura. ATENÇÃO: O advogado pode acompanhar o interrogatório policial, porém não pode interferir nas perguntas e nas respostas. Por força do princípio do nemo tenetur se detegere (direito de não autoincriminação), há de se lembrar que o suspeito, investigado, indiciado ou acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Portanto, deve o investigado ser formalmente advertido pela autoridade policial que tem direito ao silêncio, e que do exercício desse direito não poderá decorrer qualquer prejuízo a sua pessoa. 6º) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações (CPP, art. 6º, VI) O reconhecimento de pessoa é meio de prova e ocorrerá quando uma pessoa, (vítima ou teste- munha) reconhecer a pessoa que de alguma forma interesse ao fato, admitindo e afirmando co- mo certa a identidade de alguém. O reconhecimento de coisas é ato ligado à identificação dos instrumentos empregados na prática delituosa (faca, revólver, etc.), dos objetos utilizados para auxiliar no delito (v.g., uma motocicleta usada em um crime de roubo) e dos objetos que constituem o produto do crime (automóvel sub- traído, celular roubado, etc.). Por força do princípio da busca da verdade e da liberdade das provas, tem-se admitido a utili- zação do reconhecimento fotográfico, observando-se, por analogia, o procedimento previsto no CPP para o reconhecimento pessoal. A acareação será admitida entre investigados, entre investigado e testemunha, entre testemu- nhas, entre investigado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sem- 14 pre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Os acarea- dos serão reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato de acareação. 7º) Determinar, se for o caso, que se procedaa exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias (CPP, art. 6º, VII) Impende destacar que, por força do disposto no art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Exame de corpo de delito: é a verificação da prova da existência do crime, feita por peritos, di- retamente, ou indiretamente, por intermédio de outras evidências (como prova testemunhal), quando os vestígios, ainda que materiais, desapareceram. O corpo de delito é a materialidade do crime, isto é, a prova da sua existência. 8º) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo dactiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes (CPP, art. 6º, VIII) O processo moderno de identificação é o dactiloscópico (comparação de impressões digitais), fundado na certeza de que não existem em duas pessoas saliências papilares idênticas e que permite, por meio de letras e números, a classificação das impressões em arquivos para a comparação com as colhidas de qualquer pessoa. ATENÇÃO: A primeira parte desse preceito do CPP, que entrou em vigor antes da Constituição Federal, deve ser lida em cotejo com o art. 5º, LVIII, da Carta Magna, que prevê que o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. A folha de antecedentes é a ficha que contém a vida pregressa criminal do investigado, de onde constam dados como a relação dos inquéritos policiais já instaurados contra sua pessoa e sua respectiva destinação. Atente-se, neste ponto, à nova redação conferida ao art. 20, parágrafo único, do CPP, pela Lei nº 12.681/12: “nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes”. A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a fotográfica. 9º) Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter (CPP, art. 6º, IV) 15 O levantamento deve ser feito de maneira objetiva, tendo em conta que os dados sobre a perso- nalidade de criminosos, poderão ter influência na aplicação das penas (art. 42, do Código Penal), na imposição e execução das penas de multa (arts. 37, 38 e 43 do CPP no arbitramento de fian- ças (§ único do art. 325 e arts. 326 e 350, do CPP) e, ainda, poderão dar margem à aplicação de medidas de segurança. 10) Averiguar a situação dos filhos menores das pessoas presas, colhendo informações sobre a sua existência, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (CPP, art. 6º, X). Constatando o Delegado de Polícia que os filhos menores da pessoa presa estão em situação de risco, deverá encaminhar a criança ou o adolescente para programa de acolhimento familiar ou institucional. Outras atribuições da autoridade policial I - Fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos: Como auxiliar do Poder Judiciário, cabe à autoridade policial fornecer as informações que lhe forem requisitadas e que possam elucidar os fatos, mesmo após a conclusão das inves- tigações. II - Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público: Mesmo não havendo subordinação hierárquica, a autoridade policial tem o dever de cumprir as diligências requisitadas pelo MP e pela autoridade judicial. Havendo recusa, pode incorrer em prevaricação (caso haja a pretensão de satisfazer interesse ou sentimento pessoal), salvo se a ordem for manifestamente ilegal. III - Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias: Os mandados prisi- onais, sejam de medidas cautelares ou em razão do trânsito em julgado de sentença condenató- ria que imprima pena privativa de liberdade, serão cumpridos nos moldes dos artigos 282 a 300 do CPP. IV - Representar acerca da prisão preventiva: a autoridade policial pode representar pela decre- tação da prisão preventiva, desde que existam indícios de autoria e prova da materialidade, além da constatação de ao menos uma das hipóteses de decretação: garantia da ordem pública ou da ordem econômica; conveniência da instrução criminal e garantia da aplicação da lei penal (arts. 312 e 313, CPP). Poderá ainda representar pela decretação da prisão temporária, uma vez pre- sentes os requisitos do art. 1° da Lei nº 7.960/1989. REQUISIÇÃO DE DADOS Requisição direta de dados cadastrais na investigação policial preliminar (art. 13-A): o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Crimes que admitem a requisição direta: Sequestro e cárcere privado (art. 148, CP); Redução a condição análoga à de escravo (art. 149, CP); Tráfico de Pessoas (art. 149-A, CP); 16 Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima ou sequestro-relâmpago (art. 158, § 3º, CP); Extorsão mediante sequestro (art. 159, CP); Tráfico internacional de criança ou adolescente (art. 239, ECA). Prazo e conteúdo da requisição: a requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e qua- tro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante; II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. Requisição de sinal telefônico de localização, nos crimes relacionados ao tráfico de pes- soas (art. 13-B): Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. Conceito de sinal: para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de co- bertura, setorização e intensidade de radiofrequência. Regras para utilização do sinal: I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei; II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; III - para períodos superiores a 30 dias, será necessária a apresentação de ordem judicial. Instauração do inquérito no crime de tráfico de pessoas: o inquérito policial deverá ser ins- taurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocor- rência policial. ATENÇÃO: Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade com- petente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. 17 AULA 07 – DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL DIREITO DE APRESENTAR DEFENSOR NO IP (ART. 14-A DO CPP) Quem tem direito: Poderão constituir defensor os indiciados que figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militarese demais procedimentos extrajudiciais que sejam servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal, ou seja: I - Polícia Federal; II - Polícia Rodoviária Federal; III - Polícia Ferroviária Federal; IV - Polícias Civis; V - Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. VI - Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital. Requisitos: Para o investigado fazer jus à defesa no IP, é necessário que: a) O objeto do procedimento seja a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal e b) Que os fatos sejam praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada. ATENÇÃO: O referido direito inclui, ainda, as situações envolvendo as excludentes de ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercícios regular de direito). Citação do investigado: O investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. Intimação da instituição: Esgotado o prazo de 48 horas com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. Militares das Forças Armadas – direito de defesa: O direito de constituir defensor no IP se aplica aos servidores militares vinculados à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS Além de todas as diligências e providências previstas no art. 6.º do CPP, prevê o art. 7.º que a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, a fim de verificar a possibi- lidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, desde que não contrarie a mora- lidade ou a ordem pública (por exemplo, crime contra a dignidade sexual). ATENÇÃO: Por força do direito de não produzir prova contra si mesmo, não é lícita a condução coercitiva do investigado para cooperar na reconstituição do crime. 18 Trata-se da reconstituição do crime, feita, se possível, com a colaboração do réu, da vítima e de eventuais testemunhas, cujo objetivo é constatar a plausibilidade das versões trazidas aos autos, identificando-se a forma provável de como o crime foi praticado. Esta diligência é uma importante fonte de prova, sobretudo no caso de crimes com violência à pessoa, podendo ser realizada no curso do inquérito policial a partir da própria iniciativa do dele- gado de polícia, ou por meio de requisição do juiz e do Ministério Público ou ainda a requerimen- to dos interessados (investigado e ofendido). INDICIAMENTO Embora o Código de Processo Penal não faça referência expressa ao ato de indiciar, o art. 2.º, § 6.º, da Lei 12.830/2013 consolidou o indiciamento como o ato privativo do delegado de polícia, por meio do qual, por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias, atribui a alguém a condição de autor ou partícipe de uma infração penal (fato típico). O ato de indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial, não existindo fundamento jurídico que autorize o juiz ou o Ministério Público requisitar ao Delegado de Polícia o indiciamento de determinada pessoa. Também não poderão essas próprias autoridades proce- derem indiciamento de suspeitos. O art. 2.º, § 6.º, da Lei 12.830/2013 deixa claro que o indiciamento ocorre apenas ao final do in- quérito (na prática policial, costuma ocorrer no relatório, sob a forma de conclusão, após a men- ção às diligências realizadas), quando a este já incorporados os elementos que permitam ao de- legado, apreciando o conjunto das providências adotadas, decidir se indicia ou não o indivíduo. Logo, no curso do inquérito policial existe simplesmente a figura do investigado. IMPORTANTE: O indiciamento não exige a comprovação do envolvimento do indivíduo na práti- ca criminosa, o que será objeto de apuração no curso da instrução criminal, após o oferecimento da denúncia ou da queixa-crime. Para o indiciamento é exercitado um juízo de probabilidade, e não de certeza de autoria. O indiciamento, realizado ou não pela autoridade policial, não vincula o Ministério Público ou o ofendido em relação ao oferecimento da denúncia ou da queixa, resultando que, ainda que tenha o delegado deixado de indiciar o investigado, poderá ser ajuizada ação penal contra ele. Da mesma forma, nada impede que, indiciado o indivíduo pela conduta prevista em determinado tipo penal, receba a infração, na denúncia do Ministério Público ou na queixa do ofendido, capitu- lação jurídica diversa. Indiciamento direto x indireto: o indiciamento pode ser direto (quando o agente está presente) ou indireto (quando o agente está ausente, a exemplo da situação de foragido ou em lugar incer- to). DESINDICIAMENTO: Embora não seja comum, pode ocorrer o “desindiciamento”, que é o can- celamento do indiciamento, por deliberação do Delegado de Polícia presidente da investigação criminal, até o final do inquérito policial, mediante decisão fundamentada, explicitando os motivos da alteração de convencimento. 19 Poderá o desindiciamento ocorrer, também, por decisão judicial, em casos de evidente 0constrangimento ilegal por parte da autoridade policial. INCOMUNICABILIDADE O art. 21, parágrafo único, do CPP prevê a possibilidade de o juiz decretar a incomunicabilidade do indiciado por prazo não superior a 3 dias, visando com isso evitar que ele prejudique o anda- mento das investigações. Tal dispositivo, entretanto, apesar de não ter sido revogado expressamente, tornou-se inaplicável em razão do disposto no art. 136, § 3º, IV, da Constituição Federal, que veda a incomunicabilida- de, até mesmo quando decretado o estado de defesa. AULA 08 – GARANTIAS DO INVESTIGADO GARANTIAS DO INVESTIGADO a) Obediência ao Princípio da Legalidade: A respeito da garantia transcrita pelo princípio da legalidade, têm-se o direito do investigado ser submetido apenas às diligências policiais previs- tas, sendo que qualquer outro método não descrito na norma, não será admitido. Após análise da legalidade, parte-se para o estudo da garantia constitucional inerente ao investigado trazida pelo princípio da verdade real. b) Busca da verdade real: A autoridade policial não deve se portar como mero espectador das provas e notícias de crimes que lhe aparecem. Pelo contrário, deve apurá-las, a fim de investigar a fundo a realidade dos fatos que lhe é apresentada, com o intuito de descobrir como estes efeti- vamente ocorreram, não se limitando às provas já trazidas aos autos. c) Presunção de inocência ou de não-culpabilidade: O princípio da presunção de inocência ou de não-culpabilidade está previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal, que assim descreve a garantia constitucional de que: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. Ademais, ressaltar que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também denomina- do de Pacto São José da Costa Rica, também tratou da matéria no seu art. 8º, nº 2, assegurando o direito fundamental de que "toda a pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”. d) Princípio do in dubio pro reo: A garantia fundamental de que o investigado será mantido no “estado de inocência” até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória implica consequências ao seu tratamento, nesta linha surgindo o princípio do in dubio pro reo. Este princípiorefere em que na imprecisão, compreende-se em favor do acusado. Assim, não conseguindo o Estado angariar provas suficientes da materialidade e autoria do crime, o juiz deverá absolver o acusado. No caso do inquérito policial, em observância ao princípio do in dubio pro reo, após o recebi- mento de uma notitia criminis e até mesmo após a autuação em flagrante delito, cabe à autorida- de de polícia judiciária em primeiro lugar verificar a veracidade dos fatos apresentados, e se en- contram pontos de convergência com outros elementos trazidos, para que em seu relatório des- creva se a conduta praticada pelo investigado constitui ou não crime. 20 e) Princípio da não autoincriminação (Nemo tenetur se detegere): É garantido ao investigado, durante a instrução policial, “o direito de permanecer em silêncio e a não incriminação”. O direito ao silêncio defluiu do art. 5°, LXIII, da CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. Por esse princípio não só se permite aos investigados, em geral, que permaneçam em silêncio durante toda a investigação, mas sim isto impede que seja ele compelido a produzir ou contribuir com a formação da prova contrária ao seu interesse. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL De acordo com o Código de Processo Penal (art. 10, § 1º), o inquérito policial deverá ser conclu- ído com a elaboração, pela autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido apurado, fazendo um esboço das principais diligências levadas a efeito na fase investigatória e indicando a classificação jurídica do fato, com posterior remessa dos autos ao juiz competente. IMPORTANTE: Deve a autoridade policial abster-se de fazer qualquer juízo de valor no relatório, não devendo emitir opiniões ou julgamentos, mas apenas prestar todas as informações colhidas durante as investigações e as diligências realizadas. No relatório a autoridade policial poderá indicar testemunhas que não tiverem sido ouvidas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas (art. 10, § 2°). ATENÇÃO: A classificação jurídica do fato feita pela autoridade policial não vincula o Ministério Público. Devolução do IP pelo Ministério Público: O MP somente poderá requerer a devolução do in- quérito à autoridade policial para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. PRAZOS DO INQUÉRITO POLICIAL INDICIADO PRESO - Se o indiciado estiver preso (em flagrante ou preventivamente), o inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias corridos, do dia em que se executar a ordem de prisão. Nesse caso, não se admitirá qualquer prorrogação. No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao prazo de en- cerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90). INDICIADO SOLTO – O inquérito policial deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração (recebimento da notitia criminis), se o indiciado estiver solto, seja mediante fiança ou não. ATENÇÃO: É possível a prorrogação do prazo de conclusão do inquérito policial, quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, mediante requerimento da autoridade poli- cial ao juiz, com a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz (art. 10, § 3º, do CPP). 21 A contagem do prazo em caso de indiciado solto atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Códi- go de Processo Penal, ou seja, despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a perda do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão. Prazos para conclusão do inquérito previstos em legislação especial: a) Crimes contra economia popular – 10 dias, estando o indiciado preso ou solto (Art. 10º. §1º, da Lei 1.521/51); b) Lei de drogas – 30 dias se o indiciado estiver preso e 90 dias quando solto, podendo, em am- bos os casos, ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de Polícia Judiciária. (Art.51 da Lei 11.343/06); Prazos para conclusão do inquérito previstos em legislação especial: c) Inquéritos a cargo da Polícia Federal – 15 dias podendo ser prorrogado por mais 15, estando o indiciado preso e 30 dias estando o indiciado solto. (Art. 66 da Lei 5.010/66); d) Inquéritos militares – 20 dias caso o indiciado esteja preso e 40 dias prorrogáveis por mais 20 se o indiciado estiver solto (art. 20, caput e § 1º da Decreto-Lei nº 1.002, de 21/10/69 – CPPM). Arquivamento do inquérito policial ATENÇÃO! O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux suspendeu, por tempo indeterminado, o trecho da Lei nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime, que modificou o artigo 28 do Código de Pro- cesso Penal (CPP) e estabeleceu regras para o arquivamento de inquéritos policiais pelo Ministé- rio Público. Assim, continuam em vigor, até decisão final do Plenário do STF, as regras para arquivamento do IP pelo juiz. O inquérito somente pode ser arquivado quando determinado pelo juiz, se houver requerimento do Ministério Público nesse sentido. Por consequência, a autoridade policial, uma vez instaurado do inquérito, não pode em nenhuma hipótese mandar arquivá-lo. Entretanto, nada obsta que, ao enviar ao juiz, o Delegado de Polícia sugira o arquivamento. ATENÇÃO: Uma vez arquivado o IP por decisão judicial, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se tiver notícia de uma nova prova, podendo até ser iniciada ação penal em caso de novas provas, pois o mero arquivamento por falta de provas não faz coisa julgada mate- rial, mas apenas formal. Ação penal privada: Diferentemente da ação pública, o arquivamento do inquérito em caso de ação privada a pedido do ofendido significa renúncia tácita, que é causa a extinção da punibilida- de. IMPORTANTE: Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiária, pois esta só é possível no caso de inércia do Ministério Público. 22 AULA 09 – ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO Arquivamento do inquérito policial Discordância do juiz: Se o Juiz discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no ar- tigo 28 do Código de Processo Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que po- derá: a) Ele próprio (Procurador-Geral) oferecer a denúncia; b) Designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia. Nesse caso, o promotor ou procurador designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem que haja ofensa ao princípio da independência funcional, pois age em nome da autoridade que o designou (por delegação) e não em nome próprio; c) Insistir no arquivamento, caso em que o Poder Judiciário não poderá discordar do arquivamen- to. ATENÇÃO: Há uma única previsão de recurso de ofício contra decisão de arquivamento do in- quérito policial, na Lei dos Crimes contra a Economia Popular - Lei nº 1.521/51 – art. 7º: Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por cri- me contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquiva- mento dos autos do respectivo inquérito policial. Arquivamento implícito do Inquérito Policial – ocorre quando o titular da ação penal pública deixa de incluir na denúncia algum fato investigado ou algum dos indiciados. ATENÇÃO: Segundo o entendimento dos Tribunais Superiores, é inadmissível o arquivamento implícito da ação penal pública incondicionada, devendo o Ministério Público aditar a denúncia para fazer incluir todos os fatos e autores na inicial acusatória. Poderá, se for o caso, o Ministério Público requerer formalmente o arquivamento do inquérito policial. Trancamento do inquérito - existe a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas corpusquando houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico. Nulidade do Inquérito Policial - Por se tratar o inquérito de um procedimento administrativo, en- tende-se que eventuais vícios nele existentes não afetam a ação penal. Significa dizer que o ví- cio gerará efeitos apenas no âmbito do inquérito policial, sem contaminar a ação penal. 23 AULA 10 – DA PROVA PRINCÍPIOS QUE REGEM A PRODUÇÃO PROBATÓRIA NO PROCESSO PENAL Princípio do contraditório: Significa que toda prova realizada por uma das partes admite a produção de uma contraprova pela outra. O contraditório consubstancia-se na expressão audiatur et altera parte (ouça-se também a parte contrária), o que importa em conferir ao processo uma estrutura dialética. Assim, se uma das par- tes arrolou testemunhas, tem a outra o direito de contraditá-las, de inquiri-las e também de arro- lar as suas. Princípio da comunhão: Uma vez trazidas aos autos, as provas não mais pertencem à parte que as acostou, mas sim ao processo, podendo, desse modo, ser utilizadas por quaisquer dos intervenientes, seja o juiz, se- jam as demais partes. Em nome dessa sistemática, por exemplo, é que não se pode, em tese, admitir a desistência da oitiva de testemunha arrolada por um dos polos sem a anuência do outro, pouco importando se quem a arrolou foi a acusação ou a defesa. Princípio da oralidade: Tanto quanto possível, as provas devem ser realizadas oralmente, na presença do juiz. Isto exis- te para que, nos momentos relevantes do processo, predomine a palavra falada, possibilitando- se ao magistrado participar dos atos de obtenção da prova. É o caso, por exemplo, da testemu- nha: mais valor terá a prova se realizada em audiência do que, ao contrário, se meras declara- ções escritas forem trazidas pelas partes e incorporadas ao processo. A oralidade, mais do que um princípio, traduz-se como uma forma de conduzir o processo, impli- cando dois subprincípios: a concentração e a imediação. Subprincípio da concentração: A produção probatória deve ser concentrada em uma só audiência ou, ao menos, no menor nú- mero possível delas. Este critério de condução do processo, já inserido em diplomas legais, co- mo a Lei 9.099/1995 (art. 81), foi incorporado ao Código de Processo Penal pela Lei 11.719/2008, ao estabelecer, nos arts. 400, 411 e 431 (procedimento ordinário, rito do júri e pro- cedimento sumário, respectivamente), a concentração das provas orais em audiência única de instrução. Subprincípio da imediação (ou imediatidade): É necessário assegurar ao juiz o contato físico com as provas no ato de sua obtenção, inclusive para que possa ele conservar em sua memória aspectos importantes do momento em que tenham sido aquelas provas produzidas e, desse mo- do, valorá-las com maior exatidão no ato da sentença. Princípio da publicidade: Considerando a importância das questões atinentes ao processo pe- nal, nada mais correto do que sejam elas tratadas publicamente. Por isso, os atos que compõem 24 o procedimento, inclusive a produção de provas, não devem ser efetuados secretamente. Visa- se, aqui, a garantir ao cidadão comum acesso e confiança no sistema de administração da justi- ça. Princípio da autorresponsabilidade das partes: Por meio deste princípio, infere-se que as partes assumirão as consequências de sua inativida- de, erro ou negligência3 relativamente à prova de suas alegações. Logo, se na ação penal públi- ca não providenciar o Ministério Público a prova da autoria da infração e de sua materialidade, a consequência será a absolvição do acusado. Por outro lado, nada impede o juiz de utilizar, como fator de condenação, o testemunho de pes- soa que, apesar de arrolada pela defesa, tenha contribuído para incriminar o réu, em vez de be- neficiá-lo. Princípio da não autoincriminação (nemo tenetur se detegere): Significa que o acusado não poderá ser obrigado a produzir provas contra si. Em face desse privilégio que lhe é assegurado, não está o acusado, por exemplo, obrigado a responder as perguntas que lhe forem formuladas por ocasião de seu interrogatório, tampouco a fornecer padrões vocais ou letra de próprio punho visando a subsidiar prova pericial requerida pelo Ministério Público. Vedação das provas ilícitas: A vedação quanto às provas ilícitas vem consagrada no art. 5°, inc. LVI da CF. Em doutrina, faz- se a distinção entre provas ILÍCITAS, que são aquelas que violam o direito material, como o CP e legislação extravagante, ou normas constitucionais (Ex. violação de domicílio, tortura) e ILEGÍ- TIMAS, que desatendem o direito processual no momento de sua obtenção em juízo, incluindo o CPP, legislação processual extravagante e princípios processuais (Ex. perícia por apenas um pe- rito não oficial). Contudo, não se fez tal distinção na legislação, de sorte que as provas ilícitas são entendidas como aquelas obtidas em violação às normas constitucionais e infraconstitucionais, englobando- se os princípios. Desentranhamento da prova ilícita: Determina o artigo 157 do CPP: “São inadmissíveis, de- vendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- ção a normas constitucionais ou legais”. Provas ilícitas por derivação: são aquelas que, embora lícitas na própria essência, decorrem exclusivamente de uma outra prova, considerada ilícita, ou de uma situação de ilegalidade, res- tando, portanto, contaminadas pela ilicitude. Trata-se da aplicação da teoria norte-americana dos Frutos da Árvore Envenenada (fruits of the poisonous tree), segundo a qual o defeito existente no tronco contamina os frutos (art. 157, § 1º, CPP). 25 Princípio da Proporcionalidade: É importante salientar que o STF tem admitido a possibilidade de emprego de provas ilícitas em benefício do réu (pro reo), por força do princípio da proporcionalidade. Contudo, não se tem ad- mitido o emprego da prova ilícita em benefício da acusação (pro societate). EXAME DO CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM GERAL Corpo de delito: Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração penal. A palavra corpo não significa necessariamente o corpo de uma pessoa. Significa sim o conjunto de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu conceito ligado à própria materialidade do crime. Exame de corpo de delito e outras perícias: O exame de corpo de delito é uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos ou científicos sobre os vestígios materiais deixados pela infração penal para comprovação da materialidade e autoria do delito. Prioridade no exame de corpo de delito – a Lei nº 13.721, de 02/10/2018, acrescentou o pará- grafo único ao artigo 158 do CPP, determinando que “Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. ATENÇÃO: O exame de corpo de delito tem natureza jurídica de prova, não sendo hierarquica- mente superior às demais. AULA 11 – CADEIA DE CUSTÓDIA CADEIA DE CUSTÓDIA (art. 158-A a 158-F do CPP) Conceito: Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. Início: O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. ATENÇÃO: O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. Etapasda cadeia de custódia: A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: I - Reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial; II - Isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; 26 III - Fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento; IV - Coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e natureza; V - Acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem ralizou a coleta e o acondicionamento; VI - Transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse; VII - Recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; VIII - Processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; IX - Armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente; X - Descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial. VESTÍGIO Conceito: é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. Responsável pela coleta: a coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. Tratamento dos vestígios: Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito no CPP, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. ATENÇÃO: É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização. 27 RECIPIENTES Adequação: O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material. Eficiência: O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. Abertura: O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. Lacre: Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. ATENÇÃO: Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado. Destino do lacre rompido: O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. CENTRAL DE CUSTÓDIA Finalidade e vinculação: Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Estrutura: Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. Regras de controle da tramitação dos vestígios: a) Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. b) Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação. c) Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. d) Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Destino do material periciado: Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. 28 Peritos oficiais x não oficiais Perito oficial é o funcionário público de carreira cuja função é a de realizar perícias determinadas pela autoridade policial ou judiciária. Perito não oficial é a pessoa nomeada pelo juiz ou pela autoridade policial para realizar determi- nado exame pericial. ATENÇÃO: Em ambas as hipóteses, o perito deve ser portador de diploma de curso superior e são considerados funcionários públicos para os fins do art. 327 do Código Penal. Peritos não oficiais Não havendo perito oficial, o exame deve ser realizado por duas pessoas idôneas (peritos não oficiais ou juramentados) que, obrigatoriamente, devem ser portadoras de diploma de nível supe- rior, sendo nomeados pela autoridade policial ou pelo juiz. Devem ainda, ser escolhidas, de preferência, entre aquelas que tiverem habilitação técnica rela- cionada à natureza do exame, por exemplo: médicos para exames necroscópicos e de lesões corporais, ou economistas, administradores de empresas para laudos de avaliação, etc. IMPORTANTE: Os peritos não oficiais devem prestar o compromisso de bem e fielmente desem- penhar o encargo, mas a ausência de compromisso constitui mera irregularidade. Já o perito ofi- cial não será compromissado pela autoridade, já que seu compromisso ocorreu com a posse no cargo. AULA 12 – QUESITOS E ASSISTENTES TÉCNICOS Quesitos e assistentes técnicos O CPP disponibiliza às partes, ao Ministério Público, ao querelante, ao assistente de acusação, e, também ao acusado a prerrogativa de elaborarem quesitos e indicarem assistente técnico. QUESITOS são questões formuladas sobre um assunto específico, que exigem, como respostas, opiniões ou pareceres. Os quesitos podem ser oferecidos pela autoridade e pelas partes até o ato da diligência. ASSISTENTE TÉCNICO é o auxiliar das partes, dotado de conhecimentos técnicos ou científi- cos, responsável por trazer ao processo informações especializadas
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