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CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá! Estamos de volta e agora com a nossa aula 8. Abordaremos da Falência e Recuperação. Apesar de ser um tema de Direito Empresarial, possui tamanha repercussão que surte efeitos até nas esferas civil, administrativa, trabalhista e até penal. Certamente, nem que seja pelas notícias veiculadas pela imprensa, todos nós acabamos por conhecer algum exemplo prático. Quem não se lembra da Recuperação da Varig? O risco de insucesso empresarial é inerente a toda atividade econômica de produção e circulação de riquezas. Para que se tenha uma idéia o número de falências somente requeridas em 2004 foi de mais de treze mil. Destas foram efetivamente decretadas 4.316 falências.1 Por suas implicações há uma regulamentação legal própria, a qual sofreu recente inovação legislativa, com a aprovação da Lei nº. 11.101, em 09 de fevereiro de 2005.2 Após uma longa tramitação legislativa de cerca de 11 anos, a nova lei dispôs acerca da recuperação judicial, extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, tendo revogado a antiga Lei de Falências, o Decreto-Lei nº. 7.661/1945. Esse novo instituto jurídico, a recuperação, busca conciliar o direito dos credores com o princípio da preservação da empresa, atento às peculiaridades e necessidades das empresas viáveis, em situação de crise, implementado por um esforço criativo e compartilhado dos credores para assegurar a sua continuidade. Pela recuperação (que pode ser judicial ou extrajudicial) procuram-se meios de superar a crise econômico-financeira do devedor, em nome do princípio da preservação ou continuidade da empresa. Você consegue imaginar o porquê ? Não? Porque a empresa gera negócios, movimenta a economia, paga tributos, distribui renda, emprega pessoas, transcendo o interesse individual dos próprios titulares ou sócios para assumir uma dimensão difusa, objeto de proteção pela sua essencialidade social.3 Observe também que essa nova lei está inserida no cerne das reformas necessárias para criar condições efetivas e adequadas para o crescimento de longo prazo. Segundo a avaliação do FMI, apresentava-se fundamental a edição da lei para uma nova política de crédito no país e para a redução dos juros na economia. O diploma legal passa a ser um relevante instrumento que rege o mercado de crédito no país,4 constituindo um novo marco regulatório das relações entre credores e devedores. Bem, feita esta introdução recomendo que você esteja munido com a nova lei para acompanhar a aula. Vamos começar? 1 Segundo estudo apresentado pelo Serasa: http://www.serasa.com.br/ serasalegal/42-abr- 05_m1.htm. Em 2006 este número está se mantendo bem abaixo, veja também: http://www.serasa.com.br/empresa/noticias/2006/noticia_0348.htm 2 Veja em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2005/Lei/L11101.htm 3 A exemplo do que ocorre em países como Estados Unidos, Itália, Portugal, Espanha, França. 4 Ainda no campo do crédito, foram aprovadas as seguintes medidas: a Emenda Constitucional 40/2003, que retirou a limitação dos juros constante do art. 192 da redação original da Constituição Federal; a Lei 10.820/2003, que autorizou a consignação em folha salarial como meio de pagamento irretratável; a Lei 10.931/2004, que regulamenta a Cédula de Crédito Bancário, altera a sistema da alienação fiduciária, reformula o crédito imobiliário e trata do patrimônio de afetação; a Lei 11.079/04, que trata das Parcerias Público Privadas. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 2 SUMÁRIO 1. Noções Gerais 2. Pressuposto da Falência 2.1. Caracterização do Estado Falimentar 2.2. Princípios da Falência 2.3. Efeitos da Falência 2.4. Classificação dos Créditos 2.5. Extinção das Obrigações 3. Da Recuperação e suas Espécies 3.1. Objetivos da Recuperação 3.2. Excluídos da recuperação 3.3. Período de Observação 3.4. Meios de Recuperação 4. Crimes Falimentares 1. Noções Gerais da Falência O termo falência vem do latim fallere, que da idéia de insolvência, ou seja, o devedor tem um passivo (dívidas) que supera o ativo (crédito). Na fase primitiva do direito romano, o devedor respondia com o próprio corpo para o pagamento das suas dívidas, tornava-se escravo, ou então, o que era pior, ocorria o concurso creditorium macabro: se um devedor tivesse mais de um credor, não podendo servir como escravo a mais de um senhor ao mesmo tempo, era esquartejado em tantas partes quantas fossem o número de seus credores. Com o tempo os romanos começaram a perceber que tal conduta não era suficiente para satisfação econômica dos créditos, que continuavam em aberto. Resolveram não mais executar o corpo do devedor, mas sim o seu patrimônio.5 Na Idade Média passou-se a empregar o termo “quebra” ou “bancarrota”, porque o devedor que tinha muitas dívidas abandonava seu patrimônio e seus 5 Sendo editada a lei lex poetere papiria em 428 A.C. Havendo patrimônio suficiente (solvente) para a satisfação de todos os credores a execução será singular ou individual (onde prevalece o princípio prior temporis potior iuris, significa que o primeiro no tempo tem mais força, ou seja, aquele que primeiro agir, penhorando o bem, terá prioridade, preferência entre os demais). Mas se o patrimônio do devedor não for suficiente para pagar todas suas dívidas (devedor insolvente) não podemos utilizar o mesmo princípio. Seria injusto com os credores. Portanto, é afastada a execução singular, dando lugar à instauração da execução coletiva, universal, ou por concurso de credores, onde passaremos a ter o princípio isonômico, os vários credores são reunidos num mesmo processo para executar o devedor comum, garantindo-se tratamento igualitário entre os mesmos, pouco importando a ordem das penhoras, vendido todo o patrimônio se rateia entre os credores, dando preferência aos da mesma categoria (princípio pars conditio creditorum). CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 3 credores se apoderavam dele tentando ao menos receber parcialmente. Por vezes, literalmente quebravam a banca do devedor disposta no mercado. Há também quem observe no termo quebra a conotação de má-fé, que hoje é designado falência fraudulenta. Ocorre a falência muitas vezes nada tem a ver com a malicia ou abuso na condução dos negócios, sendo mera conseqüência de inúmeros fatores econômicos ou financeiros, como perda de mercado, defasagem tecnológica, restrições ao crédito, política tributária etc. Conceito: A falência constitui um processo judicial de execução coletiva, no qual os bens do devedor empresário (pessoa física/empresário individual ou pessoa jurídica) são arrecadados e vendidos, para distribuição de seu produto proporcionalmente entre todos os credores (observada a igualdade de tratamento entre aqueles pertencentes à mesma categoria), preservando a utilização produtiva dos ativos da empresa, a ser alcançada dentro do menor tempo possível e de forma economicamente eficiente (art. 75 da Lei de Falências). A nova Lei de Falências – Lei nº. 11.101/2005 -6 abandonou a principal finalidade “liquidatória-solutória” dos bens e das dívidas do falido, que era marca da lei anterior, ao preocupar-se com a preservação da atividade da empresa (art. 75), separando-a do sujeito a que exerce e priorizando a alienação (venda judicial) do negócio em bloco (art. 140). Assim, a extinção da unidade produtiva passa a ter uma finalidade secundária, cuja ocorrência está condicionada ao insucesso das tentativas de mantê-la em atividade (observando-se o princípio da preservação ou continuidade da empresa). Veja que apesar de inovadora,7 a LF manteve as linhasprincipais da tradicional falência, tendo sido alterados os aspectos que objetivam obter celeridade e simplicidade para a marcha do processo e facilitar a liquidação ou realização dos ativos do falido. Bom, você poderia questionar: professor, mas se o empresário não pode ser preso simplesmente por deixar de pagar suas dívidas,8 o que vai garantir que os credores recebam do devedor falido? A resposta está nos princípios do ordenamento jurídico. Segundo o princípio da responsabilidade patrimonial, previsto nos arts. 591 do CPC e 391 do NCC, a garantia legal genérica dos credores consiste no patrimônio do devedor, sobre o qual atua a sanção jurídica por meio da execução judicial forçada. São os bens, e não corpo do devedor, que respondem por suas obrigações, admitindo-se a prisão por dívidas apenas no caso de devedor de alimentos e de depositário infiel, isto é, aquele que recebe em depósito um bem e se recusa a devolvê-lo (CR/88, art. 5º, inc. LXVII). 6 No decorrer da aula quando citada uma lei sem a indicação de fonte estou me referindo a Lei de Falências e Recuperação, Lei nº. 11.101/2005, ou quando no confronto com outras normas tratarei simplesmente por LF. 7 Assim, na falência as principais inovações foram a nova ordem de classificação dos créditos e a forma de liquidação dos bens, que passa a ser imediatamente após a arrecadação e com primazia para a alienação em bloco da empresa, sem a ocorrência de sucessão tributária e trabalhista, além de novas definições sobre os crimes falimentares e sua prescrição. 8 Mas essa regra comporta exceções no caso de devedor de alimentos (pensão alimentícia) e do depositário infiel, segundo previsão Constitucional, art. 5º inc. LXVII. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 4 A economia e a circulação de riquezas podem ser abaladas pela falta cumprimento das obrigações, aliada à ausência de bens que as garantam. O crédito é a mola mestra que impulsiona a circulação de riquezas ou, segundo o Professor e Desembargador Fluminense Sylvio Capanema de Souza, é a ponte que liga a economia ao direito e o seu pilar de sustentação são as garantias que o asseguram. Se o credor é aquele que acredita, crê, confia (etimologicamente, credere, creditum) na promessa de pagamento futuro feita pelo devedor, a incapacidade patrimonial de cumprir com as obrigações trai essa confiança e inibe a concessão do crédito. O regime instituído pela falência busca eliminar os efeitos da função anormal do crédito, de modo a prestigiar os valores relacionados à credibilidade e confiança do mercado. Busca restaurar a credibilidade e confiança do mercado. Seu fim último é a tutela do crédito, como acontece também com a recuperação. Pela falência se realiza partilha os bens do devedor entre todos os seus credores afetados pela ruptura do crédito e se preserva a segurança que deve reinar na atividade negocial. Se por acaso não tivéssemos a falência, os credores que promovessem a cobrança individual de seus créditos, de forma independente, isolada, receberiam segundo a ordem das respectivas penhoras. O que acarretaria num favorecimento daqueles cujos processos tenham tramitado mais rapidamente e em evidente prejuízo aos demais, que igualmente confiaram na idoneidade do devedor. Segundo os arts. 612 e 711 do CPC, as cobranças individuais partem do pressuposto de uma pluralidade de penhoras em execuções singulares contra um mesmo devedor, sendo o montante apurado das arrematações (aquisição de bens em leilão judicial) distribuído e entregue consoante a ordem das penhoras. Assim, segundo o brocardo prior in tempore, potior in jure (o direito do primeiro é mais forte), quem primeiro conseguiu penhorar, primeiro receberá. Mas isto ocorre nas execuções individuais. Na falência é diferente, porque se trata de execução coletiva e toma por base que o patrimônio do devedor não é suficiente para atender a todos os credores. Quem não está sujeito à falência também pode sofrer uma execução coletiva, no caso a da insolvência civil,9 mas que é bem distinta da falência. Vejamos: Principais diferenças entre Falência e Insolvência Civil Falência Insolvência Civil Será sempre do devedor empresário individual ou da sociedade empresária Será daquele devedor que não ostenta a qualidade de empresário, (seja pessoa física ou jurídica) Possui uma solução preventiva, que é a recuperação (arts. 47 a 161 da FL). Não admite a tentativa institucionalizada de recuperação da atividade Pode ser presumida Tem que ser comprovada (art. 748 do 9 O pedido de auto-insolvência civil pode constituir um importante instrumento para a reorganização da vida financeira do devedor. Significa o fim das cobranças pulverizadas e determina o realinhamento de todas as dívidas. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 5 Por exemplo, para requerer demonstre que o estabelecimento foi abandonado (art. 94, III, f da LF). CPC). Para requerer a insolvência civil é preciso que o credor de que o devedor não tem bens suficientes para satisfazer a dívida (apresentando certidões de Registro de Imóveis, Ofício do Detran etc...) sob pena de ser julgado improcedente. Há universalidade do juízo falimentar, que determina a suspensão (art. 6º da LF) de ações e execuções sobre direitos e interesses da massa e o torna, em princípio, competente e indivisível (arts. 76 e 115 da LF) para todas as demandas. Não um juízo universal tão intenso que atraia outras demandas, limitando-se à reunir as execuções individuais existentes (CPC, art. 762, § 1º); Existem crimes falimentares próprios (arts. 168 a 178 LF). Não há crimes próprios (se houver algum serão os previstos no Código Penal, que ensejam a instauração de inquérito policial). Existe a imposição de certos deveres pessoais ao falido (arts. 102 e 104). Não há restrições de ordem pessoal. A extinção das obrigações pode ocorrer mais facilmente na falência mediante o pagamento de mais de 50% dos créditos quirografários (art. 158, inc. II, da LF). A extinção das obrigações só ocorre com o pagamento integral das dívidas, ou após o prazo de cinco anos, contatos da sentença que declara o encerramento da insolvência (art. 778 CPC). Transcorrido esse prazo, o devedor é considerado quites com suas dívidas anteriores e reingressa no estado de normalidade financeira. No sentido econômico, insolvência significa ter mais dívida do que patrimônio (a falência pode ser identificada em um balaço patrimonial que resulte num montante do passivo superando os ativos do devedor, independente de um processo ou de declaração judicial). Mas, para efeitos jurídicos, considera-se a insolvência jurídica (e não a econômica), definida nas hipóteses criadas pela lei, que serão verificadas num processo que culmina com a decretação da falência. De qualquer forma, o certo é que a falência não convém à comunidade, razão pela qual a nova Lei de Falências procura evitá-la e preservar a fonte produtiva.10 Mesmo com a mudança de perspectiva, a falência continua sendo 10 Como disse o Mininistro Aliomar Baleeiro, o STF, “Não há interesse social em multiplicar as falências, provocando recessões e desemprego numa época em que todas as nações do mundo lutam precisamente para afastar esses males. Uma falência pode provocar reflexo psicológico sobre a praça, e todas as nações do mundo procuram evitar o colapso das empresas, que tem como conseqüência prática o desemprego em massa nas populações”. Em Jornal do Commmercio 86/349, citado no Informativo Semanal Coad 43/2001. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br6 um processo traumático de elevado custo social para cuja superação se exige enorme esforço compartilhado. Talvez por isso a nova lei enuncie, em sua ementa e no art. 1º, que trata da recuperação, em suas formas judicial e extrajudicial, para somente após mencionar a falência. DESAFIO 1 - Questão elaborada pela ESAF em 2005 Falência e Recuperação,11 institutos jurídicos destinados à solucionar problemas resultantes de crise empresarial, têm por pressuposto: a) dificuldades de natureza patrimonial temporária. b) insolvência e insolvabilidade, respectivamente. c) dificuldades de caixa que produzem atraso no pagamento de obrigações. d) comportamentos comerciais temerários dos responsáveis pelas atividades das sociedades. e) a tutela do crédito. 2. Pressuposto da Falência Temos três pressupostos para dizer se estamos diante de uma falência sob o aspecto jurídico. Precisamos verificar o seguinte: 1º) Legitimidade passiva e ativa (pressuposto subjetivo); 2º) Objetivo (quais os fatos legais que ensejam a falência, isto é, a caracterização do estado falimentar); e 3º) Formal (existência de sentença que decrete a falência). A Legitimidade ativa é a qualidade exigida de quem pode requerer a falência. O art. 97 trata do assunto, prevendo que podem requerer o próprio empresário (auto-falência); seu cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; os sócios da sociedade e, principalmente, qualquer credor. O credor que tenha um crédito não superior ao equivalente a 40 salários- mínimos na data do pedido de falência, para requer a sua instauração pode se reunir com outros credores para conseguirem atingir esse patamar. Essa faculdade de reunirem-se em litisconsórcio é prevista no § 1o do art. 94. Já a legitimidade passiva, ou pressuposto subjetivo, dos institutos falimentares é a qualidade exigida da pessoa que a eles possa ser submetida. Significa dizer quem está sujeito à LF - arts. 1º, 2º, 96, 197, 198 e 199. A Fazenda Pública, segundo o entendimento majoritário, não pode requerer a falência de empresários em débito com ela. Argumenta-se que: a) a lei de falências não incluiu expressamente a Fazenda Pública; b) a cobrança da dívida 11 A questão mencionava “concordata” e foi adaptada. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 7 ativa não está sujeita à concurso de credores, conforme o CTN e a Lei 6.830/80; c) a falência não impede a nem o prosseguimento nem a propositura de execução fiscal contra massa falida; d) a discussão judicial da dívida ativa somente pode ocorrer em execução fiscal, mandado de segurança, ação de repetição de indébito ou declaratória ou anulatória (art. 38, Lei 6.830/80), o que limita e exclui outra via em razão do princípio da legalidade, correspondendo a um poder-dever impositivo; e e) o requerimento pelo fisco, que tem a prerrogativa de constituir unilateralmente os seus créditos, sujeitando o devedor aos prazos menores da lei de falências relativamente aos da execução fiscal apresenta o caráter de coação. A negativa de legitimidade é sustentada por Paulo Penalva Santos, Mauro Rocha Lopes Rubens Requião e foi encampada pelo STJ no RESP 138868-MG e no RESP 164.389, este da 2ª Seção do Tribunal. Além dos argumentos acima, leciona Paulo Penalva Santos (Falência requerida pela Fazenda Pública, Doutrina, Instituto de Direito, 1997, coord. James Tumbenchlak, p. 388/408) que a falência requerida pela Fazenda Pública deve ser examinada sob o prisma dos princípios constitucionais da razoabilidade e da função social da empresa. Caracteriza-se o princípio da razoabilidade, lembra Penalva Santos, citando Luis Roberto Barroso, pela adequação (idoneidade dos meios para atingir os fins), pela necessidade (inexistência de meio menos gravoso) e pela proporcionalidade (ponderação entre o ônus imposto e o benefício obtido). Considerando que a finalidade da falência é preservar a utilização normal do crédito para promover a circulação de riquezas, a Fazenda Pública não pode requerê-la como meio coercitivo para a cobrança de tributos, sob pena de ofensa ao princípio da razoabilidade. A legitimidade passiva, isto é, quem está sujeito à falência, pertence exclusivamente aos empresários pessoas físicas (empresário individual) ou sociedades. Quem não é empresário fica sujeito à execução simples, ou ação de cobrança, ou ação monitória, ou insolvência civil. A falência é um instituto privativo do empresário, seja ele de fato ou de direito, porque a despeito da solenidade do registro e da declaração dos próprios sócios de que não tem natureza empresária, se praticar atos típicos de organização empresarial estará exposto à decretação judicial de falência. Lembre-se de que, na realidade, o critério principal para determinação da qualidade de empresário é estrutural ou funcional, apurável empiricamente. Portanto, nem o registro nem a afirmação contida no ato constitutivo, o quais geram apenas uma presunção juris tantum (presunção relativa, que admite prova em contrário) 12 são decisivos para determinar se alguém é ou não empresário. Como vimos, pode ser devedor empresário pessoa física - empresário individual, aquele que não é sócio de ninguém -, ou sociedade empresária ou alguém legalmente equiparado a empresário, como acontece com o espólio e com aquele que já deixou de exercer a atividade empresária, mas que ainda conserva obrigações daquele período. Seria bom que você repassasse as 12 De acordo com os enunciados 198 e 199, aprovados na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, o registro do empresário na Junta Comercial é requisito que delineia sua regularidade, e não sua caracterização, nada impedindo que ao empresário desprovido de registro sejam aplicadas as normas do regime empresarial. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 8 noções de empresário e sociedade empresária, que examinados na nossa aula demonstrativa. Segundo a disciplina legal, a falência também se aplica: - ao espólio do devedor empresário (bens deixados pelo falecimento de uma pessoa) até 1 ano após a sua morte - art. 96, § 1º; - ao empresário que tenha cessado o exercício de sua atividade até 2 anos - art. 96, inc. VIII; - aos proibidos de comerciar que violam essa proibição; às empresas de incorporação e construção de imóveis (Leis nº. 4.591/1964 e 4.068/1962); - às empresas de trabalho temporário que se constituam sob a forma de S/A (Lei 6.019/1974); e - a todas as sociedades constituídas sob a forma de S/A, já que por um critério formal são sempre empresárias (art. 982, § único do NCC). Caso a S/A esteja extinta com a liquidação e partilha de seu patrimônio, a lei proíbe a decretação da falência - art. 96, § 1º. - as usinas de açúcar também podem falir, mas primeiro devem se submeter a uma intervenção provisória (DL nº. 3.855/1941). As instituições financeiras também podem falir, mas antes devem passar pela intervenção ou pela liquidação extrajudicial (art. 197 da Lei de Falências combinado com os arts. 12, “d”, e 21, “b”, ambos da Lei nº 6.024/74). Há um critério legal acerca da idade mínima para falir? Em que pese a nova lei não imponha o requisito mínimo de 18 anos para a falência do devedor empresário individual pessoa física, acredita-se que esse limite etário permaneça de forma imanente, uma vez que os crimes falimentares compõem o sistema, ocorrendo a maioridade penal somente aos 18 anos (CRFB/88, art. 228).13 O art. 2º da LF trata das sociedades que estão excluídas da falência, por razões de ordem pública ou econômica. Mesmo que sejam sociedades que tenham atividade empresarial. As sociedades simples não foram mencionadas porque desenvolvem, isoladamente,atividade econômica sem relevante expressão e, por isso, foram intencionalmente excluídas do sistema.14 13 Não cabe a argumentação de que o menor de 18 anos e legalmente antecipado estaria sujeito às medidas sócio-educativas do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, pois elas se referem à condutas infratoras decorrentes de violações de deveres jurídicos genéricos e não ligados ao exercício de atividades profissionais, para as quais se exigem requisitos de atendimento prévios. Além do fato de o ECA possuir fundamentos, finalidades, prazos e conseqüências inteiramente distintos da punição por crimes falimentares e seus efeitos, inclusive no tocante à inabilitação para o exercício da atividade empresarial. Portanto, não se pode deixar de censurar o enunciado nº. 197, aprovado pela III Jornada de Direito Civil do CJF (no qual estivemos presentes e que no momento divergimos), que admite a figura do empresário pessoa física, menor de 16 e menor de 18 anos, se reunidos os requisitos dos arts. 966 e 976 do NCC, propiciando a aceitação de sua falência. 14 Note-se que a versão do Projeto aprovada inicialmente na Câmara dos Deputados previa a submissão das sociedades simples aos institutos falimentares, mas em boa hora o Senado CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 9 Estão excluídas do regime falimentar as sociedades de economia mista e empresas públicas - art. 2º, inc. I. Apesar da revogação expressa do art. 242 da Lei das S/A pela Lei nº 10.303/2001 e da atual redação do art. 173 da Constituição Federal, essas entidades, quanto à sua existência, estão submetidas exclusivamente ao direito público (reconhecimento, em lei, de um “relevante interesse coletivo” ou de um “imperativo de segurança nacional”) e, quanto ao seu funcionamento, submetem-se apenas parcialmente ao direito privado.15 Enquanto as sociedades genuinamente privadas surgem da autonomia de vontade, as sociedades de economia mista e empresas públicas dependem de lei que autorize sua criação. Pelos princípios do paralelismo das formas e da simetria, a mesma fonte criadora destas últimas entidades deve estar presente nas hipóteses de sua extinção. Não pode a vontade particular dos credores, com o pedido de falência ou com a recuperação condicionada à aprovação dos mesmos, suprimir aquilo que a lei, fruto de uma vontade política e sob a égide do direito público, concedeu em dado momento e reputou relevante. Em relação ao seu funcionamento, a equiparação às demais pessoas jurídicas privadas não é total, estando inclusive sujeitas à licitação, ao concurso público, ao controle financeiro e orçamentário, além da possibilidade de atos por meio da ação popular e da ação civil pública. Também não se aplica a LF, como já se viu, às instituições financeiras, propriamente ditas e as equiparadas, das seguradoras, das cooperativas de crédito, de consórcio de bens, das entidades de previdência complementar e de operadores de planos de saúde. Terão como regimes saneadores a disciplina da Lei nº. 6.024/1974 Dec-Lei nº. 2.321/1987, Lei nº. 9.447/97, DL nº. 66/1976, Lei Complementar nº. 109/2001, Lei nº. 10.190/2001 e Lei nº 9.961/2000. Esta última prevê o procedimento da direção fiscal ou técnica a ser imposto pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Todavia o art. 197 dispôs que, enquanto não forem editadas novas leis para as instituições financeiras e equiparadas, ocorrerá a sua aplicação subsidiária.16 O ordenamento pátrio nunca admitiu a falência, de forma absoluta, de companhias de seguro (DL nº. 73/1966); de sociedades de capitalização (DL nº. 261/1967); sociedades anônimas de previdência aberta (Lei nº. 6.435/1977); e de cooperativas. Mas houve uma relativização nessa exclusão da falência introduzida pela Lei nº. 10.190/2001, referindo-se à possibilidade de serem declaradas falidas as sociedades seguradoras, de capitalização e entidades de previdência aberta, quando, após decretada a liquidação corrigiu o equívoco e as excluiu. Trata-se, portanto, de silêncio eloqüente, porquanto não há interesse social e jurídico em preservar ou falir pequenas estruturas de inexpressivo significado econômico, de nenhum ou poucos empregados e que caminham nos limites as economia de subsistência, geralmente constituídas para trabalho dos próprios sócios. Relembre-se que manter unidades (im) produtivas que não adicionam valor à economia torna-se mais oneroso à coletividade (físico, financiadores, trabalhadores, fornecedores, contribuintes) do que encerrá- las definitivamente. 15 Invocamos aqui os ensinamentos do prof. Marcos Juruena Souto, em palestra proferida na Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro, por ocasião do Seminário “Novo direito societário – o Código Civil de 2002 e a reforma da Lei de sociedades anônimas”. 16 Neste último caso foi incluído o Banco Santos, que estava em liquidação extrajudicial, posteriormente transformada em falência já na vigência da LF. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 10 extrajudicial ou a intervenção, houver sido praticado de crime falimentar ou seus ativos não forem suficientes para o pagamento de pelo menos metade do passivo quirografário. Destaque deve ser feito pela inclusão no regime falimentar das empresas aéreas e de infra-estrutura aeroportuária, antes situadas relativamente à margem dos institutos falimentares. O art. 187 do Código Brasileiro de Aeronáutica impedia que elas impetrassem a extinta concordata ou tivessem sua falência requerida por credores (para ilustrar as vésperas da aprovação da nova LF a Justiça Paulista rejeitou 23 requerimentos de falência formulados contra a VASP).17 Mas diante da nova Lei de Falências, elas podem requerer a recuperação (art. 199 da Lei de Falências). DESAFIO 2 – Questão elaborada pela o concurso de Procurador do Estado do Paraná em 2007. No que se refere à falência, em seu novo regime, considere as seguintes afirmativas (PGE-PR-2007): I. A nova lei de falências e recuperação judicial abrange e se aplica às sociedades mistas, empresas públicas e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. II. O juízo universal da falência agora abrange e atrai as ações fiscais, em qualquer fase. III. Os créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, incluindo as multas tributárias, classificam-se com absoluta prioridade na falência, cedendo preferência, apenas, aos créditos, de qualquer natureza e valor, derivados da legislação do trabalho. IV. À vista do regime da nova lei de falências e recuperação judicial - e como regra geral - permanece válido o entendimento de que (1) a natureza privilegiada do crédito tributário, (2) os privilégios processuais e de foro que cercam a execução fiscal e (3) o interesse genérico do Estado na preservação da empresa e sua atividade produtiva são circunstâncias que minimizam, quando não eliminam, qualquer interesse da Fazenda Pública no requerimento da quebra de seus devedores. . Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas: (a) todas as afirmativas estão corretas; (b) todas as afirmativas estão incorretas; (c) apenas a afirmativa IV está correta; (d) apenas a afirmativa I está correta, (e) as afirmativas I e III estão corretas. 3 – Questão elaborada pelo TRT/13 em 2005: Nas questões seguintes, assinale a alternativa correta: O ano de 2005 viu nascer a nova legislação concernente à recuperação judicial, à extrajudicial e à falência do empresário e da sociedade empresária. Neste sentido, é falso afirmar que 17 cf. Jornal do Commercio de 15.01.05,p. B-3. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 11 a) a nova lei não se aplica às empresas públicas e a sociedade de economia mista, mesmo quando não gozarem de benefícios fiscais, nos termos do art. 173, § 2o, da Constituição Federal. b) não se aplica a lei aludida aos casos de instituição financeira controlada pela União. c) é adequada a aplicação da lei citada, quando referida às instituições financeiras privadas, que provoquem prejuízos no mercado financeiro. d) o novo diploma empresarial se aplica às indústrias, mesmo àquelas que mantenham programas de preservação do meio ambiente. e) como instrumento de apoio ao pequeno empresário, não se aplica às cooperativas de crédito. 2.1 Caracterização do Estado Falimentar O pressuposto objetivo da falência, ou seja, qual situação pode conduzir o empresário à falência é a insolvência econômica presumida (não precisa ser real e concreta) ou confessada (manifestado expressamente pelo próprio devedor). A presunção de insolvência decorre da simples impontualidade injustificada no pagamento de obrigação que enseja a cobrança por título executivo devidamente protestado, cujo valor ultrapasse 40 salários mínimos, de uma execução frustrada ou da caracterização dos chamados atos de falência - art. 94, incisos I, II e III. Devemos relacionar entre os títulos executivos os mencionados na legislação extravagante e aqueles constantes dos arts. 584 e 475-N do CPC. Também vale lembrar a duplicata sem aceite, desde que acompanhada do instrumento de protesto, do recibo de entrega da mercadoria e o sacado (devedor) não tenha justificadamente recusado o protesto em tempo hábil (10 dias). A duplicata terá assim eficácia executiva, conforme o disposto na Lei nº 5.574/1968, arts. 7º, 8º e 15. Idêntico tratamento é reservado à duplicata de serviços (Súmula 248 do STJ).18 Pode-se questionar se os contratos bancários de abertura de crédito, quando assinados pelo devedor e por duas testemunhas, constituiriam título executivo e, desse modo, se ensejariam pedido de falência. Pela Súmula 233 do STJ: “O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta- corrente, não é título executivo”. Já pela Súmula 258 do STJ os contratos desprovidos de liquidez contaminam os títulos de crédito a eles vinculados, o que lhes retira a eficácia executiva autônoma. Observe que quando dissemos que a impontualidade enseja a falência temos uma inovação, qual seja, deve estar num piso superior a 40 salários mínimos, necessário ao pedido de falência baseado no inc. I do art. 94 da LF. Permite a 18 Reveja nossa aula de títulos de crédito. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 12 lei que os credores se reúnam em litisconsórcio (litígio ou processo conjunto de várias partes) para formulá-lo - art. 94, § 1º, da LF. Outra hipótese é da execução frustrada, a qual ocorre quando o devedor é executado por dívida liquida de qualquer valor e não paga, não deposita nem nomeia bens à penhora no prazo legal – art. 94, II. Pelo antigo regime, o depósito elisivo era admitido apenas para a falência baseada na impontualidade, embora a jurisprudência viesse estendendo para a execução frustrada. Agora pela nova LF o mecanismo do depósito elisivo passa ser possível por expressa previsão no art. 98, § único. Em seguida o art. 94 em seu inc. III elenca os atos de falência. Não foi incluída a circunstância genérica de o devedor convocar credores com a finalidade de lhes propor dilação, remissão de créditos ou cessão de bens, prevista no art. 2º, inc. III, da lei revogada. Isto porque a nova LF criou a figura da recuperação extrajudicial - art. 161, segundo a qual o devedor pede a homologação judicial de um plano concertado (ajustado, combinado) previamente com os credores, o que se mostraria inviabilizado, se fosse mantido como ato de falência. Em virtude da introdução do meio preventivo da recuperação, passou a ser considerado ato de falência o descumprimento das obrigações assumidas no plano de recuperação judicial, desde que ocorridas dentro do biênio da concessão da medida - arts. 61, § 1º; 73, inc. IV; e 94, inc. III, “g”, da LF. O ato de falência consistente na transferência de estabelecimento sem a observância de certas cautelas legais (art. 94, inc. III, “c”) há de ser conjugado com o art. 1.145 do NCC (Lembra-se das cautelas exigidas estudadas na nossa aula 2?). Segundo este dispositivo, se o alienante do estabelecimento não permanecer com bens suficientes para honrar suas obrigações, a eficácia (oponibilidade aos credores) da transferência depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento deles de modo expresso ou tácito, quando forem notificados e não se opuserem no prazo de 30 dias. O último pressuposto para a caracterização da falência, é formal, que se consubstancia na necessidade de uma sentença. A sentença que decreta a falência tem natureza preponderantemente constitutiva19 (e não declaratória), porque cria um novo regime ao qual se submeterá o falido, embora reconheça um estado econômico de fato preexistente. A falência constitui uma execução coletiva. Contudo, antes da sentença que pronuncia a falência desenvolve-se no processo a atividade cognitiva (ação pré-falimentar) solucionando a controvérsia sobre o estado patrimonial do devedor. Normalmente, indica a processualística que a sentença é o ato que põe fim ao processo e esgota o ofício jurisdicional (arts. 162, § 1º, e 463 do CPC). A sentença é o ato judicial que extingue a relação processual, decidindo ou não a lide. Mas na falência a sentença é a expressão de vontade 19 Apesar de existir divergência é predominante o entendimento de significativa doutrina, entre os quais Waldemar Ferreira, Miranda Valverde, Pontes de Miranda, Anco Valle, reconhecem a natureza predominantemente constitutiva da sentença de falência. Observe que todas as sentenças contêm uma face declaratória e condenatória. Repare também que a nova LF evita o verbo declarar para se referir à ação de julgar a falência e o substitui por decretar. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 13 do Estado-juiz que inaugura o processo de execução concursal e projeta a partir daí efeitos sobre os bens, pessoa, contratos e credores do falido. Pela nova lei, quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando- se as perdas e danos em liquidação de sentença (art. 101). No prazo (10 dias) para a contestação ao requerimento de falência fundamentado nos incisos I (impontualidade injustificada) e II (execução frustrada) do art. 94, o devedor poderá depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido, o juiz ordenará o levantamento pelo requerente (art. 98, § único, da LF). Requerida a falência com base no referido inciso I do art. 94, ela não será decretada se o apontado devedor alegar e provar quaisquer das matérias constantes do art. 96 da LF. Finalmente, dentro do mesmo prazo para contestar o requerimento de falência, o devedor poderá pleitear recuperação judicial, a chamada recuperação incidente (art. 95 da LF). DESAFIO 4 – Questão elaborada pelo TRT/13ªR em 2005: Nas questões seguintes, assinale a alternativa correta. Sobre as novas disposições relativas à falência, é correto afirmar que I) será decretada a falência do devedor que não paga, no vencimento, e nem justifica através de relevante razão de direito, obrigação assumida, cujo valor seja inferiora R$ 10.000,00 (dez mil reais), na data do pedido. II) não será decretada a falência se provada a falsidade do título que serviu de base ao pedido. III) será decretada a falência do devedor, se este, em processo de execução por quantia liquida superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), não paga, nem garante o juízo de execução, nos prazos legais apropriados. IV) não será decretada a falência, se provadas situações como a prescrição, nulidade do titulo ou pagamento da dívida. V) será decretada a falência do devedor em decorrência da utilização de meio fraudulento para realização de pagamentos. a) as alternativas I, II e IV estão erradas. b) as alternativas II e III são verdadeiras. c) as alternativas II, IV e V são verdadeiras. d) as alternativas I, IV e V são verdadeiras. e) somente a alternativa III é verdadeira. 5 - Questão elaborada pela FJPF em 2006: Conceituado como processo de execução coletiva proposta em face do devedor empresário, o requisito não essencial para a formulação do pedido de falência é: A) pluralidade de credores; CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 14 B) dívida líquida, certa e exigível; C) protesto para fins falimentares; D) título executivo judicial ou extrajudicial; E) comprovação da regularidade do empresário; 2.2. Princípios da Falência A Falência possui alguns princípios que lhe são peculiares, quais sejam: 1º) O princípio da isonomia ou igualdade de tratamento entre os credores: pelo qual todos os credores com idêntico título legal de preferência (isso é que são da mesma classe) devem ser tratados com paridade (pars conditio creditorum ou igualdade de armas entre os credores) - art. 126. 2º) O princípio da universalidade de bens e juízo: significa que todos os bens do devedor, bem como todos os credores ficam submetidos ao juízo da falência. É o que se denomina vis attractiva (força atrativa) do juízo universal. O processo falimentar visa a liquidar todos os bens do patrimônio do devedor (universalidade objetiva) e de seus credores (universalidade subjetiva), na forma dos arts. 108 e 115.20 Daí são extraídos os conceitos de massa falida ativa e passiva, formada pelo conjunto de relações jurídicas de caráter econômico que tem como titular o falido e que estão compreendidas na falência. Mas existem exceções. Na falência não são arrecadados exatamente todos os bens, pois alguns não serão atraídos. São bens que não participarão da integração da massa: a) Os bens absolutamente impenhoráveis - art. 108, § 4º; 21 b) Os bens que por expressa determinação legal, constituírem patrimônio separado (é o caso do patrimônio de afetação imobiliária - art. 119, inc. IX; e art. 31-A da Lei nº. 4.591/1964, com a redação dada pela Lei nº. 10.931/2004); 20 Enquanto a execução singular abrange uma parcela do patrimônio do devedor (singularidade objetiva) e um ou alguns dos credores (singularidade subjetiva). 21 Também são impenhoráveis: a) as garantias oferecidas pelos participantes do Sistema Brasileiro de Pagamentos, bem como não é afetado pela falência o adimplemento das obrigações assumidas no âmbito das câmaras ou de serviços de compensação (arts. 6º e 7º da Lei 10.214/2001). b) consoante a Súmula 308 do STJ: “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”, com o que deve o bem ser excluído da falência da construtora. Nesse caso, o direito real de hipoteca fica sub-rogado nas prestações devidas pelos adquirentes. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 15 c) O fundo de garantia das Bolsas de Valores, cuja finalidade exclusiva é a de ressarcir danos causados os investidores (art. 40 da Res. CMN nº. 2690/2000); d) O patrimônio especial das entidades que prestam serviços de compensação e liquidação pertencentes ao Sistema Brasileiro de Pagamentos (art. 5º da Lei nº. 10.214/2001); e e) O patrimônio separado dos fundos de investimentos constituídos por entidades de previdência complementar e por seguradoras (arts. 76 a 78 da Lei nº. 11.196/2005). 3º) O princípio da unidade de juízo: segundo o princípio da unidade, ou indivisibilidade de juízo, todas as questões que interessem a massa falida devem ser decididas pelo mesmo juiz que decidirá sobre a falência. Em conseqüência da decretação da falência, todas as ações e execuções individuais que estiverem em curso ficam suspensas - arts. 6º, passando o juízo da falência a ser o único competente para apreciar todas as ações de caráter econômico que envolvam bens e interesses da massa falida - art. 76. Entretanto, por previsão legal, certas ações não são atraídas ao juízo da falência - vejamos: a) Crédito trabalhista: as Reclamações Trabalhistas tem seu curso na Justiça especializada, a Trabalhista, mas gozarão de prioridade na tramitação (art. 114 da CFRB/88 e art. 768 da CLT), e serão remetidas para o juízo da falência para as providencias de execução, sendo o crédito habilitado e concorrendo com outros credores trabalhistas acaso existentes.22 Diferentemente do sistema anterior, em que o juiz da falência poderia considerar inaptas certas rubricas pecuniárias para exigi-las da massa, embora até mesmo reconhecidas por sentença em outro processo, a nova LF determina que todos os valores consagrados na sentença trabalhista sejam admitidos ao rateio - art. 6º, § 2º, parte final; b) Crédito tributário: as execuções fiscais, distinguindo-se as ajuizadas antes da falência, com penhora realizada antes da quebra, daquelas ajuizadas após a decretação da falência (Súmula 44 do extinto Tribunal Federal de Recursos – TFR). Atente-se para divergência na jurisprudência, tendo a Corte Especial do STJ afirmado, pela voz da maioria, que o produto arrecadado com a alienação de bem penhorado em Execução Fiscal, antes da decretação da quebra, deve ser entregue ao juízo universal da falência.23 Vale também destacar a orientação confirmada pela Primeira Seção do STJ, no Embargos do Recurso Especial 444.964/RS, que no mesmo arresto leading case, definiu que os créditos fiscais não estão sujeitos à habilitação e verificação (aptidão para participar do rateio) no juízo alimentar, mas não se livram de classificação, para efeito de disputa relativa à ordem preferencial Significa dizer que o dinheiro resultante dos bens penhorados na execução fiscal será remetido ao 22 O tema foi pacificado pelo STJ, nesse sentido veja o Conflito de Competência 10014-3/PR. 23 Veja o Resp 188.148/RS, Relator Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 27/05/2002. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 16 juízo da falência, para que seja incorporado à massa e distribuído de acordo com a hierarquia dos créditos;24 c) Ações não reguladas na Lei de Falências e de Recuperação em que a Massa Falida for Autora ou Litisconsorte Ativa; e d) Ações pelas quais se exigem obrigações ilíquidas (ex.: responsabilidade civil) propostas anteriormente à falência, as quais prosseguirão no juízo em que houverem sido ajuizadas - art. 6º, § 1º. Devemos observar também que certos créditos não são exigíveis do devedor e, portanto, não podem ser cobrados na falência ou recuperação, vejamos: a) as obrigações a título gratuito (comodato, doações, fianças e avais de favor) - art. 5º; b) as despesas incorridas pelos credores para tomar parte nos processos de falência ou de recuperação, salvo as custas do litígio contra o devedor - art. 5º; c) as penas convencionais dos contratos unilaterais - art. 83, § 3º, neles figurando o falido como devedor, que decorram do simples fatoda falência ou cuja exigibilidade esteja condicionada ao ingresso em juízo e este não se tenha verificado antes da quebra; 25 d) as penas pecuniárias por descumprimento das normas de proteção ao trabalho cuja ocorrência se dê em função da falência. Para a fixação dessa tese, amplamente aceita, confira a atual redação da Súmula 388 do TST: A massa falida não se sujeita à penalidade do art. 467 nem à multa do § 8º do art. 477, ambos da CLT; e e) não se admite cobrar da massa os valores decorrentes do direito de sócio em sua parcela do capital na liquidação da sociedade - art. 83 do § 2º. O inc. II do art. 116 determina a suspensão do exercício e o recebimento relativo ao direito de retirada do sócio dissidente. O reembolso do sócio ou acionista dissidente será efetivado juntamente com a partilha do acervo líquido remanescente entre os demais sócios, que se dá após o pagamento de todos os credores - art. 153. Por fim, as multas por infração às leis penais e administrativas não eram admitidas na falência, mas agora foram considerados créditos concursais sub- quirografários - art. 83, inc. VII. Assim, as Súmulas 191, 192 e 565 do STF, que eram anteriores, ficaram prejudicadas em razão da LF. Além desses consagrados princípios, segundo o § único do art. 75 também devem ser observados os princípios da celeridade e da economia processual. Nesse sentido determina o art. 79 que os processos de falência e os seus incidentes preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer instância. E a CLT, no art. 786, dispõe que terá preferência em todas as fases 24 O Min. Humberto Gomes de Barros ressalta que a lógica equivocada contida no Resp. 103049 – confronto das preferências no próprio juízo da execução fiscal -, além de pulverizar a massa falida e esvaziar o juízo universal, obriga a uma peregrinação pelas varas da fazenda pública, em busca de execuções fiscais onde existam bens capazes de viabilizar o incidente, trabalho que seria inglório, irracional e insano. 25 Veja no STJ o REsp. 86586/MS. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 17 processuais o dissídio cuja decisão tiver de ser executada perante o juízo da falência. DESAFIO 6 - Questão elaborada pela OAB/MG em 2002: Sobre a falência, assinale a opção CORRETA: a) O juízo falimentar sempre se caracteriza pelos princípios da universalidade e indivisibilidade. b) Os créditos e haveres não são partes componentes da massa falida. c) A unidade do juízo falimentar não é absoluta. d) A insolvência do devedor não pode ser caracterizada pela forma presumida. 2.3. Efeitos Falência A declaração da falência pela sentença produz algumas conseqüências. Esses efeitos jurídicos se projetam sobre diversas ordens, recaindo não apenas na pessoa do falido, mas também nos seus bens, seus credores e seus contratos. 1º) Deveres com relação à pessoa do falido, seus administradores e seus sócios de responsabilidade ilimitada: impostos nos arts. 102 a 104 destacamos entre outros: o de não se ausentar do lugar onde se processa a falência, sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador; de manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz; prestar informações exigidas pelo juiz; de sua inabilitação para exercer atividade empresarial a partir da sentença de falência até a extinção das obrigações (sendo observada a duração qüinqüenal dos efeitos da condenação criminal, cessada pela reabilitação penal - art. 181, § 1º); entregar livros, bens e documentos ao administrador judicial (que substitui o antigo síndico); e as correspondências do falido são recebidas pelo administrador judicial, que lhe entregará as que não interessarem à massa – art. 22, III, “d”. Se o falido for uma sociedade, a falência atingirá aqueles sócios ilimitadamente responsáveis (dependerá do tipo ou espécie de sociedade), que serão considerados, também, falidos e ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos em relação à sociedade falida – arts. 81 e 190. Os sócios com responsabilidade ilimitada serão responsabilizados mesmo quando tenham se retirado da sociedade antes da falência ou dela tenham sido excluídos há menos de 2 anos e existam dívidas pendentes à época da retirada - § 1º do art. 81. 26 26 Caso seja decretada a falência da Sociedade Anônima ou da Sociedade Limitada os sócios não são atingidos pela mesma. Mas em sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada será decretada a falência da sociedade e desses sócios, como é o caso da Sociedade em Comum (todos os sócios), Sociedade em Comandita Simples (dos sócios comanditados) e na Comandita por ações (do sócio-diretor)–art. 82 da LF. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 18 Em relação à pessoa do falido pode surgir, ainda, uma dúvida: sua personalidade jurídica é afetada, quando se trata de sociedade personificada? A resposta é não. A sociedade dotada de personalidade jurídica só a perde quando do encerramento do processo de falência, quando sua liquidação chega ao final. O falido pessoa física conserva sua personalidade, com seus atributos, não sendo considerado interdito. Pode continuar a praticar todos os atos da vida civil de natureza não patrimonial, limitando-se as restrições nesse campo à administração e disposição dos bens e interesses relativos à massa. Por conta disso, a lei comina a sanção de ineficácia, declarável inclusive de ofício, para os atos os atos de transmissão de bens após da decretação da falência, que tenham sido praticados ou venham a ser praticados com infração a essa regra, não se indagando se houve boa ou má-fé - art. 129, inc. VII, e § único, da LF. Portanto, o falido está autorizado a fiscalizar a administração da falência, requerer providências necessárias para a conservação de seus direitos ou bens arrecadados, intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, e interpor recurso de decisões, na forma do § único do art. 103 da LF. 2º) Quanto aos bens do falido: tornam-se indisponíveis e o falido perde a sua administração. Serão arrecadados para alienação (venda) e pagamento dos créditos. Continuam pertencendo juridicamente ao falido, mas passam a ser um patrimônio com regime separado, gerido pelo administrador judicial e afetado ao atendimentos dos credores. Observe que podem ser arrecadados também os bens pessoais dos sócios de responsabilidade solidária e ilimitada, se houver, dependendo do tipo societário em causa - arts. 108, 77 e 81. Para evitar a mistura dos patrimônios, o administrador judicial procederá logicamente à arrecadação por meio inventário em separado para a sociedade e para cada um dos sócios solidários. Convém recordar (aliás, como diz um amigo meu, recordar é viver!) que não se arrecadam os bens considerados absolutamente impenhoráveis nem aqueles integrantes do patrimônio de afetação - art. 108, § 4º; e art. 119, IX, da LF. No caso da responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis (ex.: art. 1.052 do NCC), será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil (art. 82 da LF). Não se trata de aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, mas do regime de responsabilidade própria e direta decorrente da estruturação legal de certas sociedades. O prazo para eventual ação para a responsabilização pelos danos provocados prescreve no prazo de 2 anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência. Para a efetividade do processo,o juiz poderá de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 19 indisponibilidade de bens particulares dos réus até o julgamento dessa ação - §§ 1º e 2º do citado art. 82. 3º) Com relação aos credores do falido corre a instituição de um juízo universal. Pelo juízo universal todos os credores irão concorrer ao crédito juntos, em classes. Os credores devem habilitar seus créditos no prazo de 15 dias a contar da publicação da sentença - art. 7º, caso discordem da relação de credores elaborada pelo administrador. A decretação da falência provoca, também: o vencimento antecipado das dívidas do falido, salvo as sob condição suspensiva; o término da fluência dos juros, salvo se os ativos da massa comportarem, exceto os referentes às debêntures e aos créditos com garantia real, cujos bens vinculados por eles responderão exclusivamente; conversão dos débitos em moeda estrangeira para a moeda nacional pelo câmbio do dia da decisão - arts. 77, 115 e 124; a suspensão da prescrição de obrigações a cargo do falido – art. 6º; e a ineficácia de certos atos praticados pelo falido dentro do termo legal arts. 99, II; e 129, tudo da LF. O que é termo legal? Entende-se por termo legal a data fixada pelo juiz na própria sentença de falência, em que teoricamente se teria caracterizado o estado de falência e que pode retroagir até 90 dias do pedido de falência, ou do pedido de recuperação judicial ou do 1º protesto válido - art. 99, inc. I. O termo legal não se confunde com o chamado período suspeito, que compreende o lapso de 2 anos anteriores à declaração de falência, dentro do qual os atos praticados a título gratuito também são ineficazes em relação à massa - art. 129, incs. IV e V, da LF. Dentro do termo legal certos atos são ineficazes (inoponibilidade relativa), não produzindo efeitos em relação à massa, independentemente de intenção de fraude, e se expõem à declaração judicial dessa circunstância de ofício, alegada em defesa ou pleiteada em ação própria ou incidentalmente - art. 129 e seu § único. Assim, um ato considerado ineficaz relativamente à massa falida produz todos os demais, como, por exemplo, obrigar um outro devedor que tomou parte no ato ou negócio, vincular um avalista, um fiador, que assim terão de cumpri-lo normalmente. 4º) Com relação aos contratos, será preciso verificar que tipo de contrato se está tratando para saber a que regra que observará. Os contratos bilaterais não se resolvem de pleno direito (não se extinguem automaticamente com a falência) e poderão ser executados pelo administrador judicial, se contribuírem para a redução ou evitarem o aumento do passivo da massa ou forem necessários à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê de Credores27 - art. 117 e seus §§. 27 O Comitê de Credores está previsto a partir do art. 26 e pode ser considerado como uma assembléia de credores em miniatura. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 20 Pergunta-se: e o contrato de trabalho dos empregados do falido? Por serem contratos bilaterais, o contratante do falido poderá interpelar o administrador judicial, no prazo de 90 dias de sua nomeação, para se manifestar a esse respeito no prazo de 10 dias. No silêncio serão rescindidos e o valor da indenização respectiva será apurado em processo ordinário e constituirá crédito quirografário (art. 117, § § 1º e 2º, da LF). Os contratos unilaterais também poderão ser cumpridos se houver autorização do Comitê de Credores, caso reduzam ou evitem o aumento do passivo da massa ou for necessário para a manutenção e preservação de seus ativos - art. 118. Certos contratos, entretanto, seguem regras próprias, determinas pelo art. 119 (não deixe de lê-lo e seus incisos). É o caso, por exemplo, do chamado stoppage in transitu, isto é, o vendedor não pode obstar a entrega das coisas expedidas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da falência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor, no inc. I. A decretação da falência cessa os efeitos dos mandatos (procuração) para a realização de negócios outorgados antes da falência pelo devedor, cabendo ao mandatário (procurador) prestar contas dos atos praticados. Já os mandatos para representarem o devedor judicialmente continuarão em vigor até serem revogados pelo administrador judicial. Se for o falido que houver recebido mandato antes da falência, cessa o mandato ou o contrato de comissão (arts. 693 e seguintes do NCC), salvo se os que forem estranhos à atividade empresarial - art. 120 e §§. DESAFIO 7 - Questão elaborada pela FCC em 2005: A decretação de falência de sociedade empresária implica, de imediato, a a) Transferência da propriedade dos bens pessoais dos sócios para a massa falida e o vencimento antecipado de todas as dividas do falido. b) Prevenção do juízo da falência para todas as ações que venham a ser ajuizadas contra o falido, inclusive as de natureza trabalhista. c) Rescisão dos contratos bilaterais e a suspensão das reclamações trabalhistas em que ainda não tenha sido proferida sentença. d) Suspensão da prescrição e das ações e execuções já ajuizadas pelos credores comerciais para cobrança de quantia líquida. e) Rescisão dos contratos bilaterais e o vencimento antecipado de todas as dividas do falido. 8 - Questão elaborada pela FEPESE em 2006: Assinale a alternativa correta, de acordo com a Lei Federal nº 11.101/2005. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 21 a. ( ) A renúncia à herança ou ao legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência, é ineficaz em relação à massa falida. b. ( ) A prática de atos a título gratuito, desde 3 (três) anos antes da decretação da falência, é ineficaz em relação à massa falida. c. ( ) O pagamento de dívida não vencida será eficaz em relação à massa falida se o contratante não tiver conhecimento do estado de crise econômico- financeira do devedor. d. ( ) A declaração de ineficácia, pelo juiz, de atos praticados antes da falência depende de provocação no curso do processo, por meio de ação própria ou incidentalmente. 9 - Questão elaborada pela IMES em 2002: Com a decretação da falência de uma empresa, os seus contratos bilaterais: A) não são afetados pela falência, devendo ser cumpridos pelo síndico,28 em qualquer hipótese. B) têm sua execução interrompida pela decretação da falência, devendo ser retomada, após a sentença, que encerre o processo falimentar. C) não são rescindidos automaticamente na data da decretação da falência, mas o produto de sua execução será obrigatoriamente contabilizado à parte, separadamente da massa falida. D) não são rescindidos pela falência e podem ser executados pelo síndico,29 se achar de conveniência. E) são declarados rescindidos antecipadamente, na data da decretação da falência. 10 - Questão elaborada pela CONSUPLAN em 2006: Em relação à nova lei de falência (Lei 11.101/2005), assinale a alternativa incorreta: a) o empresário devedor não pode requerer sua autofalência; b) os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores à decretação da falência, até o limite de cinco salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa; c) tem-se por termo legal da falência o período anterior à sentença de falência dentro do qual a lei pressupõe que o devedor já estaria em estado de insolvência, gerando uma presunção absoluta, e, logo, não suscetível de ser afastada por prova em sentido contrário; d)o regime falimentar está assentado em dois princípios processuais: o da universalidade e o da unidade do juízo da falência; e) um dos importantes efeitos da falência é o vencimento antecipado de todos os créditos havidos contra o falido. 28 A questão é anterior à nova LF e agora o síndico se chama administrador judicial. 29 Idem quanto ao comentário precedente. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 22 2.4. Classificação dos Créditos A Classificação dos créditos pela nova LF está disciplinada no art. 83, já que cada crédito recebe uma classificação baseada na sua origem e natureza e, partir daí, uma ordem ou hierarquia de pagamento. Antes, contudo, devemos fazer uma distinção entre os credores do falido e os da massa falida. A distinção é simples: basta observar se foram constituídos antes ou após a decretação da falência. Os credores do falido são aqueles por créditos constituídos antes da decretação da falência e formam os créditos concursais - art. 83. Já os credores da massa são os que se originam posteriormente e compõem os créditos extraconcursais - art. 84 (desfrutam de posição privilegiada), devendo ser pagos com prioridade e independentemente de habilitação. Também são extraconcursais os créditos que se originaram durante a recuperação malsucedida e convertida (convolada) em falência (art. 67 da LF). Os créditos extraconcursais merecem ser concebidos como molas propulsoras do próprio processo falimentar. Imaginem que o administrador judicial tenha que contratar uma empresa de vigilância para zelar pelos bens arrecadados e guardados num depósito alugado. Ora, se o locatário do depósito e a empresa de vigilância não tivessem preferência para receber, sabendo que se trata de um falido ou alguém em recuperação, jamais se disporiam a contratar. São considerados como créditos extraconcursais os relativos a remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência (art. 84 da LF).. Antes de se iniciar propriamente do pagamento aos credores, dispõe o art. 149 que serão realizadas as restituições. A restituição não é propriamente um crédito, mas um direito de terceiro nas mãos da massa. Os reclamantes com direito à restituição, nos termos dos arts. 85 a 93, sempre serão atendidos com prioridade sobre qualquer credor, salvo em se tratando de créditos estritamente salariais vencidos no trimestre anterior à decretação da falência e limitados a 5 salários-mínimos por trabalhador (art. 151 e 86, § único, da LF). No caso da restituição em dinheiro, quando se verificar ausência de saldo suficiente para satisfazer a todos os reclamantes, será observado rateio entre os mesmos. Mas como é feito o pagamento do credor? Primeiro temos a habilitação dos créditos, que é considerada já feita se os credores concordarem com a relação elaborada pelo administrador judicial. Em caso de ausência de inclusão ou de divergência da relação, o credor então formula a sua habilitação específica. A verificação do crédito é o procedimento legal de cobrança do devedor falido, (art. 7º, da LF), comprovando-se o valor devido, a origem e a sua classificação Em seguida cabe ao administrador judicial consolidar todos os créditos habilitados e os valores judicialmente reservados num quadro geral de credores. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 23 O quadro-geral é assinado pelo juiz e pelo administrador judicial e mencionará a importância e a classificação de cada crédito na data do requerimento da recuperação judicial ou da decretação da falência, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da sentença que houver julgado as impugnações (art. 18 da LF). Segundo o art. 149, após as restituições serão pagos os créditos extraconcursais e os créditos constantes do quadro-geral de credores. As importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamento dos credores, atendendo à classificação prevista no art. 83 (respeitados os demais dispositivos da LF e as decisões judiciais que determinam reserva de importâncias). Pelo art. 83 os créditos concursais serão pagos na seguinte ordem: 1º) os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho, estes sem limite de valor e referentes às ações indenizatórias movidas contra o empregador quando houver dolo ou culpa de sua parte (CRFB/88, art. 7º, inc. XXVIII);30 2º) créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; 3º) créditos tributários (agora são apenas os de natureza tributária, e não qualquer crédito da dívida ativa), independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias que serão incluídas mais abaixo, entre os créditos sub-quirografários; 4º) créditos com privilégio especial, que são os previstos no art. 964 do NCC; os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária da LF; e aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; 5º) créditos com privilégio geral, que são os previstos no art. 965 do NCC; os previstos no § único do art. 67; e os assim definidos em outras leis civis e comerciais (ex. art. 58, § 1º, da LSA), salvo disposição contrária da LF; 6º) créditos quirografários, que são os não previstos nos demais incisos do art. 83; os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I desse artigo); 7º) as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias (isso é uma novidade as multas tributárias e administrativas passaram a ser exigíveis, mas classificadas como crédito sub-quirografário, ficando, portanto prejudicada a Súmula 565 do STF, que é anterior à LF); 8º) créditos subordinados, que são os assim previstos em lei ou em contrato, por exemplo, no art. 58, § 4º, da Lei das S/A, o que examinamos na aula de SA, permitindo ainda a lei a previsão de subordinação em contratos; os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício (embora a 30 Repare que o seguro de acidentes de trabalho é pago pelo INSS, e não pelo empregador ou pela massa CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 24 lei não diga expressamente, são os créditos decorrentes da qualidade de sócio ou de administrador, e não qualquer crédito titularizado por essas pessoas).31 O art. 83 ainda traz uma série de disposições em seus §§, como por exemplo, no § 4º, que diz que os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. Vale ainda dizer que os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa - art. 151. Na realização do ativo (alienação ou venda de bens), a nova LF busca a venda em bloco, ou seja, a venda considerando a existência de aviamento, já que seu valor agregado é maior que o valor dos bens de per si (veja os elementos do estabelecimento da aula 1). Seja a alienação conjunta ou separada de ativos, da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus. Portanto, não haverá sucessão do arrematante nas obrigações dodevedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho - art. 141, II. Assim, os empregados do falido contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por obrigações decorrentes do contrato anterior - art. 141, § 3º. Um esquema simplificado da falência poderia ser apontado por: 1. Sentença decretando a falência; 2. Arrecadação de bens – art. 108; 3. Habilitação e verificação de créditos – art. 6º e 83; 4. Realização imediata do ativo – art. 139 a 141; 5. Pagamento aos credores – art 149 6. Encerramento da falência e a extinção das obrigações – arts. 154 a 160. DESAFIO 11 - Questão elaborada pela FJPF em 2006: No quadro geral de credores da falência, a remuneração devida pela prestação de serviços após a decretação da quebra se classifica como A) geral; B) especial; C) quirográfica; D) subordinada; E) extraconcursal; 31 Veja nosso artigo publicado no jornal Valor Econômico de 05.09.05, disponível em: http://www.valoreconomico.com.br/valoreconomico/285/legislacaoetributos/legislacaoetributo s/O+credito+do+socio+na+nova+Lei+de+Falencias,sharp,,86,3251664.html CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 25 12 - Questão elaborada pelo MPT em 2006: Assinale a alternativa CORRETA: I - pela nova lei de falência, n° 11.101/2005, tanto o crédito trabalhista quanto aqueles decorrentes de acidente do trabalho continuam privilegiados em relação aos demais até o limite de 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos por credor; II - a responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada será apurada no próprio juízo da execução do crédito, sendo posteriormente noticiado no juízo da falência; III - a falência pode ser requerida pelo credor em relação ao devedor que, ao ser executado por quantia líquida, deixa de pagar, de realizar qualquer depósito ou mesmo de nomear bens à penhora dentro do prazo legal; IV - os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial, vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa. a) todas as assertivas estão corretas; b) apenas as assertivas III e IV estão corretas; c) apenas as assertivas II e IV estão corretas; d) apenas a assertiva I está incorreta. 13- Questão elaborada pela FEPESE em 2005: Assinale a alternativa correta, de acordo com a Lei Federal n° 11.101/2005. a) Na falência, os créditos decorrentes de acidentes de trabalho têm precedência, para fins de pagamento, sobre todos os demais, inclusive os créditos considerados como extraconcursais. b) Na falência, os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 300 (trezentos) salários mínimos por credor, têm precedência sobre os créditos tributários. c) Na falência, os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. d) A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis não acarreta a falência destes. 14- Questão elaborada pela CESGRANRIO em 2006: Nos termos da nova lei de falências (Lei no 11.101, de 09/02/2005), acerca do procedimento de pagamento dos créditos na falência, afirma-se que: I - os créditos com garantia real, até o valor do bem gravado, precedem os créditos tributários na ordem de pagamento de credores; II - os créditos extraconcursais, referentes às remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, deverão ser pagos com preferência em relação aos créditos tributários; CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 26 III - as multas contratuais e fiscais são pagas após a quitação dos créditos quirografários; IV - os créditos trabalhistas cedidos a terceiros são considerados quirografários. Estão corretas as afirmativas: (A) II e III, apenas. (B) I, II e IV, apenas. (C) I, III e IV, apenas. (D) II, III e IV, apenas. (E) I, II, III e IV. 15 - Questão elaborada pela FCC em 2005: De acordo com a nova lei de falências (Lei n° 11.101/05), o credor trabalhista, por serviços prestados antes da decretação da quebra, deverá ser satisfeito a) Após o pagamento dos credores titulares de garantia real, qualquer que seja o valor do crédito trabalhista. b) Com preferência em relação aos créditos fiscais, até o limite de 50 salários mínimos. c) Após a liquidação dos débitos da empresa com a previdência social. d) Juntamente com os credores quirografários, em relação à parcela do seu crédito que exceder a 150 salários mínimos. e) Juntamente com os credores titulares de privilégio especial sobre os bens da massa. 2.5. Extinção das Obrigações Após, concluída a realização do ativo, pagos os credores, prestadas as contas pelo administrador e apresentado relatório final da falência o juiz encerrará a falência por sentença - arts. 154 a 156. Encerrada a falência, poderá ser reconhecido por sentença, a requerimento do falido, que suas obrigações estão extintas, com fundamento em uma das seguintes hipóteses - art. 158: I – O pagamento de todos os créditos. II – O pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% dos créditos quirografários, assemelhando-se aí à antiga concordata. Faculta-se ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo. III – O decurso do prazo de 5 anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto na LF. CURSOS ON LINE – DIREITO COMERCIAL – CURSO REGULAR PROF. RONALD A. SHARP JUNIOR www.pontodosconcursos.com.br 27 IV – O decurso do prazo de 10 anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto na LF. O falido formulará a extinção das obrigações mediante requerimento dirigido ao juiz com a prova da quitação dos tributos relativos à sua atividade empresarial - art. 191 do CTN. Seguindo os mandamentos contidos nos §§ do art. 159, o requerimento será autuado em apartado com os respectivos documentos e publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação. No prazo de 30 dias contado da publicação do edital, qualquer credor pode opor-se ao pedido. Findo o prazo, o juiz, em 5 dias, proferirá sentença e, se o requerimento for anterior ao encerramento da falência, declarará extintas as obrigações na sentença de encerramento. Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da falência. A sentença que declarar extintas as obrigações será comunicada a todas as pessoas e entidades informadas da decretação da falência. Cabe apelação da mesma. O sócio de responsabilidade ilimitada também poderá requerer que seja declarada por sentença a extinção de suas obrigações na falência (ou sua prescrição) - art. 160. Somente com a declaração pela sentença de extinção das obrigações é que o falido poderá a voltar a exercer a atividade empresarial, salvo se tiver sofrido condenação por crime falimentar. Nesta última hipótese, são efeitos da condenação criminal, motivadamente declarados na respectiva sentença, a inabilitação para o exercício de atividade empresarial, o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou administração das sociedades sujeitas à LF, e a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. Efeitos esses que perdurarão pelo prazo de 5 anos após a extinção da punibilidade, podendo cessar antes pela reabilitação penal - art. 181. Cabe observar que a lei do registro das empresas veda o arquivamento de atos constitutivos ou alteração de empresas
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