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Ana Luiza Bittencourt DIREITO PENAL I – PARTE GERAL Teoria do crime CRIME = Fato típico + ilícito (antijurídico) + culpável - No material anterior foi estudado o fato típico. Nesse será estudado o fato ilícito. Ilicitude - Presume-se que todo fato típico é ilícito. Porém existem exceções: as excludentes de ilicitude. É isso que é estudado quando se fala de ilicitude. - São 4 excludentes de ilicitude: (art. 23) • Legítima defesa; • Estado de necessidade; • Estrito cumprimento de dever legal; • Exercício regular de direito. Legítima defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. - Moderadamente: a defesa deve ser moderada > não pode ter excessos > se o indivíduo “exagera” estará configurado o excesso (art. 23, parágrafo único). - Meios necessários: todos aqueles meios PROPORCIONAIS e RAZOÁVEIS que se mostrem EFICAZES e SUFICIENTES para repelir a injusta agressão que está sendo praticada ou que está prestes a ocorrer. - Atual ou iminente: atual é a agressão que está ocorrendo no momento / iminente é uma agressão que está prestes a acontecer. - Direito seu ou de outrem: qualquer cidadão pode se defender ou defender terceira pessoa que esteja sendo agredida injustamente. Observações: • A agressão deve ser um ATO HUMANO. Não cabe legítima defesa de agressão de animais. • Majoritariamente é acordado que é possível existir legítima defesa contra inimputáveis. • Não existe legítima defesa recíproca, já que as duas agressões seriam injustas, mas há possibilidade de legítima defesa contra o excesso. • Legítima defesa putativa > art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo (culpa imprópria). - Culpa imprópria: ocorre quando o agente, por erro, fantasia situação de fato, supondo estar acobertado por causa excludente da ilicitude (caso de descriminante putativa) e, em razão disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito e evitável. Apesar de a ação "supostamente defensiva" ser dolosa, a denominação "culpa imprópria" advém do fato de o agente responder por crime na forma culposa. Ex.: um cara ameaça o outro de morte e fala que vai atrás da pessoa. O ameaçado está num restaurante, vê um homem com capuz e acha ser aquele que ameaçou ele e dá um tiro, com dolo de matar, e mata o homem, mas na verdade não era a pessoa que o ameaçou > nesse caso, aquele que atirou foi NEGLIGENTE, respondendo como crime culposo, mesmo com dolo de matar. • É cabível legítima defesa real (autêntica) contra legítima defesa putativa. Estado de necessidade - Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. - Perigo atual = legalmente, diferente do que ocorre com a legítima defesa, não inclui “perigo iminente” > mas a doutrina majoritária entende que é possível aplicar o estado de necessidade para casos que estão na iminência de acontecer > em questão fechada deve-se observar o conceito legal. - Não provocou por sua vontade = para a doutrina majoritária, pode-se invocar estado de necessidade para aqueles que tenham provocado o perigo por “culpa”, ou seja, “sem querer” > não se pode aplicar quando houve dolo. - Não podia de outro modo evitar = deve-se evitar pela prática do dano, mas se isso não for possível, deve-se optar pelo menos gravoso para evitar o perigo (evitabilidade do dano). - Cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se = razoabilidade entre o bem jurídico sacrificado e o protegido > o bem sacrificado deve ser menor ou igual ao direito protegido > existem bens jurídicos que são mais importantes que outros > ex.: não se pode matar uma pessoa para salvar o patrimônio > se não houver proporcionalidade, haverá redução de pena (art. 24, §2º) > ex.: uma pessoa salvou o cachorro que está com ela há 10 anos ao invés de salvar uma pessoa que não conhecia > o correto seria salvar a pessoa, pois juridicamente o bem jurídico mais importante na situação é a vida humana, mas é razoável que ela tenha salvo o cachorro, então sua pena poderá ser REDUZIDA de 1/3 a 2/3. - Observações: • Quem tem dever legal de enfrentar o perigo NÃO pode alegar estado de necessidade (art. 24, §1º) > ex.: profissionais que se comprometem legalmente a enfrentar o perigo > se há um incêndio e o bombeiro sabe que pode salvar a vida de alguém e mesmo assim não vai alegando estado de necessidade por medo do perigo não é aceitável. • Aquele que tem dever contratual PODE alegar estado de necessidade segundo a doutrina majoritária. • Estado de necessidade putativo > art. 20, §1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo > é uma situação imaginária que o sujeito acha que há um perigo atual. • Estado de necessidade e furto famélico > furto em situação de extrema necessidade, por exemplo, furto de um alimento para comer > há divergência doutrinária > depende das circunstâncias, mas em geral, é possível tornar esse fato atípico pelo princípio da insignificância > com isso, não há tipicidade, então não precisa nem de falar em ilicitude. • No DP, a pessoa que é absolvida por estado de necessidade é absolvida APENAS NO ÂMBITO PENAL > ainda pode ser punida civilmente, por meio de indenização: - Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. - Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. - Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I). Estrito cumprimento de um dever legal Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. - Dever legal = dever que, em geral, é de um agente da administração pública, decorrente da ‘lei” em sentido lato, ou seja, qualquer diploma normativo (lei, decreto, regulamento e até decisão judicial). Ex.: policial que priva a liberdade de alguém > está agindo em estrito cumprimento de dever legal. Obs.: A doutrina diverge quanto à possibilidade de um “particular” poder invocar essa descriminante, mas a maioria entende que é possível; Ex.: advogado que se recusa a confessar segredo de cliente. - Estrito cumprimento =o cumprimento do dever deve se dar no EXATO LIMITE estabelecido pela lei, de modo que o seu dever não pode ser ultrapassado. Exercício regular de um direito Art. 23 - Não há crimequando o agente pratica o fato: III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. - Onde existe o direito não há crime. - Ex.: as pessoas tem direito de praticar atividades esportivas violentas (desde que obedecidas as regras) > se a pessoa luta boxe e dá um soco no olho de outra pessoa, não pode responder por lesão corporal, porque estava no exercício regular de direito. - Art. 1.283 do CC. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido. - Art. 1.219 d CC. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. - O exercício deve ser REGULAR, de modo que, se houver abuso do direito, estará caracterizado o excesso punível. Consentimento do ofendido - É uma “causa supralegal de exclusão de ilicitude”, ou seja, não está prevista na lei, mas é aceita pela doutrina. - Caso o “dissentimento” esteja no próprio tipo legal, o consentimento excluirá a tipicidade (fato típico). - Requisitos: • Capacidade para consentir; • Bem disponível; • Consentimento seja dado anteriormente ou simultaneamente à conduta do agente; • O bem deve ser próprio. - Ex.: tatuagem > o fato é típico (art. 129 – lesão), mas não é ilícito. Obs.: para o consentimento nos casos de lesão, só se admite em hipóteses de lesão leve. CONCURSO DE PESSOAS - É quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática do crime > AUTOR e PARTÍCIPE. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Autor: • Teoria restritiva: autor é quem pratica o núcleo do tipo (ex.: matar). Quem só auxilia é partícipe. • Teoria extensiva: autor é quem quer ser o autor do crime (animus auctoris) e partícipe é quem só quer participar (animus socii). • Teoria do domínio do fato: autor é quem possui o CONTROLE da empreitada criminosa > controla finalisticamente o fato criminoso. Engloba: - Autor imediato: o que pratica a ação; - Autor intelectual: o que planeja a ação e divide as tarefas; - Autor mediato: que age mediante um inimputável ou em erro, usando de uma terceira pessoa que não sabe do crime. Partícipe: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. - Teoria monista (unitária): • teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro; • existe um único crime que é atribuído a TODOS aqueles que CONTRIBUEM para a OCORRÊNCIA do DELITO > autor e partícipe responderão pelo MESMO CRIME. • Exceção: crime de aborto > mandante e executor respondem por crimes distintos – art. 124 e art. 126. - Requisitos: 1. pluralidade de agentes e condutas = precisa ter mais de um agente e mais de uma conduta. 2. relevância causal de cada conduta = a conduta precisa ser relevante. 3. liame subjetivo entre os agentes = precisa ter a junção de vontades > deve haver a ligação entre as vontades dos agentes, as condutas, no concurso de pessoas, são combinadas e não podem fugir do acordado, configurando, portanto, um desígnio comum. 4. identidade de infração penal = que os autores queiram praticar a mesma infração. - Crimes unissubjetivos = pode ser praticado por uma pessoa (art. 155/CP) > pode haver concurso de pessoas > furto, homicídio, etc. - Crimes plurissubjetivos = exige pluralidade de agentes (art. 288/CP) > não pode haver concurso de pessoas > associação criminosa > só existe quando há 3 ou mais indivíduos. Art. 29, § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Ex.: A combina com B que irão furtar uma casa abandonada > A diz que nem levará arma, pois não haverá ninguém no local > no momento do crime aparece C e A mata-o (sendo que deixou bem claro que era uma casa abandonada e que não tinha ninguém lá) > A responde por latrocínio; B responde por furto (não era previsível o resultado mais grave, então a pena não será aumentada).
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