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Dissertação de Mestrado CONTROLE DE QUALIDADE DE UMA BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM NÚCLEO ASFALTICO CASO UHE JIRAU AUTOR: ADRIANO GEAN MICHELUZZI ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero Cesar Gomes (UFOP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP OURO PRETO - JANEIRO DE 2016 iv DEDICATÓRIA Para Valeria Micheluzzi v AGRADECIMENTOS Quero agradecer aos meus pais pela educação e amor recebido, pela vivência e por tudo que sou hoje. À minha esposa Valéria, pela paciência e dedicação ao meu lado, nas muitas e muitas horas gastas no estudo. Ao meu orientador Professor Romero, pela paciência e apoio na elaboração deste trabalho de mestrado. Aos meus colegas de mestrado que me apoiaram muito para conseguir completar esta nova fase da vida: Fernando Gomes, José Carlos Filho, Paulo Cesar Silva e Maurício de Souza Carneiro. Aos meus amigos e colegas da LEME Engenharia (Rondônia - Porto Velho), principalmente ao professor Henrique Djiskstra e ao amigo Cliceu Martins pelos ensinamentos e apoio nos 4 anos em que vivi em Rondônia. Ao meu Gerente José Pamplona, pela paciência de ensinar e pelo conhecimento sobre gerenciamento e obra neste período de Jirau. Ao Nelson Porto e Ana Yoda, pelo apoio e as aulas de Geotecnia. Ao meu grande amigo Daniel Seabra e sua família pela acolhida em sua casa que recebi em Belo Horizonte, para conseguir me dedicar ao estudo e concluir este trabalho. Ao diretor Técnico da ESBR Maciel Paiva, por confiar e autorizar o estudo sobre o Barramento de núcleo asfáltico. Aos meus novos colegas da Neoenergia pelo apoio no dia a dia para a conclusão deste trabalho. ��� � RESUMO Barragens de enrocamento com núcleos de concreto asfáltico constituem alternativas muito interessantes para a implantação de empreendimentos hidrelétricos de grande porte na região Norte do Brasil, pois possibilitam as atividades construtivas mesmo nos períodos chuvosos e, uma vez que incorporam núcleos bastante esbeltos, permitem a adoção de barragens com taludes íngremes, com grande redução e economia dos materiais utilizados. O comportamento geotécnico do núcleo asfáltico constitui a premissa básica de projeto de barragens de enrocamento que utilizam esta tecnologia como elemento de vedação. Neste contexto, impõe-se estabelecer procedimentos rigorosos de controle em relação às propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina, dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas, bem como das metodologias construtivas associadas ao lançamento e compactação destas misturas em campo. O objetivo principal deste estudo é apresentar, de forma sistêmica e estruturada, os principais condicionantes geotécnicos que influenciam a construção de núcleos asfálticos em barragens de enrocamento, considerando-se a experiência e o envolvimento profissional do autor como responsável pela engenharia do proprietário, no setor de geotecnia e na fiscalização da construção da barragem de enrocamento, utilizando materiais betuminosos como núcleos de vedação, no caso da obra da UHE Jirau. Complementarmente, propõe-se abordar a sistemática do controle tecnológico e das metodologias construtivas destes maciços, conforme adotadas no âmbito do empreendimento estudado, bem como discutir os critérios, normas e procedimentos que regulam em campo a implantação de núcleos asfálticos como elementos de vedação de barragens de grande porte, com ênfase especial no controle das temperaturas de campo dos materiais betuminosos, que constitui um fator de extrema relevância sobre a trabalhabilidade e o desempenho final das misturas e na resposta do núcleo como elemento estrutural e de estanqueidade da barragem. ���� � SUMMARY Rockfill dams with asphalt concrete center core are very attractive design alternatives for implementation of large hydroelectric power plants in the northern Brazil since this type of dam can make it possible to keep the construction activities even during raining seasons; As the asphalt cores are thin, it is always possible to adopt in the design steep embankments slopes that lead to economies in the rock material for the dams. The geotechnical performance of the asphalt core is a basic characteristic in the design of rockfill dams where this sealing technology is applied. So, strict control procedures are necessary as long as the technologic properties of the asphalt cement derived from oil, the properties of the aggregates, the properties of the thin transition and even the rockfill properties are concerned. The control of the construction methods such as the placing and the compaction is also important. The aim of this paper is to show in a logic form, the main geotechnical aspects that are important in the construction of asphalt cores in rockfill dams. This is based in the experience of the author who was the owner engineer responsible for the geotechnical aspects of the construction of the rockfill dam with impervious asphalt core of the Jirau hydroelectric power plant. It is also mentioned how the construction control shall be done in dams with asphalt core such as the Jirau embankment dam, as well as the general criteria and standards to be applied in the design and construction of asphalt center cores as impervious elements of large rockfill dams. One of the main aspects is the temperature control of the bituminous materials in the field since it is extremely important as long as the workability and the performance of the core in its effectiveness as a sealing element of the dam is concerned. viii Lista de Figuras Figura 2.1 - Barragens com interface asfáltica de vedação na face de montante. Figura 2.2 – Face asfáltica como vedação de montante de barragem de enrocamento Figura 2.3 - Barragem de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (UHE Foz do Chapecó); Figura 2.4 – Execução do núcleo asfáltico e das transições (UHE Foz do Chapecó) Figura 2.5 – Grandezas volumétricas de misturas asfálticas (ANTT, 2000) Figura 2.6 – Permeabilidades x volumes de vazios de concretos asfálticos (Falcão, 2007) Figura 2.7 – Variações volumétricas de concretos asfálticos para diferentes teores de CAP (CAP B80) e tensões confinantes (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012) Figura 3.1 – Localização da UHE Jirau Figura 3.2 – Arranjo geral das estruturas da UHE Jirau (Braga, 2013) Figura 3.3 – Vista da UHE Jirau: Ilha do Padre/barragem principal (Braga, 2013) Figura 3.4 – Vista da UHE Jirau: barragem principal/barragem da MD (Braga, 2013) Figura 3.5 – Mapa geológico da área do empreendimento Figura 3.6 – Feições típicas da Formação Palmeiral: (a) cascalho em conglomerados cimentados; (b) cascalho com matriz argilosa superficial Figura 3.7 – Afloramentos graníticos com petrogravuras (Silva et al., 2010) Figura 3.8 – Distribuição regional das precipitações (PCE, 2006) Figura 3.9 – Cotagrama das vazões do Rio Madeira, entre 2008 a 2013 (LEME, 2013) Figura 3.10 – Vista da Barragem de Enrocamento com nucleo argiloso Figura 3.11 – Planta e seção transversal típica da Barragem Principal da UHE Jirau (Themag, 2012) Figura 3.12 – Detalhe da base de fundação do núcleo asfáltico (Themag, 2012) Figura 3.13 – Materiais de construção utilizados na barragem (Themag, 2012) Figura 3.14 – Medidores de recalques instalados na barragem (Themag, 2012) Figura 3.15 – Marcos superficiais instalados na barragem principal (Themag, 2012) Figura 4.1 – Produção de agregados e controle granulométrico em obra Figura 4.2 – Curva granulométrica média do CBUQ em obra ix Figura 4.3 – Amostra indeformada obtida do aterro experimental Figura 4.4 – Resultados dos ensaios triaxiais com amostras do aterro experimental Figura 4.5 – Equipamento rotativo para extração (a) e amostra coletada do núcleo (b). Figura 4.6 – Preparação dos corpos de prova a partir daamostra coletada do núcleo Figura 4.7 – Ensaio de membrana plástica: gabarito de madeira (a) e enchimento (b) Figura 5.1 - Usina de Concreto Asfáltico da UHE Jirau (Ramalho et al., 2013) Figura 5.2 – Etapas de construção da metodologia DACC (Ramalho et al., 2013) Figura 5.3 – Preparação das fundações para a construção da Barragem Principal Figura 5.4 – Fundação local em solo residual de granito (ombreira direita) Figura 5.5 – Tratamento das fundações locais por cortinas de injeções Figura 5.6 – Preparação da superfície da laje de concreto (plinto) Figura 5.7 – (a) Mastique asfáltico; (b) lançamento do mastique sobre a laje de concreto Figura 5.8 – (a) posicionamento das formas metálicas; (b) lançamento da massa asfáltica Figura 5.9 – Distribuição conjunta do concreto asfáltico e transição fina Figura 5.10 – Controle de alinhamento do eixo do núcleo asfáltico Figura 5.11 – Compactação integrada do núcleo asfáltico e das transições finas Figura 5.12 – Estreitamento do núcleo: (a) campo (autor); (b) esquema (Guimarães, 2012) Figura 5.13 – Controle de temperaturas no campo (antes da compactação) Figura 5.14 – Camada com desvio do eixo e limpeza da transição Figura 5.15 – Complementação da camada apresentando desvio do eixo Figura 5.16 – Remoção de camada com teores inadequados de CAP Figura 5.17 – Surgências de água na superfície do núcleo asfáltico Figura 5.18 – Detalhe da pressão na junta de dilatação com a expulsão do mastique Figura 5.19 – (a) calda sem consolidação de furo de injeção; (b) contato entre material consolidado e não consolidado de furo de injeção Figura 5.20 – (a) furo inicial sem consolidação da injeção; (b) reconstrução do furo Figura 5.21 – Ensaio de perda d’água para aferição do novo tratamento de fundação Figura 5.22 – Limpeza e preparação do núcleo escavado Figura 5.23 – Limpeza da transição fixada ao núcleo antigo Figura 5.24 – Reconstrução do núcleo: (a) fôrma colocada; (b) aplicação do mastique Figura 6.1 – Camada compactada e não compactada do aterro (temperatura de 110 °C) Figura 6.2 – Extração (a) e obtenção (b) de amostras indeformadas dos aterros x Figura 6.3 – Corpos de prova para ensaios de controle de qualidade dos aterros Figura 6.4 – Resultados dos ensaios de controle - Variações da temperatura das misturas Figura 6.5 – Perda da estabilidade estrutural da mistura asfáltica Figura 6.6 – Resultados dos ensaios de caracterização do material da última camada do núcleo asfáltico da barragem Figura 6.7 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 30ºC Figura 6.8 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 50ºC Figura 6.9 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 70ºC Figura 6.10 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 90ºC Figura 6.11 – Curvas tensão - deformação médias das amostras ensaiadas Figura 6.12 – Resultados em termos das resistências à compressão não confinada xi Lista de Tabelas Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011) Tabela 4.1 – Propriedades Básicas do CAP 85 - 100 Tabela 4.2 – Resultados do ensaio de índice de forma dos agregados Tabela 4.3 – Traço final da argamassa asfáltica (% em peso) Tabela 4.4 – Ensaios de recebimento do CAP na obra Tabela 4.5 – Valores médios dos parâmetros de controle de campo Tabela 4.6 – Parâmetros de controle para os testemunhos coletados do núcleo Tabela 4.7 – Valores médios das densidades dos enrocamentos e transições xii Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica. ANP – Agencia Nacional de Petróleo. BENA – Barragem de Enrocamento com o Núcleo Asfaltico. CAP – Concreto Asfáltico de Petróleo. CBUQ – Concreto Betuminoso Usinado a Quente CCCC – Construtora e Comercio Camargo Correia CCR – Concreto Compactado a Rolo CD - Ensaio Triaxial consolidado drenado cm – centímetros CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CU – Ensaio Triaxial consolidado não drenado; d - densidade aparente do corpo de prova compactado DACC - Dense Asphaltic Concrete Core DMT - densidade máxima teórica da mistura DNIT – Departamento Nacional de Infraestruturas e Transporte. ESBR – Energia Sustentável do Brasil FACC - Flowable Asphaltic Concrete Core. g/cm³ - Grama por centímetro cubico. Gb – densidade do asfalto. xiii Gmb - densidade relativa aparente do corpo de prova compactado Gmm - densidade máxima da mistura solta Gse - densidade efetiva da mistura H – Horizontal ICOLD – International Commission on Large Dams km² - Quilometro Quadrado kN – Quilo Nilton m – Metros m/s – Metros por segundo m³/s. – Metro cubico por Segundo. mm – milimetros MPa – Mega Pascal MW – MegaWatts NBR – Norma Brasileira NGI - Norwegian Geotechnical Institute NM – Norma Mercosul Pb – porcentagem de asfalto em relação à massa total da mistura Ps – porcentagem do agregado em relação à massa total da mistura RBV - relação betume-vazios t/h – Toneladas por hora TR – Tempo de Recorrência. UC – Ensaio Triaxial de compressão não confinada UHE – Usina Hidroelétrica xiv UU – Ensaio Triaxial não consolidado não drenado; VAM - volume de vazios no agregado mineral Vv – Volume de vazio de ar Wd – peso seco Wssd – peso saturado em superfície seca Wsub – peso submerso do material. � − constante % - Percentual %/h – Percentual por hora °C – Graus Centrigrados xiv SUMÁRIO CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 −− IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 1 1.2 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO .......................................................................... 3 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................................ 4 CCAAPPÍÍTTUULLOO 22 −− BBAARRRRAAGGEENNSS DDEE CCOONNCCRREETTOO CCOOMM NNUUCCLLEEOO AASSFFAALLTTIICCOO 2.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 2.2 BARRAGENS COM VEDAÇÃO ASFÁLTICA ..................................................... 6 2.3 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ......................................................................... 11 2.3.1 Agregados ....................................................................................................... 11 2.3.2 CAP: Cimento Asfáltico de Petróleo .............................................................. 13 2.3.3 Enrocamentos e Transições ............................................................................ 15 2.4 CONCRETO ASFÁLTICO ..................................................................................... 16 2.4 USINAS ASFÁLTICAS ......................................................................................... 22 CCAAPPÍÍTTUULLOO 33 −− CCAARRAACCTTEERRIISSTTIICCAASS DDOO EEMMPPRREEEENNDDIIMMEENNTTOO 3.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 24 3.2 GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL ..................................................................... 27 3.3 OUTROS ASPECTOS DO MEIO FÍSICO LOCAL .............................................. 29 3.4 BARRAGEM PRINCIPAL COM NÚCLEO DE CONCRETO ASFÁLTICO ...... 31 3.4.1 Natureza do Barramento ................................................................................. 31 3.4.2 Arranjo Geral e Geometria do Barramento .................................................... 32 3.4.3 Instrumentação da Barragem Principal........................................................... 35 CCAAPPÍÍTTUULLOO 44 −− CCOONNTTRROOLLEE TTEECCNNOOLLOOGGIICCOOSS DDOOSS MMAATTEERRIIAAIISS EEMM LLAABBOORRAATTOORRIIOO EE DDAASS MMIISSTTUURRAASS EEMM CCAAMMPPOO 4.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................37 xv 4.2 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO ........................... 38 4.2.1 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) ............................................................ 38 4.2.2 Agregados do Concreto Asfáltico .................................................................. 39 4.3 SELEÇÃO DO TRAÇO E EXECUÇÃO DE ATERRO EXPERIMENTAL ......... 41 4.4 ENSAIOS DE CONTROLE DE QUALIDADE EM CAMPO .............................. 44 4.4.1 Ensaios de Controle de Qualidade do CAP .................................................... 44 4.4.2 Ensaios de Controle de Qualidade em Campo o ............................................ 45 CCAAPPÍÍTTUULLOO 55 −− CCOONNCCEEPPÇÇÃÃOO GGEERRAALL,, MMEETTOODDOOLLOOGGIIAASS CCOONNSSTTRRUUTTIIVVAASS EE SSOOLLUUÇÇÕÕEESS DDEE PPRROOBBLLEEMMAASS EEMM CCAAMMPPOO 5.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 51 5.2 METODOLOGIA CONSTRUTIVA TIPO DACC ................................................ 53 5.2.1 Escavação e Regularização das Fundações .................................................... 53 5.2.2 Preparação da Superfície do Plinto e Lançamento de Mastique .................... 55 5.2.3 Construção do Núcleo de Concreto Asfáltico ................................................ 56 5.3 PROBLEMAS DETECTADOS E SOLUÇÕES PROPOSTAS ............................. 61 5.3.1 Desalinhamentos do Núcleo Asfáltico ........................................................... 61 5.3.2 Variações dos Teores de Concreto Asfáltico na Mistura ............................... 62 5.3.3 Lançamento de Camadas com Temperaturas Fora das Especificações .......... 63 5.3.4 Infiltrações de Água no Núcleo Asfáltico ...................................................... 64 5.3.5 Reconstrução do Núcleo Escavado................................................................. 67 CCAAPPÍÍTTUULLOO 66 −− IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAA DDAA TTEEMMPPEERRAATTUURRAA NNAA EEXXEECCUUÇÇÃÃOO DDOO NNÚÚCCLLEEOO AASSFFÁÁLLTTIICCOO 6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 69 6.2 CONSTRUÇÃO DOS ATERROS EXPERIMENTAIS ......................................... 70 6.3 TRABALHABILIDADE E COMPACTAÇÃO DOS MATERIAIS EM CAMPO 71 6.4 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DOS ATERROS ................... 73 6.5 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CONTROLE DO NÚCLEO ASFÁLTICO . 75 CCAAPPÍÍTTUULLOO 77 −− CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS EE SSUUGGEESSTTÕÕEESS PPAARRAA OOUUTTRROOSS EESSTTUUDDOOSS 7.1 CONCLUSÕES PRINCIPAIS ................................................................................ 81 xvi 7.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS COMPLEMENTARES ............................... 84 RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS .................................................................................................................................................... 8866 1 1 CCAAPPIITTUULLOO 11 INTRODUÇÃO 1.1– CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Brasil é um país cuja matriz energética é baseada, em larga escala na hidroenergia, por possuir um território de dimensões continentais com grande potencial para a exploração de energias renováveis, visando o atendimento de uma demanda sempre crescente de energia de um mercado em franca expansão. A necessidade de novas e crescentes demandas de energia na Região Norte e Centro Oeste do Brasil motivaram, amparada pelas novas regulações de parcerias com o setor privado, a construção e a implantação de grandes usinas hidrelétricas como fomento ao desenvolvimento regional em grande escala. Por outro lado, a Região Norte do Brasil é tipificada por períodos bem definidos das estações chuvosas, fato que tem uma repercussão direta na construção dos grandes maciços compactados das barragens de terra de grande porte. Neste sentido, torna-se imperativo estabelecer procedimentos alternativos nas metodologias construtivas dos barramentos que incorporem esta realidade da condição natural da região, viabilizando empreendimentos de geração de energia a curto prazo e em condições econômicas satisfatórias. Barragens de enrocamento com núcleos de vedação asfáltica (BENA) representam uma solução concreta para empreendimentos hidrelétricos de grande porte, na contextualização climática da região Norte do Brasil. Embora ainda incipiente no país (apenas duas barragens deste tipo foram implantadas entre nós – a barragem da UHE Foz do Chapecó, localizada no estado de Santa Catarina e, mais recentemente, a barragem da UHE Jirau, no estado de Rondônia), esta tecnologia construtiva tem ampla aplicação em todo o mundo, constituindo alternativas efetivas em relação às barragens de enrocamento com face de concreto, mais utilizadas no Brasil. Estes estudos, portanto, incluem premissas de inovação e de fomento da difusão de novas tecnologias no âmbito do papel relevante da hidroeletricidade na matriz de energia renovável no país, associadas às boas práticas da sustentabilidade. 2 2 1.2 – OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO O comportamento geotécnico do núcleo asfáltico constitui a premissa básica de projeto de barragens de enrocamento que utilizam esta tecnologia como elemento de vedação. Neste contexto, impõe-se estabelecer procedimentos rigorosos de controle em relação às propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina, dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas, bem como das metodologias construtivas associadas ao lançamento e compactação destas misturas em campo. O objetivo principal deste trabalho é apresentar, de forma sistêmica e estruturada, os principais condicionantes geotécnicos que influenciam a construção de núcleos asfálticos em barragens de enrocamento, considerando-se a experiência e o envolvimento profissional do autor como responsável pela engenharia do proprietário, no setor de geotecnia e na fiscalização da construção da barragem de enrocamento, utilizando materiais betuminosos como núcleos de vedação, da obra da UHE Jirau. Como objetivos específicos, propõe-se abordar a sistemática do controle tecnológico e das metodologias construtivas destas estruturas, conforme adotadas no âmbito do empreendimento estudado, bem como discutir os critérios, normas e procedimentos que regulam em campo a implantação de núcleos asfálticos como elementos de vedação de barragens de grande porte. Uma vez que as temperaturas das misturas asfálticas constituem fator determinante no comportamento geotécnico do núcleo da barragem, durante o lançamento e durante toda a vida útil do empreendimento, estudos específicos foram implementados de forma a se avaliar diretamente a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o desempenho final das misturas e na resposta do núcleo como elemento estrutural e de estanqueidade da barragem. Neste propósito, ênfase maior foi dada em tentativas de campo visando estabelecer correlações entre a temperatura de lançamento do material do núcleo asfáltico e a eficiência do processo de compactação dos materiais, bem como da viabilidade operacional dos procedimentos propostos, por meio da construção e ensaios feitos em amostras indeformadas extraídas de aterros experimentais. 3 3 1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Este trabalho é dividido em sete capítulos, de acordo com a seguinte estruturação dos temas analisados: • Capítulo 1: Neste capítulo apresenta-se a proposta de trabalho, destacando-se as considerações e implicações preliminares do estudo, os objetivos previstos e a própria estrutura da dissertação; • Capítulo 2: apresenta uma revisão bibliográfica abrangente sobre as metodologias construtivas das chamadas barragens de enrocamento com núcleo asfáltico (BENA), com ênfase nos estudos geotécnicos das zonas de vedação das estruturas e no comportamento tecnológico dosmateriais betuminosos utilizados; • Capítulo 3: apresenta as características gerais do estudo de caso analisado, ou seja, o empreendimento da UHE Jirau, tais como localização, características hidrológicas locais, geologia regional, concepção da barragem principal e a instrumentação geotécnica instalada para fins de monitoramento contínuo da estrutura; • Capítulo 4: apresenta os estudos relativos à avaliação das propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina e dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas; • Capítulo 5: apresenta detalhadamente a concepção, as fases principais da metodologia construtiva propriamente dita do núcleo asfáltico e os procedimentos de controle tecnológico adotados, abordando também as interferências e os problemas decorrentes destas atividades, bem como das soluções corretivas implementadas em campo; • Capítulo 6: apresenta a síntese dos estudos realizados, com amostras extraídas de aterros experimentais e da última camada lançada do núcleo asfáltico da barragem da UHE Jirau, para se avaliar, especificamente, a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o desempenho final das misturas asfálticas, bem como sobre a estabilidade estrutural do núcleo da barragem; • Capítulo 7: apresenta a sistematização das principais conclusões da dissertação e a proposição de alguns temas para estudos complementares. 4 CAPÍTULO 2 BARRAGENS DE CONCRETO COM NÚCLEO ASFÁLTICO 2.1 – INTRODUÇÃO A primeira aplicação conhecida de concreto asfáltico em núcleos de barragens foi feita em Portugal, na construção da barragem Vale do Gaio em 1949. Nessa barragem, aplicou-se uma camada de mastique na forma de uma cortina, com espessura variando entre 0,10 e 0,20 m e com inclinação de 1,0V:0,8H. A cortina de material betuminoso não constituía o único elemento de vedação, visto que o paramento de montante era constituído de solo compactado (ICOLD,1992). Em 1962, na Alemanha, na construção da barragem Duhn Outer, utilizou-se, pela primeira vez no mundo, um núcleo central de concreto asfáltico como elemento único de vedação impermeabilizante. Na construção dessa barragem, empregou-se a metodologia conhecida como Dense Asphaltic Concrete Core (DACC), na qual o concreto asfáltico é aplicado por meio de um equipamento mecânico. Após a construção pioneira desta barragem, outras 89 estruturas similares foram executadas nesta mesma concepção construtiva (Guimarães, 2012). Na Noruega, esta alternativa de estruturas de barragens alcançou patamar de referência na atualidade. Com efeito, até 1970, o país adotava somente estruturas do tipo barragens de enrocamento com núcleo argiloso; entretanto, devido à escassez de solos locais levou à necessidade de se adotar procedimentos alternativos, que culminaram na aplicação da tecnologia dos núcleos asfálticos em barragens nos anos seguintes. A maior barragem deste tipo construída na Noruega é a barragem Storglomvatn, que possui um núcleo de 125 m de altura, o núcleo de concreto asfáltico de maior altura já construído no mundo (até 2011). A barragem Fiesternal na Austrália é a barragem mais alta já construída utilizando a tecnologia de concreto de núcleo asfáltico, apresentando altura máxima de 150 m; porém, o núcleo de concreto asfáltico a barragem possui altura menor, a ordem de 98 m de altura (Falcão, 2003). 5 Desde 1960, a metodologia DACC permite o lançamento simultâneo do concreto asfáltico e da transição fina com a utilização de equipamentos específicos para isso, sendo, assim, a mais empregada para a construção de barragens de enrocamento com núcleo asfaltico. (ICOLD, 1992). Por outro lado, entretanto, foram construídas em 1988, na antiga União Soviética, três barragens, utilizando-se núcleo de concreto asfáltico fluído (FACC - Flowable Asphaltic Concrete Core), técnica envolvendo o lançamento do concreto asfáltico manualmente sem vibração, conhecido como ‘método russo’. No Brasil, barragens de enrocamento com núcleo asfáltico ainda constituem uma novidade, tendo a primeira barragem sido construída apenas no ano de 2010. Trata-se da UHE Foz do Chapecó localizada no Rio Uruguai, na fronteira entre os Estados de Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. A UHE Foz do Chapecó possui potência instalada de 855 MW e altura média de 48,0 m. A segunda barragem deste tipo construída no Brasil foi a UHE Jirau, localizada no Rio Madeira, no Estado de Rondônia, escopo deste trabalho e cuja construção será abordada com detalhes no texto desta dissertação. 2.2 – BARRAGENS COM VEDAÇÃO ASFÁLTICA Barragens de núcleo asfáltico exigem um estudo inicial de estabilidade dos traços e dos CAP’s que deverão ser utilizados, pois estes devem atender aos esforços solicitantes da estrutura, além dos efeitos devidos às intempéries e às reações químicas que podem ser induzidas no contato com a água. Após escolhido o traço, são realizados ensaios triaxiais para se avaliar o comportamento tensão-deformação do material. O asfalto consiste em um material viscoelástico-plástico, impermeável e de fácil trabalhabilidade, desde que seja atendida a prescrição relativas às temperaturas mínimas para fluidez do material. Apresenta também capacidade de autocicatrização e aceita melhor a ocorrência de recalques diferenciais, aspecto bastante comum no caso de fundações compressíveis quando em comparação com as barragens de concreto (arco ou gravidade) e as de enrocamento com face de concreto. 6 Estas barragens podem ser basicamente de dois tipos: as que possuem face asfáltica como elemento de vedação no talude de montante da barragem (Figura 2.1) ou aquelas que um núcleo asfáltico, esbelto e praticamente impermeável, inserido na porção central da estrutura. Em ambos os casos, o concreto asfáltico deve atender aos princípios de segurança requeridos, em termos de sua flexibilidade, resistência à erosão e estanqueidade (Höeg, 1993). Figura 2.1 - Barragens com interface asfáltica de vedação na face de montante. Um dos princípios para a execução de uma barragem com face asfáltica é que a mesma deva ser constituída por material francamente permeável (barragens de enrocamento) para que que sejam controlados e minimizados os efeitos das subpressões geradas ao longo do corpo do barramento (Figura 2.2) Figura 2.2 – Face asfáltica como vedação de montante de barragem de enrocamento 7 Nas barragens com núcleos de concreto asfáltico, o núcleo fica posicionado na porção central da barragem (Figura 2.3), como elemento vertical ou inclinado (sendo esta opção menos utilizada pois dificulta os procedimentos construtivos, diminuindo a produtividade). Esta estrutura de vedação caracteriza-se por ser esbelta e flexível permitindo, assim, deformações das fundações, bem como dos espaldares, sem comprometimento da estrutura vedante. Figura 2.3 - Barragem de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (UHE Foz do Chapecó) O barramento mais usual é construído por meio de sequências de materiais com adequadas granulometrias, das bordas para o centro da estrutura. Assim, os espaldares são executados com enrocamento e rip rap, seguidos por transições grossas e finas, ao longo do eixo ou deslocadas para montante/jusante em relação ao núcleo central de vedação asfáltica (Figura 2.4). Este arranjo favorece a diluição das deformações e permite o maciço absorver com maior eficiência as elevadas tensões atuantes. Figura 2.4 – Execução do núcleo asfáltico e das transições (UHE Foz do Chapecó) 8 A espessura do núcleo de concreto asfáltico deve ser tal de forma a manter inalterada a integridade original do mesmo em face às deformações do enrocamento e aos recalques diferenciais induzidos na fundação da barragem. O núcleo deve ser ainda capaz de suportar possíveis erros construtivos do núcleo (por exemplo, desalinhamento vertical),efeitos do enchimento do reservatório e possíveis ações dinâmicas e deslocamentos das fundações (Höeg, 1993). O critério normalmente adotado para o dimensionamento do núcleo é adotar uma espessura função da altura da barragem; um valor de referência é adotar uma espessura do núcleo da ordem de 1% da altura máxima da barragem, mas este valor pode variar em função das especificidades do projeto. O ICOLD (1992) recomenda que, em barragens com mais de 30 m de altura, a espessura do núcleo deve estar entre 0,60m a 1,00m; não recomendando a sua redução gradual, devido aos múltiplos esforços aos quais o elemento impermeabilizante está submetido. Höeg (1993) preconiza que, de acordo com a experiência norueguesa, e levando-se em conta o desenvolvimento de novos processos construtivos e os rigorosos controles de qualidade atualmente disponíveis, pode-se adotar espessuras menores para o núcleo, até cerca de 0,5 m. O núcleo normalmente é projetado para estar inserido na porção central do barramento devido ao melhor comportamento dessa zona em relação às deformações. O núcleo na maioria das barragens é construído segundo um alinhamento vertical e geometricamente regular, pois o custo adicional de construção e de materiais para núcleos inclinados não se mostra vantajoso tanto do ponto de vista econômico, quanto em termos dos procedimentos construtivos. Dentro da barragem, o asfalto se mantém sob condições quase ideais, sob temperaturas constantes e sem interferências solares. O material preserva a característica por ser muito denso dificultando a oxidação ou endurecimento, ao contrário do que ocorre quando exposto em rodovias, de forma que as suas propriedades tecnológicas permanecem inalteradas ao longo da vida útil da barragem. 9 O núcleo fino e flexível tende a se ajustar às deformações e aos recalques que ocorrem durante a construção, devido ao enchimento, recalques diferenciais e à presença de fundações compressíveis. A aplicação do núcleo de asfalto é feita, em geral, independentemente das condições climáticas. Em regiões com chuvas intensas, a construção é simplificada e reduzida no prazo quando comparada com as obras que utilizam núcleos em solo compactado. Embora o trabalho com o asfalto necessite ser interrompido durante as chuvas intensas, ele pode ser retomado assim que a chuva cessa ou passa a ser de leve intensidade. O núcleo e a transição fina são lançados simultaneamente por meio de equipamentos específicos a estas finalidades, embora o lançamento possa ser feito manualmente ou por meio de equipamentos tradicionais como aratacas ou escavadeiras/carregadeiras com a utilização de fôrmas. No chamado ‘método russo’, a metodologia construtiva consiste em arranjos prévios de pedras de mão, formando uma espécie de caixa, na qual é lançado posteriormente o CAP preenchendo todos os vazios. As limitações decorrem da obtenção de núcleos não tão esbeltos como no caso anterior e as elevadas demandas de CAP exigidas no processo. A Tabela 2.1 apresenta uma síntese das principais barragens de núcleo asfáltico construídas no mundo. Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011) Nome do Barramento país altura (m) crista (m) espessura (m) (fundação/corpo) ano da construção Kleine Dhuenn Alemanha 35 265 0,7/0,6/0,5 1962 Eberlaste Áustria 28 475 0,6/0,4 1968 Legadadi Etiópia 26 35 0,6 1969 Wiehl Alemanha 53 360 0,6/0,6/0,4 1971 Jiulikeng China 44 107 0,5/0,3 1977 High Island West Hong Kong 95 720 1,2/0,8 1977 High Island East Hong Kong 105 420 1,2/0,8 1978 Finstertal Austria 100 652 0,7/0,6/0,5 1980 Vestredal Noruega 32 500 0,5 1980 Kleine Kinzig Alemanha 70 345 0,7/0,5 1982 Shichigashuko Japão 37 300 0,5 1985 Storvatn Noruega 100 1472 0,8/0,5 1987 Feistritzbach Austria 88 380 0,7/0,6/0,5 1990 Storglomvatn Noruega 128 830 0,95/0,5 1997 UHE Jirau Brasil 60 1000 1,20/ 0,60 2011 10 2.3 – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Para a execução de um barramento com núcleo asfáltico, tanto pelo método convencional como pelo método russo, o material básico de construção é o cimento asfáltico de petróleo (CAP); entre os métodos, distinguem-se a natureza e dimensões dos agregados e a porcentagem de CAP em relação à mistura. Dois tipos de misturas são usados comumente na composição do concreto asfáltico. O primeiro utiliza concreto ciclópico, no qual agregados de grandes dimensões são imersos em uma mistura rica em CAP (30 a 40% em peso da mistura), no chamado ‘método russo’. Um segundo tipo utiliza concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), composto por CAP (normalmente variando entre 5,0 e 7,0% em peso), fíler (parcela do material onde pelo menos 65% das partículas é passante na peneira 200 e 100% é maior que 0,42 mm, abertura correspondente à peneira 40) e agregado com dimensão máxima da ordem de 16 mm, obedecendo os critérios da chamada ‘curva de Füller’. Os materiais comumente utilizados como fíler são a cal, o cimento Portland, o pó calcário e a dolomita. O método russo (concreto ciclópico) é menos utilizado atualmente em função do alto teor de ligante da mistura CAP (matéria nobre) e é pouco recomendado para barragens de grande altura por apresentar possíveis caminhos preferenciais de percolação (ICOLD, 1992). O CBUQ é o mais utilizado na construção das barragens com núcleo de concreto asfáltico/ face asfáltica e que fazem uso da metodologia DACC por via mecanizada. 2.3.1 – Agregados Os agregados podem ser naturais ou artificiais. Os naturais são os que se encontram de forma particulada na natureza (areia, cascalho ou pedregulho) e os artificiais são aqueles produzidos por algum processo industrial, como as pedras britadas, areias artificiais, escórias de alto-forno e argilas expandidas, entre outros. O desempenho dos agregados utilizados na fabricação de concreto asfáltico depende da sua forma e granulometria e das propriedades geológicas encontradas na rocha matriz, particularmente composição mineralógica, composição química, grau de alteração, tendência à degradação, abrasão e potencial de adesão superficial do ligante asfáltico. 11 O critério de aceitação dos agregados para uso em concretos asfálticos é o mesmo adotado para os agregados para pavimentação, prescritos pelas normas ABNT e DNIT. Höeg (1993) afirma que os critérios da NBR são muito rigorosos no caso do núcleo de concreto asfáltico, pois o mesmo não está sujeito a esforços de abrasão e a variações significativas de temperatura, desgastes por fadiga ou mesmo trincas. Por outro lado, o núcleo de concreto asfáltico, no caso de barragens de grande altura, pode estar sujeito a elevadas tensões estáticas. Os agregados representam cerca de 94% em peso da composição do concreto asfáltico e, sendo assim, suas propriedades têm grande influência no comportamento da mistura para fabricação do CAP. As propriedades mais relevantes dos agregados em concretos asfálticos de núcleos de barragens são: granulometria, forma, resistência, adesividade, abrasão e porosidade. A granulometria dos agregados influencia as características de rigidez, estabilidade, durabilidade, trabalhabilidade e permeabilidade do concreto asfáltico, além de poder induzir efeitos de segregação, no caso de agregados com tamanhos máximos excessivamente elevados para uma dada condição de utilização. A norma NBR 7211 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2009) fixa as características impostas quanto à recepção e produção de agregados, miúdos e graúdos, de origem natural, encontrados fragmentados ou resultantes da britagem de rochas. A norma define areia ou agregado miúdo como areia de origem natural ou resultante da britagem de rochas estáveis, ou a mistura de ambas, cujos grãos passam pela peneira ABNT de 4,8 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 0,075 mm. Define adicionalmente agregado graúdo como pedregulho ou brita provenientede rochas estáveis, ou a mistura de ambos, cujos grãos passam por uma peneira de malha quadrada com abertura nominal de 152 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 4,8 mm. O rachão beneficiado é definido como o material obtido diretamente do britador primário e que é retido na peneira de 76 mm. A areia de brita ou areia artificial, segundo Cuchierato (2000), é o material passível de ser obtido em pedreiras a partir de instalações de beneficiamento a úmido, apresentando uma granulometria entre 4,8 mm e 0,074 mm (DNPM, 2009). 12 Na construção de barragens com núcleo de concreto asfáltico, a composição de agregados deve seguir a chamada curva de graduação de Füller, com diâmetro máximo variando entre 16 e 18 mm, expressa pela seguinte relação: .100 D d P max i i = (2.1) sendo: Pi − porcentagem em peso das partículas menores que o tamanho equivalente dos grãos de dimensão di e Dmax − tamanho nominal máximo dos grãos. Os agregados devem possuir um índice de forma menor que 1,45, tal como aplicado também para o concreto convencional, indicando grãos de agregados com forma menos alongada e mais próxima de um cubo. De acordo com norma específica DNER ME035 (DNIT, 1998), o índice de forma é calculado dividindo o comprimento pela largura, sendo que valores próximos de 1 tornam a mistura mais resistente (formatos mais cúbicos). Rochas básicas tendem a ser melhores que as rochas ácidas em termos de uma melhor adesividade ao ligante; assim, agregados alcalinos como o calcário são geralmente requeridos (Wang e Höeg, 2009). A maioria dos agregados silicosos tende a mobilizar cargas elétricas superficiais negativas em presença de água, enquanto materiais calcários tendem a mobilizar cargas positivas (a dolomita é um exemplo de caso extremo de agregado eletropositivo). De forma geral, agregados carregados com cargas negativas (ácidos) apresentam baixa adesividade e, em muitos casos, requerem o uso de aditivos para serem utilizados em obras de pavimentação rodoviária. 2.3.2 – CAP: Cimento Asfáltico de Petróleo A obtenção de asfalto é realizada por meio da destilação de tipos específicos de petróleo, na qual as frações leves (gasolina, diesel e querosene) são retiradas no refino. O produto resultante deste processo passa a ser chamado de Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), sendo composto por cerca de 90 a 95% de hidrocarbonetos e de 5 a 10% de heteroátomos (oxigênio, enxofre, nitrogênio e os metais vanádio, níquel, ferro, magnésio e cálcio), derivados da destilação do petróleo (Souza Neto, 2013). O CAP é um líquido viscoso, semi-sólido ou sólido à temperatura ambiente, que possui comportamento termoplástico, tornando-se líquido quando aquecido suficientemente. 13 Trata-se de material de largo emprego em trabalhos de pavimentação, pois, além de suas propriedades potencialmente aglutinantes e impermeabilizantes, possui características de flexibilidade e alta resistência à ação da maioria dos ácidos inorgânicos, sais e álcalis. Essas características permitem que esse material seja utilizado também como produto da mistura asfáltica, aplicada ao núcleo de barragens. A natureza e as propriedades físicas do CAP dependem da fonte e dos processos de refino do petróleo de origem. Em geral, não é comum a produção de ligantes a partir de um único tipo de petróleo, e sim, a partir de uma variedade de tipos de óleos crus, resultando em CAP com considerável variabilidade de compostos orgânicos (Guimarães, 2012). Nas aplicações, é de fundamental importância que o CAP seja homogêneo e esteja livre de água. Além do concreto asfáltico, o CAP é aplicado em outras misturas a quente, tais como pré-misturados e areia-asfalto, com teores de asfalto variando de acordo com a aplicação prevista. Os cimentos asfálticos de petróleo são classificados pelo seu ‘grau de dureza’ expresso no chamado ensaio de penetração ou pela sua viscosidade, determinada a partir do ensaio de viscosidade Saybolt-Furol. A propriedade de penetração é definida como a distância, em décimos de milímetros, que uma agulha padronizada penetra verticalmente em uma amostra de cimento asfáltico, sob condições especificadas de carga, tempo e temperatura. Quanto menor a penetração, ‘mais duro’ é o cimento asfáltico. Em função da penetração, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) especifica quatro tipos de CAP: CAP 30 - 45, CAP 50 -70, CAP 85 -100 e CAP 150 - 200, com temperaturas de amolecimento iguais a 52°C, 46°C, 43°C e 37°C, respectivamente. A viscosidade e a penetração do CAP influenciam no comportamento das misturas utilizadas nos núcleos de barragens do tipo DACC. Os CAP’s utilizados no concreto asfáltico para núcleo de barragens são os mesmos utilizados na pavimentação, e geralmente possuem penetração de 80 a 100 décimos de milímetros, sendo que a fluidez é de grande importância para a trabalhabilidade do material. Por outro lado, o uso de CAP menos viscoso aumenta a capacidade de autocicatrização do núcleo e permite uma adoção de menores temperaturas durante a compactação (Höeg, 2009). 14 2.3.3 – Enrocamentos e Transições As zonas de enrocamento de barragens de núcleo asfáltico são constituídas comumente por materiais oriundos das escavações obrigatórias para a implantação do empreendimento ou de pedreiras próximas. Os taludes de enrocamento condicionarão, em larga escala, as deformações e as distorções que serão impostas ao núcleo asfáltico. Em barragens bem compactadas e fundação em rocha de boa capacidade de suporte, os taludes de enrocamento de montante e jusante podem ser relativamente íngremes, com inclinações da ordem de 1,4H:1,0V a 1,5H:1,0V (Cruz et al., 2009) e, ainda assim, as tensões tendem a ser baixas e os recalques pouco expressivos, da ordem de 50 cm (Höeg, 1993). As condições de estabilidade dos espaldares de enrocamento são garantidas pela inserção de zonas de transição a montante e a jusante do núcleo. As zonas de transição permitem melhor distribuição das tensões causadas pelo enrocamento, e com isso as deformações impostas ao núcleo ocorrem de forma mais uniforme, reduzindo o efeito de deformações diferenciais. Neste sentido, impõe-se que as zonas de enrocamento, próximas às zonas de transição, sejam especialmente bem compactadas. As camadas de transição adjacentes ao núcleo devem ser constituídas de rocha britada com tamanho máximo dos grãos de 60 mm e atender ao seguinte critério de granulometria em projeto: d100 (núcleo) > d10 (transição); d100 (transição) > 1/4d100 (maciço) (2.2) Por outro lado, a chamada transição fina, parte da transição imediatamente em contato com o núcleo de concreto asfáltico, deve ser bem graduada e atender ao seguinte critério de granulometria em projeto (Höeg, 1993): d50 (transição) >10 mm ; d15 (transição) < 10 mm (2.3) A transição age não somente como elemento de suporte e uniformização de tensões, mas também como elemento auxiliar no processo de autocicatrização, no caso de abertura de trincas no núcleo asfáltico. 15 2.4 – CONCRETO ASFÁLTICO Conforme exposto previamente, o concreto asfáltico comumente utilizado em barragens de enrocamento com núcleo asfáltico é o concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), composto por CAP (normalmente entre 5,0 e 7,0% em peso na mistura), fíler (parcela do material onde pelo menos 65% das partículas é menor que 0,075 mm correspondente a peneira nº 200 e 100% é maior que 0,42 mm correspondente a peneira nº 40) e agregado obedecendo aos critérios da ‘curva de Füller’. As propriedades do concreto asfáltico variam de acordo com o tipo e teor de CAP, tipo de agregado, temperatura e energia de compactação (Brenth e Arslan 1990; Höeg, 1993; Roberts et al., 2002; Falcão, 2007; Ramos, 2009; Guimarães, 2012). A característicaessencial do núcleo de concreto asfáltico é garantir a estanqueidade da barragem e, portanto, a permeabilidade é a propriedade mais relevante a ser estabelecida para o concreto asfáltico, a qual, por sua vez, é função direta dos parâmetros volumétricos das misturas compactadas. Estes parâmetros podem ser expressos em temos do volume de vazios de ar (Vv), do volume de vazios no agregado mineral (VAM) ou do volume de vazios preenchidos com ligante ou relação betume-vazios (RBV). Em projetos de barragens com núcleos asfálticos, as especificações técnicas têm sido norteadas com base no conceito do volume de vazios de ar (Vv), definido de formas distintas, pela norma americana D2041 (ASTM, 2000a) e pelas normas brasileiras NBR 12891 (ABNT, 1993) e ME 117 (DNER, 1994), respectivamente, com base nas seguintes relações: .100 G GG V mm mbmm v − = (2.4) .100 DMT d- DMT Vv = (2.5) sendo: Gmm − densidade máxima da mistura solta; Gmb − densidade relativa aparente do corpo de prova compactado; DMT − densidade máxima teórica da mistura (ponderação da densidade dos constituintes); d − densidade aparente do corpo de prova compactado. 16 Assim, as normas distinguem-se em relação aos procedimentos para a determinação dos parâmetros de densidades utilizados. O parâmetro Gmm expressa o valor da densidade efetiva da mistura, ou seja, considera a parcela de asfalto que é absorvida efetivamente pelo agregado durante a mistura entre os dois. Neste contexto, Gmm é função da densidade efetiva da mistura (Gse), definida como a relação entre o peso seco da amostra solta e seu volume efetivo constituído pelo volume de agregado sólido e dos poros permeáveis à água que não foram preenchidos com asfalto (Figura 2.5), sendo dado pela seguinte relação: b b se S mm G P G P 100 G + = (2.6) sendo Ps – porcentagem do agregado em relação à massa total da mistura; Gse – densidade efetiva da mistura asfáltica; Pb – porcentagem de asfalto em relação à massa total da mistura; Gb – densidade do asfalto. Figura 2.5 – Grandezas volumétricas de misturas asfálticas (ANTT, 2000) Assim, a densidade efetiva da mistura asfáltica (Gse) depende da medida prévia do volume efetivo, que é determinado pelo chamado ‘método Rice’ (ASTM D 2041). Por outro lado, a densidade máxima teórica (DMT) é numericamente igual à razão entre a massa do agregado mais ligante e a soma dos volumes dos agregados, vazios impermeáveis, vazios permeáveis não preenchidos com asfalto e total de asfalto (Bernucci et al., 2008), sendo expressa em termos da ponderação das densidades reais dos materiais componentes da mistura: 17 n n 2 2 1 1 cap cap 21cap G P ... G P G P G P ...P DMT ++++ ++++ = nPPP (2.7) A sistemática de determinação do parâmetro DMT considera os componentes da mistura asfáltica na proporção que eles ocupam dentro da mistura, sem levar em conta a absorção de parte do ligante pelos agregados. Assim, teoricamente, o ligante apenas envolveria os agregados e não penetraria nos poros dos agregados (Marques, 2004). A distinção fundamental entre as relações 2.6 e 2.7 refere-se à consideração das densidades do agregado. A primeira considera a densidade real dos constituintes e a segunda considera a densidade efetiva e, desse modo, os valores de DMT tendem a ser superiores aos do parâmetro Gmm (Vasconcelos et al., 2005). A determinação distinta das densidades aparentes pelas normas se deve aos procedimentos para a estimativa dos volumes aparentes. Na norma americana D 2726 (ASTM, 2000b), os vazios superficiais são considerados através da utilização do peso úmido após a imersão em água, ao passo que, nas normas brasileiras (mencionadas anteriormente), o volume é obtido sem considerar os vazios superficiais. As relações 2.8 e 2.9 permitem a determinação das densidades aparentes pelas normas americana e brasileiras, respectivamente: subssd d mb WW W G − = (2.8) subd d WW W d − = (2.9) sendo: Wd – peso seco; Wssd – peso saturado em superfície seca; Wsub – peso submerso do material. Em núcleos asfálticos de barragens, comumente as especificações técnicas de projeto estabelecem valores-índices dos volumes de vazios inferiores a 3%. Em função das diferenças de energia aplicada no laboratório e no campo, os volumes de vazios obtidos em ensaios em laboratório para as misturas especificadas para o núcleo devem ser inferiores a 2% (Höeg, 1993). 18 A Figura 2.6 apresenta uma correlação entre permeabilidades e volumes de vazios de concretos asfálticos (Falcão, 2007), com comportamento de variação tipicamente exponencial. Para volumes de vazios de 3%, as permeabilidades do concreto asfáltico tendem a ser essencialmente inferiores a 10-8 cm/s. Figura 2.6 – Permeabilidades x volumes de vazios de concretos asfálticos (Falcão, 2007) Um segundo parâmetro volumétrico utilizado em projetos de misturas asfálticas é o VAM, que expressa, em porcentagem, o volume não ocupado pelos agregados na mistura, ou seja, (vazios de ar + vazios cheios de CAP), e é dado pela seguinte relação: .100 G . DMT d- DMT VCBVVAM b v �� � � �� � � +=+= dPb (2. 10) Este parâmetro é distinto do seu similar VMA (voids in the mineral aggregate) pela norma americana D2041 (ASTM, 2000a), que considera, na mistura compactada, o volume de vazios com ar e o teor de asfalto efetivo. Um terceiro parâmetro volumétrico de misturas asfálticas de referência é a chamada ‘Relação Betume –Vazios’ (RBV), definida como: .100 VAM VVAM RBV v � � � � � � − = (2.11) 19 Nas aplicações em núcleos de barragens, o teor de ligante no concreto asfáltico é utilizado comumente com teor um pouco superior ao necessário para preencher quase totalmente os vazios entre os agregados, tipicamente em torno de 5,5 a 6% em peso, para atender a prescrição de volumes de vazios inferiores a 3%. Nestas condições, a densidade obtida durante a compactação é quase da ordem da densidade máxima da mistura. A Figura 2.7 (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012) apresenta resultados típicos de ensaios triaxiais relativos ao comportamento à ductilidade do concreto asfáltico em função dos teores de CAP presentes (no caso CAP B80), para diferentes tensões confinantes (0,25 e 0,75 MPa). Os resultados indicam incremento das deformações axiais e uma significativa redução das deformações volumétricas com o aumento do teor de ligante da mistura. Figura 2.7 – Variações volumétricas de concretos asfálticos para diferentes teores de CAP (CAP B80) e tensões confinantes (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012) Baixos teores de ligante e finos resultam em misturas com menor trabalhabilidade, compactação mais difícil e permeabilidade mais elevada. Valores elevados de ligante e finos implicam materiais mais viscosos, apresentando também menor rigidez e menor resistência, embora com menor permeabilidade. O teor ótimo do ligante presente em uma dada mistura asfáltica depende essencialmente da técnica de dosagem empregada relativamente à distribuição granulométrica dos agregados presentes. O processo comumente utilizado em aplicações práticas é a chamada Dosagem Marshall, desenvolvida nos Estados Unidos no início da década de 30 do século passado e posteriormente difundida em todo o mundo. 20 O método é caracterizado pela seleção doligante asfáltico e do agregado de modo a atender determinadas especificações de projeto. A compactação é realizada por impacto de um soquete padrão para obtenção de corpos de prova cilíndricos e que devem atender a certos limites quanto aos valores dos parâmetros Va e VMA e, em alguns casos, também aos valores dos volumes de vazios preenchidos com ligante VFA (ALS, 2014). Além disso, algumas agências estabelecem limites também quanto aos valores de estabilidade e de fluência do material (NCHRP, 2011). Os procedimentos de dosagem são feitos com base nas normas ME 43 (DNIT, 1994) e ES- 031 (DNIT, 2006). Com base na definição da faixa granulométrica, são moldados cinco grupos de três corpos de prova com diferentes teores de asfalto mediante aplicação de 75 golpes por face, obtendo-se amostras com 100 mm de diâmetro e 63,5 mm de altura. Após a moldagem, determinam-se os seguintes parâmetros volumétricos: (i) densidade aparente (Gmb); (ii) volume de vazios (Vv); (iii) vazios no agregado mineral (VAM); (iv) vazios preenchidos com ligante (RBV). A partir destas moldagens traçam-se relações dos teores de ligante com volumes de vazios ou relações betume-vazios por exemplo, para se obter os teores de ligante que satisfazem as especificações técnicas de projeto (Bernucci et al., 2008; Souza Neto, 2013; ALS, 2014). As principais limitações desta metodologia referem-se ao fato de que os mecanismos de compactação não simulam efetivamente as condições de campo e que os ensaios para a determinação dos parâmetros não são representativos das solicitações reais. Como técnica alternativa, a chamada metodologia Superpave inclui um novo sistema para seleção de ligantes asfálticos, baseada em condicionantes de desempenho em termos das condições de carregamento, climáticas e de compactação em campo. A maior diferença da dosagem Superpave para a Marshall encontra-se na nova forma de compactação da mistura asfáltica. Enquanto na dosagem Marshall a compactação é feita por impacto (golpes), na dosagem Superpave a compactação é feita através de amassamento (giros) em um compactador giratório especial, produzindo amostras com 150 mm de diâmetro (Asphalt Institute, 2001). Esta tecnologia, porém, ainda não é empregada na prática de projetos de concreto asfáltico para implantação de núcleos de barragens. 21 2.5 – USINAS ASFÁLTICAS Para se estabelecer uma adequada mistura de agregados e CAP, dosagem da massa asfáltica e aquecimento do produto para posterior aplicação, nas grandes demandas exigidas por uma barragem com núcleo asfáltico, são utilizadas as chamadas usinas asfálticas de CBUQ, que podem ser centrais gravimétricas ou centrais volumétricas, dependendo da grandeza de controle adotada para a aferição das respectivas dosagens da mistura, sendo as primeiras de aplicação mais generalizada. As centrais gravimétricas são compostas por silos de alimentação, que armazenam e fazem a dosagem adequada dos agregados, de forma contínua e automática na proporção indicada no sistema de controle. Os agregados são introduzidos em um secador, tipo de cilindro rotativo dotado de um queimador, pela extremidade oposta ao queimador, onde passam por um processo de secagem e aquecimento até ser atingida a temperatura prevista para a mistura. O processo é denominado de contra-fluxo de mistura externa, pois o fluxo de agregados ocorre em sentido contrário ao fluxo de gases quentes oriundos da chama do queimador. Uma vez secos e devidamente aquecidos, os agregados são levados a um misturador externo. Por outro lado, a fração de finos oriundos do processo de secagem é retida inicialmente por um separador estático (que retém os finos de maior granulometria) e depois por um filtro de mangas, que atua como elemento de retenção dos finos de menor granulometria, ambas as parcelas sendo posteriormente encaminhadas ao misturador. Um sistema independente faz a injeção do CAP diretamente no misturador sobre os agregados secos e quentes, sendo a mistura revolvida com grande energia pelos braços do misturador. A mistura asfáltica a quente é então, direcionada por um elevador para um silo de armazenamento, do qual é descarregada em estágios em caminhões de transporte até o local da obra. Cada mistura correspondente a um ciclo completo destas operações é chamada de ‘batelada’, fixada para garantir uma determinada capacidade de estocagem do produto, por exemplo, um volume capaz de atender pelo menos 30 minutos de produção da máquina pavimentadora. Estas centrais garantem a boa qualidade do produto, pois todos os materiais são pesados separadamente garantindo uma melhor precisão da mistura. 22 CAPÍTULO 3 CARACTERISTICAS DO EMPREENDIMENTO 3.1 – INTRODUÇÃO A Usina Hidrelétrica Jirau (UHE Jirau) está localizada no Rio Madeira, afluente da margem direita do rio Amazonas, no Estado de Rondônia, cerca de 120 km da capital Porto Velho e em plena selva amazônica e forma, com a UHE Santo Antônio, localizada mais próxima à capital, um empreendimento hidrelétrico chamado Complexo do Madeira (Figura 3.1). O consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado pelas empresas GDF Suez, Eletrosul, Chesf e Camargo Corrêa, coordenou e viabilizou a implantação do empreendimento. Figura 3.1 – Localização da UHE Jirau O limite a montante da área do empreendimento está situado cerca de 15 km da foz do rio Abunã e da fronteira Brasil-Bolívia, próximo à localidade de Abunã. O limite a jusante localiza-se no conjunto de ilhas formadas pela Ilha do Padre, Ilha da Formiga, Cachoeira do Inferno e a Ilha Pequena, entre as localidades de Jirau e Jaci Paraná, sendo que, neste trecho, o rio foi desviado para a construção da usina, deixando exposto o fundo do leito (Silva et al., 2010). 23 A usina de Jirau é do tipo fio-d’água – sistema em que não há um reservatório propriamente dito e a geração de energia está baseada nos ciclos de cheias do rio, modelo que tem como vantagens a redução das áreas inundadas e um menor impacto ambiental. No caso da UHE Jirau, o projeto tirou partido da existência de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do rio onde a usina seria implantada para atuaram como bases naturais para a locação do eixo geral do empreendimento (Figura 3.2). Figura 3.2 – Arranjo geral das estruturas da UHE Jirau (Braga, 2013) Em função destas ilhas, o projeto contemplou duas casas de força distintas, ambas com unidades geradoras do tipo bulbo, com potência instalada de 3.750 MW. Na margem esquerda, localizam-se as 22 unidades geradoras, tendo como vértice a extremidade sul da Ilha do Padre (Figura 3.3). O vertedouro de superfície, com 18 vãos, está localizado ao lado da casa de força da margem direita, que conta, por sua vez, com 28 unidades geradoras que se encontram acopladas à região da tomada d’água (Figura 3.4). O barramento propriamente dito contempla uma barragem principal – localizada na região do leito do rio, construída com enrocamento com núcleo em concreto asfáltico e disposta segundo um eixo retilíneo ligando a extremidade sul da ilha do Padre à parede direita da Casa de Força da margem esquerda e duas barragens laterais – localizadas nas margens e construídas em enrocamento com núcleos argilosos (Figuras 3.3 e 3.4). 24 Figura 3.3 – Vista da UHE Jirau: Ilha do Padre/barragem principal (Braga, 2013) Figura 3.4 – Vista da UHE Jirau: barragem principal/barragem da MD (Braga, 2013) A área do reservatório é variável, tendo 302,6 km² em seu nível d’água máximo normal, com área inundada variando entre 31 km² e 108 km². Para a implantação do barramento, foram construídas duas ensecadeiras, primeiro na margem direita da barragem, permitindo a operação do vertedouro inicial, e depois na margem esquerda. Estas ensecadeiras foram posteriormente incorporadas à barragem principal. 25 3.2 – GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL Geologicamente, a bacia do rio Madeira possui diversasunidades litológicas, sendo que seis foram mapeadas na área da UHE Jirau e entorno (Silva et al., 2010): Formação Jaci-Paraná, Formação Palmeiral, Formação Rio Madeira, cobertura detrito-laterítica, granitoides anorogênicos e sedimentos aluvionares (Figura 3.5). Figura 3.5 – Mapa geológico da área do empreendimento A Formação Jaci-Paraná é a de ocorrência mais expressiva na área, sendo caracterizada pela presença de depósitos pouco espessos de sedimentos síltico-argilosos a argilosos, de coloração acinzentada a amarelada, com lentes de areias ferruginosas e friáveis e conglomerados com rara estratificação plano-paralela. A Formação Palmeiral foi caracterizada também como uma unidade sedimentar indicadora de depósitos fluviais, com estratificação cruzada, sendo constituída por ortoconglomerados, com clastos (seixos) arredondados de quartzo e de quartzo- arenito, além de arenitos maciços. Os seixos, de tamanhos variados, de origem fluvial, encontram-se dispersos em uma matriz arenosa fina, com cimento ferruginoso e sem frações de areia média e grossa (Figura 3.6). 26 (a) (b) Figura 3.6 – Feições típicas da Formação Palmeiral: (a) cascalho em conglomerados cimentados; (b) cascalho com matriz argilosa superficial A Formação Rio Madeira, ocupando uma área menor no entorno da UHE Jirau, é composta por argilas maciças de coloração acinzentada na camada inferior; cascalhos angulosos de quartzo-arenito, quartzito e quartzo disseminados em matriz arenosa na camada interna e areias grossas inconsolidadas com estratificação cruzada na camada superior. Os granitóides anorogênicos, pertencentes à Suíte Intrusiva São Lourenço-Caripunas, são constituídos basicamente por granitos equigranulares a porfiríticos, representados na área por matacões rochosos situados principalmente em trechos encachoeirados do Rio Madeira, marcados com petrogravuras (Figura 3.7). As coberturas detrito-lateríticas caracterizam-se por depósitos argilo-arenosos ou síltico-arenosos, ricos em concreções ferruginosas, com idade estimada entre o Terciário e o Quaternário, enquanto os sedimentos aluvionares constituem depósitos de areias inconsolidadas, de idade holocênica. Figura 3.7 – Afloramentos graníticos com petrogravuras (Silva et al., 2010) 27 3.3 – OUTROS ASPECTOS DO MEIO FÍSICO LOCAL A bacia hidrográfica contribuinte ao Rio Madeira no trecho da UHE Jirau é relativamente pouco extensa quando comparada aos outros trechos do mesmo rio ou de outros rios da Bacia do Amazonas. Em termos geomorfológicos, o vale local do rio Madeira possui características de uma superfície de aplainamento bem desenvolvida, produto de uma longa atividade tectônica de baixa magnitude e progressiva fase erosiva ao longo do Terciário e do Quaternário. Predominam as extensas superfícies planas a levemente onduladas, de baixa a média dissecação e com espesso manto de intemperismo, com ocorrências localizadas de superfícies tabulares e morrotes sustentados por arenitos ou coberturas lateríticas. A vegetação nativa presente na região consiste em uma densa floresta de clima tropical, com características moderadamente sazonais e ao longo de elevações que variam entre 100 a 600 m. O clima da região é considerado como tropical úmido (Ferraz et al., 2005). As precipitações anuais na bacia do rio Madeira, a montante de Porto Velho, mostram uma grande variabilidade espacial, variando desde 500 a 5.000 mm, com o período chuvoso (novembro- abril) apresentando totais mensais acima de 200 mm/mês. A Figura 3.8 apresenta a distribuição anual média das precipitações na região entre os municípios de Abunã e Porto Velho, evidenciando um grande padrão de similaridade regional. ��� ��� ��� ��� ��� ��� ��� �� � �� �� �� ��� �� �� ��� ��� ��� ��� �� ��� ���� a ������������� ����������������������������������� �� �� ������������������������������������ � �� �� � �� !" # $% & & ' Figura 3.8 – Distribuição regional das precipitações (PCE, 2006) 28 A estação menos chuvosa estende-se de maio a agosto, com um pequeno período de chuvas entre junho-julho. A temperatura do ar, para o mesmo período, mostra também uma variação similar de sazonalidade, sendo outubro o mês mais quente, com temperatura média de 25,6 °C, e julho, o mês mais frio, com temperatura média próxima a 22,7°C (Culf et al., 1996). A UHE Jirau foi implantada em uma região com boa cobertura de dados fluviométricos e hidrológicos, permitindo, assim, a obtenção de uma longa série histórica de dados e registros. O regime fluvial do rio Madeira caracteriza-se por apresentar períodos de cheia e de recessão muito bem definidos. De maneira geral, o início da subida do hidrograma ocorre durante os meses de outubro e novembro, atingindo seu pico durante os meses de março e abril, quando tem início a fase de recessão, que se estende até setembro e outubro (PCE, 2006). O período de menores vazões ocorre nos meses de agosto a outubro, com as mínimas vazões ocorrendo predominantemente no mês de setembro. A vazão média no período histórico (1967 a 2001) foi cerca de 19.000 m³/s, enquanto que a vazão máxima diária registrada atingiu 48.570 m³/s em 14 de abril de 1984. A vazão mínima registrada ocorreu em setembro de 1995, atingindo cerca de 3.145m³/s. A Figura 3.9 apresenta o cotagrama de vazões do Rio Madeira, no período de 2008 a 2013, medidas durante a execução da obra da UHE Jirau, por meio de registros diários efetuados em vários postos instalados ao longo do rio. Figura 3.9 – Cotagrama das vazões do Rio Madeira, entre 2008 a 2013 (LEME, 2013) 29 3.4 – BARRAGEM PRINCIPAL COM NÚCLEO DE CONCRETO ASFÁLTICO 3.4.1 – Natureza do Barramento A obra foi planejada para ser executada, em um período de 5 anos (contrato de concessão junto a ANEEL), como uma barragem de solo compactado. Com as demandas crescentes por energia, o cronograma de sua implantação foi reduzido para apenas 3 anos, o que implicou movimentações e trabalhos de compactação de solos mesmo durante os períodos chuvosos, o que foi determinante para inviabilizar o empreendimento na sua concepção original. As alternativas estudadas foram três: barragem de CCR (Concreto Compactado a Rolo), barragem de enrocamento com face de concreto e barragem de enrocamento com núcleo asfáltico (BENA). Estas diferentes concepções foram consideradas e correlacionadas em termos de vantagens e desvantagens. Foram várias as razões que levaram a escolha desta última alternativa como projeto definitivo. Em primeiro lugar, a barragem de enrocamento com núcleo asfáltico possibilitava a sua construção mesmo durante o período chuvoso, além de garantir o aproveitamento das ensecadeiras, fato que reduzia significativamente o volume de enrocamento compactado do corpo da barragem. Outro fator fundamental para esta opção foi de ordem econômica: a execução de uma barragem de núcleo asfáltico, comparada a de uma barragem de terra compactada, onerava a empresa proprietária em 30%, valor este bem inferior ao custo de uma barragem equivalente de Concreto Compactado a Rolo(CCR). Por outro lado, a velocidade de execução também foi primordial para a escolha deste tipo de barramento, uma vez que sua velocidade de alteamento era expressiva em comparação aos prazos de lançamento e compactação de uma barragem de terra. Outro fator comparativo que deve ser observado é a agilidade da limpeza de fundação quando se trata da fundação para aterro em enrocamento, comparada à limpeza desta para aterro em solo. Enquanto que para uma barragem em solo compactado, os procedimentos de tratamento da fundação são muito mais elaborados e específicos, no caso de barragens de enrocamento, o tratamento da fundação tende a ser mais simplificado. 30 Em relação a núcleos de argila compactada, os núcleos asfálticos oferecem ainda asseguintes vantagens: os sistemas de filtro e de transição a jusante são simplificados, o que significa uma redução na quantidade dos materiais utilizados; núcleos de concreto asfáltico são muito mais resistentes à erosão e, sendo mais dúctil, reduz-se o risco de fissuração. Como desvantagens potenciais, barragens de enrocamento com núcleos asfálticos exigem a implantação na obra de uma usina própria de CBUQ e a adoção de equipamentos especializados e específicos no lançamento da mistura que não são usuais nem têm outra finalidade após esta utilização, o que pode impactar os custos do empreendimento. 3.4.2 – Arranjo Geral e Geometria do Barramento A barragem principal da UHE Jirau está localizada na zona do leito do Rio Madeira (Figura 3.10) e é constituída por um maciço de enrocamento compactado com núcleo de concreto asfáltico, possuindo um comprimento de crista de 1.050 m e altura máxima de 60,0 m. A implantação do barramento foi viabilizado mediante a execução prévia de ensecadeiras laterais, posteriormente incorporadas à barragem principal. Figura 3.10 – Vista da Barragem de Enrocamento com nucleo argiloso Observa-se que a barragem apresenta uma seção bastante esbelta com taludes íngremes, com inclinação 1,4H:1V, tanto a montante como a jusante, que são proporcionados pelo fato do núcleo asfáltico possuir uma espessura de apenas 0,60 cm. A planta baixa e a seção transversal típica da barragem com núcleo em concreto asfáltico da UHE Jirau, incluindo as ensecadeiras laterais, estão apresentadas na Figura 3.11. 31 F ig ur a 3. 11 – P la nt a e se çã o tr an sv er sa l t íp ic a da B ar ra ge m P ri nc ip al d a U H E J ir au ( T he m ag , 2 01 2) 32 A base do núcleo de concreto asfáltico é alargada, apresentando uma largura igual a duas vezes a largura adotada para o corpo da barragem, de forma a restringir severamente os elevados gradientes hidráulicos atuantes nessa região. O núcleo está apoiado sobre uma laje de concreto (plinto), com uma camada superior de mastique asfáltico e outra camada, inferior, de concreto de regularização, que atua como uma base nivelada de apoio (Figura 3.12). Chumbadores promovem a ancoragem do plinto com a fundação rochosa, que foi tratada por meio de injeções de calda de cimento sobre pressão (o tratamento das fundações da barragem é mais detalhado no Capítulo 5 desta dissertação). Figura 3.12 – Detalhe da base de fundação do núcleo asfáltico (Themag, 2012) O núcleo asfáltico é confinado por transições finas a montante e a jusante. A faixa de transição fina, com largura de 1,45m, possui diâmetro máximo de 75mm. Além da transição fina, foi executada também uma faixa de transição grossa, com 3,0 m de largura e diâmetro máximo de 200 mm, compactada em camadas com o dobro da espessura da transição fina. O enrocamento utilizado foi subdividido em duas zonas: uma zona de enrocamento fino, com diâmetro máximo de 0,40m, compactada em camadas de 0,40 m em torno das faixas de transição e outra zona, mais externa, de enrocamento convencional, com diâmetro máximo de 0,8 m, compactado em camadas de 0,80 m de espessura, e ainda em blocos de maiores dimensões para proteção (rip-rap) das zonas do maciço afetas às flutuações do NA (Figura 3.13). 33 Figura 3.13 – Materiais de construção utilizados na barragem (Themag, 2012) O material utilizado no corpo da barragem foi oriundo das escavações obrigatórias para a implantação das estruturas do barramento. O material foi compactado utilizando-se rolos compactadores de grande impacto. Os volumes dos materiais empregados na construção da barragem foram os seguintes (Souza Neto, 2013): • enrocamento compactado= 2.013.006 m³; transições processadas = 335.994m³; concreto asfáltico do núcleo = 22.815m³. 3.4.3 – Instrumentação da Barragem Principal Para se proceder a um adequado controle e monitoramento da barragem com núcleo em concreto asfáltico da UHE Jirau, vários instrumentos foram instalados no maciço da barragem, incluindo piezômetros elétricos, piezômetros abertos (tipo Casagrande modificado), medidores magnéticos de recalques, células de tensões totais, marcos superficiais, medidores de vazões. Dispositivos similares, tais como piezômetros, extensômetros de hastes e medidores triortogonais de junta foram também instalados nas estruturas de concreto do barramento. A Figura 3.14 apresenta a seção instrumentada da barragem principal com 9 medidores magnéticos de recalques, instalados ao longo do maciço da barragem, nas cotas 45,0m, 53,0m, 61,0m, 69,0m, 77,0m e 85,00m. As leituras destes instrumentos são feitas por meio de procedimentos similares aos utilizados nos registros piezométricos. 34 Figura 3.13 – Medidores de recalques instalados na BENA (Themag, 2012) Outra instrumentação geotécnica profusamente utilizada no maciço da barragem foram os marcos superficiais (Figura 3.14). Foram instalados um total de 55 marcos nos espaldares de enrocamento e outros três especificamente na região do núcleo asfáltico, cujas leituras são feitas periodicamente por meio de levantamentos topográficos por estação total, a partir de marcos referenciais georeferenciados. Figura 3.14 – Marcos superficiais instalados na BENA (Themag, 2012) 35 CAPÍTULO 4 CCOONNTTRROOLLEE TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCOO DDOOSS MMAATTEERRIIAAIISS EEMM LLAABBOORRAATTÓÓRRIIOO EE DDAASS MMIISSTTUURRAASS EEMM CCAAMMPPOO 4.1 – INTRODUÇÃO O controle tecnológico rigoroso dos materiais utilizados e das metodologias construtivas constitui premissa básica de projeto de grandes estruturas geotécnicas, particularmente no caso de barragens de grande porte, pelos gravíssimos impactos decorrentes de uma eventual ruptura destas obras. Estes procedimentos implicam basicamente avaliações criteriosas das propriedades geotécnicas dos materiais de construção utilizados no maciço da barragem e a aferição de suas condições tecnológicas in situ, de forma a atender, de forma criteriosa e sistemática, todos os esforços e deformações atuantes para as diversas condições de carregamento impostas à estrutura e ao longo de toda a vida útil do empreendimento. Estas avaliações então, correlacionadas com os chamados valores de controle dos parâmetros analisados e constantes das especificações técnicas pré-estabelecidas em projeto e explicitados levando-se em consideração a obtenção e um padrão construtivo homogêneo e uniforme, em condições de produção em escala industrial e atendendo os grandes volumes e taxas de produção. Em relação às barragens de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (BENA), este controle de qualidade deve merecer especial consideração em relação à construção e ao comportamento geotécnico do núcleo asfáltico, pois o mesmo constitui essencialmente o elemento de estanqueidade da barragem. Neste contexto, os estudos concentram-se na avaliação das propriedades tecnológicas do CAP (cimento asfáltico de petróleo), dos agregados presentes na mistura asfáltica, da transição fina e dos enrocamentos e de suas correspondentes misturas. No caso da UHE Jirau, estes estudos incluíram procedimentos experimentais de laboratório e de campo que serão descrito a seguir. 36 4.2 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO 4.2.1 – Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) As propriedades físicas e reológicas e a composição química do CAP dependem da fonte e dos processos de refino do petróleo de sua origem. No Brasil e em diversos outros países, não é comum a produção de ligantes a partir de um único tipo de petróleo, e sim, a partir de uma variedade de óleos crus, resultando em CAP’s contendo uma considerável variedade de compostos orgânicos e elevada complexidade química (Guimarães, 2012). Os CAP’s utilizados no concreto asfáltico para núcleos de barragens são os mesmos utilizados em vias de pavimentação, e geralmente possuem valores de penetração de 80 a
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