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Material elaborado por Priscila Cysneiros DIREITO CIVIL Aula 6 Professora Roberta Queiroz AULA 6 Parte 1/3 - Momento extintivo dos direitos da personalidade Embora os direitos da personalidade sejam extintos com o advento da morte de seu titular, é possível que haja reflexos posteriores a esse momento, que podem ocorrer sob três aspectos: 1- Sucessão processual Também chamada de substituição de parte. Vale lembrar que substituição processual é diferente de sucessão processual. A primeira tem a ver com legitimidade extraordinária. É alguém poder postular em nome próprio direito alheio. Exemplo: MP, em uma ação civil pública, postulando a proteção do meio ambiente. O MP atua, nesse caso, na qualidade de substituto processual. Já quando a gente fala em substituição processual, é o mesmo que falar em substituição de parte. Imagine que eu tenho uma ação proposta por A em desfavor de B. Se A morrer, C o substituirá. Art. 110, CPC: Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º. @profrobertaqueiroz Material elaborado por Priscila Cysneiros Sendo assim, ocorrendo a morte de uma das partes, não necessariamente a demanda será extinta. A parte poderá ser substituída por um dos legitimados. Quem são eles? Depende! Via de regra, são os herdeiros. Se a ação discutir direito patrimonial, entra, no lugar do morto, a herança (que será denominada “espólio”, que é uma adjetivação da herança em juízo). 2- Transmissibilidade do direito à reparação Art. 943, CC: O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. No caso que citei, da questão cobrada pelo CESPE, em que há uma colisão de veículos e o motorista de um deles vem a falecer, seus herdeiros podem pleitear a reparação dos danos em seu lugar. 3- Lesados indiretos Sofrem dano por ricochete, dano moral indireto. Eu te perguntei se o morto sofre dano moral. Na verdade, sofre dano moral quem fica! Lembra do caso da Daniella Perez, que eu contei na última aula? Ela fazia par romântico com o Guilherme de Pádua, em uma novela, e ele a matou, em conjunto com a esposa, Paula Thomaz. Naquela época, o caso ganhou grande repercussão, a nível nacional, e um jornal publicou a foto da atriz, alegando que ela teria sido morta em virtude de um relacionamento extraconjugal com seu algoz. Daniella (morta) teve sua honra maculada com a reportagem, mas é possível dizer que ela sofreu dano moral? E o Cristiano Araújo, que teve o seu corpo morto veiculado pelas redes sociais, sofreu dano moral? A resposta é NÃO, porque o morto não sofre dano moral. Quando ocorre a violação de um direito da personalidade de alguém que já morreu, sofre quem fica. Esses são os denominados “lesados indiretos”. Quem são eles? Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 12, CC. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Aplica-se, o art. 12, a qualquer direito de personalidade do morto. Incluem-se, portanto, o cônjuge/companheiro, os ascendentes, os descendentes e os colaterais até o quarto grau. Em relação ao companheiro, estamos fazendo uma interpretação extensiva. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. O art. 20 se aplica para o direito de imagem do morto. Nesse caso, os direitos reservados ao cônjuge também se estendem ao companheiro, assim como no artigo anterior. Perceba que os colaterais foram excluídos dessa lista, não podendo ser considerados lesados indiretos para pleitear danos morais pelo uso da imagem do morto. Nesses casos, observamos que essas pessoas estão postulando em nome próprio direito próprio, e não o morto. Sofre quem fica! O direito de imagem se divide em: Material elaborado por Priscila Cysneiros Observem o julgado abaixo: PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. HERDEIROS. LEGITIMIDADE. 1. Os pais estão legitimados, por terem interesse jurídico, para acionarem o Estado na busca de indenização por danos morais, sofridos por seu filho, em razão de atos administrativos praticados por agentes públicos que deram publicidade ao fato de a vítima ser portadora do vírus HIV. 2. Os autores, no caso, são herdeiros da vítima, pelo que exigem indenização pela dor (dano moral) sofrida, em vida, pelo filho já falecido, em virtude de publicação de edital, pelos agentes do Estado réu, referente à sua condição de portador do vírus HIV. 3. O direito que, na situação analisada, poderia ser reconhecido ao falecido, transmite-se, induvidosamente, aos seus pais. 4. A regra, em nossa ordem jurídica, impõe a transmissibilidade dos direitos não personalíssimos, salvo expressão legal. 5. O direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima (RSTJ, vol. 71/183). 6. A perda de pessoa querida pode provocar duas espécies de dano: o material e o moral. 7."O herdeiro não sucede no sofrimento da vítima, Não seria razoável admitir-se que o sofrimento do ofendido se prolongasse ou se entendesse (deve ser estendesse) ao herdeiro e este, fazendo sua a dor do morto, demandasse o responsável, a fim de ser indenizado da dor alheia. Mas é irrecusável que o herdeiro sucede no direito de ação que o morto, quando ainda vivo, tinha contra o autor do dano. Se o sofrimento é algo entranhadamente pessoal, o direito de ação de indenização do dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores" (Leon Mazeaud, DIREITO DE IMAGEM Voz Atributo Retrato Material elaborado por Priscila Cysneiros em magistério publicado no Recueil Critique Dalloz, 1943, pg. 46, citado por Mário Moacyr Porto, conforme referido no acórdão recorrido). 8 .Recurso improvido. RECURSO ESPECIAL N° 324.886 - PR DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DANOS MORAIS POR MORTE. NOIVO. ILEGITIMIDADE ATIVA. NECESSÁRIA LIMITAÇÃO SUBJETIVA DOS AUTORIZADOS A RECLAMAR COMPENSAÇÃO. ... 5. Nessa linha de raciocínio, conceder legitimidade ampla e irrestrita a todos aqueles que, de alguma forma, suportaram a dor da perda de alguém – como um sem-número de pessoas que se encontram fora do núcleo familiar da vítima – significa impor ao obrigado um dever também ilimitado de reparar um dano cuja extensão será sempre desproporcional ao ato causador. Assim, o dano por ricochete a pessoas não pertencentes ao núcleo familiar da vítima direta da morte, de regra, deve ser considerado como não inserido nos desdobramentos lógicos e causais do ato, seja na responsabilidade por culpa, seja na objetiva, porque extrapolam os efeitos razoavelmente imputáveis à conduta do agente. 6. Por outro lado, conferir a via da ação indenizatória a sujeitos não inseridos no núcleo familiar da vítima acarretaria também uma diluição de valores, em evidente prejuízo daqueles que efetivamentefazem jus a uma compensação dos danos morais, como cônjuge/companheiro, descendentes e ascendentes. 7. Por essas razões, o noivo não possui legitimidade ativa para pleitear indenização por dano moral pela morte da noiva, sobretudo quando os pais da vítima já intentaram ação reparatória na qual lograram êxito, como no caso. 8. Recurso especial conhecido e provido. RECURSO ESPECIAL Nº 1.076.160 - AM Os arts. 12 e 20 devem ser interpretados de maneira restritiva, salvo em relação ao cônjuge e companheiro. Noivo(a) e namorado(a) NÃO integram esse rol! Material elaborado por Priscila Cysneiros "RESPONSABILIDADE CIVIL. USO INDEVIDO DA IMAGEM. DIVULGAÇÃO, EM REVISTA DE EXPRESSIVA CIRCULAÇÃO, DE PROPAGANDA COMERCIAL CONTENDO AS FOTOS DO CONHECIDO CASAL 'LAMPIÃO' E 'MARIA BONITA'. FALTA DE AUTORIZAÇÃO FINALIDADE COMERCIAL. REPARAÇÃO DEVIDA. A utilização da imagem da pessoa, com fins econômicos, sem a sua autorização ou do sucessor, constitui locupletamento indevido, a ensejar a devida reparação. - Não demonstração pelo recorrente de que a foto caiu no domínio público, de acordo com as regras insertas no art. 42 e seus parágrafos da Lei nº 5.988, de 14.12.73. - Improcedência da denunciação da lide à falta do direito de regresso contra a litisdenunciada. Recurso especial não conhecido." RECURSO ESPECIAL Nº 86.109 CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM E À HONRA DE PAI FALECIDO. Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula. Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além de sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, legitimidade para postularem indenização em juízo, seja por dano moral, seja por dano material. Primeiro recurso especial das autoras parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido. Segundo recurso especial das autoras não conhecido. Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas improvido. RECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ Material elaborado por Priscila Cysneiros - Direitos de Personalidade x Liberdade de Imprensa e Liberdade de Expressão Não podemos dizer que sempre prevalecerá um ou outro. Deve ser utilizada a técnica da ponderação. Imagine que, em uma notícia, é divulgada uma informação que extrapole os limites da verossimilhança e culmine na distorção dos fatos perante a opinião pública. Isso é uma violação dos direitos da personalidade, que pode atingir a honra, a respeitabilidade, a boa-fama, a imagem... inúmeras vertentes! Constituição Federal Art. 5º, IX: É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; Art. 5º, IV: É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. Havendo colisão entre direitos estampados na CF, devemos utilizar a técnica da ponderação, na qual analisaremos, caso a caso, qual o princípio que deve prevalecer. Ora, se houvesse uma regra geral, estabelecendo uma hierarquia entre as normas constitucionais, correríamos o risco de que, no caso concreto, prevalecesse a injustiça. O objetivo será, sempre, alcançar um julgamento justo, razoável, adequado... ou seja: o julgador lançará mão da equidade, que nós já estudamos. No caso de uma reportagem que explore uma característica depreciativa de alguém, é claro que o direito à informação não deve prevalecer em detrimento do direito de personalidade. Veja o julgado abaixo: Material elaborado por Priscila Cysneiros O Tribunal de origem, amparado nas provas dos autos, entendeu pela prática de ilícito consubstanciado no abuso de direito de informar, ao se veicular notícia em programa de rádio que desvirtuou a realidade dos fatos, induzindo a opinião pública a uma visão distorcida deles, causando danos à parte envolvida, violando o direito à integridade moral. A revisão desse entendimento e do dever de indenizar encontra óbice na Súmula 7/STJ. AGRG NO AG 1.335.108/PR Em alguns editais, poderemos encontrar, expressamente, o termo “hate speech”. Trata-se de manifestações de ódio e intolerância, geralmente praticados no campo da internet, onde as pessoas acham que estão escondidas atrás de uma tela e que, por isso, são inatingíveis. Corriqueiramente, o “hate speech” está ligado a questões raciais, religiosas ou políticas. Porém, vale lembrar que, embora a regra seja que as pessoas possuam liberdade de expressão, esta jamais resguardará manifestações de ódio e intolerância. Súmula 221 do STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. Portanto, se alguém posta em um blog manifestação que exceda o limite do razoável, transcendendo a sua liberdade de expressão, tanto o dono do veículo quanto o autor da manifestação poderão ser condenados civilmente a ressarcir os danos causados pela publicação. ATENÇÃO! CLÁUSULA DE MODICIDADE (recorrente objeto de cobrança em provas!): O desembargador XXXX ajuizou contra a EDITORA ABRIL S/A ação indenizatória, em decorrência de publicação de matéria na Revista Veja, na edição de 8 de dezembro de 1999, sob o título "O Doutor Milhão", na qual se fez incursão nas conclusões do relatório final da Material elaborado por Priscila Cysneiros Comissão Parlamentar de Inquérito denominada "CPI do Judiciário", na qual foi investigado, em sua atuação no âmbito do Poder Judiciário do Distrito Federal. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA OFENSIVA. LEI DE IMPRENSA (LEI 5.250/67). ADPF N. 130/DF. EFEITO VINCULANTE. OBSERVÂNCIA. LIBERDADE DE IMPRENSA E DE INFORMAÇÃO (CF, ARTS. 5º, IV, IX E XIV, E 220, CAPUT, §§ 1º E 2º). CRÍTICA JORNALÍSTICA. OFENSAS À IMAGEM E À HONRA DE MAGISTRADO (CF, ART. 5º, V E X). ABUSO DO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE IMPRENSA NÃOCONFIGURADO. RECURSO PROVIDO. ... 6. Tratando-se de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, deve ser ponderado se, dadas as circunstâncias, a exposição da imagem é ofensiva à privacidade ou à intimidade do retratado, o que poderia ensejar algum dano patrimonial ou extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção de consentimento do uso da imagem, desde que preservada a vida privada ... 7. Em se tratando de pessoa ocupante de cargo público, de notória importância social, como o é o de magistrado, fica Tais restrito o âmbito de reconhecimento do dano à imagem e sua extensão, mormente quando utilizada a fotografia para ilustrar matéria jornalística pertinente, sem invasão da vida privada do retratado. ... 10. Assim, em princípio, não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística que narre fatos verídicos ou verossímeis, embora eivados de opiniões severas,irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada. Nessas hipóteses, principalmente, a liberdade de expressão é prevalente, atraindo verdadeira excludente anímica, a afastar o intuito doloso de ofender a honra da pessoa a que se refere a reportagem. Nesse sentido, precedentes do egrégio Supremo Tribunal Federal: ADPF 130/DF, de relatoria do Ministro CARLOS BRITTO; AgRg no AI 690.841/SP, de relatoria do Ministro CELSO DE MELLO. Material elaborado por Priscila Cysneiros 11. A análise relativa à ocorrência de abuso no exercício da liberdade de expressão jornalística a ensejar reparação civil por dano moral a direitos da personalidade depende do exame de cada caso concreto, máxime quando atingida pessoa investida de autoridade pública, pois, em tese, sopesados os valores em conflito, mostra-se recomendável que se dê prevalência à liberdade de informação e de crítica, como preço que se paga por viver num Estado Democrático. 12. Na espécie, embora não se possa duvidar do sofrimento experimentado pelo recorrido, a revelar a presença de dano moral, este não se mostra indenizável, por não estar caracterizado o abuso ofensivo na crítica exercida pela recorrente no exercício da liberdade de expressão jornalística, o que afasta o dever de indenização. Trata-se de dano moral não indenizável, dadas as circunstâncias do caso, por força daquela "imperiosa cláusula de modicidade“ subjacente a que alude a eg. Suprema Corte no julgamento da ADPF 130/DF. RECURSO ESPECIAL Nº 801.109 - DF Há um caso famoso, de um rapaz que, apoiado em um amigo, teve acesso a um camarote do carnaval de Salvador, e beijou uma moça que lá estava. O fato teve grande repercussão, em virtude de ele ser casado. Nesse contexto, entendeu-se que ele cedeu seus direitos de imagem ao comprar os ingressos para a folia. Sendo assim, nada poderia exigir em relação a danos morais eventualmente sofridos. BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS Por unanimidade, o STF julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou inexigível a autorização prévia para a publicação de biografias. Seguindo o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia, a decisão dá interpretação conforme a Constituição da República aos artigos 20 e 21 do Código Civil, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença de pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas). Material elaborado por Priscila Cysneiros Na ADI 4815, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) sustentava que os artigos 20 e 21 do Código Civil conteriam regras incompatíveis com a liberdade de expressão e de informação. O tema foi objeto de audiência pública convocada pela relatora em novembro de 2013, com a participação de 17 expositores. Art. 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Art. 21, CC. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. Min. Barroso: O caso envolve uma tensão entre a liberdade de expressão e o direito à informação, de um lado, e os direitos da personalidade (privacidade, imagem e honra), do outro – e, no caso, o Código Civil ponderou essa tensão em desfavor da liberdade de expressão, que tem posição preferencial dentro do sistema constitucional. Nesse caso das biografias, houve uma interpretação conforme a Constituição Federal. A conclusão é que não há necessidade, para a elaboração de biografias, de autorização do biografado ou, caso já tenha falecido, de seus familiares. - Direito ao esquecimento “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos” (Eduardo Galeano) Material elaborado por Priscila Cysneiros O direito ao esquecimento não é o direito de apagar o passado ou de reescrever a sua história. Na verdade, é o direito de não conviver com fatos pretéritos que digam respeito exclusivamente à pessoa, não havendo necessidade de divulgação para o público. Trata-se, portanto, de uma garantia contra o superinformacionismo midiático. O direito ao esquecimento foi muito discutido jurisprudencialmente em relação à informação sensacionalista. Nesses casos, deve ser aplicada a técnica de ponderação de interesses. CESPE: A exagerada e indefinida exploração midiática de crimes e tragédias privadas deve ser impedida, a fim de se respeitar o direito ao esquecimento das vítimas de crimes e, assim, preservar a dignidade da pessoa humana. (item CORRETO) Enunciado 531, Jornada de Direito Civil – A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. CASO XUXA “Após o lançamento da fita [no cinema], ocorrido em 1982, a 2ª Autora [Xuxa] se projetou, nacional e internacionalmente, com programas infantis na televisão, criando uma imagem que muito justamente não quer ver atingida, cuja vulgarização atingiria não só ela própria como a das crianças que são o seu público, ao qual se apresenta como símbolo da liberdade infantil, de bons hábitos e costumes, e da responsabilidade das pessoas.” (TJRJ, Apelação Cível nº 3819/91, rel. Des. Thiago Ribas Filho, julgada em 27.02.92; fls. 802). CASO AIDA CURI RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDADE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DOCUMENTÁRIO EXIBIDO EM REDE NACIONAL. LINHA DIRETA-JUSTIÇA. HOMICÍDIO DE REPERCUSSÃO NACIONAL OCORRIDO NO ANO DE 1958. Material elaborado por Priscila Cysneiros CASO "AIDA CURI". VEICULAÇÃO, MEIO SÉCULO DEPOIS DO FATO, DO NOME E IMAGEM DA VÍTIMA. NÃO CONSENTIMENTO DOS FAMILIARES. DIREITO AO ESQUECIMENTO. ACOLHIMENTO. NÃO APLICAÇÃO NO CASO CONCRETO. RECONHECIMENTO DA HISTORICIDADE DO FATO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE DE DESVINCULAÇÃO DO NOME DA VÍTIMA. ADEMAIS, INEXISTÊNCIA, NO CASO CONCRETO, DE DANO MORAL INDENIZÁVEL. VIOLAÇÃO AO DIREITO DE IMAGEM. SÚMULA N. 403/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. (RESP 1.335.153/RJ) Assim como os condenados que cumpriram pena e os absolvidos que se envolveram em processo-crime (REsp. n. 1.334/097/RJ), as vítimas de crimes e seus familiares têm direito ao esquecimento - se assim desejarem -, direito esse consistente em não se submeterem a desnecessárias lembranças de fatos passados que lhes causaram, por si, inesquecíveis feridas. Caso contrário, chegar-se-ia à antipática e desumana solução de reconhecer esse direito ao ofensor (que está relacionado com sua ressocialização) e retirá-lo dos ofendidos, permitindo que os canais de informação se enriqueçam mediante a indefinida exploração das desgraças privadas pelas quais passaram. A reportagem contra a qual se insurgiram os autores foi ao ar 50 (cinquenta) anos depois da morte de Aida Curi, circunstância da qual se conclui não ter havido abalo moral apto a gerar responsabilidade civil. Nesse particular,fazendo-se a indispensável ponderação de valores, o acolhimento do direito ao esquecimento, no caso, com a consequente indenização, consubstancia desproporcional corte à liberdade de imprensa, se comparado ao desconforto gerado pela lembrança. NO STF: ARE 833.248 REPERCUSSÃO GERAL EM 20/02/2015 CASO CHACINA DA CANDELÁRIA RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE IMPRENSA VS. DIREITOS DA PERSONALIDADE. LITÍGIO DE SOLUÇÃO TRANSVERSAL. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DOCUMENTÁRIO EXIBIDO EM REDE NACIONAL. LINHA Material elaborado por Priscila Cysneiros DIRETA-JUSTIÇA. SEQUÊNCIA DE HOMICÍDIOS CONHECIDA COMO CHACINA DA CANDELÁRIA. REPORTAGEM QUE REACENDE O TEMA TREZE ANOS DEPOIS DO FATO. VEICULAÇÃO INCONSENTIDA DE NOME E IMAGEM DE INDICIADO NOS CRIMES. ABSOLVIÇÃO POSTERIOR POR NEGATIVA DE AUTORIA. DIREITO AO ESQUECIMENTO DOS CONDENADOS QUE CUMPRIRAM PENA E DOS ABSOLVIDOS. ACOLHIMENTO. DECORRÊNCIA DA PROTEÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DAS LIMITAÇÕES POSITIVADAS À ATIVIDADE INFORMATIVA. PRESUNÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DE RESSOCIALIZAÇÃO DA PESSOA. PONDERAÇÃO DE VALORES. PRECEDENTES DE DIREITO COMPARADO. Não há dúvida de que a história da sociedade é patrimônio imaterial do povo e nela se inserem os mais variados acontecimentos e personagens capazes de revelar, para o futuro, os traços políticos, sociais ou culturais de determinada época. Todavia, a historicidade da notícia jornalística, em se tratando de jornalismo policial, há de ser vista com cautela. Há, de fato, crimes históricos e criminosos famosos; mas também há crimes e criminosos que se tornaram artificialmente históricos e famosos, obra da exploração midiática exacerbada e de um populismo penal satisfativo dos prazeres primários das multidões, que simplifica o fenômeno criminal às estigmatizadas figuras do "bandido" vs. "cidadão de bem" Com efeito, o reconhecimento do direito ao esquecimento dos condenados que cumpriram integralmente a pena e, sobretudo, dos que foram absolvidos em processo criminal, além de sinalizar uma evolução cultural da sociedade, confere concretude a um ordenamento jurídico que, entre a memória – que é a conexão do presente com o passado – e a esperança – que é o vínculo do futuro com o presente –, fez clara opção pela segunda. E é por essa ótica que o direito ao esquecimento revela sua maior nobreza, pois afirma-se, na verdade, como um direito à esperança, em absoluta sintonia com a presunção legal e constitucional de regenerabilidade da pessoa humana. - Direito à vida Talvez seja o direito mais ligado à dignidade da pessoa humana e dele decorrem vários outros direitos da personalidade. Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 1º, CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana A defesa da vida com dignidade é o objetivo constitucionalmente assegurado pelo Poder Público. Por isso, funciona como verdadeira cláusula geral, que serve como motor de impulsão de tudo o que vem expresso na ordem constitucional ou mesmo infraconstitucional. (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald) No âmbito penal, ouvimos falar, com frequência, da eutanásia, da ortotanásia... Por outro lado, em um viés civilista, temos a manifestação do direito à vida como o direito a uma vida digna ou a uma morte com dignidade, que é a chamada MISTANÁSIA. Mas o que é isso? Cenas do próximo bloco. Beijo! Parte 2/3 No que tange a morte digna, temos a questão da ética médica, que trabalha a possibilidade do direito a ter uma morte em casa, em casos que não haja mais tratamento, em que a dor pode ser amenizada. Assim, a pessoa poderá ter a companhia e o acolhimento dos familiares nos momentos que antecedem a sua morte. A MISTANASIA ou EUTANASIA SOCIAL é a morte miserável fora e antes da hora, que ocorre quando: a) uma grande massa de doentes e deficientes não ingressam no sistema de saúde por ser ausente ou precário (mistanásia passiva); ou ainda, quando do extermínio de pessoas Material elaborado por Priscila Cysneiros indesejáveis, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, nos campos nazistas de concentração; b) doentes crônicos ou terminais são vítimas de erro médico, como por exemplo, diagnóstico errôneo; c) pacientes são vítimas de má prática por motivos econômicos, científicos ou sociopolíticos, por exemplo, quando um médico intencionalmente retira órgão vital de indivíduo com esperança de vida. Maria Helena Diniz Acontece muito de pessoas fazerem cirurgias desnecessárias e acabarem falecendo, bem como são recorrentes os casos de colocação de próteses desnecessárias. A mistanásia, portanto, viola frontalmente o direito à vida, uma vez que se traduz em uma morte extremamente indigna. É uma morte prematura, que ocorre de maneira deplorável. ➢ Integridade física O Direito Civil traz a proteção do corpo humano em sua integridade, tanto corpo vivo quanto o corpo morto. Trata-se de assunto recorrente em questões de prova, em razão das constantes abordagens pela jurisprudência pátria. Código Civil: Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Esses são dispositivos que transcendem a letra fria da lei para outras discussões, no âmbito jurisprudencial. Violação do corpo vivo: DANO ESTÉTICO – sem sequelas (RESP 575.576/PR) – súmula 387 do STJ – cumulação dano moral Por muito tempo, o dano estético se confundiu com o dano moral. Porém, o RESP 575.576/PR, mesmo tratando o dano estético como dano moral, trouxe a ideia de que ele não depende de sequelas. Basta a violação da integridade física. Isso é um ponto polêmico, dentro da doutrina: há quem defenda esse entendimento e quem entenda de maneira contrária. Portanto, eu recomendo que você faça questões da carreira almejada e da banca que organizará o seu concurso, a fim de saber qual é o posicionamento por ela adotado. Eu, Roberta, defendo que o dano estético independe de sequelas, uma vez que, para a sua caracterização, basta a violação da integridade física. Bodyart ou bodymodification – bons costumes – tatuagem – concurso público – RE 898.450 Não pode haver discriminação ou impedimento que uma pessoa participe de um concurso público em razão de possuir tatuagens, em regra. Exceção: quando ofender os bons costumes. Lutadores de MMA e outras artes marciais – diminuição sem intervenção médica – autonomia da vontade Os lutadores podem ter sua integridade física diminuída em virtude da atividade praticada, sem intervenção médica. Isso decorre da autonomia da vontade. Trata-se de uma mitigação ao art. 13 do Código Civil. Material elaborado por Priscila Cysneiros Direito ao cadáver – transplante de órgãos – lei 9434/97 Em breve, falaremos dessa lei. Enunciado nº 277, Jornada de Direito Civil – O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares,portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador. Falaremos desse dispositivo mais adiante. Enunciado nº 276 da Jornada de Direito Civil - O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. Também falaremos, em breve, sobre isso. ➢ Ato de disposição do próprio corpo Aqui, a gente entra em uma área muito sensível do Direito Civil, porque abrange a questão da autonomia da vontade em relação ao próprio corpo. REGRA: é possível praticar atos de disposição que não ocasionem diminuição permanente “Disponibilidade limitada dos direitos de personalidade” Leonardo Zanini Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Ponderação reflexiva: mesmo que não seja permanente, o ato de restrição do próprio corpo não pode ofender a dignidade da pessoa humana – implantes de chips em funcionários. Recentemente, veio a público o caso do Chiquinho Scarpa, que implantou um chip na sua esposa, a fim de localizá-la onde quer que ela esteja. Ponderação reflexiva: não há possibilidade de diminuição somente por exigência médica. Até que ponto o Estado pode ditar regras acerca da disposição do corpo das pessoas? Abordaremos esse tema sob uma análise simplória, apenas para despertar a sua curiosidade, uma vez que o esgotamento desse tema demandaria um maior aprofundamento em vários outros aspectos. Há alguns anos, quem sofria de transtorno de identidade sexual era tido como louco. Hoje, há a possibilidade da cirurgia de transgenitalização, inclusive, sem autorização médica, de acordo com o Conselho Federal de Medicina, em resolução recente, de 2010. Caso Wannabes – Robert Smith Transtorno de Identidade da Integridade Corporal (TIIC) Em 1977, o termo "apotemnofilia" foi criado por John Money, que descreveu o caso de duas pessoas que se excitavam sexualmente com a ideia de ser amputadas. Em 1997, um paciente procurou o Dr. Robert Smith em seu consultório, pedindo-lhe que removesse a parte inferior da perna esquerda. Demorou 18 meses para tomar a decisão, mas Smith cedeu. "Foi a operação mais gratificante que já realizei. Não tenho dúvida de que fiz o correto", disse numa coletiva de imprensa. Mas, antes de amputar seu 3ª paciente com Material elaborado por Priscila Cysneiros TIIC, o caso se tornou escândalo no Reino Unido, e seu hospital impediu que continuasse esse tipo de cirurgia. (informações da Revista Super Interessante) Se você quiser saber mais sobre isso, existe um documentário chamado “Whole”, que conta a história de pessoas com esse transtorno. Também há bastantes informações no Google e no YouTube. Essas pessoas acabam se encontrando por meio da deep web e conseguindo realizar as cirurgias, em situações precárias, e acabam falecendo devido a infecções, hemorragias, e outras complicações. LEI N° 8.501, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1992 Dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científica e dá outras providências. Art. 2°. O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico. Art. 3°. Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver: I -- sem qualquer documentação; II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou responsáveis legais. § 1° Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo menos dez dias, a notícia do falecimento. § 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será, obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente. Material elaborado por Priscila Cysneiros § 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa. § 4° Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável manterá, sobre o falecido: a) os dados relativos às características gerais; b) a identificação; c) as fotos do corpo; d) a ficha datiloscópica; e) o resultado da necropsia, se efetuada; e f) outros dados e documentos julgados pertinentes. Art. 4°. Cumpridas as exigências estabelecidas nos artigos anteriores, o cadáver poderá ser liberado para fins de estudo. Art. 5°. A qualquer tempo, os familiares ou representantes legais terão acesso aos elementos de que trata o § 4° do art. 3° desta Lei. REsp 1.693.718 Em julgamento inédito no STJ a 3ª turma reconheceu o direito de preservação do corpo de um brasileiro em procedimento de criogenia, nos Estados Unidos. A técnica da criogenia após a morte foi realizada a pedido de uma de suas filhas, na esperança de que ele possa ser ressuscitado no futuro. De forma unânime, o colegiado considerou que a legislação brasileira, apesar de não haver previsão, não impede a realização do procedimento. Além disso, a turma levou em consideração a própria Material elaborado por Priscila Cysneiros manifestação de vontade do falecido, transmitida à sua filha mais próxima, que conviveu com ele por mais de 30 anos. “Na falta de manifestação expressa deixada pelo indivíduo em vida acerca da destinação de seu corpo após a morte, presume-se que sua vontade seja aquela apresentada por seus familiares mais próximos”, apontou o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze. Sendo assim, não há impedimento no ordenamento jurídico brasileiro para a realização da técnica de criogenia. Mesmo sem declaração expressa do falecido de que seu desejo era ter seu corpo congelado, houve a comprovação em juízo de que essa era a sua vontade, e assim foi feito. ➢ Transplante de órgãos Art. 14, CC. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Artigo 199, § 4º, CF: A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. Transplantes entre VIVOS: consentimento do titular que pode ser revogável; se incapaz deve haver autorização judicial com oitiva do MP. Pauta é a solidariedade; permissão de escolha de quem será beneficiário se for da própria família. Material elaborado por Priscila Cysneiros Médico comunica o transplante ao MP que instaura processo administrativo de investigação dos requisitos legais (evitar comércio) – Decreto 2.668/97 que regula a lei 9434/97. Se não for pessoa da família deve haver autorização judicial – lei 9434/97, para verificar se há comércio, salvo transplante de medula. Se você tiver interesse em concursos de MP, é interessante dar uma olhada na Lei nº 9.434/97 e veja, também, se o Decreto 2.668/97 foi revogado, pois só estou trazendo a título de curiosidade. Transplantes MORTOS: consentimento dos familiares, vedada a comercialização e a escolha do beneficiário. (não se admite doação presumida – artigo 4° da lei 9434/97) Redação original: Art. 4º Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta Lei, presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de transplantes ou terapêutica post mortem. Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpode pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001) Central de notificação, captação e distribuição de órgão – CNCDOS Morte encefálica (resolução 1.480/97 do CFM) comprovada por dois médicos que não sejam integrantes da equipe de retirada. Material elaborado por Priscila Cysneiros ➢ Transgenitalização O termo refere-se à cirurgia de alteração sexual, que pode ser tanto do feminino para o masculino, quanto do masculino para o feminino. Terminologias: - Homossexual - Bissexual - Travesti - Transexual é aquele que tem uma divergência entre o físico e o psíquico. Maria Berenice Dias: não é um processo passageiro. É a busca consiste de integração física, emocional, social, espiritual e sexual, conquistada com muito esforço e sacrifícios por pessoas que vivem infelizes e muitas vezes depressivas quanto ao próprio sexo. 276 – Art.13. O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. Resolução do CFM: - 1.652/02: permitia cirurgia após autorização judicial Material elaborado por Priscila Cysneiros - 1.955/10 (vigente hoje): permite a cirurgia independentemente de autorização judicial Abaixo, vemos alguns trechos dessa última resolução do CFM (1.955/10): Art. 3º. Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo enumerados: 1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4) Ausência de transtornos mentais. Art. 4º. Que a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo obedecerá a avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social, obedecendo os critérios a seguir definidos, após, no mínimo, dois anos de acompanhamento conjunto: 1) Diagnóstico médico de transgenitalismo; 2) Maior de 21 (vinte e um) anos; 3) Ausência de características físicas inapropriadas para a cirurgia. Começaram a surgir divergências nesse ponto: fazendo a cirurgia de transgenitalização, seria dada a autorização para alteração do prenome e do sexo no registro civil, sem qualquer caracterização de alteração sexual. Depois, começou-se a discutir a possibilidade de alteração do prenome e do sexo sem cirurgia. O STJ permitiu. Material elaborado por Priscila Cysneiros No final de 2018, o STF reconheceu aos transgêneros a possibilidade de alteração do registro civil sem mudança de sexo: Assim, é possível a alteração do prenome no registro civil, por autodeclaração, diretamente em cartório, sem autorização judicial e sem cirurgia. Porém, é um caminho sem volta e gera consequência em todos os aspectos jurídicos, como concursos públicos, previdência... tudo! ➢ Gestação em útero alheio É popularmente conhecida como “barriga de aluguel”, mas, como não é possível a cobrança de aluguel nesses casos, podemos chamar de “barriga em comodato”. Sim, é possível a gestação em útero alheio. É uma questão muito utilizada, mas pouco debatida. Material elaborado por Priscila Cysneiros Resolução 2168/18 do CFM As clínicas, centros ou serviços de reprodução assistida podem usar técnicas de RA para criarem a situação identificada como gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética, em união homoafetiva ou pessoa solteira. 1. A cedente temporária do útero deve pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau - mãe/filha; segundo grau - avó/irmã; terceiro grau - tia/sobrinha; quarto grau - prima). Demais casos estão sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. A gente volta no próximo bloco, com mais direitos da personalidade. O tema é extenso! Beijo! Parte 3/3 ➢ Testemunhas de Jeová Trata-se de segmento religioso que não recebe transfusão sanguínea, com fundamento em passagens bíblicas previstas em Gênesis, Levítico e Atos. Art. 15, CC: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Temos, de um lado, o direito à vida digna e à integridade física e, de outro, o direito à liberdade de crença. E o que deve prevalecer? Há quem diga que é o direito à vida, mas NÃO! Se você ordena que uma pessoa que daria sua vida por razões religiosas receba a transfusão sanguínea, condenará essa pessoa a uma morte em vida. Por isso, deve ser utilizada a técnica da ponderação. Existem, na jurisprudência, decisões favoráveis e desfavoráveis à realização da transfusão nesses casos. EXEMPLO DE DECISÃO FAVORÁVEL APELAÇÃO CÍVEL. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHA DE JEOVÁ. RECUSA DE TRATAMENTO. INTERESSE EM AGIR. Carece de interesse processual o hospital ao ajuizar Material elaborado por Priscila Cysneiros demanda no intuito de obter provimento jurisdicional que determine à paciente que se submeta à transfusão de sangue. Não há necessidade de intervenção judicial, pois o profissional de saúde tem o dever de, havendo iminente perigo de vida, empreender todas as diligências necessárias ao tratamento da paciente, independentemente do consentimento dela ou de seus familiares. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70020868162, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 22/08/2007) EXEMPLO DE DECISÃO DESFAVORÁVEL Prevalência pela liberdade Religiosa PROCESSO Nº 2009.35.00.003277-7 – 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Goiás – TRF1 Juíza Federal Luciana Laurenti Gheller, 18.02.09). Enunciado 403, da Jornada de Direito Civil: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente (o pai não pode tomar a decisão pelo filho); b) manifestação de vontade livre, consciente e informada (princípio do consenso informado. O médico deve dar todos os esclarecimentos ao paciente); e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante. Portanto, não se pode dizer que sempre prevalecerá um ou outro princípio. Deve ser feita a ponderação e esse enunciado servirá como norte para decisões de casos dessa natureza. ➢ Integridade psíquica Abrange a honra, liberdade, imagem, vida privada e o nome. 1) Imagem "Pasmam subitamente os juízes deslumbrados Leões, pelo calmo olhar de um domador, curvados Nua e branca, de pé, patente à luz do dia Todo o corpo ideal de Frinéia reluzia Diante da multidão atônita e surpresa No triunfo imortal da carne e da beleza". Olavo Bilac (caso Frineia por Hipérides) Material elaborado por Priscila Cysneiros O direito de imagem é o primeiro momento de identificação da pessoa. É uma exteriorização da personalidade, individualização do sujeito. Temos a imagem-retrato, a imagem-voz, a imagem-atributo. Art. 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias àadministração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Esse artigo dá a entender que a imagem fica atrelada à honra, à boa fama e à respeitabilidade, mas NÃO é o que acontece. Mesmo sem violação de outro direito de personalidade, a imagem tem a sua autonomia, sendo a sua violação pelo retrato, pela voz ou pelo atributo – interpretação conforme a CF. Súmula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Mesmo que não haja fim econômico ou comercial, pode haver indenização. Essa súmula é um caso de presunção. DIREITO DE ARENA – transmissões esportivas – imagem do atleta mesmo sem anuência expressa, por ser inerente ao exercício da profissão. Lei Pelé (Lei 9615/1998) Trata-se de uma relativização do direito de imagem. “O direito de imagem, no desporto, diz respeito à representação do perfil social da pessoa” “O direito de arena, por sua vez, é limitado a um grupo de atletas que efetivamente tem sua imagem transmitida em razão de sua participação nas partidas de futebol. Conforme fixa a legislação, os participantes do evento têm direito ao recebimento de 5% do valor negociado entre a entidade de prática desportiva (clube, federação ou confederação de futebol) e os canais de distribuição das imagens do jogo (emissoras de televisão, rádio, internet, etc.). ” Ministro Alexandre Agra. Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem. (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011). § 1º Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos Material elaborado por Priscila Cysneiros sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil. (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011). Enunciado nº 279, da Jornada de Direito Civil – A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando- se medidas que não restrinjam a divulgação de informações. É possível que haja responsabilidade civil da pessoa famosa que participe de publicidade de determinado produto? Sim, é possível! A pessoa famosa PODE ser responsabilizada pelos danos causados pelo produto a que ela entrega seu nome. Quando você olha um produto da Monange, provavelmente, faz a associação à Xuxa. A imagem da artista fica atrelada ao produto. “A celebridade assume a posição de garante perante o consumidor.” (Paulo Jorge Scartezzini) Caso: Maitê Proença e o anticoncepcional Microvlar A marca resolveu se relançar no mercado, após envolver-se na polêmica das pílulas de farinha, e convidou a Maitê Proença para fazer a sua publicidade. Todavia, uma nova polêmica surgiu: em um dos lotes, as cartelas de comprimidos vieram com um a menos, culminando na gravidez de várias consumidoras. "Responsabilidade civil. Direito à imagem. Sentença de procedência. Recurso das partes. A dispensa de testemunha, que não tenha conhecimento sobre os fatos da causa, não configura cerceamento de defesa, estando na linha de condução do processo pelo julgador. Agravo retido desprovido. Valoração do dano moral não especificada nem delimitado ao menos um patamar mínimo. Falta de interesse em recorrer da parte que formulou o pedido naqueles termos. Recurso da autora, de que não se conhece. Campanha publicitária de reabilitação de produto medicamentoso junto ao público feminino, por atriz, mediante contrato com cláusula de caráter testemunhal a respeito de seu relançamento sob outra apresentação. Novos incidentes com o remédio, que acarretaram a suspensão da campanha. Dano moral à imagem da autora, todavia, não configurado, porquanto a matéria se reconduz ao plano dos direitos autorais, uma vez que cedeu ela o direito à imagem e à utilização da voz na propaganda, em contrapartida de remuneração. Por sua condição de atriz, leiga, não estava vinculada a garantir propriedades do medicamento, Material elaborado por Priscila Cysneiros que não resultaram comprometidas, passando a faltar apenas uma cápsula em cada cartela. Imagem dela, atriz famosa, ornada de atributos, que já participou de campanhas e desfruta de prestígio junto ao público, que não resultou afetada. Não lhe era exigível nem estava adstrita a garantir a integridade do medicamento, mas a de anunciar que era relançado sob diversa apresentação. Recurso da ré, no mérito, provido para julgar-se improcedente a ação." TJRJ – citado no acórdão do Resp 578.777 Portanto, é o tipo de situação que deve ser analisada casuisticamente. 2) Privacidade É o refúgio impenetrável pela coletividade, merecendo proteção. Ou seja, é o direito de viver a sua própria vida em isolamento, não sendo submetido à publicidade que não provocou, nem desejou. Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald A delimitação do tema depende da cultura local, tradições, costumes... Vida pessoal da pessoa! A privacidade é um gênero, que comporta duas espécies: a intimidade e o segredo. “O direito à vida privada posiciona-se como gênero ao qual pertencem o direito à intimidade e o direito ao segredo. A vida privada é esfera que concentra, em escala decrescente, outros direitos relativos à restrição de vida pessoal de cada um.” Gilberto Haddad Jabur PRIVACIDADE INTIMIDADE Direitos que devem ser protegidos de outras pessoas, informações que dizem respeito somente ao titular. SEGREDO (SIGILO) Não divulgação de fatos da vida do titular. Material elaborado por Priscila Cysneiros É possível flexibilizar o direito à intimidade? Sim! Ex: quebra de sigilo bancário e fiscal. Art. 21, CC. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. Nem toda informação privada é íntima, embora toda intimidade seja privada. Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald 3) Honra Projeção social da respeitabilidade e estima conquistada pelo indivíduo no seu ambiente e na sociedade. Luiz Almeida Reputação Boa fama Autoestima Respeitabilidade ----------------------------------------------------- Meio social; profissional; familiar; acadêmico... HONRA OBJETIVA HONRA SUBJETIVA Aspectos relacionados a terceiros (sentimento coletivizado) – Reputação; boa fama - externa Valoração da pessoa sobre si mesma (sentimento interiorizado) – Autoestima - interna Um mesmo ato pode violar a honra objetiva e a subjetiva. ➢ Integridade intelectual “Neste aspecto é a proteção jurídica às obras de inteligência do indivíduo” Francisco Amaral Há a proteção das criações intelectuais do indivíduo. DIREITO AUTORAL Lei 9610/98 – LEI DOS DIREITOS AUTORAIS Objeto: criação Material elaborado por Priscila Cysneiros DIREITOS MORAIS DO AUTOR: personalíssima – não admite cessão – projeção da personalidade do autor – direitoà paternidade da obra (adquirido com a criação e não com registro - facultativo) DIREITOS PATRIMONIAIS DO AUTOR: material – direito à exploração autoral, utilizar, fruir, dispor da obra – admite-se transmissão ECAD – músicas Súmula 63 do STJ: são devidos direitos autorais pela retransmissão radiofônica de músicas em estabelecimentos comerciais. ➢ Nome civil O nome é a primeira etiqueta identificadora de um sujeito. Código Civil: Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Prenome: nome de batismo Sobrenome ou nome patronímico: apelido familiar ou patronímico Agnome: aponta grau de parentesco (Júnior, Neto...) Hipocorístico: redução do nome original (Beto, Chico ) Vale lembrar que o pseudônimo recebe a mesma proteção dada ao nome. Zezé di Camargo é pseudônimo de Mirosmar. Lei de Registros Públicos: Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento: §1° O pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto no § 2o do art. 54; (Redação dada pela Lei nº 13.112, de 2015) NOME PRENOME SOBRENOME Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 54, § 2º: O nome do pai constante da Declaração de Nascido Vivo não constitui prova ou presunção da paternidade, somente podendo ser lançado no registro de nascimento quando verificado nos termos da legislação civil vigente. (Incluído pela Lei nº 12.662, de 2012) Art. 55. Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato. Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente. PSEUDÔNIMO Codinome ou heterônimo Art. 19, CC. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Sílvio Santos – Senor Abravanel Di Cavalcante – Emiliano de Albuquerque Melo Garrincha - Manoel Francisco dos Santos Pelé - Edson Arantes do Nascimento Zico - Arthur Antunes Coimbra Greta Garbo - Greta Lovisa Gustafsson Lady Gaga - Stefani Joanne Angelina Germanotta É possível a alteração do nome? A regra é a inalterabilidade, mas ela é relativa (art. 58 da Lei de Registros Públicos). A alteração só se dará em casos excepcionais: 1. Expuser a pessoa ao ridículo; 2. Maioridade em prazo decadencial de 1 ano – LRP - Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa. 3. Houver erro gráfico; 4. Para inclusão de apelido notório, hipocorístico – acréscimo de alcunha designativa; 5. Adoção 6. Uso prolongado de nome diverso; 7. Adaptação de tradução do nome em caso de língua estrangeira; 8. Homonímia depreciativa; 9. Proteção a testemunha – LRP - artigo 58, Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente Material elaborado por Priscila Cysneiros da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. E o sobrenome? Também poderá ser alterado, nos seguintes casos: 1. Adoção; 2. Casamento; 3. Divórcio ou nulidade de casamento; 4. Inclusão de sobrenome de ascendente – sobrenome avoengo; 5. União estável ou homoafetiva; 6. Lei 11.924/09 – Lei Clodovil – autoriza acréscimo de sobrenome do padrasto ou madrasta pelo enteado(a) Esse rol admite interpretação diante do caso concreto. Vejamos a jurisprudência abaixo: CIVIL. REGISTRO PÚBLICO. NOME CIVIL. PRENOME. RETIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO SUFICIENTE. PERMISSÃO LEGAL. LEI 6.015/1973, ART. 57. HERMENEUTICA. EVOLUÇÃO DA DOUTRINA E DA JURISPRUDENCIA. RECURSO PROVIDO. I - O NOME PODE SER MODIFICADO DESDE QUE MOTIVADAMENTE JUSTIFICADO. NO CASO, ALEM DO ABANDONO PELO PAI, O AUTOR SEMPRE FOI CONHECIDO POR OUTRO PATRONIMICO. II - A JURISPRUDENCIA, COMO REGISTROU xxxxxx, AO BUSCAR A CORRETA INTELIGENCIA DA LEI, AFINADA COM A "LOGICA DO RAZOAVEL", TEM SIDO SENSIVEL AO ENTENDIMENTO DE QUE O QUE SE PRETENDE COM O NOME CIVIL E A REAL INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA PERANTE A FAMÍLIA E A SOCIEDADE Resp 66.643 - STJ ➢ Combate ao bullying – Lei nº 13.185/15 Artigo 1°: considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi- la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Artigo 2°: Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda: I - ataques físicos; II - insultos pessoais; III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV - ameaças por quaisquer meios; V - grafites depreciativos; Material elaborado por Priscila Cysneiros VI - expressões preconceituosas; VII - isolamento social consciente e premeditado; VIII - pilhérias. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial. Artigo 3°: A intimidação sistemática (bullying) pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como: I - VERBAL: insultar, xingar e apelidar pejorativamente; II - MORAL: difamar, caluniar, disseminar rumores; III - SEXUAL: assediar, induzir e/ou abusar; IV - SOCIAL: ignorar, isolar e excluir; V - PSICOLÓGICA: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar; VI - FÍSICO: socar, chutar, bater; VII - MATERIAL: furtar, roubar, destruir pertences de outrem; VIII - VIRTUAL: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. ATENÇÃO! Seguem, abaixo, alguns julgados recentes sobre direitos da personalidade: O dano moral extrapatrimonial atinge direitos de personalidade do grupo ou da coletividade como realidade massificada, não sendo necessária a demonstração de da dor, da repulsa, da indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. AgInt no REsp 1712940/PE, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe 09/09/2019 A imunidade conferida ao advogado para o pleno exercício de suas funções não possui caráter absoluto, devendo observar os parâmetros da legalidade e da razoabilidade, não abarcando violações de direitos da personalidade, notadamente da honra e da imagem de outras partes ou de profissionais que atuem no processo. REsp 1677957/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 30/04/2018 A voz humana encontra proteção nos direitos da personalidade, seja como direito autônomo ou como parte integrante do direito à imagem ou do direito à identidade pessoal. Material elaborado por Priscila Cysneiros REsp 1630851/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/04/2017, DJe 22/06/2017 O reconhecimento doestado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, assentado no princípio da dignidade da pessoa humana. AgInt no REsp 1477031/MG, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 26/08/2019, DJe 02/09/2019 A regra no ordenamento jurídico é a imutabilidade do prenome, um direito da personalidade que designa o indivíduo e o identifica perante a sociedade, cuja modificação revela-se possível, no entanto, nas hipóteses previstas em lei, bem como em determinados casos admitidos pela jurisprudência. REsp 1728039/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/06/2018, DJe 19/06/2018 O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, exigindo-se, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, em respeito aos princípios da identidade e da dignidade da pessoa humana, inerentes à personalidade. REsp 1561933/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 23/04/2018 É possível a modificação do nome civil em decorrência do direito à dupla cidadania, de forma a unificar os registros à luz dos princípios da verdade real e da simetria. REsp 1310088/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 19/08/2016 A continuidade do uso do sobrenome do ex-cônjuge, à exceção dos impedimentos elencados pela legislação civil, afirma-se como direito inerente à personalidade, integrando-se à identidade civil da pessoa e identificando-a em seu entorno social e familiar. REsp 1732807/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/08/2018, DJe 17/08/2018 O direito ao nome, enquanto atributo dos direitos da personalidade, torna possível o restabelecimento do nome de solteiro após a dissolução do vínculo conjugal em decorrência da morte. REsp 1724718/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/05/2018, DJe 29/05/2018 Material elaborado por Priscila Cysneiros Em caso de uso indevido do nome da pessoa com intuito comercial, o dano moral é in re ipsa. AgInt no AREsp 1343054/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 12/02/2019, DJe 19/02/2019 Não se exige a prova inequívoca da má-fé da publicação (actual malice), para ensejar a indenização pela ofensa ao nome ou à imagem de alguém. AgInt no AREsp 1120731/RJ Os pedidos de remoção de conteúdo de natureza ofensiva a direitos da personalidade das páginas de internet, seja por meio de notificação do particular ou de ordem judicial, dependem da localização inequívoca da publicação (Universal Resource Locator - URL), correspondente ao material que se pretende remover. REsp 1738628/SE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2019, REPDJe 26/02/2019 O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. (Enunciado n. 4 da I Jornada de Direito Civil do CJF) AgInt no REsp 1586380/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/06/2019, DJe 18/06/2019 A pretensão de reconhecimento de ofensa a direito da personalidade é imprescritível. REsp 1782024/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 09/05/2019 A ampla liberdade de informação, opinião e crítica jornalística reconhecida constitucionalmente à imprensa não é um direito absoluto, encontrando limitações, tais como a preservação dos direitos da personalidade. REsp 1704600/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/10/2019, DJe 15/10/2019 No tocante às pessoas públicas, apesar de o grau de resguardo e de tutela da imagem não ter a mesma extensão daquela conferida aos particulares, já que comprometidos com a publicidade, restará configurado o abuso do direito de uso da imagem quando se constatar a vulneração da intimidade ou da vida privada. REsp 1594865/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/06/2017, DJe 18/08/2017 O uso não autorizado da imagem de menores de idade gera dano moral in re ipsa. AgInt no AREsp 1018992/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2019, DJe 09/09/2019 Material elaborado por Priscila Cysneiros Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. (Súmula n. 403/STJ) AgInt no AREsp 1346273/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 24/04/2019 Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento. AgRg no HC 503912/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe 09/09/2019 A divulgação de fotografia em periódico (impresso ou digital) para ilustrar matéria acerca de manifestação popular de cunho político-ideológico ocorrida em local público não tem intuito econômico ou comercial, mas tão-somente informativo, ainda que se trate de sociedade empresária, não sendo o caso de aplicação da Súmula n. 403/STJ. REsp 1449082/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/03/2017, DJe 27/03/2017 SÚMULAS DO STJ SÚMULA 37 São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. SÚMULA 221 São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. SÚMULA 227 A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. SÚMULA 54 Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. SÚMULA 362 A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento. SÚMULA 370 Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. Material elaborado por Priscila Cysneiros SÚMULA 387 É lícita a cumulação de dano moral e dano estético. SÚMULA 388 A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
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