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CRIMINALIDADE ECONÔMICA 
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1.
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2
Renee do Ó Souza
Londrina 
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
2020
CRIMINALIDADE ECONÔMICA E ORGANIZADA
1ª edição
3
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Henrique Salustiano Silva
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa
Revisor
João Paulo Manfré
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________ 
Guidotti, Flávio Junior
G948p Posturologia e imaginologia aplicadas ao sistema
musculoesquelético/ Flávio Junior Guidotti, Thiago Medeiros
 Rodriguez – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
 119 p.
 ISBN 978-85-522-1527-1
1. Posturologia. 2. Fisioterapia. I. Guidotti, Flávio Junior.
II. Rodriguez, Thiago Medeiros. Título. 
 
CDD 610
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
4
SUMÁRIO
Crime organizado ___________________________________________________ 05
Lavagem de dinheiro _______________________________________________ 23
Execução Penal _____________________________________________________ 43
Tutela ao sigilo e interceptação telefônica __________________________ 62
CRIMINALIDADE ECONÔMICA E ORGANIZADA
5
Crime organizado
Autoria: Renee do Ó Souza
Leitura crítica: Juliana Caramigo Gennarini
Objetivos
• Noções introdutórias sobre a criminalidade
organizada.
• Entender a tipificação penal do crime organizado no
Brasil.
• Analisar o instituto da colaboração premiada.
6
1. Introdução: novas formas de criminalidade
A criminalidade organizada é um traço característico do direito penal 
moderno, em que os delitos deixaram de ser praticados de forma 
artesanal, por uma só pessoa, motivado por vantagens imediatas e 
temporárias.
A atuação orquestrada e em rede de vários agentes, com uma atuação 
profissionalizada e motivada pela obtenção de latas cifras lucrativas, 
caracterizam o crime organizado dos dias atuais. De uma forma geral, 
a constituição de uma organização criminosa pode servir à prática de 
inúmeros crimes previstos na legislação, mas, inegavelmente, existe 
um nicho central de crime por elas praticados, todos caracterizados, 
predominantemente, pelos altos ganhos econômicos que proporcionam, 
em razão disso, o estudo desde fenômeno está umbilicalmente ligado ao 
chamado ramo do direito criminal econômico.
A partir dessas características – crimes praticados, expertise da 
organização criminosa para praticá-los e alta rentabilidade dessas 
atividades – podemos identificar a seguinte classificação das 
organizações criminosas:
1. Máfia: caracterizadas pela atuação bem hierarquizada, alto 
poder de intimidação, domínio territorial das atividades ilícitas 
desenvolvidas, ritual de inicial, código de silêncio, bem como a 
prática de clientelismo. Esse é o tipo mais conhecido e retratado 
por produções literárias ou cinematográficas, estando espalhada 
por vários países do mundo.
7
Figura 1–Famiglia
Fonte: Maica/iStock.com.
2. Em rede: não agem de forma hierarquizada porque seus membros 
contam com pessoas substituíveis na operação das atividades 
ilícitas. Além disso, agem de forma conectada com outras 
organizações criminosas, o que proporciona aumento dos lucros. 
Por exemplo: os novos cartéis colombianos de drogas.
3. Empresarial: são organizações criminosas que se constituem 
na forma de empresas com propósitos ilícitos, como no caso 
de empresa fantasma. Nesse caso, deve-se ter o cuidado de 
não confundir com as situações em que uma empresa regular, 
eventualmente, praticar crimes.
4. Endógena: são as organizações instaladas no âmbito da 
administração pública, em que os agentes públicos agem 
para saquear os cofres públicos mediante à prática de crimes 
funcionais.
As principais infrações penais praticadas por organizações criminosas, 
notabilizadas pelos elevados rendimentos econômicos que 
proporcionam, são: tráfico de drogas, crimes patrimoniais, tráfico de 
armas, crimes contra a administração (corrupção), tráfico de pessoas, 
8
cybercrimes, terrorismo e lavagem de dinheiro. Observe que se tratam 
de crimes que não encontram respeito aos limites geopolíticos, o que 
ensejou a necessidade de enfrentamento ao crime organizado por todo 
o mundo de forma mais ou menos semelhante.
2. Panorama internacional de enfrentamento 
ao crime organizado
Na busca de enfrentar de forma homogênea em todo o mundo que 
foi editada a chamada Convenção de Palermo, que se insere em 
uma tendência de internacionalização do direito penal, movimento 
francamente desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial, capitaneado 
pela Organização das Nações Unidas, destinado ao enfrentamento de 
determinadas condutas reprováveis em todo o mundo. Além disso, a 
temática do crime organizado passou a reclamar um tratamento mais 
uniforme em todo mundo por causa da globalização da economia, 
prática impulsionada com o desenvolvimento da rede mundial de 
computadores.
A convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado 
Transnacional foi aprovada no ano de 2000, mas passou a vigorar 
no Brasil após a edição do Decreto nº 5.015, de 2014. Já aderiram ao 
documento mais de 190 países, visando, principalmente, promover a 
cooperação entre todos eles de modo a prevenir e enfrentar de forma 
eficaz a criminalidade organizada transnacional. Para tanto, a convenção 
determina que os países prevejam e tipifiquem crimes de organização 
criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção e obstrução da justiça, além 
de medidas de facilitação de extradição, cooperação internacional e 
capacitação dos órgãos destinados ao combate ao crime organizado. 
Portanto, trata-se de um mandado de criminalização convencional.
9
Figura 2–Discussão ao redor do mundo
Fonte: Rawpixel/iStock.com. 
No entanto, para o eficaz combate ao crime organizado transnacional, 
complementou-se a Convenção de Palermo com 3 protocolos que 
tratam de temas específicos a essa modalidade criminosa, sendo eles: 
a) Protocolo relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de 
pessoas, em especial mulheres e crianças; b) Protocolo relativo ao 
combate ao tráfico de migrantes por via terrestre, marítima e aérea; c) 
Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas 
peças e componentes e munições.
Nesse sentido, nos chama a atenção que a convenção tem uma definição 
de organização criminosa que, em razão da anomia da legislação penal 
brasileira, foi usada para fins de extradição. Porém, em 2013, o STF 
refutou o uso deste conceito ao alegar tratar-se de norma sem conteúdo 
penal. Em razão disso, o Brasil aprovou em um primeiro momento a Lei 
nº 12.694, de 2012, que possuía um conceito de organização criminosa, 
mas que foi revogada pelo conceito da Lei nº 12.850, de2013.
10
3. A lei brasileira contra as organizações 
criminosas
A primeira lei brasileira de enfretamento a criminalidade organizada 
foi a Lei nº 9.034, de 1990, e que se notabilizou porque não possuía 
conceito de organização criminosa, principal motivo de suas severas 
críticas.
O conceito organização criminosa adotado pela Lei nº 12.850, de 
2013, destoa significativamente da convenção e daquele previsto 
na Lei revogada (Lei 12.694, de 2012). Nesse sentido, a referida lei 
dispõe, no art. 1°, § 1°, que é organização criminosa é formada pela 
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada 
e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com 
objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas 
sejam superiores à 4 anos, ou que sejam de caráter transnacional 
(BRASIL, 2013). Já no parágrafo seguinte, o legislador brasileiro também 
estabeleceu que a lei se aplica aos casos de: i) infrações penais previstas 
em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução 
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou 
reciprocamente; ii) às organizações terroristas, entendidas como aquelas 
voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos 
(BRASIL, 2013).
Quadro 1–Comparativo sobre organização criminosa
Convenção de 
Palermo
Lei nº 12.694/12 Lei nº 12.850/13
Grupo estruturado 
de 3 (três) ou mais 
pessoas.
Associação de 
3 (três) ou mais 
pessoas.
Associação de 4 
(quatro) ou mais 
pessoas.
11
Existente há algum 
tempo, atuando 
concertadamente.
Estruturalmente 
ordenada e 
caracterizada 
pela divisão de 
tarefas, ainda que 
informalmente.
Estruturalmente 
ordenada e 
caracterizada 
pela divisão de 
tarefas, ainda que 
informalmente.
Com intenção de 
obter, direta ou 
indiretamente, 
um benefício 
econômico ou 
outro benefício 
material.
Com o objetivo 
de obter, direta 
ou indiretamente, 
vantagem de 
qualquer natureza.
Com o objetivo 
de obter, direta 
ou indiretamente, 
vantagem de 
qualquer natureza.
Com o propósito 
de cometer 
uma ou mais 
infrações graves 
ou enunciadas na 
Convenção.
Mediante a prática 
de crimes cujas 
penas máximas 
sejam iguais ou 
superiores à 4 
(quatro) anos, 
ou que sejam 
de caráter 
transnacional.
Mediante a prática 
de infrações 
penais cujas 
máximas sejam 
superiores à 4 
(quatro) anos 
ou que sejam 
de caráter 
transnacional.
Fonte: elaborado pelo autor.
O conceito contido na lei é criminalizado pela figura típica autônoma do 
art. 2º da referida lei, que tem a seguinte redação:
Art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por 
interposta pessoa, organização criminosa: Pena–reclusão, de 3 (três) a 8 
(oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais 
infrações penais praticadas. (BRASIL, 2013, art. 2º)
12
Portanto, trata-se de crime autônomo, de perigo abstrato; bem 
jurídico: paz pública; exige a estabilidade e permanência, com estrutura 
ordenada e divisão de tarefas; trata-se de crime permanente.
Além disso, destaque-se que a Convenção de Palermo, atenta a escalada 
da criminalidade econômica por meio de pessoas jurídicas, prevê, no art. 
10, a necessidade de responsabilização de pessoas jurídicas, dispositivo 
não implementado no país, em razão da Constituição Federal do 
Brasil prever que esses entes só respondem criminalmente por crimes 
ambientais, de forma que somente respondem por outras infrações na 
esfera administrativa e cível.
No art. 3° da Lei 12.850 foram definidos os meios de obtenção de 
prova, a saber:
a. Colaboração premiada.
b. Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou 
acústicos.
c. Ação controlada: que consiste em retirar a intervenção policial 
ou administrativa relativa à ação praticada por organização 
criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação 
e acompanhamento para que a medida legal se concretize no 
momento mais eficaz à formação de provas e obtenções de 
informações (prevista nos arts. 8° e 9°).
d. Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados 
cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e 
a informações eleitorais ou comerciais: nos termos dos arts. 15 a 
17 da Lei.
e. Interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos 
termos da legislação específica.
f. Afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos 
da legislação específica.
g. Infiltração, por policiais, em atividade de investigação: previstas 
nos artigos 10 a 14 desta Lei, sendo que o pacote Anticrime (Lei 
13
13.964/2019) incluiu os arts. 10-A (que trata da infiltração virtual), 
10-B (procedimento judicial), 10-C (causa de exclusão da tipicidade, 
na hipótese do policial ocultar sua identidade para, por meio da 
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes de 
organização criminosa) e 10-D (preservação dos atos eletrônicos 
praticados, o que está em consonância com a cadeia de custódia 
da prova).
h. Cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, 
estaduais e municipais na busca de provas e informações de 
interesse da investigação ou da instrução criminal.
Esses meios de obtenção de prova são esculpidos na Lei nº 12.850, de 
2013, dada a maior eficácia que operam junto ao enfrentamento da 
criminalidade organizada, pelo que o destaque desse rol é a colaboração 
premiada, melhor estudada a seguir:
4. Colaboração premiada
Os meios especiais de obtenção de prova listados pela Lei nº 12.850, 
de 2013, mantém um nexo de utilidade com as peculiaridades deste 
nicho de crimes, os quais não podem contar com o desvendamento 
tradicional. Como apontava Hassemer (1994, p. 55): 
Em se tratando da criminalidade organizada, o Estado não sabe ao certo 
no que consiste e, dessa forma, não sabe como combatê-la. Sabe-se 
apenas que é algo altamente ‘explosivo’, representada, em regra, por uma 
gama de infrações penais sem vítimas imediatas ou com vítimas difusas, 
de forma que não há como chegar a ocorrência do delito ao conhecimento 
da autoridade pelo particular. Ademais, quando existem vítimas, nota-
se a intimidação destas para que os delitos também não cheguem ao 
conhe¬cimento da autoridade. Também dispõe de múltiplos meios de 
disfarce e simulação. Por outro lado, em se tratando da criminalidade 
14
de massa, embora o Estado tente combatê-la, não consegue de forma 
adequada.
Assim, podemos observar que a colaboração premiada está conceituada 
no novo art. 3º-A da Lei 12.850, de 2013 (com redação dada pela Lei 
13.964, de 2019-Lei Anticrime), como “negócio jurídico processual e meio 
de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos”, 
definição legal que destaca a natureza mista do instituto que além de 
configurar-se como uma espécie de solução consensual de litígio, é uma 
técnica de investigação e um importante instrumento de defesa.
Nesse sentido, essa disposição legal afasta a entendimento de que a 
colaboração premiada é direito público subjetivo do réu e sepulta a 
chamada delação unilateral: 
[...] esse entendimento se apoia em um raciocínio demasiado simplista de 
que os prêmios decorrem da lei. A tese se arvora também em aspectos 
que restaram sobejamente superados pelas alterações promovidas pela 
Lei 13.964/2019 que procedimentalizou, pormenorizadamente, a fase 
pré e negocial do acordo, inserindo-as como parte importante para a 
celebração do negócio. Assim, como já sustentamos antes, a consagração, 
no texto da Lei, de que a colaboração premiada é um negócio jurídico, 
implica na obrigatoriedade dela ser celebrada em meio um ajuste bilateral 
de cláusulas, condições, prestações e contraprestações recíprocas, 
todas devidamente autorreferenciadas pelas partes, em um ambiente 
de negociação claro e transparente, capaz de assegurar-lhe confiança e 
segurança jurídica. (SOUZA; CUNHA, 2020, p. 22)
Observe que outras leis penais já previam a chamada delaçãopremiada, 
vinculando-a, todavia, aos nichos de crimes específicos (exceto pela 
previsão generalista da Lei nº 9.807/1999 – Lei de proteção de vítimas 
e testemunhas). De todo modo, dada a acurada técnica redacional da 
Lei nº 12.850, de 2013, entende-se que somente com a edição dessa Lei 
é que o instituto está procedimentalizado, inclusive com suas balizas 
mínimas e máximas.
15
A grande finalidade da colaboração premiada é quebrar a lei do 
silêncio comum às organizações criminosas, mediante a entrega de 
alguma premiação a um de seus antigos integrantes, acaso revele 
alguns resultados socialmente úteis à persecução penal. Por isso, 
verifica-se uma manifestação do chamado direito premial, em que o 
Estado estimula determinadas condutas por ele desejadas por meio de 
vantagens ou prêmios estatais.
Figura 3 - Colaboração
Fonte: SusanneB/iStock.com. 
E quais são os prêmios decorrentes de uma Colaboração premiada? 
Conforme prevê o art. 4°, caput, da Lei n° 12.850, de 2013, ao 
colaborador que tenha “colaborado efetiva e voluntariamente com 
a investigação e com o processo criminal” (direito processual penal), 
desde que dessa colaboração advenham um ou mais dos resultados, os 
benefícios ao colaborador são: a) conceder o perdão judicial (extinção da 
punibilidade); b) redução da pena privativa de liberdade em até 2/3; c) 
substituição por pena restritiva de direitos.
16
Além disso, quais são os resultados pretendidos pela lei, isto é, o 
que o colaborador deverá entregar para beneficiar-se da lei? a) a 
identificação dos demais coautores e partícipes da organização 
criminosa e das infrações penais por eles praticadas; b) a revelação da 
estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; 
c) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da 
organização criminosa; d) a recuperação total ou parcial do produto ou 
do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; 
e) a localização de eventual vítima com sua integridade física preservada. 
Observe que os resultados vão muito além de simplesmente descobrir 
os demais membros da organização criminosa (coautores ou partícipes).
A legitimidade para celebrar o acordo de colaboração premiada é, 
sem sombra de dúvidas, do Ministério Público, dominus litis e titular 
privativo da ação penal. A legitimidade do delegado de polícia, mesmo 
prevista no texto da lei, é permeada por questionamento doutrinários, 
porque faltaria a ele competência para realizar postulações junto ao 
Poder Judiciário, atribuição dada unicamente ao parquet. Todavia, o 
Supremo Tribunal Federal admitiu na ADI 5.508-DF a legitimidade para 
os delegados de polícia celebrarem colaborações premiadas.
Quanto ao colaborador, trata-se do investigado (ou réu ou mesmo 
condenado) sempre devidamente acompanhado por seu defensor, 
integrante de organização criminosa que tenha, à juízo das autoridades 
públicas, informações relevantes para a persecução penal. Nesse 
sentido, deve-se ter em mente que uma regra de ouro da colaboração 
premiada é assegurar que o colaborador, por meio de suas declarações, 
permita a desbaratamento de crimes cometidos por outras pessoas 
situadas em patamar superior da linha hierárquica da organização 
criminosa, de modo a neutralizá-la definitivamente. Todavia, a lei prevê a 
possibilidade de o líder da organização criminosa celebrar colaboração, 
caso em que fica vedada a premiação de imunidade processual (não 
oferecimento da denúncia) e desde que o Ministério Público não tivesse 
prévio conhecimento e colaborador não for o líder da organização 
17
criminosa (neste caso a resposta seria negativa) e tenha sido o primeiro 
a prestar efetiva colaboração, atingindo os resultados. Logo, trata-se de 
uma novidade que objetiva trazer ao Estado o conhecimento de crime 
praticado, de que não tinha ciência (cifra negra), permitindo o exercício 
do jus puniendi. E o que se entende por prévio conhecimento? Quando o 
MP ou autoridade policial tenha instaurado procedimento investigatório 
ou inquérito policial sobre os fatos apresentados (então, se o fato foi 
conhecido por estas instituições, mas não foi objeto de investigação, 
ainda pode ser realizada a colaboração nos termos do § 4°, deixando de 
ser intentada a ação penal contra o colaborador).
A fim de resguardar a neutralidade do acordo, a Lei prevê a imperiosa 
necessidade de o juiz não participar das negociações do acordo, embora 
exija decisão homologatória (após ouvir sigilosamente o colaborador, 
na presença de seu defensor), destinada a verificar a regularidade, 
legalidade, adequação dos benefícios e resultados e voluntariedade, 
sendo-lhe vedado emitir qualquer juízo de valor sobre as declarações 
(BRASIL, 2013, §§ 6° e 7°, art. 4°). A eficácia do acordo, isto é, sua 
utilidade para a persecução penal deve ser aferida pelo magistrado por 
ocasião da sentença judicial (BRASIL, 2013, § 11, art. 4º).
Portanto, a lei prevê como obrigação permanente o dever de o 
colaborador renunciar ao direito ao silêncio (BRASIL, 2013, § 14, art. 
4º), mantendo-se sob o compromisso de dizer a verdade, devendo ser 
sempre assistido pelo seu defensor. Ademais, mesmo que beneficiado 
pelo perdão judicial, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a 
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial. Desse 
modo, prevalece que a renúncia ao direito ao silêncio este dever é 
constitucional, porque é voluntariamente assentido pelo colaborador e 
produz vantagens ao direito fundamental à liberdade.
Por sua vez, o art. 5° prevê os direitos do colaborador, a saber: usufruir 
das medidas de proteção previstas na legislação específica; ter nome, 
qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados; ser 
18
conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; 
participar das audiências sem contato visual com os outros acusados; 
não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem 
ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; 
cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou 
condenados (BRASIL, 2013).
Já o art. 6° estabelece que os requisitos formais do termo de acordo da 
colaboração premiada, enquanto o art. 7° traz as regras procedimentais 
de distribuição e tramitação do acordo de colaboração premiada 
(obrigatoriedade do sigilo do acordo e dos depoimentos prestados 
pelo colaborador até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime) 
(BRASIL, 2013).
Por fim, por se tratar de negócio jurídico personalíssimo, o acordo 
de colaboração premiada não pode ser impugnado por coautores ou 
partícipes do colaborador na organização criminosa e nas infrações 
penais por ela praticadas, sendo que conforme o Informativo STF nº 958:
O delatado pode insurgir-se contra o conteúdo probatório resultante do 
acordo de colaboração, mas não contra o ato de colaborar em si, que, por 
integrar o catálogo de meios inerentes ao exercício do direito de defesa, 
constitui direito subjetivo dos acusados em geral. (BRASIL, 2019, [s.p.])
5. Alterações na colaboração premiada 
promovida pela Lei Anticrime (Lei n° 13.964, 
 de 2019):
a. O juiz ou o tribunal, antes de conceder os benefícios pactuados, 
deve proceder a análise do mérito da denúncia, do perdão judicial 
e das primeiras etapas de aplicação da pena, salvo quando for de 
previsão de não oferecimento de denúncia.
19
b. São nulas a previsões de renúncia ao direito de impugnar a 
decisão homologatória.
c. O juiz pode recusar a homologação que não preencher os 
requisitos legais, devolvendo às partes para adequações 
necessárias.
d. Em todas as fases do processo ao “réu delatado” deve ser 
garantido o direito de se manifestar posteriormente ao 
colaborador, o que preserva as garantias constitucionais da ampla 
defesa e do contraditório.
e. Registro das tratativas e atos de colaboração (gravação magnética, 
estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual), as 
quais poderão ser disponibilizadas ao colaborador.f. Não se permite o deferimento de medidas cautelares reais ou 
pessoais ou o recebimento da denúncia ou queixa-crime ou 
prolação de sentença condenatória com base apenas nas palavras 
do réu colaborador, devendo ser corroborada por outras provas.
g. Rescisão do acordo homologado em hipóteses de omissão dolosa 
sobre fatos objeto da colaboração.
h. Sob pena de rescisão do acordo, o colaborador deve cessar a 
participação ou envolvimento na conduta ilícita em questão.
6. Alteração da Lei 12.850, de 2013, referente ao 
requisito especial para progressão de regime
A Lei Anticrime (Lei 13.964, de 2019) promoveu algumas alterações 
penais destinadas ao enfrentamento das organizações criminosas que 
se encrustaram no sistema penitenciário brasileiro. Além das alterações 
junto a Lei de Execuções Penais que recrudesceram o Regime Disciplinar 
Diferenciado, está previsto a necessidade do cumprimento 50% de pena 
para líderes de organizações criminosas condenados para progredirem 
no regime de cumprimento de suas penas, bem como necessidade de a 
cumprirem em estabelecimento federal.
20
Por fim, o § 9º, art. 2º da Lei 12.850, de 2013, foi acrescido pela Lei 
Anticrime e prevê que o condenado por integrar organização criminosa 
não poderá progredir de regime de cumprimento de pena se houver 
indícios de que ainda mantêm os vínculos associativos. 
O objetivo é desestimular o condenado, mesmo depois de preso, a 
manter-se ligado às facções criminosas, impedindo-o de progredir de 
regime de cumprimento de pena caso o faça. Essa situação, infelizmente 
comum ao cárcere brasileiro, representa um reproche desonroso ao 
sistema penitenciário, além de, dada a natureza permanente do crime 
de organização criminosa, ferir os propósitos preventivos da sanção 
penal.
Logo, se trata de uma condição legal especial para o condenado 
obter a progressão de regime e que reclama indícios suficientes que 
demonstrem a manutenção dos vínculos associativos. Devido a relação 
entre a condenação original e a hipótese normativa que impede a 
progressão não se vislumbra inconstitucionalidade por violação ao 
princípio da individualização da pena afinal essas circunstâncias devem 
ser aferidas em casos peculiares e de forma própria.
O crime organizado, por sua vez, se notabilizou por uma variedade de 
métodos profissionais para a prática de crimes altamente rentáveis, 
que não era eficazmente investigado pelos sistemas investigatórios 
tradicionais. Além disso, em razão do movimento de internacionalização 
do crime, desconhecedor de fronteiras geopolíticas e a inevitável 
constatação de que seu enfrentamento reclamava uma atuação 
homogênea em todo o mundo, compromissos internacionais passaram 
a moldar o modo de atuação. A Lei nº 12.850, de 2013, tem essa origem 
e essa característica. Suas previsões penais encontram especificidade 
nestas pretensões, sendo a colaboração premiada o instrumento que 
a notabiliza, principalmente devido ao desbaratamento e de grandes 
esquemas de corrupção recentemente processados no Brasil. 
21
Referências Bibliográficas 
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Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. Brasília, DF: Presidência 
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dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações 
penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá 
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2013]. Disponível em: 
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22
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23
Lavagem de dinheiro
Autoria: Renee do Ó Souza
Leitura crítica: Juliana Caramigo Gennarini
Objetivos
• Noções introdutórias sobre a lei de lavagem de 
dinheiro.
• Entender a evolução legislativa envolvendo o tema 
referente à lavagem de dinheiro.
• Analisar as principais características penais da Lei nº 
9.613, de 1998.
24
1. Introdução
Embora a percepção de que várias condutas criminosas eram 
desempenhadas em busca dos lucros que essa atividade pudesse 
produzir, a legislação penal somente contemplou essa percepção 
depois de algum tempo. Desse modo, somente depois que a punição 
dos responsáveis por crimes altamente lucrativos passou a ganhar a 
atenção do legislador, aumentou a necessidade de se apreender todas 
as vantagens econômicas decorrentes deles, mudança que resultou na 
necessidade de edição de leis mais adequadas a tanto.
Assim, seguindo a nova tradição de internacionalização do direito penal, 
segundo o qual, devido a transnacionalidade de determinadas condutas 
consideradas criminosas, as Nações Unidas estimularam a edição de leis 
em todo o mundo para o enfrentamento da criminalidade, foi editada a 
Lei de Lavagem de Capitais. Nesse sentido, a lei surgiu do compromisso 
assumido pelo Brasil na Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico 
de Drogas e Substâncias Psicotrópicas – conhecida como Convenção 
de Viena, celebrada no ano de 1988 e ratificada pelo Decreto nº 154, de 
1991.
Nesse diploma é que está a origem da ideia de criminalizar o 
procedimento utilizado para mascarar a origem ilícita de valores, o que 
foi denominado de lavagem ou branqueamento de capitais. O projeto de 
Lei foi elaborado por comissão presidida pelo Ex-Ministro Nelson Jobim 
e contou com a participação de juristas brasileiros, como Vicente Greco 
Filho, Rene Ariel Dotti, Francisco de Assis Toledo e Miguel Reale Júnior.
Além disso, deve-se atentar que a Lei nº 9.613, de 1998, devido à pouca 
efetividade e supostas falhas redacionais, sofreu em 2012 umareforma 
significativa por meio da Lei nº 12.683, de 2012, e que proporcionou 
correções e avanços no enfrentamento à lavagem de dinheiro no Brasil.
25
A necessidade de reforma da lei foi apontada pelo Grupo de Controle de 
Atividades Financeiras (GAF), que concluiu que a legislação brasileira era 
obsoleta, o que serve de reforço a atuação internacional do direito penal 
atual.
2. Alterações e reforma pela Lei 12.683, de 2012
As mudanças na referida lei ocorrem a respeito da extinção do rol de 
infrações antecedentes, aprimoramento das medidas assecuratórias, 
ampliação dos agentes obrigados a fazer comunicações de operações 
suspeitas.
 2.1 Extinção do rol de crimes antecedentes
No afã de definir os crimes que produziam grandes vantagens 
financeiras e econômicas, de modo a chamar a atenção para este 
tipo de racionalidade criminológica, o legislador acabou prevendo, 
inadvertidamente, um rol que infrações que antecediam a prática 
da lavagem de dinheiro. Essa lista produziu um efeito seletivo e 
obstacularizante à configuração da lavagem de dinheiros no Brasil, 
isso porque não haveria infração no caso de cometimento de outros 
crimes antecedentes não previsto no rol, ainda que resultassem em 
vantagens patrimoniais significativas e, ainda que houvesse ocultação ou 
dissimulação desses bens ou vantagens. No quadro a seguir, podemos 
verificar a disposição original da Lei nº 9.613, de 1998.
Quadro 1–Prática do crime de lavagem
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, 
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou 
valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: 
26
I – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II – de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei nº 
10.701, de 9.7.2003)
III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material 
destinado à sua produção;
IV – de extorsão mediante sequestro;
V – contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si 
ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, 
como condição ou preço para a prática ou omissão de atos 
administrativos;
VI – contra o sistema financeiro nacional;
VII – praticado por organização criminosa;
VIII – praticado por particular contra a administração pública 
estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei nº 2.848, de 
7 de dezembro de 1940 – Código Penal). (Inciso incluído pela Lei nº 
10.467, de 11.6.2002)
Pena: reclusão de três a dez anos e multa.
Fonte: adaptado de Brasil (1998).
A alteração promovida pela Lei nº 12.683, de 2012, revogou o rol de 
crimes antecedentes, retirando a suposta e eventual taxatividade e, 
ainda, de forma adequada, a lei substituiu a expressão “crime” por 
“infração penal”, a fim de contemplar as contravenções penais como 
infração antecedente da lavagem de dinheiro.
Contudo, a doutrina aponta a necessidade de que o crime antecedente 
tenha natureza produtora de bens, direitos ou valores capazes de serem 
27
ocultados. Se a infração não produzir esse tipo de efeito, não haverá 
como incluí-la como antecedente ao crime de lavagem.
 2.2 Aprimoramento das medidas assecuratórias
Nesse ponto, a reforma penal atende aos reclamos da criminologia 
econômica, em que o encarceramento de acusados nesta espécie de 
delitos pouco colabora para o enfrentamento dessas infrações. Nesses 
casos, a eficácia do direito penal deve ser robustecida por medidas 
que buscam a recuperação dos valores ilícitos desviados, naquilo que é 
denominado de despatrimonialização do criminoso.
Logo no art. 4º, a Lei nº 12.683, de 2012, aborda sobre a alienação 
antecipada que implica em diligência por meio do qual são alienados 
todos os bens que se encontram constritos, quando verificado que 
decurso do tempo pode causar risco de danos, perecimento ou 
depreciação de seus valores. Observe que a norma abrange não 
somente os bens que sejam instrumentos, produto ou proveito de crime 
previstos na lei de lavagem, mas também das infrações antecedentes. 
Isso significa que o judiciário poderá vender antecipadamente bens 
como carros, iates, aeronaves e outros, desde que mantê-los em 
depósito produza algum daqueles efeitos.
 2.3 Ampliação dos sujeitos obrigados
Uma das grandes inovações da Lei de Lavagem de dinheiro foi investir 
agentes privados em deveres de comunicar às autoridades públicas 
acerca de clientes que realizam as chamadas operações suspeitas. Desse 
modo, trata-se de uma política ousada em que o Estado compartilha o 
dever de detecção de atos suspeitos para a iniciativa privada, obrigando-
os a realizar reportes para autoridades públicas (BRASIL, 2012).
28
Dada a sofisticação e poder econômico dos agentes que realizam 
lavagem de dinheiro, a legislação cria essas obrigações de comunicação 
como inerentes ao sistema financeiro de modo que seus integrantes 
agem como “gatekeepers”. A reforma de 2012, portanto, amplia o rol de 
agentes obrigados a realizar essas comunicações, de modo a ampliar o 
raio de alcance de atuação sobre essas operações suspeitas, conforme 
se verifica do art. 9º, 10 e 11 da Lei nº 9.613, de 1998.
3. Definição de lavagem de capitais
Em sentido vulgar, podemos entender a expressão lavagem como uma 
metáfora que traduz a ideia de que o dinheiro sujo, porque proveniente 
de uma infração penal antecedente, é lavado, limpo, quando passa a 
ter aparência de lícito. Em outros países, como Espanha e Portugal, é 
utilizada a expressão branqueamento de capitais, terminologia evitada 
no Brasil pelo legislador porque poderia sugerir uma referência racista 
ao vocábulo.
A lavagem de capitais deve ser entendida como um conjunto de atos 
praticados para ocultação da natureza, localização e propriedade 
de bens, direitos ou valores de origem delituosa, com o objetivo de 
reintroduzi-los à economia formal com aparência lícita. Esses atos são 
enganosos e visam a adulteração da origem destas vantagens. Nesse 
sentido, predomina o entendimento de que é necessário alguma 
operação financeira para tanto, ainda que razoavelmente simples. 
Assim, por exemplo, o depósito de dinheiro obtido por meio de crime 
em conta corrente de um parente para mascarar a origem ilícita já é 
suficiente para caracterização do delito (BRASIL, 2001).
29
4. Fases da lavagem de capitais
As fases da lavagem de capitais são atribuídas ao GAF (Grupo de Ação 
Financeira sobre Lavagem de Dinheiro), formado pelos sete países 
mais ricos do mundo, e que tem como objetivo coordenar o combate à 
lavagem de capitais em todo o mundo.
Embora controvertido, entende-se que a lavagem de capitais é praticada 
em três etapas sucessivas:
a. 1ª fase: colocação (placement): é a etapa em que o dinheiro ilícito 
é introduzido no sistema financeiro, visando ocultar sua origem 
e infração antecedente. Ele pode ser praticado mediante várias 
técnicas, como a smurfing, que consistente na pulverização de uma 
grande quantia em pequenos depósitos, expediente que visa não 
levantar suspeitas na operação.
b. 2ª fase: dissimulação/mascaramento (layering – colocar camadas): 
é a fase em que o agente realiza diversas operações financeiras 
que visam dificultar e ocultar o rastreamento da origem ilícita dos 
valores forte, na crença de que quanto maior a movimentação, 
maior a distância dos valores de sua origem ilícita.
c. 3ª fase: integração (integration): os numerários são formalmente 
incorporados ao sistema financeiro. Ela pode ocorrer de dois 
modos: no próprio mercado (mobiliário ou imobiliário) ou no 
refinanciamento de atividade ilícita originária.
Sobre as fases apresentadas anteriormente, com percuciência, ensina 
Cardoso (2020 apud CUNHA; PINTO; SOUZA, 2020, p. 1310):
No estudo doutrinário da lavagem de dinheiro, é na fase da ocultação 
(dissimulação) que efetivamente a lavagem ocorre. Assim, a fase da 
ocultação pode ser considerada a “fase-chave” da lavagem. Seria o core 
business da lavagem. Se olharmos para o processo de lavagem de dinheiro 
como uma linha de produção, teríamos na fase dacolocação o momento 
30
inicial, no qual a matéria-prima é inserida na linha de produção para a 
obtenção do objeto a ser produzido.
A fase da integração, por sua vez, seria a etapa final de produção; aquela 
em que o produto, já finalizado e pronto para o consumo, deixa a linha 
de produção e se encontra preparado para o envio ao destinatário 
final. E entre essas duas fases se encontra justamente a ocultação, no 
momento em que ocorre a transformação da matéria-prima; quando são 
realizados os diversos procedimentos necessários para que aquele insumo 
inicialmente inserido possa se transformar no produto final desejado.
Portanto, para a consumação do crime não é absolutamente necessária 
a ocorrência das três fases citadas, mas simplesmente para um estudo 
didático do crime.
5. Bem jurídico tutelado
Uma questão controvertida é sobre o bem jurídico tutelado pela Lei nº 
9.613, de 1998. Nesse sentido, há pelos menos quatro correntes:
a. A lei de lavagem tutela o mesmo bem jurídico tutelado no crime 
antecedente, não sendo bem aceita porque não é adequado 
conceber que um crime tutele bens jurídicos diferentes a 
depender do crime antecedente cometido.
b. Semelhante ao que ocorre com o crime de favorecimento real 
(BRASIL, 1940, art. 349), em que o agente oculta para tornar 
seguro o proveito do crime, o bem jurídico protegido é a 
administração da justiça.
c. A lei protege a ordem-econômico-financeira, pois a lavagem 
de capitais provoca desequilíbrio no mercado, nas relações de 
consumo, na livre concorrência e no sistema financeiro sem si.
d. A lei defende mais de um bem jurídico – tanto a administração 
da justiça, como a ordem econômico-financeira, como o bem 
31
protegido pelo crime antecedente. Desse modo, trata-se de crime 
pluriofensivo.
6. Acessoriedade da lavagem de capitais
Assim, considerando que a caracterização da Lavagem de Capitais 
depende da prática de uma infração penal antecedente (vide art. 1º), 
pode-se afirmar tratar-se de crime acessório ou parasitário (aquele em 
que sua tipificação está atrelada a outro, como: receptação, peculato 
mediante erro). Isso significa que sem a infração penal antecedente, não 
há que se falar em Lavagem de Capitais.
Todavia, isso não deve resultar na necessidade de comprovação cabal 
do crime antecedente. Assim, deve-se considerar a previsão do inciso II 
do art. 2º da Lei, que dispõe que:
O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
[...] II–independem do processo e julgamento das infrações penais 
antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz 
competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade 
de processo e julgamento.
[...] § 1º do art. 2º: § 1º  A denúncia será instruída com indícios suficientes 
da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos 
previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou 
extinta a punibilidade da infração penal antecedente. (BRASIL, 1998, [s.p.]
Essas disposições legais implicam que a condenação pela infração 
antecedente não é condição para a caracterização da Lavagem de Capitais, 
porque podem ser essas pretensões tramitarem em processos distintos, 
independentes e autônomos.
32
Assim, observe-se que há entre esses processos uma inegável conexão 
instrumental ou probatória (BRASIL, 1941, art. 76, III). Porém, por força 
da disposição especial do art. 2º, II, cabe ao juiz que processa os crimes 
de Lavagem decidir sobre reunião desses processos.
A acessoriedade, por sua vez, é limitada (teoria da acessoriedade 
limitada), pois a absolvição pela infração antecedente poderá ou não 
influenciar na condenação do crime de lavagem de capitais, dependendo 
do seu fundamento:
• Se houver absolvição porque reconhecida a atipicidade da infração 
antecedente, obrigatoriamente, não haverá Lavagem.
• Se houver absolvição por causa da excludente de ilicitude na 
infração antecedente, também, não será possível sua condenação 
na lavagem.
• Se houver absolvição por causa excludente de culpabilidade pode 
ocorrer condenação na Lavagem, visto que a infração antecedente 
permanece como típica e antijurídica.
• Se houver extinção da punibilidade das infrações antecedentes, 
é possível condenação pela Lavagem. Há duas exceções, porém: 
caso haja anistia e abolitio criminis, porque, nesses casos, a 
infração antecedente deixa de existir.
7. Sujeito ativo da lavagem de capitais
O sujeito ativo de capitais se trata de crime comum, porque pode ser 
praticado por qualquer pessoa, sem necessidade de qualquer qualidade 
especial.
A lei penal brasileira só pune as pessoas físicas pelo crime de lavagem. 
As pessoas jurídicas, quando muito, podem ser responsabilizadas 
33
administrativamente, tese apontada pelo Brasil como suficiente para 
afastar eventual inadimplência internacional.
8. Sujeito passivo
A depender da teoria do bem jurídico tutelado, pode-se identificar como 
sujeito passivo a coletividade, o Estado etc.
9. Autolavagem (self laudering)
Por sua vez, ocorre autolavagem quando o mesmo indivíduo que 
responde pela infração penal antecedente é criminalmente processado 
pelo delito de lavagem de capitais. Sobre o tema, portanto, há duas 
correntes:
a. A autolavagem não é possível, pois, semelhante ao que ocorre 
com o crime de favorecimento real, o agente que oculta os 
produtos e proveitos de sua ação criminosa está simplesmente 
dando sequência à ação criminosa anterior. Ele está na fase 
de exaurimento do delito e é conduta que de certo modo está 
acobertada pela vedação a autoincriminação.
b. A autolavagem é possível e é crime, pois a estrutura típica 
da Lei 9.613, de 1998, se comparada à do art. 349 do CP é 
bastante diferente. Os atos caracterizadores da lavagem são 
mais sofisticados e constituem etapa autônoma no trabalho 
de ocultação do proveito do crime, razão pela qual viola bens 
jurídicos diversos e não pode ser entendido como mero 
exaurimento da infração antecedente. É a posição majoritária. 
Neste sentido:
34
[...] A lavagem de dinheiro pressupõe a ocorrência de delito anterior, sendo 
próprio do delito que esteja consubstanciado em atos que garantam ou 
levem ao proveito do resultado do crime anterior, mas recebam punição 
autônoma. Conforme a opção do legislador brasileiro, pode o autor do 
crime (leia-se infração penal) antecedente responder por lavagem de 
dinheiro, dada à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à autonomia 
deste delito. (BRASIL, 2011, [s.p.]).
Além disso, prevalece o entendimento firme que o sujeito ativo da 
Lavagem de Capitais não necessariamente deve ter concorrido para 
a prática da infração antecedente. Logo, basta que tenha ciência da 
origem ilícita dos bens ocultados.
10. Advogado como sujeito ativo de lavagem de 
capitais
Considerando que são crimes comuns, cometidos por quaisquer 
pessoas, os advogados podem ser sujeitos ativos do crime de lavagem 
de capitais.
A questão que se coloca neste tema é se o advogado tem obrigação 
de comunicar operações suspeitas ao COAF, como os gatekeepers? 
Para responder à pergunta, você precisa verificar o rol de pessoas 
obrigadas a fazer essas comunicações previstas no art. 9º da Lei, mais 
especificamente o inciso XIV do parágrafo único do art. 9º (BRASIL, 1998).
A compreensão do tema parte da necessidade de compreender a 
função do advogado em dois grandes grupos: aqueles que atuam 
na representação contenciosa, quando então não teria o dever de 
comunicação de operação suspeita e aqueles que especializados 
em consultoria não processual, quando sua atuação se dá 
independentemente de estar relacionada a algum processo judicial ou 
35
administrativo, quando, para alguns, lhe seria obrigatório o dever de 
comunicação.
Porém, atualmente, prevalece que essa distinção é considerada 
irrelevante, de modo que tanto o COAF como a OAB entendem inexistir 
o dever de comunicação por advogados de operações suspeitas.
No entanto, a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem 
de Dinheiro, nofinal de 2019, recomendou ao Conselho Federal 
da Ordem dos Advogados do Brasil que edite regulamentação aos 
advogados para o cumprimento das obrigações previstas na Lei n° 
9.613, de 1998, observado o regime de inviolabilidade e o sigilo nas 
relações entre o advogado e o cliente nos termos da Lei nº 8.906, de 
1994 (Estatuto da OAB), o que deve trazer o tema de volta à baila.
11. Análise do tipo objetivo
O art. 1º, caput, da Lei nº 9.613, de 1998, tem dois núcleos verbais, a 
saber: ocultar (esconder algo) e dissimular (encobrir/disfarçar algo). 
Logo, trata-se de tipo misto alternativo ou de conteúdo variado em que 
a prática de apenas um dos verbos já suficiente para caracterização do 
delito.
Caso o ativo seja empregado na compra de um bem imóvel ou, 
simplesmente, depositado em uma conta corrente, porque não há 
nesses casos ocultação ou dissimulação, não há lavagem de capitais.
36
12. Limites entre a infração antecedente e 
início da Lavagem de capitais
A fim de compreender a autonomia do crime de lavagem de capitais, 
devemos entender o momento em que a infração antecedente já se 
consumou e os novos atos praticados pelo agente caracterizam atos 
executórios do crime de lavagem. Assim, majoritariamente, entende-se 
que a lavagem só tem início quando o agente pratica atos que visem 
atribuir aparência lícita aos valores obtidos da infração antecedente.
Isso implica em reconhecer que atos desvestidos deste propósito não 
configuram lavagem de capitais, como: esconder dinheiro no colchão ou 
armário de casa ou, até mesmo, adquirir bens imóveis em registrá-lo em 
nome do próprio acusado.
Há, portanto, duas posições sobre o momento consumativo do crime de 
lavagem de capitais:
a. Consuma-se quando realizados os atos destinados a mascarar 
a origem ilícita dos bens. Trata-se de crime instantâneo. 
A manutenção dos bens ocultados ou dissimulados é 
desdobramento ordinário e decorre dos atos iniciais.
b. A ocultação e a dissimulação são mantidas, em razão de uma 
conduta permanente do agente de mantê-los desta forma, o 
que caracteriza a o crime como permanente. Deste modo, a 
consumação se prolonga no tempo e perdura enquanto os bens 
permanecem ocultados e dissimulados.
Desse modo, note que o famoso caso contido na Ação Penal nº 863, a 1ª 
Turma do STF condenou Paulo Maluf por Lavagem de Capitais praticados 
na década de 1990, e considerou tratar-se de crime permanente vez que 
o réu manteve os valores ocultos no exterior.
37
13. Análise do tipo subjetivo: dolo e cegueira 
deliberada
O crime é essencialmente doloso, não havendo previsão de modalidade 
culposa. Logo, admite-se tanto o dolo direito como o eventual. Por sua 
vez, a possibilidade de caracterização pelo dolo eventual desembocou 
em casos em que este elemento subjetivo foi aferido por meio da 
chamada teoria da cegueira deliberada (willful blindeness). De acordo 
com Badaró e Bottini (2016, p. 143):
[...] são casos nos quais o agente tem por possível a prática de ilícitos 
no Âmbuto em que atua, e cria mecanismo que o impedem de obter ou 
aperfeiçoar o conhecimento dos fatos. É o caso do doleiro que suspeita 
que alguns de seus clientes podem lhe entregar dinheiro sujo para 
operações de câmbio e, por isso, toma medidas para não receber qualquer 
informação mais precisa sobre sua procedência. A intencionalidade do 
agente em se colocar deliberadamente em situação de ignorância afastaria 
o erro de tipo e legitimaria o reconhecimento do dolo.
Figura 1 – A cegueira do avestruz
.
Fonte: Ceneri/iStock.com. 
38
O emblemático caso referente à compra de inúmeros carros importados 
em uma concessionária pelos criminosos que cometeram um dos 
maiores assaltos do Brasil, em que onze veículos foram comprados, 
num sábado, num total de R$ 980.000,00, pagos em notas de R$ 50,00 
transportadas em sacos de nylon, circunstâncias suficientes para 
indicar condutas suspeitas, que, por sua vez, deviam ser comunicadas 
às autoridades. Ao não fazer a comunicação, aqueles empresários 
assumiram o risco de produzir o resultado motivo pelo qual foram 
condenados pelo juiz de 1ª instância.
No âmbito da Lavagem de capitais, a teoria da cegueira deliberada 
encontra fartas possibilidades, pois os operadores do sistema financeiro 
têm obrigações inerentes à sua função – como conhecer seus clientes 
e a procedência do dinheiro deles -, que suas omissões deliberadas 
não podem servir-lhes de escudo protetivo porque esta conduta não é 
legalmente admitida.
14. Objeto material do crime: produto ou 
proveito da infração penal
A lei afirma que o objeto material dos crimes de lavagem de capitais 
são os bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, 
de infração penal, abarcando, desse modo, os produtos diretos e 
os indiretos da operação delinquencial (BRASIL, 1998). Mas cuidado, 
pois não integram o objeto material da lavagem de dinheiro: a) os 
instrumentos do crime e b) os bens cuja posse ou detenção constitui 
fato ilícito, como drogas ou armas, puníveis como delitos autônomos.
39
15. Lavagem de capitais e organização 
criminosa
Não raro, a lavagem de capitais é praticada em meio a uma organização 
criminosa sofisticada, que opera em meio uma atividade empresarial 
que atua no sistema financeiro, o que indubitavelmente enseja uma 
sofisticação operacional que dificulta a atuação repressiva e persecutória 
estatal. Em razão disso, a lei prevê que a pena do crime de lavagem 
pode ser aumentada de um a dois terços.
16. Competência do crime de lavagem de 
capitais
Embora haja alguma controvérsia, prevalece que o crime de lavagem de 
capitais é ordinariamente de competência estadual e somente será da 
justiça federal quando presentes alguma das situações previstas no art. 
2º, III, da Lei nº 9.613, de 1998.
Portanto, cumpre anotar ainda a possibilidade de o poder judiciário 
estruturar varas especializadas destinadas ao processamento e 
julgamento de crimes de lavagem de capitais, medida recomendável 
ante as peculiaridades que o tema possui e que reclama expertise 
própria.
17. Ação controlada e agente infiltrado no 
enfrentamento à lavagem de dinheiro
Por sua vez, a lei anticrime fez uma única alteração na Lei de Lavagem 
e acrescentou o § 6º ao art. 1º que a passou a prever que: “Para a 
apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da 
40
ação controlada e da infiltração de agentes” (BRASIL, 2012). Assim, 
trata-se de disposição que torna claro que essas técnicas especiais de 
investigação não são exclusivas de investigações de crimes previstos 
na lei de drogas ou ligados à organização criminosa. A complexidade e 
sofisticação na realização da lavagem de dinheiro reclama o emprego 
dessas técnicas de investigação, sendo esse o mérito da alteração 
legislativa acima. Neste sentido,
Isso significa, portanto, que a investigação do delito de branqueamento 
de ativos, com a novel inserção do § 6º no art. 1º da Lei nº 9.613/98, já não 
dependerá da existência de uma organização criminosa para que se faça 
uso de tais técnicas. No crime organizado, a investigação criminal termina 
exposta a uma esforçada descaracterização dos elementos informadores 
da organização criminosa a cada vez que tais medidas são utilizadas, e, 
ante a redação dos dispositivos legais, essa é uma questão de técnica 
jurídica, não uma ‘tecnicalidade’, sendo que, no que diz respeito ao delito 
de lavagem, já não será mais necessário descer a tais meandros. Com a 
Lei nº 13.964/2019, por igual a lavagem de bens e ativos praticada fora 
do ambiente normativo próprio das organizações criminosas poderá dar 
ensejo à ação controlada e à infiltração de agentes. (TEIXEIRA, [s.d.] apud 
SOUZA, 2020, p. 272-273)
A lei de lavagem de capitais, Lei 9.613, de 1998, ocupa papel central 
nos dias de hoje no enfrentamento da criminalidade econômica, visto 
que destinada essencialmente a despatrimonialização de criminosos 
que agem em determinados nichos altamente lucrativos. A evolução 
da lei no Brasil é exemplo claro de comoo aperfeiçoamento legislativo 
penal é necessário para acompanhar as novas formas e espécies de 
criminalidade. Nesse ponto, destaca-se a política criminal de tendência 
gerencialista e colaborativa, em que a atividade estatal repressiva conta 
com a participação de agentes privados – os gatekeepers, de modo a 
proteger melhor determinados bens jurídicos, o que acontece também 
na política whistleblowing e de compliance.
41
Referências Bibliográficas
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Aspectos penais e processuais penais. 3. ed. São Paulo: RT, 2016.
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Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. Brasília, DF: Presidência 
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ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema 
financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de 
Atividades Financeiras–COAF, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da 
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42
TEIXEIRA, Bruno Cezar da Cunha. Ação controlada e infiltração de agentes na 
lavagem de bens e ativos. In: SOUZA, Renee do Ó (org.). Lei anticrime: comentários 
à Lei 13.964/2019. Belo Horizonte: D’Plácido, 2020. 
43
Execução Penal
Autoria: Renee do Ó Souza
Leitura crítica: Juliana Caramigo Gennarini
Objetivos
• Noções introdutórias sobre execução penal.
• Entender o sistema de direitos, deveres e infrações 
prevista na Lei de Execução Penal.
• Analisar o sistema progressivo de penas da lei 
brasileira.
44
1. Introdução
A correta compreensão da natureza jurídica da execução penal como 
de caráter jurisdicional serve para resolução de questões relacionadas 
ao desenvolvimento de suas atividades, muito embora seja correta 
a ideia da teoria geral do processo, em que essa etapa é destinada a 
realização ou efetivação do título executivo constituído no processo de 
conhecimento.
Mas, inegavelmente, a finalidade do processo de execução penal vai 
muito além de dar cumprimento à sentença penal condenatória. Há 
muito que às finalidades preventivas e retributivas da pena criminal 
se agregaram a uma finalidade ressocializante do delinquente, que 
busca reeducá-lo para reinseri-lo ao convívio social, proporcionando-
lhe condições para uma harmônica integração social. Isso se trata da 
finalidade expressa na Lei de Execuções Penais, em seu art. 1º (BRASIL, 
1984).
A natureza jurisdicional do processo de execução de pena é constatada 
diante da necessidade de ser deflagrado e encerrado por meio de 
decisões judiciais, além das inúmeras decisões proferidas ao longo 
do processo de execução relativas aos incidentes de execução. Logo, 
as poucas decisões proferidas pelas autoridades administrativas que 
gerenciam os estabelecimentos prisionais não são suficientes para 
caracterizar esta fase como eminentemente administrativa, pois é 
relacionada, na maioria das vezes, às questões laterais. Além disso, 
mesmo nesses casos, são decisões anuláveis/revogáveis pelo juiz da 
execução.
A competência do juiz da execução é iniciada após a expedição da 
guia de execução, documento formal que deve conter as informações 
necessárias para o processo execucional, como o nome do condenado, 
sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de 
45
identificação, inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, 
bem como certidão do trânsito em julgado, informação sobre os 
antecedentes e o grau de instrução, data da terminação da pena e 
peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento 
penitenciário. Assim, trata-se de regra de competência funcional, 
pois está relacionada à uma fase da jurisdição, em que o juiz deve 
ser definido pelas normas de organização judiciária. Desse modo, 
prevalece o entendimento de que o Juízo da execução é aquele sob cuja 
jurisdição se encontra o estabelecimento penal em que o executado 
cumpre a pena privativa de liberdade. Isso significa que a transferência 
do preso de um estabelecimento para outro implica em modificação 
de competência e no encaminhamento dos autos de execução. Nesse 
sentido, deve-se destacar, ainda, as regras contidas no art. 2º, que 
é competência do juízo de execução o processo em face de o preso 
provisório e o condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando 
recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária (BRASIL, 1984).
O preso provisório, por sua vez, é aquele que ainda não foi condenado 
definitivamente, seja porque responde ao processo em primeira 
instância ou nas demais. Portanto, você deve compreender que a LEP 
permite que seja iniciada a execução provisória da pena do preso com 
o objetivo de adiantar o acesso à alguns benefícios penais, o que em 
última análise prestigia o princípio da isonomia. A LEP assegura-lhe os 
mesmos direitos e deveres conferidos ao preso definitivo, guardadas 
algumas diferenças de tratamento que decorrem dessa condição 
especial, como a facultatividade no trabalho prisional que só poderá 
ser executado no interior do estabelecimento (BRASIL, 1984, art. 31, 
parágrafo único). Desse modo, a LEP prevê que o preso provisório deve 
cumprir sua pena em separado do condenado (BRASIL, 1984, art. 84). 
Todavia, a referida leia prevê a possibilidade de ser aplicado o RDD, em 
facede pessoa presa provisoriamente (BRASIL, 1984, art. 52).
46
2. Princípios aplicáveis
A aplicação prática dos princípios e direitos fundamentais na execução 
penal é um tema que nem sempre é bem assimilado, fruto de 
uma confusão decorrente da fase executiva em que se encontra a 
persecução penal, mas que não deve impedir que produzam efeitos na 
concretização das sanções penais pelo Estado.
Isso porque a disciplina da execução das penas costuma ser estudada 
de modo autônomo em relação ao Direito Penal e ao Direito Processual 
Penal. Porém, ainda que a execução penal tenha as suas especificidades, 
não há como compreendê-la de modo totalmente afastado desses 
ramos. Assim, é inquestionável que devem ser observados os postulados 
gerais da ciência jurídica criminal. Em especial, deve-se sempre fazer 
incidir sobre a execução das penas as balizas dos direitos fundamentais 
de primeira geração, já que o regime jurídico da execução penal deve 
servir como limitador do poder punitivo do Estado.
De acordo com grande parte dos doutrinadores, concebem-se como 
princípios informadores do Direito da Execução Penal os seguintes: 
I–princípio da humanidade das penas; II–princípio da legalidade; III–
princípio da personalização da pena; IV–princípio da proporcionalidade 
da pena; V–princípio da isonomia; VI–princípio da jurisdicionalidade; 
VII–princípio da vedação ao excesso de execução; e, VIII–princípio da 
ressocialização.
Deste relevante princípio, por sua vez, deriva o princípio da humanidade 
das penas, responsável por afastar da execução punição que fira a 
dignidade humana, como as penas de morte, de caráter perpétuo e 
cruéis. Pela leitura do art. 5º, incisos III e XLVII, da Constituição Federal 
de 1988, já se obtém o sentido do princípio, a se relevar como garantia 
intrínseca ao condenado contra atos desumanos e degradantes na 
execução da pena que lhe é imposta.
47
Já o princípio da legalidade, a incidir sobre a execução penal, aparece 
insculpido no art. 3º da LEP, o qual estabelece que “ao condenado e 
ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela 
sentença ou pela lei” (BRASIL, 1984).
O princípio da personalização da pena, por sua vez, se refere à 
imposição da pena ao acusado em função de sua culpabilidade, de 
modo que ela seja executada segundo sua personalidade e seus 
antecedentes (BRASIL, 1984, art. 5º). Ou seja, o preso deverá ser 
submetido a uma classificação, a ser feita pela Comissão Técnica de 
Classificação (CTC), para que seja avaliada sua personalidade e adequar 
o cumprimento da sanção às suas características – permitindo, por via 
de consequência, uma melhor aplicação da pena.
O princípio da proporcionalidade da pena, que consiste em estabelecer 
a efetiva correspondência entre a classificação do preso e o modo pelo 
qual a pena será executada, de acordo com o art. 5º, da Lei nº 7.210, 
de 1984. Além do mencionado dispositivo, o item 26 da Exposição de 
Motivos da Lei de Execução Penal disciplina que o princípio em evidência 
é atendido na medida em que se classificam os condenados, “de modo 
que a cada sentenciado, conhecida a sua personalidade e analisado 
o fato cometido, corresponda o tratamento penitenciário adequado” 
(BRASIL, 1984).
Outro importante princípio da execução penal é o da isonomia, 
dispondo que não haverá qualquer distinção entre os presos de cunho 
racial, social ou político (BRASIL, 1984, art. 3º, parágrafo único, item 23 da 
Exposição de Motivos).
Portanto, sobre o princípio da jurisdicionalidade, convém reiterar a 
questão da natureza complexa da execução penal, compreendendo-se 
que ela é predominantemente jurisdicional. Dessa maneira, não foge 
das características do Direito da Execução Penal a jurisdicionalidade, 
a figurar através da intervenção da autoridade judiciária em diversos 
48
casos, como no livramento condicional e na progressão ou regressão de 
regimes.
No âmbito da execução penal, há, também, o princípio da vedação ao 
excesso de execução, que é reflexo da regra do respeito à formação 
da coisa julgada, insculpida no brilhante art. 5º da Constituição Federal 
(1988), mais especificamente em seu inciso XXXVI. Ora, se a própria Lei 
nº 7.210, de 1984, coloca como objetivo da execução penal efetivar as 
disposições da decisão criminal/sentença (BRASIL, 1984, art. 1º), não há 
como conceber qualquer ato que seja realizado no bojo da execução 
fora dos limites fixados na sentença, por exemplo, estabelecendo o 
regime de cumprimento de pena ou a quantidade de penas diferentes 
daquele que já está estabelecido no título executivo.
Além disso, deve ser cumprido o princípio da ampla defesa e 
contraditório. Neste sentido,
Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da 
execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento 
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o 
direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor 
público nomeado. (BRASIL, 2020)
Por fim, cabe destacar o relevante princípio da ressocialização 
(reintegração social) do condenado, visto que é por meio deste 
postulado que se embasa qualquer interpretação que se possa ter 
das normas contidas na lei aqui em relevo. Já menciona o primeiro 
dispositivo da LEP que a execução tem por objetivo proporcionar 
condições para a harmônica integração social do condenado, além do 
item 14 da Exposição de Motivos estabelecer que a tendência é de que 
a pena deva realizar a reincorporação do autor à comunidade. Logo, 
destaca-se que a prática de fato definido como crime doloso no curso da 
execução penal caracteriza falta grave, independentemente do trânsito 
em julgado de eventual sentença penal condenatória (BRASIL, 2020).
49
Assim, podemos notar que muitos destes princípios apresentam íntima 
ligação com os chamados Direitos Humanos, os quais são aqueles 
direitos fundamentais inerentes a toda pessoa, pelo próprio fato de ser 
humano. Diz-se, assim, que os direitos humanos não são concedidos, 
mas devidos a todo homem pela sociedade política. O que se pretende 
alcançar é a efetiva proteção destes direitos, sendo necessário, para 
tanto, estabelecer mecanismos eficientes como forma de garantir os 
direitos fundamentais reconhecidos. Entre aqueles princípios erigidos 
como fundamentos do Estado Democrático de Direito pela Constituição 
Federal de 1988, destaca-se o princípio da dignidade da pessoa humana, 
disposto no art. 1º, inciso III (BRASIL, 1988).
3. Direitos do preso
O processo histórico de humanização do cumprimento das penas 
caracterizou-se pela atuação estatal capaz de assegurar aos presos uma 
condição mínima e com dignidade humana. A obrigação de suportar 
o ônus com o sustento e necessidades básicas do preso durante sua 
custódia sofreu ao longo do tempo um alargamento, a ponto de serem 
previstas na legislação um rol de direitos assistenciais mais amplos. 
A assistência a ser prestada, conforme elenca o art. 11 da LEP, será: 
I – material; II – à saúde; III – jurídica; IV – educacional; V – social; VI – 
religiosa (BRASIL, 1984).
A LEP tem dispositivo que enuncia vários direitos do preso, no art. 41, 
bem como um rol de deveres, no art. 39, do qual você deve estudar 
com mais destaque o trabalho (BRASIL, 1984). Logo, ainda de acordo 
com a LEP, trata-se de um direito do preso (art. 41, II) e um dever social 
do condenado (arts. 28 e 39, V). O dever de o preso condenado de 
trabalhar não pode ser confundido com trabalhado forçado (BRASIL, 
1988, art. 5º XLVII, C), que é caracterizado pela gratuidade e ausência de 
50
contraprestação. Além disso, o trabalho deve ser moldado na medida de 
suas aptidões e capacidade.
Figura 1 – Trabalho interno
Fonte: chrisjo/iStock.com. 
Figura 2 – Trabalho externo
Fonte: ftwitty/iStock.com. 
51
O complemento sancionatório ao dever de trabalhar está descrito no 
art. 50 da LEP, que dispõe que comete falta grave o condenado à PPL 
que não observar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 da LEP(BRASIL, 1984).
Já para o preso provisório, o trabalho é facultativo e, mesmo assim, 
só poderá ser executado no interior do estabelecimento. O trabalho 
do preso serve para sua instrução e a formação profissional, além 
de manter uma finalidade educativa, produtiva, profissionalizante, 
disciplinadora e desenvolvedora do senso de responsabilidade, bases 
indispensáveis para uma valorosa vida em sociedade.
4. Disciplina e deveres do preso
Se você examinar sistematicamente, perceberá que a LEP investe o 
condenado como sujeito de direitos por meio do tripé direitos-deveres-
disciplina, todos temas regulamentados no título II da Lei (BRASIL, 1984). 
A partir destes três valores, várias categorias da execução penal são 
estruturadas, razão pela qual eles exigem uma boa compreensão.
A disciplina deve ser entendida como um conjunto de normas que 
tendem a manter o respeito e a ordem entre os condenados e os 
agentes estatais, destinados ao bom andamento da atividade executória 
(BRASIL, 1984, art. 44). Observe que a estruturação dos deveres legais 
contidos na LEP, de um modo ou de outro, possui uma finalidade 
intrínseca sempre relacionada à disciplina.
As regras disciplinares estão previstas em regulamentos ou outras 
normas infralegais, cuja transgressão enseja as sanções disciplinares. 
Dada a especificação episódica e variável feita por meio desta espécie de 
normas, seu conhecimento e ciência deve ser feito de maneira expressa, 
52
por meio de assunção ao dever de submissão informado, já que não 
são presumidamente conhecidos de todos, conforme o art. 46 da LEP 
(BRASIL, 1984).
A caracterização das faltas disciplinares obedece à alguns princípios 
norteadores do direito sancionador, como legalidade, anterioridade, 
proporcionalidade, humanidade, juiz (autoridade) natural, 
intranscendência, responsabilidade subjetiva, devido ao processo legal, 
individualização das penas etc.
As sanções disciplinares estão previstas no art. 53 e variam desde a 
advertência verbal, repreensão, suspensão ou restrição de direitos (art. 
41, parágrafo único), isolamento na própria cela ou em local adequado, 
nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado 
o disposto no art. 88 da referida lei e a inclusão no regime disciplinar 
diferenciado (BRASIL, 1984). A aplicação destas sanções deve levar em 
conta a proporcionalidade do caso, bem como a natureza, os motivos, 
as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do 
faltoso e seu tempo de prisão (BRASIL, 1984, art. 57).
A sanção disciplinar mais grave é o regime disciplinar diferenciado que 
enseja restrições a direitos aos presos, voltadas às situações específicas 
previstas no art. 52 da LEP (BRASIL, 1984).
Nesse sentido, destaca-se as regras contidas na LEP referentes à 
individualização do cumprimento da pena, a começar pela contida no 
art. 5º, que dispõe que: “os condenados serão classificados, segundo 
os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização 
da execução penal” (BRASIL, 1984). Outras normas também ressaltam a 
individualização, por isso, confira a os arts. 82, parágrafo 1 e 84, caput, 
parágrafos e incisos da LEP (BRASIL, 1984).
Assim, você poderá notar que a LEP é estruturada com um sistema 
progressivo de pena, em que o condenado cumpre sua pena seguindo 
53
regras que paulatinamente lhe proporcionam restrições ao direito de 
liberdade cada vez menos rigorosas. O avanço para as sucessivas etapas 
é feito mediante cumprimento de condições objetivas e subjetivas, 
o que permite uma motivação comportamental ao condenado ao 
cumprimento das normas disciplinares. O sistema progressivo de 
cumprimento de pena, por sua vez, é estruturado em três níveis: 
fechado, semiaberto e aberto, cada qual cumprido em estabelecimentos 
penais específicos, a saber: penitenciária, colônia agrícola ou industrial e, 
por fim, casa do albergado.
5. A ressocialização e progressão de regime de 
cumprimento de pena
A Lei de execução penal afirma sobre a ressocialização do condenado, 
entendida como medidas que buscam integrá-lo ao convívio social. 
Nesse sentido, observe-se que é a pretensão de ressocializar que 
deve orientar alguns aspectos da execução da pena, razão pela 
qual se confere especial atenção à boa conduta carcerária e o 
exame criminológico, como instrumentos de individualização da 
pena na fase da execução penal. Em outras palavras, em vistas da 
ressocialização, deve-se construir prognósticos acerca da periculosidade 
e recuperabilidade do condenado.
As disposições programáticas do art. 26 da LEP instituem ao preso um 
sistema de assistência material, saúde, jurídica, educacional, social e 
religiosa, todas estendidas ao egresso, que busca sua reintegração social 
(BRASIL, 1984). Desse modo, ainda, destaca-se o disposto no art. 19, que 
estabelece a facultatividade de ensino profissional (BRASIL, 1984).
Além disso, é importante observar o disposto no art. 4º da LEP, que 
procura integrar a comunidade na execução da sanção penal, o que 
é devidamente engendrado pelos órgãos do Patronato e Conselho da 
54
Comunidade. Logo, o próprio sistema progressivo de cumprimento de 
penas (e vários outros benefícios previstos na execução penal) tem uma 
estimulante finalidade comportamental direcionada à ressocialização, 
pois pressupõe um afrouxamento paulatino na restrição da liberdade 
do condenado até sua completa libertação, mediante o cumprimento 
de etapas que servem para medir a evolução de sua reintegração social, 
conferida pelo sistema executivo.
De forma a conciliar a progressão de regime de cumprimento de pena 
com mecanismos eficazes que evitem o descumprimento das medidas 
remanescentes ao condenado, que tem deferido pedido de saída 
temporária ou cumprimento da pena em regime domiciliar, a LEP foi 
alterada em 2010, passando a prever a possibilidade da fiscalização 
dar-se por meio de monitoramento eletrônico. O instrumento está 
regulamentado pelos arts. 146-B à 146-D, caracterizado pela vigilância 
à distância do condenado por meio de instrumento móvel, cujo uso 
permite sua saída do cárcere e um aumento significativo no seu senso 
de autodisciplina. Por isso, que lei prevê os seguintes deveres para o 
condenado adotar o uso do equipamento: I–receber visitas do servidor 
responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos 
e cumprir suas orientações; II–abster-se de remover, de violar, de 
modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração 
eletrônica ou de permitir que outrem o faça (BRASIL, 1984).
No entanto, diverge a doutrina se o juiz das execuções autorizar o 
monitoramento eletrônico para outras situações diferentes às prevista 
na LEP. Caso o faça, inegavelmente, haverá desvio de execução que é 
entendido como ato praticado além dos limites fixados na sentença, 
em normas legais ou regulamentos (BRASIL, 1984, art. 185). Embora 
esse também seja o conceito de excesso de execução, as figuras 
se distinguem porque, neste último, há um conteúdo quantitativo, 
enquanto no desvio existe um conteúdo qualitativo. No excesso, 
portanto, há violação de direito do sentenciado, enquanto no desvio 
pode haver benefícios.
55
O excesso de execução mais deletério é o cumprimento de pena por 
tempo superior ao devido, violação que enseja direito a uma indenização 
proclamada pelo art. 5º, LXXV, da CF (1988), que dispõe: o Estado 
indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar 
preso além do tempo fixado na sentença.
Como podemos verificar, o excesso ou desvio de execução tem como 
pressuposto a instauração de um incidente próprio, que correrá em 
apenso ao processo de execução e que pode ser suscitado pelos 
legitimados do art. 186 da LEP, além do defensor do condenado (BRASIL, 
1984).
Portanto, constatada a violação a direito do condenado, exsurge o dever 
do estado de indenizar.
6. Direito de indenização do preso
No entanto, destacamos o direito à indenização do condenado que, 
eventualmente, cumpre excesso ou desvio

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