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Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital Autores: Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 13 de Agosto de 2020 1 Sumário Apresentação ...................................................................................................................................................... 2 Questões Preliminares ......................................................................................................................................... 3 A guerra fria começa: da doutrina truman à coexistência pacífica ................................................................... 5 A guerra da coreia e a corrida armamentista ............................................................................................. 10 A integração política da Europa................................................................................................................... 16 A URSS pós-stálin e a Revolução Húngara de 1956 .................................................................................... 20 A Revolução Chinesa e o equilíbrio de poder no sudeste asiático ............................................................... 21 A crise de Suez ............................................................................................................................................. 22 A Guerra do Vietnã e a retração americana ............................................................................................... 24 A Revolução Cubana e a Crise dos mísseis de 1962 .................................................................................... 28 A Deténte (1969-1979) .................................................................................................................................... 31 O duelo das sombras: CIA vs KGB ................................................................................................................ 31 A crise do petróleo de 1973 ........................................................................................................................ 34 A luta anticomunista na Polônia, Igreja Católica e o movimento solidariedade ........................................... 36 A Segunda Guerra Fria (1979-1993) .............................................................................................................. 38 Reagan, Thatcher e a ressurreição do liberalismo ........................................................................................ 38 A queda do muro de Berlim .......................................................................................................................... 39 As reformas de Gorbachev e o fim da Guerra Fria ..................................................................................... 42 Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 45 Lista de Questões .............................................................................................................................................. 72 Gabarito ........................................................................................................................................................... 88 Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 APRESENTAÇÃO Olá caro aluno! Depois de compreendermos o processo que levou ao estouro da segunda guerra mundial e das conferências que ocorreram durante e depois do conflito entre os aliados, vamos agora adentrar um dos mais importantes conteúdos para a prova do CACD: guerra fria! A Guerra Fria foi marcada pela tensão diplomática e conflito ideológico entre as duas “superpotências” do momento: EUA e URSS. Essa nova realidade diplomática marcou toda a segunda metade do século XX e lançou as bases para as relações diplomáticas posteriores. Em todas as provas do concurso sempre caiu Guerra Fria, e geralmente com mais de uma questão! Portanto, bastante atenção e cuidado com esse tema! Dito isso, avancemos para mais uma vitória! Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 QUESTÕES PRELIMINARES Antes de adentrarmos o conteúdo do período da guerra fria, faz-se necessário abordar algumas questões para esclarecer um pouco nosso objeto de estudo. São os seguintes pontos: como podemos entender o conceito de uma guerra “fria”? Quais são as cronologias diferentes que permeiam todo o período da guerra fria? Quais são os motivos para o surgimento deste “conflito”? Pela definição do dicionário Aurélio, guerra é “luta armada entre nações ou partidos; conflito; expedição militar; campanha; combate, peleja, luta”. Percebe-se aqui que no conceito de guerra está, ou melhor, estava implicada a ideia de contenda aberta entre dois grupos que chegariam às vias de fato. Isto é, a guerra seria “quente”. No entanto, desde o fim da segunda guerra mundial, vimos aparecer no conjunto das relações internacionais uma nova dinâmica envolvendo as duas “superpotências” – Estados Unidos e União Soviética. Os dois grandes países passaram a se antagonizar logo após o fim do maior conflito que a humanidade já vira e levaram todo o conjunto do planeta a orbitar ao seu redor – ainda que vozes houvesse que viessem a destoar de ambos, principalmente ao fim da década de 1960, como veremos depois. Interessante é observar, contudo, que embora se enxergando como rivais – e em certos momentos como verdadeiros inimigos – os dois países nunca se enfrentaram diretamente (o momento mais dramático que se aproximou de um embate direto ocorreu durante a crise dos mísseis de Cuba). Daí a expressão que viria a ser cunhada neste período de “guerra fria”. Ora, havia uma clara hostilidade latente entre ambos os países, havia enfrentamento indireto, havia vontade de minar o poder e a autoridade do outro. Entretanto, não houve conflito direto. Assim é que o dicionário Aurélio pôde acrescentar a expressão “guerra fria” como sendo “Estado de tensão entre prováveis beligerantes, que buscam prejudicar-se mutuamente por meio de quaisquer atos que não impliquem diretamente declaração de guerra”. Mas quando teria começado e acabado a guerra fria? Quais são os marcos temporais dentro desse período maior? As respostas a essas perguntas não são consensuais. Alguns historiadores consideram que a guerra fria teria se iniciado em 1945 com o lançamento das duas bombas atômicas sobre o Japão pelos EUA. Outros vão dizer que se inicia em 1947, com a enunciação da doutrina Truman e os planos econômicos de reconstrução da Europa. Quanto ao término, alguns afirmam que durou até a subida de Gorbatchev ao poder em 1985, outros que teria sido a queda do muro de Berlim em 1989, outros ainda que somente com a queda da União Soviética em 1991. Por fins didáticos, abordamos a guerra fria nesta aula como o período que vai de 1945 até 1991. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 Em relação aos períodos que no conjunto formam “a guerra fria”, temos mais conflitos entre os estudiosos. Tradicionalmente, esse momento histórico é subdividido em quatro partes: um período de tensão inicial a partir da doutrina truman até por volta de 1955; um período de coexistência pacífica (1955-1969); um período de détente (1969-1979) e um período de novas tensões (1980-1991). No entanto, alguns historiadores fazem diferentes cortes cronológicos, juntando a coexistência pacífica com a détente. Nesta aula, manteremosos cortes tradicionais do período. Por fim, vale a pena abordarmos rapidamente algumas interpretações sobre o conflito como um todo, muito embora venhamos a tocar neste assunto mais a frente novamente. Uma interpretação corrente no período da própria guerra fria tratava essas relações hostis entre URSS e EUA como um desenvolvimento natural de suas diferenças ideológicas. Isto é, percebe uma necessária rivalidade entre o comunismo e o capitalismo, cada um dos sistemas buscando a destruição do outro para sua própria sobrevivência. Essa interpretação purista do papel das ideologias no contextos mais global da guerra fria já caiu. Nenhum estudioso atual, seja do ponto de vista da história ou das relações internacionais, compartilha desta visão de maneira tão radical. Embora as diferenças ideológicas tenham sido importantes para a criação e manutenção do clima de rivalidade, não podemos imputar somente a este aspecto um quadro mais geral de antagonismo e hostilidade. De fato, há vários outros elementos que devem ser levados em consideração na análise dessas tensões entre americanos e soviéticos. Não temos aqui a pretensão de dar a resposta definitiva para um problema historiográfico que, provavelmente, nunca terá fim. Pretendemos, somente, trazer uma interpretação que te permita compreender o período e realizar bem a prova do CACD – que não compartilha de visões muito simplistas da história nem da realidade das relações interestatais. A interpretação que aqui seguimos é aquela dada pelo professor Sombra Saraiva. Em sua avaliação, a guerra fria foi o somatório das forças profundas dos Estados Unidos de manutenção e expansão da produção e comércio, da pressão do complexo industrial-militar para expandir os gastos militares e, claro, das divergências e antagonismos ideológicos. A União Soviética, em face das investidas americanas, escalaria os conflitos e aumentaria a tensão. Se partirmos destas considerações preliminares, poderemos apreender melhor o conjunto das relações entre as duas superpotências que dividiram “o condomínio” internacional no período. Assim sendo, vamos agora adentrar as efemérides da guerra fria. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 A GUERRA FRIA COMEÇA: DA DOUTRINA TRUMAN À COEXISTÊNCIA PACÍFICA Na aula anterior, vimos um pouco do que chamamos de “Doutrina Truman”. Esta doutrina, que guiou em linhas gerais as formulações de política externa dos EUA durante quase todo o período da guerra fria, surgiu a partir de questões políticas concretas que ocorriam na Grécia e na Turquia. No sentido de responder a estas questões, Truman realizou um discurso no Congresso americano que reproduzimos aqui: No momento atual da história universal, quase todas as nações devem escolher entre formas de vida alternativas. Frequentemente, essa escolha não é livre. Uma forma de vida baseia-se na vontade da maioria e caracteriza-se por instituições livres, governos representativos, eleições livres, pela garantia das liberdades individuais, pela liberdade de expressão e de religião e pela ausência de opressão política. A segunda forma de vida baseia-se na vontade de uma minoria, imposta pela força à maioria. Assenta-se no terror e na opressão, no controle da impressa e do rádio, em eleições controladas e na supressão das liberdades pessoais. Creio que a política dos Estados Unidos deve consistir em apoiar os povos que estão lutando contra tentativas de subjugamento por parte de minorias armadas ou de pressões externas. Creio que devemos ajudar os povos livres a desenvolver seu destino à sua maneira. (...) os regimes totalitários, impostos após povos livres por meio da agressão direta ou indireta, solapam as bases da paz internacional e, portanto, a segurança dos Estados Unidos.1 Tratava-se de uma postura internacional dos EUA de conter o comunismo soviético. O conjunto das ideias de Truman articulava princípios gerais – a liberdade vs o totalitarismo – evocando o ideário americano que havia guiado sua inserção internacional, com aspectos realistas, no caso a segurança dos EUA. A postura de Truman marca o início do período mais duro das relações internacionais bilaterais com a URSS. A partir daquele momento, o espírito de cordialidade que havia surgido em Yalta daria lugar à intransigência política e à deflagração de alguns conflitos localizados que envolveriam ambas as potências. Em termos práticos, a doutrina Truman se desdobrou em dois braços: um econômico e um militar. No primeiro, foram criados dois planos econômicos: o plano Marshall (1947) e o plano Colombo (1951). Ambos se tratavam de transferência de recurso via empréstimo dos Estados Unidos para países da Europa, caso do Marshall, e do Sudeste Asiático, caso do Colombo. A perspectiva era de dar condições econômicas para a 1 Apud MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p.93. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 reorganização do sistema produtivo destruído pelo conflito mundial e que havia desarticulado a produção industrial e feito retrair o comércio internacional. Nesta conjuntura de penúria, a Europa ocidental vira crescer os movimentos políticos ligados ao socialismo e outras tendências de esquerda. Assim, o plano Marshall buscava, ao permitir a reconstrução europeia, dar condições de crescimento econômico aos países envolvidos, levando à retomada do emprego, da renda e, com isso, esvaziar a pauta política dos partidos e movimentos anticapitalistas. Aqui vale a pena lembrar que o prestígio político da União Soviética estava em seu ponto mais alto, com vários intelectuais ocidentais elogiando a resistência soviética aos nazistas, particularmente Stalingrado. Poemas e músicas foram feitos em louvor aos atos heroicos dos comunistas. Por conta disso, o comunismo ganhava um clamor popular muito grande. No entanto, após o plano Marshall e a reconstrução iniciarem seus frutos econômicos, durante a década de 1950, os movimentos socialistas na França e na Itália, onde eram mais fortes, retraíram significativamente. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 Figura 1 – Países que receberam auxílio americano via Plano Marshall Também é importante relembrar que o plano foi também oferecido à URSS. Contudo, como a adesão envolvia a atuação com mecanismos multilaterais – e, portanto, a possibilidade de “infiltração” no país que aceitava participar deste programa – Stalin declinou a oferta, muito embora seu país necessitasse absolutamente de recursos para a reconstrução pós-guerra. A URSS e os Estados-satélites sofreriam bastante por conta disso e buscaram outras saídas dentro da esfera comunista, como a criação da COMECON (Conselho para Assistência Econômica Mútua) criada em 1949 e que visava, inicialmente, integrar economicamente os países do Leste Europeu, mas que se expandiu para outros países ligados a Moscou ao longo da guerra fria. O plano Colombo teve o mesmo objetivo do plano Marshall, mudando somente a área do mundo se aplicariam os recursos e o tamanho dos aportes financeiros. Sua aplicação se iniciou dois anos depois que a China, o gigante asiático, havia se enveredado pelo caminho comunista em 1949. Para barrar o avanço socialista que se espalhava por meio de movimentos guerrilheiros e movimentos ligados à libertação nacional das colônias europeias no Sudeste asiático, os EUA liberaram dinheiro para a reconstrução capitalista na região, particularmente para o Japão. Em termos militares,a doutrina Truman se desdobrou na criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, NATO em inglês) criada em abril de 1949. Tratava-se de uma aliança militar de defesa mútua, em que um ataque a um dos membros seria interpretado como um ataque a todos os membros. A OTAN foi um grande passo na contenção da expansão soviética por dois motivos: primeiro porque impediu o avanço da URSS na direção de qualquer país membro da aliança; segundo porque levou à instalação de aparatos militares próximo às fronteiras soviéticas ou de seus satélites. A instalação de mísseis na Turquia em 1961, que entrou na aliança em 1952, precipitaria, inclusive, a crise dos mísseis de Cuba. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 Figura 2 – Países membros da OTAN e seu ano de entrada na Aliança A resposta soviética viria seis anos depois, com a criação de uma aliança do bloco socialista da Europa Oriental, o chamado Pacto de Varsóvia. Envolvia os países satélites e Moscou também numa aliança de defesa mútua. O Pacto seria acionado em 1968 para conter o movimento na Tchecoslováquia – o movimento da primavera de Praga. Interessante é notar que as alianças não entraram em confrontro direto durante todo o período da guerra fria. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 Figura 3 – Países membros do pacto de Varsóvia: União Soviética, Polônia, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia (até 1968). Essa política mais “dura”, ou que poderíamos chamar de realmente “bipolar”, se manifestou em momentos tensos. Vale aqui ressaltar o Bloqueio de Berlim, ocorrido em 1948-1949, e a guerra da Coreia. No auge da Guerra Fria, encrustrada no centro da Alemanha Oriental estava Berlim. A cidade, tal qual o país inteiro, fora dividida em quatro partes de ocupação – como vimos na aula anterior –, três zonas ocidentais, uma soviética. Dentro da lógica de atuação dos americanos nesse momento, estava a ideia de que transformar a parte ocidental de Berlim numa vitrine do capitalismo internacional, de modo a atrair os berlinenses que moravam na parte leste e, por outro lado, levar à comparação com os problemas econômicos do socialismo oriental. Em face disso e das movimentações político-militares dos EUA, Stalin decidiu tentar mostrar sua força política e forçar os aliados ocidentais a se retirarem de Berlim (ou ao menos renegociar os termos dessa convivência). Assim, em 24 de junho de 1948, todo o acesso à cidade de Berlim Ocidental. Era o momento mais tenso nas relações internacionais que o mundo vivia desde o fim da segunda guerra mundial. O propósito de Stalin – de desabastecer a cidade – foi frustrado por uma ação enérgica tomada pelo governo dos EUA e de seus aliados, particularmente o Reino Unido. Já que todo o acesso terrestre havia sido impedido pelo governo soviético, os líderes dos países capitalistas decidiram abastecer parte ocidental de Berlim por meio de pontes aéreas. Foram realizados, durante o período de vigência do bloqueia (14/06/1948- 11/05/1949) cerca de 200 mil voos para levar mantimentos e combustível aos berlinenses. Depois de quase um ano, Stalin, humilhado diplomaticamente pela incapacidade de bloquear uma cidade no meio de um território sobre seu controle e após a criação da OTAN, decidiu suspender o bloqueio à cidade. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 Figura 4 – Os corredores aéreos utilizados pelos aliados para abastecer Berlim Ocidental A guerra da coreia e a corrida armamentista O desenvolvimento e a consolidação de uma esfera de influência americana na Europa Ocidental e uma correspondente esfera soviética na Europa Oriental constituem a própria essência da fase de abertura da Guerra Fria, com a Alemanha servindo como seu ponto zero. No entanto, o conflito aberto entre o Oriente e o Ocidente foi evitado na Europa – no final da década de 1940 e ao longo das quatro décadas que se Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 seguiram. A Ásia, onde Washington e Moscou também tiveram interesses importantes, embora menos vitais, não teve destino semelhante. Cerca de 6 milhões de soldados e civis perderam a vida em conflitos relacionados à Guerra Fria na Coréia e na Indochina. Foi o surgimento da Guerra da Coréia em junho de 1950, além disso, que precipitou o primeiro confronto militar direto entre as forças comunistas e dos EUA e, mais do que qualquer outro evento, transformou a Guerra Fria em um conflito mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, poucos lugares pareciam menos prováveis de emergir como um ponto focal da grande concorrência de energia do que a península coreana. Ocupado e governado pelo Japão como uma colônia desde 1910, a Coréia ficou em consideração em conselhos de guerra apenas como outro território menor e obscuro cuja disposição futura caiu sobre os ombros já sobrecarregados dos Aliados. Na Conferência de Potsdam, os americanos e os soviéticos concordaram em compartilhar responsabilidades de ocupação lá dividindo temporariamente o país no paralelo 38; eles também concordaram em trabalhar no sentido do estabelecimento de uma Coréia unida independente e unificada, o mais cedo possível. Em dezembro de 1945, em uma reunião de ministros dos estrangeiros em Moscou, os soviéticos aceitaram uma proposta dos EUA para o estabelecimento de uma comissão conjunta soviético-americana para se preparar para a eleição de um governo provisório da Coréia como um primeiro passo para a independência total. Mas esse plano logo foi vítima de grandes tensões da Guerra Fria que militaram contra qualquer cooperação significativa, ou compromisso, entre Moscou e Washington. Em 1948, as divisões de ocupação se endureceram. No norte, um regime pró-soviético sob a liderança do ex-lutador anti-japonês Kim Il-sung assumiu todas as armadilhas de um regime independente. Assim também, sua contraparte no sul: um regime pró-americano encabeçado pelo virginalmente anticomunista Syngman Rhee, um nacionalista coreano de longa data. Cada lado sabotava regularmente sabres na outra; nem o norte nem o sul-coreano poderiam aceitar uma divisão permanente da sua pátria. Em 1948, a administração Truman, tentando se livrar graciosamente do seu compromisso coreano, começou a retirar as forças militares dos EUA da península. Os planejadores da defesa americana acreditavam não só que o pessoal militar dos EUA se tornara excessivamente expandido em todo o mundo, exigindo essa retração, mas que a Coréia, de fato, possuía um valor estratégico mínimo. Em janeiro de 1950, o novo secretário anunciaria que a ilha de Formosa (Taiwan) e a Coreia (do sul), não estavam na linha de proteção americana que se estendia do Alasca ao Japão.2 Essa declaração animou o governo de Kim Il-Sung que, com o beneplácito da União Soviética e de Mao – que vencera a guerra civil –, decidiu atacar o governo de Rhee. A expectativa de Moscou, Beijing e Pyongyang era a de que os EUA não iriam intervir e a Coreia poderia ser unificada sob o governo comunista. 2 SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 210-211. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 Esse cálculo político-diplomático, contudo,mostrou-se bastante equivocado. Como nos explica Magnoli: A guerra estalou em junho de 1950, com a penetração, através do paralelo 38, de tropas norte-coreanas decididas a reunificar o país. Aparentemente, o regime de Pyongyang tinha o beneplácito de Moscou e Beijing, que não acreditavam numa intervenção americana. Mas sob o impacto da Revolução Chinesa, Truman estava decidido a barrar a expansão do comunismo na Ásia.Aproveitando o boicote soviético ao Conselho de Segurança (CS), provocado pelo não-reconhecimento ocidental do regime comunista na China, Washington fez a intervenção de forças da ONU no conflito coreano ser aprovada. As tropas americanas e aliadas, sob a bandeira da ONU, e o comando do general Douglas MacArthur, desembarcaram na península e empreenderam uma funda contra-ofensiva em território norte-coreano, até as proximidades da fronteira chinesa. A irrupção das forças armadas chinesas na guerra, apresentadas oficialmente como destacamentos de voluntários, modificou radicalmente a situação militar. A retirada das tropas de MacArthur conduziu, em dezembro, o front de volta ao paralelo 38. Em abril de 1951, as proposições do general, cada vez mais insistentes, de bombardeios aéreos da China, foram definitivamente rejeitadas, e MacArthur perdeu seu posto de comando. Esse evento assinalou o encerramento da fase ativa da guerra. A estabilização do front perdurou até o início de 1953. Então, a morte de Stalin abriu caminho para a conclusão do Armistício de Panmunjon, que produziu um cessar-fogo permanente. A ausência de um tratado de paz transformou o front do paralelo 38 numa fronteira instável, compartilhada por Estados tecnicamente em guerra. A deflagração da Guerra da Coréia colocou em marcha a estratégia da contenção na Ásia. Em 1951, Washington firmava acordos militares bilaterais com o Japão e as Filipinas. Adicionalmente, firmava o Pacto Anzus com a Austrália e a Nova Zelândia. Começava a ser erguido um vasto sistema de alianças entre os Estados Unidos e os países da orla litorânea da Ásia. O armistício coreano impulsionou, em 1954, os tratados militares bilaterais com a Coréia do Sul e Taiwan. Por meio deles, fechava-se o ferrolho estratégico montado em torno da China Oriental e do porto soviético de Vladivostok, no Pacífico Norte.3 No início da manhã de 25 de junho de 1950, uma força de ataque de cerca de 100.000 norte-coreanos, armada com mais de 1.400 peças de artilharia e acompanhada por 126 tanques, cruzou o paralelo 38 para a Coréia do Sul. A inesperada invasão inaugurou uma nova e muito mais perigosa fase da Guerra Fria, não apenas na Ásia, mas globalmente. Certo de que o ataque só poderia ter ocorrido com o apoio da União Soviética e da China – uma avaliação correta, como as evidências disponíveis agora confirmam – e convencido de que isso indicava uma ofensiva internacional mais ousada e mais agressiva pelos poderes comunistas, a administração Truman respondeu vigorosamente: enviou imediatamente as forças navais e aéreas americanas para a Coréia para impedir o avanço norte-coreano e reforçar as defesas sul-coreanas. 3 MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 107-108. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 Quando essa intervenção inicial se mostrou insuficiente, a administração enviou tropas de combate dos EUA, que se tornaram parte de uma força internacional devido à condenação da ONU pela invasão norte-coreana. Essa conflagração alarmou os ânimos internacionais, o maior que houvera desde a Segunda Guerra. O medo de um conflito atômico chegou ao mais alto ponto desde o estouro das bombas no Japão. Para se ter uma ideia das cifras desse conflito, estimam-se por volta de 2,5 milhões de civis mortos ou feridos, 750 mil baixas do lado comunista e 178 mil baixas no sul, embora a contagem de mortos e feridos em guerra seja sempre impreciso. A estratégia divisada nos Estados Unidos de conter o comunismo foi particularmente evidente na Ásia. Isto porque, como veremos na próxima aula, os movimentos de descolonização que se seguiram à Segunda Guerra foram, por parte de alguns grupos que buscavam a independência, influenciados pelo ideário comunista-soviético ou maoísta. Assim, entre 1950-1970, os EUA ficaram estiveram ativos na região. Essa preocupação com a Ásia estava ligada a uma teoria desenvolvida em Washington de que se algum dos países do Extremo Oriente viesse a se tornar comunista – para além da China – outros o seguiriam. É a chamada teoria do dominó, colocada claramente pelo presidente que sucedeu a Truman, Dwight Eisenhower. Em 1954, o antigo general e presidente da superpotência capitalista, afirmou: Finally, you have broader considerations that might follow what you would call the “falling domino” principle. You have a row of dominoes set up, you knock over the first one, and what will happen to the last one is the certainty that it will go over very quickly. So you could have a beginning of a disintegration that would have the most profound influences.4 O discurso de Eisenhower é ilustrativo porque nos ilumina o grande foco dado pelas relações exteriores dos Estados Unidos à Ásia, facilitando nosso entendimento sobre o envolvimento americano tanto na Guerra da Coreia quanto na Guerra do Vietnã. A península coreana e a Indochina estavam muito próximas do Japão e de outros aliados do Oeste para os EUA se darem ao luxo de permitir um movimento alinhado a Moscou (ou mesmo a Beijing) prosperar. Neste mesmo sentido é que os americanos formaram a ANZUS em 1951, uma aliança militar a la OTAN que envolvia a Austrália, a Nova Zelândia e os EUA. OTAN, ANZUS, o envolvimento nos conflitos asiáticos eram a tentativa de Washington de fechar o ferrolho sobre os comunistas chineses e soviéticos. Tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética inauguraram grandes conjuntos de armas – convencionais e nucleares – após o início da Guerra da Coréia. Entre 1950 e 1953, os Estados Unidos aumentaram suas forças armadas em mais de um milhão de soldados, ao mesmo tempo em que expandiram significativamente 4 Em tradução livre: “Finalmente, há considerações mais amplas que seguem o que se poderia chamar de princípio do “domínio em queda”. Há uma fileira de dominós enfileirados, você derruba um e o que vai acontecer com o último é que certamente ele cairá rapidamente. Então haveria a desintegração que haveria a mais profundas influências”. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 sua produção de aeronaves, navios navais, veículos blindados e outros instrumentos de guerra convencional. Sua acumulação nuclear foi ainda mais impressionante. Em outubro de 1952, os americanos testaram com sucesso um dispositivo termonuclear, ou bomba H, que foi exponencialmente mais poderoso do que os usados em Hiroshima e Nagasaki. Em outubro de 1954, eles detonaram com sucesso um ainda mais potente. No final da década de 1950, a dissuasão nuclear americana dependia de bombardeiros de médio alcance que poderiam atacar o território soviético em missões bidirecionais apenas a partir de bases na Europa. Mas, ao final da década, os Estados Unidos aumentaram seu poder de ataque nuclear com a implantação de 538 bombardeiros intercontinentais B-52, cada um capaz de atacar alvos soviéticos a partir de bases nos Estados Unidos. Em 1955, Eisenhower também ordenou o desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) que permitiriam que as ogivas nucleares fossem lançadas contra a União Soviética a partir do solo americano. Em 1960, os Estados Unidos começaram a implantar sua primeira geração de ICBMs, juntamente com seuprimeiro lote de mísseis balísticos baseados em submarinos. Essas implementações deram aos Estados Unidos a “tríade” cobiçada de armas nucleares bombardeadas, terrestres e submarinas, cada parte da tríade capaz de destruir os principais alvos soviéticos. O arsenal nuclear total dos EUA cresceu de aproximadamente 1.000 ogivas em 1953, o primeiro ano de Eisenhower no escritório, para 18 mil em 1960, seu último. Até então, o Comando Aéreo Estratégico dos EUA (SAC) apresentava um total de 1.735 bombardeiros estratégicos capazes de derrubar armas nucleares em alvos soviéticos. A União Soviética esforçou-se para manter o ritmo. Entre 1950 e 1955, o Exército Vermelho expandiu 3 milhões de tropas para criar uma força armada de quase 5,8 milhões – antes que Khrushchev ordenasse cortes de força em meados da década de 1950 para reduzir o exorbitante orçamento de defesa de Moscou. Mas a margem marcada pela União Soviética sobre os Estados Unidos e a OTAN em homens sob as armas foi paralelizada e viciada por uma inferioridade significativa em praticamente todas as outras medidas de força militar. Essa disparidade foi particularmente flagrante na esfera nuclear. Os soviéticos testaram com sucesso seu primeiro dispositivo termonuclear em agosto de 1953 e um mais poderoso em novembro de 1955. Sua capacidade de entrega permaneceu severamente limitada, no entanto. Antes de 1955, os soviéticos permaneceram incapazes de realizar um ataque nuclear contra os Estados Unidos e, consequentemente, confiaram em propósitos dissuasivos sobre a habilidade de seus bombardeiros atingirem os objetivos da Europa Ocidental. No final da década, a frota soviética de bombardeiros estratégicos ainda só poderia chegar aos Estados Unidos em missões de bombas unidirecionais das bases do Ártico, missões que seriam altamente vulneráveis aos interceptores americanos. As corridas de armas caracterizaram as rivalidades internacionais ao longo do conflito. O que faz com que a era da Guerra Fria seja única, é claro, é sua dimensão nuclear. Estudiosos, analistas políticos e estrategistas governamentais rumaram por muito tempo sobre como a disponibilidade de armas capazes de causar destruição sem precedentes moldou os contornos e a evolução da Guerra Fria. A questão é tão importante quanto é difícil responder com qualquer grau de precisão. Por um lado, as armas nucleares provavelmente deram um certo grau de estabilidade ao relacionamento da superpotência e quase certamente diminuíram Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 a probabilidade de hostilidades abertas na Europa. A estratégia essencial da OTAN para repelir uma invasão convencional soviética girou no reconhecimento de que qualquer guerra europeia seria uma guerra nuclear; Os incentivos poderosos, portanto, existiam em ambos os lados para evitar um conflito que inevitavelmente causaria enormes perdas de vida para atacantes e defensores. Em uma reunião do NSC em janeiro de 1956, Eisenhower enfatizou o que ele chamou de “consideração transcendente” em todos os debates sobre a estratégia nuclear – a saber, que “ninguém pode ganhar em uma guerra termonuclear”. Por outro lado, Eisenhower também aceitou como doutrina oficial durante seu primeiro ano na Casa Branca que “no caso de hostilidades, os Estados Unidos considerarão que as armas nucleares estão disponíveis para nós como outras munições”. Sua administração sancionou a introdução das armas nucleares do primeiro campo de batalha na Alemanha em novembro de 1953, presidiu a enorme acumulação de armas nucleares e sistemas de entrega detalhados acima, promoveu “retaliação maciça” como um princípio fundamental da postura de defesa dos EUA e ameaçou a uso de armas nucleares durante a fase final da Guerra da Coréia e em um esforço para deter Beijing durante a crise do Estreito de Taiwan de 1954-5. Essa ordem bipolar rígida não duraria muito tempo, no entanto. Podemos considerar que por volta de 1955 iniciaria um processo de coexistência pacífica entre as duas superpotências que se aprofundaria no fim da década de 1960 numa ativa aproximação entre a URSS e os EUA – a chamada détente. Sombra Saraiva nos traz seis elementos que levaram a essa coabitação pacífica, que podemos assim dispor para fins de fácil entendimento: 1. Recuperação econômica dos Estados europeus ocidentais; 2. Flexibilização intra-imperial (EUA e URSS) / morte de Stalin; 3. Desintegração da unidade do mundo comunista: Beijing vs Moscou (1960); 4. Descolonização dos povos africanos e asiáticos; 5. Novo modelo de inserção dos países sul-americanos nas relações internacionais; 6. Declínio gradual das armas nucleares na balança de poder mundial. É importante dizer que a divisão nesses seis pontos é meramente didática e todas estão, de uma forma ou de outra, entremeadas. Particularmente, deve-se ter em mente que o item 2 está umbilicalmente ligado aos itens 1 e 3. Nesta aula, não iremos abordar o item 4, já que a próxima aula será dedicada integralmente ao tema. O mundo capitalista na década de 1950 conheceu grande expansão econômica de modo geral, especialmente os países centrais do sistema. Por conta desse grane crescimento por longo tempo, os anos 1950 e parte de 1960 seriam conhecidos como “anos dourados” – inclusive no Brasil, particularmente durante o mandato do presidente Juscelino Kubitschek. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 A integração política da Europa Na Europa Ocidental, o crescimento econômico foi impulsionado, em grande medida, pela execução do Plano Marshall, do qual falamos acima. A reconstrução e os altos investimentos no Velho Mundo capitalista levaram a uma situação de alto emprego e alta renda. Isso teria impacto importante em dois sentidos: o desenvolvimento do Welfare State e de um novo modelo de inserção internacional dos Estados europeus. O Welfare State foi a resposta econômica e social dos países europeus capitalistas para a pressão do exemplo do modelo socialista que vigorava nos países vizinhos da Europa central. Lembremos que no imediato pós- guerra, os movimentos socialistas ganharam muito impulso dada a força moral dos soviéticos na resistência e derrota dos nazistas e pelos problemas econômicos pelos quais passava o continente após o fim do conflito. Assim, o plano Marshall possibilitou os recursos necessários para a reconstrução, mas também permitiu uma reforma dos Estados europeus no sentido de construir uma ampla rede de amparo social e auxílio aos mais necessitados de suas sociedades. É neste momento que se realizaram várias reformas nos sistemas previdenciários e trabalhistas na França, na Inglaterra (sob os trabalhistas) e na Itália. Nestes países, observou-se como corolário imediato o arrefecimento claro dos movimentos socialistas. Esse caminho adotado pelos Estados europeus mesclava planejamento estatal com livre mercado, numa perspectiva keynesiana. A ideia envolvia proteger e regular o mercado de trabalho, incentivar o trabalho industrial e subsidiar – via Estado – áreas consideradas essenciais para a economia, além, claro, da manutenção dos serviços públicos e de amparo social. Essas práticas, por sua vez, implicavam em gastos elevados que resultavam, por vezes, em déficits que foram se acumulando durante das décadas de 1950 e 1960 e que viria a estourar na década de 1970 – exigindo dos países uma ampla re-estruturação econômica. Seja como for, os dirigentes europeus não imaginavam os fardos econômicos graves que suas políticas poderiam criar e sustentaram o Welfare State porque o consideravam como a solução perfeita para os problemas político-econômico-sociais existentes. Ocaminho a seguir não era nem o socialismo, nem o capitalismo selvagem e sim a reforma do sistema capitalista dentro de quadros que envolvessem a interferência estatal na economia. Esse modelo seria inspiração para vários países, mesmo alguns “em desenvolvimento”, cujos cidadãos aspiravam ao acesso a serviços públicos de qualidade. Outra consequência significativa do crescimento econômico europeu trata-se de uma reinserção internacional mais autônoma destes países ocidentais. No pós-guerra, o velho mundo estava destruído. Incapaz de se autofinanciar e lidar com os graves problemas que a guerra havia trazido para a economia, os países capitalistas da Europa tiveram de seguir os caminhos dos Estados Unidos, por um lado porque estavam economicamente combalidos a ponto de não conseguirem sustentar uma política autônoma. Por outro, precisavam das benesses da superpotência para recuperar sua vida econômica. Quando isso aconteceu, as relações exteriores desses países mudaram consideravelmente. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 Em termos concretos, os dois movimentos mais importantes nesse sentido foram a mudança de postura da França relativamente aos Estados Unidos e o processo de integração política e econômica da Europa Ocidental iniciado na década de 1950. A França, que fora potência por longo período de tempo na idade moderna, fora humilhada no campo de batalha durante a segunda guerra mundial e forçada a uma existência de Estado-satélite dos nazistas durante o governo de Vichy. Com o fim do conflito, a França somente foi considerada “potência” e ganhou destaque nos arranjos feitos nas conferências internacionais, que vimos em outra aula, por pressão e auxílio de Churchill. Na nova ordem mundial que emergia, a França não possuía lugar de destaque. A IV República era instável politicamente e as colônias francesas iniciavam suas contestações contra a metrópole imperialista. Incapaz de financiar autonomamente sua reconstrução, aderiu ao plano Marshall dos EUA sem grandes reservas e seguiu, de modo geral, a orientação de política externa dos americanos – algo que viria a mudar durante a partir da presidência do general De Gaulle. Ainda que neste contexto mais geral de dependência externa, França iria buscar formar na Europa uma nova maneira de se relacionar com seus vizinhos, projeto político que se amadureceria e se desenvolveria principalmente a partir de fins da década de 1950. Trata-se do que, retrospectivamente, podemos chamar de integração europeia. Percebendo que o futuro da Europa não poderia mais passar pelas rivalidades entre os Estados-Nação que haviam marcado a história do continente, a França iniciou uma aproximação com seus vizinhos. Essa perspectiva ficaria clara num discurso célebre realizado por Robert Schuman em 1950, o ministro das relações exteriores e primeiro-ministro francês da IV República: A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos à medida dos perigos que a ameaçam.O contributo que uma Europa viva e organizada pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacificas. A França, ao assumir-se desde há mais de vinte anos como defensora de uma Europa unida, teve sempre por objetivo essencial servir a paz. A Europa não foi construida, tivemos a guerra. A Europa não se fará de uma só vez, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto. A união das nações europeias exige que seja eliminada a secular oposição entre a França e a Alemanha.Com esse objetivo, o Governo francês propõe atuar imediatamente num plano limitado mas decisivo. O Governo francês propõe subordinar o conjunto da produção franco-alemã de carvão e de aço a uma Alta Autoridade, numa organização aberta à participação dos outros países da Europa. A comunitarização das produções de carvão e de aço assegura imediatamente o estabelecimento de bases comuns de desenvolvimento económico, como primeira etapa da federação europeia, e mudará o destino das regiões durante muito tempo condenadas ao fabrico de armas de guerra, das quais constituíram as mais constantes vítimas. A solidariedade de produção assim alcançada revelará que qualquer guerra entre a França e a Alemanha se tornará não apenas impensável como também materialmente impossível. O estabelecimento desta poderosa unidade de produção aberta Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 a todos os países que nela queiram participar e que permitirá fornecer a todos os países que a compõem os elementos fundamentais da produção industrial em condições idênticas, e lançará os fundamentos reais da sua unificação econômica. Esta declaração era o pontapé inicial para a integração da Europa. A ideia de Schuman e de Monnet (outro grande personagem francês nesse processo) era fazer pouco-a-pouco essa união, com passos factíveis e concretos. A formação da Comunidade Econômica do Carvão e do Aço (CECA) deu-se em 1951, envolvendo França, Bélgica, Reino Unido dos Países Baixos (Holanda), Luxemburgo, Alemanha Ocidental (criada em 1949) e Itália. Estava formada a Europa dos Seis – o núcleo duro de todo o processo de integração. Posteriormente, em 1957 por meio dos tratados de Roma, foi criada a Comunidade Econômica Europeia (CEE), com o objetivo de se criar um mercado e taxas alfandegárias comuns. No mesmo ano de 1957, também era criada a Comunidade Europeia de Energia Atômica (EURATOM), cujo objetivo era administrar o estudo e o uso da energia atômica entre os Estados membros. Em 1961, criava-se uma Política Agrícola Comum (PAC), para subsidiar e desenvolver a produção agrícola – uma questão particularmente sensível à França e que causaria várias discussões na Organização Mundial de Comércio décadas depois. A CECA,a CEE e a EURATOM seriam fundidas por meio do tratado de fusão de 1965, sendo administadas por uma mesma autoridade. A partir daí, a integração seria cada vez maior, levando, finalmente à criação da União Europeia em 1992. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 Figura 5 – A integração européia entre 1957-2007 A integração européia se aprofundou a partir de fins da década de 1950. Coincide, portanto, com o soerguimento econômico dos países europeus e com o fortalecimento do Estado francês com a fundação da V República de De Gaulle. Com essa união dos europeus, sua força econômica e política lhes permitiu buscar novas relações internacionais, numa postura mais autônoma frente aos EUA. Essa realidade foi bem-vista pelos americanos porque significava que não precisavam mais se preocupar com o “contágio” comunista na região. No entanto, isso implicava uma flexibilização do sistema “imperial” da superpotência capitalista – ponto 2 que havíamos mencionado acima. Outra questão de relevância que forçou uma relação mais pacífica das relações entre EUA e URSS foi a divisão dos movimentos comunistas e a morte de Stalin. Iniciemos por esse segundo aspecto. Josef Stalin havia comandado a União Soviética desde a morte de Lênin e a resolução do conflito com Trotsky. Dirigiu o país durante o grande conflito com os nazistas e, com imensas perdas humanas, levou-o à vitória. No pós-guerra, suas preocupações giravam em torno da manutenção dos países-satélites sob a alçada de Moscou (a criação da zona de buffer contra o Ocidente), criar uma bomba atômica – projeto alcançado em 1949 –, financiar e auxilar os movimentos de caráter comunista e ligados à URSS e responder aos movimentosdiplomáticos dos Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 Estados Unidos. Internamente, Stalin lutou para criar um ambiente político-ideológico homogêneo. Disso resultou uma perseguição política severa a todos os elementos críticos e dissonantes do sistema. A URSS pós-stálin e a Revolução Húngara de 1956 Em um discurso importante ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em Moscou, em fevereiro de 1956, Nikita Khrushchev, que se tornara Secretário-Geral do partido após a morte de Josef Stalin, denunciou com dureza os crimes domésticos e os erros da política externa de Stalin. O segredo do líder soviético, discurso de quatro horas, apelou à “convivência pacífica” com os poderes capitalistas e admitiu que havia diferentes caminhos para o socialismo. O discurso, cujo conteúdo foi amplamente disseminado, chocou os comunistas e os não comunistas. Os futuros reformadores da Europa Oriental foram encorajados pela perspectiva de um afrouxamento soviético. Intelectuais, estudantes e trabalhadores testaram os limites da tolerância do Kremlin para a diversidade e a independência nacional. Em junho, as disputas trabalhistas na Polônia de longa duração rapidamente se transformaram em expressões de resistência absoluta à União Soviética. Depois de usar o Exército Vermelho para reprimir os tumultos nacionalistas em Varsóvia, Khrushchev reverteu o curso e concordou com a instalação do ex-primeiro-ministro Wladyslaw Gomulka, um reformador que havia sido expulso anteriormente em uma purga estalinista, como o novo presidente do Partido Comunista Polonês. Agitação semelhante na Hungria produziu um resultado mais trágico. Em 23 de outubro, as manifestações dirigidas por estudantes em todo o país escalaram para uma insurreição absoluta contra a presença militar soviética. Quando, no final do mês, o governo reformista de Imre Nagy anunciou a decisão da Hungria de deixar o Pacto de Varsóvia, declarou-se uma nação neutra e apelou para o apoio da ONU, Khrushchev chegou aos limites de sua tolerância para a mudança política dentro da Europa Oriental. A invasão anglo-francesa simultânea do Egito, em 31 de outubro, juntamente com a campanha de reeleição de Eisenhower, que entrou em seus últimos dias, proporcionou ao líder russo o que considerava um “momento favorável” para usar a força militar. Consequentemente, em 4 de novembro, 200 mil soldados da URSS e do Pacto de Varsóvia, apoiados por 5.500 tanques, movimentaram-se para reprimir os rebeldes húngaros com uma força irresistível. O choque desigual que se seguiu tomou a vida de cerca de 20 mil húngaros e até 3 mil soviéticos. Até 8 de novembro, a rebelião havia sido esmagada. A administração Eisenhower, cuja retórica pró-libertação e as provocativas transmissões Radio Free Europe haviam feito muito para encorajar a resistência anti-soviética, poderia fazer pouco mais do que protestar ante a brutalidade russa. Claramente, os americanos não estavam mais dispostos a tentar uma conflagração global sobre eventos na esfera de influência soviética do que os Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 soviéticos teriam sido em resposta aos desenvolvimentos na Europa Ocidental. Em meados da década de 1950, uma forma de grande ordem de poder emergia na Europa; alguns estudiosos, de fato, empregaram o termo “Longa Paz” para caracterizar a Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Para alguns, porém, como os húngaros aprenderam dolorosamente, essa ordem chegou a um preço muito alto. Outro ponto importante, já mencionado em aulas anteriores, trata-se da divisão dentro do espectro ideológico da esquerda com a ascensão do Maoísmo e o racha entre a URSS e a China comunista. Para relembrarmos, ideias socialistas/comunistas haviam surgido e se disseminado na Europa no século XIX. Karl Marx e suas ideias ganharam força e terreno dentro do espectro da esquerda e moldaram a atuação de vários líderes proletários entre fins do século XIX e início do século, tornando-se um caminho a ser seguido após a vitória da revolução russa. E que caminho era esse? A revolução feita por operários a partir das cidades. A Revolução Chinesa e o equilíbrio de poder no sudeste asiático A proclamação da República Popular da China em 1 de outubro de 1949 representou não apenas um monumental triunfo pessoal para Mao Zedong e os outros líderes de um movimento comunista chinês que havia sido encaminhado, caçado e quase extinto pelo Partido Kuomintang, de Chiang Kai-shek, dois décadas antes. Também significou uma mudança fundamental na natureza e no locus da Guerra Fria – com importantes implicações políticas estratégicas, ideológicas e domésticas. Na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, Roosevelt procurou uma fonte incomum para uma solução para o dilema político da América na China. Completamente desiludido pela falta de vontade de Chiang de lutar, ele procurou e ganhou o compromisso soviético de entrar na guerra contra o Japão dentro de três meses após o fim das hostilidades na Europa. O preço de Stalin por esse gesto – a promessa de Roosevelt de ajudar os soviéticos a recuperar as concessões da era czarista na Manchúria e na Mongólia externa – mostrou-se aceitável para um presidente dos EUA que atribuiu grande valor para minimizar a perda de vidas americanas no que se esperava ser o desenlace extremamente sangrento da Guerra do Pacífico. Em 14 de agosto, Chiang concordou com as concessões soviéticas no tratado de amizade e assistência mútua sino- soviética em troca do reconhecimento de Moscou da soberania legal de seu governo. Após a rendição japonesa, a situação política na China se deteriorou progressivamente. Como Chiang, Mao considerou uma paz genuína entre os comunistas e os Kuomintang ser altamente improvável, e uma guerra civil inevitável. Em uma diretriz do partido interno de 11 de agosto, ele instruiu os quadros do Partido Comunista e os líderes militares a “reunir nossas forças para se prepararem para a guerra civil”. Ao longo do outono de 1945, tropas comunistas e nacionalistas entraram em confronto no nordeste da China, com Chiang Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 usando agressivamente equipamentos e transportes dos EUA em um esforço para desalojar as forças comunistas. No final de 1945, o presidente Truman enviou ao general George C. Marshall, o militar americano mais respeitado de sua geração, à China para mediar uma resolução pacífica do conflito. No início de 1946, Marshall conseguiu organizar uma trégua temporária, mas logo se desenrolou. As tentativas do general americano de estabelecer um acordo de compromisso entre Chiang e Mao acabaram por se iludir de que o poder poderia de alguma forma ser compartilhado em um governo de coalizão que incluísse comunistas e nacionalistas. Apesar da imparcialidade de Marshall, esses esforços derrubaram as diferenças intratáveis entre os dois partidos, nenhum dos quais confiava ou estava disposto a compartilhar poder com o outro. No final de 1946, Marshall determinou, corretamente, que essa luta só poderia ser resolvida através da força das armas, e que era um concurso que Chiang não poderia vencer. A administração Truman continuou a fornecer ajuda ao regime de Chiang – um total de US$ 2,8 bilhões entre a rendição japonesa e 1950 – mas mais para proteger seus flancos políticos do assalto por partidários nacionalistas chineses no Congresso e na mídia, o chamado lobby da China, do que na convicção de que o apoio dos EUA sozinho permitiria que asineptas forças de Kuomintang prevalecessem. No final de 1948, a derrota se transformou em derrota, com Chiang e seu círculo íntimo fugindo do continente para a ilha de Taiwan. A declaração dramática de Mao da nova República Popular da China a partir do Portão da Paz Celestial de Beijing, em outubro de 1949, apenas formalizou um resultado que os observadores mais informados haviam antecipado muito antes. O sudeste asiático seria fortemente influenciado pelas teorias maoístas, já que as características socioeconômicas eram muito similares. Assim, uma nova série de movimentos comunistas ligados a Beijing, e não a Moscou, começaram a ser criados. Dessa forma, temos claramente colocada a flexibilização do sistema “imperial” socialista, com a emergência de novos atores, notadamente a China. Essa diferença entre chineses e soviéticos seria aproveitada pelos EUA, que se aproximou dos primeiros já na década de 1970 com a visita de Nixon a China. A crise de Suez O Oriente Médio também teve a sua parcela de atribulações no período. Após a guerra contra o recém- criado Estado de Israel, em que foi crucial o apoio soviético à nova nação – dado, diga-se, na esperança de se estabelecer um posto avançado do comunismo russo na região –, outra crise se instalou em meados dos anos 1950. As raízes dessa crise estavam na recusa do Egito em se alistar em qualquer das organizações de defesa anti-soviéticas que os americanos e os britânicos procuraram reunir no início e meados da década de Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 1950. A amargura engendrada pela disputa com Londres não inclinou os egípcios a cooperarem com um Ocidente, que se associavam a máquinas imperiais contínuas. Com o Egito e a maioria dos outros estados árabes líderes que se recusaram a entrar em um acordo coletivo de segurança com as potências ocidentais, os americanos e os britânicos gravitaram o conceito alternativo de “nível norte”. Em fevereiro de 1955, por conseguinte, a Grã-Bretanha, a Turquia, o Paquistão, o Irã e o Iraque assinaram o Pacto de Bagdá, um acordo de segurança mútua destinado a ampliar o escudo de contenção para o Oriente Médio. Embora a pressão americana, juntamente com as promessas de ajudas militares e econômicas, tenha sido fundamental nas negociações que levaram ao acordo, Washington optou por não participar diretamente, de modo a evitar a alienação indevida de estados árabes com os quais ainda cultivava relações amigáveis. A criação do Pacto de Bagdá atingiu o nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser como um ato de hostilidade aberta desde que o conservador Iraque, o único signatário árabe do pacto, era o tradicional rival do Egito no mundo árabe. No outono de 1955, Nasser assinou um acordo de armas com a Tchecoslováquia para combater um Iraque agora apoiado militarmente por sua associação formal com o agrupamento de Bagdá patrocinado pelo Ocidente. Alarmada pela aparente aproximação do Egito em direção ao campo soviético, a administração de Eisenhower, em dezembro de 1955, ofereceu um generoso financiamento para o projeto da Barragem de Assuã, a peça central dos ambiciosos planos de desenvolvimento do Egito. Mas o apoio do Egito a incursões de comando em Israel, sua contínua linha neutra na política externa, e o reconhecimento da República Popular da China em maio de 1956 despertaram a ira americana. Em 19 de julho de 1956, o Secretário de Estado Dulles anunciou abruptamente que os Estados Unidos estavam rescindindo a oferta de financiamento de Assuã. Em 26 de julho, um movimento arrojado e totalmente imprevisto, Nasser nacionalizou a Suez Canal Company, uma companhia anglo-francesa, prometendo operar a via navegável internacional vital de forma eficiente e usar as receitas que gerou para financiar seu projeto de barragens de alta prioridade. Após negociações desastrosas, em que Dulles trabalhou assiduamente para encontrar uma alternativa ao conflito aberto, a coligação entre a Grã-Bretanha, a França e Israel levou a uma ação militar conjunta contra o Egito no final de outubro de 1956. Para choque e consternação de seus aliados, os Estados Unidos condenou vigorosamente a invasão, denunciando um ato de agressão militar flagrante e injustificado que violou o estado de direito. Quando, em 5 de novembro, os soviéticos denunciaram o ataque ao Egito e ameaçaram as represálias contra Grã-Bretanha e França se não cessassem imediatamente a agressão, a crise de Suez de repente se metamorfoseou em um confronto potencialmente grave entre Oriente e Ocidente. A persistente pressão dos EUA em seus aliados ajudou a produzir um cessar-fogo, destruindo assim o perigo representado pelo que os americanos julgaram como um blefe soviético vazio, mas ainda perturbador. Na seqüência da crise de Suez, os Estados Unidos assumiram responsabilidades ainda maiores no Oriente Médio. O maior medo de Eisenhower era que a União Soviética se movesse no vácuo criado pelo declínio do poder britânico e francês na região. A chamada Doutrina Eisenhower, que o presidente propôs ao Congresso em 5 Em janeiro, criou um fundo especial para prestar assistência econômica e militar aos regimes pró- ocidentais no Oriente Médio. Também ameaçou o uso da força militar, se necessário, para parar “agressão Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 armada aberta de qualquer nação controlada pelo comunismo internacional”. A vaga doutrina certamente revelou o aprofundamento do compromisso americano com uma região que os estrategistas americanos agora imaginavam na linha da frente da Guerra Fria. Ele também forneceu o pretexto para o envio de Eisenhower das forças dos EUA para o Líbano no ano seguinte, depois que um golpe sangrento no Iraque derrubou a monarquia pró-ocidental e questionou a credibilidade dos EUA na região. No entanto, as fontes mais profundas de instabilidade regional – a disputa árabe-israelense, o ressentimento profundo entre os árabes nos legados do imperialismo ocidental e o apelo do nacionalismo radical e pan-árabe – permaneceram impermeáveis às implantações de tropas dos EUA, tentativas econômicas, esquemas diplomáticos e propostas de mediação. A Guerra do Vietnã e a retração americana Em 1948-9, uma série de fatores interconectados, extra-regionais, levaram as autoridades dos EUA a se preocuparem e participaram dos assuntos do Sudeste Asiático. Os conflitos coloniais furiosos na Indochina e nas Índias Orientais, juntamente com uma insurgência liderada pelos comunistas na Malásia britânica, provaram uma grande resistência à recuperação da Europa Ocidental. Os produtos primários do Sudeste Asiático tradicionalmente contribuíram para a vitalidade econômica e a capacidade de ganhar dólar, da Grã- Bretanha, da França e dos Países Baixos. As condições incertas no Sudeste Asiático, no entanto, não apenas impediram tal contribuição, mas absorveram dinheiro, recursos e mão-de-obra necessários para o Plano Marshall e a incipiente aliança atlântica – as principais prioridades da Guerra Fria da América. Os especialistas dos EUA estavam convencidos de que a recuperação do Japão, também, estava sendo dificultada pela instabilidade política e a conseqüente estagnação econômica no Sudeste Asiático. O Japão precisava de mercados internacionais por sua sobrevivência econômica. No entanto, com a consolidação do controle comunista na China, os tomadores de decisão dos EUA desencorajaram ativamente o comércio com o continente chinês, o maior mercado de pré-guerra do Japão, por medo de que os vínculos comerciais próximos possam atrair Tóquio e Beijing politicamente. Os mercados de substituição no Sudeste Asiático pareciama resposta mais promissora para o dilema das exportações do Japão; Mas a turbulência política e econômica da região primeiro teve que ser reprimida. O surgimento de um regime comunista no país mais populoso da Ásia constituiu o outro fator externo principal, impulsionando uma postura mais ativista dos EUA no Sudeste Asiático. Analistas dos EUA temiam as tendências expansionistas da China; a possibilidade de que ele pudesse usar seu poder militar para obter controle sobre partes do Sudeste Asiático representou uma ameaça, além da probabilidade de que ele oferecesse suporte para outras insurgências revolucionárias. Em resposta a esses problemas, os Estados Unidos fizeram uma série de novos compromissos com o Sudeste da Ásia, visando estimular simultaneamente a estabilização política da área e contendo a ameaça chinesa. Mais importante, abandonou sua abordagem quase-neutra à disputa indochinesa a favor de uma política de Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 apoio aberto aos franceses, reconhecendo oficialmente, em fevereiro de 1950, o regime de marionetes instalados na França liderado pelo ex-imperador Bao Daí. A administração Truman também intensificou sua ajuda às forças britânicas lutando contra a insurreição comunista na Malásia. Washington prometeu assistência econômica e técnica aos governos da Birmânia, Tailândia, Filipinas e Indonésia. Este último alcançou a independência em dezembro de 1949, depois de uma luta dura com os holandeses, em parte porque os Estados Unidos também abandonaram seu status quase neutro, embora neste caso pressionasse um aliado europeu a reconhecer o que parecia ser moderado e decididamente não-comunista, movimento nacionalista. A Indochina, onde os insurgentes do Viet-Minh liderados por comunistas, desde 1946, estavam frustrando todas as tentativas francesas de suprimi-los, graças, em parte, ao inesquecível apoio militar e logístico chinês, apareceu o lugar mais provável para um avanço comunista. Ele serviu de ponto focal dos esforços de contenção dos Estados Unidos no Sudeste Asiático. Começando antes da Guerra da Coréia e aumentando progressivamente ao longo dos próximos anos, a ajuda militar dos EUA essencialmente subscreveu o esforço de guerra francês. No início de 1954, no entanto, o povo francês e o governo ficaram cansados de um conflito que se mostrou caro, prolongado e profundamente impopular. Rejeitando os americanos, buscaram uma saída diplomática. Uma grande conferência de poder sobre a Indochina, por conseguinte, se reuniu em Genebra em maio de 1954. Foi seguido rapidamente por um triunfo decisivo do Viet-Minh sobre a liderada francesa em Dienbienphu, no remoto noroeste do Vietnã. Juntos, esses desenvolvimentos aceleraram o fim do domínio francês na região. Incapaz de ganhar na mesa da conferência o que havia perdido no campo de batalha, as potências ocidentais aceitaram a divisão temporária do Vietnã no paralelo 17, concedendo a metade norte do país ao Viet-Minh de Ho. Os aliados soviéticos e chineses do líder vietnamita pressionaram- no a se conformar com a meia vitória pois queriam evitar provocar os americanos e arriscar outro confronto militar com o Ocidente após o cessar-fogo coreano. Os motivos subjacentes da decisão fatídica de Washington de intervir no Vietnã com uma força militar maciça, por mais equivocados que possam aparecer em retrospectiva, não são difíceis de discernir. Eles estão quase inteiramente dentro do domínio dos medos da Guerra Fria. No sentido mais amplo, a intervenção dos EUA decorreu da determinação de conter a China e provar simultaneamente, por causa dos aliados e adversários, da credibilidade do poder americano e da santidade dos compromissos americanos. No início da década de 1960, a China havia, em muitos aspectos, suplantado a União Soviética como o adversário mais temido da América. O período de pós-crise dos mísseis cubanos, que produziu um descongelamento nas relações EUA-URSS, não trouxe nenhuma pausa às tensões americanas. Os planejadores de segurança nacional das administrações de Kennedy e Johnson estavam convencidos de que a divisão sino-soviética cada vez mais virulenta tinha encorajado os líderes de Beijing, tornando-os mais (em vez de menos) agressivos, aventureiros e imprevisíveis. Os líderes americanos tornaram explícita, em numerosas ocasiões, a conexão entre as tendências expansionistas presumidas da China e a necessidade de intervenção americana no Vietnã. O concurso no Vietnã faz parte de um padrão mais amplo de “fins agressivos chineses”. O secretário de Defesa McNamara, em uma coletiva com a imprensa no mesmo mês, Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 observou que a alternativa à luta no Vietnã era um Sudeste Asiático dominado pelos chineses, o que significaria uma “Ásia Vermelha”. Se os Estados Unidos se retirassem do Vietnã, advertiu, uma mudança completa ocorreria no equilíbrio de poder mundial. A determinação dos Estados Unidos de demonstrar sua credibilidade como um poder que enfrentou a agressão com firme determinação e honrou seus compromissos com aliados fundiu perfeitamente com a vertente anti-chinesa na política dos EUA. Johnson e seus principais assessores estavam convencidos de que a credibilidade dos EUA deve ser preservada em quase qualquer custo. Era a cola indispensável que continha todo o sistema de alianças da Guerra Fria dos Estados Unidos, bem como o principal impedimento para a agressão comunista. Entre 1965 e 1968, a administração de Johnson investiu recursos e homens no Vietnã do Sul em um esforço infrutífero para esmagar uma insurgência popular enquanto tentava simultaneamente sustentar uma sucessão de governos impopulares e ineficazes em Saigon. Moscou e Beijing, por sua vez, proporcionaram a Hanói auxílio e material militar indispensável, complicando ainda mais a tarefa americana, ao mesmo tempo em que emprestava um elenco adicional do leste e oeste para o conflito. À medida que a guerra arrasou inconclusivamente, as fileiras dos dissidentes aumentaram – nos Estados Unidos e no exterior – e o consenso da Guerra Fria que sustentou compromissos no exterior dos EUA nas duas décadas anteriores começou a se frustrar. A maciça operação norte-vietnamita de Tet, no início de 1968, expôs as contradições da estratégia militar dos EUA no Vietnã e, ainda mais fundamentalmente, os limites do poder americano. A luta entre o Leste e o Oeste provavelmente alcançou sua virada mais perigosa entre 1958 e 1962, culminando com a crise dos mísseis cubanos de época. Posteriormente, as relações soviético-americanas experimentaram um descongelamento, apenas para ser revogada novamente pela escalada dos EUA no Vietnã. No entanto, apesar da guerra do Vietnã, os Estados Unidos e a União Soviética conseguiram evitar outro grande confronto em meados dos anos 60, ao mesmo tempo em que mantém pelo menos um impulso positivo gerado pela aproximação pós-cubano da crise dos mísseis. Em 1968, as superpotências estavam realmente avançando em direção a um acordo histórico sobre a limitação de armas estratégicas. A mudança da natureza da dinâmica doméstica da Guerra Fria – tanto no Oeste quanto no Oriente – ajudou a tornar possível tal avanço. A Guerra do Vietnã mostrou para os americanos – e, para um número crescente, inaceitável – os elevados custos da hegemonia global de sua nação. A guerra, que estimulou o maior movimento da paz na história dos EUA, desencadeou um debate interno indescritível sobre o preço do globalismo americano. Esse debate esquentou ferozmente no final da década de 1960, exigindo uma reavaliação nos níveis mais altos do governo americano de umaestratégia global da Guerra Fria, que deixara o país profundamente expandido e dividido. Junto com seu principal assessor de política externa, Henry A. Kissinger, o presidente Richard Nixon preocupou-se com o fato de os Estados Unidos terem se tornado perigosamente superados em todo o mundo, com seus recursos se espalhando de forma perigosa. A guerra do Vietnã serviu, na sua opinião, como o sintoma mais alarmante de um problema muito maior. “Nós nos tornamos como outras nações na Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 necessidade de reconhecer que nosso poder, enquanto vasto, tinha limites”, recordou Kissinger em suas memórias. “Nossos recursos não eram mais infinitos em relação aos nossos problemas; em vez disso, tivemos que estabelecer prioridades, tanto intelectuais quanto materiais.” A prioridade para Nixon e Kissinger permaneceu a contenção de uma nação que possuía poder suficiente para pôr em perigo a segurança nacional dos EUA. Embora tenha aumentado a fama política em grande parte devido à sua reputação como anticomunista cruzada, o pragmático Nixon já não viu o apelo ideológico do comunismo como uma séria ameaça. Era o poder soviético, puro e simples, que agora o preocupava. Uma política de détente com a União Soviética decorreu naturalmente de sua visão geopolítica compartilhada, assim como a esperada aproximação com a China. A administração Nixon teve como objetivo restringir a acumulação de armas nucleares de Moscou e reduzir os custos da concorrência e os riscos de guerra através de negociações de controle de armas. Ao garantir simultaneamente a aceitação de Moscou na ordem mundial existente, a administração poderia ajudar a verificar a propensão soviética para uma política estrangeira aventureira no Terceiro Mundo. Se pudesse, ao mesmo tempo, engendrar uma abertura para a China, isolada há muito tempo, os Estados Unidos poderiam então jogar os dois rivais comunistas um contra o outro, empurrando-se para a posição de pivô estratégico na relação triangular entre os três poderes. Era um plano arrojado, formulado em um momento em que os custos de incapacidade da Guerra do Vietnã em casa e no exterior exigiam algum reajuste na estratégia da Guerra Fria dos EUA. Nixon esperava que a implementação do plano também pudesse facilitar uma saída americana do Vietnã, ainda o mais imediato problema de política externa da nação. Se Nixon pudesse forjar relações menos conflitantes com a União Soviética e a China, enquanto retirava os Estados Unidos do Vietnã, sua reeleição em 1972 seria praticamente garantida, bem como sua reputação como um estadista. A Guerra do Vietnã estabeleceu um marco midiático importante. As cenas de jovens soldados americanos engajados em combates nas selvas vietnamitas, ou feridos nos hospitais de campo americanos, além das chocantes imagens das vítimas fatais, exerceu uma grande influência sobre a opinião pública americana. O conflito, que ceifaria mais de 50 mil americanos e de 1 milhão de vietnamitas, provocou uma grande reação contrária nos Estados Unidos e moldou boa parte do imaginário cultural e bélico daquela nação. O concurso de China, Coréia do Norte e União Soviética no conflito, auxiliando o Vietnã do Norte no seu esforço de guerra, além da erosão do apoio doméstico ao custoso e prolongado envolvimento americano no conflito, levaram a um empenho maior na busca por uma paz negociada para a guerra. Em setembro de 1972, o Secretário de Estado americano, Henry Kissinger, e Lê Đức Thọ, representante do Vietnã do Norte, após meses de negociação, começaram a estabelecer os termos para um acordo de paz. Após várias reuniões críticas nas semanas seguintes, ambos chegaram a um acordo de armistício em 22 de outubro de 1972, dezesseis dias antes da eleição presidencial nos Estados Unidos. Entre as principais concessões e provisões, o Vietnã do Norte abandonou sua demanda pela remoção definitiva de Nguyen Van Thieu, presidente do Vietnã do Sul, do poder; Washington concordou em retirar todas as forças restantes da Indochina, reconhecer a autoridade legal do Governo Revolucionário Provisório do Vietnã do Sul (PRG) no território que controlava, e reconhecer que o Vietnã era um só país. Thieu, no entanto, rejeitou o acordo. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 Nixon foi reeleito numa expressiva votação em 7 de novembro, após o que foram realizadas novas negociações e mais bombardeios, já que Nixon buscava revisões no acordo que agradassem a Thieu e protegessem sua própria credibilidade como presidente que. As negociações foram retomadas em 8 de janeiro de 1973. O acordo de armistício, finalmente alcançado em 13 de janeiro de 1973 – os Acordos de Paz de Paris –, mal se distinguia do projeto de acordo de outubro. As lutas entre as forças sul-vietnamitas e o PGR não cessaram, entretanto. O Conselho Tripartite de Reconciliação e Concórdia, solicitado no acordo, nunca foi formado e as eleições nunca foram realizadas. O Vietnã do Norte, em desacordo com o estabelecido no armistício, manteve suas ofensivas ao território vizinho, e as nações socialistas que apoiavam os comunistas vietnamitas não interromperam seu apoio logístico e bélico. A despeito da persistência dos ataques, o Congresso dos Estados Unidos se recusou a permitir que novas tropas americanas fossem enviadas ao país asiático. Em 30 de abril de 1975, a capital sul- vietnamita, Saigon, foi tomada de assalto pelos comunistas do norte; a 2 de julho de 1976, foi fundada oficialmente a República Socialista do Vietnã. Por fim, dentro do contexto da coexistência pacífica, temos a nova inserção internacional dos países americanos, uma tendência que permanece em voga durante o período posterior da chamada distensão. Desiludidos pela ausência de auxílio financeiro dos EUA, vários países na América começaram trilhar um caminho mais autônomo no que se refere às relações internacionais. Exemplos claros desse movimento são o Brasil e a Argentina. No caso brasileiro fica patente que após o período de alinhamento do general Dutra – que inclusive cassou a legalidade do PCdoB – o período posterior buscou desapegar-se um pouco da ideologia americana e crescer economicamente com suas forças e projetos próprios. Assim, é neste processo que temos o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek que se segue a um pragmatismo de Jango, pragmatismo esse que, em termos de política externa continuou durante o período militar. No caso argentino, temos a política de Perón e de sua sucessora que também intentaram descolar-se dos EUA – que nunca foram bem-vistos dentro da tradição da política externa argentina. Com todos estes aspectos somados, temos um período bem menos tenso do que o anterior (1945-1955). Isso não implicou, no entanto, ausência de problemas entre as duas superpotências. O principal embate foi o ocorrido durante a chamada “Crise dos Mísseis” de 1962. Este grave problema internacional envolve, ao menos, dois aspectos importantes: a revolução cubana e a colocação de mísseis nucleares na Turquia em 1961. A Revolução Cubana e a Crise dos mísseis de 1962 Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 11 História Mundial p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 Um revolucionário doméstico, o feroz e carismático Fidel Castro, lutou no seu caminho para o poder em Havana a partir de sua base inicial de guerrilha nas montanhas escarpadas da Sierra Maestra. Tendo derrubado e forçado ao exílio o ditador impopular e o antigo aliado dos EUA, Fulgencio Batista, no dia de novembro de 1959, Castro lançou imediatamente um ambicioso
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