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Guerra Fria: História Mundial p/ CACD

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Aula 11
História Mundial p/ CACD (Diplomata)
Primeira Fase - Com Videoaulas -
Pós-Edital
Autores:
Diogo D'angelo, Pedro Henrique
Soares Santos
Aula 11
13 de Agosto de 2020
 
 
 
 1 
 
Sumário 
Apresentação ...................................................................................................................................................... 2 
Questões Preliminares ......................................................................................................................................... 3 
A guerra fria começa: da doutrina truman à coexistência pacífica ................................................................... 5 
A guerra da coreia e a corrida armamentista ............................................................................................. 10 
A integração política da Europa................................................................................................................... 16 
A URSS pós-stálin e a Revolução Húngara de 1956 .................................................................................... 20 
A Revolução Chinesa e o equilíbrio de poder no sudeste asiático ............................................................... 21 
A crise de Suez ............................................................................................................................................. 22 
A Guerra do Vietnã e a retração americana ............................................................................................... 24 
A Revolução Cubana e a Crise dos mísseis de 1962 .................................................................................... 28 
A Deténte (1969-1979) .................................................................................................................................... 31 
O duelo das sombras: CIA vs KGB ................................................................................................................ 31 
A crise do petróleo de 1973 ........................................................................................................................ 34 
A luta anticomunista na Polônia, Igreja Católica e o movimento solidariedade ........................................... 36 
A Segunda Guerra Fria (1979-1993) .............................................................................................................. 38 
Reagan, Thatcher e a ressurreição do liberalismo ........................................................................................ 38 
A queda do muro de Berlim .......................................................................................................................... 39 
As reformas de Gorbachev e o fim da Guerra Fria ..................................................................................... 42 
Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 45 
Lista de Questões .............................................................................................................................................. 72 
Gabarito ........................................................................................................................................................... 88 
 
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APRESENTAÇÃO 
Olá caro aluno! 
 
Depois de compreendermos o processo que levou ao estouro da segunda guerra mundial e das conferências 
que ocorreram durante e depois do conflito entre os aliados, vamos agora adentrar um dos mais importantes 
conteúdos para a prova do CACD: guerra fria! 
A Guerra Fria foi marcada pela tensão diplomática e conflito ideológico entre as duas “superpotências” do 
momento: EUA e URSS. Essa nova realidade diplomática marcou toda a segunda metade do século XX e 
lançou as bases para as relações diplomáticas posteriores. 
Em todas as provas do concurso sempre caiu Guerra Fria, e geralmente com mais de uma questão! Portanto, 
bastante atenção e cuidado com esse tema! 
Dito isso, avancemos para mais uma vitória! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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QUESTÕES PRELIMINARES 
 
Antes de adentrarmos o conteúdo do período da guerra fria, faz-se necessário abordar algumas questões 
para esclarecer um pouco nosso objeto de estudo. São os seguintes pontos: como podemos entender o 
conceito de uma guerra “fria”? Quais são as cronologias diferentes que permeiam todo o período da guerra 
fria? Quais são os motivos para o surgimento deste “conflito”? 
Pela definição do dicionário Aurélio, guerra é “luta armada entre nações ou partidos; conflito; expedição 
militar; campanha; combate, peleja, luta”. Percebe-se aqui que no conceito de guerra está, ou melhor, estava 
implicada a ideia de contenda aberta entre dois grupos que chegariam às vias de fato. Isto é, a guerra seria 
“quente”. 
No entanto, desde o fim da segunda guerra mundial, vimos aparecer no conjunto das relações internacionais 
uma nova dinâmica envolvendo as duas “superpotências” – Estados Unidos e União Soviética. Os dois 
grandes países passaram a se antagonizar logo após o fim do maior conflito que a humanidade já vira e 
levaram todo o conjunto do planeta a orbitar ao seu redor – ainda que vozes houvesse que viessem a destoar 
de ambos, principalmente ao fim da década de 1960, como veremos depois. Interessante é observar, 
contudo, que embora se enxergando como rivais – e em certos momentos como verdadeiros inimigos – os 
dois países nunca se enfrentaram diretamente (o momento mais dramático que se aproximou de um embate 
direto ocorreu durante a crise dos mísseis de Cuba). Daí a expressão que viria a ser cunhada neste período 
de “guerra fria”. Ora, havia uma clara hostilidade latente entre ambos os países, havia enfrentamento 
indireto, havia vontade de minar o poder e a autoridade do outro. Entretanto, não houve conflito direto. 
Assim é que o dicionário Aurélio pôde acrescentar a expressão “guerra fria” como sendo “Estado de tensão 
entre prováveis beligerantes, que buscam prejudicar-se mutuamente por meio de quaisquer atos que não 
impliquem diretamente declaração de guerra”. 
Mas quando teria começado e acabado a guerra fria? Quais são os marcos temporais dentro desse período 
maior? 
As respostas a essas perguntas não são consensuais. Alguns historiadores consideram que a guerra fria teria 
se iniciado em 1945 com o lançamento das duas bombas atômicas sobre o Japão pelos EUA. Outros vão dizer 
que se inicia em 1947, com a enunciação da doutrina Truman e os planos econômicos de reconstrução da 
Europa. Quanto ao término, alguns afirmam que durou até a subida de Gorbatchev ao poder em 1985, outros 
que teria sido a queda do muro de Berlim em 1989, outros ainda que somente com a queda da União 
Soviética em 1991. Por fins didáticos, abordamos a guerra fria nesta aula como o período que vai de 1945 
até 1991. 
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Em relação aos períodos que no conjunto formam “a guerra fria”, temos mais conflitos entre os estudiosos. 
Tradicionalmente, esse momento histórico é subdividido em quatro partes: um período de tensão inicial 
a partir da doutrina truman até por volta de 1955; um período de coexistência pacífica (1955-1969); um 
período de détente (1969-1979) e um período de novas tensões (1980-1991). No entanto, alguns 
historiadores fazem diferentes cortes cronológicos, juntando a coexistência pacífica com a détente. Nesta 
aula, manteremosos cortes tradicionais do período. 
Por fim, vale a pena abordarmos rapidamente algumas interpretações sobre o conflito como um todo, muito 
embora venhamos a tocar neste assunto mais a frente novamente. 
Uma interpretação corrente no período da própria guerra fria tratava essas relações hostis entre URSS e EUA 
como um desenvolvimento natural de suas diferenças ideológicas. Isto é, percebe uma necessária rivalidade 
entre o comunismo e o capitalismo, cada um dos sistemas buscando a destruição do outro para sua própria 
sobrevivência. 
Essa interpretação purista do papel das ideologias no contextos mais global da guerra fria já caiu. Nenhum 
estudioso atual, seja do ponto de vista da história ou das relações internacionais, compartilha desta visão de 
maneira tão radical. Embora as diferenças ideológicas tenham sido importantes para a criação e manutenção 
do clima de rivalidade, não podemos imputar somente a este aspecto um quadro mais geral de antagonismo 
e hostilidade. De fato, há vários outros elementos que devem ser levados em consideração na análise dessas 
tensões entre americanos e soviéticos. 
Não temos aqui a pretensão de dar a resposta definitiva para um problema historiográfico que, 
provavelmente, nunca terá fim. Pretendemos, somente, trazer uma interpretação que te permita 
compreender o período e realizar bem a prova do CACD – que não compartilha de visões muito simplistas 
da história nem da realidade das relações interestatais. 
A interpretação que aqui seguimos é aquela dada pelo professor Sombra Saraiva. Em sua avaliação, a guerra 
fria foi o somatório das forças profundas dos Estados Unidos de manutenção e expansão da produção e 
comércio, da pressão do complexo industrial-militar para expandir os gastos militares e, claro, das 
divergências e antagonismos ideológicos. A União Soviética, em face das investidas americanas, escalaria os 
conflitos e aumentaria a tensão. 
Se partirmos destas considerações preliminares, poderemos apreender melhor o conjunto das relações entre 
as duas superpotências que dividiram “o condomínio” internacional no período. Assim sendo, vamos agora 
adentrar as efemérides da guerra fria. 
 
 
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A GUERRA FRIA COMEÇA: DA DOUTRINA TRUMAN À 
COEXISTÊNCIA PACÍFICA 
 
Na aula anterior, vimos um pouco do que chamamos de “Doutrina Truman”. Esta doutrina, que guiou em 
linhas gerais as formulações de política externa dos EUA durante quase todo o período da guerra fria, surgiu 
a partir de questões políticas concretas que ocorriam na Grécia e na Turquia. No sentido de responder a 
estas questões, Truman realizou um discurso no Congresso americano que reproduzimos aqui: 
No momento atual da história universal, quase todas as nações devem escolher entre 
formas de vida alternativas. Frequentemente, essa escolha não é livre. Uma forma de vida 
baseia-se na vontade da maioria e caracteriza-se por instituições livres, governos 
representativos, eleições livres, pela garantia das liberdades individuais, pela liberdade de 
expressão e de religião e pela ausência de opressão política. A segunda forma de vida 
baseia-se na vontade de uma minoria, imposta pela força à maioria. Assenta-se no terror e 
na opressão, no controle da impressa e do rádio, em eleições controladas e na supressão 
das liberdades pessoais. Creio que a política dos Estados Unidos deve consistir em apoiar 
os povos que estão lutando contra tentativas de subjugamento por parte de minorias 
armadas ou de pressões externas. Creio que devemos ajudar os povos livres a desenvolver 
seu destino à sua maneira. (...) os regimes totalitários, impostos após povos livres por meio 
da agressão direta ou indireta, solapam as bases da paz internacional e, portanto, a 
segurança dos Estados Unidos.1 
Tratava-se de uma postura internacional dos EUA de conter o comunismo soviético. O conjunto das ideias 
de Truman articulava princípios gerais – a liberdade vs o totalitarismo – evocando o ideário americano que 
havia guiado sua inserção internacional, com aspectos realistas, no caso a segurança dos EUA. 
A postura de Truman marca o início do período mais duro das relações internacionais bilaterais com a URSS. 
A partir daquele momento, o espírito de cordialidade que havia surgido em Yalta daria lugar à intransigência 
política e à deflagração de alguns conflitos localizados que envolveriam ambas as potências. 
Em termos práticos, a doutrina Truman se desdobrou em dois braços: um econômico e um militar. No 
primeiro, foram criados dois planos econômicos: o plano Marshall (1947) e o plano Colombo (1951). Ambos 
se tratavam de transferência de recurso via empréstimo dos Estados Unidos para países da Europa, caso do 
Marshall, e do Sudeste Asiático, caso do Colombo. A perspectiva era de dar condições econômicas para a 
 
1 Apud MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, 
p.93. 
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reorganização do sistema produtivo destruído pelo conflito mundial e que havia desarticulado a produção 
industrial e feito retrair o comércio internacional. 
Nesta conjuntura de penúria, a Europa ocidental vira crescer os movimentos políticos ligados ao socialismo 
e outras tendências de esquerda. Assim, o plano Marshall buscava, ao permitir a reconstrução europeia, dar 
condições de crescimento econômico aos países envolvidos, levando à retomada do emprego, da renda e, 
com isso, esvaziar a pauta política dos partidos e movimentos anticapitalistas. Aqui vale a pena lembrar que 
o prestígio político da União Soviética estava em seu ponto mais alto, com vários intelectuais ocidentais 
elogiando a resistência soviética aos nazistas, particularmente Stalingrado. Poemas e músicas foram feitos 
em louvor aos atos heroicos dos comunistas. Por conta disso, o comunismo ganhava um clamor popular 
muito grande. No entanto, após o plano Marshall e a reconstrução iniciarem seus frutos econômicos, 
durante a década de 1950, os movimentos socialistas na França e na Itália, onde eram mais fortes, retraíram 
significativamente. 
 
 
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Figura 1 – Países que receberam auxílio americano via Plano Marshall 
 
Também é importante relembrar que o plano foi também oferecido à URSS. Contudo, como a adesão 
envolvia a atuação com mecanismos multilaterais – e, portanto, a possibilidade de “infiltração” no país que 
aceitava participar deste programa – Stalin declinou a oferta, muito embora seu país necessitasse 
absolutamente de recursos para a reconstrução pós-guerra. A URSS e os Estados-satélites sofreriam bastante 
por conta disso e buscaram outras saídas dentro da esfera comunista, como a criação da COMECON 
(Conselho para Assistência Econômica Mútua) criada em 1949 e que visava, inicialmente, integrar 
economicamente os países do Leste Europeu, mas que se expandiu para outros países ligados a Moscou ao 
longo da guerra fria. 
O plano Colombo teve o mesmo objetivo do plano Marshall, mudando somente a área do mundo se 
aplicariam os recursos e o tamanho dos aportes financeiros. Sua aplicação se iniciou dois anos depois que a 
China, o gigante asiático, havia se enveredado pelo caminho comunista em 1949. Para barrar o avanço 
socialista que se espalhava por meio de movimentos guerrilheiros e movimentos ligados à libertação 
nacional das colônias europeias no Sudeste asiático, os EUA liberaram dinheiro para a reconstrução 
capitalista na região, particularmente para o Japão. 
Em termos militares,a doutrina Truman se desdobrou na criação da Organização do Tratado do Atlântico 
Norte (OTAN, NATO em inglês) criada em abril de 1949. Tratava-se de uma aliança militar de defesa mútua, 
em que um ataque a um dos membros seria interpretado como um ataque a todos os membros. 
A OTAN foi um grande passo na contenção da expansão soviética por dois motivos: primeiro porque impediu 
o avanço da URSS na direção de qualquer país membro da aliança; segundo porque levou à instalação de 
aparatos militares próximo às fronteiras soviéticas ou de seus satélites. A instalação de mísseis na Turquia 
em 1961, que entrou na aliança em 1952, precipitaria, inclusive, a crise dos mísseis de Cuba. 
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Figura 2 – Países membros da OTAN e seu ano de entrada na Aliança 
 
A resposta soviética viria seis anos depois, com a criação de uma aliança do bloco socialista da Europa 
Oriental, o chamado Pacto de Varsóvia. Envolvia os países satélites e Moscou também numa aliança de 
defesa mútua. O Pacto seria acionado em 1968 para conter o movimento na Tchecoslováquia – o movimento 
da primavera de Praga. Interessante é notar que as alianças não entraram em confrontro direto durante todo 
o período da guerra fria. 
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Figura 3 – Países membros do pacto de Varsóvia: União Soviética, Polônia, Alemanha Oriental, 
Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia (até 1968). 
 
Essa política mais “dura”, ou que poderíamos chamar de realmente “bipolar”, se manifestou em momentos 
tensos. Vale aqui ressaltar o Bloqueio de Berlim, ocorrido em 1948-1949, e a guerra da Coreia. 
No auge da Guerra Fria, encrustrada no centro da Alemanha Oriental estava Berlim. A cidade, tal qual o país 
inteiro, fora dividida em quatro partes de ocupação – como vimos na aula anterior –, três zonas ocidentais, 
uma soviética. Dentro da lógica de atuação dos americanos nesse momento, estava a ideia de que 
transformar a parte ocidental de Berlim numa vitrine do capitalismo internacional, de modo a atrair os 
berlinenses que moravam na parte leste e, por outro lado, levar à comparação com os problemas 
econômicos do socialismo oriental. 
Em face disso e das movimentações político-militares dos EUA, Stalin decidiu tentar mostrar sua força política 
e forçar os aliados ocidentais a se retirarem de Berlim (ou ao menos renegociar os termos dessa convivência). 
Assim, em 24 de junho de 1948, todo o acesso à cidade de Berlim Ocidental. Era o momento mais tenso nas 
relações internacionais que o mundo vivia desde o fim da segunda guerra mundial. 
O propósito de Stalin – de desabastecer a cidade – foi frustrado por uma ação enérgica tomada pelo governo 
dos EUA e de seus aliados, particularmente o Reino Unido. Já que todo o acesso terrestre havia sido impedido 
pelo governo soviético, os líderes dos países capitalistas decidiram abastecer parte ocidental de Berlim por 
meio de pontes aéreas. Foram realizados, durante o período de vigência do bloqueia (14/06/1948-
11/05/1949) cerca de 200 mil voos para levar mantimentos e combustível aos berlinenses. Depois de quase 
um ano, Stalin, humilhado diplomaticamente pela incapacidade de bloquear uma cidade no meio de um 
território sobre seu controle e após a criação da OTAN, decidiu suspender o bloqueio à cidade. 
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Figura 4 – Os corredores aéreos utilizados pelos aliados para abastecer Berlim Ocidental 
 
A guerra da coreia e a corrida armamentista 
 
O desenvolvimento e a consolidação de uma esfera de influência americana na Europa Ocidental e uma 
correspondente esfera soviética na Europa Oriental constituem a própria essência da fase de abertura da 
Guerra Fria, com a Alemanha servindo como seu ponto zero. No entanto, o conflito aberto entre o Oriente 
e o Ocidente foi evitado na Europa – no final da década de 1940 e ao longo das quatro décadas que se 
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seguiram. A Ásia, onde Washington e Moscou também tiveram interesses importantes, embora menos vitais, 
não teve destino semelhante. Cerca de 6 milhões de soldados e civis perderam a vida em conflitos 
relacionados à Guerra Fria na Coréia e na Indochina. Foi o surgimento da Guerra da Coréia em junho de 1950, 
além disso, que precipitou o primeiro confronto militar direto entre as forças comunistas e dos EUA e, mais 
do que qualquer outro evento, transformou a Guerra Fria em um conflito mundial. 
Após a Segunda Guerra Mundial, poucos lugares pareciam menos prováveis de emergir como um ponto focal 
da grande concorrência de energia do que a península coreana. Ocupado e governado pelo Japão como uma 
colônia desde 1910, a Coréia ficou em consideração em conselhos de guerra apenas como outro território 
menor e obscuro cuja disposição futura caiu sobre os ombros já sobrecarregados dos Aliados. Na Conferência 
de Potsdam, os americanos e os soviéticos concordaram em compartilhar responsabilidades de ocupação lá 
dividindo temporariamente o país no paralelo 38; eles também concordaram em trabalhar no sentido do 
estabelecimento de uma Coréia unida independente e unificada, o mais cedo possível. 
Em dezembro de 1945, em uma reunião de ministros dos estrangeiros em Moscou, os soviéticos aceitaram 
uma proposta dos EUA para o estabelecimento de uma comissão conjunta soviético-americana para se 
preparar para a eleição de um governo provisório da Coréia como um primeiro passo para a independência 
total. Mas esse plano logo foi vítima de grandes tensões da Guerra Fria que militaram contra qualquer 
cooperação significativa, ou compromisso, entre Moscou e Washington. Em 1948, as divisões de ocupação 
se endureceram. No norte, um regime pró-soviético sob a liderança do ex-lutador anti-japonês Kim Il-sung 
assumiu todas as armadilhas de um regime independente. Assim também, sua contraparte no sul: um regime 
pró-americano encabeçado pelo virginalmente anticomunista Syngman Rhee, um nacionalista coreano de 
longa data. Cada lado sabotava regularmente sabres na outra; nem o norte nem o sul-coreano poderiam 
aceitar uma divisão permanente da sua pátria. 
Em 1948, a administração Truman, tentando se livrar graciosamente do seu compromisso coreano, começou 
a retirar as forças militares dos EUA da península. Os planejadores da defesa americana acreditavam não só 
que o pessoal militar dos EUA se tornara excessivamente expandido em todo o mundo, exigindo essa 
retração, mas que a Coréia, de fato, possuía um valor estratégico mínimo. Em janeiro de 1950, o novo 
secretário anunciaria que a ilha de Formosa (Taiwan) e a Coreia (do sul), não estavam na linha de proteção 
americana que se estendia do Alasca ao Japão.2 
Essa declaração animou o governo de Kim Il-Sung que, com o beneplácito da União Soviética e de Mao – que 
vencera a guerra civil –, decidiu atacar o governo de Rhee. A expectativa de Moscou, Beijing e Pyongyang era 
a de que os EUA não iriam intervir e a Coreia poderia ser unificada sob o governo comunista. 
 
2 SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações internacionais contemporâneas. São Paulo: 
Saraiva, 2007, p. 210-211. 
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Esse cálculo político-diplomático, contudo,mostrou-se bastante equivocado. Como nos explica Magnoli: 
A guerra estalou em junho de 1950, com a penetração, através do paralelo 38, de tropas 
norte-coreanas decididas a reunificar o país. Aparentemente, o regime de Pyongyang tinha 
o beneplácito de Moscou e Beijing, que não acreditavam numa intervenção americana. 
Mas sob o impacto da Revolução Chinesa, Truman estava decidido a barrar a expansão do 
comunismo na Ásia.Aproveitando o boicote soviético ao Conselho de Segurança (CS), 
provocado pelo não-reconhecimento ocidental do regime comunista na China, Washington 
fez a intervenção de forças da ONU no conflito coreano ser aprovada. As tropas americanas 
e aliadas, sob a bandeira da ONU, e o comando do general Douglas MacArthur, 
desembarcaram na península e empreenderam uma funda contra-ofensiva em território 
norte-coreano, até as proximidades da fronteira chinesa. A irrupção das forças armadas 
chinesas na guerra, apresentadas oficialmente como destacamentos de voluntários, 
modificou radicalmente a situação militar. A retirada das tropas de MacArthur conduziu, 
em dezembro, o front de volta ao paralelo 38. Em abril de 1951, as proposições do general, 
cada vez mais insistentes, de bombardeios aéreos da China, foram definitivamente 
rejeitadas, e MacArthur perdeu seu posto de comando. Esse evento assinalou o 
encerramento da fase ativa da guerra. A estabilização do front perdurou até o início de 
1953. Então, a morte de Stalin abriu caminho para a conclusão do Armistício de Panmunjon, 
que produziu um cessar-fogo permanente. A ausência de um tratado de paz transformou 
o front do paralelo 38 numa fronteira instável, compartilhada por Estados tecnicamente 
em guerra. A deflagração da Guerra da Coréia colocou em marcha a estratégia da 
contenção na Ásia. Em 1951, Washington firmava acordos militares bilaterais com o Japão 
e as Filipinas. Adicionalmente, firmava o Pacto Anzus com a Austrália e a Nova Zelândia. 
Começava a ser erguido um vasto sistema de alianças entre os Estados Unidos e os países 
da orla litorânea da Ásia. O armistício coreano impulsionou, em 1954, os tratados militares 
bilaterais com a Coréia do Sul e Taiwan. Por meio deles, fechava-se o ferrolho estratégico 
montado em torno da China Oriental e do porto soviético de Vladivostok, no Pacífico 
Norte.3 
 
No início da manhã de 25 de junho de 1950, uma força de ataque de cerca de 100.000 norte-coreanos, 
armada com mais de 1.400 peças de artilharia e acompanhada por 126 tanques, cruzou o paralelo 38 para a 
Coréia do Sul. A inesperada invasão inaugurou uma nova e muito mais perigosa fase da Guerra Fria, não 
apenas na Ásia, mas globalmente. Certo de que o ataque só poderia ter ocorrido com o apoio da União 
Soviética e da China – uma avaliação correta, como as evidências disponíveis agora confirmam – e 
convencido de que isso indicava uma ofensiva internacional mais ousada e mais agressiva pelos poderes 
comunistas, a administração Truman respondeu vigorosamente: enviou imediatamente as forças navais e 
aéreas americanas para a Coréia para impedir o avanço norte-coreano e reforçar as defesas sul-coreanas. 
 
3 MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 
107-108. 
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Quando essa intervenção inicial se mostrou insuficiente, a administração enviou tropas de combate dos EUA, 
que se tornaram parte de uma força internacional devido à condenação da ONU pela invasão norte-coreana. 
Essa conflagração alarmou os ânimos internacionais, o maior que houvera desde a Segunda Guerra. O medo 
de um conflito atômico chegou ao mais alto ponto desde o estouro das bombas no Japão. Para se ter uma 
ideia das cifras desse conflito, estimam-se por volta de 2,5 milhões de civis mortos ou feridos, 750 mil baixas 
do lado comunista e 178 mil baixas no sul, embora a contagem de mortos e feridos em guerra seja sempre 
impreciso. 
A estratégia divisada nos Estados Unidos de conter o comunismo foi particularmente evidente na Ásia. Isto 
porque, como veremos na próxima aula, os movimentos de descolonização que se seguiram à Segunda 
Guerra foram, por parte de alguns grupos que buscavam a independência, influenciados pelo ideário 
comunista-soviético ou maoísta. Assim, entre 1950-1970, os EUA ficaram estiveram ativos na região. 
Essa preocupação com a Ásia estava ligada a uma teoria desenvolvida em Washington de que se algum dos 
países do Extremo Oriente viesse a se tornar comunista – para além da China – outros o seguiriam. É a 
chamada teoria do dominó, colocada claramente pelo presidente que sucedeu a Truman, Dwight 
Eisenhower. Em 1954, o antigo general e presidente da superpotência capitalista, afirmou: 
Finally, you have broader considerations that might follow what you would call the “falling 
domino” principle. You have a row of dominoes set up, you knock over the first one, and 
what will happen to the last one is the certainty that it will go over very quickly. So you 
could have a beginning of a disintegration that would have the most profound influences.4 
O discurso de Eisenhower é ilustrativo porque nos ilumina o grande foco dado pelas relações exteriores dos 
Estados Unidos à Ásia, facilitando nosso entendimento sobre o envolvimento americano tanto na Guerra da 
Coreia quanto na Guerra do Vietnã. A península coreana e a Indochina estavam muito próximas do Japão e 
de outros aliados do Oeste para os EUA se darem ao luxo de permitir um movimento alinhado a Moscou (ou 
mesmo a Beijing) prosperar. Neste mesmo sentido é que os americanos formaram a ANZUS em 1951, uma 
aliança militar a la OTAN que envolvia a Austrália, a Nova Zelândia e os EUA. OTAN, ANZUS, o envolvimento 
nos conflitos asiáticos eram a tentativa de Washington de fechar o ferrolho sobre os comunistas chineses e 
soviéticos. 
Tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética inauguraram grandes conjuntos de armas – convencionais 
e nucleares – após o início da Guerra da Coréia. Entre 1950 e 1953, os Estados Unidos aumentaram suas 
forças armadas em mais de um milhão de soldados, ao mesmo tempo em que expandiram significativamente 
 
4 Em tradução livre: “Finalmente, há considerações mais amplas que seguem o que se poderia chamar 
de princípio do “domínio em queda”. Há uma fileira de dominós enfileirados, você derruba um e o que 
vai acontecer com o último é que certamente ele cairá rapidamente. Então haveria a desintegração que 
haveria a mais profundas influências”. 
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sua produção de aeronaves, navios navais, veículos blindados e outros instrumentos de guerra convencional. 
Sua acumulação nuclear foi ainda mais impressionante. Em outubro de 1952, os americanos testaram com 
sucesso um dispositivo termonuclear, ou bomba H, que foi exponencialmente mais poderoso do que os 
usados em Hiroshima e Nagasaki. Em outubro de 1954, eles detonaram com sucesso um ainda mais potente. 
No final da década de 1950, a dissuasão nuclear americana dependia de bombardeiros de médio alcance que 
poderiam atacar o território soviético em missões bidirecionais apenas a partir de bases na Europa. Mas, ao 
final da década, os Estados Unidos aumentaram seu poder de ataque nuclear com a implantação de 538 
bombardeiros intercontinentais B-52, cada um capaz de atacar alvos soviéticos a partir de bases nos Estados 
Unidos. Em 1955, Eisenhower também ordenou o desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais 
(ICBMs) que permitiriam que as ogivas nucleares fossem lançadas contra a União Soviética a partir do solo 
americano. Em 1960, os Estados Unidos começaram a implantar sua primeira geração de ICBMs, juntamente 
com seuprimeiro lote de mísseis balísticos baseados em submarinos. 
Essas implementações deram aos Estados Unidos a “tríade” cobiçada de armas nucleares bombardeadas, 
terrestres e submarinas, cada parte da tríade capaz de destruir os principais alvos soviéticos. O arsenal 
nuclear total dos EUA cresceu de aproximadamente 1.000 ogivas em 1953, o primeiro ano de Eisenhower no 
escritório, para 18 mil em 1960, seu último. Até então, o Comando Aéreo Estratégico dos EUA (SAC) 
apresentava um total de 1.735 bombardeiros estratégicos capazes de derrubar armas nucleares em alvos 
soviéticos. 
A União Soviética esforçou-se para manter o ritmo. Entre 1950 e 1955, o Exército Vermelho expandiu 3 
milhões de tropas para criar uma força armada de quase 5,8 milhões – antes que Khrushchev ordenasse 
cortes de força em meados da década de 1950 para reduzir o exorbitante orçamento de defesa de Moscou. 
Mas a margem marcada pela União Soviética sobre os Estados Unidos e a OTAN em homens sob as armas 
foi paralelizada e viciada por uma inferioridade significativa em praticamente todas as outras medidas de 
força militar. Essa disparidade foi particularmente flagrante na esfera nuclear. Os soviéticos testaram com 
sucesso seu primeiro dispositivo termonuclear em agosto de 1953 e um mais poderoso em novembro de 
1955. Sua capacidade de entrega permaneceu severamente limitada, no entanto. Antes de 1955, os 
soviéticos permaneceram incapazes de realizar um ataque nuclear contra os Estados Unidos e, 
consequentemente, confiaram em propósitos dissuasivos sobre a habilidade de seus bombardeiros 
atingirem os objetivos da Europa Ocidental. No final da década, a frota soviética de bombardeiros 
estratégicos ainda só poderia chegar aos Estados Unidos em missões de bombas unidirecionais das bases do 
Ártico, missões que seriam altamente vulneráveis aos interceptores americanos. 
As corridas de armas caracterizaram as rivalidades internacionais ao longo do conflito. O que faz com que a 
era da Guerra Fria seja única, é claro, é sua dimensão nuclear. Estudiosos, analistas políticos e estrategistas 
governamentais rumaram por muito tempo sobre como a disponibilidade de armas capazes de causar 
destruição sem precedentes moldou os contornos e a evolução da Guerra Fria. A questão é tão importante 
quanto é difícil responder com qualquer grau de precisão. Por um lado, as armas nucleares provavelmente 
deram um certo grau de estabilidade ao relacionamento da superpotência e quase certamente diminuíram 
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a probabilidade de hostilidades abertas na Europa. A estratégia essencial da OTAN para repelir uma invasão 
convencional soviética girou no reconhecimento de que qualquer guerra europeia seria uma guerra nuclear; 
Os incentivos poderosos, portanto, existiam em ambos os lados para evitar um conflito que inevitavelmente 
causaria enormes perdas de vida para atacantes e defensores. Em uma reunião do NSC em janeiro de 1956, 
Eisenhower enfatizou o que ele chamou de “consideração transcendente” em todos os debates sobre a 
estratégia nuclear – a saber, que “ninguém pode ganhar em uma guerra termonuclear”. 
Por outro lado, Eisenhower também aceitou como doutrina oficial durante seu primeiro ano na Casa Branca 
que “no caso de hostilidades, os Estados Unidos considerarão que as armas nucleares estão disponíveis para 
nós como outras munições”. Sua administração sancionou a introdução das armas nucleares do primeiro 
campo de batalha na Alemanha em novembro de 1953, presidiu a enorme acumulação de armas nucleares 
e sistemas de entrega detalhados acima, promoveu “retaliação maciça” como um princípio fundamental da 
postura de defesa dos EUA e ameaçou a uso de armas nucleares durante a fase final da Guerra da Coréia e 
em um esforço para deter Beijing durante a crise do Estreito de Taiwan de 1954-5. 
Essa ordem bipolar rígida não duraria muito tempo, no entanto. Podemos considerar que por volta de 1955 
iniciaria um processo de coexistência pacífica entre as duas superpotências que se aprofundaria no fim da 
década de 1960 numa ativa aproximação entre a URSS e os EUA – a chamada détente. Sombra Saraiva nos 
traz seis elementos que levaram a essa coabitação pacífica, que podemos assim dispor para fins de fácil 
entendimento: 
1. Recuperação econômica dos Estados europeus ocidentais; 
2. Flexibilização intra-imperial (EUA e URSS) / morte de Stalin; 
3. Desintegração da unidade do mundo comunista: Beijing vs Moscou (1960); 
4. Descolonização dos povos africanos e asiáticos; 
5. Novo modelo de inserção dos países sul-americanos nas relações internacionais; 
6. Declínio gradual das armas nucleares na balança de poder mundial. 
 
É importante dizer que a divisão nesses seis pontos é meramente didática e todas estão, de uma forma ou 
de outra, entremeadas. Particularmente, deve-se ter em mente que o item 2 está umbilicalmente ligado aos 
itens 1 e 3. Nesta aula, não iremos abordar o item 4, já que a próxima aula será dedicada integralmente ao 
tema. 
O mundo capitalista na década de 1950 conheceu grande expansão econômica de modo geral, 
especialmente os países centrais do sistema. Por conta desse grane crescimento por longo tempo, os anos 
1950 e parte de 1960 seriam conhecidos como “anos dourados” – inclusive no Brasil, particularmente 
durante o mandato do presidente Juscelino Kubitschek. 
 
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A integração política da Europa 
 
Na Europa Ocidental, o crescimento econômico foi impulsionado, em grande medida, pela execução do Plano 
Marshall, do qual falamos acima. A reconstrução e os altos investimentos no Velho Mundo capitalista 
levaram a uma situação de alto emprego e alta renda. Isso teria impacto importante em dois sentidos: o 
desenvolvimento do Welfare State e de um novo modelo de inserção internacional dos Estados europeus. 
O Welfare State foi a resposta econômica e social dos países europeus capitalistas para a pressão do exemplo 
do modelo socialista que vigorava nos países vizinhos da Europa central. Lembremos que no imediato pós-
guerra, os movimentos socialistas ganharam muito impulso dada a força moral dos soviéticos na resistência 
e derrota dos nazistas e pelos problemas econômicos pelos quais passava o continente após o fim do conflito. 
Assim, o plano Marshall possibilitou os recursos necessários para a reconstrução, mas também permitiu uma 
reforma dos Estados europeus no sentido de construir uma ampla rede de amparo social e auxílio aos mais 
necessitados de suas sociedades. É neste momento que se realizaram várias reformas nos sistemas 
previdenciários e trabalhistas na França, na Inglaterra (sob os trabalhistas) e na Itália. Nestes países, 
observou-se como corolário imediato o arrefecimento claro dos movimentos socialistas. 
Esse caminho adotado pelos Estados europeus mesclava planejamento estatal com livre mercado, numa 
perspectiva keynesiana. A ideia envolvia proteger e regular o mercado de trabalho, incentivar o trabalho 
industrial e subsidiar – via Estado – áreas consideradas essenciais para a economia, além, claro, da 
manutenção dos serviços públicos e de amparo social. Essas práticas, por sua vez, implicavam em gastos 
elevados que resultavam, por vezes, em déficits que foram se acumulando durante das décadas de 1950 e 
1960 e que viria a estourar na década de 1970 – exigindo dos países uma ampla re-estruturação econômica. 
Seja como for, os dirigentes europeus não imaginavam os fardos econômicos graves que suas políticas 
poderiam criar e sustentaram o Welfare State porque o consideravam como a solução perfeita para os 
problemas político-econômico-sociais existentes. Ocaminho a seguir não era nem o socialismo, nem o 
capitalismo selvagem e sim a reforma do sistema capitalista dentro de quadros que envolvessem a 
interferência estatal na economia. Esse modelo seria inspiração para vários países, mesmo alguns “em 
desenvolvimento”, cujos cidadãos aspiravam ao acesso a serviços públicos de qualidade. 
Outra consequência significativa do crescimento econômico europeu trata-se de uma reinserção 
internacional mais autônoma destes países ocidentais. No pós-guerra, o velho mundo estava destruído. 
Incapaz de se autofinanciar e lidar com os graves problemas que a guerra havia trazido para a economia, os 
países capitalistas da Europa tiveram de seguir os caminhos dos Estados Unidos, por um lado porque estavam 
economicamente combalidos a ponto de não conseguirem sustentar uma política autônoma. Por outro, 
precisavam das benesses da superpotência para recuperar sua vida econômica. Quando isso aconteceu, as 
relações exteriores desses países mudaram consideravelmente. 
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Em termos concretos, os dois movimentos mais importantes nesse sentido foram a mudança de postura da 
França relativamente aos Estados Unidos e o processo de integração política e econômica da Europa 
Ocidental iniciado na década de 1950. A França, que fora potência por longo período de tempo na idade 
moderna, fora humilhada no campo de batalha durante a segunda guerra mundial e forçada a uma existência 
de Estado-satélite dos nazistas durante o governo de Vichy. Com o fim do conflito, a França somente foi 
considerada “potência” e ganhou destaque nos arranjos feitos nas conferências internacionais, que vimos 
em outra aula, por pressão e auxílio de Churchill. 
Na nova ordem mundial que emergia, a França não possuía lugar de destaque. A IV República era instável 
politicamente e as colônias francesas iniciavam suas contestações contra a metrópole imperialista. Incapaz 
de financiar autonomamente sua reconstrução, aderiu ao plano Marshall dos EUA sem grandes reservas e 
seguiu, de modo geral, a orientação de política externa dos americanos – algo que viria a mudar durante a 
partir da presidência do general De Gaulle. 
Ainda que neste contexto mais geral de dependência externa, França iria buscar formar na Europa uma nova 
maneira de se relacionar com seus vizinhos, projeto político que se amadureceria e se desenvolveria 
principalmente a partir de fins da década de 1950. Trata-se do que, retrospectivamente, podemos chamar 
de integração europeia. 
Percebendo que o futuro da Europa não poderia mais passar pelas rivalidades entre os Estados-Nação que 
haviam marcado a história do continente, a França iniciou uma aproximação com seus vizinhos. Essa 
perspectiva ficaria clara num discurso célebre realizado por Robert Schuman em 1950, o ministro das 
relações exteriores e primeiro-ministro francês da IV República: 
A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos à medida dos perigos 
que a ameaçam.O contributo que uma Europa viva e organizada pode dar à civilização é 
indispensável para a manutenção de relações pacificas. A França, ao assumir-se desde há 
mais de vinte anos como defensora de uma Europa unida, teve sempre por objetivo 
essencial servir a paz. A Europa não foi construida, tivemos a guerra. A Europa não se fará 
de uma só vez, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações 
concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto. A união das nações 
europeias exige que seja eliminada a secular oposição entre a França e a Alemanha.Com 
esse objetivo, o Governo francês propõe atuar imediatamente num plano limitado mas 
decisivo. O Governo francês propõe subordinar o conjunto da produção franco-alemã de 
carvão e de aço a uma Alta Autoridade, numa organização aberta à participação dos outros 
países da Europa. A comunitarização das produções de carvão e de aço assegura 
imediatamente o estabelecimento de bases comuns de desenvolvimento económico, como 
primeira etapa da federação europeia, e mudará o destino das regiões durante muito 
tempo condenadas ao fabrico de armas de guerra, das quais constituíram as mais 
constantes vítimas. A solidariedade de produção assim alcançada revelará que qualquer 
guerra entre a França e a Alemanha se tornará não apenas impensável como também 
materialmente impossível. O estabelecimento desta poderosa unidade de produção aberta 
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a todos os países que nela queiram participar e que permitirá fornecer a todos os países 
que a compõem os elementos fundamentais da produção industrial em condições 
idênticas, e lançará os fundamentos reais da sua unificação econômica. 
 
Esta declaração era o pontapé inicial para a integração da Europa. A ideia de Schuman e de Monnet (outro 
grande personagem francês nesse processo) era fazer pouco-a-pouco essa união, com passos factíveis e 
concretos. A formação da Comunidade Econômica do Carvão e do Aço (CECA) deu-se em 1951, envolvendo 
França, Bélgica, Reino Unido dos Países Baixos (Holanda), Luxemburgo, Alemanha Ocidental (criada em 1949) 
e Itália. Estava formada a Europa dos Seis – o núcleo duro de todo o processo de integração. Posteriormente, 
em 1957 por meio dos tratados de Roma, foi criada a Comunidade Econômica Europeia (CEE), com o objetivo 
de se criar um mercado e taxas alfandegárias comuns. 
No mesmo ano de 1957, também era criada a Comunidade Europeia de Energia Atômica (EURATOM), cujo 
objetivo era administrar o estudo e o uso da energia atômica entre os Estados membros. Em 1961, criava-se 
uma Política Agrícola Comum (PAC), para subsidiar e desenvolver a produção agrícola – uma questão 
particularmente sensível à França e que causaria várias discussões na Organização Mundial de Comércio 
décadas depois. A CECA,a CEE e a EURATOM seriam fundidas por meio do tratado de fusão de 1965, sendo 
administadas por uma mesma autoridade. A partir daí, a integração seria cada vez maior, levando, finalmente 
à criação da União Europeia em 1992. 
 
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Figura 5 – A integração européia entre 1957-2007 
 
A integração européia se aprofundou a partir de fins da década de 1950. Coincide, portanto, com o 
soerguimento econômico dos países europeus e com o fortalecimento do Estado francês com a fundação da 
V República de De Gaulle. Com essa união dos europeus, sua força econômica e política lhes permitiu buscar 
novas relações internacionais, numa postura mais autônoma frente aos EUA. Essa realidade foi bem-vista 
pelos americanos porque significava que não precisavam mais se preocupar com o “contágio” comunista na 
região. No entanto, isso implicava uma flexibilização do sistema “imperial” da superpotência capitalista – 
ponto 2 que havíamos mencionado acima. 
Outra questão de relevância que forçou uma relação mais pacífica das relações entre EUA e URSS foi a divisão 
dos movimentos comunistas e a morte de Stalin. Iniciemos por esse segundo aspecto. Josef Stalin havia 
comandado a União Soviética desde a morte de Lênin e a resolução do conflito com Trotsky. Dirigiu o país 
durante o grande conflito com os nazistas e, com imensas perdas humanas, levou-o à vitória. No pós-guerra, 
suas preocupações giravam em torno da manutenção dos países-satélites sob a alçada de Moscou (a criação 
da zona de buffer contra o Ocidente), criar uma bomba atômica – projeto alcançado em 1949 –, financiar e 
auxilar os movimentos de caráter comunista e ligados à URSS e responder aos movimentosdiplomáticos dos 
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Estados Unidos. Internamente, Stalin lutou para criar um ambiente político-ideológico homogêneo. Disso 
resultou uma perseguição política severa a todos os elementos críticos e dissonantes do sistema. 
 
A URSS pós-stálin e a Revolução Húngara de 1956 
 
Em um discurso importante ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em Moscou, 
em fevereiro de 1956, Nikita Khrushchev, que se tornara Secretário-Geral do partido após a morte de Josef 
Stalin, denunciou com dureza os crimes domésticos e os erros da política externa de Stalin. O segredo do 
líder soviético, discurso de quatro horas, apelou à “convivência pacífica” com os poderes capitalistas e 
admitiu que havia diferentes caminhos para o socialismo. O discurso, cujo conteúdo foi amplamente 
disseminado, chocou os comunistas e os não comunistas. 
Os futuros reformadores da Europa Oriental foram encorajados pela perspectiva de um afrouxamento 
soviético. Intelectuais, estudantes e trabalhadores testaram os limites da tolerância do Kremlin para a 
diversidade e a independência nacional. Em junho, as disputas trabalhistas na Polônia de longa duração 
rapidamente se transformaram em expressões de resistência absoluta à União Soviética. Depois de usar o 
Exército Vermelho para reprimir os tumultos nacionalistas em Varsóvia, Khrushchev reverteu o curso e 
concordou com a instalação do ex-primeiro-ministro Wladyslaw Gomulka, um reformador que havia sido 
expulso anteriormente em uma purga estalinista, como o novo presidente do Partido Comunista Polonês. 
Agitação semelhante na Hungria produziu um resultado mais trágico. Em 23 de outubro, as manifestações 
dirigidas por estudantes em todo o país escalaram para uma insurreição absoluta contra a presença militar 
soviética. Quando, no final do mês, o governo reformista de Imre Nagy anunciou a decisão da Hungria de 
deixar o Pacto de Varsóvia, declarou-se uma nação neutra e apelou para o apoio da ONU, Khrushchev chegou 
aos limites de sua tolerância para a mudança política dentro da Europa Oriental. A invasão anglo-francesa 
simultânea do Egito, em 31 de outubro, juntamente com a campanha de reeleição de Eisenhower, que 
entrou em seus últimos dias, proporcionou ao líder russo o que considerava um “momento favorável” para 
usar a força militar. 
Consequentemente, em 4 de novembro, 200 mil soldados da URSS e do Pacto de Varsóvia, apoiados por 
5.500 tanques, movimentaram-se para reprimir os rebeldes húngaros com uma força irresistível. O choque 
desigual que se seguiu tomou a vida de cerca de 20 mil húngaros e até 3 mil soviéticos. Até 8 de novembro, 
a rebelião havia sido esmagada. A administração Eisenhower, cuja retórica pró-libertação e as provocativas 
transmissões Radio Free Europe haviam feito muito para encorajar a resistência anti-soviética, poderia fazer 
pouco mais do que protestar ante a brutalidade russa. Claramente, os americanos não estavam mais 
dispostos a tentar uma conflagração global sobre eventos na esfera de influência soviética do que os 
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soviéticos teriam sido em resposta aos desenvolvimentos na Europa Ocidental. Em meados da década de 
1950, uma forma de grande ordem de poder emergia na Europa; alguns estudiosos, de fato, empregaram o 
termo “Longa Paz” para caracterizar a Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Para alguns, porém, como os 
húngaros aprenderam dolorosamente, essa ordem chegou a um preço muito alto. 
Outro ponto importante, já mencionado em aulas anteriores, trata-se da divisão dentro do espectro 
ideológico da esquerda com a ascensão do Maoísmo e o racha entre a URSS e a China comunista. Para 
relembrarmos, ideias socialistas/comunistas haviam surgido e se disseminado na Europa no século XIX. Karl 
Marx e suas ideias ganharam força e terreno dentro do espectro da esquerda e moldaram a atuação de vários 
líderes proletários entre fins do século XIX e início do século, tornando-se um caminho a ser seguido após a 
vitória da revolução russa. E que caminho era esse? A revolução feita por operários a partir das cidades. 
 
A Revolução Chinesa e o equilíbrio de poder no sudeste asiático 
 
A proclamação da República Popular da China em 1 de outubro de 1949 representou não apenas um 
monumental triunfo pessoal para Mao Zedong e os outros líderes de um movimento comunista chinês que 
havia sido encaminhado, caçado e quase extinto pelo Partido Kuomintang, de Chiang Kai-shek, dois décadas 
antes. Também significou uma mudança fundamental na natureza e no locus da Guerra Fria – com 
importantes implicações políticas estratégicas, ideológicas e domésticas. 
Na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, Roosevelt procurou uma fonte incomum para uma solução 
para o dilema político da América na China. Completamente desiludido pela falta de vontade de Chiang de 
lutar, ele procurou e ganhou o compromisso soviético de entrar na guerra contra o Japão dentro de três 
meses após o fim das hostilidades na Europa. O preço de Stalin por esse gesto – a promessa de Roosevelt de 
ajudar os soviéticos a recuperar as concessões da era czarista na Manchúria e na Mongólia externa – 
mostrou-se aceitável para um presidente dos EUA que atribuiu grande valor para minimizar a perda de vidas 
americanas no que se esperava ser o desenlace extremamente sangrento da Guerra do Pacífico. Em 14 de 
agosto, Chiang concordou com as concessões soviéticas no tratado de amizade e assistência mútua sino-
soviética em troca do reconhecimento de Moscou da soberania legal de seu governo. 
Após a rendição japonesa, a situação política na China se deteriorou progressivamente. Como Chiang, Mao 
considerou uma paz genuína entre os comunistas e os Kuomintang ser altamente improvável, e uma guerra 
civil inevitável. Em uma diretriz do partido interno de 11 de agosto, ele instruiu os quadros do Partido 
Comunista e os líderes militares a “reunir nossas forças para se prepararem para a guerra civil”. Ao longo do 
outono de 1945, tropas comunistas e nacionalistas entraram em confronto no nordeste da China, com Chiang 
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usando agressivamente equipamentos e transportes dos EUA em um esforço para desalojar as forças 
comunistas. 
No final de 1945, o presidente Truman enviou ao general George C. Marshall, o militar americano mais 
respeitado de sua geração, à China para mediar uma resolução pacífica do conflito. No início de 1946, 
Marshall conseguiu organizar uma trégua temporária, mas logo se desenrolou. As tentativas do general 
americano de estabelecer um acordo de compromisso entre Chiang e Mao acabaram por se iludir de que o 
poder poderia de alguma forma ser compartilhado em um governo de coalizão que incluísse comunistas e 
nacionalistas. Apesar da imparcialidade de Marshall, esses esforços derrubaram as diferenças intratáveis 
entre os dois partidos, nenhum dos quais confiava ou estava disposto a compartilhar poder com o outro. No 
final de 1946, Marshall determinou, corretamente, que essa luta só poderia ser resolvida através da força 
das armas, e que era um concurso que Chiang não poderia vencer. 
A administração Truman continuou a fornecer ajuda ao regime de Chiang – um total de US$ 2,8 bilhões entre 
a rendição japonesa e 1950 – mas mais para proteger seus flancos políticos do assalto por partidários 
nacionalistas chineses no Congresso e na mídia, o chamado lobby da China, do que na convicção de que o 
apoio dos EUA sozinho permitiria que asineptas forças de Kuomintang prevalecessem. No final de 1948, a 
derrota se transformou em derrota, com Chiang e seu círculo íntimo fugindo do continente para a ilha de 
Taiwan. A declaração dramática de Mao da nova República Popular da China a partir do Portão da Paz 
Celestial de Beijing, em outubro de 1949, apenas formalizou um resultado que os observadores mais 
informados haviam antecipado muito antes. 
O sudeste asiático seria fortemente influenciado pelas teorias maoístas, já que as características 
socioeconômicas eram muito similares. Assim, uma nova série de movimentos comunistas ligados a Beijing, 
e não a Moscou, começaram a ser criados. Dessa forma, temos claramente colocada a flexibilização do 
sistema “imperial” socialista, com a emergência de novos atores, notadamente a China. Essa diferença entre 
chineses e soviéticos seria aproveitada pelos EUA, que se aproximou dos primeiros já na década de 1970 
com a visita de Nixon a China. 
 
A crise de Suez 
 
O Oriente Médio também teve a sua parcela de atribulações no período. Após a guerra contra o recém-
criado Estado de Israel, em que foi crucial o apoio soviético à nova nação – dado, diga-se, na esperança de 
se estabelecer um posto avançado do comunismo russo na região –, outra crise se instalou em meados dos 
anos 1950. As raízes dessa crise estavam na recusa do Egito em se alistar em qualquer das organizações de 
defesa anti-soviéticas que os americanos e os britânicos procuraram reunir no início e meados da década de 
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1950. A amargura engendrada pela disputa com Londres não inclinou os egípcios a cooperarem com um 
Ocidente, que se associavam a máquinas imperiais contínuas. Com o Egito e a maioria dos outros estados 
árabes líderes que se recusaram a entrar em um acordo coletivo de segurança com as potências ocidentais, 
os americanos e os britânicos gravitaram o conceito alternativo de “nível norte”. Em fevereiro de 1955, por 
conseguinte, a Grã-Bretanha, a Turquia, o Paquistão, o Irã e o Iraque assinaram o Pacto de Bagdá, um acordo 
de segurança mútua destinado a ampliar o escudo de contenção para o Oriente Médio. Embora a pressão 
americana, juntamente com as promessas de ajudas militares e econômicas, tenha sido fundamental nas 
negociações que levaram ao acordo, Washington optou por não participar diretamente, de modo a evitar a 
alienação indevida de estados árabes com os quais ainda cultivava relações amigáveis. 
A criação do Pacto de Bagdá atingiu o nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser como um ato de hostilidade 
aberta desde que o conservador Iraque, o único signatário árabe do pacto, era o tradicional rival do Egito no 
mundo árabe. No outono de 1955, Nasser assinou um acordo de armas com a Tchecoslováquia para 
combater um Iraque agora apoiado militarmente por sua associação formal com o agrupamento de Bagdá 
patrocinado pelo Ocidente. Alarmada pela aparente aproximação do Egito em direção ao campo soviético, a 
administração de Eisenhower, em dezembro de 1955, ofereceu um generoso financiamento para o projeto 
da Barragem de Assuã, a peça central dos ambiciosos planos de desenvolvimento do Egito. Mas o apoio do 
Egito a incursões de comando em Israel, sua contínua linha neutra na política externa, e o reconhecimento 
da República Popular da China em maio de 1956 despertaram a ira americana. Em 19 de julho de 1956, o 
Secretário de Estado Dulles anunciou abruptamente que os Estados Unidos estavam rescindindo a oferta de 
financiamento de Assuã. 
Em 26 de julho, um movimento arrojado e totalmente imprevisto, Nasser nacionalizou a Suez Canal 
Company, uma companhia anglo-francesa, prometendo operar a via navegável internacional vital de forma 
eficiente e usar as receitas que gerou para financiar seu projeto de barragens de alta prioridade. Após 
negociações desastrosas, em que Dulles trabalhou assiduamente para encontrar uma alternativa ao conflito 
aberto, a coligação entre a Grã-Bretanha, a França e Israel levou a uma ação militar conjunta contra o Egito 
no final de outubro de 1956. Para choque e consternação de seus aliados, os Estados Unidos condenou 
vigorosamente a invasão, denunciando um ato de agressão militar flagrante e injustificado que violou o 
estado de direito. Quando, em 5 de novembro, os soviéticos denunciaram o ataque ao Egito e ameaçaram 
as represálias contra Grã-Bretanha e França se não cessassem imediatamente a agressão, a crise de Suez de 
repente se metamorfoseou em um confronto potencialmente grave entre Oriente e Ocidente. A persistente 
pressão dos EUA em seus aliados ajudou a produzir um cessar-fogo, destruindo assim o perigo representado 
pelo que os americanos julgaram como um blefe soviético vazio, mas ainda perturbador. 
Na seqüência da crise de Suez, os Estados Unidos assumiram responsabilidades ainda maiores no Oriente 
Médio. O maior medo de Eisenhower era que a União Soviética se movesse no vácuo criado pelo declínio do 
poder britânico e francês na região. A chamada Doutrina Eisenhower, que o presidente propôs ao Congresso 
em 5 Em janeiro, criou um fundo especial para prestar assistência econômica e militar aos regimes pró-
ocidentais no Oriente Médio. Também ameaçou o uso da força militar, se necessário, para parar “agressão 
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armada aberta de qualquer nação controlada pelo comunismo internacional”. A vaga doutrina certamente 
revelou o aprofundamento do compromisso americano com uma região que os estrategistas americanos 
agora imaginavam na linha da frente da Guerra Fria. Ele também forneceu o pretexto para o envio de 
Eisenhower das forças dos EUA para o Líbano no ano seguinte, depois que um golpe sangrento no Iraque 
derrubou a monarquia pró-ocidental e questionou a credibilidade dos EUA na região. No entanto, as fontes 
mais profundas de instabilidade regional – a disputa árabe-israelense, o ressentimento profundo entre os 
árabes nos legados do imperialismo ocidental e o apelo do nacionalismo radical e pan-árabe – 
permaneceram impermeáveis às implantações de tropas dos EUA, tentativas econômicas, esquemas 
diplomáticos e propostas de mediação. 
 
A Guerra do Vietnã e a retração americana 
 
Em 1948-9, uma série de fatores interconectados, extra-regionais, levaram as autoridades dos EUA a se 
preocuparem e participaram dos assuntos do Sudeste Asiático. Os conflitos coloniais furiosos na Indochina 
e nas Índias Orientais, juntamente com uma insurgência liderada pelos comunistas na Malásia britânica, 
provaram uma grande resistência à recuperação da Europa Ocidental. Os produtos primários do Sudeste 
Asiático tradicionalmente contribuíram para a vitalidade econômica e a capacidade de ganhar dólar, da Grã-
Bretanha, da França e dos Países Baixos. As condições incertas no Sudeste Asiático, no entanto, não apenas 
impediram tal contribuição, mas absorveram dinheiro, recursos e mão-de-obra necessários para o Plano 
Marshall e a incipiente aliança atlântica – as principais prioridades da Guerra Fria da América. Os especialistas 
dos EUA estavam convencidos de que a recuperação do Japão, também, estava sendo dificultada pela 
instabilidade política e a conseqüente estagnação econômica no Sudeste Asiático. O Japão precisava de 
mercados internacionais por sua sobrevivência econômica. No entanto, com a consolidação do controle 
comunista na China, os tomadores de decisão dos EUA desencorajaram ativamente o comércio com o 
continente chinês, o maior mercado de pré-guerra do Japão, por medo de que os vínculos comerciais 
próximos possam atrair Tóquio e Beijing politicamente. Os mercados de substituição no Sudeste Asiático 
pareciama resposta mais promissora para o dilema das exportações do Japão; Mas a turbulência política e 
econômica da região primeiro teve que ser reprimida. O surgimento de um regime comunista no país mais 
populoso da Ásia constituiu o outro fator externo principal, impulsionando uma postura mais ativista dos 
EUA no Sudeste Asiático. Analistas dos EUA temiam as tendências expansionistas da China; a possibilidade 
de que ele pudesse usar seu poder militar para obter controle sobre partes do Sudeste Asiático representou 
uma ameaça, além da probabilidade de que ele oferecesse suporte para outras insurgências revolucionárias. 
Em resposta a esses problemas, os Estados Unidos fizeram uma série de novos compromissos com o Sudeste 
da Ásia, visando estimular simultaneamente a estabilização política da área e contendo a ameaça chinesa. 
Mais importante, abandonou sua abordagem quase-neutra à disputa indochinesa a favor de uma política de 
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apoio aberto aos franceses, reconhecendo oficialmente, em fevereiro de 1950, o regime de marionetes 
instalados na França liderado pelo ex-imperador Bao Daí. A administração Truman também intensificou sua 
ajuda às forças britânicas lutando contra a insurreição comunista na Malásia. Washington prometeu 
assistência econômica e técnica aos governos da Birmânia, Tailândia, Filipinas e Indonésia. Este último 
alcançou a independência em dezembro de 1949, depois de uma luta dura com os holandeses, em parte 
porque os Estados Unidos também abandonaram seu status quase neutro, embora neste caso pressionasse 
um aliado europeu a reconhecer o que parecia ser moderado e decididamente não-comunista, movimento 
nacionalista. 
A Indochina, onde os insurgentes do Viet-Minh liderados por comunistas, desde 1946, estavam frustrando 
todas as tentativas francesas de suprimi-los, graças, em parte, ao inesquecível apoio militar e logístico chinês, 
apareceu o lugar mais provável para um avanço comunista. Ele serviu de ponto focal dos esforços de 
contenção dos Estados Unidos no Sudeste Asiático. Começando antes da Guerra da Coréia e aumentando 
progressivamente ao longo dos próximos anos, a ajuda militar dos EUA essencialmente subscreveu o esforço 
de guerra francês. No início de 1954, no entanto, o povo francês e o governo ficaram cansados de um conflito 
que se mostrou caro, prolongado e profundamente impopular. Rejeitando os americanos, buscaram uma 
saída diplomática. Uma grande conferência de poder sobre a Indochina, por conseguinte, se reuniu em 
Genebra em maio de 1954. Foi seguido rapidamente por um triunfo decisivo do Viet-Minh sobre a liderada 
francesa em Dienbienphu, no remoto noroeste do Vietnã. Juntos, esses desenvolvimentos aceleraram o fim 
do domínio francês na região. Incapaz de ganhar na mesa da conferência o que havia perdido no campo de 
batalha, as potências ocidentais aceitaram a divisão temporária do Vietnã no paralelo 17, concedendo a 
metade norte do país ao Viet-Minh de Ho. Os aliados soviéticos e chineses do líder vietnamita pressionaram-
no a se conformar com a meia vitória pois queriam evitar provocar os americanos e arriscar outro confronto 
militar com o Ocidente após o cessar-fogo coreano. 
Os motivos subjacentes da decisão fatídica de Washington de intervir no Vietnã com uma força militar 
maciça, por mais equivocados que possam aparecer em retrospectiva, não são difíceis de discernir. Eles estão 
quase inteiramente dentro do domínio dos medos da Guerra Fria. No sentido mais amplo, a intervenção dos 
EUA decorreu da determinação de conter a China e provar simultaneamente, por causa dos aliados e 
adversários, da credibilidade do poder americano e da santidade dos compromissos americanos. 
No início da década de 1960, a China havia, em muitos aspectos, suplantado a União Soviética como o 
adversário mais temido da América. O período de pós-crise dos mísseis cubanos, que produziu um 
descongelamento nas relações EUA-URSS, não trouxe nenhuma pausa às tensões americanas. Os 
planejadores de segurança nacional das administrações de Kennedy e Johnson estavam convencidos de que 
a divisão sino-soviética cada vez mais virulenta tinha encorajado os líderes de Beijing, tornando-os mais (em 
vez de menos) agressivos, aventureiros e imprevisíveis. Os líderes americanos tornaram explícita, em 
numerosas ocasiões, a conexão entre as tendências expansionistas presumidas da China e a necessidade de 
intervenção americana no Vietnã. O concurso no Vietnã faz parte de um padrão mais amplo de “fins 
agressivos chineses”. O secretário de Defesa McNamara, em uma coletiva com a imprensa no mesmo mês, 
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observou que a alternativa à luta no Vietnã era um Sudeste Asiático dominado pelos chineses, o que 
significaria uma “Ásia Vermelha”. Se os Estados Unidos se retirassem do Vietnã, advertiu, uma mudança 
completa ocorreria no equilíbrio de poder mundial. 
A determinação dos Estados Unidos de demonstrar sua credibilidade como um poder que enfrentou a 
agressão com firme determinação e honrou seus compromissos com aliados fundiu perfeitamente com a 
vertente anti-chinesa na política dos EUA. Johnson e seus principais assessores estavam convencidos de que 
a credibilidade dos EUA deve ser preservada em quase qualquer custo. Era a cola indispensável que continha 
todo o sistema de alianças da Guerra Fria dos Estados Unidos, bem como o principal impedimento para a 
agressão comunista. 
Entre 1965 e 1968, a administração de Johnson investiu recursos e homens no Vietnã do Sul em um esforço 
infrutífero para esmagar uma insurgência popular enquanto tentava simultaneamente sustentar uma 
sucessão de governos impopulares e ineficazes em Saigon. Moscou e Beijing, por sua vez, proporcionaram a 
Hanói auxílio e material militar indispensável, complicando ainda mais a tarefa americana, ao mesmo tempo 
em que emprestava um elenco adicional do leste e oeste para o conflito. À medida que a guerra arrasou 
inconclusivamente, as fileiras dos dissidentes aumentaram – nos Estados Unidos e no exterior – e o consenso 
da Guerra Fria que sustentou compromissos no exterior dos EUA nas duas décadas anteriores começou a se 
frustrar. A maciça operação norte-vietnamita de Tet, no início de 1968, expôs as contradições da estratégia 
militar dos EUA no Vietnã e, ainda mais fundamentalmente, os limites do poder americano. 
A luta entre o Leste e o Oeste provavelmente alcançou sua virada mais perigosa entre 1958 e 1962, 
culminando com a crise dos mísseis cubanos de época. Posteriormente, as relações soviético-americanas 
experimentaram um descongelamento, apenas para ser revogada novamente pela escalada dos EUA no 
Vietnã. No entanto, apesar da guerra do Vietnã, os Estados Unidos e a União Soviética conseguiram evitar 
outro grande confronto em meados dos anos 60, ao mesmo tempo em que mantém pelo menos um impulso 
positivo gerado pela aproximação pós-cubano da crise dos mísseis. Em 1968, as superpotências estavam 
realmente avançando em direção a um acordo histórico sobre a limitação de armas estratégicas. A mudança 
da natureza da dinâmica doméstica da Guerra Fria – tanto no Oeste quanto no Oriente – ajudou a tornar 
possível tal avanço. 
A Guerra do Vietnã mostrou para os americanos – e, para um número crescente, inaceitável – os elevados 
custos da hegemonia global de sua nação. A guerra, que estimulou o maior movimento da paz na história 
dos EUA, desencadeou um debate interno indescritível sobre o preço do globalismo americano. Esse debate 
esquentou ferozmente no final da década de 1960, exigindo uma reavaliação nos níveis mais altos do 
governo americano de umaestratégia global da Guerra Fria, que deixara o país profundamente expandido e 
dividido. Junto com seu principal assessor de política externa, Henry A. Kissinger, o presidente Richard Nixon 
preocupou-se com o fato de os Estados Unidos terem se tornado perigosamente superados em todo o 
mundo, com seus recursos se espalhando de forma perigosa. A guerra do Vietnã serviu, na sua opinião, como 
o sintoma mais alarmante de um problema muito maior. “Nós nos tornamos como outras nações na 
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necessidade de reconhecer que nosso poder, enquanto vasto, tinha limites”, recordou Kissinger em suas 
memórias. “Nossos recursos não eram mais infinitos em relação aos nossos problemas; em vez disso, tivemos 
que estabelecer prioridades, tanto intelectuais quanto materiais.” A prioridade para Nixon e Kissinger 
permaneceu a contenção de uma nação que possuía poder suficiente para pôr em perigo a segurança 
nacional dos EUA. Embora tenha aumentado a fama política em grande parte devido à sua reputação como 
anticomunista cruzada, o pragmático Nixon já não viu o apelo ideológico do comunismo como uma séria 
ameaça. Era o poder soviético, puro e simples, que agora o preocupava. 
Uma política de détente com a União Soviética decorreu naturalmente de sua visão geopolítica 
compartilhada, assim como a esperada aproximação com a China. A administração Nixon teve como objetivo 
restringir a acumulação de armas nucleares de Moscou e reduzir os custos da concorrência e os riscos de 
guerra através de negociações de controle de armas. Ao garantir simultaneamente a aceitação de Moscou 
na ordem mundial existente, a administração poderia ajudar a verificar a propensão soviética para uma 
política estrangeira aventureira no Terceiro Mundo. Se pudesse, ao mesmo tempo, engendrar uma abertura 
para a China, isolada há muito tempo, os Estados Unidos poderiam então jogar os dois rivais comunistas um 
contra o outro, empurrando-se para a posição de pivô estratégico na relação triangular entre os três poderes. 
Era um plano arrojado, formulado em um momento em que os custos de incapacidade da Guerra do Vietnã 
em casa e no exterior exigiam algum reajuste na estratégia da Guerra Fria dos EUA. Nixon esperava que a 
implementação do plano também pudesse facilitar uma saída americana do Vietnã, ainda o mais imediato 
problema de política externa da nação. Se Nixon pudesse forjar relações menos conflitantes com a União 
Soviética e a China, enquanto retirava os Estados Unidos do Vietnã, sua reeleição em 1972 seria praticamente 
garantida, bem como sua reputação como um estadista. 
A Guerra do Vietnã estabeleceu um marco midiático importante. As cenas de jovens soldados americanos 
engajados em combates nas selvas vietnamitas, ou feridos nos hospitais de campo americanos, além das 
chocantes imagens das vítimas fatais, exerceu uma grande influência sobre a opinião pública americana. O 
conflito, que ceifaria mais de 50 mil americanos e de 1 milhão de vietnamitas, provocou uma grande reação 
contrária nos Estados Unidos e moldou boa parte do imaginário cultural e bélico daquela nação. O concurso 
de China, Coréia do Norte e União Soviética no conflito, auxiliando o Vietnã do Norte no seu esforço de 
guerra, além da erosão do apoio doméstico ao custoso e prolongado envolvimento americano no conflito, 
levaram a um empenho maior na busca por uma paz negociada para a guerra. 
Em setembro de 1972, o Secretário de Estado americano, Henry Kissinger, e Lê Đức Thọ, representante do 
Vietnã do Norte, após meses de negociação, começaram a estabelecer os termos para um acordo de paz. 
Após várias reuniões críticas nas semanas seguintes, ambos chegaram a um acordo de armistício em 22 de 
outubro de 1972, dezesseis dias antes da eleição presidencial nos Estados Unidos. Entre as principais 
concessões e provisões, o Vietnã do Norte abandonou sua demanda pela remoção definitiva de Nguyen Van 
Thieu, presidente do Vietnã do Sul, do poder; Washington concordou em retirar todas as forças restantes da 
Indochina, reconhecer a autoridade legal do Governo Revolucionário Provisório do Vietnã do Sul (PRG) no 
território que controlava, e reconhecer que o Vietnã era um só país. Thieu, no entanto, rejeitou o acordo. 
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Nixon foi reeleito numa expressiva votação em 7 de novembro, após o que foram realizadas novas 
negociações e mais bombardeios, já que Nixon buscava revisões no acordo que agradassem a Thieu e 
protegessem sua própria credibilidade como presidente que. As negociações foram retomadas em 8 de 
janeiro de 1973. O acordo de armistício, finalmente alcançado em 13 de janeiro de 1973 – os Acordos de Paz 
de Paris –, mal se distinguia do projeto de acordo de outubro. 
As lutas entre as forças sul-vietnamitas e o PGR não cessaram, entretanto. O Conselho Tripartite de 
Reconciliação e Concórdia, solicitado no acordo, nunca foi formado e as eleições nunca foram realizadas. O 
Vietnã do Norte, em desacordo com o estabelecido no armistício, manteve suas ofensivas ao território 
vizinho, e as nações socialistas que apoiavam os comunistas vietnamitas não interromperam seu apoio 
logístico e bélico. A despeito da persistência dos ataques, o Congresso dos Estados Unidos se recusou a 
permitir que novas tropas americanas fossem enviadas ao país asiático. Em 30 de abril de 1975, a capital sul-
vietnamita, Saigon, foi tomada de assalto pelos comunistas do norte; a 2 de julho de 1976, foi fundada 
oficialmente a República Socialista do Vietnã. 
Por fim, dentro do contexto da coexistência pacífica, temos a nova inserção internacional dos países 
americanos, uma tendência que permanece em voga durante o período posterior da chamada distensão. 
Desiludidos pela ausência de auxílio financeiro dos EUA, vários países na América começaram trilhar um 
caminho mais autônomo no que se refere às relações internacionais. Exemplos claros desse movimento são 
o Brasil e a Argentina. No caso brasileiro fica patente que após o período de alinhamento do general Dutra 
– que inclusive cassou a legalidade do PCdoB – o período posterior buscou desapegar-se um pouco da 
ideologia americana e crescer economicamente com suas forças e projetos próprios. Assim, é neste processo 
que temos o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek que se segue a um pragmatismo de Jango, 
pragmatismo esse que, em termos de política externa continuou durante o período militar. No caso 
argentino, temos a política de Perón e de sua sucessora que também intentaram descolar-se dos EUA – que 
nunca foram bem-vistos dentro da tradição da política externa argentina. 
Com todos estes aspectos somados, temos um período bem menos tenso do que o anterior (1945-1955). 
Isso não implicou, no entanto, ausência de problemas entre as duas superpotências. O principal embate foi 
o ocorrido durante a chamada “Crise dos Mísseis” de 1962. Este grave problema internacional envolve, ao 
menos, dois aspectos importantes: a revolução cubana e a colocação de mísseis nucleares na Turquia em 
1961. 
 
A Revolução Cubana e a Crise dos mísseis de 1962 
 
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Um revolucionário doméstico, o feroz e carismático Fidel Castro, lutou no seu caminho para o poder em 
Havana a partir de sua base inicial de guerrilha nas montanhas escarpadas da Sierra Maestra. Tendo 
derrubado e forçado ao exílio o ditador impopular e o antigo aliado dos EUA, Fulgencio Batista, no dia de 
novembro de 1959, Castro lançou imediatamente um ambicioso

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